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    Montes Claros/MG - 2015

    Ângela Cristina BorgesLetícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha

    Culturas e TradiçõesReligiosas

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    2015

    Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

    EDITORA UNIMONTESCampus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089

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    João dos Reis Canela

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    DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕESJânio Marques Dias

    EDITORA UNIMONTESConselho ConsultivoAntônio Alvimar SouzaCésar Henrique de Queiroz PortoDuarte Nuno Pessoa VieiraFernando Lolas StepkeFernando Verdú Pascoal

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    CONSELHO EDITORIALÂngela Cristina BorgesArlete Ribeiro NepomucenoBetânia Maria Araújo PassosCarmen Alberta Katayama de Gasperazzo

    César Henrique de Queiroz Porto

    Cláudia Regina Santos de AlmeidaFernando Guilherme Veloso QueirozLuciana Mendes OliveiraMaria Ângela Lopes Dumont MacedoMaria Aparecida Pereira QueirozMaria Nadurce da SilvaMariléia de SouzaPriscila Caires Santana AfonsoZilmar Santos Cardoso

    REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESACarla Roselma Athayde MoraesWaneuza Soares Eulálio

    REVISÃO TÉCNICAKaren Torres C. Lafetá de AlmeidaKáthia Silva GomesViviane Margareth Chaves Pereira Reis

    DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAISAndréia Santos DiasCamilla Maria Silva RodriguesSanzio Mendonça HenriquesWendell Brito Mineiro

    CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDOCamila Pereira GuimarãesJoeli Teixeira AntunesMagda Lima de OliveiraZilmar Santos Cardoso

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    Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/

    UnimontesMaria das Mercês Borem Correa Machado

    Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/UnimontesAntônio Wagner Veloso Rocha

    Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/UnimontesPaulo Cesar Mendes Barbosa

    Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/UnimontesMariléia de Souza

    Chefe do Departamento de Educação/UnimontesMaria Cristina Freire Barbosa

    Chefe do Departamento de Educação Física/UnimontesRogério Othon Teixeira Alves

    Chefe do Departamento de Filosofia/UnimontesAlex Fabiano Correia Jardim

    Chefe do Departamento de Geociências/UnimontesAnete Marília Pereira

    Chefe do Departamento de História/UnimontesClaudia de Jesus Maia

    Chefe do Departamento de Estágios e Práticas EscolaresCléa Márcia Pereira Câmara

    Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas EducacionaisHelena Murta Moraes Souto

    Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/UnimontesCarlos Caixeta de Queiroz

    Ministro da Educação

    Cid Gomes

    Presidente Geral da CAPESJorge Almeida Guimarães

    Diretor de Educação a Distância da CAPESJean Marc Georges Mutzig

    Governador do Estado de Minas GeraisFernando Damata Pimentel

    Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino SuperiorVicente Gamarano

    Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - UnimontesJoão dos Reis Canela

    Vice-Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros -UnimontesAntônio Alvimar Souza

    Pró-Reitor de Ensino/UnimontesJoão Felício Rodrigues Neto

    Diretor do Centro de Educação a Distância/UnimontesFernando Guilherme Veloso Queiroz

    Coordenadora da UAB/UnimontesMaria Ângela lopes Dumont Macedo

    Coordenadora Adjunta da UAB/UnimontesBetânia Maria Araújo Passos

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    Autoras

    Ângela Cristina Borges

    Mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,atualmente doutorando-se na mesma área e universidade. É professora do curso deCiências da Religião da Unimontes e coordenadora do curso de Ciências da ReligiãoUAB/Unimontes. É tutora do Programa de Educação Tutorial de Ciências da Religião

    PETCRE-Unimontes/CAPES onde orienta projetos na área.

    Letícia Aparecida Ferreira Lopes RochaGraduada em Ciências da Religião pela Unimontes

    Pós-graduação em Neuropsicologia Educacional e Ciências da Religião.Professora de Educação Religiosa na Educação Básica.

    Professora formadora e conteudista UAB-Unimontes

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    Sumário

    Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    Conceituação de Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    1.2 Colônia, Culto e Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    1.3 Cultura Erudita e Cultura Popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    1.4 Cultura Popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14

    1.5 Estudos Culturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

    Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18

    Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    O Fenômeno Religioso e suas Instituições no Substrato das Culturas: Direito, Política eEducação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19

    2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    2.2 Secularização-Conceito e suas Implicações na Vida da Sociedade. . . . . . . . . . . . . . . . .19

    R e f e r ê n c i a s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 6

    Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

    Procissões e Peregrinações no Mundo e no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

    3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

    3.2 Procissões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27

    Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

    R e s u m o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5

    Referências Básicas, Complementares e Suplementares. . . . .37

    Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

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    Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas

    ApresentaçãoPrezados cursistas, apresentamos o caderno didático cuja temática é Culturas e tradições

    religiosas. O material está estruturado em três unidades, onde, em cada uma dessas, estaremosdesenvolvendo assuntos atinentes ao tema geral.

    Vamos entrar em contato com o tema da cultura e suas peculiaridades no cerne da socie-dade, entraremos em contato com o conceito e as formas de culturas e, também, os estudosculturais empreendidos após a Segunda Guerra, que culminaram numa nova forma de conce-ber o termo. Nesse sentido, veremos os estudos acerca de cultura que foram estabelecidos napós-modernidade. Após, veremos o fenômeno religioso em relação com algumas instâncias dasociedade que nos propomos a verificar, mas, antes de entrar nessas categorias, faremos um rá-pido passeio pelo conceito de secularização, pois nos parece importante uma olhada sobre essefenômeno que é a secularização. Para encerrar, discutiremos sobre as procissões e peregrinaçõesque ocorrem no Brasil e também, em várias partes do mundo.

    Caros cursistas, podem ver que os temas deste caderno em muito contribuirão para a for-

    mação de cientistas da religião e como docente da disciplina Educação Religiosa, uma vez que ostemas abordados neste estudo são atuais e fazem parte do cotidiano.

    Tenham bons estudos!

    As autoras.

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    Ciências da Religião - Culturas e Tradições Religiosas

    UNIDADE 1Conceituação de Cultura

    Ângela Cristina Borges

    1.1 IntroduçãoÉ sabido que a Ciência da Religião tem como seu objeto o fenômeno religioso. O que a di-

    fere dos aportes teológicos na abordagem sobre tal fenômeno é o fato de “ler” o que é passívelde ser verificado, ou seja, o fenômeno tal qual ele aparece. Outra diferença entre a Teologia e aCiência da Religião é que toda teologia traz suas afirmações sobre o sagrado e a religião a qual

    sustenta teoricamente, um conceito de religião. Sobre o conceito de religião, no senso comum,é comum ouvirmos que, para sermos politicamente corretos, ou demonstrarmos atitudes maistolerantes, usarmos pelo menos três conceitos. Ora, isso se aplica ao senso comum, àquele quenão possui atitudes científicas diante da(s) religião(ões) não serve para a Ciência da Religião. Po-demos dizer que, para a abordagem científica, é preciso ter claro que religião é sistema cultural,é produção do homem, produção resultante da sua vivência, de ser homem no mundo e para omundo. É claro que, uma vez compreendido que religião é um sistema cultural, cada cientista dareligião, a partir da sua tendência na abordagem religiosa, pode e deve apresentar o conceito dereligião que a teologia da religião que investiga possui. Mas também deve deixar claro que este éapenas um dos muitos conceitos e, de modo nenhum, pode ser comprovado como o verdadeiro.

    Nesta parte, apresentaremos os conceitos de cultura que historicamente foram construídos,e o conceito que se colocou como aceito a partir de meados do século XX. Terminaremos estaparte retomando o conceito de religião já contemplado no caderno didático Introdução à Ciên-cia da Religião.

    1.2 Colônia, Culto e CulturaAlfredo Bossi inicia seu livro A Dialética da Colonização (1992), demonstrando a importância

    da linguagem enquanto espaço onde os fenômenos deixam marcas. Ele chama a atenção paraas palavras: cultura, culto e colonização enquanto derivadas do mesmo verbo: colo. O sentidobásico desta palavra é Tomar conta de. Colo tem como particípio passado a palavra cultus e comoparticípio futuro a palavra culturus (BOSSI, 1992, p.11). Em Roma, continua o autor , colo se referia

    à ação de ocupar a terra, o que, por extensão, significava trabalho no campo, cultivo o campo. Aexpressão colo denota algo em trânsito, movimento que passa o agente da terra para o objetoterra e desta palavra surgiu o conceito de colônia, ou seja, espaço onde se está “ocupando a terraou povo que se pode trabalhar e sujeitar” (BOSSI, 1992, p.11). Daí surgir também o significado decolonus, aquele “que cultiva uma propriedade rural em vez do seu dono” (BOSSI, 1992, p.11). Nadominação colo toma onde Tomar conta de toma o sentido de cuidar, mandar.

    A palavra cultus era atribuída ao campo que já fora plantado, a terra que se lavrou, seu femi-nino, culta, tem sentido cumulativo, a terra que se cuidou, cultivando e desenvolvendo tarefasassociadas ao cultivo. Culta torna a palavra cultus mais complexa, com sentido mais denso, poisultrapassa o ato presente ao ser cumulativo, ou seja, naquele campo, naquela terra ocorreraminúmeros atos para o plantio durante anos. Nesse sentido, a relação à luta e ao labor entre o su- jeito e seu objeto, a terra, se encerram na palavra cultus que é “sinal de que a sociedade que pro-

    duziu seu alimento já tem memória” (BOSSI, 1992, p.13). No mesmo signo cultus, o que foi, o quese passou e o que se passa se encerram.Enquanto substantivo, cultus, us, significava também o culto aos mortos, primeira expressão

    de religião, chamamento daqueles que se foram. Reforça este significado o fato de a terra for-

    DICA

    Sobre os diversos con-

    ceitos de religião, reto-me o Caderno DidáticoIntrodução à Ciência daReligião.

