Currículo Escolar e Interdisciplinaridade

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Universidade Federal de Santa Maria Curso de Licenciatura em Filosofia PIBID-FILOSOFIA Materiais de trabalho Junho/2014 O texto a seguir é uma tradução do primeiro capítulo do livro Currículo Interdisciplinar. Planejamento e Implementação, de Heidi Hayes Jacob. Trata-se de um dos poucos livros que existem especificamente sobre o planejamento de currículos interdisciplinares, e assim decidi traduzir ao menos o primeiro capítulo, para que pudéssemos ampliar nosso conhecimento sobre as produções disponíveis. A tradução ainda está um pouco crua e deve ser lida lembrando-se que a autora fala sobre a realidade educacional dos Estados Unidos. Creio que o principal mérito do texto é trazer algumas metáforas e propostas de definições que podem nos auxiliar no progressivo refinamento do uso de expressões como “interdisciplinaridade”. Particularmente, a partir de textos como esse, eu tenho me colocado dois pontos de partida. Em primeiro lugar, creio que devemos ter claro a diferença entre o que poderíamos chamar de “interdisciplinar acadêmico”, voltado para a produção de conhecimento strito sensu (como Marx faz ao escrever O Capital) e o “interdisciplinar escolar” ou “interdisciplinar curricular”, voltado para os processos formacionais. Essa distinção, que não se encontra assim formulada no texto, mas está suposta, pode ser de boa ajuda em nossas discussões. Em segundo lugar, precisamos cada vez mais tentar situar nossos planejamentos em filosofia no contexto do currículo escolar como um todo. A busca de trabalho interdisciplinar exige que levemos a sério a área de estudos curriculares, para a qual o formado em filosofia tem uma vocação quase natural, tendo em vista a combinação de estudos de epistemologia com educação, por exemplo. Observação: traduzi o texto para uso interno do PIBID, como material para reflexão e debates. Podem reparti-lo à vontade, mas também de modo interno, pois a tradução precisa ser ainda muito melhorada. O texto original em inglês deste capítulo está disponível de forma gratuita na internet. (Prof. Ronai Pires da Rocha) Currículo Interdisciplinar. Planejamento e Implementação Heidi Hayes Jacob Capítulo 1. A crescente necessidade de conteúdo curricular interdisciplinar Miguel, um aluno do segundo ano, define a matemática como "algo que você faz pela manhã." Infelizmente, sua declaração reflete uma internalização da matemática como uma experiência a ser absorvida entre as 09:45 e as 10:30 e, certamente, antes do recreio. Nós raramente explicamos aos alunos por que o dia na escola é projetado do modo como é. Não deve ser nenhuma surpresa, então, que os alunos olhem para as divisões arbitrárias de leitura, matemática, estudos sociais, ciências, arte, música e educação física e comecem a definir as áreas temáticas como partes de conhecimentos separados com pouca relação entre eles. Na medida em que Miguel avançar nas séries, as delimitações temáticas se tornarão cada vez mais entrincheiradas, na medida em que as áreas acadêmicas são forçadas em blocos de tempo de 50 minutos ministradas por especialistas individuais. Não é à toa que muitos estudantes do ensino médio se queixam de que a escola é irrelevante no mundo cotidiano. No mundo real a gente não acorda de manhã e faz estudos sociais durante 50 minutos. O adolescente começa a perceber que na vida real nos deparamos com problemas e situações, coletamos dados a partir dos recursos que temos e criamos as soluções. O dia escolar fragmentado não reflete essa realidade. O filósofo britânico Lionel Elvin (1977) usa uma analogia para descrever o problema das restrições falsas de tempo no dia escolar:

