Currículo, Inclusão e Educação Escolar · Ana Maria Serrano, UMinho Ana Paula ... com bolsa de...

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José A. Pacheco Geovana Lunardi Mendes Filipa Seabra Isabel Carvalho Viana (Orgs.) Currículo, Inclusão e Educação Escolar Braga, Portugal 2017 ISBN 978-989-8525-56-7

Transcript of Currículo, Inclusão e Educação Escolar · Ana Maria Serrano, UMinho Ana Paula ... com bolsa de...

  • Jos A. Pacheco

    Geovana Lunardi Mendes

    Filipa Seabra

    Isabel Carvalho Viana

    (Orgs.)

    Currculo, Incluso e Educao Escolar

    Braga, Portugal

    2017

    ISBN

    978-989-8525-56-7

  • Centro de Investigao em Educao Instituto de Educao

    Universidade do Minho Campus de Gualtar

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    Ana Maria Serrano, UMinho

    Ana Paula Pereira, UMinho

    Anabela Cruz Pereira, UMinho

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    Antnio Jos Meneses Osrio, UMinho

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    Fabiany de Cssia Tavares Silva, UFMS

    Filipa Seabra, UAberta

    Genylton Odilon Rgo da Rocha, UFPA

    Geovana Mendona Lunardi Mendes, UDESC

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    Jos Augusto Pacheco, UMinho

    Jos Carlos Morgado, UMinho

    Josenilda Maria da Silva Maus, UFPA

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    Regina Clia Linhares Hostins, UNIVALI

    Rosa Elisabete Militz Wypyczynski Martins, UDESC

    Valria da Silva Ferreira, UNIVALI

    Vernica Gesser, UNIVALI

    1 Doutoranda do Instituto de Educao da Universidade do Minho (Portugal) em Cincias da Educao, especializao em Desenvolvimento Curricular, com bolsa de doutoramento da Fundao para a Cincia e a Tecnologia (FCT SFRH/BD/93389/2013).

    http://www.cied.uminho.pt/mailto:[email protected]

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    Centro de Investigao em Educao da Universidade do Minho - CIEd2

    Todos os textos publicados so da inteira responsabilidade dos autores e coautores que

    autorizaram a sua publicao. Em todos os textos foram mantidas as peculiaridades da

    lngua portuguesa usadas em Portugal e no Brasil e respeitado o formato das referncias

    bibliogrficas.

    2 Este trabalho financiado pelo CIEd - Centro de Investigao em Educao, projetos UID/CED/1661/2013 e

    UID/CED/1661/2016, Instituto de Educao, Universidade do Minho, atravs de fundos nacionais da

    FCT/MCTES-PT.

    Pacheco, J.A., Mendes, G. L., Seabra, F., & Viana, I. C. (Orgs.). (2017). Currculo,

    Incluso e Educao Escolar. Braga: Centro de Investigao em Educao,

    Instituto de Educao da Universidade do Minho.

  • I

    Nota Introdutria

    Neste e-book so apresentados captulos com o contributo de textos apresentados

    por diversos autores, no mbito do Observatrio de Prticas Escolares, da

    Universidade do Estado de Santa Catarina, englobando, tambm, a Universidade do

    Par (Belm) e a Universidade do Minho (Portugal).

    Investigadores das trs universidades decidiram organizar uma rede de pesquisa

    conjunta, com o objetivo de promover a discusso de temticas que tm sido

    debatidas em Portugal e no Brasil, a partir de abordagens interdisciplinares, ainda

    que os Estudos Curriculares sejam dominantes no modo como se interligam essas

    questes com as prticas docentes.

    A incluso , decerto, um campo de investigao que necessita de olhares

    diferenciados ao mesmo tempo que promove a problematizao de saberes em

    funo de realidades muito diversas, sobretudo quando est em causa garantir no

    s a educao pblica, como tambm o acesso de todos escola e uma

    aprendizagem diferenciada. Numa era de contabilizao de resultados e de

    exaltao do sucesso escolar medido pelos nmeros, relacionados essencialmente

    com determinadas disciplinas, a discusso da incluso na escola pblica

    pertinente e imperativa, j que a educao e a formao no podem servir para a

    implementao de processos e prticas que coloquem em causa a igualdade e

    diversidade de cada ser humano.

    Alis, a incluso, nas suas mltiplas vertentes, no significa que exista uma

    uniformizao, to-s uma diversidade que justificada em funo das realidades

    intrnsecas das crianas, jovens e adultos, sendo impensvel aceitar uma

    estandidazao das prticas curriculares.

    Assim, os textos apresentados, por eixos, permitem um conhecimento mais alargado

    de uma realidade que est em constante discusso, sendo os resultados da

    investigao fundamentais para a sua compreenso.

    Os organizadores.

  • II

    ndice

    Eixo 1 - Socializao de Grupo de Pesquisa

    Estar juntos: entre hospital, escolas e potica da diferena. Vannina Alquino Gomes da Silveira Conceio e Anelice Ribetto

    8

    A reproduo da norma no espao escolar e a produo/inveno de novos possveis. Bruna Pontes e Vanessa Christina Breia

    17

    A escolarizao de alunos com deficincia intelectual luz da perspetiva histrico-cultural em dilogo com a avaliao mediada. Mariana Corra Pitanga de Oliveira e Mrcia Denise Pletsch

    25

    Concees docentes sobre a incluso escolar e a mediao pedaggica: uma anlise a partir da perspetiva histrico-cultural de Vygotsky. Marcela Francis Costa Lima e Mrcia Denise Pletsch

    33

    Adaptaes curriculares para incluso: a utilizao de jogos em sala de aula. Regina Finck Schambeck

    42

    Incluso de pessoas com deficincia visual no ambiente escolar (orientao e mobilidade): um estudo de caso realizado na cidade de Una-MG. Gustavo de Souza Almeida, Jussara Resende Costa Santos e Leila Gonalves Souza

    51

    Bissau: gnese de um projeto de investigao. Ana Poas, Jos Carlos Morgado e Jlio Gonalves dos Santos

    69

    Educao inclusiva: orientao e mobilidade no contexto escolar. Mayla Thaissa Hickmann Wesling e Priscila Gadea Lorenz

    78

    Tema Gerador como forma de incluso e de mudana de opinio de alunos-trabalhadores em uma Escola Pblica noturna. Mrcio Antnio da Silva, Gilmar Pereira de Souza e Suzana dos Santos Gomes

    87

    Convivendo com a deficincia intelectual: percursos de cuidado e educao nas redes parental e social de apoio. Claudia Paranhos de Jesus Portela

    97

    Educao Fsica escolar: olhares sobre a incluso da pessoa com deficincia. Alessandra de Fatima Giacomet e Karine Helena Morais

    107

    O processo de escolarizao de crianas surdas: relao entre pais responsveis e escola. Claudia Paranhos de Jesus Portela

    116

    Cultura surda e incluso escolar na educao bsica: tecendo experincias e vivncias de um grupo bilngue na Escola Municipal Paulo Freire. Sara Busquet Magalhes e Gabrielly da Oliveira Cabral Rangel.

    124

    Incluso de alunos com deficincia e transtornos do espectro autista nas escolas da rede pblica do municpio de Arapiraca-Al: concees e prticas pedaggicas. Elizete Santos Balbino, Jaqueline da Cruz Zacarias, Lyciane Maria Vasconcelos Lima, Mirelly Karlla da Silva e Milena Silva Magalhes

    129

    Contribuio do projeto ABC para a incluso e alfabetizao das crianas com TEA: a interface entre as escolas regulares de ensino e o espao Trate Autismo. Myllenna de Oliveira Santos, Ana Paula Rios Moraes, Elizete Santos Balbino, Ivanilda dos Santos Oliveira e Jaqueline da Cruz Zacarias

    140

    Currculo e Educao Matemtica: a contribuio das Tecnologias do PIBID na formao docente. Geralda Terezinha Ramos

    151

    Questes sobre a escolarizao de jovens e adultos com deficincia intelectual. Kelly Maia Cordeiro

    160

    O transtorno do espectro autista e a incluso na educao infantil: um estudo de caso no municpio de Santa Rosa, RS, Brasil. Ritieli Caroline Lippert da Silva e Priscila Gadea Lorenz

    168

  • III

    A incluso e as vozes dos alunos com deficincia visual no municpio de Arapiraca-Alagoas: da alfabetizao ao ensino mdio. Kleycianne Nogueira Gomes, Myllenna de Oliveira Santos, Geilda Ferreira Lima e Elizete Santos Balbino

    177

    Especializao em incluso escolar: uma proposta interdisciplinar para formao continuada de professores da educao bsica. Adriany de Avila Melo Sampaio e Antnio Carlos Freire Sampaio

    188

    O papel da famlia no processo de incluso de alunos deficientes: estudo de caso em uma escola privada de Una-MG. Mirela Deicla Silva de Almeida, Maria Aparecida Alves e Jussara Resende Costa Santos

    198

    Anlise do nvel de envolvimento dos estudantes com deficincia intelectual por meio das atividades propostas pelo professor da sala de aula comum Florianpolis/SC. Geovana Mendona Lunardi Mendes, Marilene Faria Bttenbender, Nathlia Andregtoni, Sandy Varela de Christo e Yasmin Ramos Pires

    222

    Diariando a experincia educativa com uma pessoa com surdocegueira na Escola Municipal Paulo Freire. Sara Busquet Magalhes

    231

    Estado do conhecimento: produo acadmica sobre educao nos PALOP geradas no Brasil entre 1987 e 2012. Jacqueline Cunha da Serra Freire, Ana Paula Sthel Caiado, Sinara Mota Neves de Almeida, Elisangela Andr da Silva Costa e Jos Verssimo do Nascimento Filho

    239

    Formao de professores que atuam na educao especial: um estudo realizado nas escolas regulares pblicas estaduais e numa escola regular especial no municpio de Una- MG. Evanilda do Nascimento, Lara de Windson Oliveira Almeira Marchior e Jussara Resebde Costa Santos

    249

    Eixo 2 - Polticas de Educao Inclusiva

    Formao de Professores de surdos, currculo e incluso. Joaquim Melro

    267

    Educao de jovens e adultos: um desafio para pessoas com deficincia visual. Vnia Maria Henrique Lima

    286

    Incluso e mediao transformativa para a parentalidade emancipatria. Vera Vieira, Isabel C. Viana e Pedro Lobo

    297

    Polticas de Incluso no Ensino Superior: panorama da implementao do ncleo de incluso da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ/BRASIL). Saionara Corina Pussenti Coelho Moreira e Mrcia Denise Pletsch

    306

    Atendimento Pedaggico Domiciliar: poltica e estrutura educacional brasileira. Sheila Venancia da Silva Vieira

