Curitiba É

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Março 2013 - Número 1 Nesta edição Quem faz a Curitiba moderna, quem chegou primeiro por aqui, quem é o cineasta que raspou no Oscar este ano, quem fez essa ilustração aí em cima, o que celebridades acham da cidade, que lugares elas gostam e indicam, qual é a dos movimentos que tomam conta das ruas, o que significa aquela casa esquisita ali na esquina, como ganhar dinheiro com criatividade, será que ainda somos uma cidade de vanguarda? Curitiba faz 320 anos. Não tem época melhor para discutir assuntos tão presentes numa cidade que se renova a cada dia – embora muitas vezes a gente nem se dê conta disso. Leia e divirta-se.

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Revista de estreia do núcleo de impressos do Grupo RIC

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Março 2013 - Número 1

Nesta ediçãoQuem faz a Curitiba moderna, quem chegou primeiro por aqui, quem é o cineasta que raspou no Oscar este ano, quem fez essa ilustração aí em cima, o que celebridades acham da cidade, que lugares elas gostam e indicam, qual é a dos movimentos que tomam conta das ruas, o que significa aquela casa esquisita ali na esquina, como ganhar dinheiro com criatividade, será que ainda somos uma cidade de vanguarda? Curitiba faz 320 anos. Não tem época melhor para discutir assuntos tão presentes numa cidade que se renova a cada dia – embora muitas vezes a gente nem se dê conta disso. Leia e divirta-se.

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A Hidrelétrica Mauá, no Paraná, está pronta, com investimentos de R$ 1,4 bilhão. Construída pela Copel e Eletrosul, adiciona mais 361 MW de potência ao sistema nacional de energia elétrica, suficiente para atender mais de 1 milhão de pessoas. É a Copel trabalhando para o Paraná e o Brasil crescerem cada vez mais.

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A Hidrelétrica Mauá, no Paraná, está pronta, com investimentos de R$ 1,4 bilhão. Construída pela Copel e Eletrosul, adiciona mais 361 MW de potência ao sistema nacional de energia elétrica, suficiente para atender mais de 1 milhão de pessoas. É a Copel trabalhando para o Paraná e o Brasil crescerem cada vez mais.

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Curitiba completa 320 anos num mo­mento especial para o Grupo RIC. Temos muito orgulho da capital

e do Paraná – são nossa razão de existir. Como um grupo forte e coeso, fazemos parte e contamos as histórias deste estado há mais de um quarto de século.

Em 2012, completamos 25 anos de atuação e estamos de fôlego renovado para fazer mais e melhor nos próximos 25! Seja pela televisão, rádio ou internet, contribuí­mos com o desenvolvimento dos curitiba­nos e paranaenses com aquilo que fazemos melhor: comunicação de qualidade.

Uma área tão rica e instigante na qual o grupo dá agora um passo vigoroso, com a publicação desta CuritibaÉ, que amplia nossa atuação para a área de mídia impressa. Trata­se do início de uma plataforma baseada em revista e com abordagem multimídia (em site e tablets) voltada a temas da cidade. Começamos com esta edição de aniversário; outras virão em Curiti­ba e em outras cidades paranaenses.

Queremos aproveitar um momento em que os olhos se voltam à cidade para mostrar e discutir, de forma independente, transparente, idônea e criativa, assuntos e pontos de vista que dizem respeito ao cotidiano e à vida maior dos cidadãos.

Começamos uma caminhada rica e repleta de desafios. Como todo bom início de caminhada, estamos confiantes e cientes das dificuldades. Melhor do que isso, estamos empenhados em fazer benfeito, evoluir e crescer, de forma a sermos cada vez mais uma efetiva caixa de ressonância dos assun­tos paranaenses.

O Paraná será tanto melhor quanto melhores forem suas empresas de comunicação. Pluralidade, independência e honestidade são conceitos fun­damentais para termos uma cidade e um estado cada vez mais fortes.

Pessoalmente, estou certo de que esta nova iniciativa no Paraná trará como resultado uma ligação ainda maior do Grupo RIC com os moradores desta terra.

É isso que nos move.Boa leitura.

Nossa razão de existir

Carta do Publisher

Leonardo Petrelli Neto Vice-presidente executivo do Grupo riC-Pr.

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Curitiba é muitas coisas. Agora também é uma revista. Esta nova iniciativa do Grupo RIC nasce com uma única pretensão: levar aos curitibanos novos pontos de vista sobre a cidade onde vivem.

Não é tarefa para uma edição (não seria mesmo que esta publicação fosse um livro volumoso). Mas é uma forma de abrir caminhos para o que a RIC considera fundamental: falar de e para os curitibanos de uma forma in-teligente e inovadora, sendo nossa obrigação proporcionar prazer na leitura.

Em jornalismo, poucas coisas são mais estimulantes do que lançar um produto que se quer interessante. Desenvolver ideias, discutir assuntos, encontrar fontes interessantes, escrever boas e novas histórias... A Redação reunida para esta edição tornou o desafio uma tarefa prazerosa. Esperamos que o leitor sinta isso nas páginas que seguem.

CuritibaÉ terá cumprido sua primeira missão se o leitor, ao percorrer a cidade, der uma olhada mais atenta para a fachada daquela casa esquisita que fica no caminho do trabalho; se refletir um pouco sobre o que a cidade significa para ele; se cogitar investir num empreendimento criativo; ou – entre várias outras possibilidades – sentir um comichão de querer ver novamente a cidade na vanguarda que a fez famosa no mundo todo. Ou se simplesmente se divertir lendo a revista.

Torcemos para que os leitores sintam, enfim, um pouco da curiosidade e do estímulo que moveram esta edição – única em vários sentidos. Um deles é que se trata de uma publicação para o aniversário de 320 anos da cidade. CuritibaÉ estará novamente na sua porta quando for a hora de assoprar 321 velinhas. Ou quando, antes disso, for hora e lugar de botar o olho nova-mente em alguma coisa bacana da capital.

Aproveite a revista; curta a cidade.

Oscar Röcker Netto, editor-chefe.

Assim éCarta do Editor

EXPEdiENtEPresidenteMário Petrelli

Vice-presidente executivoLeonardo Petrelli Neto

diretor de ConteúdoJosé Nascimento

diretor ComercialGilson Bette

diretor administrativo-financeiroAndré Luiz Ferreira

REVISTA CURITIBAÉEditor-chefeoscar röcker Netto

Reportagemadriano Kotsan, Érika Busani, João Paulo Pimentel, João Pedro de amorim Jr., Heros Mussi Schwinden e Vinicius Boreki

Colaboraram na ediçãoJosé Nascimento, Luiz andriolli e Marcos Jorge

FotografiaGuilherme Pupo

Tratamento de imagemVal Machado, rodrigo Montanari Bento

Projeto gráfico e diagramaçãorodrigo Montanari Bento

Ilustração da capaColetivo Mucha tinta

IlustraçõesMarco Jacobsen

Marketing Michelle reffo

PromoçãoMaximilian Santos e Vanessa rodrigues

Distribuiçãodistribuidora Pontual

ImpressãoPosigraf

Tiragem20.000 exemplaresdistribuição dirigida

rua amauri Lange Silvério, 450. Pilarzinho – Curitiba – PrCEP 82.120-000tel.: (41) 3331-6100

Contato com o editor: (41) 3331-6125 ou [email protected]

Veja a revista em www.curitibae.com.br ou na versão impressa.

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A vanguarda é simples

Soluções que colocaram Curitiba no posto de vanguarda entre as capitais mostram sinais de esgotamento. É possível retomar o caminho das inovações?

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índice

Contra a letargiaSaiba como e por que nascem os movimentos que tomam conta das ruas. PÁG. 14

Cidade efervescenteJovens, descolados e com sede de criar coisas diferentes. PÁG. 20

Para mim, Curitiba é...Oito personalidades contam que sentimento a cidade lhes inspira. PÁG. 28

O Oscar está logo aliUm perfil do premiadíssimo cineasta baiano que mora no Sítio Cercado. PÁG. 40

Potencial criativoA tentativa para crescer numa área que movimenta US$ 3 trilhões. PÁG. 46

O longo caminho até o poloPor que algumas regiões acabam reunindo só um tipo de comércio. PÁG. 50

Devaneios de caminhanteCinco roteiros para explorar a rica arquitetura da cidade. PÁG. 56

Daqui não saioA casa da vida: conheça as razões de

quem põe dinheiro em segundo lugar. PÁG. 66

Antidiscípulos de Dalton“Novos curitibanos” encontram

clima de boas amizades. PÁG. 70

Quem chegou primeiroSaiba como os imigrantes

pioneiros chegaram até aqui. PÁG. 74

CrôniCAs Marcos Jorge analisa os principais

clichês curitibanos. PÁG. 38

Luiz Andrioli e o combustível

de um morador de rua. PÁG. 64

José nascimento convida para

um passeio bucólico. PÁG. 85

História em quadrinhos: um sobrevoo do vampiro,

por Marco Jacobsen. PÁG. 86

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Pioneirismo

A vanguarda

é simplesAções que põem a cidade à frente das demais precisam de mais prática e menos rótulo, defende arquitetoHeros mussi schwinden

Nos últimos 40 anos, o termo “vanguarda” foi muitas vezes associado a Curitiba.

Materializadas no transporte coletivo, na coleta seletiva, nos parques lineares e no calçadão da Rua XV, as soluções urbanas dos anos 1970 e 80 viraram referência para outras metrópoles e motivo de orgulho para os curitiba-nos. Por outro lado, hoje, questões associadas à mobilidade urbana, criminalidade, áreas verdes, zonea-mento e coleta de lixo colocam essa visão em xeque: afinal, continuamos na vanguarda? E onde moram as novas vanguardas? 

Para quem pensa a cidade a vanguarda do terceiro milênio

não está apenas em obras que desafiem a engenharia ou em ideias mirabolan-

tes. Voltar a ser referência é possível – e é mais simples do que parece. É o que garante o arquiteto Osvaldo Na-varo Alves, um dos responsáveis pela implantação dos principais projetos urbanos que colocaram Curitiba na li-nha de frente das cidades inovadoras. Sua atuação no Instituto de Planeja-mento e Pesquisa de Curitiba (Ippuc) começou em 1968, quando Jaime Lerner era presidente da instituição, e continuou por mais de 30 anos. Entre os anos de 1997 e 1999, ele presidiu a instituição.

Navaro é categórico ao afirmar que, a despeito das críticas, Curi-tiba permanece na vanguarda do transporte e da ecologia, algo que pode ser comprovado pelos muitos convites que ele, como consultor do Banco Mundial, recebe para

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apresentar nossas soluções locais em várias partes do mundo.

O problema, observa, não está nos projetos, mas em um desejo de reconhecimento. “Querer ser referência só com um slogan como ‘Capital Ecológica’ é pura bobagem. ” Um dos caminhos alternativos é o da valorização e aprimoramento do que já foi feito de valor. “Temos soluções criadas há 40 anos que hoje estão sendo adotadas em outras cidades. Singapura, por exemplo, segue o mo-delo de preservação de microbacias do Barigui. A cidade de Jacarta, na Indonésia, copiou o nosso sistema de ônibus expresso”, exemplifica.

Para Navaro, a receita atual para se viver uma nova vanguarda curiti-bana passa pela atenção às pequenas soluções, ao dia a dia. A redução do consumo, o uso crescente de tec-nologias de circulação, a criação de redes colaborativas e o reaproveita-mento de materiais são ingredientes que não podem faltar.

Jacus e morcegos Distante do compromisso com o expediente formal, Osvaldo Navaro toca sua aposentadoria pensando e colocando em prática ações que espelham sua visão de mundo e seu conceito de vanguarda urbana. Em 2012, sua residência no Pilarzinho foi oficializada como Reserva Partic-ular do Patrimônio Natural Munici-pal (RPPNM). Com seis mil metros quadrados de área verde, o “Bosque da Coruja” é a quinta reserva par-ticular a fazer parte de uma inicia-tiva do poder público municipal que ajuda a preservar nascentes de rios e a vegetação nativa em troca da isen-

ção de 100% do IPTU. E o bosque é, de fato, um exemplo notável, como demonstram os muitos beija-flores, tucanos, jacus, morcegos e peque-nos mamíferos que o frequentam ao longo de todo o ano.

Navaro, porém, nunca parou de pensar “da casa para fora”. Ele assessora interessados em estabele-cer reservas ambientais particulares e circula a pé por bairros para ver as “micro-peculiaridades” da cidade. “A melhor maneira de conhecer os detalhes da cidade é caminhando.” Nada mais vanguardista.

Umbigo egoístaA “Curitiba ideal” dos anos 1970 até hoje anima o imaginário dos que viveram os dias de capital modelo. Entretanto, o planejamento urbano parece dar sinais de esgotamento, como se infere ao testemunhar as filas quilométricas nas estações-tubo nos horários de rush. Um dos princi-pais motivos disso, segundo alguns especialistas, é a falta de um projeto que contemple desde o início políticas para a Região Metropolitana.

Segundo Maria Tarcisa Silva Bega, doutora em Sociologia e pro-fessora do curso de Ciências Sociais da UFPR, o projeto de cidade ideal adotado por Curitiba foi “endo-pensado”. “A Região Metropolitana

nos lembra todos os dias de que, como qualquer metrópole brasileira, também estamos inseridos em um quadro de desigualdade social. O sistema de transporte, por exemplo, foi pensado quando tínhamos 300 mil habitantes”, observa.  

Tarcisa reconhece que alguns elementos da vanguarda permane-cem, como evitar os viadutos. “A cidade não enfeiou. Não ganhamos em fluidez no trânsito, mas não degradamos as áreas próximas aos viadutos, que é o que acontece nas grandes capitais.” Para a socióloga, as prioridades de Curitiba passam pela resolução do problema do transporte urbano, pelo planeja-mento integrado com a Região Metropolitana e pela escolha de crescer ou avançar ainda mais para cima dos mananciais de água e áreas de preservação ambiental.

“Chegamos a um platô: a partir de agora ou criamos uma nova curva ascendente ou entraremos em queda”, alerta. Tarcisa louva algu-mas iniciativas civis locais, como os movimentos em prol da bicicleta e a reocupação do espaço público pelo povo. “Talvez esse seja um caminho para devolvermos a Curitiba para as pessoas e criar uma nova vanguarda para a cidade em tempos de demo-cracia”, afirma.

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navaro em sua casa protegida pelo patrimônio ambiental: atenção às coisas do dia a dia.

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Exemplos que funcionam É possível pensar a vanguarda urbana como a capacidade de enxergar soluções locais nos exemplos de outras cidades, sem, para isso, fazer uma transposição pura de ideias e projetos ou importar “novidades” que colocam em risco a própria sociedade e seus valores. Em outras palavras: com inteligência, sem gastar muito e até sem esperar pelo poder público, é possível colocar a própria cidade – a comunidade, o bairro, as pessoas – na vanguarda. Veja a seguir práticas adotadas em outros países.

»Comida digital Redes sociais digitais como o Facebook movimentam bilhões de postagens todos os dias. Tamanha força, concluíram habitantes de cidades como Berlim e Colônia, na Alemanha, também pode ser empregada para reduzir a fome, aproximar as pessoas fisicamente e fazer com que elas redescubram o valor real dos alimentos. Eles criaram uma rede social voltada à doação ou troca de alimentos, a www.foodsharing.de. Se a comida sobrou, o participante vai ao site e anuncia. A transferência pode ser feita na própria casa do doador ou, se ele preferir, em uma “despensa” do projeto. A grande sacada, aliás, não está só na valorização dos alimentos, mas na aproximação entre pessoas que vivem em uma mesma área da cidade. Algo que,

em um tempo em que as pessoas mal conhecem seus vizinhos, é muito importante.

»Jardins canadenses Quando pensam em vanguarda, urbanistas e ativistas de várias cidades olham para os telhados, terrenos vazios e canteiros públicos, vislumbram o potencial que esses pontos têm de devolver o verde ao cenário urbano e colocam mãos à obra. Um bom exemplo é o Centro de Ecologia Urbana de Montreal, que desde sua fundação, em 1996, propõe soluções para transformar o cenário urbano da segunda maior cidade do Canadá. Desde então, lançou projetos como o dos “telhados verdes”, que ocupa essas áreas dos imóveis com jardins e hortas. Os resultados se fazem sentir na melhora da qualidade do ar, na beleza do cenário e na redução do aquecimento. A solução, aliás, também foi adotada por Buenos Aires, que neste ano deve reduzir em até 20% o imposto predial de imóveis que aderirem aos “jardins suspensos”. Segundo técnicos, o passo inicial para plantar no telhado é aplicar uma camada de PVC, pedras e um sistema hidráulico apropriado – com isso, a estrutura do edifício é preservada.

