Cultura e memória

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A HISTORIADORA, O HISTORIADOR E AS ASTÚCIAS DO EU: SOBRE INVENTIVIDADE E LEVEZA NA NARRATIVA HISTÓRICA Natália Barros i Universidade Federal de Pernambuco [email protected] O homem, guiado pelo senso da beleza, transforma o acontecimento fortuito (uma música de Beethoven, uma morte numa estação) num motivo que mais tarde vai se inscrever na partitura de sua vida Milan Kundera. A historiadora está sentada em sua mesa de estudos. Em volta do notebook, muitos e muitos livros. Uma eclética biblioteca. “Intérpretes do Brasil: cultura e identidade”, “O poder da Cultura”, “O show do eu”, “Modernidade Alternativas”, “Freud para historiador”, “Ensino de História: fundamentos e métodos”, “Atas do Sabadoyle”, “O Cavaleiro Inexistente”, “O Movimento Modernista em Pernambuco”, “A Escola vai ao Cinema”, são alguns dos títulos que desfilam sob o olhar intrigado da jovem de trinta anos que reflete sobre a natureza do seu ofício e sobre seus interesses e suas inquietações de pesquisadora e professora de História. Uma frase de seu orientador, ouvida recentemente, martela em seus pensamentos: o especialista morreu e não sabe. Foi no contexto dos muitos telefonemas trocados entre eles: - Ando tão inquieta, sinto-me interessada por tudo. Gostaria que construíssemos no Departamento de História um Núcleo do Tempo Presente. Esse espaço seria perfeito para abrigar nossas pesquisas sobre arte e sobre cultura e subjetividade no mundo contemporâneo. Afinal, é isto que você tem feito: história do tempo presente. Já pensou sobre isso?! Você tem com seu blog, demais produções críticas e mesmo com sua trajetória, nos tornado menos ignorante em relação ao presente. Lembro da frase de Marc Bloch, a incompreensão do passado nasce, afinal, da ignorância do presente. Seu método é o diálogo com diferentes dimensões da própria história e com os mais

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A historiadora, o historiador e as astúcias do eu: sobre inventividade e leveza na narrativa histórica. Texto apresentado no V Encontro Cultura e Memória da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE.

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A HISTORIADORA, O HISTORIADOR E AS ASTÚCIAS DO EU: SOBRE

INVENTIVIDADE E LEVEZA NA NARRATIVA HISTÓRICA

Natália Barrosi

Universidade Federal de Pernambuco

[email protected]

O homem, guiado pelo senso da beleza, transforma o

acontecimento fortuito (uma música de Beethoven, uma morte

numa estação) num motivo que mais tarde vai se inscrever na

partitura de sua vida

Milan Kundera.

A historiadora está sentada em sua mesa de estudos. Em volta do notebook, muitos e

muitos livros. Uma eclética biblioteca. “Intérpretes do Brasil: cultura e identidade”, “O

poder da Cultura”, “O show do eu”, “Modernidade Alternativas”, “Freud para

historiador”, “Ensino de História: fundamentos e métodos”, “Atas do Sabadoyle”, “O

Cavaleiro Inexistente”, “O Movimento Modernista em Pernambuco”, “A Escola vai ao

Cinema”, são alguns dos títulos que desfilam sob o olhar intrigado da jovem de trinta

anos que reflete sobre a natureza do seu ofício e sobre seus interesses e suas

inquietações de pesquisadora e professora de História. Uma frase de seu orientador,

ouvida recentemente, martela em seus pensamentos: o especialista morreu e não sabe.

Foi no contexto dos muitos telefonemas trocados entre eles:

- Ando tão inquieta, sinto-me interessada por tudo. Gostaria que construíssemos no

Departamento de História um Núcleo do Tempo Presente. Esse espaço seria perfeito

para abrigar nossas pesquisas sobre arte e sobre cultura e subjetividade no mundo

contemporâneo. Afinal, é isto que você tem feito: história do tempo presente. Já pensou

sobre isso?! Você tem com seu blog, demais produções críticas e mesmo com sua

trajetória, nos tornado menos ignorante em relação ao presente. Lembro da frase de

Marc Bloch, a incompreensão do passado nasce, afinal, da ignorância do presente. Seu

método é o diálogo com diferentes dimensões da própria história e com os mais

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variados campos do conhecimento, garantindo diversidade e riqueza nos Estudos

