Cultivar 128

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Transcript of Cultivar 128

  • ndice

    Arroz vermelho 04

    Herbicidas e problemas de resitncia na cultura do milho 08

    Nematoides em cana 12

    Viroses em trigo 16

    Limites da resistncia em soja 20

    Mosca-branca em soja 26

    Nematoides em milho 29

    Cautela no uso de milho 32

    Eventos - Clube da Cana FMC 36

    Eventos - Lanamento do Brio da Basf 38

    Adensamento na safrinha de algodo 40

    Expediente

    REDAO Editor

    Gilvan Dutra Quevedo Coordenador de Redao

    Janice Ebel Design Grfico e Diagramao

    Cristiano Ceia Reviso

    Aline Partzsch de Almeida

    GRFICA Impresso

    Kunde Indstrias Grficas Ltda.

    Cultivar Grandes Culturas Ano XI N 128 Janeiro 2010 ISSN - 1516-358X

    MARKETING E PUBLICIDADE Coordenao

    Charles Ricardo Echer

    VendasPedro BatistinSedeli Feij

    CIRCULAO Coordenao

    Simone Lopes Assinaturas

    Alessandra Willrich Nussbaum Expedio

    Dianferson AlvesEdson Krause

    Os artigos em Cultivar no representam nenhum consenso. No esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos iro, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores sero mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do pas em cada rea. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opinies, para que o leitor julgue. No aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opinies.

    Por falta de espao no publicamos as referncias bibliogrficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edio. Os interessados podem solicit-las redao pelo e-mail: [email protected]

    Grupo Cultivar de Publicaes Ltda.Avenida Fernando Osrio, 20, sala 27 APelotas RS 96055-000

    DiretorNewton Peter

    SecretriaRosimeri Lisboa Alves

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    Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

    Geral3028.2000

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    Comercial:3028.20653028.20663028.2067

    Editorial

    Encerramos mais um ano. Em 2009 o agronegcio brasileiro sobreviveu com bravura a desafios importantes como crise econmica mundial, cmbio desfavorvel e condies climticas adversas. Problemas insuficientes para abalar o nimo dos produtores, que preparam para 2010 mais uma grande safra, puxada por culturas como a soja.

    O clima deu trabalho em 2009. Alm das perdas de produtividade, doenas surgiram mais cedo e com maior intensidade. Pragas tambm registraram surtos e migraes entre as culturas.

    Novamente a pesquisa agropecuria marcou pontos positivos. O lanamento de variedades resistentes a doenas e pragas um dos muitos exemplos concretos de avanos nesse segmento.

    Mesmo em clima de retrospectiva, nossa Edio Especial traz novidades. Alm dos artigos selecionados entre os melhores publicados ao longo de 2009, contamos com dois assuntos inditos. O primeiro, em formato de Caderno Tcnico, aborda a problemtica de nematoides, pragas que crescem em importncia e trazem preocupao s fazendas brasileiras, principalmente nos cerrados. O outro, em forma de artigo, aborda doenas em arroz, que neste ano chegaram mais cedo e com maior intensidade ao Sul do Brasil, favorecidas pelo grande volume de chuvas e que exigem medidas antecipadas de manejo.

    Foi mais um ano de trabalho rduo, na busca constante por pautas atualizadas que acompanhem a velocidade dos novos desafios que a cada safra surgem nas lavouras. Esperamos ter alcanado o objetivo, de ser uma ferramenta a mais para auxiliar voc, caro leitor, na tomada de decises em sua propriedade.

    tima leitura e excelente 2010!

  • Arroz

    04 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Odesenvolvimento do Siste- ma de Produo Clearfield (Basf, 2004) em arroz (Oryza sativa) cultivado proporcionou uma estra-tgia de manejo eficaz no controle seletivo de plantas daninhas, pelo uso de gentipos resistentes a herbicidas do grupo qumico das imidazolinonas. O mecanismo de ao destes defensivos a inibio da atividade das enzimas acetolactato sintase (ALS) na rota de sntese dos aminocidos de cadeia ramificada valina, leucina e isoleucina.

    O principal propsito do uso de gen-tipos de arroz resistentes aos herbicidas se refere ao controle seletivo do arroz ver-melho (O. sativa), que se destaca como a espcie daninha que causa maiores danos cultura do arroz irrigado, em decorrncia da reduo da produtividade, da deprecia-o do produto final, das dificuldades de controle e do elevado grau de infestao das reas cultivadas. O controle qumico eficaz do arroz vermelho no era possvel com o uso de gentipos convencionais, por haver similaridade morfolgica e fisiolgica entre o arroz cultivado e a espcie daninha.

    Ao uso do Sistema Clearfield de Pro-duo atribuda parte do incremento de

    produtividade da lavoura de arroz irrigado no estado do Rio Grande do Sul nos lti-mos anos, sendo que, at hoje, pode ser considerada a mais importante ferramenta oferecida aos produtores para controle qu-mico do arroz-vermelho. Neste contexto, mesmo com a crise mundial no setor de alimentos, o Rio Grande do Sul assume pa-pel de relevncia como produtor de arroz. A cada ano est mais competitivo frente a pases do Mercosul, como Argentina, Pa-

    raguai e Uruguai e mesmo perante outros estados brasileiros, como Mato Grosso e Santa Catarina. Atualmente, o estado gacho responsvel por cerca de 60% da produo do Brasil, com rea cultivada de aproximadamente 1.060.000 de hectares (desse total 500 mil hectares esto sob o Sistema Clearfield de Produo).

    Apesar de proporcionar grande vanta-gem para a cultura do arroz, a adoo de gentipos resistentes a herbicidas implica

    A dificuldade no controle de arroz vermelho, atravs do controle qumico,est na similaridade morfolgica e fisiolgica entre o arroz cultivado e a daninha

    Dir

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    Levantamentos do Irga nas safras 2006/07 e 2007/08 mostram o avano de populaes de arroz vermelho em lavouras do Rio Grande do Sul. Entre os fatores que favoreceram o aumento esto o uso indevido do Sistema Clearfield como nica alternativa de manejo, o emprego de gros de arroz contaminado como sementes e aplicaes de herbicidas e doses no recomendadas para a cultura

    Levantamentos do Irga nas safras 2006/07 e 2007/08 mostram o avano de populaes de arroz vermelho em lavouras do Rio Grande do Sul. Entre os fatores que favoreceram o aumento esto o uso indevido do Sistema Clearfield como nica alternativa de manejo, o emprego de gros de arroz contaminado como sementes e aplicaes de herbicidas e doses no recomendadas para a cultura

  • na observao de aspectos relacionados seleo de populaes de arroz-vermelho resistentes. Todas as populaes de plantas daninhas, independentemente da aplica-o de qualquer produto, provavelmente contm plantas resistentes a herbicidas. Trabalho conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos (EUA) corrobora esta hiptese, demonstrando a existncia de bitipos de arroz-vermelho tolerantes aos herbicidas imidazolinonas. Nesta tica, fica evidente que o uso contnuo do Sistema Clearfield de Produo nas reas de arroz irrigado do Rio Grande do Sul pode favorecer o desenvolvimento de

    populaes de arroz vermelho resistentes aos herbicidas imidazolinonas, devido ao uso repetido de herbicidas de um mesmo grupo ou pertencentes a diferentes grupos, mas com mesmo mecanismo de ao.

    Outro fato relevante que pode contri-buir para a ocorrncia de populaes de arroz vermelho resistentes a herbicidas refere-se ao fluxo de genes entre arroz cultivado e arroz vermelho. A introduo de cultivares resistentes aos herbicidas imidazolinonas pode resultar na ocorrn-cia de fluxo gnico para os gentipos de arroz silvestre. A maioria dos trabalhos publicados sobre disperso de plen indica que as taxas de fecundao entre arroz cultivado e arroz-vermelho ocorrem em nveis inferiores a 1%. Entretanto, cabe res-saltar que pequenas taxas de fluxo gnico podem representar considervel aumento na frequncia de indivduos resistentes na populao, em virtude do elevado grau de infestao das reas cultivadas. Estudos demonstram que fluxo gnico na taxa de

    0,008% originou 170 indivduos resisten-tes de arroz vermelho por hectare.

    Considerados a ocorrncia de falhas no controle (escapes) de arroz vermelho e o uso frequente de sementes contaminadas com gros de arroz-vermelho pelos agricul-tores, em lavouras comerciais de arroz irri-gado conduzidas sob o Sistema Clearfield de Produo, o Instituto Riograndense do Arroz (Irga) desenvolve trabalhos para avaliar a ocorrncia de populaes de arroz vermelho resistentes aos herbicidas do grupo qumico das imidazolinonas no Rio Grande do Sul.

    Para a realizao dos trabalhos utili-zaram-se 228 e 320 populaes de arroz vermelho provenientes de plantas no con-troladas (escapes) em lavouras comerciais da cultivar Irga 422CL com dois a trs anos ou mais de cultivos consecutivos nas safras 2006/07 e 2007/08, respectivamente. Cada populao continha sementes de panculas de diversas plantas que ocorriam no local de coleta em questo e, neste caso, cada

    Dirceu Gassen

    Amostragem com arroz vermelho- fotointoxicao aos 28 dias

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  • 06 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    populao pode conter mais de um bitipo de arroz vermelho.

    Os dados evidenciaram que 56% das amostras avaliadas no primeiro ano conti-nham plantas de arroz vermelho resistentes ao herbicida imazapique (imidazolinona) + imazetapir (imidazolinona). No se-gundo ano de avaliao esse percentual saltou para 71% do nmero de amostras avaliadas. Tambm se observou que popu-laes de arroz vermelho resistentes esto presentes em todas as regies que cultivam arroz no estado. (ver mapas).

    As razes bsicas para estes resultados to elevados se devem principalmente ao uso indevido do Sistema Clearfield para o manejo de arroz vermelho. Dentre esses fatores esto o uso de gros de arroz como sementes e contaminados com gros de arroz vermelho, o emprego de mais de dois anos consecutivos do Sistema Clearfield na mesma rea, a utilizao da tecnologia como a nica estratgia para o manejo desta planta daninha, no controle de escapes (plantas de arroz vermelho no

    controladas) e o uso de herbicidas e doses no recomendados para a cultura.

    Preocupados em preservar a principal ferramenta no manejo de arroz vermelho no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, instituies e/ou empresas como Irga, Epagri, Ricetec, Basf, Apassul e Acapsa lanaram a campanha Todos unidos contra o arroz vermelho. O trabalho inclui sete pontos fundamentais:

    Passo 1 Uso de sementes certifica-das

    - Sementes isentas de gros de arroz

    vermelho- Garantia de sanidade e vigor- Poder germinativo maior que 90%Passo 2 Utilizar adequadamente os

    produtos registrados- Produtos registrados e recomendados

    para a cultura- Usar o adjuvante e a dose recomen-

    dados- Aplicar o herbicida com as plantas de

    arroz vermelho com trs-quatro folhas- Observar as condies para uma boa

    aplicao (clima e equipamentos)Passo 3 Irrigar no estdio recomen-

    dado- Trs-quatro folhas das plantas de

    arroz- Manter lmina de gua constante

    e altura compatvel com o desenvolvi-mento da cultura

    Passo 4 Controlar os escapes atravs da barra qumica ou catao manual

    Passo 5 Rotacionar o Sistema Cle-arfield

    - Planejar o uso da tecnologia na pro-priedade

    - Utilizar no mximo por dois anos consecutivos na mesma rea

    - Rotar sempre que possvel com soja RR

    Passo 6 Limpar mquinas, equipa-mentos, canais, drenos e estradas

    Passo 7 - Consultar sempre a assistn-cia tcnicaValmir Gaedke Menezes,Irga

    Cul

    tiva

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    Trabalho do Irga mostra presena de populaes resistentes de arroz vermelho em todas as regies produtoras do Rio Grande do Sul

    CC

    Menezes alerta para o cuidado com a resistncia do arroz vermelho aos herbicidas imidazolinonas

  • Arroz

    08 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    O controle das doenas em arroz irrigado deve ser estruturado em torno do manejo da cultura, caractersticas genticas varietais, equilbrio no balano nutricional, estratgias de reduo do inculo e proteo qumica. A associao entre o manejo cultural da lavoura e as carac-tersticas varietais constitui-se na base para o controle da maioria das doenas, apresentando influncia decisiva sobre sua incidncia e severidade.

