Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

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Curso teórico-prático que estuda a fórmula de produção do ódio político na psique dos cidadãos e apresenta um conjunto de técnicas para eliminar esse sentimento, assim como o transe manipulativo em que vivem os indivíduos doutrinados pela grande mídia nacional.

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PARTE EXPLICATIVA

INTRODUÇÃO . O problema . A função do jornalista como manipulador . Os "indignados úteis" . O paroxismo do ódio . A ideia do novo Curso

AVISO LEGAL

A IMPORTÂNCIA DO ÓDIO PARA O SUCESSO DA MANIPULAÇÃO POLÍTICA . O "gerenciamento do ódio" . As razões óbvias para a estimulação do ódio . A razão extra para o incentivo ao ódio COMO CULTIVAR O ÓDIO NOS CONSUMIDORES DE NOTÍCIAS . 1. O poço humano de insatisfações Lição número 1 – A insatisfação existencial . 2. A frustração adicional Lição número 2 – A vivência imposta de uma frustração . 3. A ameaça ao bem-estar pessoal Lição número 3 – A violação ao bem-estar pessoal . 4. O responsável pela frustração Lição número 4 – A responsabilização do adversário político . 5. O aproveitamento do potencial de reação agressiva Conteúdo específico da manipulação Efeito da manipulação no manipulado Predisposição à agressão Validação e incentivo à agressão Lição número 5 – A validação e a moldagem da agressão . 6. A criação do hábito 1. A demonização do alvo. 2. A rapidez da resposta dos manipulados. 3. O hábito que se torna vício. 4. A autonomia obediente dos manipulados. Lição número 6 – A criação dos hábitos de responsabilização e de agressão . 7. A exploração do hábito Lição número 7 – O estágio do vício

. 8. A evolução para o ódio Lição número 8 – A convivência justificada com o ódio

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. 9. A catarse pública Lição número 9 – A cereja do bolo da manipulação: a catarse pública FATORES FAVORÁVEIS AO SUCESSO DA MANIPULAÇÃO . Domínio dos principais veículos da mídia . Contágio social . Persistência e congruência . Ausência de referências políticas passadas . Desinteresse do brasileiro pela política internacional . Insatisfação social de classe . Hiato temporal entre a versão e o fato FATORES COMPLICADORES DO SUCESSO DA MANIPULAÇÃO . A alienação política do brasileiro . A índole afetuosa do brasileiro . A conscientização social da atividade de manipulação jornalística . O desenvolvimento do espírito crítico . Fontes alternativas de informação . A necessidade de ampliação do leque dos militantes odientos QUESTÕES ÉTICAS, MORAIS E TÉCNICAS SOBRE A MANIPULAÇÃO . A amoralidade intrínseca à manipulação O teste de (falta de) caráter A questão da culpa no manipulador Os prejuízos gerados aos manipulados O mal que fazemos a quem nos ajuda A verdadeira natureza da atividade manipulativa na política O paralelismo destrutivo O mundo dos carneirinhos A lei da ocultação dos ganhos e das perdas O enquadramento de teste O risco real de um processo criminal . A vivência da pessoa manipulada As fases da manipulação bem-sucedida Fato Significado do fato Reação ao fato Pressupostos da atuação do manipulado Impressão de urgência Ilusão de participação efetiva A Grande Ilusão Benefícios adicionais Sensação intensa de vida Integração a um grupo Sensação de estar lutando por seus objetivos e valores

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. A importância do estímulo ao vira-latismo . O transe manipulativo . A esquizofrenia estratégica . A síndrome do motorista de táxi ANATOMIA PSICOLÓGICA DO ÓDIO . A vivência do ódio . A estrutura do ódio Foco temporal Modalidade Envolvimento pessoal Intensidade Comparação Tempo Critério Abrangência do foco de atenção . A mensagem do ódio . A ambivalência interna . A ambivalência externa . A relação entre o ódio e a Sombra . A justificativa conveniente . A intolerância em relação à diferença . O rótulo liberador . A liberação do ímpeto destrutivo . A vitória dos sentimentos "negativos" . O ódio e o gostinho da morte . Os temperamentos pessoal e nacional, e sua relação com o ódio . O desejo sexual oculto . O Casal Diabólico da política nacional

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CURSO DE DESINTOXICAÇÃO DO ÓDIO POLÍTICO

INTRODUÇÃO

O problema

Há muito, nós, os professores do Curso Básico de Jornalismo Manipulativo, vimos notando uma preocupante tendência entre nossos alunos. Embora, durante o Curso, façamos questão de observar

repetidamente que as técnicas de manipulação têm por alvo o grande público, ou seja, os consumidores de notícias políticas, muitos desses

alunos acabaram assimilando as atitudes agressivas estimuladas em nossos leitores pela aplicação das técnicas do Curso Básico.

O resultado? Carregam demais na emoção ao escreverem seus textos, perdendo com isso a frieza necessária à boa aplicação das técnicas de

manipulação jornalística. Alguns editores têm se queixado de que as matérias desses profissionais se assemelham aos textos de certos colunistas raivosos ou às participações de anônimos em caixas de

comentários da Web. Esse deslize profissional acarreta edições longas e trabalhosas, além da perda de tempo precioso. Há relatos, também, de

casos de desavenças na vida pessoal de nossos alunos, motivadas por excesso de envolvimento político.

A situação descrita acima equivale a um traficante de drogas se tornar dependente de drogas, a um autor de autoajuda praticar as baboseiras

impingidas a seus leitores, ou a um publicitário acreditar nas falsas virtudes dos produtos exaltados em suas peças enganosas.

Um exemplo clássico de exacerbação emocional:

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Foto copiada da Web

Que xingamento você ouve internamente ao pensar nessa educada senhora?

(Adendo importante: não estamos afirmando que ela tenha sido nossa

aluna. Até porque é proibido aos professores dos Cursos citar nominalmente qualquer aluno.)

Outros exemplos de exacerbação emocional, não tão clássicos, mas recorrentes:

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Outro, um pouco mais chocante:

A função do jornalista como manipulador

Nosso objetivo como manipuladores sociais é criar ilusões que convençam e, eventualmente, prejudiquem outras pessoas, e não a nós

mesmos.

Sempre ressaltamos nas aulas que cada grupo cumpre uma função

específica no esquema geral. Cabe ao jornalista manipular, e ao leitor reagir. As atitudes agressivas devem ser conteúdo exclusivo dos chamados "indignados úteis" (link abaixo para a origem da expressão), ou seja, dos

leitores "convertidos" à nossa causa.

http://blogdomello.blogspot.com.br/2014/04/midia-corporativa-e-instituto-millenium.html

No Curso Básico não treinamos os chamados "instigadores da Sombra", jornalistas e articulistas que têm a função, por meio de seu comportamento

raivoso, de estimular diretamente uma reação semelhante em seus leitores. Essa é outra função política valiosa, de que tratamos somente no Curso Avançado de Jornalismo Manipulativo. A função dos alunos do Curso Básico

é estimular indiretamente a agressividade dos leitores, por meio do conteúdo dos textos e reportagens.

Os "indignados úteis"

Qualquer pessoa sensata que navegue, mesmo ocasionalmente, pelas redes sociais reconhecerá o extraordinário efeito do trabalho de

manipulação realizado por nossos alunos. Criou-se uma notável geração de "indignados úteis", prontos a explodir em xingamentos, acusações e comentários raivosos ao menor estímulo da nossa parte.

Basta uma manchete safadinha, um título oposicionista, uma "levantada de bola" qualquer, e esse dedo apontado para os nossos adversários é

seguido instantaneamente por uma multidão de leitores raivosos, sedentos de um novo linchamento virtual.

Como bem notou um de nossos alunos, essa geração de leitores parece se comprazer com a vivência de "ódio borbulhante". Tornaram-se

dependentes de uma carga diária de estimulação agressiva. Querem sempre mais ― e mais lhes damos. Quantos não passaram, eles mesmos, a

buscar ou a produzir situações extras de liberação do ódio? Alguns chegaram a perpetrar imagens históricas, como esta:

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"Diagnóstico" de uma médica

Foto copiada da Web

Ou esta:

Nasci no país errado

Foto copiada da Web

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Ou esta:

Canibalismo político

Foto de Marcos Bezerra

O paroxismo do ódio

Se há um paroxismo do prazer, há também um paroxismo do ódio, um orgasmo, um êxtase na expressão ilimitada da agressividade pessoal.

Tudo bem, se os comportamentos tresloucados se limitarem aos consumidores de notícias, instigados por nós.

Cartum de Alves

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Ou mesmo se os nossos auxiliares na mídia impressa e virtual (artistas,

pensadores, blogueiros etc.) mergulharem em sua piscina particular de ódio.

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Mas tudo mal, se nós mesmos passarmos a nos contaminar com o ódio

que cultivamos diariamente em nossos consumidores de notícias.

Esse é o problema.

A ideia do novo Curso

Há pouco mais de dois meses, nós, os professores dos Cursos,

conversávamos sobre o extraordinário resultado obtido por nossos alunos,

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de alguns anos para cá. Mudamos o estado de espírito do Brasil. A destacar,

os seguintes feitos:

. "Provar" a inutilidade ou a falsidade de todas as conquistas importantes do grupo ocupante do poder central;

. Instigar a população contra seus benfeitores (aqueles que criaram uma situação de pleno emprego, de inclusão social de milhões de brasileiros, de

oportunidades inéditas de estudo, de acesso amplo a bens e viagens etc.);

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. Esconder habilmente os escândalos de responsabilidade de nossos

aliados políticos, alguns com o auxílio preguiçoso da Justiça (o encobrimento, é claro, não o próprio escândalo);

Nenhuma menção ao PSDB, é claro.

. Associar a ideia de corrupção unicamente ao partido atualmente no poder, embora os partidos de nossos aliados sejam os mais afetados pelas

cassações políticas e condenações jurídicas;

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Ranking da cassação divulgado pelo Ministério Público Federal em 2013.

http://www.prpa.mpf.mp.br/institucional/prpa/campanhas/politicoscassadosdossie.pdf

. Trazer de volta do passado o "complexo de vira-latas", que muitos pensavam já ter sido superado com os avanços recentes do país;

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. Fazer a nova geração de jovens jogar a culpa no governo federal por todos os problemas nacionais (mesmo os problemas de âmbito municipal e

estadual);

Resposta ao "É Tóis" de Dilma.

O viaduto era de responsabilidade da Prefeitura de Belo Horizonte e da empreiteira construtora.

O Itaquerão foi construído pela empreiteira Odebrecht.

O atendimento do SUS é realizado pelas prefeituras. O governo federal apenas repassa os recursos, que são administrados pela Secretaria

Municipal de Saúde.

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. Inimizar toda uma categoria profissional contra a atual presidente...

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... e contra seu partido;

. Voltar o cidadão comum contra a oportunidade de promover a Copa do

Mundo, um sonho de qualquer nação moderna;

. Esconder os benefícios do torneio, disseminando a mentira de que se tratava de um gasto inútil, e não um investimento valioso;

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. Fazer o brasileiro médio sentir vergonha de torcer pela sua Seleção nacional de futebol, justamente o esporte entranhado na alma do povo (é

bem verdade que o início da Copa do Mundo, infelizmente, mudou de maneira radical a situação);

. E o mais importante: transformar uma parcela da população brasileira, povo naturalmente feliz com a vida, em motos perpétuos do ódio.

Vejam estas observações de estrangeiros que vieram assistir à Copa do Mundo:

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http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2014/07/aplaudir-por-do-

sol-abracar-veja-o-que-surpreendeu-os-estrangeiros.html

Obviamente, esses estrangeiros não encontraram nenhum dos nossos dedicados leitores.

. E o que dizer da extraordinária falta de educação, sensibilidade e escrúpulos exposta ao mundo pela abastada plateia brasileira em partidas

da Copa do Mundo? Fazer um grupo enorme de pessoas sentir orgulho do seu lado bárbaro, convenhamos, não é para qualquer manipulador.

Nem nas mais ousadas fantasias de nossos patrões imaginou-se resultado tão brilhante na história da manipulação política.

Entretanto, como sempre avaliamos também o lado negativo de todos os nossos procedimentos, tivemos de admitir o problema exposto mais acima

(a contaminação de nossos alunos pelo ódio).

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De novo: não estamos afirmando que ele seja um de nossos alunos.

Como sempre fazemos nesse caso (a identificação de um problema

sério), abrimos logo uma sessão de brainstorming (técnica mais conhecida internamente como brain shitting – sem tradução, O.K.?), para buscar uma

solução criativa.

Da sessão veio a ideia de criarmos o primeiro Rehab Político, sugestão

logo brindada com os adjetivos "genial", "revolucionária" e alguns palavrões elogiosos que evitaremos mencionar.

Vamos então, primeiro, à parte teórica do novo Curso, na qual explicaremos em detalhes como produzimos o ódio político em nossos

leitores e quais são os principais componentes dessa emoção. Esses componentes serão os alvos das técnicas de desintoxicação apresentadas

logo a seguir na parte prática do Curso.

Gostaríamos de agradecer a decisiva colaboração de nossa equipe de

psicólogos, responsável por todas as técnicas da parte prática e por muitos esclarecimentos compartilhados na parte teórica.

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AVISO LEGAL

Por questões jurídicas, nossa equipe de advogados recomendou (significando: exigiu) esse preâmbulo legal, visando alertar nossos leitores

sobre a parte prática do Curso de Desintoxicação do Ódio Político.

"As técnicas da parte prática deste Curso foram criadas por psicólogos

capacitados e visam proporcionar bem-estar emocional a pessoas que se tornaram dependentes da vivência diária de raiva e ódio, por motivos

políticos. Apesar disso, não podemos garantir que elas farão somente o bem, em todos os casos, dado que cada sistema psicológico difere bastante dos demais. Aplique as técnicas com critério, parando imediatamente caso

sinta ou pressinta qualquer incômodo psicológico além do normal. Não podemos nos responsabilizar pelos possíveis efeitos, caso você continue a

aplicar uma técnica nessa situação. Respeite o seu sistema e os seus limites psicológicos."

Nós de novo. Segundo a nossa experiência pessoal e coletiva, essas técnicas são, sim, infalíveis. Qualquer pessoa normal que as aplicar com

zelo conseguirá se livrar dos sentimentos sufocantes de indignação, raiva e ódio, que tanto mal fazem à saúde psíquica e orgânica.

Agora, se você aplicar essas técnicas direitinho e, mesmo assim, continuar sentindo ódio ao menor estímulo proporcionado pela grande mídia

ou pelas redes sociais, fazer o quê? Você é um daqueles raros "casos perdidos", e estará condenado a passar o resto da vida borbulhando em ódio, correndo o risco de sofrer doenças psicossomáticas como úlcera,

gastrite, pressão alta e, quem sabe, um infarto (bem feito!), por não conseguir ter o mínimo de autocontrole emocional e de capacidade

intelectual.

Mas ao menos tente. Precisamos de cada um dos nossos aliados da

grande mídia, em sua capacidade manipulativa máxima, nessa luta derradeira pela mudança do governo central.

Importante

Estamos liberando, de início, a parte explicativa do Curso, com suas 129 páginas. A parte prática será liberada nas próximas semanas, ainda a tempo de permitir a aplicação antes do segundo turno das eleições (e antes

das reações definitivas a estas). O hiato é importante para que a base seja bem assimilada por nossos alunos.

Leia com calma, aos poucos, porque esse material, além de secreto, é extremamente elucidativo do tempo presente na grande mídia e na política

nacional.

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A IMPORTÂNCIA DO ÓDIO PARA O SUCESSO DA MANIPULAÇÃO POLÍTICA

O "gerenciamento do ódio"

Há um mundo de verdade na frase talvez falsamente atribuída ao presidente Jânio Quadros: "Política é gerenciamento do ódio".

É uma verdade válida para quem está no poder, que deve evitar o ódio da população, e para quem está fora do poder, que deve estimular o ódio

da população contra os ocupantes do poder.

Este não é o momento de dar lições históricas, mas certamente você já

aprendeu o quanto o ódio foi e é importante também nas lutas pela libertação dos povos e nas lutas pela opressão de outros povos.

Se o colonizador não é odiado, o povo colonizado não se mobiliza para expulsá-lo do país. Por outro lado, pense no ódio alemão aos judeus na II

Guerra, por exemplo, ou no ódio americano ao povo muçulmano, atualmente, e entenderá por que algumas nações se sentem justificadas em

suas barbaridades.

Agora, um ponto importante: você já pensou em quem gerencia o ódio,

em todos esses casos? Os líderes da luta, sempre. Em nosso caso específico, o do Brasil no presente, esses líderes são os políticos

profissionais e a grande mídia. Se esses líderes forem bem-sucedidos na tentativa de inculcar o ódio nos alvos da manipulação, estarão bem perto da realização de seu objetivo político.

As razões óbvias para a estimulação do ódio

Resumindo, política é luta pelo poder. Luta exige energia, determinação,

esforço incessante. Sem emoção, nada disso se manifestará. E como a nossa luta visa desalojar do poder o grupo adversário, a agressividade,

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logicamente, tem que desempenhar o papel decisivo no resultado. Daí

porque precisamos estimular, em nossos leitores, emoções agressivas contra o grupo atualmente situado no poder central.

Essas emoções, instigadas repetidamente por meio das técnicas ensinadas no Curso Básico de Jornalismo Manipulativo, farão com que os

leitores atuem como cidadãos representantes dos nossos interesses políticos em todo o período pré-eleitoral, e ainda levarão a que estejam do

nosso lado no momento mais importante da luta: a hora do voto.

Um simples sentimento de insatisfação não basta. Esvai-se e resulta em

nada. Uma raiva ocasional, idem. Só haverá garantia da decisiva participação dos manipulados no processo político, tanto antes da votação

quanto no momento do voto, se eles estiverem movidos pelo ódio, uma emoção que impregna a psique a ponto de não mais sair dela.

É por isso que, numa das brincadeiras do Curso Avançado, fazemos nossos alunos repetirem, entusiasmados e em coro: "Mais um que odeia e se emput***, mais um eleitor-robô que obedece".

A razão extra para o incentivo ao ódio

Eleições são apenas um caminho para a conquista do poder central. Dependendo das circunstâncias históricas, o golpe aberto ou o "golpe

branco" (dado pela Justiça) se tornam opções favoritadas, isto é, bem-vindas, na luta política.

Nenhum conjunto de eleitores está mais predisposto a aceitar essas opções radicais do que o grupo de cidadãos impregnados de ódio aos

governantes. Mais que "predisposto", diríamos "sedento".

Jânio de Freitas, sobre os leitores black blocs.

Vindo o pretexto e o golpe, podemos contar com o apoio decisivo desse grupo de cidadãos manipulados. Nem precisamos acrescentar que o apoio

da grande mídia estaria garantido a priori.

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COMO CULTIVAR O ÓDIO NOS CONSUMIDORES DE NOTÍCIAS

Há toda uma arte na estimulação e na fixação do ódio seletivo, por meio da manipulação jornalística. Precisamos não só fazer nossos leitores

sentirem-se mal, muito mal, em reação aos fatos relatados nas notícias, mas também precisamos garantir que reações afetivas como indignação,

raiva e ódio se tornem permanentemente associadas à suposta fonte de seu infortúnio, a ponto de serem exercitadas espontaneamente – ou seja, mesmo quando eles não estão sob o efeito direto de nossas técnicas

manipulativas.

Para que você entenda o sentido real do que já vem fazendo ao aplicar as

técnicas ensinadas no Curso Básico, trataremos agora, ponto a ponto, da estratégia de estimulação e impregnação do ódio nos alvos de sua

manipulação jornalística.

1. O POÇO HUMANO DE INSATISFAÇÕES

Talvez esta seja a mais politicamente incorreta de todas as verdades sobre o ser humano: cada um de nós tem, dentro de si, um poço bem fundo

de insatisfações pessoais.

Essa verdade, embora negada pelo cidadão comum, foi reconhecida por

intelectuais e estudiosos da psique humana. Não por outro motivo, Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, escreveu a obra O Mal-Estar na Civilização.

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Observe ao seu redor a busca humana desesperada por esse estado

abstrato e ilusório chamado "felicidade". Lembre-se das religiões oferecendo conforto e milagres para os sofredores, das drogas que fazem alguém

entrar imediatamente em um estado paradisíaco, da comida que proporciona satisfação imediata para tantos gulosos, do sexo e seu alívio bem-vindo de tensões, entre outras situações semelhantes.

Um observador atento do comportamento humano perceberá que, mais

do que a busca por hipotéticos estados "positivos" ou agradáveis de ser, esses esforços revelam a intenção de fuga a um estado "negativo" ou desagradável, realmente vivenciado por essas pessoas.

Esse estado psicológico, geral e difuso, é resultante do acúmulo de

insatisfações na pessoa, ao longo de toda uma existência. Se quisermos resumir o estado de modo simples, a frase ideal seria: "Não estou nem um pouco satisfeito com a minha vida".

É esse estado que motiva a busca incessante de prazeres, como se eles pudessem magicamente eliminar a insatisfação existencial. Quem disse que

o ser humano é um ser racional? Parafraseando Descartes: "Sofro, logo insisto". Na direção errada.

Não há manipulador social, consciente ou intuitivo, que desconheça essa triste verdade humana.

Imagine um cidadão realmente feliz da vida: não haverá ninguém mais

imune às inúmeras técnicas empregadas pelos enganadores de todas as áreas da manipulação social. Tente fazê-lo odiar um partido, tente vender-lhe um produto "milagroso", tente fazê-lo entrar para uma seita, tente fazer

com que siga uma "fórmula infalível" para o sucesso profissional.

Ele responderá ao seu melhor esforço com um leve sorriso de compreensão e um juízo nada elogioso sobre suas intenções, sua inteligência ou seu caráter.

O "gancho" de qualquer manipulador sempre será uma fraqueza do seu

alvo, e a fraqueza mais óbvia é a insatisfação com a vida pessoal.

É importante ver o consumidor de suas notícias como alguém que pensa

estar encobrindo com perfeição esse segredo de polichinelo: ele sofre por ser uma pessoa frustrada.

Na prática, essa fraqueza essencial se manifesta como uma predisposição para aceitar qualquer convite razoavelmente bem formulado no sentido de

uma satisfação importante: "Quer (x)? Siga por aqui". Preencha o X do modo como quiser, desde que seja a satisfação de uma necessidade humana. Obviamente, só aceita um convite desses quem não se sente

satisfeito.

Se quiséssemos realmente ajudar outras pessoas, não ofereceríamos satisfações ilusórias. Ao contrário, ensinaríamos esse processo de exploração de insatisfações pessoais, tornando-as conscientes de como é

fácil prometer aquilo que não será cumprido, e de como é rápido ceder à promessa de satisfação garantida.

