Currículo, Inclusão e Educação Escolar · Ana Maria Serrano, UMinho Ana Paula ... com bolsa de...
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Jos A. Pacheco
Geovana Lunardi Mendes
Filipa Seabra
Isabel Carvalho Viana
(Orgs.)
Currculo, Incluso e Educao Escolar
Braga, Portugal
2017
ISBN
978-989-8525-56-7
-
Centro de Investigao em Educao Instituto de Educao
Universidade do Minho Campus de Gualtar
4710-057 Braga www.cied.uminho.pt [email protected]
Comisso Organizadora:
Adriana Gomes Alves, UNIVALI
Amlia Maria Arajo Mesquisa, UFPA
Caroline Septimio Limeira, UDESC
Conceio Lamela, UMinho
Genylton Odilon Rgo da Rocha, UFPA
Geovana Mendona Lunardi Mendes, UDESC
Joana Sousa1, UMinho
Jos Augusto Pacheco, UMinho
Jos Carlos Morgado, UMinho
Juliana de Favere, UDESC
Mariana Correa Pitanga, UFRRJ
Maira Gomes Rocha, UFRRJ
Marilene Faria Bttenbender, UDESC
Natlia Costa, UMinho
Sandy Varela de Christo, UDESC
Yasmin Ramos Pires, UDESC
Comisso Cientfica:
Amlia Maria Arajo Mesquita, UFPA
Ana Maria Serrano, UMinho
Ana Paula Pereira, UMinho
Anabela Cruz Pereira, UMinho
Andr Mrcio Picano Favacho, UFMG
Antnio Jos Meneses Osrio, UMinho
Cssia Ferri, UNIVALI
Fabiany de Cssia Tavares Silva, UFMS
Filipa Seabra, UAberta
Genylton Odilon Rgo da Rocha, UFPA
Geovana Mendona Lunardi Mendes, UDESC
Isabel Carvalho Viana, UMinho
Jos Augusto Pacheco, UMinho
Jos Carlos Morgado, UMinho
Josenilda Maria da Silva Maus, UFPA
Joyce Otnia Seixas Ribeiro, UFPA
Juares Thiesen, UFSC
Leandro Passarinho Reis Junior, UFPA
Marcia Denise Pletsch, UFRRJ
Martha Kaschny Borges, UDESC
Patricia Braun, UERJ
Regina Clia Linhares Hostins, UNIVALI
Rosa Elisabete Militz Wypyczynski Martins, UDESC
Valria da Silva Ferreira, UNIVALI
Vernica Gesser, UNIVALI
1 Doutoranda do Instituto de Educao da Universidade do Minho (Portugal) em Cincias da Educao, especializao em Desenvolvimento Curricular, com bolsa de doutoramento da Fundao para a Cincia e a Tecnologia (FCT SFRH/BD/93389/2013).
http://www.cied.uminho.pt/mailto:[email protected]
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Universidades Parceiras:
Universidade Federal do Par - UFPA
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Apoios:
Fundao para a Cincia e a Tecnologia FCT
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES
Instituto de Educao da Universidade do Minho UM
Centro de Investigao em Educao da Universidade do Minho - CIEd2
Todos os textos publicados so da inteira responsabilidade dos autores e coautores que
autorizaram a sua publicao. Em todos os textos foram mantidas as peculiaridades da
lngua portuguesa usadas em Portugal e no Brasil e respeitado o formato das referncias
bibliogrficas.
2 Este trabalho financiado pelo CIEd - Centro de Investigao em Educao, projetos UID/CED/1661/2013 e
UID/CED/1661/2016, Instituto de Educao, Universidade do Minho, atravs de fundos nacionais da
FCT/MCTES-PT.
Pacheco, J.A., Mendes, G. L., Seabra, F., & Viana, I. C. (Orgs.). (2017). Currculo,
Incluso e Educao Escolar. Braga: Centro de Investigao em Educao,
Instituto de Educao da Universidade do Minho.
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I
Nota Introdutria
Neste e-book so apresentados captulos com o contributo de textos apresentados
por diversos autores, no mbito do Observatrio de Prticas Escolares, da
Universidade do Estado de Santa Catarina, englobando, tambm, a Universidade do
Par (Belm) e a Universidade do Minho (Portugal).
Investigadores das trs universidades decidiram organizar uma rede de pesquisa
conjunta, com o objetivo de promover a discusso de temticas que tm sido
debatidas em Portugal e no Brasil, a partir de abordagens interdisciplinares, ainda
que os Estudos Curriculares sejam dominantes no modo como se interligam essas
questes com as prticas docentes.
A incluso , decerto, um campo de investigao que necessita de olhares
diferenciados ao mesmo tempo que promove a problematizao de saberes em
funo de realidades muito diversas, sobretudo quando est em causa garantir no
s a educao pblica, como tambm o acesso de todos escola e uma
aprendizagem diferenciada. Numa era de contabilizao de resultados e de
exaltao do sucesso escolar medido pelos nmeros, relacionados essencialmente
com determinadas disciplinas, a discusso da incluso na escola pblica
pertinente e imperativa, j que a educao e a formao no podem servir para a
implementao de processos e prticas que coloquem em causa a igualdade e
diversidade de cada ser humano.
Alis, a incluso, nas suas mltiplas vertentes, no significa que exista uma
uniformizao, to-s uma diversidade que justificada em funo das realidades
intrnsecas das crianas, jovens e adultos, sendo impensvel aceitar uma
estandidazao das prticas curriculares.
Assim, os textos apresentados, por eixos, permitem um conhecimento mais alargado
de uma realidade que est em constante discusso, sendo os resultados da
investigao fundamentais para a sua compreenso.
Os organizadores.
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II
ndice
Eixo 1 - Socializao de Grupo de Pesquisa
Estar juntos: entre hospital, escolas e potica da diferena. Vannina Alquino Gomes da Silveira Conceio e Anelice Ribetto
8
A reproduo da norma no espao escolar e a produo/inveno de novos possveis. Bruna Pontes e Vanessa Christina Breia
17
A escolarizao de alunos com deficincia intelectual luz da perspetiva histrico-cultural em dilogo com a avaliao mediada. Mariana Corra Pitanga de Oliveira e Mrcia Denise Pletsch
25
Concees docentes sobre a incluso escolar e a mediao pedaggica: uma anlise a partir da perspetiva histrico-cultural de Vygotsky. Marcela Francis Costa Lima e Mrcia Denise Pletsch
33
Adaptaes curriculares para incluso: a utilizao de jogos em sala de aula. Regina Finck Schambeck
42
Incluso de pessoas com deficincia visual no ambiente escolar (orientao e mobilidade): um estudo de caso realizado na cidade de Una-MG. Gustavo de Souza Almeida, Jussara Resende Costa Santos e Leila Gonalves Souza
51
Bissau: gnese de um projeto de investigao. Ana Poas, Jos Carlos Morgado e Jlio Gonalves dos Santos
69
Educao inclusiva: orientao e mobilidade no contexto escolar. Mayla Thaissa Hickmann Wesling e Priscila Gadea Lorenz
78
Tema Gerador como forma de incluso e de mudana de opinio de alunos-trabalhadores em uma Escola Pblica noturna. Mrcio Antnio da Silva, Gilmar Pereira de Souza e Suzana dos Santos Gomes
87
Convivendo com a deficincia intelectual: percursos de cuidado e educao nas redes parental e social de apoio. Claudia Paranhos de Jesus Portela
97
Educao Fsica escolar: olhares sobre a incluso da pessoa com deficincia. Alessandra de Fatima Giacomet e Karine Helena Morais
107
O processo de escolarizao de crianas surdas: relao entre pais responsveis e escola. Claudia Paranhos de Jesus Portela
116
Cultura surda e incluso escolar na educao bsica: tecendo experincias e vivncias de um grupo bilngue na Escola Municipal Paulo Freire. Sara Busquet Magalhes e Gabrielly da Oliveira Cabral Rangel.
