Cultura iv

download Cultura iv

If you can't read please download the document

Transcript of Cultura iv

1. CulturaCulturaJornal Angolano de Artes e Letras 14 de Maio a 3 de Junho de 2012 | N 4 | Ano 1 Director: Jos Lus Mendona Kz 50,00 frica Surge etAmbulaPPOOEEMMAADDEE RRUUII DDEENNOORROONNHHAA PPAAGG.. 22 Nagrelha Oestadomaiordo kuduro continuano Baio,pg.20a22 CheikhAntaDiop eaestratgiade desenvolvimento docontinente africano,pg.6 Ndalatando Angolacria primeiroCentro Nacional deLeitura,pg.12 2. 14deMaioa3deJunho2012 | Cultura2|ARTE POTICA fricaSurgeetAmbula Antnio RUI DE NORONHA, poeta mo- ambicano,nascidoa28deOutubrode1909,em Loureno Marques (hoje, Maputo), e falecido a 24/25deDezembrode1943.OBradoAfricano, OMundoPortugus,fricaMagazine,Miragem, Moambique e Notcias do Bloqueio estampa- ram os seus textos de crtica literria e os seus poemas,partedosquaisforamreunidossobot- tulo Sonetos, no ano da sua morte, em edio pstuma, icandoinditososseuscontos.Inclu- do em inmeras antologias estrangeiras na Rssia,naRepblicaCheca,naHolanda,naIt- lia,nosEUA,naFrana,naArglia,naSucia,no BrasileemPortugalRuideNoronhacelebri- zou-sepelopoemaQuenguelequeze cujottuloumgritocaracterstico doritodepassagemdocuiandla, noqualsemostraluanovaa crianarecm-nascida,pa- ra que ela se transfor- meempessoa(). Dormes!eomundomarcha,ptriadomistrio. Dormes!eomundorola,omundovaiseguindo... Oprogressocaminhaaoaltodeumhemisfrio Etudormesnooutroosonoteuin inito... Aselvafazdetisinistroeremitrio Ondesozinhanoite,aferaandarugindo... Lana-teoTempoaorostoestranhovituprio Etu,aoTempoalheia,frica,dormindo... Desperta!Jnoaltoadejamnegroscorvos Ansiososdecairedebeberaossorvos Teusangueaindaquenteemcarnedesonmbula. Desperta!Oteudormirjfoimaisqueterreno OuveavozdoProgresso,esteoutronazareno Queamoteestendeediz:frica,surge etambula! RUIdeNORONHA Surgeetambula-Levanta-teeanda 3. ECODEANGOLA|3Cultura | 14de Maioa3deJunhode2012 1 Todososdias,aopr-do-sol,voamgaivotasataomar,eofenomenal crculodesanguecaindonalinhadohorizonte,entrecortadopelat- nue brancura das asas, consolida o nosso amor pela grandeza desta frica.fricanossaquecelebramostodososdias,comaproduodasnossas mos e das nossas almas, frica nossa, me da Humanidade que, este 25 de Maio, repensa o legado cultural pan-africanista da Organizao de Unidade Africana (OUA),expressonasuaCartaCulturaladoptadaemJulhode1976em Port-Louis,nasilhasMaurcias. Naverdade,aCartaCulturaldefricatemcomoobjectivospreservarepro- moveropatrimnioculturalafricano,reforaropapeldesteltimonapromo- odapazeboagovernao,egarantirorespeitopelasidentidadesnacionais eregionaisnosdomniosdaculturaedosdireitosculturaisdasminoriasbem comodastrocasedifusesdeexperinciasentrepasesafricanos.ACartaCul- turalretomou,pois,daOUA(hojeUnioAfricana),aslinhasfundantesdoPan- Africanismo, que surgiu, ainda em inais do sculo XIX, e que, a partir da Se- gundaGuerraMundial,seapresentariacomoumaideologiadedefesadosva- loresculturaisdefrica. 2 Oquesigni ica,hoje,nestatbuarasadaGlobalizao,serintelectual, ser escritor, ser artista africano? Haver, como na poca do Renasci- mentoEuropeu,umleitmotivcomuminspirador,umaclaraorientao ilos icaquenosunanao icinadopensamentoedacriatividade? RepartidospeloscamposnuncaestanquesdasArtesedasLetras,algunsin- telectuais angolanos da gerao mais madura e da jovem gerao trazem aportesaestefrumdaCultura,comdiversasre lexeseestudossobreumas- suntoquenosmuitocaroenomenosguardadonagavetadoolvido:oRe- nascimentoAfricano. AinstalaoemNdalatando,doprimeiroCentroNacionaldeLeitura,dotado de novas tecnologias, um passo decisivo na edi icao social da cidadania cultural,preconizadapeloidealdaCartaCulturaldefrica. SimoSouindoulapartedopassadoparaprognosticarumfuturopromissor paraoContinente.FilipeZaufala-nosdeumafricaqueseriapoltica,cultural e economicamente livre. Contudo, o sonho da Grande frica durou pouco. QueefeitosteveestadecadnciadosonhosobreosectordaCultura?Opensa- mentodeCheikhAntaDiop,orefundadordahistriadefrica,aquiretoma- do.Estepensadordissequeafricadeveoptarporumapolticadedesenvol- vimentocient icoeintelectualepagaropreoquefornecessrio.Odesenvol- vimentointelectualomeiomaissegurodeacabarcomachantagem,aintimi- dao e a humilhao. Na linha deste grande pensador africano, Nguimba Ngolapreconizaumatomadadeconscinciadequens,africanos,contribui- mosdeverasparaoprogressodaHumanidade.RasKilunjifazumasingelaho- menagemprimeiragrandeestreladoTerceiroMundo,BobMarley. 3 Cultura transporta, assim, para o Jornalismo Cultural o lan do Re- nascimento Africano, criando para si, caro leitor, a cada nmero, um manancialdeconhecimentotransformadordasconscinciaseilumi- nado pelas mais belas cores do nosso Continente. Como bem o demonstra a objectivavisionriadeFredericoNingi. Editorial Renascimento Africano ARTE POTICA frica Surge etAmbula | Rui Noronha ECO DEANGOLA EDITORIAL-RenascimentoAfricano | Jos Lus Mendona RENASCIMENTOAFRICANO frica Um passado glorioso um futuro pro- missor |Simo Souindoula CheikhAnta Diop e a estratgia de desenvolvimento do continente afri- cano Da autonomizao poltica dependncia econmica | Filipe Zau frica e o evangelho de um novo caminho | Nguimba Ngola Bob Marley a primeira grande estrela doTerceiro Mundo | Ras Kilunji LETRAS Angola cria primeiro Centro Nacional de Leitura Jean Hebrard, historiador francs: Um escravo tem s um primeiro no- me | Jos Lus Mendona De tantas falas e alguma escrita | J.A.S. Lopito Feijo K. Institucionalizao de uma disciplina: Literaturas africanas ou Literatu- raAfricana? |Lus Kandjimbo O reino do Kongo e a sua origem meridional | Simo Souindoula Marcas da Guerra, Percepo ntima e outros Fonemas Doutrinrios de Lopito Feijo | Matadi Makola ARTES Nagrelha o estado maior do kuduro continua no Baio | Cristina da Silva Arte angolana contempornea - Uma criatividade plstica endgena | Johnny Kapela Bienal ENSARTE, Dinmica expressiva e campo temtico significati- vo | Simo Souindoula Entre ns, Info-Poesia ou Poesia Digital |Frederico Ningi DIALOGO INTERCULTURAL SemanaAfricana na UNESCO homenageia Wangari Maathai Rabelados filme de Benvindo Cabral |Nuno Rebocho Um Guia de Cabo Verde | Nuno Rebocho BARRADO KWANZA Estranhos pssaros de asas abertas | Pepetela MEMRIAS Kudilonga - O exame de admisso ao liceu, Laos lacinhos e laarotes IXiminya JOSLUSMENDONA Sumrio Conselho deAdministrao Antnio Jos Ribeiro | presidente Administradores Executivos | Catarina Vieira Dias Cunha Eduardo Minvu Filomeno Manaas Sara Fialho Mateus Francisco Joo dos Santos Jnior JosAlberto Domingos Administradores No Executivos | Victor Silva Mateus Morais de Brito Jnior Sede: Rua Rainha Ginga, 12-26 | Caixa Postal 1312 - Luanda Redaco 333 33 69 |Telefone geral (PBX): 222 333 343 Fax: 222 336 073 | Telegramas: Proangola E-mail: [email protected] [email protected] CONSELHO EDITORIAL Director e Editor-chefe | Jos Lus Mendona Editor de Letras | Isaquiel Cori Editor de Artes | Francisco Pedro Assistente Editorial | Berenice Garcia Fotografia | Paulino Damio (Cinquenta) e Arquivo do Jornal de Angola Edio de Arte e Paginao | Albino Camana e Toms Cruz COLABORAM NESTE NMERO Angola - Cristina da Silva, Filipe Zau, Frederico Ningi, J.A.S. Lopito Feijo K., Lus Kandjimbo, Matadi Makola, Nguimba Ngola, Ras Kilunji, Simo Souindoula, Ximinya Cabo Verde - Nuno Rebocho International Networking Bantulink - Johnny Kapela FONTES DE INFORMAO: AGULHA, revista de cultura, So Paulo, Brasil Correio da UNESCO, Paris, Frana AFRICULTURES, Portal e revista de referncia das culturas africanas, Les Pilles, Frana Publicidade: (+244) 222 337 690 | 222 333 466 CulturaJornalAngolano deArtes e Letras Propriedade N 4 | Ano 1 |14 de Maio a 3 de Junho de 2012 4. 4|RENASCIMENTOAFRICANO| 14deMaioa3deJunho de2012| Cultura BERODAHUMANIDADE Asdescobertasrecentesfeitasnodomniodaar- queologiapr-histrica,sobretudonafricaorien- tal e central, con irmam que no nosso continente que se registaram, h cerca de 3 500 000 anos, os primeirosprocessosdehominizao. Estaevoluohomindeaserfeitaparalelamen- teinvenodediversosmoldeslticos,epartirdo LaterStoneAge,hcercade10000anos,doexerc- ciodavegeculturaedacriao. Estafaseprogredir,extraordinariamente,nova- le do Nilo, no IV milnio antes da nossa era, com a brilhantecivilizaoegpcia. umestdiofundamentaldahistriadahumani- dadecomagrandecaractersticadoEgiptoterman- tidorelaescomaNbiaeaEtipiaantiga. So5000anosdehistriaqueseestendemaolon- godos6700kmdoNilo,desdeoLagoVitria,nafri- ca oriental, at ao delta, no Mediterrneo, e que se inscreveunumabaciadecercade3milhesdekm2. Asprovasdaexistnciadesteblocohistricosoos melano-africanosquetiveramumpapeldeterminan- te no Egipto faranico e as lnguas negro-africanas apresentamlaosgenticoscomoegpcioantigo. EumdosnumerososfactosareteroMisranti- go,quesesituaentre1580e1085,umadasgrandes potnciasdoOriente. Ao sul da doao do Nilo, vo prosperar no de- cursodoprimeiromilnioantesdanossaeraatao primeirosculodanossaera,vriasformaeshis- tricastaiscomooReinodeMro,quesersubsti- tudo,maistarde,pelooReinodeAksoum. Nestemesmoperodo,regista-seaemergnciade Nok, na actual Nigria. prximo desta regio que partir uma das grandes dinmicas civilizacionais dahistriaafricanacomascontnuasmigraesea extraordinriaexpansodaspopulaesbantu. Essaspopulaesmetalurgistas,voocuparoter- odefricaousejamaisde11milhesdekm2eor- ganizar,nafricacentral,orientaleaustral,empo- casdiversas,dezenasdeentidadespolticastaisco- mooKongoeosseusterritriosaliados,oTk,oKu- ba,oLuba,oLunda,oLozi,oZimbabw,oMwanaMu- tapa,oZulu,oSwazi,oRuanda,oRundi,oGanda,etc. Africaocidental,ligadazonabantuatravsda classi icaoNgerCongo,conheceuigualmente asurgimentoeaorganizaodevriosreinoseim- prios, tais o So, o If, o Benim, o Gana, o Mali, o Songhai,oBornoueoMossi. Africadeontem,vastoblocosemoSaaradeser- ti icado e mesmo depois desta mudana climtica maior, era sinnima de contactos e trocas de vria ordemassimcomodefusesdepopulaes. Umadasconsequnciasdestaevoluohistrica queascivilizaesafricanasapresentam,hoje,umvas- toquadrodesimilitudeslingusticaseantropolgicas. Estafrica,globalmente,umuniversops-neo- ltico e proto-histrico. nesta etapa de evoluo que ela entrar em contacto, a partir do sculo XV, comaEuropadaps-idademdia,comassuasvan- tagenstecnolgicas,sobretudonosdomniosdana- vegao martima e, mais tarde, do uso da fora ex- plosivadaplvora. Esta realidade, associada descoberta do conti- nente americano e do conjunto insular caribenho, mudarrpidaede initivamenteanaturezadaspri- meirasrelaesentreosdoiscontinentes. Com efeito, no encalo da cristalizao das pri- meirasformasdeproduocapitalistaedapreemi- nncia das convices mercantilistas na Europa, fricavaisubirumadaspunesdemogr icasmais severasdahistriadahumanidade,aprovocadape- lotr icodeescravostransatlntico. Seromaisde15milhesdeafricanosquechega- rovivosnasimensasAmricasenaarmadilhacari- benha,e,cativos,aproximadamente,namesmaor- demdeimportncia,perderoavidadurantetodas asetapasdaimplacvelredeorganizativadestene- gciodesereshumanos. Esta shoah que durou mais de quatro sculos ter graves consequncias no desenvolvimento do continenteafricano. Comefeito,noeraotrabalhoprodutivoquepri- mavaduranteesteinadmissvellongoprocessohis- trico, mas sim, a organizao de violentas aces decapturadeescravos,oencaminhamentodoscati- vosemdirecoaolitoral,aconcentraodaspeas