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CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR: 10 ANOS ENSINANDO E APRENDENDO ORGANIZADOR PROF. LUIZ ROBERTO AUGUSTO NORO 1

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CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR:

10 ANOS ENSINANDO E APRENDENDO

ORGANIZADOR

PROF. LUIZ ROBERTO AUGUSTO NORO

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1. Projeto pedagógico: a construção coletivaLuiz Roberto Augusto NoroSharmênia de Araújo Soares NutoThiago Pelúcio MoreiraKarol Silva de MouraPolyanna Maria Rocha Novais 2. Metodologia da problematização: uma escolha político-pedagógicaThiago Pelúcio MoreiraLuiz Roberto Augusto NoroRita de Cássia Moura DinizDenise Klein AntunesChristina César Praça BrasilFátima Maria Fernandes VerasAldo Angelim DiasMaria Cristina Germano MaiaSamuel Ilo Fernandes Amorim

3. Espaços de Saúde: é possível humanizar?Patrícia Pinheiro Santos MouraHeleni Barreira de BritoSharmênia de Araújo Soares NutoRosanne Maria Medina Ávila GomesMorgana Pontes Brasil GradvohlSandra Régia A. Ximenes

4. Como você se sente? A experiência do Estágio Extra Mural do Curso de Odontologia da UNIFOR

Sandra Helena de Carvalho AlbuquerqueMaria Vieira de Lima SaintrainLuiz Roberto Augusto NoroSharmênia de Araújo Soares NutoThiago Pelúcio MoreiraMaria Cristina Germano MaiaMaria do Carmo Rebouças FilhaMaria Elisa Machado Ferreira

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5. A Clínica integradaJuliano Sartori MendonçaSandra Helena de Carvalho Albuquerque

6. Controle de Infecção no Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

Danilo Lopes Ferreira LimaDilene Maria de Araújo FaçanhaAminthas Alves Brasil NetoElilton Cavalcante Pinheiro JúniorSolange Kátia Saito FernandesLuiz Roberto Augusto Noro

7. Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de Odontologia – SIA/ODONTO

Karol Silva de MouraEveline TurattiLívia Belchior Gomes de MatosJosé Leitão de Castro FeitosaJosé Raimundo Matos Miranda

8. Pesquisa: a essência do aprendizadoHaroldo Rodrigues de Albuquerque JúniorLuiz Roberto Augusto Noro

9. Tratando desigualmente os desiguais: a busca da eqüidade no Curso de Odontologia da UNIFORGrace Sampaio TelesDomingos Leitão NetoFátima Maria Teixeira de AzevedoLuiz Roberto Augusto Noro

10. Jornada Acadêmica de OdontologiaJuliano Sartori MendonçaMarlio Ximenes CarlosSérgio Luís da Silva Pereira

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OS AUTORES

Aldo Angelim DiasProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Saúde Pública – Universidade Estadual do CearáDoutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Aminthas Alves Brasil NetoProfessor do Curso de Odontologia da UNIFOREspecialista em Prótese UMESP/SPMestrando em Odontologia – Universidade Federal do Ceará

Christina César Praça BrasilProfessora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFORCoordenadora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFORMestre em Distúrbios da Comunicação Humana - Universidade Federal de São Paulo

Danilo Lopes Ferreira LimaProfessor do Curso de Odontologia e do Curso de Educação Física da UNIFORMestre em Periodontia UNICASTELO-Campinas/SPDoutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Denise Klein AntunesProfessora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFORMestre em Educação em Saúde - UNIFOR

Dilene Maria de Araújo FaçanhaEnfermeira especialista em Centro Cirúrgico, Central Esterilização e Recuperação Anestésica pela SOBECC-SPEspecialista em Educação em Saúde - UNIFOR

Domingos Leitão NetoProfessor do Curso de Odontologia da UNIFOREspecialista em Prótese Dental Total – Universidade Federal do Ceará

Elilton Cavalcante Pinheiro JúniorProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Endodontia – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Eveline TurattiProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORDoutora em Odontologia – Universidade de São Paulo

Fátima Maria Fernandes VerasDiretora do Centro de Ciências da Saúde da UNIFORMestre emFarmacologia - Universidade Federal do Ceará

Fátima Maria Teixeira de AzevedoProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestranda em Educação em Saúde - UNIFOR

Grace Sampaio TelesProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORDoutora em Odontologia – Universidade de São Paulo

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Haroldo Rodrigues de Albuquerque JúniorProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORDoutor em Odontologia – Universidade Estadual Paulista - Araraquara

Heleni Barreira de BritoProfessora dos Cursos de Psicologia, Educação Física, Fisioterapia, Enfermagem, Fonoaudiologia da UNIFORMestre em Saúde Púbica – Universidade Estadual do Ceará

José Galba de Meneses GomesProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Psicologia – UNIFOR

José Leitão de Castro FeitosaAnalista de Sistemas da Gerência de Tecnologia em Informática – UNIFOR

José Raimundo Matos MirandaCoordenador de Desenvolvimento da Gerência de Tecnologia em Informática – UNIFORMestre em Administração - UNIFOR

Juliano Sartori MendonçaProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORDoutor em Dentística – Universidade de São Paulo - Bauru

Karol Silva de MouraProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Saúde Pública – Universidade Federal do Ceará

Lívia Belchior Gomes de MatosAnalista de Organização e Método do Curso de Odontologia da UNIFOREspecialista em Consultoria Organizacional – Universidade Federal do Ceará

Luiz Roberto Augusto NoroProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Saúde Pública - Universidade Federal do CearáDoutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Maria Cristina Germano MaiaProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Saúde Pública - Universidade Estadual do CearáDoutoranda em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Maria do Carmo Rebouças FilhaProfessora do Curso de Odontologia da UNIFOREspecialista em Educação em Saúde – UNIFOR

Maria Elisa Machado FerreiraEx-aluna do Curso de Odontologia da UNIFOR

Maria Vieira de Lima SaintrainProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORDoutora em Odontologia em Saúde Coletiva – Universidade de Pernambuco

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Marlio Ximenes CarlosProfessor do Curso de Odontologia da UNIFOREspecialista em Periodontia – Universidade Camilo Castelo Branco

Morgana Pontes Brasil GradvohlProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Psicologia – UNIFOR

Patrícia Pinheiro Santos MouraProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Educação em Saúde – UNIFOR

Polyanna Maria Rocha NovaisProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Odontologia - Universidade de São Paulo – Ribeirão PretoDoutoranda em Prótese – Universidade Estadual Paulista - Araraquara

Rita de Cássia Moura DinizProfessora do Curso de Enfermagem da UNIFORCoordenadora do Curso de Enfermagem da UNIFORMestre em Saúde Comunitária – Universidade Federal do Ceará

Rosanne Maria Medina Ávila GomesAssistente Social do Curso de Odontologia da UNIFOREspecialista em Consultoria Organizacional – Universidade Federal do CearáMestranda em Administração – Universidade Estadual do Ceará

Samuel Ilo Fernandes AmorimAluno do Curso de Odontologia da UNIFOR

Sandra Helena de Carvalho AlbuquerqueProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Saúde Pública - Universidade Federal do Ceará

Sandra Régia A. XimenesProfessora do Curso de Odontologia da UNIFOREspecialista em Radiologia e Dentística – Universidade de São Paulo - Bauru

Sérgio Luís da Silva PereiraProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORDoutor em Periodontia – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Sharmênia de Araújo Soares NutoProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Saúde Pública - Universidade Federal do CearáDoutoranda em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Solange Kátia Saito FernandesProfessora do Curso de Odontologia da UNIFORDoutora em Dentística – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Thiago Pelúcio MoreiraProfessor do Curso de Odontologia da UNIFORMestre em Saúde Pública - Universidade Estadual do CearáDoutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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APRESENTAÇÃO

O curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza completa 10 anos de

existência. Assim, é com grande satisfação que apresento a experiência relatada

nesta obra como uma contribuição à história da Odontologia no Ceará. A criação

desse curso caracteriza-se como um processo extremamente dinâmico e, por que

não dizer, ambicioso, considerando o cenário da formação de recursos humanos em

nossa região, mais especificamente de cirurgiões-dentistas conscientes do seu

papel social diante dos desafios em promover o cuidado com a saúde bucal.

Desde o início do Curso, em 1995, a Reitoria teve a felicidade de poder contar

com um corpo docente de alto nível, muito bem qualificado com professores mestres

e doutores, bastante criativos e dedicados, o que logo se traduziu numa atitude

notável: o compromisso com a gestão colegiada e participativa. Essa orientação

permitiu o diferencial do Curso, destacando-o entre os melhores de formação

odontológica do País.

Nesta publicação, o que o leitor vai encontrar é uma reflexão, de autoria do

corpo docente sobre experiências no cotidiano do processo de ensinar e aprender

como obra coletiva, fundamentada cientificamente, numa postura compartilhada,

definidora das teorias e práticas odontológicas, construídas no ensino, na docência e

na pesquisa desenvolvidas no Curso. O resultado é dos mais consideráveis: a

excelência docente é assumida pela qualidade na formação discente, testemunhada

nos relatos aqui reunidos, diante das atitudes profissionais do atendimento e no

sucesso dos egressos.

A consistência do Projeto Pedagógico do curso de Odontologia da UNIFOR

levou-o ao reconhecimento da comunidade em geral, de tal modo que a excelência

na graduação gerou a possibilidade da alta qualidade da especialização e, por

último, viabilizou a proposta do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em

Odontologia.

Por tudo isso, parabenizo a Coordenação, os Professores e Alunos do curso

de Odontologia, e desejo aos leitores um passeio prazeroso pelos caminhos aqui

redesenhados.

Carlos Alberto Batista Mendes de SouzaReitor

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PREFÁCIOCURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA:

UM MARCO NO ENSINO ODONTOLÓGICO CEARENSEJosé Galba de Meneses Gomes

Faltavam poucos dias para findar o mês de julho. O ano era 1995. Em março a

UNIFOR havia iniciado o seu Curso de Odontologia. Estava eu no desempenho das

funções do cargo de Chefe de Gabinete da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará

quando fui convidado para o desafio de assumir a coordenação do curso com a

perspectiva da estruturação de um curso referência para a região.

Para ninguém manifestei a importância e a vontade pessoal de ingressar

naquilo que foi meu sonho de jovem: seguir a carreira acadêmica, a qual fui

impedido pelos rigores discriminatórios da ditadura vigente nos anos 60 e 70. Ironia

do destino, aquilo que foi foco de discurso quando militante estudantil nos anos 60

contra a privatização do ensino tornou-se porta de entrada para o resgate de um

sonho que, embora aparentemente tardio, não o foi, pois a vida é um incessante

recomeço.

A bem da verdade, após assumir o cargo, nos primeiros momentos assustei-

me, pois o curso havia sido iniciado e o projeto arquitetônico ainda passava por

discussão e detalhamentos. Fiquei mais atarantado quando em visita ao terreno a

ser edificado nada vi a não ser arbustos. Não tinha a devida avaliação do

pragmatismo e obstinação da direção da UNIFOR em consolidar, como o fez, e

continua a fazer.

Com isso senti segurança mesmo com o atraso do cronograma e em razão da

enorme responsabilidade que assumia porque aquela oportunidade implicava num

resgate de um sonho que me induziu envidar todos os esforços possíveis para fazer

o que melhor pudesse.

Solicitei à Universidade de Fortaleza uma viagem para visita a algumas

faculdades em diferentes pontos do país, a qual foi concretizada com o objetivo de

colher sugestões para o projeto arquitetônico e pedagógico, além de

silenciosamente fazer os primeiros contatos com quadros docentes e assegurar-me

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de uma visão crítica bem sedimentada. A partir das visitas firmou-se posição quanto

a necessidade de diferenciação no tocante a inovações na área da biossegurança

assim como a ousadia em montar uma equipe docente jovem titulada com mestrado

ou doutorado.

Aproximava-se o fim do ano de 1995 e não havia nem sinal de início da

edificação do prédio o que levou à improvisação de um espaço para o

funcionamento, no primeiro semestre de 1996, da disciplina de Materiais Dentários

e, em paralelo, buscar professores para essa disciplina específica, diga-se sob

pressão e preocupação dos alunos.

Dá para imaginar a ansiedade dos alunos e a minha própria. Fato é que o

laboratório foi montado em caráter provisório e atendeu até o fim de 1996 também

as disciplinas de Escultura Dental e Odontologia Social I.

A seleção dos professores ocorreu sempre com a recomendação de que fosse

realizada considerando a capacitação acadêmica de Doutor e Mestre ou, em última

análise, Especialista e que os contratados tivessem disponibilidade e vontade de

buscar o novo. É bom frisar que em nenhum momento ocorreram interferências das

instâncias superiores para imposição de nomes dos futuros docentes.

Sabendo que a existência de professores com qualificação de Mestre e Doutor

no Ceará era bastante rarefeita, foram iniciados contatos com outros centros para

tentar contratação de professores com estes títulos conclusos ou em fase de

conclusão. Lembro que percebi da parte de alguns dirigentes da UNIFOR um sorriso

de incredulidade ao verem a jovialidade dos futuros professores, e eu próprio,

apesar das referências, apavorado uma vez que qualquer fracasso seria fatal para

um curso que estava iniciando. A estes foram incorporados professores com

experiência que muito contribuíram para controlar os arroubos próprios dos mais

jovens, além de permitirem uma perfeita composição na condução das disciplinas.

O projeto era pensar algo inovador dentro do conceito de formar profissionais

tecnicamente capazes, éticos e humanos. Para tanto, seria indispensável contar

com funcionários e docentes comprometidos e envolvidos, motivados e apoiados no

sentido da construção de uma instituição exemplar e diferenciada.

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É importante destacar que a UNIFOR deu largos passos a partir do modelo

implantado pela odontologia, e que o ano de 1998 constituiu-se num marco, pois

patrocinou juntamente com a Associação Brasileira de Ensino Odontológico

(ABENO) um grande encontro em suas dependências, contando com a presença de

professores de Odontologia de todo o Brasil que foi motivo de júbilo para todos nós

pela participação e produção acadêmica.

A semente foi regada com muita pertinácia e responsabilidade o que permitiu

gerar frutos com uma continuidade – sem continuísmo – de coordenações se

superando e mantendo a chama da vontade de acertar e com uma equipe jovem e

envolvida, e ao olhar para trás afirmo com convicção que o envolvimento e a

determinação da Universidade de Fortaleza foram determinantes para oferecermos

à sociedade cirurgiões-dentistas efetivamente comprometidos com a perspectiva da

promoção da saúde.

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CAPÍTULO 1Projeto pedagógico: a construção coletiva

Luiz Roberto Augusto Noro

Sharmênia de Araújo Soares Nuto

Thiago Pelúcio Moreira

Karol Silva de Moura

Polyanna Maria Rocha Novais

1. INTRODUÇÃO

O presente capítulo tem como objetivo apresentar o processo vivenciado pelo

Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) durante os últimos

cinco anos na discussão do Projeto Político Pedagógico Permanente, um dos

instrumentos mais importantes na construção do referencial ao qual estará

sedimentada a formação do aluno, tendo como desafio a formulação de uma nova

referência para o ensino odontológico. Seu foco principal foi vislumbrar mecanismos

visando proporcionar ao aluno formação geral por meio de conhecimentos

relevantes para seu crescimento científico, formação profissional pertinente à sua

atuação na área da saúde e formação cidadã contemplada por uma visão ampla da

sociedade.

Estas discussões envolveram todo o corpo docente em um trabalho construído

de forma coletiva e pautado na perspectiva de se vislumbrar a capacitação de

futuros profissionais em saúde bucal que tenham capacidade de refletir sobre seu

papel na sociedade e analisar que contribuições podem trazer para a melhoria da

qualidade de vida da população brasileira, em especial, a cearense.

A proposta foi marcada por um constante aprofundamento na definição de

elementos vinculados à metodologia pedagógica problematizadora, à integração de

conhecimentos, à experiência didático-pedagógica dos professores e na busca de

alternativas instrucionais que permitissem um crescimento intelectual progressivo e

constante do aluno, tudo em coerência com as Diretrizes Curriculares propostas

para os Cursos de Odontologia, aprovadas desde novembro de 2001 pelo Ministério

da Educação (MEC).

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Estas Diretrizes Curriculares Nacionais apresentam linhas gerais bastante

semelhantes à de outros cursos na área da saúde como Medicina, Enfermagem,

Farmácia etc. Se comparada à proposta inicial em análise no MEC desde 1998,

observam-se, claramente, alguns avanços como as competências gerais

relacionadas à atenção integral à saúde, liderança social e setorial, gerenciamento e

administração de recursos; observação de que os conhecimentos, competências e

habilidades devem estar direcionados a todos os níveis de atenção em saúde;

diversificação de cenários, desmonopolizando o ensino da clínica odontológica;

interação com serviços de saúde e comunidade; aluno como sujeito da

aprendizagem por meio da utilização de metodologias ativas de aprendizagem e,

talvez a principal, a partir de agora, a formação em Odontologia deverá contemplar o

sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde e o trabalho em

equipe. Definiu-se, assim, o papel dos cursos de Odontologia na formação de

profissionais de saúde efetivamente vinculados aos interesses da maioria da

população.

2. APRESENTAÇÃO DO CURSO

O Curso de Odontologia deu início a suas atividades no primeiro semestre de

1995, tendo como base legal a Resolução CFE 04/82, de 03 de setembro de 1982,

parecer favorável do Conselho Nacional de Saúde em 11 de novembro de 1993 e

deliberação assumida em reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da

Universidade de Fortaleza em 14 de outubro de 1994.

O curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza não foi criado na simples

lógica de ser mais uma opção nesta área, mas sim no sentido de buscar uma

formação baseada em princípios humanistas, que contribuísse devolvendo à

sociedade profissionais altamente capacitados, quer do ponto de vista individual,

quer do ponto de vista coletivo, que fossem habilitados a enxergarem o paciente

como um todo em sua dimensão física, psíquica e social. É pretensão do curso se

inscrever como referência no cenário odontológico nacional de forma a contribuir

para o desenvolvimento de pesquisas, trabalhos e compreensão de que os

problemas de saúde bucal devem ser resolvidos para também contribuir na

conquista da cidadania.

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A criação de qualquer curso na área de saúde, e primordialmente o de

odontologia, só se justifica se houver real demanda social que torne os profissionais

a serem formados como importantes agentes na melhoria da qualidade de vida da

população.

Segundo dados de dezembro de 1996 do Conselho Federal de Odontologia, o

Brasil possuía nesta época um total de 90 faculdades ou cursos de Odontologia,

formando anualmente um total de 8236 cirurgiões-dentistas, o que significa uma

relação de 1 cirurgião-dentista para 1142 habitantes, representando até então, o

melhor índice de toda a América.

Neste mesmo levantamento observamos que o caso do estado do Ceará

apresenta uma defasagem se comparado com o do Brasil. Segundo este

levantamento, em 1996 o Ceará apresentava uma relação de 1 cirurgião-dentista

para 2754 habitantes, deixando clara a necessidade de um contingente maior de

cirurgiões-dentistas em nosso estado, tendo em vista a orientação da Organização

Mundial de Saúde no sentido de uma relação adequada ser aquela de 1 cirurgião-

dentista para 1500 a 2000 habitantes.

Epidemiologicamente, o Ceará, assim como a maioria dos estados do

Nordeste, apresenta uma situação de saúde bucal caótica, agravada pela péssima

distribuição de renda, situação inadequada de habitação, educação, além de um

sistema de saúde pública que pouco contribui na melhoria do quadro geral da

população. Para reversão deste quadro torna-se imperioso vislumbrar-se

possibilidades de maior acolhimento de futuros profissionais cônscios de seu papel

político, ético e social nesta transformação.

Neste sentido, é pretensão do curso de odontologia da UNIFOR contribuir

para uma melhor participação de profissionais na reversão do negativo perfil

epidemiológico, considerando que parte dos municípios do interior cearense não

possui cirurgiões-dentistas ali residentes, apesar dos grandes avanços com a

estratégia Saúde da Família.

A concepção arquitetônica que abriga o curso de odontologia da UNIFOR foi

resultado de uma ampla pesquisa das estruturas existentes de outros cursos no

país, que resultou numa adaptação a nossa realidade climática dispondo para tanto

de uma área construída de laboratórios, clínicas e demais setores relacionados à

Odontologia de 3500 m2. As diferentes instalações estão estruturadas com

equipamentos de tecnologia atual e com capacidade instalada para atender a

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demanda dos cinqüenta e cinco ingressos semestralmente por meio do processo

seletivo. Com estas instalações, o curso de Odontologia da UNIFOR está em

condições de formar profissionais competentes e capacitados ao desenvolvimento

das várias técnicas odontológicas.

No plano das responsabilidades profissionais foram implantadas comissões

de biossegurança e humanização que rotineiramente acompanham as metodologias

de atendimento ao público, a relação professor-aluno e a inter-relação professores–

alunos–funcionários–usuários, afora a permanente discussão quanto a metodologia

do ensino.

Quanto à titulação do corpo docente, a grande maioria dos professores do

curso de Odontologia da UNIFOR (aproximadamente 76%) é composta de doutores

ou mestres, não existindo qualquer professor sem pelo menos a especialização. Em

relação à capacitação pedagógica, nossos docentes têm continuamente a sua

disposição cursos das áreas de didática, dinâmica de grupo, relações interpessoais,

avaliação, entre outros, que visam o contínuo aprofundamento da formação

pedagógica.

O Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza foi reconhecido pelo

Conselho Nacional de Educação (CNE) em 08/12/1999 por meio do Parecer nº

1226/99. Desde então o curso já participou de cinco versões do Exame Nacional de

Cursos tendo obtido o conceito “B”, no ano de 1999, o conceito “A” em 2000 e 2001

e o conceito “B” nos anos 2002 e 2003 e da primeira versão do ENADE obtendo o

conceito 5. Na última Avaliação das Condições de Ensino, realizada em 2005, o

Curso teve o conceito “Muito bom” em todas as dimensões avaliadas.

Necessário se fez, portanto, a contínua discussão entre a comunidade

acadêmica sobre quais rumos deveria tomar a formação de um profissional que

pudesse efetivamente cumprir o estabelecido para sua missão. E, o caminho

desenhado para conquista de tal objetivo foi o seu Projeto Pedagógico.

3. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO PEDAGÓGICO

A estratégia escolhida para seu desenvolvimento consistiu na realização de

oficinas semanais às quais eram convidados professores e alunos do curso para

identificação dos principais problemas observados no desenvolvimento do projeto

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em prática e os possíveis avanços a serem obtidos. As Oficinas de Construção

Coletiva do Projeto Pedagógico foram articuladas com a Diretoria de Graduação e a

coordenação do Curso de Odontologia da UNIFOR tendo como meta a discussão de

elementos fundamentais para a efetiva implantação das propostas discutidas.

Visando estabelecer com clareza o papel dos diversos atores na construção de uma

proposta sólida e tendo como referencial as propostas apresentadas durante a

XXXIII Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico – ABENO, em

1998, foram definidos os seguintes princípios norteadores:

1º) A construção do Projeto Pedagógico depende da capacidade dos

participantes em perceber, analisar, aceitar (rejeitar) e promover mudanças,

elaborando para isto mecanismos (métodos, estratégias) adequados.

2º) Para superar a fragmentação é necessário integrar as “disciplinas” para a

articulação de propósitos. Esta integração deve romper com o isolamento e ocorrer

de forma lógica na construção da totalidade do curso.

3º) A definição da política de graduação deve se dar no seguinte sentido:

a) Formação universitária que permita um egresso com característica de

generalista voltado para a promoção de saúde.

b) Os estudantes deverão ser formados visando assumirem postura crítica,

voltados para a sociedade, cientes do mercado de trabalho (mas

capazes de transformá-lo) a partir das necessidades da população.

c) Otimização curricular, promovendo estímulo e interação entre ensino,

pesquisa e extensão por meio, inclusive, de estímulo financeiro e

institucional (bolsas, monitorias, eventos etc.). Deve-se prever horário

específico para pesquisa e extensão e divulgação dos dados e

informações provenientes destas atividades.

d) A relação teoria-prática deve ocorrer a partir da interação das várias

áreas de conhecimentos, compondo uma totalidade.

4º) Projeto pedagógico enquanto prática social coletiva, a partir da interação

com a sociedade em benefício da “classe” como um todo e da própria sociedade.

Principal referência: formar um aluno crítico.

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5º) Individualizar as características e demandas do curso na construção e

legitimação do Projeto Pedagógico. Para isto, deve-se conhecer o “Modelo Macro”

preconizado pela administração acadêmica identificando-se, a partir daí, limites e

possibilidades concretas (número de alunos, estrutura física, currículo, apoio à

pesquisa etc.).

6º) A coerência do Projeto Pedagógico tem a ver com a meta a ser alcançada.

Esta meta deve ser em relação ao profissional desejado e sua relação com a

sociedade. A natureza da ação a ser desenvolvida (generalista X especialista) está

diretamente relacionada à definição desta meta.

7º) A gestão, para que o Projeto Pedagógico formulado seja efetivado, deve ser

compartilhada. Deve permitir um espaço constante de discussão para que possa se

trabalhar com a idéia de “Projeto Pedagógico Permanente”.

A construção deste percurso foi viabilizada pela execução de 50 oficinas

pedagógicas semanais, divididas em duas fases: a primeira, que contou com a

participação de professores da área da pedagogia, configurou-se como espaço

privilegiado na capacitação pedagógica do corpo docente e a segunda, que buscou

harmonizar o referencial teórico construído com a necessidade de um processo de

ensino-aprendizagem que permitisse efetiva interação entre formação e prática

profissional, respeitando o conhecimento prévio do aluno e alterando o papel do

professor de transmissor do conhecimento para mediador da aprendizagem.

O que se pretendia era que, com a participação efetiva de todo o corpo

docente, o Projeto Pedagógico pudesse definir o perfil do egresso do curso de

Odontologia e, a partir daí, definir as metodologias pedagógicas e componentes

curriculares necessários para viabilização deste objetivo.

No semestre de 1999.1 ocorreram onze Oficinas Pedagógicas em que foram

discutidos temas como objetivos do curso, perfil do aluno a ser formado, habilidades

desejáveis dos futuros profissionais em saúde bucal, metodologias pedagógicas,

diretrizes curriculares e avaliação do processo ensino-aprendizagem.

Foi possível observar que o docente do Curso de Odontologia configurava-se,

em geral, como um profissional bem sucedido em sua área de atuação clínica, mas

1

que se ressentia de uma formação pedagógica para pleno desenvolvimento de sua

carreira acadêmica. As Oficinas permitiram uma efetiva participação da maioria do

corpo docente com formação em Odontologia, apontando para a necessidade de

uma contínua discussão principalmente com relação à adoção de metodologia

pedagógica com base na problematização, substanciada por um currículo integrado,

que viesse a ser formulado por meio do Projeto Pedagógico Permanente do Curso

de Odontologia da UNIFOR.

No segundo semestre de 1999 procurou-se avançar no sentido da discussão

do currículo integrado. Analisando-se o currículo existente observava-se a

inadequação de alguns elementos, tendo em vista a dissociação entre as disciplinas

do ciclo básico das do ciclo profissionalizante, o baixo impacto das ações de saúde

coletiva e a necessidade de se pensar em métodos de ensino que proporcionassem

maior participação do aluno, transformando-o em agente de seu estudo. A posição

passiva do aluno deveria ser substituída por uma postura que o levasse a aprender

a aprender. Ao fim do semestre foi apresentada a proposta preliminar do Projeto

Pedagógico, convidando-se os alunos para tomarem conhecimento das discussões,

de forma a poderem contribuir significativamente com esta construção.

No primeiro semestre de 2000 iniciou-se a participação do corpo discente. As

dificuldades para viabilizar o seu comparecimento sempre estiveram presentes.

Afinal, o Curso de Odontologia exige compromisso e, principalmente, muita

dedicação por parte do estudante. Mesmo assim, em todas as Oficinas deste

semestre, contou-se com a participação dos estudantes. A discussão central neste

semestre foi a elaboração de uma grade curricular que viabilizasse a integração de

conhecimentos. Tomou-se como referência para esta atividade, o perfil clínico do

paciente do Curso de Odontologia, em que os conhecimentos, habilidades e atitudes

necessários para o atendimento deste, guiaria as atividades clínicas e laboratoriais.

A partir da referência proporcionada pela construção de um currículo com base

no perfil do paciente, que tivesse como direção o aumento da complexidade do caso

clínico coerente com o processo de ensino-aprendizagem a ser vivenciado pelo

estudante ao longo do curso, procurou-se no segundo semestre de 2000

desenvolver áreas de conhecimento que perderiam a característica da abordagem

específica proposta pelas tradicionais disciplinas, permitindo uma abordagem com

visão mais ampla do paciente, entendido em seu contexto social, psicológico,

cultural e biológico.

1

Neste sentido, as Oficinas realizaram-se na perspectiva da construção de

uma grade curricular que procurou integrar conhecimentos tanto ao longo do próprio

semestre (integração horizontal) como de um semestre para o outro (integração

vertical) permitindo ao aluno a real percepção de seu objeto de trabalho. Assim, os

conhecimentos, habilidades e atitudes contidos nas tradicionais disciplinas clínicas e

laboratoriais (materiais dentários, “dentísticas”, “endodontias”, “periodontias”,

“próteses” e “cirurgias”) foram agrupados de acordo com o perfil do paciente nas

disciplinas Pré-clínicas, Clínicas Odontológicas e nos estágios de Clínica Integrada.

Esta estruturação curricular contribui, segundo TOMAZ (2001), no resgate de

conhecimentos prévios dos alunos para construção de sólidas estruturas de

aprendizagem.

Outro fator que merece destaque é a possibilidade de conclusão dos casos

clínicos dos pacientes, muitas vezes incompletos pela falta de articulação dos

conhecimentos distribuídos nas disciplinas, fazendo com que o paciente seja muito

mais um objeto de intervenção para o aluno do que um ser humano que procura

resolver seus problemas de saúde bucal em um curso de Odontologia.

Tendo como referência o perfil de atendimento do paciente e os

conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para o desenvolvimento da

prática pelo aluno, no semestre de 2001.1 foram alocados os conteúdos para o

desenvolvimento de cada disciplina, por meio de representantes dos docentes de

cada área de trabalho (materiais dentários, dentística, endodontia, periodontia,

prótese, cirurgia, diagnóstico oral e saúde coletiva).

Durante o ano de 2002, a proposta foi apresentada para o Centro de Ciências

da Saúde (CCS) e para a Diretoria de Graduação (DIGRAD). Houve alguns

questionamentos em relação à nova proposta curricular, principalmente pela

presença de disciplinas com o número de créditos elevados.

Finalmente, após o amadurecimento dos questionamentos levantados pela

Universidade, optou-se, no semestre de 2003.1, pela realização de alguns ajustes à

proposta inicial. Foram realizadas 10 Oficinas com a participação dos representantes

das áreas de trabalho e aberto aos demais professores, em que foi revista a grade

curricular, onde a principal modificação foi a separação das disciplinas da área de

prótese das de clínicas odontológicas, criando os seus perfis próprios, com o intuito

apenas de diminuir os créditos por disciplina; foram redefinidos os perfis (alguns

perfis estavam muito complexos, com o acúmulo muito grande de

1

conhecimentos/habilidades); os conteúdos alocados em cada disciplina, iniciando-

se, a partir daí, a construção dos projetos de ensino.

Ao longo dos semestres 2003.1 e 2003.2, algumas das iniciativas propostas

durante as discussões passaram a ser operacionalizadas nos estágios de Clínica

Integrada I e II. Os professores passaram a se responsabilizar pela orientação de

uma série de procedimentos (diagnóstico das doenças bucais, elaboração do plano

de tratamento, extrações, restaurações, tratamento endodôntico, moldagens,

urgência, entre outros) a um grupo de alunos, independente de sua especialização

ou área específica de conhecimento. Aos alunos foi colocado como meta dar alta a

todos os pacientes sob sua responsabilidade atendendo integralmente suas

necessidades, estando desobrigado de cumprir uma produção mínima em cada área

específica. Acredita-se que desta forma será possível despertar no processo de

ensino-aprendizagem a importante dimensão da motivação intrínseca, que é

caminho genuíno para aprofundamento dos temas em estudo (SCHIMIDT, 2000).

Com isto, buscou-se uma maior integração dos conhecimentos técnicos, articulados

a uma visão mais humanista no atendimento à necessidade do paciente.

No segundo semestre de 2003 a proposta foi encaminhada para a professora

Luiza Nakama, da Universidade Estadual de Londrina e membro da REDE UNIDA,

com a finalidade de análise e parecer sobre o projeto. Em maio de 2004, a

professora Luiza Nakama, após ajustes no projeto analisado, desenvolveu em

reuniões com os professores, Colegiado do Curso, Direção do Centro de Ciências

da Saúde e Vice-Reitoria de Ensino de Graduação, uma consultoria visando

aperfeiçoamento da proposta, principalmente no sentido da adequação às Diretrizes

Curriculares para os Cursos de Odontologia.

A proposta definida procurou absorver todas estas discussões, dificuldades,

sugestões e análises no sentido de se configurar enquanto elemento de avanço na

formação de um aluno realmente comprometido com a saúde bucal de seu futuro

paciente e teve como grande virtude a construção de um trabalho de forma coletiva,

em um processo que requisitou intensa dedicação ao longo dos últimos anos. As

oficinas desenvolveram-se às terças-feiras, das 19:00 às 22:00 horas e a

participação era voluntária. Para melhor compreensão do processo, disponibiliza-se

na tabela 1 o total de Oficinas realizadas e a respectiva carga horária envolvida

neste trabalho.