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    necer o alimento e para onde os mortos são encaminhados pelos outros homens. É fato que ohomem associava os espíritos dos seus antepassados ao cultivo da terra, os antepassados eramconsiderados como cooperadores no processo de produção de alimentos. A terra é, ao mesmotempo, o solo de onde germinam as plantas para o sustento, e o solo que recebe os mortos. Oculto à fertilidade para garantir a produção certamente foi importante no neolítico, período emque o homem já enterrava seus mortos. Figuras talhadas em pedra deste período foram encon-

    tradas com seus órgãos genitais acentuados, indicando a associação destes com a fertilidade.Bosi amarra os dois significados de cultus: cultus nome-verbo que indica o

    ser humano preso à terra e nela abrindo covas que o alimentam vivo e abrigammorto. Cultus: o que foi trabalhado sobre a terra; cultivado; cultus: o que trabalhasob a terra; culto; enterro dos mortos; ritual feito em honra dos antepassados(BOSI, 1992, p.14).

    Segundo Bosi (1992, p.14), a possibilidade de atrelar ao passado a experiência atual de umasociedade se faz pelas mediações simbólicas como a dança, o rito, a oração, a palavra que evo-ca e que invoca, “no mundo arcaico tudo isto é fundamentalmente religião, vínculo do presen-te com o outrora-tornado-agora”, aqui religião surge como o “laço da comunidade com as forçasque a criaram em outro tempo”.

    O futuro de colo  é cul-turus, “o que se vai trabalhar, o que se quer cultivar” (BOSSI, 1992,p.15). Enquanto substantivo, o termo se refere ao trabalho no solo, a agri-cultura, ao trabalho nohomem desde a infância (educação). Lembra Bosi que

    seu significado mais geral conserva-se até os nossos dias. Cultura é o conjuntodas práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir àsnovas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social.A educação é o momento institucional marcado do processo (BOSSI, 1992, p.15).

    Cultura sugere consciência de grupo ativa que retira do presente os planos para o futuro,cultura enquanto projeto.

    Dessa forma, a palavra cultura está associada à ideia de cuidado com a terra, educação ememória. A terminação “urus” insinua a ideia de porvir, de acordo com Bosi, nas

    sociedades densamente urbanizadas cultura foram tomando também o sentidode condição de vida mais humana, digna de almejar-se, termo final de um pro-cesso cujo valor é estimado [...] por todas as classes e grupos (BOSSI, 1992, p.15).

    Dessa forma, é vista nestas sociedades como ideal de status e em Roma é associada à Pai-déia. No século XVIII, a noção de cultura se articula com as teorias de evolução social e cultura évislumbrada enquanto oposta à natureza e, equivocadamente, associada àqueles que possuema educação institucional. Homem com cultura é o homem que estudou. Sem estudo, o homemnão tem cultura. Essa noção acirrou e demarcou as diferenças sociais e, de certa forma, indicavao “homem superior” e o “homem inferior”. Apesar de esta noção tomar conta do senso comum, opensamento filosófico produzido durante o Iluminismo apresentava a ideia de cultura enquantoresultante da formação humana, o produto desta formação, o modo de viver e pensar, a forma-

    ção coletiva de um grupo social a partir de suas instituições permanecendo a ideia de movimen-to, de porvir e de futuro.

    A ideia de cultura a partir do senso comum permaneceu durante muito tempo em muitasinstâncias, mas permaneceu também enquanto produção humana cumulativa e memória. Aspalavras  colo  e cultus, e o que elas evocam, ainda são vivas dentro do termo cultura, gerandovisões de dominação como também visões que rompem com qualquer forma de totalitarismo.

    Durante o colonialismo iniciado no século XVI, ou seja, com a Modernidade, percebe-se queo significado mais forte da palavra colo é Tomar conta de, mandar com a ideia de que o povo queocupa a terra tem que se sujeitar. Aliado a isso a ideia de que quem tem a educação institucio-nalizada é superior. Tudo isso auxiliou na emergência do autorrelato europeu, ou seja, a ideia deque a cultura europeia é superior a todas as outras culturas.

    O Império Britânico surge como a personificação da superioridade mundial. Dona de quasetodo o território habitado do planeta, a Inglaterra serve enquanto civilização modelo, ou seja, en-quanto Outro a quem todos os Outros devem reverenciar e copiar e assim tornarem-se mesmos/outros. A sujeição à forma de vida europeia praticamente significava sujeição ao modo de vidainglês e, depois, aos modos de vida inglês e francês. Dentro da própria Inglaterra, a diferença so-

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    cial fazia-se realidade, a noção de cultura intrínseca à educação estabelecia diferenças entre osingleses instruídos em uma escola e os ingleses sem instrução escolar. A diferença acirra-se aindamais com o advento do capitalismo na forma industrial. Com a Revolução Industrial e a urbaniza-ção, surgiu a classe operária considerada pela academia e setores mais altos da sociedade britâ-nica como dotada de cultura inferior. Estabelecem-se diferenças entre o que a elite produzia e oque as classes baixas produziam. Esta diferença é vislumbrada no binômio Alta Cultura e Cultura

    de Massa. Alta cultura era toda a produção e memória aristocrata, cultura de massa eram a pro-dução e memória operária.

    1.3 Cultura Erudita e CulturaPopular

    A palavra erudita é utilizada para designar amplo conhecimento adquirido pela leitura econhecimentos de história do mundo. A cultura erudita é a cultura produzida pela elite social,

    econômica, política e cultural de uma sociedade. Seu conhecimento provém do conhecimentocientífico, dos estudos e pesquisas universitárias, da cultura universitária e dos estudos gerais.Em geral, esta cultura está associada ao conhecimento da arte e sua difícil interpretação.

    Em função de necessitar de longos anos de instrução e hábitos de leitura, a cultura eruditaacaba sendo mais sofisticada, mais bem elaborada pelo intelecto humano.

    Centrada nas academias, ou seja, nas universidades, acaba sendo uma cultura produzida porintelectuais das mais variadas áreas e saídos da classe média e classe alta. Dessa forma, acaba es-tando associada à elite. Nos tempos atuais, o fato de pertencer à cultura da elite, a cultura eruditaestá subordinada ao capital, pois é este que viabiliza que, de possibilidade, torne-se real. Enquan-to cultura que exige estudo e este exige tempo e financiamento não pode ser uma cultura damaioria.

    GLOSSÁRIO

    Paidéia: termo advindodo grego, que se refereao sistema de educaçãoe formação educacionaldas culturas grega ehelenistas greco-roma-na, que incluía váriastemáticas, como:matemática, filosofia,história, entre outras.

    Figura 1: OrquestraBallet.

    Fonte: Disponível em. Acessoem 25 out. 2014.

    Figura 2: OrquestraBeethoven.

    Fonte: Disponível em. Acessoem 25 out. 2014.

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    1.3.1 Cultura Universitária

    No Brasil, até meados dos anos 40, a vida cultural acontecia fora das universidades. Sarausde poesia, recitais de piano e violino, peças de teatro e óperas faziam parte do lazer da nossa eli-te social. O povo produzia cultura, promovendo saraus de poesia, rodas de viola e saltimbancos.

    Nesses espaços, observavam-se, respectivamente, a erudição e o popular.Com a implantação da Universidade, esta absorve a vida intelectual profissionalizando-a e,de certa forma, contribuindo para o gradativo desaparecimento dos eventos culturais antes cor-riqueiros.

    A cultura universitária, de acordo com Bosi (1992, p. 309), é meta prioritária dos jovens dasclasses alta e média deste país. Sua força é espantosa, é ela que está nas carreiras burocráticas doBrasil.

    Nessa perspectiva, vale a pena ressaltar sobre as tendências desta cultura que se reflete navisão de mundo da sociedade brasileira e acaba por influenciar todas as outras instituições. Sãoelas:

    1. Decréscimo dos estudos humanísticos tradicionais (Grego, Latim, Filologia, Francês) quelevaram ao desaparecimento de uma formação clássica anteriormente presente no EnsinoMédio, que contribuía principalmente para a carreira religiosa e para a magistratura. Comoconsequência, acabou a relação íntima entre cultura clássica e status social e perda da ca-pacidade de interpretação histórica concreta. O relativismo se instaura. Lê-se o que não po-deria estar historicamente no texto, isto é, não se lê o que historicamente está presente notexto e isso é uma grande desvantagem científica, pois falta rigor metodológico. Por outrolado, procura-se ver no texto e seu passado algo inteligível para interpretar o presente, in-clusive textos que não eram interpretados, por se acreditar que não havia erudição possívelpara isso.

    2. A substituição da Geografia Geral, História Geral, História do Brasil e Geografia do Brasil peladisciplina Ciências Sociais, que foram sendo apartadas do seu lugar no curso secundário. Talsubstituição acarretou também uma acirrada competição no mercado de trabalho entre li-cenciados e bacharéis em Ciências Sociais e historiadores e geógrafos.

    3. Diminuição do espaço da disciplina Filosofia no Ensino Médio e nos cursos de graduação. Du-

    rante duas décadas, esta disciplina desaparece dos currículos escolares. Enquanto reflexãoteórica e crítica, capaz de levar ao entendimento da significação das ciências da natureza, dasciências humanas, do movimento da cultura e das ideologias que nela emergem, a Filosofiaé expulsa da formação do adolescente, homem biologicamente impulsionado à busca e in-quietações. O desinteresse político, ético e moral é a grande consequência desta tendênciada Universidade brasileira. Este é considerado o maior golpe à educação brasileira.

    4. Exclusão do Francês e crescimento do Inglês, em função do domínio econômico dos Esta-dos Unidos. Para as Faculdades de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, tal exclusão foi umgrande golpe, em função de as traduções em inglês não serem da mesma qualidade que astradições em inglês. Uma cultura letrada humanística sem o Francês equivale a uma culturaclássica sem o latim.