»Parcerias Cidades de todo o mundo mantêm parcerias e tratados de

irmandade com cidades vizinhas ou de outros países - Curitiba, por exemplo, é irmã de cidades como Assunção (Paraguai), Cracóvia (Polônia), Hangzhou (China), Himeji (Japão) e Orlando (EUA). Muitas vezes, porém, esses contatos estacionam em nível protocolar, impedindo a troca de ideias e de soluções urbanas. As regiões vizinhas de Skåne e Zealand (a primeira, na Suécia; a segunda, na Dinamarca) reuniram forças em 1993 para criar um dos mais ambiciosos projetos de desenvolvimento local da Europa.

O Comitê Öresund – nome do estreito que separa as duas áreas – planeja e luta politicamente por soluções legislativas e ações em clima, mercado de trabalho, cultura, eventos, acessibilidade, mobilidade, conhecimento e inovação. A ideia é promover a total integração das duas regiões em todos os segmentos, rompendo a barreira dos limites nacionais e levando qualidade de vida às populações. O que, pelo visto, está dando certo: atualmente, Öresund detém 26% do PIB agregado da Suécia e da Dinamarca e possui a maior concentração de trabalhadores com alto nível educacional do norte da Europa. A meta, até 2020, é ambiciosa – o Comitê quer transformar a região no principal polo europeu de soluções climáticas. Pelo jeito, vai chegar lá!

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Os desafios da “Sorbonne do Juvevê”

Do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) saíram muitas das ideias que, nos anos 1970, colocaram a capital paranaense em evidência. Apelidada de “Sorbonne do Juvevê”, ainda hoje a instituição é associada a projetos de vanguarda. Na última década, porém, o discurso de que a autarquia perdeu “sua inventividade” foi propagado do Ganchinho ao Bigorrilho. A expectativa agora é de retorno a dias mais criativos.

O novo presidente do Instituto, o arquiteto e urbanista Sérgio Póvoa Pires, admite que, dentre as muitas “Curitibas”, a mais tranquila já não existe. “Produzimos lixo demais, barulho demais, a

cidade superaquece. Para se criar uma cidade mais inteligente, mais humanizada, precisamos diminuir a velocidade, evitar o desperdício, não ofender o meio ambiente, ter uma cidade mais conectada”, defende.

Pires pretende estabelecer uma nova relação com a população por meio de discussões coletivas sobre pequenos temas – como um canteiro de flores em uma travessa no Novo Mundo – e sobre assuntos mais complexos como o metrô. Para ele, não é só o poder público que precisa estar aberto ao debate para alcançar as soluções que melhorem o cotidiano: “O cidadão precisa mudar o discurso individualista da ‘minha rua’, da ‘minha calçada’, e ter um olhar

voltado para o coletivo”, afirma.As apostas para os próximos

anos estão na adequação dos equipamentos para que se tornem sustentáveis em energia e uso da água, no ensino de planejamento urbano para crianças, em maiores investimentos em design, na formulação de uma nova política para a preservação de edificações históricas e a na construção do Museu Nacional do Urbanismo. “Funcionará como um laboratório de práticas inovadoras e reunirá entidades técnicas e universidades. Um local para criar uma efervescência em torno do urbanismo e colocar Curitiba novamente como referência”, diz Pires.

“O cidadão precisa mudar o discurso individualista da ‘minha rua’, da ‘minha calçada’, e ter um olhar voltado para o coletivo”.Sérgio Póvoa Pires (foto), presidente do ippuc.

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Contra a letargia

Nos últimos anos, Curitiba viu surgir (ou crescer) uma série de movimentos ba-

seados em iniciativas da sociedade. Vitaminados pelas redes sociais, eventos como o pré-carnaval do Garibaldis&Sacis, os encontros da Praça Espanha, os shows impagáveis da Quadra Cultural e as pedaladas da Bicicletada atraem milhares de participantes.

São movimentos que dão vida à cidade, promovem mudanças na ocupação do espaço público – e, eventualmente, geram discussão entre os que não gostam do barulho e os que adoram a festa.

Sociólogos, antropólogos e urbanistas veem neles uma reação da sociedade, uma forma de criar

seu próprio espaço de diversão. De quebra, a reunião de “iguais” reforça o aspecto de segurança entre os participantes e, em alguns casos, estimula a ideia de preservação dos espaços da coletividade – na linha “está sendo usado, precisa ser cuidado”.

“As pessoas levam uma vida se-gregada nas cidades grandes. Muitos moram em prédios e só saem de casa para o trabalho”, analisa Carlos Alberto Balhana, antropólogo cultural e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Há um cansaço muito grande e é preciso criar canais de escape dessa letargia.”

A ocupação dos espaços altera a vida na região. Daí que o poder público não pode ficar alheio, até

porque tem de haver um media-dor entre os que reclamam e os que participam da festa – os tais interesses difusos da sociedade. E 15 mil pessoas se sacudindo pelas ruas impõem responsabilidades.

O sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, professor da UFPR, explica que as reações contrárias são nor-mais em sociedades plurais e aber-tas. “Ninguém agrada todo mundo. Por isso mesmo o poder público deve exercer ações fiscalizadoras, estudar, planejar e escutar as pessoas para definir locais adequados para essas manifestações”, afirma.

“Os moradores e comerciantes insatisfeitos também têm o direito de reclamar. O poder público é que deve achar a melhor solução”,

adriano Kotsan

Vitaminadas pelas redes sociais, iniciativas da

sociedade dão vida à ocupação

saudável do espaço público

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Garibaldis&Sacis: desfile do bloco este ano levou cerca de 20 mil

pessoas por apresentação para o pré-carnaval no Largo da Ordem.

diz Oliveira. “Os movimentos são saudáveis para a cidade, mas talvez devam ser feitos em locais com estrutura adequada.”

Balhana concorda. Para ele, iniciativas inovadoras para mui-tos são mais importantes que as reclamações – normais e saudá-veis, defende – de poucos. “Mas a prefeitura precisa ouvir as pessoas e definir locais apropriados para essas manifestações.”

A praça e a rua, enfim, continu-am a existir para todos.

Mudança Desde a antiguidade, as cidades foram planejadas prevendo espa-ços de convivência, como praças e parques. Muitas vezes, as pessoas

decidem usar esses espaços de for-ma diferente daquele originalmente previsto. Normal que, por exemplo, a Boca Maldita e as escadarias do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná sejam transfor-mados eventualmente em local de protestos políticos ou movimentos culturais. São as pessoas dizendo como preferem interagir com aque-le espaço.

“As manifestações mostram demandas da sociedade que estavam reprimidas”, afirma o arquiteto e urbanista Luis Henrique Cavalcanti Fragomeni, mestre em planejamento urbano pela Universidade de Edim-burgo e professor da UFPR. “Muitas vezes o poder público é inerte, muito lento para fazer mudanças, e as pes-

Contra a letargiaJ u l i o G a r r i d o / D i v u l g a ç ã o

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soas se organizam para usar o espaço público de outra forma.”

Em Curitiba, os eventos com público acima de duas mil pessoas precisam passar pela análise da Comissão de Análise de Eventos de Grande Porte (CAJE), da Secretaria Municipal do Urbanismo. A comis-são reúne representantes das secre-tarias municipais do Urbanismo, Finanças, Saúde, Meio Ambiente, Defesa Social, Trânsito, Procurado-ria Geral do Município, Urbs, Fun-

dação Cultural e Câmara Municipal de Curitiba. (A análise precisa ser solicitada com no mínimo 45 dias de antecedência.)

Há também um gabinete de Ges-tão Integrada de Segurança Pública, que reúne a Guarda Municipal e a Polícia Militar, entre outros órgãos, e monitora as mobilizações que pos-sam comprometer a segurança.

Difícil é que movimentações espontâneas – sem uma organiza-ção formal – sigam esses trâmites.

O réveillon fora de época recente, cujo centro de encontro foi na praça Espanha, reuniu cinco mil jovens na Praça Espanha de um dia para outro. O resultado, claro, muito lixo e reclamação. Neste ano, a segunda edição foi feita no Largo da Ordem, já sob alguns cuidados.

O exemplo resume o que ocorre normalmente nesses casos. O evento nasce, cresce, gera reação e se orga-niza – até que a próxima novidade ocupe outro espaço.

Cidade ativa

Sete anos atrás, a primeira Bicicle-tada reuniu meia dúzia de amigos. A iniciativa, realizada em várias cidades do mundo, teve origem em Curitiba num blog na internet cria-do para discussões entre filósofos, artistas plásticos e sociólogos. Na edição realizada no Dia Mundial Sem Carro (22 de setembro), reuniu cerca de dois mil ciclistas.

Cresceu em número e espírito. “A Bicicletada é uma celebração do espaço público da cidade”, diz Fernando Rosenbaum, cofundador do movimento na capital. “Quere-mos flanar e nos perder, praticar e interagir com a cidade, fazer parte do todo.”

Este ano, a Bicicletada volta a ser realizado todas as últimas sexta-feiras do mês, com concentra-ção às 18h30, na Reitoria.

D a n i l o H e r e k / D i v u l g a ç ã o

Bicicletada em ação: “É uma celebração do espaço público”, diz

Fernando Rosenbaum, um dos fundadores do movimento.

Pedalada coletiva

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O carnaval – ou melhor o pré e o pós carnaval – curitibano é responsável pelas principais mobilizações de Curitiba: o bloco Garibaldis&Sacis e a Zumbi Walk (antes) e a Quadra Cultural (depois).

Mais impressionante movimento da cidade, o Garibaldis & Sacis sai sempre nos quatro domingos anterio-res ao Carnaval. Começou em 1999, numa reunião de 20 amigos embala-dos por um megafone. O megafone

foi substituído pela Charanga do Rosinha (um carrinho de supermer-cado com uma caixa de som dentro), depois por um Fiat Fiorino, uma Be-lina, uma Kombi, um caminhãozinho e, finalmente, um trio-elétrico – que este ano fez entre 15 mil e 20 mil pes-soas, por apresentação, sacolejarem pelo Largo da Ordem. “Uma coisa que prezamos é a preservação do Largo. Ocupamos o espaço público, mas cui-dando de tudo”, diz Marcel Cruz, um

dos organizadores e cantor do bloco. As redes sociais – a partir do

hoje jurássico Orkut – multiplica-ram exponencialmente o número de participantes do evento. “A coisa cresceu de uma forma que foge do controle”, afirma Cruz.

A caminhada anti-carnaval Zombie Walk, por sua vez, reuniu cerca de três mil pessoas fantasiadas de mortos-vivos, num passeio entre a Praça Osório e as ruínas do São Francisco.

O carnaval mexe muito com a cidade

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Othon accioly, da associação de comerciantes do Batel, que batizou a região da Praça da espanha de Soho:

atrações permanentes.

Todos os sábados, a Praça da Espa-nha recebe uma feira de antiguidades e há shows com música ao vivo. Ao longo do ano também são realizadas feiras gastronômicas. A iniciativa apareceu e cresceu pelo trabalho da Associação dos Comerciantes da região do Batel Soho (Ascores), que é como os comerciantes gostam de chamar a região.

A associação foi criada no ano de 2007. A ideia era oferecer um circuito de compras, gastronomia e lazer para levar as pessoas à praça. Pegou.“Queremos estimular as pes-soas a vir à Praça da Espanha, criar atrativos para despertar o interesse na população”, diz Othon Accioly, um dos fundadores.

Para encher a praça

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Show na Quadra Cultural deste ano: sucesso de público e problemas com os vizinhos.

A torto e a direitoNo primeiro sábado após o carnaval, o empresário Arlindo Ventura, mais conhecido como Magrão, do Torto Bar, promove a Quadra Cultural, criada em 2008. A bem-sucedida iniciativa traz shows de nomes como Jerry Adriani (este ano) e Odair José. Além da música, há feira e bazar com comerciantes do baixo São Francisco, além de brincadeiras para crianças.

“A ideia é privilegiar a presença da família, para que todos tenham a sensação de bem-estar e segurança”, afirma Magrão.

Este ano, a festa chegou naquele

estágio de gerar discussão. A Qua-dra Cultural foi alvo de uma ação no final de fevereiro. O Ministério Público pede a interdição da festa por causa do barulho.

O blogueiro Zé Beto saiu em de-fesa da festa, em seu espaço no site do Jornale: “Na capital da província, o que dá certo tem de ser morto a pauladas. Resta torcer para que o bom senso prevaleça. O espetáculo tem de continuar”, escreveu sobre a ação. Sobre o último espetáculo, de Jerry Adriani: “O povão se divertiu como nunca. De graça.”

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Modernidade

Cidade efervescente

Com sede de inovação, curitibanos promovem onda

de criatividade. Para causar impacto positivo coletivo,

grupo não tem receio de dividir experiências

Érika Busani

Eles são jovens, não têm medo de ousar, buscam prazer no trabalho e geralmente

pensam além do seu negócio: querem contribuir de alguma forma com a sociedade, a cultura, o meio ambiente. Novos empresários emprestam uma cara moderna não só aos seus projetos, mas também à cidade.

“Há um movimento efervescente, que está emergindo pela força dele mesmo”, afirma Eloi Zanetti, publicitário da velha guarda, especialista em Comunicação e

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ão

Cone foi feito por Manu daher para o ambiente dos arquitetos Marício Pinheiro Lima e Carla Mattioli da Casa Cor Paraná.

o tema “estilo curitibano” ambientou o Café Concerto.

Marketing e um dos criadores da Escola de Criatividade, organização especializada em criatividade e inovação aplicadas aos negócios.

“Existe uma nova cidade acontecendo com esses novos curitibanos – sejam de fora ou gente que saiu da cidade, viu o que está acontecendo nos grandes centros urbanos e, quando volta, tem essa sede de criar coisas diferentes”, completa o relações públicas Jean Sigel, sócio de Zanetti, especialista em Marketing, Turismo e pesquisador

sobre o pensar criativo. Para ele, é uma tendência que veio para ficar e se modificar o tempo todo. “As pessoas estão trabalhando de forma criativa em vários setores.”

Uma das características desse pessoal é não ter medo de dividir ideias. “A criatividade hoje é mais coletiva do que individual”, diz Sigel.

Coletiva não apenas no sentido de compartilhar sonhos e projetos, mas de pensar o que vai gerar de impacto positivo na vida das pessoas. É buscar realização antes

do dinheiro. “Comprometer-se com uma visão ética e responsável socialmente é um diferencial”, analisa Paulo Chiesa, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unversidade Federal do Paraná (UFPR). “É uma tomada de atitude, um esforço de estar e ser presente no mundo atual. Há que aplaudir, divulgar e estimular esse tipo de ‘novo empreendedor’.”

A seguir, veja alguns exemplos da turma que faz essa nova modernidade em Curitiba.

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A menina que andava de bicicleta pelas ruas e matas de Morretes sentindo o perfume do jasmim, com uma flor da espécie atrás da orelha, cresceu e fez do entusiasmo pelas flores seu ganha-pão. Lá nos tempos de pés no chão e vento nos cabelos, Manu Daher, 34 anos, não imaginava que um dia as flores, além de encantá-la, seriam a matéria-prima para seu ofício – design floral.

Filha da atriz e diretora cênica Jaqueline Daher, Manu teve uma formação voltada para as artes. Seu trabalho terminou por aliar suas duas paixões: a arte e natureza.

O primeiro contato da moça com a floricultura aconteceu em Paris, onde morou “para conhecer um pouco o mundo antes de criar

raízes”. Entre os vários empregos que teve, foi estagiária em uma loja de flores. No ano seguinte, uma exposição de design floral em Boston aguçou os sentidos: “Eram esculturas! Me encontrei”.

De volta ao Brasil, foi à luta para colocar em prática a ideia, uma novidade por aqui. “Foi uma turbulência. Eu tinha 20 anos, estava grávida e começando um casamento”, conta.