    Fatores de predisposio

    Brusone (Pyricularia oryzae)A maior suscetibilidade brusone ob-

    servada nos estdios de trs a quatro folhas e florao, embora a doena possa ocorrer em todas as fases de desenvolvimento da cultura. Os danos so variveis, dependendo da suscetibilidade da cultivar, do manejo dado lavoura e das condies climticas. Anos chuvosos e com alta nebulosidade so favorveis ao ataque do patgeno e os danos mais acentuados em semeaduras do tarde e no perodo de janeiro a maro.

    A brusone favorecida por nveis elevados

    de matria orgnica no solo e pela aplicao de nveis elevados de adubao nitrogenada (50kg de N/ha a 120kg de N/ha). Aumento nos nveis de fsforo e pH, devido adio de calcrio, tambm favorece a brusone. Solos pobres em matria orgnica, quando no se aplica nitrognio, tambm predispem ocorrncia da doena.

    Atraso na irrigao, at 30 dias da emer-gncia, e a ausncia de gua em determinadas reas da lavoura (coroas ou taipas), aceleram o aparecimento dos primeiros focos. Nestas condies pode ocorrer maior acmulo de nitrognio e acares nos tecidos, em detri-

    mento da formao de amido, o que favorece a colonizao e o desenvolvimento do patgeno na planta, diminuindo a eficcia do controle qumico.

    Mancha parda (Bipolaris oryzae)A maior suscetibilidade do arroz mancha

    parda ocorre no perodo de emergncia, aos 30 dias (estgio de quatro a cinco folhas) e na florao (no perodo do 1 ao 3 dia aps a emisso da pancula). Deficincias nutri-cionais, principalmente devido ao potssio e a micronutrientes, influenciam significativa-mente esta doena, disseminada em todas as

    Mais cedo

    O manejo cultural da lavoura e as caractersticas varietais influenciam na incidncia e na severidade das doenas

    Mais cedoO clima desfavorvel na safra atual de arroz, principalmente

    em lavouras semeadas tardiamente, trouxe prejuzos fisiolgicos para as plantas e, com isso, ataque antecipado

    das principais doenas que assolam a cultura. Por isso, alm das medidas de manejo que o produtor necessita adotar

    desde a entressafra, a aplicao preventiva de fungicidas na parte area indicada para garantir a produtividade atravs

    da proteo contra infeco dos patgenos

    O clima desfavorvel na safra atual de arroz, principalmente em lavouras semeadas tardiamente, trouxe prejuzos

    fisiolgicos para as plantas e, com isso, ataque antecipado das principais doenas que assolam a cultura. Por isso, alm

    das medidas de manejo que o produtor necessita adotar desde a entressafra, a aplicao preventiva de fungicidas na parte area indicada para garantir a produtividade atravs

    da proteo contra infeco dos patgenos

  • reas de produo.

    Mancha estreita (Cercospora oryzae)A ocorrncia da mancha estreita est liga-

    da diretamente a temperaturas elevadas (28C a 32C), e alta umidade relativa. A doena favorecida pela deficincia de potssio.

    Escaldadura das folhas (Microdochium oryzae)As condies de clima e de fertilidade do

    solo, que favorecem esta doena, so seme-lhantes s da brusone. Plantas com maior massa verde e com excesso de adubao nitrogenada so atacadas mais severamente. A temperatura favorvel ao desenvolvimento do fungo est entre 20C e 27C. A ocorrn-cia de chuva e a presena de orvalho so os elementos climticos mais importantes para a doena. Para o manejo da escaldadura das folhas deve-se realizar adubao nitrogenada equilibrada. As cultivares de porte moderno semians so mais suscetveis escaldadura, enquanto cultivares americanas e tradicionais mostram-se mais tolerantes doena.

    Queima das bainhas (Rhizoctonia solani)A maior sensibilidade das plantas de

    arroz queima das bainhas ocorre entre o perfilhamento e a florao. A presena de nveis elevados de matria orgnica no solo, restos de cultura e a adubao nitrogenada em nveis que favoream o crescimento vigoroso das plantas tornam-nas predispostas ao ataque desta doena. A ocorrncia de temperaturas entre 25C e 35C e de umidade relativa acima de 97%, favorece o ataque do fungo e o estabelecimento da doena nas plantas de arroz. Em solos com deficincia de potssio a queima das bainhas ataca mais cedo e produz maiores danos.

    Mancha das bainhas (Rhizoctonia oryzae)As plantas so mais sensveis entre o

    perfilhamento e a florao. O crescimento vegetativo excessivo e a grande densidade de plantas so bastante favorveis ao estabeleci-mento da doena. Temperaturas entre 10C e 35C so o principal componente climtico predisponente ao estabelecimento da mancha das bainhas.

    Mancha das glumas (Alternaria spp., Curvularia lunata, Bipolaris oryzae, Fusarium sp., Nigrospora oryzae e Phoma sp.)

    As plantas de arroz so mais sensveis no perodo compreendido entre a emisso da pa-ncula e o estdio de gro leitoso. A ocorrncia de manchas de gros mais severa quando ocorrem temperaturas entre 15C e 20C durante os perodos de emborrachamento e florao, fazendo com que o problema tambm tenha a sua causa atribuda ao frio. Semeaduras tardias so altamente predispo-

    nentes ocorrncia desta doena.

    Crie do gro (Tilletia barclayana)A doena favorecida pelo uso de ex-

    cessivas doses de N. No Brasil no foram realizados estudos de reao de germoplasma de arroz com relao T. barclayana, contudo, relatos apontam que cultivares de gro curto so mais resistentes que as de gros mdio e longo. A poca de semeadura outro fator que afeta diretamente a intensidade das epidemias, sendo que, os maiores danos da doena so observados em cultivos tardios, por provocar a coincidncia de maior presso de inculo, condies ambientais favorveis e estdio de desenvolvimento mais propenso a sua infeco.

    MANEjo dAS doENASO manejo das doenas na cultura do arroz

    deve ser realizado a fim de associar medidas que atuem desde a sobrevivncia dos patge-nos, dificultando o seu surgimento, at aes que retardem a progresso das epidemias e, consequentemente, os danos causados.

    A preparao antecipada do solo, normal-mente realizada na entressafra, pode propiciar destruio significativa de restos culturais, favorecendo a eliminao das estruturas de sobrevivncia dos fungos. Em adio ao preparo do solo, a eliminao de hospedeiros intermedirios, tais como plantas daninhas de ocorrncia espontnea na rea ou at mesmo nas taipas e nos canais de irrigao, reduz a quantidade de inculo para o surgimento de novas epidemias para a safra seguinte. O con-trole de plantas daninhas tambm impor-tante, pois alm de interferir diretamente no desenvolvimento da cultura, muitas espcies so hospedeiras de doenas como brusone, mancha parda, mancha estreita, escaldadura e queima das bainhas.

    A poca de semeadura fator decisivo no manejo de doenas. Sua antecipao favorece que o estdio reprodutivo do arroz ocorra sob condies climticas menos favorveis aos patgenos. Amplitude trmica e umidade relativa do ar elevadas, nebulosidade e preci-pitao frequentes, comuns a partir do ms de fevereiro, favorecem a progresso mais rpida e antecipada das doenas. No caso de culti-vares de ciclo mdio ou tardio, a propenso ao ataque de doenas torna-se maior. Devido condio anormal de clima observada na safra 2009/2010, no Rio Grande do Sul, a adoo de fatores de manejo na cultura do arroz

    Mancha parda: a emergncia e a florao so os perodos mais crticos para o arroz

    09www.revistacultivar.com.br Janeiro 2010

  • 10 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Temperatura20-30C20-30C28-32C20-27C25-35C10-35C15-20C

    25-30C

    UR (%)> 90%> 89%> 90%> 90%97%94%90%

    > 90%

    doenaBrusone

    Mancha pardaMancha estreita

    EscaldaduraQueima das bainhasMancha das bainhasMancha das glumas

    Crie ou carvo

    PatgenoPyricularia oryzaeBipolaris oryzae

    Cercospora oryzaeMicrodochium oryzae

    Rhizoctonia solaniRhizoctonia oryzae

    Alternaria spp.Curvularia lunataBipolaris oryzae

    Fusarium sp.Nigrospora oryzae

    Phoma sp.Tilletia barclayana

    poca semeaduratardia (dezembro)

    -tardia (dezembro)

    ---

    tardia (dezembro)

    tardia (dezembro)

    disseminaovento

    vento e chuvavento

    gua e ventosolo

    solo, gua e restos de cultura-

    doena no-sistmica

    outrosdias nublados

    --

    chuva e orvalho--

    frio

    luz e o2

    Fatores de interferncia no progresso de doenas na cultura do arroz. Matria orgnicaelevada

    ---

    elevada--

    -

    AdubaoN (50 - 120kg/ha)deficincia N e K

    deficincia KN (50 - 120kg/ha)

    alto N e deficincia de KN (50 - 120kg/ha)

    deficincia de K, P e Sio2

    N (50 - 120kg/ha)

    doenaBrusone

    Mancha pardaMancha estreita

    EscaldaduraQueima das bainhasMancha das bainhasMancha das glumas

    Crie ou carvo

    PatgenoPyricularia oryzaeBipolaris oryzae

    Cercospora oryzaeMicrodochium oryzae

    Rhizoctonia solaniRhizoctonia oryzae

    Alternaria sp.Curvularia lunataBipolaris oryzae

    Fusarium sp.Nigrospora oryzae

    Phoma sp.Tilletia barclayana

    Fatores de nutricionais envolvidos no progresso de doenas na cultura do arroz

    fundamental para amenizar os efeitos das semeaduras tardias.

    A semeadura realizada em dezembro altera o ciclo da maioria das cultivares, tornando-as mais sensveis s doenas, alm de levar a uma maior coincidncia dos perodos de emborrachamento e de florao com a ocorrncia de temperatura, umidade relativa e nebulosidade favorveis, problemticas cultura. Nesse perodo tambm existe maior nmero de esporos de patgenos no ar, o que aumenta a probabilidade de infeco.

    Como muitas doenas so disseminadas pelas sementes e a sua qualidade nem sempre atinge nveis compatveis, a utilizao de material com bom estado fisiolgico e fitos-sanitrio, que permita uma emergncia mais rpida e mais uniforme, pode reduzir o efeito de patgenos causadores de tombamento e queima foliar em plntulas. indicado tratamento com fungicidas para reduzir o potencial de inculo e prover tolerncia extra a fatores adversos durante o perodo inicial de estabelecimento da cultura.

