Curso de Josefologia

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Curso de Josefologia Pe. José Antônio Bertolin, OSJ Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana (Pastoral Josefina) Índice Curso de Josefologia.................................... 1 Parte I................................................. 2 1. Quem É São José.........................................2 2. A Procedência de José...................................5 3. O Ambiente Sócio-Político e Religioso do Tempo de São José....................................................... 7 4. O Exercício da Profissão e a Vida de José em Nazaré....10 5. Jesus Cumpridor do Antigo Testamento e o Significado das Genealogias............................................... 12 6. O Nascimento de Jesus e a Sua Circuncisão..............14 7. A Apresentação de Jesus no Templo e a Oferta do Primogênito............................................... 16 8. A Imposição do Nome a Jesus e os Sonhos de José........18 9. A Fuga, a Permanência e a Volta do Egito...............21 10. Vida em Nazaré e a Permanência de Jesus no Templo.....25 Parte II............................................... 28 11. O Matrimônio de Maria e José..........................28 12. Um Matrimônio com a União Conjugal e Todo Especial....30 13. Um Matrimônio Verdadeiro e Conveniente................32 14. A Idade de José quando Se Casou com Maria.............35 15. O Exercício de Sua Paternidade e a Sua Denominação....36 16. Erros Sobre a Sua Paternidade e a Sua Natureza........39 17. Requisitos para a Sua Paternidade.....................41 18. Pai tanto quanto Casto................................43 19. A Função de Pai.......................................45 20. Uma Paternidade não Natural, mas Verdadeira...........48 21. A Paternidade Afetiva e Educativa de José.............49 22. A Vocação de José e a Sua Justiça.....................52 23. A Missão de José......................................54 24. Na Oficina de Nazaré a Sagrada Família Era a Cátedra da Vida Evangélica........................................... 56 25. A Morte de José.......................................57 26. A Voz dos Papas.......................................60

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Curso de JosefologiaPe. Jos Antnio Bertolin, OSJCentro de Espiritualidade Josefino-Marelliana(Pastoral Josefina)

ndiceCurso de Josefologia1Parte I21.Quem So Jos22.A Procedncia de Jos53.O Ambiente Scio-Poltico e Religioso do Tempo de So Jos74.O Exerccio da Profisso e a Vida de Jos em Nazar105.Jesus Cumpridor do Antigo Testamento e o Significado das Genealogias126.O Nascimento de Jesus e a Sua Circunciso147.A Apresentao de Jesus no Templo e a Oferta do Primognito168.A Imposio do Nome a Jesus e os Sonhos de Jos189.A Fuga, a Permanncia e a Volta do Egito2110.Vida em Nazar e a Permanncia de Jesus no Templo25Parte II2811.O Matrimnio de Maria e Jos2812.Um Matrimnio com a Unio Conjugal e Todo Especial3013.Um Matrimnio Verdadeiro e Conveniente3214.A Idade de Jos quando Se Casou com Maria3515.O Exerccio de Sua Paternidade e a Sua Denominao3616.Erros Sobre a Sua Paternidade e a Sua Natureza3917.Requisitos para a Sua Paternidade4118.Pai tanto quanto Casto4319.A Funo de Pai4520.Uma Paternidade no Natural, mas Verdadeira4821.A Paternidade Afetiva e Educativa de Jos4922.A Vocao de Jos e a Sua Justia5223.A Misso de Jos5424.Na Oficina de Nazar a Sagrada Famlia Era a Ctedra da Vida Evanglica5625.A Morte de Jos5726.A Voz dos Papas6027.A Funo de So Jos na Encarnao e a Sua Misso na tica do Magistrio6328.So Jos e o Evangelho do Trabalho6629.So Jos Homem do Silncio e da Contemplao6830.So Jos, Patrono da Boa Morte6931.So Jos, Protetor e Presente na Vida da Igreja7032.Natureza e Razes da Presena de So Jos na Vida da Igreja7233.A Dignidade, a Santidade e as Virtudes de So Jos7434.A Virgindade de So Jos7735.So Jos, Mestre e o Seu Perfil de Vida Interior7836.So Jos, Exemplo de Dedicao e de Disponibilidade aos Interesses de Jesus8037.So Jos, Modelo para os Ministros Sagrados e para os Religiosos e Religiosas8238.So Jos, Modelo para a Comunidade Crist8339.Pelo Matrimnio So Jos o Protetor das Famlias8540.Breve Histria da Teologia de So Jos88Parte III9041.A Espiritualidade Josefina9042.So Jos, na Liturgia9143.So Jos, no Culto9344.So Jos, nas Festas e Reconhecimentos9545.So Jos, nas Devoes9846.So Jos na Iconografia9947.So Jos, no Folclore10048.So Jos, na Arte10349.Os Patronatos de So Jos10450.As Confrarias e Irmandades10551.Centros de Estudos e de Publicaes Josefinas108Parte IV11252.Introduo11253.Figura Insgnie11454.A Vocao de So Jos11655.Jos, o Esposo Fiel11756.O Matrimnio e Virgindade11757.A Imagem do Esposo e da Esposa11858.A Unio dos Coraes11859.A Paternidade Messinica12060.Uma Paternidade Humana e Autntica12161.O Exerccio da Paternidade12262.O Banco do Carpinteiro12363.A Contemplao da Verdade12564.O Protetor da Santa Igreja12665.O Tipo do Evangelho128

Parte I1. Quem So Jos

Quem So Jos? Quais so as suas caractersticas? Qual o modelo de santidade que ele representa para os cristos? Estas so interrogaes, entre muitas outras, que temos o direito de fazer.

Tentaremos mostrar tudo isso neste Curso, sem esgotar o assunto.

Alis, diante desta personalidade rica e ao mesmo tempo polidrica percebemos que, quanto mais descobrimos, mais temos para encontrar.

De So Jos, na verdade, sabemos muito pouco. O seu nome citado nos evangelhos apenas quatorze vezes, e os evangelistas lhe dedicam apenas vinte e seis versculos, mas no mencionam nenhuma palavra dele. Claro que isso no nos deve parecer estranho, pois os evangelistas estavam preocupados em narrar a vida de Jesus e o seu ministrio. No possumos nem mesmo referncias sobre o ano nem sobre o lugar onde nasceu. No sabemos o nome da sua me e existem controvrsias a respeito do nome do seu pai (Para os que pensam que a genealogia de Lucas (3,23) d a linhagem de Maria, e a de Mateus (1,16), d a de Jos, Jac seria o pai de Jos e Heli o seu sogro. O uso da palavra "pai" no hebraico e no grego, permitiriam que esta fosse usada no lugar de sogro. Para os que pensam que ambas as genealogias do a linhagem de Jos, Jac e Heli seriam irmos, e segundo o costume, quando Heli morreu, Jac teria tomado a sua viva como esposa, e Jos seria filho de Jac no sentido literal, e de Heli no sentido legal. Segundo a lei dos Judeus (Dt 25,5), o irmo deveria continuar a descendncia de um irmo morto casando-se com a viva deste. possvel que Jos tenha sido filho de Jac por nascimento, mas filho de Heli por adoo).

Entrou em cena quase desapercebidamente. No h nenhuma meno sobre a sua vida nem sobre a sua morte, e esse silncio permanecer por muitos sculos. Entretanto, foi a ele que Jesus submeteu-se como filho, e foi com ele e nele que Maria encontrou um grande amor e fora para desempenhar com perfeio a sua misso sublime.

Na verdade, o mistrio de So Jos est na eloquncia do seu silncio e no primado do seu amor, sendo assim, a imagem terrestre da bondade de Deus. O seu silncio impressionante. Ele o mais escondido de todos os santos. Talvez por isso tenha exercido e continue exercendo um fascnio na alma de incontveis devotos. O seu abandono aos desgnios de Deus total, no pede explicaes, no contesta e, mesmo quando entra em cena, aparece quase que de modo obscuro. Se verdade que, ao referir-se a ele, os evangelhos no usam muitas palavras, indiscutvel que a sua pessoa est envolvida por um halo de luz to cristalino, que resume a essncia do que ele representava, quando afirmam que "era um homem justo" (Mt 1,9).

Era justo com Deus, depositando nele a mais profunda confiana em toda a sua vida. Era justo com o prximo, pois vivia com Jesus e Maria na mais perfeita caridade. Era justo consigo mesmo, pois foi sempre fiel vocao que recebeu.

So Jos um santo no sentido mais amplo da palavra, afirmava um grande devoto josefino. Foi um homem parte, reservado, retirado, separado. Um homem em quem se diria que tudo interior. Um homem de Deus, todo de Deus, todo em Deus. Admirado com a extrema simplicidade e os traos de santidade com que Jos se apresenta, outro grande devoto do nosso santo, Olier, assim se expressou em suas consideraes sobre ele: Jos "foi dado humanidade para exprimir visivelmente as adorveis perfeies do Pai, para ser a sua imagem aos olhos do Filho de Deus". Ento, como deve ser excelsa a sua santidade, a beleza desse grande santo que Deus Pai criou com suas mos para representar a si mesmo ao Filho unignito.

So Jos , no dizer do Papa Paulo VI, "a luz que difunde os seus raios benficos na casa de Deus que a Igreja: preenche-a com profundas e inefveis recordaes da vida cena deste mundo do Verbo de Deus, feito homem por ns e para ns, e que viveu sob a proteo, a guia e a autoridade do arteso pobre de Nazar" (Paulo VI , Alocuo de 19 de maro de 1966). Deus, para realizar o seu grande desgnio de amor, quis servir-se de suas criaturas, entre as quais escolheu duas de seu especial agrado, Maria e Jos, como testemunhas conscientes e agentes livres e responsveis. Por isso a participao desses dois astros de primeira grandeza na histria da salvao os coloca no centro da histria do mundo.

Deus procurou, em todas as geraes, quem pudesse ser escolhido e dado como companheiro quela que escolhera como me do seu Filho eterno. Considerou a f inabalvel de Abrao, a pureza de alma de Isaac, a infatigvel pacincia e resignao de Jac, a mansido e a santidade de Davi, mas o seu olhar divino no repousou em nenhum deles. Foi alm, pois s em Jos encontrou o homem que procurava, e sobre ele recai a sua escolha. "O Senhor encontrou Jos segundo o seu corao e lhe confiou com plena segurana o mais misterioso e sagrado segredo do seu corao. Desvendou a ele a obscuridade e os segredos da sua sabedoria, concedendo-lhe que conhecesse o mistrio desconhecido de todos os prncipes deste mundo (So Bernardo, Hom. Super Missus est, PL 183, 70)."So dele os pesos, as responsabilidades, os riscos e as fadigas da pequena e singular famlia. dele o servio, o trabalho, e o sacrifcio, na penumbra do quadro evanglico, no qual agradvel contempl-lo" (Paulo VI, Homilia de 19 de maro de 1969).

Portanto, ningum pode ignorar o lugar que So Jos ocupa na hierarquia dos Santos. Se aprofundarmos a sua vida perceberemos que imit-lo nos parecer fcil, pois est muito perto de ns. Ele conheceu a luta do dia-a-dia. E a amargura, sendo igual a ns. A amvel e singular serenidade que se irradia deste simples leigo com uma grande misso aos olhos de Deus, nos convida afetivamente a nos aproximarmos dele com mais familiaridade, para conhecer e seguir o seu ensinamento, que nos foi transmitido com tanta discrio.

Por isso, ns, catlicos, tributamos aos nossos santos um culto de venerao, considerando sempre a dignidade que lhes foi concedida por Deus e os seus exemplos que edificam a nossa vida.

So Jos fala pouco, mas vive intensamente aquilo que faz, no se subtraindo de nenhuma responsabilidade que a vontade do Senhor lhe impe. Por isso ele nos oferece um exemplo de atraente disponibilidade vontade de Deus, exemplo de calma em cada acontecimento, de confiana embebida de sobre-humana f e caridade, assim como do grande meio da orao (Joo XXIII, Felicitaes apresentadas ao Sacro Colgio em 17 de maro de 1963). Por ter sido escolhido como esposo de Maria e pai de Jesus, e devida abundncia de graas que recebeu de Deus, a Igreja sempre lhe tributou um culto especial.

