CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO Benefícios da Intervenção da Enfermagem de Reabilitação na Minimização da Sobrecarga do Cuidador Informal do Doente com Acidente Vascular Cerebral Ana Catarina Baptista de Lima Figueiredo Ribeiro Coimbra, Abril de 2013

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE

REABILITAÇÃO

Benefícios da Intervenção da Enfermagem de Reabilitação na

Minimização da Sobrecarga do Cuidador Informal do Doente com

Acidente Vascular Cerebral

Ana Catarina Baptista de Lima Figueiredo Ribeiro

Coimbra, Abril de 2013

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE

REABILITAÇÃO

Benefícios da Intervenção da Enfermagem de Reabilitação na

Minimização da Sobrecarga do Cuidador Informal do Doente

com Acidente Vascular Cerebral

Ana Catarina Baptista de Lima Figueiredo Ribeiro

Orientador: Mestre Carlos Alberto Cruz de Oliveira, Professor Coordenador na Escola

Superior de Enfermagem de Coimbra

Coorientador: Mestre Virgílio da Cruz Conceição, Professor Adjunto na Escola

Superior de Enfermagem de Coimbra

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

para obtenção do grau de Mestre em

Enfermagem de Reabilitação

Coimbra, Abril de 2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os que me mostraram o

caminho…

Ao Professor Coordenador Carlos Alberto Cruz de

Oliveira, agradeço a orientação que me foi prestada

no decurso da elaboração do trabalho.

Ao meu João, agradeço todo o seu amor e apoio

incondicional.

A Deus agradeço a Luz que ilumina o meu caminho

há 28 semanas.

À minha amiga Joaninha e aos meus amigos Marco

Batista e Rui Pina, um especial obrigado.

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“é missão de todos os seres humanos cuidar de tudo o que dá forma

ao mundo e de tudo o que contribui para o tornar cada vez mais

humano”

Hesbeen (2003, p. 59)

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AVC - Acidente Vascular Cerebral

AVD - Atividades de Vida Diária

CIPE - Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem

CSI - Caregiver Strain Index

EUA - Estados Unidos da América

GC - Grupo Controle

GE - Grupo Experimental

GHQ-28 - General Health Questionnaire-28

ICN - International Council of Nurses

PBE - Prática Baseada na Evidência

PICOD - Participantes, Intervenções, Comparações, Outcomes e desenho de estudo

RSL - Revisão Sistemática de literatura

SELF - Supportive Educative Learning Programme for Family Caregivers

n.º - número

p.- página

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RESUMO

O aumento da esperança de vida, conjugado com o agravamento das doenças crónicas,

revelam-se decisivos para o acréscimo de casos de pessoas dependentes no contexto

familiar, o que implica que haverá, futuramente, um número crescente de pessoas que

necessitarão de cuidados especiais e portanto, de cuidadores capacitados para assisti-los

nas suas necessidades biopsicossociais. É imperativo que a intervenção de enfermagem

de reabilitação envolva a família e, em particular, o cuidador informal no processo de

cuidados assegurando o suporte adequado para o desenvolvimento de competências e

habilidades facilitadoras no cuidado ao doente com acidente vascular cerebral.

Neste sentido, através de um estudo de revisão sistemática da literatura, pretendeu-se

analisar o conhecimento científico produzido sobre os benefícios de programas de

intervenção de enfermagem de reabilitação na sobrecarga do cuidador informal do

doente com acidente vascular cerebral. A pesquisa foi conduzida a partir da questão de

investigação utilizando o método PI[C]O (Participantes; Intervenções; (Comparações);

Outcomes) “De que forma os cuidadores informais (P) do doente com acidente vascular

cerebral beneficiam da intervenção da enfermagem de reabilitação (I) na minimização

da sua sobrecarga (O)?”, tendo sido definidos grupos de conceitos e realizada uma

pesquisa de artigos científicos em base de dados eletrónica (no período entre 2007 e

2012), sendo selecionados cinco estudos primários, conforme os critérios previamente

definidos e focados na problemática em estudo.

Após a análise reflexiva dos contributos dos achados do estudo em questão, conclui-se

que a Prática de Enfermagem de Reabilitação focalizada no cuidador informal do doente

com acidente vascular cerebral é efetiva na minimização da sua sobrecarga e no

aumento da qualidade de vida de doente e família.

Palavras-chave: Enfermeiro, Cuidador Informal, Sobrecarga, Acidente Vascular

Cerebral.

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ABSTRACT

The increase in life expectancy, coupled with the worsening of chronic diseases,

revealed the decisive addition of dependents in the family context, implying that there

will be an increasingly growing number of people who need special care and therefore

trained caregivers to assist them in their biopsychosocial needs. It is imperative that the

rehabilitation nursing intervention involving family and, in particular, the caregiver in

the care process by ensuring adequate support for the development of skills and abilities

that facilitate the care of the patient with stroke.

In this sense, through a study of systematic literature review, we were intended to

examine the scientific knowledge about the benefits of rehabilitation nursing

intervention programs in caregiver burden of patient with stroke. The survey was

conducted from the research question followed the PI[C]O methodology (Participants,

Interventions, (Comparisons); Outcomes) "How the caregivers (P) of patients with

stroke benefit from the rehabilitation nursing intervention (I) in minimizing their burden

(O)?" having defined groups of concepts and conducted a search of scientific articles in

an electronic database (between 2007 and 2012), five primary studies were selected

according to the criteria previously defined and focused on the problem under study.

After a reflective analysis of the contributions of the findings of this study, it is

concluded that the Nursing Practice Rehabilitation focused on informal caregivers of

patients with stroke is effective in minimizing their overhead and increase the quality of

life of patients and family.

Keywords: Nurse, Caregiver, Burden, Stroke.

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ÍNDICE DE QUADROS

Página

Quadro 1 - Critérios para a formulação da questão de investigação .............................. 51

Quadro 2 - Critérios para a inclusão/exclusão de estudos a selecionar .......................... 52

Quadro 3 - Grupos de conceitos incluídos na seleção dos artigos de pesquisa .............. 53

Quadro 4 - Bases de dados consultadas e nº total de artigos identificados ................... 55

Quadro 5 - Análise do estudo de White et al. (2007)..................................................... 57

Quadro 6 - Análise do estudo de Park (2008) ................................................................ 60

Quadro 7 - Análise do estudo de Shyu, Chen, Chen, Wang e Shao (2008) ................... 62

Quadro 8 - Análise do estudo de Oupra, Griffiths, Pryor e Mott (2010) ....................... 66

Quadro 9 - Análise do estudo de Temize e Gozum (2012) ............................................ 70

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SUMÁRIO

Página

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

PARTE UM: ENQUADRAMENTO TEÓRICO ......................................................... 13

CAPÍTULO I: CUIDAR DA PESSOA COM AVC ...................................................... 16

1.1 - O processo de reabilitação .................................................................................. 16

1.2 - A preparação do regresso a casa ........................................................................ 22

1.3 - Cuidar no Domicílio ............................................................................................ 27

1.3.1 - O papel do cuidador informal e o impacto do cuidar ......................................... 27

1.3.2 - Intervenção de Enfermagem de Reabilitação na sobrecarga

do cuidador informal............................................................................................. 35

PARTE DOIS: ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ....................................... 47

CAPÍTULO II: PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................ 50

2.1 - Questão de investigação....................................................................................... 50

2.2 - Estratégia de pesquisa ......................................................................................... 52

2.3 - Formação da Amostra ......................................................................................... 54

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ....................................... 57

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................ 73

CONCLUSÃO .............................................................................................................. 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 83

ANEXO

ANEXO I

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9

INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) representa, segundo a Direcção-Geral da Saúde

(2006), uma das principais causas de mortalidade e morbilidade a nível mundial, com

grave prejuízo na qualidade de vida dos doentes. Em 2009 as doenças do aparelho

circulatório, em especial as cerebrovasculares, continuavam a ser a primeira causa de

morte em Portugal (13,6%), contra 18,3% em 2002 (Carrilho & Patrício, 2010).

De acordo com os indicadores do Plano Nacional de Saúde 2012-2016 (Alto

Comissariado da Saúde, 2012), apesar de se registar um decréscimo em relação ao

número de 2001 (17,8%), a percentagem de mortes atribuídas em Portugal a acidentes

vasculares cerebrais antes dos 65 anos ascendeu aos 9,5% em 2009.

Segundo a Direcção-Geral da Saúde (2010), a incidência bruta do primeiro AVC na

vida de um indivíduo por cada 1000 habitantes foi estimada em estudos de base

populacional em duas regiões diferentes, uma rural e uma urbana, em 3,05 e de 2,69,

respetivamente. A taxa de incidência verificada é mais elevada quando comparada com

outros países da Europa Ocidental.

É, por isso, uma das maiores causas de incapacidade, e as consequências funcionais dos

défices primários neurológicos, geralmente, predispõem a um padrão de vida sedentário,

com limitações individuais para as Atividades de Vida Diária (AVD). Os esforços para

minimizar o impacto da doença e para aumentar a independência funcional têm sido um

grande desafio para os profissionais de Reabilitação, assumindo especial importância

neste processo o prestador de cuidados1.

O AVC é um grave problema de saúde pública, tanto pela sua dimensão, como pelo

fardo que representa na sociedade (Direcção-Geral da Saúde, 2006).

1 Ao longo do nosso estudo utilizaremos diferentes termos para designar o indivíduo que cuida da pessoa com AVC sem lucros

financeiros, e que normalmente pertence à família. Assim podemos encontrar os termos cuidador, cuidador informal, familiar

cuidador e prestador de cuidados.

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10

O processo de reabilitação à pessoa2 com AVC visa reeducar novas formas de realizar

determinadas tarefas para compensar a perda de função (National Stroke Association,

2012), de modo a facilitar a reintegração no ambiente familiar e social. A essência da

enfermagem de reabilitação é proporcionar intervenções que melhorem a função e

limitem o impacto da incapacidade, ou seja, habilitar a pessoa a proceder ao ajuste

social, físico e emocional através do conhecimento de técnicas e de atitudes necessárias

(Hoeman, 2000).

Também para Hesbeen (2003), a reabilitação tem como finalidade assegurar à pessoa

incapacitada ou com deficiência, bem como aos seus próximos, diversas ações que

permitam suprimir, atenuar e ultrapassar obstáculos geradores de desvantagem. É,

portanto, essencial que o processo de reabilitação envolva os cuidadores informais, uma

vez que estes são também afetados por potenciais situações de desvantagem. Neste

sentido, cuidar da pessoa doente implica cuidar também da família, dado que a doença

afeta não só o doente mas toda a família.

É neste contexto que surge o projeto de explorar o fenómeno da sobrecarga do cuidador

informal do doente com AVC, por se tratar de um conceito relacionado com os efeitos

negativos da incapacidade gerada pela doença e uma área de intervenção onde o

enfermeiro de reabilitação se deverá constituir como protagonista. “Faz-se investigação

para melhor compreender a realidade, ou seja, para aumentar o conhecimento sobre

determinado fenómeno” (Basto, 1998 citada por Ramalho, 2005, p.19).

Daí a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a temática de modo a

compreender os mecanismos que concorrem para melhorar a eficácia das intervenções

dos enfermeiros de reabilitação com vista ao alívio da sobrecarga do cuidador, no

sentido da otimização do seu papel. A qualidade de vida do familiar cuidador dependerá

não só do suporte fornecido, mas também da deteção precoce dos fatores que conduzem

a uma situação de sobrecarga. O apoio proporcionado aos familiares cuidadores pode

envolver diferentes componentes, designadamente assistência, educação, informação e

esclarecimento de todos os benefícios (Mok, Chan, Chan & Yeung, 2002; Kalra et al.,

2004; Duncan et al., 2005).

2 No decorrer do nosso estudo utilizaremos expressões como: pessoa com AVC ou doente com AVC. Os termos doente e cliente

são utilizados quando citamos os diferentes autores.

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11

Tendo presente o modelo de competência profissional do Enfermeiro de Reabilitação a

partir das três dimensões – o Saber, o Saber-Fazer e o Saber-Ser – que fundamentam a

prática, e atendendo a que se trata de um elemento de referência da equipa de cuidados,

o enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação, na tentativa de capacitar o

cuidador para a prestação de cuidados ao doente com AVC, deverá intervir junto deste

no sentido de dotá-lo de um conjunto de conhecimentos, capacidades e recursos da

comunidade que lhe permitam assegurar as necessidades do doente e alcançar o seu

bem-estar físico e psíquico.

É neste âmbito que surge o presente estudo com o tema “Benefícios da Intervenção da

Enfermagem de Reabilitação na Minimização da Sobrecarga do Cuidador Informal do

Doente com Acidente Vascular Cerebral”.

O estudo que nos propusemos realizar trata-se de uma revisão sistemática de literatura

que se centra nas intervenções da enfermagem de Reabilitação que visam minimizar a

sobrecarga do cuidador informal do doente com AVC. Assim, como ponto de partida,

foi formulada a seguinte questão de investigação: “De que forma os Cuidadores

Informais do doente com acidente vascular cerebral beneficiam da Intervenção da

Enfermagem de Reabilitação na minimização da sua sobrecarga?”

Para a concretização do presente trabalho de investigação estabelecemos como

objetivos:

Compreender as necessidades e sentimentos vivenciados pelo cuidador informal

do doente com acidente vascular cerebral que conduzem à sobrecarga;

Identificar as intervenções de enfermagem de reabilitação na minimização da

sobrecarga;

Na condução desta revisão sistemática de literatura foi utilizado o método PI[C]OD

(Participantes, Intervenções, (Comparações), Outcomes e desenho de estudo).

O estudo que apresentamos encontra-se estruturado em duas partes. A primeira parte

que denominámos por enquadramento teórico fornece o suporte científico do estudo e

inclui o primeiro capítulo. Este capítulo contempla uma abordagem da importância

transversal da enfermagem de reabilitação na vida dos doentes e suas famílias. São

referenciados aspetos fundamentais sobre a temática do cuidar da pessoa com AVC, no

âmbito formal e informal, enfatizando o papel do cuidador informal e o impacto do

cuidar. A segunda parte refere-se à fase metodológica do trabalho e inclui três capítulos.

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12

O segundo capítulo descreve todo o percurso metodológico sistematizando as fases

desta revisão sistemática de literatura até à seleção da amostra final. No terceiro capítulo

apresentamos os resultados do estudo e o quarto capítulo explana a discussão dos

mesmos. Por último, referenciamos as conclusões decorrentes do estudo, limitações e

implicações da pesquisa científica para o ensino, prática e investigação em enfermagem,

seguido das referências bibliográficas utilizadas no decorrer do mesmo.

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13

PARTE UM: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Para uma melhor compreensão do fenómeno em estudo procurámos fazer um

enquadramento teórico que clarificasse a importância do exercício profissional dos

enfermeiros, nomeadamente os enfermeiros especialistas em enfermagem de

reabilitação, e o envolvimento do cuidador informal, enquanto protagonistas nos

cuidados de saúde ao doente que, em determinado momento do ciclo vital, é vítima de

uma situação de dependência associada ao acidente vascular cerebral.

No primeiro capítulo evidenciámos as referências científicas encontradas através de

pesquisa bibliográfica e revisão de literatura realizada nas bases de dados eletrónicas

EBSCO, B-ON e SciELO (utilizando os termos de pesquisa nurs*, stroke, burden

caregiver), livros e revistas indexadas e não indexadas, de especial relevância para a

temática em estudo.

Numa perspetiva reflexiva, pareceu-nos pertinente iniciar o enquadramento teórico

abordando os conceitos de enfermagem, enfermeiro e enfermeiro especialista de

enfermagem de reabilitação.

Neste contexto, entendemos pertinente recorrer ao Regulamento Profissional para a

Prática de Enfermagem, através do artigo 4º, capítulo II do Decreto-Lei nº 161/ 96 de 4

de Setembro (1996), que estabelece:

A enfermagem é a profissão que, na área da saúde, tem como objectivo prestar cuidados

de enfermagem ao ser humano, são ou doente, ao longo do ciclo vital, e ao grupo social

em que ele está inserido, de forma que mantenham, melhorem e recuperem a saúde,

ajudando-os a atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto

possível.

Enfermeiro é o profissional habilitado com um curso de enfermagem legalmente

reconhecido, a quem foi atribuído um título profissional que lhe reconhece competência

científica, técnica e humana para a prestação de cuidados de enfermagem gerais ao

indivíduo, família, grupos e comunidade, aos níveis da prevenção primária, secundária e

terciária. (p. 2960)

Meleis (2012) refere que a Enfermagem é considerada uma resposta humana de ajuda e

conforto à prática de cuidados e relaciona-se com experiências de vida entre o

enfermeiro e a pessoa que recebe os cuidados. Segundo Watson (2002) citada por

Ramalho (2005, p. 18), a enfermagem assume uma visão holística do ser humano,

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14

preconizando o uso de todo o potencial humano do enfermeiro “(presença, contacto,

toque e massagem) para ajudar os clientes a renovar as suas energias, proporcionando-

lhes bem-estar, diminuindo a ansiedade e facilitando o desenvolvimento de condições

favoráveis à saúde”.

O enfermeiro deve definir as suas estratégias, centrando o método de trabalho na pessoa

e não na doença. Em vez de “cuidar de”, os Enfermeiros devem procurar dotar o doente

e a sua família de capacidades, de conhecimentos e perícias que lhes permitam, a longo

prazo, cuidar deles próprios. Assim, e de acordo com o Regulamento do Exercício da

Profissão de Enfermagem, o enfermeiro identifica problemas e, através dos diagnósticos

de enfermagem, põe em curso um conjunto de intervenções autónomas ou

interdependentes designadas por cuidados de enfermagem, que têm por objetivo

proporcionar alívio do sofrimento, conforto, bem-estar, recuperação da autonomia e

mudanças de comportamentos (Decreto-lei nº 161/96 de 4 de Setembro, 1996).

O enfermeiro procura, em todo o ato profissional, a excelência do exercício, assumindo

o dever de, segundo o Artigo 88.º do Código Deontológico do Enfermeiro (Decreto-Lei

n.º 111/2009 de 16 de Setembro, 2009, p. 6548): “a) Analisar regularmente o trabalho

efectuado e reconhecer eventuais falhas que mereçam mudança de atitude; b) Procurar

adequar as normas de qualidade dos cuidados às necessidades concretas da pessoa; c)

Manter a actualização contínua dos seus conhecimentos”.

Também para Meleis, Sawyer, Im, Messias e Shumacher (2000), o enfermeiro é o

prestador de cuidados primário dos clientes e sua família que estão a atravessar um

processo de transição. Os enfermeiros assistem às mudanças e exigências que as

transições trazem à vida dos clientes e suas famílias, preparam os clientes para as

transições iminentes e facilitam o processo de aprendizagem de novos conhecimentos

relacionados com as experiências de saúde-doença dos clientes e suas famílias. Neste

contexto, o processo de transição do doente com AVC destina-se a ser conduzido para

que o mesmo readquira a independência funcional e recupere a saúde possível.

A Ordem dos Enfermeiros (2011a), através da criação do regulamento de competências

específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação, garantiu um

enquadramento regulador para a certificação de competências que integra no seu perfil

de competências clínicas especializadas o conjunto das competências específicas e

comuns. Segundo o mesmo autor, o enfermeiro especialista em enfermagem de

reabilitação

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15

concebe, implementa e monitoriza planos de enfermagem de reabilitação diferenciados,

baseados nos problemas reais e potenciais das pessoas. O nível elevado de conhecimentos

e experiência acrescida permitem-lhe tomar decisões relativas à promoção da saúde,

prevenção de complicações secundárias, tratamento e reabilitação maximizando o

potencial da pessoa. (p. 8658)

E a sua intervenção, de acordo com a Ordem dos Enfermeiros (2011a), tem como objeto

promover o diagnóstico precoce e acções preventivas de enfermagem de reabilitação, de

forma a assegurar a manutenção das capacidades funcionais dos clientes, prevenir

complicações e evitar incapacidades, assim como proporcionar intervenções terapêuticas

que visam melhorar as funções residuais, manter ou recuperar a independência nas

actividades de vida, e minimizar o impacto das incapacidades instaladas (quer por doença

ou acidente) nomeadamente, ao nível das funções neurológica, respiratória, cardíaca,

ortopédica e outras deficiências e incapacidades. Para tal, utiliza técnicas específicas de

reabilitação e intervém na educação dos clientes e pessoas significativas, no planeamento

da alta, na continuidade dos cuidados e na reintegração das pessoas na família e na

comunidade, proporcionando -lhes assim, o direito à dignidade e à qualidade de vida. (p.