    Adubao nitrogenada excessiva, atraso na colocao de gua aps a adubao de cobertura ou mesmo o seu parcelamento, provocam desequilbrio nutricional na plan-

    ta, em parte devido reduo na absoro de nutrientes como potssio, essencial na estruturao da parede celular, juntamente com o clcio e o fsforo, que atuam em diver-sas rotas metablicas de defesa das plantas. Irrigao desuniforme tambm capaz de causar estresse nas plantas, favorecendo a infeco tanto por patgenos de parte area como radiculares. A ocorrncia de brusone favorecida pela irrigao tardia e descontnua, em virtude da menor absoro de silcio (Si), elemento responsvel pela camada de slica, que reduz a capacidade de infeco de pat-genos, envolvimento na formao e acmulo de compostos antimicrobianos, responsveis pela proteo natural da planta.

    A utilizao de proteo qumica de parte area, quando associada a prticas bsicas de manejo da cultura do arroz, tem produzido

    aumento na produtividade na faixa de 5% a 50% em comparao s reas no protegidas. O momento da aplicao de fungicidas in-fluenciado por todos os fatores at o momento enumerados. Sua antecipao ou retarda-mento depende de decises locais onde os aspectos de manejo so ponderados com base no clima e as condies de estabelecimento e desenvolvimento da lavoura. De qualquer modo, sempre a maior eficcia da proteo ser associada antecipao para que o produto pulverizado consiga proteger a planta tanto do ataque das doenas, que nesta safra ocorrer mais cedo, como dos prejuzos fisiolgicos que esto sofrendo e que podero aumentar as possibilidades de rpida infeco.

    O nmero de aplicaes depende basi-camente do momento em que a primeira aplicao foi realizada. Ambas as condies mostram-se relacionadas poca de semea-dura e ao local onde a lavoura conduzida. O controle qumico das doenas de parte area do arroz uma ferramenta que proporciona estabilidade de produo, eficincia tcnica e retorno econmico, desde que acompanhado de um conjunto de medidas de produo e manejo cultural que propiciem cultura expresso de altos rendimentos.

    Ricardo Silveiro Balardin,Giuvan Lenz eGerson Dalla Corte,UFSM

    Brusone: favorecida pela irrigao tardia e descontnua

    Ricardo Balardin alerta para o surgimento antecipado de doenas nesta safra

    CC

  • 12 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Cana-de-acar

    A rea de cultivo de cana-de-acar tem aumentado significativa-mente a cada ano e, com isso, os problemas fitossanitrios passam a ser uma constante. A expanso da cultura para regies de solos arenosos, com condies climticas favorveis, tem agravado os pro-blemas com fitonematoides.

    Nematoides so organismos vermifor-mes que atacam o sistema radicular e com-prometem a absoro de gua e nutrientes, reduzindo drasticamente a produtividade da cultura. Em cana-de-acar citam-se como mais importantes os formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita) e os causadores de leses radiculares, especial-mente Pratylenchus zeae.

    dANoS Os nematoides de galhas caracterizam-se

    por penetrar a raiz, injetar substncias txicas e induzirem stios especficos de alimentao, onde permanecero durante todo o ciclo de vida. Em geral, nas razes da planta infectada ocorre a formao de nodosidades, denomina-das galhas, no entanto, este sintoma no co-mum no sistema radicular da cana-de-acar.

    Os nematoides de leses radiculares, por sua vez, penetram o sistema radicular e movimentam-se livremente no seu interior, formando pequenas galerias na regio cortical, o que compromete a atividade normal das

    razes. Ambos os tipos de infeco servem como

    porta de entrada para patgenos oportunistas que habitam o solo, como fungos e bactrias, o que em geral aumenta os danos ocasionados pelos nematoides.

    Levantamentos realizados em diferentes regies do Brasil mostram a frequncia e as populaes cada vez mais elevadas destes nematoides. Considerando os dados levanta-dos pode-se afirmar que superior a 70% o percentual das reas cultivadas infestadas por uma ou mais espcies de grande importncia econmica. Na regio noroeste do Paran, por exemplo, Meloidogyne spp. e Pratylenchus spp. foram encontrados em 93% e 87% das reas de plantio de cana-de-acar, respectivamente.

    Atualmente, alguns aspectos adicionais ao parasitismo de nematoides em cana-de-acar devem ser considerados. O primeiro a ocorrncia conjunta de Meloidogyne e da bactria causadora do raquitismo das soqueiras, Leifsonia xyli subsp. xyli, que alm de dificultar o diagnstico exato do patge-no que est ocasionando prejuzos cultura, causa danos com efeito aditivo, ou seja, somam-se os problemas provocados pelos nematoides aos casados pela bactria.

    Outro fator importante que em algu-mas regies, aps o vencimento do contrato de arrendamento das terras, os proprietrios

    tendem a retomar as atividades agrcolas nas reas de plantio de cana. Neste caso, os prejuzos com os cultivos subsequentes tm sido altos, j que culturas como soja, algo-do, feijo e outras so suscetveis a ambos os nematoides. importante salientar que Pratylenchus tem assumido importncia cada vez maior na cultura da soja, assim, reas temporariamente arrendadas para o plantio de cana merecem ateno especial antes de serem novamente destinadas s culturas anuais.

    Outra prtica que tem sido comum no noroeste do Paran e tambm em outras re-gies agrcolas do pas, a utilizao de reas de pastagem degradada para o cultivo de cana. Considerando que a maioria das pas-tagens utilizadas suscetvel aos nematoides de leses radiculares, estabelece-se o cultivo da cana-de-acar em solos com elevada populao inicial do patgeno no solo.

    CoNTRolEO controle de nematoides em cana-de-

    acar complexo e, aps o estabelecimento dessas espcies na rea, a erradicao torna-se praticamente impossvel. Ento, o produtor precisa manej-las de forma que a produtivi-dade no seja comprometida.

    Um dos mtodos mais prticos e econmi-cos para o controle de nematoides o uso de va-riedades resistentes. No entanto, para a cultura

    Jos Francisco Garcia

    Canaviais infestadosCanaviais infestadosMais de 70% das reas cultivadas com cana-de-acar esto atualmente infestadas por uma ou mais espcies de nematoides de grande importncia econmica, como

    Meloidogyne javanica, M. incognita e Pratylenchus zeae. Como o controle complexo e a erradicao praticamente impossvel, resta ao produtor lanar mo de estratgias de

    manejo que evitem o comprometimento da produtividade

    Mais de 70% das reas cultivadas com cana-de-acar esto atualmente infestadas por uma ou mais espcies de nematoides de grande importncia econmica, como

    Meloidogyne javanica, M. incognita e Pratylenchus zeae. Como o controle complexo e a erradicao praticamente impossvel, resta ao produtor lanar mo de estratgias de

    manejo que evitem o comprometimento da produtividade

  • 14 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    O uso de nematicida, alm de reduzir a populao de nematoides no solo, pode apresentar efeito fitotnico, aumentando o nmero de perfilhos e a altura da planta

    da cana tem-se observado que as caractersticas produtividade e resistncia so inversamente correlacionadas, ou seja, variedades com alta produtividade mostram-se suscetveis aos prin-cipais nematoides da cultura. Outro agravante o fato de que comum no campo a ocorrncia de populaes mistas, o que dificulta a escolha do material a ser plantado.

    Com a falta de material resistente dis-ponvel no mercado, a rotao de culturas assume papel importante para o manejo destes patgenos. O uso de espcies como crotalrias e mucunas em rotao com a cana traz diversos benefcios. Alm de tais plantas atuarem como antagonistas aos nematoides, possibilitam a fixao de nitrognio, que ficar disponvel no solo para a cultura subsequente e ainda adiciona ao solo matria orgnica, que servir como substrato para microorganismos antagonistas. A adio de matria orgnica ao solo sempre uma importante ferramenta para o controle destes patgenos, tanto pela ao direta de liberao de substncias txicas durante o processo de decomposio, quanto por ativar microorganismos antagonistas habitantes do solo.

    Apesar dos mtodos alternativos serem citados como importantes estratgias de controle, a utilizao de produtos qumicos destaca-se como mais comumente empregada na cultura da cana e, quando feita correta-mente, apresenta resultados compensatrios. Produtos carbamatos, como carbofuran e

    aldicarbe, so os mais comumente aplicados. Os organofosforados, como terbufs, tm sido menos utilizados, por causarem problemas de fitotoxidez quando usados em associao aos herbicidas.

    Em geral, os nematicidas so emprega-dos no momento do plantio ou aplicados na soqueira, sendo os melhores resultados observados para o tratamento na cana-planta. Alm da reduo da populao de nematoides no solo, tais produtos podem apresentar efeito fitotnico, aumentando o nmero de perfilhos e a altura da planta, resultando em acrscimo mdio na produtividade de oito toneladas a 20 toneladas por hectare. Contudo, importante ressaltar que isto no uma regra, e em alguns casos a relao custo/benefcio no se mostra vantajosa.

    Em geral, o insucesso do controle qumico de fitonematoides est associado ao manejo in-correto. Deve-se evitar a utilizao de produtos nas formulaes lquidas em perodos chuvosos. Isto porque ocorrer a rpida lixiviao desses defensivos, sendo indicado, neste caso, o uso de granulados. O inverso tambm deve ser observado, pois o uso de granulados em pocas de baixa precipitao promove a volatilizao do produto, comprometendo o controle dos nematoides no momento mais crucial, durante o estabelecimento da cultura.

    Outro aspecto importante saber se realmente os nematoides so os responsveis pelos prejuzos que ocorrem na lavoura. Tem

    sido comum, em diversas regies, a aplicao de nematicidas de forma indiscriminada e, em alguns casos, em reas onde as populaes esto muito baixas ou ausentes. Esta prtica eleva o custo de produo, alm de depositar no ambiente produtos altamente txicos. Da a importncia de realizar o levantamento das populaes de nematoides no solo, antes da adoo do controle. O produtor deve consultar um engenheiro agrnomo, para proceder as amostragens e o encaminhamento do material para laboratrio especializado.

    O uso de variedades resistentes um dos mtodos mais prticos e econmicos, salienta Cludia

    Nematoides comprometem a absoro de gua e de nutrientese, com isso, reduzem o desenvolvimento da cultura

    Cludia Regina Dias-Arieira eDavi Antonio Oliveira Barizo, Universidade Estadual de Maring

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  • 16 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Trigo

    Cultivado desde os primrdios da humanidade e responsvel pela ocupao de extensas reas geogrficas, o trigo se tornou hospedeiro natural de vrios vrus. No Brasil, prin-cipalmente o produtor do Sul do pas (pela importncia econmica da cultu-ra na regio) est familiarizado com a ocorrncia de duas viroses: o nanismo amarelo e o mosaico comum.