Esse o motivo porque So Jos vive na alma do nosso povo, pois o povo o conhece como o carpinteiro de Nazar, de mos calejadas por causa do manejo do martelo e do serrote. Mediante os quais tirava o sustento para si com o suor do seu rosto. Ele um santo que no se encontra na grande galeria dos doutores da Igreja, nem dos sbios, nem mesmo entre aqueles que se revestiram do poder de conduzir a nossa Igreja. Nos cus no o colocamos entre os querubins e os exrcitos celestes. Com seu estilo silencioso e humilde de vida, quase desconhecido, ele se assemelha muito ao nosso povo.

Em sntese, os trechos da Sagrada Escritura que falam sobre o nosso Santo podem ser resumidos nos seguintes: Descendente da casa de Davi - Mt 1,16 / Lc 1,27.Esposo de Maria - Mt 1,18.Pai de Jesus - Mt 1,20; 13,55 / Lc 3,23; Jo 1,45 ; 6,42.Perplexidade diante do mistrio da encarnao - Mt 1,19.Viagem a Belm para o recenseamento ordenado por Csar Augusto - Lc 2,4-6.Fuga ao Egito e volta com Maria e o Menino para Nazar - Mt 2, 14. 19-23.Perda e encontro de Jesus aos 12 anos no Templo de Jerusalm; em seguida o Menino desceu com eles a Nazar, onde lhes era submisso - Lc 2,48.Era um homem justo - Mt 1,19.

Portanto, os dados dos evangelistas sobre So Jos so estes: era justo, filho de Davi, esposo de Maria, pai de Jesus e carpinteiro. So poucas informaes, mas de importncia fundamental, como todas as da Sagrada Escritura, pois so como sementes cheias de vitalidade e de contedos inexaurveis.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Quantas vezes os evangelhos o mencionam? E qual ou quais seriam seu (s) pai (s)?2. Como Mateus o define?3. D uma sntese do que os evangelhos falam dele.

2. A Procedncia de Jos

De So Jos, na verdade, sabemos muito pouco. No temos referncia sobre o ano nem sobre o lugar do seu nascimento, no sabemos o nome da sua me. E existem controvrsias a respeito do nome do seu pai. Os evangelistas Mateus e Lucas o apresentam como descendente do rei Davi (Mt 1, 1-16,20. Lc 1, 27; 2, 4 ; 3,23-31).

No entanto, h uma divergncia na genealogia que ambos os evangelistas trazem, pois Mateus percorre, todo o caminho da sua ascendncia chegando a Jac (Mt 1,16), enquanto Lucas diz que ele filho de Levi (Lc 3,23). Esta questo no chegou at hoje a uma soluo satisfatria por parte dos exegetas. Em todos os casos a funo da genealogia justamente fazer Jesus entrar na histria humana e documentar que o Verbo se fez carne na linhagem davdica. O intuito do evangelista Mateus fazer ver a sucesso legal, respeitando os direitos messinicos de Davi a Jesus . Lucas, do seu lado, quer indicar a sucesso natural de Jesus. O melhor esclarecimento a respeito dessas duas posies podemos fazer, levando em conta a Lei do Levirato expressa no livro do Deuteronmio (Dt 25, 5-10) ela estabelece que a mulher que ficasse viva devia tornar-se esposa do irmo do esposo falecido, e o primeiro filho desse casamento era considerado filho legal do primeiro marido e filho natural do segundo marido. Com isso, podemos salvar tanto a sucesso legal como a natural de Jesus.

Alm das referncias sobre a sua pessoa, podemos ainda afirmar que Jos era esposo de Maria (Lc 1, 27), que era justo (Mt 1,9) e que era conhecido como carpinteiro (Mt 13,55 ; Jo 1,15). Sobre a sua famlia possumos ainda uma referncia de Egesipo, o qual afirma que ele tinha um irmo chamado Clofas (Eusbio, Hist. Eccl. 3.11, em PG XX, col. 248) . Pertencente antiga dinastia de Davi, como afirmamos, Jos viveu em Nazar (Lc 1, 26; Mt 2,23) durante toda a sua vida, menos, claro no breve perodo que passou exilado no Egito, para garantir a segurana da sua famlia (Mt 2, 13-21).

No sabemos se nasceu em Nazar, porm achamos com grande probabilidade que sim, pois ali viveu toda a sua vida.

Contudo, podemos afirmar com segurana que, segundo o costume da poca, foi circuncidado no oitavo dia depois do nascimento e recebeu o nome de Jos, que significa "crescimento, aumento" , e ainda criana aprendeu a ler o hebraico da Tor.

Seu pas, a Palestina, onde hoje se situa o territrio de Israel, localiza-se na parte oriental do mar Mediterrneo, e formado por uma longa faixa de terra de 240 por 150 quilmetros quadrados.Possui uma plancie de terras ricas e frteis, montanhosa e de caminhos sinuosos, com desertos desoladores em contraste com colinas verdejantes e osis exuberantes, marcados pela presena imponente do rio Jordo e do lago de Genesar, a cuja beleza se ope o inspito mar Morto. Sua rea montanhosa com colinas de 500 a 900 metros, espalha-se pelas suas trs regies caractersticas, denominadas Galileia, Samaria e Judia.

O rio Jordo, que forma no seu percurso o lago de Genesar, tambm conhecido como mar da Galilia pela sua profundidade de at 45 metros com 2 quilmetros de comprimento por 11 de largura, um rio muito importante na vida do povo hebreu, pois foi palco de inmeros e relevantes acontecimentos na vida desse povo. Basta lembrar que em suas margens o profeta Joo Batista pregava a converso e batizava, em suas guas o prprio Jesus foi batizado.

Aps percorrer 350 quilmetros, ele desgua no mar Morto, o qual possui uma extenso de 85 quilmetros com aproximadamente 16 quilmetros de largura, atingindo uma profundidade de at 400 metros. Suas guas so densas de sal, o que no permite nenhum tipo de vida.

A Palestina de Jos herdeira de uma histria de muitos sculos antes do nascimento de Jesus, marcada por lutas, conquistas, derrotas, monarquias, deportaes e exlios. Esteve envolvida por uma densa atmosfera poltica. E por uma nsia de libertao, e alimentou sempre uma f intensa em Jav, embora frequentemente contaminada por idolatrias e infidelidades.

So Jos nasceu na poca da dominao romana. De fato, desde o ano 63 antes de Cristo, o seu povo vivia sob o jugo dos romanos, que introduziram na Palestina muitas novidades e progresso, particularmente construes imponentes, assim como os seus dolos e templos profanos para cultuar seus deuses, o que constitua uma afronta ao povo de Jos, que se julgava o nico conhecedor do Deus verdadeiro. Esse comportamento dos dominadores romanos, bastante ecltico e incompatvel com as aspiraes dos hebreus, gerou muitas revoltas, guerrilhas e revolues armadas por parte de faces do povo, sempre com o intuito de libertar-se da dominao estrangeira.

Mas, se tantas adversidades contrastavam na vida deste povo, algo muito especial os unia: o Templo de Jerusalm. Era em volta dele que girava a vida religiosa, social e poltica dos hebreus. Foi construdo pelo rei Salomo no sculo X antes de Cristo, destrudo por Nabucodonosor em 516 antes de Cristo, reconstrudo por Zorobabel, e depois novamente destrudo por Herodes por volta do ano 20. a.C., quando Jos j era adolescente, para que outro mais suntuoso e rico ocupasse o seu lugar. Esse ltimo s ficou pronto no ano 64 a. C.

Jos, fruto do seu tempo, estava envolvido por esta atmosfera mstica e ao mesmo tempo tensa. Conhecia bem o Templo e, como hebreu, oferecia os seus sacrifcios a Deus. O trio do edifcio sagrado era palco todos os dias, desde manh bem cedo, de sacrifcios e imolaes de animais, que ocupavam todos os altares, construdos em grande blocos de pedra. Como bom hebreu, Jos pagava 10% de imposto ao Templo, taxa que era destinada a sustentar os 20 mil funcionrios, do mais alto grau sacerdotal ao empregado mais humilde, que ali prestava servios. Jos tinha conscincia das distines de classe e do modo de pensar da sua sociedade. Percebia a existncia de uma hierarquia e sabia que no topo da pirmide social se encontrava a classe dos saduceus, um grupo poderoso, constitudo pelas pessoas mais influentes e ricas, que eram sacerdotes e administradores do Templo. Esse grupo era intransigente na observncia da Lei Mosaica e contrrio s mudanas, sobretudo aquelas que pudessem afetar a sua posio na sociedade. Gozava de privilgios, pois colaborava com os romanos. Apreciava a ordem externa e zelava pela conservao do Templo e pelo funcionamento ritualista dos sacrifcios.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Qual era sua nacionalidade e seu pas?2. O que significa a palavra Jos?3. Descreva o pas de Jos?3. O Ambiente Scio-Poltico e Religioso do Tempo de So Jos

O ambiente scio-poltico-religioso do tempo de So Jos propiciava no s uma diversificao efetiva, mas tambm uma forte discriminao disseminada pelas diferentes camadas da sociedade.

Assim, o grupo dos fariseus, alm de primar pela busca da ostentao religiosa com uma srie de prticas marcadas por oraes, purificaes, normas de comportamento e pela observncia estrita da lei em todas as situaes da vida pessoal, era particularmente inimigo dos romanos e evitava todo e qualquer contato com aqueles que no conheciam a lei ou no eram judeus. Uma sociedade dominada por estrangeiros como esta caracterizava-se por um certo pluralismo partidrio assim, um outro grupo, formado pelos chamados zelotas, distinguia-se particularmente pela luta contra os dominadores e, guerrilheiros como eram, no deixavam evidentemente de sempre carregar armas nas mos. Era um grupo isolado. O seu "apartheid" era constitudo sobretudo pelas grutas das montanhas na regio da Galilia. Outro grupo que contribua bastante para acentuar esta fisionomia, secionada do povo judeu era formado pelos monges essnios, os quais, deste o sculo II a.C., se constituram em comunidade, vivendo nas margens ocidentais do mar Morto, numa localidade que hoje conhecemos como Quamram. Esse grupo levava a vida asctica, acompanhada por uma disciplina muito rgida. Basta dizer que o membro da comunidade que proferisse uma blasfmia era automaticamente expulso do seu meio. Esses monges solitrios cultivavam o solo, consagravam o tempo ao estudo e, sobretudo, empenhavam-se em levar uma vida muito asctica.

No bastasse tudo isso, ocorreu no meio deste povo um grande "racha", que fomentou uma diviso profunda deste sculo X antes de Cristo, e que continua at os nossos dias, entre os judeus e os samaritanos. Esta ferida aberta e ainda no cicatrizada ocasionou um grande impasse na unidade desse povo. Dali por diante, a Samaria passou a ser considerada pelos judeus uma terra maldita e seus habitantes comearam a ser tratados como estrangeiros e pagos, odiados e indignos de pertencer ao povo de Israel. Para os judeus, os Samaritanos eram tidos desde ento como herticos e impuros, pois no aceitavam mais o monte Sio como um monte santo, mas ao contrrio, escolheram o monte Guarizim como lugar santo, onde construram um templo, e que no deixou de representar para os judeus uma grande afronta a Deus e, portanto, uma idolatria.

Dominados pelas autoridades de Roma, os cidados hebreus, entre eles So Jos, tinham como lder poltico Herodes, um caudilho imposto pelo poder real de Roma. Herodes foi nomeado rei dos judeus pelo Senado romano no ano 46 a. C. Esse indumeu de mau carter e muito autoritrio espalhou no meio do povo sofrido e desolado inmeras confuses e perseguies. Mandou matar todos aqueles que se mostravam contrrios sua poltica, inclusive sua esposa, sua sogra e seus dois filhos. Apesar dessas atrocidades e das inmeras injustias que cometeu arbitrariamente, os anos de seu governo transcorreram num clima de relativa estabilidade poltica e de prosperidade, o que fez com que lhe fosse atribudo o ttulo de poltico astuto e administrador hbil.