124
Incluso de alunos com deficincia e transtornos do espectro autista nas escolas da rede pblica do municpio de Arapiraca-Al: concees e prticas pedaggicas. Elizete Santos Balbino, Jaqueline da Cruz Zacarias, Lyciane Maria Vasconcelos Lima, Mirelly Karlla da Silva e Milena Silva Magalhes
129
Contribuio do projeto ABC para a incluso e alfabetizao das crianas com TEA: a interface entre as escolas regulares de ensino e o espao Trate Autismo. Myllenna de Oliveira Santos, Ana Paula Rios Moraes, Elizete Santos Balbino, Ivanilda dos Santos Oliveira e Jaqueline da Cruz Zacarias
140
Currculo e Educao Matemtica: a contribuio das Tecnologias do PIBID na formao docente. Geralda Terezinha Ramos
151
Questes sobre a escolarizao de jovens e adultos com deficincia intelectual. Kelly Maia Cordeiro
160
O transtorno do espectro autista e a incluso na educao infantil: um estudo de caso no municpio de Santa Rosa, RS, Brasil. Ritieli Caroline Lippert da Silva e Priscila Gadea Lorenz
168
-
III
A incluso e as vozes dos alunos com deficincia visual no municpio de Arapiraca-Alagoas: da alfabetizao ao ensino mdio. Kleycianne Nogueira Gomes, Myllenna de Oliveira Santos, Geilda Ferreira Lima e Elizete Santos Balbino
177
Especializao em incluso escolar: uma proposta interdisciplinar para formao continuada de professores da educao bsica. Adriany de Avila Melo Sampaio e Antnio Carlos Freire Sampaio
188
O papel da famlia no processo de incluso de alunos deficientes: estudo de caso em uma escola privada de Una-MG. Mirela Deicla Silva de Almeida, Maria Aparecida Alves e Jussara Resende Costa Santos
198
Anlise do nvel de envolvimento dos estudantes com deficincia intelectual por meio das atividades propostas pelo professor da sala de aula comum Florianpolis/SC. Geovana Mendona Lunardi Mendes, Marilene Faria Bttenbender, Nathlia Andregtoni, Sandy Varela de Christo e Yasmin Ramos Pires
222
Diariando a experincia educativa com uma pessoa com surdocegueira na Escola Municipal Paulo Freire. Sara Busquet Magalhes
231
Estado do conhecimento: produo acadmica sobre educao nos PALOP geradas no Brasil entre 1987 e 2012. Jacqueline Cunha da Serra Freire, Ana Paula Sthel Caiado, Sinara Mota Neves de Almeida, Elisangela Andr da Silva Costa e Jos Verssimo do Nascimento Filho
239
Formao de professores que atuam na educao especial: um estudo realizado nas escolas regulares pblicas estaduais e numa escola regular especial no municpio de Una- MG. Evanilda do Nascimento, Lara de Windson Oliveira Almeira Marchior e Jussara Resebde Costa Santos
249
Eixo 2 - Polticas de Educao Inclusiva
Formao de Professores de surdos, currculo e incluso. Joaquim Melro
267
Educao de jovens e adultos: um desafio para pessoas com deficincia visual. Vnia Maria Henrique Lima
286
Incluso e mediao transformativa para a parentalidade emancipatria. Vera Vieira, Isabel C. Viana e Pedro Lobo
297
Polticas de Incluso no Ensino Superior: panorama da implementao do ncleo de incluso da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ/BRASIL). Saionara Corina Pussenti Coelho Moreira e Mrcia Denise Pletsch
306
Atendimento Pedaggico Domiciliar: poltica e estrutura educacional brasileira. Sheila Venancia da Silva Vieira
314
O que dizem as publicaes da Revista Brasileira de Educao Especial sobre o Autismo? Getsemane de Freitas Batista
322
Consideraes sobre a avaliao de alunos com deficincia intelectual no Brasil. Carla de Paiva
330
Anlise dos indicadores e polticas de incluso escolar na baixada Fluminense/RJ/Brasil. Tamara Frana de Almeida Magalhes
339
Tecnologias assistivas e educao inclusiva: o que pensam os professores de estudantes pblico-alvo da educao especial? Rosangela Costa Soares Cabral
345
Polticas pblicas da educao especial: caminhos que levam a incluso da pessoa com deficincia intelectual. Claudete Terezinha Cardoso Mazuco, Fernanda Pazini Cavalheiro Linassi e Simone Hermes dos Santos Almeida
354
As redes de influncia e a produo da poltica de educao especial na perspetiva inclusiva no Brasil. Idorlene da Silva Hoepers, Inajara Carla Oliveira, Regina Clia Linhares Hostins e Valdirene Stiegler Simo
363
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IV
Politicas de incluso escolar e prticas curriculares: mapeando produes no Brasil e Portugal. Clia Demtrio Pereira, Jos Augusto Pacheco e Geovana Mendona Lunardi Mendes
372
Classe hospitalar: revisitando conceitos e possibilidades. Izadora Martins da Silva de Souza, Getsemane de Freitas Batista, Carla de Paiva, Saionara Corina Pussenti Coelho Moreira e Ana Paula Lima da Silva
382
O corpo dos condenados: entre a lgica medicalizante e o convvio social. Carolline Septimio e Vanessa Goes Denardi
386
Eixo 3 - Currculo e Incluso Escolar
Prticas curriculares em educao musical especial: um estudo de caso em um contexto inclusivo. Maristela de Oliveira Mosca e Jason Desidrio Bezerra
397
Prticas inclusivas em cincias: um programa de cincias para alunos com necessidades educativas especiais. Susana Alexandre dos Reis e Rute Alves
417
Uma educao da diferena: cartografando Fernand Deligny. Snia Regina da Luz Matos
428
Planejamento educacional individualizado (PEI) para pessoas com deficincia intelectual na rede municipal de educao de Duque de Caxias/RJ/Brasil (2001-2012). Leila Lopes de Avila
437
Incluso e avaliao em larga escala: efeitos no currculo escolar e a produo de processos de in/excluso escolar. Kamila Lockmann, Maria Renata Alonso Mota e Suzane da Rocha Vieira Gonalves
446
O Planejamento Educacional Individualizado (PEI) como estratgia para favorecer a elaborao conceitual em alunos com deficincia intelectual. rica Costa Vliese Zichtl Campos, Roberta Pires Corra e Tamara Frana de Almeida Magalhes
459
A interdisciplinaridade e o currculo: quando o conhecimento popular chega s salas de aula. Mrcio Antnio da Silva, Gilmar Pereira de Souza e Suzana dos Santos Gomes 466
Diferenciao pedaggica e incluso escolar: posicionamento de futuros educadores e professores. Clarinda Barata, Paula Ferreira, Susana Reis e Catarina Mangas
478
O currculo adaptado como forma de incluso no Ensino Fundamental: perspetivas e desafios na Escola Pblica Paulista. Paulo Cesar Cedran e Chelsea Maria de Campos Martins
488
A construo da prxis docente e suas contribuies para incluso de crianas com o transtorno do espectro autista-tea na educao bsica Sebastio Nunes da Silveira e Mirelly Karlla da Silva
500
A existncia de uma base curricular nacional suficiente para a melhoria da educao brasileira? Rosngela da Silva Camargo Paglia
509
Trajetria de escolarizao de alunos em situao de deficincia. Renata da Silva Andrade Sobral e Amelia Maria Arajo Mesquita
517
A diferenciao curricular como pedra angular da educao inclusiva. Carla Lacerda
533
Prticas dos professores indgenas: descolonizar para emancipar. Maria Lucimar Jacinto de Sousa e Maria Lurdes Dias de Carvalho
544
Avaliao das aprendizagens e sucesso escolar: perspetivas de alunos do Ensino Bsico. Teresa de Jesus Correia Paulino Santos e Maria Palmira Alves
553
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V
Sobre a proliferao do discurso da falta: aproximaes entre os discursos da educao especial e da educao e tecnologia. Carolline Septimio e Geovana Mendona Lunardi Mendes
562
Travessias que nos (des)unem na integrao internacional: educao, cultura e diversidade na UNILAB. Jacqueline Cunha da Serra Freire, Andr da Silva Costa, Elcimar Simo Martins, Sinara Mota Neves de Almeida e Assis Anderson Ribeiro da Silva,
572
Eixo 4 - Escolarizao, incluso e tecnologias
A arte na ponta dos dedos: Sonhos e lugares. Vnia Maria Henrique Lima
580
Jogo digital acessvel Desafio do Carteiro: possibilidades de elaborao conceitual em diferentes reas do conhecimento. Adriana Gomes Alves, Karla Demonti Passos Cathcart e Marco Aurelio Soares dos Santos
592
Nas aulas de Histria e Geografia dos anos finais, alunos com deficincia intelectual elaboram conceitos? Cristiane da Silva e Ronan Adinael Pinheiro
604
Desenho universal para a aprendizagem de pessoas com deficincia intelectual. Izadora Martins da Silva de Souza
614
Direito a Educao no Estado Democrtico: levantamento e anlise da produo bibliogrfica (1992-2012). Maurinice Evaristo Wenceslau, Fabiany de Cassia Tavares Silva e Dbora de Oliveira Santos
622
A interface entre contedos e recursos na escolarizao de alunos com deficincia intelectual nos anos finais do ensino fundamental. Regina da Silva Mendes e Camila Baggio do Amaral
632
A educao geogrfica e a formao dos jovens. Carla Sofia Oliveira
640
A formao de conceitos em alunos com deficincia intelectual: apontamentos a partir das provas de Luria. Roberta Pires Correa
650
A incluso do aluno surdo na universidade federal de Uberlndia: desafios e perspetivas. Mariani de vila Resende, Matheus Rocha da Costa e Keli Maria de Souza Costa Silva
658
Informtica e educao matemtica: contribuies na formao inicial e continuada do professor. Marcos Ferreira Santos, Railane Antonia Silva e Geralda Terezinha Ramos
666
Tecnologia assistiva: o jardim sensorial como proposta de conforto humano nos espaos de convivncia para a diversidade e a incluso. Anna Persia Rodrigues Bastos e Rejany Dominick
675
Eixo 5 - Incluso na Educao Bsica
Grupo de pesquisa diferenas e alteridade na educao: problematizando as tenses entre polticas e experincias inclusivas na formao dos professores em So Gonalo (RJ- Brasil). Anelice Ribetto, Bruna Pontes e Vannina Alquino Gomes da Silveira Conceio
696
Tem um cachorro na minha sala: uma experincia de educao assistida por animais em uma classe especial no Rio de Janeiro. Vanessa Christina Breia e Vannina Alquino Gomes da Silveira
705
Escola bsica brasileira: estado do conhecimento sobre a pesquisa com estudos de currculos oficiais (nacionais e locais). Aline Rabelo Marques e Fabiany de Cassia Tavares Silva
714
Dos estudos comparados escrita histrico-social do currculo: documentos curriculares como fontes. Fabiany de Cassia Tavares Silva
724
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VI
Perspectivas crticas em educao especial e educao inclusiva. Carla Beatris Valentini, Cladia Alquati Bisol e Snia Regina da Luz Matos
734
Incluso escolar em raparigas ciganas a questo da igualdade de gnero. Maria Joo S Ferreira
743
Processo de elaborao conceitual de estudantes com deficincia intelectual: uma pesquisa em rede. Aldarlei Aderbal da Rosa, Geovana Mendona Lunardi Mendes, Marilene Faria Bttenbender, Rosangela Kittel e Simone de Mamann Ferreira
746
Grupo interinstitucional de pesquisa em educao de surdos GIPES. Madalena Klein
754
Grupo de Pesquisa Educao Especial. Celi Corra Neres
755
Equidade e incluso: Sentidos e aproximaes. Filipa Seabra
763
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INCLUSO SOCIALIZAO DO GRUPO DE
PESQUISA
Eixo 1
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8
ESTAR JUNTOS:
entre hospital, escolas e potica da diferena
Ms. Vannina Silveira UERJ/FFP1 Dra. Anelice Ribetto UERJ/FFP2 Coletivo Diferena e Alteridade na Educao (UERJ/FFP)
Resumo
Esta pesquisa cartografa a produo potica de polticas pblicas e prticas de educao especial e incluso que se do entre escolas e hospital como espao legtimo de escolarizao das pessoas com condies fsicas deficientes e severas, em Itabora, municpio da regio metropolitana do estado do Rio de Janeiro, Brasil. A partir do conceito de experincia de Larrosa e por meio de conversas e produo artstica de crnicas escritas e imagticas so narrados os efeitos gerados pelos encontros pedaggicos entre uma professora e seu primeiro aluno atendido num hospital, ao longo de trs anos. Efeitos que se materializam na proposta de um outro currculo praticado e criado a partir da relao. Encontros que tiveram como desdobramento a fora para a instituio de polticas pblicas municipais de educao especial e incluso escolar no hospital que at ento no existiam institucionalmente (embora juridicamente existentes). Com a pergunta E se o outro no estivesse a? de Carlos Skliar a pesquisa prope pensar, tambm, a educao ou a escolarizao no hospital como escola outra construda na potncia do estar juntos e cujas aulas so tecidas entre conversas e no apenas como um dispositivo do chamado Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Poltica de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva no Brasil.