A moça calma e tímida meteu a cara. Começou com pequenos eventos e fornecimento de arranjos florais para hotéis. O negócio cresceu no boca-a-boca, mais rapidamente do que o esperado. “A experiência não era tanta. Tive meus percalços”, diz.

Ainda no tempo em que a

palavra reciclar não estava tão na moda assim, ela fazia questão de aproveitar toda a matéria-prima, como os cabos das rosas. Hoje, atende vários tipos de eventos. Há um ano, abriu uma loja para vender ao público em geral.

Manu acha que um de seus diferenciais é que sabe fazer, não apenas coordenar a equipe. Mesmo para os grandes eventos, o primeiro arranjo sempre sai de sua cabeça – e não repete ideias de um trabalho para outro. “Assim a vida profissional fica mais divertida. O cliente adora saber que o evento terá a cara dele.”

Serviço:Al. Presidente Taunay, 543, Bigorrilho, fone (41) 3222-8334.

Vejo flores em você

Modernidade

G u i l h e r m e P u p o

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A matéria “Paço da Liberdade” da RICTV

Record recebeu os dois principais prêmios

da Federação do Comércio do Paraná.

Resultado de um jornalismo pautado

pela credibilidade e pelo respeito a você,

telespectador.

Reportagem: Marília Seeling

Produção / Edição: Kelson Henrique

Edição de imagens: Wagner Antonello

Imagens: Luciano Chinasso

Prêmio Fecomércio de Jornalismo

1º LUGAR GERAL

1º LUGAR NA CATEGORIA

TELEJORNALISMO

QUANDO OJORNALISMO É LEVADOA SÉRIO, A QUALIDADEDA MATÉRIA VIRA NOTÍCIA.

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Modernidade

Tudo ao mesmo tempo agoraModa, design, arte, música e gastronomia. Tudo no mesmo espaço. O embrião da Galeria Lúdica foi gestado no Mega Bazar Lúdica, evento realizado na Casa Vermelha, no Largo da Ordem, que contou com oito edições -- de 2007 a 2011.

Desde a faculdade de Arquitetura, Débora Mello, 37 anos, já tecia planos para abrir a galeria. Após o sucesso dos bazares, foi atrás de um investidor e inaugurou o espaço multicultural em novembro de 2009. Suas prateleiras, araras e paredes comportavam roupas de marcas conhecidas, muita arte e peças de design. O bistrô era terceirizado.

“A recepção foi superbacana, gerou muita mídia espontânea. Mas acredito que, por ser uma loja de rua com peças mais caras, os

clientes não estavam acostumados a pagar”, conta Débora.

A parte gastronômica ficou um tempo fechada, sendo reaberta em 2012. Deu tão certo que mudou tudo. A hamburgueria tomou conta de todo o espaço térreo da galeria, a arte subiu para o primeiro andar e a moda deve ser terceirizada ainda neste ano. “O público encaminhou esse processo.”

A hamburgueria atrai gente que frequenta os bares da região, o São Francisco, para a chamada pré-balada. “É um ponto de encontro de pessoas que conversam sobre ideias, opiniões. Um papo mais construtivo, não fofoca de bar”, garante a proprietária.

Mas a comida também agrada, a se julgar pelo prêmio recebido em menos de um ano de funcionamento, na categoria

comidinhas da Veja Comer e Beber Curitiba.

Na seção “arte”, Débora também gosta mostrar o trabalho de gente que ainda não fez exposição. E de criar projetos como o Street Paint Party, uma festa de rua que tenta eliminar a pichação na quadra da Galeria, e o Motion Layers, que está em andamento, grafitando paredes cegas de alguns prédios da cidade, com a devida autorização dos proprietários. “Sempre gostei de projetos complexos. É trabalhoso, toma bastante tempo, mas é prazeroso.”

Serviço:rua inácio Lustosa, 367, São Francisco, fone (41) 3024-8114. Aberto de quarta a sábado, das 16h à meia-noite, e domingos e feriados, das 16h às 21 horas.

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Nem parece um salão de beleza. E não é mesmo para parecer. Com suas penteadeiras antigas, seus lustres de cristal, a seleção musical singular e o visual moderno de seus funcionários, o Lolitas Coiffure está mais para uma mistura de casa da avó com reunião de amigos. E, entre uma coisa e outra, saem cortes, penteados e maquiagens.

O espaço charmoso foi idealizado pela dupla Michelle e Christopher Kelly. Ela, brasileira, nascida em Cascavel e criada em Curitiba, 32 anos. Ele, inglês, 37 anos. Os dois se conheceram em Londres, onde a espevitada Michelle estudou a arte dos cabelos nos reconhecidos

Toni&Guy e Vidal Sassoon. A efervescência cultural

londrina combinava com o espírito inquieto de Michelle. Mas tinha o outro lado. “Como a cidade não para, a gente também não. Chega uma hora que cansa. Aí começamos a formular o Lolitas.”

Dois anos depois, abriram aqui a casa que uniu as tesouras de Michelle com os LPs de Christopher, especialista em música que trabalhou com pesquisa e seleção de artistas para as gravadoras Tower Records e Virgin Records.

E, por mais que a intenção fosse desacelerar, quem troca meia dúzia de palavras com Michelle percebe que calmaria

não combina com ela. O Lolitas “ancora” diversos projetos paralelos. Um deles é o Festival Ruído nas Ruínas, de shows gratuitos no São Francisco. Derivado do festival, o Ruído Sessions está saindo agora, no TUC, com 20 shows gratuitos, dez bandas e a gravação de um DVD.

Chris é DJ na badalada festa Só o Soul Salva. O Lolitas também promove o Palco Lavanderia, tardes com bandas, DJs e bazar de moda, design e arte.

Isso tudo porque eles queriam desacelerar.

Serviço:rua Trajano reis, 115, fone (41) 3224-8115.

Beleza de salão

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Ensina-me a viverA moça que não sabia cozinhar e preparou um jantar para o namorado pela primeira vez. O cara feliz porque sua casa vive cheia de gente depois que aprendeu a fazer drinques. A menina que não comia doces há sete anos e se emocionou ao experimentar um mousse de maracujá sem lactose. Histórias despretensiosas como essas enchem de alegria os publicitários Ricardo Dória, 27 anos, e Guilherme Krauss, 26.

Por quê? Porque cumprem a missão que eles traçaram para suas profissões: tornar as pessoas mais interessantes para elas mesmas e – de quebra – para os outros.

Recém-saídos da faculdade, os amigos tinham bons empregos, mas não estavam completamente satisfeitos. “Queríamos fazer coisas mais legais para a gente e que

fossem legais também para as pessoas, a cidade, o país, o planeta”, entusiasma-se Ricardo.

Passaram a almoçar juntos semanalmente para “buscar ideias malucas”, sem filtros ou preconceitos. Os encontros renderam uma planilha com 50 projetos. Dois deles viraram realidade.

O primeiro foi a Aldeia Cowor-king, um escritório colabo rativo, onde as pessoas pagam para usar a estrutura necessária aos seus afazeres. Não foi uma coisa, assim, inédita, mas nasceu com um conceito diferente. “Nossa grande sacada foi que as pessoas não estão aqui só para trabalhar, mas para se desenvolver e criar uma rede”, diz.

Dois anos depois nascia A Grande Escola. Definida como “a escola das coisas que não se aprendem na escola”, sua função é preparar para “as grandes provas da

vida”. “Na educação formal, o cara é capacitado para ganhar dinheiro, produzir, mas não é preparado para a vida. Nossa ideia é essa: preparar para viver”, explica Guilherme.

A criatividade dos cursos começa no nome, como “Culinária sem miojo -- turbine a gororoba”; “TPM -- tempo para mulheres” e “iPhone Life -- saiba como essa belezura pode mudar sua vida”. A escola também ensina a arte da conversa, física quântica para leigos, como transformar sua casa com R$ 500 e receitas sem glúten ou sem lactose. Ou como fotografar momentos legais, fazer drinques e paquerar.

Enfim, aquelas dicas que normalmente a gente só consegue com os amigos mais legais.

Serviço:rua José Loureiro, 347, Galeria Suissa, 1º andar, Centro, fone (41) 3018-6003.

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Modernidade

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O AMIGO DO CORAÇÃO

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curitibanos

Para mim, Curitiba é...É óbvio, mas é sempre bom lembrar: acima das ruas, casas, prédios, lojas, escolas, empresas, uma cidade é constituída de pessoas. O que dá alma ao lugar são as lembranças, olhares, descobertas de quem vive a cidade. É isso que cria refúgios, reforça ou acaba com clichês, mostra contrastes (bons ou ruins).Curitiba é assim, uma multiplicidade só.Fizemos uma pequena seleção de curitibanos nativos ou adotados para colher algumas percepções sobre a cidade – gente como a premiada atriz Simone Spoladore, Hermeto Pascoal (um dos maiores instrumentistas do mundo) e Marcos Jorge (cineasta que nos oferece uma interessante pensata).Érika busani

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... descoberta:“Ter 16 anos e sair pelas ruas descobrindo o mundo, de marquise em marquise, de cinema em cinema, de teatro em teatro... Tudo isso para descobrir quem eu era, quem eu sou.”

Simone Spoladore, atriz curitibana que vive há 10 anos no rio de Janeiro. Foi indicada ao prêmio shell pela sua atuação na peça Depois da Queda, na qual interpreta uma personagem inspirada em Marilyn Monroe. Estrela da novela Balacobaco (record).

Vale conhecerTeatro Novelas Curitibanas. “A casa foi um bordel no passado, além de outras, a peça O Vampiro e a Polaquinha, adaptação de contos de Dalton Trevisan, ficou anos em cartaz ali, com excelentes atores curitibanos. Eu atuei lá numa adaptação de um romance de Paulo Leminski, Agora é que São Elas.”

r. Pres. carlos cavalcanti, 1.222, são Francisco curitiba, fone (41) 3321-3358. atualmente em cartaz peças do Festival de teatro de curitiba.

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Teatro Guaíra. “Era este o templo que incendiava minha imaginação e desejo quando eu era garoto. Suas três salas foram significativas para mim. Na sala grande lembro de ter visto espetáculos de fora que me marcaram para sempre, Denise Stoklos fazendo Mary Stuart, Fernanda Montenegro em Dona Doida e tanto Paulo Autran. No Guairinha o auge do Teatro de Comédia do Paraná, grandes montagens do teatro paranaense, New York, da obra de Will Eisner dirigida por Edson Bueno, a antológica montagem de Bruxas de Salém, de Marcelo Marchioro, e Mistérios de Curitiba, do Ademar Guerra. No Mini Guaíra tanto teatro underground e Grato Maria Bueno, linda montagem de Raul Cruz.

rua XV de novembro, 971, centro, fones (41) 3304-7900 e 3304-7999.

...essência:“Meu repertório, meu vocabulário e muito do melhor da minha memória.”

Guilherme Weber, ator, diretor e produtor curitibano, vive no rio de Janeiro há sete anos. Vencedor do Prêmio da associação dos críticos de arte de são Paulo por dois anos consecutivos, como melhor ator de teatro por Educação Sentimental do Vampiro, baseado nos contos de Dalton trevisan, e melhor ator de televisão pela minisérie Queridos Amigos.

Vale conhecer

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Zoológico. “Sinto que os animais são bem tratados e há um bom espaço para andar.”

Parque iguaçu. acesso pelo Jardim Paranaense ou pela Via intercavas, alto boqueirão. Visitas de terça a domingo, das 9 às 17 horas, fone (41) 3378-1221. Grátis.

A Pamphylia, Itália Grill e Batel Grill. “Adoro comida feita com bom gosto e bem variada.”

a Pamphylia, avenida batel, 1.733, batel, fone (41) 3342-7055.itália Grill, rua Marechal Deodoro, 630, shopping itália, fone (41) 3015-7071, site www.italiagrill.com.br.batel Grill, avenida nossa senhora aparecida, 78, fone (41) 3342-8101, site www.batelgrill.com.br.

Vale conhecer

... um bom lugar:

“Uma cidade ótima pra se viver. O povo é maravilhoso.”

Hermeto Pascoal, compositor arranjador e multi-instrumentista alagoano, mora em curitiba desde 2003.

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... porto seguro:

“A cidade onde eu vivi a minha vida toda. Nesse momento em que estou morando em São Paulo, é para onde eu fujo.”

Cacá V, vocalista do copacabana club. curitibana, mora em são Paulo há seis meses.

Vale conhecer

Rause Café + Vinho. “Um lugar superconfortável, com ótimas comidinhas e cafés.”

alameda Dr. carlos de carvalho, 696, centro. aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 23 horas; e sábados, das 12h às 18 horas.

Le Voleur de Vélo. “Drinques incríveis!”

rua Presidente taunay, 543, loja 1, bigorrilho, fone (41) 3079-6750.

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Vale conhecer Museu Oscar Niemeyer: “Curitiba ganhou muito com a criação do museu. O comitê artístico tem acertado na escolha de exposições de grande qualidade e diversidade.”

rua Marechal Hermes, 999, centro cívico, fone (41) 3350-4400. aberto de terça a domingo, das 10h às 18 horas. Entrada r$ 6. site www.museuoscarniemeyer.org.br

Tienda Café: “É onde reúno os amigos nas minhas passagens pela cidade. É lá também que faço minhas reuniões de trabalho.”

rua Fernando simas, 27, bigorrilho, fone (41) 3027-5251.

... preocupação:

“Uma cidade tranquila, mas que está se desumanizando com uma expansão urbana que se afasta cada vez mais daquele slogan de cidade ecológica que tanto marcou os anos 90.”

Cristianne Rodrigues, curadora de exposições fotográficas curitibana, vive em Paris há sete anos. É diretora do Fotorio na Europa, onde sua missão é levar exposições europeias para o rio de Janeiro e mostrar a fotografia brasileira na França.

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Vale conhecer

Viagem de trem a Morretes. “Sempre gosto de mostrar para as pessoas como o passeio é lindo. O charme e a nostalgia do trem, a beleza das montanhas e da vegetação, o cheirinho de orvalho.”

serra Verde Express, http://serraverdeexpress.com.br, fone (41) 3888-3488. saídas diárias, às 8h15. tarifas a partir de r$ 57 (ida) e r$ 40 (volta).

... estímulo: “Uma montanha-russa. A mesma relação bipolar que tenho com as pessoas que amo, tenho com a cidade. Amava odiar Curitiba. Agora, mais madura, não canso de falar para as pessoas: ‘Olha, você viu que lindo aquilo?’. Em Curitiba, o estímulo visual é constante e agrada! Perto da casa da minha mãe as lixeiras são pintadas com tulipas; é lindo e delicado. Contrariando um pouco a fama de que os curitibanos são ‘fechados’, já recebi mais de uma vez um simpático e delicado ‘bom dia’ de desconhecidos nas ruas.”

Fabiana Gomes, única maquiadora sênior da M.a.c no brasil (marca internacional de cosméticos, que atende mais 200 estilistas de moda no mundo.) curitibana, mora em são Paulo há 16 anos.

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Vale conhecer Bar do Pachá. “O ambiente é maravilhoso, com gente bonita e inteligente. A comida é deliciosa e o atendimento caloroso.”

rua cláudio Manoel da costa, 548, bom retiro, fone (41) 3044-4480.

Parque Bacacheri. “É um dos lugares mais charmosos de Curitiba.”

rua Paulo nadolny, s/n°, bacacheri.

... paixão:“Diferente do resto do país. Hoje é a minha casa. Sou apaixonado pela cidade, as pessoas, o estilo de vida. Gosto muito do frio, da cultura do curitibano. É Gotham City: fria, cinza, tem magia, mistério, charme. Sou fã.”

Guilherme Lopes, ator e dublador. Faz a voz de Laurence Fishburne, o Morpheus de Matrix, e do personagem Plankton, do desenho Bob Esponja, entre várias outras. Paulistano, “namora” com curitiba há mais de 30 anos.

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Vale conhecer Pista do Gaúcho. “É a primeira pista de Curitiba, foi reformada há pouco tempo, está perfeita para andar de skate. E tem o sorvetinho muito popular ao lado dela. “

Praça do redentor, entre as ruas nilo Peçanha, trajano reis e Desembargador benvindo Valente, são Francisco. não fecha. Gratuito.

sorvetes Gaúcho, Praça do redentor, 13. aberto diariamente das 12h30 às 19h (ou mais, se estiver calor), fone (41) 3223-5054.