dendiaseoseuembarque. Peranteocarctereconmicocontra-produtivoe aincontrolabilidadesocialepolticadasdiferentes formaes esclavagistas, as potncias europeias, comaindustrialInglaterraparticularmenteinteres- sada, no tiveram outra soluo seno proibir esta formabrutaldeexploraodohomempelohomem. Mas, a nova Europa, a da Revoluo industrial metamorfoseada tal como na mitologia grega e, mais do que nunca, convicta da justeza da teoria mercantilista, segundo a qual os metais preciosos constituem a riqueza essencial dos Estados, as po- tncias, ilhasdeMinos,organizaroumanovafor- ma de explorar o continente, alargando desta vez a sua ocupao e assegurando a sua partilha, entre elas, mais ou menos ordenada, num contexto de neo-escravatura. Serentoinstaladoumsistemacapitalistacolo- nialcaracterizado,invariavelmente: -pelaexploraodasestratgicasminas; - pelo fomento, em prioridade, das culturas comerciais,asdeexportao; -pelaumaindustrializaobastantelimitada; -epelarealizaodefabulososlucros. Essassociedades,particularmentedesiguais,se- rominadas,naturalmente,porcrescentestenses sociaisepolticas,sobretudoapsasduasGrandes Guerras, na sequncia de mais de 60 anos de lutas polticas,sociaisouarmadaspersistentesedinmi- cas que desembocaro na independncia de todos os pases africanos, do Egipto, em 1936, at ao im doapartheid,nafricadoSul,em1994. Trs anos aps o ano das previsveis rupturas, a frica independente, consciente da configurao fragmentada das suas diferentes componentes, cristalizou os seus projectos de coordenao pol- tica, integrao econmica, desenvolvimento so- cial e renascimento cultural numa organizao pa- nafricana, a OUA. OsoprodoventosinrgicodeAddisrevelou-se til,apesardasinevitveisdi iculdadesdetodaor- dem,queenfrentouaOrganizao. Comefeito,elafoioespao,porexcelncia,parao dilogo,aconcertaoeoconsenso.Emsuma,privi- legiou-se,nestequadro,oessencialdosobjectivos. Operodops-independnciafoi,quaseinvaria- velmente,caracterizado,nosdiferentespasesafri- canos, pela instaurao de dinmicas polticas in- ternasunitriasepelaexperimentaodaestatiza- odaeconomia. UMPRESENTEDIFCIL MASSUPORTVEL Um dos passos polticos animadores dados no inciodestesculofoiainstauraodaUnioAfrica- naemsubstituiodaOUA. Acinquentenadepasesafricanostraoucomes- taescolhaaviaparaumpotencialtecidofederalcu- jos instrumentos de facilitao e acelerao so a quinzena de mercados integrados actualmente existentes.Noplanodaorganizaopolticainterna, A bordareiaminhaanalise,numaevolu- o trptica, que realar os grandes factos atestados ao nosso continente, duranteoperodopr-histrico,afase detransioproto-histrica,ocalamitosoepis- dio do tr ico de escravos, as seculares e multi- secularesocupaoeadministraocoloniais,a con iguraogeraldasituaoactualealgumas linhasprospectivas. SSIIMMOO SSOOUUIINNDDOOUULLAA Pintura mural do Egipto Antigo fricaUmpassado gloriosoumfuturopromissor HHIISSTTOORRIIAADDOORR,, CCOONNSSUULLTTOORR DDAA UUNNIIOOAAFFRRIICCAANNAA 5. RENASCIMENTOAFRICANO|5Cultura |14deMaio a3deJunho de2012 quasetodosospasesdocontinenteoptarampor uma democracia multipartidria, original, que tenta salvaguardar as sinergias federativas esta- belecidasapsasindependncias. As mudanas econmicas que foram decididas nos ltimos anos, ou que ocorrem actualmente, visam corrigir as insuficincias constatadas nas performances econmicas, num diagnstico de realismo e numa clara estratgia de compromis- so histrico. Assiste-se, entre outras aces, extenso da economiademercado,visivelmentesocializante, reformulaoconstitutivaoudesnacionalizao de grandes empresas, ao incentivo a investimen- tosestrangeiros,aoapoioaosurgimento declas- sesempresariaisnacionaisdinmicas,e icientese competitivas. UMFUTUROPROMISSOR Oconjuntodemedidasglobaistomadasaugura, paraosdiversosprazosprospectivos ixados,tais como o estabelecimento, em 2035, do Mercado ComumAfricano,boasperspectivasparaoconti- nenteafricano. Com efeito, o mercado africano que apresenta actualmente um total de mais de 950 milhes de consumidores ternoano2015,1200000000 decompradores. Num outro ngulo de leitura deste dado, esta populao conti- nuar a ostentar uma metade de indiv- duoscommenosde15anos,constituindoassima perpetuao de uma fora de trabalho absoluta- mentedecisiva. Deve-se acrescentar a este dado, outros ele- mentos de potencialidade espacial, agrcola, mi- neiraeindustrial. Assim,ocontinentepossui: - 30 milhes de km2, e que constituem 20,3 % dasterras irmesdoplaneta; -efabulosasreservasdosvitaispetrleoecobre, doestratgicournio,dosessenciaisferro,manga- ns,zinco,ouroecobalto,titnio,vandio,croma, bauxita,assimcomodosrentveisdiamantes. Essas possibilidades de riquezas so capazes de corrigir decisivamente os actuais fracos indi- cadores sociais do continente tais como a taxa de mortalidade infantil, a esperana de vida, a educao feminina, a ocupao da populao ac- tiva, uma m distribuio do emprego, a fraca cobertura dos servios de sade, a sub-nutrio, a baixa taxa de escolaridade, um analfabetismo ainda elevado, etc. CONCLUSO A breve anlise que acabamos de apresentar prova que a frica soube, a todos tempos da sua longa evoluo histrica, explorar as suas vanta- gens civilizacionais, enfrentar com coragem as barreiras postas contra ela e ultrapassar os seus passosincertos. Aps mais ou quase meio sculo de indepen- dncia, os Estados da Ifriqiya, os Comissrios, peritoseconsultoresdaUniodoplanaltoetope, sabem que uma das condies sine qua non para umfuturomelhorparaonossocontinenteama- nutenoda estabilidade nos seio dos diferentes tecidosterritoriaisnacionaiseregionais. Emsuma,asalvaodocontinentedoOsagyefo, asuaRenascena,passar,pelaestaestabilidade, quedeve,emprimeirolugar,serobradosprprios africanos, porque como os Bakongos a irmam: Mbakulukubonguakoenlumbunzenza(oenten- dimentonoeumfrutoquesecolhenoquintaldo vizinho). 6. CheikhAntaDiopAestratgia dedesenvolvimentodocontinenteafricano Como elaborar uma verdadeira estratgia de desenvolvi- mentodocontinenteafricano:educao,sade,defesa,ener- gia, investigao, indstria, instituies polticas, desporto, culturaetc.? C heikhAntaDiopdemonstra queparaseobterasrespos- taspertinentesaestainter- rogao fundamental ne- cessrioumconhecimentodahistria omaisobjectivopossvel,recuandono tempotolongequantopossvel. nesta primeira grandetarefa que Cheikh Anta Diop se concentra: a de restituirahistriadocontinenteafri- cano, a partirda pr-histria,atravs de uma investigao cient ica pluri- disciplinar. , por isso, o refundador dahistriadefrica. Almdoconhecimentodopassado realdefricaedahumanidadeemge- ral, Cheikh Anta Diop atribui aos tra- balhosquedesenvolveasquatro ina- lidadesqueseindicamdeseguida. 1. A recuperao da conscincia histrica africana, ou seja, da cons- cinciadeterumahistria.Arecupera- odestaconscinciahistricaimplica queaegiptologiasejadesenvolvidana fricanegraequeacivilizaoegpcio- nbiasejareanalisadaemtodososdo- mniospelosprpriosafricanos. S o enraizamento de uma disci- plinacient icadestanatureza(aegip- tologia) na frica negra permitir compreender um dia a singularidade eariquezadaconscinciaculturalque pretendemos suscitar, bem como a qualidade,aamplitudeeopodercria- tivodamesma. Na medida em que o Egipto a melongnquadacinciaedacultura ocidentais,comosepodededuzirpela leitura deste livro, grande parte das ideias que baptizamos estrangeiras no so muitas vezes mais do que as imagens deturpadas, invertidas, mo- di icadas,aperfeioadasdascriaes dos nossos antepassados: judasmo, cristianismo, islamismo, dialctica, teoriadoser,cinciasexactas,aritm- tica, geometria, mecnica, astrono- mia, medicina, literatura (romance, poesia, drama), arquitectura, artes etc.[...]Talcomoatecnologiaeacin- cia moderna vm da Europa, na Anti- guidade,osaberuniversal luadova- le do Nilo para o resto do mundo e es- pecialmenteemdirecoGrcia,que servia de elo intermedirio. Conse- quentemente,nenhumpensamento, na sua essncia, estrangeiro em fri- ca,terraemquefoicriado.poisnum contexto de total liberdade que os africanos devem usufruir da herana intelectual comum da humanidade e nose deixar guiarunicamentepelas noesdeutilidadeedee icincia. O homem africano que nos com- preendeuaqueleque,apsterlidoas nossasobras,tersentidonasceremsi um homem diferente, com uma cons- cincia histrica, um verdadeiro cria- dor,umPrometeuportadordeumano- va civilizao e perfeitamente cons- cientedoqueaterrainteiradeveaoseu gnioancestralemtodososdomnios da cincia, da cultura e da religio (C. A.Diop,CivilisationetBarbarie). 2. O restabelecimento da conti- nuidadehistrica,ouseja,arestitui- o,noespaoenotempo,daevoluo das sociedades e dos Estados africa- nos,especialmentedesdeapr-hist- riaataosculoXVI,operodomenos conhecido. Cheikh Anta Diop insiste, nosseusescritos,nofactodeainvesti- gaoscio-histricaestarlongedeser concebidacomoumaretiradaoucomo umameradeleitaodopassado. A funo da sociologia africana fazer o balano do passado para aju- dara frica a enfrentarmelhoropre- senteeofuturo.(C.A.Diop,Antriori- t des civilisationsngres Mythe ou vrithistorique?) Arelatividadedasnossasestrutu- ras, assim evidenciadas, poderia aju- dar-nosaidenti icarasbasestericas da evoluo das nossas sociedades porclasses,evoluoquesserirre- versvel se for alicerada no conheci- mentodoporqudascoisas.Noisto umdosaspectosmaisimportantesda revoluo social dos nossos pases? (C.A.Diop,CivilisationouBarbarie) O estudo scio-histricodas civili- zaes africanas permite identi icar osvaloresque izeramasuagrandeza eosfactoresqueprovocaramoseude- clnio, e elaborar estratgias para o desenvolvimentodocontinente. 3.Aconstruodeumacivilizao planetria.CheikhAntaDioppretende contribuir[]paraoprogressoemge- ral da humanidade e para a ecloso de umaeradeacordouniversal[]eTo- dos aspiramos ao triunfo da noo de espcie humana nos espritos e nas conscincias, de forma que a histria particulardestaoudaquelaraaseapa- gue diante da do indivduo. Teremos entodedescrever,apenasemtermos gerais, pois as singularidades aciden- tais deixam de ter interesse, as etapas signi icativas da conquista da civiliza- opelohomem,pelaespciehumana comoumtodo.Aidadedapedralasca- daeaconquistadofogo,oneolticoea descobertadaagricultura,aidadedos metais, a descoberta da escrita etc. etc. deixaro de ser descritos como instantes comoventes das relaes dialcticasentreohomemeanature- za, a srie dos desa ios da Natureza vitoriosamente ultrapassados pelo homem. (C. A. Diop, Antriorit des civilisationsngresMytheouvrit historique?) O clima, para a criao da aparn- cia sica das raas, traou fronteiras tnicas que recaem sobre o sentido, captam a imaginao e determinam os comportamentos instintivos que tantomalprovocaramnahistria.To- dos os povos que desapareceram ao longodahistria,desdeaAntiguidade at aos nossos dias, foram condena- dos, no por uma inferioridade origi- nal qualquer,maspela aparncia si- caepelasdiferenasculturais.