    Alm das duas viroses de impacto econmico que ocorrem no trigo no Brasil, vrias outras so conhecidas por acometer essa cultura, sendo que muitas causam impacto econmico em outros pases. Algumas foram descritas no Brasil, mas sua importncia at o momento vem sendo ignorada. Outras podem vir a ocorrer, fato que depende apenas da sua capacidade de se disper-sar e de se estabelecer nas condies brasileiras. Neste sentido, viroses de impacto econmico que j ocorrem em pases vizinhos devem ser especialmente consideradas. Na Amrica do Sul, uma virose conhecida como mosaico estriado, causada pelo Wheat streak mosaic virus (WSMV) (Tritimovirus, Potyviridae) foi relatada em 2002 na Argentina. Na safra de 2007 causou perdas expressivas em lavouras das principais regies produ-toras daquele pas. Est entre as mais importantes para a cultura do trigo no mundo. Em 2008, outro vrus de impac-to econmico foi relatado na Argentina, o HPV (High plains virus). Em comum, o WSMV e HPV so transmitidos por caro denominado Aceria tosichella Keifer (Prostigmata: Eriophyidae). A presena de A. tosichella foi comprovada na Argentina em 2004 e relatada oficial-mente no Brasil em 2008. A presena do vetor, a proximidade com a Argentina e a similaridade de clima e vegetao justificam medidas de monitoramento e de mitigao de danos relacionados s viroses transmitidas por A. tosichella.

    O WSMV causa sintomas do tipo mo-saico, ou seja, assim como para o mosaico comum h uma alternncia entre reas verdes e clorticas e os sintomas se iniciam desde a base da folha at seu pice. Como apenas com base em sintomas muito difcil fazer diagnstico preciso, indcios de que se trata de mosaico estriado e no de mosaico comum podem ser obtidos pela ocorrncia de plantas doentes em locais onde nunca antes fora observado o mosaico comum. Outro indicativo a presena do caro vetor (o que em condies de campo muito difcil de se perceber pois o caro diminuto e perceptvel somente em altas populaes). O diagnstico preciso depen-

    Vizinhos do perigo

    Vizinhos do perigo

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    Dois vrus de impacto econmico no cultivo de trigo na Argentina

    ameaam a cultura no Brasil. Tratam-se de Wheat streak mosaic

    virus (WSMV) e de HPV (High plains virus), ambos transmitidos por um

    caro denominado Aceria tosichella. A presena do vetor, a proximidade

    geogrfica e a similaridade de clima e vegetao justificam o alerta e a necessidade de monitoramento

    intenso das lavouras brasileiras

    Dois vrus de impacto econmico no cultivo de trigo na Argentina

    ameaam a cultura no Brasil. Tratam-se de Wheat streak mosaic

    virus (WSMV) e de HPV (High plains virus), ambos transmitidos por um

    caro denominado Aceria tosichella. A presena do vetor, a proximidade

    geogrfica e a similaridade de clima e vegetao justificam o alerta e a necessidade de monitoramento

    intenso das lavouras brasileiras

  • Fotos Dirceu Gassen

    de necessariamente de exames sorolgicos e moleculares realizados em laboratrio.

    Um fator de risco associado ao WSMV a transmisso por sementes. Embora ocorra em taxas em torno de 1%, o sufi-ciente para a introduo do patgeno e em locais onde exista o vetor pode dar incio a epidemias.

    Atualmente no Brasil esto sendo monitoradas, atravs de levantamento de campo, as populaes de A. tosichella e realizados testes para detectar a poss-vel ocorrncia dos vrus transmitidos. Tambm para estimar seu impacto na triticultura nacional, o nvel de resis-tncia de gentipos brasileiros s viroses ser determinado. Considerado o risco potencial que estas viroses representam, os programas de melhoramento devem buscar incorporar resistncia aos vrus transmitidos por A. tosichella.

    VIRoSES PRESENTES No BRASIlO nanismo amarelo apresenta ampla

    distribuio, com frequente ocorrncia em todas as regies tritcolas tradicionais do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Cata-rina, Paran e sul do Mato Grosso do Sul). causado por espcies dos vrus Barley yellow dwarf virus (BYDV) (Luteovirus, Luteoviridae) e Cereal yellow dwarf virus

    (CYDV) (Polerovirus, Luteoviridae), transmitidas por pulges ou afdeos (Hemiptera, Aphididae). Nas condies brasileiras, as espcies de pulges mais importantes nos cereais de inverno so o pulgo da aveia (Rhopalosiphum padi), o pulgo verde dos cereais (Schizaphis graminum), o pulgo da espiga (Sitobion avenae) e o pulgo da folha (Metopolo-phium dirhodum).

    Os sintomas caractersticos que do nome doena so o amarelecimento e enrijecimento do limbo foliar e a redu-o da altura (nanismo) das plantas. O amarelecimento ocorre do pice para a base da folha. As plantas com sintomas normalmente se encontram em rebolei-ras no campo. Plantas infectadas logo no incio do desenvolvimento apresentam reduo da massa da parte area, atraso

    no ciclo de desenvolvimento e reduo da produtividade. Para as cultivares atualmente recomendadas, a reduo na produtividade tem sido de at 60% em infestao controlada e at 25% em condies de epidemia natural. O com-prometimento do sistema vascular torna as plantas menos capazes de resistir a outros estresses, por isso, em situaes de dficit hdrico, a reduo na produ-tividade pode ser ainda maior.

    O ciclo da doena depende da presena de plantas hospedeiras e de afdeos vetores. O afdeo adquire o vrus ao se alimentar da seiva de uma planta infectada. Uma vez ingeridas, as partculas virais circulam pelo corpo do inseto at se acumularem nas gln-dulas salivares. A partir deste estdio, quando o afdeo se alimenta em uma planta sadia, ocorre a transmisso do vrus. O vrus no transmitido por nenhum outro inseto, sementes, solo ou mecanicamente. Portanto, interferir no ciclo do afdeo contribui para diminuir a progresso da epidemia.

    O controle adequado depende de estratgias que atuem sobre o vetor e o vrus. Nas condies brasileiras, o controle biolgico tem contribudo para a manuteno da populao do vetor em nveis no alarmantes, reduzindo o dano direto causado pelos afdeos. Nesta categoria se destacam os parasitoides (microimenpteros). Atualmente, o percentual de parasitismo no campo tem sido alto e, afdeos coletados no campo geralmente se mostram parasitados.

    Mesmo com o controle biolgico, o monitoramento da populao de afdeos essencial para o controle da virose. Sobretudo para as regies mais quentes e que apresentam o plantio de trigo antecipado. Ateno especial deve ser dada formao de populaes de afdeos, seja em plantas voluntrias ou em plantios de aveia.

    O controle qumico via tratamento de sementes com molculas de ao sistmica (neonicotinoides) tem sido importante aliado para a reduo das perdas, sobretudo para cultivares mais

    Imagem do caro Aceria tosichella, recentemente relatado no Brasil

    O diagnstico da virose causada pelo caro Aceria tosichella deve ser realizadoatravs de exames sorolgicos e moleculares em laboratrio

    17www.revistacultivar.com.br Janeiro 2010

  • 18 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Dir

    ceu

    Gas

    sen

    tabela 1 Monitoramento e critrios para tomada de deciso no controle de pulges em trigoEspcie

    Pulgo-verde-dos-cereais (Schizaphia graminum1)Pulgo-do-colmo (Rhopelosiphum pedim)

    Pulgo-da-folha (Metopolophium dirhodum) e pulgo-da-espiga (Sitobion avenae)

    1 denominado Rhopelosiphum graminum pelo MAPA; 2 Mnimo de 10 pontos amostrais por talho

    Monitoramento2Contagem direta (emergncia ao afilhamento)

    Contagem direta (elongao ao emborrachamento)

    Contagem direta (espigamentoao gro em massa)

    Tomada de deciso (mdia)10% de plantas infectadas compulges

    10 pulges/afilho

    10 pulges/espiga

    Concentrao (g l.a./kg ou l)

    480400400400400500950700800

    100+12,5800800700

    141+108400

    dose do produto comercial (kg ou l/ha)0,50 (a), 0,30 (b,c)

    0,83 (a)0,83 (a)0,70 (a)0,82 (a)2,00 (a)0,50 (a)0,05 (c)

    0,08 ( c), 0,10 (d)0,5 (d), 0,25 (b)

    0,20 (a)0,50 (a)0,025 (b)

    0,05 (c), 0,15 (d)1,00 (a)

    tabela 2 inseticidas indicados para o controle de pulges (a), do pulgo-da-folha (b), do pulgo-verde-dos-cereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverizao e tratamento de sementes nome comercial, formulao, concentrao, doses, classe toxicolgica e registrante

    Nome tcnico

    Clorpirifs etlicodimetcato

    Fenitrotione

    Imidacloprido3

    Imidacloprid + betaciflutrinaMetamidfos

    Parationa metlicaTiametoxam3

    Tiametoxam + lambacialotrinaTriazfos

    1EC = Concentrao imulsionvel; FS = Suspenso concentrada p/tratamento de sementes; SC = Suspeno concentrada; Sl = Concentrado solvel; Ul = Ultra baixo volume; WS = P deperalvel p/tratamento de sementes.2 Classe I = Extremamente txico; Classe II = Altamente txico; Classe III = Medianamente txico; Classe IV = Pouco txico.3 Em tratamento de sementes, dose para 100 kg de sementes.* o uso dos inseticidas indicados, alm do registro no MAPA, esta sujeito legislao de cada estado.

    Nome comercial*

    lorsban 480 BRdimexion

    dimetcato CEPerfekthion

    Tiomet 400 CESumithion 500 CE

    Sumithion UBVGaucho

    Gaucho FSConnect

    Tamaron BRFolidol 800

    Cruiser 700 WSEngeo Pleno

    Hostathion 400 BR

    Formulao1

    ECECECECECECUlWSFSSCSlECWSSCEC

    Classe Toxicolgica2

    IIIIIIIIIIIVIVIIIII

    IIIIIII

    Registrante

    dowBayer

    MileniaBasf

    SipcamSumitomoSumitomo

    BayerBayerBayerBayerBayer

    SyngentaSyngenta

    Bayer

    PredadoresAAAA--

    -A---A

    ParasitidesBS-M--

    -A---S

    tabela 3 inseticidas indicados para o controle de pulges (a), do pulgo-da-folha (b), do pulgo-verde-dos-cereais (c) e do percevejo-barriga-verde (d) em trigo, em pulverizao e tratamento de sementes ingrediente ativo, dose, efeito sobre predadores e parasitides, intervalo de segurana, ndice de segurana e modo de ao

    Inseticida

    Clorpirifs etlicodimetcato

    FenvarelatoFenitrotiona

    ImidaclopridoImidacloprido +

    betaciflutrinaMetamidfos

    Parationa metlicaTiametoxam

    Tiametoxam + lambacialotrina

    Triazfos

    Toxicidade1

    1 Toxicidade a predadores, Cycloneda sangunea e Eriopsis connexa e a parasitides (Aphidius spp.); S (seletivo) = 0-20% de mortalidade; B (baixa) = 21-40%; M (mdia) = 41-60%; A (alta) 61-100%; 2 Perodo entre a ltima aplicao e a colheita; 3 Quanto maior o ndice, menos txica a dose do produto; IS = (dlsc x 100 / g i.a. por hectare); 4 C = contato; F = fumigao; I = ingesto; P = profundidade; S = sistmico; 5 Em tratamento de sementes, dose para 100kg de sementes.

    dose g i.a./ha192 (a)350 (a)30 (a)500 (a)

    35-36 (c)550+8,25 (d)25+3,125 (b)

    120 (c)480 (a)

    17,5 (b)57,05 + 5,3 (c)

    21,2 + 15,9 (d)200 (a)

    Modo de aplicao4

    C, I, F, PC, F, SC, I

    C, I, PS

    C, I, S

    C, I, SC, I, F, F

    SSS

    C, I

    Intervalo de segurana2 (dias)

    21281714-5

    14

    2115-5424228

    oral85157533350

    571 a 5714333

    154

    166742510835,5

    36

    dermal1042284

    16667600

    >11428>533

    16014

    >2857118194>5391

    550

    ndice de segurana3

    suscetveis e menos tolerantes. A re-sistncia gentica e a tolerncia so aliadas importantes. Neste caso podem ser utilizadas cultivares resistentes ao vrus e ao vetor.