... aconchego:“Meu refúgio, minha cidade do coração. Perambulei muito pelo mundo e toda hora de voltar à cidade natal ficava ansioso. Esta cidade me completa.”

Rodil de Araújo Jr., o Ferrugem, curitibano bicampeão mundial de street skate profissional, 7 vezes medalhista de ouro dos X-Games, 12 vezes campeão brasileiro profissional de street skate e 2 vezes campeão americano de street skate profissinal.

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Curitiba é – sempre ouvi e vá-rias vezes repeti – provincia-na, fria, ecológica, modelo,

europeia, sisuda. Seus habitantes são desconfiados e antipáticos, vampiros, odeiam-se entre si e alimentam-se de pinhões, pierogis e vinas... E por aí vai. Minha curitiba-na desconfiança, no entanto, sempre me levou a perguntar: será?

Provinciana? Morei em Curitiba boa parte de minha vida, mas cerca de um terço dela passei em outras cidades. E na maior parte delas ouvi queixas dos moradores quanto ao “provincianismo” reinante. Mesmo em São Paulo, nossa maior metró-pole, percebo um provincianismo mal disfarçado. Curitiba é provin-ciana em muitos aspectos, mas isso não a caracteriza; pelo contrário, a torna semelhante à imensa maioria das grandes cidades.

Fria? Curitiba talvez seja, es-tatisticamente, a capital mais fria do Brasil, mas faz muitos anos que não vejo, como na minha infância, a geada cobrir os tetos das casas nas manhãs de junho. O aque-cimento global já está fazendo de Curitiba uma cidade quente, mas ainda gostamos de reclamar daqueles poucos dias frios que nos restaram.

Ecológica? Separamos o lixo, é verdade, mas sabemos para onde ele vai? Cultivo o hábito de cami-nhar quase todos os dias por algum parque curitibano e, por mais que me esforce, não consigo achar “ecológico” o estado dos rios que os atravessam.

Cidade-modelo? Em Curitiba e Região Metropolitana acontecem, em média, cinco assassinatos vio-lentos por dia. Precisa comentar?

Europeia? Algum tempo atrás recebi a visita de um amigo italiano,

que passou três meses em Curitiba trabalhando num de meus filmes. Bem informado e viajado, não can-sava de me repetir como Curitiba lhe parecia uma cidade “americana”, e como estava feliz em estar aqui no “novo mundo”.

Sisuda? Curitiba é hoje um cria-douro incrível de comediantes, que se exercitam em dezenas de bares, apresentando diariamente espetácu-los de stand up comedy. Comedian-tes que, inclusive, se espalham pelo Brasil inteiro.

E por aí iríamos, se fôssemos olhar de perto, desconfiados, cada um dos clichês que “caracterizam” nossa cidade. Aliás, acho que outra das características do curiti-bano é gostar de olhar as coisas de perto. E, se de perto ninguém é normal – desculpem-me por mais este clichê –, de perto ninguém é perfeito. É por isso que o curitiba-no gosta tanto de falar mal da sua cidade.

Uma cidade não tem uma forma fixa, muda o tempo inteiro. E Curitiba mudou muito nas últimas décadas. Quando constato que os velhos clichês não dão mais conta de descrevê-la, penso que está mais do que na hora de forjar novos clichês. E isso é tarefa de todos, especialmente dos artistas. Porque são eles que acabam sintetizando e eternizando, em suas obras, a alma de uma cidade.

Meu desejo é que intensifique-mos, artistas curitibanos nativos ou adotivos, nossos esforços para revelar e inovar a identidade de nos-sa cidade. Até mesmo porque hoje constatei, surpreendido, que meu filho de 10 anos – embora nascido em São Paulo, é o mais entusiasta curitibano que conheço – não tem bem claro o que é uma vina!

O sentido da vina

PEnsata | MARCoS JoRGe

Marcos Jorge, diretor e

roteirista de filmes. Diretor

de Estômago, que arrebatou

39 prêmios, 16 deles internacionais, e foi o filme

brasileiro mais premiado do biênio 2008-2009.

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Aly Muritiba levou menos de uma hora para escrever o roteiro que lhe rendeu uma

pré-indicação a melhor filme de curta-metragem do Oscar 2013. Era uma tarde fria de agosto de 2010. A professora do curso de Cinema e Ví-deo da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) passou uma tarefa daquelas “façam agora”. Sentado numa mesa perto da cantina, ele elaborou a base do curta-metragem A Fábrica.

Muritiba ficou de fora da seleção final do mais badalado prêmio do cinema internacional – aquele visto

por 1 bilhão de pessoas no mundo. Mas fincou seu nome no circuito da sétima arte. Sorte de principiante? Passa longe disso. Muritiba não é exatamente um principiante e sem-pre ralou muito. “Nunca tive nada de mão beijada. E, se tivesse, talvez não aceitasse”, garante.

Para entender a ascensão do promissor diretor é preciso voltar 33 anos no tempo e dar uma parada no sertão da Bahia, mais precisamente na pequena Mairi, que hoje tem 19 mil habitantes. Filho do meio de um caminhoneiro e de uma dona de

casa, Alysson – o nome de batis-mo – lembra-se pouco da infância. “Tenho a impressão de que as coisas que lembro eu mesmo criei, para preencher uma lacuna.”

Mais introspectivo dos irmãos, gostava de ficar em casa lendo. Devorava o que lhe caísse nas mãos: das tramas infantojuvenis da coleção Vaga-Lume aos best-sellers de Sidney Sheldon e Paulo Coelho. “Não me envergonho disso não, faz parte da minha infância”, diz ele. Mas não daria para o meu filho ler essas coisas hoje.”

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O Oscar está logo ali

Aly Muritiba saiu do interior baiano para

se firmar “cineasta curitibano” recheado de

prêmios internacionaisÉrika Busani

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ItinerantesMairi não tinha (e não tem) cinema. O terreno colado à casa dos Muri-tiba, no entanto, recebia todos os circos, parques e cinemas itinerantes que passavam pela cidade. A família fornecia água para os mambembes; em troca, os meninos assistiam aos filmes e espetáculos de graça.

Não, não foi embaixo da lona abafada vendo golpes de Bruce Lee e trocas de tiro dos westerns que sur-giu o Aly-cineasta. “Aconteceu por acaso”, resume. Ele queria mesmo era ser cantor de rock.

Vieram os anos de formação. “Como todo retirante nordestino”, Aly foi tentar a sorte em São Paulo. Passou por vários empregos até encontrar um que lhe permitisse pagar cursinho e tentar entrar numa universidade pública. A trajetória rumo à telona começou na forma de bilheteiro na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o que lhe permitiu bancar os estudos.

Entrou na faculdade de História da USP (Universidade de São Pau-lo), onde conheceu a mulher. Após concluir o doutorado em biologia,

Ana Lúcia quis voltar para Curitiba. Casado, com Daniel (atualmente com 10 anos) no colo, o baiano arrumava as malas para um destino incerto, mais ao Sul do que imaginara.

Corria o ano de 2006. Crash havia tirado a estatueta de melhor filme do favoritíssimo O Segredo de Brokeback Mountain. O Oscar era para ele o que é para a maioria dos mortais: uma coisa bem distante. Desempregado, Muritiba viu na tevê a propaganda de um novo curso da FAP: Cinema e Vídeo. Prestou vesti-

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bular, mais empenhado em ocupar o tempo do que qualquer outra coisa. Na primeira tentativa, não passou. Na segunda, perdeu hora da prova. Na terceira, foi aprovado. Decidiu seguir carreira.

Desde então, a vida profissional evoluiu muito rapidamente. Seu pri-meiro curta, Convergências, saiu já no segundo semestre de estudos, em

2008. A faculdade (não concluída) ficou para trás e a produção cresceu: sete curtas, um longa (em codire-ção) e um documentário – todos produzidos pela Grafo Audiovisual, que montou com os sócios Antônio Junior e Marisa Merlo.

O Homem que Matou a Minha Amada Morta nem começou a ser fil-mado ainda, mas o projeto já ganhou

três importantes prêmios na área de produção (na Espanha, Equador e no Paraná). Com as Próprias Mãos rodou mais de 50 festivais, ganhou 17 prêmios e foi exibido no canal de televisão paga AXN. Trajetória de tremendo sucesso entre seus pares. Um amigo, seu ex-professor, alertou: “Vai ser difícil você superar isso”. Em dois meses, veio A Fábrica.

cena de Circular, longa feito em esquema de direção colaborativa de aly e mais quatro companheiros. no filme, cinco histórias se cruzam dentro de um ônibus.

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Reminescências, curta de 2010 escrito e dirigido por aly, traz fragmentos de busca ao passado.

TemáticaMuritiba trabalha temas recorrentes, embora faça isso de forma não--proposital. “Todos os meus filmes falam, em alguma medida, das relações entre pais e filhos”. Alguma explicação? “Talvez por causa da infância que eu esqueci.”

O que ele faz de forma delibera-da é falar de coisas com que vive.

“Meus filmes têm muito da minha bagagem”, diz ele. “São comprometidos com a classe C, D, E, com o nordestino, com o cara que vive no Sítio Cercado ou que está preso ou é o guarda da prisão...”.

Muritiba vive com a mulher e os dois filhos (Daniel e Natália, 5) no bairro da zona sul curitibana. Joga

videogame e jogos de tabuleiros com as crianças. “É tudo normal. Não há o menor glamour nessa vida de cineasta.”

A Fábrica ganhou o primeiro aceno do glamour do Oscar. As 10 ou 12 horas que dedica por dia à sua produtora pode muito bem estar criando outras saudações. É traba-lhar para ver.

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Do Ahú para o mundo

Toda a tensão envolvendo uma mãe que vai traficar um celular para o filho na prisão e o que filho fará com o dito aparelho. O argumento da história que Aly Muritiba botou no papel durante uma tarefa da faculdade teve origem nos anos em que trabalhou como agente penitenciário, “para sobreviver”.

Experiência e criatividade que geraram 15 minutos poderosos. Filmado no presídio desativado do Ahú, A Fábrica conquistou 60 prêmios em festivais de cinema ao redor do mundo.

Foi, no entanto, a partir da indicação para o Oscar que ganhou visibilidade nacional. “Se fosse um filme rodado em São Paulo ou no Rio por um diretor ou produtor de lá, estaria na mídia há muito mais tempo”, afirma. “O fato é que nós estamos no Paraná e eles fazem questão de nos ignorar.”

O curta ficou entre os 11 pré-selecionados da categoria no Oscar. Não entrou na seleção dos cinco finalistas, que comparecem para a festa maior de entrega das estatuetas (na categoria de curta-metragem, quem levou este ano foi o diretor Shaw Christensen, com Curfew).

Mas foi o suficiente para Aly Muritiba ver crescerem os holofotes sobre seu trabalho.

FilmografiaCircular, longa-metragem, ficção, 2011 - direção e roteiro.

A Fábrica, curta-metragem, ficção, 2011 - direção e roteiro.

S B X, curta-metragem, ficção, 2011 - direção e roteiro.

Dia 1 p.m., curta-metragem, docu-mentário, 2010 - direção, fotogra-fia, som e roteiro.

Reminiscências, curta-metragem, ficção, 2010 - direção e roteiro.

A Revolta, telefilme, documentário, 2009 - direção e roteiro.

Com as Próprias Mãos,  curta-metragem,  2008 - direção e roteiro.

Poemas Inúteis, curta-metragem, documentário, 2008 - direção, montagem e roteiro.

Convergências,  curta-metragem, ficção,  2007 - direção e roteiro.

cinema

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eloina Ferreira, atriz de A Fábrica: narrativa forte sobre

uma mãe que tenta ajudar filho preso. Filme ficou entre

os pré-finalistas do Oscar.

Principais prêmios de A Fábrica

» Melhor curta-metragem no World Wide Short Films 2012 (Toronto, Canada).

» Melhor curta-metragem no 52º Festival Internacioanal de Cartagena das Indias (Colômbia).

» Melhor Direção de um curta-metragem no 52º Festival Internacional de Cartagena das Indias (Colômbia).

» Menção Especial do Júri no 34th Festival de curtas-metragem de ClermonFerrand (França).

» Melhor filme pelo Júri Popular, melhor roteiro e melhor atriz no 44º Festival de Brasília.

» Melhor filme no Lago Film Festival (Itália).

» Melhor curta-metragemno 14º Encontros do Cinema Sulamericano de Marselha (Marselha, França).

» Melhor curta-metragem Internacional do 8º Festival Internacional Cine Rengo (Chile).

Serviço:Alguns dos filmes podem ser vistos no site

www.vimeo.com/grafoaudiovisual

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A cada ano, a criatividade e o capital intelectual movi-mentam US$ 3 trilhões em

negócios e já são responsáveis por 10% da economia mundial. Para ampliar sua participação neste filão, Curitiba aposta na economia cria-tiva, que inclui cultura, economia, tecnologia e sustentabilidade em seu leque de atividades.

“Nossa tarefa é fazer com que a cidade chegue ao modelo de Economia Criativa”, diz a presidente da Agência Curitiba de Desenvolvi-mento, Gina Paladino. A ideia é dis-tribuir pela cidade os benefícios que até recentemente eram destinados a conglomerados. O nicho econô-mico planejado tem como essência

a valorização da cultura, elemento presente nas 13 áreas previstas de atuação: arquitetura, publicidade, design, artes, antiguidades, ar-tesanato, moda, cinema e vídeo, televisão, editoração e publicações, artes cênicas e performáticas, rádio e softwares de lazer e música.

A estratégia municipal de trans-formação de Curitiba em uma smart city econômica é ousada, mesmo porque rompe com um modelo que tinha nos clusters – os aglomerados empresariais – o centro da ativi-dade econômica. Em certas áreas, antigos clusters dão lugar a uma nova configuração. O caso clássico é o do Rebouças, distrito industrial curitibano por décadas. O antigo

Moinho Paranaense foi transforma-do na charmosa sede da Fundação Cultural e a planta industrial do Matte Leão dará lugar a um gigan-tesco templo evangélico.

O caso da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) é bem diferente, mesmo porque concentra gigantes industriais como a Bosch e a Volvo. Ainda assim, esse cluster “ortodoxo” também dá sinais de flexibilidade. Gina Paladino observa que, já nos anos 1980, a CIC teve influência do movimento tecnológico direcionado à matriz produtiva de software, algo que, na época, era muito novo.

O Parque de Software, que atraiu indústrias do setor eletroeletrônico, seguiu com o fortalecimento da

Produção

Opção pela economia

criativaCidade pretende estimular setor que movimenta US$ 3 trilhões no mundo e depende de boa plataforma digital para se desenvolverJoão Pedro de Amorim Jr.

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ideia do Tecnoparque, que saiu do papel em 2007. A ideia, então, era fugir dos limites da CIC, o que foi estimulado por benefícios em IPTU e ISS para a implantação de empre-sas na área que segue a Marechal Floriano Peixoto no sentido Rebou-ças. “O chamado ISS Tecnológico combina o zoneamento produtivo com a política urbana de zoneamen-to”, observa Gina.

Ou seja: o grande projeto econômico de Curitiba para os próximos anos – tão ousado quanto a revolução urbana da década de 70 – pretende estimular e acelerar um movimento que já existe, que pode ser visto nos próprios clusters e em nossos designers, programadores,

agitadores culturais, artistas, confei-teiros, arquitetos...

Plataforma A aposta da agência para Curitiba está na “cidade digital”, que só vai funcionar com a constituição de uma poderosa infraestrutura tec-nológica baseada em meios digitais de alta capacidade de transmissão de dados e que tenha segurança e qualidade. “Essa será a porta e o elo para que Curitiba produza e faça valer os seus talentos sem barreiras físicas e geográficas”, sintetiza Gina.

A partir da plataforma digital, diversos segmentos econômicos podem decolar. Arte, criação e artesanato são setores promisso-

res em Curitiba para a difusão da economia criativa. “Temos talen-tos individuais reconhecidos e a missão de transformar os talentos em empreendimentos. Não há gargalos para competências e ta-lentos com o suporte da dimensão tecnológica. Podemos produzir aqui ou atrair talentos e produções que possam ser complementados em Curitiba”, projeta.