1

Tabela 1: Número de oficinas do Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia da

UNIFOR e total de horas, por semestre.

Semestre Número de oficinas Total de horas1999.1 11 331999.2 8 242000.1 16 482000.2 10 302003.1 10 30TOTAL 55 165

Para chegarmos onde nos situamos hoje, foi necessário um processo que teve

na participação do corpo docente do Curso de Odontologia seu maior referencial. O

professor do curso, de forma geral, mantém atividades fora do âmbito da

Universidade, principalmente vinculadas ao consultório particular, o que, em tese,

deveriam ser elementos dificultadores para sua efetiva participação. Entretanto,

pôde-se contar com a maioria dos professores nas discussões que tiveram sempre

como pressupostos à busca dos melhores elementos na definição de um curso de

Odontologia de excelência.

A apresentação do Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia foi feita em 18

de novembro de 2004, junto ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da

Universidade de Fortaleza, sendo aprovado para início no primeiro semestre de

2005.

4. REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR

Formar cirurgião-dentista generalista apto a diagnosticar e tratar as principais

doenças bucais, por meio da compreensão, aplicação e integração dos princípios

gerais das ciências médicas e correlatas, inter-relacionando os efeitos entre

tratamentos médicos e odontológicos na busca de soluções adequadas para os

problemas clínicos, individuais e comunitários, promovendo a saúde e prevenindo as

doenças e distúrbios bucais, mantendo espírito crítico, ético e com amplo interesse

social em compreender a importância do impacto de políticas sociais, ambientais e

de saúde sobre a saúde bucal, sendo capaz de planejar e administrar programas de

saúde coletiva é o grande objetivo da reestruturação curricular do Curso de

2

Odontologia da UNIFOR. Para chegar a este objetivo, alguns elementos estão

propostos dentro desta reestruturação.

4.1. CURRÍCULO INTEGRADOVários são os conceitos e definições de currículo. O próprio significado da sua

origem semântica no Latim (currere, que significa correr) pressupõe uma dimensão

dinâmica, que segundo POSNER (1995) “devem permitir que os estudantes

construam seu próprio conhecimento baseados no que eles já sabem e usem tal

conhecimento em atividades que requeiram tomada de decisão, resolução de

problemas e discernimento.” Em geral, o que se pode observar é que o currículo é

um plano pedagógico sistemático utilizado para orientação da aprendizagem do

aluno. Pode ser entendido como o meio pelo qual o ensino se cumpre, servindo de

instrumento para viabilização do processo ensino-aprendizagem ao aluno e como

referência estratégica para o professor no desenvolvimento de seu plano de

trabalho.

Mais importante do que a definição é a percepção sobre qual concepção de

aprendizagem se orienta determinado currículo. O currículo formal ou currículo por

disciplinas, presentes ainda hoje na organização da maioria dos Cursos de

Odontologia do Brasil, têm como elemento básico uma metodologia pedagógica

caracterizada pela transmissão de conhecimentos, representada pelas disciplinas

estanques, preocupadas basicamente com a memorização de informação e/ou

repetição de técnicas.

A opção por um currículo integrado ocorreu previamente à efetiva integração

entre ensino e prática profissional, que tivesse como referência um processo de

ensino-aprendizagem respeitando o conhecimento prévio do aluno e, a partir daí,

possibilitasse um avanço na construção de teorias, de forma compartilhada com o

professor, tendo como base a busca de soluções adequadas aos problemas

levantados, enfatizando na reflexão, na crítica e na criatividade, os elementos

fundamentais na formação do aluno.

O ensino deveria permitir que a estrutura interna do currículo fosse indutivo-

teórica, ou seja, o aluno selecionaria e ordenaria os assuntos da própria realidade e,

a partir daí, buscaria elementos científicos e técnicos que viessem subsidiar a

solução de tais problemas. Com isto, o ensino adquire um aspecto transdisciplinar,

2

já que os vários conceitos presentes em diferentes campos de conhecimentos

deverão ser utilizados para explicação e solução do problema.

Na construção da proposta, procurou-se definir o perfil do paciente atendido

nas clínicas do Curso de Odontologia da UNIFOR para que fosse utilizado como

referencial na organização dos conteúdos e objetivos a serem alcançados pelo

currículo. Nesta estruturação por perfis partiu-se das situações menos complexas no

atendimento clínico do paciente, assim como do entendimento da situação deste

paciente na sua comunidade. Progressivamente, ao longo do curso, o aluno vai se

deparando com pacientes com perfil clínico mais complexo, até chegar aos dois

últimos semestres em uma situação onde o aluno deve estar apto a resolver a quase

totalidade dos problemas bucais do paciente, assim como propor atividades dentro

de um referencial que utilize a epidemiologia e o planejamento como elementos na

solução destes problemas.

Com isto, procura-se atingir uma integração horizontal, trabalhando conteúdos

complementares dentro do mesmo semestre e integração vertical, fazendo uma

abordagem sobre os assuntos de forma a observar a complexidade gradativa ao

longo do curso.

Outro elemento previsto no currículo integrado é a relação entre ensino,

trabalho e comunidade, permitindo ao aluno entendimento do contexto imposto pelo

mercado de trabalho e da realidade social a ser futuramente vivenciada.

No desenho do novo currículo prevê-se a Integralização do curso em cinco

anos, correspondente ao desenvolvimento de 286 créditos, sendo 178 práticos e 108

teóricos, distribuídos ao longo dos dez semestres de forma que o semestre com o

maior número de créditos possibilite, pelo menos, dois turnos sem atividade

curricular, possibilitando ao aluno envolvimento em atividades de qualquer outra

natureza (cultural, científica, lazer, estudo individual, estágios etc.).

4. ESTRUTURA CURRICULARA nova estrutura procurou basear-se nas competências e habilidades gerais

previstas na formação do cirurgião-dentista, em especial a atenção à saúde, a

tomada de decisões, a comunicação, a liderança, a administração e gerenciamento

e a educação permanente que deverão ser exercitadas em todas as disciplinas

previstas na nova estrutura curricular. Além disto, a aquisição de determinadas

competências e habilidades específicas serão desenvolvidas de acordo com a

2

natureza dos campos de conhecimentos definidos nas disciplinas previstas nas

áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Humanas e Sociais e Ciências

Odontológicas.

4.2.1 – Ciências Biológicas e da Saúde

Na área das Ciências Biológicas e da Saúde procurou-se organizar as

disciplinas com conteúdos de bases moleculares e celulares dos processos normais

e alterados no 1º semestre; as disciplinas relacionadas à estrutura e função dos

tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos no 2º semestre, e as disciplinas das ciências

biológicas e da saúde aplicadas às situações decorrentes do processo saúde-

doença no desenvolvimento da prática assistencial de Odontologia no 3º semestre.

Para isso, a disciplina de Microbiologia e a disciplina de Imunologia foram

integradas em duas disciplinas: Microbiologia e Imunologia e Microbiologia e

Imunologia Oral, possibilitando ao professor, nesta segunda, abordar temas

específicos da Odontologia no seu conteúdo programático.

O currículo anterior possuía as disciplinas de Farmacologia I e II. Na nova

proposta somente existirá a Farmacologia e os conteúdos da Farmacologia II, que

corresponde à aplicação clínica dos fármacos em Odontologia, serão contemplados

nas disciplinas de Clínicas Odontológicas, de acordo com a necessidade dos perfis

dos pacientes.

A disciplina de Patologia Geral foi desmembrada em Patologia I e II com o

mesmo número de créditos anteriores.

Biologia passou a ter a denominação de Biologia Molecular, visando uma

abordagem mais atual em relação aos grandes avanços observados nesta área, em

articulação com as outras disciplinas do primeiro semestre.

As disciplinas de Anatomia Humana, Histologia e Embriologia, Anatomia Buco-

facial e Histologia e Embriologia Buco-faciais, Fisiologia e Bioquímica tiveram

alterações quanto à disposição no semestre e integração de seus conteúdos, sendo

mantidos os mesmos números de créditos. A disciplina de Parasitologia foi excluída

do currículo atual, considerando que seu conteúdo tem pouca aplicação na formação

de um cirurgião-dentista.

O quadro 1, a seguir, detalha estas alterações.

2

Quadro 1: Número de créditos das disciplinas de Ciências Biológicas e da Saúde no currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3).

Anterior Créd Atual CrédMicrobiologiaImunologia

44

Microbiologia e ImunologiaMicrobiologia e Imunologia Oral

44

Farmacologia I 4 Farmacologia 4

Patologia geral 8 Patologia I 4Patologia II 4

BiologiaAnatomia Humana Histologia e EmbriologiaAnatomia Buco-facialHistologia Embrio. Buco-faciaisBioquímicaFisiologia

4446448

Biologia MolecularAnatomia Humana Histologia e EmbriologiaAnatomia Buco-facialHistologia Embrio. Buco-faciaisBioquímica Fisiologia

4446448

Parasitologia 4 Parasitologia - - -TOTAL 56 TOTAL 54

4.2.2 – Ciências Humanas e SociaisCom relação à área das ciências humanas e sociais, foram incluídos conteúdos

referentes às diversas dimensões da relação indivíduo-sociedade, contribuindo para

a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos,

ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-

doença. As disciplinas de Elementos de Antropologia Filosófica e Elementos de

Sociologia tiveram seus conteúdos integrados compondo as disciplinas de Ciências

Sociais I e II.

Elementos de Psicologia foi alterada para Psicologia do Relacionamento I e II

(quatro créditos práticos) para o quinto e sétimo semestres, com o intuito de manter

a integração com o atendimento clínico realizado pelo aluno. Os créditos práticos

nas disciplinas de Psicologia foram garantidos para manter uma melhor relação

professor/aluno permitindo atividades grupais e efetivo acompanhamento do

desenvolvimento das habilidades interpessoais pelo aluno. Métodos e Técnicas da

Investigação Científica teve seu nome alterado para Metodologia da Pesquisa

Científica, mantendo-se com quatro créditos teóricos.

Na área da saúde coletiva propõe-se uma tentativa de abordagem de

elementos fundamentais apontados nas Diretrizes Curriculares que ocorressem ao

2

longo do curso. As disciplinas de Odontologia Social I, Epidemiologia Geral,

Odontologia Social II e Odontologia Legal e Deontologia possuem, no currículo atual,

conteúdos estanques trabalhados isoladamente, sendo sua maior carga horária

concentrada no quarto e quinto semestre. Na nova proposta essas disciplinas foram

substituídas por Saúde Bucal Coletiva I, II, III, IV e V, aplicadas desde o quarto até o

oitavo semestre, viabilizando um crescimento contínuo de complexidade e de

aplicação na realidade social. O Estágio Extra-Mural continua com a mesma

característica do currículo atual, visto já possuir desde sua elaboração uma prática

comprometida com o escopo da nova proposta pedagógica e curricular.

Uma das principais características destas disciplinas é contemplar a formação

do cirurgião-dentista contemplando o sistema de saúde vigente no país, a atenção

integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra-

referência, além do trabalho em equipe, conforme preconizam as atuais Diretrizes

Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia.

A distribuição dos créditos com as respectivas disciplinas encontram-se

detalhadas no quadro a seguir:

Quadro 2: Número de créditos das disciplinas de Ciências Sociais e Humanas no currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3).

Anterior Créd Atual CrédElem. de Antropologia Filosófica 4 Ciências Sociais e Saúde I 4Elementos de Sociologia 4 Ciências Sociais e Saúde II 4Elementos de Psicologia 4 Psicologia do Relacionamento I e II 4Métodos Téc. Invest. Científica 4 Metodologia da Pesquisa Científica 4Introdução à Odontologia 2 Introdução à Odontologia 2Odontologia Social I Epidemiologia GeralOdontologia Social IIOdonto. Legal e Deontologia

8664

Saúde Bucal Coletiva I, II, III, IV e V 20

Estágio Extra-Mural I 4 Estágio Extra-Mural I 4Estágio Extra-Mural II 4 Estágio Extra-Mural II 4

TOTAL 44 TOTAL 46

2

4.2.3 – Ciências Odontológicas

As disciplinas de Patologia Bucal e Radiologia tiveram seus conteúdos

integrados e aplicados de acordo com os perfis dos pacientes compondo as

disciplinas de Propedêutica Clínica I, II e III.

Procurando aproximar o conhecimento básico de sua utilização clínica foi

incluída a disciplina de Iniciação Clínica no 3º semestre que tem como objetivo

aproximar o aluno de sua futura profissão, por meio do conhecimento real das

situações de trabalho que irá vivenciar, abordando entre outros assuntos a

ergonomia, biossegurança, bioética etc.

Os conteúdos das disciplinas de Materiais dentários I e Materiais Dentários II,

Semiologia Bucal, Cirurgia Odontológica I e II, Dentística Operatória, Dentística

Restauradora I e II, Endodontia I e II, Farmacologia II, Periodontia I e II, Cirurgia e

Traumatologia Buco-maxilo-facial, Clínica Integrada I e II, tiveram seus conteúdos

integrados de acordo com os perfis dos pacientes a serem atendidos, compondo as

disciplinas de Pré-Clínica I, II, III e IV, Clínica Odontológica I, II e III e Clínica

Integrada I, II, III, IV.

Os perfis propostos para os pacientes a serem atendidos nestas disciplinas

estão elencadas no quadro 3, a seguir.

Quadro 3: Perfis de atendimento dos pacientes das disciplinas de Pré-clínica I, II, III, e IV, Clínica Odontológica I, II, e III e Clínica Integrada I, II, III e IV.

ATIVIDADES/PROBLEMAS DISCIPLINAS

Adequação do meio bucal

Remoção de fatores retentivos de placa

Gengivite

Restaurações provisórias

Pré-clínica IClínica odontológica I

Perfil I

Restaurações diretas

Periodontite moderada

Exodontia simples.

Pré-clínica IIClínica odontológica II

2

ATIVIDADES/PROBLEMAS DISCIPLINAS

Perfil I + II

Clareamento de dentes vitalizados / desvitalizados

Restaurações complexas de dentes anteriores

Facetas

Periodontite avançada

Endodontia uni e bi-radicular

Pré-clínica IIIClínica odontológica III

Perfil I + II + III

Restaurações complexas em dentes posteriores

Restaurações indiretas

Endodontia tri-radicular

Biópsia / citologia

Aumento de coroa clínica

Cirurgia dentes inclusos.

Pré-clínica IVClínica Integrada I

Perfil I + II + III + IV

Restaurações indiretas

Endodontia tri-radicular e retratamento uni e bi-radicular

DCM leve

Cirurgia oral

Clínica Integrada II

As disciplinas de Oclusão, Prótese Dental Total, Prótese Parcial Removível,

Prótese Buco-maxilo-facial e Prótese Parcial Fixa passaram a compor as disciplinas

de Prótese Dentária I, II, III e IV. A Implantodontia continua com a mesma

composição.

Para estas disciplinas também foram propostos perfis específicos de pacientes,

que se encontram descritos no quadro 4.

2

Quadro 4: Perfis de atendimento dos pacientes das disciplinas de Prótese Dentária I, II, III e IV.

PERFIL DISCIPLINAS

Prótese Total superior

Prótese Removível inferior

Prótese dentária I

Prótese dentária II

Prótese Removível + Prótese Fixa Pré-clínica IV

Prótese dentária III

Prótese Removível + Prótese Fixa

Prótese Total bimaxilar

Prótese dentária IV

As disciplinas de Odontopediatria I e II e Ortodontia Preventiva foram

alteradas para Clínica Infantil I, II e III tendo como objetivo proporcionar uma maior

integração dos conteúdos, a partir dos perfis dos pacientes infantis, descritos no

quadro 5.

Quadro 5: Perfis de atendimento dos pacientes da Clínica Infantil I, II e III.

PERFIL DISCIPLINA

Adequação do meio bucalRestaurações de cicatrículasExodontia simplesRestaurações diretasPrograma de controle e tratamento em ortodontia preventiva e/ou interceptativa

Clínica Infantil I

Perfil 1Terapia pulpar (pulpotomia e pulpectomia)Cirurgias (ulotomias, ulectomias e frenectomias)Restaurações indiretasReabilitação 1 elementoPrograma de controlde de espaço (supervisão de espaço)

Clínica Infantil II

Perfil 1 e 2Reabilitação de mais de 1 elementoTraumatismosReimplantesEmergências

Clínica Infantil III

2

Visando a elaboração de trabalho científico pelo aluno, com orientação docente

foi criada a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) a ser ofertada no

10º semestre.

A sistematização destas alterações encontra-se no quadro 6.

Quadro 6: Número de créditos das disciplinas de Ciências Odontológicas no currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3)

Anterior Créd Atual CrédMateriais dentários I e II 12 Iniciação Clínica 4Escultura Dental 4 Propedêutica Clínica I 6Patologia Bucal 6 Propedêutica Clínica II 4Radiologia 6 Propedêutica Clínica III 4Semiologia Bucal 6 Pré-Clínica I 6Cirurgia Odontológica I e II 12 Pré-Clínica II 10Dentística Operatória 6 Pré-Clínica III 4Oclusão 6 Pré-Clínica IV 6Dentística Restauradora I e II 12 Clínica Odontológica I 10Endodontia I e II 10 Clínica Odontológica II 10Farmacologia II 3 Clínica Odontológica III 10Prótese Dental Total 6 Prótese Dentária I 6Periodontia I e II 12 Prótese Dentária II 6Prótese Parcial Removível 6 Prótese Dentária III 6Cirurgia e Traumatologia B.M.F. 4 Prótese Dentária IV 8Prótese parcial fixa 8 Clínica Integrada I 10Prótese buco-maxilo-facial 2 Clínica Integrada II 10Clínica Integrada I 20 Clínica Integrada III 20Clínica Integrada II 20 Clínica Integrada IV 20Implantodontia 2 Clínica Infantil I, II e III 18Odontopediatria I e II 12 Implantodontia 2Ortodontia Preventiva 6 TCC 2

TOTAL 181 TOTAL 182

As áreas de Estágio Extra-mural I e II e Clínicas Integradas I, II, III e IV

configuram-se como estágios curriculares desenvolvidos sob supervisão docente, de

forma articulada e com complexidade crescente ao longo do processo de formação.

Estas atividades correspondem a 23,7% do total da carga horária prevista no

2

currículo, contemplando a exigência de pelo menos 20% do curso destinado a

estágio curricular supervisionado.

A proposta prevê, ainda, como uma de suas disciplinas optativas Atividades

Complementares, com a finalidade de aproveitamento de conhecimentos por meio

de estudos e práticas vinculados às monitorias, programas de iniciação científica,

estágios, programas de extensão e atividades realizadas em outras áreas do

conhecimento que contribuam para a compreensão, interpretação, preservação,

reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, em um contexto de

pluralismo e diversidade cultural.

Para coerência com o currículo proposto, as avaliações dos alunos deverão

ocorrer de forma processual, baseadas nas competências, habilidades e conteúdos

curriculares permitindo constante acompanhamento do aluno.

5. CONCLUSÃO

Há necessidade de capacitação constante do corpo docente visando a plena

utilização de metodologia pedagógica com base na construção do conhecimento

para se obter todos os benefícios de um currículo integrado. A partir daí pode-se

efetivamente alterar o papel do professor de transmissor do conhecimento para

planejador e organizador do curso, orientando e estimulando a leitura e interpretação

de trabalhos científicos, desenvolvendo e estimulando a capacidade crítica dos

alunos, apoiando-os e orientando-os a superar dificuldades, colaborando no

desenvolvimento de seminários e discussões de casos clínicos, estratégias com

enfoque em situações-problema.

A presente proposta, implantada no primeiro semestre de 2005, configura-se

como um enorme desafio tendo em vista ser o Curso de Odontologia da UNIFOR,

atualmente, uma referência no ensino odontológico brasileiro, o que pode ocasionar

certa apreensão pela insegurança do “novo”. Entretanto, o envolvimento do corpo

docente, a estrutura proporcionada pela UNIFOR e a constante busca da excelência

técnico-científica de todos aqueles que fazem o Curso de Odontologia permitem

acreditar que qualquer avanço só é possível quando no processo de evolução

estaremos todos sempre “ensinando e aprendendo”.

3

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais do curso de graduação em

Odontologia. Resolução CNE/CES 3 de 19 de fevereiro de 2002. DOU de 4 de março

de 2002, seção 1, p. 10. Brasília, 2002.

POSNER, G.J. Analyzing the curriculum. 2 ed. New York: McGraw-Hill, 1995.

SCHIMIDT, H.G.; MOUST, J.H.C. Processes that shape small-group tutorial

learning: a review of research. Maastricht: Lawrence Erlbaum, 2000.

TOMAZ J.B.C. O desenho de currículo. In: Mamede, S, Penaforte, J. Aprendizagem

Baseada em Problemas: anatomia de uma nova abordagem educacional. Fortaleza:

Hucitec/Escola de Saúde Pública do Ceará, 2001.

3

CAPÍTULO 2Metodologia da problematização: uma escolha político-pedagógica

Thiago Pelúcio Moreira

Luiz Roberto Augusto Noro

Rita de Cássia Moura Diniz

Denise Klein Antunes

Christina César Praça Brasil

Fátima Maria Fernandes Veras

Aldo Angelim Dias

Maria Cristina Germano Maia

Samuel Ilo Amorim

1. INTRODUÇÃOUma das maiores especificidades do ser humano é a racionalidade, qual seja,

a utilização da razão para conhecer ou julgar a relação entre pensamentos lógicos,

levando a alguma conclusão por meio da capacidade de refletir e relacionar os fatos

que explicam ou podem explicar determinado fenômeno. Tal especificidade levou o

homem a dominar o mundo, passando a controlar os animais (grandes predadores

dos homens nas eras mais remotas), alterar o curso da natureza (com o uso da

tecnologia e da informação) e permitir que problemas como miséria, fome, injustiças,

guerras levassem homens a procurarem dominar uns aos outros pela presença de

um destes fatores, utilizados por meio da racionalidade no planejamento e

formulação de estratégias.

Assim, o homem tem utilizado todo seu potencial para construir grandes

avanços em seu mundo que só podem ser conquistados pela sua capacidade ímpar

de aprender. Este aprendizado pode ser desenvolvido de maneiras inúmeras,

passando desde metodologias pedagógicas altamente elaboradas em múltiplas

teses de doutorado, até o mais tradicional condicionamento que permite à criança

não morrer de fome quando apela para o seio de sua mãe em busca de comida.

Para aqueles que têm na educação seu grande objeto de trabalho, e por que

não dizer, seu projeto de vida, o desafio permanente é a busca por formas que

permitam aos seus alunos o melhor aprendizado possível. Este é o papel do

educador que tem que ser coerente com a missão de dar ao mundo a possibilidade

3

que os avanços sonhados sejam efetivamente alcançados na conquista plena da

cidadania.

Sabe-se que todos os processos educativos são concebidos para conseguir

que as pessoas aprendam alguma coisa e assim, venham a modificar seu

comportamento, mas a opção pedagógica adotada para tal fim reflete o contexto em

que se insere.

De fato, ASSMAN (1998) já dizia que educar é fazer emergir vivências do

processo de conhecimento, tendo como produto as diversas experiências de

aprendizagem e não apenas a aquisição de conhecimento concebido como simples

transmissão. Para o autor, a educação só conseguiria bons resultados quando se

preocupasse em gerar experiências de aprendizagem, criatividade para construir

conhecimentos e habilidades para acessar fontes de informação sobre os mais

variados assuntos.

Esta procura por um paradigma tem apontado a grande necessidade das

Universidades brasileiras em reverem suas estruturas metodológicas, já que

segundo VASCONCELOS (1993), a deficiência da prática educativa encontra na

metodologia, no modo de fazer a educação, uma de suas causas.

BORDENAVE e PEREIRA (1998) elencam alguns pontos-chave para a

melhoria do ensino superior como: possuir uma visão integral dos problemas,

compreender o processo de aprendizagem, conhecer melhor o aluno, planejar os

cursos em forma sistêmica e integrada, ensinar os alunos a estudar e a aprender,

saber como introduzir inovações, incentivar a participação ativa dos alunos, melhorar

a comunicação professor-aluno, desenvolver nos alunos a atitude e a habilidade da

pesquisa e racionalizar a avaliação.

Nesta perspectiva, uma das estratégias que têm sido utilizadas para tentar

alcançar estes objetivos são as metodologias ativas de aprendizagem, em especial

na área da saúde, a Metodologia da Problematização.

Para GOULART et al. (2001) a educação problematizadora tem como

fundamentação o estímulo à autonomia do aluno por meio da participação ativa e

crítica no processo de aprendizagem (aprender a aprender). Esta educação trabalha

a construção de conhecimentos a partir da vivência de experiências significativas.

Apoiada nos processos de aprendizagem por descoberta, os conteúdos de ensino

não são oferecidos aos alunos em sua forma acabada, mas na forma de problemas,

cujas relações devem ser descobertas e construídas pelo aluno, que precisa

3

reorganizar o material, adaptando-o a sua estrutura cognitiva prévia, para descobrir

relações, leis ou conceitos que precisará assimilar.

Como se trata de uma educação centrada na aprendizagem e não no ensino, o

professor passa a assumir um papel de facilitador do processo ensino-

aprendizagem, estimulando e ajudando o aluno a construir seu próprio

conhecimento.

Considerando estes pressupostos, o Centro de Ciências da Saúde (CCS) da

Universidade de Fortaleza definiu como opção política-pedagógica, a adoção da

Metodologia da Problematização enquanto estratégia para capacitação de seu corpo

docente, vislumbrando os grandes avanços que tal proposta poderiam representar.

2. A METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃOFilosoficamente, a educação problematizadora existe, na verdade, desde a

antigüidade grega. Como lembra BERBEL (1999), a “maiêutica de Sócrates (469-

399 a.C.) já possuía características problematizadoras e pode-se dizer que suas

contribuições estão presentes nos pressupostos filosóficos da Metodologia da

Problematização”.

Internacionalmente, na área da saúde, metodologias problematizadoras

surgiram na década de 1980, em virtude da necessidade de buscar currículos

orientados para problemas que melhor definissem como os estudantes aprendem e

que habilidades cognitivas e afetivas estão sendo adquiridas. De acordo com

FELETTI (1993) uma proposta foi implementada na Universidade do Havaí, no curso

de Enfermagem, nomeada como “ensino baseado na investigação” (inquiry based

learning), que inclui uma abordagem interdisciplinar de aprendizagem e solução de

problemas, pensamento crítico e responsabilidade do aluno pela sua própria

aprendizagem.

No cenário brasileiro a Metodologia da Problematização, de acordo com

PEREIRA (2003) tem suas origens nos movimentos de educação popular que

ocorreram no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando estes movimentos

foram interrompidos pelo golpe militar de 1964. Teve seu desenvolvimento retomado

no final dos anos 70 e início dos anos 80, com a abertura política no final do regime

militar, coincidindo com uma intensa mobilização de educadores. O objetivo era

buscar uma educação mais crítica, a serviço das transformações sociais,

econômicas e políticas, tendo em vista superar as desigualdades sociais.

3

Segundo CYRINO e TORALLES (2004), a Metodologia da Problematização

representa uma das manifestações do construtivismo educacional, estando

fortemente marcada pela dimensão política da educação e comprometida com uma

visão crítica da relação educação e sociedade. Volta-se à transformação social, à

conscientização de direitos e deveres do cidadão, mediante uma educação

libertadora, emancipatória, dirigindo-se para a transformação das relações pela

prática conscientizadora e crítica.

BERBEL (1998) acrescenta que na problematização há a necessidade não só

de uma clara postura metodológica em relação ao processo de pesquisa e que o

aluno deverá desenvolver ativamente, mas também de uma coerente postura

política em relação ao processo educativo e aos problemas relativos ao tema em

estudo. Pelas características do trabalho com o conhecimento, após o estudo de um

problema poderão surgir outros desdobramentos sobre o tema, exigindo do

professor e dos alunos o contato com situações ou conteúdos que não foram

previstos pelo professor, num primeiro momento, mas que precisarão ser

investigados por serem relevantes à compreensão do problema.

Para LIMA JÚNIOR (2002), este novo paradigma pedagógico prepara os

alunos para assumir uma postura mais crítica, trabalhar em grupo, cooperar e

desenvolver um raciocínio lógico, com base nas mais diferentes situações que

deverão enfrentar na vida profissional. Também leva o aluno a se envolver com a

própria preparação profissional, assumindo responsabilidades em sua formação,

estando, assim, mais comprometido e mais motivado para o estudo, redirecionando

seu olhar para o futuro.

Uma referência para utilização desta metodologia, no ensino médio e

universitário, está presente em BORDENAVE e PEREIRA (1998). Estes autores

propuseram um esquema de problematização da realidade, desenvolvido por

Maguerez conhecido como “Método do Arco”, apoiado em cinco etapas: observação

da realidade, levantamento dos pontos-chave, teorização, formulação de hipóteses

de solução e aplicação à realidade.

O processo de ensino-aprendizagem parte da observação de um aspecto

selecionado da realidade que pode ser pela observação direta de uma situação real

ou, quando isto não é possível, através de meios audiovisuais, modelos etc. Ao

observar a realidade, os alunos expressam suas percepções pessoais, efetuando

uma primeira leitura desta realidade. Na segunda fase, os alunos identificam nesta

3

observação inicial o que é realmente importante, identificando os pontos-chave do

problema.

Os alunos passam, então, à teorização do problema ao questionar o motivo dos

eventos observados, propondo uma primeira explicação para os mesmos que será

comparada com os conhecimentos científicos existentes sobre tal problema. Com

isto o aluno tem a possibilidade de aprender a partir dos fatos contidos no cotidiano

da prática pedagógica, mas também tendo como subsídio a pesquisa. Se a

teorização é bem sucedida, o aluno chega a entender o problema não somente em

suas manifestações empíricas ou situacionais, mas também os princípios teóricos

que o explicam. Essa etapa de teorização é altamente enriquecedora e permite o

crescimento intelectual dos alunos.

Confrontada a realidade com sua teorização, o aluno se vê naturalmente

movido à formulação de hipóteses de solução para o problema, utilizando a

realidade para aprender com ela, ao mesmo tempo em que se prepara para

transformá-la.

Na última fase, o aluno pratica e fixa as soluções encontradas como sendo

mais viáveis e aplicáveis. Aprende a generalizar o aprendido para utilizá-lo em

situações diferentes e a discriminar em que circunstâncias não é possível ou

conveniente a aplicação.

Assim, pode-se dizer que a metodologia da problematização, além de uma

nova proposta pedagógica, é uma filosofia de trabalho, pois contempla e busca, de

maneira eficiente e prática, o equilíbrio dos três pilares da educação em saúde: o

ensino teórico, a pesquisa e o ensino prático.

3. A EXPERIÊNCIA DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

A adoção da Metodologia da Problematização na área da Saúde da

Universidade de Fortaleza ocorreu da necessidade de formação de alunos mais

críticos, criativos e autônomos, que fossem responsáveis pelo desenvolvimento do

seu aprendizado, capazes de observar a realidade e dela extrair os principais pontos

de observação e a solução de problemas visualizados.

KANITZ (2005) relata que o ensino brasileiro é voltado para perguntas prontas

e definidas e que nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência de

que todas as questões do mundo já foram formuladas e solucionadas. Isso dificulta

3

que eles aprendam a fazer boas perguntas na vida, o que, segundo o autor, é mais

importante do que as respostas.

Esta visão ganha dimensão altamente significativa quando observamos em

todas as redações das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de

graduação na área da Saúde a defesa da utilização de metodologias ativas de

aprendizagem, transformando a lógica da formação em algo ligado ao sistema de

saúde vigente no país, a ser executado por profissionais de saúde efetivamente

comprometidos com a qualidade de vida da população.

3.1. UM POUCO DA HISTÓRIA...A vivência com a Metodologia da Problematização teve início quando, a partir

das atividades de estágio na comunidade desenvolvidas por docentes e alunos de

quatro cursos do Centro de Ciências da Saúde (Odontologia, Enfermagem,

Fonoaudiologia e Fisioterapia) na Comunidade do Dendê, foram observadas

determinadas inadequações pela falta de articulação entre os saberes e práticas

desenvolvidos nestes estágios, tendo como conseqüência a não existência de uma

visão interdisciplinar e multiprofissional.

Partindo da idéia de refletir tais práticas, vislumbrou-se a possibilidade de

transformar o conhecimento acadêmico em mecanismo de estímulo à inversão da

lógica da atenção à saúde prestada à clientela, que tinha seu foco centrado no

paciente e na doença, posto que alguns cursos tinham seus currículos muito

voltados a um modelo biomédico e tecnicista. A nova lógica proposta sugere que o

foco da atenção seja reelaborado no sentido de se compreender que o processo

saúde-doença, assim como na visão de BREILH (1994), possa ser entendido como

histórico e dinâmico, não se constituindo em um campo separado de outras

instâncias, portanto extrapolando os limites de uma prática técnico-científica.