    314

    O que dizem as publicaes da Revista Brasileira de Educao Especial sobre o Autismo? Getsemane de Freitas Batista

    322

    Consideraes sobre a avaliao de alunos com deficincia intelectual no Brasil. Carla de Paiva

    330

    Anlise dos indicadores e polticas de incluso escolar na baixada Fluminense/RJ/Brasil. Tamara Frana de Almeida Magalhes

    339

    Tecnologias assistivas e educao inclusiva: o que pensam os professores de estudantes pblico-alvo da educao especial? Rosangela Costa Soares Cabral

    345

    Polticas pblicas da educao especial: caminhos que levam a incluso da pessoa com deficincia intelectual. Claudete Terezinha Cardoso Mazuco, Fernanda Pazini Cavalheiro Linassi e Simone Hermes dos Santos Almeida

    354

    As redes de influncia e a produo da poltica de educao especial na perspetiva inclusiva no Brasil. Idorlene da Silva Hoepers, Inajara Carla Oliveira, Regina Clia Linhares Hostins e Valdirene Stiegler Simo

    363

  • IV

    Politicas de incluso escolar e prticas curriculares: mapeando produes no Brasil e Portugal. Clia Demtrio Pereira, Jos Augusto Pacheco e Geovana Mendona Lunardi Mendes

    372

    Classe hospitalar: revisitando conceitos e possibilidades. Izadora Martins da Silva de Souza, Getsemane de Freitas Batista, Carla de Paiva, Saionara Corina Pussenti Coelho Moreira e Ana Paula Lima da Silva

    382

    O corpo dos condenados: entre a lgica medicalizante e o convvio social. Carolline Septimio e Vanessa Goes Denardi

    386

    Eixo 3 - Currculo e Incluso Escolar

    Prticas curriculares em educao musical especial: um estudo de caso em um contexto inclusivo. Maristela de Oliveira Mosca e Jason Desidrio Bezerra

    397

    Prticas inclusivas em cincias: um programa de cincias para alunos com necessidades educativas especiais. Susana Alexandre dos Reis e Rute Alves

    417

    Uma educao da diferena: cartografando Fernand Deligny. Snia Regina da Luz Matos

    428

    Planejamento educacional individualizado (PEI) para pessoas com deficincia intelectual na rede municipal de educao de Duque de Caxias/RJ/Brasil (2001-2012). Leila Lopes de Avila

    437

    Incluso e avaliao em larga escala: efeitos no currculo escolar e a produo de processos de in/excluso escolar. Kamila Lockmann, Maria Renata Alonso Mota e Suzane da Rocha Vieira Gonalves

    446

    O Planejamento Educacional Individualizado (PEI) como estratgia para favorecer a elaborao conceitual em alunos com deficincia intelectual. rica Costa Vliese Zichtl Campos, Roberta Pires Corra e Tamara Frana de Almeida Magalhes

    459

    A interdisciplinaridade e o currculo: quando o conhecimento popular chega s salas de aula. Mrcio Antnio da Silva, Gilmar Pereira de Souza e Suzana dos Santos Gomes 466

    Diferenciao pedaggica e incluso escolar: posicionamento de futuros educadores e professores. Clarinda Barata, Paula Ferreira, Susana Reis e Catarina Mangas

    478

    O currculo adaptado como forma de incluso no Ensino Fundamental: perspetivas e desafios na Escola Pblica Paulista. Paulo Cesar Cedran e Chelsea Maria de Campos Martins

    488

    A construo da prxis docente e suas contribuies para incluso de crianas com o transtorno do espectro autista-tea na educao bsica Sebastio Nunes da Silveira e Mirelly Karlla da Silva

    500

    A existncia de uma base curricular nacional suficiente para a melhoria da educao brasileira? Rosngela da Silva Camargo Paglia

    509

    Trajetria de escolarizao de alunos em situao de deficincia. Renata da Silva Andrade Sobral e Amelia Maria Arajo Mesquita

    517

    A diferenciao curricular como pedra angular da educao inclusiva. Carla Lacerda

    533

    Prticas dos professores indgenas: descolonizar para emancipar. Maria Lucimar Jacinto de Sousa e Maria Lurdes Dias de Carvalho

    544

    Avaliao das aprendizagens e sucesso escolar: perspetivas de alunos do Ensino Bsico. Teresa de Jesus Correia Paulino Santos e Maria Palmira Alves

    553

  • V

    Sobre a proliferao do discurso da falta: aproximaes entre os discursos da educao especial e da educao e tecnologia. Carolline Septimio e Geovana Mendona Lunardi Mendes

    562

    Travessias que nos (des)unem na integrao internacional: educao, cultura e diversidade na UNILAB. Jacqueline Cunha da Serra Freire, Andr da Silva Costa, Elcimar Simo Martins, Sinara Mota Neves de Almeida e Assis Anderson Ribeiro da Silva,

    572

    Eixo 4 - Escolarizao, incluso e tecnologias

    A arte na ponta dos dedos: Sonhos e lugares. Vnia Maria Henrique Lima

    580

    Jogo digital acessvel Desafio do Carteiro: possibilidades de elaborao conceitual em diferentes reas do conhecimento. Adriana Gomes Alves, Karla Demonti Passos Cathcart e Marco Aurelio Soares dos Santos

    592

    Nas aulas de Histria e Geografia dos anos finais, alunos com deficincia intelectual elaboram conceitos? Cristiane da Silva e Ronan Adinael Pinheiro

    604

    Desenho universal para a aprendizagem de pessoas com deficincia intelectual. Izadora Martins da Silva de Souza

    614

    Direito a Educao no Estado Democrtico: levantamento e anlise da produo bibliogrfica (1992-2012). Maurinice Evaristo Wenceslau, Fabiany de Cassia Tavares Silva e Dbora de Oliveira Santos

    622

    A interface entre contedos e recursos na escolarizao de alunos com deficincia intelectual nos anos finais do ensino fundamental. Regina da Silva Mendes e Camila Baggio do Amaral

    632

    A educao geogrfica e a formao dos jovens. Carla Sofia Oliveira

    640

    A formao de conceitos em alunos com deficincia intelectual: apontamentos a partir das provas de Luria. Roberta Pires Correa

    650

    A incluso do aluno surdo na universidade federal de Uberlndia: desafios e perspetivas. Mariani de vila Resende, Matheus Rocha da Costa e Keli Maria de Souza Costa Silva

    658

    Informtica e educao matemtica: contribuies na formao inicial e continuada do professor. Marcos Ferreira Santos, Railane Antonia Silva e Geralda Terezinha Ramos

    666

    Tecnologia assistiva: o jardim sensorial como proposta de conforto humano nos espaos de convivncia para a diversidade e a incluso. Anna Persia Rodrigues Bastos e Rejany Dominick

    675

    Eixo 5 - Incluso na Educao Bsica

    Grupo de pesquisa diferenas e alteridade na educao: problematizando as tenses entre polticas e experincias inclusivas na formao dos professores em So Gonalo (RJ- Brasil). Anelice Ribetto, Bruna Pontes e Vannina Alquino Gomes da Silveira Conceio

    696

    Tem um cachorro na minha sala: uma experincia de educao assistida por animais em uma classe especial no Rio de Janeiro. Vanessa Christina Breia e Vannina Alquino Gomes da Silveira

    705

    Escola bsica brasileira: estado do conhecimento sobre a pesquisa com estudos de currculos oficiais (nacionais e locais). Aline Rabelo Marques e Fabiany de Cassia Tavares Silva

    714

    Dos estudos comparados escrita histrico-social do currculo: documentos curriculares como fontes. Fabiany de Cassia Tavares Silva

    724

  • VI

    Perspectivas crticas em educao especial e educao inclusiva. Carla Beatris Valentini, Cladia Alquati Bisol e Snia Regina da Luz Matos

    734

    Incluso escolar em raparigas ciganas a questo da igualdade de gnero. Maria Joo S Ferreira

    743

    Processo de elaborao conceitual de estudantes com deficincia intelectual: uma pesquisa em rede. Aldarlei Aderbal da Rosa, Geovana Mendona Lunardi Mendes, Marilene Faria Bttenbender, Rosangela Kittel e Simone de Mamann Ferreira

    746

    Grupo interinstitucional de pesquisa em educao de surdos GIPES. Madalena Klein

    754

    Grupo de Pesquisa Educao Especial. Celi Corra Neres

    755

    Equidade e incluso: Sentidos e aproximaes. Filipa Seabra

    763

  • INCLUSO SOCIALIZAO DO GRUPO DE

    PESQUISA

    Eixo 1

  • 8

    ESTAR JUNTOS:

    entre hospital, escolas e potica da diferena

    Ms. Vannina Silveira UERJ/FFP1 Dra. Anelice Ribetto UERJ/FFP2 Coletivo Diferena e Alteridade na Educao (UERJ/FFP)

    Resumo

    Esta pesquisa cartografa a produo potica de polticas pblicas e prticas de educao especial e incluso que se do entre escolas e hospital como espao legtimo de escolarizao das pessoas com condies fsicas deficientes e severas, em Itabora, municpio da regio metropolitana do estado do Rio de Janeiro, Brasil. A partir do conceito de experincia de Larrosa e por meio de conversas e produo artstica de crnicas escritas e imagticas so narrados os efeitos gerados pelos encontros pedaggicos entre uma professora e seu primeiro aluno atendido num hospital, ao longo de trs anos. Efeitos que se materializam na proposta de um outro currculo praticado e criado a partir da relao. Encontros que tiveram como desdobramento a fora para a instituio de polticas pblicas municipais de educao especial e incluso escolar no hospital que at ento no existiam institucionalmente (embora juridicamente existentes). Com a pergunta E se o outro no estivesse a? de Carlos Skliar a pesquisa prope pensar, tambm, a educao ou a escolarizao no hospital como escola outra construda na potncia do estar juntos e cujas aulas so tecidas entre conversas e no apenas como um dispositivo do chamado Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Poltica de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva no Brasil.

    Palavras-chave: Diferena; Escola no hospital; Educao Especial e Incluso;

    Experincia.

    E se o outro no estivesse a? (Carlos Skliar)

    Ensaiando, cartografando, experienciando e escrevendo uma educao na diferena

    que problematize a mesmidade

    A experincia de escolarizao narrada nesse texto foi construda a partir do encontro (de

    uma professora) com Wenderson, na pediatria do Hospital Municipal Desembargador Leal

    1 Pedagoga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro-Faculdade de Formao de Professores (UERJ/FFP).

    Mestre em Educao pela UERJ/FFP. Membro do Grupo de Pesquisas Diferenas e Alteridade na Educao. Contato:

    [email protected]

    2 Psicloga argentina, Doutora em Educao e Professora do Programa de Ps Graduao Mestrado em Educao,

    Processos Formativos e Desigualdades Sociais da UERJ/FFP. Coordenadora do Grupo de Pesquisas Diferenas e Alteridade

    na Educao. Contato: [email protected]

  • 9

    junior, na cidade de Itabora/RJ, no final de 2007.