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Nesse caso, perderíamos uma oportunidade garantida de manipulação –

o que seria lamentável.

Esta é a primeira lição, justamente por ser a mais importante de todas.

Lição número 1 – A insatisfação existencial

"A principal fonte de toda indignação, raiva ou ódio político que você possa gerar em seu alvo sempre será humana, e não política: o poço

interno de insatisfações existente dentro de cada um de nós".

2. A FRUSTRAÇÃO ADICIONAL

Entendido esse primeiro ponto, surge a questão: Como acessar esse poço de insatisfações pessoais e usá-lo na manipulação política?

Existe uma ponte mágica para o poço: uma nova frustração qualquer.

Observe que o conteúdo mais profundo do "poço" é justamente este: frustrações pessoais. De onde vêm as insatisfações pessoais? Obviamente,

da frustração de necessidades tidas como importantes. Por exemplo, uma pessoa está amorosamente insatisfeita por quê? Por que se sente frustrada

em suas necessidades amorosas.

As experiências de frustração sempre geram insatisfações, que

permanecem ativas até a satisfação das respectivas necessidades.

Para ter acesso pleno ao poço de insatisfações pessoais devemos acessar

seus níveis mais profundos, ou seja, o nível das frustrações pessoais, a origem das insatisfações.

Nesse caso, iguais se atraem: ao conseguir fazer o leitor vivenciar uma frustração qualquer, associada à política, você estará automaticamente

estimulando todas aquelas frustrações pessoais dele, e consequentemente tornando-as uma fonte de sentimentos disponíveis à manipulação, a

começar das insatisfações pessoais (derivadas dessas frustrações).

Veja como é conveniente acessar esse "poço", no caso de direcionamento

do cidadão contra determinada pessoa ou grupo.

Muitos conhecem o axioma psicológico: "Frustração gera agressão". Se uma pessoa realmente vivencia a frustração de uma necessidade importante como resultado de sua manipulação, ela automaticamente se

encontra predisposta a reagir a esse fato (real ou fictício) com pensamentos e ações agressivas.

E se essa frustração for associada a um responsável (a pessoa ou grupo visado pela manipulação política), obviamente a predisposição à agressão

terá como alvo o suposto responsável.

Este esquema já deve ser de fácil compreensão para você:

Necessidade => frustração => insatisfação => predisposição à agressão.

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E ele é de grande utilidade a um manipulador social.

. Pode-se atuar sobre o ponto 1 (a necessidade), prometendo uma

satisfação garantida. É o que fazem os criadores de produtos "milagrosos", em qualquer de suas áreas de atividade. Pense em "autoajuda".

. Pode-se atuar sobre o ponto 2 (a frustração), ativando-a no sentido de produzir os dois efeitos seguintes, como o fazemos em nosso trabalho de

manipulação.

. Pode-se atuar sobre o ponto 3 (a insatisfação causada pela demora na

satisfação ou por algum bloqueio persistente), explorando o sofrimento humano. Pense em "Fala, que eu te escuto".

. Pode-se atuar sobre o ponto 4 (a predisposição à agressão), criando um contexto em que a livre manifestação de ímpetos destrutivos seria

compreensível e até inevitável. Pense no incentivo aos linchamentos reais e virtuais.

Em nosso Curso Avançado vamos além do famoso axioma psicológico, ensinando que: "Sem frustração não há agressividade, sem agressividade

não há ódio, sem ódio não há fixação da natureza perversa do inimigo". Como você aprenderá mais à frente, é preciso odiar para demonizar. E tudo depende desse esquema.

Lição número 2 – A vivência imposta de uma frustração

"A primeira obrigação do manipulador político é lembrar ou criar uma frustração na consciência do manipulado, gerada por uma necessidade

importante insatisfeita".

3. A AMEAÇA AO BEM-ESTAR PESSOAL

Imagine qualquer situação em que alguém parta para um ataque verbal ou físico contra outra pessoa.

Agora verifique a validade desta afirmação: a pessoa agredida sempre estará associada, na mente do agressor, a uma frustração intensamente

vivenciada por ele.

Não importa a origem dessa frustração que levou à agressão do suposto responsável. Pode ter sido um xingamento, uma agressão física, um roubo, um bloqueio a uma ação importante, um prejuízo financeiro – alguma

necessidade pessoal foi gravemente afetada e, por conseguinte, alguma violação ou ameaça de violação ao bem-estar pessoal estava em jogo.

A pessoa só foi atacada, nesse caso, por ser vista como a responsável pela origem da frustração: ela causou a ofensa moral, a agressão física, a

perda, o bloqueio, ela gerou o prejuízo financeiro etc. Ela frustrou alguma necessidade básica, afetando fortemente o bem-estar da pessoa atingida

pelo ato.

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Vale lembrar que todos temos a expectativa de manutenção do bem-

estar pessoal, ou seja, da satisfação das necessidades básicas. Quando essa expectativa subitamente é violada, vivencia-se uma frustração.

Além disso, quando alguém se sente prejudicado como na situação descrita acima, é natural que atribua a quem o prejudicou um caráter

perverso. Atos definem pessoas. Se agiu desse modo, é desse modo.

Vamos a outro esquema simples e muito importante:

Caráter perverso, intenção ou ato maldoso, ou ato desastroso =>

Ameaça ou violação ao bem-estar pessoal => Necessidade afetada =>

Sentimento de frustração.

Toda manipulação política bem-sucedida capricha nestes pontos:

(1) Atribui a uma pessoa ou a um grupo político um caráter perverso, uma intenção ou ato maldoso, ou um ato desastroso;

... e afirma, para o leitor, que...

(2) Essa pessoa ou grupo é responsável por alguma ameaça ou violação

importante ao seu bem-estar pessoal: ou seja,...

(3) Ela frustrou, frustra ou frustrará uma necessidade importante do leitor.

Uma palavra sobre "ato desastroso". Em política, é comum a técnica de atribuir incompetência ao adversário. Afinal, ele ocupa um posto (ou

pretende ocupá-lo), no qual terá de exibir competência. Atribuir ao adversário qualquer ato desastroso que gere consequências sérias na vida dos cidadãos funciona politicamente somente por causa desse efeito.

O item 3, acima, é um componente fundamental da fórmula usada para implantar uma frustração na consciência do manipulado e para, por meio

dela, acessar seu poço pessoal de insatisfações.

Desenhando em palavras a vivência do manipulado:

"Essa pessoa ou esse grupo me fez, está fazendo ou fará mal".

O manipulador que pretenda direcionar os sentimentos agressivos de

alguém contra outra pessoa ou grupo precisa criar essa impressão de verdade (externa), ou essa experiência de crença (interna), no manipulado. Precisa fazê-lo crer que uma violação ao seu bem-estar aconteceu, está

acontecendo ou acontecerá à sua pessoa.

Você aprenderá mais à frente que este é também o conteúdo primário do

"transe manipulativo" e a principal fonte do estresse contínuo que a manipulação eficiente consegue produzir nas pessoas manipuladas.

Pense bem: como alguém conseguirá mobilizar outra pessoa para que responsabilize e ataque um alvo, sem que esse alguém se sinta frustrado

em alto grau por esse mesmo alvo?

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Lição número 3 – A violação ao bem-estar pessoal

"Uma vivência de frustração que possa gerar agressão depende de dois

fatores associados: (1) um caráter perverso, uma intenção ou ato maldoso, ou um ato desastroso de responsabilidade de outra pessoa, o qual (2) represente uma ameaça ou violação importante ao bem-estar pessoal da

pessoa prejudicada".

4. O RESPONSÁVEL PELA FRUSTRAÇÃO

Este ponto é fácil de deduzir: o responsável por essa ameaça ou violação, e, portanto, pela frustração do leitor, sempre será a pessoa ou grupo que

desejamos minar ou eliminar, politicamente.

Em nosso Curso Avançado, ensinamos a jamais criar uma manchete, um artigo ou mesmo uma notinha manipulativa sem que se tenha respondido a estas quatro perguntas (relativas aos quatro componentes iniciais do transe

manipulativo):

1. Você atribuiu um caráter perverso, uma intenção ou um ato maldoso,

ou um ato desastroso, ao inimigo?

2. Você fez o leitor vivenciar uma grande ameaça ou violação ao próprio bem-estar, como efeito do ponto 1?

3. Que necessidade importante do leitor está sendo frustrada por esse inimigo dele?

4. Quão intenso, nesse leitor, será o sentimento de frustração?

O dedo do manipulador aponta para um adversário político e passa a mensagem: "Você é mau por natureza, ou é o responsável por uma intenção ou ato maldoso, ou por um ato desastroso que afetou, afeta ou

afetará imensamente o bem-estar do leitor".

Nos três casos possíveis, o leitor precisa vivenciar a frustração de uma necessidade pessoal importante, para então aceitar a existência de um grande prejuízo para si mesmo e a responsabilização de quem

supostamente lhe causou esse prejuízo.

Lição número 4 – A responsabilização do adversário político

"Toda iniciativa de manipulação jornalística de sua parte deve atribuir ao

nosso adversário político, ao máximo grau possível, um caráter perverso, uma intenção ou um ato maldoso, ou um ato desastroso, que ameace ou

viole o bem-estar dos leitores".

5. O APROVEITAMENTO DO POTENCIAL DE REAÇÃO AGRESSIVA

Se conseguimos realizar com perfeição as atividades já mencionadas, o manipulado terá passado por todos os pontos abordados acima. São eles:

Page 30: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Conteúdo específico da manipulação

Pessoa ou grupo político visado + Caráter perverso, intenção ou ato

maldoso, ou ato desastroso

Efeito da manipulação no manipulado

Ameaça ou violação importante ao bem-estar pessoal + Necessidade afetada + Intenso sentimento de frustração

Estimulação do poço pessoal de insatisfações

Vivência muito desagradável de perigo, frustração e insatisfação

Predisposição à agressão

Explicando bem:

Conteúdo específico da manipulação

Apresentamos ao leitor algum conteúdo em que se atribui a pessoa ou grupo político um caráter perverso, uma intenção ou um ato maldoso, ou um ato desastroso.

Efeito da manipulação no manipulado

Esse ato representa uma grave ameaça ou uma grave violação ao bem-estar do leitor, por afetar importante necessidade pessoal. Em

consequência, geramos no leitor um intenso sentimento de frustração.

Esse sentimento reativa naturalmente seu "poço pessoal de

insatisfações", levando a uma vivência quase insuportável caracterizada por um misto de sensação de perigo (derivada da ameaça ou violação), certeza

de frustração de uma necessidade importante e experiência de insatisfação.

A função do poço pessoal de insatisfações torna-se bem clara: ele

potencializa a intensidade da frustração presente, como resultado da ativação das frustrações e insatisfações passadas do leitor. Nós obrigamos o

leitor a vivenciar novamente o estado de insatisfação existencial, para que possamos explorar o sofrimento no sentido dos nossos interesses.

Predisposição à agressão

Para se livrar do incômodo quase insuportável na consciência, atribuído à

pessoa ou grupo político visado pelo manipulador, o manipulado se sentirá disposto a atacar imediatamente o responsável pela ameaça ou violação ao

seu bem-estar e por esses sentimentos intensamente desagradáveis.

Validação e incentivo à agressão

Page 31: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Entra em cena, novamente, o manipulador, proporcionando a "válvula de

escape" ou o canal de expressão por onde o manipulado expressará sua insatisfação, indignação, agressividade ou, até mesmo, o seu ódio.

A primeira providência será validar psicologicamente a predisposição e, como efeito dela, a expressão dos sentimentos agressivos.

Muitos devem se lembrar do mais famoso VTNC da política nacional, e de

como imediatamente a grande mídia correu para validar, no dia seguinte, em suas manchetes, a manifestação "popular", justificando ou mesmo louvando a histórica exibição internacional de ausência de parâmetros

civilizatórios (custamos para encontrar esse eufemismo).

A mensagem transmitida por qualquer validação de ato agressivo dos

manipulados é sempre a mesma: "É isto que nós queremos de vocês. Continuem".

A segunda providência será ensinar ao manipulado como ele deve expressar essa agressividade, para que possamos obter o máximo efeito

possível na intenção de fustigar ou minar nosso adversário político.

Essa função é cumprida diariamente pelos instigadores da Sombra (isto é, do lado sombrio dos leitores), os famosos colunistas pitbulls, com seu proverbial descaso pelo respeito ao adversário, suas palavras de ordem,

frases acusatórias, substantivos desqualificadores e xingamentos repetitivos, reproduzidos acriticamente pelos leitores fiéis.

Foi uma decisão sábia da grande mídia promover, para o exercício dessa função, um "mix" de jornalistas, artistas, escritores, poetas, músicos etc.,

passando a falsa impressão de que toda a sociedade está ali representada, e de que ela, por inteiro, abona esse tipo de comportamento antissocial.

Sabemos que você, imediatamente, será capaz de lembrar vários nomes que se encaixam na descrição acima.

Lição número 5 – A validação e a moldagem da agressão

"Criada a predisposição à agressão, ela receberá livre trânsito, sendo aproveitada pelo manipulador por meio:

1. Da validação dessa experiência, com argumentos, justificativas etc.;

2. Do oferecimento de exemplos práticos sobre como expressar a raiva ou o ódio contra o alvo escolhido por nós".

6. A CRIAÇÃO DO HÁBITO

A exposição diária ao jornalismo habilmente manipulativo gera vários

efeitos nos manipulados. Mais à frente analisaremos os diversos efeitos danosos. Agora importam apenas os efeitos favoráveis à nossa atividade.

1. A demonização do alvo.

Page 32: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A demonização de um ser humano depende de uma negação e de uma

afirmação. A negação cria a lacuna que será preenchida pela afirmação.

A negação corresponde à desumanização. Desumanizar uma pessoa significa negar-lhe certas qualidades e atributos básicos a um ser humano normal – notadamente, as qualidades e atributos positivos. Essa negação

cria uma lacuna: a pessoa desumanizada não é o que as outras pessoas normais são. E o que iremos colocar no lugar dessa lacuna?

A afirmação corresponde à demonização propriamente dita. Demonizar uma pessoa significar atribuir-lhe certas qualidades e atributos próprios de

alguém "dominado pelo demônio", ou seja, pelo Mal. É importante que essa atribuição gere, na mente do leitor, a impressão de se tratar de um ser

humano "estragado", "perdido", totalmente comprometido com o lado sombrio da vida.

a) A desumanização do inimigo.

Todo inimigo é desumanizado. Portanto, para criar um inimigo, primeiro

desumanize uma pessoa.

O título e o subtítulo mostrados na imagem da capa seguinte dizem tudo: "Desumanização – Como se Legitima a Violência".

Outro título e subtítulo do livro que mostram bem a importância da negação da humanidade alheia, para que se permita a expressão dos mais

selvagens instintos humanos. "Menos do que Humano – Como Nós Rebaixamos, Escravizamos e Exterminamos Outras Pessoas".

Page 33: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Em nenhum momento devemos atribuir a nossos adversários políticos

qualquer qualidade humana positiva. Eles devem ser um vazio daquilo que apreciamos em outros.

Lembre-se de todas as manchetes e matérias relativas ao ex-presidente Lula. Tente se lembrar de uma única qualidade admirável reconhecida pela

grande mídia nesse político, nos últimos anos.

Nas raras vezes em que uma qualidade humana positiva precisa ser

associada ao inimigo, sempre haverá a "explicação" necessária, o "mas" depois do "sim", expondo o interesse obscuro, a agenda oculta, a prática

demagógica, a exploração da credulidade alheia etc., que estaria por trás daquela suposta qualidade apreciável.

Tente pensar em qualquer alvo demonizado pela grande mídia e veja se consegue imaginar essa pessoa agindo como uma pessoa normal: alguém

que, como você, acorda para um novo dia, tem seus problemas pessoais, possui qualidades admiráveis, sacrifica-se eventualmente por familiares, busca fazer o melhor, é atormentado aqui e ali pela consciência moral, tem

hábitos que não consegue controlar...

Acho que você não conseguiu. Esse é um indício claro de sucesso da

manipulação: essa pessoa foi desumanizada, sistematicamente, a ponto de não mais pensarmos nela como um ser humano normal.

Page 34: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

"Um experimento para os bobalhões da internet: imaginem só por um

minuto que as celebridades que vocês fazem de tudo para insultar sejam seres humanos reais".

b) A representação demonizada do inimigo.

Pare e pense: como os linchadores da vida real pensam no alvo de seu ódio?

Agora imagine esse mesmo alvo de violência, mas pense nele como um ser humano normal – embora possa ter cometido algum ato reprovável. Você conseguiria vê-lo como alguém merecedor de espancamento coletivo

seguido de morte?

Um alvo de linchamento virtual ou real não pode ser representando mentalmente, ou seja, imaginado, concebido em pensamento, como um ser humano normal. Porque, se o for, a mente humana não deixará que você

tenha, em relação a ele, sentimentos e comportamentos típicos de linchador.

Sabe por quê? Porque é exatamente esse o modo como você se representa, ou como você pensa em si mesmo: ou seja, como um ser

humano normal, digno, que às vezes comete algum erro grave – mas que é essencialmente bom.

Se sua mente permitisse que você atacasse cruelmente alguém nessas mesmas condições, ela estaria abrindo a brecha para que todo o seu

potencial de agressividade se voltasse contra você mesmo. Pau que dá em Chico, dá em Francisco. Mas pau que dá em Osvaldo, não dá em Francisco

ou Chico. Não é fácil entender?

Para liberar em si mesmo sentimentos e comportamentos bárbaros em

relação a uma pessoa, você tem que pensar nela de um modo bem diferente daquele em que pensa em si mesmo. E esse modo de pensar

precisa ser a porta de entrada para aqueles sentimentos e comportamentos selvagens. A porta de entrada, no caso, é a demonização do outro.

A representação da pessoa demonizada precisa ser bem diferente, em natureza, da sua representação de você mesmo. Em essência, esse modo de pensar sobre o outro precisa atribuir-lhe uma natureza desumana e um

caráter mau e irreversível. Já em nosso caso, pensamos em nós mesmos como humanizados, bons e dotados da capacidade de correção, em caso de

erro.

Page 35: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

No Curso Avançado ensinamos a fórmula "Reagimos ao que pensamos

ser verdade". Para fazermos nossos leitores reagirem a nossos adversários políticos com ódio, precisamos caprichar no quesito "representação dos

inimigos". Nossos leitores precisam pensar neles como pessoas más a ponto da desumanidade – e, além disso, como pessoas incorrigíveis. Demônios humanos, na verdade.

Quando conseguimos implantar essa distinção na mente dos

manipulados, ou seja, a separação estanque entre o modo como eles, nossos "indignados úteis", se veem, e como veem seus alvos políticos, estamos também tomando uma medida imprescindível para garantir a

sanidade mental dos nossos apoiadores. Essa proteção psicológica irá permitir que eles continuem sendo instrumentos valiosos aos nossos

propósitos. Afinal, não queremos formar uma geração de indignados úteis pirados (embora alguns professores suspeitem ser exatamente isso o que esteja acontecendo).

E como produzimos o efeito de demonização? Desumanizando o inimigo

repetidamente, ao longo do tempo, num bom número de situações, quase sempre muitos importantes. Atribuindo-lhe sempre intenções malévolas, a autoria de atos perversos ou criminosos, e reafirmando a sua incompetência

incorrigível.

Quando um alvo político é repetidamente, durante meses ou anos, acusado de ter caráter perverso, de ser responsável por intenções ou atos maldosos, de perpetrar atos maldosos e de tomar medidas desastrosas ao

bem-estar de uma população, esse alvo político tende a ser visto como o suprassumo da maldade e da incompetência. Em termos simples, ele se

torna demonizado.

Carlos Brickmann, sobre as campanhas de desmoralização de inimigos da

imprensa.

Este é o critério definitivo de uma boa campanha: o alvo, mesmo

inocentado de tudo, continua sendo visto como a essência do Mal pela opinião pública.

Todas as características positivas da pessoa restam eliminadas. Sobra apenas o lado do Mal. Ela é, em essência e plenamente, somente aquilo

mostrado sobre ela, aquele símbolo de tudo-que-há-de-pior-no-mundo. Em nosso Curso Avançado chamamos esse procedimento de A Técnica do Vilão Perfeito, modelada a partir de filmes norte-americanos. Você sabe: se no

final da história o vilão cai num tanque de ácido sulfúrico, a plateia vibra de alivio, prazer e sadismo justificado.

O povo criou o ditado "Cão danado, todos a ele", que reflete muito bem esse estágio da manipulação política: a partir da demonização de uma

pessoa ou grupo, torna-se habitual e instantâneo responsabilizá-lo por tudo

Page 36: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

e nada, a partir de qualquer boato, rumor, suposição, acusação caluniosa,

manchete manipulativa ou notinha safada.

Nos últimos anos, temos acompanhando a extraordinária disseminação do meme "É culpa do PT", partido que já foi responsabilizado por todos os males imagináveis, desde a falência de uma universidade estadual de São

Paulo até a queda misteriosa de um avião no Sudeste Asiático.

Em nosso Curso Avançado ensinamos uma musiquinha composta por um de nossos professores, a qual ilustra bem a gama infinita de possibilidades de responsabilização já utilizadas pela grande mídia e por nossos

apoiadores nas redes sociais. Ela é composta apenas de dísticos (estrofes de dois versos), nos quais o primeiro verso é um problema social, uma

tragédia, um inconveniente qualquer na vida pessoal etc., e o segundo verso diz: "É culpa do PT". Após cada dístico, aparece no telão a prova da "culpa". As risadas são inevitáveis.

Só duas estrofes, oferecidas como uma palinha (já estamos no limite da irresponsabilidade em termos de revelação do conteúdo do Curso

Avançado):

É CULPA DO PT!

"Se meu time é uma m****,

É culpa do PT! "

"Se caiu o viaduto,

É culpa do PT!"

O refrão, cantado após quatro dísticos padrões, também é um dístico:

"Só petralha é que não vê:

Page 37: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

É culpa do PT!".

Temos certeza de que você poderá criar mais de uma dúzia de dísticos

padrões apenas recorrendo a lembranças de responsabilizações recentes na grande mídia.

Copiado da Web.

Demonizado um alvo, resta apenas contar o número de acusações e

atribuições maldosas que ele ou seus defensores receberão, com ou sem motivo.

Page 38: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Qualificações pejorativas destinadas ao psicanalista Christian Dunker em

caixa de comentários, por ter ousado criticar o blogueiro direitista Rodrigo Constantino, da revista "Veja".

http://blogdaboitempo.com.br/2014/07/07/ilustrando-a-barbarie-treplica-a-rodrigo-constantino/

A prática de responsabilização do inimigo pode chegar a um ponto

obsessivo. Delírios acontecem:

Page 39: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Comentário sobre a decisão de um desembargador da Justiça do Rio.