Buscando consolidar essa proposta, em dezembro de 2001 foi realizada a

Oficina de Capacitação Pedagógica, que contou com a participação de 30 docentes

dos diversos cursos do Centro de Ciências da Saúde e 15 profissionais do serviço

(Núcleo de Atenção Médica Integrada - NAMI), a fim de esboçar, dentre outras, uma

proposta com os mesmos conteúdos programáticos em todas as disciplinas com

práticas na Comunidade do Dendê, utilizando-se, inclusive, das mesmas estratégias

pedagógicas. Tal ação visava favorecer aos docentes e profissionais do NAMI a

efetivação de uma proposta pedagógica capaz de articular o saber e o fazer dentro

3

de uma visão crítica e reflexiva, aliando a competência técnica (o domínio do saber e

do saber fazer) com a competência política (saber ser). Um dos momentos que merece destaque foi o reconhecimento, por parte da

direção do Centro de Ciências da Saúde de uma proposta que, de certa forma, vinha

na contra-mão da história, pois partia do serviço e não da docência. E o seu caráter

de vanguarda ecoou de tal forma que todos os professores da área da Saúde

Coletiva que participaram do processo de capacitação passaram a reformular suas

propostas pedagógicas e vislumbrar novas possibilidades no processo ensino/

aprendizagem. Naquele momento estava lançada a idéia para a proposta de

capacitação de todos os professores na Metodologia da Problematização.

3.2. UM POUCO DA EXPERIÊNCIA...Em julho de 2003, o Centro de Ciências da Saúde inicia efetivamente o

processo de capacitação dos seus professores, tendo sua origem se dado a partir da

experiência desenvolvida nas disciplinas de Saúde Coletiva. É importante esclarecer

que tal iniciativa só foi possível pela decisão política da Direção do Centro e de um

grupo de professores que, coerentes com sua experiência pedagógica com a

referida metodologia, puseram-se à disposição de tal projeto.

A proposta consistia em capacitar os professores e, ao mesmo tempo,

identificar aqueles com perfil adequado a atuarem como multiplicadores do

processo, de tal forma que, ao final, fossem capacitados todos os professores do

Centro de Ciências da Saúde.

Para a sua implantação, todos os cursos partiram de uma capacitação, com

duração de 40 horas/aula, onde houve um direcionamento teórico-prático sobre os

objetivos e as possibilidades do método. Após essa fase, veio a proposta de que o

corpo docente dos cursos passasse a realizar acompanhamentos periódicos com os

professores experientes no processo, ampliando as perspectivas de discussão e

pontuando os pontos fortes e fracos dentro de cada realidade, a fim de favorecer a

troca de experiências.

Até então, já foram capacitados 240 professores, o que corresponde a 78% do

total de professores do CCS e 14 professores que atuam como instrutores ou

monitores no processo de capacitação.

Todo esse desafio levou os cursos a uma discussão e atualização sobre seus

projetos pedagógicos, uma vez que a nova proposta pedagógica impacta nas várias

3

dimensões ligadas ao ensino, partindo da capacitação docente e evoluindo a novas

propostas curriculares. Desse contexto, participam ativamente docentes e discentes,

facilitando a compreensão desta mudança.

Foram encontradas dificuldades diante da reestruturação metodológica.

Inicialmente, além da capacitação do professor, foi necessária uma conscientização

do aluno, uma vez que este sai de um padrão de receptor de informações/

conteúdos para uma dimensão de construtor responsável por seu perfil profissional.

Sabendo que a quebra de paradigmas gera resistências, percebemos que nossos

alunos, inicialmente, manifestaram insegurança, negação, dúvidas, entre outros

comportamentos que revelaram a dificuldade em assimilar e desenvolver a proposta.

Segundo SANTOS (2002), na sua experiência com metodologias inovadoras, a

reação dos alunos diante da mesma foi de irritação e falta de compreensão do papel

do professor como facilitador do ensino-aprendizagem, uma vez que eles,

inicialmente, não percebem a sua própria importância como atores dentro dessa

perspectiva. A autora relata ainda que “as pessoas sempre foram escravas e

demitidas da função de pensar, então qual é o raciocínio do aluno? Que ele vai fazer

o curso, que o professor vai ensinar e que ele vai aprender, não é assim?”

Outro aspecto a ser considerado diz respeito à proporção professor/aluno,

sendo as disciplinas práticas e estágios supervisionados as que mais favorecem a

aplicação da metodologia diante do número reduzido de alunos. Nas disciplinas

teóricas, entretanto, que possuem maior número de alunos, procura-se utilizar

estratégias que também levem o aluno a ser mais ativo e questionador.

Nesta etapa de enfrentamento das dificuldades, foi muito relevante a

cooperação entre os cursos, diante das contribuições que os professores que

participaram da capacitação há mais tempo deram aos mais recentes ingressos na

metodologia. A cada novo curso de capacitação eram identificados novos

facilitadores e monitores que muito acrescentaram para a implantação e

implementação da nova metodologia no Centro de Ciências da Saúde.

Esses professores são referências no CCS e têm como compromisso alavancar

as mudanças e trocar experiências que obtiveram êxito com outros professores que

os procuram, além de ajudá-los a compreender algumas limitações. Esse processo

coletivo é valioso, pois, segundo BORDENAVE (1992), “a pedagogia da

problematização não separa a transformação individual da transformação social,

motivo pelo qual ela deve desenvolver-se em situação grupal”, nas dimensões que

3

envolvem os professores, os alunos, a sociedade e outros elementos pertinentes à

educação.

Partindo de relatos de professores e coordenadores de cursos, observaram-se

os primeiros resultados, visto que referem encontrar alunos mais envolvidos com as

disciplinas, mais dinâmicos e curiosos, demonstrando mais autonomia. O que

concorda com PIAGET (1986), quando refere que os alunos passam por esforço

próprio do domínio das operações concretas para as abstratas, conferindo-lhes um

maior poder de generalização e extrapolação.

FREIRE (1996) refere que o professor precisa mover sua prática com clareza,

conhecendo as diferentes dimensões que caracterizam a essência da sua prática, o

que pode torná-lo mais seguro do seu próprio desempenho. Assim, o melhor ponto

de partida para essas reflexões é a compreensão de que o ser humano se tornou

consciente e que a capacidade de aprender é, sobretudo, importante para

transformar a realidade e para nela intervir. Nos dias atuais, o aluno depara-se

constantemente com novos desafios, casos e problemas para resolver precisando

ter vasto conhecimento, ser hábil e objetivo, favorecendo a resolutividade em cada

situação.

Outro fator importante, é que as aulas ministradas dentro da perspectiva da

problematização passaram a exigir do professor um maior planejamento e

acompanhamento do processo, além de possibilitar a diversificação dos recursos e

espaços que favorecem a interlocução entre o facilitador e o aluno.

Nos planejamentos semestrais dos cursos sente-se a necessidade de uma

programação intra e interdisciplinas, favorecendo um maior encadeamento

metodológico. Nessa perspectiva, os projetos e planos de ensino das disciplinas

precisaram ser ajustados ao novo fazer. Houve, ainda, a necessidade de um

redimensionamento de conteúdos e práticas dentro de cada disciplina, tornando-as

mais integradas e flexíveis. Assim, ao longo dos semestres, as experiências

pedagógicas envolvendo a problematização ampliam-se e o amadurecimento do

grupo avança. Novas atividades são compartilhadas e o nível de satisfação do aluno

e do professor eleva-se simultaneamente.

O processo de avaliação, dentro da nova metodologia, é um ponto de

discussão constante tendo em vista a necessidade de melhor adequação desta

prática, que seja coerente com o sistema proposto pela Universidade de Fortaleza.

Tenta-se ampliar a abrangência da avaliação para que seja mais sensível a todas as

4

dimensões do processo ensino-aprendizagem e não se desenvolva apenas por meio

da aplicação de provas ou atividades pontuais.

Há muito trabalha-se nessa evolução por compreendemos essa necessidade.

Não se pode avançar na pedagogia, mantendo-se a avaliação tradicional. Para

HOFFMANN (1991), é necessário sair do modelo “transmitir-verificar-registrar” e

evoluir no sentido de uma ação avaliativa reflexiva e desafiadora do educador em

termos de contribuir, elucidar e favorecer a troca de idéias entre o professor e seus

alunos, numa postura de superação do saber transmitido a uma produção de saber

enriquecido.

O aluno não constrói seu conhecimento com base somente em conteúdos, mas

também desenvolve a cada dia habilidades, atitudes e competências necessárias a

sua atuação profissional. Vários autores concordam que não se pode perder de vista

o objetivo principal da ação educativa, que é desenvolver a personalidade integral do

aluno, sua capacidade de pensar e raciocinar, assim como seus valores, hábitos,

comportamentos etc.

3.3. UM POUCO DA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ODONTOLOGIAA aproximação dos professores do Curso de Odontologia da Universidade de

Fortaleza data de 1999 quando, a partir das discussões realizadas por meio da

XXXIII Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico e por meio das

Oficinas Pedagógicas para construção do Projeto Político Pedagógico do Curso,

foram discutidas as várias formas de aprender e ensinar mais tradicionalmente

utilizadas no ensino universitário.

Na ocasião, foi consenso que as Metodologias de Condicionamento e de

Transmissão de Conhecimentos não contemplam as necessidades de formação de

alunos ativos e conscientes de seu papel de futuros profissionais de Saúde

vinculados aos interesses da comunidade que atuam, além do desenvolvimento de

ações com base na promoção de saúde.

Assim, já naquela ocasião, houve consenso que haveria a necessidade de se

buscar novas formas de desenvolver o processo ensino-aprendizagem que não

tivessem no condicionamento ou na transmissão de conhecimento seu maior

referencial.

Dentro das Oficinas Pedagógicas foi lançado o desafio de se desenvolver

atividades por disciplina que procurassem seguir a Metodologia da Problematização.

4

Nesta primeira abordagem, apesar das dificuldades, todas as áreas de

conhecimento apresentaram propostas bastante criativas, o que deixou clara a

perspectiva de se buscar este caminho.

Ao longo dos cinco últimos anos várias experiências, quer em disciplinas

isoladas no curso, quer em capacitações pedagógicas da qual participaram docentes

a partir de seu interesse particular, muito tem se discutido a possibilidade real de

melhorar o processo ensino-aprendizagem a partir deste referencial.

Com a previsão da aprovação da nova proposta curricular do Curso de

Odontologia, que tem em sua concepção o desenvolvimento de um currículo

integrado, viabilizado por meio da utilização de uma metodologia ativa de

aprendizagem, todos os professores do Curso de Odontologia participaram de

Capacitação Pedagógica em Problematização nos meses de julho de 2004 e janeiro

de 2005. A finalidade destas capacitações era permitir aos professores o

planejamento adequado de projetos de ensino dos novos campos de conhecimentos

definidos do currículo integrado, a partir de metodologia pedagógica compatível.

Espera-se que, com o aprofundamento da percepção do corpo docente sobre

as possibilidades efetivas dos avanços, assim como a compreensão do corpo

discente quanto ao real ganho em sua formação, que a metodologia não represente

apenas uma nova forma de ensinar e aprender, mas signifique uma ruptura radical

com o conformismo e a mesmice de processos que não estimulam nem professores,

nem alunos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia abordada favorece a integração entre o ensino e o serviço,

levando à reflexão sobre o sujeito que aprende, o objeto a ser aprendido, a interação

sujeito-objeto, restando ao professor o papel de facilitador desse processo. Esse

processo aumenta ainda mais a capacidade que o professor terá de estabelecer

relações concretas entre teoria e realidade.

O desenvolvimento de competências na formação profissional em Saúde,

segundo BONFIM (2000), tem na reflexão da realidade e na resolução de situações-

problemas reais vividas pelos alunos e proposta metodológica central - visto que

uma competência não se constrói em situações abstratas e sim concretas.

4

As práticas já vivenciadas com essa metodologia dão conta de que, por meio

da aplicação da mesma, vislumbra-se a possibilidade de se construir uma prática

crítica e transformadora.

É importante lembrar que, quando ensinamos, não basta apenas o domínio do

conhecimento ou dos conteúdos específicos, devendo-se considerar a maneira de

se repassar este conhecimento para o aluno, o que implica também saber

desenvolver as habilidades inerentes à prática, como também um mínimo de

formação pedagógica para se formarem profissionais de Saúde capazes de

transformarem a realidade sócio-sanitária do país. É preciso também que, nessa

transformação da realidade, procurem-se sempre novos conhecimentos e novas

formas de “ensinar e apreender”.

Importante ressaltar que a proposta feita pelo Centro de Ciências da Saúde da

Universidade de Fortaleza não pode ser considerada conclusiva, posto sabermos

que essa tarefa é tão somente o início de uma experiência que trará novas bases

para a reflexão, o que vai exigir do professor uma incessante busca junto aos seus

pares para o aperfeiçoamento da metodologia.

4

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAASSMAN, H. Reencantar a Educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis:

Vozes, 1998.

BERBEL, N.A.N. (org.). Metodologia da problematização: fundamentos e aplicações.

Londrina: Editora UEL/INEP, 1999.

BONFIM, M.I.R.M. Proposta Pedagógica: as bases da ação. Brasília: Ministério da

Saúde; Rio de Janeiro:Fundação Osvaldo Cruz,Escola Nacional de Saúde

Pública,2000.98p.

BORDENAVE, J.D.; PEREIRA, A.M. Estratégias do ensino-aprendizagem. 19 ed.

Petrópolis: Vozes, 1998

BORDENAVE, J.D.; PEREIRA, A.M. Estratégias do ensino-aprendizagem. 14 ed.

Petrópolis: Vozes, 1992

BREILH,J. Epidemiologia teoria e objeto. In: Costa, D.C (Org) . A reprodução social

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220p.

CYRINO, E.G.; PEREIRA, M.L.T. Trabalhando com estratégias de ensino-

aprendizado por descoberta na área da saúde: a problematizacação e a

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FELETTI, G. Inquiry based and problem based learning; how similar are these

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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 24

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GOULART, L.M.H.F. et al. Aprendizagem baseada em problemas em microbiologia

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LIMA JÚNIOR, E. O Dilema do biscoito e o ensino universitário. Revista Brasileira de

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KANITZ, S. Qual é o problema? Capturado em 25 de abril de 2005 de

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4

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NESC/UFRN, 2002, p. 67-68.

VASCONCELOS, I. A metodologia enquanto ato político da prática educativa. In:

CANDAU, V.M. Rumo a uma nova didática. 5ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.

4

CAPÍTULO 3Espaços de Saúde: é possível humanizar?

Patrícia Pinheiro Santos Moura

Heleni Barreira de Brito

Sharmênia de Araujo Soares Nuto

Rosanne Maria Medina Ávila Gomes

Morgana Pontes Brasil Gradvohl

Sandra Régia A. Ximenes

Odontologia e humanização

Escrever sobre o Projeto de Humanização do Curso de Odontologia desta

universidade nos leva inicialmente a pensar sobre o conceito de humanização a

partir de diversas áreas do conhecimento e a rever os princípios da Odontologia,

ainda sob o paradigma cirúrgico-restaurador, para, em seguida, interligá-los ao atual

paradigma de promoção de saúde, abordando os diversos espaços construídos no

curso: a ouvidoria, o acompanhamento psicológico e a sala de espera saudável.

Todos esses espaços buscam viabilizar mudanças de atitudes na construção de

uma cultura do tratar bem, na medida em que visam estabelecer a filosofia da

humanização nos atendimentos de saúde e assim contribuir com a formação

pedagógica do aluno. Nesse sentido, acredita-se estar refletindo sobre as práticas

tradicionais e atuais de saúde dentro de uma visão da totalidade do ser humano.

De acordo com definições contidas em dicionários da língua portuguesa, a

palavra humanizar significa “tornar humano, dar condição humana a alguma coisa,

“humanar”, tornar benévolo, afável, tratável, fazer adquirir hábitos sociais polidos,

civilizar”.

Os dicionários filosóficos apresentam para a palavra humanismo a seguinte

conceituação: deriva do latim e significa humanus. Quanto ao termo humanista diz

que é aquele cuja visão de mundo atribui grande valor aos seres humanos e à vida.

A psicanálise é regida pelo humanismo, fundamenta-se na formação cultural de

Freud, seu eminente criador, e se constituiu como sendo essencialmente

humanística. Embora aponte distinção entre os conceitos de humanização e

hominização, ressalta que o trabalho analítico está sobretudo a serviço deste último.

4

Para a antropologia, a humanização estaria relacionada fundamentalmente com

a primazia da capacidade simbólica própria do ser humano.

Na psicologia, merece destaque o posicionamento humanista de Erich Fromm,

o qual propõe a tese de que o homem, paralelamente à liberdade que tem

conquistado através da história, tem se distanciado cada vez mais de seus

semelhantes, na busca por espaços e sucesso material. O autor acrescenta que

somos animais e humanos, com necessidades fisiológicas e psicológicas

importantes que precisam ser resolvidas. Uma sociedade madura perceberia que a

solução de seus conflitos está no reconhecimento de que nossas necessidades

exigem a participação das outras pessoas.

Outro posicionamento que merece menção na psicologia é o da teoria

humanista apresentada por Carl Rogers, a qual propõe um entendimento holístico e

sistêmico do homem, opondo-se drasticamente às concepções fragmentadoras de

visão do homem, preferindo a compreensão de homem como com potencial criativo

e criador. Essa corrente aborda a psicologia sob a óptica da saúde, do crescimento

e do desenvolvimento.

A humanização, no contexto do Curso de Odontologia da UNIFOR, refere-se à

idéia de melhorar não só a qualidade do atendimento, o que pressupõe uma atitude

de respeito, empatia, aceitação incondicional, dignidade e com-paixão ao cliente e a

sua família, mas também de investir no estabelecimento de relações harmoniosas e

construtivas que envolvem professor / aluno / funcionário. Portanto, significa

considerar a essência do ser, levando-se em conta a subjetividade e a totalidade.

Nesse sentido, o atendimento humanizado requer uma reflexão sobre o

significado da vida e da capacidade de compreender a si mesmo e ao outro. Desse

modo, humanizar os atendimentos na área da saúde consiste em dar qualidade à

relação cliente-profissional de saúde.

As iniciativas realizadas nessa direção são, antes de tudo, tentativas de atender

e de se adequar às solicitações do Ministério da Saúde que, por meio do Programa

Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), pretende melhorar a

qualidade da assistência, prestada nos hospitais e em outros locais de atendimento,

à saúde da população baseada na humanização.

Para alcançar os objetivos desejados na busca do atendimento humanizado em

saúde, faz-se necessário romper com o paradigma reducionista, o qual enfatiza os

padrões biológicos em detrimento dos aspectos sociais, culturais, espirituais e

4

emocionais; substituindo-o por uma concepção que considere a complexidade e

plenitude do ser humano. É notório que, para os serviços de saúde atingirem essa

meta de qualidade e humanização dos atendimentos, deverá contar com a adesão

dos profissionais quanto a uma postura democrática e ética que perceba os seres

humanos como possuidores de direitos, deveres e com a responsabilidade de dar

forma e sentido as suas próprias vidas. No entanto, é contraditório referir-se aos

princípios humanísticos num contexto marcado pelas desigualdades sociais. Desse

modo, espera-se que o profissional identificado com o Projeto de Humanização do

Curso de Odontologia norteie sua práxis na perspectiva da construção de uma

sociedade mais humana, por meio de uma postura ética baseada numa visão de

mundo que confere grande importância aos seres humanos, à vida, à dignidade e as

suas capacidades de criar e transformar o mundo em algo melhor.

Retrospectiva da Odontologia.

No Brasil, a odontologia praticada a partir do século XVI restringia-se quase

que unicamente às extrações dentárias. As técnicas eram rudimentares, o

instrumental inadequado e não havia nenhuma forma de higiene. O barbeiro,

responsável pelas cirurgias, devia ser forte, impiedoso, impassível e rápido

(GARCIA, 2000).

Três séculos depois, em 1884, foi instituído o Curso de Odontologia, baseado

ainda em uma prática arcaica responsável por causar bastante dor, sendo, desse

modo, um dos vetores decisivos na imagem negativa do dentista ainda nos dias de

hoje (CFO, 1998).

Havia nesta época dois ditados populares: “ou casa ou dente” ou “ou dente ou

queixo, ou língua ou beiço”, indicando que, devido ao pouco conhecimento e

inabilidade dos “tira-dentes”, ocorria freqüentemente traumatismos nessas regiões

(GARCIA, 2000).

Com o advento da anestesia local, alguns estudiosos acreditaram que o medo

de dentista pudesse ser deixado para trás, mas isso não aconteceu, pois muitos

pacientes ainda apresentam fobia ao tratamento dentário.

O exercício da profissão era guiado por uma filosofia meramente restauradora,

cujo interesse único consistia em buscar lesões e tratá-las, como se o corpo fosse

separado da mente, ou seja, dividido em partes semelhante a uma máquina. Nessa

4

perspectiva, o corpo não representava um todo, prevalecendo a idéia, advinda da

filosofia de Descartes, de que há uma divisão rigorosa entre corpo e mente (CAPRA,

1982). A conduta odontológica baseada nesses princípios era cheia de insucessos,

pois já apareciam novas lesões em muitos pacientes ainda durante o próprio

tratamento, ou seja, a prática dessa filosofia sequer diminuía a necessidade de

tratamento. Baseado no ciclo vicioso de tratar, retratar e re-retratar, o tratamento era

finalizado, em muitos casos, com a mutilação, isto é, com a extração de dentes.

Ressalte-se que, atualmente, na área do serviço público, as extrações incluem-

se entre os procedimentos mais bem remunerados pelo Sistema Único de Saúde –

SUS fato que eleva a opção pela exodontia como melhor procedimento e favorece a

conseqüente marca anual de cerca de 35 milhões de dentes extraídos na rede

pública, conforme estimativas internas do Ministério da Saúde (1988). Essa forma de

atenção odontológica, baseada no paradigma1 cirúrgico-restaurador, não foi capaz

de evitar que muitas pessoas tivessem problemas bucais e que perdessem seus

dentes na meia idade, além de ter trazido mais frustração aos profissionais do que

saúde bucal para os pacientes. (WEYNE, 1997).

A revolução científica nessa área iniciou-se na década de 60, quando, por meio

de pesquisas, identificou-se que as duas doenças bucais mais prevalentes2, cárie e

doença periodontal, eram de caráter infeccioso. Assim, com o avanço desses

estudos, percebeu-se a inutilidade de resolver os problemas da cárie (que destroem

os dentes) e da doença periodontal (que atinge as gengivas) apenas com

procedimentos restauradores, já que as lesões encontradas representavam somente

as conseqüências e não a causa dessas doenças. A partir dessas descobertas, viu-

se que a cárie e a doença periodontal eram de natureza infecciosa e causadas por

bactérias, estando assim marcado o começo da mudança de paradigma na

Odontologia (LÖE, 1995). Paralelamente, a alteração drástica na tabela de valores

dos serviços odontológicos do SUS ocorre quando se valorizam os procedimentos

relacionados com a prevenção de doenças e a promoção de saúde e as exodontias

deixam de ser atos clínicos mais bem remunerados, iniciando-se, assim, uma

mudança da filosofia norteadora de tratamentos na rede pública. A Associação

Brasileira de Odontologia de Promoção de Saúde (ABOPREV) se organiza e

1 Paradigma, de acordo com KUHN (1975), se entende por um “conjunto de elementos culturais, de conhecimentos e códigos teóricos, técnicos e metodológicos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica”.2 A cárie e a doença periodontal são as doenças mais prevalentes em Odontologia.

4

promove discussões e debates sobre a necessidade de mudança no exercício

profissional e como fazê-la com foco na prevenção, programa que começou a ser

chamado, na década de 90, de Odontologia de Promoção de Saúde (WEYNE,

1997). Apesar do nome, suas ações práticas foram, predominantemente, de

prevenção às doenças dentárias. Ainda assim, esse avanço já se constituiu um

ganho para a Odontologia.

A atenção profissional, antes centrada no tratamento da cárie e da doença

periodontal, evoluiu para os cuidados relativos à prevenção dessas doenças. De

acordo com os importantes relatos de WEYNE (1997), houve melhor compreensão

das propriedades preventivas e terapêuticas dos fluoretos no controle da cárie

dentária, da importância do diagnóstico precoce e do tratamento específico dos

pacientes que apresentavam maior risco para desenvolver lesões de cárie, da

necessidade de essas patologias serem tratadas como patologias e não como

lesões, da importância da biossegurança no controle das infecções cruzadas

(paciente/paciente, paciente/profissional, profissional/paciente) ocorridas nos

consultórios de atendimento e de que o atendimento precisa ser feito em uma

perspectiva multidisciplinar, considerando que os microorganismos presentes nas

doenças bucais podem produzir doenças sistêmicas. Em resumo, toda essa

mudança já resultou em melhoria dos níveis de saúde bucal, embora mantido o

enfoque de saúde como sendo a ausência de doença, não se atentando para o fato

de que a essência da promoção de saúde tem um enfoque amplo, que envolve

fatores psicológicos, sociais, econômicos e biológicos dos indivíduos.

Atualmente, com a ampliação dos conceitos da dinâmica do processo de cárie

e doença periodontal, consideram-se essas doenças decorrentes também de fatores

socioeconômicos e culturais a que as pessoas estão submetidas. A partir dessas

considerações, tem-se a possibilidade de desenvolver reais práticas de saúde; com

vistas a sua promoção, cujos princípios são fundamentados para além do binômio

saúde-doença, fazendo da humanização nos atendimentos uma prática necessária.

Assim, quanto mais o profissional de saúde compreender o modo de vida do

paciente e de seus familiares, tanto mais possibilitará um atendimento humanizado,

em que o paciente possa se expressar e ser escutado, estabelecendo um processo

de empatia que ajuda não apenas na recuperação da saúde desse paciente como

suscita uma maior confiança por parte dos familiares. Essa relação personalizada se

contrapõe à preocupação excessiva e quase exclusiva com os aspectos biológicos.

5

No caso específico da Odontologia, a preocupação deve ser primordialmente o

estabelecimento de uma relação além das extrações e/ou reposições dentais, bem

como a observância da saúde como um todo por meio dos aspectos sociais e

psicológicos.

Diante disso, atender a pessoa valorizando somente o que diz respeito a sua

patologia, sem levar em consideração as causas biopsicossociais do processo de

adoecer, significa atendê-la insatisfatoriamente, por negar toda a sua subjetividade,

desconsiderando-a como um ser social, de inter-relação, fruto de uma cultura, de um

espaço e de um momento histórico-social.

O atendimento no Curso de Odontologia constitui um espaço educativo muito

rico. Para ser bem aproveitado, é fundamental a integração dos diversos segmentos

que o constituem, de modo que todos busquem uma melhor compreensão da

realidade da clientela, de suas histórias de vida e dos significados da doença na vida

de cada um. Para KLEINMANN (1988), a interação entre paciente e profissional de

saúde se faz por meio do diálogo, pela escuta das palavras, tradução e

interpretação, ações as quais o autor suspeita ser a arte da clínica que trata além da

doença propriamente dita.

Ouvir é, portanto, uma postura básica do profissional de saúde. É ouvindo o

paciente que surge a condição de entendê-lo melhor e assim compreendê-lo sob os

diversos aspectos biopsicosociais presentes nas diversas enfermidades. Nesse

sentido, o atendimento humanizado enfoca o paciente além do aspecto biológico,

proporcionando-lhe a possibilidade de pensar e sentir, o que pode despertar nele o

desejo de trabalhar, em conjunto com o profissional, as causas que o levaram a

adoecer e assim contribuir para a recuperação de sua própria saúde.

Dentro dessa perspectiva, serão discutidos os espaços que foram delineados

para contemplar as propostas do Projeto de Humanização do Curso de Odontologia.

Ouvidoria

Dentro de toda organização social, independente da sua natureza, os conflitos

relacionais estão presentes, em maior ou menor grau. As situações de estresse são

benéficas quando são motivos de readaptações positivas, gerando “saltos

qualitativos”. Para isso, há necessidade de ouvir as divergências, tentando entender

cada opinião.

5

Uma das primeiras iniciativas após a formação da Comissão de Humanização

do Curso de Odontologia da UNIFOR foi a instalação da Ouvidoria.

Em se tratando de uma entidade de ensino, a maneira mais adequada que se

encontrou para instaurar o serviço de ouvidoria foi a utilização de urnas, pois, dessa

forma, não havia necessidade de identificação do relator, além de ser o relato escrito

mais fidedigno.

A ouvidoria externa funciona na recepção do curso e destina-se aos pacientes

e seus familiares que podem escrever ou verbalizar suas dúvidas, anseios,

questionamentos, críticas e sugestões, sob a orientação e acompanhamento da

assistente social do curso.

A ouvidoria interna funciona por meio do suporte dos membros da Comissão de

Humanização, quando são procurados diretamente por docentes, discentes e

funcionários, ou por meio das urnas colocadas estrategicamente em locais de

circulação das dependências do curso.

Os participantes do curso de Odontologia, em todas as instâncias, foram

estimulados pela Comissão de Humanização a externarem seus anseios,

questionamentos, críticas a pessoas, disciplinas, estruturas, dentre outras, sugerindo

que somente dessa forma poder-se-ia fazer um curso melhor.

No segundo semestre de 2001, quando instaladas as urnas da ouvidoria

interna, houve intensa procura dos alunos para registrar os conflitos interpessoais

vivenciados entre colegas, professores, alunos e funcionários. Foi um momento

importante de valorização da escuta e do exercício de soluções dos problemas. Era

sugerido sempre não só o relato de problemas, mas as soluções para o conflito

apresentado.

Semanalmente, a Comissão de Humanização fazia a leitura quanti-qualitativa

dos relatos para, em seguida, serem repassadas às devidas pessoas.

Após a sistematização dos relatos e conversas com professores e funcionários,

era-lhes solicitada uma reflexão e conseqüente elaboração, em equipe, de um plano

de desenvolvimento para os principais problemas, visando à minimização de

conflitos existentes.

A elevada freqüência inicial de relatos foi diminuindo gradativamente a cada

semestre, pois os principais pontos de conflitos e os planos de desenvolvimento em

equipe trouxeram algumas sugestões que foram sendo incorporadas em todas as

disciplinas da área profissionalizante, tais como:

5

• momentos de discussão após as avaliações escritas, em que são

debatidos os erros e acertos e outros mecanismos de solução, utilizando

as provas como um meio de aprendizagem e não como fim;

• avaliações práticas, sendo discutidos previamente os critérios a serem

utilizados, e a discussão a cada aula prática (na medida do possível) das

falhas e acertos dos alunos, além do reforço e do acompanhamento mais

intenso aos alunos com maior dificuldade de aprendizagem, seja motora,

cognitiva ou afetiva;

• fixação da orientação das aulas práticas com o mesmo professor durante

todo o semestre, tornando possível acompanhar a evolução e o

aprendizado dos alunos;

• conversas periódicas com alunos (representantes de turma), professores

(colegiado e reuniões por área) e funcionários, buscando sempre prevenir

a ocorrência de conflitos e, quando estes ocorrerem, buscar soluções

imediatas, não deixando causar repercussões maiores, que afetem o

entrosamento dentro do curso;

Esse processo dialético tem continuidade, objetivando atingir novas melhorias.

Acompanhamento Psicológico

A criação e regulamentação de gabinetes de acompanhamento psicológico de

alunos são estratégias fundamentais de enfrentamento dos problemas crescentes

que se têm identificado em termos de saúde mental dessa faixa etária (19 a 23

anos). Esses serviços podem atingir os alunos antes de os problemas mais sérios se

desenvolverem, tendo um papel importantíssimo na prevenção. O serviço de

acompanhamento psicológico pode potencializar, de certa forma, os processos de

aprendizagem e de construção da carreira, contribuindo para o progresso

acadêmico, a integração sociocultural e o bem-estar do aluno(O’ CONNOR,2001).

Nos grandes centros urbanos, prevalece a idéia de que a Instituição de Ensino

Superior que apóia e mantém um serviço de acompanhamento psicológico para

seus alunos assume, assim, a função de promotora do bem-estar do estudante

(GONÇALVES, 2000).

5

Entretanto, esse esforço não deve se restringir apenas à esfera de um único

curso, mas deve ser estendido aos diversos centros da Instituição (TAVARES,

2000).

Existe atualmente um interesse crescente, quer da parte de professores e

pesquisadores, quer da parte de políticos e gestores da área educacional, a respeito

do papel e função da educação superior, existindo um vasto material sobre o

assunto (SOARES, 2000), o que remete à seguinte indagação: Qual seria a missão

da Instituição de Ensino Superior numa época de drásticas mudanças de ordem

política, econômica e social? Que tipo de serviço deve a Instituição de Ensino

Superior prestar e com que finalidade?

Essas inquietações e questionamentos não se processam de forma

desconectada da constatação das pessoas que a freqüentam, exigindo uma reflexão

sobre as conseqüências no processo de democratização do acesso ao ensino

superior.

Nesse contexto de contemporaneidade, as instituições de ensino superior dos

países industrializados se defrontam com expectativas sociais elevadas quanto a

sua missão e finalidade. A missão pública de educação e formação, a construção e

difusão do conhecimento científico e tecnológico, a participação no desenvolvimento

econômico, social e cultural dos cidadãos e da sociedade e a construção de práticas

e políticas de qualidade seriam alguns dos principais desafios (Santiago et al, 2001).

A instituição de ensino superior enfrenta ainda a crise ideológica, resultante da

transposição para o mundo da educação da lógica empresarial e da linguagem de

marketing e dos seus processos e resultados educativos.