    Fui at l para fazer contao de histria com um grupo de amigos. E Wenderson estava l,

    fazia mais de um ano, porque a Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne exigia-lhe um

    aparelho de ventilao mecnica para respirar.

    Estava l, para alm de um corpo com pouca mobilidade e com longa internao, um corpo

    adolescente e curioso que dizia de uma pessoa viva e artista.

    Aps esse encontro surgiram outros, mas j atuando como professora na rede municipal de

    ensino de Itabora e sabendo dos seus direitos legais educao, convenci no sem

    muita insistncia - sua famlia, a secretaria de educao, a direo do hospital e o prprio

    Wenderson a voltar a estudar.

    ***

    Durante algum tempo fui recebida nas aulas com Wenderson dizendo no querer

    aula.

    timo, porque hoje estou muito cansada! Ento vamos ficar conversando.

    respondia a ele.

    Conversvamos sobre a natureza, sobre o que nos divertia, sobre receitas, sobre

    livros, filmes, sabores, sobre como pensar melhor nosso tempo, sobre desenhos.

    Falvamos de salsicha e seguamos falando do azul do cu e de mutao gentica.

    Sobre o que nos acontecia, fazamos e sentamos ao fazer. Conversa sobre o pintar,

    o desenhar, o ler, o duvidar, o perguntar, o criar

    A educao a arte da conversa, que nos permite, que nos deixa, cuidar do mundo

    e cuidar do outro.3

    E assim, amos nos cuidando, conversando, e no estar juntos as aulas se

    desenvolviam sem a professora dar aulas e sem o aluno querer estudar.

    Implicada com o Wenderson e ele comigo, fomos abrindo brechas na expectativa e

    na qualidade da vida das vidas. Expandindo-as. Construindo currculos vivos nos

    quais a inventividade, a arte, o desejo e a curiosidade eram o que possibilitava a

    pesquisa e a aprendizagem.

    3 Fala do professor Carlos Skliar sobre Aprender e Ensinar com a Diferena na Escola, na Faculdade de

    Formao de Professores da UERJ, durante a manh do dia 1 de abril de 2015.

  • 10

    Ensaiando uma pedagogia da diferena jogamos com as (im)possibilidades, quando

    estamos disponveis, atentos, sensveis. Abertos para desestabilizar, afetar e ser

    afetado, desestruturar, brincar, jogar, aprender, ensinar, cuidar, conversar,

    pesquisar, escrever, ensaiar.

    Ensaio de ser professora-aluna.

    Ensaio de fazer pesquisa.

    Enrubeso ao admitir o quanto rico, duro, (po)tico foi experimentar esta educao e

    poder revisit-la neste texto. Para Larrosa (2002)

    A experincia, a possibilidade de que algo nos acontea ou nos

    toque, requer um gesto de interrupo, []: requer parar para

    pensar, parar para olhar, [] escutar mais devagar; [] cultivar a

    arte do encontro, calar muito, ter pacincia e dar-se tempo e espao

    (p. 4).

    Experimentando uma pesquisa ensaiada, que por si mesma diz das paixes, dos

    risos e enfados, vivo o exerccio de ensaiar-me no sentido de criar algo de/em mim

    na escrita e entre ela pensar, fazer e escrever a mim mesma no questionamento de

    estar sendo ensasta.

    Pensando em processos e caminhos, cartografia e ensaio vo se articulando e

    compondo coletivamente um territrio que vai sendo explorado por olhares,

    escutas, pela sensibilidade aos odores, gostos e ritmos (KASTRUP; POZZANA,

    2009, p. 61). Dimenso processual que diz da condio de aprendente necessria

    nas relaes de alteridade, sobretudo por no estar comprometida com possveis

    representaes e classificaes de objetos.

    Esse movimento pesquisa ensaiada e cartografada de explorao, dialoga com a

    necessidade de acompanhamento dos processos que se do durante o caminhar.

    Fragmentos de experincias entre uma professora e um aluno no hospital e

    na casa

    Para (des)tecer esta pesquisa entre dois, foi preciso encontrar-me com Wenderson

    em sua casa para que pudssemos compor a histria do trabalho que fizemos, no

    de forma linear e progressiva. Composio em fragmentos como um estilo de contar

    experincias. Fragmentos derivados da problematizao da relao entre professora

    e aluno durante a escolarizao no hospital, pensando a idia de estar juntos que

  • 11

    entranha a incluso, a educao especial (como processo de alteridade) (RIBETTO,

    2011, p. 3).

    Conversamos entre outras coisas, sobre: como eram as aulas e as formas de ensinar e

    aprender entre ns? Qual era a proposta oficial de trabalho e o nosso trabalho feito entre

    dois? Como sabamos se estava bom ou ruim, para ns, o que estvamos aprendendo?

    Qual era o tempo oficial e o nosso tempo criando entre dois? Questes vistas sob a questo

    de pano de fundo: e se o Wenderson no estivesse a (SKLIAR, 2003)? Como seria?

    ***

    Com uma internao longa, a escolarizao do Wenderson no hospital tensionou o

    pressuposto legal da classe hospitalar, que segundo as Diretrizes Nacionais para a

    Educao Especial na Educao Bsica, deve contribuir para o retorno e

    reintegrao do aluno ao grupo escolar [], facilitando seu posterior acesso

    escola regular (BRASIL, 2001, Art. 13, 1).

    Portanto, a classe hospitalar mais do que continuou seu processo de

    desenvolvimento educacional, na verdade, reiniciou. E ele saiu da classe

    hospitalar, foi para casa e l ficou. No voltou para a escola. Juridicamente,

    continuou no atendimento educacional especializado, que tem carter suplementar

    ou complementar, no sendo substitutivo s classes comuns (BRASIL, 2009, Art.

    5).

    Assim, no se aplica com o Wenderson a mesma leitura linear da legislao. Ele a

    afirmao da diferena. Diferena que no est na poltica, est na vida.

    ***

    O fato de inaugurarmos aquele tipo de trabalho no hospital e no termos modelos e

    orientaes permitiu muita liberdade pedaggica, sobretudo, por no ser visto e entendido

    como pedaggico. Para muitos eu era a moa do jaleco rosa, a palhaa, a contadora de

    histrias, a animadora, a recreadora e nem sei mais o qu. Mas no abria mo e no

    deixava de ser para mim, para o Wenderson, para a dona Ftima, modos outros de estar

    sendo professora. Professora-palhaa, professora-contadora de histrias, professora-

    animadora, professora-recreadora, professora-pesquisadora

    ***

  • 12

    Interessante perceber que mesmo nos aproveitando da falta de padro e modelo, de

    alguma forma e em alguns aspectos eles estavam presentes e eram at desejados.

    Machado diz que Queremos um escudo protetor que nos afaste do desconhecido e,

    assim, nos faa manter uma mesma personalidade para o resto da vida. Parece que

    precisamos de unidades que nos tranqilizem. (1999, p. 4).

    O tempo da pediatria era muito complicado. No era possvel definir e desenvolver

    totalmente o planejado, como tambm acontece em turmas, mas na pediatria o

    inesperado era maximizado com a deliciosa e apavorante improvisao. A

    quantidade de crianas e adolescentes internados, a condio de sade em que

    estavam naquele momento, a dinmica da pediatria, o bem-estar do Wenderson,

    meu humor eram variveis fortes. No tinha como estudar, aprender, ensinar com

    dor e passando mal. Dependendo da situao, era preciso ir embora mesmo. O

    corpo gritava Nossos corpos gritavam: hoje no suporto!

    Os atravessamentos literalmente eram os mais inesperados possveis. Choros,

    gritos, injees, mdicos, enfermeiros, auxiliares, tcnicos, mquinas de radiografia,

    curativos, intercorrncias, biombos, lanches, palhaos, evangelizadores, capeles

    Diretamente com Wenderson eram poucos os procedimentos de sade nas aulas,

    s comprimidos e s vezes injees. As aspiraes constantes no eram, desde

    muito cedo, vistas como interrupes, j compunham as aulas.

    Estudo sobre polticas de educao especial e incluso no municpio de

    Itabora: uma aproximao aos sentidos produzidos para a escolarizao no

    hospital

    Como aluno de classe hospitalar, Wenderson fez tensionar as polticas pblicas

    nacionais de escolarizao no hospital e de AEE, como tambm fez surgir a

    necessidade de se pensar e construir em Itabora polticas pblicas para os alunos

    hospitalizados.

    J em 2008, esse tema foi introduzido legalmente no municpio, com a publicao do

    Plano Municipal de Educao (PME) estabelecendo que a partir do 1 ano da

    vigncia do Plano seria criada uma sala para atendimento pedaggico aos alunos

    em situao de internao hospitalar ou impedidos de freqentar a escola em virtude

  • 13

    de acometimentos patolgicos (ITABORA, 2008, p. 94). Meta ratificada no PME de

    2015 (Lei n 2.556/2015), por ainda no ter sido efetivada.

    No documento Referencial Curricular da Educao Especial Reorientao

    Curricular da Educao Especial, encaminhado s escolas em 2013, a classe

    hospitalar aparece como Itinerncia, sendo um servio destinado a prover,

    mediante atendimento especializado, a educao escolar a alunos impossibilitados

    de frequentar as aulas, em razo de tratamento de sade que implique interveno

    hospitalar (atendimento ambulatorial e internao). (ITABORA, 2013, p. 5).

    Em 2014, foi publicado o novo Regimento Escolar das Unidades Escolares da Rede

    Pblica Municipal de Ensino de Itabora, contendo trs artigos sobre escolarizao

    no hospital, dentre eles o artigo 124, que garante ao estudante com deficincia,

    transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotao

    atendimento educacional especializado no ambiente domiciliar e hospitalar

    realizado pelo Professor Especializado para Educao Especial (ITABORA, 2014).

    Uma considerao apresentada na publicao do MEC, Classe hospitalar e

    atendimento pedaggico domiciliar: estratgias e orientaes, e que difere das

    legislaes j destacadas, a possibilidade do atendimento hospitalar ser

    permanente (BRASIL, 2002, p. 15) devido a condies graves de sade, como o

    caso do Wenderson, que requer a utilizao constante de equipamentos de suporte

    vida (Ibidem, p. 18).

    Contudo, a mesma publicao utiliza as expresses atendimento educacional em

    ambientes e instituies outros que no a escola (Ibidem, p. 7) e escola de origem

    do educando (Ibidem, p. 16), que marcam novamente o carter temporrio da

    classe hospitalar e o no ser escola.