[]Por isso, a questo est em reeducar a nossapercepodoserhumano,para queelasedescoledaaparnciaracial esepolarizenumserhumanolivrede 14deMaioa3deJunho de2012| Cultura6|RENASCIMENTOAFRICANO 7. rtulos tnicos. C. A. Diop, L'unit d'originedel'espcehumaine,Col- quio "Racisme, Science et Pseudo- Science", organizadoemAtenaspela UNESCO,em1982). Oacessoaestefuturodesejadoexi- ge, por isso, o rompimento com o ra- cismo.Rompercomamentiracultu- ralqueconsistiuemnegarahumani- dade dos Negros, emnegara histria defrica.Estamentiraculturalain- da hoje reside na negao de que o Egipto faranico pertence ao mundo negro-africano, assim comona mini- mizao do papel civilizador deste EgiptonaAntiguidade.Exigetambm queseultrapassemosobstculosque impedemodesenvolvimentodocon- tinenteafricano,ameaamaseguran- aehipotecamasobrevivncia.pre- cisogarantirqueocontinenteafrica- nonopagapeloprogressohumano, friamente esmagado pela roda da histria, e, por isso, no podemos escaparsnecessidadesdomomento histrico a que pertencemos. (C. A. Diop,Antrioritdescivilisationsn- gres Mythe ou vrit historique ?) Hoje, este momento histrico o do renascimentoafricano. 4. O renascimento africano. CheikhAntaDioptinha25anosquan- do, enquanto estudante em Paris, em 1984, de iniu o contedo e as condi- es do renascimento africano num artigointituladoQuandopoderemos falardeumrenascimentoafricano?. Nestaperspectiva,aevoluopara um estado federal torna-se numa ur- gnciacontinental,poisumaconjun- tura geopoltica desta natureza seria capazdegarantir,estruturareoptimi- zarodesenvolvimentodocontinente africano: necessrio fazer pender de initivamenteafricanegrapara osentidododestinofederal[...]s um Estado federal continental ousubcontinentalofereceum espao poltico e econmi- co, em segurana, su i- cientementeestabiliza- do para que se possa implementarumafr- mularacionaldedesen- volvimento econmico dosnossospasesdepotencialidades to diversas. (C. A. Diop, prefcio do livrodeMahtarDiouf,Intgrationco- nomique, perspectives africaines, 1984). CheikhAntaDiopterminaasuaobra Lesfondementsconomiquesetcultu- rels d'un tat fdral d'Afrique noire com catorze propostas de aces con- cretas que vo desde a educao in- dustrializao.Destacam-seasduasne- cessidadesvitaisdeseguidaindicadas. - A necessidade de de inir uma po- ltica de investigao cient ica e i- ciente: A frica deve optar por uma polticadedesenvolvimentocient i- co e intelectual e pagar o preo que fornecessrio;aexcessivavulnerabi- lidadedestecontinenteduranteosl- timoscincosculosaconsequncia de uma de icincia tcnica. O desen- volvimento intelectual o meio mais segurodeacabarcomachantagem,a intimidao e a humilhao. A frica podetornar-senum centrodeinicia- tivasededecisescient icas,emvez decontinuaraacreditarqueestcon- denada a ser o apndice, o campo de expanso econmica dos pases de- senvolvidos. - A necessidade de de inir uma doutrinaenergticaafricanaedeuma verdadeira industrializao: Trata- se de propor um esquema de desen- volvimento energtico continental quetenhaemcontasimultaneamente asfontesdeenergiarenovveiseno- renovveis,aecologiaeosprogressos tcnicos das prximas dcadas. A fricanegradeverencontraruma frmula de pluralismo energtico que associe harmoniosamente as seguintes fontes de energia: 1. energia hidroelctrica (barra- gens); 2. energia solar; 3. energia geotrmica; 4. energia nuclear; 5. os hidrocarbonetos (petrleo); 6. energia termonuclear. Pode-se acrescentaraestasfontesovector energticohidrognio. RENASCIMENTOAFRICANO|7Cultura | 14deMaio a3deJunho de2012 Estatua do Renascimento Africano no Senegal 8. A ps a II Guerra Mundial, com as lutas pela indepen- dncia em frica, surgiu, nas dcadas de 50 e 60, o sonhodeliberdadeedeprosperidade. PatriceLumumba,olderdaindepen- dncia congolesa, a irmava, naquele perodo, que nunca iriam esquecer que a independncia tinha sido con- quistadacomlgrimas,fogoesangue eque,apsoitentaanosdecolonialis- mo, iriam demonstrar o que o ho- mem negro capaz de fazer quando trabalha pela liberdade[MUNARI: 31]. Era ideia comum que as naes recm-formadas em frica estariam determinadasaosucesso.fricaseria poltica,culturaleeconomicamenteli- vre a partir de processos de recons- truo a serem implementados em novosmoldes. ParaLeopoldSedarSenghor,doSe- negal,aoladodareconstruoecon- mica tornar-se-ia necessrio desco- brirnovosvaloresculturais,prprios dacivilizaonegro-africana:emoo e simpatia, ritmo e forma, imagens e mitos, esprito comunitrio e demo- crtico[Ibidem]. Contudo, o sonho da Grande frica duroupouco.Umfracassotambmas- sociadosdisputasinternasentrefac- es rivais, s guerras pelo controlo do Estado, ou ainda s experincias polticas frustradas. Os chamados pais da ptria, entre outros homens da envergadura de Tour, Kenyatta e Nyerere, (...) viram mitos de um pas- sadoremotoqueserviuparalanarno cenrio internacional uma turma de lderes tristemente famosos pela in- competncia,corrupo e falta de es- crpulos[Idem]. Mas,tambmcerto,queoslderes dosnovospasesafricanospensavam que, inalmente,poderiamentrarnum processo de trocas justas e equilibra- das com os pases do Norte, pautadas pelo reconhecimento integral das suassoberanias,respeitomtuoeno ingerncia nos seus assuntos inter- nos. Um intercmbio onde os pases doSulexportassemassuasmatrias- primas, de acordo com as necessida- des industriais dos pases do Norte, recebendo em troca bens industriali- zados, essenciais para o arranque do crescimentoeconmicodequeneces- sitavam, para o desenvolvimento dos seusrespectivospovos. Porm,talnoaconteceu,porqueas matrias-primas exportadas foram valendo cada vez menos nas relaes procura/oferta e custo/bene cio. Eramnecessriascadavezmaismat- rias-primasparaumnmerocadavez menor de produtos manufacturados dos pases do Norte. Tal facto provo- couumclarodesequilbrionabalana comercial,oquelevouoseconomistas dos pases em desenvolvimento a re- conheceremadeterioraocrescente nostermosdetroca. O relatrio Cuidar o Futuro, con ir- ma esta a irmao ao referir que, de facto, houve investimentos ruinosos assimcomoprticascorruptas.Contu- do, tambm explicita que foi assusta- dorodeclnionospreosdasmatrias- primas, o que resultou numa forte de- terioraodostermosdocomrcioin- ternacional e afectou gravemente os pasesemdesenvolvimento:em1993, eram 32 % mais baixos do que em 1980,emrelaoaopreodebensma- nufacturados eram 55% mais baixos doqueem1960[WORLDBANK,citin, COMISO INDEPENDENTE POPULA- OEQUALIDADEDEVIDA:52-53]. Oanode1980representouaacele- raodeumaviolentacriseeconmi- caparaospasesnoindustrializados, masosprimeirossinaisdessacrise,de acordocomoBancoMundial,comea- ram a sentir-se um pouco mais cedo emfrica;i.e.,nosltimosanosdad- cada de 70. Neste continente, a agri- cultura,querepresentaamaiorparte daproduo(cercadeumterodoto- tal), foi primeiro atingida pela seca, que assolou inmeros locais entre 1968 e 1973. Posteriormente, ainda noinciodosanos80,seguiu-seasubi- da dos preos de energia, que coinci- diucomodecrscimodospreosagr- colasecomumadesastrosagestoda economia, em particular no sector agrcola [EMMERI : 111]. Paralela- mente,ataxadeinvestimentonafri- ca subsahariana desceu de tal forma que, em1983, osmaisde18%deren- dimentosdosanos70,passarampara menosde15%.Em1990, fricatinha jorendimentomaisbaixodetodasas regies em vias de desenvolvimento. A esta estagnao econmica asso- ciou-seumrpidocrescimentodemo- gr ico que, no seu todo, levou a uma progressiva deteriorao dos nveis devidadaspopulaes[BANCOMUN- DIAL(1990):20]. O rendimento per capita no conti- nenteafricanodesceucerca de4%ao ano, entre 1980 e 1984. Em 1990, j erainferioraorendimento percapita de1970.Advidapblicaexternacon- trada aumentou onze vezes entre 1970 e 1984 e os pagamentos do ser- viodadvidapraticamentequadripli- caram; i.e. passaram de 1,2% para 4,4% do PNB. As despesas com a ad- ministraocentralaumentarameas receitas foram-se mantendo mais ou menosestacionrias.Osd icesora- mentais passaram a atingir cerca de 10%doPNB[Idem]. Para cobrirem os seus d ices, os pasesemdesenvolvimentoviram-se foradosarecorrersistematicamente aemprstimosdospasesindustriali- zadosedeinstituies inanceirasin- ternacionais,comooBancoMundiale o FMI. Desta forma endividaram-se ainda mais e tornaram-se ainda mais pobres.Ofosso,quejosseparavados pasesindustrializados,foiprogressi- vamentealargandoerestou-lhesape- nas manifestar o desejo de uma nova ordem econmica mundial [SANTOS BENEDITO:19-20]. Na verdade, o desejo de uma nova ordemeconmicainternacionalvinha j sendo reclamado nos anos 70 e 80, ainda antes da implementao dos ProgramasdeAjustamentoEstrutural das instituies de Bretton Woods. Actualmente, no h nenhum pas africano ao sul do Sahara que, para tentarsobreviverconjunturaecon- mica imposta pela globalizao, no seja dependente de Programas de Ajustamento Estrutural. Mas, o que, naprtica,severi icaoinvestimento para o desenvolvimento dos pases africanosbene iciar,apenasecadavez mais, os pases j desenvolvidos [CO- MISSO INDEPENDENTE POPULA- OEQUALIDADEDEVIDA:53]. O Relatrio sobre o Desenvolvi- mentoMundial 2000/2001doBanco Mundial apresenta tambm um con- junto de dados que justi icam esta a irmao. um facto que, desde 1960, a esperana mdia de vida nos pases em desenvolvimento aumen- tou,emmdia,20anos;Ataxademor- talidade infantil, desde 1960, dimi- nuiu em mais de metade; O ingresso escolar entre 1990 e 1998 aumentou 13%; o nmero de pessoas em situa- o de extrema pobreza baixou para 78milhes.Mas,emcontrapartida,j neste incio do sculo XXI, veri ica-se que a pobreza continua a ser um pro- blemaglobaldeenormespropores: - Dos 6 mil milhes de habitantes hojeexistentes, 2,8milmilhes(qua- semetade)vivemcommenosde2d- lares/dia e 1,2 mil milhes (um quin- to)commenosde1dlar/dia; - Nos pases mais ricos, menos de uma em 100 crianas no completa os cinco anos. Porm, nos pases em desenvolvimento, um quinto das crianas morre antes de atingir essa mesma idade; -Enquantonospasesindustrializa- dosmenosde5%detodasascrianas, commenosdecincoanossodesnutri- das,nospasespobresaproporoche- gaa50%(i.e.,metadedascrianas); -Acomparaoderendimentosin- dividuais levada a cabo pelo PNUD concluiu que 1% das pessoas mais ri- casdomundo,recebeomesmorendi- mentoque37%dasmaispobres; - O rendimento dos 5% mais ricos domundo114vezessuperioraodos 5%maispobres; -Os10%doshabitantesmaisricos Daautonomizaopoltica dependnciaeconmica FFIILLIIPPEE ZZAAUU 8|RENASCIMENTOAFRICANO 14deMaioa3deJunho de2012 | Cultura 9. Cultura | 14deMaioa3deJunho de2012 RENASCIMENTOAFRICANO |9 fricaeoevangelhodeumnovocaminho comNokNogueiraqueabro o tempo africano tempo de cano, tempo de hino vinte e cinco de Maio pela reinvenodocaminho,eisamelodia frica alma muxima como rein- ventarafestadakixima?Reinventan- doopensamentodanegritude?Dopa- nafricanismo? Provavelmente, pois assim como Nok, subscreveremos a memriadeumafricaenvoltaemte- lasdeamor. Na verdade, Aim Csaire pensava a negritude numa dimenso tridi- mensional:ohomemnegrotemdeas- sumir-se negro com orgulho, isto , identidade, a ligao permanente comaMe-frica,isto,a idelidade,e o sentimento de unio e identidade comumentretodososnegros,isto,a solidariedade.assimqueinspirados por esse ideal, cantamos em Mtria oh minha frica/anelo teus doces beijos/ no dlcido amplexo da unida- defraternal... Umprotestointelectual,umatoma- da de conscincia de que ns, africa- nos,contribuimosdeverasparaopro- gressodaHumanidadedevepersistir para desmisti icar os mitos e precon- ceitosqueocultaramaomundoaver- dadehistricasobrefrica.Juntemo- nosespiritualmenteaossbiosCheikh Anta Diop, Joseph Ki-Zerbo, Tophile Obenga e outros para escrever ale- griasnorostonegro,pensarSenghor Neto Lumumba Cabral Mandela/ele- fantesdaliberdade eanularaanore- xiaquegraanaplancie...ondeabru- tres almejam o SOL. negro de fri- ca/negrosdetodoomundoeisocha- mado