Nesta perspectiva, os serviços de acompanhamento psicológico de estudantes

universitários se configuram como espaços legítimos e de fundamental importância

dentro das instituições de ensino superior, na medida em que se constrói e se

desenvolve como unidade de serviço entre duas culturas: a cultura acadêmica e a

cultura da sociedade em que a instituição de ensino superior está inserida, de modo

a não privilegiar somente a aquisição de competências técnicas formais, mas

podendo também interferir positivamente no pleno desenvolvimento de

competências humanas, de forma a corroborar decisivamente com a construção,

desenvolvimento e bem-estar de seu aluno (Martins, 2001).

Os Estados Unidos foram os pioneiros na criação de serviços de

acompanhamento psicológico no âmbito do ensino superior, enquanto na Europa foi

5

a Inglaterra quem assumiu primeiramente essa preocupação. Desde então, tornou-

se uma preocupação crescente em muitas universidades do mundo todo.

Estudos sobre essa temática demonstram uma correlação positiva existente

entre o grau de adaptação à instituição e o desempenho acadêmico. Existe uma

associação significativa entre a dimensão pessoal de adaptação à instituição de

ensino superior e o rendimento dos alunos, destacando-se ainda o impacto dos

métodos de estudo na performance acadêmica dos alunos (SOARES,2000).

Outros estudos apontam para o impacto que tem o sucesso no ensino superior

e a inexistência de competências adequadas para fazer frente aos desafios que são

impostos aos alunos. É imperativa a necessidade de realização de programas de

intervenção destinados tanto para a aquisição de competências acadêmicas que

possibilitem uma abordagem ao estudo mais eficiente, como ao desenvolvimento

pessoal e vocacional do estudante (DIAS, 2001).

O Serviço de Acompanhamento Psicológico aos Alunos do Curso de

Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) foi criado a partir do Projeto de

Humanização empreendido pelo referido curso, constituindo-se assim, uma das

ações dentro de uma proposta mais ampla que vem sendo efetivada. A atividade

visa promover o bem-estar e o desenvolvimento integral do aluno, condição

essencial aos processos de crescimento pessoal e profissional. Nesse sentido,

busca desenvolver ações de natureza preventiva e /ou remediativa, de modo a

atender às necessidades pessoais, sociais, vocacionais e profissionais.

O atendimento psicológico disponibiliza ao aluno a oportunidade de entrar em

contato com um profissional da área, com formação específica para esse tipo de

atendimento, em um contexto confidencial em que é possível expressar com

segurança ansiedades e angústias.

Cada atendimento dura em torno de uma hora e o acompanhamento persiste

enquanto for necessário. As sessões são caracterizadas por uma atmosfera de

empatia, de respeito e de aceitação incondicional, onde o aluno possa sentir-se

seguro para verbalizar seus anseios, temores e dificuldades, podendo discuti-los

sem receio de ser julgado ou rotulado.

Nessa perspectiva, o atendimento psicológico privilegia a valorização da escuta

das demandas do aluno, considerando que sentimentos desagradáveis, quando

armazenados por muito tempo, tendem a tornar-se intensos, aumentando o mal

5

estar, os níveis de tensão e angústia e podendo comprometer seriamente o

ajustamento e a funcionalidade do sujeito.

Falar sobre as próprias dificuldades em um ambiente adequado a essa

finalidade, onde haja neutralidade e o aluno possa sentir-se apoiado, poderá

contribuir para a minimização dos sentimentos negativos, reduzindo a sensação de

frustração e mal estar, favorecendo a compreensão e elaboração e tornando mais

fácil a condução e administração dos próprios conflitos, à medida que torna-se mais

consciente de suas limitações, possibilidades e motivos. O insight poderá ser

facilitado se o sujeito vivenciar mais conscientemente o sentimento de SER e

ESTAR no mundo.

Por outro lado, parece conveniente ressaltar que o acompanhamento

psicológico não oferece soluções mágicas para os problemas apresentados pelos

alunos, tampouco faz parte de sua metodologia proceder lições moralistas,

julgamentos de valor, controlar, gerir ou apontar resoluções.

O serviço psicológico do Curso de Odontologia baseia-se na idéia de que,

sentindo-se seguro e à vontade para expressar pensamentos, sentimentos e

experiências, o aluno terá a possibilidade de compreender com mais clareza o que

se passa consigo, colocando-se face a face com a situação constrangedora. Desse

modo, o serviço de acompanhamento psicológico de alunos, procura contribuir para

que o próprio estudante restabeleça o controle sobre sua vida e realize suas

escolhas conscientemente.

Faz parte da responsabilidade do serviço apoiar o estudante nas suas decisões

deliberadas e nas mudanças que este pretende empreender.

Por mais complexa e caótica que possa parecer a situação vivenciada pelo

aluno, o serviço procura manejá-la com o máximo de respeito.

Em alguns casos, um único atendimento torna-se suficiente; em outros, o

acompanhamento poderá se alongar por mais algumas semanas. Os primeiros

atendimentos são realizados em sessões semanais, mas com o tempo poderão ser

espaçadas.

Algumas vezes, os casos são encaminhados para outros profissionais e

serviços externos, no entanto, a maior parte dos alunos que procuram o serviço ou

que são encaminhados pelos professores não estão doentes; ao contrário, foram

capazes de solicitar ajuda.

5

O Serviço de Acompanhamento Psicológico aos alunos do Curso de

Odontologia da UNIFOR procura focalizar suas atividades em três direções: para os

problemas relacionados às questões acadêmicas, para os desafios referentes às

questões de desenvolvimento e para as dificuldades emocionais que se constituem

problemas clínicos.

As questões acadêmicas referem-se essencialmente ao sucesso ou ao

insucesso em determinada disciplina, o que é decorrente de dificuldades

relacionadas aos estudos e às aprendizagens, de problemas de atenção e

concentração e da má gestão do tempo de estudo. Os problemas de ansiedade e

dificuldades na relação professor-aluno também são comuns.

É importante observar que a maioria dos estudantes de graduação são jovens

adultos que vivenciam ainda uma difícil fase de transição do fim da adolescência

para a idade adulta, crise agravada pelo impacto de mudança de ambiente escolar,

acompanhado de novas expectativas e pressões sociais. Como toda fase de

transição, essa também exige do indivíduo algumas aquisições e acentua antigos

conflitos e vulnerabilidades, uma vez que a personalidade ainda não está totalmente

consolidada.

Durante a época da vida universitária, o jovem se depara com exigências

psicossociais próprias dessa fase, que correspondem às demandas intrapsíquicas e

interpessoais, de modo a atender solicitações do contexto social, econômico e

cultural. Dentre elas, as mais importantes consistem na emancipação da tutela

parental, no desenvolvimento da capacidade de estabelecer relações de intimidade

amorosa, no comportamento referente a um conjunto de objetivos da vida,

correspondentes não só à escolha vocacional / profissional, mas também à

aquisição de um sentido de autonomia que se legitima a partir da capacidade de

fazer escolhas, na autodeterminação, no desenvolvimento do senso de

responsabilidade e na capacidade de viver a vida de acordo com seus valores

pessoais e preferências. Essas tarefas são interligadas e devem estar

razoavelmente resolvidas antes de o indivíduo atingir a idade adulta, o que significa

afirmar que, durante todo o trajeto acadêmico, os jovens se defrontam com várias

exigências distribuídas em quatro domínios fundamentais (ARNSTEIN, 1984): o

domínio acadêmico, que envolve adaptações constantes às estratégias de ensino /

aprendizagem e aos sistemas de avaliação e de estudo; o domínio social que

compreende o desenvolvimento de padrões de relacionamentos mais maduros com

5

os professores, colegas e familiares; o domínio pessoal, que abrange o

desenvolvimento de um sentido de identidade, uma maior consciência de si próprio e

uma visão pessoal do mundo e o domínio vocacional, que se refere ao

desenvolvimento de uma identidade vocacional.

Essa fase mostra-se bastante complexa, podendo favorecer o surgimento de

dificuldades, crises e vulnerabilidades que poderão afetar seriamente a vida

acadêmica do aluno.

Ao desenvolvimento cognitivo desse período da vida é acrescida a capacidade

de reflexão e abstração, possibilitando aos jovens a reorganização de conflitos não

solucionados e a reelaboração de aspectos de sua personalidade que foram

bloqueados.

Diante de tudo, o que foi exposto, percebe-se que a instituição de ensino

superior deve, portanto, proporcionar ao aluno amplas oportunidades de

experimentação interpessoal, social, intelectual e de reflexão. Os serviços de

acompanhamento psicológico de alunos se apresentam como recursos que cada

vez mais devem fazer parte integrante do conjunto de serviços ofertados pela

instituição aos seus estudantes, pois estes serviços desempenham um papel

significativo no desenvolvimento acadêmico, social e emocional dos alunos, por

meio de estratégias multifacetadas que podem estabelecer diversas parcerias.

As problemáticas abordadas são muito diversificadas, indo desde as políticas e

procedimentos acadêmicos, até as competências e atitudes frente ao estudo, as

estratégias de administração do tempo, o desenvolvimento de habilidades de

comunicação e de relacionamento, o pluralismo cultural, a redução do estresse, a

saúde, o bem-estar, a exploração vocacional, a preparação para a inserção no

mercado de trabalho, o estabelecimento de objetivos de vida, a motivação e os

problemas de ordem psicopatológica.

Essa reflexão, baseada na experiência como psicóloga-clínica e numa revisão

da literatura especializada, possibilita afirmar que há necessidade urgente de apoiar

a ampliação e regulamentação desses serviços nas instituições de ensino superior

do Ceará.

5

Sala de Espera Saudável

O cuidado humanizado deve ser adaptado à estrutura hospitalar,

modificando não apenas os custos, mas também a tradicional relação do

profissional da saúde com seu cliente.

A partir dessa nova visão, o autoritarismo ainda existente nessa relação

deverá ser modificado, pois a modernização, a democracia, o desequilíbrio entre

o uso da tecnologia e o contato humano vêm transformando a história das

organizações em resposta às novas exigências sociais.

Assim, não será suficiente à saúde apresentar os itens tradicionais de

qualidade e organização, como ocorre com as demais instituições que estão

inseridas em outros ramos, mas terá que, essencialmente, responder com

ambientes, ações e gestos humanizados, humanizadores e de qualidade de vida

em respeito aos direitos humanos e as exigências sociais.

Nesse contexto, vale ressaltar que, diferente do que ocorre, quando se fala

em profissionais de saúde, é necessário que se entenda como todas as

categorias envolvidas no processo: médicos, enfermeiros, assistentes sociais,

atendentes, vigilantes, todos, enfim, que prestam serviço na instituição.

A presença desse quadro de funcionários preparados, engajados,

qualificados e sensibilizados para tratar com usuários apresenta uma nova

cultura no atendimento.

A nova concepção torna-se importante porque o avanço da tecnologia

trouxe consigo um aspecto maquinal, frio, não humano, atingindo bastante a área

da saúde, onde seus funcionários são levados a agir quase como autômatos.

Dessa forma, antes de pensar em paredes, móveis e equipamentos, os

usuários e funcionários deverão ser levados em consideração para que, das suas

necessidades, surjam estruturas mais humanizadas.

Com essa nova visão da área da saúde, a humanização no âmbito do

trabalho apresenta um novo perfil de usuários que deverão deixar de ser

considerados como máquinas para conserto, para serem entendidos como seres

humanos em processo de atendimento, que clamam por dignidade e respeito.

Assim, o Curso de Odontologia da UNIFOR vem desenvolvendo e implantando

o Projeto de Humanização. O referido Curso presta serviço à comunidade, buscando

5

no seu âmbito de trabalho implementar projetos, tais como a Sala de Espera

Saudável, que favorece a clientela.

O projeto foi idealizado em 2003/2 por membros da comissão de

humanização do Curso de Odontologia da UNIFOR. As atividades na sala de espera

iniciaram no primeiro semestre de 2004, com a participação de cinco alunos

monitores da disciplina de Introdução à Odontologia, professores, psicóloga e

assistente social, os quais procuram desenvolver e acompanhar o projeto, buscando

preencher o tempo de espera do paciente, que muitas vezes encontra-se ansioso e

irritado, a fim de transmitir informações educativas a respeito dos mais diversos

temas voltados para a saúde e a vida dos indivíduos.

As apresentações são realizadas no decorrer do mês, conforme a

disponibilidade do corpo discente. A cada semana, um tema é pesquisado e

abordado para os pacientes, os quais possuem a liberdade para sugerir outros

assuntos do seu interesse. Nesse processo, são apresentados cartazes, folders,

peças, teatro de bonecos, enfim, são usadas várias linguagens na perspectiva de

resgatar e prender a atenção do público-alvo. Os temas abordados são escolhidos

conforme o calendário da Secretaria da Saúde do Estado.

Os alunos são acompanhados pela assistente social em todas as

apresentações, buscando propiciar uma maior interação destes com os pacientes e

funcionários do curso. Eles procuram trabalhar com o público de forma humanizada,

visualizando-os em sua totalidade, diante de uma maior aproximação, para atender

os seus anseios e reduzir suas angústias em decorrência, muitas vezes, do medo

em relação ao tratamento dentário.

Com o objetivo de acompanhar essas atividades, algumas reuniões são

realizadas entre os profissionais envolvidos e os alunos, gerando um espaço para

debates e novas idéias com relação ao programa.

Segundo o relato desses alunos, foi verificada uma nova maneira de

perceber o cliente, ou seja, este passa a ser visto como “gente”, “sujeito” e não mais

como um “objeto de aprendizagem”. Surge, então, um amadurecimento e respeito

com relação a sua clientela, que, por sua vez, supera os mitos e percepções

distorcidas a respeito do atendimento odontológico. Quanto às apresentações

realizadas, o programa favorece uma maior aprendizagem, pois vários temas

passam a ser estudados e abordados. A redução da inibição, a aproximação e a

6

postura diante do público-alvo também não deixam de ser mencionados como

pontos positivos vivenciados.

Observa-se também, no que se refere aos pacientes assistidos, uma boa

receptividade quanto ao programa, revelada por meio das perguntas, sugestões,

comentários sobre os temas, experiências pessoais que são manifestadas. Alguns

assumem a posição de facilitadores juntamente com os alunos para abordar o

assunto proposto. Tal fato representa o grande envolvimento desses pacientes no

decorrer da espera do atendimento, o que proporciona uma otimização do tempo,

reduzindo os anseios e angústias muitas vezes apresentados.

Os alunos envolvidos recebem, acolhem e encaminham o paciente para o

atendimento. Eles desenvolvem grupos de valorização da escuta das demandas,

visando uma diminuição do nível de ansiedade dos pacientes.

Após um ano da implantação do projeto, torna-se possível visualizar o seu

impacto na dimensão do crescimento e transformação no modo de acolhimento da

pessoa a ser atendida.

Portanto, o objetivo do Programa de Sala de Espera Saudável consiste em

possibilitar ao paciente do Curso de Odontologia uma otimização do seu tempo de

espera, reduzindo as tensões e angústias por meio de palestras e informações

educativas relacionadas à saúde ou temas afins e possibilitando uma

conscientização do tratamento e sua incondicional adesão.

Mudanças de Atitude

Em todo ambiente que congrega pessoas ocorrem relacionamentos,

aumentando, portanto, o risco de surgimento de conflitos nas inter-relações, o que

eleva os níveis de estresse. Porém, as situações estressantes podem ser benéficas

quando se tornam motivo para a readaptação positiva, gerando saltos qualitativos no

comportamento social. Opiniões divergentes produzidas nos embates e confrontos

entre as pessoas podem, muitas vezes, favorecer o seu crescimento e

desenvolvimento. Entretanto, cada indivíduo apresenta uma resposta específica a

episódios de divergência, principalmente quando estes se dão no plano interpessoal.

Neste momento, é oportuno falar de como foram criadas algumas estratégias

de ação, bem como expor quais são os objetivos e alvos relevantes do Projeto de

Humanização do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Da

6

mesma forma, vamos delinear também alguns conflitos observados no

relacionamento, que evidenciam a necessidade de um fluxo incessante de

acompanhamento psicológico dos três pilares do curso – o aluno, o professor e o

paciente – além de relatar nossa experiência com os meios utilizados para obter e

elaborar esses conhecimentos.

Uma das estratégias do Projeto de Humanização do Curso de Odontologia da

UNIFOR refere-se à sensibilização dos professores. A idéia é de estruturar

condições para a discussão e aprimoramento do senso crítico dos docentes, em

associação ao seu perfil comportamental e técnico-pedagógico. Almeja-se ainda

aperfeiçoar a relação entre professores, alunos e pacientes, desenvolvendo nos dois

primeiros características, competências e habilidades voltadas ao fomento e

utilização de procedimentos mais humanizados na prática odontológica.

Dessa forma, foram promovidas atividades cuja finalidade foi permitir a

elaboração de um diagnóstico das necessidades dos distintos grupos, um esboço do

perfil dos alunos e um perfil dos professores, para ampliar o entendimento das

relações professor-aluno e atender às expectativas geradas.

Outra iniciativa desenvolvida relacionou-se ao estudo da motivação, tomando-

a como o sentimento que nos leva a empreender energia em uma direção

específica, com um propósito determinado, ou seja, motivar-se significa utilizar o

sistema emocional para catalisar todo este processo e mantê-lo em movimento

positivo.

A partir daí, iniciou-se uma nova etapa, denominada “humanização

continuada”, na qual buscou-se identificar a necessidade de reforço e

questionamento dos objetivos do Projeto de Humanização em si.

A metodologia aplicada consistiu da apresentação de pensamentos e frases

de impacto, expostos nas Clínicas Integrada e Multidisciplinar por meio de cartazes

criativos, periodicamente modificados, dispostos em locais e espaços estratégicos

que congregam maior concentração de professores, alunos e funcionários, tais

como salas de raios-x, câmaras escuras portáteis, negatoscópio, central de

esterilização, setor de entrega e devolução, carrinhos de materiais e áreas de uso

de computadores.

Esses pensamentos e frases, associados a um trabalho realizado nas salas

de aula por intermédio dos próprios professores que os mostravam em slide inicial

e/ou final, serviram para que os alunos, professores e demais profissionais do curso

6

pudessem ler e refletir conscientemente a respeito das relações de poder vigentes

nos pares professor-aluno, aluno-paciente e funcionário-paciente.

Enquanto isso, a reação dos alunos, professores e funcionários foi sendo

observada, em relação à receptividade e à transformação mensurável de seus

comportamentos.

Assim sendo, no ano de 2003, a Comissão de Humanização do Curso de

Odontologia, dando prosseguimento ao trabalho que já vinha sendo realizado,

resolveu torná-lo mais criativo e lúdico. Surgiu então a “Turma do Armário”, com

personagens fictícios que interagem pela via seqüencial da nona arte: os

quadrinhos.

Partindo da realidade de que cada um dos professores e professoras possui

seu armário pessoal, encontramos o que poderia ser um ótimo espaço para nos

comunicarmos com todos eles. Buscamos a forma de atrair sua atenção para o

objetivo da Comissão de promover mudanças desejáveis de atitudes nos pares

professor-aluno, professor-professor, professor-paciente e, indiretamente, até

mesmo no par aluno-paciente.

Dessa maneira, passou a fazer parte do cotidiano do Curso, sempre naquele

local cheio de provas, projetos de ensino, pesquisas, disquetes, CDs e slides, entre

outras coisas mais, uma “arrumadinha básica” executada pela Turma do Armário,

integrada por um casal de garotos chamados Guga e Manu, que possuíam um

mascote – seu gatinho chamado Trutti.

Na realidade, a “arrumação” era imaginária, pois o que nos interessava era

encontrar uma fórmula de prender a atenção dos professores e estimular-lhes a

reflexão com aquelas mensagens – e, quem sabe, colher mais tarde frutos

representados por mudanças observáveis de atitude.

Quinzenalmente, uma nova mensagem era afixada na porta do armário de

cada professor(a). Eram veiculadas, sob a forma de questionamentos, as vantagens

da delicadeza muitas vezes perdida, da compaixão e do diálogo aberto nos

relacionamentos interpessoais.

Se nossos objetivos foram alcançados, não podemos ainda confirmar com

absoluta certeza. Porém, o reconhecimento da presença de sentimentos humanos

importantes no ser e estar cotidianos, assim como o avanço na capacidade reflexiva

e nas discussões acerca dos relacionamentos hoje fazem parte indissolúvel da

6

nossa realidade. Uma conquista que a todos nós orgulha e preenche de fé o nosso

trabalho diário.

Para todos nós, tornou-se evidente e proveitoso conceber que, como afirmava

o educador Paulo Freire, “ensinar exige querer bem”.

Cultura do tratar bem

A universidade deve possibilitar o encontro e a integração de todos os

conhecimentos e seu encaminhamento à plenitude humana, resultante da integração

e complementação do saber.

Humanizar é preciso. Mas como a universidade deve conciliar essa

necessidade científica com sua destinação humanística?

O Curso de Odontologia da UNIFOR proporciona ao estudante um ensino

teórico e prático que deve formá-lo, desenvolvendo suas potencialidades, de

maneira a prepará-lo para estar a serviço da prática da Odontologia. Essa formação

é deficiente se o estudante não desenvolve a sua própria qualidade de homem,

aperfeiçoando-se para estar a serviço de uma cultura do humanismo.

A valorização do outro e da escuta e o exercício de cidadania têm que ser

vivenciados, sentidos, por cada um de nós. Não adianta “ensinar” aos nossos alunos

“como tratar bem” seus pacientes, se esses são oprimidos e sufocados no processo

ensino-aprendizagem.

Por isso, a mudança na relação aluno-paciente que reflita na futura prática

profissional passa pela mudança de prática pedagógica, em que as pessoas se

sintam sujeitos ativos e construtores do processo de aprender e também de ensinar,

ou seja, de troca não só de saberes e experiências, mas de troca afetiva. (NUTO,

2002)

Ninguém aprende o que não gosta. Precisamos resgatar o amor ao nosso

objeto de estudo, ato pouco valorizado na pedagogia tradicional, o amor ao nosso

paciente, sem preconceitos e “culpabilização”, desenvolvendo a motivação para

aprendizagem, sendo necessário, para isso, sentir e vivenciar sentimentos e

energias positivas e incentivar a cultura da paz.

A cultura da humanização reflete a idéia de valorização do outro, de respeito às

diferenças, de atenção e cuidado aos nossos semelhantes. A cultura de “tratar bem”

6

nossos pacientes não pode estar descontextualizada, vazia e inerte; deve estar

inserida em um panorama de difusão da cultura do amor e cuidado ao nosso entorno

social.

Toda essa abordagem não teve a pretensão de esgotar um assunto de

tamanha complexidade, mas de refletir a importância da humanização nos espaços

de saúde, especialmente em um ambiente de ensino e aprendizagem.

6

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para novas gerações. In: Kriger, L. et al. Promoção de Saúde Bucal. São Paulo: Ed.

Artes Médicas, 1997.

6

CAPÍTULO 4Como você se sente? A experiência do Estágio Extra Mural do Curso de

Odontologia da UNIFORSandra Helena de Carvalho Albuquerque

Maria Vieira de Lima Saintrain

Luiz Roberto Augusto Noro

Sharmênia de Araújo Soares Nuto

Thiago Pelúcio Moreira

Maria Cristina Germano Maia

Maria do Carmo Rebouças Filha

Maria Elisa Machado Ferreira

“- Como você se sentiu conversando com a D. Maria ?

- Como assim, professora ?

- Como você se sentiu ao entrar na casa de taipa, sentar num sofá sujo e

rasgado, andar no sol quente, pisar na lama, sentir o cheiro do lixo?

- Ah, professora, foi normal...

- O que é normal? Que sentimento é esse? É normal sentir raiva por estar lá? Ou será normal sentir medo por estar numa comunidade pobre onde tudo é exclusão? Ou ainda será normal sentir pena daquela família que não possui o mínimo para sua dignidade de ser humano? Ou será ainda normal sentir-se culpado por nunca ter feito nada que pudesse reverter aquela situação de penúria? O que é normal no campo dos sentimentos?

- Ah, professora, sentimento a gente sente não precisa falar...

- Eis o seu equívoco e o erro de muitos. Sentimento a gente define, pois

todos eles nos marcam de forma indelével e definem padrões de

comportamento que influenciam nossa reação frente às diversas situações em

nossas vidas. E isso se torna fundamentalmente importante quando se trata

de ocupações na área da saúde pois cuidar do outro pressupõe minimamente

gostar de gente, estabelecer vínculos e tudo isso é carregado de sentimentos.

Por isso é extremamente necessário que se identifique que sentimento nos

move, nos motiva...

- Pra quê falar disso agora? É só ir lá e pronto.

6

- Desde muito cedo nos ensinam a sufocar nossos sentimentos: é feio

sentir raiva, você não pode sentir medo do escuro porque é coisa de criança,

não interessa se no momento da prova você está ansioso e te dá um branco,

não importa a tristeza do fim de um relacionamento que dificulta o

aprendizado e dessa forma sufocamos e prendemos nossos sentimentos num

quartinho escuro e só revelamos quando as conveniências julgam oportuno.

Por isso não se falam deles e não sabemos ao certo o que sentimos, para quê

sentimos, como agimos diante daquele sentimento. Daí surgem os conflitos

nas relações, dúvidas ao reagir e somatização do que sufocamos. Vocês ainda

acham que não precisamos falar sobre isso?

- É que nunca ninguém falou isso pra gente...

- Os bancos das escolas sempre nos ensinaram o aspecto científico de

cada conhecimento sem trabalhar o impacto afetivo que eles imprimem em

nós, e vamos seguindo assim até que um dia aquilo que aprisionamos naquele

quartinho escuro explode muitas vezes de maneira descontrolada.

- Professora, o que isso tem haver com a família que eu visito ou com o

paciente que eu atendo?

- Isso determina o tipo de vínculo que você estabelece com o outro

enquanto você cuida dele. O que é o paciente para você? Alguém desleixado

que se descuidou de sua saúde? Ou um coitadinho que não tem dinheiro para

comprar uma escova de dente? Ou ainda alguém fútil que veste as melhores

roupas mas não consegue fazer uma escovação satisfatória? Ou ainda um

parceiro seu para administrar o processo saúde-doença ao longo de nossa

existência? Todos esses aspectos definem nossa prática profissional e como

encaramos aqueles a quem nos propomos tratar.

- Ah, entendi, mas não é fácil definir o que sinto, acho que é um pouco de pena daquela família e também um pouco de culpa por viver num mundo tão confortável e às vezes reclamar por bobeiras que têm uma dimensão infinitamente pequena frente ao drama daquelas famílias.

- Muito bem, começamos a mergulhar no campo dos sentimentos, não é

fácil, mas aos poucos vamos nos familiarizando. É esse o desafio e o convite

que faço a vocês: aprender a conhecer nossos sentimentos para conhecer

melhor a nós mesmos e aos outros e poder refletir melhor sobre nossa prática.

Vamos lá?”

6

A cada aula do estágio, lançávamos estas reflexões aos nossos alunos. Era um

desafio mútuo: eles por serem questionados em aspectos sobre os quais não se

costumam falar, e nós por tentarmos construir um caminho ainda muito novo e difícil

de trabalhar.

As emoções são pedagógicas, ousamos então discutir isso com o objetivo do

aluno identificar o que o motivava ao cuidar do outro para poder refletir melhor sobre

sua prática e identificar se estão sendo reprodutores de uma técnica ou se

percebem o outro além da boca e conseguem aplicar o conhecimento para a

transformação da realidade.

Tudo isso são aspetos extremamente sutis mas que determinam fortemente o

resultado que se pretende alcançar, principalmente ao se trabalhar com uma

população de baixa renda, fatores sócio econômicos desfavoráveis para o pleno

gozo da saúde. É essa a proposta do EEM ao trabalhar com as pessoas com a

lógica do Programa de Saúde da Família, afinal não há família e grupos sem

vínculos e sem sentimentos.

1. HISTÓRICOO Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) foi iniciado

em 1995, com duração de dez semestres letivos e tem como pressuposto básico a

formação de um cirurgião-dentista com filosofia preventiva e habilidade na aplicação

de princípios técnicos, éticos e sociais para sua plena inserção como profissional de

saúde.

Seguindo esta filosofia, há a previsão da realização durante o 9º e 10º

semestre do desenvolvimento, paralelamente à Clínica Integrada, do Estágio Extra-

mural.

O Estágio Extra-mural é composto por um total de oito créditos, distribuídos

quatro créditos no 9º semestre (Estágio Extra-mural I) e quatro créditos no 10º

semestre (Estágio Extra-mural II). Tem como grande meta a integração ensino-

serviço-pesquisa, que tem se caracterizado, em diversas universidades, como forma

de garantir a racionalização dos recursos e otimização dos objetivos a que se

destinam as instituições de ensino superior e as instituições de prestação de

serviços.

6

O aluno do estágio extra-mural inicia uma nova fase em sua formação

profissional que tem como objetivo sua integração com os serviços públicos de

saúde, o conhecimento sobre seu funcionamento, a aproximação com a realidade

do processo saúde-doença vivenciado pela população e formulação de propostas

que viabilizem e aperfeiçoem o Sistema Único de Saúde.

O desenvolvimento do Estágio Extra-mural é fundamental para permitir ao

aluno um contato privilegiado com a saúde coletiva, já que o aproxima da realidade

existente e possibilita sua intervenção pensando em soluções para comunidades,

tendo como referência a promoção de saúde.

Os principais objetivos do Estágio Extra-mural são: formar profissionais com

interesse social, observando, analisando e propondo soluções para os principais

problemas bucais da comunidade; aplicar conhecimentos básicos das disciplinas de

Odontologia Social I e II, Epidemiologia, Elementos de Antropologia Filosófica,

Elementos de Sociologia e Odontologia Legal, além das disciplinas clínicas, em

situação real de trabalho; propiciar integração com administradores públicos do

sistema de saúde, usuários, professores e alunos do Curso de Odontologia da

UNIFOR, buscando soluções mais adequadas aos problemas encontrados;

desenvolver auto-confiança e segurança tanto no aspecto social como no

conhecimento técnico-científico quanto na responsabilidade ético-profissional e

contribuir para a formação de um profissional de saúde crítico, questionador e

formulador de soluções criativas e viáveis para melhoria das condições de vida da

população.

Quando de sua implantação, o Estágio Extra-mural representou um grande

desafio uma vez que previa como campo de estágio Unidades de Saúde da

Secretaria de Saúde do Município de Fortaleza, serviço bastante descaracterizado

daquilo que se pretendia propor enquanto sistema de saúde universal, integral,

eqüânime e racional. Para desenvolvimento das atividades os alunos eram divididos

em grupos possibilitando-se o acompanhamento durante um ano de uma mesma

Unidade de Saúde.

O Estágio era desenvolvido durante toda a semana (2ª a 6ª feira) sendo pela

manhã no Estágio Extra-mural I e pela tarde no Estágio Extra-mural II. Assim, os

quatro créditos destinados a esta atividade eram desenvolvidos em uma semana

contínua por mês para cada grupo de alunos. Com isto, pretendia-se proporcionar

7

um maior acompanhamento dos alunos pelo professor responsável assim como

permitir uma lógica seqüenciada de atividades.

Neste momento foram definidas as seguintes atividades para

acompanhamento dos alunos:

Identificação do perfil da população, observando a multiplicidade de

padrões de conduta e características culturais;

Participação e organização dos serviços odontológicos, conhecendo as

relações entre a Secretaria de Saúde e outros órgãos da administração

pública (Secretaria de Educação, Secretaria de Recursos Hídricos,

Secretaria de Ação Social etc.) tanto no âmbito estadual quanto no

âmbito municipal;

Realização de levantamentos epidemiológicos para diagnóstico da

situação de saúde bucal da comunidade;

Desenvolvimento de ações educativas em saúde;

Realização de ações coletivas de saúde bucal;

Capacitação de pessoal auxiliar (atendente de consultório dentário e

técnico em higiene dental);

Integração com Programa de Saúde da Família, capacitando agentes de

saúde na orientação preventiva das principais doenças bucais;

Participação em atividades do Conselho de Saúde das Unidades de

Saúde, do Município de Fortaleza e/ou do Estado do Ceará;

Acompanhamento no desenvolvimento de ações de vigilância sanitária e

epidemiológica;

Planejamento do trabalho clínico a ser realizado nas Unidades de

Saúde, a partir do referencial de risco de doença por grupos

populacionais.

2. O DESENVOLVIMENTO DOS ESTÁGIOS EXTRA-MURAISDepois de seis anos de um processo de reflexão contínua sobre o Estágio

Extra-mural e de várias modificações na forma de desenvolvimento das atividades,

pode-se observar que os objetivos inicialmente propostos têm permitido aos alunos

planejarem e executarem suas habilidades na atuação nos diferentes ciclos de vida,

visando fundamentalmente à criação de vínculos entre o aluno e o sujeito de seu

7

cuidado, inserido na realidade em que vive, buscando nesse contexto, a formação

de um profissional crítico e reflexivo dentro de sua prática.

A maior parte das atividades do estágio são realizadas na área de abrangência

do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) – a Comunidade do Dendê –

incluindo-se nesta, seus espaços sociais (escolas e creches). No entanto, as

atividades de estágio não se limitam a esse território, sendo também direcionadas a

atenção à saúde dos idosos institucionalizados no Lar Torres de Melo e ao

planejamento e desenvolvimento das ações e serviços de saúde, analisados do

ponto de vista do gestor. Estas atividades serão desenvolvidas durante o Estágio

Extra-mural I (9º semestre) ou no Estágio Extra-mural II (9º semestre).

2.1. ESTÁGIO EXTRA-MURAL I (EEM I)Alunos do 9° semestre do Curso de Odontologia da UNIFOR têm a

oportunidade de atuar na mesma lógica que norteia atualmente a estratégia de

Saúde da Família.

