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CURSO DE LINGUSTICA GERAL

CURSO DE LINGUSTICA GERAL

(Ferdinand de Saussure)

Prof. Dr. Antnio Jackson de Souza Brando Ideias (bem) gerais

Ao deixar de lado o estudo da linguagem a partir de um ponto de vista histrico, mas de um ponto de vista estrutural, Ferdinand Saussure (1857-1913) amplia o horizonte dos estudos lingusticos, afinal os estudos lingusticos do sculo XIX no questionavam o ser da linguagem nem seu funcionamento. Dessa forma, Saussure nos mostra que cabe Lingustica ir alm do mero estudo dos signos.

Exemplo das dicotomias de Saussure: I. semiologia / lingustica, II. signo: significado / significante,

III. arbitrariedade / linearidade, IV. linguagem: lngua / fala V. sincronia / diacronia,

VI. sintagma / paradigma

I. A Semiologia a teoria geral dos signos, em que consistem e as leis que os regem. Portanto, difere da Lingustica por um alcance maior: a Lingustica no seno uma parte dessa cincia geral (pg. 24). Enquanto a Lingustica limita-se ao estudo cientfico da linguagem humana, a Semiologia preocupa-se no apenas com essa linguagem, mas tambm com a dos animais e de todo e qualquer sistema de comunicao, seja natural ou convencional. Obs.: H dois termos: Semiologia (surge na Europa, com Saussure) e Semitica (nos Estados Unidos, com Peirce).II. O signo lingustico para Saussure a unio do conceito com a imagem acstica. O conceito (ou idia) a representao mental de um objeto ou da realidade social em que nos situamos, representao essa condicionada pela formao scio-cultural que nos cerca desde o bero. Em outras palavras, para Saussure, conceito sinnimo de significado (plano das ideias), algo como o lado espiritual da palavra, sua contraparte inteligvel, em oposio ao significante (plano da expresso), que sua parte sensvel. Por outro lado, a imagem acstica no o som material, coisa puramente fsica, mas a impresso psquica desse som. Melhor dizendo, a imagem acstica o significante. Com isso, temos que o signo lingustico uma entidade psquica de duas faces (...) esto intimamente unidos e um reclama o outro. (pg. 80)[No h significado sem significante. Exemplificando, quando algum recebe a impresso psquica transmitida pela imagem acstica (ou significante) /kpw/ graas qual se manifesta fonicamente o signo copo, essa imagem acstica, de imediato, evoca-lhe psiquicamente a idia de recipiente utilizado para beber algo. Poderamos dizer que aquilo que o falante associa com o significante /kpw/ corresponderia ao significado vaso (em espanhol), Glas (em alemo) ou glass (em ingls).III. O signo lingustico arbitrrio (pg. 81), quer dizer que o significado no depende da livre escolha de quem fala, logo o significante imotivado, isto , arbitrrio em relao ao significado, com o qual no tem nenhum lao natural na realidade. (pg. 83). Desse modo, compreendemos por que Saussure afirma que a idia (ou conceito ou significado) de mar no tem nenhuma relao necessria e interior com a sequncia de sons, ou imagem acstica ou significante /mar/. Em outras palavras, o significado mar poderia ser representado perfeitamente por qualquer outro significante, da as diferenas entre as lnguas: mar em ingls sea, em francs, mer, em alemo See.

Apesar de haver postulado que o signo lingustico , em sua origem, arbitrrio, Saussure no deixa de reconhecer a possibilidade de existncia de certos graus de motivao entre significante e significado. Ele prope a existncia de um arbitrrio absoluto e de um arbitrrio relativo. Como exemplo de arbitrrio absoluto, aconteceria na relao pera / pereira, em que pera, enquanto palavra primitiva, serviria como exemplo de arbitrrio absoluto (signo imotivado). Por sua vez, pereira, forma derivada de pera, seria um caso de arbitrrio relativo (signo motivado), devido relao sintagmtica pera (morfema lexical) + -eira (morfema sufixal, com a noo de rvore) e relao paradigmtica estabelecida a partir da associao de pereira a laranjeira, bananeira, etc., uma vez que conhecida a significao dos elementos formadores. O princpio da linearidade que se aplica s unidades do plano da expresso (fonemas, slabas, palavras), por serem estas emitidas em ordem linear ou sucessiva na cadeia da fala, sendo o princpio das relaes sintagmticas.