    5. O vestibular unificado orientou nossas escolas a um ensino meramente informativo, dimi-

    nuindo o espaço para o axiológico.Tais tendências estão presentes em nossa sociedade e possui seus reflexos não apenas nauniversidade. Devemos lembrar que a força reprodutora desta instituição é absurda e se refletemnas outras instituições sociais. E na cultura.

    1.4 Cultura PopularA cultura popular não está associada ao conhecimento científico. O conhecimento produ-

    zido nesta cultura é o conhecimento do senso comum produzido no dia a dia, de forma espon-tânea, pelo povo, em geral as classes excluídas. Simultaneamente ligada às tradições e às ino-vações, a cultura popular traz uma ambiguidade sedutora. Grandes eventos como o carnaval,considerado mecanismo de conservação da cultura popular é custeado pelos setores sociaismais altos.

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    Em geral, seus conhecimentos não alcançam a legitimidade institucional, a exemplo da cul-tura erudita que é transmitida nas escolas. Outra diferença se deve ao fato de os produtores dacultura popular não terem a consciência de que o que fazem é cultura popular e os produtoresda Já cultura erudita, em geral os intelectuais, possuem a consciência de que o que os produ-tores da cultura popular fazem é cultura popular. São os eruditos que investigam e estudam acultura popular.

    Podemos elencar como cultura popular, além do carnaval, o congado, festas regionais, fes-tas juninas, etc.

    O interessante na cultura popular é que ela retrata aidentidade do povo, seu ethos, isto é, sua visão de mundo e

    sentido da vida. Então, é possível vislumbrar pela cultura po-pular as crenças, os anseios e entendimento que o homemtem da vida, do mundo e até mesmo sua concepção de trans-cendente. É possível ver na cultura popular, inclusive, a desobediência institucional do homem,no que se refere à moral, à educação e à religião. O homem do povo produz cultura a partir doseu entendimento do mundo, do que percebe como verdade, o que rejeita e o que realmentevaloriza. Em muitas festas populares, é possível ao homem contradizer as instituições. Há santosque o catolicismo não reconhece, mas que são reconhecidos pelo homem em eventos popula-res, como o caso de Padre Cícero em Juazeiro do Norte.

    Figura 3: Carnaval

    Fonte: Disponível em . Acesso em 25out. 2014.

    Figura 4: Catopês

    Fonte: Disponível em . Aces-so em 25 out. 2014.

    Figura 5: Catopês

    Fonte: Disponível em .Acesso em 25 out. 2014.

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    Como visto anteriormente, a cultura produzida pelos setores populares foi historicamenteconsiderada inferior. Diferente e, em alguns aspectos, divergente da cultura Erudita, a cultura

    produzida pelo povo sempre sofreu discriminação e preconceito.Agora, veremos como gradativamente, esta situação se modifica.

    1.5 Estudos CulturaisComo dito anteriormente, a separação entre cultura produzida pelo povo e a cultura produ-

    zida pela elite social levou ao preconceito em relação à cultura popular. No entanto, esta situaçãomudou, de forma que a cultura popular hoje se coloca também como relevante, pois erudição ounão tudo é produção humana, tudo é cultura. Vejamos como isso se deu nas academias.

    Uma movimentação intelectual pós-guerra surge no panorama político da Inglaterra emmeados do século XX. Um aspecto a ser observado neste movimento foi a emergência de umarevolução na teoria cultural em função das problematizações em torno do termo e do significadode cultura. Ocorreu uma reorganização do campo das relações culturais em decorrência do im-pacto no capitalismo do surgimento de novas formas culturais: TV, publicidade, jornais e revistasde grande tiragem e circulação, a música rock. Como consequência do surgimento destas novasformas culturais, podemos apontar a perda do poder cultural das elites. Outra causa foi o colapsodo Império Britânico cujo mapa territorial diminui, revirando o imaginário social da Inglaterra.Muitas colônias inglesas proclamam sua independência desmistificando a Inglaterra enquantopaís que possui uma civilização superior. A ideia de superioridade cultural, progressivamente, vaicaindo nas academias e, posteriormente, nas escolas e outras instituições inglesas e no mundo.Podemos afirmar que, antes desta revolução cultural, havia uma visão etnocêntrica e eurocêntri-ca da cultura. Era clara a distinção entre alta cultura e cultura de massa, entre cultura burguesa ecultura operária, entre cultura erudita e cultura popular. Apesar da distinção, o termo cultura seaplicava primordialmente à alta cultura, cultura burguesa e cultura erudita.

    Nesta visão, o termo cultura significa máxima expressão do espírito humano. Estado culti-vado do espírito (visão essencialista do homem). Para Arnold (2006), cultura é o melhor que se

    Figura 6: ImagemPadre Cícero

    Fonte: Disponível em. Acesso em

    25 out. 2014.

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    pensou e disse no mundo, cultura de massa, cultura operária e cultura popular eram vistas comoexpressões menores e sem relevância no cenário elitista dos séculos XVIII, XIX e XX. Harmonia ebeleza eram prerrogativas de uma cultura verdadeira: a alta cultura, a cultura burguesa e a cultu-ra erudita. As culturas popular, operária e de massa pertenciam à classe trabalhadora vista comobárbara, ignorante e anárquica. Nessa concepção, somente a “verdadeira” cultura poderia apazi-guar os ânimos desta classe.

    Diante do crescimento das culturas popular, operária e de massa, defensores da “verdadei-ra cultura” no século XX, pretenderam fazer frente ao suposto “declínio cultural”, à padronizaçãoda cultura e ao nivelamento por baixo. Movimentos em prol de uma universidade e escolas queatuariam em defesa da “verdadeira cultura” surgiram como forma de ensinar crianças e adultos aresistirem à cultura de massa.

    Para Arnold (2006), cultura é uma expressão clássica do pensamento não igualitário. Este au-tor defende a criação de uma cultura nacional homogênea para controlar a ameaça de violência,se fosse mantida a heterogeneidade cultural dos grupos minoritários. A proposta contribui paraum projeto de modernidade europeia que reconhece e nega existência da heterogeneidade lin-guística e cultural dentro de uma mesma nação. Em resumo, havia uma visão deste estudioso dacultura é preconceituosa, impregnada de distinções, hierarquias e elitismos segregacionistas. Acultura era vista como domínio exclusivo da erudição, da tradição literária e artística, de padrõesestéticos elitizados.

    1.5.1 Surgimento dos Estudos Culturais como Fator de Mudança naConcepção de Cultura

    Após as duas guerras, parte do mundo encontrava-se em momento de questionamentos deideologias, da relação entre nações ricas e pobres, das formas de dominação e, na academia dasepistemologias dominadoras. O choque bélico, os milhões de mortos chamam a atenção para oconceito elitista de cultura. Será que esta pode ser conceituada a partir de pressupostos onde adominação é considerada um paradigma a partir do qual sociedades devem ser construídas?

    Os E. C. surgem em meio à movimentação de grupos insatisfeitos com a ausência de demo-cracia e com a falta de acesso à educação pela classe popular. Tais grupos buscam se apropriarde instrumentos conceituais, de saberes que emergem de suas leituras de mundo, repudiandoconceitos e visões de mundo que se interpõem aos anseios por uma cultura democrática, assen-tada na educação de livre acesso. Uma educação em que as pessoas comuns pudessem ter seussaberes valorizados e seus interesses contemplados.

    Dessa forma, os Estudos Culturais fazem frente, desde seu início, às tradições elitistas quepersistem na distinção e hierarquia entre cultura erudita e popular, alta cultura e cultura de mas-sa, cultura burguesa e cultura operária.  Cultura  transmuta-se de um conceito impregnado dedistinção, hierarquia e elitismos segregacionistas para, gradativamente, deixar de ser domínio ex-clusivo da erudição, da tradição literária e artística, de padrões estéticos elitizados e passa a con-templar, também, o gosto das multidões. No plural – culturas – e adjetivado, o conceito incorpo-ra novas e diferentes possibilidades de sentido. É assim que podemos nos referir, por exemplo, à

    cultura de massa, típico produto da indústria cultural ou da sociedade techno contemporânea,bem como às culturas juvenis, à cultura surda, à cultura empresarial, ou às culturas indígenas, ex-pressando a diversificação e a singularização que o conceito comporta. Cultura deixa de ser algoque separa pessoas, grupos, etnias e passa a ter um sentido mais amplo.

    Torna-se um conceito diversificado e, de certa forma, fragmentado. Qualquer grupo produzcultura, que é expressão de ser humano. Cada grupo possui especificamente sua forma de ex-pressar sua humanidade.

    1.5.2 O Conceito Diversifica

    Cada grupo tem sua singularidade cultural. A diversidade existe e o estudo sobre a cultu-ra pode nos mostrar mais do que comportamentos habituais, que, à primeira vista, parecem daridentidade a um grupo. Pode nos orientar para o que se encontra velado e oculto, aquilo que nosfoge da percepção. Nessa perspectiva, entendemos como Geertz (1989, p.15) vislumbra cultura,

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    como um conjunto de significados e a sua análise. O homem, diz ele, encontra-se “amarrado ateias de significados que ele mesmo teceu”. Inferimos, portanto, que o homem se constrói mo-ralmente, sua identidade é construída considerando as maneiras e modos como se relacionam ese amarram essas teias de significados. Não é possível pensar o processo de construção culturalcomo ausente de encontros conflituosos. O homem, ser dinâmico e mutável, significa e ressigni-fica a realidade dialeticamente, dando-lhe sentido.

    Sendo assim, sua cultura e identidade se processam em movimentos reais, em devir, em vira ser. Em um movimento de difícil percepção, mas que o real causa mudanças e transformações.