Históricos do Tempo Presente. Preciso lhe contar que depois que voltei à sala de aula,

estou super interessada no que estou chamando de dimensões da política e da cultura no

Brasil Contemporâneo. Estou discutindo com meus alunos as interpretações do Brasil

feitas por intelectuais ao longo do século XX. Fiquei morrendo de vontade de oferecer

no ano que vem uma Disciplina da Parte Diversificada (PD) para lermos Lima Barreto,

Euclides da Cunha, Raquel de Queiroz, Jorge Amado... Misturar história e literatura,

principalmente pensando nos projetos de Brasil trazidos por estes intelectuais. Claro,

esse interesse é fruto do meu envolvimento com os modernistas, tenho aprendido muito

sobre intelectuais e estado brasileiro na documentação da minha tese sobre Inojosa.

Biografias históricas e escritas de si são também leituras presentes estes dias. Bem,

voltando ao CAp, estamos meus alunos e eu surpresos com as permanências de alguns

discursos sobre o país e com os links visíveis entre nossos debates e as notícias que

estão circulando nos telejornais e na internet. Veja você que no dia que lemos o trecho

de Oswald de Andrade escrito em 1937: somos um país de sobremesa. Com açúcar,

café e fumo, só podemos figurar no fim dos menus imperialistas. Claro que sobremesa

nunca foi essencialii, vimos estampadas as notícias de que a crise mundial atual só não

seria pior por conta da solidez e essencialidade da economia do Brasil e demais países

considerados em desenvolvimento. Eu disse aos meus alunos, “a história é vivinha da

silva”, pessoal. Sintam o movimento da história. Nosso debate se expandiu para o

Facebook e para meu blog. Sim, este é outro tema que tem me tomado o tempo: as redes

sociais e o seu potencial formativo. Estou adorando as leituras sobre a Web 2.0 e os

recursos para a formação do historiador e do professor de história.

- Você tem um blog também, perguntou o orientador?!

- Sim. Chama-se entreumahistoriaeoutra.blogspot.com. Tem esse nome porque

pretendo que seja uma plataforma de debates sobre a formação do professor de história,

entendendo o professor como um pesquisador e, portanto, um sujeito que precisa estar

absolutamente conectado com os principais debates sobre educação e ciberespaço,

política e cultura contemporânea. A outra dimensão do blog é ser um espaço dedicado a

provocar a reflexão e a participação dos estudantes do ensino médio, uma sala de aula

expandida. Todos os meus alunos tem computador e internet na sala de aula. Não posso

ignorar essa realidade, preciso investigá-la e construir metodologias que tenham o

frescor desses novos tempos. Na verdade, estou experimentando com os dois públicos a

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produção compartilhada de conhecimento. Tentando entender o tipo de conhecimento

que partilhamos e produzimos na web. No meio dessas duas histórias- a acadêmica e a

escolar/disciplinar estou eu, entre uma e outra. Apareço nas dicas de filmes, de músicas,

nos trechos de poemas ou pensamentos que encontro e divido com meus seguidores.

-Ele então falou: Cada dia tenho escrito com mais prazer e dedicação no meu

astuciadeulisses.com.br. Todo dia escrevo um texto. Não é todo mundo que consegue

isso. Requer disciplina. Sinto-me uma antena, captando tudo. Estou com a sensibilidade

à flor da pele e satisfeito por intervir no mundo, expressando minha concepção de

História. Paula Sibilia tinha razão, não se trata apenas da internet e seus universos

virtuais para a interação multimídia. São inúmeros os indícios de que estamos

vivenciando uma época limítrofe, um corte na história; uma passagem de certo regime

de poder para outro projeto político, sociocultural e econômico.iii

- Tenho acompanhado a dinâmica da sua produção no blog. O ciberespaço é seu chão

histórico. Enquanto você falava, eu me recordava do Pierre Levy e da ideia de

ciberespaço como um campo gerador de infinitas possibilidades interativas, um novo

espaço de comunicação, de sociabilidade, de reconfiguração de identidades, para além

de sua dimensão mais visível e pragmática, que é a organização e transação da

informação e do conhecimento. Como o historiador se furtar a esses fatos, a essas

reconfigurações que alteram o ser e estar no mundo, que modificam, inclusive, nossa

visão retrospectiva do passado?! Foi pensando nas reconfigurações do pensar e narrar a

história contemporânea, particularmente o tempo presente que eu indiquei seu site aos

meus alunos. Eu te contei sobre isto?