IV. Dicotomia fundamentada na oposio social / individual. Saussure afirma que a linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossvel conceber um sem o outro, alm disso implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evoluo: a cada instante, ela uma instituio atual e um produto do passado. (pg. 16) ao mesmo tempo fsica, fisiolgica e psquica, (...) e no se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos. (pg. 17) A lngua, sendo um produto social da (...) linguagem e um conjunto de convenes necessrias, adotadas pelo corpo social para permitir o exerccio dessa faculdade nos indivduos. (pg. 17) Existe na coletividade sob a forma de sinais depositados em cada crebro, mais ou menos como um dicionrio, cujos exemplares todos idnticos, fossem repartidos entre os indivduos (pg. 27). Na condio de bem comum, a lngua traz consigo toda a experincia histrica acumulada por um povo durante sua existncia. Temos a as particularidades de cada uma, cujas expresses somente podem ser compreendidas por seus falantes nativos, alm das dificuldades para se traduzirem certas expresses que lhe so prprias. Saussure ainda nos ilustra que, se fosse possvel abarcar a totalidade das imagens verbais armazenadas em todos os indivduos, atingiramos o liame social que constitui a lngua, afinal ela no est completa em ningum, s na massa que ela existe de modo completo (pg. 21). Dessa forma, mesmo estando internamente armazenada, o indivduo por si s, no pode nem cri-la nem modific-la; ela no existe seno em virtude de uma espcie de contrato estabelecido entre os membros da comunidade, afinal a lngua a parte social da linguagem, logo exterior ao indivduo. (pg. 22)A fala, ao contrrio da lngua, por se constituir de atos individuais, torna-se mltipla, imprevisvel, irredutvel a uma pauta sistemtica. Os atos lingusticos individuais so ilimitados, no formando um sistema. Os fatos lingusticos sociais, bem diferentemente, formam um sistema, pela sua prpria natureza homognea. Vale ressaltar, no entanto, que tanto o funcionamento quanto a explorao da faculdade da linguagem esto intimamente ligados s implicaes mtuas existentes entre os elementos lngua (virtualidade) e fala (realidade).

V. A sincronia o eixo das simultaneidades, no qual devem ser estudadas as relaes entre os fatos existentes ao mesmo tempo num determinado momento do sistema lingustico, que pode ser tanto no presente quanto no passado. Em outras palavras, sincronia sinnimo de descrio, de estudo do funcionamento da lngua. Por outro lado, no eixo das sucessividades ou diacronia, o lingista tem por objeto de estudo a relao entre um determinado fato e outros anteriores ou posteriores, que o precederam ou lhe sucederam. E Saussure adverte que tais fatos (diacrnicos) no tm relao alguma com os sistemas, apesar de os condicionarem. (pg. 101) Em outras palavras, o funcionamento sincrnico da lngua pode conviver harmoniosamente com seus condicionamentos diacrnicos. Acrescente-se ainda que a diacronia divide-se em histria externa (estudo das relaes existentes entre os fatores socioculturais e a evoluo lingustica) e histria interna (trata da evoluo estrutural fonolgica e morfossinttica da lngua). Saussure considera prioritrio o estudo sincrnico, porque o falante nativo no tem conscincia da sucesso dos fatos da lngua no tempo. Para o indivduo que usa a lngua como veculo de comunicao e interao social, essa sucesso no existe. A nica e verdadeira realidade palpvel que se lhe apresenta de forma imediata a do estado sincrnico da lngua. Alm disso, como a relao entre o significante e o significado arbitrria, estar continuamente sendo afetada pelo tempo, da a necessidade de o estudo da lngua ser prioritariamente sincrnico. Um exemplo que pode ilustrar esse carter sincrnico o emprego de determinadas palavras no correr do tempo e a modificao que o mesmo sofre no correr dos anos. O substantivo romaria significava, originalmente, peregrinao a Roma para ver o Papa. Hoje, no entanto, usado para designar peregrinao religiosa em geral, como as em direo a Aparecida do Norte, no Estado de So Paulo. Como a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evoluo: a cada instante, ela uma instituio atual e um produto do passado (pg. 16); lngua, portanto, ser sempre sincronia e diacronia em qualquer momento de sua existncia. Saussure, ao deixar de se preocupar com o processo pelo qual as lnguas se modificam, para tentar saber o modo como funcionam, acaba dando maior importncia ao estudo sincrnico, ponto de partida para a Lingustica Geral e o chamado mtodo estruturalista de anlise da lngua.