    Mas se a educao no hospital ou em domiclio - pode ser permanente, esta

    educao no seria escola? Outra escola, escola outra? O que o entre escolas e

    hospital produziu que estremeceu as polticas pblicas e seus conceitos?

    Tudo isso porque Wenderson estava l e aqui.

    Entre o hospital e as escolas: crnicas e efeitos de um territrio escolar em

    movimento

    Para pensar os efeitos do encontro pedaggico com Wenderson, suas

    reverberaes e criaes de outros modos de fazer escolas no hospital, retorno

  • 14

    pediatria, numa tentativa de acompanhar os novos fluxos escolares, os novos

    alunos, a nova professora.

    Mas Como narrar o acontecimento que nos passa sem reduzi-lo a uma descrio

    replicada do que de fato passa? (RIBETTO, p. 61 e 62, no prelo).

    Como no tematizar os encontros?

    Cmo hacer para que el instante permanezca y pueda ser narrado?4

    Talvez cronicando encontros pedaggicos no hospital. Encontros instalados no

    presente. Encontros cotidianos. Encontros escolares (in)significantes,

    (im)perceptveis, experimentados na pediatria.

    A narrao dos novos encontros escolares no hospital foi composta por crnicas,

    pois elas me ajudam a pensar nas potncias das conversas, dos afetos, dos

    silncios, dos olhares, dos gestos. Pois eternizam os momentos, mantendo-os

    finitos, pontuais, especficos e subjetivos.

    ***

    Crnica: Passeio sem Lugar: entrar

    Volto ao hospital como para um lugar desconhecido. Volto outra. Voltamos eu e

    Wenderson em mim outros. Voltamos, no como uma volta, um retorno, mas como

    se fosse a primeira vez. Ento, mais do que voltamos, vamos Numa espcie de

    passeio, para una experiencia de lo real (MOREY, 2004, p. 1), como que para

    salvar la dignidad de la experiencia pura (Ibidem, p. 7).

    Passeando, permito(me) uma abertura para a experincia, com ouvidos, olhos e

    poros atentos para as sensaes, para o instantneo, efmero, presente, numa

    relao mais demorada como o tempo.

    O que e quem encontrarei?

    Chego portaria do hospital. Como entro? Entrar um gesto. Apenas um gesto, que

    pode compor diferentes formas a partir da minha entrada.

    Entrada das visitas?

    Entrada dos funcionrios? No sem o jaleco rosa que usava escrito Pedagoga.

    Entrada principal dos pacientes, sem estar doente. Pensei:

    4 Trecho do parecer de qualificao da dissertao do professor Carlos Skliar.

  • 15

    Como me apresentarei?

    Tirei do bolso a carteira de Secretaria de Educao e disse ter conversa agendada

    com o responsvel pela pediatria. Tudo verdade.

    Mas o hospital estava outro.

    A minha entrada foi outra. Entrada com contorno de uma gestualidade mnima

    (SKLIAR, 2011).

    Entrei procurando pistas, criando pistas. Entrei com o corpo atento, numa ateno

    que capta e que faz reverberar o oficial, o maior, o dito, o respirado, o tocado, o

    ouvido e o no dito, respirado, o quase ouvido, quase sentido, o catico. Entrei

    passeando como que sem conhecer o caminho. Destino pediatria. Classe

    hospitalar Ou melhor: escola.

    Onde esto os mapas? Onde esto as marcas da escola?

    Perco-me. Perdem-me.

    Subo a rampa. S vejo paredes brancas e um quadro de alerta sobre a dengue.

    Placa: Pediatria. Chequei na escola?

    Entro.

    Escola? Que escola?

    Na antessala da enfermagem, local h muito prometido para a classe hospitalar,

    encontro trs caixas empilhadas com brinquedos, dois banquinhos, dois quadros

    com imagens de bichos e crianas, uma balana, uma poltrona e um quadro com os

    nomes das crianas internadas.

    Nenhum desenho, nenhum jogo, nenhum livro, nenhuma atividade, nenhuma

    brincadeira Nenhuma evidncia da presena da professora e de seus alunos,

    nenhum gesto ou objeto que aprendi como escolar. Como que, aps cada aula, por

    um passe de mgica, a presena daqueles corpos e experincias fosse apagada.

    No posso deixar materiais, colar materiais. disse-me um dia a professora, que

    no momento estava em licena mdica.

    O espao mostrava que era o lugar da medicina, da enfermagem, da nutrio, da

    fisioterapia.

    No entanto, segundo conversas anteriores com a professora, naquele espao

    tambm se fazia educao. Pois com sua chegada a rotina de procedimentos e

    trnsito de pessoas era alterada, modificada. A voz das crianas pronunciava mais

  • 16

    do que gritos e choros. E as perguntas tambm perguntavam outras coisas alm da

    dor.

    Mas naquele momento a presena da professora estava ausente. No mandaram

    professora substituta.

    Lembrando do novo acesso para as emergncias infantis, resolvi sair fazendo o

    trajeto mais esperado para as crianas.

    Mas de diferente apenas dois bancos coloridos em forma de lpis de cor e nada

    mais. Nada mais que pudesse mostrar ou dar a ver a escola no hospital.

    Apenas marcas da ausncia.

    Marcas do nada.

    Marcas do no estar.

    Passeios sem lugar.

    Passeio no sem lugar.

    ***

    E se o outro no estivesse a?, pergunta Skliar (2003)... E se Wenderson no

    estivesse a?

    Se Wenderson no estivesse a, esta poltica pblica de escolarizao das pessoas

    hospitalizadas em Itabora no seria composta da forma que foi.

    E tudo isso porque Wenderson estava l

    Referncias Bibliogrficas

    BRASIL. Ministrio da Educao. Classe hospitalar e atendimento pedaggico domiciliar: estratgias e orientaes. Secretaria de Educao Especial. Braslia: MEC; SEESP, 2002.

    ______. Ministrio da Educao. Resoluo CNE/CEB n 2, de 11 de setembro de 2001. In: Diretrizes Nacionais para a Educao Especial na Educao Bsica. Braslia: MEC, 2001.

    ______. Ministrio da Educao. Resoluo CNE/CEB n 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educao Bsica, modalidade Educao Especial. Braslia: MEC, 2009.

    ITABORA. Secretaria Municipal de Educao e Cultura. Lei n 2.077, de 28 de novembro de 2008. Plano Municipal de Educao de Itabora. Itabora: 2008.

    ______. Secretaria Municipal de Educao e Cultura. Portaria Semec n 01, de 17 de julho de 2014. Regimento Escolar das Unidades Escolares da Rede Pblica Municipal de Ensino de Itabora. 3. ed. Itabora: 2014.

  • 17

    ______. Secretaria Municipal de Educao e Cultura. Referencial Curricular da Educao Especial: Reorientao Curricular da Educao Especial. Itabora: 2013.

    KASTRUP, V.; POZZANA, L. Pista 3: Cartografar acompanhar processos. In: ESCSSIA, Liliana da; KASTRUP, V.; PASSOS, E. (Org.). Pistas do mtodo da cartografia: Pesquisa-interveno e produo de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009, p. 52-75.

    LARROSA, Jorge. Notas sobre a experincia e o saber de experincia. In: Revista Brasileira de Educao n 19. Rio de Janeiro: jan./abr., 2002.

    MACHADO, Leila Domingues. Subjetividades Contemporneas. In: Psicologia: questes contemporneas. Vitria: Edufes, 1999.

    MOREY, Miguel. Kantspromenade Invitacin a la lectura de Walter Benjamin. In: Pgines Centrals. La Central, 2004.

    RIBETTO, Anelice. Experincia, experimentaes e restos na escrita acadmica. In: RIBETTO, Anelice; CALLAI, Cristiana (Org.). Uma escrita acadmica outra: ensaios, experincias e invenes. Rio de Janeiro: FAPERJ-Lamparina. No prelo.

    ______. Mesa Educao e Alteridade. Semana de Pedagogia da FFP/UERJ. Abril, 2011.

    SKLIAR, Carlos. Lo Dicho, Lo Escrito, Lo Ignorado: ensayos mnimos entre educacin, filosofa y literatura. Buenos Aires: Mio y Dvila, 2011.

    ______. Pedagogia (improvvel) da diferena: e se o outro no estivesse a? [traduo, Giane Lessa]. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

  • 18

    A REPRODUO DA NORMA NO ESPAO ESCOLAR E A

    PRODUO/INVENO DE NOVOS POSSVEIS

    Ms. Bruna Pontes Pedagoga formada pela UERJ-FFP- Mestre em Educao pela UERJ-FFP. Membro do Grupo de Pesquisas Diferenas e Alteridade na Educao.

    Ms. Vanessa Breia Psicloga, Mestre em Educao pela UFF, Professora da Faculdade de Formao de Professores da UERJ. Resumo O presente ensaio um desdobramento do Projeto de Pesquisa Diferenas e Alteridade na Educao: saberes, prticas e experincias (inclusivas) na rede de ensino pblica de So Gonalo e apresenta como principal desafio ao pensamento uma reflexo sobre a produo da anormalidade no espao escolar. Para tanto discute conceitos como anormalidade, diversidade, relaes de diferena e principalmente formas de produo da subjetividade na tenso da relao normal-anormal, bem como o paradigma mdico-clnico como fonte de cura. A pesquisa utilizou o dispositivo de avaliao pedaggica dos alunos para disparar a discusso sobre a marca de anormalidade nos sujeitos definidos como diferentes pela escola. Utilizamos o dirio de pesquisa como forma de cartografar o processo, como nos apresenta Rene Lourau, e ainda o autor Michel Foucault ampliando a discusso do conceito de norma. Assim, tensionamos a histria da educao especial na perspectiva mdico-clnica enquanto campo de saberes que funciona como mecanismo de soluo para a anormalidade, como elo de excluso e classificao. Acreditamos na necessidade de inveno de prticas afirmativas da diversidade enquanto condio tipicamente humana, bem como na urgncia de reviso da legislao brasileira em favor da incluso de pessoas com necessidades especiais, que muitas vezes, acabam por gerar entraves burocrticos e efeitos subjetivos perversos para os sujeitos em funo da amlgama estabelecida pelo binmio diagnstico prognstico.

    Palavras chave: Norma; Normalidade; Educao especial

    No parece que a Escola5 vem se preocupando com as relaes com o outro, mas

    sim e apenas em diferenciar, classificar e rotular os chamados diferentes. Ou seja, a

    Escola, em geral e como instituio homogeneizadora no tem pensado esse estar

    juntos na educao (Skliar, 2005), mas apenas, resolver a questo do outro. Os

    discursos sobre a incluso ou as propostas encontradas para incluir os sujeitos ditos

    diferentes se constroem, principalmente, idealizando a convivncia (entre) como

    uma relao harmoniosa, sem atritos. Porm, muitas vezes, essa suposta incluso

    vem mascarada por uma forma determinada de entender a convivncia. Um

    5 Chamaremos de Escola com letra maiscula a instituio moderna como generalidade discursiva, mas no descartarei as

    prticas de resistncia que acontecem nas escolas, a propositalmente com letra minscula.