frica, para avanar o tempo e arregaarnocalendrioaessncia/a eloquncia vencendo assim com o grito do hungo e subscrevendo sem- preairmandade. O evangelho africano deve evi- denciar a educao pois no pensa- mento de Du Bois, ela instrumento de luta e de ascenso do homem ne- gro. A cultura, a histria, a literatura, as tradies africanas devem constar do projecto poltico-pedaggico das sociedades africanas. Deve-se ainda reivindicar permanentemente os di- reitosinalienveisvida,liberdade, felicidade,assimcomoagarantiados direitos de cidadania mantendo o so- nhodeLutherKing. Estou com o professor Jorge Mace- do, ilsofo, etnomusicologo e escri- tor, ao escrever que a frente cultural africana no deve se deixar embru- lhar pelos traidores africanos colo- candofricacontrafrica,osseusde- tratores prolongando neocolonialis- mos de toda a espcie em epaos d- beis do perodo africano ps-inde- pendncia, feridos de guerras civs, carncias, contradies, m governa- o,fomesletais...eoutrosmales.De- vemosainda olharpara frica sobum novo olhar, com os negros na dispo- ra, de modo a desmisti icar preconceitos e a domina- ocultural eurocntri- ca. Como angolanos, jhoradevislum- brarmosa dimen- so africana da nossa cultura e no aceitarmos rtulos colonizadores de povo sem cultura e a civiilizar. Acertaram no recanto dos nossos valoresoqueafectouanossacaracte- rsticasolidadriedade,hospitalidade. misterpoisoresgatedosnossosva- loresangolanoslogo,africanosbantu e o dever de pensar e fazer por ns mesmos. J hora de emancipar as nossasmentesdaescravidocultural, pensandoBobMarley. E com o Nok fecho chamando-te bantucordoumbilicalretratodepu- radevootusbelezatranscenden- tal das lores com que enterrmos/ nossos heris// o Maio anuncia o re- gresso da bonana na noodaspala- vras...assimdeversernessetempo africanoodesbravarnocaminhoum novoevangelho,umevangelhodePAZ. VIVAAFRICA. MulembawaxaNgola, 08deMaiode2012.01h49 NNGGUUIIMMBBAA NNGGOOLLAA dos EUA tm um rendimento igual ao dos 43% mais pobres do Mundo; i.e., 25 milhes de americanos tm um rendimento igual a 2 mil milhes de pessoas.[FERREIRA:30]. *ExtractodolivroEducaoemAngola;No- vos Trilhos para o Desenvolvimento de Filipe Zau,editadopelaMoviLivros,em2009. **PhDemCinciasdaEducaoeMestreem RelaesInterculturais BIBLIOGRAFIA - MUNARI, Joo (s/d), A Igreja no Brasil aberta ao mundo; Especial Daniel Comboni, RevistaSemFronteiras,SoPaulo; -COMISSOINDEPENDENTEPOPULAO EQUALIDADEDEVIDA(1998),CuidaroFutu- ro,TrinovaEditora,Lisboa; - EMMERIJ, Louis (1993), Norte-Sul: A gra- nadadescavilhada,BertrandEditora,Lisboa; - BANCO MUNDIAL (1990), A Educao na fricaSubsahariana:medidasdepolticapara ajustamento, revitalizao e expanso, Was- hington,D.C.; -SANTOSBENEDITO,N.D.(1999),Agloba- lizaoeosDesa iosEducao,Coimbra(co- municaonopublicada); -FERREIRA,EduardoPaz,(2004),Valorese Interesses.DesenvolvimentoEconmicoePo- lticaComunitriadeCooperao,LivrariaAl- medina,Coimbra SUPORTESDAINTERNET - Pblico pt, Dossiers, In, http://dos- siers.publico.pt/euro/html/glossario.html, em28/12/03; -BANCOMUNDIAL(2000/2001),Relatrio sobre o desenvolvimento mundial; cit. in, http://www.ugt.pt/comunicado_17_10_2002.h tm,em06/02/04;17deOutubroDiaInterna- cionalparaaErradicaodaPobreza; - http://br.invertia.com/canales/noticia.asp?Id Canal=238&iddoc=809869,em09/09/03; -SILVA;JosInciodaLula(24deJaneiro de2003),Interveno,FrumMundialSocial, Porto Alegre, In, http://www.radiohc.cu/es- panol/forunsindicalmundial/portugues/fo- ro25b.htm,09/09/2003 10. 14deMaioa3deJunho de2012 | Cultura BBoobb MMaarrlleeyy aa pprriimmeeiirraa ggrraannddee eessttrreellaa ddoo TTeerrcceeiirroo MMuunnddoo T alvez poucos saibam, mas Robert Nesta Marley, ou simplesmente Bob Marley, nasceu a 6 de Fevereiro de 1945,naParquiadeSaintAnn,Jamai- ca.O11deMaiotemsidoodiaemque maisgenteseidenti icacomBobMar- ley.Talcomooex-beattleJohnLennon quereverenciadonodia8deDezem- bro,odiaemquefoiassassinadoeno a9deOutubro,dianoseunascimento, assimcomonodia16deAgostoosfans deElvisPresleyprestamtributoaoRei doRockenoa8deJaneiro.Seiquees- tapolmicaentreacelebraodadata do nascimento e da morte algo que fazcorrermuitatinta,noentanto,para nsRASTAFARIANOS,adatadonasci- mentoamaisimportanteporquees- te o dia em que inicimos a nossa a obra.EisarazoporqueosRastasrele- vam mais o 6 de Fevereiro, em detri- mentodo11deMaio. Efemridesaparte,avoumasdicas sobreestemestio,BobMarley, ilhode NorvalMarley,o icialdamarinhabrit- nicacom45anosdeidadeedeCedella Booker,umaadolescentenegraJamai- cana, que vivia em Rodhen Hall. Bob Marley teve vrios ilhos, dos quais destacamosoprimognitoZiggyMar- ley,paraalmdeCedellaMarley,Steven Marley,todos ilhosdeRitaMarley,Da- myan Marley ilho, Cindy Breakspear MissMundoeJulianMarley, ilhodeLu- cy.Pounder, Ky-mani Marley, de Anita Belnavis, e Rohan Marley de Janet na Inglaterra,depoisadotadopelamede Bob. Como podem notar Marley teve vriasmulheres. Bob falava dos problemas dos po- bres, oprimidos, frica, amor e ques- tesespirituais.Foioprincipaldivul- gadordosideaisdareligioRastafary. Rastaman Marley comeou tocando ska, pas- sou pelo Rock steady, at chegar ao reggae.Eletalvezmaisconhecidope- loseutrabalhocomogrupodereggae The Wailers, que inclua outros dois grandes nomes, Bunny Wailer e Peter Tosh. Bunny e Tosh posteriormente deixariamogrupoparainiciaremuma bem-sucedidacarreiraasolo. No incio, foi produzida por Coxso- ne Dodd no Studio One. O trabalho de Bob Marley foi responsvel pela acei- tao cultural da msica reggae fora da Jamaica. Ele assinou com o selo Is- land Records, de Chris Blackwell, em 1971, na poca uma gravadora bem in luente e inovadora. Foi ali, com No Woman, No Cry em 1975, que ele ga- nhoufamainternacional. Bob Marley era adepto da religio Rastafri. Ele foi in luenciado pela es- posaRita,epassouareceberosensina- mentos de Mortimer Planno (um dos primeirosanciosdomovimentoRAS- TA) . Ele servia de facto como um mis- sionrio rasta (suas aces e msicas demonstram que isso talvez fosse in- tencional),fazendocomqueareligio fosse conhecida internacionalmente. Em suas cane,s Marley pregava ir- mandadeepazparatodaahumanida- de. Antes de morre,r ele foi inclusive baptizado na Igreja Ortodoxa da Eti- piacomonomeBerhaneSelassi. Marley tambm tinha conexes comacorrenterastafri"DozeTribos de Israel", e expressou isso com uma frase bblica sobre Jos, ilho de Jac, nacapadolbumRastamanVibration. EamsicadeMARLEYtambmba- teuemAngola,quemnoselembrado No Womam No Cry, One Love, ou Could You Be Loved, msicas que no apenas os amantes do reggae tm o prazerdeouvir. Da grande discogra ia de Bob Mar- ley temos as seguintes obras: Judge Not (1961) (compacto), Simmer Down (1964) (compacto) , Keep On Skanking(1967),SoulRebels(1970), Satisfy My Soul (1972), Catch a Fire (1973),RocktotheRock(1973),Afri- can Herbsman (1973), Live Jam' (1973) ,Burnin' (1973), Natty Dread (1974), Live! (1975) - gravado no Ly- ceumTheatre,Londres,RastamanVi- bration (1976), Exodus (1977), Kaya (1978),OneLoveConcert(1978),Ba- bylonbyBus(1978),Survival(1979), Uprising (1980), Live At Rockpalast (1980),ChancesAre(1981),Confron- tation(1983),Legend(1984),TheFi- nal Concert (1985), Talking Blues (1991),NaturalMystic(1995),Chant Down Babylon (1999), One Love-The AssimfalouMarley: Oshomenspensamquepossuemumamente, masamentequeospossui. RRAASS KKIILLUUNNJJII 10|RENASCIMENTOAFRICANO 11. RENASCIMENTOAFRICANO|11Cultura | 14deMaioa3deJunho de2012 VeryBestofBobMarley&theWailers (2002).Brevementesairumagrava- odeBobcomCarlosSantana. Destes lbuns, o meu preferido o Rastaman Vibration, mas o pessoal aqui curte muito o Legend que uma colectnea das melhores msicas de Marley, segundo a editora, outro l- bumbemapreciadoaquioSurvival. Os seus ilhos tm feitos regrava- es das suas msicas. Muitos msi- cos tambmtrabalhama suaobra.Na lnguaportuguesa,GilbertoGil,coma versodeMulhernoChoresMaisdeu opontapdesadaeposteriormenteo mesmo fez um lbum apenas com te- mas de Marley aclamado Kaya nan Kandaya. Um ms antes de sua morte, Bob Marley foi premiado com a Ordem ao MritoJamaicana. Omito A msica e a lenda de Bob Marley ganharammaisemaisforadesdesua morte, e continuam a render grandes lucros para seus herdeiros. Tambm deu a ele um status mtico, similar ao deElvisPresleyeJohnLennon.Marley enormemente popular e bastante conhecido ao redor do mundo, parti- cularmentenafricaenaAmricaLa- tina.consideradopormuitoscomoo primeiropopstardoTerceiroMundo. Marley foi agraciado com vrios prmios.Destacoosseguintes: 1976 - Banda do Ano (Rolling Stone) Junho de 1978 - Premiado com a "Medalha de Paz do Terceiro Mundo"pelasNaesUnidas Fevereirode1981-Premiado com a mais alta condecorao jamai- cana,a"OrdemaoMrito" 1999 - lbum do Sculo (Re- vistaTime)porExodus Fevereiro de 2001 - Uma es- trela na Calada da Fama de Holly- wood Fevereirode2001-Premiado com um Grammy pelo "Conjunto da Obra" 2004:RollingStoneMagazine classi icou-o nmero 11 em sua lista dos"100MaioresArtistasdeTodosos Tempos"[4] "One Love" chamada cano domilniopelaBBC Votado como um dos maiores letristas de todos os tempos por uma sondagemdaBBC OlegadodeMarleycontinuamuito forte.AfamliaMarley,em2005,reali- zouaprimeiraediodofestivalfri- ca Unite na Etipia, que no apenas msicamasincluioutrasactividades, comodebatessobretemasrelaciona- dos com a juventude e outros proble- masqueafricaeosafricanosenfren- tam. No anos seguintes os mesmos festivaisrealizaram-senoGana,frica do Sul e Jamaica. frica Unite, porque um dos grande sonhos deste afro-ja- maicanoeraverafricaunida. Os ilhos de Marley esto tambm bem lanados. Os premiados das trs ltimas edies dos Grammys, na ca- tegoriade Reggae,tinhamo sobreno- me Marley. Damiam Marley, Ziggy Marley e Steven Marley. Ziggy e Da- miamjhaviamconquistadorotrofu emediespassadas. A obra de Marley continua actual, in luenciandocantoresdevriosesti- los e conquistando sempre novos ad- miradores.AmsicadeBobnoape- nas uma msica Rasta uma msica paraoMundo,semserdomundo. 12. 