8658)

O enfermeiro de reabilitação deve promover a autonomia da pessoa nas suas próprias

escolhas, orientando-a e fornecendo recursos que lhe permitam encontrar o seu

caminho, perseguindo o seu projecto de vida. “O projecto de vida da pessoa implica que

não se pense por ela, portanto, que não se confunda o desejo de quem recebe cuidados e

o desejo de quem os presta” (Hesbeen, 2003, p. 127). Esta forma de estar do enfermeiro

implica “um espírito profundo e genuinamente humano, que demonstre preocupação no

respeito pelo outro” (Menoita, Sousa, Alvo & Vieira, 2012, p. 34).

Tendo por base estas premissas, da importância transversal da enfermagem de

reabilitação na vida dos clientes e suas famílias, iniciámos a revisão de literatura da

temática em estudo.

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16

CAPÍTULO I: CUIDAR DA PESSOA COM AVC

1.1 - O processo de reabilitação

O Acidente vascular cerebral é um grave problema de saúde pública em Portugal. Trata-

se de uma das afeções neurológicas agudas mais comuns, e é também uma das causas

mais frequentes de internamento hospitalar. É uma doença súbita que atinge

determinada região cerebral, provocando sinais e sintomas deficitários que traduzem a

perda de função da área lesada (Ferro, 2006).

A doença cerebrovascular é a terceira principal causa de morte nos Estados Unidos da

América (EUA) e em grande parte do mundo ocidental, e é a principal causa de

incapacidade nos adultos. A cada ano há cerca de 780 mil casos de acidentes vasculares

cerebrais nos EUA, dos quais dois terços são episódios iniciais (National Stroke

Association, 2012). Na população adulta portuguesa, o AVC é responsável pelo maior

índice de incapacidade, dependência funcional, e número de óbitos (Martins, Ribeiro &

Garrett, 2003).

A pessoa que sofreu um AVC pode ver-se confrontada com diversas alterações com

manifestações clínicas concretas, a nível motor, sensorial e cognitivo, que perduram por

tempo variável (Direcção-Geral da Saúde, 2010), daí que a sua condição de saúde actual

requeira uma intervenção interdisciplinar no sentido da readaptação e da independência

funcional.

Existe ainda muito por saber sobre a forma como o cérebro se reorganiza e compensa os

danos causados pelo AVC, contudo, estes doentes experimentam, muitas vezes,

recuperações notáveis. De acordo com a National Stroke Association (2012):

10% dos doentes recuperam quase integralmente;

25% recuperam com sequelas mínimas;

40% manifestam incapacidade moderada a grave com necessidade de

acompanhamento específico;

10% requerem tratamento a longo prazo numa unidade especializada;

15% morrem pouco depois do episódio.

Page 19: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

17

O potencial de recuperação funcional deve-se, por um lado, à capacidade do cérebro em

modificar a sua função e estrutura, também denominado por neuroplasticidade, e, por

outro, à capacidade adaptativa da pessoa através da aprendizagem de novos modos de

executar as funções (Menoita, Sousa, Alvo & Vieira, 2012).

Para a Ordem dos Enfermeiros (2011a) a reabilitação, enquanto especialidade

multidisciplinar, concebe

um corpo de conhecimentos e procedimentos específicos que permite ajudar as pessoas

com doenças agudas, crónicas ou com as suas sequelas a maximizar o seu potencial

funcional e independência. Os seus objectivos gerais são melhorar a função, promover a

independência e a máxima satisfação da pessoa e, deste modo, preservar a auto-estima.

(p. 8658)

O programa de reabilitação à pessoa com AVC visa reeducar novas formas de realizar

determinadas habilidades básicas como comer, vestir ou andar, de forma a compensar a

perda de função e a capacitar a pessoa para readquirir o maior grau de independência

funcional possível (National Stroke Association, 2012), sendo que deverá envolver toda

a equipa multidisciplinar, criando uma rede de cuidados de saúde centrada no doente

(Direcção-Geral da Saúde, 2010).

A equipa clínica e cuidador devem estar envolvidos e tomar uma decisão partilhada

sobre os objetivos do programa de reabilitação (Driscoll, 2000; Duncan et al., 2005;

Scottish Intercollegiate Guidelines Network, 2010; Hoeman, 2011). O apoio psicológico

profissional ao doente e família deve ser assegurado desde o início, pois a sua nova

situação é um fator desencadeante de grande ansiedade e instabilidade para a família,

com precipitação de quadros depressivos que prejudicam a evolução e os resultados dos

objetivos propostos (Direcção-Geral da Saúde, 2010; Greenwood & Mackenzie, 2010).

Este programa deve ser implementado precocemente. A fase inicial do tratamento

envolve a prevenção de novos episódios e de complicações, mas também incentivar a

recuperação das atividades de autocuidado, e fornecer apoio emocional ao doente e

família. A recuperação funcional deve ter início assim que a situação clínica do doente

estabilizar (Gresham et al., 1997; Duncan et al., 2005; Martins, 2006; Direcção-Geral

da Saúde, 2010; Branco & Santos, 2010).

Para Gresham et al. (1997), o processo de reabilitação envolve seis áreas de intervenção

principais:

1. Prevenção, reconhecimento e gestão das complicações e co-morbilidades;

2. Treino para o máximo de independência;

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3. Maximizar a capacidade do indivíduo e família de lidar com a situação e se

adaptarem;

4. Prevenção da deficiência secundária promovendo a reintegração social, incluindo o

regresso a casa, às atividades em família, lazer, profissionais, recreacionais e

vocacionais;

5. Melhorar a qualidade de vida tendo em conta o défice residual;

6. Prevenção de um AVC recorrente ou outros eventos vasculares.

A reabilitação é um processo contínuo de aquisição, manutenção e aperfeiçoamento de

capacidades e que poderá envolver os esforços coordenados de diferentes profissionais

de reabilitação, com intervenção na comunidade, no retorno do doente a um estilo de

vida ativo (Gresham et al., 1997; Duncan et al., 2005). Face ao exposto, a intervenção

da reabilitação permite minimizar os défices, melhorar a funcionalidade e facilitar a

integração sociofamiliar e profissional (Direcção-Geral da Saúde, 2010). O “processo”

neste contexto, implica a capacidade para nos movimentarmos, para nos dirigirmos ao

outro e fazermos caminho juntos. “O próprio fundamento do processo de cuidados

assenta em duas palavras: um encontro e um acompanhamento” (Hesbeen, 2003, p. 73).

Neste sentido, o enfermeiro, no seu exercício, observa os valores humanos pelos quais

se regem o indivíduo e os grupos em que este se integra e assume o dever de, segundo o

Artigo 81.º do Código Deontológico do Enfermeiro (Decreto-Lei n.º 111/2009 de 16 de

Setembro, 2009, p. 6548), alínea “d) Salvaguardar os direitos da pessoa com deficiência

e colaborar activamente na sua reinserção social”.

Sabe-se que os doentes com AVC sobrevivem com diferentes graus de incapacidade,

com implicações para a realização do autocuidado e para a satisfação das necessidades

fundamentais, pelo que requerem a ajuda de um cuidador. Neste sentido, o processo de

reabilitação tem como objetivo primordial capacitar a pessoa para o autocuidado,

compreendido segundo a CIPE (Classificação internacional para a prática de

enfermagem) versão Beta 2 (ICN, 2005, p. 55) como uma “acção realizada pelo próprio

com as características específicas: tomar conta do que é necessário para se manter,

manter-se operacional e lidar com as necessidades individuais básicas e íntimas e as

actividades de vida” atingindo, deste modo, um elevado nível de funcionalidade no que

diz respeito às funções do corpo e à atividade e participação.

Page 21: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

19

O termo AVD (atividades de vida diária) refere-se, no contexto da enfermagem de

reabilitação, ao conjunto de atividades ou tarefas comuns que as pessoas desempenham

de forma autónoma e rotineira no seu dia-a-dia. A independência ou a máxima

funcionalidade possível para cada uma das AVD pode ser alcançada através do treino

das capacidades remanescentes e/ou através de estratégias adaptativas (Ordem dos

Enfermeiros, 2011b).

A este propósito, a Scottish Intercollegiate Guidelines Network (2010) recomenda

cuidados de enfermagem especializados ao doente com AVC, que incluem: capacitar os

enfermeiros para se tornarem facilitadores no processo de reabilitação, possibilitar a

coordenação do tratamento do doente, gerir e monitorizar os posicionamentos, a

respiração, a deglutição, o estado nutricional, a continência e integridade cutânea, e

executar a avaliação formal de um score de avaliação funcional e risco de úlceras de

pressão. Por sua vez, Hesbeen (2003, p. 89) refere que “a formação especializada que se

pede aos enfermeiros de reabilitação, bem como a própria natureza da sua abordagem

clínica, que implica encarar o ser humano em situações de provação prolongada são a

prova evidente da necessidade de um grande profissionalismo”.

O enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação – com as suas competências

específicas devidamente regulamentadas: 1) Cuidar de pessoas com necessidades

especiais, ao longo do ciclo de vida, em todos os contextos da prática de cuidados; 2)

Capacitar a pessoa com deficiência, limitação da atividade e ou restrição da participação

para a reinserção e exercício da cidadania; 3) Maximizar a funcionalidade

desenvolvendo as capacidades da pessoa – tem um papel estratégico junto do doente e

família em todas as fases deste processo (Ordem dos Enfermeiros, 2011a).

O papel de pivô no contexto da equipa permite, segundo Branco e Santos (2010), ao

enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação conhecer e compreender os

hábitos, os recursos e o projeto de vida de cada pessoa e ajudá-la a alcançar o seu

próprio nível de saúde, quer pela otimização dos recursos externos, quer pela ajuda

prestada na identificação, promoção e desenvolvimento de todo um potencial individual

apto a colaborar para a concretização do seu projeto de saúde.

A enfermagem de reabilitação torna “possível à pessoa que recebe cuidados e à que os

presta, caminharem juntas, fazerem determinado percurso comum”, percorrendo o

caminho da pessoa doente e não o do profissional que presta cuidados (Hesbeen, 2003,

Page 22: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

20

p. 75). Nesta perspetiva, o enfermeiro deve-se assumir como agente de mudança,

posicionando-se para trabalhar “com” em vez de “para” o doente, família e comunidade,

indo ao encontro das suas expectativas e fazendo-os acreditar na habilidade que tem

para gerir os seus próprios recursos (Branco & Santos, 2010). Martins (2002) fortalece

esta ideia afirmando que o profissional de saúde não é o único detentor do saber, mas

somente o facilitador a quem compete criar as condições e possibilitar os meios para as

famílias poderem utilizar as suas habilidades e adquirir novas competências, tornando-

se autónomas e consolidando a sua dinâmica familiar.

A enfermagem centra-se nas necessidades holísticas de cada doente e sua família,

integrando os cuidados na dimensão física, psicológica, cognitiva, emocional, espiritual

e social. Neste sentido, compete ao enfermeiro de reabilitação trabalhar em colaboração

com o doente e família de modo a envolvê-los significativamente na tomada de decisão

e na recuperação da sua independência, bem como fornecer toda a informação,

formação e apoio à família e/ou outras pessoas envolvidas na prestação de cuidados

(Driscoll, 2000; Scottish Intercollegiate Guidelines Network, 2010; Branco & Santos,

2010).

Na literatura está comprovada a eficiência do programa de reabilitação na melhoria da

sobrevivência a curto prazo e na máxima independência funcional no momento da alta

e, ao mesmo tempo, sugere-se que o tratamento deve ser alargado ao domicílio ou

unidades de subagudos para benefícios a longo prazo (Dalvandi, Heikkila, Maddah,

Khankeh & Ekman, 2010), tendo em conta os défices motores e sensitivos residuais

(Direcção-Geral da Saúde, 2010).

O apoio domiciliário é um desafio para o enfermeiro de reabilitação que dá

continuidade ao processo de cuidados ao doente no seu contexto real, orientando-o e

estimulando-o no processo de reabilitação e, ao mesmo tempo, ajudando os cuidadores

no contexto familiar a terem um papel ativo neste processo, permitindo-lhes continuar a

cuidar dos seus membros num ambiente domiciliar (Musolf, 1991; Dalvandi, Heikkila,

Maddah, Khankeh & Ekman, 2010). Um estudo desenvolvido por McGinnes, Easton,

Williams e Neville (2010) sobre o papel do enfermeiro especialista de reabilitação na

comunidade demonstrou uma significativa mais-valia reconhecida tanto pelas equipas

de enfermagem da comunidade, como pelos doentes e cuidadores. Este estudo

evidenciou um projeto inovador de integração do enfermeiro especialista de reabilitação

no seio da equipa de enfermagem da comunidade. Através dos seus contributos únicos,

Page 23: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

21

nomeadamente, sobre os cuidados ao doente com AVC relacionados com a continência,

ajuste nutricional, prevenção e tratamento de feridas, gestão do regime terapêutico,

apoio psicológico ao doente e cuidador, sexualidade, comprovou o aumento da

produtividade das equipas potenciando a sua formação sobre estes aspetos, e reduziu a

longo prazo a incapacidade e dependência dos doentes através do seu plano assistencial.

De facto, os enfermeiros de reabilitação “terão sempre a possibilidade de fazer mais

alguma coisa por alguém, de o ajudar, de contribuir para o seu bem-estar, para a sua

serenidade, mesmo nas situações mais dependentes” (Hesbeen, 2000, p. 47). O

enfermeiro, sendo responsável para com a comunidade na promoção da saúde e na

resposta adequada às necessidades em cuidados de enfermagem, assume o dever de,

segundo o Artigo 80.º do Código Deontológico do Enfermeiro (Decreto-Lei n.º

111/2009 de 16 de Setembro, 2009):

a) Conhecer as necessidades da população e da comunidade em que está inserido;

b) Participar na orientação da comunidade na busca de soluções para os problemas de

saúde detectados;

c) Colaborar com outros profissionais em programas que respondam às necessidades da

comunidade.

d) Assegurar a continuidade dos cuidados. (p. 6547)

A Direcção-Geral da Saúde (2010) reconhece que o processo de reabilitação deve ser

contínuo entre as várias unidades envolvidas na recuperação do doente e recomenda que

o mesmo tenha continuidade após a alta do doente e durante o primeiro ano após o

AVC. O regresso a casa pressupõe um processo de reabilitação em rede contínua,

antevendo e planeando as alterações das necessidades de doente e família, e que facilite

a transferência adequada do doente para a comunidade, assegurando, desta forma, a

continuidade dos cuidados (Branco & Santos, 2010).

Menoita, Sousa, Alvo e Vieira (2012) salientam que

o sucesso do processo de reabilitação não depende de um conjunto de actos ou técnicas

pontuais, mas da continuidade, coordenação e inter-relação do trabalho desenvolvido por

toda equipa, para que se traduza na resolução dos problemas e na melhoria da qualidade

de vida, ou seja, em ganhos no bem-estar. (p. 39)

Neste âmbito, Branco e Santos (2010) acrescentam que o sucesso de um programa de

reabilitação em pessoas vítimas de AVC provém de um desenvolvimento lento,

repetitivo, persistente, exercícios rotineiros e uma sucessão de actividades encadeadas

preparando para uma função real, que não devem progredir para além da capacidade

individual de cada pessoa.

Page 24: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

22

Davies (1996) citada por Branco e Santos (2010) refere igualmente que um processo de

reabilitação bem-sucedido depende

não somente das várias sessões de terapia mas também do que acontece ao paciente

durante as horas restantes do dia e da noite. Até mesmo a posição em que ele dorme pode

fazer a diferença notável para o resultado final. Não importa o quão boa seja a terapia, se

durante o resto do tempo o paciente se movimentar com esforço, em padrões anormais de

movimento, a espasticidade aumentará e a maior parte do que ele alcança durante a

terapia será perdida e não levada para a sua vida diária. (p. 39)

Já foi referenciado que a pessoa com AVC pode apresentar diversas manifestações

clínicas, dependendo da área afetada, da gravidade da lesão e da evolução da doença, e

que carecem de especial atenção por parte do enfermeiro de reabilitação, tais como: as

alterações motoras, alterações sensoriais, alterações cognitivas, alterações da

comunicação, alterações da eliminação e distúrbios emocionais. Assim, a incapacidade

para a realização do autocuidado exige a presença mais ou menos constante de um

cuidador.

O processo de reabilitação da pessoa com AVC, tal como já foi citado, deve ter início

desde o momento da lesão e só deve terminar a partir do dia em que a pessoa é capaz de

viver com a sua deficiência, incapacidade ou desvantagem (Branco & Santos, 2010).

1.2 - A preparação do regresso a casa

Os cuidados de saúde desenvolvem-se e inserem-se numa lógica multiprofissional e

multidisciplinar, em que os ganhos em saúde resultam do contributo do Saber de cada

um dos seus atores, nomeadamente, enfermeiros, médicos, psicólogos, nutricionistas,

entre outros (Duncan et al., 2005; Petronilho, 2007; Scottish Intercollegiate Guidelines

Network, 2010). Para Duncan et al. (2005) e Hoeman (2011), existe forte evidência de

que são alcançados melhores resultados clínicos quando os doentes recebem uma

avaliação e intervenção multidisciplinar coordenada. A reabilitação deve-se desenvolver

com base “na complementaridade de actores esclarecidos sobre a complexidade do ser

humano e animados pela preocupação com a acção do cuidar de uma pessoa deficiente

incapacitada, bem como dos seus próximos” (Hesbeen, 2003, p. 69). Embora, a

composição da equipa de reabilitação possa variar de acordo com as necessidades e

objectivos do doente, a equipa deve incluir especialistas em enfermagem de reabilitação

(Hoeman, 2011).

Page 25: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

23

Martins (2002, p. 99) afirma que a intervenção ao doente vítima de AVC deve ser feita

em equipa, uma vez que “os problemas apresentados por estes indivíduos são

complexos, pelo que será difícil dar uma resposta eficaz com uma assistência

espartilhada. A problemática do AVC requer atenção do médico, do enfermeiro, do

fisioterapeuta, do assistente social, do psicólogo e de outros técnicos”. E o enfermeiro,

como membro da equipa de saúde, assume o dever de, segundo o Artigo 91.º do Código

Deontológico do Enfermeiro (Decreto-Lei n.º 111/2009 de 16 de Setembro, 2009):

a) Actuar responsavelmente na sua área de competência e reconhecer a especificidade das

outras profissões de saúde, respeitando os limites impostos pela área de competência de

cada uma;

b) Trabalhar em articulação e complementaridade com os restantes profissionais de

saúde;

c) Integrar a equipa de saúde, em qualquer serviço em que trabalhe, colaborando, com a

responsabilidade que lhe é própria, nas decisões sobre a promoção da saúde, a prevenção

da doença, o tratamento e recuperação, promovendo a qualidade dos serviços. (p. 6549)

Assim sendo, também a decisão sobre a alta clínica da pessoa internada deve ser

pensada e discutida por toda a equipa. No entanto, no contexto de gestão hospitalar

atual, a alta clínica é efetivada antes do restabelecimento completo do doente pelo que o

grau de dependência é, muitas vezes, elevado aquando do regresso a casa.

Sabe-se hoje que a preparação para a alta por parte dos enfermeiros deve iniciar-se

desde o momento da admissão do doente (Rodrigues, 2011), porém, a realidade nem

sempre é assim. O estudo sobre os cuidadores informais de doentes com AVC realizado

por Marques (2007) corrobora esta afirmação, uma vez que 54% dos inquiridos

referiram não ter recebido quaisquer ensinamentos. Contudo, dos restantes prestadores

de cuidados, 78,3% afirmaram ter sido alvo de ensinamentos para cuidar da pessoa

dependente por parte da equipa de enfermagem. A este propósito, também no estudo de

Fernandes (2009) sobre a sobrecarga do cuidador informal, um grande número de

cuidadores referiu não estar informado sobre o diagnóstico e evolução da doença, nem

sobre orientações técnicas a ter no acompanhamento dos doentes, o que certamente

impediu uma melhor qualidade na prestação dos cuidados.

