Cultura: um conceito antropológico

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O conceito de cultura é bastante complexo.Em uma visão antropológica, podemos o definir como a rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um indivíduo, ou seja, a sociedade. Esta rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, etc... também podemos dizer que considerar uma determinada cultura(a cultura ocidental, por exemplo) como um modelo a ser seguido por todos é uma visão extremamente etnocêntrica.

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Mesmo antes da aceitação do monogenismo, os homens se preocupavam com a diversidade

de modos de comportamentos existentes entre diferentes povos. Até mesmo Heródoto(484 -424 a. C.), grande historiador grego preocupou-se com o tema

quando considerou os costumes dos Lícios diferentes de “todas as nações do mundo. Era o único povo que usava o nome da mãe, e não do pai, como referência; um lício, quando perguntado sobre seus ancestrais, enumerava os parentes do lado materno, e os ancestrais femininos da mãe. Se uma mulher livre desposa um homem escravo, seus filhos serão cidadãos integrais, mas se um homem livre desposa com uma estrangeira ou vive com uma concubina,embora seja ele a primeira pessoa do Estado, os filhos não terão qualquer direito á cidadania.

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Ao considerar os costumes dos Lícios, Heródoto estava tomando como referência a sua própria sociedade patrilinear, agindo de uma maneira etnocêntrica, embora ele próprio tenha teoricamente renegado esta postura ao afirmar: “Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes do mundo, aqueles que lhes parecessem melhor, eles examinariam a totalidade e acabariam preferindo os seus próprios costumes, tão convencidos estão de que estes são os melhores do que todos os outros”.

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Desde a antiguidade, foram comuns as tentativas de explicar as diferenças de comportamentos entre homens, a partir das variações dos ambientes físicos.

Marco polo, o legendário viajante italiano que visitou a China e outras partes da Ásia, entre os anos 1271 e 1296, descreveu que os Tártaros têm casas singulares, de madeira e cobertas de feltro, que levam consigo onde vão. Suas mulheres compram, vendem e fazem tudo o que é necessário para seus maridos e suas casas. Os homens não têm de se preocupar com coisa alguma, exceto a caça, a guerra e a falcoaria.

Marcus Vitrúvio Polio, arquiteto romano, afirmou enfaticamente: Os povos do

Sul têm uma inteligência aguda devido a raridade da atmosfera e ao calor; enquanto os das nações do Norte, tendo se desenvolvido numa atmosfera densa e esfriada pelos vapores dos ares carregados, têm uma inteligência preguiçosa.

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Para se constatar a existência dessas diferenças não precisamos,

necessariamente, retornar ao passado, basta comparar os costumes de nossos contemporâneos no chamado mundo civilizado.

Esta comparação pode começar pelo sentido do trânsito na Inglaterra,

diferentemente de muitos outros países; pelos hábitos culinários franceses, onde rãs e escargots(capazes de causar repulsa a muitos povos) são considerados como iguarias, até outros usos e costumes que chamam a atenção para diferenças culturais.

No Japão, por exemplo, era costume que o devedor insolvente praticasse o suicídio na véspera de ano novo, como uma maneira de limpar seu nome e o de sua família.

O haraquiri(suicídio ritual) sempre foi considerado como uma forma de heroísmo. Tal costume justificou o aparecimento dos “pilotos suicidas” durante a Segunda Guerra Mundial.

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Não é necessário ir tão longe, nesta seqüência de exemplos que poderia se estender infinitamente; basta verificar que em algumas regiões do Norte do Brasil a gravidez é considerada como uma enfermidade, e o ato de parir é denominado “descansar”. Esta mesma expressão é utilizada no Sul do País para se referir à morte(fulano descansou, isto é, morreu).

Enfim, todos estes exemplos servem para mostrar que as diferenças

de comportamentos entre os homens não podem ser explicadas através das diversidades somatológicas ou mesológicas.

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“A NATUREZA DO HOMEM É A MESMA, SÃO SEUS HÁBITOS QUE OS MANTÊM SEPARADOS”.