Palavras-chave: Diferena; Escola no hospital; Educao Especial e Incluso;
Experincia.
E se o outro no estivesse a? (Carlos Skliar)
Ensaiando, cartografando, experienciando e escrevendo uma educao na diferena
que problematize a mesmidade
A experincia de escolarizao narrada nesse texto foi construda a partir do encontro (de
uma professora) com Wenderson, na pediatria do Hospital Municipal Desembargador Leal
1 Pedagoga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro-Faculdade de Formao de Professores (UERJ/FFP).
Mestre em Educao pela UERJ/FFP. Membro do Grupo de Pesquisas Diferenas e Alteridade na Educao. Contato:
2 Psicloga argentina, Doutora em Educao e Professora do Programa de Ps Graduao Mestrado em Educao,
Processos Formativos e Desigualdades Sociais da UERJ/FFP. Coordenadora do Grupo de Pesquisas Diferenas e Alteridade
na Educao. Contato: [email protected]
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9
junior, na cidade de Itabora/RJ, no final de 2007.
Fui at l para fazer contao de histria com um grupo de amigos. E Wenderson estava l,
fazia mais de um ano, porque a Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne exigia-lhe um
aparelho de ventilao mecnica para respirar.
Estava l, para alm de um corpo com pouca mobilidade e com longa internao, um corpo
adolescente e curioso que dizia de uma pessoa viva e artista.
Aps esse encontro surgiram outros, mas j atuando como professora na rede municipal de
ensino de Itabora e sabendo dos seus direitos legais educao, convenci no sem
muita insistncia - sua famlia, a secretaria de educao, a direo do hospital e o prprio
Wenderson a voltar a estudar.
***
Durante algum tempo fui recebida nas aulas com Wenderson dizendo no querer
aula.
timo, porque hoje estou muito cansada! Ento vamos ficar conversando.
respondia a ele.
Conversvamos sobre a natureza, sobre o que nos divertia, sobre receitas, sobre
livros, filmes, sabores, sobre como pensar melhor nosso tempo, sobre desenhos.
Falvamos de salsicha e seguamos falando do azul do cu e de mutao gentica.
Sobre o que nos acontecia, fazamos e sentamos ao fazer. Conversa sobre o pintar,
o desenhar, o ler, o duvidar, o perguntar, o criar
A educao a arte da conversa, que nos permite, que nos deixa, cuidar do mundo
e cuidar do outro.3
E assim, amos nos cuidando, conversando, e no estar juntos as aulas se
desenvolviam sem a professora dar aulas e sem o aluno querer estudar.
Implicada com o Wenderson e ele comigo, fomos abrindo brechas na expectativa e
na qualidade da vida das vidas. Expandindo-as. Construindo currculos vivos nos
quais a inventividade, a arte, o desejo e a curiosidade eram o que possibilitava a
pesquisa e a aprendizagem.
3 Fala do professor Carlos Skliar sobre Aprender e Ensinar com a Diferena na Escola, na Faculdade de
Formao de Professores da UERJ, durante a manh do dia 1 de abril de 2015.
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10
Ensaiando uma pedagogia da diferena jogamos com as (im)possibilidades, quando
estamos disponveis, atentos, sensveis. Abertos para desestabilizar, afetar e ser
afetado, desestruturar, brincar, jogar, aprender, ensinar, cuidar, conversar,
pesquisar, escrever, ensaiar.
Ensaio de ser professora-aluna.
Ensaio de fazer pesquisa.
Enrubeso ao admitir o quanto rico, duro, (po)tico foi experimentar esta educao e
poder revisit-la neste texto. Para Larrosa (2002)
A experincia, a possibilidade de que algo nos acontea ou nos
toque, requer um gesto de interrupo, []: requer parar para
pensar, parar para olhar, [] escutar mais devagar; [] cultivar a
arte do encontro, calar muito, ter pacincia e dar-se tempo e espao
(p. 4).
Experimentando uma pesquisa ensaiada, que por si mesma diz das paixes, dos
risos e enfados, vivo o exerccio de ensaiar-me no sentido de criar algo de/em mim
na escrita e entre ela pensar, fazer e escrever a mim mesma no questionamento de
estar sendo ensasta.
Pensando em processos e caminhos, cartografia e ensaio vo se articulando e
compondo coletivamente um territrio que vai sendo explorado por olhares,
escutas, pela sensibilidade aos odores, gostos e ritmos (KASTRUP; POZZANA,
2009, p. 61). Dimenso processual que diz da condio de aprendente necessria
nas relaes de alteridade, sobretudo por no estar comprometida com possveis
representaes e classificaes de objetos.
Esse movimento pesquisa ensaiada e cartografada de explorao, dialoga com a
necessidade de acompanhamento dos processos que se do durante o caminhar.
Fragmentos de experincias entre uma professora e um aluno no hospital e
na casa
Para (des)tecer esta pesquisa entre dois, foi preciso encontrar-me com Wenderson
em sua casa para que pudssemos compor a histria do trabalho que fizemos, no
de forma linear e progressiva. Composio em fragmentos como um estilo de contar
experincias. Fragmentos derivados da problematizao da relao entre professora
e aluno durante a escolarizao no hospital, pensando a idia de estar juntos que
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11
entranha a incluso, a educao especial (como processo de alteridade) (RIBETTO,
2011, p. 3).
Conversamos entre outras coisas, sobre: como eram as aulas e as formas de ensinar e
aprender entre ns? Qual era a proposta oficial de trabalho e o nosso trabalho feito entre
dois? Como sabamos se estava bom ou ruim, para ns, o que estvamos aprendendo?
Qual era o tempo oficial e o nosso tempo criando entre dois? Questes vistas sob a questo
de pano de fundo: e se o Wenderson no estivesse a (SKLIAR, 2003)? Como seria?
***
Com uma internao longa, a escolarizao do Wenderson no hospital tensionou o
pressuposto legal da classe hospitalar, que segundo as Diretrizes Nacionais para a
Educao Especial na Educao Bsica, deve contribuir para o retorno e
reintegrao do aluno ao grupo escolar [], facilitando seu posterior acesso
escola regular (BRASIL, 2001, Art. 13, 1).
Portanto, a classe hospitalar mais do que continuou seu processo de
desenvolvimento educacional, na verdade, reiniciou. E ele saiu da classe
hospitalar, foi para casa e l ficou. No voltou para a escola. Juridicamente,
continuou no atendimento educacional especializado, que tem carter suplementar
ou complementar, no sendo substitutivo s classes comuns (BRASIL, 2009, Art.
5).
Assim, no se aplica com o Wenderson a mesma leitura linear da legislao. Ele a
afirmao da diferena. Diferena que no est na poltica, est na vida.
***
O fato de inaugurarmos aquele tipo de trabalho no hospital e no termos modelos e
orientaes permitiu muita liberdade pedaggica, sobretudo, por no ser visto e entendido
como pedaggico. Para muitos eu era a moa do jaleco rosa, a palhaa, a contadora de
histrias, a animadora, a recreadora e nem sei mais o qu. Mas no abria mo e no
deixava de ser para mim, para o Wenderson, para a dona Ftima, modos outros de estar
sendo professora. Professora-palhaa, professora-contadora de histrias, professora-
animadora, professora-recreadora, professora-pesquisadora
***
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12
Interessante perceber que mesmo nos aproveitando da falta de padro e modelo, de
alguma forma e em alguns aspectos eles estavam presentes e eram at desejados.
Machado diz que Queremos um escudo protetor que nos afaste do desconhecido e,
assim, nos faa manter uma mesma personalidade para o resto da vida. Parece que
precisamos de unidades que nos tranqilizem. (1999, p. 4).
O tempo da pediatria era muito complicado. No era possvel definir e desenvolver
totalmente o planejado, como tambm acontece em turmas, mas na pediatria o
inesperado era maximizado com a deliciosa e apavorante improvisao. A
quantidade de crianas e adolescentes internados, a condio de sade em que
estavam naquele momento, a dinmica da pediatria, o bem-estar do Wenderson,
meu humor eram variveis fortes. No tinha como estudar, aprender, ensinar com
dor e passando mal. Dependendo da situao, era preciso ir embora mesmo. O
corpo gritava Nossos corpos gritavam: hoje no suporto!
Os atravessamentos literalmente eram os mais inesperados possveis. Choros,
gritos, injees, mdicos, enfermeiros, auxiliares, tcnicos, mquinas de radiografia,
curativos, intercorrncias, biombos, lanches, palhaos, evangelizadores, capeles
Diretamente com Wenderson eram poucos os procedimentos de sade nas aulas,
s comprimidos e s vezes injees. As aspiraes constantes no eram, desde
muito cedo, vistas como interrupes, j compunham as aulas.
Estudo sobre polticas de educao especial e incluso no municpio de
Itabora: uma aproximao aos sentidos produzidos para a escolarizao no
hospital
Como aluno de classe hospitalar, Wenderson fez tensionar as polticas pblicas
nacionais de escolarizao no hospital e de AEE, como tambm fez surgir a
necessidade de se pensar e construir em Itabora polticas pblicas para os alunos
hospitalizados.
J em 2008, esse tema foi introduzido legalmente no municpio, com a publicao do
Plano Municipal de Educao (PME) estabelecendo que a partir do 1 ano da
vigncia do Plano seria criada uma sala para atendimento pedaggico aos alunos
em situao de internao hospitalar ou impedidos de freqentar a escola em virtude
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13
de acometimentos patolgicos (ITABORA, 2008, p. 94). Meta ratificada no PME de
2015 (Lei n 2.556/2015), por ainda no ter sido efetivada.
No documento Referencial Curricular da Educao Especial Reorientao
Curricular da Educao Especial, encaminhado s escolas em 2013, a classe
hospitalar aparece como Itinerncia, sendo um servio destinado a prover,
mediante atendimento especializado, a educao escolar a alunos impossibilitados
de frequentar as aulas, em razo de tratamento de sade que implique interveno
hospitalar (atendimento ambulatorial e internao). (ITABORA, 2013, p. 5).