Branco e Santos (2010) ajudam-nos a reflectir sobre esta problemática levantando

algumas questões: Como podemos preparar o regresso a casa de alguma pessoa se não a

enquadrarmos no seu processo de reabilitação e contexto familiar, reconhecendo o seu

lugar, as suas interacções e as suas potencialidades? Como podemos integrar e capacitar

Page 26: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

24

o familiar cuidador para a prestação de cuidados sem conhecermos e sem identificarmos

as suas necessidades? Como pode a família cuidar se não for cuidada?

De facto, o acolhimento é um momento privilegiado para se iniciar a relação de ajuda

entre enfermeiro, doente e família, assim como para demonstrar disponibilidade e apoio

para todos os esclarecimentos solicitados e avaliar a disponibilidade da família para os

cuidados ao doente, envolvendo-a nos mesmos (Direcção-Geral da Saúde, 2010). É a

partir deste momento que se inicia a preparação do regresso a casa, uma realidade que

implica a acessibilidade aos cuidados de saúde, a avaliação e a resposta às necessidades

de doente e família tendo em conta o tipo e grau de limitações, a organização e prática

de trabalho interdisciplinar e em parceria, a focalização na reabilitação e autonomia, o

respeito pelos direitos, dignidade e individualidade do doente e família (Branco &

Santos, 2010).

Segundo as recomendações da Direcção-Geral da Saúde (2010), a intervenção de

enfermagem no planeamento da alta do doente com AVC deve ter início desde o

acolhimento, momento em que doente e família são envolvidos no processo terapêutico,

e tem como objetivos:

Capacitar o doente e família para o autocuidado;

Estimular a maior independência funcional possível;

Promover a adaptação do doente e família ao meio exterior, eliminando as

barreiras que comprometam a satisfação das suas necessidades;

Mobilizar os recursos da comunidade;

Reintegrar o doente no seu ambiente social.

Face ao exposto, o regresso a casa só se torna verdadeiramente harmonioso se o doente

e família tiverem papéis ativos no processo de cuidados.

Na gestão dos recursos de saúde, os enfermeiros promovem, paralelamente, a

aprendizagem sobre a forma de aumentar o repertório dos recursos pessoais, familiares

e comunitários para lidar com os desafios de saúde (Ordem dos Enfermeiros, 2003). No

entanto, a implementação de um programa de educação e planificação da alta também

para os profissionais de enfermagem é uma das recomendações salientadas por Driscoll

(2000) para otimizar a prática de enfermagem.

Para o planeamento da alta a Direcção-Geral da Saúde (2010) preconiza que a atuação

de enfermagem ao doente com AVC deve compreender determinadas intervenções:

Page 27: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

25

Identificar e avaliar as capacidades e grau de dependência do doente na

realização das AVD antes e durante o internamento, e no momento da alta

através da utilização de escalas de avaliação funcionais e de avaliação do risco

de úlceras de pressão;

Identificar as dificuldades sentidas pelo doente e família na satisfação das

necessidades e planear o ensino em função das mesmas, evidenciando as suas

capacidades e adequando-o aos recursos disponíveis;

Promover o acesso aos recursos existentes na comunidade articulando com os

mesmos e esclarecer sobre as ajudas técnicas existentes;

Aconselhar a adaptação do mobiliário e reorganização do espaço físico no

domicílio do doente, bem como a remoção de barreiras arquitetónicas, com vista

à autonomia e à manutenção de um ambiente seguro;

Realizar o treino com o doente e família sobre os exercícios e estratégias

adaptativas adequadas às suas necessidades, avaliando continuamente os

resultados da aprendizagem.

No estudo desenvolvido por Petronilho (2007) sobre a evolução das competências do

cuidador do doente dependente no autocuidado, 95,9% dos cuidadores expressaram

satisfação com o apoio recebido pela equipa de enfermagem durante o internamento,

sendo que 47,4% consideraram muito útil o ensino/treino recebido. Do mesmo modo, o

grupo de cuidadores a quem foi realizada entrevista de preparação do regresso a casa

(para a identificação oportuna das necessidades) e ensino/treino no hospital sobre os

cuidados a prestar ao doente no domicílio, apresentou maior nível de conhecimentos e

capacidades no domicílio, relativamente ao grupo que não teve esta intervenção de

enfermagem. Marques (2007) constatou ainda que os cuidadores que não receberam

ensinos demonstraram maiores dificuldades no que respeita a problemas relacionais

com a pessoa dependente.

Ainda de acordo com o estudo desenvolvido por esta autora, os ensinos oportunos

acerca do que fazer, porque fazer, quando fazer, por quem fazer, com o que fazer, são

encarados como necessidades reais vivenciadas pelos cuidadores. Desta forma, a

necessidade de informação é apontada como a estratégia a adotar para habilitar a família

para a função do cuidar, estimulando conjuntamente o ajuste à situação e uma melhor

adaptação à perda.

Page 28: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

26

É importante elogiar a competência e a força de vontade aos cuidadores pois dá-lhes

uma nova opinião sobre eles e reforça-lhes a autoeficácia para poderem lidar com a

situação (Brereton & Nolan, 2000; Mok, Chan, Chan & Yeung, 2002).

A promoção do projeto de saúde que cada pessoa vive e persegue é o foco de atenção

dos enfermeiros, pelo que caberá, assim, aos enfermeiros, especialmente aos

especialistas em enfermagem de reabilitação, um papel relevante na promoção da saúde

do doente com AVC e sua família, assim como na identificação de necessidades

específicas e situações de vulnerabilidade. A prestação de cuidados de enfermagem de

reabilitação ao doente com AVC requer, segundo a Scottish Intercollegiate Guidelines

Network (2010), um conjunto de conhecimentos específicos e competências clínicas que

compreendem formação, treino e prática.

Segundo Duncan et al. (2005), a alta do doente com AVC só deve ter lugar quando:

o doente não tiver necessidade de cuidados de enfermagem especializados ou se

as necessidades presentes puderem ser satisfeitas pelo cuidador ou serviços de

apoio da comunidade;

o ambiente domiciliar é funcional ou pode ser adaptado para o doente com

défices neurológicos específicos;

o doente é funcionalmente independente ou, se a assistência for

necessária, este poderá ser assistido pela família ou cuidador;

os serviços de reabilitação na comunidade, quando solicitados, estão disponíveis

e acessíveis.

O terminus de um programa de reabilitação deve corresponder, sempre que possível, ao

cumprimento do objetivo de reintegração na vida familiar e comunidade (Direcção-

Geral da Saúde, 2010).

Os primeiros tempos do doente com AVC após a alta hospitalar revelam-se difíceis,

pois é neste momento que o doente irá pôr em prática as competências desenvolvidas

sem o suporte da equipa de reabilitação. O impacto total da doença (AVC) só tem lugar

quando, doente e cuidador procuram retomar a sua vida habitual no domicílio (Brereton

& Nolan, 2000; Duncan et al., 2005), sentindo-se por vezes entregues a si próprios

(Pereira & Silva, 2012).

Page 29: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

27

O encorajamento do doente a retomar actividades profissionais, de lazer ou recreativas,

se a sua condição o permitir, poderá melhorar a qualidade de vida de doente e família

(Duncan et al., 2005; Vincent et al., 2007).

1.3 - Cuidar no Domicílio

Viver com incapacidade após o AVC é um desafio de vida para o doente que procura

constantemente formas de compensar ou de se adaptar aos défices neurológicos

residuais. Para muitos doentes e famílias, o verdadeiro trabalho de recuperação inicia-se

após a reabilitação formal (Duncan et al., 2005).

Segundo Martins (2002, p. 108) “todos os esforços para manter a pessoa no domicílio

são válidos desde que se continue a priveligiar o respeito por uma vida digna, própria de

um ser humano”. Constata-se muitas vezes que a família, face à responsabilidade que

lhe é imposta, revela-se novamente incapaz de lidar com a situação, sendo por vezes

necessário reforçar o processo de aprendizagem, desta vez adaptado ao ambiente

familiar, pelo que a visita domiciliária após a alta hospitalar se reveste de grande

importância (Branco & Santos, 2010).

As modificações decorrentes do AVC têm implicações a nível físico, psíquico e social

e, consequentemente, diminuem a qualidade de vida da pessoa e família, contribuindo

tanto para a reestruturação familiar, bem como para a criação de novas relações entre os

membros da família (Imaginário, 2003).

1.3.1 - O papel do cuidador informal e o impacto do cuidar

Cuidar é segundo Leitão e Almeida (2000, p. 81), “um ato de vida que compreende

variadas atividades que visam manter e sustentar o ser, reparar o que se lhe constitui

obstáculo, e assegurar a continuidade da vida”. Honoré (2004, p. 17) refere-se ao cuidar

como “uma maneira de se ocupar de alguém, tendo em consideração o que é necessário

para que ele realmente exista segundo a sua própria natureza, ou seja, segundo as suas

necessidades, os seus desejos, os seus projectos”.

Para Colliére (1999, p. 235) o acto de cuidar é “um acto individual que prestamos a nós

próprios desde que adquirimos autonomia, mas é igualmente um acto de reciprocidade

que somos levados a prestar a toda a pessoa que temporariamente ou definitivamente

tem necessidade de ajuda, para assumir as suas necessidades vitais”. Cada pessoa é

Page 30: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

28

convidada a cuidar em numerosas circunstâncias, em determinado momento da sua vida

quotidiana, sobretudo entre os mais próximos (Honoré, 2004). Por isso, desde que

surgiu a vida que existem cuidados, pois é preciso “tomar conta” para que a vida possa

continuar (Marques, 2007).

Os cuidados de saúde desenvolvem-se em dois sistemas distintos: o sistema informal,

formado essencialmente pela família, e o sistema formal, constituído pelas instituições e

serviços de saúde, onde se inserem os profissionais de enfermagem. Associado ao

sistema informal surgem os conceitos de cuidador informal, prestador de cuidados e

familiar cuidador, relativos às pessoas que se responsabilizam pelos cuidados dos

familiares/amigos com necessidades específicas.

Na atualidade, entende-se que o meio familiar e a própria comunidade representam para

o doente o melhor enquadramento para a vivência do processo de reabilitação, pelo que,

segundo Martins, Ribeiro e Garrett (2003), a promoção do bem-estar dos cuidadores e a

prevenção de situações de crise merecem especial atenção por parte dos profissionais de

saúde, pois deles dependem os doentes a seu cargo, bem como a sua permanência na

comunidade. Neste sentido, é imprescindível criar redes de apoio que proporcionem às

famílias recursos materiais e humanos, durante períodos de tempo alargados e de forma

regular, de modo a responder efetivamente às necessidades das famílias neste processo,

enquanto os recursos de saúde terão que ser cada vez melhor geridos e controlados

(Cardoso, 2011).

Karsch e Leal (1998) definem o cuidador informal como aquele que, pela sua condição

familiar ou de proximidade com o doente, assume as funções de cuidar diariamente do

seu dependente. O cuidador informal foi também definido pelo Scottish Government

Health Directorate (2005), como uma pessoa de qualquer idade que fornece apoio e

ajuda não remunerada a um amigo, familiar ou vizinho, que não consegue viver

autonomamente, devido a fragilidade, doença, deficiência ou vício.

Também Leitão e Almeida (2000, p. 80), descrevem cuidador como aquele que “assume

a responsabilidade do cuidar, dar suporte ou assistir alguma necessidade da pessoa

cuidada, visando a melhoria de saúde”. O cuidador informal representa, deste modo, a

pessoa, familiar ou amiga, que se assume como a principal responsável pela organização

ou assistência e prestação de cuidados à pessoa com dependência.

Segundo a CIPE versão Beta 2 (ICN, 2005), o papel de prestador de cuidados é

Page 31: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

29

um tipo de interacção de papéis com as características específicas: interagir de acordo

com as responsabilidades de cuidar de alguém, interiorizando as expectativas das

instituições de saúde e profissionais de saúde, membros da família e sociedade quanto aos

comportamentos de papel adequados ou inadequados de um prestador de cuidados;

expressão destas expectativas como comportamentos e valores; fundamental em relação

aos cuidados aos membros dependentes da família. (p. 63)

O facto de não existirem critérios traçados para a escolha do cuidador informal,

corrobora o estudo desenvolvido por Laham (2003) em que 80% dos cuidadores

afirmaram que não planearam o seu novo papel. Também no estudo de Pereira e Silva

(2012), o início do papel de cuidador foi referido como uma vivência marcante, pelo

sucessivo confronto de dificuldades, associadas a atividades físicas e do autocuidado. Se

para alguns este papel teve início de forma gradual, para outros constatou-se repentino.

Contudo, foi sempre um fenómeno inesperado e emergiu por diminuição da capacidade

ou incapacidade da pessoa para o autocuidado. Brereton e Nolan (2000) referem que os

cuidadores só tiveram a real perceção do exercício do seu papel no domicílio. Muitas

vezes, o núcleo familiar impõe a função de cuidador a quem julga mais apto e/ou

disponível, e noutros casos, o familiar assume esse papel por não existir outra opção,

podendo gerar um nível elevado de stress, visto que a escolha desta função não foi

natural (Baptista et al., 2012).

O cuidador é, geralmente a esposa e, em segundo lugar, numa hierarquia de

compromisso, é a filha mais velha. A proximidade parental ou afetiva, sentimentos de

obrigação, proximidade física, vontade expressa do doente, e o facto de ser mulher são

as situações que se verificam na maioria dos casos (Mok, Chan, Chan & Yeung, 2002;

Imaginário, 2003; Martins, Ribeiro & Garrett, 2003; Martins, 2006; Marques, 2007;

Vincent et al., 2007; Araújo, Paúl & Martins, 2008; Pereira & Filgueiras, 2009;

Fernandes, 2009; Ricarte, 2009; Morais et al., 2012; Pereira & Silva, 2012).

É comum a esposa assumir o papel de cuidadora mesmo quando trabalha fora de casa,

tendo como consequência o prejuízo nas suas atividades recreativas e sociais (Laham,

2003; Cao et al., 2010). Contudo, Pereira e Silva (2012, p. 48) relataram que alguns

cuidadores familiares tiveram que antecipar a reforma uma vez que “exercer os

cuidados e a profissão tornou-se, por vezes, incompatível, intensificando os sentimentos

de ansiedade e preocupação”. Os dados do estudo desenvolvido por Morais et al. (2012)

corroboram esta realidade, uma vez que 82% dos cuidadores não possuíam atividade

remunerada fora do domicílio e em 42,9% dos casos deixaram de trabalhar para se

tornarem cuidadores de doentes com AVC a tempo integral. Driscoll (2000) salienta que

Page 32: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

30

a atividade laboral do prestador de cuidados deve ser considerada na preparação da alta

para que o doente possa ter acesso aos apoios sociais necessários. Para Meleis, Sawyer,

Im, Messias e Shumacher (2000), a posição da mulher na família justifica a priorização

das necessidades dos outros membros da família em detrimento das suas próprias

necessidades e do sacrifício de tempo para si mesma.

No estudo desenvolvido por Cao et al. (2010, p. 38) dirigido às mudanças na vida das

esposas de doentes com AVC, as participantes referiram que os seus papéis foram

significativamente alterados quando foram confrontadas com a responsabilidade de se

tornarem cuidadoras, nomeadamente, uma participante descreveu o seu novo papel

como “I used to be a princess but now I’m a maid”. Neste estudo, as cuidadoras

mencionaram também, que as atividades de lazer e recreacionais conjuntas foram

substituídas por atividades terapêuticas focadas exclusivamente no “outro”, na pessoa

com AVC.

Branco e Santos (2010) consideram que o enfermeiro deve orientar a informação, a

educação e o suporte, ponderando factores como a idade avançada do cuidador, a não

partilha de tarefas, baixos níveis de escolaridade e sócioeconómicos, que podem

condicionar as intervenções, especialmente, quando a complexidade dos cuidados exige

uma maior capacidade de aprendizagem e dispêndio económico para a obtenção de

produtos de apoio.

Nas famílias com maiores recursos económicos é habitual haver um prestador de

cuidados a quem é atribuída uma remuneração para assegurar os cuidados ao doente no

período de ausência do cuidador para desempenhar a sua atividade laboral ou

coincidindo com o período de maior sobrecarga e de atividades mais complexas.

Noutros casos, as famílias dispõem de profissionais especializados, tais como os

enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação para desenvolverem ou darem

continuidade a um programa específico de reabilitação (Petronilho, 2007). Também no

estudo de Morais et al. (2012), 72,1% das famílias contavam com a ajuda de um

cuidador secundário e 26,2% contrataram um prestador de cuidados para apoiar nos

cuidados. Em oposição, no estudo desenvolvido por Marques (2007) a maioria dos

prestadores de cuidados (58%) não partilha a responsabilidade dos cuidados com mais

ninguém.

Page 33: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

31

Petronilho (2007) e Branco e Santos (2010) frisam que, apesar de todas as

transformações estruturais e na sua composição, a família ainda continua a ser o

principal sistema de suporte das pessoas mais idosas, bem como a principal fonte de

manutenção da dignidade das mesmas. É essencialmente nela e com ela que cada pessoa

busca o apoio necessário para ultrapassar os momentos de crise no seu percurso de vida

(Marques, 2007). Esta ideia é reforçada por Imaginário (2003) que afirma que a

necessidade de cuidados tem acompanhado a evolução da humanidade e formado laços

de interdependência entre as pessoas, sendo a família o mais antigo e, ainda, o mais

solicitado para a assistência à saúde dos seus membros. Neste contexto, sendo o AVC

uma doença com apresentação clínica súbita, o reajuste estrutural, nos papéis e na

resolução de problemas, acontece num curto período de tempo impondo uma rápida

mobilização na gestão da crise por parte da família, situação para a qual esta não se

encontra preparada (Mayor, Ribeiro & Paúl, 2009; Branco & Santos, 2010).

Segundo Mendes (1998, p. 194) “cuidar de um adulto dependente envolve uma relação

subjectiva que se objectiva, ou seja, é reconstruida num tempo e num espaço de

interdependência que envolvem o passado, o presente e o futuro”. A perda da

capacidade funcional da pessoa conduz a uma reorganização dos papéis familiares, no

sentido de redefinir os responsáveis pelas principais atividades do quotidiano (Karsch &

Leal, 1998; Martins, 2002; Pereira & Silva, 2012), levando-os a abdicar de alguns

aspetos que consideravam essenciais para o seu bem-estar (Cao et al., 2010; Pereira &

Silva, 2012). Esta conjuntura pode condicionar a qualidade dos cuidados prestados, bem

como a qualidade de vida do doente e cuidador (Leitão & Almeida, 2000; Egea, Pérez

& Castillo, 2008), e, assim, constituir uma fonte de tensão familiar (Branco & Santos,

2010). Os cuidadores informais incorrem, frequentemente, numa situação de crise,

manifestando sintomas como: tensão, constrangimento, fadiga, stress, frustração,

redução de convívio, depressão e diminuição da autoestima (Martins, Ribeiro & Garrett,

2003; Egea, Pérez & Castillo, 2008).

Hoje, através do conhecimento disponível, reconhece-se que a prestação de cuidados à

pessoa com dependência, sobretudo, de longa duração, é uma tarefa que implica um

grande desgaste, com consequências na saúde física e emocional do membro cuidador

(Petronilho, 2007; Cao et al., 2010). A ocorrência de um AVC no contexto familiar

constitui uma evidente causa de stress, resultante das perturbações originadas e das

sequelas mais ou menos prolongadas que envolvem importantes transformações de

Page 34: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

32

natureza qualitativa, com prejuízo para a sua capacidade auto-organizadora,

necessitando de ajuda externa para delimitar fronteiras, dosear o stress ou reorganizar

tarefas (Martins, 2002).

Para Pereira e Silva (2012, p. 51) a prática do papel de cuidador foi relatada como uma

“experiência absorvente” associada às sensações de que “não paravam” e de “falta de

tempo” para se dedicarem a si mesmos. A continuidade dos cuidados em casa revelou-

se uma “experiência desgastante” e “difícil”, não só porque impôs “esforço físico e

psicológico”, mas porque obrigou a “ser capaz de abdicar”.