  • 19

    discurso vazio e frio associado apenas tolerncia ou aceitao. "E a convivncia

    convivncia porque sempre h - inicial e definitivamente - perturbao,

    intranquilidade, conflito, turbulncia, diferena, afeio e alteridade". (SKLIAR, 2011,

    p. 31).

    A busca obsessiva pela tranquilidade e harmonia entre alunos e professores no

    contempla a multiplicidade de existncias do e no espao escolar, no permite uma

    convivncia. Como nos diz Skliar6 experimentamos "a soma presente de presenas,

    mas no de existncias". Preocupamos-nos em inclu-los (aos ditos diferentes), mas

    no nos preocupamos em discutir a ideia de normalidade construda socialmente e

    encarnada em cada um de ns, nos subjetivando e produzindo um olhar que marca

    e mancha (SKLIAR 2009) esses sujeitos, os outros. Pensamos nas nomenclaturas e

    nas classificaes. Nos observamos e policiamos quanto aos nossos olhares,

    nossos gestos, para no dizer essas ou aquelas palavras para esconder os

    conflitos existentes entre ns.

    Como ser que pensamos a diferena? O que aconteceu para que ousssemos

    rotular- julgar as diferenas como boas ou ruins? Compartilho algumas ideias de

    Clmaco (2010) que, inspirada em Skliar, prope em virar o espelho para o ns e

    nossa busca incessante pela normalidade, repensar o lugar que reservamos a ns e

    aos outros. Deixar de pensar, caracterizar e esmiuar a dita anormalidade para

    problematizar e desconstruir a normalidade.

    De que forma temos olhado e marcado nossos ideais? Conhecer e discutir a

    produo da normalidade nos possibilita transitar um outro caminho, uma outra

    forma de estar e de pensar o mundo. Talvez, de olhar sem manchar, sem impedir,

    sem assassinar. Educar la mirada tambin es um ejercicio de repensar y reelaborar

    cmo miramos a quien miramos (SKLIAR, 2009, meio digital). Mas para educar

    esse olhar preciso conhecer como o constitumos at agora, como o

    naturalizamos, a quem chamamos de outro e que manchas temos projetado sobre

    eles.

    Diz Clmaco, inspirada em Davis (1995):

    Considerar que o normal construdo e no um dado natural dizer que esse conceito nem sempre existiu, ou pelo menos no como se

    6 SKLIAR, Carlos. Op., Cit., p.32.

  • 20

    apresenta hoje. Temos a ideia de que algum tipo de norma e de normalidade sempre existiu. (2010, p. 21).

    E historicamente a diferena tem sido conservada por um conjunto de normas

    constitudas. Uma relao de poder que alimenta a diferenciao e a construo do

    juzo: do bom e do ruim, do apto e do inapto, do sadio e do doente. Assim foi tratada

    a diferena atribuda deficincia-.

    A palavra norma etimologicamente surge do latim e se refere a um esquadro, uma

    rgua usada por carpinteiros para verificar se as peas de madeira estavam em

    ngulo reto. Quando as peas de madeira no estavam retas, dizia-se ento que

    elas estavam anormais (com o prefixo grego de negao a). Parte desse processo

    histrico de construo da norma, da normalidade contrape-se anormalidade,

    pois na construo desse padro as diferenas delimitam no somente quem est

    fora dele, mas principalmente quem est dentro do limite da normalidade,

    construindo uma forte relao de poder e superioridade.

    Podemos ento pensar que o conceito da norma, tal qual o percebemos hoje,

    emergiu no contexto da modernidade, pela prtica de vigilncia e de controle

    constante. Para isso utilizou-se das cincias como forma de legitimao e aceitao

    de um modelo normal. Na medida em que nos transformamos em agentes da

    normalizao, passamos a exigir para nos e para os outros uma adequao aos

    padres. Para Foucault a disciplina fabrica corpos submissos e adestrados, corpos

    "dceis". A disciplina aumenta as foras do corpo (em termos econmicos de

    utilidade) e diminui essas mesmas foras (em termos polticos de obedincia)"

    (FOUCAULT, 2010, p.133 e 134).

    Foucault tambm nos chama a ateno para a construo histrica das patologias

    do corpo, que esto diretamente ligadas ao campo poltico e a histria das

    sociedades e mesmo que hoje no nos faamos valer dos castigos fsicos, ainda nos

    utilizamos de formas sutis de orden-los, corrigi-los e doutrin-los com o objetivo de

    dominao e submisso. A construo discursiva em torno desses sujeitos os

    descaracteriza enquanto indivduos pensantes, com ideias e desejos.

    Para a sociedade eles no falam por si, so objetos da fala, sujeitos de um descaso

    que no lhes pertence (CLMACO, 2010 p.32). Um corpo incompleto, incapaz,

    imperfeito, inacabado. Sua existncia resume-se a deficincia entendida como falha.

    A descoberta do corpo como objeto de poder trouxe modernidade a importncia da

  • 21

    norma, a necessidade de padronizar para progredir o corpo que se manipula, se

    modela, se treina, que obedece, responde, se torna hbil ou cujas foras se

    multiplicam (FOUCAULT 2010, p. 132).

    H de se pensar nas mudanas de nomenclatura: monstros, coitados, miserveis,

    indefesos, inaptos, retardados, deficientes, especiais, mas h tambm que se

    pensar que essas mudanas precisam se iniciar pelo conflito, pelo pensamento, pela

    discusso que no externa, mas nossa, est dentro de ns, sobre os nossos

    olhares que mancham o outro e dos nossos olhares em relao ao normal e ao

    anormal (SKLIAR, 2005, p.55).

    Talvez voltar o espelho para ns no seja to tranquilo ou simples como possamos

    pensar. Porque me refiro a algo diferente do exerccio de olhar o olhado, ou de

    obrigar o outro a ser aquilo que somos. Falo do processo rduo e cotidiano de olhar

    as possibilidades de inaugurar um outro olhar. Ento voltar o espelho para ns seria

    mais que olhar e ser olhado, seria debutar um olhar sobre os olhares que lanamos

    sobre os outros. Posto que se constitui em uma nova possibilidade de olhar o

    espao escolar; um novo olhar carregado de experincias (LARROSA, 2002), de

    emoo, que cultiva a arte do encontro, que nos provoca, nos derruba, nos enverga

    e que nos transforma. Uma nova leitura interna, sem palavras, leitura de

    pensamentos, de coisas no ditas, de atitudes impensadas. Um olhar que nunca

    est acabado, terminado, que no se bloqueia frente ao medo. O medo de ser

    politicamente incorreto, de no dizer palavras feias que nos possa rotular como

    cruis e insensveis. A leitura de um aforismo uma leitura que fora o olhar para

    trs, no para adiante; uma leitura destemperada, desnuda, to irreverente quanto

    impossvel (SKLIAR, 2012, p.29).

    Defendemos e acreditamos na necessidade de inveno de prticas afirmativas que

    reconheam a diversidade enquanto elemento constitutivo da condio humana,

    bem como na urgncia de reviso da legislao brasileira em favor da incluso de

    pessoas com necessidades especiais, que muitas vezes, acabam por gerar entraves

    burocrticos e efeitos subjetivos perversos para os sujeitos em funo da amlgama

    estabelecida pelo binmio diagnstico/prognstico.

    Avaliao pedaggica dos alunos - dispositivos de anlise

  • 22

    Assim como os laudos, as fichas de avaliao e os pareceres emitidos pelas escolas

    so dispositivos (Deleuze, 1996) que produzem discursos de verdade. Tais

    dispositivos cumprem suas funes quando aqueles que se encarregam de produzi-

    los so investidos de poder/saber. Tentar compreender esses dispositivos pensar

    nas linhas de movimento que constituem o espao escolar enquanto campo legtimo

    de avaliaes.

    O laudo escrito pelo profissional de sade abre portas administrativas para o

    cumprimento de polticas pblicas de incluso e ao mesmo tempo em que descreve

    o outro, enuncia e revela quem escreve. So escolhas polticas, estticas, ticas,

    pedaggicas que quem nomeia acolhe quando produz um certo discurso e no

    outro. So as palavras como gestos enunciativos - os que determinam de certa

    forma, a escolaridade dos sujeitos.

    O espao transitado nessa experincia de leitura-anlise foi o NAPES (Ncleo de

    Apoio Pedaggico Especializado) localizado no CIEP 237 Jornalista Wladimir

    Herzog, no bairro do Paraso, municpio de So Gonalo RJ. O NAPES foi criado

    pelo estado do Rio de Janeiro com o objetivo de implementar a poltica de incluso

    dos alunos com necessidades educacionais especiais na Rede Estadual de Ensino

    (SEE, 2005, p.1) e uma instituio regulamentada pela Resoluo SEE / 2895 de

    10 de junho de 2005.

    Essa instituio formada por uma equipe de professores e as atividades

    desempenhadas por esses profissionais so de carter itinerante, ou seja, apoiam

    as escolas de ensino regular que atendam alunos com necessidades educacionais

    especiais includos na classe comum (SEE, 2005. art.7) e tm como uma de suas

    atribuies Executar e implementar a poltica de incluso dos alunos com

    necessidades educacionais especiais no ensino regular (SEE, 2005. art. 7, inciso I).

    O NAPES o responsvel por oferecer orientaes e capacitaes aos professores

    das classes regulares, garantindo um atendimento pedaggico adequado s

    necessidades educacionais dos alunos, bem como acompanhar a incluso do aluno

    no espao escolar.

    Existem alguns caminhos que possibilitam a chegada dos alunos ao NAPES.

    O aluno pode ser encaminhado pela escola, uma vez identificado pela professora ou

    pelo corpo docente uma possvel deficincia. O aluno tambm pode ter sido

    assinalado como deficiente no sistema Conexo Educao (sistema de integrao

  • 23

    escolar lanado em 2009 que compartilha em tempo real as informaes detalhadas

    sobre toda a rede estadual de ensino). A partir dessas sinalizaes o ncleo efetua

    uma entrevista, que consiste no levantamento histrico e familiar da criana, parte

    esta realizada com a me ou responsvel, e uma srie de atividades ldicas e de

    raciocnio lgico com o aluno a fim de compreender melhor as limitaes

    pedaggicas.