Era justamente nesse ambiente instvel, hostil e opressor que So Jos, alimentado por sua religio e f inabalvel em seu Deus, esperava, como os demais cidados deste povo , a libertao atravs de um grande acontecimento, prometido por Deus ao longo dos sculos e anunciado pela boca dos profetas, na pessoa do Messias.

Embora fosse desconhecido e ignorado nesse ambiente tenso, So Jos no passava desapercebido aos olhos de Deus, pois se fazia mister que a estada do Messias prometido no meio desse povo tivesse os prstimos de um homem magnnimo como ele, a tal ponto que o Filho de Deus o preferisse entre todos os grandes da terra, para revestir-se da sua filiao e assumir a sua condio humana e social.

Considerando toda a problemtica latente na sociedade de Jos, podemos concluir que havia poucas possibilidades de desenvolvimento para seus membros, com exceo claro, de alguns poucos privilegiados. Alm do mais, este povo no se distinguia por riquezas de bens materiais, levando em considerao que era explorado pelos dominadores romanos e o solo onde habitava era pobre, como o at hoje, e desprovido de recursos naturais. A escassez de chuvas resultante das condies climticas, a tcnica agrcola rudimentar e a dependncia de muitas coisas, aliada a outros fatores, influam profundamente na precariedade das condies econmicas e scio-polticas do povo. A classe rica da Palestina, devido s suas possibilidades, tinha uma abertura acentuada para a civilizao: conhecia e apreciava o teatro, o belo e a literatura, e tambm conhecia e praticava esportes como o lanamento de dardos, a corrida, a maratona, a luta etc. classe pobre, da qual Jos fazia parte, no restava outra alternativa seno trabalhar e sofrer privaes, explorada pela exorbitncia dos impostos cobrados pelos romanos.

O regime alimentar da classe pobre era muito simples, como era, alis as normas alimentares dos antigos hebreus. Eles faziam duas refeies por dia, uma de manh e outra , a principal, bem a tardezinha.

O po era o alimento da segunda refeio, pois devia constituir um luxo na mesa de Jos, assim como na de todos os pobres, na primeira refeio. Quase no comiam carne, mas em compensao, no lhes faltavam frutas como tmaras, muito comum naquele clima, e tambm roms e figos. No faltavam leo e vinho, leite, ovos e peixes pescados no lago de Genesar. Alis, a existncia desse lago, tambm conhecido pelos judeus como mar da Galilia devido sua extenso e profundidade, elemento que propicia uma beleza indescritvel para quem o visita. A presena desse lago, tornou toda aquela religio um solo frtil, onde a planta cresce e permite qualquer tipo de vegetal, porque o clima favorvel. O historiador Flvio Josefo, encantado com essa beleza rara, j se expressava: "At mesmo a noz, que aprecia terras frias, cresce ali em abundncia, ao lado da palmeira, que prefere o calor, da figueira e da oliveira, s quais convm uma temperatura mais amena. Dir-se-ia que ali a natureza se divertiu, colocando os contrastes lado a lado."

No havia nada de luxuoso ou aparatoso na casa de um judeu pobre. Com exceo de Jerusalm e de alguns outros pontos estratgicos para os romanos na Palestina, no havia moradias luxuosas. As casas eram muito simples, construdas com paredes de pedras calcrias ou com tijolos de barro cozido ao sol e cobertas com tetos de barro amassado. Os moradores dormiam no cho ou em esteiras feitas especialmente para esse fim. Por isso, uma das primeiras coisas que a dona-de-casa fazia logo de manh era desocupar as dependncias da casa das esteiras ou das cobertas usadas para dormir.

Como salientamos, o povo simples vivia num ambiente marginalizador e classista. As mulheres eram as que mais sofriam com esse tipo de opresso. Nesse contexto social, os homens eram tudo e as mulheres no tinham voz nem vez. Eram consideradas inferiores aos homens, limitando-se ao trabalho caseiro: cozinhavam, faziam limpeza, iam buscar gua na fonte, lavavam a roupa e nada mais. As mulheres podiam participar das funes nas sinagogas, porm tinham lugares parte. O mesmo acontecia no Templo de Jerusalm, onde ocupavam os lugares situados atrs do espao reservado aos homens, bem prximo da praa comum, aberta ao comrcio de animais destinados ao sacrifcio no prprio Templo. Nas cerimnias no lhes era permitido usar a palavra nem tinham autoridades para ler a Lei, a "Tor". Por esse motivo, o testemunho de uma mulher no era levado em considerao por ningum, e em pblico nenhum homem "de boa reputao" cumprimentava uma mulher (Enquanto a mulher hebria era restringida neste ambiente marginalizador, s podendo sair rua com muita cautela, a mulher romana gozava de ampla liberdade, frequentava lugares pblicos, ia aos jogos e aos circos, assistia aos espetculos dos gladiadores, estudava, sabia ler e escrever poesias, podia escolher o marido e pedir-lhe sem inibio o divrcio, e at administrava os seus prprios bens.)

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Descreva o ambiente scio-poltico e religioso do tempo de Jos.2. Descreva o regime alimentar e a situao da mulher no tempo de Jos.

4. O Exerccio da Profisso e a Vida de Jos em Nazar

Jos, conforme nos ensinam os relatos da infncia de Jesus, era carpinteiro. Herdou essa profisso do pai, pois era costume o pai transmitir a profisso ao filho. Portanto, desde a adolescncia ele pertencia categoria dos artesos. Analisando os costumes da poca, podemos inferir com toda probabilidade que Jos era dono de uma oficina, portanto muito mais que um simples carpinteiro. No fabricava somente mveis, portas e janelas, como nos vem mente que pensamos nos afazeres de um carpinteiro, mas a sua profisso era muito ampla, abrangendo outras aptides, segundo as necessidades da pequena Nazar, onde morava e que com certeza, no oferecia possibilidades de mo-de-obra especializada. Jos no foi carpinteiro em Jerusalm, ou em Tiberades, Jerico ou Cafarnaum, onde viviam a aristocracia e a burguesia, e onde poderia ter executado com maior satisfao trabalhos mais refinados e mveis de luxo. Ao contrrio exerceu a sua dura e obscura profisso em um lugarejo perdido nas montanhas, fora de mo, em um lugar de lavradores rsticos, com casas pobres e muito simples. Assim, teve que se adaptar produzindo objetos rsticos e com tcnica atrasada.Sendo um arteso, um artfice que, alm de trabalhar com madeira e ferro, tambm se adaptava s necessidades dos nazarenos, era uma pessoa muito conhecida, de confiana e benquisto pelos habitantes de sua pequena cidade. Podemos supor que executava a maior parte de seu trabalho num canto da sua humilde casa.Naturalmente a sua profisso facilitava o contato com muitas pessoas, inclusive de fora de Nazar e das regies circunvizinhas. Neste sentido, no lgico afirmar que Jos tenha vivido toda a sua vida confinado no seu pequeno mundo de trabalho. Podemos dizer que conhecia o seu pas e a forma variada do seu trabalho facilitava a sua presena nas casas cujos moradores solicitavam os seus prstimos, assim como o contato com pessoas de outras regies, de onde provinham, sem dvida, materiais para o seu trabalho.O dia de um hebreu comeava bem cedo com o trabalho, mas j s 09:00 horas, Jos, fiel tradio do seu povo, interrompia as atividades para recitar a orao prescrita pela lei. Ali mesmo, no recanto da sua oficina, em p, voltado para o Templo de Jerusalm e com as mos erguidas para o cu, rezava esta orao: "Escuta Israel: O Senhor o nosso Deus, o Senhor um s. Amars o senhor teu Deus com todo o teu corao, com toda a tua alma e com todas as tuas foras..."Aps cumprir essa obrigao religiosa, retornava ao servio: afinal, era com o suor do seu rosto, com a fora de seus msculos e com os calos de suas mos que tirava o sustento para si e para a sua famlia.Ao meio-dia havia outra interrupo no trabalho e, de novo, outro momento de orao, na qual rezava lembrando a obedincia aos mandamentos divinos, o amor exclusivo do corao e da alma ao Senhor. Deus e a promessa das bnos divinas. Depois dessa orao, a primeira parte da jornada de trabalho estava terminada.Fazia-se ento a refeio. Aps um breve descanso, voltava-se atividade normalmente, mas s 15h00 estava previsto um outro intervalo para o terceiro momento de orao do dia. E aqui mais uma vez Jos, como de resto o bom israelita, elevava seus pensamentos a Deus, recordando as proezas da sada do Egito, na qual Jav colocou- se como o Deus do seu povo. Portanto, competia ao povo lembrar e pr em prtica todos os mandamentos. Feito esse momento de orao, retomava-se novamente o trabalho, at o fim da jornada.Assim, aquele pequeno recanto da casa pobre de Nazar foi o palco que acolheu por muitos anos as trs personagens mais importantes que viveram na terra: Jesus, Maria e Jos. Seus dias transcorriam calmamente. Nada ali se manifestava grandioso, portentoso ou extraordinrio. Jos, imperturbvel ao barulho da serra e do martelo, procurava dias aps dia cadenciar tudo com suas oraes e meditaes. Animado por esse esprito, todos os seus trabalhos assumiam um significado profundo e imenso diante de Deus. Afinal, era ali, de maneira escondida, que se processava um grande mistrio: um arteso pobre ensinava ao prprio Filho de Deus uma profisso e este lhe obedecia colocando em prtica todos os seus ensinamentos.Na verdade, Jos se apresenta como um homem completo para o seu tempo. Era seguro de si, possua todos os requisitos de um homem instrudo para a sua poca, embora no fosse um homem de ctedra, mas um homem prtico, capaz de tomar decises coerentes e pertinentes sua misso. Esse arteso desconhecido foi, efetivamente, um gigante de esprito. Descendente da tribo de Jud e da antiga dinastia da famlia do rei Davi, teve Nazar da Galilia como sua morada e a carpintaria como local de trabalho. Eis uma breve sntese deste leigo que viveu na Palestina no tempo do dominador Herodes, em que Csar Augusto e Tibrio imperavam com todo esplendor.Esta personagem saiu naturalmente da simplicidade e com a sua escolha sublime por parte de Deus, tornou-se o elo fundamental de ligao com a genealogia messinica, particularmente pela aceitao imediata dos desgnios de Deus a seu respeito e da disposio de cumpri-los. Sua caracterstica foi justamente o devotamente total de sua vida ao servio da encarnao e da misso redentora do Filho de Deus, misso nica e grandiosa. Por isso, foi enriquecido abundantemente com dons especiais por parte de Deus, e sua vida, iluminada por uma luz divina.At o presente momento procuramos projetar, ainda que palidamente, o contexto scio-cultural-religioso do tempo em que So Jos viveu. Toca-nos agora concentrar nossas atenes mais na pessoa e no ministrio que o nosso ilustre santo personagem desenvolveu no cumprimento fiel da sua vocao ao lado de Jesus e de Maria, sua esposa. Tenho conscincia da limitao desta abordagem, visto que no se trata de uma anlise profunda e pormenorizada sobretudo da parte teolgica do nosso assunto em questo, porm procurei espelhar-me o mais genuinamente possvel no que de melhor existe neste assunto.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. O que significa a profisso de Jos?2. Como era geralmente dividida a jornada de Jos?