Tratando-se esta doença, o AVC, de uma doença incapacitante, obriga a um

reajustamento imenso com implicações continuadas na dinâmica familiar. Por

conseguinte, são os cuidadores que fornecem grande parte dos cuidados de longa

duração aos doentes com AVC, deparando-se muitas vezes com uma mudança radical

nas suas vidas. Cuidar pode ser física e psicologicamente muito cansativo. A prestação

de cuidados a longo prazo pode gerar elevados níveis de stress nos membros da família,

pelo que os efeitos adversos nos cuidadores podem incluir aumento do risco de

depressão e do uso dos serviços de saúde, bem como abuso de medicação, prescrita

originalmente para o doente (Duncan et al., 2005). Estes problemas agravam-se quando

não é assegurado ao membro cuidador “um conjunto de conhecimentos, capacidades e

suporte que lhe permita enfrentar as tarefas inerentes ao cuidar, de forma a que a pessoa

se sinta capaz e motivada para responder aos desafios de saúde” (Petronilho, 2007, p.

47). Em estudos desenvolvidos por Driscoll (2000) e Vicente (2001) citada por

(Petronilho, 2007), globalmente os cuidadores referiram carência de informação e

expressaram a necessidade de atenção mais personalizada por parte dos profissionais de

saúde, aquando do internamento do doente (Larson et al., 2005).

No domínio dos processos adaptativos, a CIPE versão Beta 2 (ICN, 2005), nomeia o

stress do prestador de cuidados como foco da prática de enfermagem e define-o por

um tipo de coping com as características específicas: disposições que se tomam para gerir

a pressão física e psicológica de um prestador de cuidados que cuida de um membro da

família ou pessoa significativa durante longos períodos de tempo; diminuição da

capacidade de resolução de problemas em resposta às exigências da prestação de

cuidados. (p. 51)

O cuidador de uma pessoa com dependência no autocuidado vivencia uma situação de

vulnerabilidade, associada à incapacidade em dar uma resposta adequada às atividades

do dia-a-dia, pela diversidade e complexidade de cuidados de que é responsável e pelo

Page 35: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

33

processo de transição que esta situação desencadeia nos seus próprios processos de vida,

emergindo, assim, sentimentos de ameaça, frustração e ansiedade (Meleis, Sawyer, IM,

Messias & Schumacher, 2000). Esta insegurança relativa à capacidade de cuidar, o

suporte e bem-estar percecionado pela rede social, a condição económica, a relação

entre cuidador e pessoa cuidada, a alteração dos papéis, são fatores geradores de

sobrecarga no cuidador, que terão um maior ou menor impacto mediante o

conhecimento e as capacidades demonstradas, bem como o suporte social e económico

disponível (Petronilho, 2007). O papel do enfermeiro na orientação e informação das

famílias, e na compreensão da evolução da situação clínica do doente, é preponderante

na preparação dos cuidadores para vivenciarem o processo de transição (Brereton &

Nolan, 2000; Mok, Chan, Chan & Yeung, 2002).

Como já referimos, a prestação de cuidados, nomeadamente a longo prazo, tem

repercussões na qualidade de vida da pessoa que desempenha o papel de cuidador. Este

fenómeno tem sido abordado por vários autores (Han & Haley, 1999; Imaginário, 2003;

Martins, Ribeiro & Garrett, 2003; Petronilho, 2007; Marques, 2007; Fernandes, 2009;

Torres, Prieto & Lián, 2010; Morais et al., 2012) e salienta, sobretudo, alterações na

esfera biopsicossocial que resultam da busca de equilíbrio entre o tempo disponível para

os cuidados, os recursos económicos e a condição física, psíquica e social:

Perturbações físicas: a prestação de cuidados a pessoas dependentes implica uma

sobrecarga física intensa, fator que se agrava por o prestador de cuidados ser,

maioritariamente, do sexo feminino, e, por vezes, com uma idade avançada. É

comum os cuidadores expressarem cansaço, alterações do sono e do apetite,

sensação de debilidade física, dor, e até mesmo degradação do seu estado de

saúde, recorrendo mais vezes ao médico. Em situações limite, o cuidador pode

ficar incapacitado para continuar a desempenhar o seu papel, levando à

institucionalização do doente.

Perturbações psicológicas: a condição de cuidador e o agravamento do estado de

saúde do familiar pela intensidade do trabalho e isolamento conduz a

sentimentos de ansiedade, medo, angústia, insegurança, perda de autoestima,

frustração, desânimo, stress e culpa. As evidências demonstram que cuidar de

um doente com AVC implica elevados níveis de stress que conduzem a uma

depressão clinicamente significativa nos cuidadores, e que se revelam

dificultadores no processo de reabilitação do doente. O stress emocional é

Page 36: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

34

acrescido pela dificuldade na gestão do tempo, dos sentimentos, das múltiplas

responsabilidades, bem como pela pressão da dependência do familiar. Estas

situações agravam-se quando o cuidador não se sente valorizado e reconhecido

pelo seu trabalho, e quando há carência de redes de apoio.

Comprometimento social, lúdico e profissional: o papel de cuidador exige uma

dedicação quase exclusiva, pelo que a falta de tempo para si leva ao isolamento

social e abandono de atividades lúdicas. Também o cansaço e a irritabilidade

conduzem a uma intolerância para outras atividades, tais como as sociais e

profissionais. A nível profissional torna-se difícil a conciliação das duas

atividades, pelo que a disponibilidade para o empenho profissional diminui e

este torna-se insatisfatório. O cuidador, por vezes, é forçado a abdicar da sua

vida profissional, sendo este também fator de angústia. A ocorrência desta

situação está associada à existência de apenas um único cuidador e ao grau de

dependência do doente, e acarreta dificuldades financeiras em resultado da

diminuição do rendimento económico familiar e do aumento dos gastos com os

cuidados ao doente com AVC.

Tal como já foi citado, “ao AVC está associada a deterioração da capacidade física,

emocional e social do indivíduo, que colocam em risco a sua autonomia funcional para o

desempenho das actividades da vida diária, requerendo assim ajuda de outros” (Martins, 2006,

p. 59).

Vários estudos demonstraram que os cuidadores de doentes com AVC parecem ter risco

acrescido para depressão, pelo que beneficiam de uma intervenção psicossocial precoce

para minimizar esse impacto, tais como a visita de um enfermeiro especialista, o

aconselhamento a longo prazo e o envolvimento precoce dos cuidadores no

planeamento da alta. Doentes e cuidadores deverão ser monitorizados para prevenir ou

tratar qualquer evento psiquiátrico adverso no cuidador, uma vez que todas as outras

intervenções poderão não ser tão eficientes (Han & Haley, 1999). Do mesmo modo, o

enfermeiro deverá estar atento a sinais e sintomas de sobrecarga, assistindo o cuidador

no processo de adaptação ao seu novo papel (Petronilho, 2007).

Cuidar de uma pessoa com dependência após o AVC não é uma tarefa fácil, abrange

bem mais do que aspetos instrumentais e físicos, frequentemente valorizados, exigindo

Page 37: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

35

uma completa disponibilidade no sentido de compreender as angústias e as emoções de

doente e cuidador.

1.3.2 - Intervenção de Enfermagem de Reabilitação na sobrecarga do cuidador

informal

Estes aspetos que são referidos como a sobrecarga do cuidador fizeram emergir

múltiplos estudos sobre as intervenções que dão resposta às necessidades dos

cuidadores.

O conceito de sobrecarga emergiu na Grã-Bretanha nos anos 60 devido aos efeitos que

se observavam nas famílias cuidadoras de doentes do foro psiquiátrico. Nos anos 70 foi

diagnosticado um fator influenciador da qualidade de vida dos cuidadores de doentes

demenciados a viverem na comunidade, situação que conduziu ao desenvolvimento de

diversos instrumentos de avaliação e introduziu o termo de sobrecarga do cuidador

(Fernandes, 2009).

O impacto que o cuidar gera no cuidador é descrito frequentemente como “carga”,

designado em inglês por burden. Etimologicamente, carga significa “o que é

transportado por pessoa” “o que pesa sobre outra coisa”, “responsabilidade” ou

“encargo” (Ricarte, 2009).

O conceito de caregiver burden, que se traduz por sobrecarga do cuidador, tem sido

comummente utilizado na área da saúde, para explicitar o conjunto de problemas

vivenciados pela pessoa que cuida de alguém dependente em contexto domiciliário

(Cardoso, 2011), e está relacionado com a quantidade de tempo e assistência dedicada a

lidar com as consequências da deficiência (Vincent, Desrosiers, Landreville, Demers &

BRAD group, 2009). Este conceito é multidimensional e refere-se a sentimentos

negativos que incluem aspetos de sobrecarga física, emocional, social e financeira

(Ocampo et al., 2007).

A sobrecarga do cuidador é, tal como descreve Braithwaite (1992), citada por Martins

(2006),

uma perturbação resultante do lidar com a dependência física e a incapacidade mental do

indivíduo alvo da atenção e dos cuidados, correspondendo à percepção subjectiva das

ameaças às necessidades fisiológicas, sociais e psicológicas do cuidador. Ou seja, a

sobrecarga é um produto, resultado da avaliação dos cuidadores acerca do papel e das

tarefas que realizam, da percepção e desenvolvimento da doença dos familiares e das

interferências que estes factores causam nos vários domínios da vida da pessoa. (p. 64)

Page 38: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

36

Conceptualmente fala-se em sobrecarga objetiva e subjetiva. Quanto à sobrecarga

objetiva, tal como nos indica o termo, refere-se a fatores objetivos e mensuráveis tais

como o tempo despendido a cuidar, tarefas executadas pelo cuidador e dificuldades

financeiras. Enquanto a experiência do cuidador e sentimentos acerca da sobrecarga

física, psicológica, social e emocional estão relacionados com a sobrecarga subjetiva

(Han & Haley, 1999). A sobrecarga objetiva está relacionada com a prática dos

cuidados, enquanto a sobrecarga subjetiva é inerente às especificidades do cuidador

(Martins, 2006), traduzindo a perceção que o ato de cuidar envolve (Ricarte, 2009).

Os cuidadores informais percecionam as exigências de ordem física, o apoio

profissional deficiente e os problemas financeiros como uma importante fonte de

dificuldade, fatores que se exacerbam com o facto de os cuidadores serem, na sua

maioria, mulheres envelhecidas, pelo que a prestação de cuidados exige um esforço

físico ainda maior (Marques, 2007). O estudo de Ricarte (2009) sobre a sobrecarga do

cuidador informal de doentes idosos dependentes corrobora estes dados, uma vez que os

cuidadores femininos apresentam níveis de sobrecarga mais elevados (60,1%) do que os

do sexo masculino (3,8%).

A sobrecarga emocional é agravada, segundo Marques (2007), quando se verifica a

ocorrência de problemas relacionais com a pessoa dependente, exigências de ordem

física, apoio familiar e profissional deficiente, restrições na vida social, problemas

financeiros e maior dificuldade na gestão das exigências do cuidar. À semelhança do

descrito, os cuidadores com menor nível socioeconómico e com apoio profissional

insuficiente evidenciam, segundo a mesma autora, maior sobrecarga financeira, menores

mecanismos de eficácia e controlo, menor satisfação com o seu papel e com o familiar e

maior sobrecarga global. Ou seja, em termos globais, os cuidadores que apresentam

maiores dificuldades tendem a evidenciar maior sobrecarga na prestação de cuidados à

pessoa dependente.

O estudo desenvolvido por Andrade (2009) sobre as necessidades educativas do

cuidador informal salientou como fatores de sobrecarga inerentes ao desempenho do seu

papel: a presença de mais que uma pessoa idosa a cargo, o aumento da quantidade e

intensidade dos cuidados, o grau de dependência do idoso, a carência de conhecimentos

sobre a evolução do estado de saúde do idoso e das técnicas inerentes ao cuidar, a falta

de colaboração do idoso, o isolamento social, os recursos económicos insuficientes, os

conflitos familiares, a falta de apoio formal e informal, a idade do cuidador e a

Page 39: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

37

dificuldade na aceitação do seu papel. O estudo de Pereira e Filgueiras (2009)

acrescenta aos aspetos já referenciados, as alterações comportamentais e cognitivas do

idoso (Ocampo et al., 2007), a escolaridade e a vida profissional do cuidador, o impacto

na saúde e bem-estar do cuidador, como outros fatores importantes que podem conduzir

à sobrecarga.

Os resultados dos estudos de Ocampo et al. (2007), Fernandes (2009), Ricarte (2009) e

Baptista et al. (2012) evidenciaram que a sobrecarga dos cuidadores é influenciada pelo

grau de dependência do idoso, sendo que no estudo de Ricarte as atividades que mais

evidenciaram esse efeito foram, em 29,4% dos casos, “dar banho” e, em 28,2%, a

“higiene corporal”. Por outro lado, também, quanto maior o nível de dependência do

idoso nas atividades instrumentais de vida diária, maior o nível de sobrecarga, aferindo

esta ocorrência em 37,1% dos participantes, que reconheceram as atividades de

“preparação da comida”, “ir às compras” e “lavar a roupa” como as mais decisivas nesta

avaliação.

As situações de crise são de facto frequentes, e a única forma de aliviar a sobrecarga

individual e familiar de quem cuida, é, tal como refere Paúl (1997), citado por Branco e

Santos (2010, p. 119), conhecer e “intervir junto desta população, antecipando-se às

suas necessidades específicas e apoiando o seu esforço, evitando que surjam situações

de descompensação que, além de prejudiciais ao próprio, permitam frequentemente a

institucionalização . . . que afinal é o que se pretende evitar”. Perante esta realidade, é

preciso preparar o cuidador do ponto de vista técnico, mas, também, estruturar

intervenções junto do mesmo, que considerem a sobrecarga sofrida, afetando aspetos

físicos, psíquicos, económicos e sociais, ou seja, é necessário criar um projeto de

manutenção e promoção da sua própria condição de saúde (Pereira & Filgueiras, 2009).

O conhecimento da estrutura e dinâmica familiar e das condições socioeconómicas por

parte dos profissionais de saúde permite, segundo Marques (2007), compreender o seu

funcionamento e avaliar o impacto perante uma situação de AVC num dos seus

membros, possibilitando o êxito das intervenções terapêuticas.

O estudo produzido por Larson et al., (2005) sobre o impacto do apoio de enfermagem

ao cuidador do doente com AVC evidencia a importância do desenvolvimento de

programas de intervenção de enfermagem para suportar os cuidadores na adaptação e

gestão aos seus novos papéis. A participação em programas educacionais e de suporte

Page 40: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

38

aumentaram o bem-estar dos cuidadores, no entanto, esta melhoria foi temporária

porque constatou-se a sua diminuição após o términus do programa. Para Driscoll

(2000), o envolvimento dos cuidadores no processo de cuidados alivia a sua ansiedade e

resulta numa maior satisfação da informação recebida, diminuindo também a

probabilidade do doente vivenciar problemas médicos após a alta. Num estudo sobre o

impacto do cuidado no cuidador informal, Lage (2007) valoriza a preservação do bem-

estar dos idosos e a intimidade do autocuidado no âmbito familiar. Logo, torna-se

essencial identificar estratégias que minimizem o stress do cuidador e otimizem

relações positivas, competências e compromissos com os profissionais de saúde,

nomeadamente, com os enfermeiros, que contribuam para desenvolver os lares como

espaços de cuidado (Greenwood & Mackenzie, 2010).

Apesar da prestação de cuidados a familiares dependentes estar associada,

forçosamente, a múltiplas dificuldades, Marques (2007) acrescenta que

se por um lado o cuidado informal tem o potencial de gerar constrangimentos, conflitos e

sobrecargas que diminuem a qualidade de vida e, muitas vezes, a própria saúde de quem

presta estes cuidados, por outro lado tem também um potencial humanizador indiscutível,

respondendo de forma mais personalizada às necessidades do doente dependente. (p. 83)

Cuidar de um familiar dependente representa também retribuir sentimentalmente a

quem de alguma forma também cuidou de nós, e a quem dedicamos um afeto profundo

ou o cumprimento de uma “obrigação moral” (Martins, Ribeiro & Garrett, 2003).

O processo de adaptação do cuidador informal não é linear, relacionando-se com

diferentes aspetos (Martins, 2006). Por exemplo, quando o stress se sobrepõe à

capacidade de adaptação a uma situação de crise, a pessoa responde de um modo

inapropriado, daí a necessidade do indivíduo adotar novos modos de resposta para

superar a crise (Martins, Ribeiro & Garrett, 2003; Ocampo et al., 2007). Ao mesmo

tempo, a capacidade de desenvolver estratégias de coping na relação com o stress é

variável, e tem como objetivo a resolução da situação problema e o controlo das

emoções que daí resultam. A resolução de situações prévias contribui, igualmente, para

a resolução satisfatória de experiências similares. Ainda, aspetos relacionados com o

problema de saúde, tais como cronicidade, limitações, grau de dependência do doente, e

as exigências dos cuidados, são também determinantes neste processo (Martins, Ribeiro

& Garrett, 2003; Marques, 2007).

A maior complexidade dos cuidados e o tempo despendido na assistência ao doente

parecem aumentar a sobrecarga do cuidador (Martins, 2006), pelo que o suporte social,

Page 41: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

39

económico (Dalvandi, Heikkila, Maddah, Khankeh & Ekman, 2010), familiar e de

outros recursos da comunidade, como a acessibilidade a programas de reabilitação, são

também fundamentais (Marques, 2007).

É sabido que o tipo de relação que se estabelece entre família e profissionais de saúde

tem um forte impacto no cuidador. Neste sentido, Rebelo (1996), citada por Marques

(2007), afirma que

ao prestador de cuidados informais, responsável por tarefa tão exigente, devem as

instituições de forma organizada e coordenada, prestar apoio técnico, orientação e

formação. A eficácia deste suporte institucional aos prestadores de cuidados informais é

determinante na aquisição de confiança em si próprios e provavelmente também numa

maior disponibilidade para se manter prestador de cuidados. (p. 86)

Embora se verifique que comummente os cuidadores do doente com AVC manifestam

sobrecarga tanto a nível físico, como emocional e/ou financeiro, no estudo desenvolvido

por Han e Haley (1999), a maioria dos cuidadores expressou satisfação relativamente ao

seu atual papel e manifestou desejo em continuar a desempenhar o seu papel no

ambiente domiciliar (Andrade, 2009; Pereira & Silva, 2012).

A este propósito, “Caring for another person can be experienced as stressful and

burdening but it can also be an important source of positive rewards” (Mayor, Ribeiro

& Paúl, 2009, p. 623). A satisfação com o papel de cuidador integra um conjunto de

sentimentos e emoções positivas decorrentes do desempenho do seu papel e da relação

afetiva que se estabelece entre cuidador e doente (Martins, Ribeiro & Garrett, 2003).

Os cuidadores que demonstram determinação e expectativas positivas sobre as suas

habilidades para cuidar do seu familiar podem ser mais capazes de permanecer

motivados relativamente ao seu papel de cuidadores, levando-os a desenvolver menor

stress (Mok, Chan, Chan & Yeung, 2002; Mayor, Ribeiro & Paúl, 2009). Ao mesmo

tempo, os cuidadores que pareceram estar melhor preparados para o exercício do seu

papel foram aqueles que providenciaram os recursos e equipamentos adaptativos

adequados à crescente complexidade dos cuidados (Petronilho, 2007).

O exercício do papel de prestador de cuidados traduziu uma experiência gratificante e

compensadora, pela importância e reconhecimento que os cuidados tiveram para a

pessoa cuidada. Por conseguinte, os cuidadores atribuíram sentimentos de satisfação e

bem-estar durante o exercício do papel e descreveram a experiência de cuidar como

“uma experiência que os faz ter orgulho, pelo reconhecimento que os profissionais e

Page 42: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

40

amigos fizeram da pessoa se apresentar bem cuidada. Emergiu a consciência do

fortalecimento dos vínculos” (Pereira & Silva, 2012, p. 50).

Em suma, ao confrontar-se com mudanças no estado de saúde do seu familiar, o

cuidador sente-se impotente e sem meios para contestar a degradação e a evolução da

doença do seu familiar. A par desta situação surgem, geralmente, conflitos que

conduzem a sobrecarga, que se manifesta em três grandes domínios: físico, emocional e

social. Este fenómeno mostra-se complexo e multifatorial, ou seja, implica uma

constelação de fatores que estão correlacionados (Martins, Ribeiro & Garrett, 2003).