Page 40: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Reação de muitos tuiteiros ante a notícia da trágica morte do candidato

Eduardo Campos, quando todas as análises dos especialistas davam a presidenta como a principal "perdedora" política com o acidente.

Esse comportamento dos manipulados exemplifica a perfeita assimilação do conteúdo político que lhes foi imposto e constitui admirável feito da parte

dos manipuladores. Obviamente, o exagero sempre é perceptível, e logo se torna alvo fácil para a ironia alheia.

Copiado da Web.

No plano internacional, exemplos clássicos de demonização do inimigo

são o modo como o norte-americano médio pensa sobre os muçulmanos (leia-se "terroristas islâmicos em potencial"), o modo como os israelenses

pensam sobre os palestinos e a campanha da mídia dita "ocidental" na crise da Ucrânia, em que o presidente russo Vladimir Putin foi retratado como o

demônio em pessoa e acusado, sem provas, da derrubada de um avião civil.

Como se percebe, a demonização do Outro é a porta aberta para todo o

lixo interior do lado sombrio de quem demoniza o adversário. Não há mais limites para o desejo e a ação (sempre violenta) de quem se sente justificado a atacar um alvo demonizado.

Essa constatação é muito importante: você não conseguirá que alguém

despeje a própria maldade interna sobre outra pessoa a menos que aquela pessoa seja, para esse alguém, o equivalente ao Mal: um ser humano perdido e irrecuperável, o suprassumo da ruindade (corrupto, pervertido,

seja lá o que for) ― o próprio demônio na Terra.

A demonização é o meio; o fim é o seu efeito no manipulado: a liberação plena da agressividade. É a demonização de um ser humano que leva, na internet, ao linchamento virtual, e que leva, na vida real, ao linchamento

"ao vivo".

Page 41: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Em resumo, a demonização é o ponto final do processo de representação

degradante do adversário. Como tal, nós a consideramos um objetivo altamente louvável da manipulação política.

Trecho de post do comentarista Esfinge, no Jornal GGN.

http://jornalggn.com.br/noticia/o-eleitor-difuso-esta-e-a-discussao-relevante-a-equacionar-por-esfinge

2. A rapidez da resposta dos manipulados.

Quando o leitor é exposto inúmeras vezes à sequência de passos manipulativos ensinada mais acima (da leitura da notícia à liberação da

agressividade), um efeito muito útil se manifesta: torna-se cada vez mais fácil estimular o poço de frustrações pessoais desse leitor. O processo se torna cada vez mais rápido, desde a reestimulação até o ataque. Ao

começar a ler a manchete, o post, o comentário, a notinha, o leitor já se sente predisposto a responsabilizar o alvo escolhido por nós e a liberar a

agressividade contra ele.

Page 42: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

3. O hábito que se torna vício.

Criado o hábito, deseja-se, naturalmente, mais do mesmo. Em muitos

manipulados, o hábito se torna vício: cria-se a dependência de uma dose diária de liberação da agressividade contra os alvos que escolhemos.

Na luta política, nem mais um velório é respeitado.

Alguns colunistas, mesmo sendo nossos simpatizantes, já sentiram na

pele esse efeito, ao ocasionalmente elogiarem algum integrante do governo. As acusações de mudança de lado são seguidas de uma chuva de impropérios que chega a assustá-los a ponto de gerar textos históricos.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/2014/05/1458088-com-odio-e-com-medo.shtml

A mensagem dos manipulados é clara: "Eu vim aqui para agredir, e você

quer que eu elogie? Então você será o agredido. Toma!".

É como se dissessem: "Desde quando um alvo demonizado possui

alguma qualidade humana?"

Page 43: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A lição aprendida por esses jornalistas? Nenhuma oportunidade de

responsabilização e agressão deve ser perdida pelo manipulador.

Alguns dos nossos alunos tiveram de aprender essa lição básica no susto.

4. A autonomia obediente dos manipulados.

O ápice da manipulação bem-sucedida é a condição curiosamente denominada, por um de nossos psicólogos, como "autonomia obediente". O

manipulado não mais depende de nossas iniciativas para propagar a nossa luta. Ao contrário, ele toma iniciativas no trabalho, na família, nas redes

sociais e nas ruas no sentido de defender nossos interesses, defendendo quem defendemos e atacando nossos adversários e, especialmente, quem os defende.

À primeira vista parece um ser autônomo, mas se observarmos suas

falas, seus textos e seus cartazes, perceberemos que nada ali escapa daquilo que assimilou de nós: os mesmos argumentos, as mesmas palavras de ordens, os mesmos substantivos depreciativos, os mesmos xingamentos

e, principalmente, os mesmos alvos.

Roboticamente, o "autônomo obediente" interpreta tudo o que acontece no mundo segundo o enquadramento que nós estabelecemos nas centenas de matérias lidas por eles.

E, por serem obedientes na orientação básica, também são bons para

obedecer ordens. Um exemplo:

Atualizando: foram 6 posts que incitavam os seguidores a atacar o

jornalista.

Lição número 6 – A criação dos hábitos de responsabilização e de

agressão

"A repetição do procedimento de responsabilização e de incentivo à

agressão deve levar, idealmente, à demonização do adversário e à formação de 'autônomos obedientes', no sentido dos nossos propósitos

políticos".

7. A EXPLORAÇÃO DO HÁBITO

A Lei do Aproveitamento, ensinada em nosso Curso Avançado, é de simples compreensão: "A predisposição ama a oportunidade".

Ao criarmos, no leitor, o hábito da responsabilização seguinda de agressão, estamos produzindo uma predisposição mais elaborada (e mais

útil aos nossos propósitos) do que a predisposição inicial à agressão

Page 44: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

derivada de suas insatisfações na vida: agora, o leitor se encontra

predisposto a agredir os alvos que nós escolhemos.

Essa nova predisposição estará, portanto, acessível ao aproveitamento pelo manipulador experiente. Aproveita-se a predisposição focada seguindo-se lei exposta acima, ou seja, oferecendo-se muitas oportunidades ao leitor.

É amplo o repertório disponível à grande mídia, e realmente usado nesse

oferecimento. Basta consultar o nosso Curso Básico de Jornalismo Manipulativo. Mas queremos destacar alguns recursos que servem para aproveitamento imediato, por serem sintéticos e adequados aos tempos

modernos:

. Manchetes acusatórias (sobre fatos reais ou forjados).

Não se preocupe: ninguém lerá a matéria, e muito menos o desmentido baseado em informações fatuais.

. Manchetes editorializadas.

Page 45: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Na manchete editorializada oferecemos o leitor não só o "fato", mas também os "argumentos" que ele deverá usar para divulgar o erro do

adversário.

. Titulos de colunas.

As colunas não têm o ranço do "dono do veículo", portanto servem de canal de convencimento mais palatável ao grande público.

. Notinhas de colunistas.

Page 46: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A nova geração gosta de ler um pouco de cada vez. Isso faz com que as colunas, com suas notinhas, sejam um recurso ótimo para divulgação e

disseminação de notícias contra nossos adversários.

. Imagens editorializadas.

A foto escolhida para ilustrar a previsão de derrota deve combinar com a mensagem do título, visando gerar nos leitores a reação óbvia de "Se

f****!".

Melhor ainda se a imagem nem precisar de contexto explicativo. Que tal

esta?

Page 47: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Foto de Daniel Ferreira na capa do "Correio Braziliense" (8/9/2014).

. Frases retiradas do contexto.

Aliás, esta é a única situação em que permitimos a presença da palavra

"Lula" em título de matéria jornalística.

. Tuítes.

Page 48: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Repare na importância de fornecer ao leitor comum um lembrete

constituído de expressão curta que será usado na divulgação da notícia: "falha de Dilma", "discurso do medo", "censura democrática", "volta, Lula", "derrota de Dilma", "parar de reclamar", "briga de classes", "uso político".

Essas categorias de estímulos simples e rápidos geram imediata reação

por parte dos leitores já treinados a responderem à manipulação do modo como nós desejamos. Em notícias más ou boas para nossos adversários, nossos "autônomos obedientes" sempre estarão presentes.

Na verdade, em qualquer notícia:

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Internauta culpando o PT pela "presença" do vírus Ebola no Brasil.

Ou em qualquer oportunidade:

Comentário sobre um vídeo do YouTube.

Page 50: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Comentários em matéria sobre o programa "VídeoShow".

Comentário sobre o artigo "Querida, destruí o Universo", a respeito de declarações do físico inglês Stephen Hawking.

Comentário sobre um vídeo do funk.

Eles não perdoam nem anúncios de CDs.

Page 51: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

E veem petistas maldosos tem todos os lugares.

Bem, nem só a turma da internet possui esse foco obsessivo e disseminado (e esse é o problema). Duas, digamos, jornalistas:

Leia Ucrânia em Hungria. E ela tem, sim. O cacife não é propriamente político, mas bélico. Seu Vlademir, Vlademir...

O reforço contínuo da fórmula da manipulação, em textos da grande mídia, aprofunda a demonização do alvo, aumenta a rapidez da resposta

(ou seja, diminui o tempo entre a leitura e a liberação da agressão), transforma o hábito num vício e, por fim, tende a criar uma legião de

"autônomos obedientes" aos nossos interesses políticos.

Resumindo, poderíamos dizer que as três funções básicas do manipulador

político são:

Page 52: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

1. Criar a predisposição focada em quem ainda não a possui;

2. Fornecer oportunidades frequentes de expressão dessa predisposição,

a quem já a possui;

3. Intensificar a predisposição focada, a ponto de tornar a

responsabilização seguida de agressão um hábito (ou, melhor ainda, um vício) da pessoa manipulada.

Lição número 7 – O estágio do vício

"Manipulados são como cãezinhos: é importante reforçar, a cada oportunidade, a lição ensinada aos leitores já amestrados, até que o hábito se torne um vício".

8. A EVOLUÇÃO PARA O ÓDIO

Nem seria preciso mencionar que a continuidade desse processo, do lado do leitor, tem início na insatisfação, passa pela indignação, leva à raiva e chega, por fim, ao ódio.

O ódio é a resposta psicológica à demonização do oponente político.

Quando esses dois fatores entram em campo (a demonização do oponente e o ódio sentido por ele), está garantida a liberação plena da agressividade pessoal. Se alguém sente ódio por alguma pessoa ou grupo visto como o

suprassumo da maldade ou da incompetência, tudo é justificável a seus olhos. O "ataque ao cão danado" é uma situação fora dos limites da

civilização.

Page 53: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

O ódio não exige lógica de si mesmo.

As frases sábias do Twitter que só valem para os leitores.

Em geral, a agressão plenamente liberada se expressa de dois modos: a catarse odienta e a catarse depreciativa.

A catarse odienta é própria de quem não admite, ou de quem há muito abandonou, qualquer freio moral na luta por seus objetivos. Consiste na

simples liberação não filtrada de todo o lixo interior, e se manifesta por meio das piores acusações, desqualificações, xingamentos e palavrões, não raro chegando-se a desejar publicamente a morte do inimigo.

Todos conhecemos vários internautas que usam como único "argumento", em sua luta política a nosso favor, manifestações de catarse

odienta.

A catarse depreciativa expressa basicamente o mesmo conteúdo, mas de forma supostamente mais civilizada. O ódio é travestido de deboche ou ironia. Um ou outro argumento aparece no meio de acusações e

xingamentos, de modo a garantir um verniz civilizatório aos textos e a manifestar uma presença ainda que tímida da consciência moral do

indivíduo.

Page 54: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Marcelo Tas, deturpando a afirmação de Lula sobre o fim do DEM para

usá-la como base de crítica irônica.

As duas formas de ação servem a nossos propósitos. Não convém ficarmos associados apenas aos pitbulls da política porque isso traria muitas críticas aos defensores de nossos interesses, por parte das pessoas

decentes (sim, elas existem).

Lição número 8 – A convivência justificada com o ódio

"O objetivo final da manipulação política é transformar leitores em

eleitores dos nossos candidatos, mas o objetivo imediato é formar uma legião de 'autônomos obedientes' que se sintam justificados na vivência e na expressão do ódio direcionado aos nossos adversários".

9. A CATARSE PÚBLICA

O momento mais festejado entre os manipuladores políticos é a situação de catarse pública.

Um resultado positivo de nossos esforços, resultado de certo modo trivial, é conseguirmos que determinado grupo de leitores se tornem

"autônomos obedientes" e passem a defender ferozmente os nossos apadrinhados políticos e a atacar barbaramente os nossos adversários políticos.

Outro resultado positivo, bem mais valioso, é conseguirmos que centenas

ou milhares de pessoas expressem simultaneamente o seu ódio, com todas as consequências negativas que essa liberação inconsequente da agressividade possa lhes trazer.

Aqui é preciso distinguir entre manifestações de protesto, que são cíclicas

na maioria das sociedades, e catarses movidas pelo ódio. As manifestações de 2013, no Brasil, foram claramente um momento de desafogo social. Basta lembrar as convocações virtuais de então, que conclamavam "todos

os brasileiros" a saírem às ruas para "protestar contra tudo". Já as catarses movidas pelo ódio são direcionadas e têm relação direta com a manipulação

política antecedente.

Quem não se lembra da noite da eleição da atual presidente Dilma

Rousseff, em 2010? Baseando-se em nossos argumentos manipulativos (em especial, o argumento de que os "nordestinos vagabundos" seriam

responsáveis pela vitória da candidata do PT), as redes sociais xingaram em peso os habitantes da Região Nordeste – para depois descobrirem que, mesmo se o Norte e o Nordeste fossem eliminados do mapa da votação,

Dilma teria vencido o pleito.

Vários internautas foram processados por essas manifestações de ódio, e

alguns deles ficaram com seus nomes tristemente marcados para sempre na memória do grande público.

E no dia da posse da atual presidente? Nova catarse pública, agora desejando o assassinato da suprema mandatária da Nação. Novamente,

Page 55: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

escândalo nacional e internacional, e nova entrada em cena do Ministério

Público que deixou alguns "autônomos obedientes" com a ficha suja.

A mais recente catarse, bem fácil de lembrar, foi a manifestação da torcida no jogo inicial da Copa do Mundo, no Maracanã, que levou para a cesta de lixo da civilização um bom número de colunistas sociais,

apresentadores de programas, subcelebridades globais, socialites, professores, entre outros, que compartilharam orgulhosamente os vídeos da

catarse.

Mais à frente neste Curso, trataremos em detalhes dos danos infligidos

aos "autônomos obedientes".

Lição número 9 – A cereja do bolo da manipulação: a catarse

pública

"O ápice da excelência manipulativa na política é a catarse pública. Não

podemos fazer nada para produzi-la, com segurança, mas seu trabalho deve ter como um dos objetivos contribuir para que um dia ela ocorra, no

sentido dos nossos interesses".

Page 56: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

FATORES FAVORÁVEIS AO SUCESSO DA MANIPULAÇÃO

Os fatores seguintes, quando presentes, ajudam os jornalistas a obter pleno sucesso em sua atividade manipulativa.

Domínio dos principais veículos da mídia

Como se sabe, no Brasil os grandes veículos da mídia são dominados por poucas famílias, unificadas pelo propósito de substituir os atuais donos do poder central. Essa circunstância feliz permite que se estabeleça, na prática,

o pensamento único em suas publicações. O pensamento único é representado por uma interpretação única dos fatos e por um vilão único no

universo político nacional.

Já se tornou corriqueira a situação de manchetes idênticas num mesmo

dia, que parecem ter sido produzidas por uma "central de manchetes" da grande mídia.

Montagem do site Brasil 247

Montagem do site Brasil 247

Page 57: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Montagem da internet

Montagem da internet

Outro exemplo corriqueiro é a participação sequencial de meios da grande mídia na criação e exploração de supostos escândalos que afetam o

governo central.

Como já presenciamos inúmeras vezes, uma revista (que não precisamos nomear) lança o "escândalo", os jornais divulgam o fato com estardalhaço, os telejornais desenvolvem a trama, os jornais repercutem o

desenvolvimento, os radialistas comentam indignados, os colunistas caluniam e xingam os mesmos alvos de sempre – até que o "escândalo"

desapareça após um desmentido categórico da realidade. Passa-se um tempo (bem pouco) até a estratégia ser repetida. Incessantemente.

O domínio dos veículos da mídia, portanto, permite o pensamento único e a exploração organizada dos ataques contra os nossos adversários políticos,

facilitando a nossa tarefa de manipulação jornalística.

Page 58: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Estatísticas feita pela Uerj, comparando o número de manchetes negativas sobre os candidatos à Presidência.

http://www.manchetometro.com.br/

Contágio social

O mais importante (e escandaloso) experimento secreto realizado pelo Facebook (veja o quadro abaixo) comprovou um fato empiricamente

conhecido pelos manipuladores profissionais: emoções são contagiosas.

"Experimental evidence of massive-scale emotional contagion through

social networks" (Evidência experimental de contágio emocional em larga

escala por meio de redes sociais).

http://www.forbes.com/sites/kashmirhill/2014/06/28/facebook-manipulated-689003-users-emotions-for-science/

http://www.pnas.org/content/111/24/8788.full

http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/06/em-experimento-secreto-facebook-manipula-emocoes-de-usuarios.html

Page 59: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Quando se forma a impressão de que "todos" estão fazendo algo

(migrando para uma rede social, tatuando o corpo, optando por um candidato, etc.), a tendência do indíviduo é "ir com a onda", ou seja, fazer o

que "todos" estão fazendo. O experimento do Facebook revelou que esse processo de tomada de decisão também sé dá na área das emoções, além da área dos comportamentos: se "todos" parecem estar num determinado

estado de espírito, o usuário tenderá a adotar aquele mesmo estado de espírito, "positivo" ou "negativo".

O contágio social é justamente o fenômeno psicossocial aproveitado pela grande mídia nestes últimos anos, visando voltar a população contra o

partido que se encontra no poder. Com grande custo e depois de muitos anos, conseguimos criar um estado de espírito pessimista mesmo naqueles

que se beneficiaram das medidas do governo.

Mais de 10 anos de inflação dentro da meta, crescimento econômico, pleno emprego, 30 de milhões de novos consumidores integrados ao mercado e...

Page 60: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A impressão generalizada de que "está tudo ruim" (para não dizer um palavrão), embora a realidade cotidiana esteja muito boa, exemplifica o

conceito de "contágio social" e representa uma vitória significativa dos manipuladores atuantes na grande mídia.

Page 61: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Persistência e congruência

Esses dois fatores estão juntos porque um não funciona sem o outro.

Persistir na manipulação, mantendo o foco insistentemente com o passar dos dias, semanas, meses e anos, quase sempre leva ao convencimento do

manipulado, em especial se ele não tiver outra fonte que contradite a mensagem do manipulador.

Tão importante quanto a persistência é a congruência, isto é, a ausência de mensagens contraditórias. A contradição quebra o encanto em que o

manipulado vivia, embevecido pelas mensagens anteriores do manipulador.

Um exemplo de como não se deve agir:

Até aqui tudo bem: atribuiu-se a outrem aquilo que a própria pessoa faz

(a prática do ódio). O problema é a quebra de continuidade:

Page 62: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Ao personificar a atitude atribuída ao adversário (o ódio), o tuiteiro

desfaz a eficácia do primeiro tuíte. A ilusão de realidade se perde quando alguém se trai no momento seguinte. A congruência, assim como a persistência, é um fator indispensável à boa manipulação política.

Outro exemplo infeliz: compartilhar link de Reinaldo Azevedo para criticar

o uso do ódio na política. Como diz o povo: "Se não gosta de missa, não vá à igreja".

E depois...

E a coerência, como fica?

Page 63: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Como ensinamos no Curso Avançado, a regra seguida pelo bom

manipulador é esta: "Só uma mensagem, repetida à exaustão, sem contradição".

Ausência de referências políticas passadas

Outra circunstância que torna bem mais fácil o nosso trabalho, especialmente em relação aos jovens, é a ausência de referências pessoais

sobre o passado da política nacional.

Já lá se vão quase 12 anos do (cá entre nós) desastroso governo do

presidente Fernando Henrique Cardoso, em que o país quebrou três vezes em seu segundo mandato. Os eleitores de outubro de 2014 que estiverem com 22 anos de idade, tinham 10 anos à época da substituição dos donos

do poder (de FHC para Lula). Ou seja, não viveram ativamente os fatos políticos de então. Sua memória é um vazio propício ao preenchimento

interesseiro.

Cabe a nós, como vimos fazendo corretamente, ocultar ao máximo os

fatos desabonadores do passado e transmitir a impressão de que nenhum outro governo foi tão incompetente e corrupto quanto o atual.

Podemos contar com a proverbial preguiça dos jovens, que têm todas as

fontes disponíveis na Web, mas não verificam nem mesmo a validade das estapafúrdias correntes de e-mail que recebem diariamente.

Page 64: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

http://www.youtube.com/watch?v=Uo5Lj1QtD1o

Desinteresse do brasileiro pela política internacional

Não é segredo de ninguém o desinteresse total do brasileiro médio e da juventude brasileira pela política internacional – justamente a origem das

forças mais importantes do cenário político, em qualquer momento da História.

Daí a facilidade com que são manipulados por grupos e ONGs do exterior, os quais deixam de lado suas funções originais e passam a atuar como representantes de interesses nacionais alienígenas – geralmente, dos

Estados Unidos.

Page 65: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Convocação do Greenpeace, uma ONG ecológica, para manifestação

contra a Copa.

A aceitação passiva desses chamamentos já gerou situações tragicômicas, como a luta pela PEC 37, cujo conteúdo era desconhecido pela maioria dos manifestantes, mas foi adotada como causa "popular" graças a

uma publicação de vídeo no YouTube.

Enganação feita por um desconhecido, em nome do Anonymous, durante os protestos de 2013.

Jovens seguem jovens. Por isso, grupos estrangeiros interessados em desestabilizar governos legítimos costumam usar belas jovens como

símbolos de campanhas de agitação social, sempre com a mesma apresentação atraente.

Page 66: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Nativa do Brasil

Aproveitando-se da ingenuidade política dos jovens, essas agitadoras

sociais transmitem meias verdades e mentiras completas, sempre envelopando sua mensagem em slogans e palavras de ordem bem curtas e

fáceis de lembrar.

Insatisfação social de classe

Page 67: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Como se sabe, a ascensão social de mais de 30 milhões de brasileiros nos

Governos Lula e Dilma gerou tensões sociais inéditas em nosso país. Aeroportos, shopping centers e restaurantes do país passaram a ser

frequentados por uma gente estranha, nova, desacostumada com o modo "natural" (e elegante) de se comportar nesses lugares.