InspiraçãoA proposta defendida por Gina Paladino se assemelha à do arquiteto inglês Richard Rogers, vencedor do prêmio Pritzker, para as áreas urba-nas. Conhecedor de Curitiba, ele foi o responsável pela obra do Centro

Gina Paladino, da Agência Curitiba de desenvolvimento:

estímulo para incrementar a produção criativa.

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Georges Pompidou, em Paris, que transformou um museu de formato clássico e estanque em um dos pontos culturais mais vibrantes do mundo. “A cidade tem uma razão primária de ser que é para o en-contro de pessoas. Para o encontro de pessoas e para fazer negócios e cultura. Então, se você não pode se encontrar, a cidade desmorona.”

Curitiba, segundo Rogers, caminha na direção certa. “Achei Curitiba uma cidade humana, com seus parques, o sistema de ônibus expresso e qualidade de vida. Passei três dias emocionantes em Curitiba com Jaime Lerner e sua equipe. Jaime tem me ensinado muito como estruturar uma cidade existente. Curitiba é uma cidade modelo.”

Ele prega que a cidade deve ser justa e ter uma boa distribui-ção econômica, o que rima com a proposta de uma economia criativa e democrática. “A distribuição de riqueza é um dos pontos-chave para uma cidade compacta. No fim, estamos falando de uma cidade sustentável e socialmente funcional. Uma cidade sustentável, socialmen-te viável.”

“Há a preocupação de espe-cialistas em não se deixar levar pela ingenuidade de acreditar que tudo é economia criativa. Digamos que, tendo a criatividade como uma capacidade humana, todas as atividades estariam no limiar da economia criativa, mas não é bem assim”, afirma Patrizia Bittencourt Pereira, do Comitê Gestor da Rede de Economia Criativa do Paraná (Redec). O diferencial da econo-mia criativa, segundo ela, está em dimensão simbólica e isso não é tão evidente de ser captado em produ-tos, processos e cidades.

“A singularidade do processo é importante. Um exemplo é Berlim, que se organiza e dá espaço para que as pessoas revivam as dores do Holocausto de maneira refle-xiva, valorizando a sua história, construindo a memória coletiva, conservando o patrimônio material e imaterial.” Isso também acontece quando marcas se diferenciam com a abordagem de aspectos éticos e es-téticos ou quando espaços ganham funções incomuns – como um res-taurante familiar que agrega espaço para a literatura infantil.

Outra preocupação é a de cuidar para que a criatividade não vire moeda de negociação, de forma que não se permita que os talentos fujam do estado ou que sua criati-vidade seja apropriada por grupos empresariais, mas que sejam valo-rizados e retidos na região. “Assim, todos poderão beneficiar-se da ten-dência que vemos hoje. Ou seja: a sociedade de consumo se sofisticou e sinaliza a tendência de desejo por produtos de valor agregado cada vez maior”, observa Patrizia.

Cuidado com a “criatividade de araque”

“A distribuição de

riqueza é um dos

pontos-chave para

uma cidade compacta.”

Richard Rogers, arquiteto inglês.

Produção

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Funcionária de restaurante italiano em Santa Felicidade:

primeiro polo de Curitiba atrai milhares de pessoas.

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O longo caminho até o poloDa lasanha ao sapato: como os comércios se aglomeram até virarem referência em produtos e serviçosVinicius Boreki

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Uma metrópole se caracteriza por uma enorme variedade de quase tudo. A riquíssima

diversidade de suas ruas guarda lugar para que em algumas regiões surja um agregado de almas pareci-das o que, no comércio, se chama polo.

Em uma Curitiba com 1,9 mi-lhão de habitantes, 4,6 mil quilô-metros de ruas e 158 mil comércios ativos, encontra-se pelo menos uma dúzia desse modelo de varejo. É o que a linguagem econômica vê como fatores aglomerativos e os consumidores resumem como vou lá na rua de calçado/música/bar/restaurante/eletrônico....

O caso pioneiro e recordação mais óbvia são os restaurantes italianos de Santa Felicidade. Um exemplo de polo pioneiro e que deu cria, tornando-se também um centro de decoração com inúmeras lojas de móveis.

“A maioria das pessoas acredi-ta, erradamente, que quando uma empresa se localiza próxima a outra do mesmo ramo está piorando sua situação devido à concorrência”, afirma o doutor em Economia e professor da UFPR, José Guilherme Silva Vieira. “Mas se as empresas oferecerem produtos complementa-res tirarão proveito porque atrairão

mais clientes.”E o cliente é a alma do negócio.

Daí que quase todo polo nascente sonha com o movimento intenso do centro da cidade. As limitações físicas, no entanto, levam vários deles a uma saudável instalação em regiões mais periféricas, o que ajuda a fomentar vários pontos de desen-volvimento da cidade.

Normalmente, a aglomeração atrai estabelecimentos até saturar o mercado. Aí, migra, mostra o estudo As teorias sobre localização das ativi-dades econômicas e a estrutura espa-cial das cidades, de Marcos Timóteo Rodrigues de Souza, doutorando em Geografia e mestre em Engenharia de Transportes.

DevagarinhoUm polo nasce aos poucos, fruto do acaso e da percepção de comer-ciantes desbravadores. Um sucesso leva a outro e vários anos ou até mesmo décadas depois ganha o status de polo. Foi assim com a pioneira Santa Felicidade e seus restaurantes. Estabelecidos a partir da década de 1950, eles formaram ao longo dos anos o mais famoso polo gastronômico da cidade, ponto turístico quase obrigatório para todo visitante e tradicional reduto domingueiro para boa parte das

famílias curitibanas.O tempo necessário para formar

um polo pode ser reduzido signifi-cativamente quando há incentivos do poder público ou então a região já faz parte da concepção de uma cidade. Pensou em Brasília ou no parque de software de Curitiba? Acertou.

Independentemente da origem, lideranças do comércio veem os polos com ótimos olhos. “Dá para fazer parcerias institucionais e até campanhas de marketing, afirma Jean Michel Galiano, vice-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP) e coordenador do Conselho de Bairros do Comércio Vivo.

Dessa forma, o comércio de rua consegue concorrer com os shop-ping centers e – por que não? – com a competição cada vez maior das compras online. É o que acontece, por exemplo, na Rua Teffé, autopro-clamada a primeira rua temática de calçados do país.

As pequenas lojas de ponta de estoque que surgiram em 1984 se multiplicaram. Hoje são mais de 30 comércios na região do Bom Retiro. “Quando cooperados, os inves-timentos oferecem retorno mais interessante”, diz Galiano. Fica mais fácil, por exemplo, oferecer prêmios e vantagens aos consumidores.

“A proximidade desses comércios permite que eles sejam mais atrativos aos consumidores,

que terão esse espaço urbano como referência”.

José Guilherme Silva Vieira, economista, professor da UFPR.

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Além de atuarem em conjunto, também há fomento para refor-çar essas regiões. O Centro Vivo desenvolve iniciativas cujo objetivo é facilitar o contato entre a adminis-tração pública e o empresariado das lojas de rua do Centro, em especial na Rua XV de Novembro, a via cartão-postal da cidade e com gran-de concentração de comércio. A XV já era um dos lugares mais impor-tantes do comércio da cidade nos anos 1970, mas cresceu de impor-tância quando se tornou exclusiva para os pedestres. Neste caso, a intervenção do poder público foi decisiva para as lojas.

Vantagens e diferencial Para o consumidor, as vantagens as-sociativas se revertem em mais faci-lidade na hora do consumo. A segu-rança de encontrar uma miscelânea de opções facilita o descolamento e a inevitável comparação de produtos e serviços. Consigo otimizar meu tempo. Vejo rapidamente quais lojas têm os veículos no perfil que busco”, resume o bancário Luiz Ricardo Escobar, de 33 anos, que foi recente-mente à Avenida Arthur Bernardes comprar um carro usado.

A existência de uma clientela já constituída e com interesse prede-terminado, por sua vez, anima os

empreendedores. Esse tipo de segu-rança deu o empurrão que faltava a Flavio Junior Streit para se tornar sócio de uma eletrônica na região central. “Já há demanda”, diz ele, que vê nisso um grande facilitador para as ações que agregam valor ao seu comércio. A concorrência próxi-ma e intensa, no entanto, obriga cada um a se manter em estado de alerta. “Não dá para se acomodar; é preciso pensar no seu negócio diariamente.”

Para o proprietário da NA Multimarcas, localizada na Arthur Bernardes, Nedson Antonio de Oliveira, a concorrência é vista quase como parceria. Ele garan-te ficaria feliz se mais lojas de veículos se instalassem na região. “Quanto mais concorrentes, melhor para mim”, diz. “Quem quer comprar carro usado, busca a região, pois sabe que vai encontrar muita variedade de veículos.”

Com o comprador circulando por ali, ele aposta na tradição de sua loja para se sobressair. “Sou proprie-tário de lojas de carro há 29 anos e fui um dos primeiros a montar negócio aqui. Isso conta muito”, analisa o também 2º vice-presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Paraná (Assovepar).

Polos curitibanos

Conheça pontos com comércio especializado:

Rua Riachuelo, móveis e antigui-dades.

Rua Mateus Leme , brechós.

Rua 24 de Maio , eletrônicos.

Rua Westphalen, equipamentos musicais.

Avenida Manoel Ribas, restau-rantes e decoração.

Rua Teffé, calçados.

Ruas Arthur Bernardes e Mario Tourinho, carros.

Avenida Marechal Floriano Peixoto, carros.

Avenida Batel, restaurantes e bares.

Rua Itupava, restaurantes e bares.

Avenida 7 de Setembro, casas de embalagens.

Rua General Carneiro, açougues e frios.

Rua Visconde de Nacar, fantasias.

Rua XV de Novembro, vestuário.

Flavio Junior Streit, sócio de uma eletrônica: público cativo

estimulou o negócio.

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Gustavo Fruet (PDT) terá ap-enas três meses de mandato quando Curitiba completar

320 anos. Com tão pouco tempo de administração, CuritibaÉ fez uma en-trevista exclusiva com o prefeito para questioná-lo não tanto sobre o curto passado desde a posse, mas sobre um futuro mais amplo: que cidade pretende entregar daqui quatro anos, quando termina a gestão?

O prefeito diz que no fim de 2017 gostaria de ver Curitiba com soluções – ou “indicativos de solução” – nas áreas de transporte (com a Linha Verde concluída e uma definição a respeito do metrô) e da saúde (que, segundo o prefeito, está em estado emergencial, com déficit de pelo menos 250 médicos na rede munici-pal). Também espera traçar uma es-tratégia de crescimento para a capital. “Ninguém discute mexer no centro de Paris ou Washington, ninguém discute tirar o Coliseu de Roma, mas por aqui as questões do que pode e do que não pode ainda estão por ser resolvidas.”

Em linhas gerais, essas são as metas principais de seu plano de governo, que deverá incluir ainda uma proposta de zoneamento para a utilização de espaços públicos, com regras mais claras para a organização de eventos como a Quadra Cultural e as futuras apresentações na Pedreira Paulo Leminski. “Curitiba tem carên-cia de áreas para essas ocasiões.”

Sobre a interação da adminis-tração com os cada vez mais intensos movimentos populares, Fruet diz que é importante não oficializá-los, “porque daí perde a graça”. “Nossa intenção é garantir que funcionem, que haja segurança e limpeza.”

O desempenho do prefeito vai movimentar o jogo político no estado. Fruet diz que não sabe onde estará em 2017 ou 2021. Para ele, as variáveis do jogo político são tantas que não dá para antever cenário tão longo. “[Pro-jeções assim] precipitam o debate.” Sua trajetória corrobora a avaliação. Há menos de três anos, poucos poderiam imaginar que ele seria eleito prefeito de Curitiba cerrando fileiras

com o PT, após ser ferrenho opositor nas hostes do PSDB.

Em todo o caso, a trincheira atual do prefeito é vantajosa. “Se não houver fraturas, o bloco que atualmente une Fruet, a ministra Gleisi Hoffmann e a presidente Dilma Rousseff fica muito fortalecido”, diz Ricardo Costa de Oliveira, profes-sor de Ciência Política da UFPR. O cenário que parece mais provável hoje é uma eventual candidatura de Gleisi ao Palácio Iguaçu, apoiada por Fruet, contra o governador Beto Richa (PSDB), ex-aliado do atual prefeito.

Ricardo Caldas, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), vê mais desafios no caminho político de Fruet: “Ele sempre foi ligado à oposição. Ao mudar de partido, fez uma aposta que foi bem assimilada em Curitiba, mas e o resto do es-tado?”, questiona.

Resumindo, os próximos an-iversários da cidade trarão bem mais claramente a influência de Fruet à frente da prefeitura – dos shows na Pedreira às disputas eleitorais.

AdministrAção municipAl

O que fazerCom três meses de prefeitura, Gustavo Fruet diz como quer a cidade daqui quatro anos

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RoteiRo

Devaneios arquitetônicos do caminhante Solte-se pela cidade e conheça um pouco mais da rica arquitetura curitibana – dos prédios imponentes à casinha colonial

Heros Mussi Schwinden

Um dos grandes prazeres de viver na cidade reside na percepção fina do cenário.

No explorar as ruas, fazer um “scan-ning” que revela, no momento pre-sente, a evolução da humanidade. Essa prática – cada vez mais rara nas metrópoles – é capaz de estabelecer novas relações entre o caminhante e o meio ambiente. Relação que passa, por exemplo, pela detecção dos estilos arquitetônicos de casas e edifícios imponentes e de casas mais comuns, que, em sua quietude, são capazes de contar belas histórias.

Esta reportagem é um convite à exploração de uma fração da nossa rica arquitetura. A ideia é fazer com que, a partir dessas sugestões, você se sinta tentado a caminhar e descobrir o que há em nossas ruas – e a saber um pouco mais sobre os edifícios Ecléticos, Coloniais, Art Déco, Art Nouveau, Neogóticos, Neoclássicos e Modernistas.

Como ponto de partida para a observação de edificações, Rober-to Tourinho Fontan – arquiteto, professor de História da Arquitetura Brasileira e consultor especial desta

CuritibaÉ – indica o Marco Zero, na Praça Tiradentes. De lá, rumo ao Lar-go da Ordem, o caminhante não só localiza os dois prédios remanescentes da arquitetura colonial portuguesa na cidade (a Igreja da Ordem e a Casa Romário Martins), como pode identificar estilos mais recentes. “Nesse circuito encontramos elemen-tos do Ecletismo, Art Déco e mesmo colagens, ou seja, uma fachada eclética ou Art Déco ao lado de uma fachada Moderna”, explica.

Fontan, que se dedica à pesquisa acadêmica da arquitetura curitibana,

Toque e veja mais imagens

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lamenta o desinteresse pelas “com-posições urbanas” formadas por pessoas, prédios, casas, praças e mo-biliário urbano. Para os interessados nesses cenários, sua recomendação é observar com atenção, imaginar os imóveis por dentro, estabelecer conexões (históricas, socioeconô-micas e pessoais) e pesquisar o que foi visto em fontes bibliográficas e na internet. É, de fato, o que se pode chamar de um “scanning urbano” – uma grande opção de turismo e de conhecimento da cidade.

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ão Acima a diversidade arquitetônica com edifícios ecléticos, Coloniais, Art Déco, Art Noveau, Neogóticos, Neoclássicos e Modernistas. Roberto Fontan, arquiteto, diz que há desinteresse pelas composições urbanas.

Para saber mais Imagens da Evolução de Curitiba, de Otávio Duarte (Pesquisa, texto e editoração), Luiz Antonio Guinski (projeto gráfico e capa) e Marcos Campos (fotografia e reproduções), Quadrante Editorial, 2003.

Arquitetura do movimento moderno em Curitiba, de Salvador Gnoato, Travessa dos Editores, 2009.

Arquitetura Italiana em Curitiba, de Ana Carolina Mazzarotto e Fábio Domingos Batista, 2013, informações em http://www.arquiteturaitaliana.com/

Espirais de Madeira: uma história da arquitetura em Curitiba, Irã Taborda Dudeque, Studio Nobel, 2001.

Ensaios sobre a Arquitetura em Curitiba (Volumes 1 e 2), de Elizabeth Amorim de Castro, edição da autora, 2006.