5. Jesus Cumpridor do Antigo Testamento e o Significado das Genealogias

Toda a histria de Israel orientada para Jesus, o qual constitui o fato histrico por excelncia que d valor para todo o Antigo Testamento. De fato, Jesus reconhece a autoridade divina do Antigo Testamento e at fixa como objetivo de sua misso o cumprimento perfeito de todo ele ao afirmar no vim abolir a lei e os profetas... (Mt 5,17). A lei e os Profetas significam todo o Antigo Testamento. Como enviado do Pai ele cumpriu o Antigo Testamento no arco de toda a sua existncia humana, ou seja, desde seu nascimento at o envio do Esprito Santo para sua Igreja. Nele encontra o cumprimento de toda a revelao de Deus (2Cor 1,20). Visto que as promessas do Antigo Testamento foram todas realizadas no Verbo feito carne: Ns vos anunciamos a boa notcia: Deus cumpriu para ns, os filhos a promessa feita a nossos pais... (At 13,32s). Foi Jesus mesmo na Sinagoga de Nazar que depois da leitura do texto de Isaas (61,1s) proclamou solenemente: Hoje realizou-se essa Escritura que acabaste de ouvir.... (Lc 4,21). claro portanto, que o Antigo Testamento era uma promessa, da qual os cristos so os beneficirios (Gal 3,19). Os escritores do Novo Testamento interpretaram e aplicaram as profecias do Antigo Testamento em base compreenso da histria que aquela dos prprios profetas, onde foi estabelecido o plano de Deus manifestado em diversas maneiras e modos, durante a histria de Israel e por fim colocado em plena luz nos acontecimentos hauridos nos evangelhos. Pois bem, desta plena luz dos acontecimentos que explicitam o plano de Deus e que so marcantes nos evangelhos, Jos, o Carpinteiro de Nazar, tomar parte de modo intenso, ainda que de uma maneira silenciosa e sem pronunciar uma palavra.Dentro do contexto do Antigo Testamento podemos apresentar o significado das genealogias apresentadas no Novo Testamento pelos dois evangelistas Mateus e Lucas, os quais foram objeto de muitas discusses desde o incio dos primeiros sculos da Igreja. Os judeus esperavam um herdeiro e sucessor do Rei Davi e este, nos desgnios de Deus, se concentrava em Jesus, o qual como o Messias seria escolhido da casa de Davi. Portanto, a davidicidade torna-se a conditio sine qua non da messianidade. Em vista desta promessa, o ponto central do primeiro captulo de Mateus coloca Maria grvida pelo Esprito Santo antes de coabitar com Jos (1, 18), explicitando desta forma a realizao da promessa messinica.

A rvore genealgica que Mateus (1, 1-17) apresenta, quer demonstrar que Jesus descendente de Abrao e portanto Judeu, e descendente de Davi e por isso Messias do povo hebraico. Assim, na genealogia de Mateus aparece a messianidade e a davidicidade de Jesus, demonstrando com isso que a promessa de Deus feita a Davi concretiza-se atravs da presena do esposo de Maria, Jos, apresentado como Filho de Davi, o qual d a Jesus a ascendncia davdica.Na sequncia dos versculos 18-25, Mateus revela o encontro do divino com o humano realizado na instituio da famlia, onde Maria, Me de Jesus est comprometida em casamento com Jos (v 18), tambm se a presena do Esprito Santo em Maria parece que tivesse de comportar uma ciso do vnculo matrimonial (v 19). Deus contudo, escolhe uma famlia humana para o honroso inserimento de seu Filho no mundo.No momento culminante da histria da salvao, Jos o filho de Davi escolhido por Deus e preparado (o evangelista o denomina Justo) para ser o esposo da me de Jesus e para dar o nome a este Menino singular concebido por obra do Esprito Santo. Face a isso no faltam telogos que propem a teologia de So Jos nos Tratados como o da encarnao, com o objetivo de real-lo como o Filho de Davi que garantiu a Jesus a sua messianidade. Outrossim, indicam tambm a teologia Josefina no Tratado de Mariologia, onde se deveria lembrar que a honra de Maria Virgem e Me, est ligada ao fato dela ser a esposa de Jos. fundamental termos em considerao a afirmao de Mateus (1,16) o qual no diz que Jos gerou Jesus, mas que Jac gerou Jos, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus. Nesta afirmao o evangelista deixa claro a concepo virginal de Jesus, explicitando que Jos no o seu pai natural. Mesmo que Mateus tivesse dito: Jos gerou Jesus, continuava contudo afirmando a concepo virginal de Jesus, pois a palavra gerar na Bblia nem sempre se refere gerao fsica, podendo tambm entender aquela gerao puramente legal, j que os hebreus viam e aceitavam sem problema em suas genealogias tambm os pais adotivos, sem uma distino rigorosa entre ambas. Com isso, Jos sendo simplesmente pai legal, ele, de direito transmitiu a descendncia a Jesus. Portanto, por meio de Jos Jesus descendente de Davi e herdeiro da promessa divina.Sabemos que os hebreus viam como condio necessria para a chegada do Messias prometido, que este fosse da descendncia de Davi (2Sam 7,16; 1Cr 17,14). A nica exceo eram os monges de Qumram, os quais esperavam um Reino onde o representante fosse da classe sacerdotal.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato sobre a rvore genealgica em Mt 1,1-17 e procure dar uma explicao para o versculo 16.2. Em Jesus, Deus cumpriu a promessa feita a Abrao, por que a presena de Jos indispensvel no relato da genealogia de Jesus?3. Quais as duas caractersticas essenciais que Mateus evidencia no relato de sua genealogia a respeito de Jesus ligado a Jos?

6. O Nascimento de Jesus e a Sua Circunciso

O evangelista Lucas coloca neste acontecimento o fato de um Decreto para o recenseamento promulgado por Csar Augusto, fato este que levou Jos e Maria a dirigirem-se de Nazar at Belm. Em Lucas (2,1-7) lemos Naqueles tempos apareceu um decreto de Csar Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Sria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade. Tambm Jos subiu da Galileia, da cidade de Nazar, Judia, Cidade de Davi, chamada Belm, porque era da cada e famlia de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grvida. Estando eles, ali, completaram-se os dias dela. E deu luz seu filho primognito, e envolvendo-o em faixas, reclinou-o num prespio; porque no havia lugar para eles na hospedaria.Constatamos que no segundo captulo de Mateus por trs vezes ele insiste: Para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor por meio do Profeta. Ainda Mateus (2,5-6) afirma: Em Belm, na Judia, porque assim foi escrito pelo profeta: E tu, Belm, terra de Jud, no s de modo algum a menor entre as cidades de Jud, porque de ti sair o chefe que governar Israel, meu povo. Ora, tudo isso indica expresses dos desgnios de Deus a respeito do nascimento do Messias.Podemos concluir que a partir do fato do recenseamento, Jos comeou a exercitar os seus direito e deveres de pai em relao a Jesus buscando o lugar para o seu nascimento, permanecendo ao lado de Maria durante o parto e depois registrando em Belm o nome e a pessoa de Jesus como seu descendente e em tudo isso saboreando, apesar das circunstncias difceis do nascimento de Jesus, que ele era o pai daquele que salvaria o mundo dos seus pecados (Mt 1,21).Aps o nascimento de Jesus, seus pais procuraram circuncid-lo. O episdio da circunciso de Jesus impressionou muitos pintores e artistas talvez pelo motivo da eficcia da cena, assim como tocou muitos pregadores pelo motivo do sangue derramado no rito, etc. Contudo importante consider-la na sua justa perspectiva teolgica.A circunciso no foi inveno dos hebreus, porque esta j era conhecida entre os povos com os quais o povo hebreu teve contato. O que prprio dos hebreus foi ter assumido este rito como smbolo da aliana com Deus e da santidade de Israel entre as naes. A carne do hebreu circuncidada o sinal da aliana mantida e portanto do direito das promessas feitas por Deus a Abrao, e tambm um ttulo para o exerccio do culto (Ex 12,43-44s). em suma, um sinal de pacto com Jav.A lei da circunciso descrita meticulosamente em Jeremias 17. preciso afirmar que a circunciso de Jesus no pode ser considerada somente como uma circunstncia que permitiu de introduzir uma ao importante na sua vida, ou seja; de dar-lhe o nome de Jesus, embora reconhecendo a nfase sobre a imposio do nome. Sem dvida, Lucas no inseriu o rito da circunciso simplesmente como uma notcia de crnica e nem quis com isso enfatizar a solidariedade de Jesus com o gnero humano, enquanto esta verdade j estava presente na encarnao. Tambm no especfico da circunciso de Jesus a sua insero na descendncia de Abrao, porque esta podia tambm ser dada para estrangeiros como possibilidade para que participassem do culto (Gn 17,12; Ex 12,48), muito mais porque Lucas relata que Maria era esposada com um homem chamado Jos, da casa de Davi.A circunciso, portanto no pode ser considerada, como j afirmamos, apenas como uma circunstncia para dar o nome a Jesus. Ademais, Lucas no diz expressamente que Jesus foi circuncidado, mas usa a expresso: Quando se completaram os oito dias para a circunciso... (Lc 2,21). Este detalhe importante para evitar que Jesus pudesse vir a ser colocado entre os circuncidados como se fosse um membro da aliana, ele que a prpria aliana. Ademais, Jesus no um beneficirio das promessas, pois ele a Promessa (2Cor 1,20), ele aquele que salvar o seu povo dos seus pecados (Mt 1,21). Ele no est portanto entre os eleitos e salvos.Lucas enfatiza a origem celeste do nome Jesus, deixando na sombra a funo de Jos (Mt 1,21-25) e de Maria (Lc 1,31), para evidenciar que a salvao vem de Deus na pessoa de Jesus.A circunciso tornou Jesus sdito da lei (At 15,5) ele se submeteu lei. Ela o envolveu na aliana, mostrando que ele o Sim das promessas de Deus (Lc 1,54s.72s. 2,25). A circunciso na tica de Lucas foi o momento histrico no qual o nome de Jesus tornou-se mysterium salutis. De fato, ele interpreta este evento no seu significado salvfico atravs da ligao com o nome de Jesus Ele enviou a sua palavra, aos filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz por Jesus Cristo... (At 10,36).A eficcia do nome Jesus tem aqui o seu incio e todo o seu significado.Entre os primeiros deveres de um pai para com o filho estava aquele de circuncid-lo, o que no significava que o pai devia ser o executor material, porque podia ser a me (Ex 4,25), ou normalmente, dado a delicadeza do intervento, era atribuio de uma pessoa capaz, conhecido como Mohel (circundante). Contudo, era o pai que devia assumir a responsabilidade para que o seu filho fosse inserido no povo da promessa.Esta cerimnia era realizada normalmente na casa do neonato (Lc 1,59) com a presena de um certo nmero de testemunhas que segundo a tradio talmdica eram dez, entre as quais estava o padrinho que segurava o menino durante a cerimnia. Durante o rito o pai da criana proferia, conforme a tradio talmdica, uma beno com estas palavras: bendito aquele que nos santificou com os seus mandamentos e nos ordenou de introduzir a este na aliana de Abrao, nosso pai. No relato do desenvolvimento deste rito Jos ficou na sombra, contudo foi ele que como pai de Jesus que providenciou, preparou e preocupou-se com todos os requisitos para a realizao deste rito. As gotas de sangue, o choro do menino, as suas lgrimas, so todos detalhes daquele precioso momento que podemos imaginar presentes em seu corao atravs daquele rito. Neste, Jos impondo-lhe o nome de Jesus declarou, como afirma a Exortao Apostlica Redemptoris Custos, A prpria paternidade legal em relao a Jesus; e, pronunciando esse nome, proclamou a misso deste menino, de ser o Salvador (RC 12). Ele foi o primeiro a pronunciar oficialmente para o mundo o nome de Jesus e a proclamar consequentemente a sua misso de Salvador da humanidade.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato sobre o recenseamento em Lc 2,1-7 e compare com Mt 2,5-6. Qual a finalidade do recenseamento e qual a funo que Jos manifesta neste episdio?2. Leia xodo 17 depois indique em Lucas onde encontra-se a referncia circunciso de Jesus?3. Por que Jesus foi circuncidado? Qual foi a funo de Jos neste acontecimento da vida de Jesus?