    O uso de cultivares mais resistentes deve ser considerado principalmente para aqueles produtores que no de-sejam fazer uso do controle qumico. Aos que podem optar por estratgias variadas, recomenda-se fazer um ba-lano entre o potencial produtivo da cultivar, nvel de suscetibilidade, risco da ocorrncia de epidemia e custo do tratamento qumico.

    MoSAICo CoMUMO mosaico comum do trigo causa-

    do pelo Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV) (Furovirus). Esta virose apresenta distribuio mais restrita (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do Paran) s reas em que o frio e a umida-de na poca do plantio favorecem o vetor Polymyxa graminis, parasita obrigatrio que se assemelha em alguns aspectos aos fungos, mas que pertence a um grupo taxonmico distinto. Em anos de precipitao intensa na poca de plantio pode ocorrer aumento da extenso das reas afetadas por mosaico.

    Os sintomas da infeco pelo SBWMV no campo so caracterizados pela presena de plantas amareladas, de crescimento retardado, com distribuio em grandes reas irregulares, especialmente em locais de maior acmulo de umidade. O sintoma tpico em folhas o mosaico, ou seja, no limbo foliar alternam-se reas verdes e amareladas. Os desenhos decorrentes so variados (s vezes observam-se listras e em outras a distribuio mais irregular).

    Sintomas da virose do nanismo amarelo

    Diferentemente do que ocorre com o na-nismo amarelo, os sintomas cobrem toda a folha e iniciam-se desde a sua base. Para as cultivares mais suscetveis pode ocorrer morte das plantas ou a formao abun-dante de brotaes, com folhas e brotaes

    Douglas Lau, Embrapa Trigo

    curtas. Nestes casos, geralmente, no h a formao de espigas e, se h, o nmero e o peso dos gros so reduzidos. CC

  • Soja

    20 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Dirceu Gassen

    O principal objetivo do melho-ramento gentico, ao longo do tempo, foi maximizar produo de gros, fazendo com que os gentipos da soja perdessem sua variabilidade gentica, deixando para trs caractersticas relacionadas rusticidade da cultura. Dessa forma, as cul-tivares tradicionais utilizadas pelos produtores possuem expresso reduzida no genoma de caractersticas importantes como a resistncia/tolerncia a patgenos em geral. Nos ltimos anos, no entanto, o desenvolvimento de cul-

    tivares resistentes a doenas foi intensificado, principalmente contra a ferrugem da soja.

    A ferrugem uma das doenas mais importantes da cultura no Brasil, tendo resultado em prejuzos superiores a US$ 13 bilhes desde a sua ressurgncia, em 2001, at a safra atual. As plantas infectadas pelo fungo apresentam desfolha precoce, prejudicando o enchimento de gros, com consequente redu-o na produtividade. O controle da doena se baseia na utilizao de fungicidas do grupo dos triazis e estrobilurinas aplicados na parte

    area. Novas tecnologias tm surgido para auxiliar no controle da doena, destacando-se o lanamento de cultivares com resistncia vertical a P. pachyrhizi, a exemplo da TMG 801, TMG 803 e BRS GO 7560.

    A resistncia presente nessas cultivares expressa pela diminuio no nmero de ur-dias e na esporulao do fungo, ocasionando a formao de leses do tipo RB (Reddish Bro-wn), que corresponde reao de resistncia. Porm, esto sujeitas quebra dessa resistncia devido grande variabilidade gentica do pa-

    Limites da resistnciaCom o advento de novas cultivares resistentes ferrugem asitica cresce a lista de aspectos a serem considerados no estabelecimento de um programa de controle da doena. Primeiro preciso alertar que a tecnologia no exclui o uso de fungicidas. Alm disso, a escolha baseada apenas na definio de produto e na poca de aplicao especfica, sem considerar as diferenas varietais, tende a levar a resultados catastrficos

    Limites da resistnciaCom o advento de novas cultivares resistentes ferrugem asitica cresce a lista de aspectos a serem considerados no estabelecimento de um programa de controle da doena. Primeiro preciso alertar que a tecnologia no exclui o uso de fungicidas. Alm disso, a escolha baseada apenas na definio de produto e na poca de aplicao especfica, sem considerar as diferenas varietais, tende a levar a resultados catastrficos

  • tgeno, comprovada pela existncia de diversas raas fisiolgicas. Por isso, essa tecnologia no exclui a necessidade do uso de fungicidas. Em-bora a eficincia dos fungicidas no controle da ferrugem asitica seja conhecida, o momento da aplicao inadequado, sem observar as ca-ractersticas da cultivar semeada, ainda resulta em perdas significativas devido incidncia dessa doena. Anualmente, experimentos conduzidos no Instituto Phytus, Diviso de Pesquisa, em Itaara, no Rio Grande do Sul, avaliam a eficincia de diferentes programas de controle qumico da ferrugem asitica e rendimento de gros em diversas cultivares de soja. Em todos os ensaios, tem-se observado interao entre cultivares e programas de con-trole, demonstrando que, para se obter sucesso no manejo da doena, necessrio considerar essa interao. Na safra 2007/2008 foram avaliadas dez cultivares de soja: BRS 243 RR, A 6001 RG, Fundacep 55 RR, Nova Andrea 66 RR e Coodetec 214 RR (de ciclo precoce), A 7636 RG, A 8000 RG e BRS 256 (de ciclo mdio), Coodetec 219 RR e BRS Pampa RR (semitardias). Essas cultivares estiveram sujeitas a seis programas de controle, consti-tudos por diferentes fungicidas (mistura de dois grupos qumicos) associados a pocas de aplicao (Tabela 1).

    As cultivares apresentaram diferena na

    A resistncia de certas cultivares ferrugem no exclui a necessidade do uso de fungicidas, j que pode ocorrer quebra de resistncia devido grande variabilidade gentica do patgeno

    severidade da ferrugem no tratamento teste-munha sem a aplicao de fungicida (PC7) (Figura 1). Entre as cultivares precoces, a BRS 243 RR obteve o menor valor (10,5%). Para

    as cultivares de ciclo mdio, a severidade foi menor na cultivar BRS 256 RR (11,5%). Po-rm, considerando todas as cultivares, a menor severidade (8,25%) foi observada na cultivar

    Rafael M. Soares

  • 22 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Programas de controle1234567

    poca de aplicao1

    F >> 21 dAAF >> 21 dAAF >> 21 dAA

    R1 >> 21 dAAR1 >> 21 dAAR1 >> 21 dAA

    Fungicida2

    T+E >> T+ET+E >> T+BT+B >> T+BT+E >> T+ET+E >> T+BT+B >> T+B

    Tabela 1 - Programas de controle utilizados no expe-rimento visando o controle da ferrugem asitica em dez cultivares de soja. Itaara/RS, 2009

    *F e dAA se referem ao fechamento das entrelinhas e dias aps a aplicao, respectivamente; **B, T e E representam fungicidas do grupo qumico dos benzimidazis, triazis e estrobilurinas, respectivamente.

    Testemunha sem aplicao de fungicida

    BRS Pampa RR, seguida pela cultivar Coode-tec 219 RR (10%). A variao entre cultivares de mesmo ciclo est relacionada resistncia parcial inerente de cada cultivar, expressa por um maior perodo de latncia, reduo no nmero de urdias, nmero e tamanho de leses e esporulao. Epidemiologicamente falando, a reduo nesses parmetros limita a populao do patgeno, diminuindo a taxa de progresso da doena.

    Nas parcelas tratadas com fungicida, houve cultivares que mostraram diferenas considerveis entre os programas de controle, enquanto em outras praticamente no foi observada diferena. Em geral, as maiores alteraes ocorreram para as cultivares de ciclo precoce devido avaliao ter sido realizada precocemente (21 dias aps a segunda apli-cao). Nas cultivares BRS 243 RR e A 6001 RG a diferena entre programas de controle foi maior. Nesse caso, os programas 1 e 5, respectivamente, foram os mais eficientes (Figura 2). Para as cultivares de ciclo mdio/semitardio, a avaliao efetuada nessa data no possibilitou clara visualizao de diferen-

    as claras entre os programas de controle da ferrugem (Figura 3).

    Os programas de controle resultaram em acrscimos significativos no rendimento de gros, de maneira genotipicamente dependen-te. Nas cultivares A 6001 RG e Coodetec 214 RR, o programa PC2 destacou-se em relao aos demais, promovendo incremento de 1.307kg.ha-1 e 1.027kg.ha-1 no rendimento de gros em relao testemunha (Figura 4). Para a cultivar BRS 243 RR, os programas em que foi obtido maior rendimento de gros foram o PC1, PC4 e PC5, fato tambm verificado na cultivar Fundacep 55 RR, com exceo do PC4. Os programas PC1 e PC2 foram supe-riores na cultivar Nova Andrea 66 RR.

    O rendimento de gros das cultivares do grupo de maturao mdio/semitardio apre-sentado na Figura 5. O programa de controle PC4 resultou no maior rendimento de gros nas cultivares A 7636 RG, BRS 256 RR e BRS Pampa RR, porm, foi similar aos demais pro-gramas para a segunda cultivar, exceto o PC2, e ao PC5 para a ltima cultivar. Na cultivar A 8000 RG, os maiores rendimentos de gros foram obtidos nos programas PC4 e PC5. Na cultivar Coodetec 219 RR, a diferena entre os programas de controle foi pequena. Esses resultados sugerem que, para duas aplicaes de fungicida, a fim maximizar o potencial produtivo dessas cultivares, o programa de controle deve ser iniciado em R1.

    As cultivares A 8000 RG e A 6001 RG foram mais responsivas ao uso de fungi-cidas, com incrementos variando entre 726kg.ha-1 e 1.426kg.ha-1 e 418kg.ha-1 e 1.307kg.ha-1, respectivamente (Figura 6). possvel observar, ainda, que a diferena entre os programas de controle extremos (menor e maior acrscimo) considervel,

    demonstrando que mesmo efetuando-se o controle qumico da doena, pode-se per-der mais de dez sacos de soja.ha-1 devido ao estabelecimento de um programa de controle inadequado.

    Nas cultivares BRS 256 RR e Coo-detec 219 RR no houve grande dife-rena entre os programas de controle extremos. O incremento mnimo foi de 425kg.ha-1 e 673kg.ha-1 e o mximo de 760kg.ha-1 e 954kg.ha-1, respec-tivamente (Figura 6). Dessa forma, pode-se inferir que nessas cultivares se estaria menos sujeito a possveis erros de manejo. Essa caracterstica possi-velmente se deva maior resistncia parcial dessas cultivares, assim como a BRS 243 RR e BRS Pampa RR. Nessas cultivares o dano pela ferrugem menor. Contudo, o rendimento de gros delas nunca ultrapassou os 2.800kg.ha-1, ao passo que o da cultivar A 8000 RG, a mais suscetvel, atingiu 3.352kg.ha-1 no melhor programa de controle. Com base nisso, podemos inferir que cultivares mais suscetveis ferrugem necessitam, invariavelmente, de posicionamento mais preciso do fungicida para expressar todo seu potencial produtivo.