    1.5.3 Abordagem sobre a Cultura Na Pós-Modernidade

    As complexidades do momento atual impedem que interpretações acerca da cultura e deseus universos ocorram de forma simples. A constante gama de informações, proveniente dosdiversos cantos do mundo, produz encontros culturais frequentemente. Todas as vezes que nosconectamos com regiões do planeta distantes de nós, participamos de um encontro cultural. E,no momento do encontro, estranhamentos, identificações e reconhecimentos ocorrem. Cada vezmais frequentes os encontros culturais desafiam fronteiras que outrora eram claras e demarcadas.

    Não há mais possibilidade de perceber onde culturalmente algo começa e termina. O mo-mento atual é momento de continuun cultural, momento que contradiz noções de essencializa-ção em relação à identidade.

    Dessa forma, falar de universos culturais somente considerando situações de misturas, mes-tiçagens, sincretismos, diásporas, É preciso pensar em tradução e hibridismos. Cultura agora sevê considerada, como afirma Burke (2003, p.6), “em um sentido razoavelmente amplo de formaa incluir atitudes, mentalidades e valores e suas expressões, concretizações ou simbolizações emartefatos, práticas e representações”. Isto é, o termo cultura deve ser visto em toda sua dinâmicade elementos multiplicados nos encontros entre tradições.

    ReferênciasARNOLD, Matthew. [1869] Culture and Anarchy. London: Oxford World Classics, 2006.

    BOSSI, A. A Dialética da Colonização. São Paulo: Editora Ática, 1992.

    BURKE, P. Uma História Social do Conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 2003.

    GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.

    ATIVIDADE

    Procure na cidade ondevocê mora manifesta-

    ções da cultura popular,que se comemoram

    anualmente. Socializesuas descobertas nofórum de discussão

    correspondente.

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    UNIDADE 2O Fenômeno Religioso e suas

    Instituições no Substrato dasCulturas: Direito, Política eEducação

    Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha

    2.1 IntroduçãoPrezados (as) acadêmicos (as), na unidade 1 vocês estudaram o conceito de cultura e os ti-

    pos de cultura construídos por mãos e mentes humanas, e também a religião como parte da cul-tura, construção simbólica e humana. Pois bem, agora vamos imiscuir e ver a relação do fenôme-no religioso com algumas instâncias da cultura e como se estabelecem essas relações. Para tal,dialogaremos com três instituições culturais: Direito, Política e Educação. Pontuaremos questõesatuais concernentes a estas três instâncias que em muito contribuirão para a sua formação decientista da religião e, também, como profissional de Educação Religiosa.

    Nosso ponto de partida para analisar as instâncias às quais nos referimos será uma olhada

    sobre o termo secularização. Este tema é muito discutido e falado em nossa sociedade. Adver-timos de antemão que não é um tema fácil, porém, instigante e atual, conforme veremos adian-te. O estudo sobre a secularização nos permitirá perceber o espaço que a religião ocupa nessetempo que alguns chamam de modernidade ou pós-modernidade ou, ainda, como o sociólogobritânico Antonny Giddens (1991) hiper-modernidade.

    Dessa forma, dividimos a unidade da seguinte forma: primeiro momento- Secularização esuas implicações na vida da sociedade. Segundo momento-Relação com o Direito. Terceiro mo-mento-Relação com a Política. E quarto momento- Relação com a Educação.

    2.2 Secularização-Conceito e suasImplicações na Vida da Sociedade

    Talvez não seja demasiado dizer que a Ciência da Religião tem como característica princi-pal o estudo do fenômeno religioso e suas peculiaridades. Lembrando que a religião nesse cursonão se estuda dentro dos critérios da fé, mas, sim, da cientificidade. Entre os muitos fenômenosem nossa sociedade, o fenômeno religioso exerce grande fascínio e grandes especulações, so-bretudo nos estudiosos que se dedicam a tal. Alguns fatores aumentam os estudos acerca dofenômeno religioso: o crescimento das mais variadas formas religiosas, o crescimento dos cha-mados Novos Movimentos Religiosos, a busca das pessoas pela religião, e outros aspectos.

    Não temos notícias e nem conhecimento de alguma cultura, povo e sociedade que não

    houve alguma forma de expressão do fenômeno religioso. Dessa forma, podemos definir o fenô-meno religioso como aquilo que aparece, fato, concreto, aquilo que está acontecendo. Assim, en-tendemos que este fenômeno é expressão do ser humano, como já foi dito em outros momen-tos, a religião é vivida e experimentada pela pessoa humana, é uma dimensão humana. Nesses

    GLOSSÁRIO

    Novos MovimentosReligiosos: Tambémutilizam-se as iniciaisNMRs. Os NMRs sãoextremamente diversos.Considera-se NMRseste movimento que setornou visível a partir daSegunda Guerra Mun-dial, e como religioso seoferece não apenas umestamento teológicosobre a existência esobre as coisas sobrena-turais, mas se propõe aresponder, no mínimo,a algumas questõesúltimas que, tradicio-nalmente, têm sidoendereçadas às grandesreligiões.

    Fonte: GUERRIERO, Silas.Novos MovimentosReligiosos. O quadrobrasileiro. São Paulo:Paulinas, 2006.

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    termos, afirmamos que o elemento religioso é um produto que o próprio ser humano produz, re-produz e vivencia. Nesse sentido, o fenômeno religioso se apresenta como um fenômeno plurale dinâmico, ou seja, acompanha os processos de mudança ocorridos em sociedade, uma vez queestão enraizados e são expressões das visões de mundo determinadas de um povo ou cultura.

    Embora coloquemos a religião como um elemento humano, este também encontra-se nasesferas da sociedade e, como tal, se compreende como um fenômeno sociocultural, incutido em

    toda sociedade, não é possível estudar uma sociedade sem ater-se ao fenômeno religioso exis-tente em tal povo. No campo da sociologia, ciência que estuda a sociedade, encontramos as fi-guras dos clássicos Émile Durkheim (1858-1917), Karl Marx (1818-1883), Max Weber (1864-1920)e Auguste Comte (1798-1857); este último considerado o fundador desta ciência. Temos outrospensadores modernos da sociologia, como o americano Peter Berger (1985); apoiaremo-nos emsua obra para a construção do conceito de secularização, conforme veremos posteriormente. To-dos os sociólogos citados, cada um em seu tempo, contribuíram sobremaneira para entender arelação entre religião e sociedade, entre outros aspectos que envolvem a sociedade, todos fica-ram convictos de que a religião ocupa um espaço significativo no meio social. Vale lembrar quenão somente a sociologia debruçou em torno do fenômeno religioso, mas todas as ciências hu-manas. Nesse estudo, privilegiamos o olhar da sociologia para analisarmos as questões que nospropomos a discutir.

    Pois bem, munidos dessas considerações sobre o fenômeno religioso entramos no tema oqual apontamos no início desta unidade, a secularização.

    Esses autores citados acima iniciaram suas reflexões sobre a sociedade, a partir da realida-de europeia, exceto o sociólogo Peter Berger, que é americano. Os autores citados assistiram, noinício da Idade Moderna, ao fenômeno da perda de hegemonia e da influência da religião nosmeios da sociedade europeia. Alguns autores começaram a pensar que, com a chegada da mo-dernidade, a religião acabaria por desaparecer da sociedade. A modernidade trouxe uma seriede inovações na vida da sociedade, grandes avanços inimagináveis antes, exemplos: tecnologia,indústrias, entre outros. A sociedade cada vez mais diferenciada no âmbito da política, da edu-cação, da economia e da ciência. A todo este processo dá-se o nome de secularização. A mo-dernidade trouxe consigo o fenômeno da secularização. Enfim, vamos entender o conceito destetermo, para que possamos prosseguir na discussão.

    Secularização vem de mundo, mundanização. É um processo histórico que remonta ao sé-

    culo XVI e XVII, período das chamadas guerras de religião, que desencadeou a Reforma Protes-tante com as figuras de Martin Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564) e Ulrico Zwinglio(1484-1531), que iniciaram um processo de protestos e denúncias aos abusos exercidos pelaIgreja Católica. Vejamos, também, a definição proposta pelo sociólogo da religião Peter Berger,

    Por secularização entendemos o processo pelo qual setores da sociedade e dacultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos religiosos. Quan-do falamos sobre a história ocidental moderna, a secularização manifesta-se naretirada das Igrejas cristãs de áreas que antes estavam sob seu controle ou in-fluência: separação da Igreja e do Estado (BERGER, 1985, p.119).

    Podemos perceber, a partir desta definição oferecida por Berger, que a secularização é umfenômeno global das sociedades modernas, ou seja, ocorre em todos os espaços, de modo prá-

    tico podemos entender que as tradições religiosas e, sobretudo, o cristianismo, em sua versãocatólica, esteve atrelada ao Estado, com o processo de secularização essa denominação religiosoperde sua hegemonia diante da sociedade e outras instâncias terão maior validade e visibilidade.Esse processo de secularização afetou todo o modo de vida no Ocidente, interferindo nas açõesdas tradições religiosas inseridas nesse universo. Religiões tradicionais, como o cristianismo cató-lico e protestante, e o judaísmo sofreram maiores impactos e efeitos desse processo, devido aoprocesso de universalização dessas religiões, que ofereceu um sistema exclusivo de explicaçãopara as realidades sociais e o sentido último da vida, o mesmo perdurou mais de um milênio.Com evento da secularização, estas verdades foram sendo questionadas, e o cristianismo começaa perder seu domínio e predomínio diante das esferas da sociedade. Como bem enfatizou Berger(1985), há uma ausência de conteúdos religiosos nas artes, na filosofia, na literatura e, sobretudo,nas ciências, isso diz respeito à autonomia do mundo secular.