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  • Universidade Federal de Santa Maria Curso de Licenciatura em Filosofia PIBID-FILOSOFIA Materiais de trabalho Junho/2014 O texto a seguir uma traduo do primeiro captulo do livro Currculo Interdisciplinar. Planejamento e Implementao, de Heidi Hayes Jacob. Trata-se de um dos poucos livros que existem especificamente sobre o planejamento de currculos interdisciplinares, e assim decidi traduzir ao menos o primeiro captulo, para que pudssemos ampliar nosso conhecimento sobre as produes disponveis. A traduo ainda est um pouco crua e deve ser lida lembrando-se que a autora fala sobre a realidade educacional dos Estados Unidos. Creio que o principal mrito do texto trazer algumas metforas e propostas de definies que podem nos auxiliar no progressivo refinamento do uso de expresses como interdisciplinaridade. Particularmente, a partir de textos como esse, eu tenho me colocado dois pontos de partida. Em primeiro lugar, creio que devemos ter claro a diferena entre o que poderamos chamar de interdisciplinar acadmico, voltado para a produo de conhecimento strito sensu (como Marx faz ao escrever O Capital) e o interdisciplinar escolar ou interdisciplinar curricular, voltado para os processos formacionais. Essa distino, que no se encontra assim formulada no texto, mas est suposta, pode ser de boa ajuda em nossas discusses. Em segundo lugar, precisamos cada vez mais tentar situar nossos planejamentos em filosofia no contexto do currculo escolar como um todo. A busca de trabalho interdisciplinar exige que levemos a srio a rea de estudos curriculares, para a qual o formado em filosofia tem uma vocao quase natural, tendo em vista a combinao de estudos de epistemologia com educao, por exemplo. Observao: traduzi o texto para uso interno do PIBID, como material para reflexo e debates. Podem reparti-lo vontade, mas tambm de modo interno, pois a traduo precisa ser ainda muito melhorada. O texto original em ingls deste captulo est disponvel de forma gratuita na internet. (Prof. Ronai Pires da Rocha)

    Currculo Interdisciplinar. Planejamento e Implementao Heidi Hayes Jacob Captulo 1. A crescente necessidade de contedo curricular interdisciplinar Miguel, um aluno do segundo ano, define a matemtica como "algo que voc faz pela manh." Infelizmente, sua declarao reflete uma internalizao da matemtica como uma experincia a ser absorvida entre as 09:45 e as 10:30 e, certamente, antes do recreio. Ns raramente explicamos aos alunos por que o dia na escola projetado do modo como . No deve ser nenhuma surpresa, ento, que os alunos olhem para as divises arbitrrias de leitura, matemtica, estudos sociais, cincias, arte, msica e educao fsica e comecem a definir as reas temticas como partes de conhecimentos separados com pouca relao entre eles. Na medida em que Miguel avanar nas sries, as delimitaes temticas se tornaro cada vez mais entrincheiradas, na medida em que as reas acadmicas so foradas em blocos de tempo de 50 minutos ministradas por especialistas individuais. No toa que muitos estudantes do ensino mdio se queixam de que a escola irrelevante no mundo cotidiano. No mundo real a gente no acorda de manh e faz estudos sociais durante 50 minutos. O adolescente comea a perceber que na vida real nos deparamos com problemas e situaes, coletamos dados a partir dos recursos que temos e criamos as solues. O dia escolar fragmentado no reflete essa realidade. O filsofo britnico Lionel Elvin (1977) usa uma analogia para descrever o problema das restries falsas de tempo no dia escolar:

  • Quando voc est caminhando, fora da cidade, a natureza no lhe apresenta s flores, durante trs quartos de hora, para depois, no quarto de hora seguinte, apresentar os animais. (p. 29). Se tomarmos a analogia de Elvin por outro ngulo, claro que quando voc est caminhando, voc tambm pode sentar-se e pegar as flores e concentrar-se unicamente sobre elas durante trs quartos de hora e aprender muito. O problema que na escola ns geralmente no consideramos ambas as perspectivas como componentes necessrios na educao de uma criana. Tendo examinado vrios modelos e abordagens de projetos interdisciplinar nos ltimos 15 anos, fiz algumas observaes . Embora os professores tenham boas intenes quando eles planejam cursos interdisciplinares, estes cursos frequentemente carecem de poder de permanncia. Dois problemas na seleo de contedos muitas vezes prejudicam esses cursos: O Problema do Potpourri . Muitas unidades tornam-se uma amostra de conhecimentos de cada disciplina. Se o assunto antigo Egito , haver um pouco de histria sobre o Egito antigo, um pouco