Além disso, privilégios caros às classes mais altas, como viajar para

destinos "nobres" do exterior (pense em Miami), foram democratizados nos últimos anos, gerando profundas insatisfações de classe.

Page 68: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

"Não tem mais graça ir a Nova York (EUA) ou Paris (FRA) e correr o risco

de encontrar o porteio do prédio onde mora".

Aliás, nem precisa ser algum privilégio.

Por causa desse caldo (amargo) de cultura, o grupo social mais endinheirado é altamente receptivo a qualquer ataque feito contra os responsáveis por tal situação. Quem acessa o Facebook e o Twitter já

presenciou cenas chocantes de discriminação derivadas do pavor da inclusão social.

O promotor confundido com um reles usuário de rodoviária sebenta.

Hiato temporal entre a versão e o fato

Esse fator foi magnificamente ilustrado pelo movimento "#NãovaiterCopa

― ou, se houver, será a Copa dos Horrores", bancado pela grande mídia. A campanha contra a Copa começou anos antes de sua realização. Durante

dezenas de meses, os veículos midiáticos reinaram absolutos em suas denúncias, em seu pessimismo e em seu catastrofismo, justamente porque não havia meio de confrontar essas "informações" com os fatos reais.

Nesse longo período, passou-se ao grande público somente uma mensagem, um ponto de vista, um conjunto monolítico de "fatos"

cuidadosamente escolhidos pelos donos dos veículos, por meio de reportagens, notinhas, editorais, matérias de colunistas, declarações de

Page 69: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

subcelebridades, posts de instigadores da Sombra... Nunca se juntou um

exército de colaboradores tão empenhado e afinado.

Além disso, o interesse dos ingleses em tirar dos brasileiros a Copa do Mundo do Brasil, após a derrota na Fifa para a Rússia e o Catar, forneceu à mídia nativa várias reportagens pessimistas quanto à nossa capacidade de

organização do torneio, com a "autoridade" da fonte externa.

O caos das manifestações na Copa das Confederações, brilhantemente orquestrado, pareceu confirmar as piores previsões.

O importante é perceber que a mídia pôde nadar de braçada durante anos porque o evento ainda não tinha acontecido. Bastou que ele se iniciasse para que todos os veículos passassem a reproduzir os fatos –

diametralmente opostos às previsões. Até porque todo o país inteiro tinha acesso aos fatos, assim como os estrangeiros em nosso país, e não se podia

mais evitar a verdade.

E a Copa que não teríamos, ou mesmo a Copa dos Horrores, aquela que

seria o maior fracasso administrativo da História do Brasil, tornou-se a Copa das Copas, a melhor Copa do Mundo de Futebol de todos os tempos.

A realidade da Copa atualizou o ditado popular, acrescentando ao "antes" o "durante": "O melhor da festa é esperar por ela. O pior da festa é

desesperar por ela".

Esse descompasso temporal entre versão e fato é também aproveitado nas previsões do noticiário econômico. Certamente você já viu, no final de cada ano, a lista de previsões erradas das Mães Dinahs do jornalismo

econômico-financeiro brasileiro. Previsões mais curtas (as da inflação mensal, do PIB trimestral etc.) rendem bons risos aos internautas, quando

desmascaradas. Mas até lá...

Page 70: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

FATORES COMPLICADORES DO SUCESSO DA MANIPULAÇÃO

A alienação política do brasileiro

A tradicional alienação política do povo brasileiro tem um lado altamente positivo: permite-nos enganar com facilidade grande parte dos eleitores, atribuindo responsabilidades pesadas a quem não tem e livrando da

responsabilidade pesada quem a merece.

O lado negativo dessa alienação política é a dificuldade extrema de envolver os cidadãos brasileiros em algo mais do que o ativismo de sofá. Muitos deverão se lembrar de quantos anos foram necessários para a

geração Facebook sair da internet e ir às ruas protestar contra nossos alvos políticos.

Mas o acento ficou lá.

A catarse social de meados de 2013 chegou num momento em que

muitos de nós estávamos já desiludidos de ver as ruas pegarem fogo, depois de tantos anos de manipulação e incitamento aos protestos físicos.

Passado o desabafo coletivo, entretanto, a excitação refluiu até voltar aos níveis pré-junho de 2013, refluxo ajudado, certamente, por alguns

complicadores, como a desmedida e desfocada agressividade de grupos parasitas, notadamente os Black Blocs e os anarquistas.

Page 71: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A tentativa de assassinato de um serralheiro e de sua família.

A preguiça participativa, fora da Web, será um grande obstáculo para o

sucesso de nossos esforços na luta contra o governo central, nas eleições vindouras.

A índole afetuosa do brasileiro

Somos um país recordista em assassinatos e violência em geral. Mas, paradoxalmente, as relações diretas de brasileiros, entre familiares, amigos, conhecidos e até desconhecidos, são marcadas pela afetividade positiva.

Esse foi outro problema que quase nos desiludiu durante o longo trabalho

de manipulação política: como transformar um povo afetuoso, brincalhão e hospitaleiro num povo odiento? Como fazer com que pessoas divertidas e amigas se transformem em algozes de parentes, amigos, colegas e

desconhecidos?

Como inimizar os brasileiros, entre si – respeitada a divisão ideal: defensores dos nossos candidatos para cá, defensores do governo central para lá?

Anos de campanha negativista e de exemplos dados pelos nossos mais destacados colunistas e blogueiros acabaram vingando: a Web brasileira

tornou-se um lindo campo de batalha, em que internautas expõem publicamente seu ódio, sem medo de serem felizes em sua virulência e sem

receio de prejuízos futuros por suas palavras destemperadas.

Mas, como se viu na Copa do Mundo, o lado positivo da brasilidade

desperta ao menor estímulo, a ponto de encantar instantaneamente os turistas estrangeiros. Essa constatação indica a necessidade de

continuarmos ensinando a forma "certa" de tratar os adversários cotidianos, para que o ódio não seja neutralizado pela índole boa do cidadão comum.

A importância fundamental do treinamento realizado pela mídia

Page 72: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Imagine a seguinte situação: chegue perto de um brasileiro comum e

pergunte se ele prefere ver seu time como campeão do Brasileirão ou, nesse mesmo ano, ver seu candidato a Presidente como o vitorioso do

pleito. Em quase 90% das vezes, a opção será pelo time.

Agora pense no seguinte: não convivemos pacificamente com torcedores

dos mais variados times, entre eles os times rivais, em nossa família, em nosso trabalho, em nossas relações cotidianas e afetivas? Sentimos ódio por

algum deles, apenas porque torcem por times diferentes? Vivenciamos essa situação de diferença como sendo irreconciliável: se ele é diferente de mim, tenho que atacá-lo, até o ponto de desejar-lhe a morte? Não, é claro. Até

cônjuges continuam a se amar, torcendo por times rivais.

Então por que essas atitudes e comportamentos de rivalidade, agressividade e ódio se manifestam numa questão psicologicamente menos importante para nós? Ora, porque fomos treinados para isso. No futebol,

fomos treinados a odiar somente os argentinos (e você sabe por quem). Na política, somos treinados cotidianamente a ver em nossos adversários a

essência do Mal e a quase desejar a sua extinção.

E muitos anos foram necessários para que esse treinamento produzisse uma geração de militantes odiosos justamente porque essa é uma reação

pouco natural no cidadão brasileiro. O caráter nacional, associado à alienação política, atuou contra nós, esses dois fatores na função de obstáculos ferrenhos que felizmente foram superados (ainda que

temporariamente) graças à persistência e à congruência da grande mídia.

A conscientização social da atividade de manipulação jornalística

Repare nesta informação impressionante. Quando lançamos

publicamente o Curso Básico de Jornalismo Manipulativo, em janeiro de

Page 73: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

2010, este era o número de resultados do Google para "jornalismo

manipulativo":

Isso mesmo. Apenas 36 resultados – contando com as repetições.

A captura de tela mostra como era tênue a consciência política do

brasileiro quanto ao que vínhamos fazendo em termos de manipulação política.

Atualmente, as redes sociais discutem todos os dias as mais de 400 técnicas de manipulação que, pioneiramente, revelamos em nosso Curso, há mais de 4 anos. E vão muito além, identificando outras técnicas,

derivadas da notável criatividade de nossos alunos e da perspicácia do consumidor crítico de notícias.

O fato preocupante é que estamos chegando cada vez mais perto da situação que, em nossas aulas, denominamos o Grande Medo: a descoberta

chocante, pelo consumidor de notícias, de que a grande mídia nunca esteve e nunca estará do lado dos interesses populares – isto é, de que ela sempre

defendeu e defenderá interesses que implicam justamente a derrota de causas benéficas à grande maioria da população.

Daí a importância do que denominamos "estratégia preventiva": a atribuição desse papel (o de inimigos da população) aos nossos adversários

políticos, de modo a estabelecer um contraste protetor: ora, se eles são os inimigos da população, nós, que os combatemos, não podemos ser inimigos dela. Somos, ao contrário, seus defensores.

Essa estratégia preventiva tem evitado, até aqui, a ocorrência daquela

conscientização trágica que constitui nosso Grande Medo. Mas quanto mais o cidadão comum perceba as inúmeras formas e técnicas de manipulação que empregamos em nosso trabalho, mais perto ele se encontrará desse

momento da verdade.

Como bem afirmou um de nossos alunos, "quando o manipulado acordar do seu transe manipulativo, a realidade vai doer – mais em nós do que neles".

O desenvolvimento do espírito crítico

Esse problema vem atrelado ao anterior.

As redes sociais apresentam uma dinâmica interna, em que alguns internautas naturalmente se destacam, passando a agir como líderes e mentores de um grande grupo virtual. Vários deles, no campo oposto ao

nosso, têm feito um trabalho preocupante de conscientização dos eleitores, despertando o espírito crítico em relação às nossas manipulações.

Page 74: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Daí a importância de contarmos com um bom número de artistas e

pensadores do nosso lado, no mundo virtual, para incentivar os internautas a reproduzir acriticamente as correntes de e-mails, os memes, as notinhas, posts e tuítes com conteúdo agressivo ou ofensivo aos atuais ocupantes do

poder central.

Certamente você reparou que, nos últimos meses, vários desses artistas e pensadores foram promovidos e apoiados pela grande mídia (sem a qual, diga-se logo, suas ideias não teriam a menor repercussão). Um exemplo:

Link para a "denúncia" sobre a compra de um avião de 50 milhões de dólares.

Esse nosso aliado artístico, a propósito, é um excelente exemplo da

distinção feita pelos estudiosos da inteligência humana: o Q.I. (quociente de inteligência) é um potencial de inteligência, que depende da habilidade de

aplicação prática. Um equívoco primário (mas compreensível) leva muitas pessoas a supor que essa aplicação do potencial esteja garantida, automaticamente. QIs altos, se não complementados pela sabedoria

prática, podem resultar em voos muitos baixos de inteligência efetiva.

Aviso: pule as capturas de tela a seguir, se não quiser vivenciar vários momentos de vergonha-alheia.

Page 75: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Todos os invejosos são socialistas. Tese interessante...

Como se sabe, a USP é uma universidade estadual, administrada pelo governo do PSDB.

Lutar contra uma ditadura é "fazer merda".

Page 76: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Como se sabe, a PM de São Paulo está subordinada ao governador do Estado, atualmente do PSDB.

Matéria-bomba que jamais explodirá na grande mídia.

Em "todos os lugares" leia-se "aqueles frequentados pela elite branca".

Link para um artigo irônico de Antonio Prata, reproduzindo o pensamento de direta no Brasil.

Page 77: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Com a palavra, o maior gênio da atualidade (o físico inglês Stephen

Hawking):

"What is your I.Q.?

I have no idea. People who boast about their I.Q. are losers"

"Qual é o seu Q.I.?

Não tenho a menor ideia. Pessoas que ostentam seu Q.I. são perdedores".

http://www.nytimes.com/2004/12/12/magazine/12QUESTIONS.html

Livro do professor Luiz Machado.

O déficit cognitivo não é raro nesse grupo de nossos apoiadores.

Page 79: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa
Page 80: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Esse problema faz com que eles vivam, ingenuamente, "levantando bola"

para a cortada matadora dos nossos adversários.

Alguém reparou no duplo sentido delicioso da frase da "mocinha inteligente"?

Jornalistas radicais também levantam bolas, desnecessariamente.

Page 81: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

O que nos remete ao tema central do item: quanto mais facilmente

artistas, pensadores e jornalistas sejam desmascarados pelos fatos (e devemos admitir que esta é a situação corriqueira), mais o espírito crítico dos nossos adversários virtuais se desenvolve, atrapalhando os nossos

esforços de manipulação.

Até tu, Papa Francisco?

Page 82: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Fontes alternativas de informação

Este problema soma-se aos dois anteriores.

Em essência, a manipulação jornalística segue estas diretrizes:

Providências em relação a pessoas e grupos do nosso lado

a) Fato ruim.

Ocultar ou minimizar.

b) Fato bom.

Divulgar e/ou supervalorizar.

c) "Fato" inexistente positivo.

Criar.

Providências em relação a pessoas e grupos do outro lado

a) Fato ruim.

Divulgar e/ou supervalorizar.

b) Fato bom.

Ocultar ou minimizar.

c) "Fato" inexistente negativo.

Criar.

Se você tem um mínimo de conhecimento da atuação da grande mídia, pode apontar dezenas de matérias em que tais diretrizes foram aplicadas

com propriedade (embora nem sempre com sucesso). As técnicas geradas pela adoção dessas diretrizes são ensinadas em nosso Curso Básico de

Jornalismo Manipulativo.

Nosso grande inimigo no esforço de criarmos um contexto fantasioso que

estimule a preferência pelos nossos candidatos, políticos e grupos, atualmente, chama-se internet.

Como você já percebeu, é comum esta situação: uma revista (cujo nome novamente não precisamos mencionar) lança uma "denúncia" em sua capa.

Antes mesmo de ela chegar à casa dos assinantes ou às bancas, seus potenciais leitores já tiveram acesso à desconstrução da "denúncia",

realizada detalhadamente na internet.

Vale o mesmo para fatos que a mídia tenta, desesperadamente, ocultar

da população.

Page 83: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A internet não perdoa. Não esquece. Não alivia. E, como se sabe, os

jovens, integrantes dessa faixa etária tão facilmente manipulável por não ter ainda experiência de vida nem passado político, são os que mais vivem na internet. A convivência diária com pessoas mais experientes, críticas e

inteligentes acaba neutralizando aqueles fatores positivos para a manipulação.

Page 84: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A internet também permite acesso a informações que preferíamos

esconder. Tudo bem, que a maioria dos internautas não pesquise o passado, visando formar uma opinião sobre ele. Mas alguns fazem esse

serviço pela maioria, e o resultado definitivamente não é bom.

Buscando em acervos digitais, esses internautas inconvenientes já

mostraram à nova geração a real situação, por exemplo, dos Anos FHC. Entre outras vergonhas nacionais, foram mostrados:

. Os juros estratosféricos.

. A humilhante submissão do país ao FMI.

. A denúncia de compra da reeleição para presidente.

. Os vários escândalos de corrupção do governo de então.

. As filas intermináveis de candidatos a empregos, até mesmo para garis.

. Os Natais das "lembrancinhas de R$5,00",

. Os aeroportos vazios.

. A recessão causada pelo racionamento de energia elétrica.

. As compras coletivas do mês em supermercados.

. Os grupos de caronas para economizar gasolina.

. Os nordestinos que se alimentavam de calangos e que promoviam

saques por causa da fome.

. As matérias ensinando os brasileiros a aproveitar alimentos e roupas.

. Os conselhos de economistas sobre pagamentos de dívidas e

empréstimos com agiotas.

. A angústia de pais e mães que não viam uma perspectiva boa de futuro

para os seus filhos.

E tantos outros exemplos de adaptação forçada de toda uma população a

um tempo muito difícil.

Daí o eleitor atual compara com a situação presente, em que:

. Cada Natal é melhor que o anterior.

. O dinheirinho suado vai para a poupança.

. "Crise" não é mais a essência da vida pessoal, e sim uma palavra só encontrada em artigos de colunistas de Economia.

. As férias são gozadas em viagens no exterior.

. O estudo dos filhos está bem encaminhado.

. As vendas de carros e apartamentos batem recordes.

Page 85: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

. Os aeroportos estão entupidos de novos turistas nacionais.

. O carrinho de compras dos supermercados vive cheio.

. O lar do brasileiro médio possui muitos bens úteis e supérfluos.

. O futuro é uma esperança concreta, porque o tempo difícil passou.

E todo o esforço de criação de pessimismo pela grande mídia vai pelo

ralo.

Outra fonte alternativa de informação para os mais jovens são os parentes mais velhos. Eles viveram aquele tempo difícil e podem lhes contar sobre experiências assustadoras.

Um ponto importante: você já deve ter reparado que um dos nossos principais objetivos políticos é gerar, nos atuais cidadãos, o medo-quase-

pânico de vivenciar uma situação exatamente como aquela que o país acabou de superar. E deve também ter notado que sugerimos que a

continuidade deste governo levará inevitavelmente a população a viver a situação causada pelo governo anterior, ou seja, por aqueles políticos que tentamos fazer retornar ao Planalto Central.

Daí a necessidade extrema de se evitar a associação "antigo governo –

caos", minando a associação "atual governo – bem-estar" para conseguir convencer os eleitores que a associação correta é "atual e futuro governo – caos".

A necessidade de ampliação do leque dos militantes odientos

Este comentário no site GGN reproduz com precisão cirúrgica um ponto abordado constantemente nas aulas de nossos Cursos.

Ou seja, de nada adianta pregar para convertidos. O efeito da pregação,

nessas pessoas, é o aumento de intensidade do apego à doutrina – em termos práticos: mais ódio direcionado contra nossos alvos políticos.

Mas esse é um efeito, de um lado, desejável, porque tais pessoas se tornam mais comprometidas com a nossa luta, e, de outro lado,

indesejável, porque elas se tornam mais fanáticas e menos eficientes na

Page 86: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

luta. Viram caricaturas de militantes políticos, tema já explorado em vários

Tumblrs de nossos adversários.

Por isso é necessário que a nossa pregação convença outros eleitores. Só assim conseguiremos aumentar a massa crítica (perdão, acrítica) que nos garantirá a vitória nas próximas eleições.

Os próprios manipulados percebem essa situação e, intoxicados pela

urgência de mudança do governo, perdem-se em sonhos estapafúrdios como este:

Ou este:

Uma pessoa, um voto. Uma pessoa que odeia Dilma, Lula ou o PT, um voto. Essa pessoa pode odiar até explodir suas artérias de raiva, mais ela só

terá (se sobreviver à implosão emocional), um voto no dia da eleição.

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O pior resultado dos nossos esforços seria estigmatizar (pela caricatura)

os apoiadores dos nossos candidatos e, além disso, não conseguir expandir o número desses apoiadores.

Page 88: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

QUESTÕES ÉTICAS, MORAIS E TÉCNICAS SOBRE A MANIPULAÇÃO

Nossa equipe de psicólogos intuiu que uma das causas prováveis para a assimilação do ódio por nossos jornalistas poderia derivar de um "mecanismo de defesa" (desculpem a linguagem técnica).

Explicando: a consciência de estarmos mentindo e manipulando

diariamente não é psicologicamente saudável. Por isso, algum meio de evitar essa conscientização chocante é naturalmente buscado pelo manipulador. Se ele passa a acreditar no conteúdo da manipulação, essa

atividade, magicamente, deixa de ser algo reprovável: não é mais manipulação, mas convicção política. A consciência moral descansa, o

trabalho se desenvolve sem traumas.

Mas, como já ressaltamos, isso implica assimilar as atitudes raivosas que

cultivamos em nossos consumidores.

Portanto, precisamos oferecer a vocês uma forma diferente de lidar com

a culpa derivada da atividade manipulativa diária. Este é o objetivo da presente seção do Curso.

A AMORALIDADE INTRÍNSECA À MANIPULAÇÃO

O teste de (falta de) caráter

É sabido que, nas primeiras aulas ministradas aos candidatos a oficial da

CIA (não confunda: "agente" é o recrutado; "oficial" é o recrutador ou espião que pertence à agência), o instrutor da nova turma aplica o famoso teste de (falta de) caráter.

Num dado ponto da palestra, de surpresa, ele pergunta se os ouvintes

têm noção daquilo que serão obrigados a fazer (mentir, falsear, enganar, sabotar e até matar), e então põe o teste em prática: "Aqueles aqui presentes que tenham algum escrúpulo moral quanto a realizar esses atos,

por favor, pensem bem antes de continuar no curso e, se for o caso,... retirem-se".

O silêncio angustiante que se segue à comunicação do palestrante é uma espécie de pacto sinistro entre instrutor e alunos. Retomada a palestra,

todos têm consciência de que acabaram de efetuar, conjuntamente, a travessia de um portal. Daí para frente, a menção a qualquer ato tido antes

como moralmente reprovável será vista apenas como a sugestão de um recurso possível e aceitável no cumprimento das missões secretas. Lembramos que a obrigação de mentir, por exemplo, vale até mesmo para

ocultar do próprio cônjuge a condição de oficial da CIA.

Em nosso Curso, modelado daquele e de vários cursos semelhantes, também fazemos o teste de (falta de) caráter. Não espanta que nossos

Page 89: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

alunos sejam tão aplicados nas técnicas reveladas em nosso texto-base, a

partir da simbólica travessia do portal.

Obviamente, só aceitamos no Curso quem já demonstra, em seu perfil psicológico, um saudável desprezo pela verdade e pelo Código de Ética do jornalismo. Mas mesmo nessas pessoas pode haver um resquício de

consciência moral, que poderá levá-la à convicção de veracidade das suas manipulações, como forma de defesa psicológica.

A questão da culpa no manipulador

Talvez esta seja a mais importante questão psicológica dos nossos Cursos: como lidar com a culpa derivada da consciência de que estamos mentindo, distorcendo os fatos, violando nosso juramento profissional e,

com isso, lesando os nossos consumidores, os quais, além de não receberem informações precisas sobre a realidade, prejudicam-se

pessoalmente por causa das nossas técnicas de estimulação do ódio contra nossos adversários?

Já que estamos fazendo uma espécie de "jogo da verdade", seria bom enumerarmos os prejuízos que causamos aos nossos consumidores, antes

de explicarmos como lidar com essa questão.

Os prejuízos gerados aos manipulados

Quando os consumidores de notícias aceitam nossas informações

distorcidas ou falsas, eles se sujeitam a vários danos, além da evidente desconexão cognitiva (intelectual) com a realidade.

Por uma questão didática, organizaremos esses danos segundo as dimensões da personalidade.

