Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO EDUARDO PAGOT DIRECIONADORES DE VALOR CRÍTICOS NA CADEIA PRODUTIVA DE PEQUENAS FRUTAS EM VACARIA/RS Vacaria 2010

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Descrição do cultivo de frutas vermelhas e Vacaria - RS

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Page 1: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

MBA EM GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

EDUARDO PAGOT

DIRECIONADORES DE VALOR CRÍTICOS NA CADEIA PRODUTIVA DE

PEQUENAS FRUTAS EM VACARIA/RS

Vacaria

2010

Page 2: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

Eduardo Pagot

DIRECIONADORES DE VALOR CRÍTICOS NA CADEIA PRODUTIVA DE

PEQUENAS FRUTAS EM VACARIA/RS

Trabalho de Conclusão de Curso de

Especialização apresentado como requisito

parcial para a obtenção do título de Especialista

em Gestão do Agronegócio, pelo MBA em Gestão

do Agronegócio da Universidade do Vale do Rio

dos Sinos.

Orientador: Prof. Jean Philippe Révillion

Vacaria

2010

Page 3: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

São Leopoldo, 30 de outubro de 2010.

Considerando que o Trabalho de Conclusão de Curso do aluno Eduardo Pagot

encontra-se em condições de ser avaliado, recomendo sua apresentação oral e escrita para

avaliação da Banca Examinadora, a ser constituída pela coordenação do MBA em Gestão do

Agronegócio.

________________________________________

Nome do orientador

Prof. Jean Philippe Révillion

Page 4: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

Este trabalho é dedicado aos colegas da

EMATER/RS-ASCAR de Vacaria, aos parceiros de

diversas instituições e aos produtores de pequenas

frutas que acreditam e trabalham para o

desenvolvimento dessa alternativa de produção para

a agricultura familiar na região dos Campos de

Cima da Serra.

Page 5: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer às três mulheres da minha vida, Alda, Duda e Leti, que

entenderam meu afastamento em muitos finais de semana e apoiaram esse desafio de buscar o

conhecimento.

Não poderia deixar de agradecer a todos os colegas “Mbianos” pelo conhecimento

compartilhado nos entusiasmados debates e trabalhos realizados durante o curso,

demonstrando a todo o momento a riqueza de suas experiências adquiridas na extensão rural.

Gostaria parabenizar a nossa EMATER/RS-ASCAR pela iniciativa e agradecer pela

oportunidade de realizar esse curso.

Agradecimentos à coordenadora do curso, Professora Gisele Spricigo, e a todos os

demais professores.

Agradecimentos aos tomadores de decisão das agroindústrias e especialistas

entrevistados pela colaboração prestada no levantamento de dados para a realização deste

trabalho. Em especial, gostaria de agradecer ao meu orientador, Professor Jean Philippe

Révillion, que desde nosso primeiro contato demonstrou interesse no projeto e uma dedicação

incrível durante todas as etapas de desenvolvimento da monografia.

Page 6: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

RESUMO

O pólo de produção de pequenas frutas na região de Vacaria está em construção, vislumbram-

se muitos desafios para todos os atores envolvidos no desenvolvimento e no aperfeiçoamento

da cadeia de produção. Este trabalho apresenta como principal objetivo a identificação dos

direcionadores e das atividades de valor críticos para o atendimento das características

intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias

curtas que processam pequenas frutas oriundas do município de Vacaria, da região dos

Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul. O método utilizado nesta pesquisa foi o de

estudos de caso selecionados (YIN, 1994) a partir da proposta de intervenção nas cadeias ou

sistemas de valores, desenvolvida por PORTER (1989). Todos os tomadores de decisão das

agroindústrias entrevistados demonstraram interesse na aquisição de pequenas frutas para

utilização em agroindústrias diversas. Entre as características intrínsecas desejadas pelos

tomadores de decisão destacam-se a qualidade e a integridade das frutas. Também foram

levantadas necessidades como: divulgação das propriedades nutricionais/"funcionais" das

pequenas frutas; interesse em diversificação dos produtos; padronização em termos de

tamanho; aparência, sabor, cor e o conteúdo nutricional dos produtos; selo de indicação

geográfica. Os principais direcionadores de valor levantados foram: diminuição do tempo de

entrega; seleção dos canais de distribuição empregados; seleção dos compradores atendidos;

embalagens diferenciadas de acordo com o tipo de fruta e cliente; ganhos em qualidade,

valorização do produto; produtos com rastreabilidade; produtos limpos e com preservação

ambiental; escolha de novas tecnologias; atuação sobre as características, desempenho e

configuração do produto; mercado solidário; aumento do índice de gastos com atividades de

marketing; melhora na gestão da produção; escolha da tecnologia de processo; ampliação no

mix e variedade de produtos oferecidos; incremento no nível de serviço oferecido; seleção de

matérias-primas e insumos; escolha da tecnologia de processo; características de identificação

e diferenciação do produto.

Palavras-Chave: Pequenas frutas. Direcionadores. Cadeia de valor.

Page 7: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APPEFRUTAS – Associação dos Produtores de Pequenas Frutas de Vacaria

EMATER/RS – Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e

Extensão Rural

ASCAR – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

SAMA – Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente de Vacaria

APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle

CERTIFICAÇÃO ISO – International Organization for Standardization

Page 8: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 07 1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................ 08

1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 09

1.3 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 09

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................... 10 2.1 O CONCEITO DE CADEIAS PRODUTIVAS E SISTEMAS DE VALOR ... 10

2.2 AS CADEIAS CURTAS DE PRODUÇÃO DE PEQUENAS FRUTAS ......... 12

2.2.1 O segmento de produção de matérias-primas ............................................ 12

2.2.1.1 Amora-preta ................................................................................................. 13

2.2.1.2 Framboesa .................................................................................................... 14

2.2.1.3 Mirtilo ....................................................................................................... 15

2.2.1.4 Morango ...................................................................................................... 17

2.2.2 O segmento de processamento de pequenas frutas ................................... 18

2.2.2.1 Processamento de frutas frescas resfriadas .................................................. 18

2.2.2.2 Despolpa ...................................................................................................... 19

2.2.2.3 Produção de sucos ....................................................................................... 19

2.2.2.4 Desidratação e Liofilização ......................................................................... 20

2.2.2.5 Produção de doces ....................................................................................... 21

2.2.2.6 Congelamento .............................................................................................. 22

2.2.3 Distribuição de produtos .............................................................................. 22

3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS ................................................................. 25

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .............................................. 28 4.1 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS

DESEJÁVEIS PELO MERCADO DE AGROINDÚSTRIAS INTEGRANTES DE CADEIAS

CURTAS ................................................................................................................. 28

4.2 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE VALOR E OS DIRECIONADORES DE VALOR

PERTINENTES PARA O ATENDIMENTO DESSAS NECESSIDADES ........... 34

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 51

APÊNDICES .......................................................................................................... 53

Page 9: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

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1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, as pequenas frutas - como a amora (blackberry), a framboesa

(raspberry), o morango (strawberry), o mirtilo (blueberry), a physalis, ou ainda frutas nativas,

como a pitanga, o araçá, a cereja e a guavirova - têm chamado a atenção dos consumidores em

função da sua qualidade (funcional) sensorial e nutricional.

Amora, framboesa, morango e mirtilo apresentam uma expressiva expansão de

cultivo, assumindo importância social e econômica na região dos Campos de Cima da Serra

do Rio Grande do Sul – com destaque para os municípios de Vacaria, Campestre da Serra e

Ipê, onde estima-se que cerca de 400 famílias trabalhem diretamente nas cadeias produtivas

desses alimentos. Já as frutas nativas representam alternativas potencialmente importantes em

função de sua adaptação às condições climáticas locais e particularidades sensoriais,

dependente do desenvolvimento de tecnologia de produção e processamento adequados.

É natural, frente às oportunidades emergentes nesse setor, que associações de

produtores se mobilizem para integrar as etapas produtivas à jusante da cadeia produtiva de

maneira a garantir uma remuneração adequada pela matéria-prima.

O pólo de produção de pequenas frutas na região de Vacaria está em construção;

vislumbram-se muitos desafios para todos os atores envolvidos no desenvolvimento e no

aperfeiçoamento da cadeia de produção, esse processo de desenvolvimento é muito dinâmico

e exige de todos os interessados muita atenção, principalmente em relação ao mercado.

Este trabalho apresenta como objetivos: i) detalhar os diversos tipos de cadeias de

produção envolvidas no processamento de pequenas frutas frescas ou processadas no

município de Vacaria, região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul; ii)

identificar as características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelas agroindústrias

integrantes de cadeias curtas que processam pequenas frutas; iii) identificar os direcionadores

de valor críticos para o atendimento dessas necessidades; e iv) identificar as atividades de

valor pertinentes para a sustentação desses direcionadores.

Page 10: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

8

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

A agroindustrialização representa uma etapa de destaque na agregação de valor aos

produtos agroindustriais e os tomadores de decisão nas agroindústrias detêm um papel

importante na coordenação dos complexos agroindustriais (BATALHA, 1997). De fato, a

agroindústria representa o ponto de encontro entre as necessidades do consumidor final, as

exigências da distribuição, as particularidades de transformação de matérias-primas em

alimentos e a adoção de novas tecnologias de processo e produto.

Neste estudo, agroindústria é qualquer organização que processe matérias-primas

oriundas da agricultura, incluindo produção vegetal e animal e, também, que responda pelas

atividades de seleção de tecnologias de processo e produto, logística e marketing dos produtos

(AUSTIN, 1981).

Apesar da relevância da perspectiva de alinhamento entre as atividades produtivas com

as necessidades dos clientes, são escassos os trabalhos científicos que hajam testado ou

desenvolvido abordagens ou ferramentas eficazes para tanto. Em particular no setor

agroindustrial, em que as características demandadas, de produtos ou processos, podem

apresentar um caráter intrínseco (como atributos físicos dos produtos) ou extrínseco (como

características de inocuidade dos alimentos, desempenho ambiental dos processos, etc.), é

desafiadora a aplicação de abordagens que permitam traduzir essas necessidades em

atividades ou etapas produtivas.

Este trabalho apresenta como principal objetivo identificar os direcionadores e as

atividades de valor críticos para o atendimento das características intrínsecas e extrínsecas

desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas que processam

pequenas frutas oriundas do município de Vacaria. Esse exercício serve para avaliar a

adequação da proposta de intervenção nas cadeias ou sistemas de valores desenvolvida por

PORTER (1989) para incrementar o desempenho das cadeias produtivas e organizações.

Page 11: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

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1.2 OBJETIVOS

Este trabalho apresenta como objetivos: i) detalhar os diversos tipos de cadeias de

produção envolvidas no processamento de frutas frescas ou processadas na região dos

Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul; ii) identificar as características intrínsecas e

extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas que

processam pequenas frutas; iii) identificar os direcionadores de valor críticos para o

atendimento dessas necessidades; e iv) identificar as atividades de valor pertinentes para a

sustentação desses direcionadores.

1.3 JUSTIFICATIVA

O cultivo das pequenas frutas representa uma atividade econômica de crescente

importância na região dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul – com destaque

para os municípios de Vacaria, Campestre da Serra e Ipê, onde estima-se que cerca de 400

famílias trabalhem diretamente nas cadeias produtivas desses alimentos.

Para crescer de forma sustentável, os agentes envolvidos nas cadeias de pequenas

frutas nessa região devem avaliar as necessidades, existentes e potenciais, dos consumidores

desses produtos e, a partir dessas exigências, reavaliar as atividades desenvolvidas em cada

elo da cadeia produtiva, de maneira a identificar quais delas realmente contribuem para a

satisfação dos consumidores e quais não são pertinentes para esse objetivo.

Essa análise é fundamental para desenvolver estratégias setoriais e subsidiar políticas

públicas que visem a desenvolver os pólos de produção de pequenas frutas na região dos

Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul.

Page 12: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

10

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O CONCEITO DE CADEIAS PRODUTIVAS E SISTEMA DE VALOR

A estratégia competitiva de diferenciação é aquela em que a empresa (ou setor)

procura ofertar produtos singulares em alguns aspectos, ou seja, com certo grau de

diferenciação em relação aos produtos concorrentes, para mercados amplos ou restritos (de

nicho) esperando o pagamento de valores superiores a esses produtos diferenciados (PORTER

1989).

Ainda segundo PORTER (1989), a implementação das estratégias competitivas é

realizada através da análise e intervenção sobre sua cadeia de valor. Cadeia de valor é o

conjunto de atividades primárias (logística, produção, marketing e vendas) e de apoio (gestão,

pesquisa e desenvolvimento, compras) de uma empresa, necessárias à oferta de seus produtos

e serviços.

