Cultura Na Era Vargas

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Com a censura da Era Vargas (1930-1953), muitos escritores já consagrados dedicaram-se, como alternativa tanto de subsistência quanto de manutenção do contato com os leitores, à tradução de livros infantis. Com isso, familiarizavam-se com o pensamento europeu e norte-americano ao mesmo tempo em que não se indispunham com o governo. Foi quando no país ao ofício de escrever somou-se o de traduzir. Nasciam os autores-tradutores. As viagens de Gulliver a terras desconhecidas foi publicado numa versão muito resumida, pelas Edições Cultura, em 1940, com a nota: “traduzida para o português por Henrique Marques Junior, ‘escrupulosamente revisada e modernizada’”. “Escrupulosamente revisada” é um eufemismo para “foram feitos cortes enormes”. Os compositores passaram a ser incentivados a abandonar temas como a malandragem e a boemia em prol do trabalho, sob pena de terem suas letras censuradas, como aconteceu com O bonde de São Januário, de autoria de Ataulfo Alves e Wilson Batista, cujos versos diziam: O bonde de São Januário/ leva mais um otário/sou eu que vou trabalhar. A letra foi convenientemente emendada: a palavra otário foi trocada por operário. O samba-exaltação, que afirma as potencialidades do país, também se tornou moeda corrente. Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, data de 1939. Muitos intelectuais resistiram à ditadura, Graciliano Ramos por exemplo, foi acusado de participar da ANL sendo preso em 1936, e depois escreveu “Memórias do Cárcere”.• Utilização da propaganda para conquistar a simpatia popular (populismo): Apesar do prestigio junto a corte, gil Vicente teve varias obras censuradas pel Igreja Catolica. O também chamado Estado Novo, de Oliveira Salazar, provocou uma grande migração de intelectuais e artistas perseguidos pelo regime, entre eles a escritora Maria Archer, citada por Clarice em sua carta, que posteriormente viveu no Brasil entre os anos de 1955 e 1979 e aqui, em conjunto com outros exilados, produziu o jornal Portugal Democrático (1955-1974), para divulgar a situação que se vivia em seu país e ser uma referência para a atuação de um grupo de antissalazaristas

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Com a censura da Era Vargas (1930-1953), muitos escritores já consagrados dedicaram-se, como alternativa tanto de subsistência quanto de manutenção do contato com os leitores, à tradução de livros infantis. Com isso, familiarizavam-se com o pensamento europeu e norte-americano ao mesmo tempo em que não se indispunham com o governo. Foi quando no país ao ofício de escrever somou-se o de traduzir. Nasciam os autores-tradutores.

As viagens de Gulliver a terras desconhecidas foi publicado numa versão muito resumida, pelas Edições Cultura, em 1940, com a nota: “traduzida para o português por Henrique Marques Junior, ‘escrupulosamente revisada e modernizada’”. “Escrupulosamente revisada” é um eufemismo para “foram feitos cortes enormes”.

Os compositores passaram a ser incentivados a abandonar temas como a malandragem e a boemia em prol do trabalho, sob pena de terem suas letras censuradas, como aconteceu com O bonde de São Januário, de autoria de Ataulfo Alves e Wilson Batista, cujos versos diziam: O bonde de São Januário/ leva mais um otário/sou eu que vou trabalhar. A letra foi convenientemente emendada: a palavra otário foi trocada por operário. O samba-exaltação, que afirma as potencialidades do país, também se tornou moeda corrente. Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, data de 1939.

Muitos intelectuais resistiram à ditadura, Graciliano Ramos por exemplo, foi acusado de participar da ANL sendo preso em 1936, e depois escreveu “Memórias do Cárcere”.• Utilização da propaganda para conquistar a simpatia popular (populismo):

Apesar do prestigio junto a corte, gil Vicente teve varias obras censuradas pel Igreja Catolica.

O também chamado Estado Novo, de Oliveira Salazar, provocou uma grande migração de intelectuais e artistas perseguidos pelo regime, entre eles a escritora Maria Archer, citada por Clarice em sua carta, que posteriormente viveu no Brasil entre os anos de 1955 e 1979 e aqui, em conjunto com outros exilados, produziu o jornal Portugal Democrático (1955-1974), para divulgar a situação que se vivia em seu país e ser uma referência para a atuação de um grupo de antissalazaristas

O rei da vela de Oswald de Andrade, que obviamente foi censurada e só foi levada ao palco mais de trinta anos depois de escrita em 1937. A peça põe em cena um casal Abelardo I, um novo rico, banqueiro, que enriqueceu às custas de empréstimos feitos aos antigos cafeicultores. Heloísa é uma moça da aristocracia, com um nome de família a oferecer a Abelardo; os dois irão se casar por interesse para unir o nome ao dinheiro. Sem contar todos os enredos e vícios que a família de Heloísa tem. Do mesmo autor temos ainda O homem e o cavalo, peça que também não foi encenada.