. Dimensão orgânica.

Faz bem sentir estresse várias vezes durante o dia? Já reparou no efeito das informações sobre política em seu organismo, especialmente daquelas informações que geram frustração, raiva ou ódio? Informações, aliás, que

constituem, no caso presente, a maioria, já que o grupo ocupante do poder precisa ser combatido diariamente.

. Dimensão emocional.

Quantos livros de autoajuda já foram publicados prometendo a felicidade a seus leitores? Todos gostamos dos tais "sentimentos positivos". Mas a atual conjuntura política exige que a manipulação jornalística estimule

principalmente os sentimentos ditos negativos: frustração, desespero, raiva, ódio. E os leitores, ouvintes e espectadores sofrem. Diariamente.

. Dimensão intelectual.

É a dimensão do dano primário: ao invés de fazermos o nosso trabalho de bem informar ao grande público, criamos ilusões interesseiras de

realidade. Uma grande parcela da população é privada do conhecimento da realidade política nacional porque precisa ser doutrinada para votar nos candidatos que apoiamos.

Page 90: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Outro dano intelectual reside na humilhação imposta a nossos

consumidores, que acabam se deixando guiar por, sejamos sinceros, profissionais incompetentes e, em alguns casos, verdadeiros idiotas, como

colunistas de cultura deplorável, blogueiros instigadores da Sombra, videomakers histéricos etc.

. Dimensão social.

A manipulação jornalística, na área da política, possui um componente social inevitável, por suas repercussões nem sempre positivas na vida dos manipulados.

É incontável o número de pessoas que já tiveram sua reputação social degradada por se deixarem levar pelas mentiras e manipulações midiáticas.

Já mostramos algumas imagens que dão bem a noção do estrago na

reputação, causado por atitudes intempestivas de pessoas manipuladas pela grande mídia.

Incluímos nesse item, também, os problemas de relacionamento gerados com amigos e com familiares, numa inversão de hierarquia difícil de aceitar

(mas fácil de compreender): conseguimos que muitos brasileiros amáveis dessem mais importância ao apego à sua (na verdade, nossa) opção política do que ao apego a pessoas de convívio íntimo. Quantas relações foram

estragadas para sempre por brigas políticas fúteis (fúteis porque o resultado delas em nada influenciou a realidade do país)?

Quantas "inimizades eternas" já foram criadas nas redes sociais, entre estranhos?

. Dimensão legal.

Vários processos de calúnia, injúria e difamação, motivados pela atuação política na internet, foram tema de notícias da grande mídia, mas você já

pensou em quantos outros foram abertos sem que tanto o agredido quanto o agressor quisessem divulgação – especialmente o agressor?

Sua memória certamente possui informações sobre alguns casos graves, envolvendo nomes que preferimos não mencionar porque essas pessoas já

perderem muito na vida, às vezes por causa de alguns tuítes mal pensados.

Quantas pessoas foram presas (ou mesmo feridas) ao responderem ao

clamor midiático pelas manifestações populares contra nossos adversários, em 2013?

O ponto-chave aqui é: alguma dessas pessoas teve ajuda da grande mídia, ao enfrentar um processo judicial? Algum órgão da imprensa ajudou

a pagar o advogado ou as custas do processo – apesar de ela saber que, muitas vezes, o conteúdo que gerou a demanda era exatamente aquele ensinado por seus jornalistas?

. Dimensão profissional.

Quantas pessoas já perderam a oportunidade de um bom emprego porque empresas avaliadoras de currículos tiveram acesso a participações

Page 91: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

políticas lamentáveis do candidato no mundo virtual? Atualmente, nenhuma

dessas empresas deixa de incluir a vida virtual do candidato no perfil psicológico elaborado ao receber o currículo.

E quantas relações com colegas de trabalho foram envenenadas pela repetição acrítica de acusações, palavras de ordens ou xingamentos

políticos, ou pelo compartilhamento de correntes de e-mail, links ou artigos, comportamentos incentivados diariamente pela grande mídia?

Talvez você já tenha lido, até mesmo, notícias sobre demissões motivadas pelo comportamento político impróprio de algum dos nossos

manipulados.

. Dimensão psicológica.

Nossa relação conosco mesmos é de especial importância para a saúde

psíquica. Não faz bem à autoestima percebermos, num dado momento da vida, que fomos enganados de modo primário, somente por causa da nossa posição política ou pela tendência natural de não darmos ao inimigo o braço

a torcer. Mas é esse o destino reservado a todos os manipulados na política.

O que dizer da avaliação de seu próprio potencial intelectual, num desses momentos de verdade? Quando a pessoa percebe o que fez, passa a ter mais um motivo de vergonha pelo restante da vida.

. Dimensão espiritual.

Pode parecer estranho tratar de espiritualidade no contexto da manipulação jornalística, mas muitos de nós temos apego à nossa imagem

de seres do Bem – pessoas decentes, bondosas e, quem sabe, razoavelmente espiritualizadas.

Essa imagem positiva, obviamente, não combina com a irresponsabilidade demonstrada por ações como caluniar, difamar e injuriar

estranhos – sem provas –, xingar opositores, vibrar com a infelicidade alheia ou liberar-se para expressar o ódio aos opositores políticos.

Nem se fale do "carma" negativo que esses comportamentos podem gerar em nosso futuro – se a pessoa acredita nesse conceito.

. Dimensão amorosa.

A mais íntima das relações, o casamento (ou qualquer forma de união amorosa), também pode ser afetada pela ingenuidade de ceder à manipulação política. Imagine o estresse vivenciado por um par PT x PSDB,

em seu cotidiano.

. Dimensão biológica ou vital

Isso mesmo: a vida. No famoso caso da febre amarela, a mídia

incentivou irresponsavelmente a vacinação imediata, contra a recomendação dos especialistas médicos. Várias pessoas faleceram. Mais

não precisamos comentar.

_________

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Na hora da causa não se pensa no efeito. Na hora de expressar a raiva

ou o ódio não se pensa nas consequências das palavras descontroladas e dos atos tresloucados. Na hora de seguir o comando da grande mídia, não

se avalia o futuro.

O mesmo processo se dará se perdermos a próxima eleição. Todos

aqueles que extrapolarem em seus desejos perversos na Web, no dia da derrota e no dia da posse, estarão sujeitos a processos judiciais, assim

como aconteceu em 2010. E nenhum de nós (nem nossos patrões) estaremos lá para ajudá-los.

Pelo contrário, faremos matérias condenando o excesso daqueles mesmos que tanto nos serviram até serem pegos pela Lei.

Ficou famosa a frase-símbolo do maior empresário de mídia deste país, já falecido: "Sim, eu uso o poder". Em nosso caso, a frase correta é: "Sim, nós

usamos as pessoas", porque qualquer forma de manipulação, não somente a manipulação política, depende da transformação de pessoas em meios para se atingir um fim. Sem elas, nada somos. E elas, diga-se a verdade,

são úteis somente na medida em que servem a nosso fim. Em resumo: perdida essa utilidade, são descartáveis.

Não é mesmo, Joaquim Barbosa?

O mal que fazemos a quem nos ajuda

Nós fazemos muito mal às pessoas. E intimamente sabemos disso. E fazemos mal, paradoxalmente, ao grupo que mais nos ajuda em nosso propósito central: àqueles que recrutamos, por meio de convencimento,

para mudar o governo do país.

Essa contradição política já foi reconhecida por vários participantes da

mídia virtual.

Carlos Odas, comentando a exploração política do 7x1 na Copa do Mundo.

Mauricio Puls.

Page 93: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Luciano Martins Costa.

Quase lá, Luciano. Seria infantil da nossa parte adotar o "propósito

central" de gerar um "estado de espírito negativo" em nossos leitores. Para quê? Esta é a pergunta-chave. O "estado de espírito negativo", ou mais

propriamente, a predisposição para a expressão incontrolada do ódio pessoal, não é o nosso objetivo, mas faz parte dele; não é o fim, mas o meio.

Nosso objetivo, já tornado explícito em todos os veículos da grande mídia, é a mudança dos ocupantes do poder central. O ódio aos atuais

governantes e ao país comandado por eles é um recurso valiosíssimo nesse sentido, porque mobiliza o mais decisivo fator psicológico no ser humano: a

emoção.

A situação do país está ruim, insuportável, a ponto de nada prestar, e

isso deixa as pessoas se sentindo muito mal? Então que saiam os responsáveis por essa situação catastrófica.

Se outro fosse o meio adequado para esse objetivo (a mudança dos governantes atuais), ele teria a nossa preferência.

Continuando, então. Mesmo quem critica não a mídia (a causa), mas os

influenciados pela mídia (o efeito), percebe o estrago potencial da indignação, da raiva e do ódio à própria saúde dessas pessoas.

O primeiro estudo que investigou a influência do comportamento nas redes sociais sobre o bem-estar dos internautas, realizado na Itália em

2010 e 2011, concluiu: os usuários de redes sociais tendem a ser mais infelizes do que as pessoas que dão prioridade a contatos sociais diretos. Adivinhe por quê?

Page 94: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Os pesquisadores destacaram o papel fundamental da "discriminação e

da linguagem do ódio" no efeito desagradável do convívio online e, consequentemente, na avaliação do estado da própria vida pessoal.

http://www.technologyreview.com/view/530401/evidence-grows-that-online-social-networks-have-insidious-negative-effects/

http://arxiv.org/abs/1408.3550

Os indignados que acreditam na eficácia do ranger de dentes e da

crispação ou nos muxoxos e na rabugice esquecem que ridicularizar pelo riso funciona mais do que xingamento. E, além do mais, estudos médicos

revelam que mau humor faz mal à saúde, porque libera a adrenalina, que eleva a tensão arterial e aumenta o nível de açúcar no sangue. Já o indivíduo bem-humorado produz endorfina, o hormônio que relaxa e

estimula o bem-estar.

Zuenir Ventura.

Como ensinamos em nosso Curso Avançado: "O ódio é um bumerangue emocional".

A verdadeira natureza da atividade manipulativa na política

Agora você está preparado para conhecer mais um segredinho do nosso Curso Avançado de Jornalismo Manipulativo: "A manipulação bem-sucedida é uma atividade sadomasoquista por excelência".

Não sadomasoquista no sentido sexual, obviamente, mas no sentido

figurado.

Nós, evidentemente, somos os sádicos: aqueles que causam terrível

sofrimento aos consumidores de notícias.

Eles são os masoquistas: aqueles que não só aceitam submeter-se a esse

sofrimento diário, mas que também passam a se tornar dependentes de sua carga cotidiana de infelicidade e ódio. Infelicidade por causa da "trágica"

situação do país, que constitui um de nossos temas preferidos; e ódio por causa da reação a que foram acostumados a ter diante desse quadro

desastroso.

"Cause o mal para atribuí-lo a seu alvo" – é outro dos nossos lemas.

Você precisa fazer com que o leitor, ouvinte ou espectador se sinta muito mal, para então ser capaz de acessar o poço de frustrações pessoais dele, gerando agressividade e ódio. Só então poderá direcionar esses

sentimentos a um alvo escolhido por você (o suposto responsável pela situação que gerou o mal-estar no manipulado).

Outra formulazinha útil:

Causar incômodo insuportável => Estimular o ódio => Apontar o

responsável => Direcionar o ódio, ensinando como reagir ao alvo.

Repare que, em todos os quatro pontos desse esquema, a pessoa manipulada se sente mal. Apesar disso, conseguimos convencer nossos

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alvos a se viciarem nesse estado porque ele é visto como uma ponte

necessária para algo bom: "Preciso me indignar, preciso manifestar meu ódio e minha agressividade incontrolada contra esses alvos, porque eles são

os responsáveis pela minha infelicidade na política. E só assim conseguirei mudar minha situação para melhor".

A grande arte do manipulador consiste em atribuir a causa do sofrimento a quem, na maioria das vezes, nada fez.

Quando aceitam a manipulação e o convite à reação, os manipulados estão, na verdade, se envenenando com o próprio ódio, mas,

paradoxalmente, sentem como se estivessem se alimentando de esperanças.

Repare que, ao privilegiarmos o jogo político, também prejudicamos nossos consumidores porque deixamos de cumprir a função social de bem

informar os leitores sobre os acontecimentos. Outras funções sociais importantes como procurar entender seu país, seu tempo e sua gente, fornecer informações interessantes sobre estudos, novos conceitos, teorias

etc. foram há muito eliminadas do jornalismo político nacional, resultando também em prejuízos culturais consideráveis para leitores, ouvintes e

espectadores.

Por fim, somos nós que fazemos o famoso Chamado Sombrio, aquele

destinado ao pior lado do ser humano – infelizmente, também o chamado que somente uma minoria dos seres humanos rejeita: a bendita

oportunidade de liberação plena das frustrações e raivas acumuladas, que se somarão ao sofrimento causado pelas notícias e resultarão no desabafo odioso que é uma das marcas do nosso tempo.

O paralelismo destrutivo

Essa expressão do nosso Curso Avançado é bem simples de entender. Ao mesmo tempo em que impomos aos nossos apoiadores (os manipulados)

um sofrimento diário e uma descarga diária de ódio, estamos paralelamente impondo aos apoiadores dos nossos adversários um sofrimento diário e uma

descarga diária de indignação, gerados pelas nossas manipulações que eles já se acostumaram a identificar com facilidade.

Ou seja, fazemos mal aos dois lados da luta política. Muitas vezes, a raiva expressa pelos nossos adversários virtuais, ao identificarem uma

Page 96: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

manipulação em matéria jornalística, é até maior que aquela expressa pelos

nossos apoiadores, ao aceitarem a manipulação.

Isso quando o estrago não se torna ainda maior.

Aliás, em nossas conversas internas, surpreende-nos que ainda não tenha sido realizado um estudo psicossocial de fôlego sobre os danos

causados pela atuação da grande mídia no estado de espírito da população brasileira, nos níveis individual, familiar, profissional e intergrupal.

O mundo dos carneirinhos

Revelamos agora outro segredo dos grandes manipuladores: a maioria das pessoas nasceu para seguir, não para liderar. Como ensinamos aos nossos alunos, este é o mundo dos carneirinhos, de uma multidão

incalculável de seres humanos sedenta de orientação, de comando, de um ideal alheio para chamar de seu. Sedenta de líderes.

"Não me faça pensar, porque isso é muito sofrido e complicado. Diga-me o que é o mundo, quem é do bem e quem é do mal, o que é certo e o que é

errado, e o que devo fazer para seguir o bom caminho na vida" – estas são as exigências dos carneirinhos.

E os líderes, é claro, satisfazem a todas elas.

Os carneirinhos abominam tanto a obrigação natural de terem de cuidar das próprias vidas, que mesmo quando se prova que estão sendo

manipulados, o conforto de nada ter de pensar acaba superando a humilhação de ser vítima de uma enganação óbvia.

Se você duvida, pense na incrível capacidade humana de não ver a realidade à sua frente, quando isso implicaria o fim de um ganho altamente valorizado.

O nome Telexfree lembra algo? Mais um milhão de brasileiros

acreditaram numa corrente clássica e depois se negaram a admitir que tinham sido enganados. Tudo porque havia um ganho financeiro envolvido.

Pense na religião, na política, na autoajuda... Quantos entregam suas vidas a estranhos, em troca de promessas de ganhos pessoais?

A lei da ocultação dos ganhos e das perdas

Page 97: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

É uma lei bem fácil de entender: "Oculte sempre os ganhos para quem

manipula e as perdas para quem é manipulado".

Na área da manipulação em geral, há uma relação direta entre o ganho do manipulador e as perdas do manipulado. Primeiro, o manipulado precisa perder (dinheiro, tempo, reputação, sanidade) para que o manipulador

ganhe. Depois, quanto mais perde o manipulado, mais ganha o manipulador.

Quem são os mais destacados defensores de nossos políticos, no mundo virtual? Eles mesmos, os indivíduos mais sensíveis às nossas mensagens, os

mais revoltados opositores do atual governo – e também os mais afetados pelos danos gerados com o estresse e o ódio, e pelas participações

inconsequentes na Web.

E quem mais perderá caso nossos políticos sejam vitoriosos nas eleições?

E quem serão os principais beneficiários diretos dessa vitória?

Nos últimos anos, acompanhamos a campanha "O Brasil é um caos", comandada pela principal organização de mídia do país. Agora responda:

Qual é a família mais rica do Brasil? Ou seja, quem mais lucrou com esse período de suposto caos, incompetência política, inflação "galopante" e desastre administrativo? Não soa estranho? Só para quem não conhece.

A propósito: quantos brasileiros sabem que esta família foi a que mais

lucrou durante esses anos de chumbo da grande mídia (contra o governo central)?

O ganho real deve ser ocultado (e o beneficiário dele, idem); a perda real deve ser ocultada (e o prejudicado por ela, idem). Só devemos ressaltar os ganhos hipotéticos de quem mais irá perder, ao final, com o nosso trabalho.

Em suma, a manipulação nada tem a ver com a realidade, com os fatos,

com as situações reais do cotidiano. Ela é um recurso da luta política.

O enquadramento de teste

Pois bem, fizemos um "jogo da verdade" e deixamos bem claro o nosso

papel no sofrimento e nos prejuízos de nossos consumidores. Esse papel é fonte de culpa intensa para muitos jornalistas. Como lidar com a culpa de quem sabe ser um manipulador na área da política?

A resposta é simples: adotando o enquadramento de teste.

Você já foi tentado por um desses populares que propõem o jogo das tampinhas de refrigerante com uma bolinha oculta?

Já tentaram fazer de você um trouxa, vendendo-lhe o tal bilhete premiado da loteria?

Quantos spams você recebe em sua caixa de correios, em uma semana?

E quantas propostas incríveis, com os mais variados esquemas, fáceis e rápidos, para ganhar dinheiro na Web?

Page 98: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Se você é homem, já recebeu o e-mail sobre pílula que faz crescer o

pênis? Se você é mulher, já recebeu o e-mail com uma dieta milagrosa?

Já sofreu o golpe telefônico do sequestro do filho (ou da filha)? E o golpe dos prêmios fantásticos (um carro, uma TV de plasma, uma moto), bastando para isso comprar créditos telefônicos?

E na área amorosa, já se defrontou com uma pessoa que a sua

experiência de vida apontou, imediatamente, tratar-se de uma "furada"?

O que são essas situações em nossas vidas, senão testes da nossa

capacidade de distinguir entre pessoas boas e más, e entre situações seguras e perigosas?

Alguém consegue viver sem passar por esses e outros testes semelhantes?

E o que sentimos ao agir corretamente, em resposta ao teste?

Numa visão bem realista, essas situações fazem parte de nosso aprendizado de vida e servem para nos tornarmos adultos responsáveis e experientes.

Toda manipulação se enquadra na mesma categoria. Ela é, na verdade,

uma oportunidade oculta de aprendizado.

Assim, você, ao redigir um texto político conforme nossas lições, está, na

verdade, propondo um teste ao leitor e oferecendo-lhe uma oportunidade valiosa de aprendizado.

A lei da responsabilidade, ensinada em nosso Curso Avançado, é muito clara: "Seu comportamento é sua responsabilidade, mas o comportamento

da outra pessoa é responsabilidade dela".

Seja adulto e perceba que todo comportamento é responsabilidade

exclusiva do seu agente. Responsabilidade social e responsabilidade legal. Instigar, manipular, aconselhar, sugerir, persuadir, tudo isso faz parte do

jogo das relações humanas. Cabe a cada pessoa, de modo autônomo, decidir se aceitará ou não um desses chamamentos à submissão. E cabe

somente a ela arcar com as consequências de sua escolha.

Voltando ao exemplo amoroso, alguma garota sai à noite pensando:

"Todos os rapazes que se aproximarão de mim são pessoas boas, decentes e interessadas em meu bem-estar"? O que aconteceria se ela pensasse assim? Ela seria ou não corresponsável pelos danos emocionais

autoinflingidos, se tolamente se recusasse a analisar cada um dos pretendentes, valendo-se da experiência passada, e a tomar as devidas

precauções caso o rapaz não fosse recomendável?

Podemos desejar que o mundo seja povoado somente de pessoas boas e

compreensivas. Mas isso jamais acontecerá. Assim, é responsabilidade de cada um de nós percebermos que pessoas más, interesseiras e

manipuladoras existem, e então cuidarmos da nossa própria segurança emocional, psicológica e física.

Page 99: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Você entra na internet sem antivírus e firewall? Por que será? O que há

do outro lado? Do seu lado, já sabemos: uma pessoa prudente, que aprendeu a se defender naquele meio.

Neste mundo, ou a pessoa aprende a ser esperta ou será engolida pelos espertos. Esta sempre foi uma regra não escrita do mundo. Não deveria

ser, mas é.

Assim, quem se deixa ser manipulado bobamente merece os efeitos danosos da manipulação. E que seja mais esperto da próxima vez, aproveitando a nova oportunidade para aprender uma lição valiosa de vida.

Todo manipulador conta com a ingenuidade, a credulidade e, mais, com a idiotice do alvo da manipulação. E todo exercício de manipulação é, na

verdade, uma oportunidade de aprendizado para esse alvo. A realidade está batendo às portas e gritando: "Acorde, seu idiota! Não está vendo que atrás

dessas promessas fantasiosas e dessas notícias manipuladas está você, no futuro, ferrado, humilhado e decepcionado consigo mesmo por ter sido tão burro? Veja-se lá. E reaja como uma pessoa adulta, agora. Recuse-se a ser

manipulado".

Em nosso caso, cada manchete, cada reportagem, cada notícia, cada notinha, cada post, é um teste. Se alguém cai, problema dele. Que seja mais esperto da próxima vez. Nossa função é aplicar o teste e, não,

ficarmos preocupados com as consequências pessoais de uma resposta errada.

Como resumiu muito bem um dos nossos melhores alunos do Curso Avançado: "A gente só passa a bomba. São eles que se explodem".

O risco real de um processo criminal

Outra preocupação frequente de nossos alunos é a possibilidade de um processo criminal.

Muitas pessoas já sofreram grandes prejuízos, pessoais, sociais, profissionais e até mesmo legais, por causa de sua crença nas inverdades e

distorções veiculadas pela grande mídia. Certamente você é capaz de se lembrar de vários casos que viraram, eles mesmos, notícias.

Agora responda: quantas dessas pessoas processaram um meio de comunicação, alegando que ele teria sido "responsável" por seu ato?

Isso mesmo: nenhuma.

Quantas notícias econômicas são na verdade jogadas planejadas para resultar em ganhos na Bolsa de Valores? E...?

A Petrobrás é alvo frequente de armações jornalísticas (denúncias exageradas, ameaças de CPI etc.) que resultam em ganhos notáveis de

especuladores. Quem já pagou por isso?