A cadeia de valor (conjunto de atividades) de uma empresa encaixa-se em uma

corrente maior de atividades denominada de sistema de valor, em que são consideradas

também as cadeias de valor de fornecedores e distribuidores (PORTER, 1989). Essa

perspectiva é convergente com o conceito de cadeia produtiva, originário do estudo da

Economia Industrial.

Uma cadeia de produção é o conjunto de atividades de produção e distribuição

estreitamente interligadas, e relacionadas verticalmente, por pertencerem a um mesmo

produto ou a produtos semelhantes (MONTIGAUD, 1991). Segundo MORVAN (1991), o

conceito de cadeia de produção envolve três abordagens: i) como uma sucessão de operações

de transformação de matérias-primas em produtos finais, capazes de ser separadas e ligadas

entre si por um encadeamento técnico; ii) como um conjunto de relações comerciais entre

fornecedores e clientes; e iii) como um conjunto de ações econômicas que presidem a

valoração dos meios de produção.

A desagregação de um sistema de valor (ou de uma cadeia produtiva), ponderando as

atividades de relevância estratégica, permite compreender o comportamento dos custos e as

fontes existentes e potenciais de diferenciação. As atividades de valor são, portanto, os blocos

de construção distintos da vantagem competitiva das organizações e dos setores. O modo

Page 13: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

11

como cada atividade de valor é executada irá determinar sua contribuição para as

necessidades do comprador e, assim, para a diferenciação dos produtos ofertados pela

empresa ou pela cadeia produtiva.

Por sua vez, cada atividade de valor é influenciada pelo que PORTER (1989) chama

de direcionadores. Direcionadores (de valor) são as razões subjacentes pelas quais uma

atividade é singular. A exploração dos direcionadores na busca da diferenciação depende da

capacidade que uma organização possui para influenciá-los a seu favor.

Nesta pesquisa, a abordagem de cadeia produtiva será explorada como arcabouço

teórico para a descrição das tecnologias aplicadas e das características dos agentes produtivos

e dos produtos intermediários e finais, bem como para a descrição dos tipos de ligações que se

estabelecem entre eles. Sem ônus teórico, os conceitos de atividades e direcionadores de valor

também são úteis, dentro desse mesmo recorte analítico, para identificar os direcionadores e

as atividades de valor que lhes dão sustentação para atender as demandas de mercado da

categoria de produtos considerada.

O principal direcionador de diferenciação é o que PORTER (1989) chama de políticas

arbitrárias. As escolhas de políticas arbitrárias envolvem escolhas em relação às seguintes

questões: a) características, desempenho e configuração do produto; b) mix e variedade de

produtos oferecidos; c) nível de serviço oferecido; d) índice de gastos com atividades de

marketing; e) tempo de entrega; f) seleção dos compradores atendidos; g) canais de

distribuição empregados; h) escolha da tecnologia de processo; i) seleção de matérias-primas

e insumos; j) política de recursos humanos; e k) gestão da produção.

Considerando-se que esta pesquisa trata de produtos alimentícios, é importante

detalhar um pouco mais as dimensões de qualidade envolvidas com essa categoria de

produtos. Nesse sentido, a literatura existente, de maneira geral, identifica dois grupos de

indicadores ou sinais de qualidade em alimentos (sinais intrínsecos e extrínsecos de

qualidade) que estão, de acordo com o consumidor, relacionados com a qualidade do produto,

e podem ser verificados através dos sentidos antes do consumo - como expectativa de

qualidade – ou depois do consumo – como experiência de qualidade (OUDE OPHUIS &

VAN TRIJP, 1995); (POULSEN, 1996).

Sinais intrínsecos de qualidade referem-se a atributos do produto que não podem ser

alterados ou manipulados sem alterar as características físicas do produto em si (OLSON &

JACOBY, 1972). Nos alimentos, alguns exemplos de sinais intrínsecos são: cor, textura,

Page 14: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

12

aparência e consistência (STEENKAMP & VAN TRIJP, 2006). Os sinais extrínsecos de

qualidade referem-se a atributos que não fazem parte da estrutura físico-química do produto,

como, por exemplo, marca, publicidade, preço e o local de venda (OLSON & JACOBY,

1972); (GRUNERT, 2002). Existem também alguns atributos intrínsecos e extrínsecos que

representam uma “qualidade de confiança”, particularidades ou características que não podem

ser comprovados pelo consumidor nem antes, nem após a compra (o consumidor precisa

confiar na informação transmitida na embalagem, por selos e certificados, ou por outras

formas de comunicação) (DARBY, KARNI. 1973). Para assegurar o consumidor sobre a

confiabilidade de atributos “de confiança”, são desenvolvidos certificados (SPERS e col.,

1999). Porém, a percepção de qualidade de produtos “de confiança” depende de um processo

de comunicação que envolve tanto a credibilidade da fonte, quanto a habilidade de percepção

do consumidor (GRUNERT e col., 1997).

2.2 AS CADEIAS CURTAS DE PRODUÇÃO DE PEQUENAS FRUTAS

O tamanho de uma cadeia agroalimentar é determinado pelo número de operadores

(LUGLI, 2005). A autora define cadeia curtíssima como aquela em que o produtor e o

consumidor entram em contato direto e cadeia curta aquela que apresenta um número

reduzido de operadores, de dois a quatro.

Nesta pesquisa, serão consideradas (e descritas) as cadeias curtas de produção de

pequenas frutas, pois é nelas que se observam as condições para uma melhor remuneração dos

produtores. Essas cadeias apresentam características peculiares no elo de produção (de acordo

com o tipo de fruta considerado), mas compartilham uma ou mais etapas de processamento ou

industrialização e logística (em particular as cadeias logísticas 3 e 4 descritas no item 2.2.3).

2.2.1 O segmento de produção de matérias-primas

Page 15: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

13

2.2.1.1 Amora-preta

A produção de amora-preta na região de Vacaria é realizada, preponderantemente, por

agricultores familiares, com o uso de mão-de-obra familiar e contratação de trabalhadores

eventuais no momento da colheita. Os pomares são relativamente pequenos, com área média

em torno de 0,5 ha. Os cultivos são manejados com o mínimo uso de agroquímicos, sem

agrotóxicos, apenas com aplicações eventuais de caldas alternativas (calda sulfocálcica e

bordalesa), de fertilizantes minerais no solo ou via foliar. Alguns pomares estão em processo

de certificação orgânica, visando a um mercado diferenciado (PAGOT, 2006).

Também existe no município de Vacaria o cultivo de amora-preta em uma escala

empresarial, na qual o manejo do cultivo e a colheita são realizados totalmente com mão-de-

obra contratada. A única empresa que apresenta essa característica comercializa tanto as suas

frutas e como também as de produtores integrados no mercado interno e externo.

A principal cultivar plantada na região é a Tupi, resultado do cruzamento (Uruguai x

Comanche) realizado na EMBRAPA de Pelotas. Frutos grandes (7 a 9 gramas), coloração

preta uniforme, sabor equilibrado entre acidez e açúcar, consistência firme, sementes

pequenas, película resistente e aroma atrativo são suas características. Esse produto é

recomendado para o consumo in natura por sua baixa acidez e tamanho (PAGOT, 2006).

A planta dessa variedade é muito produtiva, chegando a produzir em condições ótimas

3,8 kg por planta/ano. O porte é ereto, com muitos espinhos (PAGOT, 2006).

A colheita da amora-preta na região acontece a partir da metade do mês de novembro

estendendo-se até início de janeiro do ano seguinte.

A Tabela 1 detalha a situação do cultivo de amora nos principais municípios da região

dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não publicados, 2010).

Page 16: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

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Tabela 1: Produção de amora-preta na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima

da Serra (RS).

Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010).

2.2.1.2 Framboesa

O cultivo de framboesa na região dos Campos de Cima da Serra concentra-se

principalmente no município de Vacaria. A introdução dessa espécie é mais recente que a da

amora-preta e sua tecnologia de produção está em desenvolvimento (PAGOT, 2006).

As áreas cultivadas na agricultura familiar, nessa região, são muito pequenas, ficando

em torno de 0,2 ha por propriedade, principalmente devido à alta exigência de mão-de-obra

para o manejo e colheita.

A framboesa é a espécie das pequenas frutas cultivadas na região mais sensível a

doenças fúngicas e mais exigente em cuidados no manejo fitossanitário, na colheita e pós-

colheita. Os pomares são manejados à base de caldas alternativas e outros produtos

recomendados para a agricultura orgânica, já que não existem produtos fitossanitários

registrados para essa espécie. Em alguns momentos do cultivo, os produtores enfrentam

dificuldades para controlar algumas doenças e pragas em função da falta de opções de

produtos registrados para ações curativas e, conforme as condições climáticas, a qualidade das

frutas é prejudicada e as perdas são significativas (PAGOT, 2006).

Existe no município de Vacaria, assim como para a amora-preta, o cultivo de

framboesa em uma escala empresarial, no qual o manejo do cultivo e a colheita são realizados

totalmente com mão-de-obra contratada, utilizando uma tecnologia de cultivo protegido, sob

túneis plásticos, o que proporciona melhor qualidade de frutas devido à redução do

molhamento das plantas.

A cultivar mais plantada na região é a Heritage, de hábito reflorescente ou bífera, que

produz após duas floradas distintas. Os frutos são de formato ligeiramente cônico, de tamanho

Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores

Campestre da Serra 100 1100 11 120

Ipê 11,6 72,0 6,2 37

Vacaria 100,0 800 8,0 122

Page 17: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

15

médio a pequeno (2,5 a 3,2 g), vermelhos brilhantes, atrativos, com polpa muito firme, de

excelente qualidade e com facilidade de separação do receptáculo. É uma cultivar que pode

ser considerada de dupla aptidão, ou seja, para o mercado in natura ou para processamento

industrial (PAGOT, 2006).

A colheita da framboesa na região acontece a partir da metade do mês de novembro

estendendo-se até mês de abril do ano seguinte.

A Tabela 2 detalha a situação do cultivo de framboesa nos principais municípios da

região dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não publicados, 2010).

Tabela 2: Produção de framboesa na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima da Serra

(RS).

Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores

Campestre da Serra 0,3 1,2 4,0 1

Ipê 0,1 0,0 0 1

Vacaria 10,7 80 7,48 11

Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010).

2.2.1.3 Mirtilo

O cultivo de mirtilo na região apresenta uma produção com área concentrada em

investimentos empresariais, exigindo um maior investimento dos produtores para implantação

dos pomares. A tecnologia de produção para essa espécie exige a implantação de um sistema

de irrigação e preparo do solo diferenciado das demais pequenas frutas.

Porém, nos últimos anos, alguns produtores familiares implantaram pequenas áreas

buscando a diversificação dos cultivos, apostando nessa nova alternativa. Contudo, grande

parte dos pomares localizados nas propriedades familiares foi implantada recentemente e

ainda estão em fase de formação.

Assim como a amora e a framboesa, não dispõem de agroquímicos registrados para o

manejo fitossanitário, dificultando o controle de algumas doenças em condições climáticas

adversas. Os produtores estão manejando os pomares com aplicações preventivas com

Page 18: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

16

produtos alternativos (calda viçosa, bordalesa, ou sulfocálcica e outras) recomendados para

cultivos orgânicos (PAGOT, 2006).

Outra tecnologia utilizada nos pomares é a fertirrigação, que permite uma nutrição

adequada através da irrigação localizada que é utilizada em grande parte dos pomares

(PAGOT, 2006).

Em relação às cultivares utilizadas nos cultivos, na região de Vacaria existe uma

grande diversidade. Nos primeiros cultivos que aconteceram em Vacaria, no início da década

de 90, predominaram as cultivares do grupo northern highbush, mais exigentes em relação ao

frio, de colheita mais tardia; dentre essas cultivares, as principais são: bluecrop, duke, elliot e

coville. Posteriormente, foram introduzidas as cultivares do grupo rabbiteye, com exigência

em relação ao frio e colheita intermediária, destacando-se as cultivares bluegem, clímax,

powderblue e, mais recentemente, brightwell e outras ainda em estudo de adaptação. As

últimas cultivares introduzidas na região foram as do grupo southern highbush, com baixa

exigência em relação ao frio e produção precoce, necessitando de sistema de controle

antigeada, devido à floração ocorrer em períodos de risco de ocorrência desse fenômeno na

região. A produção dessas cultivares mais precoces, apesar do aumento de custos para

instalação do controle antigeada, parece compensar pela produção fora de época, resultando

em melhores preços pela fruta. O sistema utilizado para evitar os danos pelas temperaturas

baixas é a aspersão de água sobre as plantas em noites de ocorrência do fenômeno (PAGOT,

2006).

