Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros...

23
Escola Superior de Educação de Viana do Castelo Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor SOMATÓTIPO. Métodos e aplicações. SOMATÓTIPO. Métodos e aplicações. Luís Paulo Rodrigues 1996

Transcript of Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros...

Page 1: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Escola Superior de Educação de Viana do Castelo

Curso de Educação Física

Desenvolvimento Motor

SOMATÓTIPO.

Métodos e aplicações.

SOMATÓTIPO.

Métodos e aplicações.

Luís Paulo Rodrigues

1996

Page 2: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

1. O ESTUDO DO SOMATÓTIPO

A espécie humana é, dentro do reino animal, aquela que evidencia maior

diferenciação morfológica entre os seus membros. Esta característica elucida

bem o seu sucesso na luta pela sobrevivência da espécie, tendo conseguido

afirmar-se ao longo dos tempos nas vantagens da diversidade fenotípica, ao

contrário dos outros animais que necessitaram de reduzir ao mínimo, em cada

situação, a expressão da sua variação genética.

No entanto, e dentro da variedade morfológica, é possível identificar

componentes ou traços distintivos passíveis de organização em categorias ou

tipos característicos. É precisamente no quadro desta preocupação que surge

a somatotipologia. Esta técnica foi introduzida em 1940 por Sheldon, Stevens

e Tracker, e centra-se essencialmente na representação da constituição do

indivíduo em três componentes primários, representados cada um por um

algarismo.

O primeiro componente - endomorfismo - representa a deposição de

massa adiposa corporal; o segundo - mesomorfismo - traduz o

desenvolvimento músculo-esquelético em relação à altura e o terceiro

componente - ectomorfismo - expressa a lineariedade, ou seja a relação entre

o volume de massa corporal e a altura do indivíduo.

Originalmente Sheldon cotou cada componente de 1 a 7, definindo três

tipos extremos:

7-1-1 Endomorfo puro, indivíduo com características de obesidade, com

predominância do volume abdominal associado a pequenas dimensões

relativas das extremidades e laxidez muscular.

1

Page 3: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

1-7-1 Mesomorfo puro, manifestando um acentuado desenvolvimento

muscular e robustez óssea bem evidenciada no valor dos diâmetros

dos membros. O aspecto generalizado é massivo e enérgico.

1-1-7 Ectomorfo puro, representando o exemplo extremo da magreza e

hipotonia muscular. As medidas de comprimento predominam sobre os

diâmetros e as circunferências. Possui um aspecto geral de

fragilidade.

Entre estes três extremos é teoricamente possível encontrar 343

configurações ou somatótipos possíveis, associando graus diferentes de

evidenciação em cada um dos componentes. Porém, e apesar da enorme

diversidade existente, algumas dessas combinações são obviamente

inverosímeis (por exemplo 7-1-7, ninguém pode ser ao mesmo tempo obeso e

longilíneo), e outras acontecem com pouca frequência. Sheldon apenas refere

76 somatótipos reais, embora posteriormente Peterson (1967) tenha

encontrado 107 em crianças e adolescentes europeus.

Actualmente é ainda considerada uma maior amplitude dos três

componentes, variando o endomorfismo de 0.5 a 12.0 e o mesomorfismo e o

ectomorfismo de 0.5 a 9.0.

Figura 1 - Fotografias utilizadas para determinação do somaótipo. (retiradas de Carter & Heath, 1990)

2

Page 4: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

A determinação do somatótipo de Sheldon era realizada pelo método

antroposcópico, ou seja através da análise de três fotografias (de frente, perfil e

costas) do indivíduo a classificar (figura 1). Estas imagens fotográficas eram

sujeitas a um exame e avaliação minuciosa de cinco regiões corporais (cabeça,

toráx, membros superiores, abdómen e membros inferiores), sendo também

realizadas algumas medidas transversais sobre a fotografia, que eram

relativizadas à altura. A este conjunto de procedimentos dá-se o nome de

somatoscopia.

2. O MÉTODO ANTROPOMÉTRICO DE HEATH - CARTER

O método antroposcópico de Sheldon, apesar da sua grande adesão e

expansão entre os estudiosos da morfologia humana, apenas permitia uma

aplicabilidade limitada e era sujeito a variações de rigor e objectividade

derivadas sobretudo da menor concordância entre os observadores. Mantendo

as características fundamentais da classificação de Sheldon, diversos autores

procuraram então aplicar os procedimentos antropométricos ao processo

somatotipológico. Cureton (1947), Parnell, (1954, 1958) e Damon et al (1962),

foram alguns dos que demonstraram a exequibilidade da utilização das

mensurações antropométricas na estimação do somatótipo, permitindo uma

acumulação de vantagens sobre o processo antroposcópico, nomeadamente:

− maior objectividade na estimação do critério somatotípico

− maior acessibilidade de material necessário;

− diminuição do tempo necessário para a estimação do somatótipo no

terreno;

− menor intrusividade da individualidade, já que muitas vezes é difícil

conseguir que o observado pose quase nu para a fotografia;

− possibilidade de utilização dos dados recolhidos para critérios de estudo

antropométricos;

3

Page 5: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

− reconhecimento objectivo das particularidades de diferentes regiões

corporais.