Temos ainda a peça de Joraci Camargo que foi sucesso de público Deus lhe Pague, segundo Sábato, sem maiores qualidades do que ser o introdutor do teatro social no país, mas a produção teatral deste período não é muito profícua, além desta peça temos a produção do modernista Flávio de Carvalho, evidenciada pela peça O bailado do deus morto, uma peça muito avançada para época e, portanto restringida pela censura. O teatro brasileiro continuava mantendo suas

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maiores produções e seu maior público nas comédias de costumes que seguem o estilo de Martins Pena. Muitos autores relatam que a pressão do estado sobre as pessoas em forma de ameaças, os primeiros desaparecimentos e as grandes arbitrariedades faziam com que a autocensura fosse tão grande que impedia a produção. Além destes fatores, temos o econômico, pois o centro da produção estava focado numa elite burocrática, diferente do que acontecerá posteriormente.

De 1937 a 1945, o Brasil viveu sob o Estado Novo, também comandado por Getúlio Vargas. Houve, então, uma ampliação dos poderes do chefe do Executivo Federal, garantida pela constituição de 1937, com normas que restringiam a autonomia dos executivos estaduais, além de instrumentos de intervenção na economia e de controle da vida política. Nesse período, segundo a Biblioteca on line da Folha, do jornal Folha de São Paulo, havia “a existência do culto da personalidade ao ditador, com o funcionamento do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que além de fazer o marketing do ditador, possuía poder de censura em cada publicação de jornais, revistas, livros e radiodifusão. Músicas eram censuradas e até mesmo sambas-enredo.

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A revolução estética proposta pelo movimento modernista de 1922 consolida-se a partir da Revolução de 30. A tensão ideológica de toda a Era Vargas se faz presente na produção cultural. A literatura, por exemplo, é considerada um instrumento privilegiado de conhecimento do ser humano e de modificação da realidade.

Literatura – Poetas como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade e romancistas como José Lins do Rego atingem a maturidade. Surgem novos escritores, como Érico Veríssimo, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Na poesia, de linha intimista, sobressaem Cecília Meireles e Vinícius de Moraes. Mais para o final do Estado Novo destacam-se João Cabral de Melo Neto na poesia de temas regionais, Clarice Lispector, na prosa de ficção, e Guimarães Rosa, um dos mais importantes romancistas brasileiros.

Arquitetura e artes plásticas – Na arquitetura destacam-se Lúcio Costa, que projeta o prédio modernista do Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Rio de Janeiro, e Oscar Niemeyer que, em 1942, planeja em Belo Horizonte o Conjunto da Pampulha. A obra inova nas linhas arquitetônicas e na decoração, feita com azulejos e painéis do pintor Cândido Portinari.

Música e teatro – No teatro, surge o dramaturgo Nélson Rodrigues. Em 1943 ele estréia no Rio de Janeiro a peça Vestido de noiva, que incorpora padrões teatrais revolucionários para a época. A música popular dá um salto de qualidade com o trabalho de compositores como Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Ismael Silva e Ataulfo Alves. Na música erudita, Villa-Lobos compõe as Bachianas brasileiras, unindo Bach e a música folclórica nacional.

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No tempo em que Vargas esteve à frente do país, observamos que o rádio era o mais importante meio de comunicação existente. Além de diferentes ritmos musicais, o rádio também era muito utilizado na divulgação de notícias e também contava com a encenação de novelas que eram acompanhadas por milhares de pessoas.

O samba era o gênero musical mais prestigiado pela população brasileira, que esperava atentamente o lançamento das marchinhas que deveriam fazer grande sucesso durante o carnaval. Nessa época, o carnaval deixava de ser uma manifestação cultural espontânea e informal para, aos poucos, transformar-se em um evento competitivo integrado por várias escolas de samba. Francisco Alves, Mário Reis, Carmem Miranda, Sílvio Caldas e Orlando Silva foram os mais famosos intérpretes de samba dessa época.

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No campo da literatura, observamos que vários dos nossos autores se concentravam em pensar a identidade do povo brasileiro. Os escritores de destaque dessa época enxergavam o Brasil como uma nação composta por diferentes indivíduos e costumes. Por essa razão, a literatura se concentrou na chamada literatura regionalista, que tentava criar personagens e histórias ocorridas em regiões específicas do território brasileiro. Entre os mais importantes autores podemos destacar os nomes de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Érico Veríssimo.

Apesar de todas essas manifestações artísticas de grande riqueza, devemos nos lembrar de que o governo Vargas também limitou a liberdade dos artistas dessa época. Entre os anos de 1937 e 1945, o governo de Vargas proibiu a divulgação e a publicação de qualquer tipo de notícia ou manifestação artística que quisesse criticar o seu governo. Nessa época ele criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, que tinha a tarefa de evitar as manifestações artísticas que falassem mal do governo e investir em propagandas que falassem bem de Vargas.