de literatura, um pouco de artes, e assim por diante. Hirsch (1987) e Bloom (1987) tm criticado esta abordagem por sua falta de foco. Ao contrrio das disciplinas que tm um mbito e uma sequncia inerentes usada pelos planejadores curriculares, no existe uma estrutura geral no trabalho interdisciplinar . Os prprios desenvolvedores do currculo devem projetar um mbito de contedo e de sequencias para qualquer unidade interdisciplinar ou curso. O problema da polaridade. Tradicionalmente os campos da interdisciplinaridade e da disciplina tm sido vistos como sendo um caso de polaridade ou/ou, o que tem levado a uma srie de conflitos. No s o desenho curricular sofre com a falta de clareza, mas tenses reais podem surgir entre os professores. Alguns tem um sentimento territorial sobre suas disciplinas e sentem-se ameaados na medida em que novos pontos de vista sobre seus assuntos so promovidos. H uma necessidade de perspectivas tanto interdisciplinares quanto disciplinares no desenho do currculo. Para evitar esses dois problemas, os programas interdisciplinares efetivos devem atender a dois critrios. Eles devem ter conceber cuidadosamente as caractersticas do desenho curricular: um mbito e e uma sequencia, uma taxonomia cognitiva para incentivar habilidades de pensamento, indicadores comportamentais de mudana de atitudes, e um esquema de avaliao consistente. Eles devem usar experincias baseadas em disciplinas e no interdisciplinar para os alunos no currculo. O captulo 2, sobre opes de desenho curricular, explicita o mbito destas possibilidades. Fazer simplesmente uma lista de consideraes para a seleo de contedo interdisciplinar seria evitar o confronto com as complexidades e as possibilidades do trabalho interdisciplinar. Quando o Sr. Davis, professor de estudos sociais, e Sra. Valasquez, professora de Ingls, esto sentado na sala dos professores e decidem fazer uma unidade em conjunto, h uma chance de que o trabalho deles seja vtima de tanto do potpourri e do problema da polaridade. essencial que eles invistam um tempo para refletir sobre algumas questes fundamentais. Estas questes esto escritas no restante deste captulo, a fim de (1) estabelecer a necessidade para as possibilidades

  • interdisciplinares, (2 ) definir os termos usados nessa prtica, e (3) apresentar um conjunto de pressupostos que orientem uma prtica eficaz. Por que buscar a integrao curricular? Ao longo dos ltimos anos, o interesse e a necessidade de integrao curricular tem se intensificado por vrias razes. 1. O crescimento do conhecimento O conhecimento est crescendo em propores exponenciais em todas as reas de estudo. Se voc olha para um campo como a cincia v o notvel grau de especializao que resultou da pesquisa e da prtica. Cada rea do currculo tem o bnus e o nus do crescimento. O planejador de currculo deve considerar no s o que deve ser ensinado mas o que pode ser eliminado do currculo. Em literatura existem novos escritores, novos livros e novas interpretaes a considerar todos os anos. Nas cincias sociais h a difcil deciso de escolha de focos culturais, pois no podemos, obviamente, estudar todos os pases e culturas do mundo. Depois, temos as determinaes legais da educao que so passadas para as escolas com base nos problemas atuais. Por exemplo, muitos estados j exigem um currculo que aborde AIDS. Algumas determinaes curriculares incidem sobre a preveno do consumo de drogas. Currculos com temas de educao sexual e vida familiar agora so parte integrante do domnio da escola pblica em algumas reas do pas. Estes so temas crticos, mas eles fazem presso sobre o calendrio escolar. A durao do dia escolar nos Estados Unidos manteve-se basicamente a mesmo desde a dcada de 1890. Precisamos repensar as formas como selecionamos as vrias reas de estudo. O conhecimento no vai parar de crescer e as escolas esto rebentando pelas costuras. Horrios fragmentados Ouvi os professores queixar-se centenas de vezes, "o dia to fragmentado!" Os professores do ensino fundamental dizem: "Nunca vejo minhas crianas por um perodo prolongado de tempo", e professores do ensino mdio acrescentam: "Preciso planejar minhas aulas para caber em blocos de tempo de 50 