    Esta interveno do NAPES gera uma Ficha de Avaliao Pedaggica que

    potencialmente decidir que caminhos o aluno poder percorrer. Alguns pontos

    norteadores constroem essa ficha como:

    ... Interao (fala e logicidade de pensamento);

    ... Comunicao (leitura, escrita/controle motor, ateno e concentrao);

    ... Esquema corporal (cor, forma, tamanho e agrupamento por semelhana);

    ... Grafismo;

    ... Operaes bsicas (raciocnio matemtico, operaes de clculos no

    concreto e abstrato, identificao de numerais e associaes de quantidade);

    ... Organizao temporal/espacial (raciocnio lgico sequencial).

    Independente do mecanismo de identificao deste aluno, seja por j ter um laudo

    no ato da matrcula, seja por encaminhamento da prpria escola, a perspectiva

    mdica o crivo legitimado para a insero do mesmo.

    Apesar de no haver uma lei que obrigue ao aluno possuir um laudo mdico que

    descreva sua deficincia orientao da SEEDUC/RJ (Secretaria de Estado de

    Educao do Rio de Janeiro) que os NAPES encaminhem os alunos a mdicos

    especialistas para a produo de laudos. Portanto, ao final desse processo de

    avaliao pedaggica o aluno que no possui laudo mdico orientado a procurar

    um consultrio especializado na deficincia que possivelmente apresenta. Esse ser

    o passaporte, que garante o acesso do aluno ao Atendimento Educacional

    Especializado e que legitima a marca/mancha que o mesmo carregar ao longo de

    sua trajetria escolar.

    Os laudos produzidos pelos saberes mdicos so reproduzidos nas escolas com

    novos nomes, diferentes ttulos que carregam o mesmo significado. Diz e faz dizer

    sobre o sujeito uma srie de verdades, que movimentam e alimentam o campo

    mdico e pedaggico na produo de mecanismos normalizadores dos corpos.

  • 24

    O laudo permite a entrada, mas no assegura aos alunos vivenciar o espao escolar

    da sua forma, em seu tempo, com suas necessidades e desejos. O objetivo continua

    sendo escolarizar para progredir, para tornar-se outro. Outro do mesmo. O mesmo

    e o outro no podem, nessa temporalidade, nessa escola, estar ao mesmo tempo. A

    mesmice da escola probe a diferena do outro (SKLIAR, 2003, p. 46).

    Os alunos considerados anormais so sujeitos marcados/manchados por

    significados estabelecidos nos discursos, sempre atrelados s relaes de poder. A

    marca no se refere apenas ao sujeito, ligada ao grupo que rene determinadas

    caractersticas, seja ele pobre, mulher, gay ou deficiente. Mas essa marca/mancha

    no se esgota no discurso, torna-se prtica medida que naturalizamos a ideia de

    normalidade. Por isso no se dissolve com aes rpidas e corriqueiras. A ruptura

    exige de ns aprender a desver, como nos instiga Manoel de Barros.

    Referncias Bibliograficas

    BARROS, Manoel. Menino do Mato. In: BARROS, Manoel. Biblioteca Manoel de Barros (coleo). So Paulo: LeYa, 2013.

    CLMACO, J.C. Discursos Jurdicos e Pedaggicos sobre a Diferena da Educao Especial. Argentina: Facultad Latino Americana de Ciencias Sociales, 2010. 146 p.

    DELEUZE, Gilles. O que um dispositivo? In: O mistrio de Ariana. Lisboa: Vega, 1996.

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da priso. 29 ed. Petrpolis: Editora Vozes, 2010.

    LARROSA, Jorge. Notas sobre a experincia e o saber de experincia. IN: Revista Brasileira de Educao, n 19, p. 20-28, 2002.

    SEE. Rio de Janeiro Secretaria de Estado de Educao. Resoluo n 2895 de 10 de junho de 2005.

    SKLIAR, Calos. A educao e a pergunta pelos Outros: diferena, alteridade, diversidade e os outros outros. Ponto de Vista, Florianpolis, n. 5, p. 37-49, 2003.

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    SKLIAR, Carlos. Educar La mirada. Revista Sin puntero, n.3, 2009. Meio digital Disponvel em: http://www.laescuelaylosjovenes.blogspot.com.br201002educar-la-mirada.html. Acesso em: 22 abr. 2013.

    SKLIAR, Carlos. Conversar e Conviver com os Desconhecidos. Polticas Pblicas, Movimentos Sociais: desafios Ps-graduao em Educao em suas mltiplas dimenses. Helena Amaral da Fontoura (org.), Rio de Janeiro: ANPEd Nacional, p. 27-37, 2011.

    SKLIAR, Carlos. Experincias com a palavra; notas sobre linguagem e diferena, Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012

  • 25

    A ESCOLARIZAO DE ALUNOS COM DEFICINCIA INTELECTUAL LUZ

    DA PERSPECTIVA HISTRICO-CULTURAL EM DILOGO COM A

    AVALIAO MEDIADA

    Mariana Corra Pitanga de Oliveira7 Mrcia Denise Pletsch8 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Grupo de pesquisa: Observatrio de Educao Especial e Incluso Escolar: prticas curriculares e processos de ensino e aprendizagem Agncia Financiadora: OBEDUC/CAPES; FAPERJ e CNPq Resumo O presente trabalho tem como tema de pesquisa a escolarizao de alunos com deficincia intelectual. Para tal, segundo pesquisas recentes um dos maiores empecilhos tem sido a falta de conhecimento dos professores sobre as especificidades do processo de ensino e aprendizagem desses sujeitos. Apoiados por essa temtica, tem-se como objetivo analisar os processos avaliativos dirigidos para os alunos com deficincia intelectual e refletir sobre o seu processo de elaborao e apropriao conceitual. A investigao est inserida em dois projetos de pesquisa distintos, a saber: (A) A questo da leitura e escrita na rea da deficincia intelectual: qual a melhor forma de ensino? e (B) A escolarizao de alunos com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem, o qual financiou este trabalho (OBEDUC/CAPES). Participaram do estudo dois alunos com deficincia intelectual, matriculados em redes de ensino diferentes do Rio de Janeiro. Adotou-se como procedimento metodolgico de investigao a pesquisa qualitativa, baseada nos princpios do estudo de casos mltiplos. Partindo desses pressupostos, utilizou-se como procedimento e instrumento de coleta de dados a observao participante, entrevistas aberta e semiestruturada e a aplicao de provas de avaliao da aprendizagem. Como referencial terico, empregou-se a perspectiva histrico-cultural de Vigotski. Sob esses aspectos, aps a anlise dos dados, emergiram, entre outros, os seguintes resultados: a) a avaliao mediada um instrumento que perpassa a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) dos alunos com deficincia intelectual e contribui para o desenvolvimento das funes psicolgicas superiores e; b) com a aplicao das provas verificou-se que medida que a interveno mediada do professor revelava caminhos para o aluno se apropriar de um determinado conceito, a prpria avaliao tambm foi mediadora desse processo, sinalizando novas possibilidades.

    7 Mestre e Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos Contemporneos e Demandas Populares

    (PPGEduc/UFRRJ). E-mail: [email protected]

    8 Professora Adjunta do Departamento Educao e Sociedade e do Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos

    Contemporneos e Demandas Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Jovem

    Cientista do Estado do Rio de Janeiro da FAPERJ e pesquisadora do CNPq. E-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]

  • 26

    Palavras-chave: Avaliao mediada; Deficincia intelectual; Perspectiva histrico-

    cultural.

    Introduo

    O presente trabalho9 se prope a discutir a escolarizao de alunos com deficincia

    intelectual, frente ao processo de educao inclusiva. Dessa maneira, nos

    debruamos nesse estudo na reflexo sobre a avaliao da aprendizagem desses

    sujeitos, para compreender essa dinmica e contribuir com a produo do

    conhecimento a este respeito.

    Atualmente, a avaliao vem sendo considerada como uma grande vulnerabilidade

    do processo inclusivo, o calcanhar de Aquiles da educao (JESUS; AGUIAR,

    2012). Nesse sentido, esperamos que essa pesquisa possa contribuir para o

    enriquecimento terico e poltico dos professores que atuam nesse contexto, bem

    como para o esclarecimento de estratgias pedaggicas que impulsionem a prtica

    docente.

    Do mesmo modo, por meio da participao nas pesquisas vinculadas ao

    Observatrio da Educao na rea de deficincia intelectual (OBEDUC/CAPES),

    constatamos que a escolarizao de pessoas com deficincia intelectual,

    contraditoriamente, tem sido pautada na crena da impossibilidade de aprendizagem

    desses alunos, sobretudo na aprendizagem dos contedos curriculares. Assim, ficou

    evidente que no que se refere escolarizao de alunos com deficincia intelectual,

    para alm da anlise dos processos avaliativos, deveramos direcionar o nosso olhar

    para a aprendizagem dos conhecimentos cientficos. Assim, o processo de

    elaborao e apropriao conceitual tambm passou a entrelaar esta pesquisa.

    Justificativa

    Ao apresentarmos a proposta de estudo nos deparamos com a existncia de

    barreiras para garantir o processo de ensino e aprendizagem das pessoas com

    deficincia intelectual e a escassez de pesquisas sobre o tema. Diante disso, para

    alm de constatar que os sujeitos no esto tendo acesso aos contedos

    9 Este trabalho constitui um recorte da dissertao de Mestrado em Educao intitulada A escolarizao de alunos com

    deficincia intelectual luz da perspectiva histrico-cultural: avaliao mediada e apropriao conceitual.

  • 27

    curriculares, precisamos encontrar formas de modificar essa realidade, sem deixar

    de levar em considerao o macro e o micro contexto econmico, poltico e social

    que marca no s a estrutura como tambm as prticas pedaggicas e o movimento

    funcional das escolas como um todo.

    Portanto, esta pesquisa justifica-se pela proposta que traz de possibilitar a anlise

    das prticas pedaggicas observadas na escola e de instrumentos que possam

    intervir no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficincia

    intelectual, possibilitando assim acesso ao decurso da elaborao conceitual dos

    alunos por meio da avaliao. Essas so aes que evidenciam, sobretudo, novos

    caminhos para o desenvolvimento.

    Objetivos

    Diante da anlise dessas perspectivas e buscando contribuir com o processo de

    escolarizao de alunos com deficincia intelectual no ensino regular, delineamos

    dois objetivos para a nossa pesquisa. A saber: 1) Analisar os processos avaliativos

    dirigidos para os alunos com deficincia intelectual matriculados nas redes comum

    de ensino; 2) Refletir sobre o processo de elaborao e apropriao conceitual em

    alunos com deficincia intelectual.