(Confúcio, filósofo chinês)

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O AMBIENTE FÍSICO E AS CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS SÃO OS FATORES PRINCIPAIS NA CRIAÇÃO DA CULTURA

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AFIRMA QUE O AGIR HUMANO É DETERMINADO POR

VARIAÇÕES BIOLÓGICAS

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• O transporte de água no Xingú

• O Exército de Israel

• O quadro de funcionários do Banco do Brasil

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ENDOCULTURAÇÃO

Quando o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, ou seja, um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada.

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• A primeira definição de cultura que foi formulada do ponto de vista antropológico pertence a Edward Tylor, no primeiro parágrafo de seu livro Primitive Culture (1871). Tylor procurou, além disto, demonstrar que cultura pode ser objeto de um estudo sistemático, pois trata-se de um fenômeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capaz de proporcionar a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução.

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O seu pensamento pode ser mais bem compreendido a partir da

leitura deste seu trecho:

• Por um lado, a uniformidade que tão largamente permeia entre as civilizações pode ser atribuída em grande parte a uma uniformidade de ação de causas uniformes, enquanto, por outro lado, seus vários graus podem ser considerados como estágios de desenvolvimento ou evolução... (TYLOR, 1871 [1958, parte I, p.1]).

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“A MENTE HUMANA É COMO UMA CAIXA VAZIA POR OCASIÃO DO NASCIMENTO, DOTADA DE UMA CAPACIDADE ILIMITADA DE OBTER

CONHECIMENTOS.”JOHN LOCK séc.XVI

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A CULTURA É UMA LENTE ATRAVÉS DA QUAL O HOMEM VÊ O MUNDO. HOMENS DE CULTURA DIFERENTES USAM LENTES

DIVERSAS.

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• Alfred Kroeber (1876-1960), antropólogo americano, em seu artigo "O super orgânico" mostrou como a cultura atua sobre o homem, ao mesmo tempo em que se preocupou com a discussão de uma série de pontos controvertidos, pois suas explicações contrariam um conjunto de crenças populares. Iniciou, como o titulo em seu trabalho indica, com a demonstração de que graças à cultura, a humanidade distanciou-se do mundo animal. Mais do que isto, o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas

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A contribuição de Kroeber para a ampliação do conceito de cultura pode ser relacionada nos seguintes pontos:

• 1. A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações.

• 2. O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou.

• 3. A cultura é o meio de adaptação aos diferentes ambientes ecológicos. Em vez de modificar para isto o seu aparato biológico, o homem modifica o seu equipamento superorgânico.

• 4. Em decorrência da afirmação anterior, o homem foi capaz de romper as barreiras das diferenças ambientais e transformar toda a terra em seu hábitat.

• 5. Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que a agir através de atitudes geneticamente determinadas.

• 6. Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, é este processo de aprendizagem (socialização ou endoculturação, não importa o termo) que determina o seu comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.

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• 7. A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.

• 8. Os gênios são indivíduos altamente inteligentes que têm a oportunidade de utilizar o conhecimento existente

ao seu dispor, construído pelos participantes vivos e mortos de seu sistema cultural, e criar um novo objeto ou uma nova técnica. Nesta classificação podem ser incluídos os indivíduos que fizeram as primeiras invenções, tais como o primeiro homem que produziu o fogo através do atrito da madeira seca; ou o primeiro homem que fabricou a primeira máquina capaz de ampliar a força muscular, o arco e a flecha, etc. São eles gênios da mesma grandeza de Santos Dumont e Einstein. Sem as suas primeiras invenções ou descobertas, hoje consideradas modestas, não teriam ocorrido as demais. E pior do que isto, talvez nem mesmo a espécie humana teria chegado ao que é hoje.