    Os resultados gerados a partir desse ensaio remetem para uma anlise mais acurada no estabelecimento de um pro-grama de controle da ferrugem asitica da soja. A opo por programas de controle especficos embasados apenas na defini-o de fungicida e na poca de aplicao (aplicao calendarizada) sem considerar as diferenas varietais pode comprometer a expresso do potencial produtivo dos materiais. Tal equvoco tende a acarretar resultados catastrficos, repercutindo de ma-neira negativa na rentabilidade do produtor, mesmo que se execute o controle qumico da doena. O ciclo IAF e a arquitetura da cul-tivar, o estado nutricional da planta, o nvel de resistncia parcial e sua inter-relao com os programas de controle qumico necessitam ser melhor avaliados, visando fornecer infor-maes mais precisas para o seu adequado estabelecimento. Com base nesses resultados, o produtor poder selecionar cultivares de acordo com o input de tecnologia que est disposto a utilizar.

    Jernimo Dias Menegon, Ricardo Silveiro Balardin,Daniel Debona,Marcelo Gripa Madalosso,Diego Dalla Favera eGerson Dalla Corte,UFSMClarice Rubim Balardin,Instituto Phytus

    A resistncia expressa pela diminuio no nmero de urdias e na esporulao do fungo

    CC

    Rafa

    el M

    . Soa

    res

  • Figura 1 - Severidade da ferrugem asitica no tratamento testemunha (PC7) de dez cultivares de soja, aos 21 dias aps a segunda aplicao de fungicida. Itaara/RS, 2009

    Figura 2 - Eficincia de diferentes programas de controle da ferrugem asitica (%) aplicados sobre cultivares de ciclo precoce, aos 21 dias aps a segunda aplicao de fungicida. Itaara/RS, 2009

    Figura 3 - Eficincia de diferentes programas de controle da ferrugem asitica (%) aplicados sobre cultivares de ciclo mdio/semitardio, aos 21 dias aps a segunda aplicao de fungicida. Itaara/RS, 2009

    Figura 4 - Efeito de diferentes programas de controle da ferrugem asitica no rendimento de gros (kg.ha-1) de cultivares de soja de ciclo precoce. Itaara/RS, 2009

    Figura 5 - Efeito de diferentes programas de controle da ferrugem asitica no rendimento de gros (kg.ha-1) de cultivares de soja de ciclo mdio/semitardio. Itaara/RS, 2009

    Figura 6 - Incremento mnimo e mximo de diferentes programas de controle da ferrugem asitica no rendimento de gros (kg.ha-1) em dez cultivares de soja em relao ao tratamento testemunha (PC7). Itaara/RS, 2009

  • Soja

    26 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Obranco, normalmente conside- rado o smbolo da paz, desta vez tem outro significado para muitos sojicultores de regies onde a mosca-branca tem aparecido. A ocorrncia frequente dessa praga na soja, em algumas localidades, aliada ao desconhecimento da capacidade real de dano desse inseto cultura e das principais tticas de manejo que devem ser utilizadas, vem preocupando pesquisadores e produtores rurais. Alm disso, o nvel de ao, ou seja, o momento certo em que o controle deve ser utilizado, ainda um desafio para a pesquisa na atualidade.

    Alm da enorme capacidade de adap-tar-se aos mais diversos ambientes e hospedeiros, a importncia econmica da mosca-branca como praga agrcola se d principalmente devido sua capacidade de transmisso de diversos vrus (carlavrus, closterovrus, geminivrus, luterovrus, potyvrus, entre outros) nas diferentes cul-turas. Em plantas de soja, a mosca-branca transmissora do vrus da necrose-da-haste, do grupo dos carlavrus, que com a evoluo dos sintomas, pode levar a planta morte. Felizmente, j existe fonte de re-

    sistncia varietal para esse vrus e, assim, o produtor pode manejar a cultura optando pela semeadura de cultivares de soja que apresentam resistncia a essa virose.

    Entretanto, mesmo eliminando-se o problema da virose, ainda persiste a preo-cupao com o inseto como praga, que se alimenta dos nutrientes da planta, alm dos danos indiretos que tambm podem ser observados. Ao se alimentar continua-mente, a mosca-branca excreta nas folhas

    uma substncia aucarada, denominada honeydew, que favorece a formao de fumagina, causada pelo fungo Capnodium sp., sobre as folhas. A fumagina apresenta colorao preta, que dificulta a captao dos raios solares, reduzindo a taxa fotossinttica das folhas e provocando a queima da planta pela radiao solar.

    MANEjoApesar dos inmeros problemas que causa,

    A mosca-branca transmissora do vrus da necrose-da-haste, do grupo dos carlavrus, que, com a evoluo dos sintomas, pode levar a planta morte

    Terror da sojaTerror da sojaA ocorrncia frequente, aliada ao desconhecimento da real capacidade de dano e de

    alternativas de manejo para a mosca-branca na cultura da soja, preocupa pesquisadores e produtores rurais. Embora resultados preliminares de experimentos mostrem que infestao igual ou menor que 15 ninfas/fololo no causa danos significativos e dispensa medidas de conteno, o momento certo em que o controle deve ser adotado ainda um desafio. Por

    isso, a indicao o emprego do manejo integrado de pragas, que preconiza o uso racional de inseticidas para manuteno dos inimigos naturais

    A ocorrncia frequente, aliada ao desconhecimento da real capacidade de dano e de alternativas de manejo para a mosca-branca na cultura da soja, preocupa pesquisadores e

    produtores rurais. Embora resultados preliminares de experimentos mostrem que infestao igual ou menor que 15 ninfas/fololo no causa danos significativos e dispensa medidas de conteno, o momento certo em que o controle deve ser adotado ainda um desafio. Por

    isso, a indicao o emprego do manejo integrado de pragas, que preconiza o uso racional de inseticidas para manuteno dos inimigos naturais

    Fotos Adeney de Freitas Bueno

  • de extrema importncia esclarecer que o con-trole da mosca-branca no deve ser realizado em qualquer intensidade de infestao. No manejo integrado de pragas (MIP) sempre consideramos que a planta tolera certa injria sem reduzir produo. Alm disso, o sojicultor deve considerar os altos preos dos inseticidas utilizados contra o inseto. Entre as melhores opes de inseticidas disponveis atualmente no mercado para o controle dessa praga esto os produtos do grupo dos reguladores de cres-cimento especficos para mosca-branca. Uma nica aplicao desses produtos pode custar ao bolso do produtor um valor aproximado entre uma e duas sacas de soja por hectare. Assim, fica fcil entender que a aplicao desses pro-dutos deve ocorrer, apenas, quando o prejuzo causado pelo inseto for superior ou, no mnimo, igual ao custo de aplicao. Esse clculo tecnicamente chamado de nvel de ao ou nvel de controle, definido como a infestao da praga que justifica economicamente a realiza-o do controle. Aplicaes de inseticidas com a populao de insetos abaixo do nvel de controle iro representar um prejuzo para os produtores de soja, que podem, eventualmente, at atingir produes ligeiramente maiores, mas, certa-mente com custos tambm maiores, o que no justificaria os gastos realizados com o controle

    da praga. Entretanto, o desconhecimento desse nvel de ao para a mosca-branca na cultura da soja justamente a grande dificuldade para a recomendao de seu manejo na hora certa. Aliados a essa dificuldade, atualmente os inseticidas disponveis para o controle da mosca-branca diferem pouco quanto ao modo de ao. Assim, o uso abusivo de inseticidas com modo de ao semelhante, mesmo que muitas vezes tenham nomes comerciais diferentes, pode selecionar populaes da mosca-branca resistentes ao modo de ao utilizado, o que tem

    sido j relatado em revistas cientficas da rea. Em virtude dos problemas apresentados,

    pesquisadores da Embrapa Soja, em parceria com outras instituies de pesquisas, em proje-tos financiados pela prpria empresa e tambm pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolgico (CNPq) (Processo 565817/2008 6), vem estudando os nveis de ao/dano para o controle da mosca-branca na cultura da soja, assim como o uso de cultivares de soja resistentes ou pelo menos mais toleran-tes ao ataque da praga. Apesar das pesquisas

    Amosca-branca, como popular-mente conhecida, tem o nome cientfico de Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae). Apesar da denominao comum de mosca, trata-se, na verdade, de inseto sugador bastante comum em diversas culturas, como o tomate, o feijo, o algodo, entre outros, alm de vrias plantas daninhas. Em soja, seus primeiros surtos foram detectados em janeiro de 1996, em 1 de Maio, norte do Paran, e em Pedrinhas Paulista, em

    HIStrICo DA MoSCASo Paulo, provocando perdas entre 30% e 80%. Na safra seguinte, a mosca-branca causou danos de at 100% na cultura da soja, em Miguelpolis, norte de So Paulo. Mais recentemente, as infestaes da praga tm crescido em diversas regies produtoras de soja, principalmente no Mato Grosso do Sul, oeste da Bahia e alguns municpios de Gois. Nesses locais, tem sido verificado aumento considervel das aplicaes de inseticidas para seu controle, muitas vezes, de maneira errada e abusiva.

  • 28 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Ociclo biolgico da mosca-branca dividido na fase de ovo, um primeiro instar da ninfa, onde o inseto se locomove, por alguns minutos, at locali-zar o lugar mais adequado na planta para se fixar. Posteriormente, as ninfas passam por trs instares imveis, sendo o ltimo instar incorretamente denominado de pupa ou pseudopupa e, finalmente, os adultos (machos e fmeas). Os adultos medem cerca de 1,0mm de comprimento, sendo a fmea ligeiramente maior que o macho. Os insetos nesse estgio tm o dorso amarelo-plido possuindo dois pares de asas membranosas de cor branca. A

    rECoNHECENDo o INIMIGofmea tem a capacidade de postura que vai de 100 ovos a 300 ovos durante todo seu ciclo de vida, que varivel e dependente da alimentao e da temperatura. Os ovos medem aproximadamente 0,2mm e so colocados na face inferior das folhas jovens. Nas primeiras horas aps a postura, os ovos possuem formato alongado com um pednculo de cor branca amarelada, que se torna marrom escura no final. A fase de ovo dura cerca de cinco dias a sete dias quando ocorre o incio da ecloso das nin-fas. Entretanto, esse tempo, em geral, pode variar em funo das condies climticas e do hospedeiro.

    ainda estarem nos primeiros anos, alguns resul-tados promissores vm sendo obtidos.

    Os resultados de pesquisa, embora prelimi-nares, tm mostrado que pequenas infestaes da mosca-branca na soja, o que muitas vezes considerado pelo produtor como o momento adequado para a aplicao dos inseticidas, na verdade no causa qualquer reduo na produo. Assim sendo, essa aplicao des-necessria, principalmente considerando-se a ausncia de viroses. Em ensaios realizados no municpio de Parana (GO), a mosca-branca no reduziu significativamente a produo da soja com densidades avaliadas na poro mediana da planta iguais ou menores que 15 ninfas/fololo. Nos prximos anos, os estudos devero estar concentrados em infestaes su-periores a 15 ninfas/fololo, com o objetivo de determinar precisamente quando as redues de produtividade comeam.