    Referencial terico

    Para atingir os objetivos propostos, utilizamos como referencial terico a abordagem

    histrico-cultural de Vigotski, pois esta representa muitas dimenses interpretativas,

    no se constituindo em uma teoria fechada. Trata-se de uma abordagem que

    respalda as possibilidades de dilogo sobre o processo de ensino e aprendizagem

    em dilogo com as dimenses da vida social e da cultura em que o sujeito est

    inserido e a partir destas que buscaremos descrever o nosso estudo, em especial

    no que diz respeito a apropriao de contedos cientficos e na relao latente entre

    o aprendizado e o desenvolvimento. Acreditamos que as formulaes de Vigotski

    (2009; 2012) nos auxiliam a compreender o professor em seu fazer pedaggico,

    como um mediador, possibilitando uma aprendizagem significativa, principalmente

    para a criana com deficincia intelectual.

  • 28

    Metodologia

    Adotou-se como procedimento metodolgico de investigao a pesquisa qualitativa.

    Mediante a este contexto, nossa investigao est pautada nos pressupostos do

    estudo de casos mltiplos (ANDR, 2005; BOGDAN; BIKLEN, 1994; YIN, 2005), por

    acreditarmos que nessa metodologia o objeto de estudo explorado de maneira

    singular, de modo a avaliar seus pormenores e evidenciar suas mltiplas dimenses,

    contribuindo consideravelmente para a pesquisa das prticas educacionais e

    valorizando as singularidades dos sujeitos10 e realidade pesquisada. Partindo

    desses pressupostos, utilizou-se como procedimento e instrumento de coleta de

    dados a observao participante, entrevistas aberta e semiestruturada e a aplicao

    de provas de avaliao da aprendizagem.

    importante ressaltar que para a coleta de dados a presente pesquisa est inserida

    em dois projetos distintos11: (A) A questo da leitura e escrita na rea da deficincia

    intelectual: qual a melhor forma de ensino? (CNPQ) e (B) A escolarizao de alunos

    com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da

    aprendizagem (OBEDUC/CAPES/FAPERJ/CNPQ).

    O primeiro (projeto A), coordenado por Oliveira (2015), versa sobre a apropriao da

    leitura e escrita de alunos com deficincia intelectual. Dessa maneira, atravs desse

    projeto (A) nos propomos a analisar as contribuies da avaliao mediada para o

    desenvolvimento dos processos psicolgicos superiores em alunos com deficincia

    intelectual. Para isso optamos pelo estudo de caso de Carlos - aluno do 3 ano do

    Ensino Fundamental de uma escola situada no municpio do Rio de Janeiro (RJ). Na

    presena destas concepes, informamos que as observaes ocorreram no

    segundo semestre de 2014, no turno da manh, uma vez por semana.

    10Seguindo os princpios ticos adotados nessa pesquisa, usaremos nomes fictcios para preservar a identidade dos sujeitos.

    11Ambos os projetos foram submetidos aos procedimentos ticos e aprovados pelo Comit de tica em Pesquisa de suas

    respectivas universidades (UNESP e UFRRJ). O primeiro financiado pelo CNPQ e o segundo pelo Programa Observatrio de

    Educao da CAPES. Cabe ressaltar que apesar da pesquisa estar prioritariamente vinculada ao projeto B (com bolsa de

    financiamento OBEDUC/CAPES), optamos por nomear os projetos seguindo a ordem que os dados foram coletados (A-2014;

    B- 2015).

  • 29

    O projeto (B), assinado por Pletsch et al.12, aborda diferentes aspectos da

    escolarizao de alunos com deficincia intelectual, nas diferentes modalidades e

    redes de ensino, frente problemtica entre acesso ao ensino regular x falta de

    acesso ao conhecimento cientfico. Participamos das diferentes etapas do projeto B,

    no entanto, nesse trabalho iremos desenvolver a pesquisa a partir de um eixo

    principal: a anlise do processo de elaborao conceitual de alunos com deficincia

    intelectual matriculados em redes de ensino da Baixada Fluminense. Para atingir tal

    intento, analisamos o processo de apropriao conceitual de Rafael aluno do 4

    ano do Ensino Fundamental de uma escola situada em um municpio da Baixada

    Fluminense RJ e seus respectivos professores (sala regular - SR e atendimento

    educacional especializado - AEE) sujeitos secundrios. As observaes foram

    realizadas no segundo semestre de 2015, duas vezes por semana.

    Discusso e resultados

    Ao analisarmos os processos avaliativos dirigidos para alunos com deficincia

    intelectual nos deparamos com concepes avaliativas que se distanciam de

    prticas que promovam a aprendizagem, uma vez que esto centradas apenas na

    nota e no no aprender, no produto e no no processo. Assim, a escola segue

    promovendo a ideia de avaliar apenas para classificar os alunos (os que aprendem e

    os que no aprendem), operando com a verificao e no com a avaliao da

    aprendizagem (VALENTIM; OLIVEIRA, 2013; OLIVEIRA; PLETSCH, 2015). Essa

    uma viso comum, porm distorcida do que acreditamos ser a funo dessa prtica

    pedaggica. Em nossa concepo, a avaliao precisa se submeter a uma mudana

    de paradigma para que possa se transformar em um instrumento que saliente

    prticas educativas inclusivas.

    Em outras palavras, acreditamos que a avaliao deve servir para apontar caminhos

    e explorar as possibilidades de aprendizagem dos alunos, com ou sem deficincia,

    de maneira que possibilite ao professor conhecer as estratgias de aquisio do

    conhecimento e o desenvolvimento atual do sujeito, subsidiando assim reflexes

    sobre as suas estratgias pedaggicas e a relao entre ensino e aprendizagem

    12Pesquisa desenvolvida em rede abrangendo pesquisadores dos Programas de Ps-Graduao em Educao da UFRRJ, da

    UDESC e da UNIVALI, sob a coordenao de Mrcia Denise Pletsch, Geovana Mendona Lunardi Mendes e Regina Celia

    Linhares Hostins, respectivamente.

  • 30

    (OLIVEIRA et al., 2013). Ao tornar a prtica mais significativa podemos tambm

    revelar o vir a ser do desenvolvimento.

    A partir dessas observaes, pensando no processo de escolarizao de alunos

    com deficincia intelectual, constatamos que a prtica avaliativa deve revelar novas

    possibilidades e suscitar o desenvolvimento potencial dos alunos, pois concordamos

    com Valentim (2011) ao afirmar que a funo da avaliao colaborar no

    desvelamento do potencial dos alunos com deficincia intelectual, para que ocorra

    uma sistematizao de prticas favorecedoras de aprendizagem (p.33). Vale a pena

    destacar que preciso levar em considerao as singularidades dos alunos e seus

    diferentes modos de apreender o conhecimento.

    Nesse sentido, a concepo avaliativa que se aproxima da dinmica inclusiva que

    temos defendido ao longo desse estudo a avaliao mediada. Trata-se ento, de

    compreender a avaliao como um processo intencional, capaz de demonstrar como

    o sujeito aprende e no s o que ele j aprendeu; o que ele pode fazer sozinho e o

    que ele pode fazer por meio da interveno do outro (PLETSCH; OLIVEIRA, 2014;

    OLIVEIRA, 2015). Esse processo auxilia o professor de maneira a orient-lo em

    suas decises no decorrer da prtica pedaggica.

    Desse modo, a avaliao mediada pode demonstrar como o aluno com deficincia

    intelectual se apropria conceitualmente, ao passo que contribui para o

    desenvolvimento de suas possibilidades. No processo de coleta de dados, ficou

    evidente que ao elaborarmos uma avaliao que contemple as especificidades do

    desenvolvimento de alunos com deficincia intelectual esta passa a ser tambm um

    instrumento mediador do ensino e da aprendizagem. Isto , medida que a

    interveno mediada do professor revela caminhos para o aluno se apropriar de um

    determinado conceito, a prpria avaliao tambm mediadora desse processo,

    sinalizando novas possibilidades.

    A este respeito, pertinente mencionar que nas participaes dos alunos nas

    provas13 encontramos indcios de efetivas possibilidades de apropriao conceitual

    e desenvolvimento. Nessa perspectiva, consideramos que observar Carlos e Rafael

    nas realizaes das provas nos indicaram pistas sobre estratgias pedaggicas que

    podem ser desenvolvidas para alunos com deficincia intelectual. Assim, podemos 13As provas de avaliao da aprendizagem realizadas com os alunos constituem-se a nosso ver como modelos de avaliao

    mediada. Neste trabalho no iremos descrev-las devido a extenso do material. A este respeito ver OLIVEIRA (2016).

  • 31

    dizer que a mediao ao longo das provas estimulou a memria, concentrao,

    imaginao e linguagem - processos psicolgicos superiores dos alunos,

    contribuindo para que eles se apropriassem do sentido e do significado dos

    conceitos trabalhados nas atividades. Isso s foi possvel a partir do dilogo e da

    interveno sistematizada durante a aplicao das provas.

    Dessa maneira, a anlise dos dados revelou a importncia de compreender as

    prticas pedaggicas como prticas mediadas e dialgicas. Partindo desse ponto de

    vista, podemos afirmar que o professor deve pensar em atividades que ressaltem a

    forma como o aluno elabora o seu pensamento, o que ele j consegue compreender

    conceitualmente e quais as intervenes que devem ser realizadas para que ele

    internalize um novo conceito e atinja outro nvel no desenvolvimento. De igual modo

    possibilitar a compreenso do processo transitrio entre conceitos cotidianos e

    cientficos (generalizao e abstrao) uma prtica fundamental que deve ser

    utilizada atravs da mediao pelos professores, para que o aluno possa assimilar a

    estrutura conceitual dos contedos curriculares difundidos pela escola (PLETSCH,

    2014). Sob esta perspectiva, a avaliao mediada pode suscitar novos caminhos

    para a escolarizao de alunos com deficincia intelectual.

    Consideraes finais

    Diante o exposto, conclumos que a avaliao mediada, por meio de sua intrnseca

    mediao pedaggica, torna-se um instrumento capaz de atuar na zona de

    desenvolvimento proximal do aluno com deficincia intelectual e assim contribuir

    com o desenvolvimento de suas funes psicolgicas superiores, ao passo que

    promove mecanismos de apropriao conceitual e compensa o defeito. Sendo

    assim, conforme revelam os resultados dessa pesquisa, promover prticas

    avaliativas que contemplem as especificidades de todos os alunos, reconhecendo as

    dinmicas da aprendizagem de cada um o grande desafio da escola. Sobre estes

    aspectos, apresentamos reflexes que nos ajudam a construir novos caminhos para

    o desenvolvimento de Carlos, Rafael e de tantos outros alunos que aprendem

    apesar das contradies ainda presentes na cultura escolar. A este respeito

    esperamos que nossa pesquisa possibilite novas reflexes para a produo

    cientfica na rea.

  • 32

    Referncias

    ANDR, M. E. D. A. de. Estudo de caso em pesquisa e avaliao educacional. Srie Pesquisa; vol. 13, Braslia: Lber Livro Editora, 2005.