As necessidades dos prestadores de cuidados devem ser consideradas em cada etapa do

percurso do doente, por forma a ajustar as intervenções que atendem às mesmas (Han &

Haley, 1999; Duncan et al., 2005; Petronilho, 2007; Branco & Santos, 2010; Pereira &

Silva, 2012; Morais et al., 2012). É tão importante dotá-los de recursos para uma

resposta adequada às suas necessidades, como estar atento à sua condição de saúde

(Petronilho, 2007). Vincent, Desrosiers, Landreville, Demers e BRAD group (2009)

reforçam afirmando que, a informação, o treino e o suporte dos cuidadores informais

deve ser personalizado às suas necessidades individuais.

Neste sentido, o familiar cuidador tem um papel fundamental nos cuidados ao doente

pelo que deve ser considerado um foco de atenção dos enfermeiros. É pertinente o

desenvolvimento de intervenções que capacitem o familiar cuidador de conhecimentos e

habilidades para a prática do seu novo papel, no sentido de manter a integridade física e

emocional, para o seu bem-estar e garantindo a qualidade dos cuidados prestados, ou

seja, é necessário desenvolver intervenções dirigidas aos cuidadores para a aquisição

das competências necessárias para assegurar os cuidados ao doente com dependência

em contexto familiar.

Petronilho (2007) nomeia dois aspetos que a intervenção de enfermagem ao cuidador

deve focar: 1) as necessidades decorrentes da alteração da condição de saúde da pessoa

(em consequência do AVC no nosso estudo); 2) as potenciais situações de crise que o

papel de cuidador pode gerar.

Para Pereira e Silva (2012, p. 51), a forma como o cuidador percecionou o exercício do

seu papel traduziu sentimentos de: “ter de aprender” a prestar cuidados, “ter de adaptar-

se” à nova situação e “ter que conseguir” superar as dificuldades e integrar o seu papel

no quotidiano de vida.

Page 43: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

41

Num estudo desenvolvido por Mok, Chan, Chan e Yeung (2002) os cuidadores

familiares percecionaram as intervenções de enfermagem como fortalecedoras,

estabelecendo com os doentes uma relação de compromisso. Estes autores salientaram

que os cuidadores necessitam de informação, educação, incentivo e apoio, tendo os

profissionais de enfermagem um lugar privilegiado para responderem a essas

necessidades, podendo deste modo, tal como nos referem Driscoll (2000), Mok, Chan,

Chan e Yeung (2002) e Petronilho (2007), reduzir significativamente a sobrecarga dos

cuidadores, bem como os reinternamentos das pessoas dependentes. Também Pereira e

Silva (2012) reconheceram que o apoio fornecido pelos enfermeiros ao cuidador durante

o internamento hospitalar facilitou o exercício do seu papel em casa.

Evans, Matlock, Bishop, Stranahan e Pederson (1988) salientam que, no seu estudo, os

programas de educação fornecidos aos prestadores de cuidados de doentes com AVC

tiveram um efeito positivo no funcionamento da família, no aproveitamento dos

recursos sociais e na promoção dos processos adaptativos do doente. Também

McCullagh, Brigstocke, Donaldson e Kalra (2005) comprovaram num estudo sobre os

factores que influenciam a sobrecarga e a qualidade de vida dos cuidadores de doentes

com AVC, que os cuidadores que receberam treino por equipas de enfermagem sobre as

habilidades básicas para cuidar da pessoa com deficiência, evidenciaram redução da sua

sobrecarga, bem como, aumentaram a sua qualidade de vida, sem, no entanto, se

observar efeito positivo sobre a institucionalização. Em oposição, a carência de

informação e a não incorporação da família na prestação de cuidados são geradoras de

sentimentos de incapacidade para a realização de diversos procedimentos relacionados

com os cuidados ao doente, afetando significativamente a sua saúde e o seu desempenho

(Branco & Santos, 2010).

Contudo, um estudo realizado por Araújo, Paúl e Martins (2008) sobre o apoio

fornecido pelos enfermeiros ao cuidador de doentes com dependência por AVC na

preparação e continuidade de cuidados após a alta, evidenciou uma realidade aquém do

que é preconizado, mostrando que a continuidade de cuidados ainda não é eficiente e os

ensinos, orientações e treinos revelaram-se insuficientes para uma resposta adequada às

necessidades expressas pelos cuidadores. Neste sentido, as famílias com informação

desajustada e/ou insuficiente, associada a baixos recursos económicos e com carência de

redes de apoio sociais, terão maior dificuldade em reencontrarem o equilíbrio, com

implicações no suporte da pessoa com dependência.

Page 44: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

42

Face ao exposto, o envolvimento da família no processo de reabilitação deve ser uma

preocupação da equipa de reabilitação, pois favorece a reintegração e readaptação do

doente na comunidade, com incremento na sua qualidade de vida (Gresham et al., 1997;

Vincent et al., 2007; Cao et al., 2010). Por outro lado, estes poderão fornecer

informações importantes aos profissionais de saúde para a elaboração do plano

terapêutico, enfatizando a importância de um processo de reabilitação personalizado às

necessidades individuais de doente e família (Vincent et al., 2007). Quanto mais

esclarecidos estiverem, melhor será a articulação e a dinâmica familiar e,

consequentemente, melhor o prognóstico do doente (Evans, Matlock, Bishop, Stranahan

& Pederson, 1988).

Estudos produzidos por Kalra et al. (2004) e Larson et al. (2005) sobre o suporte de

enfermagem aos cuidadores informais de doentes com AVC demonstraram que a

formação dos cuidadores sobre prevenção de úlceras de pressão, posicionamentos,

nutrição, continência, bem como o ensino de habilidades básicas de como movimentar e

transferir, o ensino das AVD, e o aconselhamento sobre os benefícios e a rede de apoio

formal, reduziram significativamente a sobrecarga do cuidar, os custos de meios

humanos e melhoraram a qualidade de vida e bem-estar de doentes e cuidadores.

Também demonstraram reduzir os custos do tratamento do doente com AVC e um

maior número de doentes alcançou a independência funcional mais precocemente.

A formação realizada aos cuidadores informais é também considerada, através do

Parecer N.º8/2012 do Conselho de Enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2012), uma

área de intervenção de enfermagem dirigida à aquisição de novos comportamentos em

saúde, ao desenvolvimento de potenciais para a ação, para o autocuidado, para a

promoção da autonomia, para a gestão dos processos de saúde. Destina-se a informar e

treinar os cuidadores informais, dotando-os de capacidades para participarem

ativamente na saúde. Esta formação enquadra-se na educação para a saúde, na

promoção da saúde, na gestão dos regimes terapêuticos e no desenvolvimento de

capacidades da pessoa e cuidador informal.

Neste contexto, Duncan et al. (2005) defendem que, para além do cuidador participar

nas sessões de reabilitação e receber treino e equipamento necessário para assistir o

doente nas suas AVD, de forma segura no domícilio, deverá receber apoio emocional e

de meios humanos, aconselhamento sobre produtos de apoio e aparelhos ou

equipamentos que eliminem barreiras arquitetónicas e informação sobre fornecimento

Page 45: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

43

de refeições na comunidade. Como tal, a visita domiciliária antes do regresso a casa,

deve ser uma estratégia do enfermeiro de reabilitação para a adaptação do domicílio à

nova condição de vida do doente com AVC. Deve ser considerada a avaliação do

ambiente no sentido de potenciar recursos e eliminar possíveis barreiras ao processo de

reabilitação do doente, assegurando condições de acessibilidade, mobilidade e

estimulação sensorial (Branco & Santos, 2010). O cuidador deverá, igualmente ser

provido de toda a informação relevante, como os seus direitos e responsabilidades,

grupos de apoio e outros tipos de programas na comunidade. Toda a informação

relevante deverá ser providenciada em suporte escrito e audiovisual (Duncan et al.,

2005). Estudos realizados por Driscoll (2000) e Petronilho (2007) comprovaram que os

grupos de cuidadores a quem foi oferecida informação escrita com as orientações sobre

os cuidados a prestar ao doente no domicílio, apresentaram um nível de conhecimentos

e capacidades no hospital significativamente superior aos grupos que não tiveram esta

mesma informação em suporte escrito. A disponibilização de toda a informação em

suporte escrito comprovou ainda ter implicações na redução das taxas de readmissão

(Driscoll, 2000).

A informação escrita ajuda na clarificação de dúvidas que possam surgir

posteriormente. Um estudo desenvolvido por Magnusson e Hanson (2005) a propósito

das vantagens da utilização das tecnologias da informação e da comunicação no apoio

da pessoa dependente e familiar cuidador demonstrou que na sociedade atual, os

docentes de enfermagem e enfermeiros podem explorar ativamente o potencial de

soluções inovadoras para o apoio às pessoas idosas e cuidadores como uma forma

inovadora e rentável de trabalhar com a comunidade. O sucesso deste estudo foi

alcançado através da utilização de programas educacionais multimédia de prestação de

cuidados, a que os utilizadores acediam através da televisão ou computador pessoal, da

instalação de câmaras para estabelecer videoconferência com a equipa de enfermagem

da comunidade, e ainda, da criação de uma linha de atendimento telefónico de

enfermagem.

O estudo produzido por Andrade (2009) apontou o contexto domiciliário como o

ambiente mais rico em experiências de aprendizagem dos cuidadores, podendo estar

relacionado com o facto de ser neste contexto que cuidador e enfermeiro tomam

consciência das reais necessidades educativas e dos recursos existentes para a prestação

de cuidados. Salienta, também, o acompanhamento permanente dos enfermeiros dos

Page 46: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

44

cuidados domiciliários no âmbito das visitas domiciliárias de carácter preventivo, bem

como a sua disponibilidade em situações urgentes, e enfatiza as intervenções

relacionadas com a orientação social e com o apoio emocional ao cuidador.

Para se alcançar bons resultados é fundamental que doente e cuidador estejam

adequadamente informados, envolvidos e preparados para todos os aspectos do cuidar

(Driscoll, 2000; Brereton & Nolan, 2000; Duncan et al., 2005; Cao et al., 2010). É mais

provável que um cuidador preste um suporte adequado se o mesmo tiver conhecimento

sobre as implicações de sofrer um AVC, se não estiver deprimido e se viver numa

família bem estruturada (Duncan et al., 2005). Por outro lado, as famílias bem

estruturadas previamente ao episódio de AVC revelaram maior capacidade para cuidar

do que as disfuncionais (Evans, Matlock, Bishop, Stranahan & Pederson, 1988).

Efetivamente, uma maior formação permite desenvolver as capacidades práticas

necessárias para fazer face a situações constrangedoras, facilita um maior conhecimento

dos recursos sociais disponíveis, sendo que estes cuidadores sentem-se, habitualmente,

mais aptos a recorrer a ajudas exteriores (Marques, 2007). Neste sentido, Laham (2003)

e McCullagh, Brigstocke, Donaldson e Kalra (2005) propõem que programas de

formação aos cuidadores sejam ampliados e aperfeiçoados, pois têm-se demonstrado

úteis e terapêuticos, aliviando sentimentos de angústia e ansiedade. Também a

assistência domiciliar por parte da equipa de saúde é um importante apoio emocional

aos cuidadores, transmitindo-lhes segurança, principalmente por esta ser vista como

competente para dar orientações sobre a forma mais adequada de cuidar do doente

(Laham, 2003; Cao et al., 2010).

A relação de confiança que se estabelece entre enfermeiro e cuidador, bem como o

programa de intervenção a implementar são essenciais para o sucesso dos cuidados,

bem-estar dos cuidadores, da pessoa que cuidam e da sua família (Martins, 2006). A

melhoria significativa dos resultados obtidos através da utilização de escalas de

avaliação funcional, associada à formação do prestador de cuidados é um importante

indicador com implicações para a prática clínica (Kalra et al., 2004).

A capacidade de resolução de problemas, bem como a interação com os profissionais de

saúde são aspetos facilitadores na adesão ao regime terapêutico após o AVC, na

melhoria da gestão do stress e no processo de reabilitação do doente (Evans, Matlock,

Bishop, Stranahan & Pederson, 1988). Familiares mais instruídos tenderão a adotar

Page 47: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

45

estratégias mais claras para a resolução de problemas, contribuindo para uma relação

mais harmoniosa com o doente dependente (Marques, 2007).

Fernandes (2009) e Cardoso (2011) demonstraram que a maioria dos cuidadores

familiares necessita de apoio de uma equipa multidisciplinar que dê suporte médico e de

enfermagem, social, emocional e económico aos doentes e a si próprios. Essa equipa

deve desenvolver atividades que colaborem na capacitação do cuidador para intervir

face à dependência e problemas de saúde do seu familiar, e, ao mesmo tempo, abordem

estratégias que promovam o bem-estar e qualidade de vida de doente e cuidador/família,

e ainda, previnam o stress e a sobrecarga. Para Fernandes (2009) é imperativo

perspetivar uma abordagem biopsicossocial que envolva o apoio às AVD e a vertente

saúde com apoio, médico e de enfermagem, reabilitação, psicologia e terapia

ocupacional.

Neste sentido, o estudo desenvolvido por Lage (2007) amplia a compreensão dos fatores

da sobrecarga dos cuidadores e reforça a importância de:

• Desenvolver intervenções interdisciplinares que avaliem a . . . família como um todo e

não individualmente, ao nível do cuidador principal e/ou da doença do idoso.

• Identificar os recursos disponíveis, incluindo a possibilidade de ajuda dentro da própria

família. . . . A falta de recursos pode comprometer a experiência de cuidar, da mesma

forma que a sua presença parece favorecer essa experiência.

• Proporcionar intervenções de suporte que aliviem o stress . . .

• Proporcionar treino nas áreas mais problemáticas dos cuidados, dado os resultados de

investigação mostrarem que a competência dos cuidadores pode fazer a diferença na

diminuição do risco. Enfatizar o suporte emocional e informacional.

• Reconhecer a sobrecarga do prestador de cuidados como uma área emergente de

intervenção para os enfermeiros que, tendo nas famílias os seus parceiros de cuidados,

devem levar a cabo intervenções precoces, individuais e terapêuticas que evitem situações

de risco.

• Reconhecer que em virtude dos constrangimentos no actual sistema de cuidados de

saúde, as famílias precisam mais do que nunca de suporte e informação, pois, quanto mais

insuficientes e inadequados são os recursos, mais e mais intensos são os cuidados a longo

prazo prestados em casa.

• Criar redes de suporte que proporcionem conhecimentos, equipamentos e

serviços/recursos às famílias envolvidas na prestação de cuidados a longo prazo. (p.416)

Ricarte (2009) acrescenta que as equipas de enfermagem que intervêm no processo de

cuidar dos idosos dependentes deverão voltar a sua atenção também para os cuidadores,

visando a potencialização das suas capacidades, através, nomeadamente, do reforço das

estratégias de coping, contribuindo para o decréscimo dos riscos de morbilidade. O

autor sugere ainda,

a criação de um espaço multidisciplinar de apoio ao cuidador informal, onde os

enfermeiros tenham responsabilidades de articulação de cuidados, possa vir a melhorar o

desempenho do cuidador, contribuindo para a existência cada vez menor de níveis de

Page 48: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

46

sobrecarga, ao possibilitar a entrada dos cuidadores no sistema de saúde e o seu

acompanhamento precoce.

A utilização de instituições não-governamentais tais como centros de dia, unidades de

apoio domiciliar ou grupos de voluntariado poderão contribuir, também, para um suavizar

da sobrecarga e a integração dos próprios idosos na comunidade. (p. 109)

Os cuidadores salientam a atitude pedagógica dos enfermeiros, quer em contexto

institucional, quer em contexto domiciliário, como uma mais-valia para o desempenho

das suas funções de cuidadores (Andrade, 2009). O mesmo estudo relata as capacidades

que os cuidadores referiram desenvolver dia após dia para fazer frente às contingências

do cuidar: a construção de um alicerce social de apoio formal e/ou informal – que se

refere à mobilização dos recursos das redes de apoio formal (serviços de saúde e

serviços sociais) e dos recursos das redes de apoio informal (familiares, amigos e

vizinhos) – para fazer face às suas necessidades para a prestação de cuidados; a

estruturação de um meio físico seguro para prestar cuidados, que diz respeito às

modificações na casa e à aquisição de materiais e equipamentos necessários; o

desenvolvimento de perícia, de capacidade pessoal emocional e física, relacionada com

o aperfeiçoamento de recursos pessoais (conhecimentos e destreza, capacidade

emocional e capacidade física) que os cuidadores incrementaram com a sua experiência.

“É importante que a família seja considerada tanto como uma unidade de cuidado como

uma unidade a ser cuidada” (Inouye, Pedrazzani, Pavarini & Toyoda, 2009, p. 192) ou

seja, a qualidade de vida do cuidador está intimamente relacionada com a qualidade de

vida da pessoa dependente, tornando-se imperioso que sejam criadas e/ou melhoradas

não só as condições de assistência à pessoa com dependência, mas também, as

intervenções dirigidas ao familiar cuidador, pois os benefícios de um estendem-se ao

outro (Rodrigues, 2011).

Pereira e Silva (2012) reconheceram que a prática é a grande mestra, e só o tempo e a

prática permitem que qualquer ato se torne mais fácil de ser prestado. À semelhança

destes autores, também Petronilho (2007, p. 157) afirma que “a experiência de cuidar

por si com a repetição diária das tarefas inerentes às necessidades do doente dependente

vai consolidando progressivamente um conjunto de competências que promovem a

adaptação do cuidador ao exercício do seu papel”.

Page 49: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

47

PARTE DOIS: ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

Na segunda parte do nosso estudo apresentamos de forma sistematizada os

procedimentos adotados durante as várias etapas do estudo, de forma a garantir a

validade e o interesse científico dos resultados encontrados na investigação. A escolha

metodológica é importante para assegurar a fiabilidade e a qualidade dos resultados de

investigação.

Para Fortin (1999, p.372), a metodologia “é o conjunto dos métodos e das técnicas que

guiam a elaboração do processo e investigação científica. Também, secção de relatório

de investigação que descreve os métodos e as técnicas utilizadas no quadro dessa

investigação.” Neste sentido, e de forma acedermos ao conhecimento atual sobre os

Benefícios da Intervenção da Enfermagem de Reabilitação na Minimização da

Sobrecarga do Cuidador Informal do Doente com Acidente Vascular Cerebral,

realizámos um estudo de revisão sistemática de literatura (RSL).

A escolha desta metodologia deve-se ao facto desta representar uma mais-valia para a

investigação em enfermagem, visando melhorar a qualidade dos cuidados de

enfermagem e o desenvolvimento da prática clínica de enfermagem baseada na

evidência (Ramalho, 2005), permitindo-nos conhecer o estado da arte relativamente ao

tema em questão (Fortin, Côté & Filion, 2009).

Uma RSL consiste na realização de uma análise crítica a um conjunto de publicações

pertinentes para o domínio da investigação (Fortin, 1999). É uma estratégia científica

eficiente para identificar e sumariar evidências que possibilitem avaliar a consistência e

a validade externa dos achados, e deve ser conduzida de acordo com metodologia

explícita, que objetive reduzir vieses e que seja reprodutível (Ramalho, 2005). Estes

estudos são particularmente úteis para integrar as informações de diferentes pesquisas

sobre uma mesma área de intervenção, podendo apresentar resultados conflituantes e/ou

concordantes, bem como identificar temas que necessitem de evidência, servindo como

ponto de partida para investigações futuras (Sampaio & Mancini, 2007).

Page 50: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

48

Trata-se de um tipo de estudo secundário, que de forma metódica e organizada agrupa

um grande número de resultados de pesquisas científicas relevantes e recentes,

permitindo explicar as diferenças encontradas entre estudos primários que investigam

uma determinada questão e readquir novas perspectivas, relacionando-as com a prática

clínica (Ramalho, 2005). Possibilita aprofundar certos aspectos do tema em estudo e

fazer o ponto de situação sobre o seu contributo para o avanço do conhecimento (Fortin,

Côté & Filion, 2009).