Em 1967, Lindsay Carter e Barbara Heath desenvolveram o método

antropométrico de determinação do somatótipo que até hoje maior

unanimidade e divulgação atingiu - o método de Heath-Carter.

Este método assenta na análise conjugada de dez medidas

antropométricas - quatro pregas adiposas (tricipital, subescapular,

suprailíaca e geminal), dois diâmetros (bicôndilo-umeral e bicôndilo-

femoral), dois perímetros (braquial e geminal), a altura e o peso - de forma a

ser possível relativizar a participação de cada uma das componentes corporais

na constituição morfológica geral. Descrevemos de seguida os procedimentos

a realizar para a determinação de cada componente:

ENDOMORFISMO - O somatório dos valores das pregas tricipital,

subescapular e suprailíaca em milímetros (Σ Skf) é inicialmente corrigido

pela altura do indivíduo através da fórmula:

Valor (corrigido) Somatório Pregas Adiposas = Σ Skf x 170.18 / Altura

O resultado obtido é depois lido na tabela 1 de Heath-Carter,

correspondendo o valor do endomorfismo ao da classe em que se situa.

4

Page 6: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

ENDO Lim. Inf. Lim. Sup.

0.5 7,0 - 10,9 1 11,0 - 14,9

1.5 15,0 - 18,9 2 19,0 - 22,9

2.5 23,0 - 26,9 3 27,0 - 31,2

3.5 31,3 - 35,8 4 35,9 - 40,7

4.5 40,8 - 46,2 5 46,3 - 52,2

5.5 52,3 - 58,7 6 58,8 - 65,7

6.5 65,8 - 73,2 7 73,3 - 81,2

7.5 81,3 - 89,7 8 89,8 - 98,9

8.5 99,0 - 108,9 9 109,0 - 119,7

9.5 119,8 - 131,2 10 131,3 - 143,7

10.5 143,8 - 157,2 11 157,3 - 171,9

11.5 172,0 - 187,9 12 188,0 - 204,0

Tabela nº 1 de Heath - Carter

Convém esclarecer que a

correcção do somatório das pregas

adiposas pelos valores da altura

permitem relativizar e naturalmente

precisar melhor acerca da verdadeira

contribuição da massa adiposa para a

configuração morfológica do indivíduo.

Este procedimento torna-se ainda mais

necessário quando lidamos com

populações de jovens e crianças. O

facto de esta necessidade não ter sido

levada em linha de conta durante algum

tempo torna necessário algum cuidado

quando pretendemos comparar

resultados, devendo ser sempre indicado

se houve ou não correcção pela altura

em qualquer dos dados, já que quando

tal não acontece a tendência é para os

valores serem em média meio ponto

(0.5) mais elevados no valor final de

endomorfismo.

MESOMORFISMO - Para a determinação do mesomorfismo são necessárias

as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral,

perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção dos perímetros é

realizada através da subtracção do valor da respectiva prega adiposa (em

cms):

5

Page 7: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

PBRcorr. = PBR - SK tricipital

PGEMcorr. = PGEM - SK geminal

Convem ainda salientar que ambos os perímetros são medidos em

contracção (o braquial através da realização de uma contracção máxima

isométrica, utilizando o braço contrário como oposição e o geminal através da

sustentação do peso corporal, em pé, igualmente distribuído pelos dois apoios).

O valor da altura serve para assinalar na tabela nº 2 a linha de referência

do indivíduo. Para tal deve-se procurar na primeira coluna o valor mais

próximo da altura do indivíduo a classificar e assinalar a linha correspondente

(sendo aquela que, hipoteticamente, deveria conter os valores de diâmetros e

perímetros do sujeito segundo os valores da população de referência unissex

phanton). De seguida assinalamos a posição de cada uma das medidas na

coluna respectiva e verificamos qual o desvio (nº de linhas) de cada uma das

medidas reais relativamente à linha de referência da altura. Os desvios podem

ser positivos ou negativos e devem entrar como tal na fórmula do

mesomorfismo:

Mesomorfismo = 4 + Σ Desvios / 8

O valor final alcançado deve ser arredondado de forma a que o valor final

se expresse apenas em intervalos de 0.5 pontos (... 3, 3.5, 4, 4.5, ...)