7. A Apresentao de Jesus no Templo e a Oferta do Primognito

As referncias que Lucas faz no trecho em que focaliza a narrativa da infncia de Jesus mostram claramente o cumprimento do Antigo Testamento (Lc 2,22-24). Alis, como j afirmamos, Jesus reconhece a autoridade do Antigo Testamento e v o objetivo de sua misso e o cumprimento de todo o Antigo Testamento no vim para abolir a lei e os profetas, mas para cumpri-la... (Mt 5,17). O Antigo Testamento era um tempo de espera que culminou com a vinda de Jesus, o Filho de Deus (Gl 4,4) cumprindo tudo o que estava prometido. A ateno que o evangelista Lucas coloca no cumprimento segundo a lei, mostra a sua preocupao de mostrar como o ingresso de Jesus no Templo o cumprimento do esperado dia de Jav, caracterizado por uma purificao e de uma excepcional oferta que o prprio Jesus. De fato, Lucas serve-se do rito de purificao da mulher que dava luz, conforme era estabelecido pela lei de Moiss que toda a me, aps o parto era obrigada a apresentar-se no Templo para purificar-se, pois a mulher aps dar luz era considerada impura (Lev 12,2-4). Para os exegetas, a cerimnia da purificao de Maria considerada por Lucas como uma simples moldura histrica, na qual ele inseriu um quadro muito importante, sublinhando a excepcional santidade da oferta de Jesus.Conforme o livro do Levtico, na Lei de Moiss continha trs prescries: a purificao da me depois de quarenta dias do nascimento do filho; a consagrao a Deus de cada primognito seja ele homem ou animal e o resgate de cada primognito (Ex 13,2.13). Entretanto no texto, Lucas evidencia a apresentao de Jesus no Templo, isto para ressaltar o valor histrico que seus pais realizavam em vista da misso desta criana, Santa por excelncia (Lc 1,35). Ele um consagrado a Deus de maneira nica e com uma especial consagrao. Alm disso, Lucas fundamentando-se no Antigo Testamento, onde a palavra apresentao (cf. Lc 2, 22 = ) tem a conotao em relao aos Levitas e Sacerdotes que desenvolviam o servio no nome do Senhor (Dt 17,12; 18,5 - ), v em Jesus desde aquele momento como o Grande Sacerdote da nova Aliana e tambm como o Sacerdote que se oferece como sacrifcio ofertado (J. Danielou, Les Evangiles de LEnfance, Paris 1967, pg. 109-111). Assim, Jos e Maria apresentam ao Pai, o prprio Filho Jesus como Sacerdote e hstia dado em sacrifcio. A lei do primognito estabelecida em Ex 13,1-15 era muito importante porque lembrava a absoluta dependncia de Deus que Israel teve para sua libertao do Egito (Ex 3,12s). Os primognitos israelitas na ocasio da libertao do povo de Israel do Egito, no podiam ser destinados para o uso profano, seno atravs do resgate, ou seja, de um pagamento efetuado pelo pai de uma soma equivalente aproximadamente a vinte dias de trabalho (Nm 18,16). No primognito era representado o povo da aliana, resgatado da escravido para pertencer a Deus (RC 13). Da fato, o evangelista Lucas descreve que Concludos os dias da sua purificao, segundo a Lei de Moiss, levaram-no a Jerusalm para a apresentao ao Senhor, conforme o que est escrito na lei do Senhor: Todo primognito do sexo masculino ser consagrado ao Senhor(Ex 13,2); e para oferecerem o sacrifcio prescrito pela lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos (Lc 2,22-24). Portanto, o primeiro objetivo que Lucas coloca para a viagem da Sagrada Famlia Jerusalm para apresentar o Senhor, o Menino, o primognito de Maria (Lc 2,7). Cumpriu-se, assim segundo o AT, o estabelecido na lei e Jesus com isso supera este rito, pois no era ele um simples homem sujeito a ser resgatado, mas o prprio autor do resgate (RC 13). Aqui est tambm mais um motivo do por que Lucas omite o referimento ao resgate, embora Jos, certamente o pagou, pois este era uma obrigao do pai. Jos com suas prprias mos e plenamente consciente dos mistrios, ofereceu e consagrou a Deus sobre o altar do Templo, o Menino Jesus. Os artistas tm com frequncia colocado o velho Simeo no centro da cena da apresentao de Jesus, o qual encontrava-se presente no Templo nesta ocasio em companhia de sua esposa Ana. Quem apresentou de fato Jesus ao Templo foram os seus pais (Lc 2,22), os quais cumpriram o que determinava a lei. Neste sentido no possvel separar Jos e Maria neste rito; eles foram os ministros deste, foram os instrumentos de Deus para esta oferta, ao passo que Simeo e Ana foram os instrumentos para a revelao do seu significado. Com isso podemos dizer que Jos e Maria foram introduzidos progressivamente no mistrio de Jesus justamente atravs deste canal proftico. De fato, eles ficaram maravilhados do quanto ouviram da boca de Simeo a respeito de Jesus, definido como salvao para todos os povos, luz para as naes. importante notar que foi nesta circunstncia que Lucas pela primeira vez qualificou expressamente Jos como pai de Jesus, nomeando-o hierarquicamente antes de Maria, sua me (2,33). Tambm neste contexto Maria envolvida como me, em relao a Jesus, uma espada traspassar sua alma (2,35); aqui o carisma proftico de Simeo revela a participao de Maria na sorte dolorosa de seu Filho. Naturalmente Jos ter experimentado somente em parte esta profecia de sofrimento feita por Simeo, ou seja, tomar parte das angustias pela perseguio de Herodes e a fuga no Egito, ou ainda da dor por ocasio da perda de Jesus no Templo, isto porque o evangelista no acena se ele era ainda vivo durante a vida pblica de Jesus.No rito da apresentao de Jesus aparece evidente, a participao enftica de Jos porque ele, como pai, era o responsvel do Menino e das observncias religiosas que lhe diziam respeito. Sabemos que entre os deveres de um pai para com o seu Filho estavam a tarefa de circuncid-lo, de resgat-lo, de instru-lo na Tor e numa profisso e de arranjar-lhe um casamento.Desde o momento em que o Anjo lhe havia transmitido em nome de Deus a ordem de tomar Maria como sua esposa e de dar o nome criana (Mt 1,21), Jos passou a viver na espera deste filho e assim, se a Simeo, em virtude do seu carisma proftico, tocou anunciar pelos trios do Templo a presena da salvao na pessoa do Menino (Lc 2,30-31), a Jos, como pai do Menino, tocou de fazer-lhe os gastos da oferta dele, em virtude do qual todos seriam salvos. O Papa Pio IX, devoto de So Jos, quando ainda era apenas um sacerdote, numa novena pregada por ele, ao comentar a apresentao de Jesus no Templo evidenciava a funo de So Jos naquela particular circunstncia, e assim descrevia o seu gesto: Jos generoso e pronto na obedincia, levanta os braos e tendo a suave hstia do sacrifcio exclama; Eterno Pai, eis esta criana, que me deste em lugar de Filho, eu o amo mais que a mim mesmo este amvel, este estimado Filho; eu o adoro profundamente e com grandssima reverncia o reconheo por meu Deus; somente nele eu vivo, somente nele eu me movo, somente nele eu existo, mas vs quereis que este penhor seja sacrificado pela sade dos homens... (Escritos inditos de Pio IX, em Estudos Josefinos 27 [1973] - 171).

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato de Lc 2,22-38 e procure explicar por que Jesus foi apresentado ao Templo faa um paralelo com Ex 13,1-15.2. Qual foi a funo de Jos na apresentao de Jesus no Templo?3. Tome conhecimento do gesto indito de Jos durante este rito na referncia dos escritos de Pio IX.

8. A Imposio do Nome a Jesus e os Sonhos de Jos

Ela dar luz um filho, a quem pors o nome de Jesus, porque ele salvar o seu povo de seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceber e dar luz um Filho, que se chamar Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco. Despertando, Jos fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus (Mt 1,21-25)Sabemos que para o povo bblico o nome designa a prpria natureza do ser, as suas qualidades e a misso da pessoa. No livro do Gnesis (17,5) Jav trocou o nome de Abro para Abrao porque o tornou pai de uma multido. Dar o nome ao filho um direito inerente misso dos pais, pois estes exercitam a autoridade sobre eles, e de certo modo designam a personalidade deles. De fato, Abrao deu o nome aos seus filhos Israel (Gn 16,15;); Isac (Gen 17,19); Raquel ao filho Jos (Gn 30,22-24); Ana ao Filho Samuel (1 Sam 1,20); Zacarias a Joo (Lc 1,55-64). Na verdade, nesta tica bblica, Jos ao impor o nome a Jesus, o introduziu na descendncia davdica com a sua conseqente messianidade, assim como assumiu sobre ele os direitos de pai. De fato, So Joo Crisstomo coloca na boca do anjo do anncio a Jos, estas palavras: Sem bem que tu, Jos, no tens nada a ver com a gerao... te confiro igualmente aquilo que prprio de um pai, impor-lhe o nome; te confio Jesus para que sejas aqui na terra o seu pai (In Matthaeum homilia IV: MG 57,46-47).Quanto aos sonhos de Jos, devemos afirmar que os telogos afirmam que a historicidade da revelao comporta a possibilidade da manifestao de Deus em todos os nveis da criao e das realidades da vida humana, inclusive os determinismos biolgicos e psicolgicos. Os sonhos esto presentes na histria dos Patriarcas, tais como: Abrao (Gn 15,.12); Jac (Gn 31,10-18); Jos (37,5-10), etc. No NT so apresentadas situaes de vises mas que no contexto parecem sugerir sonhos (At 16,9; 27,23; 18,9; 23,11), alm daquelas referncias de Mateus, onde se descreve a vocao de Jos (1,18-25), A fuga para o Egito (2,13-15), A volta do Egito (2,19-23), etc. Ligado aos sonhos de Jos esto os anjos, os quais na mentalidade e concepo bblica so considerados como seres do mundo celeste e mensageiros de Deus. So vrias as passagens do NT que fazem referncias aos anjos (Lc 1,11; 2,9; At 5,19; 8,26; 12,7.23; 22,43; Mt 4,11 etc.). A respeito dos sonhos de So Jos existem muitas interpretaes seja dos Padres da Igreja, seja dos telogos. No nos interessa aqui fazer uma explanao particular das diversas posies, basta afirmarmos que quase todos os comentadores e os telogos, consideram o sonho como um grau inferior de manifestao divina a respeito daquela manifestao feita em estado de acordado. Em vista disso, consideram que a inferioridade do meio com que Deus escolheu para comunicar a Jos o seu desgnio justificado por uma minimizao da exigncia do caso, ou seja, visto que Jos conhecia a inocncia de Maria, era de se considerar suficiente qualquer leve insinuao para acreditar que a Virgem tivesse concebido Jesus, o Filho de Deus, e que o seu ventre estava repleto do Esprito Santo, como afirmou Euthymius Zigobenus. Outros viram na inferioridade do meio de comunicao divina a Jos (atravs do sonho) o reconhecimento da virtude de Jos. Para ele era suficiente uma apario no manifestada.Numa linha mais psicoreligiosa alguns afirmam no sonho bblico h a passividade do homem diante da ao de Deus, que dispe tudo, sobretudo no plano da salvao e disto se conclui que os Patriarcas so chamados para uma misso que transcende toda capacidade humana; eles so guiados na prpria atuao no por uma simples providncia humana, mas pela prpria voz de Deus..., So Jos, como os antigos Patriarcas, agiu em funo de acontecimentos que transcendem o ser humano... Ele o instrumento, mas a ao vem de Deus. Ele coloca daquilo que prprio de si a obedincia no cumprimento da ordem, mas quem dispe de fato Deus. Como defende Cristobal de San Antonio.O Papa Paulo VI evidencia neste fato, So Jos como modelo de escuta da vontade de Deus, onde por trs vezes no evangelho, se fala de colquios de um anjo com Jos durante o sono. O que quer dizer isso? Significa que Jos era guiado, aconselhado no ntimo, pelo mensageiro celeste. Havia uma ordem da vontade de Deus que se antepunha s aes e portanto o seu comportamento normal era movido por um arcano dilogo do que fazer: Jos, no temas; no faas isso; partas, voltes! Vemos (nele) uma estupenda docilidade, uma prontido excepcional de obedincia e de execuo. Ele no discute, no hesita, no reivindica direitos ou aspiraes. Lana-se na execuo da palavra que lhe foi dirigida (Homilia 19/3/1968).Portanto, Jos regulou a sua vida como a sua conscincia, iluminada pelo o que o Esprito de Deus lhe ditava. Ele comporta-se conforme as inspiraes que lhe vinham do alto.Como concluso pode-se dizer que os sonhos de So Jos conforme nos apresenta o evangelista Mateus, podem ser considerados como um meio de revelao divina. Eles podem ser considerados evidentes inspiraes divinas que o guiava para o desenvolvimento de sua responsabilidade de pai legal de Jesus. Sabemos que os sonhos ocupam 20% do tempo do nosso sono. A Sagrada Escritura considera o profetismo (Dt 18,9-19) como a instituio privilegiada colocada disposio de Israel para conhecer a vontade de Deus, mas admite a eficcia de outros meios legtimos, tais como vises, sonhos, etc. (Nm 12,6).Neste sentido, uma das caractersticas dos sonhos que esto presentes na Bblia, a transcendncia do puro interesse privado de quem sonha para inseri-lo no plano da salvao. Os sonhos de Jos narrados por Mateus evidenciam este fato, pois estes referem-se aos mistrios da vida de Jesus, ou seja, nascimento, permanecia no Egito e residncia em Nazar, mistrios estes, dos quais So Jos foi indispensvel ministro. De fato, nos episdios de sua vocao (Mt 1,18-25), Jos resolve suas dvidas diante da admirvel maternidade de Maria, quando o anjo o coloca junto a ela para assegurar a messianidade de Jesus atravs da descendncia davdica e depois para dar-lhe o nome. Da mesma forma, a permanncia no Egito para salvar a vida fsica de Jesus ameaada por Herodes, mas dentro do mistrio a redeno da humanidade operada naquela regio de antiga escravido atravs do Filho e do intervento do Pai: do Egito chamei o meu Filho (Mt 2,15). O mesmo se pode dizer para a residncia ou permanncia em Nazar segundo o plano de Deus, a qual condiciona de certo modo a vida e a misso de Jesus, sendo assim a chave para compreender o seu escondimento e o seu segredo messinico que caracteriza toda a sua misso.Estes eventos dentro da histria da salvao no so crnicas, mas acontecimentos salvficos, eventos determinados para a execuo do plano de Deus, e por isso Deus deu a Jos, o singular depositrio do mistrio, o caminho para ser percorrido, tambm se de um modo mais discreto possvel, ou seja, atravs do sonho.Este sentido de disponibilidade e de obedincia de Jos lembrado por Joo Paulo II propondo-o como modelo para toda a Igreja, .. Logo no princpio da Redeno humana, ns encontramos o modelo da obedincia encarnado, depois de Maria, precisamente em Jos, aquele que se distingue pela execuo fiel das ordens de Deus (RC 30).