minutos , em vez de atender as necessidades dos meus alunos". As escolas respondem s exigncias do estado dividindo o tempo em blocos, visando parcelar as responsabilidades especficas e assegurar o controle. Frequentemente as exigncias do estado so apresentadas em termos de minutos por semana. Os alunos sentem profundamente essa fragmentao. Um dos meus meios favoritos para comear uma avaliao de uma escola secundria seguir um aluno ao longo do dia. fcil esquecer como, 8 vezes por dia, os alunos deixam seus assentos a cada 50 minutos e correm por 5 minutos para outro cenrio, outro tema, outro professor, outro conjunto de alunos. Relevncia do Currculo Se estamos tentando conceber um meio de levar os estudantes a abandonar a escola, obviamente, estamos tendo sucesso. Estimativas recentes sugerem que nacionalmente, 25 por cento dos estudantes abandonam a escola todos os anos, e em reas urbanas o percentual pode chegar a 40 por cento. Algo est muito errado. Uma preocupao comum dos estudantes a irrelevncia de seu trabalho escolar em suas vidas fora da escola. Eles acham difcil entender por que eles precisam de matemtica quando a maior parte do ensino baseada em um livro-texto que no mostra as

  • aplicaes da mesma. A fragmentao do dia s agrava o dilema, na medida em que os estudantes nunca tem a oportunidade de explorar um assunto em profundidade. A questo da relevncia tambm toca um tema mais profundo. apenas na escola que temos 50 minutos de matemtica, 50 minutos de Ingls e 50 minutos de cincia. Fora da escola lidamos com problemas e preocupaes em um fluxo de tempo que no dividido em reas do conhecimento. Ns nos levantamos de manh e enfrentamos o todo da nossa vida. aqui que entra em jogo a relevncia. No que as escolas devam deixar de lado as disciplinas especficas; ao contrrio, elas tambm precisam criar experincias de aprendizagem que demonstram periodicamente a importncia das disciplinas, aumentando assim a sua relevncia. H uma necessidade de mostrar ativamente aos alunos como diferentes reas temticas influenciam suas vidas, e fundamental que os alunos percebam a fora da perspectiva de cada disciplina de uma forma conectada. A partir desta preocupao com a relevncia surge outra rea central que tem sido objeto de debate nos ltimos anos: a ignorncia do pblico americano e a falta de alfabetizao cultural (Hirst, 1987, Bloom, 1987). Alguns argumentam que deve haver um corpo de conhecimento que passado de uma gerao para a seguinte, que lida com os nossos clssicos e com os princpios bsicos da nossa cultura: a sua histria, suas artes e cincias. O perigo nessa linha de raciocnio a tendncia para o problema da polaridade. Desencorajar os esforos interdisciplinares como tentativas de relevncia em detrimento dos clssicos algo simplista e s aumenta a polaridade . As tentativas de trabalho interdisciplinar que parecem ser mais bem sucedidas so aquelas que abordam a questo da polaridade de uma maneira diferente. A questo aqui no se devemos ensinar os clssicos (apesar de que essa uma questo digna de uma discusso genuna); em vez disso, estamos considerando uma questo maior: no importa o contedo, ns sempre podemos projetar vnculos ativos entre as reas do conhecimento. Podemos ensinar as obras de Shakespeare com um olho para a histria das pocas, das artes, dos valores, do papel da cincia e do zeitgeist, ao invs de simplesmente examinar passagens especficas. O aluno que no possui uma inclinao literria pode encontrar o Rei Lear em outra rea temtica. As tentativas de currculo integrado no devem ser vistas como uma diverso interessante, mas como um meio mais eficaz de apresentar o currculo, se voc deseja ensinar Plato ou literatura feminista. O currculo se torna mais relevante quando existem conexes entre assuntos, em vez de isolamento estrito. Considere a definio de "histria" dada por Ravitch e Finn (1985). Eles, com razo, pedem que a gente oferea uma compreenso slida e profunda da histria e, ao mesmo tempo abrace uma perspectiva interdisciplinar para alm ... da memorizao de datas e fatos ou a identificao de guerras e de lderes polticos, ainda que estes tenham o seu lugar. (...) Devidamente concebida, a histria inclui