12|LETRAS 14deMaioa3deJunho de2012| Cultura AngolacriaprimeiroCentroNacionaldeLeitura criarnohomem criarnamassa () Criarcriar criaramorcomosolhossecos. AgostinhoNeto A ministra da Comunicao Social, Carolina Cerqueira. inaugurou,nopassadodia8 de Maio, o primeiro Centro NacionaldeLeitura,projectadoecons- trudopelasEdiesNovembronacida- dedeNdalatando,tendo-oclassi icado comoumpreciosobene ciodapaz. Os Centros Nacionais de Leitura so instrumentos fundamentais para promover a Cultura Angolana e, ao mesmo tempo, mobilizar a juventude para o conhecimento. Neste caso, do- tmos esta estrutura de novas tecno- logias que vo permitir aos estudan- tes do Kwanza-Norte aprender mais, investigar, estarem ligados ao mundo atravs da Internet e todas as suas ferramentas, explicou o PCA das Edies Novembro, Jos Ribeiro, no acto inaugural. Segundo Jos Ribeiro, o primeiro CentroNacionaldeLeituranasceuem Ndalatando por razes histricas, j quefoinaquelacidadeque,naprimei- ra dcada do sculo XX, nasceu um movimentonacionalistalideradopor intelectuaisdaestirpedeAssisJnior, quemaistardeparticipounosaconte- cimentos de Ndalatando e Lucala, aliandoaculturasededejustiaeao sonhodaIndependnciaNacional. A Empresa Edies Novembro, ao projectareconstruiresteedi cio,quis colaborarcomospoderespblicosno projecto exaltante de levar a Cultura Nacional a todos os cidados, acres- centouRibeiro. ObispodadiocesedoKwanza-Nor- te,AlmeidaKanda,quebenzeuoedi - cio, ladeado pelo vice-governador da provncia, Manuel Pereira da Silva, e pelovice-ministrodasTecnologiasde Informao, Pedro Teta, considerou queocentro,emprimeirolugarajuda os nossos jovens a cultivar a sua vida acadmica,intelectual,porissoespe- ra que possam desfrutar deste meio para o enriquecimento da sua vida e esperaqueestacasaestejaaoservio da verdade e da justia, infundindo uma mensagem reconciliadora que possaunirasnossaspopulaes. Joo Cristvo, aluno da 12 classe na escola Complexo Comandante Be- nedito,foiumdosprimeirosjovensde Ndalatandoaensaiarumcomputador no centro: Para ele, a vantagem que euvejonoaproveitamentodestasno- vas tecnologias de informao aju- dar os jovens na sua vida acadmica, com as nossas pesquisas, investiga- es, temos aqui muitos jornais, te- mosaquiumasaladeinformticabem equipadaquenospermitecontactaro restodopaseomundo. C onheci Jean Hbrard no Ar- quivoHistricoNacional.Di- rector do CRBC - Centro de Pesquisas Breto e Cltico daEscoladeAltosEstudosemCincias Econmicas da Frana, este homem cordial,depeletisnadapelosol,come- oupordizer:Aminhaespecialidade ahistriadeCabinda.Souprincipal- menteumespecialistadoBrasil.Quan- dovocfaladahistriadoBrasil,voc temdefalarinfalivelmentesobreahis- triadefrica,ehdoislugaresmuito importantes,ogolfodoBenin,quetem umarelaomuitoprofundacomSal- vadordaBahia,eaqui,Angola,quetem uma relao muito importante com o Rio de Janeiro. Aqui vamos pesquisar osfactosdopassado,principalmentea partida dosescravos.O que acontecia aqui, no momento da captura, da ins- crio,darelaocomasmercadorias detroca,etc. Comooleitorjseapercebeu,estive a conversar com um pesquisador das rotasdaescravatura,que,alis,temj um tulo publicado nos Estados Uni- dos, que se chama Freedom Papers (DocumentosdaLiberdade).umli- vro sobre a histria de Rosalie, da na- o Poulard, uma escrava capturada no Senegal, deslocada para Santo Do- mingo,ilhafrancesa.Elachegouaesta parte,algunsanosantesdarevoluo haitiana.Foitestemunhadirectadare- voluo haitiana. Mais tarde, foi para Cuba e a conseguiu criar uma famlia totalmentenova,quecontinuaatho- je, tem seis geraes, ela era a grande matriarca. Famlia essa toda ela des- cendente de escravos. Antes de partir deFrana,encontreiumadescendente dessafamlianoSuldaFrana.incr- vel! O nome dessa famlia Tinchant. Como um nome pouco usado, pouco comum,torna-semuitofcilpesquisar oseupassado,asuarvoregenealgi- ca,medisseHbrard,comaquelapai- xohistricaqueoenvolve. O nosso interlocutor prossegue: AquinoArquivo,omaterialfantsti- co, a minha pesquisa fundamental agora procurar entender melhor a questo do nome do escravo. Porque, aprimeiracoisaqueacontece,quando voccapturado,perderoseunome. Voc imediatamente baptizado e temdeengolironovonomeeumano- va identidade, que uma identidade crist.Eumacoisaqueconstateiclara- mente que um escravo tem s um primeiro nome. Jamais um nome de famlia.Afamlianotemvalor,voc Joo, ilho de Joana, ou Maria, ilha de Ana, mas voc no nunca Joo Silva, vocapenasJoo. Uma outra questo que muito o in- teressa,desaberoqueacontececom osescravosalforriados.Comoelesre- construiamumaidentidadenova,du- ranteaescravido,depoisdaescravi- do nas Amricas e tambm aqui, no continente africano. Porque aqui tambm houve muitos escravos que foramalforriadosetiveramderecons- truirumavidanova.Aquestocentral da minha pesquisa a questo da identidade. Ser capturado, com um novoestatuto,umanovacondio,es- tou muito interessado em conhecer a situao da escravido do ponto de vistadomercado,concluiuHbrard. Jean Hebrard realizou ainda uma palestraemBenguela,comoapoiodo historiadorSimoSouindoula,sobreo temadarotadaescravatura. JeanHebrardhistoriadorfrancs Umescravotemsumprimeironome JJOOSS LLUUSS MMEENNDDOONNAA Joo Cristovo confiante no futuro 13. LETRAS|13Cultura |14deMaioa3deJunho de2012 Detantasfalas&algumaescrita N umacurta,masmuitobem- sucedida, estadia na Covi- lh onde reencontrmos oJosCarlosVenncio,que hmaisdeduasdcadasaliseestabe- leceuleccionandoedivulgandolitera- turasafricanasnaUniversidadedaBei- ra-Interior,tivemosogratoprazerde, uma vez mais, conviver com o mestre Luandino.Falmosdetudomais,algu- ma coisa dentre tantas coisas do hoje da vida poltica, cultural (principal- menteliterria,claro!),danossaterra, nossaamadasemprepresente. Inevitavalmente, falmos da nossa Histria e dos movimentos literrios geracionaisdesdeosidosdadcadade quarenta do passado sculo. Falmos dosmovimentoseditoriaisemAngola e das actuais editoras do burgo. Fal- mosdosautoresnacionaiseestrangei- ros, tal como Toms Vieira da Cruz e seu ilhoTomsJorge,cujaobrapotica foirecentementerecolhidaepublicada exemplarmente pela Kilombelombe Editora doLapin. Falmos de Geraldo Bessa Victor e dealgunsdosseuspecados.Dofolclore angolano:scarRibasdaCasaMuseue do Missosso. De Manuel dos Santos LimadeOBuraco.DeA.Neto,Viriato, MrioPinto,deJacintopoetadoKia- posse, e do Mrio Antnio dos 100 Poemas.Poetadere inadapenaeapu- radasensibilidade.Oprprioensasta doRelerfrica.Falmosdocarctere dapersonalidadeliterriadecadaum deles, bem como do papel por eles de- sempenhadonomovimentodeliberta- o nacional. Falmos de Rui Nogar, Craveirinha, Nomia de Sousa, da tia Alda do Esprito Santo e de Amlcar e VascoCabral,todosjfalecidos. Falmos, como no podia deixar de ser, da nossa gerao de 80 e do nosso contributoparaaconsolidaoeode- senvolvimentodocorpusedaossatura damodernaliteraturaangolana.Fal- mos do Ruy Duarte, do David Mestre, do Arlindo Barbeitos e naturalmente dain lunciadestesnassubsequentes propostasdetextoestticoeliterarie- dadeconteudstica.Falmosdosuple- mento Vida & Cultura, do Jornal de Angola e do general do jornalismo cultural dos anos 80 em Angola, refe- rindo-nos ao Amrico Gonalves ou Ocirema,comotambmsubscrevia. FalmosdoLusKandjimboenquan- todedicadoensastaafricano,dassuas polmicas e contradies espirituais. FalmosdaPaulaTavares,quechegou mesmo a ser apelidada e taxada (por algumasfemeninasmentalidadespuri- tanasdeento...),depoetapornogr i- caemrazodoseuprofundoeintenso erotismopotico.DoZLusMendon- a, que desprecisou de ser brigadista da literatura para se a irmar no nosso contexto geracional como um dos maiores seno mesmo o maior, com a sua Chuva Novembrina, seguida da Gria de Cacimbo e de tantos outros ttuloscujadiversidadetemticaeir- nica podemos agora certi icar com a suamaisrecenterecolhapoticaedita- da em Portugal pela NSSOMOS, uma editora de poesia com propsitos es- sencialmente de divulgao cultural alm-fronteiras. Re iro-me, em suposta primeira mo, ao Africalema. Livro com 102 poemasescolhidosnaquindautilit- riade9doscercade20 publicadospe- loautor,sobosdesgniosdaexistncia popular generalizada, em funo da incompleta glria de ser HOMEM e ci- dado do mundo, que se alimenta s e somentedofrutodaspalavrassempre rentes metfora dos corpos desnu- dos. No meio de tantas falas faladas, no carro, no departamento de sociologia da Universidade da Beira-Interior, na bibliotecadaCmaraMunicipaldaCo- vilh, e at mesmo nos restaurantes corredores e elevadores do hotel cujo nomenoaquichamado,algoquenos chamou devidamente a ateno e to- couprofundamenteocoraofoiofac- todequeopblicoleitoreamantedali- teratura em Portugal j entendeu que Angola, e os demais pases africanos colonizados por Portugal, no tm s umametadedemeiadziadeescrito- resquelhessoinsistentementeapre- sentados em razo do circuito do co- mrcioeditorial. Ficouclaraapreto-e-brancoeaco- res! , a necessidade e e avidez de co- nhecerem tambm os outros. Os no euro-descendentes,comodiriaoRicar- do Riso. Os outros ainda no editados em Portugal. Os outros que s editam localmente.Osoutros,osoutros,osou- tros....pois,osleitoresestafados...mui- tocansadosmesmocomosmesmos,os mesmos,ecomosmesmos. ...E falmos que isso acontece tam- bmporculpadadebilidadedaspolti- cas culturais no mundo da cultural- menteinexistenteComunidadedos PasesdoscidadosfalantesdaLngua quesupostamenteCamesimortali- zou. Por isso e por exemplo, os livros editadosentrensnocirculamemla- do nenhum nem mesmo no interior dos nossos pases africanos. Assim sendo,julgamosestarmaisquenaho- ra,jcomtamanhoatraso,dequemde direito pensar e repensar sobre esta suave polmica em questo. Os bens culturais devem circular, mas no de qualquermaneira. Na Covilh e em boa companhia, passamosmomentosregradosemuito bem regados. Falmos, falmos, fal- mos mas, em abono da verdade e para vossogoverno,interessa-medizer-vos, inalmente, que ns ouvimos mais do que falmos, pois assim reza a regra primeira segundo Ruy Duarte de Car- valhonoseulegado:HUMILDADE! Odivelas,Maiode2012 JJ..AA..SS..LLOOPPIITTOO FFEEIIJJOO KK.. NNOOTTAASS && NNTTUULLAASS Escritores angolanos na Covilh A audincia 14. 14|LETRAS 14deMaioa3deJunho de2012 | Cultura P ara compreender os funda- mentos epistemolgicos dos Estudos Africanos nos quais se inscrevem os Estu- dos Literrios Africanos, importa in- terrogar-nos sobre o momento a par- tirdoqualseconstituemcomocampo disciplinar dando lugar ao processo deproduodoconhecimentosobreo continenteafricano. Numa abordagem histrica e comparadadosEstudosAfricanos,en- quantoinvestigaoespecializadaso- breassociedadeseculturasafricanas, a que tambm se designa por africa- nismo, observa-se que eles so uma emanao das polticas coloniais da Alemanha, Gr-Bretanha, Frana e Blgica, potncias que disputavam a ocupaoefectivadefrica,procuran- doconferirsuapresenaumalegiti- maocient icamaisintensa,durante as duas primeiras dcadas do sculo XX. Foi na Alemanha onde, em 1910, ocorreuaprimeiraexperinciadeins- titucionalizaoacadmicadosEstu- dosAfricanos,porocasio danomea- o de Diedrich Westermann como professor do Departamento de Ln- guas Orientais na Universidade de Berlim.Seguiu-seaGr-Bretanhacon- sagrandoessedomniodosabercoma criao do International Institute of African Languages and Cultures, em 1926, que passou a publicar a revista frica. O surgimento da School of OrientalandAfricanStudiesnaUniver- sidade de Londres, em 1939, substi- tuindoaSchoolofOrientalStudies,tes- temunhaaexistnciadeumacomuni- dadedeinvestigadores,antroplogos e socilogos, que realizavam j pes- quisasemfrica.EmFrana,ainvesti- gao neste domnio adquire uma di- menso institucional alguns anos maistarde,apsafundaodaSocit desAfricanistesem1930. Ora, legtimo levantar questes acercadocarcterafricanodosEstudos Africanosedaunidadedassuasdiscipli- nas,talcomofazPaulinHountondji.Ao esboarassuasrespostas,partindodo pressupostodequeaactividadecient i- caemfricapodeserquali icadacomo extravertida e destinada a ir ao en- contro das necessidades tericas dos nossos parceiros ocidentais e respon- dersperguntasporelescolocadas,o ilsofobeninenseescreve: Os chamados estudos africanos no s se baseiam em metodologias e teo- rias que se consolidaram em vrios campos [] muito antes de terem sido aplicadasafricaenquantonovocam- po de estudo, como , de resto, comum, em instituies acadmicas e de inves- tigao, encontrar esta matria asso- ciadaaoutrasdisciplinas[]. Portanto,perfeitamenteadmiss- vel discernir perspectivas radical- mentediferentesdefendidasporAfri- canoseno-Africanos,noquedizres- peitosemnticadosEstudosLiter- riosAfricanosesuasdisciplinas. Na organizao institucional das universidades, os Estudos Literrios Africanos constituem-se aps a Se- gunda