Pior: já houve casos até de morte, causada por vacinação desnecessária (e perigosa). Alguém preso?

Page 100: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Algum órgão da mídia foi processado por incentivar os manifestantes em

junho de 2013, que causaram tanto prejuízo ao comércio e aos bancos?

A mídia atua abertamente, buscando interferir no processo mais importante de uma nação (a eleição de presidente da República). Quem da Justiça tem coragem de dizer um "ai" a respeito?

Portanto, dê um chute de Nelinho (pesquise no Google) em sua culpa,

deixando-a onde sempre deve ficar: fora do campo da atuação política. Sinta-se culpado, quando muito, por sua intenção e pelo seu comportamento manipulativo. Essa é uma culpa objetiva, racional, sensata.

Mas jamais sinta alguma culpa pelos efeitos danosos da manipulação em outras pessoas. É assim que pensam e agem os grandes manipuladores.

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A IMPORTÂNCIA DO ESTÍMULO AO VIRA-LATISMO

Tornamo-nos um país onde alguns acham "normal" odiar um adversário e sentir raiva de tudo, inclusive do próprio Brasil.

Marcos Coimbra.

Não há nenhum caso registrado pela história universal de algum país que tenha sido colonizado por outro, em que os colonizadores não tenham

instigado nos habitantes do país colonizado, de várias maneiras, o complexo de vira-latas.

A justificativa interesseira para a colonização, quer ela se realize por meios pacíficos, quer por meios violentos com a invasão ou a guerra, é

simples: "Vocês são inferiores, em tudo. Nós somos superiores a vocês. Mas como somos também benevolentes, vamos ensiná-los a evoluir e a se

desenvolver, do nosso jeito, o jeito certo".

O colonialismo, vivo no século XXI

Não, não pense que "colonialismo" se refira aos séculos XIX e XX. Na mídia oficial dos Estados Unidos, um dos mais fortes argumentos para

apoiar a invasão e ocupação do Iraque, em 2003, foi exatamente o argumento explícito da colonização. Seguem exemplos de dois veteranos

articulistas conservadores. O primeiro, William Kristol, fundador do periódico The Weekly Standard (link abaixo):

"'Sobre o que é esta guerra?' eu pergunto. Kristol responde que, em um nível, é a guerra de que George Bush está falando [para o povo americano]:

uma guerra contra um regime brutal que está de posse de armas de destruição em massa. Mas em um nível mais profundo, é uma guerra mais ampla, visando moldar um novo Oriente Médio. É uma guerra que

pretende mudar a cultura política de toda a região".

Moldá-la, é claro, segundo os valores do colonizador: os Estados Unidos.

O segundo exemplo vem do jornalista e escritor Thomas Friedman,

veterano colunista do New York Times, aliás o principal órgão apoiador da teoria das armas de destruição em massa "possuídas" pelo então ditador

iraquiano Saddam Hussein:

"E ele [Friedman] também chegou à conclusão de que o status quo no

Oriente Médio não é mais aceitável. O status quo é terminal. E, portanto, é urgente fomentar uma reforma no mundo árabe".

http://www.haaretz.com/news/features/white-man-s-burden-1.14110

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É assim que funciona a geopolítica: um povo de um continente distante

decide mudar toda a estrutura política, econômica, cultural, moral etc. de uma enorme região do planeta ("Oriente Médio", "mundo árabe"), vai à luta

(ou melhor, à guerra) e, sem pedir licença, impõe-se aos nativos, como se lá sempre tivesse vivido.

"Você não sabem cuidar de vocês mesmos. Então, acabou a nossa paciência: agora nós cuidaremos de vocês."

As duas formas de convencimento

Uma colonização baseada somente na força sempre lidará com a oposição ferrenha dos nativos. O meio usado pelos colonizadores, então, é convencer a população nativa de que os colonizadores são superiores em

tudo e, mais do que isso, de que chegaram ao país para fazer o bem. Todos os benefícios dessa superioridade estarão disponíveis, de graça, aos

colonizados, caso eles concordem em serem comandados pelos invasores estrangeiros.

Certamente você já assistiu a muitos filmes norte-americanos em que o herói, chegando a um país controlado por um ditador, ou imerso em guerra

civil, ou mesmo atrasado culturalmente, traz a liberdade, a paz e o progresso àquele pedaço esquecido do mundo, recebendo, entre outras recompensas, a admiração do povo local e o coração da mais bela mulher

nativa. O mito do herói civilizador é muito forte na cultura americana.

A conquista pacífica dos corações e mentes do povo colonizado exige duas formas complementares de convencimento. São elas: (1) A depreciação de tudo que esteja associado ao país colonizado, e (2) A

correspondente valorização de tudo que esteja associado ao país colonizador.

Do lado da depreciação, os alvos tradicionais são:

. A cultura nativa, com seus costumes "exóticos".

. A religiosidade nativa (desprovida de elevação espiritual e, geralmente,

"rasteira" e animalesca).

. Os costumes morais dos cidadãos ("pervertidos" de algum modo).

. A capacidade artística (pífia).

. A (falta de) capacidade para o trabalho.

. A precariedade dos produtos nacionais.

. A alma nacional (repleta de "defeitos").

. A gente nacional (preguiçosa, incompetente, "selvagem", violenta).

O trabalho contínuo de depreciação visa incutir na mente do povo colonizado a vergonha de ser quem é, derivada da própria nacionalidade.

"Nós não prestamos como povo. Somos inúteis, e mesmo quando procuramos realizar algo de bom, ao máximo de nossa capacidade,

fracassamos".

Page 103: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

As "provas concretas" da inferioridade nacional, inata e insuperável, são

frequentemente apresentadas pelos colonizadores e por seus principais apoiadores no país: os políticos nativos associados aos invasores e...

adivinhe quem? Isso: a mídia nativa.

Lembra-se da Copa do Mundo – a mais extraordinária ilustração desse

processo de autodepreciação nacional já comandada pela grande mídia?

Que desfaçatez infinita, fazer uma Copa do Mundo num país em que uma aranha entra num quarto de um jogador de futebol, em que uma viga aparece, nua, num aeroporto, em que há vasos sanitários colocados um ao

lado do outro em um estádio, em que um guindaste cai durante a construção de um estádio, em que o piso de um aeroporto alaga – quando

esse aeroporto não está sem luz –, em que tudo atrasa, em que a torcida estrangeira invade um estádio...

Certamente você poderá se lembrar de dezenas de outros exemplos de depreciação, ínfimos em seu significado real, mas máximos em sua importância midiática.

A outra forma complementar de convencimento dos nativos, além da

autodepreciação, é a supervalorização de tudo que esteja associado ao país colonizador.

Os colonizados são ensinados a olhar para o exterior, vendo "lá fora" a civilização, o progresso, o bem-estar, a cultura – enfim, todos os seus

ideais. E os colonizados aprendem.

No início do século XX, os brasileiros, como qualquer povo colonizado,

olhavam para o exterior quando sonhavam viajar e morar no exterior. Então, Paris era a menina dos olhos dos vira-latas. Famílias da classe alta

falavam francês em casa, reservando o português para as inevitáveis atividades do cotidiano.

Hoje, o idioma de preferência dos endinheirados é o inglês. E a cidade preferida, Miami.

Essas duas formas de convencimento contam com três aliados importantes do colonizador: a mídia nativa, a elite do país e os políticos

ditos "entreguistas": a mídia, por afinidade ideológica e interesse comercial; a elite, por ganância e por ter vergonha de ser "nacional"; e os políticos "entreguistas", por ideologia ou, mais frequentemente, por safadeza

mesmo.

A diferença básica entre colonizadores e colonizados

Há uma situação clássica em que podemos observar a diferença básica

entre povos colonizadores e povos colonizados. Quando algo acontece de ruim com o país, o colonizado revela a sua alma: "Brazil-zil!" – já ouviu?

Basta um probleminha, um erro, um fracasso qualquer. E a reação jamais se limitará a esse ponto, mas será estendida a todo o país, a todo o povo.

Isso não deu certo => Este país não dá certo, este povo será eternamente um fracasso.

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Temos certeza de que, na sua memória, haverá centenas de situações

semelhantes desse pulo (i)lógico, em que um probleminha se torna a prova definitiva da ruindade nacional irremediável.

Agora compare. Nos últimos anos, os Estados Unidos (modelo atual de muitos brasileiros) não conseguiu resolver a contento nenhuma crise

internacional em que se meteram: Somália, Afeganistão, Iraque, Síria, Palestina, Irã, Líbia, Egito, Ucrânia... a lista é grande. Pois bem, você já leu

ou ouviu um americano afirmar que, porque determinada iniciativa externa do governo tenha fracassado, os americanos não servem para nada ou que o país não presta?

Essa é a diferença: o menor contratempo justifica a depreciação nacional,

no caso dos colonizados; mas os maiores contratempos, em sequência, não levam um povo colonizador a duvidar, nem um segundo, da sua capacidade nacional.

As elites vira-latas

O autodesprezo nacional é prerrogativa dos colonizados. É a marca psicológica duradoura nos povos que se submeteram a outros povos mais

fortes. E espertos.

O abandono consciente do autodesprezo, por um povo, representa o

rompimento do último laço do passado de colonização.

Quando um povo começa a levantar a sua cabeça, a perceber que não é melhor nem pior que nenhum outro, que tem dignidade, inteligência, cultura e competência, deixando de se sentir incompetente, atrasado,

inferior, fraco, quando isso acontece, além de ele sofrer a pressão contrária do povo estrangeiro, da mídia e dos políticos entreguistas, entra em um

conflito de classes semelhante ao que vemos acontecer em nosso país, nos últimos anos.

Isso porque o grupo mais forte, internamente, recusa-se a aceitar a mudança de status e de visão de mundo.

As chamadas elites são o último bastião interno do vira-latismo, por dois motivos óbvios:

(1) As elites foram o grupo que mais se beneficiou da associação com os colonizadores e o que mais tem a perder com a ascensão das classes sociais

abaixo dela;

(2) As elites foram o grupo que mais assimilou a visão de mundo do estrangeiro. Não há caso de país colonizado em que sua elite não tivesse como sonho de vida conseguir morar num lugar-símbolo do país

colonizador, seja esta colonização militar, política ou cultural.

"Mudança, não!" é o lema entoado desesperadamente pelas elites quando

percebem a ameaça iminente aos seus privilégios.

"Esse país é uma m****, sim!" é o lema entoado raivosamente pelas elites quando percebem a realidade ameaçando a sua visão culturalmente colonizada de mundo.

Page 105: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A função da mídia na preservação do vira-latismo

No íntimo, todos sabemos (mas jamais admitiremos isso em público) que

para cada "só acontece no Brasil" ou "o Brasil é uma m**** porque...", podemos encontrar muitos exemplos de situações idênticas ou piores nos países ditos desenvolvidos ou mais avançados do que o nosso. Basta digitar

no Google.

Obviamente, jamais iremos contar essa verdade na mídia porque a autodepreciação nacional é um recurso poderoso utilizado no convencimento político, especialmente naquelas questões que favorecem

nosso principal aliado externo, os Estados Unidos. Eles mesmos, o foco prioritário da nossa elite.

Já tratamos da extraordinária realização da grande mídia, ao produzir uma geração de brasileiros movidos pela experiência interna de indignação,

raiva e ódio, e pelo comportamento externo agressivo a um ponto extremo. Pois esses dois componentes psicológicos estão intimamente associados, como efeitos, à doutrinação diária da grande mídia, que tanto pinta a mais

reles imagem possível do país e do seu povo, quanto afirma a superioridade da cultura, da sabedoria e da capacidade do país que o destino reservou

para ser o nosso salvador.

Quanto mais nossos leitores depreciarem o Brasil, mais admirarão os

Estados Unidos. E quanto mais depreciarem os responsáveis por esse Brasil incompetente, fracassado e vil, mais se sentirão dispostos a apoiar

candidatos que estejam associados politicamente ao país que nos tirará dessa lama.

Essa trinca harmônica de fatores (a cognição dos fatos, a experiência emocional e o comportamento externo) é o resultado feliz de um trabalho

bem-feito de manipulação política.

É irrelevante se o sucesso desse esforço levará ou não a privatizarmos

nossas empresas estatais importantes, a vendermos nossas reservas minerais ou mesmo a perdermos o controle do pré-sal (a menina dos olhos

dos EUA). Importante, como sempre, é o que os grupos internos, nossos aliados, ganharão com essas perdas nacionais.

O maior inimigo desse processo vigente há séculos no país, como dissemos, é a atual onda de afirmação de sentimentos nacionalistas, gerada

pelo desenvolvimento do país nos últimos anos.

Nós, da grande mídia, temos que nos contrapor a essa incômoda

emergência do orgulho nacional entre a população porque, como afirmamos, quando um povo levanta a cabeça, esse é primeiro passo para se libertar da visão colonizada do mundo, para abandonar o vira-latismo,

para lutar pelos seus interesses, para colocar-se de igual para igual contra qualquer outro povo e para, ao fim, se impor ao mundo de modo corajoso e

autônomo.

Deus nos livre deste dia.

Page 106: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A VIVÊNCIA DA PESSOA MANIPULADA

Quando a manipulação jornalística é bem feita, a vivência da pessoa manipulada costuma passar por estes pontos, vários dos quais foram

abordados em seções anteriores deste Curso.

As fases da manipulação bem-sucedida

FATO

1. Conhecimento do fato.

Aqui, "fato" pode significar tudo, e raramente significa um fato no sentido pleno da palavra: a transmissão objetiva e imparcial de um acontecimento político. Geralmente, trata-se de um texto preparado para causar a

impressão desejada no leitor.

SIGNIFICADO DO FATO

2. Quebra de expectativa.

Não damos ao leitor o que ele quer: ao contrário, damos o oposto. Na maioria das vezes, nosso consumidor de notícias vive o choque da

constatação de uma situação contrária à desejada. A presidente fez o que não deveria ter feito. O político X, da Situação, idem. O partido no poder,

idem.

3. Reação cognitiva imediata.

Imediatamente, o leitor reage a essa constatação com um misto de

decepção, confusão, incompreensão ("como pode?"). É uma situação bem conhecida dele, circunstância que responde pela impressão: "De novo? Eu sabia... Deles, só se pode esperar isso, mesmo".

4. Constatação sofrida de falta de controle.

À primeira constatação (de quebra de expectativa) segue-se outra: a falta de controle individual sobre a realidade. "A realidade não me obedece"

é o mantra dos comentaristas da internet. Há um rabinho oculto nesta frase: "E eu não admito isso!".

Com nossas peças manipulativas, fazemos o leitor vivenciar inúmeras vezes essa sensação muito desagradável, meio necessário para a sua

mobilização emocional.

Em nosso Curso ressaltamos a importância desse ponto. Cada iniciativa

de nossos alunos deve transmitir uma única mensagem: Realidade 1 x 0 Leitor.

A realidade, é claro, está identificada com nossos adversários políticos.

5. Significado do fato.

Page 107: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Não se trata apenas de comunicar ao leitor que a realidade pouco se

importa com os desejos. É preciso deixar claro que o fato comunicado afeta tremendamente uma necessidade pessoal importante: "Aconteceu essa

m****, e isso afeta ou afetará muito a minha vida" é o principal conteúdo do significado do fato, para o leitor.

No contexto de Realidade 1 x 0 Leitor, isso significa: "Eles são os responsáveis por uma importante quebra de expectativa que afeta ou

afetará muito, negativamente, a sua vida pessoal."

Estabelecer nossos adversários políticos como inimigos das expectativas

dos nossos leitores leva os manipulados, naturalmente, a aceitarem qualquer meio que lhes dê a esperança de se livrar deles para sempre.

A situação oposta (o placar Leitor 1 x 0 Realidade), bem mais rara, visa aproveitar essa esperança, transformando-a em entusiasmo ou empolgação

com a iminente queda de nossos adversários. Alguns de nossos colunistas, como todos sabem, tornaram-se especialistas em previsões catastróficas feitas a partir de erros administrativos ou políticos dos atuais governantes.

REAÇÃO AO FATO

6. Frustração.

A primeira reação é emocional: a frustração, potencializada pela emergência das frustrações pessoais passadas (o que chamamos de "poço

de frustrações pessoais"): mais uma..., como se já não bastassem todas as anteriores.

7. Manifestações fisiológicas e psicológicas do estado.

À frustração segue-se a tensão, o estresse, a raiva direcionada contra os

supostos responsáveis pelo suposto fato gerador da suposta frustração de uma necessidade importante do leitor.

8. Reação comportamental ao fato.

Por fim, a vivência emocional desagradável se expressa em ataques verbais, acusações violentas, expressões incontidas de agressividade.

Pressupostos da atuação do manipulado

Nada disso é conhecimento "esotérico", isto é, difícil de ser obtido. Mas há um lado dessa vivência do leitor sem a qual ela própria não se sustenta, em especial as reações internas e externas ao fato.

Estamos falando dos pressupostos embutidos na própria manipulação.

1. Impressão de urgência.

Quando o leitor é submetido a um texto manipulativo, ele se sente compelido a agir imediatamente para, no caso positivo, conseguir um benefício que pode escapar de suas mãos, ou, no caso negativo, evitar um

malefício que será inevitável se ele permanecer em estado de passividade.

Page 108: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Todos conhecemos os estímulos publicitários "Ligue já", "Compre já!",

"Agora", "Não perca". Se você não agir, perderá.

A pressão psicológica para a ação imediata é um dos componentes clássicos dos textos manipulativos.

Para gerar essa reação, ao contrário da divulgação de produtos milagrosos que prometem resolver imediatamente o seu problema se você

agir com presteza, comprando-os, a manipulação política de oposição apresenta um quadro catastrófico que irá inevitavelmente ocorrer em sua vida se você não tomar uma providência imediata.

Se você não protestar agora, se você não for às ruas agora, se você não atacar aquele político agora, se você não reagir a esse fato agora... o mal

estará consumado.

Os conceitos de ditadura, bolivarianismo, comunismo, aparelhamento total do Estado, inflação galopante, desemprego indiscriminado, entre outros, são usados para pintar um quadro catastrófico do país, que será

inevitável caso o atual grupo político não seja defenestrado do poder imediatamente.

Repare como todas essas supostas situações insuportáveis seriam de responsabilidade daquilo que chamamos "inimigo impiedoso e avassalador",

aquele que trará ao Caos, a vitória das Forças do Mal, o Fim.

Perceba ainda que "inflação galopante", "desemprego generalizado", "caos" etc. atingem diretamente o nosso próprio instinto de sobrevivência.

Esse quadro catastrófico é de extrema valia também para gerar a obsessão pela vitória a qualquer custo, que pode tornar as pessoas cegas aos valores da democracia (ou seja, o respeito à decisão eleitoral da

maioria) e mesmo da civilização – abrindo caminho para soluções de força, quando necessárias.

O importante, aqui, é perceber que a relação oculta de causa e efeito (manutenção do grupo atual no poder => desastre iminente) atua como o

fator mobilizador da vivência do manipulado.

O resultado bem-sucedido dessa manipulação é a sensação de urgência: ele tem que agir agora, no sentido do comando do manipulador.

2. Ilusão de participação efetiva.

Ninguém participa de uma situação se sentir que a sua participação é nula. Todos gostam de se sentir influentes e importantes. Pense a que ponto chegam as pessoas, nas redes sociais, para conseguirem seguidores,

RTs, comentários, page views...

Por isso, é função do manipulador sugerir que a participação do manipulado no processo político terá um papel fundamental na mudança do cenário. Essa isca psicológica dará ao manipulado uma experiência

altamente valorizada ("minha participação é necessária, urgente e importante"), contribuindo para o seu engajamento na luta.

Page 109: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Como sabemos, o jogo político é jogado, na verdade, pelos grandes

atores. O povo sempre será coadjuvante, necessário meramente para apoiar este ou aquele grupo. Um povo só é agente importante nas eleições.

Embora as redes sociais sejam um novo ator no jogo, ainda são raras as participações realmente efetivas, ou seja, aquelas que mudam o placar das

partidas políticas.

3. A Grande Ilusão.

"A Grande Ilusão" é a expressão usada em nosso Curso Avançado para

designar a crença subjacente a todos os nossos procedimentos manipulativos.

Ela é bem simples: "Se esse grupo que está no poder for substituído pelo grupo que apoiamos, a sua vida melhorará de um modo quase mágico".

Por trás de cada manchete escandalosa, de cada denúncia, de cada reportagem, de cada coluna, de cada notinha, de cada post da grande

mídia, na área política, você poderá encontrar, oculta ou abertamente, essa crença transmitida aos leitores, ouvintes e espectadores como uma verdade

inquestionável.

Obviamente, é uma crença falsa. O objetivo da manipulação política nada

tem a ver com beneficiar o "povo", leitores, ouvintes ou espectadores. Essa é a ilusão que nos permite obter o apoio de pessoas que serão prejudicadas

(e muito) pela mudança no poder.

O exemplo atual é simbólico: nossos patrões querem a volta ao poder da

mesma turma que quase destruiu o país no Governo FHC. Repare como são os mesmos nomes, as mesmas ideias, as mesmas propostas. Será bom para o "país"? Óbvio que não. Para nossos leitores? Pergunte a quem viveu

aqueles 8 anos tenebrosos. Para os nossos patrões e seus aliados políticos, geopolíticos, comerciais, financeiros, industriais? Mais do que bom:

maravilhoso.

Mas como nós vendemos essa mudança imperiosa? Assim: "Ela será boa

principalmente para você, leitor, ouvinte ou espectador amigo".

Ninguém apoia algo sabendo que isso representará um prejuízo pessoal. Como já ensinamos, em toda iniciativa jornalística é importante perguntar-se: "Qual será o benefício apresentado, implícita ou explicitamente, para os

leitores?". Se o leitor não sentir que haverá algo de muito bom para ele, não será mobilizado emocionalmente e não ficará do nosso lado: não basta

a ilusão de participação efetiva, é preciso haver a ilusão de benefícios concretos na vida pessoal.

A dupla prejuízo-benefício

Estendendo um pouco a explicação. Toda matéria deve trazer a dupla

prejuízo-benefício: o prejuízo pessoal, cuja origem é atribuída ao grupo político atacado por nós; e o benefício pessoal que será associado, até por

contraste óbvio, ao grupo político que "deveria" estar no poder.

Page 110: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Em resumo, estamos afirmando: "Aqueles safados fizeram essa bela

cag***, que prejudicou ou prejudicará a sua vida, mas se o 'nosso' grupo estivesse no poder, esse prejuízo pessoal não aconteceria e, mais, você

seria beneficiado enormemente por essa mudança".

Quando não existe prejuízo ou benefício real (e geralmente não há),

inventa-se. Essa é a função da criatividade na manipulação jornalística.