Em 2014, foi publicado o novo Regimento Escolar das Unidades Escolares da Rede
Pblica Municipal de Ensino de Itabora, contendo trs artigos sobre escolarizao
no hospital, dentre eles o artigo 124, que garante ao estudante com deficincia,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotao
atendimento educacional especializado no ambiente domiciliar e hospitalar
realizado pelo Professor Especializado para Educao Especial (ITABORA, 2014).
Uma considerao apresentada na publicao do MEC, Classe hospitalar e
atendimento pedaggico domiciliar: estratgias e orientaes, e que difere das
legislaes j destacadas, a possibilidade do atendimento hospitalar ser
permanente (BRASIL, 2002, p. 15) devido a condies graves de sade, como o
caso do Wenderson, que requer a utilizao constante de equipamentos de suporte
vida (Ibidem, p. 18).
Contudo, a mesma publicao utiliza as expresses atendimento educacional em
ambientes e instituies outros que no a escola (Ibidem, p. 7) e escola de origem
do educando (Ibidem, p. 16), que marcam novamente o carter temporrio da
classe hospitalar e o no ser escola.
Mas se a educao no hospital ou em domiclio - pode ser permanente, esta
educao no seria escola? Outra escola, escola outra? O que o entre escolas e
hospital produziu que estremeceu as polticas pblicas e seus conceitos?
Tudo isso porque Wenderson estava l e aqui.
Entre o hospital e as escolas: crnicas e efeitos de um territrio escolar em
movimento
Para pensar os efeitos do encontro pedaggico com Wenderson, suas
reverberaes e criaes de outros modos de fazer escolas no hospital, retorno
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pediatria, numa tentativa de acompanhar os novos fluxos escolares, os novos
alunos, a nova professora.
Mas Como narrar o acontecimento que nos passa sem reduzi-lo a uma descrio
replicada do que de fato passa? (RIBETTO, p. 61 e 62, no prelo).
Como no tematizar os encontros?
Cmo hacer para que el instante permanezca y pueda ser narrado?4
Talvez cronicando encontros pedaggicos no hospital. Encontros instalados no
presente. Encontros cotidianos. Encontros escolares (in)significantes,
(im)perceptveis, experimentados na pediatria.
A narrao dos novos encontros escolares no hospital foi composta por crnicas,
pois elas me ajudam a pensar nas potncias das conversas, dos afetos, dos
silncios, dos olhares, dos gestos. Pois eternizam os momentos, mantendo-os
finitos, pontuais, especficos e subjetivos.
***
Crnica: Passeio sem Lugar: entrar
Volto ao hospital como para um lugar desconhecido. Volto outra. Voltamos eu e
Wenderson em mim outros. Voltamos, no como uma volta, um retorno, mas como
se fosse a primeira vez. Ento, mais do que voltamos, vamos Numa espcie de
passeio, para una experiencia de lo real (MOREY, 2004, p. 1), como que para
salvar la dignidad de la experiencia pura (Ibidem, p. 7).
Passeando, permito(me) uma abertura para a experincia, com ouvidos, olhos e
poros atentos para as sensaes, para o instantneo, efmero, presente, numa
relao mais demorada como o tempo.
O que e quem encontrarei?
Chego portaria do hospital. Como entro? Entrar um gesto. Apenas um gesto, que
pode compor diferentes formas a partir da minha entrada.
Entrada das visitas?
Entrada dos funcionrios? No sem o jaleco rosa que usava escrito Pedagoga.
Entrada principal dos pacientes, sem estar doente. Pensei:
4 Trecho do parecer de qualificao da dissertao do professor Carlos Skliar.
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Como me apresentarei?
Tirei do bolso a carteira de Secretaria de Educao e disse ter conversa agendada
com o responsvel pela pediatria. Tudo verdade.
Mas o hospital estava outro.
A minha entrada foi outra. Entrada com contorno de uma gestualidade mnima
(SKLIAR, 2011).
Entrei procurando pistas, criando pistas. Entrei com o corpo atento, numa ateno
que capta e que faz reverberar o oficial, o maior, o dito, o respirado, o tocado, o
ouvido e o no dito, respirado, o quase ouvido, quase sentido, o catico. Entrei
passeando como que sem conhecer o caminho. Destino pediatria. Classe
hospitalar Ou melhor: escola.
Onde esto os mapas? Onde esto as marcas da escola?
Perco-me. Perdem-me.
Subo a rampa. S vejo paredes brancas e um quadro de alerta sobre a dengue.
Placa: Pediatria. Chequei na escola?
Entro.
Escola? Que escola?
Na antessala da enfermagem, local h muito prometido para a classe hospitalar,
encontro trs caixas empilhadas com brinquedos, dois banquinhos, dois quadros
com imagens de bichos e crianas, uma balana, uma poltrona e um quadro com os
nomes das crianas internadas.
Nenhum desenho, nenhum jogo, nenhum livro, nenhuma atividade, nenhuma
brincadeira Nenhuma evidncia da presena da professora e de seus alunos,
nenhum gesto ou objeto que aprendi como escolar. Como que, aps cada aula, por
um passe de mgica, a presena daqueles corpos e experincias fosse apagada.
No posso deixar materiais, colar materiais. disse-me um dia a professora, que
no momento estava em licena mdica.
O espao mostrava que era o lugar da medicina, da enfermagem, da nutrio, da
fisioterapia.
No entanto, segundo conversas anteriores com a professora, naquele espao
tambm se fazia educao. Pois com sua chegada a rotina de procedimentos e
trnsito de pessoas era alterada, modificada. A voz das crianas pronunciava mais
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do que gritos e choros. E as perguntas tambm perguntavam outras coisas alm da
dor.
Mas naquele momento a presena da professora estava ausente. No mandaram
professora substituta.
Lembrando do novo acesso para as emergncias infantis, resolvi sair fazendo o
trajeto mais esperado para as crianas.
Mas de diferente apenas dois bancos coloridos em forma de lpis de cor e nada
mais. Nada mais que pudesse mostrar ou dar a ver a escola no hospital.
Apenas marcas da ausncia.
Marcas do nada.
Marcas do no estar.
Passeios sem lugar.
Passeio no sem lugar.
***
E se o outro no estivesse a?, pergunta Skliar (2003)... E se Wenderson no
estivesse a?
Se Wenderson no estivesse a, esta poltica pblica de escolarizao das pessoas
hospitalizadas em Itabora no seria composta da forma que foi.
E tudo isso porque Wenderson estava l
Referncias Bibliogrficas
BRASIL. Ministrio da Educao. Classe hospitalar e atendimento pedaggico domiciliar: estratgias e orientaes. Secretaria de Educao Especial. Braslia: MEC; SEESP, 2002.
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______. Ministrio da Educao. Resoluo CNE/CEB n 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educao Bsica, modalidade Educao Especial. Braslia: MEC, 2009.
ITABORA. Secretaria Municipal de Educao e Cultura. Lei n 2.077, de 28 de novembro de 2008. Plano Municipal de Educao de Itabora. Itabora: 2008.
______. Secretaria Municipal de Educao e Cultura. Portaria Semec n 01, de 17 de julho de 2014. Regimento Escolar das Unidades Escolares da Rede Pblica Municipal de Ensino de Itabora. 3. ed. Itabora: 2014.
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______. Secretaria Municipal de Educao e Cultura. Referencial Curricular da Educao Especial: Reorientao Curricular da Educao Especial. Itabora: 2013.
KASTRUP, V.; POZZANA, L. Pista 3: Cartografar acompanhar processos. In: ESCSSIA, Liliana da; KASTRUP, V.; PASSOS, E. (Org.). Pistas do mtodo da cartografia: Pesquisa-interveno e produo de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009, p. 52-75.
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experincia e o saber de experincia. In: Revista Brasileira de Educao n 19. Rio de Janeiro: jan./abr., 2002.
MACHADO, Leila Domingues. Subjetividades Contemporneas. In: Psicologia: questes contemporneas. Vitria: Edufes, 1999.
MOREY, Miguel. Kantspromenade Invitacin a la lectura de Walter Benjamin. In: Pgines Centrals. La Central, 2004.
RIBETTO, Anelice. Experincia, experimentaes e restos na escrita acadmica. In: RIBETTO, Anelice; CALLAI, Cristiana (Org.). Uma escrita acadmica outra: ensaios, experincias e invenes. Rio de Janeiro: FAPERJ-Lamparina. No prelo.
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SKLIAR, Carlos. Lo Dicho, Lo Escrito, Lo Ignorado: ensayos mnimos entre educacin, filosofa y literatura. Buenos Aires: Mio y Dvila, 2011.
______. Pedagogia (improvvel) da diferena: e se o outro no estivesse a? [traduo, Giane Lessa]. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
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A REPRODUO DA NORMA NO ESPAO ESCOLAR E A
PRODUO/INVENO DE NOVOS POSSVEIS
Ms. Bruna Pontes Pedagoga formada pela UERJ-FFP- Mestre em Educao pela UERJ-FFP. Membro do Grupo de Pesquisas Diferenas e Alteridade na Educao.
Ms. Vanessa Breia Psicloga, Mestre em Educao pela UFF, Professora da Faculdade de Formao de Professores da UERJ. Resumo O presente ensaio um desdobramento do Projeto de Pesquisa Diferenas e Alteridade na Educao: saberes, prticas e experincias (inclusivas) na rede de ensino pblica de So Gonalo e apresenta como principal desafio ao pensamento uma reflexo sobre a produo da anormalidade no espao escolar. Para tanto discute conceitos como anormalidade, diversidade, relaes de diferena e principalmente formas de produo da subjetividade na tenso da relao normal-anormal, bem como o paradigma mdico-clnico como fonte de cura. A pesquisa utilizou o dispositivo de avaliao pedaggica dos alunos para disparar a discusso sobre a marca de anormalidade nos sujeitos definidos como diferentes pela escola. Utilizamos o dirio de pesquisa como forma de cartografar o processo, como nos apresenta Rene Lourau, e ainda o autor Michel Foucault ampliando a discusso do conceito de norma. Assim, tensionamos a histria da educao especial na perspectiva mdico-clnica enquanto campo de saberes que funciona como mecanismo de soluo para a anormalidade, como elo de excluso e classificao. Acreditamos na necessidade de inveno de prticas afirmativas da diversidade enquanto condio tipicamente humana, bem como na urgncia de reviso da legislao brasileira em favor da incluso de pessoas com necessidades especiais, que muitas vezes, acabam por gerar entraves burocrticos e efeitos subjetivos perversos para os sujeitos em funo da amlgama estabelecida pelo binmio diagnstico prognstico.