6

Page 8: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

ALT DBCH DBCF PBRcorr PGEMcorr280.7 10.59 - [ 15.10 - [ 48.3 - [ 56.5 - [276.9 10.44 - 10.58 14.90 - 15.09 47.6 - 48.2 55.7 - 56.4 273.0 10.30 - 10.43 14.69 - 14.89 46.9 - 47.5 55.0 - 55.6 269.2 10.15 - 10.29 14.48 - 14.68 46.3 - 46.8 54.2 - 54.9 265.4 10.01 - 10.14 14.27 - 14.47 45.6 - 46.2 53.4 - 54.1 261.6 9.86 - 10.00 14.06 - 14.26 44.9 - 45.5 52.6 - 53.3 257.8 9.71 - 9.85 13.86 - 14.05 44.3 - 44.8 51.9 - 52.5 254.0 9.57 - 9.70 13.65 - 13.85 43.6 - 44.2 51.1 - 51.8 250.2 9.42 - 9.56 13.44 - 13.64 43.0 - 43.5 50.3 - 51.0 246.4 9.28 - 9.41 13.23 - 13.43 42.3 - 42.9 49.5 - 50.2 242.6 9.13 - 9.27 13.03 - 13.22 41.6 - 42.2 48.7 - 49.4 238.8 8.99 - 9.12 12.82 - 13.02 41.0 - 41.5 48.0 - 48.6 234.9 8.84 - 8.98 12.61 - 12.81 40.3 - 40.9 47.2 - 47.9 231.1 8.69 - 8.83 12.40 - 12.60 39.6 - 40.2 46.4 - 47.1 227.3 8.55 - 8.68 12.19 - 12.39 39.0 - 39.5 45.6 - 46.3 223.5 8.40 - 8.54 11.99 - 12.18 38.3 - 38.9 44.9 - 45.5 219.7 8.26 - 8.39 11.78 - 11.98 37.6 - 38.2 44.1 - 44.8 215.9 8.11 - 8.25 11.57 - 11.77 37.0 - 37.5 43.4 - 44.0 212.1 7.97 - 8.10 11.36 - 11.56 36.3 - 36.9 42.5 - 43.3 208.3 7.82 - 7.96 11.15 - 11.35 35.6 - 36.2 41.7 - 42.4 204.5 7.67 - 7.81 10.95 - 11.14 35.0 - 35.5 41.0 - 41.6 200.7 7.53 - 7.66 10.74 - 10.94 34.3 - 34.9 40.2 - 40.9 196.8 7.38 - 7.52 10.53 - 10.73 33.7 - 34.2 39.4 - 40.1 193.0 7.24 - 7.37 10.32 - 10.52 33.0 - 33.6 38.6 - 39.3 189.2 7.09 - 7.23 10.12 - 10.31 32.3 - 32.9 37.9 - 38.5 185.4 6.95 - 7.08 9.91 - 10.11 31.7 - 32.2 37.1 - 37.8 181.6 6.80 - 6.94 9.70 - 9.90 31.0 - 31.6 36.3 - 37.0 177.8 6.65 - 6.79 9.49 - 9.69 30.3 - 30.9 35.5 - 36.2 174.0 6.51 - 6.64 9.28 - 9.48 29.7 - 30.2 34.7 - 35.4 170.2 6.36 - 6.50 9.08 - 9.27 29.0 - 29.6 34.0 - 34.6 166.4 6.22 - 6.35 8.87 - 9.07 28.3 - 28.9 33.2 - 33.9 162.6 6.07 - 6.21 8.66 - 8.86 27.7 - 28.2 32.4 - 33.1 158.7 5.93 - 6.06 8.45 - 8.65 27.0 - 27.6 31.6 - 32.3 154.9 5.78 - 5.92 8.24 - 8.44 26.3 - 26.9 30.9 - 31.5 151.1 5.63 - 5.77 8.04 - 8.23 25.7 - 26.2 30.1 - 30.8 147.3 5.49 - 5.62 7.83 - 8.03 25.0 - 25.6 29.3 - 30.0 143.5 5.34 - 5.48 7.62 - 7.82 24.4 - 24.9 28.5 - 29.2 139.7 5.20 - 5.33 7.41 - 7.61 23.7 - 24.3 27.7 - 28.4 135.9 5.05 - 5.19 7.21 - 7.40 23.0 - 23.6 27.0 - 27.6 132.1 4.91 - 5.04 7.00 - 7.20 22.4 - 22.9 26.2 - 26.9 128.3 4.76 - 4.90 6.79 - 6.99 21.7 - 22.3 25.4 - 26.1 124.5 4.61 - 4.75 6.58 - 6.78 21.0 - 21.6 24.6 - 25.3 120.6 4.47 - 4.60 6.37 - 6.57 20.4 - 20.9 23.9 - 24.5 116.8 4.32 - 4.46 6.17 - 6.36 19.7 - 20.3 23.1 - 23.8 113.0 4.18 - 4.31 5.96 - 6.16 19.0 - 19.6 22.3 - 23.0 109.2 4.03 - 4.17 5.75 - 5.95 18.4 - 18.9 21.5 - 22.2 105.4 3.89 - 4.02 5.54 - 5.74 17.7 - 18.3 20.7 - 21.4 101.6 3.74 - 3.88 5.33 - 5.53 17.0 - 17.6 20.0 - 20.6 97.8 3.59 - 3.73 5.13 - 5.32 16.4 - 16.9 19.2 - 19.9 94.0 3.45 - 3.58 4.92 - 5.12 15.7 - 16.3 18.4 - 19.1 90.2 3.30 - 3.44 4.71 - 4.91 15.1 - 15.6 17.6 - 18.3 86.4 3.16 - 3.29 4.50 - 4.70 14.4 - 15.0 16.9 - 17.5 82.5 3.01 - 3.15 4.30 - 4.49 13.7 - 14.3 16.1 - 16.8 78.7 2.87 - 3.00 4.09 - 4.29 13.1 - 13.6 15.3 - 16.0