    Em reas de cultivo de soja, onde as condies climticas e de manejo so muito favorveis ao desenvolvimento desse inseto, aliado a um histrico de ocorrncia dessa praga, o uso de cultivares de soja resistente ou no mnimo mais tolerante ao ataque da praga torna-se uma importante opo ao produtor para reduzir sua dependncia do inseticida qumico. Preocupada com isso, a Embrapa Soja tem testado seu banco de germoplasma para levantar os materiais que tenham resistncia ou tolerncia a esse inseto. importante ressaltar que o uso de cultivares resistentes ou tolerantes ao ataque da mosca-branca uma estratgia de manejo de grande importncia dentro de um programa de manejo integrado de pra-gas, por ser compatvel com o uso de outras tcnicas de controle. Alm disso, no agride o agroecossistema nem interfere nos custos de produo das lavouras, tornando-se vivel e ao alcance de todo e qualquer produtor. A identificao e a caracterizao de fontes de resistncia varietal so os primeiros passos para o melhoramento gentico vegetal obter gentipos tolerantes e/ou resistentes praga. Essa seleo de cultivares resistentes pode

    ser acelerada desde que os mecanismos de resistncia sejam conhecidos. Por isso, tem-se empregado grande esforo nessa rea de pesquisa. Entre os materiais avaliados at o momento e provenientes do banco de ger-moplasma da Embrapa Soja, o gentipo mais tolerante, quando comparado aos padres de resistncia utilizados (IAC-17 e IAC-19), foi a cultivar Barreiras, que indicada para semeadura em regies como o sudoeste da Bahia, onde a mosca-branca tem sido grande problema nos ltimos anos. Os esforos de pesquisa sero agora focados nos testes com os demais materiais, com potencial de resis-tncia e na determinao dos mecanismos de defesa da planta envolvidos, para acelerar o processo de melhoramento gentico.

    Entretanto, no momento, at que os novos resultados de pesquisa no estejam disponveis, o sucesso do manejo da mosca-branca na cultura da soja depende do reconhe-cimento da praga associado adoo completa do manejo integrado de pragas (MIP-soja), o que preconiza a reduo do uso exagerado de inseticidas, principalmente os de largo es-pectro de ao (no seletivos). Essa atitude importante porque a mosca-branca tem vrios

    inimigos naturais e os produtos de largo espec-tro de ao, como os piretroides, por exemplo, eliminam esses agentes de controle biolgico, favorecendo uma maior infestao da praga. Ainda, importante salientar a importncia do manejo da mosca-branca no sistema agrcola, como um todo, e no isoladamente em cada cultura. A enorme capacidade de adaptao desse inseto aos mais diversos hospedeiros cultivados e de ocorrncia natural, em associa-o a uma extraordinria mobilidade, faz com que medidas de controle isoladas para uma cultura, no tenham muitas vezes sucesso, principalmente, quando reas infestadas circunvizinhas tambm no forem manejadas corretamente. Essas medidas, quando adota-das em conjunto, auxiliaro na manuteno da populao dessa praga em nveis mais baixos do que se tem observado, muitas vezes, nas reas consideradas problemticas.

    Mosca-branca adulta

    Os ovos so colocados na faceinferior das folhas jovens

    Adeney de Freitas Bueno,Clara Beatriz Hoffmann-Campo eDaniel R. Sosa-Gomez,Embrapa SojaRegiane Cristina O. de F. Bueno,Universidade de Rio Verde

    A excreo da mosca, uma substncia aucarada, favorece a formao de fumagina sobre as folhas

    Fotos Adeney de Freitas Bueno

    CC

  • 29www.revistacultivar.com.br Janeiro 2010

    Milho

    O nematoide das leses radiculares (Pratylenchus spp.) tem apresen-tado elevada importncia nas ltimas duas safras de milho em vrias regies do Brasil, responsvel por severas perdas em produtividade. Segundo Dias et al (2007), esse gnero tem se beneficiado por mudanas no sistema de produo, como a adoo do plantio direto e a incorporao de reas com pastagem degradada e/ou com textura arenosa (

  • 30 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Nematoide das leses radiculares no interior da raiz

    Foto

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    bio

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    a populao e a raa predominante.

    MTodoS dE CoNTRolEO uso de mtodos de controle para este

    gnero bastante restrito, j que a maioria no se mostra tecnicamente eficaz ou econo-micamente vivel. No momento no existem hbridos de milho altamente resistentes a essa espcie. O mesmo ocorre para soja e sorgo. Dentre os mtodos mais utilizados para o con-trole de Pratylenchus spp podemos destacar o revolvimento do solo que expe os nematoides temperatura elevada na superfcie e elimina possveis plantas hospedeiras. A integrao de plantas no hospedeiras em rotao de cultura com o milho tambm tem se mostrado eficiente como mtodo de controle para que-brar o ciclo da doena. Entre as plantas mais utilizadas a Crotalaria spectabilis se destaca por apresentar benefcios em curto prazo.

    O controle qumico, integrado a outros mtodos, pode ser uma medida complementar para diminuir a populao de nematoides na sucesso soja/milho. Entre os produtos regis-trados no Ministrio da Agricultura Pecuria e Abastecimento (Mapa), apenas o carbofurano apresenta ao nematicida para duas das espcies do gnero: Pratylenchus brachyurus e Pratylenchus zeae (Brasil, 2007). Mesmo assim, a recomendao de uso baseia-se em equipamento de granuladeira e aplicao no sulco de plantio juntamente com a semeadura,

    o que dificulta a operacionalizao.

    ENSAIo A CAMPoRecentemente, a utilizao de tcnicas

    como o tratamento de sementes tem apre-sentado vantagens comparativas em relao utilizao de granuladeira. Alm de fcil utilizao uma tcnica de baixo custo e menor impacto ao ambiente. Durante a safra 2007/2008 foram conduzidos experimentos para avaliar a eficincia do carbofurano no tratamento de sementes de milho, visando o controle de Pratylenchus spp.

    O estudo foi realizado em uma rea plantada com soja, cultivar CD 217, (cultivar sensvel ao ataque de nematoides) escolhida em funo da elevada populao de Pratylen-chus spp.. A populao inicial de nematoides foi determinada no perodo vegetativo da soja, 40 dias aps a emergncia das plntulas. Foram avaliadas 20 plantas por repetio (seis repeties) totalizando 120 plantas. Aps a coleta, plantas foram levadas ao laboratrio onde foi retirada uma subamostra de 5g de razes/planta, quando foi computado o nme-ro de nematoides/5g de raiz. As subamostras foram analisadas pelo mtodo de Collen e DHerde (1972).

    Aps a colheita da soja foram semeadas duas parcelas com 15m de largura e 30m de comprimento com o hbrido de milho CD 304, sendo que em uma das parcelas as semen-

    tes foram tratadas com carbofurano na dose de 1,050kg de ingrediente ativo para 100kg de sementes e, na outra parcela, as sementes no receberam tratamento. Assim como para a soja, foram coletadas 20 plantas em seis repeties, aos 40 dias e 80 dias aps a semea-dura, em cada uma das duas parcelas de milho. Depois de coletadas, as razes foram levadas ao laboratrio onde foi determinado o nmero de nematoides em uma subamostra de 5g de razes. As subamostras foram analisadas pelo mtodo de Collen e DHerde (1972).

    Para determinar a persistncia do tra-tamento com carbofurano foram realizadas duas coletas em perodos distintos do ciclo do milho, uma aos 40 dias aps a semeadura, durante o perodo vegetativo, e outra aos 80 dias depois da semeadura durante o perodo reprodutivo. Em todas as avaliaes, as mdias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significncia (P = 0,05).

    RESUlTAdoSNo Grfico 1 encontram-se os resultados

    referentes populao inicial no cultivo de soja e tambm o nmero de indivduos presentes nas razes de milho, com e sem tratamento com carbofurano, 40 dias aps a semeadura. possvel observar que, com o tratamento das sementes de milho com carbofurano, houve reduo da populao de Pratylenchus spp., porm, o controle no foi efetivo pois a populao se manteve muito elevada, com mais de dez mil indivduos por cinco gramas de razes.

    No Grfico 2 encontram-se os resultados referentes populao inicial no cultivo de soja

    Mattioni: Cultura do milho vem sofrendo com ataques do nematoide das leses radiculares

  • 17www.revistacultivar.com.br Novembro 2009

    que o tratamento das sementes com carbo-furano foi pouco eficiente para o controle de Pratylenchus spp. na cultura do milho em sucesso soja, mesmo utilizando 1.050kg de ingrediente ativo para 100kg de sementes. O hbrido CD 304 apresentou grande suscetibi-lidade ao Pratylenchus spp.

    Grfico 1 - Nmero de nematoides Pratylenchus spp. nas razes de soja e de milho sem tratamento (ST) e com tratamento (CT) com carbofurano, 40 dias aps a semeadura. Valores seguidos de letras diferentes diferem significativamente pelo teste de Tukey (P = 0,05)

    Grfico 2 - Nmero de nematoides Pratylenchus spp. nas razes de milho sem tratamento (ST) e com tratamento (CT) com carbofurano, 80 dias aps a semeadura. Valores seguidos de letras diferentes diferem significativamente pelo teste de Tukey (P = 0,05)

    Fbio Mattioni,Roseli M. Giachini,Maria C. F. Albuquerque,Elisabeth A. F. Mendona eLeimi Kobayasti,Univ. Federal do Mato Grosso

    CC

    e tambm o nmero de indivduos presentes nas razes de milho com e sem tratamento com carbofurano, 80 dias aps a semeadura. Verifica-se que do mesmo modo que aos 40 dias, o tratamento das sementes diminuiu a populao de Pratylenchus spp., mas o controle no foi efetivo pois a populao aumentou significativamente para 18 mil indivduos por cinco gramas de razes. Alm disso, observa-se que o carbofurano perdeu eficincia com o tempo de exposio das razes aos nematoides. Inicialmente, aos 40 dias aps a semeadura (Grfico 1), o controle com carbofurano foi de 49,68% em relao s razes que no

    receberam tratamento. Por outro lado, aos 80 dias aps a semeadura (Grfico 2) o controle foi de apenas 23,11%.

    Muito embora os danos causados por nematoides do gnero Pratylenchus spp. na cultura do milho sejam conhecidos de longa data, como demonstra o trabalho de Lordello (1961), o dimensionamento das perdas em produtividade em funo do nmero de indivduos presentes nas razes ainda no muito conhecido. H indcios que populaes acima de mil nematoides por grama de razes, j acarretam danos econmicos.

    Os resultados obtidos permitem concluir

  • Milho

    32 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Um dos principais problemas da agricultura tem sido a presena de plantas daninhas, respon-sveis por inmeras perdas na produo agrcola mundial. Na tentativa de minimizar estes prejuzos os agricultores fizeram, por muito tempo, o uso de mtodos culturais e mecnicos para o controle. Entretanto, na dcada de 40, no perodo da Segunda Guerra Mundial, foi descoberto o primeiro composto qumico com ao herbicida (cido 2,4 di-clorofenoxiactico) para que, com o seu uso, os pases em conflito pudessem aumentar a produo de gros.

    Na dcada de 70, com a necessidade de aumento de produo mundial, houve acrscimo no uso de tecnologias, tais como o uso de herbicidas. Com isso as empresas qumicas de defensivos agrcolas intensifica-ram o desenvolvimento para a descoberta de novas molculas que pudessem ser utilizadas na agricultura. Com seu primeiro registro obtido em 1958 nos Estados Unidos, o

    herbicida atrazine [6-chloro N-ethyl, N-(1-methylethyl) 1,3,5-triazine 2,4-diamine] (Figura 1) tornou-se um dos defensivos mais utilizados mundialmente.