A Tabela 3 detalha a situação do cultivo de mirtilo nos principais municípios

produtores da região dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não

publicados, 2010).

Tabela 3: Produção de mirtilo na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima da

Serra (RS).

Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores

Campestre da Serra 2,5 1,0 0,40 5

Ipê 1,8 1,3 0,72 1

Vacaria 16,4 60,0 5,77 12

Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010).

Page 19: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

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2.2.1.4 Morango

A região dos Campos de Cima da Serra tornou-se o mais novo pólo de produção de

morango, apresentando um crescimento expressivo da área de cultivo nos últimos quatro

anos, já que produtores de áreas tradicionais de produção do Rio Grande do Sul,

principalmente da Serra Gaúcha, atraídos pelas condições de solo, relevo e clima, migraram

para a região. O sistema de produção predominante na região é de parceria com famílias de

agricultores que moram nas áreas, em grande parte arrendadas, e têm participação de acordo

com o rendimento do cultivo.

As principais variedades cultivadas na região dos Campos de Cima da Serra são do

grupo de dias neutros ou reflorescentes, aromas e albion, que não sofrem influência do

fotoperíodo, o que permite estender a produção até períodos de desabastecimento do principal

mercado brasileiro, que é o estado de São Paulo, onde predomina a demanda por frutas

frescas.

A tecnologia de produção utilizada conta com mulch (plástico preto cobrindo o solo) e

túneis baixos (feitos com plásticos transparentes). O manejo convencional envolve o uso

intensivo de agroquímicos. A cultura passa por experiências na área de certificação, com

perspectivas de avançar na produção integrada, visando a reduzir e adequar o uso dos

agroquímicos para ganhar mais confiança do consumidor.

A Tabela 4 apresenta a situação do cultivo de morango nos principais municípios

produtores da região dos Campos de Cima da Serra (EMATER/RS-ASCAR – Dados não

publicados, 2010).

Tabela 4: Produção de morango na safra 2009/2010 na região dos Campos de Cima da

Serra (RS)

Municípios Área (ha) Produção (t) Produtividade Número de Produtores

Campestre da Serra 2,5 87,5 35,0 8

Ipê 55,0 2.750,0 50,0 55

Vacaria 23,0 1.104,0 48,0 43

Fonte: EMATER/RS-ASCAR (2010).

Page 20: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

18

2.2.2 O segmento de processamento de pequenas frutas

A seguir são detalhados os principais processos agroindustriais aplicados nas pequenas

frutas no sentido de agregar qualidade e valor e/ou diversificar a linha de produtos – além das

frutas in natura.

2.2.2.1 Processamento de frutas frescas resfriadas

O resfriamento é a operação unitária na qual a temperatura do alimento é reduzida para

entre -1ºC e 8ºC. É usada para reduzir as taxas de variações biológicas e microbiológicas e,

assim, prolongar a vida de prateleira de alimentos frescos e processados. Isso causa mudanças

mínimas nas características sensoriais e nas propriedades nutricionais dos alimentos e, como

resultado, os alimentos resfriados são percebidos pelos consumidores como convenientes,

fáceis de preparar, de alta qualidade, “saudáveis”, “naturais” e “frescos” (FELLOWS, 2006).

No pólo de Vacaria, a colheita e preparação (ou processamento) de pequenas frutas

frescas para mercado é muito semelhante para as principais espécies abordadas nesta

pesquisa. A operação de colheita é realizada manualmente por agricultores familiares e/ou

trabalhadores contratados eventualmente. As frutas podem ser colhidas diretamente nas

embalagens em que serão comercializadas (cumbucas de 125g ou 250 g), com seleção no

momento da colheita, posteriormente acerto de peso em balança eletrônica e revisão da

qualidade em local adequado na propriedade, ou em packing house de empresas

especializadas. Finalmente, as embalagens são fechadas, recebem etiquetas e são destinadas

para a refrigeração, onde ficam armazenadas até a comercialização.

Esse tipo de colheita e preparação das frutas é muito comum em propriedades

familiares, principalmente na produção de framboesas e amoras, que são muito sensíveis à

manipulação. Outra possibilidade é a colheita ser efetuada em embalagens plásticas de maior

volume, que posteriormente serão classificadas, embaladas, pesadas e etiquetadas em packing

house de empresas especializadas, armazenadas em câmaras frias até a comercialização. Essa

segunda opção é mais utilizada em produção de mirtilo e morango. O fluxo pode ter outras

variações de acordo com a espécie de fruta, a escala de produção, a infra-estrutura disponível

e o destino no mercado.

Page 21: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

19

2.2.2.2 Despolpa

A transformação das frutas em polpas é um processo utilizado por agroindústrias para

separar partes indesejáveis das frutas, como sementes, cascas e outras. Esse processo permite

a redução do volume para armazenagem, proporciona um produto que pode ser

comercializado como polpa natural congelada em embalagens pequenas para preparação de

sucos, ou ainda em embalagens maiores para o uso de indústria de alimentos (FELLOWS,

2006).

Essa polpa pode passar posteriormente por uma etapa de retirada de parte da água,

reduzindo ainda mais o volume, concentrando o produto, formando a chamada polpa

concentrada, que também é armazenada na forma de congelado para utilização na fabricação

de muitos alimentos, como sorvetes, lácteos e outros. As frutas destinadas para essa finalidade

podem ser provenientes do descarte na classificação de frutas destinadas ao mercado de frutas

frescas, ou ainda, de pomares especializados na produção de frutas para a indústria.

No caso das pequenas frutas do pólo de Vacaria, uma grande parte da produção de

amora-preta e framboesa é destinada para essa finalidade. A produção de morango e demirtilo

na região tem como principal objetivo o fornecimento de frutas frescas para o mercado, sendo

as frutas desclassificadas destinadas para esse processamento.

2.2.2.3 Produção de sucos

O processo de extração de sucos de pequenas frutas ainda é pouco explorado pelas

agroindústrias no Brasil. Na região de Vacaria existem experiências de pequenas

agroindústrias familiares na elaboração de suco de amora-preta e mirtilo através do método de

arraste de vapor. Esse método é muito utilizado por agroindústrias familiares da serra gaúcha

para extração de suco de uva.

O método de arraste de vapor é efetuado em equipamento denominado “extrator de

sucos”, que foi desenvolvido empiricamente, em 1988, por produtores e técnicos do Centro

Ecológico do município de Ipê-RS e vem sendo aperfeiçoado no decorrer de sua utilização.

Esse método é bastante simples e permite o envase do suco diretamente em embalagens de

Page 22: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

20

vidro esterilizadas, possibilitando a armazenagem desse produto por um período longo sem o

uso de conservantes artificiais. (VENTURIN, 2004).

Um aspecto crítico em relação a esse método diz respeito ao controle de temperaturas

durante o aquecimento dos frutos para evitar alterações no sabor e na cor do suco e ainda

degradação de substâncias desejadas. Segundo RIZZON (1998), o aquecimento da uva ou do

suco não deveria passar dos 85ºC - 90ºC, por um período superior a 15 segundos, para evitar

um princípio de caramelização e consequente gosto de cozido conferido ao suco de uva.

Venturin (2004) realizou diversos tratamentos com controle de temperatura e sem

controle de temperatura na extração de suco de uva pelo método de arraste de vapor e

concluiu: à temperatura mais baixa (60ºC) e acima de 85ºC, os sucos apresentam aromas

desagradáveis e gosto chato, com pouca acidez; o tratamento a 80ºC apresentou os melhores

resultados na análise sensorial.

Nas experiências empíricas desenvolvidas na extração de suco de amora e mirtilo pelo

método de arraste de vapor por agroindústrias do pólo de Vacaria, observa-se convergência ao

que acontece com a uva. Nas pequenas frutas de cor vermelha mais viva, como o morango e a

framboesa, as alterações de cor são mais perceptíveis quando utilizada a extração de suco pelo

método de arraste de vapor. Porém, estudos mais detalhados ainda são necessários para o

grupo de pequenas frutas em relação ao uso do método de extração por arraste de vapor.

2.2.2.4 Desidratação e Liofilização

A desidratação (ou secagem) é definida como “a aplicação de calor sob condições

controladas para remover, por evaporação, a maioria da água normalmente presente em

alimento”. O objetivo principal da secagem é prolongar a vida de prateleira dos alimentos por

meio da redução da atividade de água. Isso inibe o crescimento microbiano e a atividade

enzimática, mas a temperatura de processamento costuma ser insuficiente para provocar sua

inativação. Portanto, qualquer aumento no teor de umidade durante a estocagem, resultará em

uma rápida deterioração. A redução no peso e no volume do alimento do alimento também

diminui os custos de transporte e armazenagem (FELLOWS, 2006).

Na liofilização obtém-se um efeito conservante semelhante pela redução da atividade

da água sem o aquecimento do alimento e, como resultado, uma maior retenção das

Page 23: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

21

características sensoriais. O primeiro estágio da liofilização é congelar o alimento em

equipamento de congelamento convencional. O próximo estágio é remover a água durante a

secagem subsequente e, assim, secar o alimento. A pressão do vapor d’água do alimento é

mantida baixa com a água congelada e, quando o alimento é aquecido, o gelo sólido sublima

diretamente para vapor sem se fundir. O vapor d’água é continuamente removido do alimento,

mantendo-se a pressão na câmara do liofilizador abaixo da pressão de vapor na superfície do

gelo pela remoção do vapor com uma bomba de vácuo e condensação em uma serpentina de

refrigeração. O calor necessário para promover sublimação é conduzido através do alimento

ou produzido por microondas. A liofilização é uma operação comercialmente importante e é

usada para secar alimentos caros, que tenham aromas ou texturas delicadas (FELLOWS,

2006).

A desidratação ou liofilização, retirada de água das pequenas frutas, pode ser feita

através de processos diversos com maior ou menor intensidade, com maior ou menor custo,

dependendo da finalidade do produto final. Entre os produtos resultantes de processos de

desidratação e liofilização estão as passas, os flocos em diversas granulometrias, os pós

(muito utilizados em mix de frutas vermelhas, com amora, morango e framboesa) e as frutas

liofilizadas inteiras ou em pedaços. Algumas de suas aplicações são: barras de cereais,

chocolates, cookies, cereais matinais, pães, cucas, recheios diversos, mistura de bolos,

sorvetes, lácteos, flocos de arroz, snacks, chás e outros.

2.2.2.5 Produção de doces

O processamento de doces a partir de pequenas frutas é muito difundido nos seus

países de origem. Na região de Vacaria, com o crescimento da área de cultivo das pequenas

frutas, a fabricação artesanal de geleias e chimias para consumo das famílias e para

comercialização em feiras diretamente ao consumidor tem se intensificado. Os produtores da

APPEFRUTAS já comercializam diretamente para agroindústrias desse setor há vários anos e,

em breve, poderão contar com sua própria agroindústria, que está em fase de aquisição de

equipamentos.

Page 24: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

22

2.2.2.6 Congelamento

O congelamento é a operação unitária na qual a temperatura de um alimento é

reduzida abaixo de seu ponto de congelamento e uma proporção da água sofre uma mudança

no seu estado, formando cristais de gelo. Quando são utilizados os procedimentos corretos de

congelamento e estocagem, ocorrem apenas pequenas mudanças na qualidade nutricional ou

sensorial. Alimentos congelados e resfriados têm uma imagem de alta qualidade e “frescor”,

particularmente no setor de carnes, frutas e hortaliças, que superam as vendas de produtos

enlatados ou desidratados. A distribuição de produtos congelados tem um preço relativamente

alto devido à necessidade de manter uma temperatura baixa constante (FELLOWS, 2006).

O congelamento de pequenas frutas é um processo muito utilizado pelos produtores

para armazenar pequenas quantidades de frutas na propriedade para venda direta aos

consumidores ou para agroindústrias diversas. Durante o período inicial da colheita, e também

no final, quando a escala de produção não viabiliza o transporte, os produtores armazenam as

frutas em freezers na propriedade.

Porém, essa prática é utilizada preponderantemente por agroindústrias: a maior parte

da produção de amora-preta e framboesa é congelada em túneis de congelamento a

temperaturas de -20ºC e, depois de classificadas, embaladas e armazenadas em câmaras de

congelamento, podem ser comercializadas ao longo do ano – e não somente na safra. Já a

produção de mirtilo e morango é destinada em maior quantidade para o mercado de frutas

frescas, sendo apenas as frutas descartadas para esse mercado destinadas ao congelamento.