Tabela nº 2 de Heath - Carter

7

Page 9: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

ECTOMORFISMO - Para

determinar o valor do 3º

componente torna-se necessário

calcular o ìndice Ponderal

Recíproco (IPR), segundo a

fórmula:

Ecto Lim. Inf. Lim. Sup. 0.5 ] - 39.65 1 39.66 - 40.65

1.5 40.66 - 41.43 2 41.44 - 42.13

2.5 42.14 - 42.82 3 42.83 - 43.48

3.5 43.49 - 44.18 4 44.19 - 44.84

4.5 44.85 - 45.53 5 45.54 - 46.23

5.5 46.24 - 46.92 6 46.93 - 47.58

6.5 47.59 - 48.25 7 48.26 - 48.94

7.5 48.95 - 49.63 8 49.64 - 50.33

8.5 50.34 - 50.99 9 51 - 51.68

IPR = ALTPESO3

O ectomorfismo corresponderá

então ao valor do IPR lido na tabela

nº3.

3. DETERMINAÇÃO DO SOMATÓTIPO POR EQUAÇÃO

Os três componentes do somatótipo podem também ser calculadas

através de equações construídas especificamente a partir dos dados da

população de referência utilizada para a criação das tabelas vistas

anteriormente. Este processo permite-nos um cálculo mais rápido

(principalmente através da introdução das equações em computadores ou

calculadoras) e segundo Carter (1990) permite mesmo corrigir algumas das

limitações do processo anterior.

Devem ser então utilizadas as seguintes equações:

1. Endomorfismo = -0.7182 + 0.1451 (X) - 0.00068 (X2) + =.0000014 (X3)

(X = Som. Pregas (Tricipital, Subescapular e Suprailíaca) x 170.18 / Altura

8

Page 10: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

2. Mesomorfismo = [(0.858 x DBCH) + (0.601 x DBCF) + (0.188 x PBRcorr) +

+ (0.161 x PGEMcorr)] - (ALT x 0.131) + 4.5

3. Ectomorfismo - No cálculo deste componente terá de ser levado em linha

de conta o valor encontrado no Índice Ponderal Recíproco,

podendo ser utilizadas três equações diferentes:

Valor IPR Ectomorfismo

IPR ≤ 38.25 ⇒ 0.1

38.25 < IPR < 40.75 ⇒ IPR x 0.463 - 17.63

IPR ≥ 40.75 ⇒ IPR x 0.732 - 28.58

Os valores finais em cada um dos componentes devem ser arredondados

até ao décimo de ponto (0.1) ou até meio ponto (0.5), consoante o uso que

deles pretender ser feito posteriormente.

4. CLASSIFICAÇÃO DO SOMATÓTIPO

Embora o somatótipo se expresse através de números, não goza das

propriedades relativas a uma variável ou escala de classificação do tipo

numérico (proporcional e contínua). De facto, esta expressão numérica - assim

escolhida por questões de facilitação interpretativa - representa não uma

qualquer quantidade mas uma classificação qualitativa (poderia ser substituída

por letras ou expressões de qualificação) que se expressa de duas formas:

♦ a primeira, dentro da análise intra-individual, permitindo a percepção

em cada indivíduo da contribuição relativa de cada um dos

componentes representados, na sua própria constituição morfológica;

9

Page 11: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

♦ a segunda, permitindo uma comparação inter-individual da forma

corporal, já que este tipo de análise morfológica relativiza a um mesmo

tamanho hipotético cada um dos indivíduos estudados (fig 2). Este

constitui, aliás, um ponto que se torna importante reforçar - o

somatótipo não fornece qualquer informação sobre medidas absolutas

do indivíduo (tamanho corporal, altura, peso, etc), dando antes

informação sobre a forma corporal, a relação dos diversos

componentes constituintes da morfologia.

Figura 2 - Comparação das formas corporais através da relativização do tamanho de vários indivíduos. (retirado de Heath-Carter, 1990)

Cada indivíduo pode então, segundo a análise do peso dos seus

componentes, ser classificado em diferentes categorias de somatótipos:

10

Page 12: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Categorias de Classificação do Somatótipo

1 - Quando um componente é dominante (um dos componentes é maior que

qualquer dos outros em mais de 0.5 pontos) e

1.1 - os dois outros componentes iguais (não diferindo mais de 0.5 pontos)

classifica-se com a designação do componente principal e junção do

atributo “equilibrado”.