- Eu recebi um comentário de uma aluna sua. Fiquei emocionado.

- Que bom que gostou. Na verdade, seu site tornou-se nosso roteiro de aulas. Como

você escreve sobre o tempo presente e nosso debate atual é sobre Brasil

Contemporâneo, indiquei seu o astuciasdeulisses como material complementar de

leitura. Eles estranharam um pouco. Um historiador da UFPE que tem um blog que

aborda futebol, política, violência, cultura e até tecnologia?!

Risos de ambos os lados.

Do outro lado da linha, agora num tom mais sério, o orientador disse: fique tranqüila,

estamos no caminho certo, estou convicto: o especialista morreu e não sabe. O

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historiador não pode abstrair-se dos debates do presente, que são muitos e urgentes. Do

magno profuso de informações, notícias e imagens que nos circunda, talvez, agora, o

papel do historiador seja o de construir pontes e diálogos entre os tempos, presente e

passado. Penso que o olhar historiador é capaz de dar sentido às transformações e fazer

do diálogo, o objeto e o método da pesquisa histórica.

No outro dia, a historiadora quando escreveu a sua amiga que atualmente mora em

Paris, repetiu: o especialista morreu e não sabe. Ambas sentiram-se tranqüilizadas, pois

são mulheres que se apaixonam por seus temas de pesquisa e que estão absolutamente

afetadas e interligadas ao mundo contemporâneo, ao presente. É no contato com o

presente que seus temas, objetos e métodos de pesquisa são definidos. É na paixão pela

história, do passado e do presente que definem suas trilhas acadêmicas. Sem paixão,

elas não conseguem prosseguir. Às vezes, as paixões voltam, como pelos estudos sobre

gênero e ensino de história que estão novamente na pauta de interesse dessa que está no

Brasil. Cá entre nós, a escrita, uma paixão que, provavelmente, é amor, é o que mais

intensamente une as duas mulheres e este orientador. Vivem agarrados com as palavras.

Sejam as palavras dos historiadores, dos literatos, dos jornalistas ou mesmo a das

crianças. Outro dia a historiadora de Paris citou o próprio filho em uma das cartas que

escreve diariamente a amiga: Conversamos no café da manhã sobre joaninhas. Alguns

dizem que elas trazem sorte. Em francês é: “les coccinelles”. O Rudá estava

decepcionado com uma das novas colegas, ela havia matado uma joaninha durante o

recreio.”não é gentil, olhamos e depois devolvemos para a natureza”, disse ele. Eu

expliquei para ele que talvez a menina não soubesse que as joaninhas além de bonitas

são importantes, pois comem os pulgões. Ele decidiu que não gostava da menina. O

tempo se encarregará dos dois, se essa história de joaninha os tornará amigos ou não.

Além de escrever as Cartas de Saint Denis, a historiadora da arte e estudante de

doutorado na Sorbonne, coordena via skype, facebook e blog um Laboratório de

Pesquisa e Estudos em História da Arte na cidade de Fortaleza. A troca intelectual do

grupo, as leituras e debates sobre história e arte, acontecem há um ano e produziu,

inclusive, um colóquio Desdobrar histórias da arte: redes, narrativas e monumentos.

Olhando a tela em branco do computador, a historiadora pensava que, sem planejarem,

o professor e as alunas estão seguindo a trilha da expansão da palavra e da reflexão

sobre o ofício. Ela mesma, num dos dias de angústias com a escrita da sua tese,

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escreveu o seguinte no seu blog: escrever requer disciplina, mas, principalmente,

disponibilidade para cercar as experiências e as idéias. Escrever é aprisionar opiniões,

informações, conhecimento. Um ato muito diferente da leitura, que nos envolve, nos

liberta, nos deixa soltos.