Palavras chave: Norma; Normalidade; Educao especial
No parece que a Escola5 vem se preocupando com as relaes com o outro, mas
sim e apenas em diferenciar, classificar e rotular os chamados diferentes. Ou seja, a
Escola, em geral e como instituio homogeneizadora no tem pensado esse estar
juntos na educao (Skliar, 2005), mas apenas, resolver a questo do outro. Os
discursos sobre a incluso ou as propostas encontradas para incluir os sujeitos ditos
diferentes se constroem, principalmente, idealizando a convivncia (entre) como
uma relao harmoniosa, sem atritos. Porm, muitas vezes, essa suposta incluso
vem mascarada por uma forma determinada de entender a convivncia. Um
5 Chamaremos de Escola com letra maiscula a instituio moderna como generalidade discursiva, mas no descartarei as
prticas de resistncia que acontecem nas escolas, a propositalmente com letra minscula.
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discurso vazio e frio associado apenas tolerncia ou aceitao. "E a convivncia
convivncia porque sempre h - inicial e definitivamente - perturbao,
intranquilidade, conflito, turbulncia, diferena, afeio e alteridade". (SKLIAR, 2011,
p. 31).
A busca obsessiva pela tranquilidade e harmonia entre alunos e professores no
contempla a multiplicidade de existncias do e no espao escolar, no permite uma
convivncia. Como nos diz Skliar6 experimentamos "a soma presente de presenas,
mas no de existncias". Preocupamos-nos em inclu-los (aos ditos diferentes), mas
no nos preocupamos em discutir a ideia de normalidade construda socialmente e
encarnada em cada um de ns, nos subjetivando e produzindo um olhar que marca
e mancha (SKLIAR 2009) esses sujeitos, os outros. Pensamos nas nomenclaturas e
nas classificaes. Nos observamos e policiamos quanto aos nossos olhares,
nossos gestos, para no dizer essas ou aquelas palavras para esconder os
conflitos existentes entre ns.
Como ser que pensamos a diferena? O que aconteceu para que ousssemos
rotular- julgar as diferenas como boas ou ruins? Compartilho algumas ideias de
Clmaco (2010) que, inspirada em Skliar, prope em virar o espelho para o ns e
nossa busca incessante pela normalidade, repensar o lugar que reservamos a ns e
aos outros. Deixar de pensar, caracterizar e esmiuar a dita anormalidade para
problematizar e desconstruir a normalidade.
De que forma temos olhado e marcado nossos ideais? Conhecer e discutir a
produo da normalidade nos possibilita transitar um outro caminho, uma outra
forma de estar e de pensar o mundo. Talvez, de olhar sem manchar, sem impedir,
sem assassinar. Educar la mirada tambin es um ejercicio de repensar y reelaborar
cmo miramos a quien miramos (SKLIAR, 2009, meio digital). Mas para educar
esse olhar preciso conhecer como o constitumos at agora, como o
naturalizamos, a quem chamamos de outro e que manchas temos projetado sobre
eles.
Diz Clmaco, inspirada em Davis (1995):
Considerar que o normal construdo e no um dado natural dizer que esse conceito nem sempre existiu, ou pelo menos no como se
6 SKLIAR, Carlos. Op., Cit., p.32.
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apresenta hoje. Temos a ideia de que algum tipo de norma e de normalidade sempre existiu. (2010, p. 21).
E historicamente a diferena tem sido conservada por um conjunto de normas
constitudas. Uma relao de poder que alimenta a diferenciao e a construo do
juzo: do bom e do ruim, do apto e do inapto, do sadio e do doente. Assim foi tratada
a diferena atribuda deficincia-.
A palavra norma etimologicamente surge do latim e se refere a um esquadro, uma
rgua usada por carpinteiros para verificar se as peas de madeira estavam em
ngulo reto. Quando as peas de madeira no estavam retas, dizia-se ento que
elas estavam anormais (com o prefixo grego de negao a). Parte desse processo
histrico de construo da norma, da normalidade contrape-se anormalidade,
pois na construo desse padro as diferenas delimitam no somente quem est
fora dele, mas principalmente quem est dentro do limite da normalidade,
construindo uma forte relao de poder e superioridade.
Podemos ento pensar que o conceito da norma, tal qual o percebemos hoje,
emergiu no contexto da modernidade, pela prtica de vigilncia e de controle
constante. Para isso utilizou-se das cincias como forma de legitimao e aceitao
de um modelo normal. Na medida em que nos transformamos em agentes da
normalizao, passamos a exigir para nos e para os outros uma adequao aos
padres. Para Foucault a disciplina fabrica corpos submissos e adestrados, corpos
"dceis". A disciplina aumenta as foras do corpo (em termos econmicos de
utilidade) e diminui essas mesmas foras (em termos polticos de obedincia)"
(FOUCAULT, 2010, p.133 e 134).
Foucault tambm nos chama a ateno para a construo histrica das patologias
do corpo, que esto diretamente ligadas ao campo poltico e a histria das
sociedades e mesmo que hoje no nos faamos valer dos castigos fsicos, ainda nos
utilizamos de formas sutis de orden-los, corrigi-los e doutrin-los com o objetivo de
dominao e submisso. A construo discursiva em torno desses sujeitos os
descaracteriza enquanto indivduos pensantes, com ideias e desejos.
Para a sociedade eles no falam por si, so objetos da fala, sujeitos de um descaso
que no lhes pertence (CLMACO, 2010 p.32). Um corpo incompleto, incapaz,
imperfeito, inacabado. Sua existncia resume-se a deficincia entendida como falha.
A descoberta do corpo como objeto de poder trouxe modernidade a importncia da
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norma, a necessidade de padronizar para progredir o corpo que se manipula, se
modela, se treina, que obedece, responde, se torna hbil ou cujas foras se
multiplicam (FOUCAULT 2010, p. 132).
H de se pensar nas mudanas de nomenclatura: monstros, coitados, miserveis,
indefesos, inaptos, retardados, deficientes, especiais, mas h tambm que se
pensar que essas mudanas precisam se iniciar pelo conflito, pelo pensamento, pela
discusso que no externa, mas nossa, est dentro de ns, sobre os nossos
olhares que mancham o outro e dos nossos olhares em relao ao normal e ao
anormal (SKLIAR, 2005, p.55).
Talvez voltar o espelho para ns no seja to tranquilo ou simples como possamos
pensar. Porque me refiro a algo diferente do exerccio de olhar o olhado, ou de
obrigar o outro a ser aquilo que somos. Falo do processo rduo e cotidiano de olhar
as possibilidades de inaugurar um outro olhar. Ento voltar o espelho para ns seria
mais que olhar e ser olhado, seria debutar um olhar sobre os olhares que lanamos
sobre os outros. Posto que se constitui em uma nova possibilidade de olhar o
espao escolar; um novo olhar carregado de experincias (LARROSA, 2002), de
emoo, que cultiva a arte do encontro, que nos provoca, nos derruba, nos enverga
e que nos transforma. Uma nova leitura interna, sem palavras, leitura de
pensamentos, de coisas no ditas, de atitudes impensadas. Um olhar que nunca
est acabado, terminado, que no se bloqueia frente ao medo. O medo de ser
politicamente incorreto, de no dizer palavras feias que nos possa rotular como
cruis e insensveis. A leitura de um aforismo uma leitura que fora o olhar para
trs, no para adiante; uma leitura destemperada, desnuda, to irreverente quanto
impossvel (SKLIAR, 2012, p.29).
Defendemos e acreditamos na necessidade de inveno de prticas afirmativas que
reconheam a diversidade enquanto elemento constitutivo da condio humana,
bem como na urgncia de reviso da legislao brasileira em favor da incluso de
pessoas com necessidades especiais, que muitas vezes, acabam por gerar entraves
burocrticos e efeitos subjetivos perversos para os sujeitos em funo da amlgama
estabelecida pelo binmio diagnstico/prognstico.
Avaliao pedaggica dos alunos - dispositivos de anlise
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Assim como os laudos, as fichas de avaliao e os pareceres emitidos pelas escolas
so dispositivos (Deleuze, 1996) que produzem discursos de verdade. Tais
dispositivos cumprem suas funes quando aqueles que se encarregam de produzi-
los so investidos de poder/saber. Tentar compreender esses dispositivos pensar
nas linhas de movimento que constituem o espao escolar enquanto campo legtimo
de avaliaes.
O laudo escrito pelo profissional de sade abre portas administrativas para o
cumprimento de polticas pblicas de incluso e ao mesmo tempo em que descreve
o outro, enuncia e revela quem escreve. So escolhas polticas, estticas, ticas,
pedaggicas que quem nomeia acolhe quando produz um certo discurso e no
outro. So as palavras como gestos enunciativos - os que determinam de certa
forma, a escolaridade dos sujeitos.
O espao transitado nessa experincia de leitura-anlise foi o NAPES (Ncleo de
Apoio Pedaggico Especializado) localizado no CIEP 237 Jornalista Wladimir
Herzog, no bairro do Paraso, municpio de So Gonalo RJ. O NAPES foi criado
pelo estado do Rio de Janeiro com o objetivo de implementar a poltica de incluso
dos alunos com necessidades educacionais especiais na Rede Estadual de Ensino
(SEE, 2005, p.1) e uma instituio regulamentada pela Resoluo SEE / 2895 de
10 de junho de 2005.
Essa instituio formada por uma equipe de professores e as atividades
desempenhadas por esses profissionais so de carter itinerante, ou seja, apoiam
as escolas de ensino regular que atendam alunos com necessidades educacionais
especiais includos na classe comum (SEE, 2005. art.7) e tm como uma de suas
atribuies Executar e implementar a poltica de incluso dos alunos com
necessidades educacionais especiais no ensino regular (SEE, 2005. art. 7, inciso I).
O NAPES o responsvel por oferecer orientaes e capacitaes aos professores
das classes regulares, garantindo um atendimento pedaggico adequado s
necessidades educacionais dos alunos, bem como acompanhar a incluso do aluno
no espao escolar.
Existem alguns caminhos que possibilitam a chegada dos alunos ao NAPES.