Os estudos de RSL são um elemento importante para a prática baseada na evidência

(PBE), sendo considerados o “padrão de ouro” na apreciação da eficácia de um

tratamento ou intervenção (Pearson & Craig, 2004). As conclusões são mais

consistentes quando diferentes estudos investigam os efeitos de uma intervenção e

fornecem dados que suportam as mesmas conclusões. Logo, a RSL é um método

adequado e atual para sintetizar evidências sobre a eficácia e os efeitos de determinadas

intervenções (Sampaio & Mancini, 2007). O conceito de PBE é definido por Sackett et

al. (1997), citados por Pearson & Craig (2004, p. 8), como “o uso consciente, explícito e

criterioso da melhor evidência existente para tomar decisões sobre cuidados de saúde

aos doentes.”

Trata-se de um estudo que segue uma sequência de passos bem definidos, descritos e

compilados por vários autores (Craig, 2004; Galvão, Sawada & Mendes, 2003;

Akobeng, 2005; Dib, 2007) e que passamos a citar:

1- Formulação de uma questão clínica clara a partir das necessidades de

informação;

2- Pesquisa de evidências científicas;

3- Avaliação crítica das evidências disponíveis;

4- Integrar os resultados obtidos pela melhor evidência disponível no planeamento

e implementação do cuidado, quando apropriado;

5- Avaliação da aplicabilidade clínica das evidências;

Face ao exposto, uma RSL requer uma pergunta clara, a definição de uma estratégia de

pesquisa, a definição de critérios de inclusão e exclusão dos artigos e uma análise

criteriosa da literatura selecionada (Sampaio & Mancini, 2007). Deste modo, será

possível integrar as informações explicitadas num conjunto de estudos científicos já

Page 51: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

49

realizados, explorar a questão de investigação e analisar as evidências demonstradas

refletindo sobre as mesmas.

A PBE é a utilização da melhor evidência científica na fundamentação da tomada de

decisão clínica (Santos, Pimenta & Nobre, 2007). Como tal, a identificação da melhor

evidência requer a construção adequada da pergunta de investigação.

Page 52: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

50

CAPÍTULO II: PERCURSO METODOLÓGICO

2.1 - Questão de investigação

A presente RSL, tal como outros estudos desta natureza, teve como intuito contribuir

para a síntese e incorporação do Saber produzido sobre o fenómeno da sobrecarga do

cuidador informal do doente com AVC, e, consequentemente, explicitar a evidência

científica alcançada, tendo em vista a sua utilização na investigação, na prática de

cuidados e na formação em enfermagem (Jones, 2004; Ramalho, 2005).

Em todos os estudos científicos é fundamental determinar o alvo, pelo que a pergunta de

investigação é essencial para estruturar e conduzir todos os passos da revisão

sistemática. A pergunta de investigação é também decisiva na delimitação da pesquisa,

visto os temas de investigação em enfermagem serem amplos (Ramalho, 2005).

Uma pergunta bem formulada é, segundo Dib (2007), o primeiro e mais importante

passo para o início de uma pesquisa, pois diminui a possibilidade de ocorrerem erros

sistemáticos durante a elaboração, o planeamento, a análise estatística e a conclusão de

um projeto de pesquisa. Também para Craig (2004), uma questão formulada

cuidadosamente maximiza a possibilidade que uma evidência relevante de alta

qualidade possa ser identificada e incorporada apropriadamente no processo de tomada

de decisão. A existência de poucos estudos sobre determinada temática não inviabiliza a

produção de estudos de RSL, pelo contrário, “pode mostrar a necessidade de fazer mais

investigação sobre o tema, uma vez que ajuda a identificar lacunas do conhecimento”

(Ramalho, 2005, p. 43).

Na condução desta RSL foi utilizado o método designado de PI[C]OD descrito nos

protocolos de revisão sistemática (Participantes, Intervenções, (Comparações),

Outcomes e desenho de estudo), e que consiste nos aspetos basilares a incluir na

formulação da questão de investigação, na definição de critérios de inclusão e exclusão,

e, consequentemente, na constituição da amostra (Ramalho, 2005; Centre for Reviews

and Dissemination, 2009; Cochrane Collaboration, 2011).

Page 53: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

51

Para Akobeng (2005), a estrutura de referência PICO é um método útil para formular

questões mais focalizadas. Os autores defendem que a questão de investigação deve

conter quatro (ou três) destes elementos essenciais.

Alicerçado no descrito previamente, e como ponto de partida para a presente RSL, foi

formulada a seguinte questão de investigação seguindo o método PI[C]O (Quadro 1):

“De que forma os Cuidadores Informais (P) do doente com acidente vascular

cerebral beneficiam da Intervenção da Enfermagem de Reabilitação (I) na

minimização da sua sobrecarga (O)?”

Quadro 1- Critérios para a formulação da questão de investigação

P PARTICIPANTES QUEM FOI ESTUDADO?

Cuidador Informal

do doente com

Acidente Vascular

Cerebral

I INTERVENÇÕES O QUE FOI FEITO?

Intervenção da

Enfermagem de

Reabilitação

(C) COMPARAÇÕES PODEM EXISTIR OU

NÃO

O OUTCOMES

RESULTADOS/EFEITOS

OU CONSEQUÊNCIAS

DAS INTERVENÇÕES

Minimização da

sobrecarga

Após a formulação da questão de investigação, e para precisar a orientação da mesma,

definiram-se os objetivos do estudo. O objetivo de um estudo indica o porquê da

investigação, explicita as variáveis, a população alvo e o contexto do estudo (Fortin,

1999).

Assim, como objetivos do estudo estabelecemos:

Compreender as necessidades e sentimentos vivenciados pelo cuidador informal

do doente com acidente vascular cerebral que conduzem à sobrecarga;

Identificar as intervenções de enfermagem de reabilitação na minimização da

sobrecarga;

Page 54: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

52

A partir desta questão e dos objetivos do estudo iniciámos o processo de investigação

cujas considerações metodológicas passamos a apresentar.

Por forma a realizarmos a pesquisa, e mediante a orientação metodológica escolhida,

definiram-se os critérios de inclusão e exclusão (Quadro 2) que permitiram selecionar os

artigos relevantes para a questão de investigação e objetivos do estudo.

Quadro 2 – Critérios para a inclusão/exclusão de estudos a selecionar

CRITÉRIOS DE

SELEÇÃO CRITÉRIOS DE INCLUSÃO CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

PARTICIPANTES - Cuidador Informal do

doente com Acidente

Vascular Cerebral;

- Estudos que incluem doentes

institucionalizados;

- Cuidadores de pessoas

dependentes não vítimas de

Acidente Vascular Cerebral;

INTERVENÇÃO

- Estudos que descrevem

Intervenções de

Enfermagem de

Reabilitação;

- Estudos sobre intervenções de

profissionais de saúde que não

incluem enfermeiros;

DESENHO

- Estudos de abordagem

qualitativa, quantitativa e

estudos de caso;

- Estudos primários;

- Todos os achados da pesquisa

que não apresentem metodologia

científica;

- Artigos não disponíveis em full

text nas bases de dados a que

tivemos acesso;

2.2 - Estratégia de pesquisa

Uma vez formulada a questão de pesquisa, a etapa que se seguiu foi a pesquisa de

evidências científicas. Para tal, procedemos à identificação e seleção dos estudos

relevantes para inclusão neste estudo de RSL, de acordo com os componentes chave da

Page 55: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

53

pergunta de investigação. Foi necessário gerar uma lista de palavras para cada

componente, de modo a definir um conjunto de sinónimos e de termos relacionados que,

por interseção, conduziram à obtenção da expressão de pesquisa estabilizada. Após a

consulta da lista de “Medical Subject Headings” publicada pela U.S. National Library

of Medicine do National Institute of Health foram selecionadas as seguintes palavras-

chave (grupos de conceitos) como descritores desta pesquisa (Quadro 3):

Quadro 3- Grupos de conceitos incluídos na seleção dos artigos de pesquisa

Conceito 1

Cuidador informal do

Doente com AVC

Conceito 2

Enfermagem/Reabilitação

Conceito 3

Sobrecarga

Informal Care

OR

Caregivers

OR

Carers

OR

Care givers

OR

Family caregivers

CVA

OR

Cerebral stroke

OR

Cerebrovascular

stroke

OR

Stroke

Rehabilitation Nursing

OR

Nursing

OR

Nursing Care

OR

Home care

OR

Rehabilitation

Burden

OR

Burden of illness

AND AND

AND

Page 56: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

54

A utilização de operadores booleanos (delimitadores) representados pelos termos

conectores AND, OR e NOT permitiram realizar a combinação dos descritores utilizados

na pesquisa, sendo AND uma combinação restritiva, OR uma combinação aditiva e NOT

uma combinação de exclusão.

De modo a reunirmos a literatura científica relevante para a nossa investigação, tendo

como linha orientadora a nossa questão de partida, realizámos a revisão de literatura,

utilizando a língua portuguesa, espanhola e inglesa como idiomas preferenciais e com

intervalo temporal entre Janeiro de 2007 e Dezembro de 2012.

Para tal, consultámos as bases de dados eletrónicas: EBSCO (CINAHL Plus with Full

Text; MEDLINE with Full Text; DATABASE OF ABSTRACTS OF REVIEWS OF

EFFECTS; BRITISH NURSING INDEX; NURSING & ALLIED HEALTH

COLLECTION: COMPREHENSIVE; COCHRANE DATABASE OF SYSTEMATIC

REVIEWS; COCHRANE CENTRAL REGISTER OF CONTROLLED TRIALS;

COCHRANE METHODOLOGY REGISTER; MEDICLATINA; HEALTH

TECHNOLOGY ASSESSMENTS; ACADEMIC SEARCH COMPLETE).

Incluímos apenas artigos apresentados em texto integral.

2.3 - Formação da Amostra

Da utilização da estratégia de pesquisa anteriormente descrita e realizada na terceira

semana do mês de Dezembro de 2012, resultou uma amostra inicial de 136 estudos nas

diferentes bases de dados. A leitura e análise do título e/ou resumo permitiu eliminar os

artigos repetidos ou claramente excluídos. A leitura integral e aplicação dos critérios

definidos permitiram chegar à amostra final. Na amostra inicial de 136 estudos, 68

encontravam-se repetidos, 11 foram rejeitados pelo título, 19 artigos foram rejeitados

pela leitura do resumo e 33 artigos rejeitados pela leitura integral.

O grande número de exclusões ficou a dever-se, essencialmente, a dois aspetos: à

inclusão do termo nurse nas palavras-chave, sem que a intervenção de enfermagem

tenha sido investigada, não se referindo a participantes diretos no estudo, bem como o

termo burden que surge muitas vezes em palavras-chave, sem que a sobrecarga tenha

sido a variável investigada. Foram, ainda, excluídos 2 artigos que reuniam todos os

critérios com exceção de consistirem em estudos de RSL. Os estudos encontrados que

Page 57: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

55

não respeitavam os critérios de inclusão permitiram a caracterização do fenómeno em

estudo e enriqueceram a discussão dos resultados de estudos primários.

Em suma, após leitura integral de 38 artigos selecionaram-se 5 artigos que apresentaram

evidência científica e reflexiva (Quadro 4).

Quadro 4 - Bases de dados consultadas e nº total de artigos identificados

Bases de dados consultadas

Nº total de artigos identificados

ACADEMIC SEARCH COMPLETE 46

artigos

CINAHL Plus with Full Text 32 artigos

MEDLINE with Full Text 32 artigos

NURSING & ALLIED HEALTH

COLLECTION: COMPREHENSIVE 24

artigos

DATABASE OF ABSTRACTS OF REVIEWS

OF EFFECTS 1 artigo

HEALTH TECHNOLOGY ASSESSMENTS 1

artigo

Total de artigos encontrados em Full

Text: 136

Total de artigos repetidos: 68

Total de artigos rejeitados pelo título:

11

Total de artigos rejeitados pelo

resumo: 19

Total de artigos rejeitados pela leitura

integral: 33

Total de artigos incluídos no estudo: 5

Foram considerados válidos os estudos que agregaram os critérios de inclusão, que não

apresentaram omissões de informação relevante evitando comprometer a confiança nos

achados, e não pareceram exibir erros metodológicos que comprometessem a confiança

dos resultados (Jones, 2004).

“Nem toda a evidência pela investigação publicada pode ser utilizada para tomar

decisões sobre cuidados ao doente”, pelo que, para responder a uma questão clínica

específica, é necessário apreciar a qualidade, a importância e a aplicabilidade de

qualquer evidência pela investigação que está a ser consultada, ou seja, realizar a

apreciação crítica das evidências (Newman & Roberts, 2004, p. 87). Jones (2004)

sugere que não é possível excluir todos os estudos com falhas metodológicas porque, se

por um lado, os critérios mudam ao longo do tempo, por outro, as apreciações das falhas

Page 58: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

56

variam de acordo com a disciplina, experiência metodológica e preferências dos

investigadores.

A finalidade da apreciação crítica para a PBE é definir se um estudo de investigação

tem suficientemente boa qualidade para que os resultados obtidos possam ser utilizados

para responder a uma questão colocada por um profissional de cuidados de saúde, ou

doente (Newman & Roberts, 2004).

Da seleção de estudos que satisfizeram os critérios de inclusão e de exclusão, resultou

uma amostra bibliográfica de 5 estudos primários que foram incluídos nesta revisão

sistemática de literatura, todos eles caracterizados segundo o grau de evidência

científica (Anexo I).

Page 59: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

57

CAPÍTULO III – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

No que respeita aos 5 artigos filtrados, tendo como objetivo a análise crítica e extração

dos dados, realizámos um quadro resumindo a evidência recolhida, com referência ao

estudo (título, autor, ano de publicação e país), desenho de estudo, participantes,

intervenção/objetivo do estudo e resultados encontrados (Quadros 5 a 9). A disposição

atribuída aos artigos diz respeito a uma ordenação crescente da data de publicação dos

mesmos.

Quadro 5 - Análise do estudo de White et al. (2007)

Título Barriers and facilitators to caring for individuals with stroke

in the community: The family's experience

Autor, Ano e

País

White, C.; Korner-Bitensky, N.; Rodrigue, N.; Rosmus. C,;

Sourial, R.; Lambert, S.; Wood-Dauphinee, S.; (2007) Canadá

Orientação

Metodológica

Estudo de abordagem qualitativa.

Realização de entrevista semiestruturada (guião formulado por um

grupo de profissionais de saúde peritos nos cuidados à pessoa com

AVC).

Participantes

Foram constituídos 2 grupos focais com um total de 14

participantes, um grupo de língua inglesa e outro de língua

francesa.

A amostra foi formada por cuidadores informais de doentes

vítimas de AVC admitidos num hospital universitário de Montreal

e que tiveram alta ou diretamente para o domicílio, ou

primariamente para centros de reabilitação e, posteriormente,

encaminhados para o domicílio. O estudo foi realizado após a alta

institucional.

Intervenções Este estudo teve como objetivo explorar as perceções dos

Page 60: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

58

cuidadores de doentes vítimas de AVC relativamente às barreiras e

aspetos facilitadores da prestação de cuidados informais, com

especial atenção para os que se relacionam com o sistema de

saúde. Teve como propósito final a identificação de potenciais

estratégias que pudessem ser implementadas no sistema de saúde

para assistir as famílias a assumirem o papel de cuidadoras com

sucesso.

Os participantes do estudo estiveram sujeitos ao planeamento de

alta de rotina de cada instituição (hospital universitário/centro de

reabilitação), tendo experienciado diferentes realidades ao nível da

intervenção de enfermagem no planeamento da mesma, pelo que a

referência aos aspetos facilitadores e dificultadores do cuidado

informal teve por base as realidades vivenciadas pelos mesmos.

O artigo não especifica essas mesmas realidades, apenas são

depreendidas pelos relatos dos participantes, o que consiste numa

limitação para uma melhor compreensão do mesmo.

Todos os participantes responderam a uma entrevista

semiestruturada individual onde foram questionados sobre as

necessidades sentidas relativamente à sua experiência de cuidador

informal, e fatores que facilitaram e/ou prejudicaram a

continuidade do seu papel.

Resultados

Os cuidadores informais identificaram como barreiras ao cuidar:

A falta de colaboração com a equipa de saúde, apontada

como geradora de ansiedade, com prejuízo no processo de

transição do doente e família, criou dificuldades ao acesso

à informação e conduziu a um envolvimento limitado do

familiar no processo de alta;

A sobrecarga física relacionada, particularmente, com a

mobilização do doente em segurança, a realização das

transferências do doente, o défice de preparação para

manusear cadeiras de roda, e a gestão das quedas;

Page 61: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

59

As mudanças negativas no estilo de vida associadas a

transformações na saúde física e emocional do cuidador, na

capacidade de socialização, no ambiente físico e na

disponibilidade financeira;

A falta de apoios na comunidade, nomeadamente, as longas

listas de espera para serviços e as limitações que alguns

serviços podem oferecer.

Relativamente aos aspetos facilitadores do cuidar, foram

identificadas pelos cuidadores informais:

A coordenação e organização dos cuidados na enfermaria,

assim como a preparação para a alta através de reuniões de

enfermagem com a família para fornecer informação sobre

o AVC e ensino sobre técnicas do cuidado ao doente, fins-

de-semana testes em contexto domiciliar antes da alta e

visitas domiciliárias previas à alta para a realização dos

ajustes necessários;

A habilidade para integrar as mudanças de estilo de vida

provocadas pelo assumir do papel de cuidador, e realizar

os ajustes necessários para o retorno da vida à

normalidade, facilitaram a continuidade do seu papel;

O aprender a resolver problemas e a mestria em novos

papéis e tarefas, que contribuíram para um sentimento de

empowerment;

O suporte social, nomeadamente da família e amigos,

especialmente nos primeiros tempos após o AVC;

O conhecimento e a acessibilidade dos recursos da

comunidade, nomeadamente do apoio de enfermagem via

telefone, particularmente, quando havia dificuldade em

sair de casa.

Como limitações do estudo os autores referiram o número limitado

da amostra. Contudo, mesmo com apenas 14 participantes, as

últimas duas transcrições das entrevistas não revelaram novas

Page 62: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

60

categorias sugerindo que haviam chegado a uma saturação dos

temas.

Evidência IV

Quadro 6 - Análise do estudo de Park (2008)

Título Day healthcare services for family caregivers of older people

with stroke: Needs and satisfaction

Autor, Ano e

País

Park, YH. (2007) Coreia do Sul

Orientação

Metodológica

Estudo do tipo descritivo e transversal.

Aplicação de questionário para avaliação da satisfação das

necessidades dos cuidadores com apoio de serviços específicos

providenciados pelo centro de dia e da Modified Caregiver

Satisfaction Scale.

Participantes

Foi constituída uma amostra de conveniência com 119

participantes incluindo apenas familiares cuidadores de doentes

com AVC que estavam integrados num centro de dia especializado

na Coreia.

Intervenções

O objetivo do estudo consistiu em identificar as necessidades dos

cuidadores informais e o nível de satisfação das mesmas, em

situações em que os mesmos têm apoio de centro de dia

especializado em doentes com AVC.

Após discussão com um grupo de enfermeiros peritos na área,

emergiram 9 categorias onde se enquadravam os serviços

prestados pelo centro: Administração terapêutica; Transporte e

alimentação; Assistência nas AVD; Cuidados pessoais; Atividades

terapêuticas (reabilitação motora, terapia ocupacional e terapia da

fala); Educação para a saúde; Educação e suporte da família;

Gestão da Saúde e atividades especiais.

Com ponto de partida nestas categorias foi desenvolvido um

Page 63: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

61

questionário para avaliação das necessidades e satisfação dos

serviços específicos providenciados pelo centro de dia. A

habilidade de cada serviço para satisfazer as necessidades foi

medida numa escala analógica entre 0 (não satisfeito) e 10 (muito

satisfeito). Em adição foram realizadas questões abertas para

completar informação sobre as necessidades específicas dos

doentes. Após ter sido validada num estudo piloto, foi aplicada a

Modified Caregiver Satisfaction Scale (Tornatore & Grant, 2004

citados por Park, 2008) para medir a satisfação geral envolvendo a

satisfação e confiança dos cuidadores com os profissionais, tempo,

infraestruturas e serviços gerais do centro de dia.