Dessa forma, os alunos são estimulados a conhecer a realidade de vida das

famílias as quais irão acompanhar, como parte de um projeto multidisciplinar

envolvendo os diversos cursos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UNIFOR

e tendo o NAMI como Núcleo de Integração Docente-Assitencial. Nesse, o ensino e

a pesquisa são inseridos às ações de saúde voltadas para população da

Comunidade do Dendê em nível de atenção primária, promovendo, diagnosticando,

tratando e reabilitando de maneira integrada e interdisciplinar, visando à melhoria da

qualidade de vida de seus usuários.

A Comunidade do Dendê situa-se próximo à UNIFOR, no bairro Edson Queiroz,

tendo aproximadamente 14.000 habitantes, sendo dividida em micro-áreas, segundo

uma lógica de homogeneidade sócio-econômica-sanitária, ou seja, é formada por

pessoas que compartilham condições de vida e risco de adoecer semelhantes. A

princípio, 6 (seis) micro-áreas foram delineadas, recebendo as denominações de

cores para facilitar o processo de territorialização: Azul, Verde, Vermelha, Laranja,

Amarela e Marrom, esta última também conhecida como Baixada, estruturada em

local de preservação ambiental no mangue às margens do Rio Cocó. A partir de

dados colhidos na comunidade ao longo dos anos de acompanhamento, mais três

áreas de risco foram demarcadas, a Rocinha, anteriormente descrita como parte da

área Amarela, mas vista atualmente como uma micro-área específica; a área de

7

invasão Chico Mendes, também conhecida como Pink e a área Lilás ou Final da

Linha, em referência à última parada do percurso de transporte urbano local

(ônibus).

A partir do conhecimento da realidade demográfica e da condição sócio-cultural

da população adstrita, obtidos por meio de visitas domiciliares, realiza-se um

planejamento estratégico situacional para execução de ações, referenciando-se nos

conceitos de promoção de saúde e princípios do SUS. As atividades domiciliares

são realizadas por alunos dos cursos de Enfermagem, Terapia Ocupacional,

Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicologia e Odontologia.

Durante as atividades dos estágios e disciplinas da área de Saúde Coletiva, os

alunos realizam o cadastramento das famílias utilizando-se de três fichas: ficha A

(Cadastro da família), ficha B (Atenção Integrada à Saúde da Família) – ambas

baseadas no modelo de cadastramento familiar do Ministério da Saúde – e uma

ficha específica de cada área de conhecimento.

A ficha A objetiva cadastrar as famílias, abordando aspectos sócio-econômicos.

Por meio dela, são obtidos os dados de identificação de todos os membros da

família, incluindo os seus principais agravos à saúde, assim como sua ocupação, e

alfabetização. A renda familiar, a situação de moradia e de saneamento também são

questionadas nessa ficha; além de outras informações como participação em grupos

comunitários, presença de animais domésticos e meio de transporte que utilizam.

Buscando a interdisciplinaridade e atendimento à integralidade das

necessidades da população adstrita, é preenchida a ficha B, que nos oferece uma

visão geral da saúde da família, por meio de questões sobre a atualização do cartão

de vacina, pré-natal das gestantes, revisão de parto das puérperas, prevenção de

câncer ginecológico, crianças com atraso de desenvolvimento, problemas

relacionados à fala, visão ou audição, permitindo assim os encaminhamentos de

suas necessidades para o NAMI e/ou para os diversos cursos, na lógica da

abordagem multidisciplinar em saúde.

A ficha específica de cada especialidade possibilita um planejamento para

ações preventivas e educativas a serem desenvolvidas nos domicílios. Para o

preenchimento da ficha específica da Odontologia, é realizado um exame de

necessidades em cada membro da família que o autorize, por uma dupla de alunos

da disciplina de EEM I.

7

As atividades preventivas em Odontologia incluem: distribuição de escovas

dentais, revelação de placa bacteriana, escovação supervisionada e aplicação de

flúor gel. Além de, cumprindo o princípio da eqüidade, encaminhar o membro mais

necessitado de cada domicílio visitado para a Clínica Integrada do Curso de

Odontologia, na qual ele será atendido pela mesma dupla que o visitou, reforçando

os vínculos entre o profissional e o paciente. Na clínica, são realizados

procedimentos de adequação como: raspagens de tártaro, profilaxias, exodontias,

curetagens para proteção do complexo dentina-polpa, abertura coronária e algumas

restaurações. Esse tipo de abordagem facilita o acesso e o fluxo do paciente nas

Clínicas da UNIFOR, respeitando o princípio da eqüidade, pois ao finalizar a

adequação o paciente é encaminhado para o Setor de Triagem para que

posteriormente sejam realizados os demais procedimentos de que necessita. Outros

encaminhamentos para o curso abrangem a prevenção do câncer bucal por meio da

disciplina de Semiologia, a confecção de próteses dentais e oculares e o

atendimento a pacientes com necessidades especiais em projetos específicos.

As atividades educativas não se restringem a temas de interesse

odontológico. De fato, os alunos são estimulados a abordarem temas de saúde

geral, dentro das necessidades encontradas em cada micro-área. Podendo-se citar

ações sobre tabagismo, alcoolismo, drogas, gravidez na adolescência, higiene

pessoal, prevenção da Dengue, da Diabete, da Hanseníase, aferição de pressão

arterial, distribuição de camisinhas, dentre outros, tanto em uma abordagem

individual quanto coletiva.

Durante o desenvolvimento destas atividades, o que mais tem chamado a

atenção é a perspectiva real de atendimento não somente às necessidades

odontológicas desta população mas conhecer sua situação geral e poder permitir ao

aluno uma aproximação com sua possibilidade de efetiva atuação enquanto

profissional de saúde. Neste sentido, procura-se estimular o aluno a perceber o

sentimento envolvido nestas relações.

Diante do exposto, o aluno de Odontologia, ao findar o Estágio Extra-Mural

I, será capaz de realizar a territorialização em ambiente comunitário, incluindo a

utilização de mapas falantes, planejando e executando ações preventivas e

educativas em saúde, conhecendo a realidade sócio-econômica e cultural das

famílias adstritas e compreendendo a importância do estabelecimento de vínculos

para promoção de saúde.

7

2.2. ESTÁGIO EXTRA-MURAL II (EEM II)Os alunos do 10º Semestre do Curso de Odontologia da UNIFOR, dentro da

programação do Estágio Extra-Mural II, têm a oportunidade de atuar em diferentes

espaços sociais, como também preconizado pelo Ministério da Saúde, em ações

educativas e preventivas em saúde bucal direcionadas a públicos-alvos diversos

(crianças pré-escolares, escolares e idosos). O EEM II também prevê atividades

relacionadas ao conhecimento da gestão de serviços de saúde, tão necessária à

prática do futuro profissional de saúde, visando integrar os conhecimentos

adquiridos em todas as disciplinas de saúde bucal coletiva à lógica da organização

dos serviços de saúde.

2.2.1. Atenção à Saúde Bucal de Crianças e Adolescentes

Ao longo dos 10 anos de implantação do Curso de Odontologia da UNIFOR,

diversos estabelecimentos de ensino referenciados na área de abrangência do NAMI

têm sido contemplados pelo acompanhamento sistemático da saúde bucal de seus

estudantes.

Os alunos do EEM II são levados a fazer um reconhecimento dos espaços

sociais e após o levantamento de necessidades dos estudantes matriculados, traçar

um plano de ação específico para cada público-alvo, incluindo tanto ações

preventivas quanto educativas em saúde bucal. Estas últimas, dentro do enfoque

metodológico da problematização, no intuito de preparar o aluno para essa prática

em sua vida profissional.

Dessa forma, para os pré-escolares as ações podem incluir desde teatros,

fantoches e jogos sobre temas educativos de higiene pessoal e bucal, como as

ações preventivas de escovação supervisionada. A aplicação de flúor gel está

restrita às crianças com maiores necessidades, tendo em vista o risco de deglutição

do produto em menores de seis anos de idade.

Para escolares e adolescentes, amplia-se o leque de temas educativos a serem

abordados de acordo com a demanda dos próprios estudantes das escolas, como

por exemplo: drogas, DST/AIDS, métodos anticoncepcionais, entre outros. Sempre

7

trabalhados de uma forma problematizadora, visando a real mudança de atitudes e

hábitos no sujeito da ação educativa. As ações preventivas incluem: distribuição de

escovas, revelação de placa, escovação supervisionada e a aplicação de flúor gel,

de acordo com o perfil determinado para aquele estudante no levantamento de

necessidades. Assim, poderão ser previstas até 4 (quatro) sessões de aplicações de

flúor, caso o estudante apresente a necessidade de remineralização de manchas

brancas.

As crianças e adolescentes considerados de alto risco e com maior número

de lesões ativas de cárie ou necessidades de tratamento dentário são, de uma forma

eqüitativa, encaminhados para a clínica de adequação, para serem atendidas pelos

mesmos alunos os quais lhes examinaram na escola, desta forma, fortalecendo os

vínculos entre profissional-paciente.

2.2.2. Atenção à Saúde do Idoso Institucionalizado

A pirâmide populacional brasileira tem sofrido modificações na sua base tendo

em vista a redução da mortalidade infantil e das taxas de fertilidade. Os números

indicam que entre os anos de 1980 e 2000 o aumento da população geral foi na

ordem de 43%, no entanto, para o contingente de pessoas de 60 anos e mais este

aumento foi de 101% (IBGE, 2003), verificando assim uma discrepância entre o

crescimento da população idosa em relação às outras faixas etárias. No Brasil os

idosos passarão a constituir grupo cada vez mais numeroso, em termos absolutos e

relativos, exigindo recursos progressivamente mais significativos para o adequado

atendimento de suas necessidades (PEREIRA, 1995), que segundo Veras (2001),

constitui um grupo bastante diferenciado, entre si e em relação aos demais grupos

etários, tanto do ponto de vista das condições sociais, quanto dos seus aspectos

demográficos e epidemiológicos.

Nesse contexto, dentre os espaços sociais destinados a realização do Estágio

Extra Mural II, cita-se o Lar Torres de Melo, instituição dedicada a abrigar idosos de

ambos os sexos e de todas as classes sociais, uma entidade filantrópica que abriga

idosos sem distinção de classes, permitindo ao aluno do Curso de Odontologia, a

oportunidade de compreensão maior da prática de atendimento a pessoas dessa

faixa etária.

7

As atividades desenvolvidas pelos alunos do Curso de odontologia junto aos

idosos incluem:

a) ações de educação em saúde, reforçando a importância do banho de sol e

dos cuidados com uma alimentação saudável, controle de doenças como a diabete e

a hipertensão e o exercício de atividades ocupacionais e de lazer para uma melhor

qualidade de vida;

b) ações preventivas em saúde bucal, compreendendo instrução de higiene

oral, orientação reforçada para os portadores de prótese dentária. Como os idosos

recebem escova dental, oferecida pelo Estágio, é realizado o exercício de

escovação e orientação para a conservação de próteses totais e removíveis, assim

como, o cuidado de higiene oral para os desdentados totais. São ofertadas

orientações para o exame de prevenção do câncer bucal e de outros agravos a

saúde.

Para os idosos dependentes, a orientação é ofertada em conjunto com os

cuidadores dos idosos, utilizando técnica de higiene oral de acordo com a

especificidade de cada paciente no intuito de remover detritos e produtos

seborréicos, assim como, prevenir contra a candidíase.

c) no que tange as atividades curativas, inicialmente, são realizados exames ou

levantamentos epidemiológicos de necessidades, com base nas normas da

Organização Mundial de Saúde (OMS, 1999). Os pacientes identificados com lesões

cariosas, exodontias e remoção de tártaro são atendidos, pelos próprios alunos do

estágio na Clínica Integrada do curso de Odontologia para a realização de

procedimentos de adequação do meio bucal. Outrossim, aqueles pacientes

portadores de lesões bucais são encaminhados e reavaliados pelos professores da

Clínica de Semiologia da Universidade.

2.2.3. O EEM II e a gestão de serviços de saúde

Estimulados pelas transformações globais no mercado de trabalho em

decorrência, entre outros fatores, da queda de poder aquisitivo da população

brasileira, os dentistas estão buscando de modo crescente a ocupação junto ao

serviço público. De início, o cargo preferencialmente ocupado era o de clínico

tradicional, porém, com as necessidades crescentes no campo geral da saúde

7

pública a presença dos cirurgiões-dentistas atuando como gerentes de serviços de

saúde está cada vez mais requisitada.

Assim que as primeiras turmas da Odontologia da UNIFOR começaram a

colocar os egressos no mercado de trabalho estes muitas vezes retornavam aos

professores para solucionar dúvidas sobre como melhor atuar no Programa Saúde

da Família dos municípios em que trabalhavam. Com o passar do tempo, as dúvidas

e o envolvimento desses recém-formados passou a ultrapassar também o campo da

clínica e da prevenção em saúde bucal para encampar o campo multidisciplinar das

ações de saúde. Desta forma, desde o período 2003.2 o estágio passou a contar

com atividades que forneçam indicativos de gestão e organização dos serviços de

saúde, possibilitando que atualmente vários dos ex-alunos ocupem cargos de chefia

junto às Secretarias de Saúde.

Esse crescimento de oportunidades vem associado ao modelo de

financiamento e hierarquização dos serviços de saúde implantados pelo Ministério

da Saúde desde a Norma Operacional Básica de 1993 (NOB 93). Com a NOB 96 e

especialmente a Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS 2001) foi criado

um caminho para uma organização dos serviços mais aproximada dos ideais do

Sistema Único de Saúde promulgado na constituição de 1988. No Ceará, por

exemplo, a estratégia para dar mais agilidade à gestão em saúde foi agrupar os 184

municípios em 21 sistemas microrregionais e 3 macrorregiões de saúde, que seriam

responsáveis pela atenção de nível secundário e terciário respectivamente.

Para que os alunos possam se aprofundar nessas diretrizes são realizados

debates em sala de aula sobre a situação do sistema atual, observação da gestão

na prática, seja por meio do contato com gestores do nível central da Secretaria de

Estado da Saúde ou por visitas a municípios onde a gerência do serviço é

examinada juntamente com os responsáveis locais. Nas atividades foi possível

visitar os municípios de Aquiraz, Eusébio, Caucaia, Itaitinga, Maracanaú,

Maranguape e São Gonçalo do Amarante.

Depois de vivenciar essas experiências práticas e discutir a teoria, os grupos de

alunos elaboram projetos de gestão para os municípios visitados, já se preparando

para atuarem como planejadores em saúde quando se formarem.

7

É possível concluir que neste estágio, as maiores contribuições, com relação ao

aluno, tenham sido para elucidar o sentido de ser profissional, vivenciar o outro

(paciente) de maneira incomum do dia a dia da clínica e poder discutir o conceito de

cuidado à luz de referenciais construídos por meio da vivência humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Assessoria de Comunicação Social. Lei Orgânica da

Saúde. Brasília: 2ª edição, 1991. 36p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 1395/GM. Políticas de saúde do idoso em 10

de dezembro de 1999. DOU de 13 de 12 de 1999. Dispõe sobre a aprovação da

Política Nacional de Saúde do Idoso.

BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto SB Brasil 2003 – Condições de saúde bucal

da população brasileira 2002-2003 - Resultados principais. Brasília: Coordenação

Nacional de Saúde Bucal.

DIÓGENES, O. Asilo de Mendicidade: memória histórica. Fortaleza: INEP. 1997.

162p.

ETTINGER, R. L.; WATKINS, C.; COWEN, H. Reflections on changes in geriatric

dentistry. Journal of Dental Education. v. 64, n.10. p.715-22. 2000.

FRAZÃO, P. Epidemiologia em Saúde Bucal. In: PEREIRA, A.C. (org) Odontologia

em Saúde Coletiva: Planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed.

pp. 64-82, 2003.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2003). [on-line].

Disponível: http://www.ibge.gov.br

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Levantamentos básicos em Saúde Bucal. 4ª

ed. São Paulo: Ed. Santos. 1999. 66p.

PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan,

1995. 583p.

VERAS, R. P. Desafios e conquistas advindas da longevidade da população: o setor

saúde e as suas necessárias transformações. Rio de Janeiro: UERJ, UnATI, 2001.

144p.

7

CAPÍTULO 5A Clínica Integrada

Juliano Sartori Mendonça

Sandra Helena de Carvalho Albuquerque

Os Estágios de Clínica Integrada I e Clínica Integrada II, juntamente com os

Estágios Extramural I e II, são oferecidos para os alunos dos 9º e 10º períodos,

respectivamente, constituindo a parte final do Curso de Odontologia e são

considerados como estágios curriculares pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

e, como tais, seguem as determinações da Resolução R-028/89.

Os Estágios de Clínica Integrada I e Clínica Integrada II estão estruturados

visando à formação de cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e reflexivo,

para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e

científico, capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da

população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade

social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a

transformação da realidade em benefício da sociedade, conforme proposto pelas

Diretrizes Curriculares para os Cursos de Odontologia.

As atividades dos Estágios de Clínica Integrada I e II correspondem a 300

horas semestrais (20 horas semanais), incluindo o atendimento integrado de

pacientes, discussão de casos clínicos, verificação teórica, Trabalho de Conclusão

de Curso (TCC) e atividades nos Plantões de Urgência e Triagem.

Para tanto, as atividades clínicas propostas permitem desenvolver no aluno a

prática da clínica geral, com uma abordagem integral do paciente odontológico,

possibilitando aos alunos o exercício das diferentes áreas de conhecimento

odontológico, incluindo a preparação do ambiente de trabalho, diagnóstico,

planejamento e execução de procedimentos preventivos e terapêuticos.

Desta forma, constituem-se objetivos específicos dos Estágios de Clínica

Integrada I e Clínica Integrada II:

• Capacitar o aluno para o diagnóstico, planejamento, elaboração e

execução de planos de tratamento e acompanhamento dos tratamentos

odontológicos que contemplem as necessidades do paciente;

8

• Capacitar o aluno para o atendimento a quatro mãos, visando a adoção

de princípios de trabalhos ergonômicos;

• Adquirir hábitos de trabalho em que a biossegurança seja cumprida

criteriosamente;

• Sensibilizar o aluno para perceber a necessidade de um atendimento

que trate o indivíduo como um ser integral, considerando aspectos

afetivos, sociais e culturais;

• Avaliar e propor alternativas de tratamento a um determinado caso

clínico;

• Tratar o paciente como efetivo participante de seu processo de

educação, prevenção e reabilitação em saúde bucal;

A integração

O Curso de Odontologia da UNIFOR possuía uma estrutura curricular em que

as disciplinas trabalhavam os conteúdos por especialidades resultando em

fragmentação do conhecimento e sem atender às necessidades do paciente de

forma integral. Cabia aos alunos nos semestres finais tentar organizar todos esses

conhecimentos para aplicá-los de forma integrada. Era visível a insegurança com

que todos os alunos iniciavam o Estágio de Clínica Integrada, organizar toda essa

bagagem de conteúdos não era tarefa fácil e por vezes esses conhecimentos

recortados e colados formavam um ‘Frankenstein’ e o aluno tinha dificuldade de

visualizar a integralidade de todo o processo.

Verificou-se que os professores e alunos ainda persistiam em trabalhar com o

mesmo modelo fragmentado das disciplinas estanques: se o paciente tinha

necessidade de Endodontia era solicitado o professor da respectiva especialidade,

se a necessidade era restauradora o aluno requisitava o professor de Dentística

resultando que o aluno não tinha um acompanhamento integral de seu

desenvolvimento, daí iniciou-se a busca por um novo modelo que atendesse os

objetivos para formação do cirurgião-dentista generalista conforme o que está

colocado nas Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Odontologia.

Em 2003.1 começou-se a tentar um avanço na busca dessa integração: cada

professor, independente de sua especialidade, passou a ser responsável pela

orientação de um grupo de alunos em procedimentos de pequena complexidade que

8

fossem do domínio do clínico geral, a ele convencionamos chamar de professor-

orientador. Diante de um procedimento mais complexo fora do domínio do professor-

orientador, o especialista é consultado. Dessa forma o professor-orientador pode

acompanhar o desenvolvimento integral do aluno, estreitar o vínculo com ele

podendo perceber também outras necessidades mais sutis a serem trabalhadas

como relação ética e humanizada com o paciente ou mesmo o aspecto afetivo-

emocional de seus alunos.

Esse foi (e ainda é) o grande desafio da equipe docente da Clínica Integrada.

Romper com um sistema fragmentado, biologicista, tecnicista no qual todos fomos

formados era uma grande dificuldade. Foi necessário muito amadurecimento de toda

a equipe, flexibilidade para reconhecer que muitas vezes não se sabe tudo, abertura

para aprender o novo, desprendimento para deixar de lado a postura e visão de

especialista para construir um novo modelo que buscasse superar todas as

limitações do modelo em que fomos formados e continuávamos formando.

A busca por um modelo que atenda integralmente as necessidades do aluno e

do paciente ainda não se esgotou. Tal como uma onda, a equipe docente tem

aproximações e distanciamentos do modelo que supere essas distorções. A busca

leva-nos constantemente a reflexões de nossa prática, pois ensinar exige a

convicção de que a mudança é possível.

Corpo Docente e Recursos Humanos Auxiliares

O corpo docente é composto por professores das áreas de Periodontia,

Endodontia, Dentística, Cirurgia e Prótese, que formam a base da grande maioria

dos planos de tratamento em Odontologia. A definição dos professores que

compõem o corpo docente é de responsabilidade da Coordenação do Curso de

Odontologia da Universidade de Fortaleza, levando-se em consideração não

somente a formação específica dos professores em cada uma das diferentes

especialidades da Odontologia, mas sobretudo a possibilidade de formação de um

cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e reflexivo, conforme proposto pelas

Diretrizes Curriculares.

Dentre os professores é designado pela Coordenação do Curso de Odontologia

um coordenador para a Clínica Integrada I e outro para a Clínica Integrada II, a fim

de proporcionar uma melhor articulação e comunicação entre os vários atores e

setores envolvidos neste espaço de aprendizagem e serviço.

8

Além disso, visando proporcionar condições ideais para o desenvolvimento das

atividades clínicas, os Estágios de Clínica Integrada I e II contam com a participação

de duas atendentes, responsáveis por controlar a distribuição de materiais de

consumo e equipamentos periféricos, e de dois auxiliares de serviços gerais, que

são definidos por meio de articulação entre os coordenadores da Clínica Integrada e

a Direção Clínica do Curso de Odontologia.

Estrutura Física e Funcionamento

As atividades dos Estágios de Clínica Integrada I e II do Curso de Odontologia

da Universidade de Fortaleza são desenvolvidas em ambiente clínico próprio

(Clínica Integrada), que conta com 36 boxes com equipo odontológico, cadeira,

refletor dois mochos, dois cestos de lixo com pedal, uma pia com bancada e um

armário de apoio. O setor de distribuição de material de consumo e instrumental

comunica-se com esta clínica por meio de uma janela. Além disso, a Clínica

Integrada possui uma sala equipada com cadeira e aparelho para a tomada de

radiografias periapicais e interproximais e dispõe ainda de armário móvel equipado

para emergências.

No início de cada semestre, os coordenadores das Clínicas Integradas I e II

selecionam aleatoriamente os alunos pelos quais os professores orientadores serão

responsáveis durante o semestre. Este professor responsável tem como tarefa

direcionar e discutir a elaboração dos planejamentos e planos de tratamento, bem

como acompanhar a execução dos procedimentos durante todo o semestre. Desta

forma, Os professores orientadores são responsáveis por um grupo de oito a dez

alunos, responsabilizando-se pelas seguintes atividades:

• Orientação de diagnóstico;

• Orientação no planejamento e elaboração do plano de tratamento;

• Orientação de procedimentos básicos e de adequação do meio bucal;

• Orientação nos procedimentos de urgência;

• Orientação de biossegurança;

• Orientação de ergonomia;

• Orientação na relação ética e humanizada entre o aluno e o paciente;

• Acompanhamento da execução do plano de tratamento das áreas

específicas;

8

• Avaliação global do aluno.

Para procedimentos de maior complexidade em uma determinada

especialidade odontológica, o professor orientador solicita o auxílio do professor da

área específica quando necessário. Desta maneira, o professor da área específica

orienta o procedimento em comum acordo com o professor orientador,

acompanhando a execução e discutindo o desempenho do aluno durante o

procedimento executado, o que contribui para o processo de avaliação.

O atendimento clínico aos pacientes e as demais atividades ocorrem de

segunda à sexta-feira, das 7h30min às 11h10min para a Clínica Integrada I e das

13h30min às 17h10min para a Clínica Integrada II. Os alunos realizam as atividades

em duplas, sendo o período clínico dividido preferencialmente em dois horários (AB

e CD), de forma a permitir que cada aluno da dupla possa atender o seu paciente

em um desses horários, combinado previamente entre eles. O atendimento em

dupla permite que eles trabalhem em sintonia aprendendo a delegar tarefas e

reconhecer a importância do auxiliar dentro da equipe de saúde, acompanhem

simultaneamente o atendimento de um caso, planejem juntos o tratamento para o

paciente e desempenhando a função de auxiliar, acumulem experiência para eles

próprios treinarem seu pessoal auxiliar.

Como ocorre na maioria dos Cursos de Odontologia, os pacientes atendidos

nos Estágios de Clínica Integrada I e II apresentam-se com as mais diversas

combinações de necessidade de tratamento. A utilização do Sistema de Informações

Acadêmicas (SIA), que possui os perfis de necessidade de tratamento de cada

paciente, permite escolher a combinação que mais interessa ao aprendizado de

determinado aluno em um dado momento. Desta forma, além de proporcionar uma

atuação integrada das diferentes especialidades da Odontologia e oferecer aos

alunos a oportunidade de atuação com os perfis mais complexos, exercitando assim

a capacidade de planejar e executar os mais diversos tratamentos, pode-se também

reforçar alguma área específica em que o aluno venha demonstrando dificuldade,

otimizando o aproveitamento do corpo docente.

Planejamento e Plano de tratamento

Após requisição e agendamento dos pacientes por meio do Sistema de

Informações Acadêmicas (SIA), o aluno realiza a anamnese, exame clínico e

exames complementares. Constatadas as necessidades de tratamento, executa-se

8

então um planejamento, baseado nestas necessidades. Em seguida é elaborado um

plano de tratamento sessão a sessão, que vai orientar o aluno a cada atendimento.

Para o planejamento e elaboração dos planos de tratamento, são realizadas as

Oficinas de Planos de Tratamento, nas quais os alunos se reúnem e discutem o

caso com seu professor orientador e demais professores que compõem o corpo

docente, a fim de se avaliar e propor as diferentes alternativas para resolução das

necessidades de tratamento odontológico de cada paciente.

Posteriormente, os alunos esclarecem aos pacientes e/ou acompanhantes as

possibilidades de tratamento, explicando cada procedimento proposto em linguagem

acessível. Desta maneira, aluno e paciente discutem e, finalmente, estabelecem o

plano de tratamento a ser executado, levando-se em consideração a autonomia e a

condição sócio-econômica e cultural do paciente, a fim de promover uma maior

participação durante o tratamento. Da mesma forma, qualquer alteração que ocorra

no plano de tratamento previamente estabelecido é comunicada ao paciente,

explicando-lhe o que a causou e quais as novas possibilidades e perspectivas.

Determinado o plano de tratamento, todos procedimentos clínicos executados

são registrados nos prontuários dos pacientes e no Sistema de Informações

Acadêmicas (SIA). Quando os tratamentos executados são lançados,

automaticamente os perfis que foram tratados são eliminados daquele paciente,

auxiliando o acompanhamento da história de tratamento dos pacientes.

A quantidade de pacientes a serem atendidos por cada um dos alunos é

estabelecida pelos professores orientadores, cabendo aos alunos buscar a dar alta a

todos os pacientes sob sua responsabilidade, procurando dar resolução às

necessidades dos pacientes, conforme seu perfil clínico, não havendo a

obrigatoriedade de cumprimento de uma produção mínima em cada uma das áreas

do conhecimento odontológico.

Discussão de Casos Clínicos

Durante o semestre são planejados momentos em sala de aula, visando a

promoção de discussões de situações e problemas recorrentes nas atividades

clínicas, em que para sua resolução, exija a necessidade da participação das

diferentes áreas do conhecimento odontológico. Inicialmente, o corpo docente se

responsabiliza pela eleição das situações clínicas, normalmente documentadas em

semestres anteriores, e pela condução da discussão dos casos clínicos. Ao final do

8

semestre, os alunos apresentam em forma de seminários os casos realizados que

foram selecionados e documentados pelos professores durante o período letivo.

Juntamente com a Oficina de Planos de Tratamento, a Discussão de Casos

Clínicos se constitui como importante ferramenta durante o processo ensino-

aprendizagem dos Estágios de Clínica Integrada I e II, uma vez que a discussão

coletiva, entre professores e alunos, de situações vivenciadas na clínica, possibilita a

implementação de uma filosofia de tratamento com base no rigor técnico-científico,

assegurando padrões de qualidade, e respeito aos princípios éticos, sensibilizando o

aluno quanto à necessidade de um atendimento integral ao paciente considerando

aspectos afetivos, sociais e culturais.

Plantão de Triagem

Todos os pacientes que pleiteiam tratamento odontológico nas clínicas do

Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza passam obrigatoriamente pelo

Setor de Triagem, sendo que o número e horário de atendimento dos pacientes são

previamente agendados.

Durante o período letivo, os alunos das Clínicas Integradas I e II participam

obrigatoriamente do atendimento no Setor de Triagem, cumprindo o horário de

funcionamento conforme escala estabelecida no início do semestre.

Os alunos escalados ficam à disposição do Setor de Triagem durante toda a

semana em que forem escalados e durante estes atendimentos, os alunos têm seus

desempenhos avaliados pelos professores responsáveis pelo Setor de Triagem.

Na impossibilidade de comparecimento no dia que estiver escalado, o aluno

deve, antecipadamente, providenciar um substituto, trocando com este o seu dia de

atendimento no Setor de Triagem, devendo tal substituição ser comunicada,

previamente, à Coordenação das Clínicas Integradas I e II.

Plantão de Urgência Odontológica

A Urgência Odontológica é um serviço oferecido de segunda a sexta-feira nos

períodos da manhã e tarde das 07h00min às 11h00min e das 13h00 às 17h00.

Compete aos alunos do último período que tratam pacientes prioritariamente com

diagnóstico de pulpites, fraturas, pericementites, abscessos, DTM, pericoronarite. No

plantão de urgência o aluno pode experienciar com mais facilidade o diagnóstico e

tratamento imediato para o alívio das dores da cavidade bucal. Este é um relevante

8

serviço prestado à comunidade, visto que poucos serviços prestam gratuitamente o

atendimento de urgência odontológica.

Ao chegar, o paciente é abordado por uma assistente social que organiza os

casos por prioridade de atendimento, considerando necessidades especiais e

aspectos subjetivos da dor. Após o cadastro na recepção o paciente flui para o

plantão de Triagem a fim de constatar se o caso é realmente de urgência, pois

muitas pessoas têm necessidade de pronto atendimento e buscam a satisfação

dessa necessidade na urgência. Não se tratando de um procedimento de urgência, o

paciente é devidamente orientado a procurar outros serviços ou agendado Triagem,

havendo vaga disponível, para aguardar tratamento.

Os atendimentos de urgência e triagem ocorrem normalmente no período de

férias garantindo a continuidade do atendimento. Nesses períodos, os alunos da

Clínica Integrada I realizam o atendimento no Plantão de Urgência e no Setor de

Triagem e Radiologia, conforme escala estabelecida pela Coordenação das Clínicas

Integradas, permitindo o fluxo contínuo desses serviços à população.

A Clínica de Adequação

A Clínica de Adequação surgiu de uma necessidade observada pelos alunos e

professores que realizavam a visita domiciliar na comunidade do Dendê, como parte

das atividades curriculares do Estágio Extra-Mural I, que também são alunos da

Clínica Integrada. Durante as visitas era grande o número pessoas de que

necessitavam de atendimento odontológico e esse paciente não fluía naturalmente

para o Curso de Odontologia, isso criava uma frustração no aluno que havia

diagnosticado uma situação de doença e tinha meios para limitar o dado, no entanto,

esbarrava em alguns entraves operacionais e o paciente visitado seguia com sua

lamentação e com o quadro tendo sua severidade agravada.

Desde 2003.1 esse fluxo mudou: o aluno que realizava a visita domiciliar e

diagnosticava necessidade de tratamento, passou a agendar esse paciente para ele

mesmo atender na Clínica Integrada, permitindo uma integração das atividades da

Clínica com o Estágio Extra-Mural. O paciente é atendido numa proposta de

adequação da cavidade bucal e é trabalhada uma proposta para que o paciente se

compreenda como sujeito de seu processo de cura. Dessa forma o aluno é

responsável integralmente pelas ações de saúde daquela família acompanhando

8

inclusive todo o impacto que as ações de saúde têm no lar dessas pessoas e

estreitando o vínculo do profissional com a família.

Na Clínica de Adequação são realizados procedimentos que visem o preparo

da cavidade bucal para o atendimento posterior, dessa forma são realizados

procedimentos de:

•selamento provisório de cavidade,

•abertura endodôntica,

•remoção de tártaro supragengival,

•remoção de raízes residuais

•restaurações de pequena complexidade

Finalizada a adequação, o paciente é encaminhado ao setor responsável para

a realização da Triagem ou agendamento para uma data posterior a fim de que seja

dada continuidade ao restante do tratamento.