Caminhar é preciso O primeiro passo para fazer um “scanning urbano” é ter disposição para sair a pé ou, então, ir de carro até um ponto da cidade, estacionar e caminhar pela vizinhança. A partir daí, com um pouco de tempo e foco no cenário, é possível descobrir a ci-dade e sua arquitetura em qualquer bairro.

Em Curitiba há lugares que con-centram exemplares arquitetônicos de diferentes estilos; há, também, “medalhões”, imóveis bem conhe-

cidos, que merecem um olhar mais atento aos detalhes. Mesmo nos locais mais “escondidos”, contudo, é possível encontrar casas e prédios interessantes.

Confira a seguir um pequeno guia de observação arquitetônica em Curitiba, um roteiro mínimo que oferece algumas boas opções. Mais do que tudo, é um convi-te para que você construa seus próprios roteiros e, com isso, se aproprie de um cenário que tam-bém é seu.

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RoteiRo

edifício Araucária, de 1965, projeto de Lubomir Ficinski

Ao lado, prédio da Previdência, de 1955, e ao fundo o CCi, de 1974. Abaixo, detalhe do condomínio Marumby, de 1947.

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A porção central de Curitiba concentra vários exemplares importantes da arquitetura moderna, prédios construídos nos anos 50, 60 e 70 para abrigar repartições públicas, bancos e residências. Observe, por exemplo, os localizados nas imediações das praças Santos Andrade e Tiradentes. Lá estão o Teatro Guaíra e o Auditório da Reitoria da UFPR (de 1948 e 1956, projetos de Rubens Meister); o edifício sede da Previdência Social (de 1955, projeto de Ulisses Burlamarqui); o Centro Comercial Itália (de 1974, por Roberto Albuquerque); o Condomínio Edifício Marumby, o Edifício Rosa Perrone, a Biblioteca Pública do Paraná, o edifício sede do Banco Comercial do Paraná e a Sinagoga Francisco Frischmann (de 1947, 1950, 1951, 1953 e 1959, respectivamente, projetados por Romeu Paulo da Costa); os edifícios Souza Naves, Itália, Veneza, Provedor André de Barros e Gemini (de 1953, 1962, 1967, 1969 e 1970, pro-jetos de Elgson Ribeiro Gomes); o Palácio das Comunicações e os edifícios Araucária e Rio de Janeiro (de 1966, 1969 e 1971, de Lubo-mir Ficinski); e o Edifício Governador (de 1967, por Abrão Assad).

Nova arquitetura do Centro

Fachada do antigo Hotel edurardo Vii.

ed. Governador (prédio redondo), de 1967, e detalhe do prédio das Comunicações (telepar), de 1966.

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O trecho formado pela Praça Generoso Marques e pelas ruas Riachuelo e Barão do Rio Branco, no Centro, abriga um grande número de imóveis de interesse arquitetônico. Boa parte deles foi construída entre o final do século 19 e as primeiras décadas do 20, e segue o chamado estilo Eclético, caracterizado pela fusão de elementos arquitetônicos de períodos anteriores (Clássico, Gótico, Barroco etc.), adereços de fachada, grades e portões em ferro trabalhado.

Merecem ser examinados o Portal do Passeio Público (de 1916), o “Pa-lácio Riachuelo”, na esquina da Riachuelo com a Rua São Francisco (1929), o Paço Municipal (1916) e os prédios da antiga sede do Clube Curitibano (1956), do Museu da Imagem e do Som (antigo palácio do governo, cons-truído entre 1870 e 1890), dos hotéis Johnscher (1917) e Tassi (1890), da segunda regional de Saúde e da Câmara Municipal de Curitiba (1890).

Eixo Riachuelo-Generoso-Barão

torres baixas com ornamentos construídas por ervateiros ao lado de prédios contemporâneos na Comendador. À direita, detalhe de Ascânio Miró.

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Comendador Araújo As quadras finais da Rua Comendador Araújo, próximo à Benjamin

Lins, no Batel, abrigam palacetes construídos na passagem dos séculos 19-20 por famílias de ervateiros e industriais curitibanos. O interesse pelos imóveis é tamanho que, em 2004, toda a área foi tombada pela Coordena-doria do Patrimônio Histórico. Concentre-se nos números 598, 692, 711, 748, 776, 906 e 970, atentando para os torreões (torres baixas), ornamentos e peças em ferro.

Dois dos imóveis têm um “nome de batismo”: a Vila Margarethe (nº 692) e o Palacete de Ascânio Miró (nº 776). Construída nos anos 1920 pelo empresário Oscar Müeller, a Vila Margarethe tem características típicas da arquitetura alemã – entradas e jardins laterais e telhado normando--germânico (frontal e de ângulo acentuado). No palacete de Ascânio Miró são notáveis as venezianas, especialmente a que faz frente para a própria Comendador. O palacete foi projetado por Cândido de Abreu, engenheiro e político responsável por outros projetos, como o Solar dos Leão e o Paço Municipal.

À esquerda, portal do Passeio Público, de 1916. Acima, prédio do MiS, construído

entre 1870 e 1890: estilo eclético.

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Seguindo pela Rua Nicola Pellanda, a principal via do Umbará (que pode ser acessada pela Linha Verde), é possível encontrar vários exemplares de arquitetura típica ita-liana em madeira, com varandões, janelas guilhotina e sótãos. Muitos, aliás, se situam em glebas que abri-gam hortas, carneiros e cavalos. O edifício mais chamativo, porém, é o da igreja de São Pedro do Um-bará, construído em 1938 e cuida-dosamente restaurado em 2012.

Umbará

Arquitetura dos bairrosNos bairros, a arquitetura moderna aparece principalmente em resi-

dências que espelham a conexão de famílias ricas da cidade com as novida-des da arquitetura. Entre elas, vale citar as casas de Nelson Imthon Bueno (de 1958, situada na Rua Itupava), Orlando Kaesemodel (de 1960, na Rua Carmelo Rangel) e Edgar Barbosa Ribas (de 1967, na Rua Padre Agosti-nho) – projetos de Leo Linzmeyer; as casas de Marcos Axelrud (1953, na Rua Itupava) e Romário Pacheco (1953, Rua Doutor Faivre) – projetos de Ayrton Lolo Cornelsen; as casas de João Bettega (1944, Rua da Paz) e Edgard Niclewicz (1978, Rua Lourenço Mourão) – projetos de Vilanova Artigas; e as casas projetadas pelo pioneiro Frederico Kirchgässner – a que leva seu nome, de 1930, localizada na Rua Treze de Maio; a casa Bernar-do Kirchgässner, de 1936, na Rua Visconde de Nacar, e o Edifício da Rua Portugal, no São Francisco.

RoteiRo

F o t o s : C a s a 6 C o m u n i c a ç ã o

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Acima, construções no Umbará em arquitetura típica italiana. Caminhando pelo bairro você pode encontrar uma capela particular.

Na foto maior, edifício na Rua Portugal, construção das famílias ricas de meados do século 20. Na foto menor, casa construída em 1958 na itupava. Abaixo, as ruínas do São Francisco.

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Carrega uma ilha no bagageiro da bicicleta. A mochila sur-rada é um casco nas costas

cansadas. Vive pelas marquises do Campina do Siqueira, por isso o nome que tomou emprestado do bairro que o suporta. Dorme ao lado de um ponto de táxi. Logo que a noite cai, arma o colchão em um canto protegido. Amarra a bicicleta em uma grade e espalha ao seu lado caixas de papelão com o que con-seguiu juntar durante o dia.

Já o encontrei parado em frente a uma locadora de filmes. Dava ri-sadas dos cartazes. Balbuciava pa-lavras, inventava narrativas. Certa vez, voltei da feira com um pacote de frutas e o encontrei de cócoras ao lado de um orelhão. Ofereci

uma maçã. Ele não quis, disse que não gostava. “Outra fruta?”. “Não gosto de fruta”, finalizou. Em uma semana fria lhe dei um casaco. No dia seguinte, me pediu para dar a roupa a um colega. Disse ser alérgico à lã. Voltando da pani-ficadora, em outra noite, ofereci dois pães. Aceitou só um. Estava com pouca fome. Tive vontade de esconder o outro no seu bagageiro, de lhe empurrar goela abaixo a minha piedade.

Ainda ontem passei de carro por ele na madrugada e reduzi a marcha. Dormia com um radinho ligado. Colou o autofalante na orelha. Tocava uma sequência de viola caipira. Ele abraçava com o rosto aquele velho e surrado aparelho. O farol do carro lhe

iluminou. Pude ver sua barba grossa e falhada. Seus lábios murchos, o nariz grande, os cabelos brancos e brilhosos de gordura. Todo o resto do corpo repousava embaixo de um cobertor que estava na calçada desde o começo da sua solidão.

Hoje cedo passei no mercado e comprei algo para o velho. Encon-trei o sujeito encostado no tronco morto de uma árvore, ao lado de um prédio em construção. Estiquei a mão e lhe entreguei um embrulho. Ele sentiu o peso e a textura do que tinha dentro. Vi seu sorriso pela primeira vez. Ele balançou a cabeça em agradecimento. Era um paco-tinho com meia dúzia de pilhas. Combustível para o abraço da noite do Campina.

Campina

crônica | Luiz AndrioLi

Luiz Andrioli, jornalista e escritor, é gerente de conteúdo do portal ricMais. Escreveu O Laçador de Cães, O Circo e a Cidade e A menina do Circo.

Em junho lança O Silêncio do Vampiro, sobre Dalton Trevisan.

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Proteção ao crédito é com a FACIAP Proteção ao crédito é com a FACIAP

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Proteção ao crédito é com a FACIAP Proteção ao crédito é com a FACIAP

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Daqui não saioResidências que resistem

ao adensamento imobiliário se tornam verdadeiros vãos entre mar de novos prédios

Adriano Kotsan

Helena Bermudes, cercada de muitos prédios, sente falta dos vizinhos.

MorAdiA

Quem anda pelas regiões cen-trais da cidade e por bairros populosos, como Bigor-

rilho, Água Verde, Batel e Juvevê já se acostumou com a paisagem cada vez mais vertical de Curitiba. É uma característica comum nas metrópoles. O forte adensamento imobiliário de algumas regiões faz com que aquela imagem da casa dos “avós”, com calçada e quintal no fundo, seja uma raridade.

Do meio dos arranha-céus, no entanto, surgem figuras dignas de história. São pessoas que viram a vizinhança se tornar um paredão de prédios, mas mesmo assim não

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arredam o pé da casa onde passaram a maior parte de suas vidas. Para as imobiliárias e construtoras, são um pesadelo a evitar que o belo e espaçoso terreno abrigue mais um prédio de vários novos moradores – animando a economia e transfor-mando a área.

Olga Syutyk, por exemplo, segue à risca o ditado “daqui não saio, da-qui ninguém me tira”. O que pode parecer teimosia está recheado de motivos bem particulares, o que faz do dinheiro “um” item, não “o” item. Ela preserva o terreno da família no Bigorrilho. A bela casa branca é pra-ticamente uma ilha na rua Coronel Joaquim Ignácio Taborda Ribas.

Aos 58 anos, Olga mora com a mãe, Katerina, de 91, e mais três familiares. Já perdeu a conta de quantas propostas recebeu pelo ter-reno, comprado pelo pai há 70 anos, logo após se instalar em Curitiba

vindo de uma Ucrânia mergulhada na II Guerra Mundial.

“Algumas propostas são absur-das. Eles querem pagar apenas o valor de mercado. Mas nós temos o valor sentimental pela casa”, diz ela. “Se tivéssemos vendido, num dia eles chegavam com as máquinas e derrubavam tudo. Acabavam com a nossa história”, acredita Olga. No fundo do terreno, ela cultiva o pas-sado: em uma horta bem cuidada planta couve, laranja e mimosa. “É uma terapia.”

Mas viver cercada de prédios não é ruim? Olga não reclama. E até acha bem bom. Segundo ela, a vizinhança coletiva melhorou a sensação de segurança da região. Além disso, a posição da casa é boa, o sol não sumiu e as torres ajudam a proteger do vento em dias de clima mais agitado.

O que desapareceu foram os

velhos vizinhos de muro e a con-vivência social que eles proporcio-navam. “Não temos mais de quem emprestar um pouco de açúcar. Não há mais reunião para fazer festa. Cumprimentamos apenas os porteiros, que a gente vê um pouco nas ruas”, conta ela. “Os moradores ficam em seus apartamentos.” Kate-rina, a mãe, completa, com sotaque carregado: “Antes só tinha barroca [barranco] aqui, agora falam que a região parece a Europa”.

Sem conversaA menos de dez quilômetros dali, a aposentada Helena Bermudes, 79, também está cercada por centenas de pessoas, mas sente falta dos vizinhos. Há 54 anos ela mora numa casa na Rua Mauá, Alto da Glória. O imóvel, com mais de 70 anos, foi herdado da sogra. A construção imponente lembra o tempo em que

“Antes só tinha barroca [barranco] aqui, agora falam que a região

parece a Europa”.Katerina Syutyk, 91 anos, moradora da última

casa de uma rua no Bigorrilho.

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a vida passava mais lentamente, sem tantos carros nas ruas, e a vista ia mais longe no horizonte.

“De três anos para cá começou a encher de prédio”, diz ela. “Já recebi várias ofertas de compra do terre-no, mas por enquanto não quero vender. Quem vai resolver isso são os meus filhos.”

Helena lembra-se dos tempos em que as famílias Moro e Essenfelder vi-viam na rua. “Morávamos todos perto. Parecíamos todos da mesma família. Isso é que eu mais sinto falta. Hoje não converso com nenhum vizinho. Dos lados só tem casa comercial e atrás só tem prédio”, afirma ela, com desgosto.

Vencido pelo progressoOlga e Helena mostram uma resis-tência cada vez mais rara. Primeiro elas moram no que é o último qui-nhão de uma área. Segundo porque mesmo nesse rarefeito grupo nem todo mundo consegue se manter impassível.

No final do ano passado, o produtor de vídeo Carlos Tafarello, 50 anos, negociou um terreno que estava havia 30 anos com sua família. O imóvel na região da Rua Martin Afonso (Campina do Siqueira) abrigava a sede de sua empresa, mas se transformara num vão em meio ao mar de prédios.

“Não tinha mais condições de ficar ali”, conta ele. “O próprio negócio começou a ficar inviável, não tinha local de estacionamento para os clientes.”

A inviabilidade para a produtora foi precedida por uma mudança ra-dical. Antigamente, conta ele, existia uma comunidade local de certa forma unida na Martim Afonso, as pessoas andavam pelo bairro e se conheciam. “Hoje em dia, com os prédios, isso não acontece mais. As pessoas não andam pela via rápida. Ali ficou apenas um corredor de trânsito e os carros passam muito rápido”, afirma.

Cem prediões em um ano

O IBGE e o Sinduscon traduzem em números o que se percebe a olhos vistos no adensamento imobiliário de Curitiba.

De 2000 a 2010 a população cresceu 10%, chegando a 1,7 milhão de habitantes, mostra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As habitações para abrigar toda essa gente tiveram forte crescimento. Levantamento da Brain Bureau de Inteligência Corporativa para o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná aponta que entre 2008 e 2012 foram lançados aproximadamente 350 novos prédios em Curitiba – cem de grande porte somente no ano passado.

Marcos Kahtalian, sócio-diretor da Brain, diz que os casos de Olga e Helena tendem a ser cada vez mais raros. “É uma situação que se repete nas grandes cidades do mundo inteiro.”

Para ele, casas históricas e locais de comércio continuarão a ser preservados, por serem economicamente interessantes.

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Casa no Bigorrilho, vendida no fim do ano passado: nem todos resistem à pressão.

MorAdiA

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Homenagem do Shopping Total aos 320 anos de Curitiba.

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Curitibano é frio, reservado, recebe mal os forasteiros, não faz amizades facilmente.

E ponto. A inabalável reputação dos conterrâneos do recluso vampiro Dalton Trevisan atravessa fronteiras.