Guerra Mundial. Foi nas dca- dasde40e50quesurgiramasprimei- rasuniversidadesafricanasdosculo XX.MasaformaodosEstadosinde- pendentes ocorre a partir da dcada de60,obedecendoaomodeloociden- taleherdandoasfronteiraseasinsti- tuiespolticasdasantigaspotncias coloniais.Aedi icaodesistemasde ensinoquepudessemincorporarcon- tedos programticos sem qualquer in lunciaexternafoiimediata.Emal- guns pases africanos as mudanas curricularesdematriasrespeitantes sLiteraturasAfricanasocorreramlo- go a seguir independncia. o que sucedeucomoSenegal,ondesereali- zou o primeiro colquio consagrado ao ensino das Literaturas Africanas, em 1962. Na Universidade de Dakar assim como na maior parte das uni- versidadesafricanas,aestadisciplina foraconferidoumestatutosemelhan- teaoutrasdisciplinasleccionadas,no mbito da organizao de departamentos autno- mos (Kane, 1994:27-39). Quantoaoensinosecund- rio, as Literaturas Africa- nas, sustenta Kane, foi in- troduzida de modo anr- quico, sem mtodos, sem programas.Numa perspec- tiva comparada, verifica- se que nos pases africanos de lngua francesa, o ensi- no das Literaturas Africanas nas universidades e nas escolas se- cundrias se consolida em princpios da dcada de 70. Por exemplo, a in- troduo de textos literrios africa- nos (incluindo a literatura oral tradi- cional) ocorre apenas em 1972, aps a Conferncia de Ministros da Educa- o, realizada em Madagscar. Nos pases africanos de lngua in- glesa, o mais expressivo sinal de mu- danaproduz-secomumtextodatado de 1968, subscrito por trs autores originriosdafricaOriental,atravs do qual defendem a abolio do De- partamentodeInglsnaUniversidade deNairobieacriaodoDepartamen- to de Lnguas e Literaturas Africanas (WaThiongo,1982:145-150).Talco- mo diz Biodun Jeyifo, the constitu- tionofAfricanliterarystudyasalegi- timateacademicdisciplinewithcerti- ieddegreesandprofessionalspeciali- zation began in Africa, not in Europe orAmerica. Podedizer-sequeocen- troinauguraldegravidadedeumensi- nosriodasLiteraturasAfricanasest situadoemfrica. Ao apresentar as concluses do um inquritosobreoensinodasLiteraturas Africanasnasuniversidadesdospases africanosdelnguainglesa,BernthLind- fors,observaqueadescolonizaodos estudos literrios emfricaestavaemcursoeemestado bastante avanado. Nota que dos 194 cursosseleccionadosem30universida- desdouniversode14pases,aamostra representavacercade60%donmero total de cursos em que se inscrevem 226autores.Aconclusoaquechegao referido investigador permite susten- taraideiadequeasLiteraturasAfrica- nas ocupavam um lugar signi icativo nosprogramasdosDepartamentosde Ingls, Departamentos de Literaturas Africanas ou Departamentos de Ln- guasEuropeias.Estesindicadoresesta- tsticos fornecem um quadro que re- lecte,provavelmente,deigualmodoa situaodospasesdelnguafrancesa. Efectivamente,ainvestigaoeoensi- nodasLiteraturasAfricanastinhamal- canadonveissemprecedentes,espe- cialmentenoquedizrespeitosuains- titucionalizaoacadmica.Ignora-se, noentanto,ecomalgumarazooquese passa nos pases africanos de lngua portuguesa. Oprocessodeautonomizaodisci- plinar das Literaturas Africanas foi dando origem ao abandono das deno- minaes generalistas elaboradas na basedecritriosraciais.Ahistoriogra- iaregistain lunciasprofundasqueo movimentopanafricanistaeposte- Literaturasafricanas ouLiteraturaAfricana LLUUIISS KKAANNDDJJIIMMBBOO Institucionalizaodeumadisciplina DR 15. LETRAS|15Cultura | 14deMaioa3deJunho de2012 riormente a Negritude exerceram so- breasideologiasdosescritoresAfrica- nos.DurantemuitotempoasLiteratu- ras Africanas eram adjectivadas com fundamentonocritriofalaciosodara- a.Eracomumousodeexpressesco- moliteraturanegro-africana,litera- tura neo-africana ou simplesmente literaturanegra Parajusti icartaisdesignaes,Ly- lian Kesteloot, na sua Anthologie N- gro-Africaine,argumenta: Consideramos a literatura negro- africanacomomanifestaoepartein- tegrantedacivilizaoafricana.Emes- moquandoproduzidanum meio cul- turalmente diferente, anglo-saxnico nos Estados Unidos, Ibrico em Cuba e noBrasil[]Oespaodaliteraturane- gro-africanacobrenoapenasafrica ao sul do Sahara, mas todos os cantos do mundo onde se estabeleceram co- munidadesNegras,sobosauspciosde umahistriaturbulentaquearrancou ao Continente centenas de milhes de homenscomoescravos[]. Otipodeargumentosaduzidospor autorescomoLilyanKesteloot(litera- tura negro-africana), Janheinz Jahn (literatura neo-africana) ou Jacques Chevrier(literaturanegra)noofere- cemqualquerconsistnciatericapa- ra merecerem a dignidade que lhes conferida. A partir da dcada de 70 e 80, a tendncia dominante da crtica designa as Literaturas Africanas no plural,con inando-asaosespaosna- cionais.Passamaserpublicadosestu- doseantologiasqueobedecemaocri- triodanacionalidadeliterria.Deste modo,LiteraturasAfricanasouLitera- turaAfricanaadenominaodeuma disciplinaquepelasuavocaogene- ralista contradiz a lgica do Estado- naodequeemanaoparadigma ilo- lgico nacional em que se funda o en- sino das LiteraturasEuropeias. No raro encontrar professores e investi- gadores europeus e americanos que, negando a existncia de literaturas nacionais em frica, defendem a de- nominao colectiva destas literatu- rasenquantodisciplinacujade inio depende do seu vnculo com as ln- guas europeias em que so escritas, sendo,porisso,leccionadasnombito de Departamentos de Estudos Ingle- ses,FrancesesouPortugueses.Porau- sncia deumarobustaepistemologia africana independente, observam-se repercussesdeletriasdessahierar- quizaonasuniversidadesafricanas. Deste modo a investigao e o ensino das vrias Literaturas Nacionais do continente africano em muitos casos ainda assentavam em duas hipteses erradas.Emprimeirolugar,adenomi- nao generalista de Literatura Afri- canaouLiteraturasAfricanasqueeli- minaapossibilidadedepassarcom- preenso das suas especi icidades. Emsegundolugar,abalcanizaolin- gustica dos Estados que est na ori- gem da marginalizao das Literatu- ras Africanas de Lngua Portuguesa dosEstudosLiterriosAfricanoscuja denominaodisciplinar(Literaturas Africanas de Expresso Portuguesa) empasescomoPortugalrevelaaper- vivnciadeumpaternalismocolonial que, segundo o investigador portu- gus Carlos Reis se manifesta atravs de uma mal disfarada resistncia contraoreconhecimentodosigni ica- doprprio[]frutoempartederemi- niscnciasideolgicasderaizcolonia- lista, essa resistncia funda-se tam- bmnaleituradetaisliteraturasluz docnoneliterrioportuguseeuro- peu,leituradestepontedevista,na- turalmentedesquali icadora. Apesar disso, o volume de tra- balhos de investigao consagrados s Literaturas Africanas de Lngua Portuguesa deu lugar sua discipli- narizao em vrias universidades do mundo, especialmente do Brasil, Portugal e Estados Unidos da Amri- ca. Se entendermos que o processo de disciplinarizao comporta duas fa- ses, uma pr-disciplinar e outra disci- plinar, concluiremos que primeira chega-se em finais da dcada de 70.Mas a fase disciplinar no alcan- ou a sua consolidao. Na fase disciplinar destacamos nomes de trs professores universi- trios, os discipline-builders, no- meadamente Russell Hamilton dos Estados Unidos da Amrica, Manuel Ferreira de Portugal e Maria Apareci- da Santili do Brasil. ManuelFerreiranotabiliza-secomoo responsvelpelaintroduodadiscipli- na de Literaturas Africanas de Expres- soPortuguesanaFaculdadedeLetras daUniversidadedeLisboa,em1974.Se- guiram-se as Faculdades de Letras da Universidade do Porto em 1975, pela modeSalvatoTrigoe,em1980,asFa- culdadesdeLetrasdaUniversidadede CoimbraedaUniversidadeNovadeLis- boa.Asuainstitucionalizaoocorreria em 1978, atravs dos Decreto-Lei n 53/78de31deMaioedoDecreto-Lein 75/84 de 27 de Novembro. Os primei- rosMestradoseDoutoramentosforam criadosnosanos80dosculoXXpelas universidades em que se leccionava a disciplinaaonveldalicenciatura. No Brasil, em 1984 discutia-se ainda a legitimao do ensino das Li- teraturas Africanas nos cursos de Le- tras. Durante as duas dcadas que se seguiram, ao que parece a situao no sofreu alteraes signi icativas, apesar da ltima proposta de refor- mulaocurricular,talcomonosdiz a professora Laura Padilha (2010:4) que chega mesmo a defender, em ma- triadeensinodasLiteraturasAfrica- nas de Lngua Portuguesa, a necessi- dadedeumadescolonizaocurricu- larparaoBrasil. Chamoaatenoparaofactode incidirmosa re lexo sobre as Litera- turasAfricanasdeLnguaPortuguesa emgeral.Norigorosamentedaslite- raturas nacionais de cada um destes pases. de ensino das Literaturas Africanas de Lngua Portuguesa que setrata.Levanta-seaquiapossibilida- dedeestarmosperanteduasdiscipli- nas, Literaturas Africanas de Lngua Portuguesa e a Literatura de cada um dospases,isto,LiteraturaAngolana, Literatura Moambicana, Literatura Cabo-Verdiana, Literatura da Guin- Bissau e Literatura de S.Tom. Rela- tivamente primeira podemos falar da necessidade de desenvolver um ensino interdisciplinar cruzando os Estudos Africanos e as Literaturas Africanas de Lngua Portuguesa, es- tabelecendo as devidas linhas de dilogo com as Literaturas Africanas de Lngua Inglesa e Lngua Francesa. No dizer de Jean-Marie Grassin, a aludida perspectiva comparatista comearia por privilegiar a aborda- gem inter-africana : Trata-se de valorizar a sua especi i- cidade e o seu papel nos grandes con- juntos literrios para os quais ela ter contribudo [] Um comparativismo intra-africanopermitiria situar, atra- vsdoestudodoscorrelatosexternos,a cultura africana no quadro das gran- des correntes artsticas, polticas e so- ciais do planeta. O que indubitavel- mente melhor do que um olhar sobre a palavra africana no seio dos grandes conjuntos exfonos. (Grassin, 1984 :257-271). Portanto, um imperativo para os Estudos Literrios Africanos, proce- derrevisodasdenominaesdisci- plinares das Literaturas Africanas no pluraledasLiteraturasnacionaisdos pases africanos no singular. que a histria da formao das disciplinas demonstraopapelqueonomedeuma disciplinaeasuaestabilidadedesem- penhamnasuaconsolidao,almde outros factores como a existncia de publicaescient icas,nomenclatura pro issional, publicidade institucio- nal, comunidades cient icas organi- zadasemassociaes.Aonvelinstitu- cional,acriaodeunidadesdeinves- tigao e ensino nas universidades, taiscomoDepartamentodeLnguase LiteraturasAfricanas,Departamento de Estudos Literrios Africanos, De- partamento de Literaturas da frica Austral, Departamento de Estudos ComparadosAfricanos,cursosdeps- graduao,mestradoedoutoramento visandoaespecializaoemreasco- mo Literatura Angolana, Literatura Moambicana, Literatura Cabo-ver- diana,LiteraturaOralTradicionalAn- golanaouMoambicana,etc.,podeas- sumirumaimportnciadecisiva. A cidade de Dakar no Senegal albergou no ano de 1962 o primeiro colquio consagrado ao estudo e ensino das literaturas africanas 16. 