É importante ressaltar que todas as pessoas atendidas pela clínica de

adequação são oriundas da Comunidade do Dendê, que têm um perfil sócio-

ecomômico muito baixo, o que acaba expondo essa comunidade a uma série de

fatores de adoecimento. A Clínica de adequação foi pensada para atender

fundamentalmente o princípio da eqüidade e justiça preconizado pelo Sistema Único

de Saúde.

Avaliação

Os alunos têm sua prática avaliada diariamente segundo Aspectos Gerais do

atendimento em que é avaliado o desempenho da dupla contemplando aspectos de

Organização e planejamento, Biossegurança, trabalho a 4 mãos e cuidado e

atenção durante o atendimento, e são avaliados individualmente pelo resultado do

procedimento realizado, nas categorias satisfatório, regular ou não satisfatório

registrados numa planilha própria para este fim. Tais avaliações culminam com

notas que são divulgadas mensalmente. Mas, o mais relevante da avaliação é a

capacidade de poder considerar o aspecto progressivo da aquisição de aprendizado

e autonomia, dessa forma, se o aluno que tinha deficiência em determinado

procedimento buscou superá-lo, na avaliação é considerado este aspecto e não a

simples média de notas diárias. Os professores são orientados a periodicamente

reunirem –se com seus orientandos para deixar claro quais aspectos necessitam de

8

aperfeiçoamento, e de como foi construída sua nota mensal. Essa clareza na

construção da nota tem sido um aspecto de impacto muito positivo relatados pelos

alunos pois lhes dá a clareza de suas limitações e a nota deixa de ser usada como

um instrumento de poder e punição.

Os sentimentos

Os semestres finais são recheados de sentimentos e emoções extremamente

opostas: felicidade por chegar ao último ano, insegurança por ter que adquirir mais

autonomia no tratamento do paciente, vitória por concluir o curso, angústia por ter

que iniciar uma caminhada para se inserir no mercado de trabalho... Esse carrossel

de emoções deixa o aluno confuso e tem reflexo no seu aprendizado e no

desempenho clínico. Começam a se questionar ‘E se aparecer algum problema no

atendimento, como vou resolver ?’ ‘Eu não sei fazer isso sozinho.’, ‘E agora que

acabei o curso, pra onde eu vou?’

Resolvemos então procurar administrar essas emoções para que elas tivessem

uma proposta pedagógica: aprender a conviver com conflitos. Foram identificados os

alunos que percebemos com maior dificuldade e junto com o professor orientador

procurou-se discutir com eles os aspectos que mais o incomodavam, possibilidades

de solução, objetivos a curto e longo prazo e vínculos estabelecidos. Com o apoio

da Comissão de Humanização, é realizado um momento de culminância em que são

planejadas vivências sobre as questões expostas, com o objetivo de fazer com que

o aluno perceba que aquele momento de dificuldade é transitório e é necessário

descobrir um equilíbrio para buscar o caminho que mais satisfaça as necessidades

individuais.

O modelo integrado é uma construção diária de professores, alunos e

funcionários, numa proposta de aprendizado mútuo, em que as relações e o diálogo

são instrumentos indispensáveis para alcançar o plano proposto, exercitando a

flexibilidade para reconhecimento de limitações, abertura para apropriação de novos

conhecimentos e atitudes e uma profunda reflexão crítica sobre a prática de ser

educador.

8

CAPÍTULO 6Controle de Infecção no Curso de Odontologia da

Universidade de Fortaleza (UNIFOR)Danilo Lopes Ferreira Lima

Dilene Maria de Araújo Façanha

Aminthas Alves Brasil Neto

Elilton Cavalcante Pinheiro Júnior

Solange Kátia Saito Fernandes

Luiz Roberto Augusto Noro

1. INTRODUÇÃO

A década de 80 notabilizou-se pelo aparecimento da Síndrome da Deficiência

Imunológica Adquirida (AIDS), o que levou os profissionais da área de saúde a

reverem todos os seus conceitos que se referiam à proteção individual e à proteção

de seus pacientes (BRASIL, 2000). Reflexo deste problema e considerando os

danos que a infecção hospitalar podem causar, o Ministério da Saúde (BRASIL,

1983), por meio da Portaria 196, de 24 de junho de 1983, condiciona o

funcionamento de qualquer hospital à implementação em suas dependências, de

uma comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH).

Entre os elementos propostos nas atividades das CCIHs estão as sugestões de

medidas que resultem na prevenção ou redução das infecções hospitalares, a

normatização para implantação destas medidas e o treinamento do pessoal

envolvido. Assim, o objetivo maior de um programa de controle de infecção

hospitalar (BRASIL, 1987) deve ser o de reduzir a agressão diagnóstica e

terapêutica ao paciente, expondo-o a um ambiente tão pobre de microrganismos

quanto aquele a que seria exposto fora do hospital.

Estas Comissões permitiram uma série de avanços nas discussões relativas

aos cuidados necessários visando a proteção do paciente e dos profissionais nos

serviços de saúde, em decorrência dos riscos representados por procedimentos

operatórios que envolvessem áreas de potencial infeccioso. Na realidade, esta

discussão extrapolou os hospitais e permitiu que outros serviços de saúde, em

9

especial os odontológicos, desenvolvessem farto material didático visando a

formação de profissionais de saúde mais preparados para enfrentamento destes

problemas, assim como apresentassem serviços que representassem o menor risco

possível ao paciente.

Em decorrência destas necessidades, é publicado pelo Ministério da Saúde

(BRASIL, 1987, 1994, 1996, 2000) vasto material que vai servir de referencial teórico

visando instrumentalizar os serviços de saúde e seus profissionais na busca nos

níveis mais baixos de infecção possível. Sabe-se que os componentes da equipe

odontológica (BRASIL, 1994) estão sob risco constante de adquirir doenças no

exercício de suas funções, sendo responsabilidade do cirurgião-dentista a

orientação da equipe e a manutenção do controle de infecção na prática

odontológica.

Na área da odontologia, o Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de

Saúde do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1995) emite o primeiro instrumento

legal que detalha as condições ideais de trabalho relacionadas ao controle de

doenças transmissíveis em estabelecimentos de assistência odontológica,

permitindo a atuação de forma efetiva das equipes de vigilância sanitária na garantia

de mecanismos adequados para funcionamento deste tipo de estabelecimento.

Este conjunto de procedimentos que visa dar segurança e proteção ao paciente

e aos profissionais que atuam dentro de ambientes passíveis de contaminação

microbiana conhecido como biossegurança (OPPERMAN, 2003) é um processo

operacional de fundamental importância em serviços de saúde, não só por abordar

medidas de controle de infecções, mas por ter um papel fundamental na promoção

da consciência sanitária, na comunidade onde atua, da importância da preservação

do meio ambiente na manipulação e no descarte de resíduos químicos, tóxicos e

infectantes e da redução geral de riscos à saúde e acidentes ocupacionais.

2. O CONTROLE DE INFECÇÃO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR

9

Criado em 1995, o Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza

(UNIFOR) teve como preocupação primeira a conduta exemplar no que se refere à

proteção daqueles que utilizam as dependências do curso, sejam eles professores,

alunos, funcionários ou pacientes. Além de preparar o aluno por meio da melhor

formação possível nos aspectos técnicos relacionados à prática odontológica, o

Curso de Odontologia da UNIFOR sempre primou em evidenciar os cuidados com

seus pacientes e com eles próprios, por meio da prevenção das infecções que

cercam o ambiente da clínica odontológica.

Com o objetivo de servir de articulador entre todos aqueles que atuam dentro

das dependências do Curso de Odontologia, bem como de gerir programas que

venham sempre buscar o aprimoramento e a atualização sobre prevenção de

infecções buscando o respeito pelo próximo na realização desta prática, foi criada no

dia 12 de fevereiro de 1998 a Comissão de Controle de Infecção do Curso de

Odontologia (CCICO) da UNIFOR, ficando normatizado que esta comissão se

reuniria ordinariamente uma vez ao mês e teria como membros efetivos, uma

enfermeira, um representante dos funcionários, um representante dos alunos e um

representante dos professores. Esta comissão é regida pela resolução n. 003/98 de

12 de Fevereiro de 1998. Muitas atividades têm sido desenvolvidas pela Comissão

de Controle de Infecção desde a sua implantação, como: aulas teórico-práticas para

os alunos que iniciam o atendimento clínico, atualização para professores recém

admitidos e aos demais alunos que já estão em atendimento clínico; campanhas de

conscientização sobre uso de equipamento de proteção individual (luva, máscara,

gorro, avental, óculos protetor), uso correto de filme protetor de superfícies, a não

utilização de anéis, relógios etc. durante o atendimento clínico, a prevenção de

acidentes com materiais pérfuro-cortantes, a limpeza, desinfecção e esterilização

correta dos kits de canetas de alta e baixa rotação e o incentivo a vacinação como

método de prevenção de doenças infecto-contagiosas. Também foi instituída a

notificação de acidentes ocupacionais dentro do Curso de Odontologia com o

objetivo de se ter dados concretos e de se obter as reais causas com relação a este

importante problema, buscando o correto encaminhamento para um hospital de

referência e acima de tudo, a prevenção. A Comissão também divulga o seu

trabalho em jornadas acadêmicas por meio da montagem de mesa clínica,

apresentação de trabalho e premiações. Outro avanço obtido pela CCICO-UNIFOR

9

foi a classificação do lixo visando a reciclagem, já que a demanda de papel utilizado

no Curso é muito grande.

Uma importante característica desta comissão é a mudança constante de

membros a cada mandato de um ano, sendo permitida a reeleição, para que todos

pudessem ter a oportunidade de participar deste importante trabalho dentro do

Curso. Desde então vários professores, funcionários e alunos se revezaram nesta

função e isto fez com que o programa de Controle de Infecção existente no Curso de

Odontologia da UNIFOR fosse reconhecido até mesmo fora do Estado do Ceará,

sendo visitado por representantes de diversos cursos de Odontologia espalhados

pelo país, para servir de espelho na implantação e implementação de seus

programas de controle de infecção em Odontologia.

Outra grande conquista dos avanços obtidos a partir do trabalho desenvolvido

pela CCIO foi a confecção do “Manual de Normas e Rotinas de Atendimento Clínico

no Curso de odontologia da UNIFOR” que tem como objetivo (Stefani et al, 2004)

nortear o atendimento clínico no Curso de Odontologia da UNIFOR, quanto ao

funcionamento das clínicas, o controle de infecção, a segurança e o conforto no

trabalho. Este manual é entregue a cada aluno para que observe a conduta a ser

tomada por eles dentro dos laboratórios e clínicas e está em constante revisão e

atualização para que estejamos sempre em dia com as descobertas e novas ações

nesta área.

3. NORMAS E ROTINAS PARA O ATENDIMENTO CLÍNICO NO CURSO DE ODONTOLOGIA

O Curso de Odontologia da UNIFOR conta com duas clínicas que possuem ao

todo 100 boxes equipados com equipo odontológico, cadeira, refletor, dois mochos,

dois cestos de lixo, uma pia com bancada e um armário para apoio. A clínica

multidisciplinar possui 64 boxes e dois pontos de apoio radiográfico e a clínica

integrada possui 36 boxes e um ponto de apoio radiográfico, estando esta última

9

anexa ao laboratório de radiologia. Existem ainda mais três laboratórios e um centro

cirúrgico para cirurgias eletivas.

Na realização do atendimento, cada aluno deve seguir um rigoroso protocolo de

biossegurança, começando por sua vestimenta que consta de uniforme branco e

sapatos apropriados. No momento do atendimento o aluno deverá estar

paramentado com jaleco padronizado, gorro ou touca, máscara, óculos de proteção

e luvas. O paciente também recebe barreiras de proteção que constam de óculos de

proteção, touca, babador impermeável e guardanapo, sendo estes três últimos

descartáveis.

Porém, para chegar ao atendimento um caminho deve ser trilhado. Tudo se

inicia com o preparo e empacotamento do material para esterilizar. O aluno recebe o

papel grau cirúrgico com filme na Central de Materiais e Esterilização (CME), nos

quais os instrumentais limpos e secos devem ser colocados, seguido da selagem

deste papel em máquina seladora automática. Uma técnica para empacotamento

que também pode ser utilizada é a do envelope, em que duas folhas de grau

cirúrgico sem filme as quais são cuidadosamente dobradas, na forma de um

envelope. Após o empacotamento, os instrumentais são identificados com etiquetas

específicas e em seguida são entregues para a esterilização em autoclave a vapor

na Central de Material e Esterilização (CME). Na identificação do instrumental do

aluno consta uma numeração própria, já que dentro da CME cada aluno possui um

nicho para guarda e controle da esterilização de seus instrumentais, para que assim

possa ser supervisionado esse processo e mantida a qualidade da esterilização

desses materiais.

A esterilização é realizada em autoclaves a vapor saturado sob pressão,

máquinas de grande capacidade que trabalham a 121 0C em 1 atmosfera durante 20

minutos para materiais termo-sensíveis (vidros, plástico e borracha) ou a 132 0C,

com 2 atmosfera durante 6 minutos para materiais termo-resistentes (instrumentais

de aço inox, campos cirúrgicos, gaze, algodão, kits de alta e baixa rotação). Este

processo é recomendável uma vez que destrói todas as formas de vida microbiana,

vegetativa ou esporulada. As autoclaves do curso passam diariamente por testes

biológicos com incubadora de leitura rápida e testes químicos (integrador, Bowie

Dick e fita teste em todos os pacotes e/ou teste químico de pacote), bem como a

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manutenção preventiva periódica de todas as máquinas, treinamento e reciclagem

dos funcionários que trabalham no setor, para uma maior qualidade desse processo.

Assim, nunca deve-se desinfetar aquilo que pode-se esterilizar.

Dentro da Central de Materiais e Esterilização existe um local chamado de sala

de recepção e expurgo, que recebe o material contaminado utilizado nas clínicas

pelos professores. Dentro desta sala ocorre a limpeza com solução enzimática,

enxágüe com água corrente, lubrificação apropriada e secagem do instrumental. Da

sala de expurgo o material segue para o setor de seleção e preparo de materiais, no

qual ocorre a classificação dos materiais em sensíveis e resistentes. Após a

classificação, faz-se a proteção das pontas dos instrumentos pérfuro-cortantes,

segue com o empacotamento e identificação para serem distribuídos em cestas

aramadas. Todo material vai em seguida em carro transporte para a sala de

esterilização, onde é realizada a autoclavagem.

O material do aluno é recebido, na sala de recepção e expurgo, devidamente

limpo, embalado e identificado onde serão inspecionados e conferidos, sendo

encaminhados também para o setor de seleção e preparo de materiais, onde

passam pela segunda inspeção e são selecionados em cestos aramados para então

serem encaminhados para a esterilização. Após a esterilização, o instrumental vai

para a sala de guarda e distribuição, sendo armazenados nos nichos numerados

pertencentes a cada aluno. Nesta mesma sala, que possui janela de distribuição que

é de acesso pelo interior da clínica, é realizada a entrega do material esterilizado

aos professores, alunos e funcionários. O aluno antes de receber o instrumental

estéril, já deve ter preparado o seu consultório para o atendimento clínico colocando

as barreiras de proteção (filme de PVC) nas cadeiras, equipos, refletores e

cuspideiras, utilizando também a paramentação individual anteriormente descrita,

além de receber os materiais de consumo em carro suporte de distribuição dentro da

clínica, antes de iniciar o atendimento ao paciente. Após o atendimento, haverá a

desmontagem do consultório, que ocorre com a remoção das barreiras de proteção,

e o aluno deverá estar devidamente paramentado com a proteção de luvas. Os

materiais pérfuro-cortantes utilizados são descartados em caixas apropriadas e/ou

incinerados e o instrumental utilizado deve ser colocado em depósito com solução

de detergente enzimático, sendo alguns instrumentos levados ao ultra-som. Após 15

minutos imersos na solução enzimática é efetuada a escovação e em seguida o

9

enxágüe com água corrente. Para esse procedimento de limpeza dos instrumentais

é necessário o uso de óculos de proteção, gorro, máscara, avental impermeável e

luvas grossas de cano longo específicas para tal.

Outro grande desafio de qualquer Comissão de Controle de Infecção está na

prevenção de acidentes, principalmente por instrumentos pérfuro-cortantes. Na

busca da redução sempre maior deste tipo de acidente a CCICO-UNIFOR vem,

constantemente, realizando campanhas entre os alunos conscientizando sobre o

problema que, na grande maioria das vezes, ocorre com agulhas. Para tanto, as

clínicas possuem incineradores de agulhas e extratores de canhão, evitando assim,

o reencapamento de agulhas ou a retirada destas com os dedos. Outra opção de

descarte são as caixas para instrumentos pérfuro-cortantes distribuídas em vários

pontos das clínicas, com o objetivo de haver o mínimo deslocamento dos alunos

para estes depósitos. Uma vez ocorrendo algum tipo de acidente com instrumentos

pérfuro-cortantes, o acidentado deve seguir um protocolo de atendimento que é

elogiado por aqueles que trabalham no hospital de referência de doenças infecto-

contagiosas do Estado do Ceará, o Hospital São José. Este protocolo consta de:

- Estimulação espontânea do sangramento da ferida sem espremer;

- Lavar com água corrente e sabão anti-séptico líquido;

- Realizar anti-sepsia com iodo-povidona a 1% ou clohexidina (em caso de

alergia ao iodo);

- Se necessário, fazer curativo com gaze estéril, fita micropore, esparadrapo, ou

proceder com sutura;

- Preencher ficha de Comunicação Interna de Acidente de Trabalho em 3 vias;

- Encaminhar o acidentado ao Hospital São José, juntamente com a 2a via da

ficha de acidentes (na maioria dos casos).

- Exames a serem realizados: Paciente/fonte; Aluno acidentado.

- Acompanhamento sorológico após 6 semanas, 3 meses, 6 meses e 12

meses.

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Todos os acidentes ocupacionais ocorridos estão notificados e arquivados para

controle da CCICO-UNIFOR.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Implantar normas é, em geral, algo desafiador considerando a dificuldade de,

muitas vezes, as pessoas não reconhecerem a importância e pertinência das

mesmas. Quando exigem rigor e precisão, como é o caso do controle de infecção

em serviços de saúde, esta dificuldade é ainda maior. E, quando devem ser

seguidas por pessoas com diferentes inserções (alunos, professores e funcionários)

em instituição de ensino superior, onde o serviço é complementar às ações de

ensino, este desafio ganha uma característica ainda mais sutil: colocar todos os

participantes como co-responsáveis num processo onde cada um dos atores

desempenhará papéis diferentes mas que terão que ter uma mesma prática e

postura numa determinada atividade.

Sabe-se que o controle de infecção é um processo progressivo e contínuo,

devendo constantemente ser atualizado e supervisionado para se garantir padrões

adequados de qualidade. Ao longo destes 10 anos do Curso de Odontologia da

UNIFOR, apesar de todas as dificuldades para desenvolvimento em harmonia das

normas e rotinas, o marco das ações de controle de infecção tem sido o

reconhecimento por parte de todos da necessidade e urgência no pleno

desenvolvimento destas atividades.

O que se prega é que estas atividades não devem por em risco qualquer um

dos participantes do processo terapêutico, permitindo que a satisfação obtida pelo

paciente, com seu novo sorriso, pelo funcionário, no oferecimento de material em

perfeitas condições, pelo aluno, com seu novo aprendizado e pelo professor, na

sensação do dever cumprido na formação do aluno, não sejam minimizados por

processos infecciosos preveníveis na prática odontológica.

9

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Ministério da Saúde. Hepatites, AIDS e herpes na prática odontológica. 1a.

ed. Brasília, Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de Doenças

Sexualmente Transmissíveis/AIDS. 1994. 56p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Processamento de Artigos e Superfícies em

Estabelecimento de Saúde. 2a. ed. Brasília, Secretaria de Assistência à Saúde.

Dep. Ass. e Prom. de Saúde. Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar.

1994. 50p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 196, de 24 de junho de 1983. Brasília, 1983.

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria Nacional de Organização e

Desenvolvimento de serviços de saúde. Manual de Controle de Infecção Hospitalar.

Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1987. 122 p.

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Coordenação

Nacional de DST e Aids. Controle de infecções e a prática odontológica em tempos

de Aids: manual de condutas. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.

OPPERMAN, C. M. Manual de biossegurança para serviços de saúde. Porto Alegre:

PMPA/SMS/CGVS, 2003. p. 80

SÃO PAULO. CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. PORTARIA CVS Nº 11, DE

04/07/1995 - Dispõe sobre condições ideais de trabalho relacionadas ao controle de

doenças transmissíveis em estabelecimentos de assistência odontológica.São

Paulo, 1995.

STEFANI, C.M.; ARAÚJO, D.M.; ALBUQUERQUE, S.H.C. Normas e rotinas para o

atendimento clínico no Curso de odontologia da UNIFOR. Fortaleza: Universidade

de Fortaleza, 2004. 82p.: il.

TAGLIAVINI, R. L. Prevenção de doenças ocupacionais em odontologia, São Paulo,

1998.

9

CAPÍTULO 7Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de Odontologia –

SIA/ODONTOKarol Silva de Moura

Eveline Turatti

Lívia Belchior Gomes de Matos

José Leitão de Castro Feitosa

José Raimundo Matos Miranda

INTRODUÇÃO

As discussões inerentes a este capítulo são pertinentes ao processo de

implantação e gerenciamento do Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de

Odontologia da Universidade de Fortaleza – SIA/ODONTO/UNIFOR.

A década de 70 coloca-se como marco importante, a partir do qual as

empresas, serviços e, mais recentemente as universidades, passaram a investir em

uma forma organizada e integrada de agilizar seus processos de trabalho, tendo

como referência as contribuições da tecnologia da informação e das políticas de

otimização de recursos na construção de um referencial de excelência no processo

de gestão acadêmica.

Nosso objetivo é oportunizar a diferentes segmentos da área acadêmica o

conhecimento da experiência vivenciada com as rotinas de gerenciamento do

SIA/ODONTO, enfocando desde o levantamento de necessidades realizado para

sua instalação; a estrutura operacional de elaboração; as estratégias de implantação

adotadas; as rotinas de monitoramento, às contribuições do SIA na gestão

acadêmica do Curso de Odontologia, considerando as diferentes categorias de

usuários representados pelos alunos, professores e funcionários.

SISTEMAS DE INFORMAÇÕES: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS CONCEITUAIS.

Define-se como um sistema de informações gerenciais – SIG uma estrutura

de pessoas, máquinas e procedimentos destinados à geração de um fluxo de

informações, podendo estas serem internas ou externas à organização, para uso no

9

processo de decisão, nos mais diversos níveis hierárquicos da organização

(OLIVEIRA, 1999). Seus principais objetivos são: i) dar suporte ao corpo gerencial

para a tomada de decisões, gerando informações no tempo em que elas são úteis;

ii) melhorar o desempenho de todas os envolvidos no SIG de modo que todas as

atividades da organização possam estar interligadas.

O conceito de sistema de informações gerenciais, em outras áreas

(computação, informática, etc.) consiste de uma ferramenta de software que, a partir

de informações ou dados preliminares, realiza uma análise e sugere a tomada de

uma decisão, a qual deverá ser analisada pelas pessoas responsáveis por este

processo.

No contexto atual, considera-se o SIA um sistema de apoio à decisão em

processos gerenciais, classificado como OLTP(Processos de transação on-line).

Quando uma organização decide trabalhar com um sistema de informações,

deve analisar a relevância quanto aos objetivos e metas desejadas e que grau de

importância ele exercerá no processo de tomada decisorial. É necessário distinguir

quais as informações o sistema deve disponibilizar, identificando também os

objetivos de cada setor e necessidades dos usuários que farão uso da ferramenta e

dos dados disponibilizados pelo sistema, nos seus diferentes níveis de

funcionalidade dentro da organização (CRUZ, 2002).

O Curso de Odontologia da UNIFOR possui uma estrutura organizacional

vinculada ao Centro de Ciências da Saúde – CCS e à Vice Reitoria de Graduação –

VRG, sendo composto pelos seguintes setores:

• Administrativos: coordenação, secretaria do curso, sala técnica e

administrativa;

• Clínicos: clínica de triagem, clínica de radiologia, clínica multidisciplinar e

clínica integrada;

• Acolhimento: recepção e serviço social;

• Central de Material de Esterilização - CME.

Nestes setores estão distribuídos os usuários do sistema de informações

acadêmicas, ou seja, alunos, professores e funcionários.

Ressalta-se, no entanto, que na atual fase de aplicabilidade do SIA/ODONTO,

os setores aos quais o sistema encontra-se interligado operacionalmente resumem-

se aos setores administrativos, mas especificamente a coordenação, clínicos e de

1

acolhimento, que estabelecem uma interface direta com o fluxo de pacientes

atendidos no Curso. Deste modo faz parte do Plano de Metas do Curso de

Odontologia a extensão do SIA à CME após a expansão de sua atual estrutura

física.

O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO SIA – HISTÓRICO

Criado em 1995, o Curso de Odontologia, a partir do início de suas atividades

veio apresentando uma demanda crescente de busca da população pelos serviços

originalmente planejados a serem prestados à comunidade.

Nesta perspectiva, vislumbrou-se a necessidade de se criar um Sistema de

Informações Acadêmicas, que fosse capaz de facilitar e otimizar o gerenciamento do

fluxo de pacientes de modo integrado ao processo de formação do aluno de

odontologia, ou seja, integrando a demanda social da coletividade às habilidades e

competências adquiridas pelo aluno de acordo com seu estágio de formação. Ao

mesmo tempo, como previsto no Currículo Mínimo para os Cursos de Odontologia,

pudesse trazer algumas contribuições práticas à compreensão do processo de

gerenciamento e administração de recursos, ressaltando elementos importantes no

percurso de aprendizagem dos alunos, como: o trabalho em equipe, o impacto, no

planejamento, da consolidação das redes de informação e a importância da

construção de indicadores epidemiológicos, sociais e operacionais que sirvam de

subsídios ao planejamento, monitoramento e avaliação dos serviços prestados,

consolidando uma prática fundamentada nos princípios éticos que norteiam a busca

por um acolhimento de qualidade à clientela.

O Sistema de Informações Acadêmicas foi inicialmente desenvolvido por uma

equipe formada por professores do Curso de Odontologia em parceria com a

Gerência de Tecnologia da Informação – GTI da UNIFOR. Esta parceria se fez

essencial para que as reais necessidades do curso pudessem ser traduzidas e

codificadas na linguagem de sistema.

Vale salientar o incentivo da equipe de coordenação do curso, neste período,

como mentor da proposta inicial e motivadora da busca de outras experiências no

âmbito acadêmico, em processo de informatização de fluxos gerenciais, que

pudessem servir de referência à elaboração da estrutura operacional do SIA. Nesta

perspectiva foi visitada a Faculdade de Piracicaba de Odontologia da Universidade

1

de Campinas, cujo modelo de informatização proporcionou o conhecimento de

alguns importantes elementos operacionais e gerenciais.

No segundo semestre de 1999, foi implantada sua primeira versão, na

perspectiva de um funcionamento piloto para identificação e implementação dos

ajustes necessários. A fase piloto teve uma duração de um ano consolidando-se a

partir daí a versão operacional implantada em 2000, a qual foi desenvolvida

utilizando-se da ferramenta Develop2000, da Oracle, baseada na arquitetura Cliente-

Servidor. Atualmente o sistema encontra-se em sua segunda versão.

Desde então, o sistema vem tendo um constante estímulo, da atual equipe de

coordenação, e incorporando um conjunto de novas funcionalidades, requeridas ao

bom funcionamento do Curso de Odontologia da UNIFOR. Dentre as mais

significativas, podem ser citadas melhorias em sua usabilidade, facilitando o acesso

a rotinas mais freqüentemente utilizadas e tornando as interfaces (telas) do sistema

mais amigáveis. Esta é uma característica importante dado que quase sempre os

usuários não possuem formação na área de tecnologia da informação.

PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO

O desenvolvimento do SIA se deu de acordo com as etapas a seguir,

consideradas padrão em todo processo de criação, implantação e acompanhamento

de Sistemas de Informação (FERNANDES & ALVES, 1992):

Requisitos:

Nesta etapa foram feitas entrevistas com os responsáveis dos principais

setores envolvidos com o projeto de informatização. O principal objetivo dessa fase

foi conhecer o fluxo de gerenciamento vigente, fluxo de funcionamento dos

processos envolvidos, para a montagem de uma proposta de informatização.

Primeiramente foram elaboradas planilhas de procedimentos padrões que os

professores preenchiam a mão, registrando a produção diária da clínica. Após um

tempo de utilização destas planilhas, passamos para a fase seguinte de elaboração

do sistema, contemplando a rotina do nosso curso. Foi uma fase de muito trabalho,

onde a participação dos professores, com sugestões, foi extremamente importante.

A cada disciplina foi solicitada a relação dos procedimentos que ela

consideraria importante que entrasse na lista dos procedimentos realizados. Depois

1

disso, os procedimentos comuns a várias disciplinas foi agrupado em um único

grupo, e os específicos receberam a nomenclatura da disciplina que os originaram.

Paralelamente a isso acontecia o cadastro de todos estes procedimentos, incluindo

suas particularidades, como, por exemplo, a classificação das classes de

restaurações e seus dentes respectivos.

Finalmente, foi definido que o sistema seria totalmente integrado com o sistema

acadêmico da UNIFOR e que os dados seriam hospedados em um servidor de

banco de dados Oracle.

No levantamento dos requisitos fundamentais à elaboração da versão inicial do

SIA foram destacados os seguintes aspectos, ou necessidades:

GERENCIAIS:

• Desenhar as funções e responsabilidades de cada setor, que

compõem o curso e a sua importância na qualidade do produto final

dispensado aos clientes internos: alunos e professores e clientes

externos: pacientes;

• Identificar dentro do fluxograma curricular todas as disciplinas

clínicas, com atendimento de pacientes, para cadastro por área,

definição de seus perfis de atendimento: características e

complexidade e procedimentos padrão para cada protocolo de

atendimento;

• Informatizar as diferentes etapas que compõem o atendimento dos

pacientes no curso, considerando o seu acolhimento; cadastro; perfil

de necessidades em saúde bucal; complexidade de atendimento;

caracterização sócio-econômica; encaminhamento às clínicas de

atendimento; plano de tratamento elaborado; agendamentos de

retorno; procedimentos realizados; necessidades de

encaminhamento a outros centros de atendimento específicos de

odontologia ou, de acordo com a necessidade diagnosticada,

encaminhamentos para outras áreas, como: fonoaudiologia,

fisioterapia, otorrinolaringologia, terapia ocupacional, nutrição, dentre

outras; encerramento do plano e alta do paciente;

• Formatar uma base de dados, que viabilize a construção de

indicadores de suporte ao planejamento, monitoramento e avaliação

1

dos serviços prestados, ressaltando-se a caracterização do perfil

epidemiológico e social dos pacientes atendidos no curso, bem como,

a criação de informações pertinentes ao gerenciamento do fluxo de

atendimento, como: capacidade de atendimento das disciplinas por

semestre; duração média do tratamento dos pacientes, considerando

as especificidades de cada área; tempo de espera dos pacientes

para o atendimento após o cadastro e vazão de atendimento das

clínicas segundo o sistema de trabalho adotado pelas disciplinas;

• Controlar o fluxo de pacientes no curso, para tanto, acompanhar o

funcionamento e rotina dos setores para elaboração de fluxos e

encaminhamentos necessários;

• Identificar o perfil de recursos humanos necessários no processo de

gerenciamento do SIA;

• Enumerar, após a elaboração da proposta de implantação, as

estratégias de sensibilização e qualificação dos usuários;

• Normatizar e documentar o fluxo de atendimento dos pacientes e os

processos de trabalho de suporte em cada setor.

PEDAGÓGICAS:

• Elaborar uma ferramenta de suporte ao acompanhamento pedagógico dos

alunos, pelos professores, no desenvolvimento de suas atividades práticas, mas

especificamente, na elaboração, execução e controle dos procedimentos

técnicos realizados;

• Fomentar a criação de uma base de dados de suporte à realização de

pesquisas no âmbito da odontologia;

• Trabalhar as bases referenciais do planejamento em saúde ressaltando

questões de natureza teórica, metodológica, técnica e instrumental, que possam

contribuir com uma formação acadêmica voltada ao enfrentamento dos

problemas e atendimento as necessidades da população delimitadas em função

de seus critérios geográficos, demográficos, epidemiológicos e sociais.

Além de se fazer um estudo de custos de instalação, equipamentos e

modificações estruturais necessárias.

Análise e Projeto:

1

Foi utilizada a metodologia da análise estruturada utilizando-se ferramenta

CASE (Engenharia de Software Auxiliada por Computador) para definição de

diagramas de fluxo de processos. Também foram elaborados o projeto de

definição da estrutura do banco de dados e seus relacionamentos, a hierarquia, o

fluxo de dados e diagramas hierárquicos de funções.

Desenvolvimento:

Nesta fase ocorreu a etapa de codificação ou programação e testes dos

fluxos definidos na etapa de projeto.

Atualmente o sistema encontra-se em manutenção contínua, para

adequação das novas necessidades identificadas, ou mesmo implementações

que viabilizem a incorporação ideal de todas as necessidades levantadas na fase

de requisitos as quais não foram, ainda, na íntegra viabilizadas,

conseqüentemente busca constantemente a melhoria dos serviços associados

ao mesmo.