2.2.3 Distribuição dos produtos

A distribuição dos produtos derivados das pequenas frutas produzidas no pólo de

Vacaria apresenta características diversas em relação ao tipo e fluxo dos produtos, desde as

propriedades produtoras até os consumidores, em função da crescente diversificação dos

cultivos.

Page 25: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

23

A APPEFRUTAS, principal organização dos produtores da região, tem experimentado

diversas possibilidades de comercialização, mas ainda fornece a maior parte da produção de

pequenas frutas com baixo valor agregado para indústrias da região.

Porém, a emergência crescente de canais de comercialização diferenciados,

sofisticados, que demandam produtos com maior valor agregado, tem incrementado novas

alternativas de mercado – ainda limitadas pelas deficiências de infra-estrutura para a

classificação, resfriamento, congelamento, processamento, embalagem e armazenagem.

As cadeias de produção existentes apresentam-se nas seguintes combinações:

O fluxo de comercialização tem acontecido em diferentes cadeias detalhadas na

sequência deste estudo:

- Cadeia logística 1: Produtores comercializam frutas frescas diretamente para os

consumidores. Os produtores embalam as frutas na propriedade e vendem na feira do

produtor, que acontece todos os sábados, ou ainda, na Feira de Pequenas Frutas, Artesanato e

Mel, que é realizada todos os anos no mês de dezembro em Vacaria.

- Cadeia logística 2: Produtores comercializam frutas frescas para o varejo, que as

comercializa para os consumidores.

PRODUÇÃO DE PEQUENAS FRUTAS – PRODUTORES

Frutas frescas e congeladas na propriedade

VAREJO

ATACADISTAS

Distribuidores

AGROINDÚSTRIAS(1)

Frutas congeladas Polpas

Sucos

Frutas desidratadas Geleias

AGROINDÚSTRIAS(2)

Sorveterias

Confeitarias Latícinios

Outras

CONSUMIDORES

Page 26: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

24

- Cadeia logística 3: Produtores comercializam frutas frescas para atacadistas ou

intermediários, que distribuem no varejo para fruteiras e redes de supermercados. As frutas

que são embaladas nas propriedades em cumbucas são entregues a intermediários, que

colocam selo com sua marca, ou são entregues a granel em caixas plásticas para

intermediários que classificam, pesam, embalam e vendem a fruta para um distribuidor ou

para o varejo.

- Cadeia logística 4: Produtores comercializam frutas para agroindústrias (sorveterias,

confeitarias e outras), que as comercializam para os consumidores.

- Cadeia logística 5: Produtores comercializam frutas para agroindústrias, que fazem

polpas, sucos e frutas desidratadas, que são distribuidas para o varejo, que as vende aos

consumidores.

- Cadeia logística 6: Produtores comercializam frutas para agroindústrias, que

congelam, fazem polpas e frutas desidratadas e as comercializam para outras agroindústrias,

que as processam e distribuem para o varejo, que vende aos consumidores.

Page 27: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

25

3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

O método utilizado nesta pesquisa é o de estudos de caso selecionado (YIN, 1994). O

caso considerado nesta pesquisa é o polo de pequenas frutas da região dos Campos de Cima

da Serra do Rio Grande do Sul. A questão que permite escolher essa abordagem metodológica

é: “Como os agentes desse pólo de produção podem reconfigurar suas atividades, de maneira

a desenvolver e cativar o mercado potencial para as frutas por eles produzidas?”

Para tanto, é necessário, em um primeiro momento, tanto detalhar os diversos tipos de

cadeias curtas de produção envolvidas no processamento de frutas frescas ou processadas

nessa região, quanto identificar as características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo

mercado de agroindústrias integrantes de cadeias curtas para, em um segundo momento,

identificar as atividades de valor e os direcionadores de valor pertinentes para o atendimento

dessas necessidades.

Para o detalhamento dos diversos tipos cadeias curtas de produção envolvidas na

oferta de frutas frescas ou processadas no município de Vacaria, foram utilizados dados

secundários oriundos de publicações especializadas (relatórios técnicos de órgãos públicos e

entidades privadas) e coletadas informações primárias com os próprios agentes produtivos de

cada elo das cadeias produtivas. Essas informações foram apresentadas no item 2.2.

A identificação das características intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado

para esses produtos foi realizada a partir de entrevistas semi-estruturadas com especialistas

representantes de agroindústrias integrantes de cadeias curtas. O roteiro de entrevistas é

detalhado no Anexo A.

As agroindústrias, cujos representantes responderam a esta pesquisa, são de pequeno a

médio porte e estão instaladas em grandes e médias cidades brasileiras, com características

diversas em relação ao tipo de matéria-prima demandada e ao tipo de produto processado. Os

entrevistados são tomadores de decisão, gerentes ou proprietários que estão envolvidos na

administração das agroindústrias e possuem conhecimento sobre a matéria-prima utilizada e o

processamento dos produtos. Nesse universo pesquisado, foi entrevistada a proprietária de

uma confeitaria sofisticada, tradicional de Porto Alegre, que elabora diversos tipos de doces,

utilizando as pequenas frutas para recheios e coberturas de bolos e tortas. Essa agroindústria

fornece os doces para duas lojas em Porto Alegre e tem propostas para ampliação de seu

negócio através de franquias em outras cidades. A segunda entrevistada foi a proprietária de

Page 28: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

26

uma sorveteria do tipo frozen yogurt, sorvete cuja massa é preparada à base de leite e iogurte.

As frutas podem ser utilizadas no preparo da massa do sorvete ou disponibilizadas na forma

fresca ou congelada para cobertura. Essa entrevistada possui uma loja em Fortaleza/CE, que

está em atividade, e pretende abrir mais duas lojas que estão em reforma e devem entrar em

funcionamento em breve. O terceiro entrevistado é proprietário de uma padaria e confeitaria

situada em Novo Hamburgo/ RS, que utiliza principalmente pequenas frutas em recheios de

cucas. A quarta entrevistada é proprietária de uma empresa em Porto Alegre que fornece

chocolates finos para eventos e para presentes, a principal utilização das frutas é na decoração

dos doces. O quinto entrevistado é o proprietário de uma agroindústria de alimentos que

fabrica geleias, situada em Itaquaquecetuba/SP, e utiliza frutas congeladas como matéria-

prima no processamento.

Finalmente, para a identificação das atividades de valor e dos direcionadores

pertinentes para o atendimento das necessidades de mercado estabelecidas no item anterior,

foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com especialistas setoriais. O roteiro de

entrevistas é detalhado no Anexo B.

Os especialistas setoriais que responderam a esta pesquisa são técnicos, produtores,

empresários e pesquisadores que atuam no setor. Nesse universo pesquisado, foi entrevistado

um produtor de pequenas frutas de Vacaria/RS, agricultor familiar, representante da

APPEFRUTAS, importante organização que agrega mais de cem produtores de pequenas

frutas na região de Vacaria. O segundo especialista é um empresário, sócio-proprietário de

uma agroindústria localizada em Antônio Prado/RS, que é uma importante compradora e

absorve um volume significativo de amora, morango e framboesa produzidos na região de

Vacaria. Essa agroindústria fez importantes investimentos em infra-estrutura recentemente e

processa frutas congeladas, polpas e suco concentrado. O terceiro especialista é técnico em

agropecuária e estudante de agronomia da Universidade de Caxias do Sul – Campus de

Vacaria, extensionista da EMATER-ASCAR de Vacaria, instituição que tem um importante

trabalho no setor das pequenas frutas, e atua no apoio da organização dos produtores e

assessoria técnica no manejo dos pomares de mirtilo, amora-preta, morango e framboesa. O

quarto especialista é engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia, atua na área de manejo a

tratos culturais em pequenas frutas como pesquisador da EMBRAPA Clima Temperado,

importante centro de pesquisa em pequenas frutas, localizada em Pelotas/RS. O quinto

especialista é engenheiro agrônomo, Doutor em Fitotecnia, atua na área de pesquisa de pós-

colheita de pequenas frutas na EPAMIG. O sexto especialista, engenheiro agrônomo, Mestre

Page 29: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

27

em Desenvolvimento Rural, e atualmente exerce o cargo de Secretário Municipal da

Agricultura e Meio Ambiente do município de Vacaria, secretaria essa, que tem um papel

fundamental no apoio ao desenvolvimento do setor das pequenas frutas.

Page 30: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

28

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS

DESEJÁVEIS PELO MERCADO DE AGROINDÚSTRIAS INTEGRANTES DE CADEIAS

CURTAS

Todos os tomadores de decisão das agroindústrias entrevistados demonstraram

interesse na aquisição de pequenas frutas para utilização em pratos agridoces, caldas para

tortas, geleias, frozen yogurt, chocolataria e recheios de bolos e cucas. Em especial,

predomina o interesse pela framboesa e pelo morango. Entretanto, a maioria demonstrou

interesse por todas as pequenas frutas vermelhas (morango, framboesa, amora e mirtilo) e

pelas frutas nativas, apesar de afirmarem não haver disponibilidade dessas no mercado.

A fabricante de frozen, quando perguntada se tinha interesse em adquirir pequenas

frutas afirmou: “Sim, pois a comercialização de frozen está crescendo assustadoramente no

nordeste e a procura por essas frutas é cotidiana. Temos interesse em amora (blackberry),

framboesa (raspberry), morango (strawberry), mirtilo (blueberry). Utilizamos frutas in

natura”.

A proprietária da confeitaria afirmou: “Sim, tenho muito interesse, utilizo em pratos

agridoces, em caldas para tortas” e ainda demonstrou interesse em expor frutas frescas nos

pontos de venda. Ela utiliza todas as frutas vermelhas em seus produtos e percebe um

aumento de consumo de todas elas. Porém, em reação às nativas, ela afirma não haver

disponibilidade.

“Temos interesse nas seguintes frutas: amora, framboesa e morango para confecção

de geleias” - representante da agroindústria de geleia.

“Tenho interesse em amora, framboesa, physalis e cereja. Talvez mirtilo, pitanga e

morango. Guavirova não conheço” - fabricante de chocolates.

Já o proprietário da padaria respondeu que tem interesse por framboesa e outras frutas

exóticas para recheio de cucas e até pretende preparar geleias sem uso de aditivos químicos

para venda direta ao consumidor.

Page 31: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

29

Sobre as características que seriam importantes em relação à qualidade na definição da

compra de pequenas frutas frescas ou congeladas (por exemplo, cor, aroma, aparência geral,

consistência, conteúdo nutricional preservado) e o(s) tipo(s) de apresentação desejado(s)

(polpa, desidratada na forma de passa ou in natura), a maioria dos tomadores de decisão

apontou a necessidade de conservação e manutenção da integridade das frutas inteiras como

fator crítico. Quanto ao tipo de preferência, por frutas frescas, congeladas, desidratadas ou

polpa, observou-se uma variação de acordo com a finalidade, com certa preferência por frutas

frescas.

“Prefiro comprar frutas frescas, dão mais consistência às receitas. No caso de

morango, tenho preferido comprar frutas congeladas, pois as frescas têm apresentado

problemas de qualidade – frutas boas por cima da cumbuca e frutas verdes e podres embaixo”

- representante da confeitaria. Ela ainda demonstrou interesse por passas de pequenas frutas,

mas não as encontra com facilidade no mercado.

“O importante é que o fruto esteja preservado, com importância para a cor e

consistência, poderiam ser em polpa ou fruta inteira congelada” - representante da fábrica de

geleias.

A representante da chocolataria disse: “Essas frutas de interesse deveriam ser

fornecidas in natura. A necessidade é que elas tenham padronização em termos de tamanho.

A fruta deve estar intacta, no ponto ideal de maturação, com cor, aroma, consistência e

aparência preservada. Os physalis precisam ter tamanho grande com as palhas preservadas”.

A representante da sorveria tipo frozen afirmou: “Seria importante a cor, a aparência

em geral (ex: se a fruta está inteira e conservada), conteúdo nutricional e sabor”.

O representante da padaria somente observou que prefere em forma de polpa ou fruta

in natura.

Em relação à frequência de pedidos e quantidades requeridas, variam conforme a

agroindústria, sendo que as que trabalham preferentemente com frutas frescas fazem

aquisições mais frequentes, variando entre 0,5 kg a 5 kg de mirtilo, de 4 kg a 20 kg de

morango, e de 4 a 5 kg de amora e framboesa por semana.

O representante da fábrica de geleia, que trabalha preferentemente com polpa ou frutas

congeladas, compra em torno de 3.000 kg por mês, somando todas as frutas.