a histria das ideias, do desenvolvimento cultural e dos movimentos sociais, polticos e econmicos. Ela inclui a evoluo de diversas culturas e as relaes em mudana entre os povos, raas, religies e crenas (p. 206) . Eles recomendam uma estrutura cronolgica consistente para o ensino de histria, que obviamente o caminho sensato. Mas, mais importante, a definio de histria deles abrangente em vez de limitadora e, acredito que ela amplia a relevncia da histria para o estudante do ensino mdio. Ravitch (1985) nos adverte para ter cuidado com prticas imprudentes sob a bandeira da relevncia. Ela tem toda a razo. A definio que ela elaborou com Chester Finn serve como um prottipo digno para uma viso dinmica da histria que , de fato, interdisciplinar. Resposta da sociedade fragmentao Estamos comeando a reconhecer que no podemos formar pessoas em especializaes e esperar que elas saibam lidar com a natureza multifacetada de seu trabalho. No de estranhar que muitas das escolas mdicas do nosso pas tenham

  • agora filsofos em suas equipes de formao. Um mdico no pode ser formado apenas em fisiologia e biologia do corpo; um mdico trata de todo o ser humano. As questes ticas que confrontam os mdicos tm muito a ver com a eficcia de seus tratamentos em pacientes. As escolas de administrao esto oferecendo cursos de tica, as escolas de ensino esto oferecendo cursos de administrao, e assim por diante. Basicamente, ns nos tornamos um mundo especializado, mas o pndulo est balanando em direo a algum equilbrio, de modo que podemos tirar partido de cada campo para melhor servir os nossos campos especficos. A tendncia renovada nas escolas em relao a interdisciplinaridade vai ajudar os alunos a integrar melhor as estratgias de seus estudos no mundo mais amplo. Definies que esclarecem a prtica Muitas interpretaes da terminologia curricular so utilizadas na discusso da integrao do conhecimento. s vezes ouo professores referir-se a sua "unidade interdisciplinar", quando, na verdade, o seu significado de unidade interdisciplinar de 180 graus diferente daquele de seus colegas de corredor. essencial que haja um acordo fundamental sobre os significados das palavras que sero usadas para descrever o plano que emerge dos esforos do projeto ou pode haver uma confuso real. A seguir esto alguns termos cujas definies tentam ilustrar os tons de diferena entre as concepes de conhecimento. (No Captulo 2 eu tento fornecer algumas aplicaes prticas para uma srie destes termos.) O Campo Disciplinar : Um corpo especfico de conhecimentos ensinveis com o seu prprio pano de fundo de educao, formao, procedimentos , mtodos e reas de contedo (Piaget , 1972) . O ponto de partida para todas as discusses sobre a natureza do conhecimento em nossas escolas deve ser uma compreenso adequada das disciplinas. Como Lawton (1975) sugere, cada disciplina faz diferentes perguntas. H quadros de referncia e tipos de enunciados distintos, e cada um deles sugere procedimentos nicos e resultados finais que so, de fato, os campos disciplinares. O pensador britnico Hirst (1964) estudou a melhor forma de apresentar os sistemas de conhecimento para os jovens. Na sua opinio, cada disciplina uma forma de conhecimento com caractersticas distintas e separadas. Dentro de cada uma dessas formas de conhecimento temos conceitos nicos e proposies que dispe de testes para validar a sua verdade. A motivao para a diviso em disciplinas est em parte baseada na noo de que as disciplinas incentivam a aprendizagem eficiente. A estrutura de disciplinas necessria para a aquisio de conhecimentos. Ela fundamental para a aprendizagem sobre como as coisas so relacionadas (Bruner, 1975). A vantagem das disciplinas que elas permitem que as escolas investiguem com ateno sistemtica o domnio progressivo de conceitos e padres de raciocnio (Hirst e Peters, 1974) intimamente relacionados. A deciso dos educadores em se especializar remonta a Aristteles, que acreditava que o conhecimento deve ser dividido em trs reas: as disciplinas produtivas, as disciplinas tericas e as disciplinas prticas. Certamente a nfase no currculo estruturado por disciplinas na escola pblica americana repousa em grande parte sobre uma lgica que enfatiza a sua eficcia instrucional, a coeso conceitual inerente e a base comunitria socialmente sancionada. Porm, raramente discutimos com as crianas a razo para a diviso do dia em reas disciplinares de foco. Como disse Miguel, o aluno no incio deste captulo, a matemtica torna-se algo que fazemos pela manh. Falei com crianas pequenas que explicam, "meu professor gosta da hora da leitura, a gente v isso ou cincia quando usamos os laboratrios." A forma como o dia dividido tem mais a ver com uma mudana de atitude do professor ou o uso de uma parte da sala de aula do que com qualquer