    Precisamos entender que o processo de secularização não afeta simplesmente o espaçodas tradições religiosas, mas também a cultura vigente e, mais, a dimensão subjetiva da pessoa.No tocante ao subjetivo, Berger (1985, p.119) concebe o nome de secularização da consciência.Vejamos em que consiste a secularização da consciência, conforme o pensamento bergueriano(1985, p.119), “o Ocidente moderno tem produzido um número crescente de indivíduos que en-

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    caram o mundo e suas próprias vidas sem o recurso às interpretações religiosas”. Ou seja, as re-ligiões assumem o segundo plano na vida da sociedade e das pessoas, tornando-se, assim, algode foro íntimo e não mais coletivo, recolhe-se para a subjetividade. A religião, em meio a esseprocesso de secularização, torna-se algo estritamente pessoal, é preferência, escolha pessoal. Es-clarecemos que, com a secularização, a religião institucionalizada entra em declínio, e as mais va-riadas formas de crença encontram espaços, como é o caso dos Novos Movimentos Religiosos.

    Uma conseqüência gerada pela secularização foi o pluralismo, chamado por Berger (1985)de pluralismo religioso, ou seja, as religiões não possuem mais o monopólio sobre a sociedade esuas esferas, dessa forma, surge o pluralismo, que possibilita às pessoas transitar pelas mais va-riadas formas de expressão religiosa. Assim, cresce o mercado e a oferta religiosa, podemos veristo nitidamente em nossas cidades, quantas igrejas abrem-se e fecham-se todos os dias, movi-mentos religiosos na esteira dos Novos Movimentos Religiosos, conforme sinalizamos acima, opluralismo religioso é uma realidade em nosso país.

    Após discorrermos sobre o fenômeno da secularização seu desafios e efeitos na sociedade e,também, no cerne das tradições religiosas, vamos discutir sobre algumas instituições da socieda-de, a saber: Direito, Política e Educação e como essas se relacionam com a religião.

    2.2.1 Religião e Direito

    Em se tratando de direito, podemos afirmar que possui uma relação ora distante, ora pró-xima, com a religião desde a antiguidade. Atribui-se o direito aos romanos, foi em Roma que seinstituiu essa forma de orientar a conduta das pessoas em sociedade. A partir do século II a.C,ocorreu uma cisão entre religião e direito, este último auferiu autonomia, tornando-se assim umaparato jurídico. Passa, então, a ser reconhecido como área do conhecimento. Os povos e culturasque antecederam esse tempo não puderam experimentar qualquer forma de direito. Essa sepa-ração realizada pelos povos romanos acompanhou a civilização Ocidental, até hoje percebemosnitidamente esse distanciamento entre religião e direito. Estão distantes, porém, sempre há cons-tantes questões que entram em embates com esses dois binômios. Essa situação é bastante co-nhecida e delimitada no Ocidente, no entanto, no Oriente podemos perceber que religião e di-reito encontram-se entrelaçados, por exemplo, no Islamismo, para esta tradição religiosa não háseparação entre Religião e Direito, ambos encontram-se juntos, no que diz respeito a orientar avida e o agir dos adeptos, o livro sagrado, o alcorão, funciona como apêndice jurídico, é onde seextraem as normas de como viver em sociedade, relações familiares, questões financeiras e outras.

    As normas jurídicas foram sendo instituídas e incrementadas por filósofos gregos, por filóso-fos cristãos da Idade Média, como Santo Agostinho (354 d.C- 430 d.C) e Santo Tomás de Aquino(1225-1274). A religião pauta seus estudos em questões de ordem jurídica como meio, também,

    de justificar ações do divino. Nesse período não havia distinção e nem separação; o direito estavaintimamente ligado à moral e também, ligado a uma ideia religiosa. Com o advento do Renas-cimento, a ideia do direito, conforme gerado pela Idade Média, adquire novos contornos, agoramais racionalista, ou seja, parte da razão. Nesse sentido, o direito começa ter novos ares, passa a

    ◄ Figura 7: Secularização- a sociedade poderáviver sem Deus?

    Fonte: Disponível em

    . Acesso em 25out. 2014.

    ATIVIDADE

    Faça uma pesqui-sa na cidade ondemora, na religião quevocê professa ou emoutra, tente percebertraços do processo desecularização ocorridosnesses espaços, observeos discursos, trajes,tecnologia utilizada, aestrutura do ambiente,enfim, observe tudo oque considerar impor-tante efeito de seculari-zação no meio religioso.Compartilhe essaexperiência no fórum dediscussão destinado.

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    ser reconhecido como lei. Na ótica da lei, o direito contribui para estabelecer ordem e harmoniana sociedade e entre as pessoas. Alguns fatos ocorridos na sociedade no século XX, como, porexemplo, o extermínio dos judeus, a 2ª Guerra Mundial, revolução sexual e feminina, movimen-tos sócias. Estes fatos colocaram em cheque os direitos humanos. Dessa forma, o direito, na atua-lidade, possui duas bases que são Os Direitos Humanos e a Constituição, ambos são o esteio querege a sociedade, assegura a vida do ser humano em todas as suas fases.

    Em se tratando de ser humano, as tradições religiosas possuem uma palavra de defesa. En-tão, podemos depreender, a partir dessa breve exposição, a estreita relação entre o direito e areligião. A primeira parte de um aparato jurídico da lei para defender a vida, em contrapartida, osegundo parte de um princípio religioso para defender a vida. Essa relação por vezes é abaladadiante de situações que, para algumas formas religiosas, fere a vida humana. Veremos no boxeabaixo um fato concreto de aborto de anencéfalos, ocorrido no Brasil, para percebemos essa re-lação, e como a religião posiciona-se diante de tais questões.

    BOX 1

    Aborto de Anencéfalos

    Um ano após decisão do STF, aborto de anencéfalos esbarra em entraves.

    Gravidez de anencéfalos é considerada de alto risco. Passado um ano desde que o Supre-mo Tribunal Federal autorizou o aborto em casos de gravidez de fetos anencéfalos- sem cére-bro, pacientes brasileiras estão tendo acesso mais fácil ao procedimento, mas ainda há impor-tantes deficiências a serem resolvidas, dizem médicos consultados pela BBC Brasil.

    A decisão do STF- tomada em abril de 2012 e detalhada no mês seguinte em resoluçãodo Conselho Federal de Medicina-tem forte oposição de grupos religiosos, que a vêem comoum retrocesso das garantias do direito à vida.

    Antes, mulheres grávidas de fetos sem cérebro tinham de pedir à justiça autorização parainterromper a gestação, algo que podia ou não ser concedido pelo juiz.

    “Em São Paulo, isso poderia levar de uma semana a dois ou três meses”, afirma o gineco-logista Cristião Rosas, da Federação Brasileira de Ginecologia e obstetrícia. Atualmente, esseperíodo foi reduzido há dias, caso a mulher decida pelo procedimento.

    “Mas a rapidez não vem em primeiro lugar”, complementa o ginecologista Thomaz Gol-lop, coordenador de um grupo de estudos sobre o aborto”. A paciente deve receber orienta-ção psicológica e ter tempo de amadurecer sua decisão.

    A dona de casa pernambucana Elisa-nome fictício, de 23 anos, descobriu estar grávida deum bebê anencéfalo no mês passado, seu quinto de gestação.

    “Era uma menina, uma filha que eu desejei muito”, diz Elisa. “Chorei tanto. Fiz de novo oultrassom e o médico falou que eu poderia interromper a gravidez. Decido interromper”.

     Mas o hospital procurado por Elisa, a 680 km de Recife, é dirigido por religiosos católicos,que negaram o procedimento. Elisa recorreu a uma prima, enfermeira em um hospital em Re-cife, onde a jovem fez a antecipação terapêutica do parto.

    Fonte: Paula Adamo Idoeta da BBC Brasil em São Paulo, 27 mai. 2013.

    2.2.2 Religião e Política

    Parece interessante evocar o significado genuíno da palavra política para que possamos com-preender dentro dessa discussão a relação entre religião e política. Dessa forma, busquemos as ori-gens da palavra política, vejamos o que nos oferece o Dicionário de Pensamento Contemporâneo,

    Político (a) é o relativo a polis, termo com que os gregos designam a comunidade(koinonía) mais ampla, última, não englobada em outra posterior e superior, re-sultante e condição da plena realização humana. Assim, a pólis reveste-se estru-tural e formalmente de notas (autossuficiência, independência) que podem servistas em outras sociedades últimas, materialmente muito diferente. A idéia depólis contém, em todo caso, um sentido de plenitude de convivência que já está

    ausente dos termos latinos civitas, civis, civilis, com os quais, literal e respectiva-mente, traduzem-se: pólis, polités, politikós. Substantivando-se o termo política,(a política) será o conjunto, ordem ou esfera de todas as atividades e instituições,saberes e fazeres, que se referem especificamente, de um ou outro modo, à pólis(VILLA, 2000, p. 604).

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    O termo política carrega consigo a ideia de pólis que se traduz como comunidade, ou tam-bém, sociedade. Em termos práticos e no âmbito do senso comum, diz respeito ao espaço públi-co, ao bem comum. Quando direcionamos para o campo do conhecimento na chamada ciênciapolítica, esse termo significa forma de atuação de um governo em nível municipal, estadual ouna esfera federal, que é responsável por administrar as questões sociais, segurança, habitação,ambiental, saneamento básico, infraestrutura das cidades, enfim, tudo o que diz respeito ao bem

    público.Mas a palavra política, no decorrer do tempo, foi angariando várias conotações negativas,

    e o sentido primeiro, de certa forma, é deturpado devido a ações ocorridas e manipulação, noque se refere ao bem público. No que concerne à relação entre religião e política, afirmamos quese apresenta como um desafio para as sociedades e, sobretudo no Brasil, pois historicamente oEstado possuía uma relação intrínseca com o poder público. Sobre esta questão, vejamos o queos historiadores Del Priore e Venâncio (2001, p.40) afirmaram: “O Brasil nasceu à sombra da cruz”.Para entendermos um pouco mais essa relação, vamos apresentar brevemente o regime de pa-droado que foi estabelecido no Brasil através de um tratado entre a Igreja Católica e os reinos dePortugal e Espanha. O regime de padroado começa em Portugal no século no IV, chega ao Brasilno período da colonização e permanece até a Proclamação da República, em 1889; a partir dessemomento, o Brasil passa a ser considerado um país laico, ou seja, sem existência e a influência dequalquer natureza religiosa. Afirmamos que o país laico não é um país ateu. Este regime consis-tia no total domínio da Igreja Católica por meio do Rei ou Imperador. Era o rei responsável pelasconstruções de igrejas, nomear os bispos e padres.