Page 32: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

30

“A quantidade semanal utilizada depende muito da época, mas gira em torno de 200 a

500 unidades de physalis. Cereja também é em torno dessa quantidade. As frutas vermelhas

(amora e framboesa) talvez precise um pouco menos. Tenho um doce com essas frutas que é

bastante requisitado, mas como essas frutas estão disponíveis em período muito curto do ano,

acaba que as pessoas desistem de solicitar esse modelo, pois raramente tem disponível.

Mirtilo e pitanga ainda não utilizo. Morango utilizo em menor quantidade, devido à

fragilidade e falta de padronização de tamanho” - representante da chocolataria.

A proprietária de sorveteria tipo frozen afirmou: “A loja que está em funcionamento

consome por semana: 4 kg de amora (blackberry), 4 kg de framboesa (raspberry), 20 kg de

morango (strawberry) e 5 kg de mirtilo (blueberry)”.

O representante da padaria afirma: “Atualmente usamos somente morango e gastamos

em torno de 4 a 5 kg por semana; achamos que poderíamos oferecer mais opções se

tivéssemos frutas diferentes para aumentar este consumo”.

“Compro frutas a cada três semanas, principalmente frutas congeladas, se tiver frutas

frescas, tenho preferência, mas aí a compra é semanal. Mirtilo compro 0,5 kg/semana, outras,

como morango, amora, cereja e framboesa, compro 5 kg/semana” - representante da

confeitaria.

Considerando-se as preferências pelo tipo embalagem e peso líquido, os tomadores de

decisão das agroindústrias entrevistadas registraram a seguinte opinião: as agroindústrias que

trabalham com as frutas congeladas inteiras tomam suas decisões em relação a esse aspecto

em função da diferente escala de produção e utilização. Por exemplo, o representante da

agroindústria de geleia registrou sua preferência por embalagens grandes em sacos plásticos

hermeticamente fechados com 30 kg. Já a representante da confeitaria prefere embalagens

menores e diz o porquê: “Prefiro os sacos de 1 a 2 kg de frutas congeladas, embalagem que

permite uma utilização mais adequada e, para frutas frescas, cumbucas de 125 g e 250 g, mas

não tenho comprado”.

“Atualmente compro physalis em caixas com 80 a 100 g de produto. As embalagens

de framboesa e amora acredito que tenham um peso um pouco maior (150 a 200 g). A cereja

normalmente compro a granel. Na verdade, a embalagem para mim não é determinante. O

importante mesmo é a conservação da integridade das frutas. Todas elas são bastante frágeis.

Dessa forma, acredito que embalagens maiores talvez possam acarretar prejuízo à integridade

Page 33: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

31

da fruta. Pode ser que seja por essa razão que as empresas atualmente trabalhem com

embalagens menores” - representante da chocolataria.

Tanto a entrevistada da sorveteria tipo frozen quanto o representante da padaria

preferem embalagens de 300 a 500 g, pois “seria um tamanho que serviria para fracionar os

recheios” e “embalagens pequenas facilitam na arrumação e conservação das frutas”.

Em relação à importância da marca e sua influência na comercialização, as opiniões

foram unânimes: o mais importante é que a qualidade corresponda à expectativa dos clientes.

“A marca se constrói com qualidade e com o tempo” - representante da confeitaria.

“A importância da marca na comercialização diferencia na identificação do produto

na hora da compra e no consumo (sabor), pois a vida útil dos mesmos varia de acordo com a

originalidade do produto” - representante da sorveteria tipo frozen.

A representante da confeitaria, quando entrevistada, disse que confia na marca, que já

compra do mesmo fornecedor há mais de cinco anos, mas que já comprou mirtilo e outras

frutas diretamente de um produtor e não notou diferença; ela ainda ressalta a importância da

entrega frequente. Para o representante da agroindústria de geleia: “o importante é preço e

qualidade”.

Em relação à importância de sistemas de qualidade e certificação (APPCC na

agroindústria, boas práticas de fabricação, certificação orgânica, produção integrada de frutas,

certificação ISO séries 9000, 14000, 22000, ou sistema próprio), a maioria dos entrevistados

apontou como mais importante a adoção de boas práticas de fabricação e, no caso de

produtores de frutas frescas, a adoção de boas práticas agrícolas, com seus respectivos

controles e rastreabilidade.

“Alguma especificação de controle de qualidade dos produtos utilizados para o plantio

e informações nutricionais seria de grande valia” - representante da sorveteria tipo frozen.

A representante da chocolataria afirma: “Acredito que os sistemas de qualidades

citados são todos importantes, visto que mostra a preocupação da empresa pela qualidade de

seus produtos. Programas de boas práticas de fabricação são fundamentais. A utilização de

método de produção com menos aditivos químicos seria interessante também. De qualquer

forma, volto a salientar que o mais importante é a integridade da fruta e padronização”.

Page 34: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

32

Já o entrevistado da confeitaria apresenta uma posição diferenciada: “A confiança do

consumidor é na confeitaria, certificações não importam, o importante é qualidade do produto.

Porém, para a agroindústria seria importante certificação”.

“Acredito que, para iniciantes, o item boas práticas de fabricação seja o melhor dos

sistemas. Não conheço os requisitos dos sistemas avançados de certificação, mas deve se ter o

cuidado para não buscar o top em certificação, cujo nível para ser atendido exige um

investimento muito alto, que pode gerar problemas de caixa para a empresa cujo retorno

demora” - representante da padaria.

“Tendo em vista serem pequeno produtores, as boas práticas agrícolas atenderiam a

empresa, com seus respectivos controles e rastreabilidade” - representante da indústria de

geleias.

Sobre os sistemas de controle de origem (selo de indicação geográfica), se agregariam

valor aos produtos aos olhos dos clientes, sob ponto de vista comercial, as respostas foram

distintas e particulares.

A representante da chocolataria tem a seguinte visão: “No meu caso, não vejo tanta

importância. Acredito que esses selos são mais importantes em produtos de maior prazo de

validade, no caso de vinhos, por exemplo, ou até mesmo no setor cárneo”.

“No ponto de vista comercial, produção em grande quantidade, pouco agrega, a

menos que fosse certificação orgânica” - representante da fábrica de geleias.

Já o representante da padaria diz: “Isto sim é uma pequena prática que pode dar um

bom resultado”.

Em relação à importância da identificação dos produtos oriundos da agricultura

familiar, os tomadores de decisão tiveram opiniões divergentes.

A representante da sorveteria tipo frozen demonstra desconhecimento sobre essa

possibilidade, afirmando simplesmente: “Não conheço”.

“Não vejo grandes vantagens nesse tipo de diferencial para essa linha de produtos” -

representante da chocolataria.

O entrevistado da padaria tem uma posição mais positiva sobre a identificação de

produtos oriundos da agricultura familiar, afirmando: “Com certeza isso agrega quando o

sistema de produção tem os controles acima citados” (referindo-se aos outros sistemas de

inocuidade dos alimentos).

Page 35: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

33

“Como nossa produção é em grande quantidade, não poderíamos informar, a menos

se tivéssemos garantia do recebimento total de matéria-prima” - representante agroindústria

de geleia.

A representante da confeitaria tem alguma preocupação e afirma: “Produtos da

agricultura familiar, falta de higiene pode ser problema. Seria importante ter uma organização

sólida, tipo cooperativa, por trás dos produtores.”

O interesse da divulgação setorial de propriedades funcionais/nutricionais das

pequenas frutas é evidente: todos os entrevistados afirmaram que essas características

interessam e influenciariam muito os clientes, devendo, portanto, ser mais bem divulgadas

junto aos consumidores finais. Dessa maneira, seria provável um aumento do consumo e de

agregação de valor ao produto.

A representante da chocolataria diz: “Acredito que esse tipo de divulgação seria

interessante. Essas frutas são ricas em nutrientes e possíveis atividades funcionais. Os clientes

gostam desse tipo de informação”.

O representante da agroindústria de geleias foi menos enfático, mas afirma: “Seria

interessante”. A representante da confeitaria disse: “Sobre as propriedades funcionais e

nutracêuticas, existe potencial. Deveriam ser mais divulgadas junto aos consumidores finais”.

Sobre o preço atual desse grupo de frutas, as opiniões foram diversas. A representante

da sorveteria tipo frozen, localizada em Fortaleza, afirmou: “O acesso a essas frutas aqui no

nordeste é muito difícil e, quando conseguimos comprá-las, na maioria das vezes o preço é

inviável para utilizarmos em nossa loja. Mas como o diferencial conta muitos pontos para o

ponto de venda, temos que abrir exceções e adquirir tais produtos”.

“Essas frutas têm um custo bastante elevado. Nos doces que utilizo frutas in natura, o

custo do produto se torna bastante significativo. Daí a exigência da qualidade das mesmas,

pois, para se tornar viável sua utilização, o desperdício deve ser bastante reduzido. Acredito

que o surgimento de novas empresas nesse setor contribuiría para a maior concorrência e,

possivelmente, tornaria a utilização do produto mais viável” - representante da chocolataria.

“Não acho que o preço é o único fator que deve ser levado em consideração. O preço

sempre é resultado de uma planilha de custo e margem de lucro, isso deve ser balanceado para

conseguir manter as vendas, a qualidade e a produção” - representante da padaria.

Page 36: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

34

O representante da agroindústria de geleia, que possui a maior escala de produção das

empresas entrevistadas, comenta: “O preço destas frutas está entre 10 a 15% do preço do

morango (fruta mais comercial)”.

A representante da confeitaria, apesar de trabalhar com consumidores mais

sofisticados, afirma: “Considero os preços elevados”.

4.2 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE VALOR E OS DIRECIONADORES DE VALOR

PERTINENTES PARA O ATENDIMENTO DESSAS NECESSIDADES

Como identificado no item anterior, é evidente o interesse de processamento de

pequenas frutas pelos tomadores de decisão das agroindústrias de cadeias curtas. Porém, o

atendimento das necessidades levantadas exige, tanto o desenvolvimento de ações integradas

pelos atores envolvidos na cadeia produtiva das pequenas frutas do pólo de Vacaria, quanto

demanda investimentos em infra-estrutura, capacitação dos atores e estruturação logística do

setor. De fato, seria necessário investir no fortalecimento desse pólo de produção de

pequenas frutas emergente em Vacaria, mobilizando as instituições públicas e privadas

envolvidas no apoio aos produtores, mobilizando recursos para financiamento das ações

necessárias. Conhecer melhor o cenário e as relações produtivas e comerciais que interagem

nessas cadeias é fundamental. As considerações dos especialistas do setor são muito

importantes para a definição e o planejamento dessas ações, por isso, na sequência do

trabalho, apresentaremos as considerações apresentadas por especialistas que atuam no setor

das pequenas frutas.

Sobre as adequações importantes para manter as caraterísticas intrínsecas (cor,

textura, aparência e consistência) das pequenas frutas, os especialistas fizeram as seguintes

considerações:

“Primeiro precisamos de um acompanhamento correto na lavoura desde a adubação,

poda, tratamentos, até a colheita. A colheita deve ser feita em períodos do dia menos quentes,

evitando assim que o produto na caixa sofra um processo de aquecimento e, com isso, perca

qualidade. O ponto de maturação também é muito importante que seja observado na hora da

colheita. O acondicionamento da fruta, bem como a temperatura de conservação,também

Page 37: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

35

fazem parte do processo onde se pode ter um produto de qualidade” - representante da

agroindústria de congeladas, polpas e sucos.

O representante da APPEFRUTAS destacou que o manejo da fertilidade através do

suprimento das necessidades nutricionais da planta via fertirrigação (considerando o suporte

das análises foliares e do solo onde está estabelecida a cultura) é importante para produzir

frutas de qualidade. Para esse mesmo especialista, o desenvolvimento de pesquisas

relacionadas ao desenvolvimento de novas cultivares, uso de mão-de-obra qualificada e

utilização correta de irrigação, representam alternativas potencialmente importantes para

colheita de frutas com um elevado padrão e qualidade.

O representante da EMBRAPA Clima Temperado destacou os cuidados na pré-

colheita, na prevenção de doenças; cuidados na colheita, como período mais adequado para a

operação; treinamento dos colhedores; caixas adequadas para colheita; e manipulação mínima

das frutas como fatores muito importantes para preservar qualidade das pequenas frutas.