16|LETRAS 14deMaioa3deJunho de2012 | Cultura A ps a publicao da obra As origens do Reino do Kongo , Patrcio Batsika- ma nos prope, aqui, um estudo, na realidade, adicional ao primeiro que tive, igualmente, o prazer de apresentar, neste lugar, meses atrs. Estendendo-se por 328 pginas comumcomplementodeumadezena de pginas de um corajoso ndice re- missivoepublicadosobachancelada Universidadeeditora,olivroarticula- se em sete captulos, dois anexos e umarespeitvelbibliogra ia. A ilustrao da capa bastante sig- ni icativa.Trata-sedobustorealizado peloescultoritaliano,FranciscoCapo- rale,sobinstruodoPapaPauloV,do Embaixador acreditado no Vaticano pelo Rei do Kongo, lvaro II, Dom An- tnioManuelNeNvunda,quefaleceu, nodia6deJaneirode1680,emRoma. Corpora Interessadoaagregar,omaisposs- vel, elementos orais e antropolgicos doprovvelaportedoeixomeridional, fundadordoconjuntofederal,oautor engaja-se num exerccio, paciente, de reexame,luzdessastradiesdeca- rcter histrico, de princpios cons- trutoresdasestruturassociaisepolti- casdoReinoedaconstanteconcepo edi icadora do trptico. E no se priva de plantar novas propostas de leitura dageogra iapolticadaUnio.Para no negligenciar nenhuma pista nas corpora, o neto de Raphael aprecia, prudentemente, - pntano homof- nico e homogrfico obrigue ! -, as coincidncias lingusticas atesta- das no falar da velha populao ! kung ou Khoi ; arrastadas, provavel- mente, desde mais de 2000 anos, nu- ma evoluo de interaes civiliza- cionais francamente desequilibradas com os migrantes, dominadores ou engolidores bantu. A apresentao desses traos justifica-se pela reco- lha de lendas supondo a presena de um substrato humano pr-kongo de tipo pigmeu. Ainevitvelpistaovimbunduexa- minada, bastante substancialmente, nassuassimilitudesdenaturezatopo- nmica ou de conceo ligada s ori- gense organizaodaslinhagensde poder; boa direo de investigao, sendo as populaes dos Planaltos centrais, notoriamente, o resultado dasdiferentesvagasmigratrias,vin- dasdesetentrioedooriente. O mesmo exerccio de concordn- ciasbantu,con irmativo,entreosKon- go e os Herero, os Nyaneka-Humbe, e acessoriamente, os Kwanyama e os Cokwe,proposto. O autor apresenta, em seguida, o essencial das provas arqueolgicas que confirmam a cristalizao da especificidade kongo volta do fim do primeiro milnio da nossa era, estabelecendo laos de parentesco com a cultura material (cermica, vestgios metalrgicas etc.) com os Bantu meridionais. A im de avaliar o aporte do Sul, a fundao do Kongo dia Ntotela, o au- tor no exclui as volteis reconstru- esmticas,contemporneas, deg- nese, de base cosmognica ou esp- cio-temporal. LigaesAustrinas Examina, inalmente,sempre,nesta linhadeinvestigao, asligaesaus- trinasdaformaodaarquiteturamo- nrquica instalada nos Planaltos de Pembacassi,apartirdasirrefragveis fonteshistricasdasprimeirasanota- esdeautoresportugueses,italianos e holandeses mas igualmente, as cor- respondncias dos prprios sobera- nosdoKongo. Esta anlise , tambm, feita a par- tir das releituras de investigadores contemporneos. Omritodapresenteobra,querepre- sentaumestudodegrandeviso,ode ter posto em ili- grana,nabasedefontesorais,arqueol- gicas e escritas, um povoamento ante- kongo,deestdiovisivelmenteneolti- co, constitudo de grupos pigmeus e strandlopers, comunidades bem ne- grides mas no locutores de lnguas bantu, como tnhamos suposto. Essas populaes sero, gradualmente, ab- sortas, antes do incio da nossa era, pelos poderosos Bantu, metalurgis- tas, uma franja dos quais ocupar a regio do Baixo Rio, a partir da flo- resta equatorial, mas cujo essencial, contornar, com razo, essa temvel e densa barreira vegetal. Avanaro atravs das linhas de florestas trop- filas e savanas orientais e austrais. Um dos reflexos histricos desta hiptese de esquema de expanso o posicionamento estratgico, avun- cular, do Ne Mbata, chefe do Estado oriental do conjunto federativo, fac- to atestado nas fontes escritas e r- citas kongo. En im,aoutraevoluoindicativae o reconhecimento pelos prprios Kongo, da presena, no seu seio, de componentes mbundu, quer dizer de assimilados. Emsuma,apresenteanlisecon ir- ma a nossa assero sobre o facto de queosintensosmovimentosmigrat- riosdosBantuteremconstitudope- rodosdegrandedinmicahistricae antropolgica;e,nasorigens,opas deNimiaLukeninoescapouaisso. SSIIMMOOSSOOUUIINNDDOOUULLAA OreinodoKongo easuaorigemmeridional Momento em que o autor Patrcio Batsikama fazia uso da palavra PAULINO DAMIO 17. LETRAS|17Cultura | 14deMaioa3deJunho de2012 APoesiadasplicasatrica edeatalhosquedoaocoraodafrica MarcasdaGuerra,Percepontima eoutrosFonemasDoutrinriosdeLopitoFeijo P ercepontimanabranquinhaevir- gem pureza do simbolismo a lgrima e a gota de sangue africanas das Marcas da Guerra. uma descida carregada dum cepticismoinofensivo,angelicalmente,semalie- naes ao mago da frica e sacudindo o leitor da priso ideolgica, exlio, por via da ideia de uma fricaparadoxalmentenovaouvirgemmasjcheia demcula. , tambm, entre Outros Fonemas Doutrin- rios,umasplicasatricadosujeitoaonovotipode Kamikazequecaminhaminadoparaofuturoeum atalhoparaocoraodafricaanteosnovoscami- nhosevoospropostospelabailarinadesaiaas- sombrada, tida como proposta metafrica da dis- persodosnovostempos: MARCASDAGUERRA () 3 Dez troosnostroos estaviagemqual virgemcontemplando se esfarrapada. 4 Dosolhos destacrianaescorre umbrilho sangrento umgritoinaudvel umsonho porsuposto () Comtrintaecincovisesinterpretativasdividi- das em Doutrina Sentida, Rebelde Doutrina e DoutrinaTelrica,ospoemasestocolocadosnum sentidodegradaoprogressivadatesetecida.Esta arquitectura restringe qualquer possibilidade de desencontro,alternnciabruscaouinjusti icadade tomedetemticanaobraedenunciaastrspartes como fases de uma metamorfose homognea do poeta cuja criao antecedida pelo teste da apreensodos sentidos, convulsoe, inalmente, a acoanunciadoradoporvir. Maisdoqueumaferramentadapercepo,opor- vircrescegradualmenteemtodosospoemasoraem re lexoexplcitooraimplcitonadinmicadapala- vracriandoumaespciedea inidadeelectivaentre os poemas que conferem a obra a elevao de ma- crotexto.Sublimementerebelada,deacoafectadae semcon lituarcomorelativismo,poisprofessauma esperana subentendida e um dbil hedonismo, o mais concreto desta poesia veri ica-se na negocia- o/combateentreopoetaeaconscinciacolectiva actualparaestafricaquepassivamenterefm,vti- maviciadadosdanoscolateraisdoocidenteequese desembaraaanteodesbravardosnovosdesa ios. Opoetafotografaoseumedopelalinhatnuepor ondeseupovocaminhanaparadoxaltentativadeir buscar-seesofrecomaexistnciadapossibilidade de frica ser, para a posterioridade, uma ideia fu- nesta,umarstiaemmitodeumacontecimentoain- da moribundo nos dias de hoje e debate-se paro- diando com a dualidade de realidades actuantes desta frica que , simultaneamente, bero da hu- manidade mas da misria e da fome e inferno do presentemassupostoparasodofuturo: INFERNO () 3 Nascopas,loiade/mais Sevaipartindo ens,defome,engolindocacos () Ospoemasnonascemdovagoebradamsobrea sobriedade de uma conscincia combativa. A pala- vrapoticaatiradaemtaquicardia,jpossudade umaimprevisvelfeitiarianacriaocoesadopoe- masuperioraunidadedecrivodamesma,umtanto contrria da tcnica de criao modernista e que transformam os poemas em autnticos gestos da modernidadecomgravitaesdagravidadedodis- curso apurado pelas correntes de pensamento da retrica prisional. Do resultado deste palpitante processocriativonascemrecriaes arquitextuais que atravessam as diversas formas do lrico e que propemacomunhocomaprosa: TESTEMUNHO () Testemunhoportodasasequinasmor- tosdesiguaisporsuaculpa.Todaelasua culpa.Venho.Faodasminhascarnesas espadas dos nossos ante/passados por ora num stio a noroeste de Kush nas margensdoNobreNilocompartilhando ibundosdaqui.Seiquechegaropelavia deUpembaacompanhadosdealgumga- do,-quehaviasidoemrazododestino-, vtimadafomeaquandodaprimeiradas primeiras de todas as secas com que vi- mossendoagraciados. () A carga de alma aqui expressa por via de um pantesmopraticadopelasculturasafricanaseque opoetasegueetomadecontextoedeelmo.Noder- ramamento potico, os rios, desertos, matas e bi- chos so evocados e restitudos na sua posio transcendental: NASEDEDOSRIOSAFRICANOS -NILO Percorre divinamente de cabea es- branquiada fertilizantedecheiasestivais (n)aquelatelavistaporFromentin -NIGER Umapontemetlicaperpassa ontimocaudaldoseucorao comdestinoaBernue -CONGO A espessura do seu marulhar murmu- ra noreinadocoma lu vialidadedasguasbenzidas -KWANZA Feitosmbolodere(s) posta nao aparece caudalosamente re ajustado entre norte e sul. Este ou aquele? -ZAMBEZE Plosditosdecantinadeleita-se Lungue-Bungopopular Incenerados seus antepassados levi- tamprximodo [Zumbo. -ORANGE Oh Garieb. Corre, salta, estende-te, desdobra-te Autonomiza-te o sol ao Cabo das Agu- lhas tobememrazodaidentidade! . Aobraumjangoondeosdeusesafricanosseen- contram.E,sobamsicasimbolistadeLopitoFejo, osdeusesdanamemcomunhocomanatureza.A invocaoconstantee,maisdoqueumaentidade identi icadora,anaturezaacordareunidanapoesia comopalcodareuniodosdeuses,entidadesincor- ruptveis,parteconcreta/secretadafricaeabsolu- tamentedisponveisachorarporela. MMAATTAADDII MMAAKKOOLLAA 18. 18|LETRAS 14deMaioa3deJunho de2012 | Cultura Assim, o poeta, porta/portador quali icado da mensagem, traz das entranhas da frica um grito antecedidodechoro.Osdeusesdes ilamnacorren- tezadaab-reaodapoesiadeFeijo: PURA&MADURA I Chamam-mefrica Paribastardosebastantes Quemesmosofrendoalm-mar Seuberopodeesigni ica. II Nkundi ou Npangui so to ilhos quantotu DoBurundiouRuanda Tenho-os to bem em Luanda [no Kwandaouna Ganda]. III -Ohfeitiodecarneeossos: Sincroniza-te emrazodosnossos ecomosempreimenso,multiplica-te- me. IIII Soumulher/meentreYorubaseBan- baras Entrego-te-mepouca,loucaemadura PURA AFRICA PURA! PERCEPONTIMA () -Uma cidade por aqui, um autntico mercado daserpentedoprazer todosvmevo.Vemevo,voemvo II Estasinceramentesimplescidade novevezesforaateciturasistemtica invisivelmente equacionada moda acidental comoventes estradas areas rasgam- lheatextura lorestal estampada no semblante do comum cidado quaseemdesuso Tudomodernoeoriginal sobresaindoempolgnciadosdeuses Huas,Ybos,Yorubas,Peules,Fulanis, eetc. () 19. Cinema|ARTES|19Cultura | 14deMaioa3deJunho de2012 Tera Feira 22 de Maio Tera Feira 15 de Maio 19.00 Horas, entrada livre 19.00 Horas, entrada livre Soestesosprximosdois ilmesqueoCinemaNoTelhadoirexibirteras-feiras,s19horas,noterraodaUniversidadeLu- sada,naruado1CongressodoMPLA. OmsdeMaiototalmentededicadocinematogra iaangolana. Nodia15deMaio,serexibidoodocumentrioangolanoRITMOSURBANOS,MELODIASDEUMAIDENTIDADEdeIsilda Hurst.EmAngola,astradies,amsicaeadanatmdesempenhadoumimportantepapelnapreservaodamemriacolec- tivaedaidentidadeculturaldeumanao.Entreosestilosurbanos,comoRebita,Kazukuta,Semba,Kizomba,podemosencon- trarumamisturadeelementosquetornarampossvelspessoas reinventarassuasprpriastradies. Nodia22deMaio,oterraodaUniversidadeLusadaexibiro ilmeAVIAGEMAOKUROKA.DirigidoporNguxidosSantos, trata-sedeumdocumentriocolorido,emportugus,semlegendasquenosmostraodesertodoNamibe,oshbitosecostumes dapopulaodomunicpiodoKuroka. Aexibiodestes ilmesestincludanoprojectoMABAXA-FestivaldeCulturaUrbana,doInstitutoGoethe. 