A equipe de suporte e gerenciamento in loco do SIA/ODONTO é composta

por uma Professora com formação em Odontologia, um recurso humano de nível

médio que auxilia os professores e alunos na utilização do SIA e uma Analista de

Organização e Métodos – O&M, que mantém a interface com a Gerência de

Tecnologia da Informação, responsável pela análise e operacionalização das

implementações solicitadas, pelos usuários, em prol da maior aplicabilidade do

SIA às necessidades organizacionais do Curso do Odontologia.

O sistema acadêmico encontra-se disponível em todos os computadores do

curso de odontologia, assim distribuídos:

Quadro 1. Informativo consolidado da distribuição de equipamentos por espaços no curso

de odontologia. Universidade de Fortaleza. Período: 2005.1

Local Quantitativo de ComputadoresSala dos Professores 02Secretaria do Curso 01Coordenação 02Recepção 06Serviço Social 01Clínica de Triagem 01Clínica de Radiologia 02Clínica Integrada 05Clínica Multidisciplinar 08Núcleo de Pesquisa da Odontologia 02TOTAL 30

1

CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE DE TI

As características do ambiente de TI foram divididas em dois tópicos: a)

Requisitos de Hardware; b) Requisitos de Software.

a) REQUISITOS DE HARDWARE:

Requisitos de hardware mínimos recomendados, das estações clientes:A configuração mínima para execução do sistema encontra-se abaixo:

Microcomputador Pentium 266 MHz

Memória: RAM (Randon Access Memory) de 64 Mb

HD (Hard Disk – Disco Rígido) de 8Gb

Vídeo: monitor de vídeo SVGA com resolução 800 X 600 ou superior e placa de

rede para conexão à rede local.

Conectividade: acesso à rede local.

Requisitos de hardware mínimos recomendados, do servidor: devem ser

dimensionados em função das necessidades e porte da Instituição em que será

instalado.

b) REQUISITOS DE SOFTWARE DAS ESTAÇÕES CLIENTES

O SIA pode ser executado em computadores que dispõem do sistema

operacional Windows 98 ou versões mais recentes (Windows 98 SE, Windows

Millennium, Windows 2000 e Windows XP).

Oracle Developer 2000 Run-time. Esse software permite a conexão e interface

do SIA com o banco de dados localizado nos servidores da Universidade via

protocolo IP (Internet Protocol).

Os computadores nos quais o SIA está instalado devem estar conectados em

uma rede local com velocidade de 10Mbps, para obter acesso à base de dados

Oracle (SGBD - Sistema Gerenciador de Banco de Dados).

POLÍTICA DE ACESSO E SEGURANÇA

Cada usuário tem acesso ao SIA através da digitação do número de matrícula

na UNIFOR e de uma senha criada e cadastrada pelo próprio usuário na biblioteca

1

da UNIFOR, sendo a mesma utilizada para solicitação e empréstimo de livros e

periódicos.

A utilização desta senha é uma das formas de segurança para garantir que o

usuário somente acesse as telas cujas funcionalidades são pertinentes ao seu perfil,

o qual é definido, a partir da análise das atividades de cada tipo de usuário (alunos,

professores e funcionários). Para maiores esclarecimentos, serão apresentados

adiante os perfis de usuários elaborados na fase de requisitos e análise do projeto

com a relação de suas respectivas telas e modalidades de acesso, que serão

posteriormente apresentadas em detalhes.

É importante ressaltar que para cada tela há duas modalidades de acesso:

consulta ou operação, que são definidas também de acordo com as atividades e,

conseqüentemente, perfil de cada usuário.

Na modalidade de acesso para consulta o usuário não tem permissão de

alterar as informações que estão sendo consultadas.

Na modalidade de acesso, operação, o ambiente disponibilizado ao usuário

permite que ele insira, exclua, altere as informações contidas na tela. Operações

estas que serão pertinentes às funcionalidades de cada usuário no Curso de

Odontologia.Quadro 2. Apresentação das principais telas e modalidades de acesso segundo o perfil dos

usuários. SIA/ODONTO. Universidade de Fortaleza. Período: 2005.1.

Usuários Telas de acesso Modalidades de acesso

Gerência in loco do SIA

Prontuário Consulta

Prontuário – Ficha Social Consulta

Perfil odontológico Operação

Plano de tratamento OperaçãoDemanda OperaçãoRequisição OperaçãoVinculação Operação

Analista de O & M

Prontuário ConsultaProntuário – Ficha Social ConsultaPerfil odontológico ConsultaPlano de tratamento ConsultaDemanda OperaçãoRequisição OperaçãoVinculação Operação

Coordenação Tem acesso as mesmas

telas da gerência in loco do SIA

Preservam-se as

mesmas modalidades

1

Recurso Humano de Nível

Médio de apoio aos

Professores e Alunos

Perfil odontológico ConsultaProntuário OperaçãoRequisição OperaçãoDemanda OperaçãoVinculação Operação

Professores da Área Clínica

Prontuário ConsultaAgenda-disciplina ConsultaPendências ConsultaPlano de tratamento -

professor

Operação

Perfil odontológico ConsultaSolicitação de trabalhos

protéticos e ortodônticos

Operação

Encaminhamento de

pacientes

Operação

Professor - triagem

Prontuário ConsultaAgenda-disciplina ConsultaPendências ConsultaPlano de tratamento-

professor

Operação

Perfil odontológico OperaçãoEncaminhamento de

pacientes

Operação

Alunos

Prontuário Consulta/OperaçãoPendências ConsultaAgenda-disciplina ConsultaPlano de tratamento - aluno OperaçãoSolicitação de trabalhos

protéticos e ortodônticos

Operação

Funcionários - recepção

Prontuário OperaçãoConfirma requisições OperaçãoPerfil odontológico Consulta

Funcionário – serviço social

Prontuário ConsultaProntuário – ficha social OperaçãoPerfil odontológico Consulta

Funcionário - radiologia Prontuário ConsultaImagem - paciente Operação

Outra política de segurança adotada para o acesso das telas e informações é a

liberação de acesso somente para os professores e funcionários lotados no Centro

de Ciências da Saúde, no Curso de Odontologia e para os alunos regularmente

matriculados no curso. No caso dos professores e alunos, o acesso somente é

permitido se estiverem, respectivamente, alocados e matriculados em disciplinas

clínicas, que diretamente estão relacionadas ao fluxo de pacientes no Curso. Em

relação aos funcionários, é feita uma análise se o setor em que o funcionário está

alocado trabalha diretamente com alguma tela do sistema acadêmico. Após esta

análise é enviada uma solicitação de liberação de acesso para a Gerência de

Tecnologia da Informação da UNIFOR com a indicação de quais telas são

1

pertinentes ao perfil do usuário, em questão, e que tipo de acesso deverá ser

permitido: consulta ou operação.

A definição dos perfis de usuário, bem como, telas e modalidades de acesso

é analisada e estabelecida pela Gerência in loco do SIA no Curso de Odontologia.

AS ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO ADOTADAS

Após a elaboração do SIA, foram realizadas Oficinas de Treinamento e

Qualificação do corpo docente, discente e funcionários, de acordo com as

funcionalidades de cada usuário.

Em relação aos professores as Oficinas de implantação foram planejadas por

área com o objetivo de analisar as necessidades de adaptação inerentes às

especificidades de cada área, considerando sistema de trabalho adotado;

informações de interesse específico da área; cronogramas de planejamento das

atividades práticas; avaliação da capacidade média de atendimento no semestre;

tempo médio de atendimento, tendo em vista a variabilidade de acordo com a

natureza do procedimento, dentre outros.

Quanto aos alunos, as Oficinas foram desenvolvidas no momento em que

ingressavam em suas atividades práticas de caráter clínico com atendimento de

pacientes.

Os funcionários de cada setor passaram por uma qualificação simultânea para

início da utilização das telas referentes a sua função.

Como consideramos o gerenciamento do SIA um processo permanente,

semestralmente as Oficinas de treinamento e monitoramento do SIA continuam

ocorrendo até os dias atuais.

As oficinas de treinamento ocorrem no início de cada semestre com os usuários

(alunos), que estão tendo contato pela primeira vez com o SIA. Para o novo

fluxograma curricular, 36.3, este momento se dá no 3o semestre, que demarca o

início dos alunos em atividades clínicas. Sendo o treinamento do SIA,

curricularmente previsto pelo conteúdo programático da Disciplina de Iniciação

Clínica. O treinamento é realizado em laboratórios de informática com a utilização de

um banco de dados de homologação, que simula todas as condições de

atendimento dos pacientes, sendo ministrado pela professora responsável pelo

gerenciamento do SIA e pela Analista de O & M.

1

A Oficina é dividida em dois momentos: no primeiro momento são expostas

todas as normas de funcionamento dos setores que compõem o Curso de

Odontologia e suas interfaces com o SIA, em seguida, se discute o fluxo de

pacientes e sua operacionalização. No segundo momento, são simuladas as

utilizações das telas e suas respectivas modalidades de acesso: consulta ou

operação. Como material de apoio é disponibilizado aos alunos o Manual de

utilização do SIA para alunos, o qual também é disponibilizado on-line na homepage

do Curso de Odontologia.

As oficinas de monitoramento ocorrem ao final do período letivo, para

levantamento de sugestões por parte dos usuários, identificação de fatores

dificultadores da sua usabilidade, encerramento ou interrupção temporária do fluxo

dos pacientes em tratamento, dado o encerramento do semestre vigente. As

sugestões e solicitações são analisadas quanto a sua viabilidade e pertinência para

que as devidas implementações sejam realizadas.

Segundo Walton (1994), é importante ressaltar a necessidade do

comprometimento mútuo entre usuários e gestores do processo de informatização

para a garantia de qualidade do produto final. Os sistemas só se tornam úteis e

inteligentes se forem qualitativamente abastecidos por seus usuários.

A respeito desta consideração coloca-se como um enorme desafio, na fase de

implantação dos Sistemas de Informatização, a sensibilização dos usuários para sua

correta utilização. Este desafio e porque não dizer dificuldade foi vivenciada no

processo de implantação do SIA/Odonto, podendo-se ressaltar, que ainda hoje, no

seu acompanhamento, temos dificuldades com a qualidade de adesão dos usuários.

Para maior entendimento do suporte do SIA ao gerenciamento do atendimento

de pacientes, será apresentado a seguir o fluxo de pacientes e as principais telas de

gerenciamento.

FLUXO DE PACIENTES DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR

1

PACIENTE NOVO

RECEPÇÃO (A)

ESCOVÓDROMO (B)

De acordo com o fluxo apresentado, um paciente novo, aqui considerado, é

aquele que ainda não possui cadastro no Curso. Deste modo, não tem nenhum

plano de tratamento previsto em qualquer das áreas.

Geralmente, inicialmente os pacientes ligam para conhecimento dos serviços

oferecidos pelo Curso e, de acordo com seu interesse, e disponibilidade de vagas

agenda sua triagem.

São serviços oferecidos pela graduação de odontologia: tratamento nas áreas

de dentística, endodontia, periodontia, cirurgia, prótese dental (fixa, removível e

total), odontopediatria e semiologia. Sendo disponibilizado ainda o serviço de

diagnóstico por imagem da radiologia.

A pós-graduação oferece, em níveis de complexidade maiores, tratamento nas

áreas de dentística, periodontia, endodontia e prótese.

Considerando o Curso de Odontologia da UNIFOR uma referência no

atendimento odontológico para o Estado do Ceará, a clientela que busca por estes

serviços distribuem-se nos mais diferentes bairros da capital e municípios do Estado.

Contudo, a UNIFOR tem estabelecido uma atenção diferenciada à Comunidade do

Dendê, que situa-se no bairro Edson Queiroz, vizinho ao Campus Universitário,

constituindo uma das áreas de risco do bairro, onde vivem aproximadamente 2055

famílias com 9503 habitantes.

1

CLÍNICA DE TRIAGEM (C)

RADIOLOGIA (D)

SERVIÇO SOCIAL(E)

CLÍNICA MULTIDISCIPLINAR

(F)

CLÍNICA INTEGRADA

(G)

PÓS-GRADUAÇÃ

O (H)

TRATAMENTO ENCERRADO OUTRATAMNETO INTERROMPIDO

Após o conhecimento dos serviços disponibilizados, tendo o paciente interesse

em agendar seu tratamento, lhe é solicitado que em dia e turno marcado ele

compareça ao Curso portando um documento de identificação (ex: carteira de

identidade, ou carteira de estudante, ou certidão de nascimento) e um comprovante

de endereço (ex:água, luz, telefone), documentos estes utilizados para realização do

cadastro do paciente. Ressalta-se, que o cadastro só deve ser realizado mediante

apresentação dos documentos solicitados, para obtenção de um maior grau de

fidedignidade e qualidade das informações prestadas.

Com a realização do cadastro, na recepção (A), o paciente recebe o cartão

UNIFOR, que possui uma tarja magnética, viabilizando assim, seu acesso por meio

de catracas eletrônicas, aos serviços prestados pela Universidade. Desta forma,

está aberto o prontuário do paciente, em uma tela específica do SIA, a tela de

prontuário, a partir da qual poderemos identificar o paciente fazendo uma busca no

SIA por meio de um número gerado automaticamente: o número do prontuário, ou

pelo próprio nome do paciente.

Com o cadastro pronto, os pacientes agendados para triagem são

encaminhados para o escovódromo (B), local em que recebem orientações das

normas e rotinas do curso e são esclarecidos sobre as tecnologias preventivas

disponíveis para o controle das principais doenças de impacto na saúde pública:

cárie e doença periodontal, a partir da realização de uma breve Oficina de Educação

em Saúde. Participam deste momento, os alunos do último ano de formação sob

orientação de um professor e a Assistente Social do Curso. No mesmo turno o

paciente será encaminhado à clínica de triagem, serviço social e radiologia.

Na clínica de triagem (C) o paciente é atendido, por alunos do 9o e 10o

semestres e sob orientação de uma professora, para realização do exame bucal e

determinação do seu perfil de necessidades, assim como, avaliação do grau de

complexidade das intervenções requeridas, conforme definição prévia por cada uma

das áreas, construindo-se assim o perfil odontológico do paciente que será inserido

no SIA na tela de perfil odontológico e o qual só é totalmente fechado quando

finalizada a avaliação do paciente na Clínica de Radiologia (D).Na clínica de radiologia (D), como rotina de atendimento é realizada a tomada

radiográfica panorâmica para diagnóstico precoce de problemas odontológicos não

discerníveis clinicamente, como: presença de dentes inclusos, localização dos

mesmos, avaliação da necessidade cirúrgica, presença de tumores, dentes

1

supranumerários, dentre outros. Após a tomada radiográfica, a radiografia é

processada, escaneada e anexada ao prontuário virtual do paciente para consulta

através da tela de imagem – paciente, que possui uma interface direta com a tela de

prontuário.

O último espaço a ser percorrido pelo paciente é o serviço social (E), no qual

ele é atendido por uma Assistente Social, que é responsável pela análise e

elaboração do perfil sócio-econômico do paciente. O perfil sócio econômico é

disponibilizado para consulta por determinados usuários (professores) através da

tela prontuário-ficha social.

Estando inseridos no SIA os dados referentes ao cadastro, perfil odontológico e

sócio econômico, o paciente deverá aguardar um contato do Curso que será feito

pela recepção (A), para o início do seu tratamento, cujo tempo de espera é variável

de acordo com capacidade de vazão de cada disciplina. Ele é a partir de então

considerado um paciente regular do Curso.

O perfil odontológico e grau de complexidade do tratamento requerido,

analisados na clínica de triagem, determinarão a qual clínica o paciente deverá ser

encaminhado: multidisciplinar (F) ou integrada (G), recaindo sobre a clínica

integrada a indicação dos casos mais complexos e demorados. Caso o perfil de

complexidade não seja considerado de graduação os pacientes são encaminhados

às clínicas de pós-graduação (H). O apontamento da clínica de encaminhamento é

feito na tela de perfil odontológico.

A ROTINA DE SOLICITAÇÃO DE PACIENTES PELAS CLÍNICAS DE

ATENDIMENTO

Ressalta-se inicialmente, que a solicitação de pacientes é feita tendo por base

o cadastro das disciplinas clínicas com atendimento de pacientes no SIA e seus

respectivos perfis de atendimento: característica e complexidade definidos ainda na

fase de requisitos para o desenvolvimento do sistema.

A rotina de solicitação de pacientes por disciplina segue o fluxo a seguir: No

início de cada semestre, em função do número de alunos matriculados em cada

disciplina, considerando as habilidades e competências do estágio de formação em

que se encontra o aluno e as necessidades dos pacientes cadastrados para

atendimento é feita a indicação da demanda por disciplina e conseqüente requisição

1

dos pacientes, de modo a selecionar um paciente para cada aluno. Esta fase de

requisição de pacientes é executada pelo recurso humano de nível médio de apoio

aos Professores e Alunos, no início das atividades clínicas, utilizando para tanto as

telas de demanda e requisição de pacientes, respectivamente. Posteriormente, os

pacientes são então vinculados aos alunos, que serão responsáveis pelo

atendimento do paciente até sua alta sob supervisão do professor orientador. A

tarefa de vinculação também é executada pelo mesmo recurso humano acima

citado.

Uma vez vinculado ao aluno, o paciente inicia seu tratamento, em uma

determinada área, o qual de acordo com a sua complexidade poderá ou não ser

finalizado ao longo do semestre. Caso seja finalizado, no final do semestre ele terá

seu plano de tratamento encerrado. Caso não finalize, seu plano de tratamento será

interrompido para continuidade no semestre seguinte.

Ao longo do semestre, cabe ao aluno, utilizando a tela de plano de tratamento-

aluno, elaborar o plano de tratamento do paciente e submetê-lo ao professor

orientador, que o aprovará ou o rejeitará utilizando a tela: plano de tratamento-

professor. O plano quando aprovado libera o aluno para execução dos

procedimentos previstos, os quais na medida em que vão sendo executados

também vão sendo registrados no SIA e submetidos ao Professor Orientador até o

momento da alta do paciente, ou interrupção do plano.

Desta maneira, ao final do semestre, temos um certo volume de pacientes que

encerram seu tratamento e recebem alta e outros que interrompem temporariamente

para continuidade no semestre seguinte. A revinculação dos pacientes, com

tratamento interrompido de um semestre para outro, é realizada automaticamente

pelo SIA, sendo a demanda de pacientes complementada com os pacientes novos

em espera.

PRINCIPAIS TELAS DO SIA DE SUPORTE AO FLUXO DE PACIENTES

TELAS DE ACESSO AO SISTEMA COMUNS A TODOS OS USUÁRIOS

1. Tela de login: disponível ao usuário em rede, permite sua conexão na rede localda

Universidade e posterior utilização do SIA/Odonto. No campo usuário é sempre

usado, na situação dos alunos, a expressão: aluno-odonto, não sendo necessária a

1

digitação de senha. Para professores e funcionários, cada um deverá se logar

utilizando a sua denominação própria de usuário e sua senha de rede, cadastrada

previamente na Gerência de Tecnologia da Informação.

Fig. 1.Tela de Login do usuário na Rede Local da UNIFOR. 2005.1.

2. Tela de login do SIA (Sistema de Informações Acadêmicas): é acionada a partir

de um ícone presente na área de trabalho dos computadores. Esta tela solicita a identificação do usuário, que é fornecida com a digitação da matrícula na UNIFOR e da senha individual.

Fig. 2.Tela de Login do SIA. 2005.1.

A partir desta tela cada usuário, de acordo com suas atribuições, no Curso de

Odontologia, terá acesso a um conjunto de telas específicas que lhe são pertinentes.

O caminho a ser percorrido, por cada usuário, até o acesso das telas operacionais

está especificado a seguir: transações – curso de odontologia – telas operacionais,

cujo acesso é definido de acordo com o perfil de cada usuário.

1

Fig. 3.Tela Principal do SIA/ODONTO. 2005.1.

Para conhecimento, abaixo, estão expostos os principais comandos do Sistema.

TELAS OPERACIONAIS DE ACESSO

1. Tela Agenda-DisciplinaFinalidades:

- Informar o quantitativo dos pacientes agendados para uma

determinada disciplina segundo dia e turno de atendimento,

especificando-os nominalmente e pelo número do prontuário;

1

- Indicar o aluno responsável pelo atendimento do paciente na disciplina;

- Atualizar dinamicamente o status do paciente o qual poderá indicar

marcado, confirmou chegada, compareceu em atendimento ou

atendido. Cada uma dessas indicações se dará de acordo com o fluxo

de atendimento do paciente.

Benefícios:

- Viabiliza o levantamento do número médio de pacientes atendidos por

dia e turno nas diferentes disciplinas;

- Possibilita a identificação dos pacientes que estão sendo atendidos

pela 1a vez no Curso e em determinada disciplina e, que

conseqüentemente, demandarão por um tempo maior de atendimento

naquele turno para elaboração de seu plano de tratamento;

- Permite uma maior ordenação do planejamento de recepção dos

pacientes, com a separação prévia de seu prontuário e entrega ao

aluno responsável pelo tratamento do paciente anteriormente a sua

chegada;

- Permite o acompanhamento do fluxo interno de pacientes no curso de

odontologia, facilitando rapidamente sua localização.

A seleção da consulta pode ser por disciplina ou por professor orientador, com a

indicação da data e turno que se deseja consultar.

Fig. 4. Tela agenda-disciplina. SIA/Odonto.2005.1.

1

2. Tela de Prontuário

Finalidades:- Permitir a inclusão dos dados cadastrais dos pacientes, endereço e

telefone para contato, turno para o qual tem disponibilidade para o tratamento, data de inclusão no curso, formatando assim, uma base de dados referente aos pacientes do curso;

- Identificar pendências relativas aos deveres dos pacientes mediante as normas de funcionamento do curso;

- Identificar a qual requisição o paciente encontra-se vinculado e, conseqüentemente, área, disciplina, aluno e professor responsável pelo seu tratamento;

- Localizar se o pacientes apresenta agendamento para outros serviços no curso: radiologia, urgência etc.

- Associar o cartão UNIFOR com o qual o paciente passa a ter acesso aos serviços prestados pela Universidade.

- Agendar os próximos retornos do paciente.

Benefícios:- Acesso informatizado aos dados cadastrais do paciente, podendo

estes serem consultados rapidamente;- Possibilita a orientação aos pacientes quanto as suas

responsabilidades e cumprimento das normas de funcionamento do curso;

- Permite a identificação dos alunos e professores responsáveis pelo atendimento;

- Permite o acesso regular dos pacientes às Clínicas de Atendimento;- Viabiliza uma maior ordenação do planejamento de recepção dos

pacientes, uma vez que há a previsão do atendimento para uma determinada disciplina, dia e turno.

A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo nome ou data de nascimento do paciente.

1

Fig. 5. Tela de Prontuário. SIA/Odonto 2005.1.

3. Tela de Plano de Tratamento – Aluno

Finalidades:

- Permitir o planejamento dos procedimentos que serão realizados no

paciente para melhor atendimento de sua necessidade de tratamento,

considerando o menor tempo e as tecnologias disponíveis no

momento;

- Indicar o status do plano: aprovado, encerrado ou interrompido.

Benefícios:

- Otimização do tempo de atendimento do paciente;

- Registro do planejamento de atendimento do paciente, para posterior

análise de sua eficácia e pertinência frente ao diagnóstico inicial

estabelecido;

- Acompanhamento do aluno pelo professor orientador, na medida em

que os procedimentos executados vão sendo inseridos e analisados

quanto a sua previsão inicial ou não;

- Conhecimento do status do plano para que se façam os

encaminhamentos necessários.

- Permite identificar a data de início de tratamento do paciente da

disciplina, pela data de elaboração do plano, que demarca a sua

primeira consulta na disciplina e assim o seu tempo médio de

permanência na disciplina.

1

A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo

número do plano do paciente.

Fig. 6. Tela de Plano de Tratamento- Aluno. SIA/Odonto 2005.1.

4. Tela de Trabalhos Protéticos e Ortodônticos

Finalidades:

- Viabilizar o encaminhamento da solicitação, pelos alunos, de trabalhos

protéticos e ortodônticos aos laboratórios, via serviço social, onde é

realizado o planejamento de pagamento dos serviços;

- Permitir o controle, por parte do Serviço Social, da solicitação dos

trabalhos laboratoriais e planejamento das parcelas de pagamento, ou

ainda, análise de isenção das mesmas.

- Subsidiar o planejamento financeiro de pagamento dos trabalhos a

partir da indicação do tempo de tratamento dos pacientes.

Benefícios:

- Permite o acompanhamento do fluxo de solicitação dos trabalhos

protéticos e ortodônticos, desde a sua indicação até o retorno definitivo

do laboratório para instalação.

- Viabiliza o acompanhamento do planejamento financeiro para

pagamento dos serviços solicitados, pelos pacientes, de acordo com a

sua caracterização sócio econômica e tempo de tratamento previsto.

1

Fig. 7. Tela de Trabalhos Protéticos e Ortodônticos. SIA/ Odonto 2005.1

Essa tela é utilizada pelas Clínicas: multidisciplinares e integrada, nas quais são

atendidos pacientes com necessidades protéticas e ortodônticas, cujas atividades

laboratoriais são terceirizadas.

Os trabalhos solicitados pelos alunos só são encaminhados mediante

conhecimento e aprovação dos mesmos pelo professor orientador.

A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo nome do paciente.

5.Tela de Plano de Tratamento - Professor:

Finalidades:

- Permitir o acompanhamento do aluno, pelo professor, em relação ao

planejamento e execução dos procedimentos;

- Indicar o status do plano: aprovado e encerrado ou interrompido, a

partir do andamento do plano do paciente.

Benefícios:

- Referem-se aos mesmos já relacionados para a tela de plano de

tratamento-aluno, visto que suas atividades estão interligadas.

A seleção da consulta poderá ser pelo número do plano, ou número do prontuário do paciente.

1

Fig. 8 Tela de Plano de Tratamento – Professor. SIA/Odonto. 2005.1

6. Tela de Perfil OdontológicoFinalidades:

- Registrar o perfil de necessidades odontológicas dos pacientes de

acordo com a triagem realizada;

- Identificar, para qual clínica o paciente deve ser encaminhado (clínica

multidisciplinar,clínica integrada ou clínicas de pós-graduação), de

acordo com o grau de complexidade do seu perfil;

- Permitir a inativação dos perfis já apontados, quando necessário,

indicando o motivo pelo qual um determinado perfil odontológico, ou

todos, está sendo inativado;

- Indicar os professores e alunos responsáveis pela triagem.

Obs: A inativação de perfis ocorre em algumas situações específicas para as quais o

SIA possui registrado um banco de motivos de inativação. Os principais motivos de

inativação são: pacientes com dados cadastrais incorretos, que inviabilizam sua

localização e agendamento das consultas; pacientes que faltam com freqüência e

sem justificativa ao tratamento; pacientes que iniciaram o tratamento em outras

Instituições; pacientes, que por alguma intervenção prévia ao tratamento, em outros

locais, alteraram seu perfil inicialmente diagnosticado na triagem, pacientes que não

tem mais interesse em iniciar ou continuar seu tratamento na Universidade;

pacientes que faleceram; pacientes que já realizaram tratamento na Universidade

sem plano, ou seja, usuários (alunos e professores) não inseriram as informações no

SIA, dentre outros.

Benefícios:- Agilizar o encaminhamento do atendimento dos pacientes.

1

- Dar suporte ao processo de aprendizagem dos alunos, relacionando a

necessidade do paciente com as competências e habilidades

requeridos no âmbito da disciplina que o aluno está cursando, deste

modo, viabilizando uma maior coerência da articulação entre teoria e

prática.

Fig. Tela de Perfil Odontológico. SIA/Odonto. 2005.1

Fig 9. Tela de Perfil Odontológico. SIA/Odonto. 2005.1

7. Prontuário – Ficha Social

Finalidades:

- Registrar o perfil sócio econômico como parte do processo de triagem,

identificando as condições psicológicas, sociais e financeiras dos

pacientes.

Benefícios:

- Possibilitar a avaliação da necessidade de isenção de taxas dos

pacientes;

- Viabilizar o orçamento dos tratamentos protéticos e ortodônticos, de

acordo com a condição sócio-econômica dos pacientes;

1

- Dar suporte às pesquisas realizadas no curso, no que diz respeito ao

conhecimento do perfil sócio-econômico e comportamental dos

pacientes;

- Permitir a análise do acesso dos pacientes às tecnologias preventivas

de controle das principais doenças bucais;

A seleção da consulta poderá ser pelo número do prontuário, nome do paciente ou data do nascimento.

Fig. 10 - Tela de Prontuário-Ficha Social. SIA/Odonto. 2005.1

8. Tela Imagem-Paciente

Finalidades:

- Registrar, no sistema, a radiografia panorâmica, disponibilizada para

cada paciente cadastrado no momento da triagem do paciente.

Benefícios:

- Permitir um estudo detalhado dos pacientes, pelos alunos e

professores, por meio da consulta da radiografia

panorâmica,disponibilizada na tela de prontuário de pacientes,

servindo como subsídio complementar à elaboração do plano de

tratamento.

1

A seleção da consulta poderá ser feita pelo número do prontuário.

Fig. 11 - Tela Imagem-Paciente. SIA/Odonto. 2005.1

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A apresentação do sistema, aqui realizada, nos leva a perceber que a sua

presença constitui-se em uma ferramenta facilitadora do processo de gerenciamento

do fluxo de atendimento dos pacientes e acompanhamento dos alunos em seu

processo de formação.

Criticamente analisando-o, ainda observamos certas imperfeições que deverão

ser continuamente ajustadas de modo a viabilizarmos sua ideal adequação às

necessidades do curso. Se considerarmos todas as finalidades gerenciais

levantadas na fase de requisitos para desenvolvimento do projeto de informatização,

1

veremos que alguns avanços relativos ao aperfeiçoamento e agilidade no fluxo de

atendimento dos pacientes, assim como alguns requisitos de subsídio ao

gerenciamento do curso, podem ser melhorados. Também se faz fundamental a

melhoria do sistema no que diz respeito ao aprimoramento de suas finalidades

pedagógicas.

Em sua estrutura macro podemos afirmar a sua contribuição e suporte à

qualidade das atividades desempenhadas por alunos e professores, não só

inerentes ao fluxograma curricular, mas também, relacionadas a atividades extra-

curriculares como a elaboração e desenvolvimento dos projetos de pesquisas.

O sistema pode ser visto como mais um canal de comunicação entre

professores, alunos e gestores, visto que armazena um histórico de todas as

atividades clínicas dispensadas à comunidade em suas dimensões técnicas,

biológicas, psicológicas e sociais, deste modo reunindo os elementos fundamentais

à melhoria qualitativa e quantitativa do acolhimento de nossos pacientes.

Com o sistema de informações acadêmicas interligando os setores de suporte

acadêmicos, aqui considerados, recepção e serviço social, tem-se um ganho de

qualidade proporcionado pela maior agilidade das informações, pelo maior controle

das rotinas de trabalho executadas pelos funcionários, e maior fidedignidade das

informações geradas.

Para a coordenação do curso o sistema se coloca como um possível instrumento

norteador da tomada de decisão, na medida em que é abastecido pelos diferentes

usuários fornecendo informações gerenciais, epidemiológicas e sociais pertinentes à

clientela atendida. É uma ferramenta que poderá subsidiar importantes definições no

planejamento estratégico do curso.

Cabe, ainda, para finalizarmos estas considerações, ressaltar as dificuldades que

ainda permeiam o processo de adesão dos usuários à utilização do SIA, mesmo

ressaltando-se o cuidado tido na fase de implantação com o treinamento,

qualificação e sensibilização dos usuários, este dificultador perpassa pela

necessidade de nossos docentes incorporarem a totalidade de seu papel

pedagógico na formação dos alunos, assim como, se enxergarem como elementos

participantes fomentadores da inteligência operacional.

Por outro lado, trabalhar a aceitação do SIA, pelos seus usuários, é um fator

dependente da melhoria qualitativa do seu processo de interatividade, agilidade e

capacidade de feedback aos interesses de cada usuário, considerando sua

1

funcionalidade na estrutura organizacional em que está inserido. Portanto um

constante e instigante desafio.

1

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CRUZ, T. Sistemas, Organização & Métodos: estudo integrado das novas

tecnologias de informação. 3a ed. São Paulo: Atlas, 2000.

FERNANDES, A.A.; ALVES, M.M. Gerência Estratégica da Tecnologia da

Informação: obtendo vantagens competitivas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos

Científicos, 1992.

GANE, C.; SARSON, T. Análise Estruturada de Sistemas. Rio de Janeiro: Livros

Técnicos Científicos, 1993.

OLIVEIRA, D.P.R. Sistemas de Informações Gerenciais: estratégicas, táticas,

operacionais. 6a ed. São Paulo:Atlas, 1999.

RODGERS, U. A Database Developers Guide. ORACLE. Editora: PTRPH, 2005.

WALTON, R.E. Tecnologia de Informação: o uso de TI pelas empresas que obtêm

vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1993.

YOURDON, E. Análise Estruturada Moderna. Campus, 1990.

1

CAPÍTULO 8PESQUISA: A ESSÊNCIA DO APRENDIZADO

Haroldo Rodrigues de Albuquerque Júnior

Luiz Roberto Augusto Noro

1. INTRODUÇÃOA pesquisa pode ser entendida como uma área privilegiada por permitir o

avanço do conhecimento humano, por meio de aproximações teóricas previamente

existentes e de experimentações, estimulando o aparecimento de novas

descobertas que contribuem com a perspectiva de melhores condições de vida à

sociedade.