O representante da EPAMIG destacou que, para mercado de fruta fresca:

“Primeiramente devemos considerar que estas frutas apresentam uma taxa respiratória muito

alta, além de serem muito delicadas do ponto vista morfológico do fruto, o que requer dos

colhedores treinamento e cuidados na higiene, principalmente das mãos. Também em relação

ao treinamento dos catadores, deve-se deixar bem claro que os mesmos deverão descartar em

outro recipiente as frutas de descarte (frutas podres, machucadas e mal-formadas) e não

colocá-las junto das sadias, bem como evitar que vão junto na embalagens outros materiais

estranhos, tais como galhos, restos de folhas e também resíduo de terra, e que possam causar

ferimento nos frutos. Outro ponto a ser destacado na manutenção da qualidade das mesmas,

seria a colheita diretamente nas embalagens, evitando o excesso de manipulação do fruto.

Também, sob meu ponto de vista, estas frutas, após serem retiradas das plantas e serem

colocadas nas embalagens, deverão ser dispostas, as embalagens, imediatamente em um

isopor com gelo para iniciar o pré-resfriamento ainda no campo. Em casos onde o produtor

tenha acesso a túneis de pré-resfriamento, deverá também utilizá-lo antes da manipulação

final do produto, ou seja, da homogeneização do peso, o qual deverá também ser realizado, de

preferência, em ambiente climatizado com temperatura em torno de 5ºC a 7ºC; portanto, a

existência de uma cadeia de frio é indispensável para manutenção da integridade da parede

celular do fruto, bem como a manutenção de suas características de sólidos solúveis (SS) e

acidez titulável (AT), bem como os composto antioxidantes que se deterioram em função das

Page 38: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

36

condições de temperatura onde ocorra aumento de respiração, pois, dependendo da espécie a

respiração, poderá triplicar a cada aumento de 5ºC”.

“A qualidade começa desde a implantação do pomar, seguindo as recomendações

técnicas na escolha do local para plantio, evitando terrenos mal drenados e sujeitos a ventos

fortes. A escolha da cultivar adaptada à região, o preparo do solo recomendado para cada

espécie, o plantio adequado, o uso de espaçamento adequado, cuidados no manejo de doenças,

pragas e fertilização, todas essas ações e práticas integradas podem resultar na produção de

frutas de qualidade. No entanto, o produtor tem que ter especial atenção no momento da

colheita e pós-colheita, seguindo as recomendações preconizadas pela assistência técnica no

que se refere às boas práticas agrícolas para manter a qualidade obtida na produção” -

representante da EMATER/RS-ASCAR.

“É necessário um correto manejo da fruta na etapa da produção, especialmente no que

se refere à colheita na época adequada ao fim que se destina. Ou seja, caso a fruta seja

comercializada in natura, deverá ser colhida em um ponto de maturação que, mesmo após

todo o período necessário à classificação e logística, chegue até o consumidor com boa

qualidade. Além do ponto adequado de colheita, tem-se também os cuidados necessários

durante a colheita e classificação para não danificar a fruta. Por fim, é muito importante a

etapa de logística, no sentido de transportar a fruta em condições adequadas e o mais rápido

possível, a fim de evitar problemas relativos à sua perecibilidade - representante da SAMA.

Em relação às atividades de marketing, a maioria dos entrevistados reconhece a

importância desse tema para que o consumidor conheça o produto e, consequentemente,

aumente o consumo das pequenas frutas.

O representante da APPEFRUTAS relata que a associação desenvolveu algumas

atividades de marketing por meio de site na internet, participação em feiras, eventos, jornais e

revistas. Como essa associação ainda não dispõe de uma infra-estrutura de produção adequada

(para permitir o armazenamento e industrialização de pequenas frutas), existe cautela para não

incentivar a demanda além de suas capacidades de oferta. Mesmo assim, o representante dessa

organização considera que o incremento das iniciativas de comunicação e promoção das

pequenas frutas é necessário para o desenvolvimento de segmentos de mercados capazes de

valorizar e demandar esses produtos de forma continuada.

Page 39: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

37

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos, quando perguntado se

realiza atividades de marketing, afirma: “Muito pouco, normalmente se faz degustações em

pontos de vendas e feiras, e se divulga o mix de produtos através de folders e cartazes”.

O representante da EMBRAPA considera que não são realizadas campanhas de

estímulo ao consumo. Em relação à importância do marketing, afirma: “O marketing é

fundamental para que o consumidor conheça - perca o medo do produto - e,

consequentemente, aumente o consumo”.

“Não se evidenciou até o momento no mercado nenhuma atividade de conscientização

do consumidor em relação às propriedades nutracêuticas e funcionais das frutas vermelhas, a

não ser em programas pontuais da TV, ou em publicações de revistas especializadas na área

agrícola e de saúde. Sob meu ponto de vista, o apelo pelas frutas vermelhas está se dando

principalmente quando vamos a supermercado e vemos, nas gôndolas de doces, as geleias de

morango, de amora-preta, de framboesa e de mirtilo, bem como, em algumas boutiques

sofisticadas de doces, as geleias de physalis. Outro setor no qual já se observa a utilização da

frutas vermelhas é o setor de medicamentos, com a utilização das mesmas como suplementos

vitamínicos, e também no setor de alimentos, em sorvetes, biscoitos recheados e, até mesmo,

sachê de chás de frutas vermelhas, barras de cereais. Uma sugestão de marketing para estas

frutas, seria apresentar as mesmas para o consumidor, ou seja, realizar campanhas em

supermercados, montando bancas de degustação de framboesa, amora, mirtilo, physalis e

outras. Também promover o marketing em programas de TV, novelas e programas de

culinária” - representante EPAMIG.

O representante da EMATER/RS-ASCAR afirma que já existem algumas iniciativas

na área de marketing, no entanto, com abrangência limitada. Com uma visibilidade regional,

um exemplo é a realização da Feira de Pequenas Frutas, que acontece anualmente em Vacaria,

e promove a divulgação das pequenas frutas através da comercialização, oficinas de culinária,

exposição e comercialização de frutas frescas e produtos processados. Também já foram

realizadas matérias em revistas especializadas e programas de televisão de alcance nacional.

“As pequenas frutas são saudáveis, saborosas, aromáticas, coloridas, por si só possuem

qualidades suficientes para atraírem os consumidores. Me parece que falta disponibilizar mais

essas frutas em expositores estratégicos nos pontos de venda, com adequada distribuição e

fornecimento contínuo para aproximá-las dos consumidores” - representante da

EMATER/RS-ASCAR).

Page 40: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

38

O representante da SAMA afirma que se realizam feiras e eventos voltados à

divulgação das pequenas frutas no cenário regional. Tem-se incentivado a Associação de

Produtores de Pequenas Frutas a divulgar seu trabalho e produtos na internet.

Em relação às adequações necessárias nos aspectos logísticos, gargalos e necessidade

de investimentos, os especialistas fizeram as seguintes considerações:

O representante da APPEFRUTAS considera que hoje não existem muitas

dificuldades logísticas, pois a maioria da fruta é comercializada em empresas da região, sem

maiores preocupações com transporte ou investimento em logística, infra-estrutura para

classificação, processamento, refrigeração e congelamento das frutas. Para a comercialização

de frutas in natura, foi feita uma parceria com empresas maiores, que já dispõem de

transporte refrigerado adequado e rotas para distribuição das frutas. Porém, esse especialista

reconhece o desafio potencial do sistema logístico com o desenvolvimento do negócio: “A

partir do momento que ampliarmos nosso mercado e fizermos os investimentos necessários

em transporte próprio da empresa, adquirindo caminhões e furgões refrigerados, será

necessário fazer um estudo detalhado de todos os principais clientes, suas necessidades

semanais ou quinzenais de frutas, sua localização e formarmos assim uma rede de

distribuição, disponibilizando nossos produtos no maior número de clientes possível, sempre

atentos para manter frequência e qualidade na distribuição dos produtos. Fazer parcerias com

distribuidores em outras regiões também será uma necessidade para explorarmos um mercado

mais distante. Dessa forma, teremos produtos com preços mais competitivos, atingindo um

maior público. Com essas parcerias na distribuição e representantes localizados em pontos

estratégicos, mesmo estando localizados no sul do Brasil, podemos explorar mercados como o

litoral nordestino, com grande potencial turístico, que considero um público-alvo.”

O representante da EMBRAPA considera a ausência de uma cadeia integra de frio, a

existência de estradas mal conservadas e o uso de caminhões impróprios para o transporte de

frutas como gargalos. Alguns investimentos citados como necessários envolvem os

investimentos públicos na adequação da malha viária e de aeroportos para o transporte de

frutas.

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos considera que maiores

gargalos ainda são o congelamento e a armazenagem durante o período de entressafra. A

necessidade de investimento nessa etapa é constante em virtude do aumento da demanda:

“Este ano mesmo, estamos investindo em um túnel de congelamento contínuo para melhorar

ainda mais a qualidade do produto”.

Page 41: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

39

O representante da EPAMIG considera que os gargalos são a carência de infra-

estrutura do setor de produção e do setor de comercialização e distribuição, pois eles estão

adequados para outros tipos de frutas. Quanto às adequações necessárias, afirma: “Existe

necessidade de investimentos e adequações no setor de distribuição das frutas, setor

aeroportuário e setor marítimo (pensando principalmente em exportação), estradas de

escoamento de produção, investimento por parte dos produtores em veículos climatizados

para distribuição da frutas, investimentos por parte do setor varejista na cadeia de frio, bem

como em câmaras frigoríficas e gôndolas refrigeradas”.

O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que houve avanços importantes

na questão logística, no que diz respeito ao transporte de pequenas frutas para as

agroindústrias da região de Vacaria, mas ainda existem melhorias em relação ao transporte

adequado, que, mesmo para a fruta destinada para a indústria, deveria ser refrigerado. Em

relação à logística, para a comercialização de frutas frescas existem estruturas privadas

especializadas na região, contudo, têm dificuldades para absorver o potencial de produção dos

produtores da APPEFRUTAS.

“É necessário estruturar o sistema de armazenagem para, posteriormente e/ou

concomitantemente, organizar um sistema de logística que possibilite ao nosso público-alvo,

os agricultores familiares de Vacaria, um maior e melhor alcance aos mercados. Com isso, o

gargalo, a capacidade de armazenamento, está sendo contemplado com um projeto da SAMA.

Iniciou-se também um trabalho no setor de logística, mas que deverá ter mais investimentos” -

representante da SAMA.

Quanto aos canais de distribuição empregados, o representante da APPEFRUTAS

afirma que, atualmente, a produção está sendo entregue a empresas locais, relativamente

próximas à maioria das propriedades, e está funcionando bem. A partir do momento que a

associação passar a processar os produtos e buscar mercados novos em outras regiões, sem

dúvida precisará trabalhar muito nessa questão de distribuição.

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos diz que a empresa

vende diretamente para mercados na região sul, para distribuidores em boa parte do país, e

também para outras indústrias do mesmo segmento de alimentação. Ressalta que sempre tem

o que melhorar, e a tendência para reduzir custos seria conseguir vender direto para as

lanchonetes, restaurantes, etc., mas “se emperra na logística de distribuição”.

Page 42: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

40

“Os canais de distribuição empregados são aqueles que o produtor procura para vender

seu produto, muitas vezes ficando refém de determinados intermediários que compram frutas

para revender para outros mercados, geralmente atacadistas especializados. Quanto à

adequação da distribuição, uma das saídas seria associação ou cooperativas onde, com um

volume maior de frutas dos mesmos, poderiam encontrar mercados que valorizem mais o

produto” - representante EPAMIG.

O representante da EMATER/RS-ASCAR afirma que existem experiências

constituídas na região de Vacaria que possuem canais de distribuições adequados e

abrangentes, principalmente para o morango, que os produtores de pequenas frutas da

APPEFRUTAS ainda dependem desse canais para colocar suas frutas frescas no mercado, no

entanto, o volume comercializado ainda é pequeno considerando o potencial existente. “São

necessários investimentos em estruturas próprias de classificação, resfriamento e

processamento, para construir, posteriormente, parcerias na distribuição dos produtos que

permitam uma maior participação dos produtores na comercialização com maior

remuneração”.

“Para o público atendido pela SAMA, os canais de comercialização atuais, na sua

maior parte, são um tanto quanto convencionais. Buscamos, contudo, através de um trabalho

mais ligado à divulgação via internet, atingir novos mercados” - representante da SAMA.

Em relação aos recursos humanos, para o elo de processamento e produção, foi

ressaltada pelo representante da EMBRAPA a importância do treinamento de pessoal para o

desenvolvimento e produção de novos produtos.

“Já se foi o tempo em que apenas a tecnologia era suficiente para um sistema

produtivo eficiente. Hoje é preciso muito mais. Hoje, para ter um produto com qualidade

diferenciada, produtividade e competitividade, é preciso investir muito em recursos humanos.