20. C20|ARTES|Msica 14deMaioa3deJunho de2012 | Cultura Nagrelha EEssttaaddoo mmaaiioorr ddoo kkuudduurroo ccoonnttiinnuuaa nnoo BBaaiioo 21. Cultura | 14deMaioa3deJunho de2012 actualmenteumdosmaioresnomesdoesti- lo kuduro. Tem no registo o nome de Gelson CaioManuelMendese,nospalcos,Nagrelha. IntegrantedogrupoosLambas,muitasve- zesaparececomolderdeste,emboranaen- trevista que nos concedeu em casa, sita na rua do Baio, distrito do Sambizanga, pre- tenderapenasfalardesi.AletraComboio, msica do primeiro CD do grupo a que per- tence e escrito por ele uma das suas maio- res motivaes para num futuro breve retratar a sua vida numa obraliterria. Di cil foi sentar com Nagrelha. Pois s atravs de Kanguimbo Anans,aquemchamademe,foientopossvelaconversa.Foram precisasquatrohorasdeespera,numsolardenteentrerisadasso- brehistriasdomundodoKuduro.Nagrelhahumano,diziaoku- duristaDaBeleza,amigodocantorquenaocasioseencontravano local.Otempopassavaeoutrosmsicoschegavamresidnciade Nagrelha:100Maneira,ChPreto,Trator,Mago,Weza(dasfuguen- tas)sparacitarosquesodaslidesdomsico.Estasemprefoia nossacasa,disseumdosmsicos. Depois de longa espera, surge Nagrelha, extrovertido e srio, convidando-nosacomermacaiabo,seupratopreferido.Aconver- saNagrelhaouosLambas?,perguntouomsicoaosreprteres, tendodeseguidaadvertidoquesfalariasobreogruponapresena dosoutroselementos. OsLambasumgrupocompostoporbaila- rinoseoutrosvocalistas,advertiuomsico,quenomesmoinstan- tepediuparaumdospresenteschamarBrunoKing,outrovocalista dogrupo.Esteacaboupornocomparecer,pornoseencontrarno bairro. Nagrelha,paraalmdecantareencantar,tambmaprecialetras deoutrosartistas.EfoinamsicadeDavidZ,reproduzidapeloir- moGabiMoiEutenhoumavizinha,masnodigoonomedela.Eu tenhoumavizinha,masnodigoonomedela.Saiudasuacasaefoi vivercomonamorado.Quandochegouemcasa,amedelapergun- tou: minha ilha onde que estavas e ela no soube responder. A mefoitrabalhareelaps-seachorar,amefoitrabalharelaps-se achorareMeninaquandoqueresdemimmelhordizersimde ManR,queomsicoseinspirou.Naaltura,estasmsicasinspira- vam-me e davam-me energia. Sentia que era um homem batalha- dor, eestascanespunham-me a re lectirno futuro,disse, aoin- terpretarasmsicascombastantesatisfao. OinciodacarreiradeNagrelhaassemelha-seaodeoutrosmsi- cosdoestilokuduro.ComeoutambmpeloRapp,istoem1997,no bairro do Sambizanga, onde nasceu e vive. Mais foi no kuduro que viuasuasortetornar-serealidade,logonasadadoprimeirodisco do grupo, Os Lambas, com o ttulo Os demnios do Sambizanga. Desdeento,oseunomesemprecitadoquandosefaladokuduro, anvelnacionalouinternacional.Comorappereucantavasomen- te na rua e de brincadeira. J o estilo kuduro foi pro issional e per- mitiuquemetornassenapessoaquesouhoje,disse. Olookdecabeloloiroqueusa,acrescentadosuairrevernciana formadeestar,fezdeNagrelhaumareferncianaslidesdoskudu- ristas,acrescentandoaissooprpriosacri cio,quepermitiuman- teronomeataosdiasdehoje,emboraporalgunsmomentostenha anunciado publicamente chamar-se Ngongoyove. Este look veio apenasparalegalizaraminhaimagem.Ecomoqualquerartista,eu precisavafazeraminhadiferena,dateroptadopelocabeloloiro. CCRRIISSTTIINNAADDAASSIILLVVAA Msica|ARTES|21 22. Vivncianokuduro Aos 24 anos de idade, Nagrelha dos kuduristas mais polmicos. De- pois de ter passado pela Comarca de Viana, acusado de furto e logo depois absolvidoporfaltadeprovas,procura a cada dia emendar-se do passado. Nunca sonhei com o que sou hoje e todososdiasmeesforonosentidode melhorar, porque a minha vida e sus- tento dependem integralmente da msica, conta o msico que garante smudardeestiloseDeusassim per- mitir. Como ilho de peixe peixinho , co- moele mesmodiz, tem no ilho Mirel- son, de cinco anos, um dos continua- dores do estilo. Ele considera o seu candenguecomoirmomenoreou- tros integrantes do grupo Os Lamba tambmotratampor ilho. Nagrelha considera os biffs (in- sultos) como luta pela sobrevivncia. Paraele,estetipodeactospodeconti- nuar,masnasletras,semcontudoori- ginarlutas sicascomoseveri ica.Os msicosdeveriamestarunidoseapar epassoumdooutro.Procurarsabero que o outro precisa na carreira, reci- procamente,disseNagrelhaquecon- sidera a sua relao com os outros cantores de saudvel. Tenho muitos amigos e um deles o Da Beleza que do Cazenga e hoje est aqui comigo, comopodemver,assegurou. Kandengue A sua infncia foi como a de qual- queroutracriana.Famliahumildee com vrias paixes. O desporto era umadasmuitasquetinha.Etemobas- quete que ainda pratica, na ruela do baio num campo improvisado, ape- nas com uma tabela, de quando em vez,comoasuamaioratracconodes- porto. Mas foi no futebol onde em- prestou o seu talento integral ainda criana.Oquelhepermitiupassarpe- lo Progresso, Flamenguinhos, Anate- nos,Ferrovia,BotaFogo,sparacitar alguns clubes. Ele de uma famlia bemligadaaodesporto.sobrinhodo falecido Praia, que foi um mdio cen- traldoProgressoAssociaodoSam- bizangaedaseleconacional. Nagrelha despiu-se do barrismo e disse, sem gaguejar, que adepto do Petro de Luanda. E nos tempos livres procura estar com os amigos do bair- ro. Pratica tambm artes marciais. A arte cultura e fui ensinado que no devo me expor lutando. Embora que treinamosparanosdefenderdeposs- veis ataques, procuramos no desen- volverestastcnicassemqualquerne- cessidade,explicou. EstadoMaior A relao e a unio que existe no grupo Os Lambas uma marca regis- tada. Nagrelha revelou que o Estado Maiorvaicontinuarat2030aimpul- sionaroutrosartistas.Hojesomosjo- vensedaquia20anosestamoskotas. No podemos dizer que somos eter- nos, mas com o nosso saber vamos procurarpassaranossaexperincia, disseanunciandoparadentrodedois mesesolanamentodoprximodisco dosLambas. Fax Fax o primeiro nome adaptado por Nagrelha em 1997, no incio da suacarreiraartstica.NaalturaNagre- lha cantava rapper com o irmo mais velhoMago.Contaquenestafaseera o irmo que fazia os bits e ele punha voznamsica.Naalturacantvamos na rua. Ele tocava e eu cantava e no era ainda srio, apesar de muito que- reraparecercomomsico,frisou. KanguimboAnans Em 2010, Nagrelha enfrentava um processo justicial. Nesta altura, a sua falecida me, Maria Caio, recorreu sociloga Kanguimbo Anans para queajudassenasoluodocaso.Des- deento,Kanguimbopassouaserma- drinhadeNagrelhaedogrupoempar- ticular.Apsamortedame,aateno dasocilogaestendeu-setambmaos irmos e outros msicos do bairro do Sambizanga.Ainteno,disseomsi- co,queasocilogapresteassistncia atodososkuduristasdopas,atpor- queosbonsoumausjovensnoresi- demapenasnoSambizanga. ComavindadeKanguimboAnans, apesar da tristeza que carrega pela perdada me, sente-secommais mo- tivao na vida. A escritora no s me do Nagrelha, quem resolvia os problemasdosgruposnoSambizanga eraaminhamebiolgicaefelizmen- tequeeladeixoualgumquecuidade ns,dissealegre. Dentro Gelson Caio Manuel Mendes, mas conhecido por Nagrelha, nasceu em 24 de Maro de 1988. Comeou a can- tar em 1997, no bairro do Sambizan- ga, onde nasceu e reside at a data presente. Faz parte do movimento de exploso do estilo musical kuduro e pertence ao grupo com maior popu- laridade Os Lambas, fundado no mesmo bairro, por Amizade, j faleci- do. Participou em vrias tournes na- cionais e internacionais. solteiro e pai de um filho. Tem como sonho ser administrador do Sambizanga e aju- dar no seu desenvolvimento. Nunca pensou viver fora de Angola, embora tenha gostos em conhecer outras cul- turas e povos. Nasci em Angola e aqui que devo trabalhar para ajudar o meu pas a desenvolver. No justo sair de Angola para ir fazer filho em Portugal, rematou. 14deMaioa3deJunho de2012 | Cultura22|ARTES|Msica 23. JJOOHHNNNNYYKKAAPPEELLAA Arteangolanacontempornea Umacriatividadeplsticaendgena U mdosprincipaisfactosque se pode reter das actas re- sultantesdoltimociclode palestras,organizadopela Empresa Nacional de Seguros de An- gola,sobotemaAarte,oartistaeaso- ciedade, no quadro do programa En- sarte,soasdezenas de intervenes feitas nesta ocasio. Foi, a justo ttulo, editada, sob um design vanguardista, uma impresso em quadricromia e uma slida sela- gem, que se estalou entre as cidades de Porto e Luanda, agrupada em 146 pginas. A colectnea reproduziu a indita anlise do historiador Simo Souin- doulaintituladaRemanescnciaban- tu na arte angolana contempornea. Umcontextoveri icativo,aEnsarte. A referida obra est articulada em quatro grandes captulos, constitu- dos do prembulo do Presidente do Conselho de Administrao da Em- presaNacionaldeSeguros deAngola, Manuel Gonalves, uma introduo geral, breves apresentaes dos dife- rentesoradores,nasquaisfoiacresci- doumrecapitulativodostemasabor- dados e a restituio dos textos pro- postosnoMuseuNacionaldeHistria NaturaldeLuanda. Nasuainterveno,oPCAdasocie- dade annima da avenida 4 de Feve- reiro,realouofactodequeainiciati- vaculturaldeseugruposetornou,pe- laforcadotempo,umespaodere le- xo e de dilogo intercultural mas, igualmente,dearticulaointerdisci- plinarsobreaprticadasartesvisuais emAngola. Os autores foram o pintor Jorge Gumbe, Comissrio da Bienal da Res- seguradora da Marginal, o crtico de arte Adriano Mixinge, o antroplogo ManzambiVuvuFernando,omuselo- go suo Boris Wastiau, o arquitecto portugusJacintoRodrigues,acore- grafaangolanaAnaClaraGuerraMar- ques e a sua compatriota, psicloga, EncarnaoPimenta. Reencortam-se, a, com um grande interesse, os diferentes ngulos abor- dadosapartirdatemticageraltaisco- mo,entreoutrosassuntos,aimportn- cia dos Prmios Ensarte na promoo da arte contempornea do pas de Vi- teix,nessesltimosvinteanos,aapre- ciao da criatividade artstica con- temporneanoQuadriltero,nassuas numerosas opes temticas e prefe- rnciastcnicaseumaleituradasmar- cas pictogr icas sobre os maquixi (mscarasdedanacokwe). propos- ta uma reviso do contexto da origem doomnipresentePensadororiental, o kalamba kuku ou o sayichimo, quem convidou-se nas composies artsticas e artesanais contempor- neas assim que as funes antropol- gicasdaesculturatradicionalafricana, esta retomada, igualmente, no con- temporaneus. LINHAIDENTITARIA Colando bem ao tema do ciclo de conferenciaseaosintuitosda empre- sa de seguros, Simo Souindoula es- forou-se a identi icar e explicar o apego dos artistas plsticos angola- nos, atravs a preciosa vitrina que constitui a viginti coleco da EN- SA, a por em evidencia os seus funda- mentosculturaisbantu. OantigoinvestigadordoCentroIn- ternacionaldasCivilizaesBantusu- blinhou, assim, uma dezena de esco- lhas de ttulos de obras de pintura ou de escultura, decididos pelos criado- resparticipantesdoquadroemulativo doSegurador. Essasdenominaesso,principal- mente, em kikongo, kimbundu e um- bundu e entram, naturalmente, a um campo de inspirao bem milenria, dadezenadasculturasconvergentese maioritriasdopais. Com efeito, o conferencista tomou, entreoutros,comoexemplos,adatela ElogioaonkisikondedeVan,Primeiro PremiodePinturadaEnsarte,em2004. Anoodenkisifundamenta-se sobre o radical do ur bantu kiti que Malcolm Guthrie traduz, em ingls, porfetishoucharm. A evoluo dialectal deu, logica- mente,nkisi,emkikongo,emukixi,em kimbundu. Con irmando as slidas crenas ao feitionassociedadesdafricacentral, orientaleaustral,Souindoulasugere,a este respeito, o exemplo de um ditado ovambo, que aconselha, vivamente, o porte,empermanncia,deumamule- to, porqueatravessandoumarvore- do,pode-seencontrarumaperdizque nuncafoi vista. A imdeilustrarestefacto,operito da UNESCO sublinhou os conceitos clavesdecorrentespelasobrasprodu- zidas, estabelecendo, concomitante- mente,assuasconexesproto-bantue suaperpetuaopelastradiesorais. Para ele, esta linha identitria se- guea irmepoliticaderebantouizacao antroponmica, toponmica e numis- mtica do pais, iniciada logo aps a suaindependncia. Pronunciando-se sobre a impor- tncia da publicao dessas actas, Si- moSouindoula,bendisse,aesteres- peito,anotvele icciadaENSA. Com efeito, para ele, esta compila- o permitira de contribuir a um me- lhorconhecimento,aonvelnacionale internacional, d