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato de Mt 1,21 e procure responder em qual rito esta ordem do anjo a Jos foi cumprida.2. Ao impor o nome a Jesus, que conseqncias prticas ocorreram para o prprio Jesus e para Jos?3. Indique as passagens onde o anjo comunica-se com Jos em sonhos. Por que em sonhos?4. D as razes que o papa Paulo VI indica para o acontecimento dos sonhos na vida de Jos.

9. A Fuga, a Permanncia e a Volta do Egito

O relato da fuga e da permanncia da Sagrada Famlia no Egito um particular, que devemos pena do evangelista Mateus. Neste relato Mateus mostra Jos no exerccio de seus direitos e de suas funes de chefe da Sarada Famlia. a ele e que anjo do Senhor aparece, a ele que o anjo fala, a ele que vem comunicada a destinao, a ele que ser depois revelada o tempo da volta para Nazar.Depois de ter cumprido todas essas prescries legais, conforme o costume da poca, Jos sem dvida pensava que era hora de voltar para sua casa, para o seu trabalho do dia-a-dia, mas o evangelista Mateus descreve que, antes da volta para a Galilia, haver um outro fato muito importante, onde a Providncia divina recorrer novamente a ele. Atravs da comunicao em sonho por um anjo, -lhe indicado o Egito como meta temporria de fuga, ou seja, at que Herodes morresse. Neste detalhe da fuga e permanncia da Sagrada Famlia no Egito, descrito por Mateus, lemos: Levanta-te, toma o menino e sua me e foge para o Egito e fica l at eu te avisar, porque Herodes est procurando o menino para o matar (Mt 2,13). A ordem de Deus para se exilar com a famlia foi cumprida por Jos imediatamente e com perfeio. De noite, tomou o menino e sua me e retirou-se para o Egito, onde ficou at a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia anunciado por meio do profeta: Do Egito chamei o meu filho (2,14-15). Ainda de noite ele empreende a viagem rumo ao desconhecido, seguindo o mesmo destino de Abrao, que se refugiou neste pas, e de Jos do Egito, foi salvo ali das mos de seus irmos. Havia muito cho a percorrer, era necessrio muita coragem e confiana em Deus, diante da ordem divina de que se exilassem nessa terra estrangeira, pois ali estariam em segurana, e seria dali, daquele pas famoso por suas tradies, suas cidades cheias de monumentos solenes e com seus centros culturais e comerciais, que o Senhor seria chamado, como o profeta havia anunciado: Do Egito chamei o meu filho (Os 11,1). por esse motivo que Mateus v na fuga ao Egito e depois na volta da Sagrada Famlia Nazar, o cumprimento da verdadeira libertao prefigurada pelo antigo Egito e individualizada na expresso de Osias citada acima. Na fuga para o Egito, o evangelista se compraz em mostrar o nosso Patriarca exercendo suas funes e direitos de chefe da famlia que lhe foram confiados. para ele que o anjo aparece, com ele que o anjo fala, a ele que comunicado o lugar onde devem ir e ser depois a ele que o anjo transmitir o anncio de retorno terra de origem.Deve-se ressaltar tambm a palavra Egito uma localidade conhecida no AT no tanto por ser o refgio dos Patriarcas e de outros personagens, mas sobretudo pelo lugar da dura escravido do povo hebraico, da qual s o intervento divino pode libera-lo. Jesus considerado por Mateus o verdadeiro Moiss, pois assim como Moiss acompanhou o povo hebraico at a terra prometida, Jesus o supera entrando na terra de Israel (Mt 2,20-21). O Papa Joo Paulo II colheu esta inteno de Mateus ao afirmar que: Assim como Israel tinha tomado o caminho do xodo, da condio de escravido para iniciar a Antiga Aliana, assim Jos, depositrio e cooperador do mistrio providencial de Deus, tambm no exlio vela por Aquele que vai tornar realidade a Nova Aliana. (RC 14).Neste mistrio tambm Jos foi o ministro da salvao fazendo escapar da morte a vida ameaada do Menino Jesus, como rezamos na orao composta por Leo XIII. Eis um motivo a mais para confiar no Patrocnio de So Jos, pois ainda hoje temos muitas razes para recomendar a So Jos cada ser humano, como nos ensina o documento Redemptoris Custos (N 31).O evangelista nos relata com poucas palavras esta fuga para um pas estrangeiro, no entrando em detalhes, no indicando o tempo e nem a forma da viagem, nem tampouco descrevendo as circunstncias do trajeto. Limita-se a contar-nos o essencial, e o essencial que Herodes procurava matar o menino Jesus. A atitude de Herodes no era estranha, pois j havia mandado matar outras pessoas consideradas seus rivais. Esse tirano no era benquisto pelo povo, e quando morreu, aos 69 anos, os judeus comentavam aos cochichos que ele tinha se apoderado do trono como uma raposa, reinado como um tigre e morrido como um cachorro. Mandar matar todas as crianas do sexo masculino, com menos de dois anos de idade, residentes na pequena aldeia de Belm e adjacncias, tinha sido um de seus ltimos atos infames, bem condizente com o seu mau carter. Para buscar a liberdade em outras terras, a Sagrada Famlia teve que empreender uma viagem penosa e arriscada, pois o Egito no ficava perto. Para atingi-lo era preciso fazer uma caminhada de cerca de 400 quilmetros. descartada a possibilidade de que tenham feito essa travessia pelo deserto sozinhos. Certamente serviram-se de pessoas que conheciam esse trajeto para chegar ao objetivo, pois, alm do cansao da caminhada, havia escassez de gua, falta de segurana etc. Mesmo os soldados romanos, equipados e treinados para longas caminhadas, preferiam combater a atravessar aquele deserto, conforme relatou Plutarco. Os acontecimentos durante a viagem pelo deserto no nos foram relatados, portanto no existe nada que possa satisfazer a nossa curiosidade. S existem piedosas e graciosas lendas, descritas com imagens poticas pelos apcrifos (Os apcrifos so escritos da mesma poca dos escritos bblicos, ou um pouco posteriores, mas no so tidos como inspirados, portanto no esto includos no cnon oficial. Receberam a denominao de apcrifos, ou seja, ocultos, secretos, escondidos, porque no eram de uso pblico, ou seja, no eram usados oficialmente na liturgia e no ensino). Algumas dessas lendas encontradas no evangelho apcrifo do Pseudo Mateus e no evangelho rabe da Infncia, relatam que animais ferozes os acompanhavam no deserto, que bois e outros animais lhes traziam o que era necessrio, ou que rvores se inclinavam enquanto o Menino Jesus passava, ou ainda, que rvores secas, sem folhas, tornavam-se frondosas para abrig-los em suas sombras. Claro que a Providncia Divina no deixou de socorr-los nessa caminhada. Assim, rvores e palmeiras que se inclinavam para lhes fornecer frutos ou que faziam jorrar gua fresca para matar a sede no passam de fantasia dos apcrifos. Entretanto, a lenda que teve maior repercusso na iconografia e na literatura encontra-se no Pseudo Mateus, nos captulos 22 e 24. Ele narra que, enquanto estavam conversando, viram sua frente os montes do Egito e suas cidades. Com alegria chegaram aos limites de Ermpolis, e entraram em uma cidade do Egito chamada Sotine".Como no houvesse ali nenhum conhecido em cuja casa pudessem hospedar-se, entraram no templo denominado Capitlio do Egito."Nesse templo haviam sido colocados 365 dolos, aos quais cada dia se atribuam sacrilegamente honras de divindades. Ora, aconteceu que, ao entrar a beatssima Maria com a criana no templo, todos os dolos caram por terra, ficando completamente estragados e quebrados; assim demonstraram evidentemente que no eram nada. Prosseguindo a narrativa, diz que ento Afrodsio, governador da cidade, ao saber do ocorrido, dirigiu-se ao templo com todo o seu exrcito. Os pontfices do templo, ao ver Afrodsio correr ao templo com todo o exrcito, pensavam que se vingaria daqueles que haviam feito os deuses carem por terra. Mas ele, ao entrar no templo, vendo todos os dolos prostrados no cho, aproximou-se de Maria e adorou o menino que ela tinha nos braos. Depois de ador-lo, disse a todo o seu exrcito e aos amigos: Se este no fosse o Deus do nossos deuses, os nossos deuses no teriam cado por terra diante dele, nem permaneceriam prostrados na sua presena, de maneira que, tacitamente, proclamou que o Senhor deles. Portanto, se no fizermos todos, com maior cautela, o que fazemos aos nossos deuses, poderemos incorrer no perigo de sua indignao e irmos todos ao encontro da morte: como aconteceu ao Fara rei do Egito, o qual, no dando ateno aos mltiplos prodgios, foi submerso ao mar com todo o seu exrcito. Ento todo o povo daquela cidade acreditou, por meio de Jesus Cristo, no Senhor Deus". interessante notar que esta descrio, imaginria ficou imortalizada no mosico da abside da baslica Santa Maria Maior de Roma, onde est representada a cena de Afrodsio. Essa mesma realidade religiosa tambm lembrada na prtica de piedade das Sete dores e alegrias de So Jos, que lembra a alegria de So Jos ao ver cair por terra os dolos dos egpcios. Quanto ao lugar onde a Sagrada Famlia viveu no Egito, no possvel precis-lo. Mateus to genrico neste ponto que podemos concluir que bastou Jos chegar fronteira do Egito, ao sul de Gaza, em direo a Wadi Aris, para estar seguro, fora do domnio de Herodes. Contudo, so diversas as localidades que disputam a honra de ter hospedado a famlia imigrante de Nazar. Entre elas destacamos Helipolis, lugarejo distante 10 quilmetros de Cairo. Tambm no vilarejo de nome Matarieh, prximo do Cairo, num lugar denominado Jardim de Blsamo; so venerados um antigo sicmoro, conhecido com rvore da Virgem, e uma fonte, cuja tradio busca uma interpretao no Evangelho rabe da Infncia, explicitando que a Sagrada Famlia se dirigiria ao sicmoro hoje chamado Matarieh e Jesus fez com que ali brotasse uma fonte, na qual a Senhora Maria lavava as suas fraldas. Do suor de Jesus, que se espalhou, proveio o blsamo da regio (c 24). Hoje nesta localidade est erigida uma igreja dedicada Sagrada Famlia. Ainda em Cairo, entre as vrias igrejas edificadas, uma das mais importantes Abu Sargha, construda segundo a tradio no lugar onde morava a Sagrada Famlia. Outras localidades se contentam em ter a honra ao menos da estada da Sagrada Famlia. Entre elas citam-se Bubaste, Bilheis, Pelusio e Koskam. Os elementos convencionais nos quais essas tradies se apoiam so quase sempre uma rvore, uma fonte ou uma igreja com uma referncia clara a lendas apcrifas. Pouco nos importa saber o lugar onde residiram o certo que foi neste pas, poderoso por causa de seus exrcitos geis que a Providncia os colocou por algum tempo, alojados provavelmente em um dos bairros hebreus, situados numa cidade prxima fronteira oriental. Numa dessas localidades os hebreus podiam encontrar auxlio e conforto junto aos compatriotas que viviam naquele pas, famoso por suas tradies antigas, por suas cidades de monumentos solenes e por seus centros culturais e comercias onde pulsava a vida do grande mundo. No ambiente onde a Sagrada Famlia passou a viver, assim como em todo o Oriente, iniciara-se o culto ao imperador e o nmero de dolos era bastante elevado: adorava-se o carneiro, o abutre, o crocodilo, o falco... Alm do mais, existiam um vasto domnio de magia e de supersties, especialmente no interior. Com a solidariedade de seus compatriotas, Jos encontrou um lugar para instalar-se com a sua famlia e deu incio nova vida em terra estrangeira, sem despertar nenhuma ateno para os israelitas que ali viviam. Juntos, os israelitas em pas estrangeiro formavam uma associao mais bem estruturada e funcional do que na sua prpria ptria, pois, pressionados pelas circunstncias, precisavam ajudar-se mutuamente para subsistir. O tempo foi passando e o exlio determinado pela Providncia chegava ao fim. Segundo uma das verses mais provveis, dois anos aps a matana dos inocentes, Herodes morreu depois de uma doena dolorosa e repulsiva. Livre do tirano, o Anjo apareceu novamente em sonho a Jos no Egito e lhe disse: Levanta-te, toma o menino e a me e retorna terra de Israel... Jos levantou, tomou o menino e a me e foi para a terra de Israel. Mas, tendo ouvido que Arquelau reinava na Judia em lugar de seu pai Herodes, teve receio de ir para l. Avisado em sonho, retirou-se para as bandas da Galilia, indo morar numa cidade chamada Nazar (Mt 2,20-23). Solicito como sempre, Jos preparou tudo, pegou o menino e sua me e se ps a caminho em direo da sua terra de origem. Voltar para a sua terra era, sem dvida, motivo de grande alegria, porm o clima por l estava tenso e semeado de discrdia e violncia. A poltica no andava bem as revoltas e a guerra civil havia causado muitas mortes. Arquelau, que assumira o governo da Judia em lugar de seu pai Herodes da mesma forma um tirano, com sede de poder, e sua fama de atrocidades havia chegado tambm ao Egito. O povo acabava de sair das mos de um sanguinrio e comeava a sentir na carne a dureza de um novo despotismo. Jos ao tomar conhecimento de todas essas pssimas notcias, sentiu medo e, como pai, temeu pela vida do menino. Como bom israelita, gostaria de no retorno, passar por Jerusalm, visitar o Templo onde ficou distante de seus olhos durante o perodo de exlio e dar graas ao Senhor antes de iniciar a sua nova vida em Nazar, mas novamente Deus fixou os rumos da sua vida, comunicando-lhe que se dirigisse diretamente a Nazar, evitando assim qualquer risco de vida para o menino. Os primeiros anos da vida de Jesus haviam sido cheios de intranqilidade. Agora, na pacata Nazar, rodeado por seu ambiente familiar, Jos podia viver mais sossegado. importante destacar um fato particularmente significativo nesta moldura do exlio. Tanto a ordem de refugiar-se no Egito como de retornar ptria no foi transmitida a Maria. E sim a Jos, o que evidencia o reconhecimento da sua autoridade ou jurisdio paterna sobre Jesus. Neste acontecimento particular, Jos exerceu plenamente a sua paternidade, a sua misso de chefe da Sagrada Famlia e esposo de Maria. Nesse fato vemos a sua participao e colaborao clara e precisa no mistrio da redeno. A ele foi confiado o incio da nossa redeno, conforme rezamos na orao da coleta da missa do dia 19 de maro. Jos foi ao mesmo tempo guarda legtimo e natural, chefe e defensor da famlia divina, ministrio que exerceu durante toda a sua vida.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato de Mt 2,13-18, alm do motivo da perseguio de Herodes, qual outro o evangelista indica para esta fuga?2. Qual a importncia da atuao de Jos neste fato?3. Tome conhecimento de alguns relatos fantasiosos dos apcrifos durante a fuga da Sagrada Famlia para o Egito?