A partir do momento que trabalharmos mais diretamente com processamento de pequenas

frutas, será fundamental dar o treinamento adequado para nossos funcionários, bem como

condições de higiene, segurança, remuneração e benefícios para desenvolvimento adequado

de suas atividades, adequando as necessidades de nossa empresa” - representante da

APPEFRUTAS.

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos considera que a mão-

de-obra está cada vez mais escassa, “tanto na lavoura como para a indústria”. Ele acredita que

Page 43: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

41

a alternativa é mecanizar o máximo possível e incentivar o plantio nas pequenas propriedades,

onde o trabalho é familiar e, com isso, se consegue uma renda satisfatória para as famílias.

O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que a disponibilidade de mão-de-

obra é dos principais limitantes do crescimento do cultivo de pequenas frutas, pois são

cultivos que exigem intensivo uso de trabalho humano. A questão da capacitação dos recursos

humanos é o primeiro passo para se ter sucesso em qualquer atividade. O mesmo afirma: “já

foram desenvolvidas muitas atividades de formação dos recursos humanos na região de

Vacaria, principalmente como os produtores da APPEFRUTAS, podemos citar capacitação

em manejo dos pomares, boas práticas agrícolas e gestão da propriedade, no entanto, muitas

atividades ainda são necessárias para melhorarmos a qualidade da produção.”

“É substancialmente necessário e importante qualificar mão-de-obra para atender a

essa etapa” - representante da SAMA.

Em relação à gestão da produção, o representante da EMBRAPA aponta que apenas os

grandes produtores possuem uma noção de gestão, os pequenos não fazem gestão da

produção.

“Sempre buscamos junto às entidades parceiras cursos de capacitação para melhorar e

aprimorar conhecimentos. Mas, sem dúvida, alguns produtores têm sim dificuldade na gestão

da produção, principalmente quando não têm essa atividade como carro-chefe dentro da

propriedade” - representante da APPEFRUTAS.

O entrevistado da agroindústria de congelados, polpas e sucos acredita que a maior

dificuldade ainda é com relação à conscientização do produtor de que é preciso produzir

alimentos saudáveis, com uso adequado de pesticidas e que, para se obter lucro, mesmo em

uma propriedade agrícola, se precisa ter uma organização, com planilhas de gastos, caderno

de campo e procedimentos corretos.

“Estamos implementando uma ferramenta de apoio à gestão nas propriedades dos

produtores associados da APPEFRUTAS: é o caderno de campo, que conta com tabelas onde

são registrados os insumos utilizados, práticas efetuadas nos pomares, produção colhida, o

que vai permitir uma análise simples de despesas e receitas” - representante da EMATER/RS-

ASCAR.

“Existe a necessidade de se avançar no sentido de qualificar o produtor para empregar

um sistema de boas práticas de produção” - representante da SAMA.

Page 44: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

42

Em relação à qualidade das matérias-primas e insumos (para produção e

processamento), o representante da EMBRAPA afirma que a matéria-prima ainda está aquém

do ideal, sendo utilizadas frutas com pouca qualidade, o que deprecia o produto final.

O da APPEFRUTAS, afirma que em relação aos insumos que existe uma dificuldade,

principalmente quando se trata da aquisição de embalagens para frutas frescas; além da má

qualidade, algumas vezes existe oferta insuficiente desses produtos próximo à safra, quando é

feita a aquisição.

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos afirma que a empresa

já está trabalhando nisso, e afirma ter certeza que esse vai ser o diferencial em um futuro bem

próximo. Ele percebe que o consumidor está cada vez mais exigente e mais preocupado com a

saúde e, com isso, observa mais o tipo de alimento que consome: “acredito que uma

alternativa de produção, seria através de produtos orgânicos ou, no mínimo, através de

produção integrada, com acompanhamento técnico, observando as regras, tanto na lavoura,

como na indústria”.

“Não importa se é processamento ou em distribuição em fresco, a colheita deverá

obedecer todos os parâmetros que permitam obtenção de uma fruto com qualidade. Em

relação aos agroquímicos utilizados na produção de pequenas frutas, a não ser para o

morango, não existe nada registrado, portanto, não deverão ser utilizados, a não ser para ao

morango e, mesmo assim, dentro dos limites e carências permitidos” - representante da

EPAMIG.

O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que a matéria-prima produzida

para o processamento, pelo menos pelos produtores da APPEFRUTAS, é de boa qualidade,

principalmente no que se refere à isenção de resíduos de agroquímicos, pois os produtores não

utilizam agrotóxico na produção da maioria das espécies, já que não existem produtos

registrados, com exceção do morango. O mesmo complementa: “sempre tem o que melhorar,

principalmente no que se refere à colheita, pós-colheita e transporte, são momentos

fundamentais para manter a qualidade obtida na produção, sem contaminantes

microbiológicos e sujidades”.

O representante da SAMA acredita que se deve trabalhar no sentido de buscar uma

produção mais limpa, ou seja, ecológica, orgânica ou integrada; é necessário tecnologia de

produção para que o produtor possa conduzir sua atividade com tranquilidade e tenha à mão a

possibilidade de resolver facilmente problemas de ordem sanitária.

Page 45: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

43

Em relação aos principais aspectos técnicos (atividades na produção e processamento)

pertinentes para atender às exigências da demanda, o representante da APPERFRUTAS

considera que o principal aspecto técnico está ligado diretamente à atividade de produção. A

produção de uma matéria-prima de qualidade diferenciada, frutas com sabor, de consistência

firme, produzidas muitas vezes de forma orgânica ou com o mínimo de uso de agrotóxicos, é

uma condição básica para se processar um produto de qualidade diferenciada, até mesmo

superando as exigências da demanda.

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos afirma que o mais

importante é ter um produto padronizado, passar credibilidade ao comprador e ao consumidor

final.

“A principal exigência da demanda de pequenas frutas é ter um produto isento de

resíduos de agrotóxicos e de contaminações microbiológicas que poderão atingir a saúde do

consumidor, sendo este ponto o mais importante para assegurar ao consumidor um produto

inócuo” - representante da EPAMIG.

O representante da EMATER/RS-ASCAR considera que os aspectos técnicos

necessários por parte da produção estão relacionados a todo o processo produtivo adequado

dentro da tecnologia recomendada para cada espécie, que resulte em uma fruta inteira, sem

defeitos, sem danos por doenças ou pragas, bonita e saborosa, mas ainda, com a mesma

importância, estão as boas práticas agrícolas na produção e as boas práticas de fabricação no

processamento.

O representante da SAMA considera importante disponibilizar um padrão de

tecnologias ecológicas/orgânicas certificadas, em que, ao mesmo tempo em que o produtor

produz um alimento mais saudável, também possa receber o devido certificado.

Sobre a importância dos sistemas de qualidade (rastreabilidade, indicação geográfica,

APPCC, boas práticas de fabricação, certificação orgânica, produção integrada de frutas,

Certificação ISO ou outro sistema próprio) para valorizar ou diferenciar o sistema produtivo:

“É fundamental para que se valorize o produto regional, que dê ao consumidor

segurança para o consumo de um produto seguro, sem contaminantes químicos ou biológicos.

Desta forma, certificando sua produção, o produtor terá assegurada a venda de seu produto e a

valorização deste através do ganho econômico” - representante da EMBRAPA.

“Acho importantíssimo, principalmente porque grande parte de nossos produtores são

agricultores familiares que, na sua grande maioria, já seguem os padrões exigidos por esses

Page 46: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

44

sistemas de qualidade, faltando apenas um trabalho de regulamentação dos mesmos. Isso sem

dúvida agrega valor ao produto e até mesmo abre alguns nichos específicos de mercado” -

representante da APPEFRUTAS.

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos afirma que os sistemas

de qualidade são fundamentais para o crescimento da empresa e para a manutenção da

produção no campo. Aponta que, no mínimo, deveriam implementar um sistema de produção

integrada, com boas práticas agrícolas e boas práticas de fabricação na indústria. Mesmo que

a adoção desses sistemas de qualidade “não reflita ainda em preço no mercado interno, com

certeza é uma forma de se manter no mercado”.

“São programas que visam certificar o produto e o processo, assegurando ao

consumidor final uma maior segurança na aquisição do produto. Portanto, são fundamentais

para garantir o mercado” - representante da EPAMIG.

O representante da EMATER/RS-ASCAR considera importantes os sistemas de

certificações, mas pondera: “Os sistemas de qualidade devem ser implementados de acordo

com as características das produções agrícolas, possibilidades econômicas dos produtores e

condições estruturais das propriedades, seguindo etapas de acordo com o mercado alvo.

Podemos citar como exemplo os produtores da APPEFRUTAS, muitos já estão utilizando

boas práticas agrícolas, alguns já possuem a certificação orgânica, ou estão em processo de

transição, e outros ainda não se adequaram a nenhum sistema”. O extensionista da EMATER

acrescenta: “Quanto aos sistemas de qualidades para as agroindústrias, o BPF é

imprescindível, os demais dependem das condições econômicas, estruturais e mercados a

serem atingidos”.

“Os sistemas de certificação são fundamentais no avanço da valorização do trabalho

do agricultor, da qualidade do produto e para a obtenção de um preço diferenciado. Contudo,

ainda deve-se avançar muito no registro de um maior número de produtos para serem

utilizados nas pequenas frutas. É difícil buscar um selo de qualidade quando não se tem base

de sustentação para isso” - representante da SAMA.

Sobre a evolução do consumo de pequenas frutas e a tendência em relação aos

produtos processados dessas frutas, o representante da EMBRAPA considera que, para o

morango, há uma demanda reprimida, uma vez que há uma sombra em relação à utilização de

agrotóxicos. As demais frutas têm consumo reprimido pelo desconhecimento do consumidor

em relação ao seu sabor e à sua qualidade nutricional. Além disso, os preços praticados

Page 47: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

45

atualmente impedem que haja maior consumo de classes sociais com poder aquisitivo mais

modesto.

“Acredito que o consumo de pequenas frutas em poucos anos vai se multiplicar

muitas vezes. Afirmo isso, pois mesmo aqui em Vacaria, onde o cultivo de pequenas frutas

começou já na década de 90, a maior parte da população ainda não conhece todas as pequenas

frutas. Uma minoria até já tornou hábito consumir pequenas frutas, outros já ouviram falar das

propriedades funcionais das mesmas, também das propriedades antioxidantes e

anticancerígenas, embora nunca tenham consumido. Isso ocorre porque o mercado brasileiro

foi pouco explorado até então. Como a oferta de pequenas frutas até poucos anos era muito

pequena, basicamente toda ela tinha mercado garantido no exterior, conseguindo preços altos.

Agora, com o aumento da produção, a redução e a estabilização do preço, está ficando

acessível a praticamente todas as classes sociais, notamos um aumento no consumo, não só no

mercado in natura, como também nas indústrias. Falta ainda muito trabalho de divulgação a

nível nacional, mas, sem dúvida, o consumo de pequenas frutas é uma tendência e, assim

como é em outros países, aqui também será muito consumida e valorizada. Quanto aos

produtos processados, vejo um futuro promissor. O produtor consegue agregar valor ao seu

produto e o consumidor poderá desfrutar das propriedades dessas frutas na forma de sucos,

barras de cereais, iogurte, passas, chocolates, sorvetes, polpas, chás, ou muitos outros artigos

que ainda serão lançados, com a vantagem de ter disponível durante qualquer época do ano

para aquisição” - representante da APPEFRUTAS.

O representante da agroindústria de congelados, polpas e sucos percebe que, entre as

pequenas frutas, o morango é que se destaca, pois a empresa importa boa parte do que é

processado em virtude da oferta insuficiente dessa fruta. A empresa está iniciando projetos

com o objetivo de comprar somente o produto nacional nos próximos anos. Ainda afirma que

a amora tem o seu mercado limitado ainda, mas que também tem sua representatividade no

mix de produtos. A framboesa e o mirtilo ainda precisam de uma maior divulgação para

atingir um volume satisfatório de comercialização.

“A pequena fruta mais consumida no Brasil é o morango devido também a um

marketing muito grande realizado em cima do mesmo, as outras precisam ser melhor

divulgadas. Teríamos condições, se organizados, de suprir mercados onde estas frutas já são

consumidas; em relação a produtos processados, temos condições de desenvolver produtos

que atendam o mercado consumidor, como iogurtes, bombons, chás, frutas liofilizadas, sucos,

extratos concentrados dessas frutas e outros produtos” - representante da EPAMIG.