O mantra mais repetido em nossas aulas do Curso Avançado é: "Venda a Grande Ilusão". Quanto maior for a sua perícia ao fazê-lo, melhor manipulador será.

Benefícios adicionais

Todo comportamento é motivado. Todo comportamento é uma busca de algo bom para a pessoa, do seu ponto de vista.

Além dos benefícios (reais ou falsos) já mencionados, o manipulado que se habitua a sentir ódio tem acesso a outras vivências importantes:

1. Sensação intensa de vida.

Que não gosta de uma atividade adrenalizada? Emoções intensas fazem a pessoa se sentir viva, mesmo quando se trata de emoções "negativas".

Quando uma atividade envolve as duas naturezas emocionais (positiva e negativa), ela se torna quase imbatível: basta lembrar o envolvimento dos torcedores em uma partida de futebol.

A luta política também se enquadra nesse caso: torcemos a favor do

nosso grupo e contra o grupo adversário.

2. Integração a um grupo.

Falando em grupos, a sensação de pertencer a um grupo é altamente valorizada por esse ser gregário chamado Homo sapiens sapiens (mas que

muitas vezes atua como Homo burrus burrus). Poucos nesta vida nasceram para outsiders, os estranhos-no-ninho, os individualistas radicais. Repare

como os grupos políticos no mundo virtual são coesos e como dão a cada um de seus membros uma identidade da qual podem se orgulhar.

3. Sensação de estar lutando por seus objetivos e valores.

Por fim, quem não gosta da sensação de estar lutando por seus objetivos e valores? "Seus", obviamente, é parte da ilusão criada pelo manipulador. Os objetivos e valores que prevalecerão, caso se consume a mudança

desejada, serão aqueles dos grupos associados ao manipulador.

Page 111: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

O TRANSE MANIPULATIVO

O efeito final da exposição pessoal a um longo processo de manipulação política é o que chamamos "transe manipulativo". Nesse estado, o

manipulado passa a viver em um mundo à parte, às vezes oposto ao seu mundo real, como se estivesse dentro de uma nuvem imaginária que filtra

todas as informações da realidade e as adapta ao conteúdo presente nessa nuvem.

Os tipos engraçados e esquisitos encontrados nas redes sociais, semelhantes a robôs humanos em estado de permanente prontidão contra iminentes catástrofes sociais, malevolamente elaboradas pelo grupo

atualmente no poder, são exemplos caricaturais dessa forma de transe social.

Uma das vantagens da instalação do transe manipulativo em nossos consumidores de notícias é a facilidade com que eles aceitam novas

informações da mesma natureza daquela presente em sua nuvenzinha imaginária. Ou seja, é muito fácil a um manipulador experiente reinduzir o

transe num leitor, devido à sua aceitação passiva de centenas de outros "convites" à entrada nesse transe, no passado.

Assim que entra em contato com a manchete, a capa, o post, o tuíte, a notinha política, esse leitor reage imediatamente, partindo para o ataque

em um nanosegundo.

O mundo à sua volta está povoado de ameaças ao bem-estar pessoal,

que geram estresse contínuo e impõem a necessidade de medidas urgentes contra os supostos responsáveis por essas ameaças.

Já mencionamos o belíssimo efeito manipulativo conseguido pela grande mídia, simbolizado pela frase "o Brasil nunca esteve tão ruim", num período

em que o país vive, segundo as estatísticas, o melhor momento de sua História. O descompasso entre o mundo interno da pessoa em transe

manipulativo, e o mundo externo, aquele da realidade cotidiana, prova que fenômenos hipnóticos clássicos podem, sim, ser induzidos de maneira coletiva e também podem gerar situações inauditas na vida das sociedades

modernas.

Page 112: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A ESQUIZOFRENIA ESTRATÉGICA

A situação exposta acima gera na pessoa manipulada um interesse fenômeno psicológico a que denominamos, em nosso Curso Avançado,

"esquizofrenia estratégica": uma profunda divisão psicológica entre "partes" do indivíduo, que não se comunicam uma com a outra justamente por

apresentarem conteúdos incompatíveis.

Veja se as situações (e contradições) abaixo não são corriqueiras nos

manipulados pela grande mídia:

1. A pessoa sente-se bem ao avaliar a própria vida, está bem

empregada, tem poder de consumo, poupa, viaja, acalenta perspectivas de um futuro melhor, mas sente-se muito mal ao pensar na realidade do seu

país;

2. A pessoa se comporta como uma besta-fera nas redes sociais,

xingando, caluniando, infamando e injuriando estranhos, a maioria das vezes sem provas, mas sente-se uma pessoa boa, educada, civilizada e

digna ao pensar em si mesma;

3. A pessoa oferece provas diárias de incompetência flagrante em sua

capacidade de avaliação dos fatos, aceitando boatos furados, previsões catastróficas e denúncias forjadas, repassando correntes de e-mail sem

avaliação, respondendo tolamente a textos irônicos, interpretando erroneamente o momento político, acreditando em matérias manipuladas da grande mídia, mas avalia-se como alguém de inteligência superior à

mediana.

Nesses três casos, é importante psicologicamente que um dos "lados" da

pessoa não entre em contato com o lado oposto. Quando isso acontece, o choque entre a avaliação e a realidade pode gerar sérios problemas

internos, até mesmo no nível da identidade social.

Por uma questão de autodefesa, todos temos processos internos que

impedem esse encontro, ou então que anulam o efeito de choque quando ele se torna inevitável. Se a questão lhe interessa, procure conhecer um

pouco sobre a dissonância cognitiva.

Para nossos propósitos, é importante saber que a esquizofrenia

estratégica ("estratégica", é claro, do nosso ponto de vista) é outro dos males que fazemos a quem manipulamos. E que as reações desejadas

(sentir-se mal por viver no Brasil, agir como besta-fera nas redes sociais, demonstrar incompetência ao pensar sobre a realidade) são de nossa responsabilidade, mas os efeitos internos da divisão psicológica são

problema exclusivo de quem aceita a manipulação.

O bom manipulador consegue instalar no pensamento de uma pessoa, sem que ela o perceba, conceitos, ideias e representações que criam impressões de realidade úteis aos seus propósitos do manipulador,

independentemente das evidências contrárias presentes no cotidiano do manipulado.

Page 113: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

A SÍNDROME DO MOTORISTA DE TÁXI

O processo de convencimento e condicionamento dos nossos alvos da manipulação (os consumidores de notícias políticas) tem seu ponto final

naquilo que chamamos, em nosso Curso Avançado, de Síndrome do Motorista de Táxi.

Sem nenhum demérito a esses valorosos profissionais, não é segredo que a doutrinação diária dos radialistas e certas condições comuns de vida

geram nos taxistas uma acentuada tendência negativista que serve de companhia extra a seus passageiros.

A Síndrome se manifesta como um estado crônico de prontidão para o ataque verbal (contra os alvos escolhidos pela grande mídia) e é vivenciada

como "mau humor insuportável" ou "irritabilidade persistente", que leva a pessoa a abusar das reclamações e dos xingamentos. Como explicamos na seção sobre transe manipulativo, é como se essa pessoa vivesse dentro de

uma nuvenzinha cinzenta que serviria de filtro na relação com o mundo ao redor.

A Síndrome do Motorista de Táxi é uma forma de transe manipulativo caracterizado pela hipersensibilidade a informações políticas, as quais

geram inevitavelmente uma reação crônica de mau humor e raiva.

Esse foi o grande feito da mídia nacional nos últimos anos: criar uma massa impressionante de pessoas condicionadas por nossas técnicas, a ponto de se tornarem hipersensíveis a qualquer notícia ruim sobre o país

(verdadeira ou falsa), prontas a aceitarem a impressão de catástrofe iminente, que deve ser imediatamente combatida com a responsabilização

feroz dos culpados, do modo mais violento possível – pessoas vivendo em estado crônico de prontidão para o ataque, visceralmente emburradas com a sua realidade e sedentas da oportunidade de manifestação do seu ódio.

São aqueles a quem chamamos, no Curso Avançado, de "nossos pitbulls

políticos". Pitbulls, obviamente, com alma de vira-latas.

Page 114: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

ANATOMIA PSICOLÓGICA DO ÓDIO

Nas seções anteriores analisamos como a grande mídia consegue produzir ódio político em seus consumidores, além de explorarmos o efeito desse ódio na vida dos manipulados.

Agora vamos analisar o ódio em si mesmo, porque essa análise breve

(mas precisa) permitirá o sucesso de várias intervenções "curativas" oferecidas na parte prática deste Curso.

A vivência do ódio

Como explicamos, o ódio é uma emoção que cria uma espécie de nuvem

em torno da pessoa e que a leva a interpretar tudo o que acontece ao seu redor de um modo que reforça o próprio sentimento. Essa interpretação

monotemática, em que tudo vira causa de mais ódio, está associada a uma hipersensibilidade momentânea a qualquer forma de frustração.

É por isso que a manipulação política sempre apresenta uma nova situação de frustração aos indignados úteis, que já se encontram

predispostos a expressar o seu estado latente de ódio.

Portanto, em termos de percepção, sentimento e pensamento, entrar em

estado de ódio é passar a viver em um mundo fechado. Esses componentes experienciais ficam se retroalimentando até a pessoa explodir

(externamente) ou implodir (internamente). O ciclo de perpetuação do ódio é como a rodinha de exercício de um hamster: se o animalzinho não pular para fora dela, tudo que ele terá é o que ele já tem.

A estrutura do ódio

The Emotional Hostage ("O Refém Emocional") é o título do livro de Leslie Cameron-Bandler e Michael Lebeau que apresentou o primeiro modelo

estrutural das emoções, composto de 8 fatores. Aplicando esse modelo ao ódio:

1. Foco temporal.

Ao contrário da culpa, baseada em foco no passado, da preocupação, baseada em foco no futuro, e da calma, baseada em foco no presente, o ódio é uma emoção livre de foco temporal. Tanto pode referir-se a um fato

passado, quanto a outro presente ou futuro.

Repare que, na manipulação política, valem deslizes ou intenções malévolas atribuídos a nossos adversários políticos em seu passado, presente ou futuro.

Mas, internamente, não haverá ódio se o manipulado não sentir com muita intensidade a frustração presente de alguma necessidade importante,

cuja origem é atribuída àqueles adversários, os mesmos que há tanto tempo vêm prejudicando a vida do manipulado – assim como não haverá

Page 115: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

ódio se ele não sentir a necessidade de reação imediata contra esse abuso

inaceitável.

Portanto, externamente o foco temporal do ódio é fluido, mas internamente esse foco é o presente.

2. Modalidade (o que é necessário, possível ou desejável).

Obviamente, a modalidade relativa ao ódio é a de necessidade: algo

precisa ser feito, urgentemente, para fazer cessar essa perturbação constante ao bem-estar pessoal, vinda sempre da mesma fonte.

Já a confiança é movida pela noção de algo é possível para a pessoa. A expectativa, pela noção de que algo é desejável.

3. Envolvimento pessoal (internamente ativo ou passivo; movimento de

aproximação ou evitação).

O ódio é internamente ativo (a pessoa sente-se muito mobilizada a fazer

algo) e focado na intenção de destruir um mal que já se vivencia (implicando, portanto, a aproximação). Por isso, toda manipulação geradora de ódio apresenta algo que frustra uma necessidade, objetivo ou valor

importante do manipulado. Esse é o mal que tem de ser combatido, imediatamente, situação que gera a mobilização interna no sentido do alvo.

O medo também é internamente ativo, mas seu foco está em evitar um mal, e não em combatê-lo. Lembre-se do conselho (geralmente inútil):

"Enfrente aquilo que você teme". O medroso foge, o odiento ataca.

A aceitação é internamente passiva.

4. Intensidade.

Precisa comentar? Que emoção dita "negativa" é mais intensa que o ódio?

Esse é um componente fundamental do ódio, daí advindo a dificuldade de

produzir intencionalmente essa reação: faz-se necessário um longo tempo de convencimento e de exposição a notícias manipulativas, sempre responsabilizando a mesma pessoa ou grupo, para que o manipulado

"compre" a ideia de ter um adversário implacável, e para que, aos poucos, acumule raiva em grau necessário para ela se transformar em ódio.

Compare a intensidade do ódio com a intensidade do mero interesse (leve) e com a da cautela (mediana).

5. Comparação (harmonia ou desarmonia).

O ódio depende da desarmonia: ao comparar a situação real com a situação desejada (ou melhor, necessária), a pessoa constata que nada na

situação real se assemelha à situação necessária. Desarmonia total.

A experiência de satisfação depende da harmonia: a situação real

combina com a situação desejada. E a inveja? E o orgulho?

6. Tempo (combinação de ritmo com velocidade).

Page 116: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

O ódio se caracteriza por um tempo rápido, mas irregular ou errático.

Esse componente é um efeito natural dos demais.

A paciência exige um tempo lento e regular ou suave.

7. Critério (padrão de exigência aplicado a determinada situação).

O critério relativo ao ódio é invariável: a satisfação de uma necessidade, objetivo ou valor muito importante. Esse é o padrão de exigência aplicado à

situação – e que é sempre frustrado pelo alvo do ódio.

Não se deixe enganar pelos critérios que são geralmente aplicados em situações de luta política, como "eficiência administrativa", "honestidade", "capacidade de articulação" etc. Esses são instrumentos usados (ora um,

ora outro) pelo manipulador para passar a mesma mensagem: seus adversários estão frustrando uma necessidade, um objetivo ou um valor

pessoal muito importante.

Na solidão, o critério é companhia (e o resultado da comparação,

desarmonia). Na curiosidade, o critério é novidade interessante (e o resultado da comparação, harmonia).

8. Abrangência do foco de atenção.

A irritação pressupõe um foco limitado de atenção. As pequenas coisas do cotidiano são fonte constante de irritação. O estado de maravilhamento pressupõe um foco muito abrangente de atenção. Pense no céu estrelado à

noite.

O ódio também depende de um foco superabrangente de atenção. Repare como os manipuladores da grande mídia procuram associar seus adversários políticos ao caos, a tragédias, a um futuro catastrófico, à

corrupção desenfreada, à opressão desmedida. E como, por consequência, procuram sugerir que a sua vida, como um todo, se transformará em um

caos.

Não seria possível obter esse efeito com apenas uma notícia sobre uma

situação (um foco limitado de atenção). Para gerar um foco superabrangente de atenção, necessário à emoção do ódio, é preciso um

vasto conjunto de situações que se estendem bastante no tempo.

Há quantos anos a grande mídia vem responsabilizando um só grupo

político por tudo de mal que acontece ao país?

A mensagem do ódio

Todo sentimento e toda emoção transmitem uma mensagem à

consciência.

Emoções ditas "positivas", como interesse, calma, satisfação, admiração,

amor, revelam uma relação harmônica entre o fato vivenciado e o indivíduo. A mensagem dessas emoções: suas necessidades, objetivos e valores estão

sendo satisfeitos.

Page 117: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

Emoções ditas "negativas", como tédio, nervosismo, insatisfação,

desprezo e ódio, revelam uma relação desarmônica entre o fato vivenciado e o indivíduo. A mensagem dessas emoções: suas necessidades, objetivos e

valores estão sendo frustrados.

Além dessa mensagem genérica, uma emoção específica transmite

também sua mensagem específica a quem a sente.

A mensagem do ciúme: a relação amorosa está em perigo, seja porque um rival se intrometeu entre o casal, o par amoroso está dando atenção "indevida" a um possível concorrente ou a própria pessoa sente-se insegura

e incapaz de garantir o amor do par.

A mensagem do arrependimento: a pessoa fez algo de errado no passado

e gostaria de não repetir o erro no futuro, além de apreciar uma possível oportunidade de consertar o erro cometido.

A mensagem interna veiculada pelo ódio é esta: uma outra pessoa está repetidamente prejudicando seus interesses, frustrando suas necessidades

ou violando seus valores, e essa situação chegou a um ponto insuportável e precisa cessar imediatamente, se preciso com a aplicação de toda a força

necessária, de qualquer modo possível.

O ódio implica a incapacidade de conviver com o objeto de ódio, assim

como o desejo de que a outra pessoa não mais exista (ou se comporte daquele jeito) para que então a paz retorne à consciência de quem sofre por

odiar.

A ambivalência interna

Se um alimento ruim entra em nosso organismo, este imediatamente começa os procedimentos adequados para eliminá-lo. Por que isso não

acontece com o ódio (um "alimento" emocional ruim)? Existe alguma emoção mais desagradável?

Uma das razões, abordada acima, é a mensagem útil que o ódio transmite à própria pessoa sobre a importância da situação. A outra é que,

embora seja extremamente desagradável odiar, viver essa emoção também é extremamente agradável.

Se alguém lhe perguntasse: "O que você sente pelo seu ódio?" e você respondesse sinceramente, com certeza iria admitir esta ambivalência

emocional: detesta mas adora. É muito ruim vivenciar momentos de ódio, mas é algo que você não aceitaria deixar de fazer, pelo bem que eles lhe

trazem. Quem não gosta de se sentir vivo, cheio de energia, transbordante de iniciativa, influente no mundo, lutando ferozmente pelos próprios interesses?

A ambivalência externa

Amor e ódio: quantas vezes já se disse que, embora tão opostas na aparência, essas emoções são, na verdade, irmãs?

Page 118: Curso de desintoxicação do ódio político - Parte explicativa

O amor está por trás do ódio (à menor frustração do amor, o ódio

aparece), assim como o ódio está por trás do amor (o odiento “não larga o osso”, isto é, o seu objeto de ódio).

Quem conhece um pouquinho a Natureza logo suspeita que, se dois estados intensos são íntimos um do outro na psicologia humana, deve

haver algum motivo neurológico para essa intimidade.

E há. Segundo os resultados de um estudo publicado pela revista Scientific American em 2009 (matéria The Origin of Hate – "A Origem do Ódio"): "As áreas do putâmen [gânglio basal influente em movimentos não

refinados] e da ínsula [área cerebral atuante na coordenação das emoções] que são ativadas pelo ódio individual são também ativadas pelo amor

romântico".

http://www.scientificamerican.com/article/the-origin-of-hatred/

"Assim como amor e ódio por alguém habitam nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda vida conjuga o desejo de manter-se e um

anseio pela própria destruição." Palavras de Sigmund Freud, o criador da psicanálise.

Sempre que há ódio por alguém, há também um apego intenso a essa pessoa e um foco exclusivo que torna esse estado, estruturalmente, muito

semelhante ao do amor.

Nas páginas anteriores mostramos exemplos de várias pessoas que não conseguem viver sem, no seu dia a dia, falar (ainda que negativamente) sobre o foco do seu apego político. Quantos militantes políticos você

conhece, no mundo virtual, que gastam mais de 90% do tempo com o adversário?

A indiferença sincera não tem 1% do potencial destrutivo físico do ódio, mas tem 100% mais potencial destrutivo psicológico do que ele. Isso

acontece porque a indiferença sincera passa a mensagem: "Não me importo com você, não importa o que você faça". E o ódio deixa claro que a pessoa

odiada é muito, muito importante para o agente do ódio.

A relação entre o ódio e a Sombra

O ódio é, metaforicamente, o pelotão de frente da Sombra. Para nossos propósitos, a Sombra é aquele conjunto de tendências pessoais socialmente

reprováveis, mas que podem se expressar livremente em determinadas situações.

Cada sociedade cria essas situações para seus cidadãos, de modo a direcionar as tendências da Sombra, geralmente destrutivas, contra alvos

predeterminados.

Algumas situações são artificiais. Por exemplo, o jogo de futebol é a mais

importante válvula de escape das tendências agressivas da modernidade. Pense no comportamento cotidiano de uma pessoa normal e depois veja

essa pessoa se comportando num estádio de futebol. Onde mais ela descarrega tanta agressividade?

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Outras situações são aparentemente "naturais" porque fazem parte da

própria estrutura social. Na época do nazismo, odiar e atacar judeus era parte integrante da identidade social alemã. Até poucas décadas atrás,

depreciar as mulheres era uma atividade "natural" nas sociedades patriarcais. Nos Estados Unidos, odiar e atacar negros era aceitável até por volta dos anos 60; hoje, odiar muçulmanos é regra. Ter gays como alvos é

algo "normal" em certos cultos evangélicos.

Desse modo, as sociedades e os grupos direcionam o perigoso "lixo interior" dos seus membros no sentido dos seus interesses.

Como dissemos, o ódio comanda as tendências da Sombra. Quando ele é liberado internamente, essas tendências o seguem e encontram plena

expressão no ataque contra o alvo do ódio.

A justificativa conveniente

Precisamos falar de preconceito, porque todo preconceito depende do ódio. Se você já viveu um pouquinho, é claro que percebeu que muitos

preconceitos não têm razão de ser: nada justifica a intensidade da emoção despejada sobre o alvo do preconceito.

Tomemos o preconceito racial (baseado na cor da pele). É direito de alguém achar, por algum motivo pessoal, que a pele branca é mais "bonita"

que a negra. Ou de não querer como par sexual alguém da cor negra (um critério estético subjetivo, como qualquer outro). Mas daí a despejar sobre

um negro ou uma negra toda a carga negativa da própria Sombra, apenas porque a pessoa difere na cor da pele... Qual é a justificativa?

Olhe para o passado da pessoa preconceituosa. Aconteceram, nele, fatos que realmente justificam tamanho desprezo e agressividade por aquela

outra pessoa? O que o alvo do preconceito fez de ruim, pessoalmente, contra quem o odeia?

A justificativa conveniente é o pacificador da consciência do agente do ódio. Essa pessoa não conseguiria liberar toda a sua agressividade contra

alguém ou contra um grupo, se não pudesse apresentar um "motivo" para esse comportamento.

O motivo alegado, todos sabemos, é fútil e logicamente desprezível. Exemplos: "Se não caga na entrada, caga na saída". "É tudo um bando de ladrões". "Macacos!"

A primeira observação pertinente é óbvia: a pessoa está falando de uma

outra pessoa, mas usa o pensamento em bloco, a categorização, como justificativa: todos vocês são assim. Por ser parte do todo, o indivíduo herda a "culpa" de sua condição.

A segunda observação leva do plano coletivo ao plano individual: qual é a

real responsabilidade do alvo do preconceito, e qual seria a reação mais apropriada e civilizada nessa situação concreta?

Na maioria das vezes, nem há um comportamento que se possa apontar como errado. Basta lembrar os vídeos virais mostrando negros sendo

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seguidos por seguranças em shoppings e lojas, representação fiel dos ditos

no estilo "Se ainda não fez, vai fazer".

Mas, e este é o ponto, é preciso que haja alguma justificativa conveniente a ser apresentada à própria consciência do preconceituoso.