  • compreenso daquilo que um cientista faz ou da finalidade da leitura de literatura. Ns simplesmente deixamos de dizer s crianas por que planejamos suas vidas escolares em blocos de tempo. Antes de que qualquer experincia interdisciplinar significativa possa ocorrer, os estudantes precisam comear a entender a natureza do conhecimento em um nvel que seja claramente adequado sua idade e experincia. Interdisciplinar: Uma abordagem do conhecimento e do currculo que aplica de forma consciente metodologias e linguagens de mais de uma disciplina para examinar um tema central, problema, problema , tpico ou experincia. Em contraste com uma viso do conhecimento baseada em disciplinas, a interdisciplinaridade no salienta as delimitaes, mas as ligaes. Meeth (1978) observa que a nfase consiste em identificar deliberadamente as relaes entre as disciplinas. uma abordagem holstica que tem uma tradio no pensamento ocidental que vem do ideal de Plato da unidade como o maior bem em todas as coisas. A interdisciplinaridade nutre uma perspectiva diferente, com foco em temas e problemas da experincia da vida. O exame da relao entre as reas do conhecimento mostra uma srie de prefixos que conotam vrias nuances. Considere o seguinte : Crossdisciplinar: a visualizao de uma disciplina a partir da perspectiva de outra; por exemplo, a fsica da msica e a histria da matemtica (Meeth 1978). Multidisciplinar: a justaposio de vrias disciplinas focadas em um problema com nenhuma tentativa direta para integrar (Piaget 1972, Meeth, 1978). Pluridisciplinar: a justaposio de disciplinas sob a suposio de que elas so mais ou menos relacionadas ; por exemplo , matemtica e fsica, francs e latim (Piaget , 1972). Transdisciplinar: Para alm do mbito das disciplinas ; ou seja, comear com um problema e trazer para o conhecimento das disciplinas ( Meeth, 1978). Com a exceo da definio de interdisciplinaridade, a experincia de campo fez-me reticente no uso dessas definies. Elas representam diferenas importantes na maneira como o planejador de currculo ir moldar a unidade final ou o plano de estudos, mas elas so complicadas, para no dizer esotricas, na conversa cotidiana. Acho que os professores e administradores preferem termos mais usuais, como os que so apresentados no prximo captulo . No entanto, parece ser essencial que as decises sobre o currculo sejam feita em um consenso deliberado quanto nfase disciplinar que ir ocorrer na realidade; caso contrrio, h a tendncia para o potpourri e um tumulto confuso de atividades, quando uma equipe comea a produzir os planos de aula. O objetivo aqui visa a formao de profissionais informados. Suporte para um currculo interdisciplinar Quais so as principais crenas e suposies que orientaro as tentativas de formulao de currculos interdisciplinares? A filosofia do desenvolvedor de currculo sempre permeia o trabalho final. Eu comparo o nosso trabalho com o dos arquitetos que criam um projeto baseado em um lugar, nos materiais, e na populao a ser atendida. s vezes, no decorrer da execuo do projeto ocorrem eventos inesperados - um atraso nos materiais, uma rocha durssima na fundao e assim o arquiteto adapta seu plano. Mas inicialmente o arquiteto traz uma viso pessoal para a tarefa. Quanto mais conscientes estivermos de nossas crenas filosficas, mais provvel ser que as nossas escolhas sejam responsveis e que reflitam uma qualidade coesa e duradoura na experincia educacional que estamos tentando construir. Considere as seguintes crenas e suposies que voc pode ter como posio filosfica para o trabalho interdisciplinar.