    O Estado brasileiro, ao tornar-se laico a partir da Proclamação da República em 1889, ocorreum distanciamento da esfera religiosa. Mas percebemos em vários períodos da história do Brasilresquícios dessa relação entre religião e o poder. Na história recente, acompanhamos a Assem-bleia Constituinte ocorrida em 1988, onde foi perceptível essa relação e a influência de gruposreligiosos, conforme veremos a seguir.

    A Assembleia Nacional Constituinte de 1988, marco na história do país, onde após 21 anosde ditadura militar, elaboram a constituição reconhecida como democrática. Neste período hou-ve uma movimentação de evangélicos na assembleia contava com 26 deputados evangélicos,de variadas denominações religiosas, começando a formar a bancada evangélica. A Igreja Cató-lica, que fora demasiadamente influente na política do país nesse período, é considerada pou-

    co atuante, se comparada à força dos evangélicos que temiam que a nova constituição pudessedeclarar o Brasil como um país oficialmente católico. Até então, os evangélicos não se envolviamcom política, eram, até então, avessos ao que se refere ao poder público. A partir desse momen-to, foi crescendo cada vez mais a participação de evangélicos na política partidária, o envolvi-mento nos meios de comunicação favoreceu o fortalecimento político. A Renovação CarismáticaCatólica também tem se despontado e se lançado no âmbito da política partidária, cresceu o nú-mero de adeptos que se lançam a cuidar do bem público. Vejamos box 2, onde consta a votaçãodeste ano e o número de evangélicos eleitos.

    BOX 2

    Bancada Evangélica

    Bancada evangélica tem votação expressiva e cresce 14%

    O resultado das urnas demonstrou que a comunidade evangélica se conscientizou emexercer a sua cidadania e buscou sua representatividade na política nacional. Segundo maté-ria no site ‘O Globo’ desta quarta-feira (7/10), a bancada evangélica na Câmara crescerá 14% apartir do ano que vem, com os 80 deputados federais eleitos.

    ◄ Figura 8: BancadaEvangélica temvotação expressiva

    Fonte: Disponível em. Acesso em 26out. 2014.

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    Atualmente são 70 representantes, entre bispos, pastores e seguidores de igrejas. O au-mento, ainda que menor que os 30% esperados pela Frente Parlamentar Evangélica, deverátornar ainda mais difícil a aprovação de projetos ligados a causas de homossexuais ou em de-fesa do aborto.

    São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, e Rio de Janeiro, o terceiro, elegeram a maiorparte dos candidatos evangélicos: cada um dos estados terá 14 deputados. O Paraná vem emseguida, com oito. Ao todo, 39 deputados federais que hoje integram a Frente ParlamentarEvangélica não se reelegeram, mas alguns conseguiram fazer de parentes seus sucessores.

    Entre os novos parlamentares, vários são apadrinhados por nomes de peso dentro desuas igrejas. Como é o caso de Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), eleito deputado federal, quecontou com o apoio do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo(Avec), em sua campanha.

    “Dou cidadania há 28 anos, ensino como é o voto. Falo para o pessoal que é o voto darepresentação do segmento. Converso com esses caras e com vários deputados que não con-taram com minha participação na campanha, que, mesmo assim, ligam para mim, agradecen-do”, disse à reportagem o pastor Silas.

    Alguns dos candidatos eleitosDos oito candidatos apoiados pelo pastor Silas Malafaia seis foram eleitos. São eles: (ree-

    leito) deputado estadual Samuel Malafaia (PSD-RJ), com 140.148 votos, sendo 4º mais vota-do; e demais deputados estaduais Lula Cabral (PSB-PE), com 50.886 votos, e Albert Dickson(PP-RN), com 37.461 votos. Para deputado federal: Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), com 104.697votos; Gilberto Nascimento (PSC-SP), com 120.044 votos, e Fábio Souza (PSDB-GO), com82.204 votos.

    Pastor Silas agradece aos que votaram nos candidatos apoiados por ele e também aosirmãos que votaram em outros candidatos que nos representam.

    Em Minas Gerais, pastor Flamarion Rolando, líder da Igreja Evangelho Quadrangular emGovernador Valadares, apoiou dois candidatos que também foram eleitos. São eles: deputadofederal Stefano Aguiar (PSB-MG), com 144.153 votos, e para deputado estadual Leandro Gena-ro (PSB-MG), com 127.868 votos, sendo o 3º mais votado.

    Deixe o seu comentário no Verdade Gospel.

    Fonte: TSE

    2.2.3 Religião e Educação

    Historicamente, falar de religião, educação é pensar o que cada uma dessas realidades re-presenta na sociedade atual, em termos de relação individual, coletiva e, por que não dizer, trans-cendental. Visto que cada uma destas perpassa a vida humana em suas várias dimensões. Notocante ao processo de educação nas sociedades, conceitua Brandão (1982, p.11): “a educaçãoparticipa do processo de produção de crenças e idéias, de qualificações e especialidades que en-volvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades”.

    A partir do pensamento proposto por Brandão, podemos perceber a importância do processoeducacional na vida em sociedade. Este se apresenta como construtor de símbolos e poderes epodemos dizer até que é construtor de identidades. O Brasil participa desse processo de constru-ção de identidade por meio da educação, conforme podemos perceber desde os primórdios dahistória do país. Os primeiros passos na área da educação se dão por meio da evangelização em-preendida pelos padres jesuítas, estritamente ligada a catequizar os habitantes desta terra. De-preendemos, a partir do exposto, que os binômios religião e educação caminham juntos, porém,atrelados ao cristianismo católico romano. Esta relação acompanha o desenvolvimento da edu-cação, sobretudo, no âmbito da Educação Religiosa, que é área que nos interessa por ora; nessesentido, apresentaremos alguns pontos e desdobramentos da relação entre Religião e Educação.Se você quer saber mais sobre a Educação Religiosa no Brasil, retome o caderno didático Meto-dologia da Educação Religiosa I, onde encontrarão um abrangente histórico desta disciplina no

    Brasil.A educação, com seus inúmeros desafios e complexidades na atual conjuntura, exige cadavez mais profissionais que estejam em sintonia, ou melhor, comprometidos com a prática edu-cacional dos educandos. Nesse sentido, a Educação Religiosa com a marca da Ciência da Reli-

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    gião quer ser um caminho de mudança na forma de conduzir os estudos acerca do fenômenoreligioso no nível da educação básica. A Educação Religiosa firmada sobre as bases da Ciência daReligião supõe um estudo que visa à diversidade/pluralidade religiosa da qual vive nosso país,conforme apontou o último censo de 2010. Não há tendência para nenhum credo religioso, éum estudo sobre o fenômeno religioso e suas variantes na realidade na qual vivem os estudan-tes. Ademais, a Educação Religiosa quer ser um espaço de construção e de aguçar o pensamento

    crítico de nossos adolescentes e jovens acerca de assuntos da atualidade que exigem uma com-preensão e uma reflexão. Em consonância com esta discussão, trouxemos para este estudo, a tí-tulo de exemplo, a Lei 10.639 do governo federal, sancionada em 9 de janeiro de 2003, que dizrespeito à inclusão nos currículos do Ensino Fundamental e Médio das escolas públicas e priva-das o estudo sobre a História da África e Africanos, como meio de entender e valorizar a culturaafro-brasileira.

    BOX 3

    Lei 10.639Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.

    Mensagem de veto

    Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, queestabelece as diretrizes e bases da educação nacional,para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino aobrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.

      O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eusanciono a seguinte Lei:

      Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos se-guintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

    “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares,torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

    § 1o

     O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo daHistória da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o ne-gro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreassocial, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

    § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âm-bito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura eHistória Brasileira.

    § 3o (VETADO)”“Art. 79-A. (VETADO)”“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da

    Consciência Negra’.”Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.  Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.

    LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

    Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque

    Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 10.1.2003

    Fonte: Disponível em . Acesso em 26 out. 2014.

    Esta lei surge para valorizar o legado da cultura africana em nossa cultura brasileira, além decontribuir para o conhecimento e a valorização, ademais, reconhece o dia 20 de novembro comoo Dia Nacional da Consciência Negra, dia em que celebramos a morte de Zumbi dos Palmares-lí-

    der quilombola, este dia é considerado de luta contra a discriminação e o preconceito racial. Ainclusão da história da África no currículo escolar é uma oportunidade de reconhecer que a cul-tura africana foi importante na construção e formação da sociedade brasileira. O estudo não serestringe somente à disciplina de história e demais áreas, conforme aponta a lei, mas também a

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    disciplina de Educação Religiosa tem muito a dizer sobre a cultura afro-brasileira, e pode contri-buir com valiosas reflexões em vários aspectos concernentes a esta, mas, sobretudo, as religiõesde origem afro existentes no Brasil, e, também, contribuir para um entendimento dessa tradiçãoreligiosa, e diminuição da intolerância religiosa ocorrida com pessoas adeptas dessas religiões.

    ReferênciasBERGER, P. O Dossel sagrado. Elementos para uma teoria sociológica da religião.  São Paulo:Paulus, 1985.