Endomorfismo dominante, ectomorfismo e mesomorfismo iguais ⇒ Endomorfo equilibrado

Mesomorfismo dominante, ectomorfismo e endomorfismo iguais ⇒ Mesomorfo equilibrado

Ectomorfismo dominante, endomorfismo e mesomorfismo iguais ⇒ Ectomorfo equilibrado

1.2 - um dos restantes componentes maior que o outro em pelo menos 0.5

(dominância secundária), atribuí-se o nome do componente

dominante por extenso precedido do componente secundário

abreviado.

Endomorfismo dominante principal, mesomorfismo dominância secundária ⇒ Meso-endomorfo

Endomorfismo dominante principal, ectomorfismo dominância secundária ⇒ Ecto-endomorfo

Mesomorfismo dominante principal, endomorfismo dominância secundária ⇒ Endo-mesomorfo

11

Page 13: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Mesomorfismo dominante principal, ectomorfismo dominância secundária ⇒ Ecto-mesomorfo

Ectomorfismo dominante principal, endomorfismo dominância secundária ⇒ Endo-ectomorfo

Ectomorfismo dominante principal, mesomorfismo dominância secundária ⇒ Meso-ectomorfo

2 - Quando dois componentes são dominantes (dois dos componentes são de

igual valor ou não diferem mais de 0.5 pontos e o terceiro é inferior em

mais de 0.5 a qualquer um deles), atribui-se um nome composto da

designação dos dois componentes dominantes por extenso.

Endomorfismo e mesomorfismo dominantes ⇒ Mesomorfo-endomorfo

Endomorfismo e ectomorfismo dominantes ⇒ Endomorfo-ectomorfo

Mesomorfismo e ectomorfismo dominantes ⇒ Mesomorfo-ectomorfo

3 - Quando as três componentes são semelhantes (nenhuma componente

difere mais do que 1 valor de qualquer uma das outras) e todas se situam

nos valores de 2, 3 ou 4 , classificam-se como somatótipos centrais.

Endomorfismo, mesomorfismo e ectomorfismo semelhantes ⇒ Central

5. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO SOMATÓTIPO

Os somatótipos podem ser representados graficamente para uma melhor

leitura e comparação dos seus valores, sendo para tal utilizada o somatograma

12

Page 14: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Este é um triângulo de lados curvos (fig 3), chamado triângulo de Reuleux,

correspondendo cada vértice ao valor mais elevado de dada componente.

Figura 3 - Exemplo de somatograma, onde estão representados os somatótipos de 17 alunos de 11 anos, do sexo masculino, com bons níveis de desempenho motor.

No centro do triângulo intersectam-se três eixos definindo seis sectores

diferentes relativos à influência ponderada de cada componente no somatótipo

Sobre cada eixo o valor da respectiva componente aumenta do centro para o

ponto polar.

Pra a representação do somatótipo no somatograma necessitamos de

transformar os valores do somatótipo em dados de duas coordenadas, através

da fórmula:

x = Ectomorfismo - Endomorfismo

y = 2(Mesomorfismo) - (Ectomorfismo + Endomorfismo)

13

Page 15: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

O somatograma como meio de representação gráfica, permite-nos

principalmente visualizar com facilidade as características de um grupo ou

população, bem como a comparação entre grupos ou indivíduos.

6. SOMATÓTIPO E DESEMPENHO MOTOR

A classificação através do somatótipo é um método de avaliar a morfo-

logia que tem sido utilizado para quantificar, na generalidade, a composição, a

forma e o tamanho corporal (Carter, 1980, 1988), em que cada componente

contribui de forma variada (gordura relativa, desenvolvimento musculo-

esquelético relativo e linearidade relativa) em referência a um compósito que é

a morfologia (Malina & Bouchard, 1991).

O princípio da existência de uma estreita relação entre a performance e a

morfologia é geralmente aceite pela maioria dos estudiosos da matéria (Sobral,

1982; Holopainen, Hakkinen & Telama, 1984; Laska-Mierzejewska, 1980),

sendo inclusivamente apontada uma relação positiva, embora baixa, entre o

tamanho corporal e a performance motora (Pissanos, Moore & Reeve, 1983).

Um endomorfo, normalmente, apresenta pior performance em tarefas que

requeiram movimentos de deslocação; enquanto mesomorfos e ectomorfos são

usualmente mais bem sucedidos (Hebbelinck & Borms, 1978; Malina & Rarick,

1973 cit. por Holopainen et al., 1984).

Beunen et al. (1985, cit. por Maia, 1990) ao estudarem as relações entre

performance e somatótipo em adolescentes do sexo masculino, verificaram que

a componente mesomórfica se revelou como a melhor preditora de todos os

testes motores. Na opinião destes autores a utilidade e validade do somatótipo

é indiscutivel, dado que permite compreender melhor os fenómenos da

performance de atletas jovens e adultos.