Page 48: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

46

“O consumo de pequenas frutas e produtos processados cresce em todos os cantos do

mundo, no Brasil passamos por um momento aonde o consumo de frutas em geral vem

crescendo a cada ano, resultado do crescimento do poder aquisitivo da população, atingimos

em 2010 uma população de quase 200 milhões de habitantes, com 53% na classe média com

renda entre R$ 2.000,00 a 10.0000,00 mensais, segundo pesquisa recente da Fundação Getúlio

Vargas; são cem milhões de consumidores potenciais para as pequenas frutas. Acredito que, a

partir da organização das cadeias de produção, poderemos gradativamente vencer os gargalos

de infra-estrutura, logística e distribuição, e promover um aumento considerável no consumo

de pequenas frutas; e ainda temos o mercado externo para expandir, pouco explorado pelos

produtores e agroindústrias brasileiras” - representante da EMATER/RS-ASCAR.

“Eu percebo que está crescendo. Isso se deve tanto pelo resultado dos trabalhos de

marketing/divulgação da qualidade das pequenas frutas, quanto à melhoria econômica da

população brasileira, que está tendo cada vez mais acesso a produtos diferenciados, que lhe

confiram melhor qualidade de vida” - representante da SAMA.

Quadro1: Necessidades intrínsecas e extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias

integrantes de cadeias curtas que processam pequenas frutas e os respectivos direcionadores

e atividades de valor críticos para o atendimento dessas necessidades.

Necessidades do mercado: Direcionadores críticos: Atividades críticas:

- Atendimento ágil dos

pedidos

- Diminuir o tempo de

entrega

-Selecionar os canais de

distribuição empregados

-Selecionar os compradores

atendidos

- Investimentos em infra-

estrutura, capacitação dos

atores e estruturação logística

do setor

- Estudo detalhado de todos

os principais clientes, suas

necessidades semanais ou

quinzenais de frutas, sua

localização

- Transporte próprio,

caminhões e furgões

refrigerados

- Construção de redes de

distribuição, parceria com

produtores de morango já

estruturados

- Oferta de produtos com

embalagens adequadas e com

quantidades líquidas

demandadas

-Embalagens diferenciadas

de acordo com o tipo de fruta

e cliente

- Padronização de

embalagens de 125 g e 250 g

para frutas frescas

-Padronização de embalagens

de frutas congeladas: 15 a 20

kg para agroindústrias com

Page 49: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

47

escala maior (ex.: polpas,

geleias, sucos) e de 1 a 2 kg

para agroindústrias menores

(ex.: padarias, chocolatarias

sorveterias)

- Produtos certificados com

sistema de qualidade

- Boas práticas de fabricação

e boas práticas agrícolas

- Ganhos em qualidade,

valorização do produto

- Produtos com

rastreabilidade

- Capacitação dos recursos

humanos para

implementação dos sistemas

de qualidade

- Implementação de caderno

de campo nas propriedades

- Produtos com certificação

orgânica

- Produtos limpos e com

preservação ambiental

- Escolher novas tecnologias

- Capacitação dos produtores

em agricultura orgânica

- Produtos com marca

conhecida

- Atuar sobre as

características, desempenho e

configuração do produto

- Selecionar cultivares com

melhor sabor e consistência

- Ponto de colheita adequado

- Produtos com selo da

agricultura familiar

- Mercado solidário - Valorização do produto

através da indicação de

procedência da agricultura

familiar no rótulo

- Divulgação das

propriedades

nutricionais/funcionais das

pequenas frutas

- Aumentar o índice de

gastos com atividades de

marketing

- Realizar campanhas de

divulgação das qualidades

nutricionais e funcionais

junto aos consumidores

- Realização de feiras e

eventos voltados à

divulgação das pequenas

frutas

- Qualidade e integridade das

frutas

- Melhorar a gestão da

produção

- Escolha da tecnologia de

processo

- cuidados no manejo de

doenças, pragas, fertilização

e irrigação adequadas

- Cuidados na colheita e pós-

colheita

- Manutenção da cadeia de

frio

- Interesse em diversificação

dos produtos

- Ampliar o mix e variedade

de produtos oferecidos

- Incentivo à agroindústria de

processamento

- Disponibilizar as demais

pequenas frutas ao mercado

em forma de frutas frescas e

nos mais diferentes produtos

processados (polpas, sucos,

passas e outros)

- Padronização em termos de

tamanho

- Incrementar o nível de

serviço oferecido

- Classificação das frutas em

termos de tamanho

Page 50: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

48

- Manter aparência, sabor,

cor e o conteúdo nutricional

dos produtos

- Seleção de matérias-primas

e insumos

- Escolha da tecnologia de

processo

- Ponto de colheita adequado

- Resfriamento rápido e

manutenção da cadeia de frio

- Selo de indicação

geográfica

- Características de

identificação e diferenciação

do produto

- Elaboração de logomarca

própria com identidade

regional

- Relacionar com o turismo

rural

Page 51: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

49

5 CONCLUSÃO

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi adequada e contribuiu para detalhar os

diversos tipos de cadeias curtas de produção envolvidas no processamento de pequenas frutas

frescas ou processadas na região de Vacaria e identificar as características intrínsecas e

extrínsecas desejáveis pelo mercado de agroindústrias que as integram; em um segundo

momento, permitiu identificar as atividades de valor e os direcionadores de valor pertinentes

para o atendimento dessas necessidades.

As cadeias estudadas no pólo de Vacaria apresentam características diversas em

relação ao tipo e fluxo dos produtos, desde as propriedades produtoras até os consumidores.

Porém, a emergência crescente de canais de comercialização diferenciados, sofisticados, que

demandam produtos com maior valor agregado, tem incrementado novas alternativas de

mercado – ainda limitadas pelas deficiências de infra-estrutura para a classificação,

resfriamento, congelamento, processamento, embalagem e armazenagem.

A maioria dos representantes das agroindústrias apontou a necessidade de conservação

e manutenção da integridade das frutas inteiras como fator crítico, havendo uma variação,

conforme a utilização, quanto ao tipo de preferência: frutas frescas, congeladas, desidratadas

ou polpa, com certa preferência por frutas frescas.

Em relação à frequência de pedidos e quantidades requeridas, variam conforme a

agroindústria, sendo que as que trabalham preferentemente com frutas frescas fazem

aquisição mais frequentes em pequenas quantidades semanalmente.

O tipo embalagens preferido pelas agroindústrias varia de acordo com a utilização,

predominando o uso de embalagens menores para as que consomem frutas frescas e maiores

para as que consomem frutas congeladas.

A qualidade é mais importante que a marca para esse tipo de produto.

Em relação a sistemas de qualidade e certificações, a maioria dos tomadores de

decisão apontou como mais importante a adoção de boas práticas de fabricação e, no caso de

produtores de frutas frescas, a adoção de boas práticas agrícolas, com seus respectivos

controles e rastreabilidade.

Page 52: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

50

Sobre os sistemas de controle de origem (selo de indicação geográfica), sob ponto de

vista comercial, não houve convergência, mas a maioria dos tomadores de decisão não

considera importante.

A identificação dos produtos oriundos da agricultura familiar não foi considerada

importante pela maioria dos tomadores de decisão. Há um interesse convergente para a

divulgação setorial de propriedades funcionais/nutricionais das pequenas frutas.

Quanto ao preço das pequenas frutas, nota-se que tomadores de decisão de

agroindústrias que trabalham com frutas frescas e produtos sofisticados, de maior valor

agregado, atribuem maior importância à qualidade, enquanto que as agroindústrias que

trabalham com frutas congeladas e processamento em maior escala consideram o preço das

pequenas frutas elevado.

A metodologia utilizada no trabalho também permitiu identificar as atividades de valor

e os direcionadores pertinentes para o atendimento das necessidades de mercado através das

considerações de especialistas setoriais.

A preservação das qualidades intrínsecas apontadas pelos tomadores de decisão

somente são atingidas quando são aplicadas tecnologias de produção adequadas, cuidados na

colheita e pós-colheita.

As atividades de marketing ainda são tímidas no setor, embora sejam apontadas pelos

especialistas setoriais como importantes para que o consumidor conheça o produto e,

consequentemente, aumente o consumo das pequenas frutas.

A logística para distribuição de pequenas frutas precisa contar com melhor infra-

estrutura, cadeia de frio e transporte adequado. Existem poucos canais de distribuições

especializados para as exigências das pequenas frutas. Há necessidade de capacitação dos

recursos humanos para o elo de processamento e produção. A gestão da produção ainda é

pouco entendida e aplicada pelos produtores de pequenas frutas. A implementação de boas

práticas agrícolas e boas práticas de fabricação são importantes para melhorar a qualidade da

matéria-prima e dos produtos.

O aumento do consumo das pequenas frutas é evidenciado por todos entrevistados,

existe uma tendência dos consumidores de optar por produtos com qualidades funcionais.

Page 53: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

51

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apresentado como um dos requisitos para obtenção do título de Tecnólogo em Viticultura

Enologia. Bento Gonçalves/RS, 2004.

Page 55: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

53

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM TOMDORES DE DECISÃO

DAS AGROINDÚSTRIAS DA CADEIA DE PEQUENAS FRUTAS EM VACARIA/RS

1. Você teria interesse na utilização, como ingrediente ou comercialização direta, de pequenas

frutas - como a amora (blackberry), framboesa (raspberry), morango (strawberry), mirtilo

(blueberry), a physalis, ou ainda frutas nativas, como a pitanga, o araçá, a cereja e a

guavirova? Qual seria a utilização?

2. Que características são importantes em relação à qualidade na definição da compra de

pequenas frutas frescas ou congeladas (por exemplo, cor, aroma, aparência geral,

consistência, conteúdo nutricional preservado)? Quais delas seriam de maior interesse?

Qual(is) o(s) tipo(s) de apresentação desejado(s) (polpa, desidratada na forma de passa ou in

natura)?

3. Qual a freqüência previsível de pedidos? Em que quantidades?

4. Que tipos de embalagens seriam convenientes? Que quantidades líquidas de produto?

5. Seria importante que os produtos tivessem uma marca conhecida (para comercialização in

natura, por exemplo)? A marca é importante? Na sua opinião, existe diferença entre marcas

nesse mercado?

6. Que tipos de sistemas de qualidade seriam interessantes? APPCC na agroindústria? Boas

práticas de fabricação? Certificação orgânica? Produção integrada de frutas? Certificação ISO

(séries 9000, 14000, 22000)? Sistema próprio (dos produtores ou agroindústria) de controle de

qualidade? Rastreabilidade? Que informações são importantes nas embalagens? Em relação à

confiança do consumidor no produto, que características são importantes (selos,

certificações)?

7. Você acha que sistemas de controle de origem (como o selo de indicação geográfica)

agregariam valor ao produto aos olhos dos clientes?

8. Você acha que produtos oriundos da agricultura familiar, com essa identificação no rótulo,

agradam aos consumidores?

9. Você acha que a divulgação das propriedades nutricionais/"funcionais" dessas frutas

agregaria valor ao produto aos olhos dos clientes?

10. Que sobrepreço (em relação a outras frutas que você já utiliza) você acha adequado? Por

exemplo, 25% a mais do que a maçã... Que comentário você faria em relação ao preço atual

das pequenas frutas?

Page 56: Cultivo de pequenas frutas em Vacaria

54

APÊNDICE B - ROTEIRO DE QUESTÕES SEMI-ESTRUTURADAS DAS

ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS SETORIAIS PARA A IDENTIFICAÇÃO

DAS ATIVIDADES DE VALOR E DOS DIRECIONADORES PERTINENTES PARA

O ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES DE MERCADO.

1. Adequabilidade das características intrínsecas das frutas?

2. São realizadas atividades de marketing? Como? Qual sua importância?

3. Adequação dos aspectos logísticos? Gargalos? Necessidade de investimentos?

4. Adequação dos canais de distribuição empregados?

5. Adequação dos recursos humanos para o elo de processamento e produção?

6. Existem restrições relacionadas a aspectos de gestão da produção?

7. Adequação das matérias-primas e insumos (para produção e processamento)?

8. Quais seriam os principais aspectos técnicos (atividades na produção e processamento)

pertinentes para atender às exigências da demanda?

9. Na sua opinião, qual a importância dos sistemas de qualidade (rastreabilidade, indicação

geográfica, APPCC, boas práticas de fabricação, certificação orgânica, produção integrada de

frutas, Certificação ISO ou outro sistema próprio ) para valorizar/diferenciar o sistema

produtivo?

10. Como vê a evolução do consumo de pequenas frutas, qual a tendência em relação aos

produtos processados dessas frutas?