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O HOMEM É O ÚNICO SER POSSUIDOR DE CULTURA

• A GRANDE QUALIDADE DA ESPECIE HUMANA,FOI A DE ROMPER COM SUAS LIMITAÇÕES :UM ANIMAL FRÁGIL PROVIDO DE INSIGNIFICANTE FORÇA FISÍCA,DOMINOU A NATUREZA,SE TRANSFORMOU NO MAIS TERRIVEL DOS PREDADORES.SEM ASAS DOMINOU OS ARES;SEM GUELRAS OU MEMBRANAS CONQUISTOU OS MARES.TUDO ISSO PORQUE POSSUI CULTURA, PODE TRANSMITIR O QUE SABE AOS SEUS DESCENDENTES.

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• Segundo Laraia(Antropólogo e historiador brasileiro) A cultura serve como uma lente, e que nós a utilizamos para ver e interpretar o mundo.

• Essa afirmação é coerente se tomarmos como exemplo a cultura árabe, quando se faz referência ao costume da poligamia, o homem tem direito de tomar mais de uma mulher como esposa, diferente do ocidente, terra baseada na monogamia, tendemos a considerar o costume árabe absurdo.

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• É possível distinguir indivíduos de culturas distintas por características como “modo de agir, caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças lingüísticas”, isso somente observando. Para nós é comum crermos que temos particularidades no comportamento, mas para uma pessoa de outra cultura, nos comportamentos exatamente da mesma forma. É notável que existam diferenças na constituição e na construção da cultura, o que foi alvo de tentativas de explicações.

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A CULTURA INTERFERE NO PLANO BIOLÓGICO:

• A diversidade dos aspectos biológicos é influenciade pelas experiências e disseminação da cultura. Sentimentos de apatia, determinações de necessidades vitais e até mesmo as doenças psicossomáticas são fortemente influenciadas pelos padrões culturais.

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As diferenças culturais são percebidas em nossos hábitos costumeiros como higiene pessoal, alimentação, etc...

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• As crenças populares também são marcantes no comportamento de um povo. O fato de acreditar que “feitiçarias” possam atingir negativamente um indivíduo e serem consideradas a causa de doenças, assim como a crendice na cura de enfermidades por meio somente da fé, caracteriza um comportamento singular de um grupo social.

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A CULTURA É DINÂMICA

O autor justifica esse pensamento traçando um paralelo entre os hábitos das formigas saúva e os costumes dos índios há quatro séculos, onde se alguém tivesse registrado os hábitos das formigas e dos índios há quatro séculos e verificasse as possíveis mudanças hoje, perceberia que os hábitos das formigas continuariam os mesmos, mas que os costumes dos índios com ou sem isolamento, teria mudado. Laraia explica: o espaço de quatro séculos de vista antropológico seria suficiente para demonstrar que a referida sociedade indígena mudou, por que os homens, ao contrário das formigas, têm a capacidade de questionar seus próprios hábitos e modificá-los.

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O autor completa dizendo que, o que mudaria, do ponto de vista de um antropólogo, seria o ritmo da mudança, que no caso de uma sociedade isolada seria mais lento. Desta forma, percebe-se que a mudança nos hábitos humanos, ou seja, o dinamismo da cultura é inevitável, o que é discutível é o ritmo em que ela ocorre e os fatores influenciantes para tal mudança.

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RELIGIÃOA palavra religião vem do latim religio, formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular). A religião é um vínculo. Quais as partes vinculadas? O mundo Profano e o mundo Sagrado, isto é, a natureza (água, fogo,ar, animais, plantas, astros, pedras, metais, terras, humanos). E as dinvindades que habitam a natureza ou um lugar separado da natureza.

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Nas várias culturas, essa ligação é simbolizada no momento de fundação de uma aldeia, vila ou cidade: o guia religioso traça figuras no chão (círculo, quadrado, triângulo) e repete o mesmo gesto no ar (na direção do céu ou do mar, da floresta, ou do deserto). Esses dois gestos delimitam um espaço novo, SAGRADO (NO AR), e CONSAGRADO (NO SOLO). Nesse novo espaço erguem-se o SANTUÁRIO (em latim, templum, "tempo") e a sua volta os edifícios da nova comunidade.