Até no Nordeste ela chegou. Há dois anos, quando morava em Natal, Rio Grande do Norte, e fazia as malas para vir estudar por aqui, os ouvidos – e o espírito – da fisiotera-peuta mossoroense Vanusa Paiva de Lima, 41 anos, foram abarrotados por contraindicações. “Fizeram um bicho lá. Diziam que eu não ia me dar bem porque o pessoal daqui é muito frio. Até um paciente meu do Rio Grande do Sul disse ‘o povo lá é esquisito’.” Impassível, a moça não desistiu. E ainda voltou mais tarde para desmentir as maledicências.

“A fama não se comprovou.

Achei que ia ser pior, mas fui mui-to bem acolhida”, conta. “Já voltei lá nas férias e disse a eles que não é assim”, assegura a nossa destemi-da defensora.

A história de povo fechado vem lá do século 19, quando os imigrantes alemães, italianos e poloneses vieram ganhar a vida na recém-criada capital da província. Cada povo trouxe consigo seus costumes e se instalou em uma re-gião diferente da cidade. Estavam estabelecidas as condições ideais para a segregação. “Os europeus criaram barreiras étnicas terríveis”, afirma o antropólogo da Univer-sidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Alberto Balhana, mestre em História Social do Brasil.

Dois séculos depois, os curiti-banos carregam sobre suas cabeças,

como aquela nuvem que acompa-nha a Família Adams, a fama de carrancudos. Em uma viagem com a esposa, o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cauê Krüger, teve uma amostra dessa impressão. “As pesso-as se espantavam conosco: ‘Nossa, achamos o único casal simpático de Curitiba’. Causamos uma comoção”, diverte-se.

Cientista social e mestre em Antropologia, Krüger desaprova preconceitos acerca do assunto. “A imigração europeia pode ter sido a origem da fama, mas não explica sua permanência. Ela vai se per-petuando enquanto as coisas vão mudando”, diz.

É só sair e olhar por aí. Os movimentos que pulsam na cidade contestam o mito. É gente se di-

Expatriados

Antidiscípulos de DaltonFama de cidade carrancuda tem origem na migração do século 19. “Curitibanices” de hoje, no entanto, incluem climão da mais fraterna amizade

Érika Busani

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vertindo nas ruas, gente se unindo em torno de projetos inovadores e arregaçando as mangas em prol do bem comum.

FormalMas não adianta querer comparar o curitibano com o carioca, o mi-neiro ou o nordestino. “É diferente de uma sociedade de praia ou de uma mais cosmopolita. O com-portamento público aqui tem certa formalidade. Mas isso não significa que sejamos fechados ou segrega-cionistas. É só ir às feiras livres, à feirinha do Largo para conferir”, sugere Krüger.

Vanusa tem a mesma opinião. “No Nordeste é muito comum ir à casa do outro. Aqui o pessoal respei-ta a privacidade, é cada um no seu espaço, mas com solidariedade.” Ela

garante que só não sai muito porque o dinheiro é curto, já que veio fazer duas pós-graduações para mudar de área profissional e está sendo man-tida pela família. “Não é por falta de convite.”

Ao contrário do que alguém possa estar pensando, os convites não partem apenas dos amigos estrangeiros. “Tenho bons amigos curitibanos”, assegura.

Muito se diz, aliás, que a turma que vem de fora – do país, do estado ou da cidade – é que está mudando o jeito de ser curitibano. Afinal, 43,08% dos habitantes da capital vie-ram de outras paragens, de acordo com o Censo 2010, do IBGE. Krüger não considera essa a única explica-ção. “Quem vem de fora passa a agir conforme a população local”, avalia. A globalização e a cultura jovem

seriam também impactantes nesse comportamento.

Questão de atitudePara quem vem de mais longe, as agruras são maiores. “Quando cheguei, foi complicado porque eu não falava português. E a vida aqui sem português é muito difícil”, conta Erika Kärcher. Natural de Los Ange-les, ela morou 12 anos na Alemanha, onde se casou. Há quatro anos, o marido Jochen, 45, foi transferido para cá e eles vieram com os filhos Alexandro, 13, e Felix, 11.

Erika não se resignou. Tratou de tomar aulas da língua enigmática. “O problema dos estrangeiros que vêm para cá é querer continuar com a vida que tinham no outro país”, acredita ela. Muitos até se recusam a aprender o português.

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Erika Kärcher (loira de óculos) e torrance Lewis (ao lado) com grupo de amigos:

dificuldades iniciais com a língua e muita confraternização depois.

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João pedro de amorim Jr.

Para entender o que está escrito no título você pode recorrer o Google ou, quem sabe, perguntar ao vizinho. “Curitiba é a minha nova casa”, traduz a finlandesa Malin Wikstedt,

que mora desde outubro de 2012 na cidade. A família de Malin (Henrik, o marido, e as crianças Melwin e Aline) enquadra-se no time que encontrou em Curitiba um lugar para chamar de seu. Ao desembarcar, conheciam tanto a cidade como os curitibanos conhecem a Finlândia. Henrik, veio trabalhar em uma multina-cional. Dois meses depois, nasceu Aline – curitibana da gema.

Como parte da nova e volumosa leva de imigrantes atraídos pelo potencial econômico de país emergente, os Wikstedt refor-çam perfil de “a cidade de todos os povos”, que tem origem lá no século 18. No caso deles, Curitiba tem a vantagem de lembrar “um pouco” a terra natal, Helsink: “Muitos parques... e chuva.”

E a carranca curitibana, é real? Para Malin, nem um pouco. Prestativos, amigáveis e extrovertidos (pelo menos se compara-dos ao padrão nórdico) são adjetivos que ela usa sem vacilar.

A maior dificuldade é mesmo a língua, problema que vai sendo contornado com aulas de português. A professora Juliana Volaco (curitibana de origem greco-russa que dá aulas na First Class Idiomas) não ajuda só no idioma. Dá boas dicas sobre como funciona a vida em Curitiba e no país.

Metade dos alunos da escola é de estrangeiros que vieram trabalhar no Brasil. A proprietária Marcia Weber, diz que todos têm em comum as dificuldades com as declinações verbais e o estranhamento com as burocracias tupiniquins. “Eles vêm de lu-gares onde tudo funciona rápido”, diz ela. O ensino personalizado acaba sendo útil em várias frentes.

Malin expressa-se bem em português e entende praticamente tudo. Melwin, de um ano e meio, por sua vez, já pede leitE com sotaque curitibano. A tendência da Aline é acompanhar o irmão. Quem sabe daqui uns tantos anos, viram fãs de Dalton Trevisan...

Curitiba on minun uusi kotini

A dedicação compensa, garante a sorridente estrangeira. Hoje ela tem um grupo de amigos – estrangeiros e curitibanos – que frequenta bares, restaurantes, viaja e faz muita festa. Uma vida impensável na Alemanha.

Se no início ela amargava a vinda, agora lastima a volta. Jochen foi novamente transferido para a Alemanha, para onde já se mudou. “Ele saiu daqui mais aberto, mais feliz.” E ela apenas espera o término do ano letivo dos filhos, em junho, para retornar também. Embora não queira ir, ficar em casa se lamentan-do está totalmente fora de cogita-ção. “Saio com meus amigos muitas vezes por semana”, sorri.

A alegria de Erika com sua “curitibanice” nos dá mais uma pista do que pode azedar a vida por aqui. Depende imensamente da postura de quem chega. E do apoio que encontra. Seus filhos estudam na Escola Internacional de Curitiba (ISC, na sigla em inglês), que foi determinante para sua adaptação.

“Há 53 anos, a escola surgiu com o objetivo de acolher os imigrantes. E continua fazendo esse papel. Quando a família está chegando, passo e-mail de outras, faço essa ponte e isso ajuda muito”, explica a diretora de admissões do colégio, Claudia Lebiedziejewski, curitibana simpaticíssima.

É um processo e, como tal, de-mora um pouco. Nesse caso, a pressa é inimiga da adaptação. O professor da ISC Torrance Lewis sabe disso. Ele é de Atlanta, morou em Brasília e chegou aqui há oito meses. Na capital federal, demorou dois anos para estabelecer uma vida social, pois chegou sem falar português. Obstáculo ultrapassado, em Curitiba a ‘aclimatação’ está se dando com maior rapidez. “Estou começando a fazer mais amigos”, diz. Ele faz parte do grupo de amigos de Erika. E gosta particularmente dos churrascos nas casas dos colegas. Coisa de curitibano. Coisa de brasileiro.

a finlandesa Malin com o filho que nasceu em Curitiba: casa nova.

Expatriados

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História

Quem chegou primeiro Grupo de colonos, a

maioria poloneses, abre estrada na

Curitiba de 1910.

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A partir da emancipação política em 1854, Curitiba recebeu intensa migração de europeus, que forjaram o conceito de “cidade de todos os povos”João Pedro de amorim Jr.

Até o século 18, os habitan-tes da cidade eram índios, mamelucos, portugueses

e espanhóis. Com a emancipação política do Paraná (1854) e o incen-tivo governamental à colonização na segunda metade do século 19, Curitiba passou por uma inten-sa transformação, motivada pela imigração de europeus – nascia o que se consolidou no senso comum como “cidade de todos os povos”. A massa de estrangeiros moldou a his-tória e os traços do estado e também da sua capital.

Até a chegada da Corte Portu-guesa ao Brasil, em 1808, somente portugueses (e imigrantes açoria-nos) eram autorizados a se fixar no Brasil Colônia, mostra Sérgio Odilon Nadalin no livro Paraná: Ocupação do Território, População e Migrações.

Motivada pelo início da indus-trialização e com uma população essencialmente rural, a Europa pas-sava por uma transição demográfi-ca. A pressão industrial, o desenvol-vimento do capitalismo, revoluções nos meios de transporte e nas relações no campo fizeram muita gente a se mudar para a América.

À mesma época o Brasil vivia o auge do período colonial. Dom João estimulou o fluxo imigratório ao promulgar legislação específica sobre o tema. A ideia no século 19 era povoar o país continental. Eram bem-vindos imigrantes europeus de origem camponesa que se radicas-sem em pequenas propriedades,

organizadas a partir do trabalho familiar e sem escravos. Esse mode-lo teria ainda um efeito pedagógico: introduziria no país novas técnicas agrícolas e romperia em parte com o sistema de latifúndio.

Após a Independência, em 1822, foram criados núcleos coloniais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A preocupação em ocupar as colônias meridionais era a de não perder espaço para os países vizinhos, principalmente a Argenti-na. No Paraná, em 1829, a primeira colônia foi a de Rio Negro.

A renúncia de Dom Pedro I le-vou ao corte de verbas e diminuição do ritmo de implantação de novos núcleos coloniais. Os governistas favoráveis à imigração reagiram e propuseram que o governo central dividisse as responsabilidades de implantação de colônias com inicia-tivas particulares das províncias.

Isso permitiu que em 1847 o mé-dico francês João Maurício Faivre fun-dasse a colônia Thereza, às margens do Rio Ivaí, com imigrantes franceses, e Carlos Perret Gentil criasse em 1852 uma colônia no Superaguy, em Gua-raqueçaba, reunindo colonos suíços, alemães e franceses.

Adolpho Lamenha Lins, que assumiu a presidência da província em 1875, queria fixar os imigrantes como legítimos proprietários e não como operários em grandes latifúndios. Traçou então como meta prioritária a promoção da imigração europeia para as cercanias de Curitiba e do Litoral paranaense. Lins achava que as

colônias deveriam estar próximas dos grandes centros, devido às dificulda-des de comunicação da época.

De fato. Augusto Colodel re-gistra em Colônia D. Augusto, uma introdução a sua história que Curi-tiba foi onde se registrou o melhor desenvolvimento das colônias.

A iniciativa de Lamenha Lins resultou na criação de sete núcleos coloniais, seis em Curitiba e um em São José dos Pinhais. Soma-dos, tinham uma população de 1.071 imigrantes, poloneses em sua maioria, além de suíços, alemães, in-gleses, italianos, franceses e belgas, lituanos. Na área foram assentados também alguns poucos brasileiros.

As colônias criadas por Lamenha Lins, incluindo uma chamada Dom Pedro, formaram o distrito chamado Nova Polônia, criada por decreto municipal em 20 de agosto de 1892. A sede da região era o Bariguy. A Nova Polônia seguiu como distrito até 1946, quando foi extinta (parte dela passou a compôr o então recém-criado municí-pio de Campo Largo).

Os colonos dedicavam-se prin-cipalmente à produção de gêneros alimentícios (aveia, centeio, cevada, milho, trigo, feijão, ervilha e batata).

OrigensPioneiros, os italianos vieram para Curitiba em 1872 e, em 1878, cria-ram a colônia Santa Felicidade. Os oriundos do norte da Itália eram, na maioria, operários, artesãos, profis-sionais especializados e comercian-tes. Os do sul, agricultores.

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Primeiro distritoOs núcleos coloniais pioneiros de Curitiba formaram o distrito de Nova Polônia:

» Santa Cândida, 1875, com 325

pessoas: 58 poloneses prussianos, 241 poloneses silesianos e 26 suíços franceses.

» Orleans, 1875, com 284 pessoas, sendo 196 poloneses prussianos, 43 poloneses galicianos, 4 alemães, 4 ingleses, 20 italianos, 11 franceses e 6 brasileiros.

» Santo Inácio, 1876, com 386 pessoas, sendo 303 poloneses prussianos e 83 poloneses silesianos.

» D. Augusto, 1876, com 149

pessoas. Todos poloneses prussianos.

» Rivière, 1876, com 377 pessoas, sendo 368 poloneses prussianos e 9 alemães.

» Lamenha, 1876, com 746 pessoas, sendo 712 poloneses prussianos, 21 poloneses silesianos, 1 alemão, 4 belgas e 8 lituanos.

» Tomás Coelho, 1876, São José dos Pinhais, com 1.071 pessoas, sendo 10 poloneses prussianos, 178 poloneses silesianos e 883 poloneses galicianos.

Fonte: Colônia D. augusto, introdução a sua história, de José augusto Colodel.

De cima para baixo: fábrica de barricas no Umbará, em 1910 e imigrantes poloneses

em frente a igreja em construção.ao lado, imigrantes italianos cultivam a

terra e poloneses vendem seus produtos pelas ruas da cidade em fins do século 19.

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As primeiras oito famílias de ucranianos chegaram em 1881, fixando-se na colônia Santa Bárbara, entre Palmeira e Ponta Grossa. Outros 20 mil imigrantes provenientes da Ucrânia chegaram entre 1895 e 1897, seguindo para os arredores de Curitiba (no Bigorilho, Vila Guaíra, Portão e Pinheirinho) e também para Prudentópolis e Marechal Mallet.

Já os japoneses vieram a partir de 1915. Em 1924, deslocaram-se em maior número e se fixaram pelo Uberaba, Campo Comprido, Santa Felicidade e em Araucária. Os sírios e libaneses, no início do século 20, estabeleceram-se no comércio de roupas, sapatos, tecidos e armari-nhos. Em função das característi-cas de suas lojas, ocuparam a área central da cidade. Os primeiros imigrantes vendiam as novidades nas colônias mais distantes, para onde viajavam no lombo de burro.

Quando Eleodoro Ébano Pereira registrou a existência de ouro na Vilinha do Atuba, em 1650, o comércio estava lá, ajudando os garimpeiros a trocar mercadorias para sobreviver. Dezoito anos depois, em 1668, foi construído o Pelourinho, símbolo do poder e da justiça: era ainda o comércio que unia aqueles curitibanos pioneiros em torno de uma praça.

Em 1693, o crescimento do povoado transformou-o em vila. Foi criada a Câmara e a data passou à História como a da fundação oficial da cidade. Também aí a participação do comércio foi fundamental.

Hoje, tantos anos depois, o Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná continua a contribuir para

o desenvolvimento de Curitiba. A união dos empresários do setor em torno da Fecomércio

movimenta a economia. As atividades do Sesc na área de cidadania, saúde, educação, cultura e esportes favorecem o bem-

estar dos curitibanos. E a democratização do conhecimento realizada pelo Senac garante um futuro melhor para milhares de pessoas.

Afinal, nenhuma atividade sabe garimpar desenvolvimento, gerar empregos e criar receitas como o comércio.

Por coincidência, nossas três entidades estão completando 65 anos. Mas nossa parceria com Curitiba tem muitos anos mais. E vai continuar a crescer.

Isso é ótimo para Curitiba há 320 anos. Ou melhor: 363.

Nossa parceria também completa 320 anos. Ou melhor: 363.