Resultados

A necessidade mais referenciada pelo cuidador refere-se à gestão

dos cuidados de saúde, pois a maior parte das famílias espera que

os enfermeiros continuem a ter responsabilidade da monitorização

dos doentes no centro de dia, avaliando o seu estado de saúde

regularmente. As necessidades de atividades terapêuticas,

transporte e alimentação foram, subsequentemente, as mais

relevantes. Alguns cuidadores reportaram que a reabilitação

motora foi a necessidade mais requerida pelos doentes, e o seu

maior ímpeto para frequentar os centros de dia, no entanto,

admitiram ter necessidades não satisfeitas como a terapia da fala e

exercícios mais individualizados de reabilitação. O maior

distanciamento entre a necessidade sentida e a sua satisfação foi

verificado na gestão da saúde e na educação para a saúde. Por

outro lado, as atividades terapêuticas foram as intervenções

percecionadas com maior satisfação, enquanto a assistência nas

AVD foi a menor.

Os resultados da pergunta aberta sugerem que os cuidadores

pretendem estar mais envolvidos nas decisões relacionadas com o

cuidar, procurando ser membros ativos da equipa multidisciplinar.

Relativamente à satisfação global dos serviços providenciados pelo

centro de dia, medida através da Modified Caregiver Satisfaction

Page 64: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

62

Scale, os participantes consideraram o apoio apropriado e

revelaram satisfação global com a equipa.

Os cuidados de enfermagem emergiram como o serviço prestado

com maior relevância dos centros de dia e tiveram um impacto

estatisticamente significativo na satisfação global, ou seja, estão

associados a uma maior satisfação. Em oposição, foi referenciado

o custo do atendimento como negativamente relacionado com a

satisfação geral.

Evidência IV

Quadro 7 - Análise do estudo de Shyu, Chen, Chen, Wang e Shao (2008)

Título A family caregiver-oriented discharge planning program for

older stroke patients and their family caregivers

Autor, Ano e

País

Shyu, YI.; Chen, MC.; Chen, ST.; Wang, HP.; Shao, JH. (2008)

Tailândia

Orientação

Metodológica

Estudo experimental randomizado, com três momentos de

avaliação (admissão, antes da alta, e um mês após a alta).

Aplicação dos instrumentos: Caregiver Discharge Needs

Assessment Scale, Nurse Evaluation of Caregiver Preparation

Scale, Preparedness for Caregiving Scale, Perception of Balance

between Competing Needs Scale e Índice de Barthel.

Participantes

Foi constituída uma amostra com 158 cuidadores informais de

quatro enfermarias de Neurologia de um hospital Central do Norte

da Tailândia com as mesmas características funcionais, dos quais

72 pertenciam ao grupo experimental (GE) e 86 ao grupo controle

(GC).

Para evitar a contaminação entre os indivíduos dos grupos

experimental e controle, a amostra foi dividida aleatoriamente

pelos quatro serviços, em dois grupos experimentais e dois grupos

controle.

Page 65: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

63

Intervenções

O estudo teve como objetivo explorar os efeitos de um programa

de planeamento de alta de doentes vítimas de AVC centrado no

cuidador e foi construído para satisfazer as necessidades dos

doentes e cuidadores informais.

O GE foi submetido a um programa de planeamento de alta que

incluiu sessões de educação para a saúde, orientações e

encaminhamento pós-alta dirigido ao doente e cuidador informal,

assim como, follow-up via telefone e visitas domiciliárias após a

alta.

Este programa foi ministrado por 6 enfermeiros e teve como

pilares o aumento da satisfação das necessidades no momento da

alta, a procura do equilíbrio entre as necessidades do cuidar e as

necessidades individuais do cuidador e o incremento das

competências do cuidador. O programa teve como componentes:

A avaliação das necessidades do cuidador no momento da

alta (Caregiver Discharge Needs Satisfaction Scale);

A avaliação das competências do cuidador (na perspetiva

do enfermeiro) utilizando uma escala com cinco itens

desenvolvida e validada para este estudo, designadamente:

capacidade para procurar recursos, compreensão da

condição do doente, disponibilidade para a prestação de

cuidados informais, domínio das competências do cuidar e

preparação para o cuidado diário (Nurse Evaluation of

Caregiver Preparation Scale);

A auto-avaliação das competências do cuidador

(Preparedness for Caregiving Scale) (Archbold et al., 1990

citados por Shyu, Chen, Chen, Wang & Shao, 2008);

A avaliação da perceção dos cuidadores sobre o grau de

equilíbrio entre as necessidades do cuidar e as suas

necessidades individuais (Perception of Balance between

Competing Needs Scale) (Shyu, 2002 citada por Shyu,

Chen, Chen, Wang & Shao, 2008);

Page 66: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

64

A avaliação funcional do doente (Índice de Barthel);

O fornecimento de informação oral e escrita, bem como

ensino individualizado direcionado para as AVD ao doente

e cuidador (4-5vezes) mediante as avaliações realizadas;

Consulta via telefone uma semana após a alta para explorar

a situação atual do cuidador e esclarecer dúvidas;

A realização de visitas domiciliárias uma semana e um mês

após a alta para observação dos cuidados, esclarecimento

de dúvidas, demonstração de competências e identificação

de problemas potenciais;

A realização de um manual passo-a-passo com os pontos-

chave do programa, problemas potenciais e um guia de

intervenções.

A primeira avaliação foi realizada três dias após a admissão e

incluiu a avaliação inicial, a avaliação funcional do doente e a

avaliação das competências do cuidador (na perspetiva do cuidador

e do enfermeiro). A segunda avaliação foi realizada antes da alta e

implicou a avaliação dos parâmetros já avaliados e das

necessidades do cuidador no momento da alta.

Um mês após a alta foi realizada a terceira avaliação que

compreendeu a apreciação da satisfação das necessidades do

cuidador e o balanço entre as necessidades do cuidador e as

necessidades do cuidar.

O GC experienciou um planeamento de alta hospitalar de rotina

que incluiu a articulação com a enfermeira pertencente à equipa de

gestão de altas e um encaminhamento e educação para a saúde

pouco específicos para as necessidades dos cuidadores familiares,

não considerando a situação de cada doente e família em

particular.

Resultados

Antes do início do programa os enfermeiros avaliaram as

competências dos cuidadores e constataram que, em ambos os

grupos, os cuidadores informais se encontravam “moderadamente

Page 67: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

65

preparados” para cuidar de um doente vítima de AVC. Após a

intervenção, os enfermeiros denotaram uma melhoria significativa

em ambos os grupos classificando-os como “moderadamente bem

preparados”, no entanto, esta melhoria foi maior no GE.

Relativamente à perceção dos cuidadores sobre as suas

competências para cuidar antes do programa, foi classificada de

“moderada” em ambos os grupos, não se verificando diferenças

significantes. Após a intervenção, antes da alta (2ª avaliação), o

GE obteve uma melhoria estatisticamente significativa,

autoavaliando as suas competências como “significativamente

melhoradas”, enquanto o GC não experienciou melhorias

significativas.

As necessidades dos cuidadores antes da alta estavam

“moderadamente satisfeitas” no GE, tendo-se verificado um

aumento da satisfação um mês após a alta. No GC o grau de

satisfação antes da alta estava “ligeiramente satisfeito”, tendo-se

verificado um aumento da satisfação um mês após a alta, contudo,

o GE teve um aumento do grau de satisfação estatisticamente

significativo relativamente ao GC.

O balanço entre as necessidades do cuidar e as necessidades

individuais do cuidador não obteve diferenças significativas em

ambos os grupos, tendo sido classificado como “moderadamente

bem equilibrado”, contudo, o GE obteve uma pontuação superior

ao GC. Este balanço só foi possível avaliá-lo após a alta, uma vez

que esta avaliação não é válida durante o período de internamento

do doente, sendo este especto considerado uma falha do estudo

pelos autores.

Evidência II

Page 68: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

66

Quadro 8 - Análise do estudo de Oupra, Griffiths, Pryor e Mott (2010)

Título

Effectiveness of Supportive Educative Learning programme on

the level of strain experienced by caregivers of stroke patients

in Thailand

Autor, Ano e

País

Oupra, R.; Griffiths, R.; Pryor, J.; Mott, S. (2010) Tailândia

Orientação

Metodológica

Estudo experimental não randomizado, com três momentos de

avaliação mediados por um intervalo de tempo de três meses.

Aplicação dos instrumentos: Mini Mental State Examination,

General Health Questionnaire-28 e Caregiver Strain Index.

O estudo foi conduzido em dois grupos (GC e GE), em dois

hospitais de duas cidades da Tailândia.

Os investigadores optaram por um estudo não randomizado com

cada grupo localizado num hospital diferente por considerarem

esta a forma mais eficiente de prevenir a contaminação do GC

pelos profissionais que providenciavam os cuidados a ambos os

grupos. Porém, foram tomadas medidas para minimizar os

potenciais erros da não randomização, tendo sido escolhidos

hospitais provinciais com serviços similares baseados em

protocolos do ministério da saúde Tailandês, e assegurada a não

existência, em ambos, de fatores que pudessem ser antecipados sob

o risco de influenciarem os resultados.

A colheita de dados foi realizada por um investigador principal e

dois assistentes, todos professores de enfermagem com experiência

em cuidados ao doente com AVC.

Participantes

Foi constituída uma amostra com 140 participantes (familiares

cuidadores de doentes com AVC agudo), dos quais 70 pertenciam

ao grupo experimental (GE) e 70 ao grupo controle (GC).

Intervenções

O estudo teve como objetivo desenvolver e implementar um

programa de suporte, educação e aprendizagem (SELF- Supportive

Educative Learning Programme for Family Caregivers)

Page 69: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

67

ministrado por enfermeiros aos cuidadores informais de doentes

com AVC de um meio rural na Tailândia, assim como avaliar o seu

efeito na sobrecarga e na qualidade de vida dos mesmos.

Este programa foi implementado ao GE e incluiu sessões de

educação para a saúde, sessões práticas de treino com os doentes e

cuidadores informais, o fornecimento de um livro descrevendo os

cuidados ao doente com AVC e três chamadas telefónicas de

follow-up. Os doentes e cuidadores informais do GC receberam os

cuidados de rotina do hospital e sistema nacional de saúde,

contudo, no final do estudo receberam todo o material educativo

fornecido ao GE.

A informação foi recolhida em três fases: a 1ª decorreu durante o

internamento, a 2ª imediatamente antes da alta e a 3ª fase ocorreu

três meses após a mesma. Na 3ª fase os assistentes de investigação

que desconheciam a locação do grupo de estudo avaliavam os

cuidadores.

O período estipulado de três meses para realização do estudo foi

escolhido por estar associado a uma expectativa de maior

recuperação.

A informação sobre o estudo foi fornecida pelo investigador

principal ao doente e cuidador após a fase aguda, e avaliada a

presença de limitação da cognição em ambos (critério de exclusão

do estudo), utilizando a Mini Mental State Examination.

O GE frequentou três sessões de grupo interativas com 120-150

minutos de duração cada e com o máximo de seis pares (cuidador

informal/doente), de forma a que os enfermeiros peritos em

cuidados ao doente com AVC e professores de enfermagem

pudessem apoiá-los na componente prática da sessão:

A 1ª sessão focava as causas e fatores de risco do AVC, as

complicações associadas, assim como métodos para

prevenir ou reduzir as mesmas, tais como a prevenção e

Page 70: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

68

gestão das úlceras de pressão e assistência nas AVD;

Na 2ª sessão abordavam a alimentação e disfagia, a

manutenção da adequada nutrição e hidratação, assim como

a gestão dos cuidados na alimentação por sonda

nasogástrica e por sonda de gastrostomia;

A última sessão incluía cuidados com os cateteres

urinários, prevenção de infeções do trato urinário, treino

vesical e intestinal, posicionamentos, mobilidade e

transferência, e o papel do cuidador, assim como o seu

autocuidado.

A todos os cuidadores foram supervisionadas as atividades

práticas, bem como fornecida informação escrita dos temas

abordados antes das sessões de formação, maioritariamente em

diagramas, de modo a sistematizar a informação e facilitar a

compreensão dos princípios da reabilitação da vítima de AVC,

independentemente do nível de literacia dos indivíduos.

Após a alta, na 3ª semana de cada mês e durante três meses, os

cuidadores do GE foram contactados via telefone para discutir

problemas, receber aconselhamento sobre os cuidados e fornecer

suporte.

Para a avaliação da qualidade de vida, antes da alta e três meses

após a mesma, foi aplicado um instrumento considerado

apropriado neste país o General Health Questionnaire-28 (GHQ-

28) versão Tailandesa, que avalia a habilidade do indivíduo para

realizar atividades saudáveis e sintomas subjetivos de distúrbios

psicológicos que possam afetar a sua qualidade de vida.

Foi também aplicado o Caregiver Strain Index (CSI) que

compreende 13 afirmações que cobrem situações física e

psicologicamente stressantes, antes da alta e três meses após a

mesma.

Estas avaliações foram realizadas por dois investigadores

assistentes adicionais que desconheciam qual era o GC.

Page 71: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

69

Resultados

No follow-up do 3º mês do GE, a informação foi obtida em 64

doentes e 70 cuidadores (6 doentes morreram), enquanto no do GC

a informação foi obtida em 63 doentes e 67 cuidadores (4 doentes

morreram, sendo que não foi possível contactar outros 3 doentes e

seus cuidadores). Aos cuidadores informais cujos familiares

morreram, no follow-up do 3º mês foi apenas avaliado o GHQ-28,

pois a avaliação do CSI só é necessária quando os mesmos têm

responsabilidade de cuidar.

A qualidade de vida dos cuidadores foi medida antes da alta e após

os três meses (GHQ-28) e os resultados foram comparados entre

cada grupo e períodos de tempo. Antes da alta verificou-se uma

diminuição estatisticamente significativa do GHQ-28, em relação

ao follow-up do 3º mês em ambos os grupos, sendo que, apesar de

ambos denotarem uma melhoria ao 3º mês, o GE obteve uma

maior qualidade de vida em ambas as avaliações

comparativamente ao GC.

Relativamente aos resultados do CSI foram comparados em cada

grupo, entre os grupos, antes da alta e aos três meses. No GC as

principais causas de sobrecarga do cuidador incluíram: mudanças

nos planos pessoais, consumo de tempo e ajustamento familiar. No

GE o ajustamento familiar, o consumo de tempo e a sobrecarga

financeira foram consideradas como as causas mais comuns de

sobrecarga. Verificou-se um declínio estatisticamente significativo

em ambos os grupos desde o momento da alta para o follow-up do

3º mês, no entanto, os cuidadores do GC continuavam a reportar

níveis mais elevados de sobrecarga (estatisticamente

significativos) do que o GE em ambas as fases.

As questões mais comuns que surgiram aos cuidadores do GE na

intervenção de enfermagem via telefone estavam relacionados

com: posicionamentos, alimentação por sonda nasogástrica,

recomendações sobre o tipo de alimentação ao doente com

disfagia, incontinência, exercício, cateteres vesicais e produtos de

Page 72: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

70

apoio para marcha.

Evidência III

Quadro 9 - Análise do estudo de Temize e Gozum (2012)

Título

Impact of nursing care initiatives on the knowledge level and

perception of caregiving difficulties of family members

providing home care to stroke patients

Autor, Ano e

País

Temize, H.; Gozum, S. (2012) Turquia

Orientação

Metodológica

Estudo experimental randomizado, com dois momentos de

avaliação (durante o internamento e três meses após a alta)

mediados por um intervalo de tempo de três meses.

Aplicação dos instrumentos: Caregiving Knowledge Level Scale,

Índice de Barthel, The Zarit Caregiver Burden Scale, Escala de

Avaliação de Risco de Úlceras de Pressão Norton.

Participantes

Foi constituída uma amostra com 80 participantes, dos quais 40

pertenciam ao grupo experimental (GE) e 40 ao grupo controle

(GC).

A amostra foi formada por familiares cuidadores de doentes com

AVC admitidos no Serviço de Neurologia de um hospital militar

de Ankara.

A alocação dos participantes ao grupo GE e ao grupo GC teve por

base a admissão semanal dos doentes, tendo sido alternadamente

distribuídos.

Intervenções

Este estudo teve como objetivo determinar os efeitos da

intervenção de enfermagem no conhecimento e perceção da

sobrecarga do cuidador informal. A intervenção de enfermagem no

planeamento da alta incluiu treino individualizado durante o

internamento, fornecimento de um manual sobre os cuidados ao

doente em suporte escrito, visita domiciliária (no final do 1º e do 3º

Page 73: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

71

mês após a alta) para treino e aplicação dos instrumentos de

avaliação, e consulta telefónica para aconselhamento (12 chamadas

no período de três meses, ou seja, uma por semana).

Durante o internamento foram aplicados todos os instrumentos de

avaliação a ambos os grupos, e mediante esses resultados foi

direcionada a intervenção de enfermagem ao GE. Após o 3º mês

foram avaliados o conhecimento e a sobrecarga através da

Caregiving Knowledge Level Scale (Temize & Gozum, 2012) e da

Zarit Caregiver Burden Scale.

O GC foi monitorizado através do follow-up de rotina do hospital

sem qualquer intervenção adicional, e após os testes finais (3º mês)

foi fornecido um manual sobre os cuidados ao doente.

Resultados

Os itens avaliados com maior conhecimento por parte dos

cuidadores estavam relacionados com a higiene oral, a

comunicação com a pessoa com afasia e as complicações do AVC.

Dos itens avaliados com maior défice de conhecimento constavam

os sinais de depressão, os sinais precoces de novo episódio de

AVC e a gestão do regime terapêutico.

Os resultados da avaliação final relativos ao grau de conhecimento

dos cuidadores evidenciaram uma melhoria estatisticamente

significativa no GE, algo que praticamente não se alterou no GC.

Ambos os grupos demonstraram dificuldades na perceção do nível

de sobrecarga nos primeiros testes, no entanto, a avaliação da

sobrecarga dos cuidadores no GE, apesar de manter um nível

elevado, demonstrou um decréscimo estatisticamente significativo

no teste final. No GC a sobrecarga dos cuidadores aumentou no

teste final.

Os temas que mais suscitaram dúvidas e que foram esclarecidos

pelos enfermeiros, quer nas visitas domiciliárias, como nas

consultas telefónicas, foram, por ordem decrescente de ocorrência:

prevenção de úlceras de pressão, obstipação, cuidados com

Page 74: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

72

cateteres, diarreia, alterações na pele, informação institucional,

lidar com o stress, reconhecer sinais de complicações e problemas

na alimentação.

Evidência II

Page 75: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

73

CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados da amostra analisada permitiram responder à questão de investigação

definida para este estudo, contudo, apresentaram diferentes níveis de evidência

científica. Para além de possibilitarem identificar intervenções de enfermagem de

reabilitação que minimizam a sobrecarga do cuidador informal do doente com acidente

vascular cerebral, facilitaram a compreensão das necessidades e sentimentos

vivenciados pelo mesmo. Os achados desta RSL apresentam pontos comuns com os de

outros estudos sobre o fenómeno da sobrecarga do cuidador informal citados na revisão

de literatura.

O estudo de White et al. (2007) teve como finalidade a identificação de potenciais

estratégias que pudessem ser implementadas no sistema de saúde para ajudar as famílias

a assumirem o papel de cuidadoras com sucesso. Para tal, os pesquisadores

investigaram a perceção dos cuidadores de pessoas vítimas de AVC relativamente às

barreiras e aos aspetos facilitadores da prestação de cuidados informais. Todos os

participantes do estudo referiram estar muito envolvidos na prestação de cuidados ao

seu familiar, sendo que cerca de 40% encaravam-na como a sua principal atividade

diária.

Os participantes enfatizaram a necessidade de apoio psicológico, identificaram a

relevância do contacto telefónico com o enfermeiro e foram muito específicos sobre a

importância do treino na preparação para o papel de cuidadores. Salientaram, também, a

utilidade da avaliação das suas necessidades específicas de forma independente (White,

et al., 2007), corroborando o estudo de Vincent, Desrosiers, Landreville, Demers e

BRAD group (2009) que enfatizou as vantagens de providenciar informação, treino e

suporte aos cuidadores informais ajustados às suas necessidades individuais. Assim, os

elementos apontados no estudo devem ser implicados na promoção do sucesso de um

programa de intervenção ao doente com AVC e seu cuidador.