O aluno pode ser encaminhado pela escola, uma vez identificado pela professora ou
pelo corpo docente uma possvel deficincia. O aluno tambm pode ter sido
assinalado como deficiente no sistema Conexo Educao (sistema de integrao
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escolar lanado em 2009 que compartilha em tempo real as informaes detalhadas
sobre toda a rede estadual de ensino). A partir dessas sinalizaes o ncleo efetua
uma entrevista, que consiste no levantamento histrico e familiar da criana, parte
esta realizada com a me ou responsvel, e uma srie de atividades ldicas e de
raciocnio lgico com o aluno a fim de compreender melhor as limitaes
pedaggicas.
Esta interveno do NAPES gera uma Ficha de Avaliao Pedaggica que
potencialmente decidir que caminhos o aluno poder percorrer. Alguns pontos
norteadores constroem essa ficha como:
... Interao (fala e logicidade de pensamento);
... Comunicao (leitura, escrita/controle motor, ateno e concentrao);
... Esquema corporal (cor, forma, tamanho e agrupamento por semelhana);
... Grafismo;
... Operaes bsicas (raciocnio matemtico, operaes de clculos no
concreto e abstrato, identificao de numerais e associaes de quantidade);
... Organizao temporal/espacial (raciocnio lgico sequencial).
Independente do mecanismo de identificao deste aluno, seja por j ter um laudo
no ato da matrcula, seja por encaminhamento da prpria escola, a perspectiva
mdica o crivo legitimado para a insero do mesmo.
Apesar de no haver uma lei que obrigue ao aluno possuir um laudo mdico que
descreva sua deficincia orientao da SEEDUC/RJ (Secretaria de Estado de
Educao do Rio de Janeiro) que os NAPES encaminhem os alunos a mdicos
especialistas para a produo de laudos. Portanto, ao final desse processo de
avaliao pedaggica o aluno que no possui laudo mdico orientado a procurar
um consultrio especializado na deficincia que possivelmente apresenta. Esse ser
o passaporte, que garante o acesso do aluno ao Atendimento Educacional
Especializado e que legitima a marca/mancha que o mesmo carregar ao longo de
sua trajetria escolar.
Os laudos produzidos pelos saberes mdicos so reproduzidos nas escolas com
novos nomes, diferentes ttulos que carregam o mesmo significado. Diz e faz dizer
sobre o sujeito uma srie de verdades, que movimentam e alimentam o campo
mdico e pedaggico na produo de mecanismos normalizadores dos corpos.
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O laudo permite a entrada, mas no assegura aos alunos vivenciar o espao escolar
da sua forma, em seu tempo, com suas necessidades e desejos. O objetivo continua
sendo escolarizar para progredir, para tornar-se outro. Outro do mesmo. O mesmo
e o outro no podem, nessa temporalidade, nessa escola, estar ao mesmo tempo. A
mesmice da escola probe a diferena do outro (SKLIAR, 2003, p. 46).
Os alunos considerados anormais so sujeitos marcados/manchados por
significados estabelecidos nos discursos, sempre atrelados s relaes de poder. A
marca no se refere apenas ao sujeito, ligada ao grupo que rene determinadas
caractersticas, seja ele pobre, mulher, gay ou deficiente. Mas essa marca/mancha
no se esgota no discurso, torna-se prtica medida que naturalizamos a ideia de
normalidade. Por isso no se dissolve com aes rpidas e corriqueiras. A ruptura
exige de ns aprender a desver, como nos instiga Manoel de Barros.
Referncias Bibliograficas
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CLMACO, J.C. Discursos Jurdicos e Pedaggicos sobre a Diferena da Educao Especial. Argentina: Facultad Latino Americana de Ciencias Sociales, 2010. 146 p.
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SKLIAR, Carlos. Conversar e Conviver com os Desconhecidos. Polticas Pblicas, Movimentos Sociais: desafios Ps-graduao em Educao em suas mltiplas dimenses. Helena Amaral da Fontoura (org.), Rio de Janeiro: ANPEd Nacional, p. 27-37, 2011.
SKLIAR, Carlos. Experincias com a palavra; notas sobre linguagem e diferena, Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012
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A ESCOLARIZAO DE ALUNOS COM DEFICINCIA INTELECTUAL LUZ
DA PERSPECTIVA HISTRICO-CULTURAL EM DILOGO COM A
AVALIAO MEDIADA
Mariana Corra Pitanga de Oliveira7 Mrcia Denise Pletsch8 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Grupo de pesquisa: Observatrio de Educao Especial e Incluso Escolar: prticas curriculares e processos de ensino e aprendizagem Agncia Financiadora: OBEDUC/CAPES; FAPERJ e CNPq Resumo O presente trabalho tem como tema de pesquisa a escolarizao de alunos com deficincia intelectual. Para tal, segundo pesquisas recentes um dos maiores empecilhos tem sido a falta de conhecimento dos professores sobre as especificidades do processo de ensino e aprendizagem desses sujeitos. Apoiados por essa temtica, tem-se como objetivo analisar os processos avaliativos dirigidos para os alunos com deficincia intelectual e refletir sobre o seu processo de elaborao e apropriao conceitual. A investigao est inserida em dois projetos de pesquisa distintos, a saber: (A) A questo da leitura e escrita na rea da deficincia intelectual: qual a melhor forma de ensino? e (B) A escolarizao de alunos com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem, o qual financiou este trabalho (OBEDUC/CAPES). Participaram do estudo dois alunos com deficincia intelectual, matriculados em redes de ensino diferentes do Rio de Janeiro. Adotou-se como procedimento metodolgico de investigao a pesquisa qualitativa, baseada nos princpios do estudo de casos mltiplos. Partindo desses pressupostos, utilizou-se como procedimento e instrumento de coleta de dados a observao participante, entrevistas aberta e semiestruturada e a aplicao de provas de avaliao da aprendizagem. Como referencial terico, empregou-se a perspectiva histrico-cultural de Vigotski. Sob esses aspectos, aps a anlise dos dados, emergiram, entre outros, os seguintes resultados: a) a avaliao mediada um instrumento que perpassa a zona de desenvolvimento proximal (ZDP) dos alunos com deficincia intelectual e contribui para o desenvolvimento das funes psicolgicas superiores e; b) com a aplicao das provas verificou-se que medida que a interveno mediada do professor revelava caminhos para o aluno se apropriar de um determinado conceito, a prpria avaliao tambm foi mediadora desse processo, sinalizando novas possibilidades.
7 Mestre e Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos Contemporneos e Demandas Populares
(PPGEduc/UFRRJ). E-mail: [email protected]
8 Professora Adjunta do Departamento Educao e Sociedade e do Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos
Contemporneos e Demandas Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Jovem
Cientista do Estado do Rio de Janeiro da FAPERJ e pesquisadora do CNPq. E-mail: [email protected]
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Palavras-chave: Avaliao mediada; Deficincia intelectual; Perspectiva histrico-
cultural.
Introduo
O presente trabalho9 se prope a discutir a escolarizao de alunos com deficincia
intelectual, frente ao processo de educao inclusiva. Dessa maneira, nos
debruamos nesse estudo na reflexo sobre a avaliao da aprendizagem desses
sujeitos, para compreender essa dinmica e contribuir com a produo do
conhecimento a este respeito.
Atualmente, a avaliao vem sendo considerada como uma grande vulnerabilidade
do processo inclusivo, o calcanhar de Aquiles da educao (JESUS; AGUIAR,
2012). Nesse sentido, esperamos que essa pesquisa possa contribuir para o
enriquecimento terico e poltico dos professores que atuam nesse contexto, bem
como para o esclarecimento de estratgias pedaggicas que impulsionem a prtica
docente.
Do mesmo modo, por meio da participao nas pesquisas vinculadas ao
Observatrio da Educao na rea de deficincia intelectual (OBEDUC/CAPES),
constatamos que a escolarizao de pessoas com deficincia intelectual,
contraditoriamente, tem sido pautada na crena da impossibilidade de aprendizagem
desses alunos, sobretudo na aprendizagem dos contedos curriculares. Assim, ficou
evidente que no que se refere escolarizao de alunos com deficincia intelectual,
para alm da anlise dos processos avaliativos, deveramos direcionar o nosso olhar
para a aprendizagem dos conhecimentos cientficos. Assim, o processo de
elaborao e apropriao conceitual tambm passou a entrelaar esta pesquisa.
Justificativa
Ao apresentarmos a proposta de estudo nos deparamos com a existncia de
barreiras para garantir o processo de ensino e aprendizagem das pessoas com
deficincia intelectual e a escassez de pesquisas sobre o tema. Diante disso, para
alm de constatar que os sujeitos no esto tendo acesso aos contedos
9 Este trabalho constitui um recorte da dissertao de Mestrado em Educao intitulada A escolarizao de alunos com
deficincia intelectual luz da perspectiva histrico-cultural: avaliao mediada e apropriao conceitual.
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curriculares, precisamos encontrar formas de modificar essa realidade, sem deixar
de levar em considerao o macro e o micro contexto econmico, poltico e social
que marca no s a estrutura como tambm as prticas pedaggicas e o movimento
funcional das escolas como um todo.
Portanto, esta pesquisa justifica-se pela proposta que traz de possibilitar a anlise
das prticas pedaggicas observadas na escola e de instrumentos que possam
intervir no processo de ensino e aprendizagem dos alunos com deficincia
intelectual, possibilitando assim acesso ao decurso da elaborao conceitual dos
alunos por meio da avaliao. Essas so aes que evidenciam, sobretudo, novos
caminhos para o desenvolvimento.
Objetivos
Diante da anlise dessas perspectivas e buscando contribuir com o processo de
escolarizao de alunos com deficincia intelectual no ensino regular, delineamos
dois objetivos para a nossa pesquisa. A saber: 1) Analisar os processos avaliativos
dirigidos para os alunos com deficincia intelectual matriculados nas redes comum
de ensino; 2) Refletir sobre o processo de elaborao e apropriao conceitual em
alunos com deficincia intelectual.