14

Page 16: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Embora chame a atenção para alguns problemas metodológicos e de

análise, na tentativa de procurar a associação do somatótipo com a perfor-

mance física, Carter (1980) diz-nos que os estudos parecem indicar que o

mesomorfismo está positivamente associada com a maior parte das prestações

físicas, o endomorfismo associada negativamente e o ectomorfismo demonstra

pouca ou nenhuma associação. Opinião que não é totalmente partilhada por

Holopainen et al. (1984) quando concluem que o endomorfismo dificulta todas

as performances de aptidão física e de performance motora e o ectomorfismo

melhora-as.

Malina (1975) refere que o endomorfismo tende a ser negativamente

correlacionada com a performance numa grande variedade de tarefas motoras,

enquanto o ectomorfismo tende a ser negativamente relacionada com a força.

No entanto as correlações encontradas entre os componentes individuais do

somatótipo e a performance são geralmente baixas ou moderadas e por isso

limitadas na utilização preditiva.

Os protótipos específicos das diversas modalidades desportivas revelam-

se nas fases mais precoces da preparação desportiva, constituindo referências

fundamentais nos programas de prospecção de talentos (Sobral, 1993b),

mesmo que neste âmbito o espectro total de elementos fenotípicos a

considerar seja bastante vasto (Sobral, 1994).

Os primeiro e segundo componentes do método de Heat-Carter

(endomorfismo e mesomorfismo) introduzem conceitos específicos da

composição corporal. No entanto as modificações resultantes do processo de

crescimento e maturação podem resultar numa falta de consistência da

avaliação em crianças e jovens. A falta de correlação entre a FFM e a segunda

componente, bem como a apenas moderada correlação entre a percentagem

de massa adiposa (%FAT) e a primeira, aconselha a utilização complementar

da estimação da composição corporal com crianças e jovens (Malina &

Bouchard, 1991).

15

Page 17: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Carter (1970) diz-nos que a participação e entrada voluntária num

determinado desporto é provavelmente também dependente da existência de

um somatótipo apropriado. Todos os desportistas têm como componente

dominante o mesomorfismo. O mesomorfo é solidamente musculado, a sua

força e robustez física conferem-lhe uma aptidão particular para a prática

desportiva (Boennec & Prevot, 1980; Bell, 1993) sendo geralmente o ecto-

mesomorfismo que caracteriza o desportista confirmado e em plena actividade

(Boennec, 1980).

Quando analisados comparativamente, jovens atletas do sexo masculino

(9-16 anos) são geralmente mais altos e pesados, mais mesomórficos e fortes

do que os não atletas, embora estas conclusões não sejam inteiramente

consistentes para todos os desportos (Malina, 1988a). Esta constatação é

semelhante à encontrada em estudos do somatótipo de atletas de alto nível,

que têm revelado uma distribuição limitada de valores, sendo normalmente

mais mesomórficos e menos endomórficos do que a população de referência

ou de atletas de níveis mais baixos de competição (Carter, 1988).

Aliás, e independentemente da eventual perca de informação do processo

utilizado na determinação dos somatótipos médios, o conjunto de resultados

apresentados no quadro síntese 2 parece demonstrar exactamente essa

associação, com a grande maioria dos somatótipos médios indicados a

apresentarem valores reduzidos na primeira componente (o que mesmo em

termos de média é significativo dado a pequena dimensão dos valores) e com a

segunda componente a ser dominante.

Quadro 1 - Somatótipos médios referenciados em vários estudos, segundo a modalidade praticada e a idade das crianças.

Autor citado Modalidade Somatótipo médio Idade

Chovanova & Zapletalova, 1979 Basquetebol 3 - 3.5 - 4 13/14 anos

Stepnicka, 1976 Ginastas 1.5 - 4.4 - 3.9 12 anos

16

Page 18: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Thorland et al., 1981 Gin + Salt 2.3 - 5 - 3.2 16,2

Perez (1981) Ginastas 1.7 - 5.4 - 2.5 14 a 20

Carter, 1984 1.4 - 5.9 - 2.4 ?

Stepnicka, 1977 1.5 - 6.9 - 2.1 ?

Pirie, 1974 Hoquei gelo 2.6 - 4.7 - 3.3 10

Stepnicka, 1976 1.6 - 4.3 - 3.9 10

Newton, 1978 3.2 - 4.8 - 3.2 13 a 15

Faulkner, 1976 Patinagem 2.5 - 4 - 3.5 10,7 a 15,7

Ross & Day, 1972 Ski 1.7 - 4.6 - 3.7 10,9

Stepnicka & Broda, 1977 1.5 - 5 - 3.6 13

Chovanova, 1981 2.3 - 4.6 - 3.8 11 a 17

Perez, 1981 Natação 1.8 - 4.3 - 3.7 10 a 21

Bagnall & Kellet, 1977 1.6 - 4.6 - 3.4 15,7

Lucio, 1981 Luta livre 1.9 - 5.5 - 3.2 15 a 19

Sinning, Wilensky & Meyers, 1976

2.3 - 4.8 - 3.1 16,5

Thorland et al., 1981 2.6 - 5.4 - 2.9 16,9

Lebedeff, 1980 Ténis 4 - 4 - 2.7 16,7

Valores citados por Carter (1988)

Quando comparados com atletas adultos, os jovens atletas são em geral

menos mesomórficos, menos endomórficos e mais ectomórficos. A maioria

dos atletas jovens centra-se nas categorias ecto-mesomórficos, ectomorfos-

mesomórficos e meso-ectomórficos (Carter, 1988; Bell, 1993), demonstrando

somatótipos idênticos aos de atletas de alto nível, mais velhos (Carter, 1980).