Dessa forma, entendemos que os quinze anos iniciais de Getúlio Vargas foram marcados por uma série de manifestações culturais e o crescimento dos mais variados tipos de veículo de comunicação. Por outro lado, a censura imposta durante uma parte de seu governo impediu que as manifestações artísticas fossem realmente livres, já que não poderiam criticar o governo ou abordar temas que fossem contrários aos ideais disseminados por Getúlio Vargas no tempo em que esteve à frente do país.

Cultura na Era Vargas O RÁDIO

Sabemos que na Era Vargas surgiram muitas novidades. Durante esse período o rádio era o principal meio de comunicação, que servia para divulgar as notícias e também para as pessoas acompanharem a novela e divulgar os diferentes ritmos musicais da época.

O SAMBAO samba marcou muito essa época, porque era o ritmo que as pessoas mais gostavam e esperavam ansiosos pelas marchinhas que fariam grande sucesso no carnaval. Nesse período o carnaval deixava de ser um evento popular informal, para aos poucos se tornar uma competição entre escolas diferentes.

LITERATURANa literatura os autores se concentravam mais em falar sobre o povo brasileiro. Nessa época os escritores enxergavam o Brasil como um país misto, ou seja, um país com diversidades de raças e costumes. Por causa disso, a literatura brasileira era chamada de regionalista onde os escritores relatavam e criavam histórias ocorridas em diversas regiões do Brasil. Entre os autores mais importantes podemos destacar os nomes de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Érico Veríssimo.

DIP

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Além de todas as manifestações artísticas, Vargas dominava a liberdade dos artistas, pois não permitia que divulgassem coisas ruins sobre seu governo. Por isso ele criou o DIP, que era o Departamento de Imprensa e Propaganda, que tinha o objetivo de não deixar ocorrer manifestações que falassem mal de seu governo e para fazer propagandas falando bem dele. Contudo por um lado, nos quinze anos que Vargas ficou no domínio, houve muitas manifestações culturais, e vários meios de comunicação. E por outro lado, os artistas não tiveram liberdade para se expressarem, pois, eram censurados e reprimidos, se falassem mal do seu governo.

Cultura na Era Vargas

No período de 1930 a 1945, no governo de Getúlio Vargas, a cultura do Brasil apresentava forte influência dos países europeus, que apareciam nos vestuários, nos cortes e penteados dos cabelos e na aquisição de bens de consumo, como o carro.

Todas essas informações chegavam ao país através de pessoas que iam passear ou morar na Europa, mas também através do cinema, que mostrava os valores e costumes das outras nações.

O nacionalismo também estava em evidência, pois Getúlio foi o responsável pela nova Constituição do país.

Um marco do crescimento intelectual do país foi a fundação da Universidade de São Paulo, em 1934, onde os intelectuais moldavam os interesses do Brasil.

Na comunicação, o destaque era para a imprensa do rádio, que passou por um processo de transformação, sendo vista como instrumento de formação cultural. Através dela, as notícias e informações chegavam a boa parte da população. Antes, sua programação era voltada apenas para a música clássica, ópera e textos educativos. Daí surgiram as principais emissoras, como as redes Record, Tupi, Bandeirantes, Mayrink Veiga e Nacional.

Surgiram os programas de auditório, transmitidos ao vivo, onde cantoras e cantores encantavam os ouvintes. Os principais artistas eram Carmem Miranda, Francisco Alves, Vicente Celestino, Dalva de Oliveira, Mário Reis, Orlando Silva, Sílvio Caldas, Emilinha Borba, Ari Barroso, Lamartine Babo, Noel Rosa, dentre outros.

A primeira novela transmitida por uma emissora de rádio foi “Em busca da felicidade”, em 1942, através da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro.

O programa jornalístico transmitido todos os dias, às 19 horas, por todas as emissoras do Brasil, narrava os acontecimentos mais importantes do país, recebia o nome de “Hora do Brasil”. Até hoje, o mesmo programa continua sendo apresentado, porém com o nome de “A Voz do Brasil”.

Getúlio, enquanto ditador, criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), a fim de

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fiscalizar e censurar os ideais políticos e comerciais que fossem contra seu governo, porém, qualquer manifestação favorável à sua pessoa ou administração deveria ser divulgada.

A literatura nesse período fazia referências aos temas regionais, através de livros como: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Menino de Engenho, de José Lins do Rego; O Quinze, de Rachel de Queiroz; Jubiatá, de Jorge Amado; O Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato; além de outros renomeados autores, como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Érico Veríssimo.

Cândido Portinari era o grande nome da pintura, através da obra “Os Retirantes”. A arquitetura sofria uma revolução modernista, com o uso do concreto e do vidro, mais utilizados nos edifícios dos centros das capitais. Daí surgiram as primeiras construções da elite, com vidraças substituindo as paredes externas, a fim de aumentar a iluminação da mesma e permitir a visualização dos jardins.

O futebol se consagrou como diversão familiar, passando do caráter amador para o profissional. Os principais estádios do país eram o São Januário, no Rio de Janeiro, e o Pacaembu, em São Paulo. A partir da Copa do Mundo de 1938, com o Brasil ficando em terceiro lugar, o esporte tornou-se mais popular por aqui.