Quando Eleodoro Ébano Pereira registrou a existência de ouro na Vilinha do Atuba, em 1650, o comércio estava lá, ajudando os garimpeiros a trocar mercadorias para sobreviver. Dezoito anos depois, em 1668, foi construído o Pelourinho, símbolo do poder e da justiça: era ainda o comércio que unia aqueles curitibanos pioneiros em torno de uma praça.

Em 1693, o crescimento do povoado transformou-o em vila. Foi criada a Câmara e a data passou à História como a da fundação oficial da cidade. Também aí a participação do comércio foi fundamental.

o desenvolvimento de Curitiba. A união dos empresários do setor em torno da Fecomércio

movimenta a economia. As atividades do Sesc na área de cidadania, saúde, educação, cultura e esportes favorecem o bem-

estar dos curitibanos. E a democratização do conhecimento realizada pelo

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Quando Eleodoro Ébano Pereira registrou a existência de ouro na Vilinha do Atuba, em 1650, o comércio estava lá, ajudando os garimpeiros a trocar mercadorias para sobreviver. Dezoito anos depois, em 1668, foi construído o Pelourinho, símbolo do poder e da justiça: era ainda o comércio que unia aqueles curitibanos pioneiros em torno de uma praça.

Em 1693, o crescimento do povoado transformou-o em vila. Foi criada a Câmara e a data passou à História como a da fundação oficial da cidade. Também aí a participação do comércio foi fundamental.

Hoje, tantos anos depois, o Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná continua a contribuir para

o desenvolvimento de Curitiba. A união dos empresários do setor em torno da Fecomércio

movimenta a economia. As atividades do Sesc na área de cidadania, saúde, educação, cultura e esportes favorecem o bem-

estar dos curitibanos. E a democratização do conhecimento realizada pelo Senac garante um futuro melhor para milhares de pessoas.

Afinal, nenhuma atividade sabe garimpar desenvolvimento, gerar empregos e criar receitas como o comércio.

Por coincidência, nossas três entidades estão completando 65 anos. Mas nossa parceria com Curitiba tem muitos anos mais. E vai continuar a crescer.

Isso é ótimo para Curitiba há 320 anos. Ou melhor: 363.

Nossa parceria também completa 320 anos. Ou melhor: 363.

Quando Eleodoro Ébano Pereira registrou a existência de ouro na Vilinha do Atuba, em 1650, o comércio estava lá, ajudando os garimpeiros a trocar mercadorias para sobreviver. Dezoito anos depois, em 1668, foi construído o Pelourinho, símbolo do poder e da justiça: era ainda o comércio que unia aqueles curitibanos pioneiros em torno de uma praça.

Em 1693, o crescimento do povoado transformou-o em vila. Foi criada a Câmara e a data passou à História como a da fundação oficial da cidade. Também aí a participação do comércio foi fundamental.

o desenvolvimento de Curitiba. A união dos empresários do setor em torno da Fecomércio

movimenta a economia. As atividades do Sesc na área de cidadania, saúde, educação, cultura e esportes favorecem o bem-

estar dos curitibanos. E a democratização do conhecimento realizada pelo

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78Série de figurinhas do Zéquinha (com acento): criada em 1929, virou marco das coisas paranaenses.

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“Retronautas dos pinheirais”Um pouco da História divertida

Curitiba 320 anos. Nestes três séculos e duas décadas de história oficial, a cidade de origem indígena e ares europeus fez fama pelo mundo. Em tempos de uniformização das grandes metrópoles, CuritibaÉ foi buscar em registros de jornalistas, escritores e historiadores locais fatos curiosos, daqueles “que só podiam ser daqui”. A ideia é fugir um pouco daquilo que já foi bastante batido. A passagem do Zepelin, o fechamento da Rua XV e o ônibus expresso você já conhece. Agora lembramos outros casos. Boa viagem! Heros Mussi Schwinden

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curioSidadeS

ÜMúsica, 1728 Ano do primeiro registro histórico sobre a música em Curitiba. No livro Curitiba, essa velha desconhecida o autor João Marcassa faz o seguinte relato: A música em Curitiba, foi, no início, cultivada pela Igreja. Em 1728, o mestre da capela Vila De Curitiba, Manoel Rodrigues de Souza, teve permissão de abrir “escola pública de ler, escrever, cantar, solfa e harpa”.

Ü Literatura, 1857 A cidade ganha sua primeira revista literária. A Jasmim era editada em formato pequeno e levava aos leitores contos, poesias e charadas. Teve vida curta.

ÜCarne de onça, 1869Herança dos imigrantes alemães, a carne de onça popularizou-se em Curitiba no início do século passado. É bem provável que as primeiras “onças” tenham sido servidas com o nome hackepeter ou mett em clubes germânicos como Gesangverein Germania, fundado em abril de 1869 e que em agosto de 1886 juntou-se ao Concórdia e passou a se chamar Zegerbund.

Ü Luz elétrica, 1886 Na noite de 19 de dezembro de 1886, 33º aniversário da emancipação da Província, foi acionada a primeira lâmpada elétrica de Curitiba. A “mágica” aconteceu no Passeio Público com público de mais de três mil pessoas.

ÜBicicletas e motos, 1913 No começo do século 20 Curitiba não tinha ciclovias. O interesse do curitibano pelas bikes, no entanto, é centenário. Em 13 de abril de 1913, a Casa Indian, de João Prosdócimo & Filhos, abria suas portas na Rua Barão do Serro Azul comercializando grande variedade de bicicletas importadas, como Göricke, Humber, Dürkopp e Raley. A casa também era especializada em motocicletas Indian e Harley Davidson.

ÜBalas Zéquinha - 1929 Zéquinha (assim mesmo, com acento agudo no e) é um dos personagens curitibanos mais emblemáticos. Criado em 1929 pelo desenhista Alberto Thiele, da Impressora Paranaense, a figura – um palhaço careca, de gravata borboleta e sapatos tipo lancha – aparecia nas mais diversas situações, para delírio da piazada. Um dos fundadores da fábrica de doces “A Brandinha”, Francisco Sobania aproveitou para utilizar os desenhos como papéis de bala, encomendando uma coleção inicial de 30 figurinhas à gráfica. Thiele desenhou a série inicial e a expandiu até o número 50. Depois a coleção passou a ter 200 figurinhas, sendo as restantes desenhadas por Paulo Carlos Rohrbach.

ÜCinema e Cassino, 1940Inaugura-se em janeiro o Cassino Ahu. O novo local de entretenimento preocupou os proprietários dos cinemas locais. Mas nada sério. O Cine Avenida exibia na época O Mágico de Oz e em contagem regressiva anunciava o filme E o Vento Levou... .

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Fontes:Sites: millarch.org.br e casadamemoria.org.brLivros:“Quantos Somos e Quem Somos”, de romário Martins. “uma crônica - curitiba e suas Histórias”, de eddy Franciosi. “Palácio avenida”, de antônia Schwinden. “curitiba, essa Velha desconhecida”, de João Marcassa. “Nova culinária Paranaense”, de Heros Mussi Schwinden. “dicionário das artes Plásticas no Paraná”, de adalice de araújo.

ÜWalt Disney em Curitiba, 1941Em sua coluna para o jornal O Estado do Paraná de 13 de junho de 1990, Aramis Millarch conta sobre a passagem de Walt Disney por Curitiba. Com base no livro de memórias de Paulo Avelar Quando eu era do Banco do Brasil (edição do autor, 106 páginas, 1989) o jornalista narrou assim: “A passagem de Disney e da atriz e soprano Grace Moore por Curitiba foi por acaso. O avião em que viajavam – com destino a Buenos Aires sofreu uma pane e teve um pouco [pouso] de emergência no aeroporto do Bacachery. Ficaram hospedados no melhor hotel da cidade, o Grande Hotel, na Rua 15 de Novembro e à noite, Walt e Grace foram ao Cassino Ahu. Conta Paulo de Avelar que várias pessoas o reconheceram. Ele, que ali se encontrava com um amigo, o estudante de engenharia Carlos Kiraly, pediu autógrafos. ‘Conservo até hoje essa lembrança da passagem do criador do Pato Donald por Curitiba’ diz, como prova da veracidade de sua informação. Isso aconteceu em 1941, mas não há detalhes em relação ao dia e ao mês em que teria acontecido.”

ÜO primeiro cardápio, 1953Há 60 anos, a história da alta gastronomia em Curitiba começava a ser escrita pelas mãos do casal Émile Paul e Janine Decock. Em 1948 eles deixaram Le Havre, na França, para se estabelecer no Brasil. O casal de experientes restauranteurs abriu, em 1951, na Cruz Machado, o pequeno bar Normandie. Em 12 de fevereiro de 1953, mudaram de endereço e de proposta, inaugurando o Île de France, na Rua Doutor Muricy, o primeiro restaurante da cidade a ter menu, escrito e em cada mesa. Em 1957, o restaurante foi transferido para um imóvel na Praça 19 de Dezembro, também no Centro, onde permanece até hoje sob o comando de Jean Paul Louis Roland Decock, filho de Émile e Janine.

ÜArte Moderna, 1973 Gravuras feitas em carne bovina chegaram a provocar náuseas em alguns dos participantes do V Encontro de Arte Moderna que aconteceu em Curitiba, de 20 a 25 de agosto de 1973. As experiências em gravuras orientadas por Ana Bella Geiger envolviam a Land Art, Arte Povera e Body Art e desafiavam o público quando aplicadas em diferentes suportes. Paralelamente, Paulo Leminski fazia apologia da Semiótica e do Dadaísmo, entre outras discussões de Mário Barata sobre o Concretismo e a Arteônica no Brasil.

ÜOperário Padrão, 1985 O Brasil recebia a “Nova República” de braços abertos. Com a inflação galopante, o curitibano apoiava o congelamento de preços do governo. Foi em Curitiba que surgiu o “Fiscal do Sarney”. A Banda Blindagem aproveitava o momento econômico para lançar pela Polygram o compacto “Operário Padrão”, uma sátira ao atrelamento dos preços e salários ao dólar americano.

O refrão: Pega essa notinha Segura essa verdinha Não deixa essa danada subir Pega essa notinha Segura essa verdinha Se não o meu Barão vai cair

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Os muros e paredes de Curitiba já não são mais os mesmos. Muitos perderam aquela cor

cinza, opaca, sem vida e com as-pecto opressor. Ao andar pela cidade notam-se mensagens, ideias, reflexões e provocações estampadas nas pare-

des. A arte visual urbana extrapolou os limites das telas e se apresenta ao ar livre, em muros, painéis, outdoors e outras intervenções pela cidade. Tudo, claro, com autorização – ou mesmo a pedido – de quem é o dono do pedaço transformado.

Parte da melhor arte urbana que se vê pelas ruas sai da cabeça, dos pincéis e de outros badulaques dos artistas reunidos na produtora Mucha Tinta – responsável tam-bém pela ilustração da capa desta primeira edição de CuritibaÉ.

Artes visuAis

O muro é beloColetivo de artistas que nasceu em um pequeno bar cresce e espalha criações pela cidade. Próxima parada é na CICAdriano Kotsan

D o u g l a s D u r a n t e

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Ilustradores, artistas plásticos, tipógrafos, fotógrafos e videomakers reunidos no Mucha canalizam hoje uma efervescência multicolorida que surgiu em 2007, quando a de-sign gráfica Giusy de Luca decorou o bar Kitinete – espaço que marcou época no São Francisco.

“Ali vi a oportunidade de transformar isso em um produto”, conta a idealizadora do coletivo. De lá para cá, foram concluídos mais de 30 projetos comerciais em Curitiba. Quem passa pelas galerias do terminal do Hauer, entre outros vários pontos da cidade, vê de perto o trabalho dos artistas.

Agora para o aniversário da ci-dade, o Mucha Tinta faz intervenções urbanas nas portas de ferro dos bares da Rua São Francisco. Até a metade

deste ano também deve sair um trabalho em fábrica da Cidade Indus-trial de Curitiba (CIC). Serão quatro painéis em grande escala -- telas com gigantescos 18 metros de altura.

Essas ações fazem parte do projeto “Mucha Tinta na Cidade”. “Queremos levar referências artísticas para os bairros: alegria, criatividade, mexer com o imaginário das pessoas”, diz a produtora. “A arte traz essa reflexão, esse respiro no meio do dia.”

Junto sai melhorO Mucha Tinta começou como um coletivo de artistas e hoje é uma produtora cultural. Atualmente, o grupo conta com 30 artistas fixos, mas esse número varia e pode che-gar a cem, dependendo do projeto. “Tenho contato com artistas do

mundo inteiro. Se precisar trazer alguém de Tóquio para fazer um trabalho, consigo isso”, diz Giusy.

O trabalho realizado em Cu-ritiba tornou o grupo respeitado em outras partes do país. Há uma per-manente participação em projetos e troca de ideias com artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Tanto artista reunido não acaba em guerra de egos? Giusy garante que não. “Tem tudo que é maluco junto, mas todos se ajudam. É muito positivo, durante os trabalhos muitos dão dicas”, afirma. “Ninguém é feliz sozinho, construir de forma coletiva deixa o trabalho mais rico.”

O Mucha Tinta também espalha arte pelo mundo virtual. A página da produtora no Facebook tem 5.500 seguidores.

Na página ao lado, Giusy (de bermuda e camiseta listrada) à frente do grupo de artistas, que tem 30 integrantes fixos e pode chegar a cem esporádicos. Nesta páginas, trabalhos feitos pelo Mucha tinta.

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Acima e abaixo, muro e parede trabalhados pelos artistas.

No meio, ação do grupo durante a Corrente Cultural de

Curitba no ano passado.

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Cidade sorriso, capital ecológi-ca, modelo... Os títulos de Curitiba transpõem fron-

teiras. Obra do marketing ou não, pouco importa. Somos conhecidos e reconhecidos lá fora pelo que de melhor a cidade tem e nem se fala que o curitibano é fechado, isso ou aquilo. Aliás, em uma coisa o cu-ritibano é unânime e bairrista: é um apaixonado e defensor da cidade.

Títulos à parte, marcos como Ópera de Arame, Botânico, arranha-céus do centro, Tanguá e por aí vai, se transformaram em cartões postais. Não é chavão. Mas quero falar aqui de uma Curitiba escondida, não raro entre os famosos pinheiros, que ainda lhe rendem o carinhoso apelido de capital das araucárias. Uma Curitiba ao alcance apenas de olhos e ouvidos mais sensíveis. Explico.

Que tal uma capital onde, pela

manhãzinha, você ainda pode ouvir o canto do sabiá-laranjeira? Ou, lá pelas sete, na caminhada matinal (quando não está chovendo, claro) você se depara com um casal de apaixonados pedreiros trabal-hadores construindo a sua casa e, numa dupla afinada, acordando a vizinhança? Viva joão e joana-de-barro! Isso, sem falar nos bem-te-vis, quero-queros e canários. Por perto dos parques o despertar ainda reserva saracuras e, entocadas, a olhar os caminhantes, as corujinhas brigonas e seus filhotes.

Então, é essa Curitiba que o rápido passante desse tempo elétrico, das traquitanas da geração globalizada, não consegue enxergar. Dos painéis, das estátuas e bustos, dos monumentos e prédios históri-cos, das casinhas de madeira.

Hmm, e por falar nelas, como

se espalham pelos bairros e ainda resistem aos espigões do centro. Encravadas, amarradas e como que concretadas no solo lá estão elas, a resistir ao tempo, ao progresso. Coloridas ou sem cores, telhados envelhecidos, varandas acolhedoras, janelas entreabertas e chaminé já sem fumaça. Lá estão elas, resist-entes, apertadas, sufocadas, mas marcas de um tempo. Das cozinhas, comida com cheiro de almoço de mãe. Dos quintais, flor de laranjeira, ameixeira... e dos jardins...

Ah, esses são assunto para outra crônica. Por quanto tempo ainda teremos tudo isso, não se sabe. Então, agora é aproveitar as coisas da capital, que poderia ter mais um título: CAPITAL MAIS BUCÓLICA DO BRASIL. É só olhar para o lado de fora da janela do carro. Faça o teste!

Um outro olhar

CrôNiCA| José NascimeNto

José Nascimento, jornalista e professor de pós-graduação,

é Diretor de Conteúdo do Grupo riC Pr.

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