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    OLIVEIRA, A. A. S. de. A questo da leitura e escrita na rea da deficincia intelectual: qual a melhor forma de ensino? Relatrio cientfico (no prelo), 2015.

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    PLETSCH, M. D. et al. A escolarizao de alunos com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem. Projeto de Pesquisa em rede (UFRRJ, UDESC, UNIVALI), 2012.

    PLETSCH, M. D. Repensando a incluso escolar: diretrizes polticas, prticas curriculares e deficincia intelectual. 2 edio. Rio de Janeiro: NAU EDUR, 2014.

    ______; OLIVEIRA, M. C. P. de. Polticas de educao inclusiva: consideraes sobre a avaliao da aprendizagem de alunos com deficincia intelectual. Revista Educao, Artes e Incluso, v.10, n 2, p. 125-137, 2014.

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    VIGOTSKI, L. S. A construo do pensamento e da linguagem. BEZERRA, P. (trad.). So Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.

    ______. Obras escogidas V: fundamentos de defectologia (1997). Madrid: Machado, 2012.

    YIN, R. Estudo de caso: planejamento e mtodos. 3 Ed. So Paulo: Bookman, 2005.

  • 33

    CONCEPES DOCENTES SOBRE A INCLUSO ESCOLAR

    E A MEDIAO PEDAGGICA:

    uma anlise a partir da perspectiva histrico-cultural de Vigotski

    Marcela Francis Costa Lima1 Mrcia Denise Pletsch2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Grupo de pesquisa: Observatrio da Educao Especial e incluso escolar: prticas curriculares e processos de ensino e aprendizagem

    Resumo

    Esta pesquisa discute concepes docentes sobre incluso escolar e a mediao pedaggica a partir de atividades desenvolvidas no mbito do projeto A escolarizao de alunos com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem Programa do Observatrio da Educao (OBEDUC) financiado pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES). Esse projeto desenvolvido pelo grupo de pesquisa Observatrio da Educao Especial e incluso escolar: prticas curriculares e processos de ensino e aprendizagem. O referido grupo de pesquisa desenvolve atividades de pesquisa atreladas a esse projeto na Baixada Fluminense desde 2013. A partir dos resultados iniciais das pesquisas desenvolvidas percebemos a necessidade de desenvolver uma pesquisa direcionada para as concepes dos docentes sobre a incluso de alunos com deficincia intelectual. Em especial, que investigasse sobre o conceito de mediao e sua aplicao em sala de aula pelos docentes. Nossa investigao se deu durante um curso de extenso sobre os Processos de ensino e aprendizagem de alunos com deficincia intelectual promovido pelo projeto, no qual realizamos entrevistas semiestruturadas com 120 professores da Educao Bsica que participaram do curso. A metodologia de nossa pesquisa qualitativa e analisaremos nossos dados a partir dos pressupostos da perspectiva histrico-cultural de Vigotski. Nossa pesquisa encontra-se em andamento, Os resultados preliminares evidenciam, entre outras questes, que a maioria dos professores j ouviu falar sobre os conceitos da perspectiva histrico-cultural na escolarizao de alunos com deficincia intelectual, mas apresentam dificuldades em defini-los e pensa-los aplicados a sua prtica pedaggica, sobretudo, com alunos com deficincia intelectual.

    Palavras-chave: Deficincia intelectual; Polticas de educao inclusiva; Perspectiva histrico-cultural.

    1 Mestranda em Educao pelo Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos Contemporneos e Demandas

    Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

    [email protected]

    2 Professora Adjunta do Departamento Educao e Sociedade e do Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos

    Contemporneos e Demandas Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Rio de

    Janeiro, RJ, Brasil; FAPERJ; [email protected]

  • 34

    Introduo

    Nos ltimos anos tem se ampliado as discusses em torno da educao inclusiva

    (BRASIL, 2008; 2009; 2011). Reconhece-se cada vez mais a urgncia de uma

    educao de qualidade para todos. Neste contexto surge a necessidade de entender

    como tem sido concebida a escolarizao de pessoas com deficincia em nosso

    pas, sobretudo com deficincia intelectual.

    Em nosso entendimento para uma turma ou escola ser considerada inclusiva

    necessrio mais do que um espao escolar de socializao, e sim um lugar em que

    o sujeito aprenda os contedos socialmente valorizados para todos os alunos de sua

    faixa etria (GLAT; BLANCO, 2009; PLETSCH, 2014).

    Para que isso ocorra tais alunos necessitam de prticas pedaggicas especficas e

    diferenciadas que assegurem seu processo de ensino e aprendizagem. neste

    sentido que o suporte especializado da Educao Especial muito importante.

    Consideramos, com base na perspectiva histrico-cultural de Vigotski (2007; 2010;

    2012; 2012; 2014), que os sujeitos se constituem e se desenvolvem nas condies

    concretas de vida, a partir das relaes e interaes que lhes so possibilitadas nos

    processos mediados, apropriando-se da cultura e participando da constituio dessa

    cultura.

    Assim, buscamos as contribuies da perspectiva histrico-cultural para

    compreender o desenvolvimento da criana com deficincia como um processo

    contnuo e no linear, em uma relao dialtica entre o biolgico e o cultural que

    constitui histrica e socialmente cada ser singular.

    Na mediao pedaggica, no contato cotidiano, a imagem da criana com

    deficincia (genrica) produzida no discurso social macro, de quem no aprende,

    deve abrir espao para a imagem de uma criana que apresenta sim

    especificidades, mas, como toda e qualquer criana (e ser humano), necessita do

    outro para se desenvolver culturalmente e academicamente de forma singular e

    nica.

    Tendo em vista que o processo de aprendizagem se d nas condies concretas de

    vida dos sujeitos, partilhado nas relaes de ensino, consideramos que, na

    mediao pedaggica, o modo como o professor conduz o processo, mediando

    participao da criana com necessidades educacionais especiais, pode favorecer

  • 35

    ou restringir as aprendizagens, o que consequentemente impulsiona ou limita o

    desenvolvimento dessa criana.

    Nesse contexto nossa investigao ocorreu durante o programa de formao

    continuada Processos de Ensino e aprendizagem de alunos com deficincia

    Intelectual, iniciado em maro de 2015. O curso teve a participao de 150

    pessoas, 100 professores de sete redes de ensino da Baixada Fluminense e 50

    alunos do curso de graduao em Pedagogia do Instituto Multidisciplinar da

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Campus de Nova Iguau.

    O referido programa de formao continuada integrou as atividades do projeto

    Observatrio da Educao - A escolarizao de alunos com deficincia intelectual:

    polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem, financiado

    pelo Programa Observatrio da Educao da CAPES.

    Os participantes do curso responderam a dois questionrios semiestruturado

    contendo questes especficas para a anlise do perfil dos participantes. Questes

    sobre o entendimento dos mesmos sobre a escolarizao de alunos com deficincia

    intelectual e seu respectivo desenvolvimento, alm de questes especficas como

    conceitos da perspectiva histrico-cultural de Vigotski que consideramos importante

    para a escolarizao de alunos com deficincia intelectual, como o conceito de

    mediao que o foco principal dessa pesquisa.

    Tomando como base essas questes, nessa pesquisa temos como objetivo geral:

    Investigar as concepes dos docentes sobre a incluso escolar de alunos

    com deficincia intelectual e a maneira como organizam sua prtica

    pedaggica.

    Como objetivos especficos, elencamos os seguintes:

    Analisar as concepes docentes sobre a escolarizao de alunos com

    deficincia intelectual;

    Analisar as concepes docentes sobre o conceito de mediao pedaggica.

    Dito isto, este trabalho tem por objetivo apresentar uma anlise inicial sobre o perfil

    desses sujeitos, bem como suas concepes sobre os conceitos presentes na

    perspectiva histrico-cultural de Vigotski.

  • 36

    Justificativa

    Entendemos que nossa pesquisa relevante, pois permitir conhecer as demandas

    tericas e o perfil dos professores e futuros professores no que diz respeito

    escolarizao de pessoas com deficincias, sobretudo com deficincia intelectual.

    Igualmente, compreendemos e defendemos que por meio da pesquisa que

    podemos conhecer a realidade e refletir sobre a mesma, propondo ideias

    contemporneas para que a prtica pedaggica se aprimore e contribua para

    atender as necessidades educacionais especiais desses sujeitos, propiciando assim

    o desenvolvimento de habilidades cognitivas necessrias para a construo de

    conceitos cientficos.

    Metodologia

    A metodologia de nossa pesquisa qualitativa. Esta opo se justifica por

    acreditarmos que pesquisas dessa envergadura podem cooperar de modo

    significativo para a validao cientfica de prticas e estratgias que contribuam para

    desmitificar preconceitos, revelando novas e outras possibilidades de percepo

    social a respeito de sujeitos com deficincia intelectual. Alm de, oportunizar a

    descrio das relaes e processos do contexto analisado atravs da relao direta

    entre pesquisador e pesquisado (ANDR, 1995; PLETSCH, 2010).

    Discusso e resultados

    Em termos legais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (BRASIL,

    1996) admite como formao mnima para exerccio na carreira de magistrio:

    formao em Ensino Mdio, na modalidade Normal, licenciatura em Pedagogia

    (ambas habilitam a todas as disciplinas desde a educao infantil at o 5 ano do

    ensino fundamental) e as licenciaturas por rea de conhecimento como Matemtica,

    Geografia e outras que, por sua vez, permitem ao professor ministrar aulas da

    determinada matria para alunos desde o Ensino Fundamental at o Ensino Mdio.

    Tambm cabe registrar que o pas tem dois cursos de graduao em nvel de

    licenciatura na rea de Educao Especial sendo oferecidos na Universidade

    Federal de Santa Maria (UFSM) e na Universidade Federal de So Carlos (UFScar).

    Apesar das diretrizes curriculares das licenciaturas indicarem a necessidade de

    questes sobre educao na diversidade, no caso da rea de Educao Especial, o

  • 37

    mesmo quando abordado se d somente em uma ou duas disciplinas, em grande

    medida, uma em Educao Especial ou Educao Inclusiva e outra de Lngua

    Brasileira de Sinais (LIBRAS). Entretanto, no exatamente isso que se encontra

    nesses cursos, como ficou evidente em pesquisa recente realizada por Cruz e Glat

    (2014).

    De acordo com a Resoluo n 4 (BRASIL, 2009), que instituiu as Diretrizes para o

    atendimento educacional especializado, o professor poder atuar no atendimento

    desde que tenha formao inicial que o habilite para exerccio na docncia acrescida

    de formao continuada em Educao Especial por meio de cursos de ps-

    graduao lato sensu e stricto sensu. Tais cursos esto disponveis em algumas

    universidades pblicas com vagas insuficientes para atender demanda docente.

    Isto , em sua maioria vm sendo