    BRANDÃO, C. R. O que é educação. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

    DEL PRIORE, M; VENÂNCIO, R. P. O livro de ouro da história do Brasil: do descobrimento à glo-balização. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, p. 40.

    GIDDENS, A. Conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.

    GUERRIERO, S. Novos Movimentos Religiosos. O quadro brasileiro. São Paulo: Paulinas, 2006.

    VILLA, M. M. Dicionário de Pensamento Contemporâneo. São Paulo: Paulus, 2000.

    DICA

    Uma boa sugestãode leitura é a coleção

    História Geral da Áfricapara compreensão des-

    ta temática, o mesmo

    está disponível on linepara download gratuitoem .

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    UNIDADE 3Procissões e Peregrinações no

    Mundo e no BrasilÂngela Cristina Borges

    Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha

    3.1 Introdução

    Nesta unidade, estaremos abordando sobre as procissões e peregrinações, práticas religio-sas que expressam não somente a pertença religiosa, mas, sobretudo, as religiosidades indivi-duais e coletivas. Estas práticas retratam, em certa medida, a crença no homem de que o(s) sa-grado(s) percebe(m) a dedicação e o sacrifício humano. A resposta do(s) sagrado(s), acredita ohomem, muito provavelmente será em forma de benesses para o homem. No entanto, não po-demos reduzir ritos como este apenas a uma troca entre homem e sagrado(s). Necessário é dizerque o homem religioso, adepto de tais práticas, necessita do desprendimento espiritual, físico,emocional e psicológico exigidos por tais ritos como forma de reviver a si mesmo e ao sagrado.

    Nesse sentido, o presente texto nos conduzirá a conhecer as expressões de fé realizadas poradeptos do Brasil e do mundo expressas por meio das procissões e peregrinações. Acompanhe-mos o estudo!

    3.2 ProcissõesO termo procissão vem do verbo latino  procedere  e carrega os significados de “ir adiante”,

    avançar, caminhar. Enquanto rito religioso e nas tradições cristãs, as procissões fazem parte dareligiosidade popular não prevista no texto sagrado. Sua origem é moderna. Apesar de não pre-vista na Bíblia (2008), um dos textos sagrados, isto é, apesar de não exigida enquanto obrigato-riedade, no texto bíblico existem narrativas sobre as mesmas, como a entrada de Jesus em Jeru-salém, a condução da Arca da Aliança por Davi para Jerusalém. Esses são exemplos que podemser encarados como procissões. Talvez a interpretação popular cristã tenha enxergado nestes ouem outros exemplos legitimidade a ponto de transformar marchas e caminhadas em ritos reli-

    giosos. Vejamos algumas passagens bíblicas que concedem à religiosidade popular legitimidadepara institucionalizar as procissões, considerando, neste caso, institucionalização enquanto há-bito constante: “Que alegria quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” (Salmo 122:1).  “Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como eu ia com a multidão,guiando-a em procissão à casa de Deus..” ( Salmo 42:4) (BÍBLIA, 2008).

    Sobre ritos coletivos, Durkheim (1954) chamou a atenção para o entusiasmo, o delírio e aforça que as emoções coletivas exercem no comportamento dos indivíduos. As procissões, en-quanto práticas religiosas, retratam a subjetividade humana grata pelo pedido atendido e se ex-pressa de forma tal que pode levar à Histeria. O comportamento nas procissões é contagiante ecoletivamente determina como o indivíduo deve se comportar. É necessário demonstrar o louvorcom fervor.

    Dessa forma, os indivíduos sentem-se ligados. Há uma coesão social, um consenso em tor-no do mesmo objeto que proporciona totalidade, proporciona o sentimento de pertencimentoà mesma sociedade. No entanto, é importante ressaltar que, por mais popular que seja uma pro-cissão, ela reflete o estado de divisão social. Há nelas hierarquias religiosa e civil, povo e autorida-des forma uma massa não tão ligada como parece. De posse e conhecimento do significado deprocissão, vamos conhecer algumas dessas praticadas entre nós.

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    3.2.1 Procissões mais Conhecidas

    Folia de Reis: a Folia de Reis é um festejo do catolicismo popular, são “danças, procissõese cortejos que representam a viagem feita pelos três Reis Magos do Oriente em busca do Meni-no Jesus, guiados pela estrela-guia” (CORTES, 2000, p.34). Trazida pelos colonizadores, a Folia de

    Reis em Portugal caracterizava-se pela doação de presentes ao povo, regada por cantos e danças,marcando o fim das festividades do Natal. Com a Folia de Reis, os presépios de natal são desmon-tados, marujos e pastorinhas se apresentam entoando cantigas e executando danças.

    No Brasil, é uma festa rural, mas cada vez observa-se que grandes centros têm procuradoresgatá-las. Está cada vez mais presente nas comunidades rurais, nos interiores das fazendas. Mi-nas Gerais, Goiás e estados do Nordeste são os lugares onde é possível encontrar a Folia de Reis.No grupo de foliões em procissão, destacam-se homens mascarados (Três reis magos), palhaços(Herodes). Segue-os o mestre, os tocadores, os cantores e o porta-bandeira.

    A participação no grupo de foliões segue algumas regras: ser homem, participar durantesete anos de comemorações e, quem sair antes, acredita-se, receberá castigos. Após sete anos, ofolião pode se tornar mestre.

    Em geral, o participante almeja “pagar uma promessa” ou realizar pedidos. Na Folia de Reis,o Menino Jesus é o grande símbolo. Em torno de sua representação religiosa, a festa se realiza,sendo as procissões e peregrinações ocorridas durante a noite. As procissões ocorrem com osfoliões visitando casas de moradores que acreditam receberem bênçãos com as visitas. Os cantossão pedidos de proteção e benção aos moradores da casa visitada. Após a procissão, inicia-se olado profano da festa que ,dependendo da região o lundu, o batuque de viola e a chula são gran-des atrações.

    Pode-se dizer que a festa em procissão é instrumento de permanência da cultura popular.Instrumentos cada vez menos utilizados são resgatados, como a viola caipira de 12 cordas, as cai-xas de folias e o cavaquinho. Por outro lado, são garantia de permanência religiosa, uma vez quegrande parte das músicas são extraídas do Novo Testamento.

    A marcha para Jesus: evento patrocinado pela Igreja Renascer em Cristo, fundada em SãoPaulo em 1986. A Marcha para Jesus cresceu nos últimos anos se estendendo a diversas cidadesbrasileiras. É um evento evangélico interdenominacional com uma grande passeata acompanha-da de shows gospel.

    Os evangélicos dizem se fundamentar em textos bíblicos para justificar a grande passeata.Acreditam que o evento é um ato de obediência a Deus e realização de sua vontade. Para a igre- ja Renascer, a Marcha acaba por ser uma declaração teológica, isto é, uma declaração de que aIgreja de Jesus está forte e viva. Publicamente assumem serem discípulos de Deus. Espontânea e

    alegre, expressa declarações de amor e dedicação a Deus.No entanto, traz uma ideologia da conversão, o que não retira de sua substancialidade a

    ideia de consciência espiritual. Ao conseguir concentrar um maciço número de pessoas, a Mar-

    Figura 9: Folia de Reis

    Fonte: Disponível em . Acesso

    em 30 out. 2014.

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    cha impõe, em certa medida, ideais evangélicos ao declarar que Jesus é o Senhor do Brasil. Nessesentido, ignora a diversidade religiosa, apesar, de nos últimos anos, ter adquirido característicasque acolhem pessoas de outras religiões.

    Na verdade, a Marcha também tem cunho político, uma vez que lança na mídia imagens dosevangélicos projetando-os a nível nacional. Consegue reunir pessoas de várias denominaçõescristãs, que são aconselhadas a, durante a Marcha, não discutirem questões doutrinárias.

    O alcance nacional deste evento tem chamado a atenção para o mesmo, que tem sido usa-do para afirmação de posições doutrinárias, como a não aceitação de uniões homoafetivas.

    Círio de Nazaré - É uma das procissões da tradição cristã católica mais populares e conheci-das no Brasil e, também, no mundo, por sua grandiosidade e alcance no número de fiéis. Ocorrena cidade de Belém do Pará, região norte do país, no segundo domingo do mês de outubro, ca-minham 3,6 quilômetros a pé, carregando a imagem da santa. Neste trajeto há diversas manifes-tações de devoções, cantos, rezas, palmas, pedido de orações, as ruas por onde percorre a procis-são são ornamentadas pelas pessoas. Segue na procissão junto à imagem da santa, uma cordaque mede entre 350 a 400 metros e pesa mais ou menos uma tonelada. Segundo os fiéis, segurarquer dizer que há um elo de ligação entre a Nossa Senhora e o devoto que participa daquele atoreligioso.

    ◄ Figura 11: Festa Círio

    de Nazaré.Fonte: Disponível em. Acessoem 30 out. 2014.

    ◄ Figura 10: Marcha paraJesus

    Fonte: Disponível em.Acesso em 30 out . 2014.

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    Procissão do Fogaréu - Esta tradicional procissão ocorre no âmbito cristianismo católico nasexta-feira chamada pelos adeptos de santa, sendo o dia em foi morto a figura de Jesus. Há al-guns lugares que realizam a procissão na quarta ou quinta-feira santa. Nesse sentido, a procissãotem a função de reviver os últimos momentos de vida de Jesus, sua condenação e prisão. Paratal, os participantes vestem traje especial, são sempre homens e utilizam capuz branco na ca-beça, representando os soldados romanos, confira o traje na figura seguir, e assim encenam os

    momentos finais de Jesus.Tem origem no Estado de Goiás e se espalha por outros Estados brasileiros, com uma ex-

    pressiva participação de fiéis, estipula que participam um número aproximado de 10 mil pes-soas. Todos acompanham com muita devoção e também emoção, pois para muitos reviver essemomento é entrar em sintonia com Deus e pedir perdão pelos pecados cometidos, durante aprocissão são entoados cantos e orações.