Alguns cuidadores informais identificaram a falta de colaboração com a equipa de saúde

como geradora de ansiedade, prejudicando o processo de transição do doente e da

família, criando, igualmente, dificuldades no acesso à informação e limitando o

Page 76: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

74

envolvimento do familiar no processo de alta. A esposa de um doente relatou: “There is

so much worry – it is all unknown. We didn’t get answers, which creates anxiety

because we didn’t know how to plan.” (White et al., 2007, p. 8). Também a sobrecarga

física relacionada especialmente com o posicionamento e transferência do doente,

associada ao tempo limitado para adquirir as habilidades necessárias para assumir este

novo papel – “You know I never had children so this is difficult for me at my age to

start doing all these things. Everything is new.” –, sobretudo, quando existe um elevado

grau de dependência para o autocuidado, foi, desta forma, realçado como uma barreira

(White et al., 2007, p. 8). Estes efeitos negativos na saúde física e emocional do

cuidador são vistos como barreiras para o sucesso do seu papel, conduzindo ao

abandono de atividades que, até então, eram vistas como importantes para o seu bem-

estar e, por sua vez, dão azo ao isolamento social.

Por outro lado, a sobrecarga financeira associada ao aumento de despesas com os

cuidados de saúde dos doentes –“stroke is an expensive illness” (White et al., 2007, p.

8) – é percecionada como um inconveniente necessário para a prestação de cuidados no

contexto domiciliar. A falta de apoios na comunidade, nomeadamente as longas listas

de espera para serviços e as limitações que alguns serviços podem oferecer, foi referida

como uma importante barreira à continuidade do papel de cuidador informal.

Em oposição, outros participantes nomearam a interação com a equipa de enfermagem,

bem como a sua inclusão nos cuidados como aspetos facilitadores do cuidado informal.

A este propósito uma participante descreveu: “I worked with the nurses. When he took a

shower and different things, helping to get dressed, his exercises… I practiced all that

before he came home…I think I was pretty well prepared in a way” (White et al., 2007,

p. 9). Apesar da necessidade de adaptação a vários níveis, a maioria dos participantes

mantém a esperança num futuro melhor – “He’s improving so I’am improving” (White

et al., 2007, p. 9).

O aprender a resolver problemas e a mestria em novos papéis e tarefas, contribuíram

para um sentimento de empowerment que foi visto como um facilitador na continuidade

do papel. Um dos participantes do género masculino referiu já ter executado tarefas que

nunca pensou ser capaz de realizar. Os participantes acrescentaram que a relação de

apoio que estabeleceram com o doente contribuiu para um ambiente social positivo.

Também o conhecimento e a acessibilidade dos recursos da comunidade, tais como o

apoio de enfermagem via telefone, particularmente, quando havia dificuldade em sair de

Page 77: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

75

casa – “The nurse was really helpful, anytime… I knew if she was busy she would get

back to me” – ou o acesso a hospitais de dia, permitindo ao cuidador, durante um

período de tempo, focar-se em si próprio, são aspetos referidos como fundamentais para

a continuidade do seu papel (White et al., 2007, p. 10).

O estudo de White et al. (2007) descreveu uma variedade de situações que os

participantes enfrentaram, e de que forma as suas necessidades foram alteradas com o

passar do tempo, o que nos sugere que as intervenções devem ser individualizadas às

necessidades do cuidador, uma vez que as intervenções genéricas obterão efeitos mais

limitados. Robinson et al. (2005) corroboram este estudo uma vez que defendem a

importância da compreensão das necessidades dos cuidadores para o planeamento de

intervenções mais eficazes na redução da sua sobrecarga. Ao mesmo tempo, Petronilho

(2007) e Pereira e Silva (2012) reconheceram que a prática é a grande mestra na

promoção da adaptação do cuidador ao exercício do seu papel. Assim, parece-nos claro

que os programas de intervenção de enfermagem devem incluir, para além da

informação, também o treino dos cuidadores para que estes atinjam a mestria em

atividades relacionadas com o cuidar.

O estudo de Park (2008) alicerçou-se na identificação das necessidades dos cuidadores

informais, bem como nos níveis de satisfação das mesmas quando apoiados por um

centro de dia especializado em doentes com AVC. Este estudo evidenciou os benefícios

do apoio de um centro de dia, tanto para os doentes como para os seus cuidadores. Os

cuidadores percecionaram os benefícios de aspetos práticos, tais como: tempo para

descansar, liberdade para realizar outras atividades, aumento da sua autoestima,

sentimento de segurança, melhoria das relações familiares e do padrão do sono, na

redução do stress psicológico e da sua sobrecarga.

A necessidade mais referenciada pelo cuidador diz respeito à gestão dos cuidados de

saúde, pois a maior parte das famílias espera que os enfermeiros continuem a ter

responsabilidade da monitorização dos doentes no centro, avaliando o seu estado de

saúde regularmente. As necessidades de atividades terapêuticas, transporte e

alimentação foram, subsequentemente, as mais relevantes. Alguns cuidadores

reportaram que a reabilitação motora era mais requerida pelos doentes, e o seu maior

ímpeto para frequentar os centros de dia, no entanto, admitiram ter necessidades não

satisfeitas como terapia da fala ou exercícios mais individualizados de reabilitação

(Park, 2008).

Page 78: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

76

O maior distanciamento entre a necessidade sentida e a sua satisfação verificou-se tanto

na gestão da saúde, como na educação para a saúde. As atividades terapêuticas foram as

intervenções percecionadas com maior satisfação, enquanto a assistência nas AVD o foi

com menor. O facto de a gestão de saúde ser uma necessidade com alta relevância e

com um nível de satisfação baixo, indica que os cuidadores desejam maior apoio e

cuidados de enfermagem mais especializados. Daí que um maior número de países

adotem um modelo de centro de dia que combine programas de enfermagem

especializados em reabilitação em adição aos serviços já providenciados (Kodner &

Kyriacou, 2003 citados por Park, 2008).

Os estudos de Shyu, Chen, Chen, Wang e Shao (2008), Oupra, Griffiths, Pryor e Mott

(2010) e Temize e Gozum (2012) apresentaram bons níveis de evidência científica e

tiveram como pontos fortes a inclusão de intervenções em contexto hospitalar e

domiciliário, bem como abordagens estruturadas e enquadradas com as necessidades

dos cuidadores, incluindo informação verbal e escrita e ensino/treino de competências.

O estudo experimental randomizado desenvolvido por Shyu, Chen, Chen, Wang e Shao

(2008), teve por base a investigação dos efeitos de um programa de planeamento de alta

de doentes vítimas de AVC centrado no cuidador, tendo sido formulado de modo a

alcançar a satisfação das necessidades dos doentes e cuidadores informais. Este

programa demostrou ser eficaz, uma vez que potenciou a preparação dos cuidadores

informais na sua prestação de cuidados e otimizou a satisfação das necessidades dos

mesmos durante o processo de transição de alta.

Os enfermeiros constataram que os cuidadores informais do GE obtiveram melhores

resultados, tanto na sua preparação como no que respeita à sua perceção para cuidar de

um doente com AVC após a sua intervenção (Shyu, Chen, Chen, Wang & Shao, 2008).

Neste sentido, os cuidadores informais que percecionam a falta de preparação para gerir

a responsabilidade do cuidar como uma dificuldade na performance do seu papel estão

mais sujeitos a experienciar sobrecarga.

Relativamente às necessidades dos cuidadores apenas o GE experienciou um aumento

do grau de satisfação (Shyu, Chen, Chen, Wang & Shao, 2008). Este plano de alta

evidenciou benefícios para a família durante o processo de transição de alta,

nomeadamente, enfatizando o ensino individualizado e visitas domiciliárias após a

Page 79: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

77

mesma, que comprovaram o aumento da preparação do cuidador e da satisfação das

suas necessidades.

O estudo experimental não randomizado de Oupra, Griffiths, Pryor e Mott (2010) teve

como objetivo desenvolver e implementar um programa de suporte, educação e

aprendizagem ministrado por enfermeiros aos cuidadores informais de doentes com

AVC (SELF), bem como avaliar o seu efeito na sobrecarga e na qualidade de vida dos

mesmos. Este programa providencia uma abordagem efetiva e de baixo custo para uma

aproximação à comunidade.

O desenho e implementação das intervenções do SELF, como componentes da

reabilitação, reconhecem e suportam a importância do papel que os membros da família

desempenham na reabilitação após o AVC. As sessões de educação para a saúde em

grupo, ao contrário dos outros estudos, foram escolhidas como o principal método de

ensino por serem consideradas pelos autores a forma mais eficiente de providenciar

informação acerca do AVC e promover a partilha de opinião e apoio mútuo. Segundo

Knowles (1990) a aprendizagem em grupo promove comportamentos positivos que

incluem interação, partilha de experiências e reforço positivo dos outros membros,

podendo resultar numa melhoraria da prática individual.

Oupra, Griffiths, Pryor e Mott (2010) confirmaram que os cuidadores do GE obtiveram

uma maior qualidade de vida tanto no momento da alta, como no follow-up do 3º mês.

Relativamente à sobrecarga do cuidador, no GC as principais causas estavam associadas

a mudanças nos planos pessoais, ao consumo de tempo e ao ajuste familiar, enquanto no

GE, o ajuste familiar, o consumo de tempo e a sobrecarga financeira foram consideradas

como as causas mais comuns. Apesar de ambos os grupos experienciaram um declínio,

o GC continuou a reportar níveis mais elevados de sobrecarga em ambas as fases.

Os resultados do estudo de Oupra, Griffiths, Pryor e Mott (2010) demonstraram que

providenciar educação e suporte aos cuidadores informais de doentes com AVC,

resultou na redução da sobrecarga e na melhoria da sua qualidade de vida. Este estudo é

consistente com estudos similares realizados em Inglaterra por Kalra et al. (2004) e

McCullagh, Brigstocke, Donaldson & Kalra (2005) e na Suécia por Larson et al. (2005),

que avaliaram o efeito do treino dos cuidadores na redução da sobrecarga dos mesmos.

A intervenção desses estudos importou benefícios tanto para os doentes com AVC,

como para os seus cuidadores, pois os mesmos experienciaram uma menor ansiedade e

Page 80: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

78

uma menor depressão, resultando num decréscimo da sobrecarga e na melhoria da

qualidade de vida.

A literatura referencia que aspetos particulares do SELF podem ter contribuído para a

sua eficiência. A este propósito, citamos um estudo de RSL conduzido por Forster et al.,

(2012) que comprovou que a informação combinada com sessões práticas de educação

foi mais eficiente do que o fornecimento de informação de forma isolada e passiva.

Também um estudo experimental randomizado realizado por Burton e Gibbon (2005),

sobre a intervenção do enfermeiro especialista com foco na educação e suporte dos

doentes com AVC e seus cuidadores no norte de Inglaterra, evidenciou os benefícios da

intervenção contínua (antes e pós-alta) do enfermeiro especialista, que incluíram a

melhoria da perceção de saúde do doente, a redução das reações emocionais negativas e

do isolamento social, assim como a diminuição da sobrecarga do cuidador.

O suporte de enfermagem via telefone demonstrou ser uma mais-valia do estudo pois

promoveu o feedback dos cuidadores acerca do seu papel e reforçou os conteúdos

ensinados nas sessões de grupo interativas. Os cuidadores provaram ser capazes de se

tornarem um suporte na reabilitação do seu familiar após o AVC e apreciaram a

oportunidade de aprender e serem apoiados no seu papel (Oupra, Griffiths, Pryor &

Mott, 2010).

Nos países ocidentais a enfermagem de reabilitação é desenvolvida como uma

especialidade e a experiência ganha até à data deve ter sido tida em conta no

desenvolvimento do papel de enfermeiro de reabilitação na Tailândia, pelo que este

estudo contribuiu para o desenvolvimento da profissão de enfermagem neste país. Neste

sentido, e já que neste contexto os profissionais de saúde não intervém na comunidade

ao nível da reabilitação do doente com AVC, os membros da família podem ser

treinados para providenciar os cuidados básicos, tal como é demonstrado no estudo. A

iniciativa de reabilitação descrita no mesmo mostrou como as intervenções de

enfermagem podem ter um efeito positivo nos resultados do doente e família.

O estudo experimental randomizado de Temize e Gozum (2012) teve como objetivo

determinar os efeitos da intervenção de enfermagem no conhecimento e perceção da

sobrecarga do cuidador informal. O treino com fornecimento de um manual de

cuidados, a visita domiciliária e a consulta telefónica, permitiram aos cuidadores

obterem informação sobre assuntos que lhes suscitavam maior ansiedade, sentindo-se

Page 81: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

79

mais confortáveis por saberem que havia um enfermeiro que os apoiava. Este apoio

deve ser mantido após a alta dada a multiplicidade de papéis, necessidades e

dificuldades que o cuidador experiencia.

Os resultados do estudo permitiram associar as intervenções de enfermagem ao aumento

do nível de conhecimento e, consequentemente, da qualidade e facilidade dos cuidados

prestados. Por outro lado, o decréscimo da sobrecarga dos cuidadores após o período de

intervenção comprovou a eficácia das intervenções na minimização das dificuldades

associadas à prestação de cuidados informais.

Page 82: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

80

CONCLUSÃO

O aumento da esperança de vida, conjugado com o agravamento das doenças crónicas,

revelam-se decisivos para o acréscimo de casos de pessoas dependentes no contexto

familiar, o que implica que haverá, doravante, um número crescente de pessoas que

necessitarão de cuidados especiais e, portanto, de cuidadores capacitados para assisti-los

nas suas necessidades holísticas. Esta situação se, por um lado, é experienciada como

um desafio, por outro, é potencialmente geradora de crise no contexto familiar, pelo que

os cuidadores também necessitarão de ser cuidados para que a sua sobrecarga seja, pelo

menos, minimizada. Face ao exposto, torna-se urgente que os enfermeiros,

principalmente os especialistas de enfermagem de reabilitação, direcionem o seu olhar

não só para o doente mas também para o cuidador informal, procurando identificar as

suas necessidades e desenvolvendo estratégias para amenizar a sobrecarga relacionada

com o cuidar.

O presente estudo de RSL incluiu a análise de cinco estudos primários com a finalidade

de ampliar a compreensão sobre o fenómeno da sobrecarga do cuidador informal do

doente com AVC. A partir dos mesmos foi possível obter dados que respondem à

questão de investigação previamente formulada, emergindo alguns fatores que

contribuem para a sobrecarga do cuidador informal, bem como a diversidade de

intervenções de enfermagem de reabilitação que concorrem para a minimização de tal

sobrecarga.

Os resultados do estudo e os contributos da investigação desenvolvida nesta área

sugerem que a avaliação das necessidades individuais e do grau de satisfação das

mesmas, bem como do desempenho do papel de cuidador, constituem importantes

referências para a compreensão do fenómeno da sobrecarga e para as intervenções da

enfermagem de reabilitação que a possam minimizar. Esta avaliação afigura-se como

elemento basilar do processo de cuidados, uma vez que, através da mesma, poderão ser

planeadas e operacionalizadas as estratégias de intervenção individual. Um maior

envolvimento dos cuidadores com a equipa de saúde e, consequentemente, na prestação

Page 83: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

81

de cuidados permite um encaminhamento mais efetivo e adequado às suas necessidades

e às necessidades do doente.

Os resultados enfatizaram a importância de dotar o cuidador informal de conhecimentos

e capacidades para o exercício do seu papel, no sentido de manter a integridade física e

emocional, não só para o seu bem-estar mas também para a qualidade dos cuidados

prestados ao doente. Ao mesmo tempo comprovaram que a abordagem da equipa de

enfermagem dever ter um carácter de continuidade, pelo que a sua intervenção em

contexto domiciliar é essencial na monitorização do processo de cuidados,

considerando-se como um elemento-chave para o sucesso do cuidado informal. As

necessidades/dificuldades relacionadas com a sobrecarga do cuidador informal

decorreram, principalmente, da exigência do cuidado, da escassez de respostas formais,

das limitações na vida social e das dificuldades financeiras.

A investigação incluiu estudos de quatro países provenientes de três continentes

(Europa, América do Norte e Ásia), pelo que a heterogeneidade dos países onde foram

desenvolvidos os diferentes estudos nos leva a considerar a necessidade de algum

cuidado quanto à aplicabilidade geral dos resultados referentes a outras realidades.

Também o facto de não terem sido consultados os autores dos estudos primários pode

ter contribuído para uma menor clarificação de alguns aspetos. Consideramos

igualmente como uma limitação termos imposto um limite temporal de 5 anos, o que

restringiu o número de publicações encontradas. No entanto, justificamos esta decisão

com o propósito de alcançar um conhecimento mais aproximado do “estado da arte”

sobre a problemática, dando resposta ao objetivo de uma RSL. Ao mesmo tempo, o

facto da amostra apenas incluir cinco estudos poderia ser encarado como uma restrição

da aceitação dos achados, no entanto a carência de estudos primários não deve impedir

“a realização de estudos de RS, antes pelo contrário pode mostrar a necessidade de fazer

mais investigação sobre o tema, uma vez que ajuda a identificar lacunas do

conhecimento” (Ramalho, 2005, p. 43).

Por outro lado, apesar do crescente interesse de diferentes profissionais de saúde no

desenvolvimento de estudos visando demonstrar a eficácia de programas de apoio aos

cuidadores informais, existe ainda escassa evidência dos seus resultados. Tal pode estar

relacionado, corroborando com Egea, Pérez e Castillo (2008), com o facto da grande

maioria das publicações analisadas se limitarem a descrições do conteúdo de programas

de intervenção, mas não demonstrarem ou não efetivarem a sua evidência científica.

Page 84: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

82

O presente estudo poderá apresentar implicações para o ensino, investigação e prática

em enfermagem. Os resultados do mesmo corroboram a necessidade incontornável de

uma abordagem direcionada ao cuidador informal, como parte integrante do processo de

cuidados.

No que respeita ao ensino em enfermagem, este estudo pode contribuir para uma melhor

compreensão da sobrecarga do cuidador informal do doente com AVC, especificamente

das necessidades dos cuidadores e das vivências do cuidado informal no seio

familiar/comunidade. Face ao exposto, e enquanto enfermeiros de reabilitação,

estaremos mais habilitados para contribuir para o ensino em enfermagem, procurando

desenvolver e implementar medidas educativas focadas no cuidador informal.

O crescente aumento das exigências do cuidar implica um investimento ao nível da

formação, mas também na investigação em enfermagem, para obter respostas mais

eficazes sobre esta problemática. Contudo, para Sampaio e Mancini (2007), a

investigação desenvolvida de forma criteriosa fornece evidências para a tomada de

decisão clínica, mas não substitui o raciocínio e a experiência profissional na decisão da

melhor intervenção para determinado doente.

Como implicações para a prática, os resultados do estudo possibilitaram a compreensão

da sobrecarga do cuidado associada a necessidades individuais, permitindo ajudar ao

planeamento de programas de intervenção direcionados aos cuidadores informais dos

doentes com AVC. O papel de pivô no contexto da equipa de saúde, bem como o

conhecimento das particularidades do AVC, permite aos enfermeiros de reabilitação

contribuir para a construção de um modelo de intervenção adaptado às necessidades

singulares do doente e sua família, que possibilite maximizar as capacidades do

cuidador informal, minimizando a sua sobrecarga a todos os níveis.

Para finalizar, é imperativo que a intervenção de enfermagem de reabilitação envolva a

família e, em particular, o cuidador informal no processo de cuidados, assegurando o

suporte adequado para o desenvolvimento de competências e habilidades facilitadoras

do cuidado ao doente com AVC. Esta intervenção reforça o incentivo para a

aquisição/continuidade do seu papel, imprescindível para a manutenção do doente no

contexto familiar, evitando a sua institucionalização e otimizando a qualidade de vida

de doente e família.

Page 85: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE REABILITAÇÃO

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ANEXO

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ANEXO I

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(Adaptado de Bandolier, 1995)

Tipo Força da evidência

I Evidência forte a partir de pelo menos uma revisão sistemática de ensaios

clínicos randomizados, bem delineados.

II Evidência forte a partir de pelo menos um ensaio clínico controlado,

randomizado, bem delineado.

III

Evidência a partir de um ensaio clínico bem delineado, sem randomização,

de estudos de apenas um grupo do tipo antes e depois, de coorte, de séries

temporais, ou de estudos caso-controle.

IV Evidência a partir de estudos não experimentais por mais de um centro ou

grupo de pesquisa.

V Opiniões de autoridades respeitadas, baseadas em evidência clínica,

estudos descritivos ou relatórios de comités de especialistas.