Referencial terico
Para atingir os objetivos propostos, utilizamos como referencial terico a abordagem
histrico-cultural de Vigotski, pois esta representa muitas dimenses interpretativas,
no se constituindo em uma teoria fechada. Trata-se de uma abordagem que
respalda as possibilidades de dilogo sobre o processo de ensino e aprendizagem
em dilogo com as dimenses da vida social e da cultura em que o sujeito est
inserido e a partir destas que buscaremos descrever o nosso estudo, em especial
no que diz respeito a apropriao de contedos cientficos e na relao latente entre
o aprendizado e o desenvolvimento. Acreditamos que as formulaes de Vigotski
(2009; 2012) nos auxiliam a compreender o professor em seu fazer pedaggico,
como um mediador, possibilitando uma aprendizagem significativa, principalmente
para a criana com deficincia intelectual.
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Metodologia
Adotou-se como procedimento metodolgico de investigao a pesquisa qualitativa.
Mediante a este contexto, nossa investigao est pautada nos pressupostos do
estudo de casos mltiplos (ANDR, 2005; BOGDAN; BIKLEN, 1994; YIN, 2005), por
acreditarmos que nessa metodologia o objeto de estudo explorado de maneira
singular, de modo a avaliar seus pormenores e evidenciar suas mltiplas dimenses,
contribuindo consideravelmente para a pesquisa das prticas educacionais e
valorizando as singularidades dos sujeitos10 e realidade pesquisada. Partindo
desses pressupostos, utilizou-se como procedimento e instrumento de coleta de
dados a observao participante, entrevistas aberta e semiestruturada e a aplicao
de provas de avaliao da aprendizagem.
importante ressaltar que para a coleta de dados a presente pesquisa est inserida
em dois projetos distintos11: (A) A questo da leitura e escrita na rea da deficincia
intelectual: qual a melhor forma de ensino? (CNPQ) e (B) A escolarizao de alunos
com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da
aprendizagem (OBEDUC/CAPES/FAPERJ/CNPQ).
O primeiro (projeto A), coordenado por Oliveira (2015), versa sobre a apropriao da
leitura e escrita de alunos com deficincia intelectual. Dessa maneira, atravs desse
projeto (A) nos propomos a analisar as contribuies da avaliao mediada para o
desenvolvimento dos processos psicolgicos superiores em alunos com deficincia
intelectual. Para isso optamos pelo estudo de caso de Carlos - aluno do 3 ano do
Ensino Fundamental de uma escola situada no municpio do Rio de Janeiro (RJ). Na
presena destas concepes, informamos que as observaes ocorreram no
segundo semestre de 2014, no turno da manh, uma vez por semana.
10Seguindo os princpios ticos adotados nessa pesquisa, usaremos nomes fictcios para preservar a identidade dos sujeitos.
11Ambos os projetos foram submetidos aos procedimentos ticos e aprovados pelo Comit de tica em Pesquisa de suas
respectivas universidades (UNESP e UFRRJ). O primeiro financiado pelo CNPQ e o segundo pelo Programa Observatrio de
Educao da CAPES. Cabe ressaltar que apesar da pesquisa estar prioritariamente vinculada ao projeto B (com bolsa de
financiamento OBEDUC/CAPES), optamos por nomear os projetos seguindo a ordem que os dados foram coletados (A-2014;
B- 2015).
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O projeto (B), assinado por Pletsch et al.12, aborda diferentes aspectos da
escolarizao de alunos com deficincia intelectual, nas diferentes modalidades e
redes de ensino, frente problemtica entre acesso ao ensino regular x falta de
acesso ao conhecimento cientfico. Participamos das diferentes etapas do projeto B,
no entanto, nesse trabalho iremos desenvolver a pesquisa a partir de um eixo
principal: a anlise do processo de elaborao conceitual de alunos com deficincia
intelectual matriculados em redes de ensino da Baixada Fluminense. Para atingir tal
intento, analisamos o processo de apropriao conceitual de Rafael aluno do 4
ano do Ensino Fundamental de uma escola situada em um municpio da Baixada
Fluminense RJ e seus respectivos professores (sala regular - SR e atendimento
educacional especializado - AEE) sujeitos secundrios. As observaes foram
realizadas no segundo semestre de 2015, duas vezes por semana.
Discusso e resultados
Ao analisarmos os processos avaliativos dirigidos para alunos com deficincia
intelectual nos deparamos com concepes avaliativas que se distanciam de
prticas que promovam a aprendizagem, uma vez que esto centradas apenas na
nota e no no aprender, no produto e no no processo. Assim, a escola segue
promovendo a ideia de avaliar apenas para classificar os alunos (os que aprendem e
os que no aprendem), operando com a verificao e no com a avaliao da
aprendizagem (VALENTIM; OLIVEIRA, 2013; OLIVEIRA; PLETSCH, 2015). Essa
uma viso comum, porm distorcida do que acreditamos ser a funo dessa prtica
pedaggica. Em nossa concepo, a avaliao precisa se submeter a uma mudana
de paradigma para que possa se transformar em um instrumento que saliente
prticas educativas inclusivas.
Em outras palavras, acreditamos que a avaliao deve servir para apontar caminhos
e explorar as possibilidades de aprendizagem dos alunos, com ou sem deficincia,
de maneira que possibilite ao professor conhecer as estratgias de aquisio do
conhecimento e o desenvolvimento atual do sujeito, subsidiando assim reflexes
sobre as suas estratgias pedaggicas e a relao entre ensino e aprendizagem
12Pesquisa desenvolvida em rede abrangendo pesquisadores dos Programas de Ps-Graduao em Educao da UFRRJ, da
UDESC e da UNIVALI, sob a coordenao de Mrcia Denise Pletsch, Geovana Mendona Lunardi Mendes e Regina Celia
Linhares Hostins, respectivamente.
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(OLIVEIRA et al., 2013). Ao tornar a prtica mais significativa podemos tambm
revelar o vir a ser do desenvolvimento.
A partir dessas observaes, pensando no processo de escolarizao de alunos
com deficincia intelectual, constatamos que a prtica avaliativa deve revelar novas
possibilidades e suscitar o desenvolvimento potencial dos alunos, pois concordamos
com Valentim (2011) ao afirmar que a funo da avaliao colaborar no
desvelamento do potencial dos alunos com deficincia intelectual, para que ocorra
uma sistematizao de prticas favorecedoras de aprendizagem (p.33). Vale a pena
destacar que preciso levar em considerao as singularidades dos alunos e seus
diferentes modos de apreender o conhecimento.
Nesse sentido, a concepo avaliativa que se aproxima da dinmica inclusiva que
temos defendido ao longo desse estudo a avaliao mediada. Trata-se ento, de
compreender a avaliao como um processo intencional, capaz de demonstrar como
o sujeito aprende e no s o que ele j aprendeu; o que ele pode fazer sozinho e o
que ele pode fazer por meio da interveno do outro (PLETSCH; OLIVEIRA, 2014;
OLIVEIRA, 2015). Esse processo auxilia o professor de maneira a orient-lo em
suas decises no decorrer da prtica pedaggica.
Desse modo, a avaliao mediada pode demonstrar como o aluno com deficincia
intelectual se apropria conceitualmente, ao passo que contribui para o
desenvolvimento de suas possibilidades. No processo de coleta de dados, ficou
evidente que ao elaborarmos uma avaliao que contemple as especificidades do
desenvolvimento de alunos com deficincia intelectual esta passa a ser tambm um
instrumento mediador do ensino e da aprendizagem. Isto , medida que a
interveno mediada do professor revela caminhos para o aluno se apropriar de um
determinado conceito, a prpria avaliao tambm mediadora desse processo,
sinalizando novas possibilidades.
A este respeito, pertinente mencionar que nas participaes dos alunos nas
provas13 encontramos indcios de efetivas possibilidades de apropriao conceitual
e desenvolvimento. Nessa perspectiva, consideramos que observar Carlos e Rafael
nas realizaes das provas nos indicaram pistas sobre estratgias pedaggicas que
podem ser desenvolvidas para alunos com deficincia intelectual. Assim, podemos 13As provas de avaliao da aprendizagem realizadas com os alunos constituem-se a nosso ver como modelos de avaliao
mediada. Neste trabalho no iremos descrev-las devido a extenso do material. A este respeito ver OLIVEIRA (2016).
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dizer que a mediao ao longo das provas estimulou a memria, concentrao,
imaginao e linguagem - processos psicolgicos superiores dos alunos,
contribuindo para que eles se apropriassem do sentido e do significado dos
conceitos trabalhados nas atividades. Isso s foi possvel a partir do dilogo e da
interveno sistematizada durante a aplicao das provas.
Dessa maneira, a anlise dos dados revelou a importncia de compreender as
prticas pedaggicas como prticas mediadas e dialgicas. Partindo desse ponto de
vista, podemos afirmar que o professor deve pensar em atividades que ressaltem a
forma como o aluno elabora o seu pensamento, o que ele j consegue compreender
conceitualmente e quais as intervenes que devem ser realizadas para que ele
internalize um novo conceito e atinja outro nvel no desenvolvimento. De igual modo
possibilitar a compreenso do processo transitrio entre conceitos cotidianos e
cientficos (generalizao e abstrao) uma prtica fundamental que deve ser
utilizada atravs da mediao pelos professores, para que o aluno possa assimilar a
estrutura conceitual dos contedos curriculares difundidos pela escola (PLETSCH,
2014). Sob esta perspectiva, a avaliao mediada pode suscitar novos caminhos
para a escolarizao de alunos com deficincia intelectual.
Consideraes finais
Diante o exposto, conclumos que a avaliao mediada, por meio de sua intrnseca
mediao pedaggica, torna-se um instrumento capaz de atuar na zona de
desenvolvimento proximal do aluno com deficincia intelectual e assim contribuir
com o desenvolvimento de suas funes psicolgicas superiores, ao passo que
promove mecanismos de apropriao conceitual e compensa o defeito. Sendo
assim, conforme revelam os resultados dessa pesquisa, promover prticas
avaliativas que contemplem as especificidades de todos os alunos, reconhecendo as
dinmicas da aprendizagem de cada um o grande desafio da escola. Sobre estes
aspectos, apresentamos reflexes que nos ajudam a construir novos caminhos para
o desenvolvimento de Carlos, Rafael e de tantos outros alunos que aprendem
apesar das contradies ainda presentes na cultura escolar. A este respeito
esperamos que nossa pesquisa possibilite novas reflexes para a produo
cientfica na rea.
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Referncias
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OLIVEIRA, M. C. P. de. A escolarizao de alunos com deficincia intelectual luz da perspectiva histrico-cultural: avaliao mediada e apropriao conceitual. 133 p. Dissertao (Mestrado em Educao) PPGEduc / Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2016.