10. Vida em Nazar e a Permanncia de Jesus no Templo

Neste mistrio salvfico da fuga para o Egito, Jos, depositrio e cooperador do mistrio providencial de Deus, tambm no exlio vela por Aquele que vai tornar realidade a Nova Aliana (RC 14). Ali ele foi instrumento do qual Deus se serviu para chamar do Egito o seu FilhoTerminada todas as vicissitudes e contratempos, de regresso do exlio, Jos estabeleceu-se com a sua famlia na pequena Nazar e retomou as suas atividades de arteso. Afinal, era esta a sua profisso. De volta ao seu ambiente, tudo se tornara mais fcil. Portanto, dificilmente teria encontrado dificuldade em retomar os seus trabalhos na aldeia e nas vizinhanas, pois embora no fosse um homem de ctedra, era muito prtico e capaz de, nas ocorrncias da vida, tomar decises no s no que se referia a si mesmo, como tambm aos outros. A sua profisso fazia dele um homem bastante conhecido entre os nazarenos, e o perodo que passou longe da sua terra, sem manter contato com os parentes e conterrneos, no foi suficiente para apagar da memria do povo a imagem daquele homem completo, com sua personalidade rica e responsvel em seus deveres. Sua pequena oficina, que permaneceu por um bom tempo fechada, empoeirada e desapercebida, comeava novamente a ser o ponto de encontro das pessoas, o ponto de referncia para muitos da cidade e da regio circunvizinha. Muito mais que isso, era o palco sublime da presena de Jesus criana e iniciante na arte da carpintaria. De novo o barulho da serra e do martelo passava a chamar a ateno dos transeuntes e a dar tom de vida mais movimentada pacata cidadezinha. Como antes, as mos habilidosas do carpinteiro de Nazar eram requisitadas no s para fabricar uma mesa ou um par de cadeiras, mas tambm para abrir uma valeta no quintal de um vizinho, consertar uma porta ou uma janela numa das poucas centenas de casas pobres do lugarejo, ou ainda traar com maestria e habilidade os fundamentos de uma nova construo. Desta maneira, o dia-a-dia de Jos comeava a tomar novamente o seu ritmo, junto com a sua castssima esposa e o seu filho, que crescia robusto, cheio de sabedoria, pois a graa de Deus estava com ele (Lc 2,40). Como qualquer criana de seu tempo, Jesus queria crescer, e por isso observava com ateno o comportamento do pai e da me e se espelhava nos seus exemplos para tornar-se como eles. Ser um aluno atento na carpintaria como esmero e manejo da serra e as pancadas certeiras do martelo. Sentir-se- feliz aos sbados, ao deixar a labuta da oficina ou os bancos da escola para acompanhar o pai sinagoga, ficar admirado ao seguir com ateno seus gestos e suas inclinaes na casa de orao, sentira orgulho dele ao v-lo encaminhar-se para frente na sinagoga, pegar o pergaminho da palavra de Deus nas mos e proclamar em voz alta e altissonante a todos os presentes a palavra do Senhor. Ser no convvio com os pais que aprender o que necessrio para a vida, mas ser tambm na sinagoga, lugar rico em ensinamentos, que ir entender muitas coisas. Atrado por sua curiosidade de criana, saber que a pequena lmpada, sempre acesa diante do armrio que guarda sigilosamente os pergaminhos da Sagrada Escritura, simboliza a luz da lei divina ali presente que ilumina todos os homens. Ser na freqncia sinagoga que compreender que as estrelas de seis pontas significam o emblema do seu antepassado Davi, o grande rei que escreveu salmos belssimos, muitos dos quais j sabia de cor, pois tinha aprendido em casa nos joelhos de Maria, sua me, ou na companhia do pai na carpintaria. Ser na sua famlia, pequena escola de Nazar, que Jesus aprender a rezar e santificar o dia elevando o pensamento a Deus com as oraes costumeiras do israelita. Jos e Maria, cientes da educao devida ao filho, no se limitaro a transmitir ensinamentos a Jesus apenas em casa, mas seguramente o encaminharo todos os dias a uma escola sinagogal, onde ter como livro os textos sagrados e como professor um rabi. Na escola aprender a recitar em voz alta o Shem, a frmula fundamental da f do seu povo, assim como aprender longos trechos do Pentateuco. Em casa, aos poucos, entender os episdios, da histria do seu povo, e como toda criana comear a amar os seus heris estudados nos textos sagrados, como os Profetas, o poderoso Jos do Egito, Moiss o grande libertador e lder que conduziu o povo da escravido do Egito pelo deserto por quarenta anos at a terra prometida, e Davi, que na sua simplicidade abateu o gigante Golias... Com Jos Jesus ir aos poucos aprendendo o significado das grandes festas religiosas do seu povo que eram celebradas durante o ano (Era costume entre os hebreus visitar Jerusalm trs vezes ao ano: nas festas da Pscoa, de Pentecostes e dos Tabernculos. Os que moravam longe de Jerusalm tinham a obrigao de uma s viagem, justamente para os festejos da Pscoa). Quando j havia completado 12 anos, teve a oportunidade de participar pela primeira vez dos festejos da Pscoa na cidade santa de Jerusalm. Levar o filho pela primeira vez para participar oficialmente do culto ao verdadeiro Deus era motivo de muita alegria para todos os pais. As cerimnias desses dias tinham um significado muito profundo. Jos, a exemplo de outras famlias de sua cidadezinha, preparou tudo para fazer a peregrinao a Jerusalm, comida para a viagem, tenda para pernoitar, afinal eram quatro dias de viagem pelos montes de Jud, percorrendo em mdia 35 quilmetros por dia, alm do burrinho para transportar tudo. Chegados a Jerusalm, estes simples aldees de Nazar puderam admirar o palcio de Herodes com suas torres e muros, o formalismo dos fariseus e sobretudo espantar-se com o extraordinrio nmero de peregrinos, fazendo com que a populao, que normalmente era 78 mil, passasse para 150 mil ou mais pessoas. Tudo ali se confundia: costumes, lngua e gente diferente misturada com pobres, doentes, coxos e cegos que aproveitavam os festejos para mendigar. No dia do incio dos festejos Jos estava l acompanhando Jesus, na parte do ptio do Templo reservada aos homens. Terminados os festejos, que se prolongavam mais dias, era tempo de voltar para casa. Os peregrinos de Nazar se renem para em caravana empreender a viagem de retorno, subdivididos em grupos de homens e mulheres. Jesus, porm, ficou na cidade, entre os prticos do Templo, sem que seus pais percebessem, e ouvia os ensinamentos dos rabinos. Sua ausncia na caravana foi notada quase depois de um dia de viagem, quando devem ter parado para descansar junto fonte de Berot. Imediatamente os seus pais voltam a Jerusalm e o procuram por todos os lados, at que o encontram entre os doutores. Sua me, apreensiva, perguntou-lhe: Filho, por que voc procedeu assim com a gente? Seu pai e eu estvamos bastante aflitos procurando voc". (Lc 2,48). Nestas palavras de Maria fica evidenciada a paternidade real de Jos; no s os que ignoravam a divindade e a concepo admirvel de Cristo chamam Jos de pai de Jesus, afirma Surez, mas o prprio evangelista e tambm a Virgem Maria (Mistrios de la vida de Cristo, Madrid, 1958, Vol I, pp. 263-264). Comumente a iconografia apresentou este fato ocorrido aos doze anos da vida de Jesus como A perda de Jesus de Jerusalm, porm seguramente no foi uma perda de Jesus entre a multido que se apinhava em Jerusalm naqueles dias, mas sim uma deciso livre e espontnea do prprio Jesus... Ele mesmo quis permanecer l, e no foi por um descuido de seus pais. Devemos notar que, aos doze anos, os adolescentes israelitas comeavam a gozar uma certa autonomia e j eram considerados socialmente. Assim, no foi difcil para Jesus conseguir o seu intento, mesmo porque os adolescentes podiam acompanhar tanto o pai como a me em caravanas separadas, as quais se encontravam somente em alguns pontos preestabelecidos. Portanto, nem Jos nem Maria podiam imaginar que Jesus tivesse ficado em Jerusalm. Depois de encontr-lo, Jesus desceu com eles para Nazar e, no seio da Sagrada Famlia, uma das tantas famlias desta pequena cidade da Galilia, crescia e robustecia-se de sabedoria, e a graa de Deus estava com ele (Lc 2,40). Estas poucas palavras resumem o longo perodo da vida oculta que Jesus viveu espera do cumprimento da sua misso messinica. Durante todo esse perodo, Jesus viveu no mbito da sua famlia, sob os cuidados de So Jos, que tinha conforme os deveres de um pai na poca, a responsabilidade de aliment-lo, vesti-lo e instru-lo na lei e ensinar- lhe um ofcio. Nesse contexto, Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graa (Lc 2,52), tudo na docilidade total aos seus pais era-lhes submisso (Lc 2,51). Correspondia, portanto, com todo respeito s atenes de seus pais e, dessa forma, quis santificar os deveres da famlia e do trabalho, que ele prprio executava ao lado de Jos (Joo Paulo II, Exortao Apostlica Redemptoris Custos, Roma, 1989 - RC 16). Os evangelistas silenciam completamente sobre os anos da vida oculta de Jesus em Nazar. Sabemos apenas que levou uma vida comum, no apresentando nada de especial entre os habitantes da sua cidade. Na oficina de Jos, acompanhou os acontecimentos por vezes tumultuados da histria do seu povo, cujo governador, Arquelau, destacava-se pela crueldade, mostrando ter um brao forte para governar. Seu comportamento tirano gerava rebeldia, movimentos de revolta comandados por lderes espontneos que se estendiam por toda a Judia. Aspirava como qualquer cidado do seu tempo a uma verdadeira e completa libertao, que depois iria pregar com toda veemncia pelas terras da Palestina. A instabilidade poltica reinante no pas e o descontentamento do povo com o domnio dos romanos marcaram profundamente as etapas da vida de Jesus adolescente e jovem. Contudo, todos esses anos foram acompanhados pelos constantes e sbios conselhos de Jos educador. Ali, na casa de Nazar, Jos transmitia ao filho a sua experincia profissional e humana.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Leia e tome conhecimento do relato de Mt 2,19-23. Para onde a Sagrada Famlia dirigiu-se depois do exlio? O que Jos passou a fazer aps este acontecimento? Como podemos individuar a sua profisso2. Qual o episdio marcante de Jesus na vida de Jos e Maria durante a vivncia em Nazar e em que passagem de Lucas Maria evidencia a paternidade de Jos sobre Jesus?