Stepnicka (1972, 1974, 1976 cit. por Carter, 1980) refere que, em

crianças, os grupos de somatótipos estavam altamente relacionados com os

testes de educabilidade motora ( motor educability tests ), actividades e apti-

dões desportivas e com a prática voluntária da educação física. Os endo-

mórficos eram os mais pobres no domínio motor e os ecto-mesomórficos os

melhores.

17

Page 19: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Um outro factor importante a considerar quando se estudam somatótipos

é a variação da população em causa, sabido que é que quanto mais elevado

for o nível desportivo estudado, menor a variação na distribuição dos

somatótipos (Carter, 1980). Assim, a variação encontrada no somatótipo de

jovens atletas é bastante limitada quando comparada com a variação em

populações de não-atletas da mesma idade e sexo (Clarke, 1971; Hebbelinck &

Borms, 1978; Parizkova & Carter, 1976 cit. por Carter, 1988), sendo ainda que,

embora exista variação no somatótipo entre desportistas jovens de diferentes

especialidades, estas diferenças parecem ser menos pronunciadas nestes do

que nos adultos, especialmente entre os rapazes (Carter, 1988).

Relativamente à estabilidade demonstrada pelo somatótipo ao longo do

processo de crescimento, Carter (1988), numa revisão efectuada com amostras

de jovens atletas do sexo masculino, verificou uma tendência para o

incremento em mesomorfismo desde o início da adolescência até à idade

adulta. Por sua vez, Malina e Bouchard (1991) dizem-nos que a morfologia

dum indivíduo pode ser estabelecida bastante cedo, já que, embora ocorram

mudanças no somatótipo durante o crescimento, não são em geral dramáticas,

pelo que a constituição física do jovem adulto é facilmente reconhecível em

criança, apontando mesmo a idade de oito anos como aquela a partir da qual a

estabilidade do somatótipo é bastante boa. Opinião compartilhada por Malina e

Rarick (1973) quando nos dizem que parecem haver razões para afirmar que a

morfologia do homem é determinada em tenra idade. Segundo Bale (1969 cit.

por Holopainen et al., 1984) a idade ideal para a determinação do somatótipo é

aos onze anos.

Também Parizkova (1974, 1977 cit. por Malina & Bouchard, 1991) estu-

dando três grupos de rapazes cumprindo diferentes programas de actividades

físicas (treino regular, treino moderado e sem treino) não encontrou diferenças

significativas nos somatótipos dos 11 aos 18 anos de idade, nem na FFM, o

que parece indicar uma relativa independência destes dois parâmetros quanto

aos efeitos do treino. Existiram, de facto, modificações em locais específicos

18

Page 20: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

(nomeadamente hipertrofia muscular localizada), mas não foram suficientes

para influenciar marcadamente os valores do somatótipo e da FFM.

Num estudo envolvendo crianças dos doze aos quinze anos, seguidas

longitudinalmente, Bell (1993) verificou que durante o período da adolescência,

crianças sedentárias demonstraram um aumento no endomorfismo e um

decréscimo no mesomorfismo e ectomorfismo. Em contraste, as crianças

activas reduziram o endomorfismo, mantendo razoavelmente estável o

mesomorfismo e o ectomorfismo. As correlações inter-idades ao longo da

adolescência (traduzindo a estabilidade do somatótipo) foram bastante

elevadas no grupo de crianças activas (0.84 - 0.99 endomorfismo; 0.94 - 0.99

mesomorfismo e 0.89 - 0.99 ectomorfismo), provavelmente devido à maior

homogeneidade deste grupo relativamente às crianças não activas. De forma

semelhante, também Parizkova e Carter (1976 cit. por Bell, 1993) comparando

um grupo de crianças menos activas com um outro de maior grau de

actividade, encontraram consistentemente maior aumento no endomorfismo e

diminuição no ectomorfismo.

Numa revisão de estudos efectuada por Malina e Bouchard (1991), as

correlações encontradas revelam uma razoável estabilidade no ectomorfismoe

variação no mesomorfismo e endomorfismo nos rapazes, entre o início e o final

da adolescência.

Os somatótipos médios por fotoscopia variam pouco de idade para idade

em rapazes, apenas se constatando uma pequena tendência por volta dos 13

anos para um ligeiro incremento em mesomorfismo (Malina & Bouchard, 1991).

Carter (1980) chama-nos a atenção para o cuidado que deve ser posto na

análise da estabilidade do somatótipo durante a infância e adolescência,

principalmente quando são utilizados valores médios referenciados à idade.