PLETSCH, M. D. et al. A escolarizao de alunos com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem. Projeto de Pesquisa em rede (UFRRJ, UDESC, UNIVALI), 2012.
PLETSCH, M. D. Repensando a incluso escolar: diretrizes polticas, prticas curriculares e deficincia intelectual. 2 edio. Rio de Janeiro: NAU EDUR, 2014.
______; OLIVEIRA, M. C. P. de. Polticas de educao inclusiva: consideraes sobre a avaliao da aprendizagem de alunos com deficincia intelectual. Revista Educao, Artes e Incluso, v.10, n 2, p. 125-137, 2014.
VALENTIM, F. O. D. Incluso de alunos com deficincia intelectual: consideraes sobre avaliao da aprendizagem escolar. 2011. 143 f. Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade Estadual Paulista, Marlia, 2011.
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VIGOTSKI, L. S. A construo do pensamento e da linguagem. BEZERRA, P. (trad.). So Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
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YIN, R. Estudo de caso: planejamento e mtodos. 3 Ed. So Paulo: Bookman, 2005.
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CONCEPES DOCENTES SOBRE A INCLUSO ESCOLAR
E A MEDIAO PEDAGGICA:
uma anlise a partir da perspectiva histrico-cultural de Vigotski
Marcela Francis Costa Lima1 Mrcia Denise Pletsch2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Grupo de pesquisa: Observatrio da Educao Especial e incluso escolar: prticas curriculares e processos de ensino e aprendizagem
Resumo
Esta pesquisa discute concepes docentes sobre incluso escolar e a mediao pedaggica a partir de atividades desenvolvidas no mbito do projeto A escolarizao de alunos com deficincia intelectual: polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem Programa do Observatrio da Educao (OBEDUC) financiado pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES). Esse projeto desenvolvido pelo grupo de pesquisa Observatrio da Educao Especial e incluso escolar: prticas curriculares e processos de ensino e aprendizagem. O referido grupo de pesquisa desenvolve atividades de pesquisa atreladas a esse projeto na Baixada Fluminense desde 2013. A partir dos resultados iniciais das pesquisas desenvolvidas percebemos a necessidade de desenvolver uma pesquisa direcionada para as concepes dos docentes sobre a incluso de alunos com deficincia intelectual. Em especial, que investigasse sobre o conceito de mediao e sua aplicao em sala de aula pelos docentes. Nossa investigao se deu durante um curso de extenso sobre os Processos de ensino e aprendizagem de alunos com deficincia intelectual promovido pelo projeto, no qual realizamos entrevistas semiestruturadas com 120 professores da Educao Bsica que participaram do curso. A metodologia de nossa pesquisa qualitativa e analisaremos nossos dados a partir dos pressupostos da perspectiva histrico-cultural de Vigotski. Nossa pesquisa encontra-se em andamento, Os resultados preliminares evidenciam, entre outras questes, que a maioria dos professores j ouviu falar sobre os conceitos da perspectiva histrico-cultural na escolarizao de alunos com deficincia intelectual, mas apresentam dificuldades em defini-los e pensa-los aplicados a sua prtica pedaggica, sobretudo, com alunos com deficincia intelectual.
Palavras-chave: Deficincia intelectual; Polticas de educao inclusiva; Perspectiva histrico-cultural.
1 Mestranda em Educao pelo Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos Contemporneos e Demandas
Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
2 Professora Adjunta do Departamento Educao e Sociedade e do Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos
Contemporneos e Demandas Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil; FAPERJ; [email protected]
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Introduo
Nos ltimos anos tem se ampliado as discusses em torno da educao inclusiva
(BRASIL, 2008; 2009; 2011). Reconhece-se cada vez mais a urgncia de uma
educao de qualidade para todos. Neste contexto surge a necessidade de entender
como tem sido concebida a escolarizao de pessoas com deficincia em nosso
pas, sobretudo com deficincia intelectual.
Em nosso entendimento para uma turma ou escola ser considerada inclusiva
necessrio mais do que um espao escolar de socializao, e sim um lugar em que
o sujeito aprenda os contedos socialmente valorizados para todos os alunos de sua
faixa etria (GLAT; BLANCO, 2009; PLETSCH, 2014).
Para que isso ocorra tais alunos necessitam de prticas pedaggicas especficas e
diferenciadas que assegurem seu processo de ensino e aprendizagem. neste
sentido que o suporte especializado da Educao Especial muito importante.
Consideramos, com base na perspectiva histrico-cultural de Vigotski (2007; 2010;
2012; 2012; 2014), que os sujeitos se constituem e se desenvolvem nas condies
concretas de vida, a partir das relaes e interaes que lhes so possibilitadas nos
processos mediados, apropriando-se da cultura e participando da constituio dessa
cultura.
Assim, buscamos as contribuies da perspectiva histrico-cultural para
compreender o desenvolvimento da criana com deficincia como um processo
contnuo e no linear, em uma relao dialtica entre o biolgico e o cultural que
constitui histrica e socialmente cada ser singular.
Na mediao pedaggica, no contato cotidiano, a imagem da criana com
deficincia (genrica) produzida no discurso social macro, de quem no aprende,
deve abrir espao para a imagem de uma criana que apresenta sim
especificidades, mas, como toda e qualquer criana (e ser humano), necessita do
outro para se desenvolver culturalmente e academicamente de forma singular e
nica.
Tendo em vista que o processo de aprendizagem se d nas condies concretas de
vida dos sujeitos, partilhado nas relaes de ensino, consideramos que, na
mediao pedaggica, o modo como o professor conduz o processo, mediando
participao da criana com necessidades educacionais especiais, pode favorecer
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ou restringir as aprendizagens, o que consequentemente impulsiona ou limita o
desenvolvimento dessa criana.
Nesse contexto nossa investigao ocorreu durante o programa de formao
continuada Processos de Ensino e aprendizagem de alunos com deficincia
Intelectual, iniciado em maro de 2015. O curso teve a participao de 150
pessoas, 100 professores de sete redes de ensino da Baixada Fluminense e 50
alunos do curso de graduao em Pedagogia do Instituto Multidisciplinar da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Campus de Nova Iguau.
O referido programa de formao continuada integrou as atividades do projeto
Observatrio da Educao - A escolarizao de alunos com deficincia intelectual:
polticas pblicas, processos cognitivos e avaliao da aprendizagem, financiado
pelo Programa Observatrio da Educao da CAPES.
Os participantes do curso responderam a dois questionrios semiestruturado
contendo questes especficas para a anlise do perfil dos participantes. Questes
sobre o entendimento dos mesmos sobre a escolarizao de alunos com deficincia
intelectual e seu respectivo desenvolvimento, alm de questes especficas como
conceitos da perspectiva histrico-cultural de Vigotski que consideramos importante
para a escolarizao de alunos com deficincia intelectual, como o conceito de
mediao que o foco principal dessa pesquisa.
Tomando como base essas questes, nessa pesquisa temos como objetivo geral:
Investigar as concepes dos docentes sobre a incluso escolar de alunos
com deficincia intelectual e a maneira como organizam sua prtica
pedaggica.
Como objetivos especficos, elencamos os seguintes:
Analisar as concepes docentes sobre a escolarizao de alunos com
deficincia intelectual;
Analisar as concepes docentes sobre o conceito de mediao pedaggica.
Dito isto, este trabalho tem por objetivo apresentar uma anlise inicial sobre o perfil
desses sujeitos, bem como suas concepes sobre os conceitos presentes na
perspectiva histrico-cultural de Vigotski.
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Justificativa
Entendemos que nossa pesquisa relevante, pois permitir conhecer as demandas
tericas e o perfil dos professores e futuros professores no que diz respeito
escolarizao de pessoas com deficincias, sobretudo com deficincia intelectual.
Igualmente, compreendemos e defendemos que por meio da pesquisa que
podemos conhecer a realidade e refletir sobre a mesma, propondo ideias
contemporneas para que a prtica pedaggica se aprimore e contribua para
atender as necessidades educacionais especiais desses sujeitos, propiciando assim
o desenvolvimento de habilidades cognitivas necessrias para a construo de
conceitos cientficos.
Metodologia
A metodologia de nossa pesquisa qualitativa. Esta opo se justifica por
acreditarmos que pesquisas dessa envergadura podem cooperar de modo
significativo para a validao cientfica de prticas e estratgias que contribuam para
desmitificar preconceitos, revelando novas e outras possibilidades de percepo
social a respeito de sujeitos com deficincia intelectual. Alm de, oportunizar a
descrio das relaes e processos do contexto analisado atravs da relao direta
entre pesquisador e pesquisado (ANDR, 1995; PLETSCH, 2010).
Discusso e resultados
Em termos legais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (BRASIL,
1996) admite como formao mnima para exerccio na carreira de magistrio:
formao em Ensino Mdio, na modalidade Normal, licenciatura em Pedagogia
(ambas habilitam a todas as disciplinas desde a educao infantil at o 5 ano do
ensino fundamental) e as licenciaturas por rea de conhecimento como Matemtica,
Geografia e outras que, por sua vez, permitem ao professor ministrar aulas da
determinada matria para alunos desde o Ensino Fundamental at o Ensino Mdio.
Tambm cabe registrar que o pas tem dois cursos de graduao em nvel de
licenciatura na rea de Educao Especial sendo oferecidos na Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) e na Universidade Federal de So Carlos (UFScar).
Apesar das diretrizes curriculares das licenciaturas indicarem a necessidade de
questes sobre educao na diversidade, no caso da rea de Educao Especial, o
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mesmo quando abordado se d somente em uma ou duas disciplinas, em grande
medida, uma em Educao Especial ou Educao Inclusiva e outra de Lngua
Brasileira de Sinais (LIBRAS). Entretanto, no exatamente isso que se encontra
nesses cursos, como ficou evidente em pesquisa recente realizada por Cruz e Glat
(2014).
De acordo com a Resoluo n 4 (BRASIL, 2009), que instituiu as Diretrizes para o
atendimento educacional especializado, o professor poder atuar no atendimento
desde que tenha formao inicial que o habilite para exerccio na docncia acrescida
de formao continuada em Educao Especial por meio de cursos de ps-
graduao lato sensu e stricto sensu. Tais cursos esto disponveis em algumas
universidades pblicas com vagas insuficientes para atender demanda docente.
Isto , em sua maioria vm sendo