VI. Para Saussure, tudo na sincronia se prende a dois eixos: o paradigmtico e o sintagmtico. As relaes sintagmticas baseiam-se no carter linear do signo lingustico, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. (pg. 142) A lngua formada por elementos que se sucedem um aps outro linearmente na cadeia da fala (pg. 142) e a essa relao Saussure chama de sintagma: O sintagma se compe sempre de duas ou mais unidades consecutivas: re-ler, contra todos, a vida humana, Deus bom, se fizer bom tempo, sairemos, etc. (pg. 142)Na cadeia sintagmtica, um termo passa a ter valor em virtude do encontro que estabelece com aquele que o precede ou lhe sucede, ou a ambos, visto que um termo no pode aparecer ao mesmo tempo que outro, em virtude do seu carter linear. Em Hoje fez frio, por exemplo, no podemos pronunciar a slaba je antes da slaba ho (Jeho!), nem ho ao mesmo tempo que je: impossvel. essa cadeia fnica que faz com que se estabeleam relaes sintagmticas entre os elementos que a compem. Como a relao sintagmtica se estabelece em funo da presena dos termos precedente e subseqente no discurso, Saussure a chama tambm de relao in prsentia.

Por outro lado, se dissermos Hoje fez frio fora do discurso, isto , fora do plano sintagmtico, podemos dizer hoje pensando em op-lo a outro advrbio, ontem, por exemplo, ou fez em oposio a faz, e frio a calor. Com isso, estabelecemos uma relao paradigmtica associativa ou in absentia, porque os termos ontem, faz e calor no esto presentes no discurso. So elementos que se encontram na nossa memria de falante numa srie mnemnica virtual, (pg. 143). O paradigma funciona como uma espcie de banco de reservas da lngua, um conjunto de unidades suscetveis de aparecer num mesmo contexto. Desse modo, as unidades do paradigma se opem, pois uma exclui a outra: se uma est presente, as outras esto ausentes. a chamada oposio distintiva, que estabelece a diferena entre signos como gado e gato ou entre formas verbais como estudava e estudara, formados respectivamente a partir da oposio sonoridade / no-sonoridade e pretrito imperfeito / mais-que-perfeito. A noo de paradigma suscita, pois, a idia de relao entre unidades alternativas. uma espcie de reserva virtual da lngua.Define-se o sintagma como a combinao de formas mnimas numa unidade lingustica superior, a frase o tipo por excelncia de sintagma. Trata-se, portanto, de relaes onde o que existe, em essncia, a reciprocidade, a coexistncia ou solidariedade entre os elementos presentes na cadeia da fala. O sintagma, em sentido lato, toda e qualquer combinao de unidades lingusticas na sequncia de sons da fala, a servio da rede de relaes da lngua. As relaes paradigmticas, no plano da expresso, operam com base na similaridade de sons como nas rimas, aliteraes, assonncias. J, no plano do contedo, as relaes paradigmticas baseiam-se na similaridade de sentido, na associao entre o termo presente na frase e a simbologia que ele desperta em nossa mente, como no caso da metfora: O pavo um arco-ris de plumas. (Rubem Braga), ou seja, arco-ris = semicrculo ou arco multicor. Embora presente no texto em prosa, a metfora mais usual na poesia. J a metonmia, mais comum na prosa, por basear-se numa relao de contigidade de sentido, atua no eixo sintagmtico. Ex.: O autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis; a parte pelo todo: Os desabrigados ficaram sem teto (= casa); o continente pelo contedo: Tomei um copo de vinho (o vinho contido no copo), etc.Bibliografia:

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingustica geral. So Paulo, Cultrix, 2006.

[1] Jakobson e a Escola de Praga vo estabelecer a distino entre som material e imagem acstica. quele denominaram de fone, objeto de estudo da Fontica; a esta, de fonema, conceito empregado pela Fonologia.http://www.jackbran.pro.br/linguistica/curso_de_linguistica_geral.htm