Parte II11. O Matrimnio de Maria e Jos

O primeiro ttulo que Mateus d a Jos Esposo de Maria(Mt 1,16) e o segundo Filho de Davi (Mt, 1,20). Entre os dois insere o qualificativo Justo (Mt 1,19) exprimindo desta forma o grau de santidade exigido no objetivo pelo qual estes dois ttulos so lhe atribudo, ou seja, o inserimento do Verbo na famlia humana.Sendo que a messianidade de Jesus depende do casamento de Maria com Jos, natural que Mateus evidencie que ele esposo de Maria. O evangelista interessa definir que Jesus foi concebido pelo Esprito Santo e no o momento da concepo, durante ou depois do casamento, mesmo porque o Verbo Minesteo (v 18) utilizando por Mateus pode ser interpretado tanto como namoro como tambm para mulher casada que coabita com o marido (Lc 2,5). A Igreja retm que entre Maria e Jos houve um estreito vnculo conjugal e prprio por isto Jos participa da excelsa grandeza de Maria.O matrimnio entre ambos foi verdadeiro porque entre eles houve a unio conjugal, no a unio sexual. Houve a unio indivisvel dos nimos que levou ambos a manter-se perpetuamente fiis um ao outro. O matrimnio de Maria e Jos no foi portanto um jogo de simples circunstncias humanas, ou simplesmente o resultado de um preciso intervento de Deus. Este foi uma necessidade para o honrado inserimento do Verbo Divino na famlia humana e para o seu reconhecimento como filho de Davi. O mesmo foi destinado para acolher e educar Jesus, e por isso comportava a mxima expresso da unio conjugal, ou seja, o grau supremo do dom de si. Neste sentido a virgindade exprime e garante a gratuidade deste dom, e assim esta unio apenas no compromete a essncia do matrimnio e da paternidade, mas a evidncia e a defende, segundo a afirmao de Agostinho: Esposo tanto mais verdadeiro quanto mais casto, Pai tanto mais verdadeiro quanto mais casto. O dom de si coincide, para So Toms, com o amor amizade que no o amor concupiscncia, pois ama-se querendo o bem do outro e no o bem prprio; ama-se numa dimenso de amor recproco. De fato, a afinidade espiritual de Maria e Jos foi to grande que Maria aceitou a divina maternidade sem pedir o consentimento a ele, porque sabia que Deus tinha sobre ela todo direito e que era desejo profundo de Jos que ela fosse toda de Deus. Com isso a atitude de Maria para com Jos no foi uma falta de delicadeza, mas sinal de confiana. Em vista disto, Bernardino de Bustis afirma que: entre Maria e Jos existiu um amor indivisvel e santssimo; de fato, depois de Cristo, seu Filho, a Virgem purssima no amou nenhum homem ou criatura assim como a Jos e da mesma forma Jos amou a beata Virgem acima de todas as criaturas. (Sermo 12, de BMV Desponsatione). Maria se distinguiu em seu amor para com Jos e no houve ningum que ela no tratasse com tanta familiaridade que a Jos, seu esposo.Na comunho de amor com Maria est tambm o segredo de toda a santidade de Jos e, se verdade, como afirma Francisco Suarz: que um dos meios mais eficazes para obter de Deus os dons da graa a devoo para com a Virgem e a sua intercesso, podemos acreditar que o santssimo Jos, diletssimo Virgem e devotssimo, obteve por seu meio a exmia perfeio e santidade. Desta forma, como o parecer de So Bernardino de Sena, Maria amou Jos com toda sinceridade e com todo o afeto de seu corao e ofereceu-lhe livremente o tesouro de seu corao.J afirmamos que Deus designou Jos filho de Davi, para transmitir a Jesus a descendncia davdica e o fez atravs do matrimnio com Maria. Se Maria esposa de Jos tem um filho, este legalmente tambm filho de Jos pelos efeitos civis e familiares. Daqui a importncia deste matrimnio, pois juntamente com Maria, Jos foi envolvido na realidade do evento salvfico, sendo o depositrio do mesmo amor do Eterno Pai (RC 1).O anjo ao dirigir-se a Jos com o ttulo, Filho de Davi, introduz Jos no mistrio da maternidade de Maria, a qual tornou-se me por obra do Esprito Santo. O anjo tambm dirige-se a Jos como ao esposo de Maria, como aquele que dever dar o nome ao Filho que nascer da Virgem de Nazar, sua esposa; portanto, confia-lhe uma tarefa de pai terreno a respeito do Filho de Maria (RC 3).J que a Unio virginal e santa de Jos e Maria constitui o vrtice do qual a santidade se espalha sobre a terra, particularmente oportuno celebrar a festa dos Santos Esposos Maria e Jos.

Questes para o aprofundamento pessoal

1. Indique com suas palavras por que o matrimnio de Maria e Jos verdadeiro.2. Por que este matrimnio foi necessrio diante dos desgnios de Deus?

12. Um Matrimnio com a Unio Conjugal e Todo Especial

O pelagiano Julio, negou o matrimnio de Maria e de Jos, porque este no foi consumado. Agostinho defendeu este matrimnio colocando sua essncia na unio dos nimos. Para ele Jos esposo de Maria na continncia, no pela unio sexual, mas pelo afeto, no pela unio dos corpos, mas pela unio dos nimos. A unio deles no vem pela ligao dos corpos mas do consentimento, em virtude da Unio Conjugal. Para Agostinho no se pode dividir o casal porque no se une carnalmente, mas se une com os coraes (Cordibus connectuntur).A ausncia da unio sexual no faz com que Jos no seja o marido, pois o prprio Mateus narra que Maria foi chamada pelo anjo de sua esposa, mesmo referindo que no tinha tido a unio sexual com ele para o nascimento de Jesus, mas que ela concebeu por obra do Esprito Santo. Assim, enfatiza Agostinho que aqueles que decidem consensualmente abster-se para sempre da unio sexual, no somente no desfazem o vnculo conjugal, mas ser tanto mais estvel quanto mais este pacto, observado com amor e concrdia, existir no atravs dos liames dos corpos, mas com o afeto das almas (Voluntariis affectibus animorum).Santo Agostinho afirma ainda a respeito da ausncia da unio sexual entre os dois que: Jos no por isso no foi pai, porque no se uniu sexualmente com a Me do Senhor, quase que seja o libido a torn-la esposa e no a caridade conjugal. Por isso responde a Julio que retm Jos somente como quase marido, ou seja, segundo a opinio do povo, conforme narra Lucas (3,25) que entendia remover a falsa opinio de que Jesus fora gerado pela unio sexual, e no negar que Maria fosse esposa de Jos. Alm do mais, Agostinho afirma que neles foram realizados todos os bens do matrimnio: o filho, a fidelidade e o sacramento. A prole que o prprio Jesus, a fidelidade, porque no houve nenhum adultrio e o sacramento, porque no h nenhum divrcio.Em suma, para Santo Agostinho o matrimnio pode ser tido como tal no por motivo da unio sexual, mas por motivo do perseverante afeto da mente. Os cnjuges devem saber muito mais intimamente (multo familiarius) que ad