CURSO CLÍNICA PSICANALÍTICA 2012 - Aula 8 - Neurose obsessiva e transtorno da ansiedade...
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Clínica Psicanalítica:manejo e subjetivações na
contemporaneidade
Tema:
Neurose obsessiva e transtorno da ansiedade generalizada
Coordenação Alexandre Simões
ALEXANDRE SIMÕES
® Todos os direitos de
autor reservados.
Novos sintomas ou sintomas apresentados
sob uma nova forma ?
Lacan, argumenta que estamos passando, nas últimas décadas, por uma significativa mudança na lógica dos
discursos:
esta é uma forma de dizer que o laçosocial muda e o lugar do Outro: o mundo que nos fala e
de onde nósfalamos, mudam também.
Fragmento clínico:
Um homem, na faixa de seus 40 anos de idade, procurou-me a partir do momento em que se
submeteu a uma prova.
Neste exame, ele não obteve um resultado satisfatório e, daí, recebeu um laudo
explicando, em linhas gerais, os motivos de sua reprovação. Neste laudo, lhe era recomendado que ele procurasse um profissional da área da saúde mental antes de se submeter a um novo
exame.
Tratava-se de uma prova para se habilitar como piloto
de aeronave. Ele já era piloto e também instrutor de voo, em uma dada categoria: pretendia aceder a uma outra
categoria, superior à atual.
O órgão específico do Estado que elaborava as
provas e regulamentava o tipo de habilitação que esta
pessoa almejava foi, a princípio, o impedidor de sua trajetória e isto lhe
surgiu como um entrave.
Era-lhe um entrave na medida em que ele, como já foi dito, tendo um tipo de habilitação para uma categoria de voo, almejava uma maior amplitude profissional e econômica. Ele havia largado seu
emprego anterior para se dedicar inteiramente à aeronáutica e obter da mesma o sustento para si
e sua esposa.
Ser piloto era um sonho com o qual ele, de origem bem humilde, se deparou desde bem cedo. Durante sua
adolescência e idade adulta, trabalhou em várias funções bem distantes deste sonho.
Isto foi feito até os últimos três anos, quando o paciente resolveu pedir as contas em uma empresa na qual já trabalhava há mais de uma década e, com o dinheiro do acerto, bancar a trajetória (bem
vasta e exigente) da formação de piloto: almejava voar.
É importante notar que o tipo de trabalho que ele até então estava desenvolvendo na grande
empresa com a qual rompeu já se mostrava de alto custo para a sua saúde:
em mais de um episódio, foi acometido por crises que se manifestavam por meio de fortes e difusas
dores ao longo do corpo e uma intensa arritmia cardíaca que fizeram com que ele fosse
conduzido para serviços de urgência hospitalares.
Exasperação e desentendimento com os colegas tornaram-se cotidianos. Inclusive, o paciente
mostrava-se impulsivo no que tange à agressividade: envolveu-se em alguns episódios
de agressão física a pessoas diversas.
Encontrando-se fora deste ambiente de trabalho, o paciente sentia uma melhora significativa em
seu estado.
Todavia, o que antes era um estado mais generalizado de mal-estar difuso, gradativamente veio a se mostrar com um contorno mais definido:
a ansiedade.
Nas relações com as pessoas - agora, já no novo ambiente de sua tentativa de uma inserção profissional no campo da aviação - a ansiedade
era facilmente desencadeada: às vezes, o barulho e a movimentação de alguém
‘mascando chiclete’ era o suficiente para o surgimento da ansiedade acompanhada de
irritabilidade.
Foram inúmeros episódios de ansiedade e também uma forma branda de hipocondria, até que chegamos àquilo que mais ao início apontamos: a prova para aceder a um nível
superior de pilotagem.
O que barrou este paciente foi a verificação, ao longo de seus
exames, de um fator ansiogênico.
Tanto que no laudo reprobatório veio indicado o diagnóstico de
Transtorno de Ansiedade Generalizada.
A partir desta marca, o paciente se apropria mais decididamente deste
diagnóstico (que tem a dupla função de ser um indexador de seu mal-estar e a
marca de um limite, ainda que momentâneo).
Surgem, então, as sensações de frio no estômago, aperto no peito, coração acelerado, tremores e a sensação de
falta de ar.
O paciente pretendia se submeter mais uma vez ao exame no qual foi reprovado (após o intervalo de alguns
meses, isto já lhe era permitido).
A realização de um tratamento analítico não era, necessariamente, uma exigência para tal. Mas,
curiosamente, a reprovação fez com que esta pessoa se inquietasse quanto ao que, realmente, se passava com
ele.
O fio da ansiedade e do diagnóstico especificados na figura do Transtorno de Ansiedade Generalizada conduziram este paciente, no itinerário da análise, a se deparar com um
acontecimento que é bem distinto de um sintoma:
a angústia
Amparo-me aqui nas formulações de Freud em ‘Inibições,
sintomas e angústia’ (de 1926):
estes três acontecimentos
psíquicos - afetações do pathos - não se encontram
no mesmo nível e não se reduzem um
ao outro.
Para-além da sintomatologia ansiogênica e impulsiva, perfilava-se gradativamente uma
teia de elementos obsessivos: a culpabilidade, a dívida em relação ao Outro, a
morte.
A análise avançava quanto mais não se colocava como orientação do percurso as medidas
pragmáticas:
os prazos para novas provas e perícias, a resposta à sintomatologia ansiogênica, etc.
Especialmente no que tange às manifestações da ansiedade e as depressões, vale lembrar que:
estamos imersos na tecnologia prêt-a-porter
Como operar com o gozo que se impõe ao
nosso tempo?
A Clínica Psicanalítica pode, atualmente, oferecer outras vias a estes sujeitos?
Por nossa posição de sujeito somos sempre
responsáveisJacques Lacan, A Ciência e a Verdade,
(in: Escritos), p.873
“A psicanálise tem sido criticada como uma espécie de ícone de uma cultura que ficou para trás, sepultada pelas ciências da mente e pela
sociedade ‘pós-humana’. O antifreudismo é uma onda que ainda cresce. Mas seu destino não está
nas mãos dos ideológos do mercado ou da ciência. O que determinará o lugar da psicanálise no cenário social das próximas décadas será sua
capacidade de atualizar aquilo que está na origem de sua clínica: a sustentação de um campo de prática que põe qualquer tipo de
experiência humana sob o crivo da interrogação.”
(Benilton BEZERRA JÚNIOR.O ocaso da interioridade e suas repercussões sobre a clínica. In: Carlos Alberto PLASTINO. Transgressões. Rio de Janeiro: Contracapa, 2002. p.238)
Obrigado pela atenção!
Acesso a este conteúdo:
www.alexandresimoes.com.br
ALEXANDRE SIMÕES
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