    3.2.2 Peregrinações no Mundo e no Brasil

    Houve, nos últimos tempos, um aumento e interesse de especialistas nos estudos acerca dasperegrinações religiosas ocorridas em nível nacional e internacional, isso justifica o aumento nonúmero de pessoas que procuram por essa forma de experiência religiosa. Exatamente falamosde experiência religiosa, as peregrinações empreendidas pelas pessoas adeptas de determina-do credo religioso caracteriza-se pelo desejo e anseio de contato com uma realidade que superaa própria existência. E, nesse momento da história humana, quando a experiência religiosa estáem alta, e as pessoas buscam por diversas formas de experiência com o sagrado, é interessantelançarmos um olhar para as peregrinações que ocorrem em muitas partes do mundo.

    É comum em nossas cidades vermos anúncios com ofertas de viagens a lugares conside-rados sagrados. O Porquê destas ofertas? O que pode proporcionar aos crentes tal prática? Oque significa peregrinação, de onde surge tal forma de contato com o sagrado? Qual a relaçãodeste com o turismo? Quais são as rotas de peregrinações mais visitadas no Brasil e no mun-do? Caros acadêmicos, essas são algumas questões que nos propomos a discutir neste item,acompanhemos.

    Mas, para entendermos o momento presente das peregrinações, convido vocês a voltar-mos alguns séculos atrás para buscarmos as possíveis (pois não encontramos relatos sobre a ori-gem das peregrinações, mas sabemos que existe desde a Pré-história; em várias culturas e povosocorre esse evento, e é recorrente em todas as tradições religiosas). Mais precisamente, voltare-mos à Idade Média, século XI e XII, ao movimento que ficou conhecido como as Cruzadas.

    As Cruzadas foram um movimento empreendido pelos cristãos no período citado acima,com o intuito de retomar a Terra Santa. Em toda a Idade Média, a peregrinação de fiéis cristãosaos locais onde a personalidade Jesus nasceu, viveu e executou sua missão considerada salvíficafoi uma prática recorrente. A partir do ano 638, essa prática começou a ser ameaçada em função

    da expansão dos povos árabes que eram muçulmanos, e tempos depois, os turcos que tambémeram muçulmanos, estabeleceram-se em Jerusalém. Esses dois grupos instalados na terra santacomeçaram a perseguir os cristãos que faziam visitas aos locais sagrados. Essa situação foi umfator de tensão e preocupação entre os cristãos, em certa medida, causou instabilidade na supre-

    ATIVIDADE

    Apresentamos aqui ape-nas alguns exemplos deprocissões que ocorrem.Verifique, na sua cidade,

    quais são as procis-sões que acontecem

    anualmente, faça umapesquisa e socialize no

    fórum de discussão.

    Figura 12: Procissão doFogareú

    Fonte: Disponível em.Acesso em 25 out. 2014.

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    macia cristã. O papa Urbano II convocou umaexpedição para realizar a tomada da Palestinados turcos que, nesse momento, haviam con-quistado o espaço. O Papa alegava, entre ou-tras questões, incentivar os cristãos do Ociden-te à guerra, uma vez que as Cruzadas saem do

    Ocidente em direção às terras do Oriente.Em suma, as Cruzadas foram um movi-

    mento que envolveu homens, mulheres, crian-ças, camponeses, mendigos, europeus de to-dos os níveis, com o único intuito de defendera fé cristã. Essa prática foi responsável pela ex-pansão das sociedades, o aumento do comér-cio, contato com povos diversos, e fim da socie-dade feudal.

    Prezados cursistas, após conhecermos ebuscarmos uma possível fonte originária deonde emana essa forma de contato com o sa-grado, que é a peregrinação, voltemos às ques-tões atinentes a esta prática. Acompanhe a de-finição do termo peregrinação oferecida pelaestudiosa Sandra Maria Corrêia de Sá Carneiro,em artigo publicado sobre a temática, onde afirma: 

    A palavra peregrinação deriva do latim  peregrinatio significando o ato de pere-grinar, a viagem a lugares santos. Já peregrino do latim peregrinusrefere-se àque-le que peregrina, mas também ao estranho, estrangeiro (CARNEIRO, 2004, p.76).

    Esta definição apresentada pela autora nos conduz a perceber que o ato de peregrinar, in-trinsecamente ligado a direcionar-se a lugares sagrados, e por sua vez, o peregrino é aquele quepratica a peregrinação, e também, segundo esta autora, pode se considerar o estranho, o estran-

    geiro. Então, o peregrino diz respeito àquela pessoa que sai de seu espaço habitual e busca umoutro espaço alheio e estranho, onde busca o contato com uma realidade sagrada, espaço de en-contro com o sagrado em que se acredita e o tem como valor absoluto. E, no mundo atual, ondeas pessoas, cada vez mais, encontram-se ávidas por experiências religiosas, cresceu o número deperegrinações às mais diversas localidades do mundo e do Brasil. É um meio que os adeptos bus-cam de entrar em contato com a realidade transcendente. As peregrinações ocorrem em cidades,templos, casas, caminhos, rios, grutas e outros lugares considerados espaços sagrados por haveralguma intervenção divina. É um fenômeno que acontece em todas as tradições religiosas, doOcidente e do Oriente.

    Parece-nos interessante informar que peregrinação não se encontra no âmbito estrito docristianismo católico, mero engano dos que acreditam ser. Talvez tenha se popularizado essa for-ma de manifestação entre os católicos. Devido às manifestações e as formas de veneração quesejam ligadas à figura de Jesus, como no caso da cidade de Jerusalém, considerada santa pe-

    los cristãos, porque neste espaço morreu e ressuscitou Jesus, considerado o salvador. Também,o culto dos santos que foram homens e mulheres que viveram uma vida exemplar a serviço dafé católica e são venerados pelos fiéis em várias partes do Brasil e do mundo. Os lugares ondepossivelmente os santos se manifestaram tornaram-se espaços privilegiados de peregrinações,alguns exemplos: a cidade de Fátima em Portugal, pois atribui-se esse local à aparição de Nos-sa Senhora de Fátima, a cidade de Aparecida do Norte em São Paulo, local onde supostamenteapareceu a imagem de Nossa Senhora Aparecida, a cidade de Lourdes na França, onde ocorreua aparição de Nossa Senhora de Lourdes e, assim, sucessivamente, poderíamos aqui elencar umalista infindável de lugares, mas por ora e espaço é suficiente.

    Vale lembrar que Jerusalém também é sagrada para judeus e muçulmanos, vejamos: paraos primeiros a consideram o lugar onde se encontra o grande templo, o muro das lamentações,para os segundos, lugar onde houve a ascensão do profeta Muhammad. Assim, também, judeus

    e muçulmanos empreendem peregrinações à cidade de Jerusalém. Outras tradições religiosasrealizam peregrinações, algumas exigem dos seus adeptos, outras o fazem por opção e desejo daprópria pessoa.

    DICA

    Busque em livros de His-tória do Ensino Médio eem outros que contam ahistória do movimentodas Cruzadas, motivos,argumentos e justificati-vas utilizadas pelo PapaUrbano II para iniciar AsCruzadas. E socialize nofórum para esse fim.

    ◄ Figura 13: Uniformeutilizado pelosprimeiros cruzadosonde constava a cruz,

    símbolo da fé cristãFonte: Disponível em. Acesso em 15nov. 2014.

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    Acompanhemos alguns exemplos de peregrinações: peregrinação ao Rio Ganges, rio consi-derado sagrado para os hindus, todos os hindus devem banhar-se no Rio Ganges; isto garante apurificação dos pecados, lavar-se dos pecados.

    No Budismo, os lugares sagrados e de peregrinação pelos adeptos são aqueles locais ondeacreditam que o próprio Buda esteve presente. Sendo o mais conhecido, Bodhi Gaya, no nordes-te da Índia. Pois acreditam que, nesse local, Buda recebeu a iluminação ou tornou-se desperto

    para as verdades acerca da vida.Para os muçulmanos, além de Jerusalém, a cidade de Meca localizada na Arábia Saúdita, lo-

    cal onde o profeta Maomé nasceu, é um local sagrado. Essa peregrinação, segundo a tradição,todo muçulmano, ao menos uma vez na vida, deve realizar essa peregrinação.

    No Brasil encontram-se grandes centros de peregrinação, em várias regiões do país, ondeacorrem centenas de pessoas durante o ano, desde grutas, santuários, caminhos que têm comomodelo e são comparados ao Caminho de Santiago de Compostela, localizado na Espanha. Se-gundo estudiosos, desde o ano 2000, houve um crescimento e uma procura por rotas considera-das sagradas. Citaremos neste caderno alguns desses centros de peregrinação:

    Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte-São Paulo. Ahistória desse santuário, conforme nos informa a página do mesmo na internet , a história desse santuário remonta ao ano de 1717, quando três pes-cadores encontram no Rio Paraíba do Sul a imagem da virgem nas águas. Desde então, começauma devoção à imagem da virgem, daí surge a origem do Santuário. Em 2017 completará 300anos desse possível aparecimento da imagem, os devotos, desde então, vivem um momento depreparação para tal evento. É um dos centros religiosos mais visitados do Brasil.

    Santuário Bom Jesus da Lapa, localizado em cidade de mesmo nome no sul do Estadoda Bahia. Assim como em Aparecida, este santuário possui uma história centenária. A cidade deBom Jesus da Lapa abriga em seu espaço sagrado, grutas e capelas. Atribui-se o descobrimentodeste espaço ao artesão português Francisco Mendonça Mar, que chega a Salvador na Bahia noano de 1691.

    Também é considerado um dos mais visitados santuários do Brasil. Todos os anos acorremcentenas de pessoas de várias