Na opinião do autor, apesar de algumas crianças permanecerem relativamente

estáveis no seu somatótipo, a maioria varia consideravelmente e poderá

acabar por possuir um somatótipo adulto bem diferente do de criança. Daí

resultará que, embora a realização da análise do somatótipo através da média

19

Page 21: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

dos grupos de idade pareça demonstrar apenas pequenas diferenças com o

crescimento, de facto esta média poderá ser o resultado de grandes alterações

dos elementos individuais que no seu conjunto eventualmente se anulam. Um

outro factor a ter em conta na comparação de resultados deverá ser a forma de

obtenção do somatótipo, nomeadamente por fotoscopia ou por diferentes

determinações do somatótipo antropométrico de Heat-Carter.

Em conclusão, embora o papel representado pela morfologia corporal seja

evidentemente apenas um dos apectos que influenciam a performance

desportiva (Laska-Mierzejewska, 1980), pode fornecer-nos alguns critérios

objectivos para a avaliação da performance motora do jovem, nomeadamente

do ponto de vista prospectivo (Carter, 1988).

20

Page 22: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

BIBLIOGRAFIA

1980). Détermination du somatotype par le methode de Heat et Carter. Cinésiologie, 19, (75), 45-51.

Bell, W. (1993). Body size and shape: a longitudinal investigation of active and sedentary boys during adolescence. Journal Sports Sciences, 11, 127-138.

Bell, W. (1993). Body size and shape: a longitudinal investigation of active and sedentary boys during adolescence. Journal Sports Sciences, 11, 127-138.

Carter, L. & Heath, B. (1990). Somatotyping. Development and applications. Cambridge: Cambridge University Press.

Carter, L. (1970). The somatotypes of athletes - a review. Human Biology, 42, 535-569.

Carter, L. (1980). The contributions of somatotyping to kinanthropometry. In M. Ostyn, G. Beunen & J. Simons (Eds) Kinanthropometry II (pp. 409-422). Baltimore: University Park Press.

Carter, L. (1988). Somatotypes of children in sports. In R. Malina (Ed), Young athletes. Biological, psycological and educational perspectives (pp 153-165). Human Kinetics: Champaign.

Fragoso, I. & Vieira, M. (1994). Desenvolvimento e adaptação motora. Crescimento e morfologia. Curso prático. Lisboa: FMH.

Holopainen, S., Hakkinen, P & Telama, R. (1984). Level and rate of development of motor fitness, motor abilities and skills by somatotype. Scandinavian Journal Sports Science, 6, 67-75.

Laska-Mierzejewska, T. (1980). Body build as one of the elements of selection and adaptation of competitors in team games. In M. Ostyn, G. Beunen & J. Simons (Eds) Kinanthropometry II (pp. 214-221). Baltimore: University Park Press

21

Page 23: Curso de Educação Física Desenvolvimento Motor · as medidas da altura, diâmetros bicôndilo-umeral e bicôndilo-femoral, perímetros bicipital e geminal corrigidos. A correcção

Desenvolvimento Motor

Maia, J (1993). Selecção natural e selecção em desporto: analogias a partir do paradigma. Horizonte, 60, 23 Maia, J. (1990). Auxologia cineantropométrica. In Gabinete Coordenador Desporto Escolar e FCDEF (Eds), FACDEX. Desenvolvimento somato-motor e factores de excelência desportiva na população escolar portuguesa, (pp 21-32). Lisboa: GDCE.

Malina, R. & Bouchard, C. (1991). Growth, maturation and physical activity. Champaign: Human Kinetics Books. Boennec, P. (Boennec, P. & Prevot, M. (1980). Somatotype de sportif de haut niveau. Resultats dans huit disciplines différentes. Medicine du Sport, 54, 309-318.

Malina, R. & Rarick, L. (1973). Growth, physique and motor performance. In L. Rarick (Ed) Physical activity. Human growth and development (pp 125-151). New York: Academic Press.

Malina, R. (1975). Anthropometric correlates of strength and motor performance. Exercise and Sport Sciences Reviews, 3, 249-274.

Pissanos, B., Moore, J. & Reeve, G. (1983). Age, sex and body composition as predictors of chidren's performance on basic motor abilities and health-related fitness items. Perceptual Motor Skills, 56, 71-77.

Sobral, F. (1982). Algumas considerações sobre a detecção dos talentos desportivos. Ludens, 6, (3), 8-13.

Sobral, F. (1985). Curso de antropometria. Lisboa: ISEF-CDI.

Sobral, F. (1993b). FACDEX: Um projecto de investigação em Desporto Escolar. Opções teóricas e metodológicas. In J. Bento e A. Marques (Eds) A ciência do desporto, a cultura e o homem (pp. 51-62). Porto: FCDEF e CMP.

Sobral, F. (1994). Desporto infanto-juvenil. Prontidão e talento. Lisboa: Livros Horizonte.

22