  • Os alunos devem ter um mbito de experincias curriculares que reflita tanto um campo disciplinar e uma orientao interdisciplinar. Eu tenho enfatizado este ponto por causa da minha preocupao de que os devotos de uma ou outra posio vo dizer que "o meu o nico caminho." Pela mesma razo que artistas pioneiros como Joyce e Picasso no poderiam quebrar as regras at que as tivessem dominado totalmente, os alunos no podem beneficiar-se totalmente de estudos interdisciplinares at que adquiram uma slida formao nas diversas disciplinas que a interdisciplinaridade tenta ligar(Jacobs e Borland, 1986). Para evitar o problema do potpourri, os professores devem ser elaboradores ativos de currculo e determinadores da natureza e do grau de integrao, do mbito e da sequncia do estudo. As decises do professor vo afetar mais diretamente os alunos no dia-a-dia da sala de aula. O professor deve ter o direito de trabalhar como planejador, para moldar e para editar o currculo de acordo com as necessidades dos alunos . A elaborao do currculo uma soluo criativa para um problema, portanto o currculo interdisciplinar somente deve ser utilizado quando o problema reflete a necessidade de superar a fragmentao, a relevncia e o crescimento do conhecimento. A elaborao do currculo no deve ser vista como uma atividade secreta. A unidade interdisciplinar ou o curso deve ser apresentada a todos os membros da comunidade escolar. Poucos pais sabem algo sobre currculo integrado, e eles vo se sentir melhor se estiverem bem informados . Os alunos devem estudar temas epistemolgicos. Independentemente da idade dos alunos, questes epistemolgicas tais como "o que o conhecimento?", "o que sabemos?" e como podemos apresentar o conhecimento nas escolas" podem e devem estar no centro dos nossos esforos (Jacobs e Borland, 1986). A criana pr-escolar merece saber por que a sala est organizada do jeito que est , por que h "tempos de escolha", e por que h momentos definidos para "reunies de grupo. " A relevncia comea com as justificativa para as escolhas educacionais que afetam a vida escolar do aluno. As experincias curriculares interdisciplinares proporcionam uma oportunidade para uma experincia mais relevante, menos fragmentada, e estimulante para os alunos. Quando elas so projetadas corretamente e quando so satisfeitos os critrios de excelncia (Captulo 4, Ackerman), os estudantes rompem com a viso tradicional do conhecimento e comeam a promover ativamente uma srie de perspectivas que ir atend-los no mundo. Os alunos podem, e quando possvel, devem ser envolvidos no desenvolvimento de unidades interdisciplinares. O processo de quatro etapas descrito no captulo 5 permite a participao do aluno de uma forma significativa. Nem sempre desejvel que os alunos participem, mas o interesse deles nas unidades muitas vezes reforado por seu envolvimento no processo de planejamento (Jacobs e Borland, 1986). Ao compreender a necessidade crescente de programas de integrao do currculo, esclarecendo a terminologia que ser usada nas escolhas feitas pelo elaborador de currculo, e ao articular um conjunto de pressupostos orientadores, surgiro projetos

  • slidos e duradouros. A esperana que voc e sua equipe tornar-se-o profissionais reflexivos na medida em que comearem o seu projeto. Referncias Bloom, A. (1987). The Closing of the American Mind. New York: Simon and Schuster. Bruner, J. (1975). Toward a Theory of Instruction. Cambridge: Belknap Press. Elvin, L. (1977). The Place of Common Sense in Educational Thought. London: Unwin Educational Books. Hirst, P.H., and R.S. Peters. (1074). The Curriculum. In Conflicting Conceptions of

    Curriculum, edited by E. Eisner and E. Vallance. Berkeley, Calif.: McCutchen. Hirst, P.H. (1964). Knowledge and Curriculum. London: Routledge and Kegan Paul. Hirsch, E.D., Jr. (1987). Cultural Literacy. Boston: Houghton-Mifflin. Jacobs, H.H., and J.H. Borland. (Winter 1986). The Interdisciplinary Concept Model. Design and Implementation. Gifted Child Quarterly. Lawton, D. (1975). Class, Culture, and Curriculum. Boston: Routledge and Kegan Paul. Meeth, L.R. (1978). Interdisciplinary Studies: Integration of Knowledge and Experience. Change 10: 69. Piaget, J. (1972). The Epistemology of Interdisciplinary Relationships. Paris: Organization for Economic Cooperation and Development. Ravitch, D. (1985). Why Educators Resist a Basic Required Curriculum? In The Great School Debate, edited by B. Gross and R. Gross. New York: Simon and Schuster. Ravitch, D., and C. Finn. (1985). The Humanities: A Truly Challenging Course of Study. In The Great School Debate, edited by B. Gross and R. Gross. New York: Simon and Schuster.