Pensando então que é exatamente a escrita liberta, solta, que possibilita ao historiador

ser inventivo e leve, ela não tem dúvidas: astuciasdeulisses, o blog de seu orientador, é

uma prática significativa e emblemática de transformação do lugar de escrita e atuação

do historiador no mundo contemporâneo, de libertação pela palavra e de libertação da

palavra. Sua leveza encontra-se na sua generosidade em compartilhar seu olhar crítico,

sua densidade teórica e sua escrita precisa e ao mesmo tempo lúdica com leitores do

mundo todo. A jovem nesse momento lembra-se do conceito de leveza analisado na tese

de doutorado do amigo filósofo Sandro Sayão, discípulo de Emanuel Levinas: no evento

da generosidade é possível compreender uma face humana leve sem a qual a vida não

se desdobraria. Quer dizer, na generosidade se mostra a face humana desde a qual

reverbera a sustentável leveza do humano.iv

Enquanto abre o site pra dar uma revisitada e criar o roteiro de seu artigo, lembra que

explicou a seus alunos e alunas que a concepção que tinha sobre seu ofício estava

sustentada na ideia de que a pesquisa sobre o tempo presente, a função de expertise e a

responsabilidade social do historiador caminham lado a lado.v Ao pedir que os

estudantes lessem os posts diários do seu professor, havia naquela ocasião citado

Georges Duby: o bom historiador deve estar atento a tudo, a começar pela atenção ao

mundo que o cerca. Naquela manhã eles haviam lido o post A dependência e solidão,

Sócrates e a vida. Não era sobre o Sócrates grego. Era sobre o ex-jogador de futebol e

médico que se encontra doente, no limite da vida, aprisionado pela dependência ao

álcool. Depois de lerem o texto, num misto de curiosidade e estranhamento, o terceiro

ano imediatamente respondeu ao post, agradecendo ao professor.

Depois dessa lembrança, a jovem doutoranda se pôs a pensar em todas as

transformações no campo metodológico e teórico da história que seu orientador passou.

Ele é um homem de 52 anos. Já estudou o movimento operário, navegou pelas águas do

marxismo dominante dos anos 1970, estudou a cidade do Recife dos vinte e encontrou-

se com os textos de Ítalo Calvino, Castoriades, Freud, Benjamin e tantos outros

intelectuais. A jovem lembra-se de um livro do professor. Levanta e vai à cata na sua

desordenada estante de livros. Queria encontrar “Ruídos do Efêmero” e destacar um dos

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trechos das histórias de dentro e de fora do historiador. Queria mostrar aos leitores de

seu texto que o historiador-blogueiro é um grande narrador. Casualmente, seu olhar

pousa no seguinte trecho: Cogito tudo isso, contemplando a janela e o espelho e tantos

outros objetos do meu quarto, inquietando-me com as recordações e as misturas

temporais que eles me provocam. Sinto-me como um narrador e não me estranho. A

narrativa é o pedaço da vida mais misterioso e vadio. Ela distrai e invade, consola e

descobre, acomoda e tortura, adormece e atiça. Traça identidade e acelera corações.

De advogado a historiador, ele esquadrinhou arquivos em busca das fontes necessárias

para sua dissertação e posteriormente para a tese. Sem câmeras digitais, notebooks e

recursos que hoje alteram nossas práticas de construção das fontes, valeu-se dos velhos

e bons jornais. No entanto, já naqueles tempos, soube inventar sua pesquisa e utilizar a

literatura não apenas como registro, mas como construtora de sua maneira de contar a

história. Hoje ele procura os seus documentos na web, sem sair do lugar, tem um

arquivo inimaginável a sua disposição. A música, a literatura, o cinema, a vida

estampada nos mais diferentes meios de comunicação são seus documentos. Seu olhar

ampliou-se e agora não é a cidade seu objeto de estudo, é o mundo, os sujeitos nesse

mundo, com artimanhas, astúcias, silêncios e ruídos. Suas narrativas não cabem nos

modelos caducos dos textos acadêmicos, ocupam as páginas do seu site. Seus leitores,

seus interlocutores, estão espalhados nos mais variados cantos do mundo. A gente

escreve pra conversar com o mundo, afirma no seu site.

O astuciadeulisses.com.br apresenta seu flash biográfico: canceriano, pai de 4 filhos.