    Nos Estados Unidos aproximadamente 75% da rea cultivada com a cultura do mi-lho recebe a aplicao de atrazine, enquanto que no Brasil, pode-se estimar que 65% da rea de produo de milho utiliza o produto para o manejo das plantas daninhas atravs da aplicao isolada ou em associao com outros herbicidas.

    ao do herbiCidaO herbicida atrazine pertence ao grupo

    dos inibidores da fotossntese, que atuando na membrana do cloroplasto inibe o transporte de eltrons. Os herbicidas do grupo dos inibidores do fotossistema II (derivados das triazinas e das ureias substitudas) causam a morte das plantas pela falta de carboidratos, paralisando a reao luminosa da fotossntese.

    Os herbicidas do grupo das triazinas (ame-

    tryne, atrazine, cyanazine e simazine) so utiliza-dos na cultura do milho, sobretudo para o con-trole de plantas daninhas dicotiledneas (folhas largas) e algumas gramneas (folhas estreitas). Atrazine est registrado para a modalidade de uso em pr-emergncia e tambm para pulverizaes em ps-emergncia precoce, proporcionando tambm bons nveis de controle das folhas largas e algumas folhas estreitas (Tabela 1).

    Em plantas sensveis a esses herbicidas, h a germinao das sementes; porm, quando as plntulas emergem do solo e recebem luz, so desencadeadas reaes que afetam a fotossntese e levam a plntula morte. As plantas suscetveis, quando pulverizadas na presena de luz, mor-rem mais rapidamente que aquelas que forem pulverizadas no escuro, ou seja, na ausncia de luz. Alm da fotoxidao da clorofila, que provoca a clorose foliar, tambm ocorrem rom-pimentos na membrana citoplasmtica celular em consequncia da peroxidao de lipdios que so ocasionadas pela ao dos radicais txicos (clorofila triplet e oxignio singlet).

    Cautela no usoCautela no uso

    Cultivar

    Brasil detecta o primeiro caso de resistncia aos herbicidas do grupo das atrazinas em pico-preto (Bidens subalternum). Descoberta acende sinal de alerta sobre a necessidade de racionalizao no emprego de herbicidas base de atrazine,

    utilizados em aproximadamente 65% da rea de produo de milho no pas, de forma isolada ou em associao com outros produtos

    Brasil detecta o primeiro caso de resistncia aos herbicidas do grupo das atrazinas em pico-preto (Bidens subalternum). Descoberta acende sinal de alerta sobre a necessidade de racionalizao no emprego de herbicidas base de atrazine,

    utilizados em aproximadamente 65% da rea de produo de milho no pas, de forma isolada ou em associao com outros produtos

  • Tabela 1 - Espcies de plantas daninhas registradas no Ministrio da Agricultura Pecuria e Abastecimento que podem ser manejadas com o herbicida atrazine

    EspcieAcanthospermum australe Acanthospermum hispidum

    Achyrocline satureioides Ageratum conyzoides Alternanthera tenella Amaranthus deflexus Amaranthus hybridus

    Amaranthus retroflexus Amaranthus spinosus Amaranthus viridis

    Avena strigosa Bidens pilosa

    Brachiaria plantaginea Brassica rapa

    Cenchrus echinatus Chamaesyce hyssopifolia

    Coronopus didymus Croton glandulosus

    Cyperus sesquiflorus desmodium adscendens

    digitaria ciliaris digitaria horizontalis

    Eleusine indica Emilia sonchifolia

    Euphorbia heterophylla Galinsoga parviflora

    Nome comumcarrapichinho; carrapicho-rasteiro; maroto

    carrapicho-de-carneiro; chifre-de-veado; espinho-de-carneiro ch-de-lagoa; macela; macela-amarela

    catinga-de-bode; erva-de-so-joo; mentrasto apaga-fogo; corrente; periquito bredo; bredo-rasteiro; caruru

    bredo; caruru-branco; caruru-roxo bredo; caruru; caruru-spero

    bredo-branco; bredo-de-espinho; caruru-de-espinho bredo; caruru; caruru-de-mancha

    aveia-brasileira; aveia-preta; aveia-voluntria fura-capa; pico; pico-preto

    capim-marmelada; capim-papu; capim-so-paulo colza; mostarda; mostarda-selvagem

    capim-amoroso; capim-carrapicho; capim-roseta burra-leiteira; erva-andorinha; erva-de-santa luzia

    mastruo; mastruz; mentrusto gervo; gervo-branco; malva-vermelha capim-de-cheiro; capim-santo; junquinho

    carrapicho; carrapicho-beio-de-boi; marmelada-de-cavalo capim-colcho; capim-da-roa; capim-tinga capim-colcho; capim-de-roa; capim-milh

    capim-da-cidade; capim-de-pomar; capim-p-de-galinha bela-emilia; falsa-serralha; pincel

    amendoim-bravo; caf-do-diabo; flor-de-poetas boto-de-ouro; fazendeiro; pico-branco

    EspcieGlycine max

    Gnaphalium spicatum Hyptis lophanta

    Hyptis suaveolens Indigofera hirsuta

    Ipomoea aristolochiaefolia Ipomoea grandifolia Ipomoea purpurea leonurus sibiricus

    lepidium virginicum Melampodium perfoliatum

    Murdannia nudiflora Nicandra physaloides Panicum maximum Pennisetum setosum Portulaca oleracea

    Raphanus raphanistrum Richardia brasiliensis

    Sida cordifolia Sida rhombifolia

    Solanum americanum Sonchus oleraceus Spermacoce alata

    Spermacoce latifolia Triticum aestivum

    Xanthium strumarium

    Nome comumsoja

    erva-branca; erva-macia; macela-branca catirina; cheirosa; fazendeiro

    bamburral; betnica-brava; cheirosa anil; anileira; anileira-do-pasto

    campainha; corda-de-viola; corriola campainha; corda-de-viola; corriola campainha; corda-de-viola; corriola

    ch-de-frade; cordo-de-so-francisco; erva-maca mastruo; mastruz; mentrusto

    boto-de-cachorro; estrelinha; flor-amarela trapoeraba; trapoerabinha

    balo; bexiga; jo-de-capote capim-colonio; capim-coloninho; capim-guin capim-avio; capim-custdio; capim-mandante

    beldroega; bredo-de-porco; ora-pro-nobis nabia; nabo; nabo-bravo

    poaia; poaia-branca; poaia-do-campo guanxuma; malva; malva-branca guanxuma; mata-pasto; relgio

    erva-de-bicho; erva-moura; maria-pretinha chicria-brava; serralha; serralha-lisa

    erva-de-lagarto; erva-quente; perpetua-do-mato erva-de-lagarto; erva-quente; perpetua-do-mato

    trigo carrapicho; carrapicho-bravo; carrapicho-de-carneiro

    Com a finalidade de ampliao do espectro de controle, herbicidas do grupo das triazinas tm sido associados com produtos como s-metolachlor, alachlor e simazine, dentre outros. Estes defensivos proporcionam controle eficiente da maioria das espcies infestantes e apresentam seletividade para a cultura do milho.

    Os herbicidas base de atrazine esto registrados para as culturas da cana-de-acar, do milho e do sorgo. No Brasil h registro no Ministrio da Agricultura Pecuria e Abasteci-mento (Mapa) de 40 produtos comerciais base de atrazine, sendo que destes, 20 com atrazine isolada, 11 com a mistura com simazine, quatro com alachlor, trs com s-metolachlor, um com nicosulfuron e outro com glifosato.

    ATRAzINE E o MEIo AMBIENTEAtrazine apresenta presso de vapor de

    2,89mmHg x 10-7 mmHg a 25C o que classifica este produto como sendo de baixa capacidade de evaporao. A temperatura em que atrazine passa do estado slido ao lquido (ponto de fuso) est entre 175C e 177C. Sua temperatura de ebulio, ou seja, a temperatura em que passa do estado lquido ao gasoso de 200C. O valor da constante de dissociao (pKa), de 1,71C a 21C, indica que este herbicida um cido forte, sendo completamente dissociado em gua. O coeficiente de partio octanol gua (Kow) de 481C a 25C e solubilidade em gua de 33g/l a 27C define que este herbicida muito lipoflico (relao entre a fase orgnica

    e a fase aquosa) e pouco solvel. A meia vida deste herbicida pode variar de 60 dias at um ano. Os principais compostos formados na sua degradao no solo so hydroxyatrazine (HA) e deehylatrazine (DEA). Alem destes h a formao dos metablitos deisopropyla-trazine (DIA) e deethyldeisopropylatrazine (Dedia). O metablito hydroxylatrazine o que se encontra em maior concentrao, alm de ser o mais txico, sendo sua toxicidade comparvel do herbicida atrazine.

    Segundo a Organizao Mundial da Sade, o limite mximo permitido de atrazine na gua est na ordem de 2g/l no Brasil, embora nos Estados Unidos este limite seja definido como sendo 3g/l. Isto pode significar que um quilo de atrazine em 500.000m3 de gua torna-a impr-pria para o consumo humano (no potvel).

    A persistncia de atrazine, nas condies brasileiras, tem sido observada entre trs meses e sete meses. Com isto, as culturas de soja, feijo, algodo e outras sensveis no devem ser semeadas em intervalos inferiores a trs meses. Excees ocorrero em funo das condies climticas que venham a incidir aps a aplicao

    Fonte: Mapa

    33www.revistacultivar.com.br Janeiro 2010

    Karam fala dos herbicidas base de atrazine

    Figura 1 - Estrutura qumica de atrazine (Karl Harrison)

  • 34 Janeiro 2010 www.revistacultivar.com.br

    Dcio Karam eMaurilio Fernandes de Oliveira,Embrapa Milho e SorgoDionisio Luis Piza Gazziero,Embrapa Soja

    deste herbicida.Dos herbicidas comercializados mundial-

    mente, o grupo das triazinas foi o que mais ocasionou o surgimento de plantas daninhas resistentes at a dcada de 90. Entretanto, com a descoberta dos herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintetase (ALS), tornaram-se os mais importantes a partir de 1995. Mundialmente j foram relatadas 67 es-pcies de plantas daninhas resistentes somente para os herbicidas do grupo das triazina, em 25 pases (Tabela 2). No Brasil, em 2008, foi detectado pela Embrapa, no Paran, o primeiro caso de resistncia de planta daninha (Bidens subalternum) a atrazine.

    tolernCia do Milho ao atrazineAs plantas de milho apresentam sistemas

    de defesa, ou seja, de detoxificao, o que lhes confere tolerncia a este grupo de herbicidas. Uma das formas de detoxificao de atrazine nas plantas de milho se d atravs da Dimboa, que em sua presena promove a transformao do metablito 2-hydroxyatrazine. Outra forma de metabolizao deste herbicida atravs da conjugao com a enzima glutationa-s-transferase.

    ToXIColoGIA dE ATRAzINEO intervalo de segurana entre a ltima

    aplicao e a colheita est definido em 45 dias.

    Caso este perodo no seja respeitado, o milho poder conter resduo acima do permitido pelos rgos competentes de fiscalizao, sendo, por-tanto, imprprio ao consumo humano e animal. Cuidados devem ser tomados com o uso de qualquer defensivo agrcola, pois a intoxicao por qualquer produto qumico est relacionada diretamente exposio imposta pessoa em contato com o produto.

    Tabela 2 - Plantas daninhas resistentes ao grupo de herbicidas inibidores do fotossistema II relatadas mundialmente

    EspcieAbutilon theophrasti

    Alopecurus myosuroidesAmaranthus albus

    Amaranthus blitoidesAmaranthus cruen