Um preconceito é a atribuição de uma natureza "estragada" a qualquer membro de um grupo humano, baseada apenas em um aspecto (ter a cor

negra, ser mulher, ser pobre) e "sustentada" por algumas "provas" da natureza "estragada" (esta, a justificativa conveniente do preconceito) que não permitem, logicamente, atribuir tal condição negativa ao grupo como

um todo ou mesmo àquele alvo, individualmente.

A justificativa conveniente é a senha apresentada ao guardião (a

consciência moral) para liberar a passagem do ódio e, em consequência, da Sombra.

A verdadeira função psicossocial do preconceito não é prevenir a sociedade contra a ação do grupo com a natureza supostamente estragada,

e sim permitir a liberação de todo o lixo interno de quem odeia.

Obviamente, essa função psicossocial está ligada à própria estrutura da sociedade. Basta lembrarmos a exploração das mãos de obra negra e feminina, a repressão da sexualidade "alternativa" e os privilégios

garantidos aos grupos responsáveis pela opressão aos grupos ditos "inferiores".

O ódio preconceituoso está associado a uma justificativa conveniente (falsa e marota) no plano interno e a um suposto direito de superioridade

social no plano externo.

Em nosso caso (o jogo político), o ódio é direcionado aos atuais

ocupantes do poder (uma turma "estragada"), visando recolocar nele os pretendentes que lhes são, por direito natural, superiores em honestidade,

moral, capacidade administrativa e visão de país.

A intolerância em relação à diferença

Esse fator está relacionado ao item acima. Quem melhor que o Outro

para servir de lata de lixo à nossa sujeira interior? Nessa situação, a oportunidade se junta à incapacidade – esta, a incapacidade de aceitar e conviver com diferenças significativas de pensamento, comportamento e

estilo de vida.

O intolerante usa a diferença, considerada pecado, desvio de conduta ou crime, como oportunidade de expressão de seus "instintos mais primitivos".

Quanto mais o Outro represente uma polaridade, o extremo oposto, melhor. A situação de Bem contra Mal se estabelece de maneira cristalina.

Quanto mais o intolerante se sinta ameaçado pelo Outro, por motivos psicológicos que são bem simples de entender, mais acreditará nas próprias

fantasias paranoicas de que o bando de Outros dominará seu mundinho e o obrigará a ser um igual. As previsões catastróficas de homofóbicos sobre o

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futuro do mundo, caso os homossexuais sejam aceitos como cidadãos

normais, ilustram muito bem esse ponto.

Simplificando a vivência de ameaça: "Os representantes desses impulsos perversos dominarão o mundo (sentido real: eu serei dominado por esses impulsos perversos). Preciso usar o ódio para afastar esses impulsos do

meu mundo (sentido real: afastá-los de dentro de mim)".

O rótulo liberador

Já reparou que basta um rótulo depreciativo lançado sobre uma pessoa,

uma palavra como "petralha", "corrupto", "esquerdista", para que alguém se sinta livre para atacar sem freios um desconhecido na Web?

O rótulo depreciativo é o estímulo apresentado pelos instigadores da Sombra (a parte da nossa turma que faz o trabalho "pesado") para

estimular o ódio contra o alvo político. Esse rótulo está associado à justificativa conveniente ("macacos", por exemplo, está associado à suposta condição humana inferior dos negros, assim como "corruptos" está

associado à suposta condição idônea inferior do político-alvo).

Depois que o manipulado se acostumou a despejar o seu lixo interno sobre um alvo, escolhido pelos instigadores da Sombra, ele mesmo passa a utilizar o rótulo (associado à justificativa conveniente), como um meio de

ataque ao inimigo político, no plano externo, mas principalmente como um meio para permitir uma nova liberação do ódio e da Sombra, no plano

interno.

Procure perceber como esse processo ocorre repetidamente na Web.

Forma-se a situação de rivalidade, um dos brigões lança o rótulo liberador (indicativo da condição inferior do rival) e imediatamente ele se sente livre

para despejar sobre o agredido todo o seu ódio e todo o seu lixo interno.

A liberação do ímpeto destrutivo

Explicando rapidamente. Dentro de nós convivem dois ímpetos, duas forças muito poderosas: um ímpeto criador e um ímpeto destrutivo. Temos

certeza de que você poderá dar vários exemplos de ambos.

Os dois ímpetos são muito importantes. O ímpeto criador porque nos faz buscar as coisas boas da vida, exercitar nossas capacidades, desenvolver a criatividade, prezar a harmonia e cuidar do bem alheio. A ideia de uma

sociedade utópica, o Paraíso na Terra, representa a consumação derradeira desse ímpeto humano positivo.

O ímpeto destrutivo, apesar da conotação negativa do adjetivo, também é muito importante. Nos animais, ele está por trás de comportamentos

como a caça e a autodefesa, por exemplo. Nos humanos, garante a agressividade necessária para lidarmos com situações de ameaça, ou

mesmo para superarmos obstáculos ("destruindo-os") e para lutarmos por nossas necessidades, objetivos e valores.

O problema começa quando o ímpeto destrutivo passa a comandar o nosso comportamento. Nos exemplos acima, ele se encontra a serviço do

ímpeto criador – esta é a relação ideal.

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Num indivíduo, a predominância do ímpeto destrutivo leva à

agressividade pela agressividade, ao ódio pelo ódio. E inverte-se a relação: a criatividade humana passa a se subordinar a propósitos destrutivos.

Às vezes, pessoas com essa configuração psicológica unem-se para formar grupos, valendo-se de algum pretexto mal elaborado (a sua

justificativa conveniente) para realizar as ações destrutivas. Pense nos Black Blocs, por exemplo. O objetivo-fim (quebrar e depredar) é fornecido

pelo ímpeto destrutivo; o meio, pelo ímpeto criador.

Essa relação invertida também ocorre no mundo profissional: calcula-se

que mais de 25% dos cientistas, em todo o mundo, trabalhem direta ou indiretamente para o complexo industrial-militar: criam para destruir.

No nosso caso, o ímpeto destrutivo está representado pelo ódio e pela Sombra (o conteúdo despejado sobre o alvo do ódio). É ele que, ao

apresentarmos a "justificativa conveniente" à consciência, recebe a permissão de lançar-se, sem restrições, sobre o inimigo.

Repare que, mesmo em situações de rivalidade radical, há pessoas que mantêm a relação correta entre os ímpetos: pense nos memes políticos, por

exemplo, símbolos da criatividade na Web. E depois pense nos tuítes ou comentários cujo conteúdo exclusivo são os xingamentos, as calúnias e a agressividade destemperada.

Acima, um exemplo de predomínio do lado criativo (o comentário do tuiteiro), em situação na qual seria compreensível que o lado destrutivo

assumisse o comando do comportamento.

A vitória dos sentimentos "negativos"

No campo afetivo, o ímpeto criador é representado por um conjunto de

atitudes, sentimentos e emoções geralmente qualificadas como "positivas": entusiasmo, incentivo, receptividade ao novo e ao diferente, prazer na

exploração, solidariedade, integração, amor. Repare como todos tendem à harmonia.

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Por sua vez, o ímpeto destrutivo é representado, no campo afetivo, por

um conjunto de atitudes, sentimentos e emoções "negativas": agressividade, repressão, aversão ao diferente, prazer na destruição,

elitismo, separação, ódio. Repare como todos pressupõem a desarmonia.

Agora pense no seguinte: onde convivem esses dois conjuntos de

conteúdos afetivos? Isso mesmo, dentro de nós. Aí mora o perigo.

O que aconteceria se, num determinado momento, ambos os conjuntos de atitudes, sentimentos e emoções tivessem um só alvo? A própria pessoa, por exemplo. Ou a pessoa amada. Tudo junto e misturado. #tenso.

Essa situação indesejada acontece, por exemplo, no futebol, quanto o objeto de amor do torcedor (seu time), ao lhe impor um grau de frustração

insuportável, acaba se tornando também o objeto de ódio (com a mesma intensidade). Sabemos o resultado da mistura.

Numa relação amorosa, quantos não vivem dramas afetivos intoleráveis ao sentirem se voltar contra a pessoa amada aquele conjunto de afetos que

deveria estar destinado ao "mundo", na eterna divisão "nós dois contra o mundo"?

Por uma questão de sanidade psicológica, quanto mais esses dois conjuntos estejam bem separados, melhor. Ou isso ou, no mínimo, a

solução intermediária, mostrada acima: a relação de subordinação do ímpeto destrutivo ao ímpeto criador.

Em nosso caso, o da manipulação política, quanto maior a separação, mais eficiente a manipulação. Separados esses dois conjuntos de conteúdos

afetivos, um deles é direcionado totalmente aos nossos aliados (o conjunto positivo) e o outro é direcionado totalmente aos nossos adversários (o

conjunto negativo). E faz-se a paz na consciência.

Para manter essa separação, é importante jamais reconhecer alguma

realização importante do alvo político (ou seja, jamais destinar a ele qualquer afeto positivo). Daí a origem das famosas manchetes "Sim...,

mas...", em que uma realização importante é anulada por um detalhe superdimensionado, ou da prática de esconder os feitos do adversário, ou do uso maroto de argumentos para desqualificar suas qualidades.

Destinar sentimentos positivos ao adversário pode neutralizar todo um trabalho demorado de manipulação.

Repetindo, tal a importância deste ponto: a boa manipulação jornalística

depende da perfeita separação entre os dois conjuntos de atitudes, sentimentos e emoções; do direcionamento do conjunto positivo para o beneficiário da manipulação, e do conjunto negativo para o alvo dessa

manipulação; e do cuidado em jamais deixar que aconteça, na consciência do manipulado, uma combinação desses dois conjuntos em relação tanto ao

beneficiário quanto ao alvo.

Em bom português, isso se chama "maniqueísmo": o Bem de um lado e o

Mal do outro. É primário, logicamente, mas funciona, psicologicamente.

Quem não odeia o Mal? E quem não se sente justificado ao odiar o Mal?

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Para estabelecer o maniqueísmo, precisamos criar na mente do

manipulado aquilo que chamamos de "representações polarizadas". Explicando: aquilo que se pensa de um (o beneficiário) deve ser o oposto do

que se pensa do outro (o alvo). Em termos práticos: um é honesto, o outro é corrupto; um é competente, o outro é incompetente; um trará benefícios ao povo, o outro só traz malefícios; um é democrata, o outro é totalitário. E

assim por diante.

Quando conseguimos estabelecer essas representações polarizadas na consciência do manipulado, separando ao máximo as características do nosso protegido e do nosso adversário (as qualidades para um e os defeitos

para o outro), naturalmente se processa a liberação dos sentimentos positivos sobre um e dos sentimentos negativos sobre o outro.

Repare que, assim como no caso dos preconceitos, o Outro, na política, está situado sempre no extremo oposto e negativo de um espectro, seja

este o espectro honestidade-desonestidade, competência-incompetência, inteligência-burrice, humanidade-desumanidade etc.

Revelando mais uma fórmula importante do nosso Curso Avançado:

Necessidade psicológica de separação interna dos dois conjuntos de atitudes, sentimentos e emoções => Representações polarizadas

(qualidades = Bem x defeitos = Mal) => Liberação plena dos dois conjuntos afetivos, para destinos opostos.

Repare como esse processo funciona espontaneamente, na sua própria experiência: para criar as condições de liberação desses sentimentos,

muitas vezes você pressupõe que a outra pessoa é o oposto da sua condição pessoal. Se você se considera inteligente, o outro é ingênuo e

burro; se você é um cidadão respeitável, o outro é um bandidaço; se você sabe votar, o outro não sabe. E assim por diante.

Pense um pouco mais e perceberá que muitas situações sociais, como futebol, orientação sexual, política, religião, são usadas como pretextos

convenientes para essa liberação controlada dos dois conjuntos afetivos, nos mais variados graus.

A divisão do mundo ou de uma parte do mundo em dois grupos, cada um associado a um dos conjuntos afetivos, é a forma preferida da maioria dos

seres humanos para lidar com a tarefa interna de separação dos ímpetos.

É também a forma psicologicamente mais primária.

O ódio e o gostinho da morte

Esse é um terreno perigoso. Vamos com jeitinho.

O que acontece quando alguém ou algum fato nos frustra uma necessidade importante? Se formos sinceros (e "ser sincero", aqui, significa ir até o mais íntimo do nosso ser), diríamos: "Essa experiência me obrigou

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a sentir um gostinho simbólico de morte". Sim, porque toda vez que um

organismo não consegue existir, no mundo, do jeito que ele quer e precisa, ou seja, quando ele não consegue vivenciar uma relação boa com a vida, é

como se vivenciasse, em algum grau, o oposto: a própria morte.

Quão mais importante a necessidade frustrada, mais forte esse gostinho,

mais distante uma boa relação com a vida – porque mais intensa é a identificação da própria pessoa, do seu próprio ser, com aquela

necessidade.

É como se o mundo estivesse afirmando: "Você nem deveria existir, do

jeito que é. Aqui não é o lugar para você".

O manipulador consciente sabe que, ao frustrar repetidamente o alvo de

sua manipulação, está lhe impondo a convivência forçada com aquele gostinho da morte: a morte de suas esperanças pessoais, a morte de seus

sonhos políticos, a morte de um futuro pessoal mais promissor, a morte do seu país querido.

Se o mundo me frustra uma vez, sinto que ele não "gosta" de mim, naquele momento. Se me frustra várias vezes, a situação começa a se

complicar: que implicância é essa? Mas se me frustra dezenas de vezes, ou quase sempre, durante meses ou anos, o que posso concluir? Que ele me odeia.

Daí a reação equivalente de ódio da pessoa afetada pelas frustrações, e a

mensagem equivalente transmitida em suas iradas manifestações. Quantas vezes você já intuiu ou mesmo presenciou o desejo de morte nas frases dos indignados úteis das redes sociais, em relação aos políticos que seriam os

responsáveis por tantas frustrações na vida daquele cidadão? O que vale para lá, vale para cá: veremos quem vai morrer antes.

Alguma vez já leu uma comemoração da morte de um adversário?

Essa intensidade emocional é, evidentemente, perigosa. Por isso, a situação mais temida por alguém que esteja na luta política não é a derrota

do "seu" candidato, mas sim imaginar-se no lugar do adversário, vendo o mundo do jeito dele e tendo a si mesmo como foco da percepção.

Por termos adotado a crença de que o lado "errado" merece ser punido, isto é, ser alvo da agressividade liberada, e por sabermos intimamente que o nosso ódio é destrutivo ao extremo, se ele se voltar contra nós mesmos...

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Tirinha dos Malvados (André Dahmer).

Os temperamentos pessoal e nacional, em sua relação com o ódio

Quanto mais uma pessoa ou um grupo nacional apresentar tendências agressivas fortes, maior a necessidade de concentrar o seu ódio no exterior.

Essa circunstância faz com que sejam alvos fáceis da manipulação.

Basta pensar, no plano nacional, sobre a questão da violência norte-

americana. Como é fácil o governo dos EUA convencer os americanos que ele deve bombardear ou destruir este ou aquele povo ou país.

Mesmo assim, o grau excessivo de violência, intrínseco à nacionalidade americana, extravasa frequentemente em tiroteios quase semanais (em

escolas!), no contéudo das produções artísticas (filmes, seriados, games etc.) e nas relações entre grupos internos (contra negros, imigrantes, gays,

mulheres etc).

Três ataques sexuais por hora entre os militares dos EUA.

No plano individual, pense nas redes sociais e nos tipos caricaturalmente agressivos, tão comuns no meio virtual. Esses são presas fáceis para a

manipulação política. Como afirmou um de nossos alunos do Curso Avançado, um bom título para um estudo sobre o comportamento desse

tipo humano na internet seria Os Sociopatas no Paraíso.

O desejo sexual oculto

Nós sabemos. Essa parte irá chocar muitos de nossos alunos, mas, paciência, prometemos fazer um jogo da verdade sem concessões neste

Curso. Damos então novamente a palavra a Sigmund Freud, o criador da psicanálise:

"Eu posso ter errado em muitas coisas, mas estou certo de que não errei ao enfatizar a importância do instinto sexual. Por ser tão forte, ele se choca

sempre com as convenções e salvaguardas da civilização. A humanidade,

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em uma espécie de autodefesa, procura negar sua importância. Se você

arranhar um russo, diz o provérbio, aparece o tártaro sob a pele. Analise qualquer emoção humana, não importa quão distante esteja da esfera da

sexualidade, e você certamente encontrará esse impulso primordial, ao qual a própria vida deve a perpetuação."

Repare: qualquer emoção humana. O ódio, por exemplo. Uma emoção intensamente carregada de energia, caracterizada pelo apego irrefreável a

uma pessoa e que, junto com toda a sua negatividade, traz também o sentimento de amor. Porque é tão difícil perceber a fonte dessa emoção?

Na parte prática teremos que tratar da pulsão sexual oculta que se manifesta (aos olhos de quem sabe ver) no sentimento de ódio.

Prepare-se.

O Casal Diabólico da política nacional

Eles mesmos, Lula e Dilma. Algum outro par foi tão demonizado ao longo

da história política do Brasil?

Além do fato de ocuparem indevidamente (aos nossos olhos) o cargo

político mais importante do país, o que já os torna alvos legítimos do ódio instigado em nossos leitores, algumas circunstâncias pessoais ajudaram

bastante na criação dessa reação afetiva condicionada.

Primeiro, Lula. Certamente você já reparou que ele é retratado pela

grande mídia como um ser humano inferior, e por isso digno de desprezo. As inúmeras matérias em seu tempo de presidência e as quase inexistentes

matérias sobre ele, atualmente, sempre focam em uma deficiência.

Ele não só tem menos um dedo do que as pessoas "normais", mas tem

menos instrução, menos habilidade linguística, menos cultura, menos inteligência (é um "apedeuta"), menos senso moral, menos compostura do

que a exigida de um presidente, menos controle dos próprios impulsos (é um "alcoólatra")... e vários outros menos que "provam" a sua inferioridade.

Repare também como, atualmente, Lula só é tema de matérias que buscam ridicularizá-lo por meio de declarações desastradas ou caricaturais,

reforçando a sua imagem de pessoa caracterizada por deficiências insanáveis.

Essa imagem de inferioridade contrasta de maneira chocante com o fato de ele ter promovido o maior desenvolvimento econômico e social na

história do país, levando o Brasil a ocupar, pela primeira vez, o sétimo lugar entre as nações desenvolvidas, de ter promovido a maior experiência de inclusão social dos tempos modernos (incluindo mais de 30 milhões de

brasileiros na classe média), e de ter criado 63 universidades contra nenhuma do seu culto antecessor, no mesmo número de anos.

Para piorar, contando os títulos de doutor honoris causa já recebidos e a receber, será o brasileiro mais premiado em toda a História.

Convenhamos, uma situação ideal para fazer o ódio chegar à casa dos 100 e explodir em manifestações descontroladas de agressividade verbal.

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É quase possível ouvir os pensamentos dos indignados úteis: "Como é

que nós, sendo obviamente superiores, não conseguimos eleger alguém do nosso grupo, e além disso somos obrigados a conviver diariamente com

alguém tão incapacitado do outro grupo como 'nosso' líder político?"

Essa inversão da chamada ordem natural das coisas, que resultou na

combinação "um ser deficiente + uma posição elevadíssima", justifica a opção atual dos líderes da Oposição: qualquer um, menos eles de novo.

O caso de Dilma é diferente, mas produz a mesma reação. O passado da atual presidente ajuda. Apesar de nunca ter cometido, de fato, nenhum ato

terrorista em sua vida, e de não ter sido sequer acusada pelo Regime Militar de ter usado armas num combate, o rótulo "ex-terrorista" ou "terrorista"

vem a calhar. Que outra condição demoniza mais um adversário, que a de ser capaz de dilacerar corpos de civis inocentes em um atentado político?

Assim como no caso de Lula, o fator deficiência é alegado como uma condição natural da pessoa Dilma, visando justificar o tratamento agressivo. Fracassou como dona de uma lojinha de R$1,99, fracassou como gestora da

economia, não concluiu nenhuma obra prometida, tem dificuldades flagrantes de expressão verbal, além de promover medidas

bolivarianas/socialistas/comunistas (é tudo a mesma coisa) em seu governo, que refletem insuficiência de espírito democrático.

E, assim como Lula, Dilma é prova viva de um contraste chocante. Foi muito mais longe do que a maioria dos brasileiros em sua ousadia, na luta

pelos ideais, sendo, ainda por cima, mulher (uma condição inferior, segundo a cultura brasileira).

Superou psicologicamente a tortura e deixou como legado de coragem a foto mais icônica daquele período sombrio: a prisioneira torturada, de olhar

altivo, em meio a algozes envergonhados do seu papel histórico.

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Quantos de nós teríamos dessa postura nesse momento?

Chegou à presidência sendo virgem em campanhas políticas. Na primeira

delas, derrotou um candidato que, segundo ele mesmo, preparara-se a vida inteira para ser presidente da República. Foi a primeira mulher presidente em um país machista. Superou as expectativas catastróficas da mídia em

relação à sua capacidade de governança.

Atacada diariamente durante anos nos mundos real e virtual, jamais reagiu com ódio verbal ou violência contra seus acusadores ou xingadores, demonstrando, também no aspecto de inteligência emocional, que lhes é

superior. Compare esse comportamento com aquele de seus opositores nas redes sociais.

Assim como no caso de Lula, é quase possível ouvir os pensamentos dos indignados úteis: "Ela é, como pessoa, muito mais do que eu jamais serei

na vida. E é, como profissional, muito mais do que jamais serei na vida (por ter chegado ao ápice em sua carreira)? Como pode continuar a existir e a me atormentar desse jeito, se não passa de um poste?".

Os dois políticos estão presentes na presente campanha eleitoral, fazendo

com que esta seja a oportunidade ideal para incentivar os eleitores a despejarem todo o seu lixo interior no Casal Diabólico da política nacional.

Ódio em dose dupla.

P.S. Apostamos que, ao ler nossas considerações sobre Lula e Dilma, sua indignação foi despertada em vários pontos do texto. Fique tranquilo: nós o fizemos de propósito. E prometemos que esta foi a última vez. Ela teve

como objetivo demonstrar como é fácil, depois que se estabelece um padrão de reação aos fatos, estimular esse padrão com algumas palavras,

assumindo o controle do comportamento do leitor. É essa estimulação que a grande mídia realiza, diariamente. E que muitas pessoas não percebem.

Que venha, então, a parte prática deste Curso, na qual mostraremos como se faz para desfazer o ódio implantado durante anos de manipulação

política.

FIM DA PARTE EXPLICATIVA DO CURSO DE DESINTOXICAÇÃO DO ÓDIO POLÍTICO