Professor de História da UFPE, dedica-se às pesquisas sobre as relações afetivas na

modernidade e aos debates sobre as artimanhas da contemporaneidade. É apaixonado

pelas obras de Astor Piazzola e Ítalo Calvino, curte o cinema de Fellini e Antonioni e

adora uma boa conversa. Portanto, inscreve-se no meio acadêmico, reforça seus

interesses não ortodoxos de pesquisa histórica, sem deixar, no entanto, de insinuar sua

subjetividade, uma dimensão que não esconde, que cultiva e se orgulha: pai de 4 filhos.

Será daí sua intimidade com Freud? Sem dúvida, este um mestre responsável por sua

maneira aguda de olhar, sentir o mundo e escrever a História.

As dicas de leituras e filmes que aparecem no site são também indícios da formação do

historiador, labiríntica e referenciada no cinema, no teatro, na música. Fica a

advertência aos iniciantes: nem só de Foucault, Deleuze e Thompson pode viver o

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historiador. Muito menos viver refém da academia, sem circular no meio do mundo,

sem intervir nos debates da atualidade, sem conhecer as práticas e os produtos culturais

da contemporaneidade.

É o contemporâneo o protagonista dos textos diários publicados pelo historiador. Nas

tags, ou legendas, que aparecem indicando as temáticas abordadas, visualizamos as

escolhas do professor, aquilo que mobiliza seu interesse e que elege para suas polêmicas

e críticas: arte, memória, capitalismo, cinema, consumo, cultura, fama, Freud, tempo,

jogo, Lula, futebol, globalização, Neymar, Picasso, solidão, Santa Cruz e muitos outros.

A internet amplifica a atuação do intelectual e expandi seu poder formativo. Podemos

pensar que são tópicos de pesquisa apresentados diariamente aos jovens pesquisadores.

Uma pesquisa histórica com interesse nas redes, nas situações vividas, nas marcas

singulares dos indivíduos no mundo e em suas relações com as mais variadas dimensões

da sociedade. Astuciadeulisses.com.br configura-se em uma nova maneira de comunicar

a pesquisa histórica, de difundir a interpretação do tempo presente. Uma comunicação

erudita, precisa, mas com leveza e inventividade.

Enquanto reler seu texto, a jovem pesquisadora imagina a cara dos mais céticos e

desconfiados com tanta invenção e leveza na história. Ela sorri e escreve: ainda era

confuso o estado das coisas no mundo, no tempo remoto em que esta história se passa.

Não era raro defrontar-se com nomes, pensamentos, formas e instituições a que não

correspondia nada de existente. E, por outro lado, o mundo pululava de objetos e

faculdades e pessoas que não possuíam nome nem distinção do restante. Era uma

época em que a vontade e a obstinação de existir, de deixar marcar, de provocar atrito

com tudo aquilo que existe, não era inteiramente usada, dado que muitos não faziam

nada com isso – por miséria ou por ignorância ou porque tudo dava certo para eles do

mesmo jeito – e assim uma certa quantidade andava perdida no vazio.vi

BIBLIOGRAFIA

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vol. 8, num. 16, 2004.

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REZENDE, Antonio Paulo. Ruídos do efêmero: histórias de dentro e de fora. Recife:

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SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 2008.

i É doutoranda em História e está imersa em leituras sobre biografia, biografismo, trajetória e escrita de

si. Sua tese pretende apresentar a trajetória do modernista Joaquim Inojosa. Até agora o título é “Autor,

narrador, protagonista: as experiências intelectuais de Joaquim Inojosa”. O texto que apresenta carrega

as marcas dessas leituras teóricas e o desejo de experimentar a leveza e a inventividade em sua escrita.

É uma narrativa experimental sobre o site www.astuciadeulisses.com.br do historiador Antonio Paulo

Rezende. É professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco.

ii ANDRADE, Oswald. Um país de sobremesa. In: Estética e Política. São Paulo: Globo, 1992. P. 164-168.

iii SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2008. P.15

iv SAYÃO, Sandro Cozza. Sobre a leveza do Humano: um diálogo com Sartre, Heideger e Levinas.

Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Doutorado em Filosofia. Porto Alegre. PUCRS, 2006.

v BÉDARIDA, François. As responsabilidades do historiador expert. In: BOUTIER, J. e JULIA, Dominique.

(org.) Passados Recompostos: campos e canteiros da história. Rio de Janeiro, Ed. UFRJ/ Ed. FGV, 1998.

vi CALVINO, Ítalo. O cavaleiro inexistente. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.