A sociedade contemporânea vive um grande desafio e uma enorme

revolução: entender que o conhecimento, a ciência e o saber são a

maior esperança e o grande valor do homem, para então, se criar uma

cultura da inovação e da produção. Nada mais atual, do que dissera

Eisntein: “O conhecimento traz, de qualquer forma, o poder...”

Associado a um modelo onde a qualidade e a experiência são as

principais armas, as Inst ituições de Ensino Superior (IES) têm a

responsabil idade de formar profissionais capazes de enfrentar a

competit ividade, ao mesmo tempo em que precisam ser palco para

desenvolver ciência, isto é, produzir. Desta forma, quem produz tem o

mérito de ver reconhecida sua dedicação e sua co-responsabil idade, e

quem aprende fica mais a vontade para colocar em prática modernas

técnicas e avanços profissionais.

Ao se produzir, os setores público e privado criam a oportunidade

de formação e treinamento de pesquisadores para a resolução de

problemas. O incentivo à pesquisa é uma das condições necessárias ao

progresso tecnológico, ao desenvolvimento econômico e social.

Para FERREIRA et al (2002) um dos projetos humanos, com importância

fundamental para o homem contemporâneo e voltado para a recuperação da perda

de segurança e o decorrente sentimento de angústia, provocadas por um mundo em

constante mudança, foi o projeto da ciência moderna. Por conseguinte, “os povos

que não participam do desenvolvimento científico estão, em grande medida, alijados

1

dos avanços nos padrões de qualidade de vida e são economicamente subalternos

em relação aos povos que lideram os avanços do conhecimento. Isso é alcançado

mediante libertação do homem quanto as necessidades básicas de sobrevivência e

da conseqüente sofisticação da atividade humana em seus aspectos sociais,

econômicos, culturais e artísticos” (UNICAMP, 2002).

Coerente com este raciocínio observa-se na Conferência Mundial sobre a

Ciência (UNESCO, 2000) a previsão de que "sem instituições adequadas de

educação superior em ciência e tecnologia e em pesquisa, com uma massa crítica

de cientistas experientes, nenhum país pode ter assegurado um desenvolvimento

real".

Entretanto, para conseguir um país com ciência, a educação universal,

obrigatória e de qualidade é peça fundamental para que a população acredite que o

bem-estar da sociedade depende da procura constante pela apropriação do saber,

dependendo mais da visão do mundo que sua sociedade possui, do que da fração

do PIB aplicada na compra de equipamentos necessários à pesquisa (UNICAMP,

2002).

Fator que chama a atenção, e confirma esta visão, é a absurda exclusão da

grande maioria da juventude brasileira do sistema de educação universitário que

contempla não mais que 9% do total de jovens pelo sistema. Tal fato dificulta a

incorporação da mentalidade científica de maneira plena pela sociedade.

Nesta perspectiva é primordial o aumento da oferta de vagas no sistema

superior, além de alterar o cotidiano do ensino universitário, flexibilizando-se os

currículos, permitindo incluir a pesquisa como estratégia para melhor

desenvolvimento cognitivo do aluno a partir de maior estímulo ao estudo individual

(busca pela informação), a ser partilhada em grupo na sala de aula, tendo como

objetivo melhores soluções a problemas vivenciados no dia-a-dia, tendo como base

a reflexão crítica sobre estes problemas e sua solução baseada na ciência e na

realidade. Desta forma, a educação deve capacitar o aluno a resolver problemas,

confiando em suas potencialidades, além de desenvolver as habilidades de

iniciativa, criatividade, num padrão de comportamento íntegro e ético.

Com isto, segundo DEMO (1998) entra em cena a promoção da inclusão do

processo de pesquisa no aluno, que deixa de ser objeto de ensino, para tornar-se

parceiro de trabalho, passando a desenvolver com o professor uma relação de

1

sujeitos participativos, tomando-se o questionamento reconstrutivo como desafio

comum a ambos.

No entender de ZANCAN (2000) os membros da comunidade científica

brasileira tem hoje mais uma tarefa: lutar para mudar o ensino de informativo para

transformador e criativo. Este desafio é uma tarefa gigantesca, pois abarca todos os

níveis de ensino sem privilegiar um em detrimento de outro. Para que se atinjam os

objetivos de alterar o sistema educacional, é preciso concentrar esforços na

formação do professor que deverá ser um orientador de seus alunos no processo da

descoberta e da reflexão crítica.

Para DEMO (1998) este movimento deve ser entendido enquanto processo de

educar pela pesquisa, que tem como condição essencial primeira que o profissional

da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico

e educativo e a tenha como atitude cotidiana.

Ainda segundo este autor há um trajeto coincidente entre educação e pesquisa

uma vez que ambas se postam contra a ignorância, fator determinante da massa de

manobra; ambas valorizam o questionamento, marca inicial do sujeito histórico;

ambas se dedicam ao processo reconstrutivo, base da competência sempre

renovada; ambas incluem a confluência entre teoria e prática, por uma questão de

realidade concreta; ambas se opõem terminantemente à condição de objeto, por ser

a negação da qualidade formal e política; ambas se opõem a procedimentos

manipulativos, porque estes negam o sujeito; ambas condenam a cópia, porque esta

consagra a subalternidade.

2. APRESENTAÇÃOA Universidade de Fortaleza foi criada com a missão de promover a produção e

difusão do saber, por meio da articulação do ensino superior, pesquisa e extensão,

visando a formação integral do cidadão e a sua capacitação para o exercício

profissional. O Curso de Odontologia investiu ao longo destes últimos dez anos na

busca de um constante aperfeiçoamento do ensino, tendo como base a extensão, a

partir do atendimento clínico prestado em suas dependências e das ações coletivas

de saúde bucal desenvolvidas na comunidade do Dendê e em instituições (escolas

de ensino fundamental e médio, creches, escola de aplicação, associações de

moradores etc.), visando aproximar o aluno de sua futura prática profissional.

1

Diante disto, são importantes algumas ref lexões em relação à

pesquisa: Quem somos? Conhecemos a nossa verdadeira vocação e

competência? Tem-se clareza do perfi l que caracteriza a pesquisa

regional? Os organismos de fomento têm interesse em estabelecer

parcerias com as Insti tuições de Ensino Superior privadas?

É relevante notar que na avaliação para reconhecimento do Curso,

realizada por uma comissão de especial istas da Secretaria de

Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC) havia uma

sinalização direta para a necessidade de se implementar um programa

de iniciação científ ica regular no curso, proporcionando ao graduando

uma formação mais abrangente, que incorporasse o seu treinamento na

aplicação do método científ ico, complementando sua formação

acadêmica.

Os programas de Iniciação Científ ica ou Tecnológica propiciam às IES

um instrumento de formulação de polít ica de pesquisa, estimulando

uma maior art iculação entre a graduação e a pós-graduação; o

pesquisador/orientador a formar equipes; e, principalmente, introduzir o

aluno de graduação no mundo da pesquisa científ ica.

1

Ainda que de forma discreta e tímida, a maior cobertura deste

programa, atualmente na UNIFOR, é contemplada pelo Programa de

Bolsas de Iniciação Científ ica da UNIFOR (PROBIC / FEQ). Necessário

se faz que haja um incentivo mais presente e regular por parte de

órgãos externos: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação

Científ ica (PIBIC / CNPq) – Programa de Bolsas de Iniciação Científ ica

e Tecnológica (PBICT / FUNCAP).

No ano de término da 1 a turma de graduação, 1999, teve início o

planejamento e discussão dos projetos pedagógicos dos cursos de

especial ização para a área da odontologia, assim como o primeiro

levantamento do perfi l da produção interna do curso. A diretriz

estabelecida foi a de buscar coerência com o projeto pedagógico da

graduação, com o aprofundamento dos conteúdos e buscando a

resolut ividade dos problemas clínicos que não eram solucionados pelos

alunos na graduação. Procurava-se com isto um trabalho mais

integrado entre graduação e pós-graduação. Tal proposta, entretanto,

apresentava divergência com as normas e regulamentações do

Conselho Federal de Odontologia o que motivou a não implantação do

modelo discutido.

Em 2001, cinco cursos de especial ização foram planejados e ofertados

à comunidade: Periodontia, Endodontia, Prótese Dentária, Dentística e

Odontologia em Saúde Coletiva. Destes, apenas foram desenvolvidos

os cursos Periodontia e Endodontia. Cabe ressaltar que o Curso de

Especial ização em Saúde da Família, oferecido a partir do Curso de

Odontologia, teve seu projeto aprovado e realizado com a participação

de outros profissionais de saúde além do cirurgião-dentista, permit indo

aprofundar-se a discussão sobre a necessidade de uma formação mult i-

discipl inar.

No ano seguinte, 2002, foi nomeada pela coordenação do Curso de

Odontologia uma comissão para estudar as normas e procedimentos de

propostas de cursos acadêmicos (mestrado e doutorado) considerando

a carência local e regional, a demanda reprimida e a possibi l idade de

descentral ização da produção científ ica e formação docente, hoje

localizada na região sudeste do Brasil .

1

De acordo com a análise da comissão foi possível observar: o perf i l

docente de jovens doutores e mestres potenciais doutores, com

perspectiva que sustentasse a competência técnico-científ ica para a

promoção do curso e o diferencial de infra-estrutura de ensino e de

grande potencial em pesquisa. E, como síntese diagnóstica, a

necessidade de formação e maturação de grupos de pesquisa com

produção intelectual relevante, em termos quantitativos e qualitat ivos

(sistema Qualis), capazes de assegurar regularidade e qualidade às

atividades acadêmicas na área da proposta do curso.

Ressalte-se, em tempo, que ainda no ano de 2002, quando da

Avaliação das Condições de Ensino por equipe designada pelo

Ministério da Educação, apontou-se a conveniência de uma produção

científ ica regular no curso e uma maior part icipação dos alunos nos

programas de Iniciação Científ ica, reforçando o que já se havia

observado em anos anteriores.

A resolução CNE/CES 3/2002 estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para os Cursos de Odontologia, as quais prevêem em seu

artigo 12: para conclusão do Curso de Odontologia, o aluno deverá

elaborar um trabalho sob orientação docente. Desta forma, o

entendimento interno é que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é

uma atividade curricular, tendo um projeto de pesquisa como modelo de

delineamento à execução do TCC, sendo, portanto uma atividade de

pesquisa que tem como objetivo a produção do conhecimento. O Curso

de Odontologia da UNIFOR compreende o TCC como um instrumento

propulsor e de alavancagem para a formulação de uma polít ica interna

de pesquisa.

3. CÂMARA INTERNA DE PESQUISAA Câmara Interna de Pesquisa (CIP) é um órgão consultivo, educativo e de

controle à pesquisa no âmbito do Curso de Odontologia da UNIFOR que tem como

papel principal estimular a produção científica, tendo como referencial os Grupos e

as Linhas de pesquisa estabelecidas pelo Centro de Ciências da Saúde/UNIFOR,

assim como padronizar e sistematizar os diversos procedimentos e rotinas de

pesquisa desenvolvidos no Curso de Odontologia.

1

Os objetivos da CIP do Curso de Odontologia são:

Estabelecer uma fi losofia de produção de conhecimento no

curso de odontologia da UNIFOR;

Elaborar polí t icas de controle aos projetos de pesquisa,

desenvolvidos no curso, tendo como referencial o TCC;

Elaborar polí t icas de controle aos projetos de pesquisa,

desenvolvidos no curso, submetidos aos diversos órgãos de

fomento à pesquisa;

Elaborar polít icas de controle aos projetos de cursos de pós-

graduação (aperfeiçoamento/especial ização), na área de

odontologia da UNIFOR;

Elaborar o projeto do programa de pós-graduação, stricto sensu, em

odontologia da UNIFOR.

A criação da CIP do Curso de Odontologia pode ser muito bem caracterizado

como um modelo inovador ao estímulo a pesquisa na UNIFOR, uma vez que, a

partir do pressuposto e da regulamentação da CIP do Curso de Odontologia todos

os demais cursos do Centro de Ciências da Saúde aderiram ao formato gerencial

referido.

Para funcionamento da CIP foram propostas três células

organizacionais que têm como papel desenvolver estratégias propondo

mecanismos que têm como ponto central o aumento da produção

científ ica no Curso de Odontologia. As três células são:

a)CÉLULA INICIAÇÃO À PESQUISA (IP)Tem como papel central propor estratégias de propulsão de

projetos de pesquisa no Curso de Odontologia/UNIFOR definindo rotina

e protocolo de controle dos projetos de iniciação à pesquisa, definindo

critérios para emissão de parecer aos projetos de pesquisa de iniciação

científ ica assim como viabil izar mecanismos de controle da produção

dos projetos de iniciação à pesquisa desenvolvidos no CO/UNIFOR.

Das células criadas, foi a que menos conseguiu avançar tendo em vista as

limitações impostas pelas agências de fomento, assim como pela pouca tradição em

pesquisa desenvolvida no Curso de Odontologia.

1

b) CÉLULA APERFEIÇOAMENTO/ESPECIALIZAÇÃO (AP/ESP)Seu principal objetivo é propor estratégias de incentivo aos cursos de pós-

graduação (aperfeiçoamento e especialização) no Curso de Odontologia/UNIFOR

identificando rotina e protocolo de controle dos projetos de cursos apresentados à

Coordenação do Curso de Odontologia a partir dos professores, além da adoção de

critérios para emissão de parecer aos projetos de cursos de pós-graduação.

c) CÉLULA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)Com certeza, a célula que conseguiu mais evoluir, tendo em vista a

definição polít ica da coordenação do Curso de Odontologia quando, em

2003, apesar da inexistência de previsão no currículo do curso da

necessidade de um Trabalho de Conclusão de Curso, optou por incluir

tal atividade, buscando coerência com o preconizado nas Diretrizes

Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia.

As atribuições da Célula de Trabalho de Conclusão de Curso

t iveram como referencial ajustar os projetos de pesquisa dentro das linhas e

grupos do CCS, gerenciar o f luxo interno dos projetos de pesquisa,

gerenciar o f luxo dos projetos de pesquisa junto ao NUPEQ/CCS e

COÉTICA e estabelecer mecanismos de controle ao desenvolvimento

da pesquisa, por meio de consultorias, exames de qualif icação, fomento

de cursos.

Para incluir o TCC enquanto atividade curricular, definiu-se sua execução

como atividade complementar ao estágio de Clínica Integrada II, sendo esta

previsão estabelecida no regimento interno deste estágio. O TCC tem como

elemento norteador um projeto de pesquisa referenciado no modelo

estabelecido pelo Núcleo de Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde

(NUPEQ/CCS) devendo se enquadrar nos grupos e nas linhas de

pesquisa desenvolvidas no Centro de Ciências da Saúde, conforme

pode ser observado no quadro abaixo.

Quadro 1 :Grupos e Linhas de Pesquisa do Centro de Ciências Saúde da Universidade de Fortaleza, 2005.

Grupo de Pesquisa Linha de Pesquisa

1

CIÊNCIAS BÁSICAS DA

SAÚDE

1. Ciências Biológicas

2. Produtos e tecnologias em saúde

SAÚDE COLETIVA 1. Epidemiologia

POLÍTICAS E PRÁTICAS NA

PROMOÇÃO DA SAÚDE

1. Educação em saúde

2. Polít icas públicas em saúde

3. Mercado de trabalho

ESTUDOS CLÍNICOS

1. Avaliação, diagnóstico e processo terapêutico em indivíduos adultos e idosos

2. Avaliação, diagnóstico e processo

terapêutico em indivíduos bebês,

crianças e adolescentes

3. Avaliação, diagnóstico e processo

terapêutico em cobaias

Sempre que inclui seres humanos, os projetos de pesquisa devem

ser encaminhados ao Comitê de Ética na Pesquisa por meio da folha de

rosto (modelo do Conselho Nacional de Saúde/CONEP) que deve ser

anexada ao projeto de pesquisa, para fins de cadastro e controle dos

aspectos éticos da pesquisa.

A orientação do TCC é sempre conduzida por professor,

preferencialmente com título de Doutor ou Mestre, não se excluindo,

entretanto, professores sem este tipo de ti tulação. A relação professor

orientador/projeto de pesquisa será de, no máximo 1:3, para o semestre

de referência do TCC, visando a maior participação possível do corpo

docente.

O professor orientador deve estabelecer mecanismos de controle

para a execução dos projetos de pesquisa, viabil izando os

procedimentos estabelecidos no cronograma dos projetos,

proporcionando assim as condições necessárias à produção do TCC.

Será seu papel, ainda, conduzir a execução do projeto de modo a

trabalhar a divulgação dos resultados na forma de um art igo científ ico.

O TCC deve ser desenvolvido por um grupo máximo de três alunos

que terá como atribuição, conjuntamente ao professor orientador,

definir o projeto de pesquisa e, a partir do desenvolvimento da

pesquisa, apresentar os resultados na forma de um art igo científ ico a

1

ser encaminhado para periódico da área. Além disto, o grupo de alunos

fará a sustentação dos achados da pesquisa diante de uma banca de

avaliadores. O TCC será produzido em três exemplares, os quais

deverão ser entregues a cada membro da banca de avaliação com uma

semana de antecedência a data de defesa.

Esta banca de avaliadores é composta por 2 (dois) docentes da

UNIFOR, além do professor orientador, levando-se em consideração a

pertinência da sub-l inha do projeto com a formação do docente

examinador sendo a indicação dos componentes de responsabil idade

do professor orientador, em comum acordo com a CIP/CO.

Para avaliação dos TCC são considerados os seguintes critérios:

i . A relevância da proposição investigativa;

i i . Coerência metodológica;

i i i . Obtenção de respostas aos objet ivos previstos;

iv. Contribuição dos resultados obtidos na formação geral e

profissional do aluno, assim como a sua inserção social

enquanto cidadão.

Visando estabelecer relação de afinidade entre os alunos e a

elaboração do TCC, estimulando que o aluno entenda a importância

real deste trabalho e não apenas entendendo-o como mais uma

obrigação em sua formação, a estratégia definida pela CIP prevê um

Curso de Capacitação Discente em Projetos de Pesquisa para os alunos do 7º

semestre letivo; a definição dos grupos, do tema e do orientador para os alunos do

8º semestre; a confecção do projeto de pesquisa no 9º semestre e o

desenvolvimento da pesquisa e sua posterior defesa no 10º semestre.

O grau de envolvimento entre alunos e professores orientadores na

execução e elaboração do TCC nos semestres 2003.2, 2004.1 e 2004.2

pode ser observado na tabela a seguir.

Tabela 1. Total de alunos, TCCs, professores orientadores e membros avaliadores, segundo semestre de realização do TCC.

SEMESTRE ALUNOS TCC ORIENTADORES AVALIADORES

2003.2 44 16 12 302004.1 75 29 22 46

1

2004.2 47 20 14 37

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação preliminar do papel da CIP é bastante positiva, pois foi possível

implantar, regulamentar e executar o TCC, sendo hoje referência à iniciação

científica mínima requerida ao graduando, além de semear e permear a cultura da

produção do conhecimento no Curso de Odontologia/UNIFOR.

No que se refere a gestão da CIP com os cursos de especialização,

é importante registrar a definição de se elaborar o trabalho final no

formato de um art igo científ ico apropriado para publicação em periódico

com qualidade, assim como o estímulo a continuidade na oferta de

novos cursos.

Apesar das dif iculdades iniciais, principalmente a partir dos alunos

que part icipariam pela primeira vez dos Trabalhos de Conclusão de

Curso, esta atividade foi identif icada como um dos elementos com

maior potencialidade na produção de conhecimento científ ico a partir

da pesquisa, tendo desenvolvido de forma exemplar uma proposta de

regulamentação que está ainda hoje sendo util izada na condução

destes trabalhos.

No ano em que o Curso de Odontologia completa 10 anos, a

administração superior da UNIFOR, cumprindo o Plano de

Desenvolvimento Inst itucional (PDI), assume integralmente o

compromisso de apoio á elaboração do projeto de Mestrado

Profissional em Odontologia, por meio da portaria R. 14/05, que nomeia

comissão específica para formular e propor o projeto pedagógico para

tal curso, visando sua aprovação junto à CAPES.

O momento é mais que oportuno para impulsionar novos desafios,

fazendo com que a Universidade desenvolva e democratize o acesso

aos seus trabalhos à sociedade.

1

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAAvaliação da educação superior. Condições de ensino do curso de

Odontologia da UNIFOR – INEP/MEC. 2002.

Avaliação das condições de oferta do curso de odontologia da UNIFOR

– SESu/MEC. 1999.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CES 03/2002,

de 19 de fevereiro de 2002. Diretrizes curriculares nacionais do curso

de graduação em odontologia.

DEMO, P. Educar pela pesquisa. 3. ed. Campinas: Editora Autores Associados,

1998.

FERREIRA, R.F.; CALVOSO, G.G.; GONZALES, C.B.L. Caminhos da pesquisa e a

contemporaneidade. Psicol. Reflex. Crit. 15(2) Porto Alegre 2002.

UNESCO . Science for the twenty-first century. Paris, 2000.

UNICAMP. FORUM DE REFLEXAO UNIVERSITARIA. Desafios da pesquisa no

Brasil: uma contribuição ao debate. São Paulo Perspec., out./dez 2002, vol.16, no.4,

p.15-23.

UNIFOR. Curso de Odontologia. Portaria 01/2003, de 08 de abril de

2003. Cria a Câmara interna de pesquisa do curso de Odontologia da

UNIFOR.

UNIFOR. Reitoria. Portaria R 14/2005, de 14 de março de 2005. Cria a

Comissão de elaboração da proposta do curso de mestrado profissional

em odontologia da UNIFOR.

ZANCAN, G.T. Educação Científica: uma prioridade nacional. São Paulo

Perspec. v.14 n.3 São Paulo jul./set. 2000.

1

CAPÍTULO 9

Tratando desigualmente os desiguais: a busca da eqüidade no Curso de Odontologia da UNIFOR

Grace Sampaio Teles

Domingos Leitão Neto

Fátima Maria Teixeira de Azevedo

Luiz Roberto Augusto Noro

INTRODUÇÃOA Constituição Federal Brasileira prevê em seus artigos relativos aos

direitos do cidadão em relação à saúde a universalidade do atendimento, em todos

os níveis de atenção, independente de qualquer fator que diferencie um cidadão de

outro, qual seja, sexo, raça, cor, classe social etc. Entretanto, num país que ainda

não consegue proporcionar esta universalidade, um princípio que não pode ser

esquecido é o da eqüidade, qual seja, tratar de forma diferente aqueles que têm

necessidades diferentes, dando-lhes prioridade por sua menor condição de efetiva

inserção na sociedade.

É este o caso dos grupos de pacientes atendidos nos Projetos Especiais

do Curso de Odontologia da UNIFOR: pessoas com necessidade de prótese facial

ou pacientes com necessidades especiais, na maioria das vezes excluídos da

convivência social ou, minimamente, com menores condições de desenvolver

plenamente seus direitos de cidadania.

O currículo do curso não prevê em suas disciplinas o atendimento deste

tipo de pacientes, entretanto, a grande demanda observada nas clínicas de

atendimento do curso como a própria existência desta lacuna nos serviços de saúde

levou ao estudo da criação deste tipo de projeto visando o desenvolvimento destas

atividades envolvendo alunos da graduação, orientados por professores, em um

momento a parte.

A previsão existente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de

Odontologia de que é importante e conveniente que a estrutura curricular do curso,

preservada a sua articulação, contemple mecanismos capazes de lhe conferir um

grau de flexibilidade que permita ao estudante desenvolver/trabalhar vocações,

1

interesses e potenciais específicos também foi elemento importante na definição

desta estratégia.

Além disto, as diretrizes curriculares também apontam como competências do

futuro profissional reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e

atuar de forma a garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto

articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e

coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade; exercer sua

profissão de forma articulada ao contexto social, entendendo-a como uma forma de

participação e contribuição social; buscar melhorar a percepção e providenciar

soluções para os problemas de saúde bucal e áreas relacionadas e necessidades

globais da comunidade; manter reconhecido padrão de ética profissional e conduta,

e aplicá-lo em todos os aspectos da vida profissional além de atuar

multiprofissionalmente, interdisciplinarmente e transdisciplinarmente com extrema

produtividade na promoção da saúde baseado na convicção científica, de cidadania

e de ética. Sem dúvida, todos os que participam destes projetos têm se capacitado

amplamente para o desenvolvimento destas habilidades.

Dessa maneira, o aluno de graduação tem a oportunidade de vivenciar e

oferecer um atendimento de caráter holístico que favorece a socialização do

indivíduo, preserva a auto-estima e promove a qualidade de vida da família.Com

esta iniciativa, além de colocar o aluno em contato com a realidade da profissão, a

universidade reitera seu compromisso com a comunidade.

1. PROJETO DE PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS

1.1. INTRODUÇÃOO reconhecimento da especialidade Odontologia para Pacientes com

Necessidades Especiais na 2a ANEO em 2001 trouxe maior valorização e qualidade

de atendimento a esta parcela da população. A criação dessa nova especialidade

se justifica pelo fato de que este grupo de pacientes, além das dificuldades

enfrentadas em virtude de uma condição incapacitante, sofrem discriminação da

sociedade pelos profissionais de saúde e até mesmo por seus familiares

(EISEMBERG, 1976; KOCH, 1995). As respostas sociais às pessoas especiais são

as mais variadas possíveis tais como medo, pena, perplexidade, repulsa,

1

constrangimento. A sociedade, de uma forma geral, tende a segregar estes

indivíduos. Em decorrência destes fatores a ONU, em 1991, lançou uma proposta de

criação da Sociedade Inclusiva. O documento defende a idéia de formar uma

sociedade mais justa no futuro, sem preconceitos ou exclusões. Independente de

qualquer parâmetro, incluindo as deficiências físicas ou mentais, A ONU quer ver a

Sociedade Inclusiva implantada em todo o mundo até o ano de 2010. Essa

população, representada por 10% da população mundial, naturalmente, encontra

dificuldades adicionais para o exercício de seus direitos mais básicos, tais como ir e

vir, estudar e trabalhar. Portanto, defende-se a necessidade de políticas públicas

capazes de propiciar igualdade de condições para a vida em sociedade, garantindo

a estas pessoas tratamento especial.

A Constituição Brasileira, promulgada em 1988, garante como dever do Estado,

não só a saúde como também o atendimento preventivo a todos os brasileiros, não

havendo nenhuma discriminação aos portadores de deficiência, seja física,

psicológica e social. No Brasil, a saúde bucal é apontada como a maior necessidade

não resolvida das pessoas portadoras de necessidades especiais. Estes indivíduos

apresentam necessidades odontológicas mais intensificadas em decorrência da

patologia orgânica como também pela falta dos familiares acreditarem ser

impossível a realização do tratamento dentário (FOURNIOL, 1998; CORREA, 1998).

Os cuidados com a saúde do paciente portador de necessidades especiais

extrapolam o trabalho específico de cada especialidade sendo preciso integrar,

interdisciplinar, interagir, para que o resultado final seja satisfatório para o todo do

paciente.

1.2. O ATENDIMENTO DE PACIENTES ESPECIAIS NA GRADUAÇÃOAtualmente, os cursos de graduação têm incluído no seu fluxo curricular ou

mesmo na forma de estágios o atendimento ao paciente portador de necessidades

especiais. Esta iniciativa incentiva assim como desmistifica o atendimento a estes

pacientes que contam com uma parcela muito reduzida de profissionais.

A literatura aponta discussão no que se refere ao atendimento de pacientes

com necessidades especiais na graduação. Há uma corrente que concorde em

enquadrar estes pacientes no atendimento normal da clínica multidisciplinar e outra

corrente que alegue ser necessário um atendimento especializado. A Faculdade de

Odontologia da Universidade de Fortaleza oferece aos alunos do nono e décimo

1

semestres a participação no Projeto de Atendimento aos pacientes com

necessidades especiais como atividade extra-curricular onde os alunos inscrevem-

se voluntariamente e participam do atendimento por um período de um ano. A

procura pelo estágio tem se intensificado ao longo dos semestres e isto reflete a

repercussão da sociedade em termos de importância a estes pacientes.

As maiores dificuldades encontradas pelos alunos durante a execução do

tratamento são:

• Capacidade de colaboração do paciente, indo desde o cooperativo

até o absolutamente não cooperativo;

• Interrupções freqüentes, durante o tempo operatório, devido a

reações emocionais e fisio-patológicas do paciente;

• Sialorréia, macroglossia, respiração bucal, entre outros fatores

relacionados com a cavidade bucal;

• Posição ergonômica nem sempre possível de ser executada, pois o

profissional necessita se adaptar à posição do paciente na cadeira

odontológica;

• Movimentos involuntários durante a execução do tratamento.

1.3. FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR

O atendimento clínico engloba procedimentos de prevenção, dentisteria,

endodontia, cirurgia e ortodontia preventiva. A atuação clínica ocorre de forma

interdisciplinar como também multidisciplinar. A rotina de atendimento segue os

seguintes critérios: atendimento com a assistente social, clínica de triagem,

consultas de adaptação do paciente ao ambiente odontológico, concomitantemente

a realização de procedimentos preventivos, até a realização do tratamento curativo.

Aos cuidadores são dadas atenções especiais: partindo-se do princípio que para

cuidar é preciso conhecer, incentiva-se inicialmente o auto cuidado do cuidador para

em seguida orientar os cuidados a serem realizados na pessoa portadora de

necessidade especial. O número de consultas e o retorno são individualizados

variando de semanal, mensal ou trimestral. Os cuidadores acompanham todos os

passos do atendimento e auxiliam os alunos na comunicação com o paciente assim

1

como, auxiliam na contenção e adaptações necessárias na cadeira odontológica e

em exames radiográficos.

Os alunos trabalham em trio dispondo de uma hora para cada paciente.

Previamente a entrada do paciente, o material necessário ao seu atendimento deve

estar disposto e organizado na mesa clínica com o intuito de reduzir a tempo de

atendimento. Os alunos também participam do plantão da prevenção onde

semanalmente cada trio marca os pacientes que estão da fila de espera do

atendimento. Esta atividade evita o agravamento dos casos, educa e previne. A

atividade em sala de aula é dividida em apresentação de casos clínicos e discussão

de temas inerentes aos casos.

Cada paciente dispõe de um prontuário onde são registrados anamnese,

exame clínico, exames radiográficos, encaminhamentos e declaração de condição

sistêmica do paciente assinada pelo médico. O atendimento multidisciplinar é

desenvolvido junto com o NAMI (Núcleo de Atenção Médica Integrada) que funciona

integrado a Universidade. No NAMI encontram-se profissionais da área médica,

fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e educadores físicos. Dessa maneira, o

planejamento dos casos ocorre de forma integral por meio de discussão em aulas

clínicas e englobando as necessidades gerais do paciente. Ainda há muito que se

crescer e atingir. Estamos buscando um aperfeiçoamento do nosso trabalho para

que possamos oferecer cada vez mais um tratamento holístico visando a melhoria

da qualidade de vida do paciente.

2. PROJETO DE PRÓTESE DE FACE

2.1. INTRODUÇÃOA Prótese Buco-maxilo-facial é uma especialidade odontológica reconhecida

pelo Conselho Federal de Odontologia e disciplina ofertada no currículo dos

principais cursos de Odontologia que tem sua indicação terapêutica em pacientes

com lesões onco-cirúrgicas onde for contra-indicada a cirurgia plástica e como

tratamento complementar.

O número de pacientes com lesões localizadas na face, causadas por variadas

etiologias, inclusive o câncer, é muito grande. A recuperação somática por meio de

processos autoplásticos (cirúrgicos) em inúmeros casos é insuficiente e em outros é

conrta-indicada, necessitando-se lançar mão da terapêutica protética complementar.

1

Este é um fator importante a ser considerado, pois as pessoas portadoras desses

tipos de lesões, em geral são muito carentes financeiramente.

Não é importante apenas executar a técnica precisa a determinado quadro

clínico que o paciente apresenta, isolando-a do indivíduo e do meio em que vive,

mas sim considerar a pessoa como um todo. Neste sentido, HELMAN (1994:104)

afirma em uma de suas publicações que:

... enfermidade é a resposta subjetiva do

paciente, e de todos que o cercam, ao seu mal-

estar. Particularmente, é a maneira como ele –

e eles – interpretam a origem e a importância

do evento, o efeito deste sobre o

comportamento e o relacionamento com outras

pessoas, e as diversas providências tomadas

por ele para remediar a situação.

O tratamento estético e funcional dos pacientes com lesões buco-faciais é,

mais que em outras regiões do corpo, da maior importância. A recuperação

somática, aliada à normalidade psíquica, faz com que os portadores destas lesões

se reintegrem ao ambiente social e até mesmo, familiar.

A partir dessa compreensão realiza-se um atendimento com mais

humanização, buscando não apenas a cura da lesão em si, mas procurando

fornecer estratégias educativas para promover a saúde desses pacientes e provocar

uma mudança na sua qualidade de vida.

2.2. O ATENDIMENTO DE PACIENTES COM NECESSIDADE DE PRÓTESE DE FACE NA GRADUAÇÃO

Levando-se em consideração que a prótese facial é de simples execução e de

baixo custo, se comparada com a cirurgia plástica, observa-se que pode ser ofertada

gratuitamente pelas instituições como ocorre com os pacientes que procuram o

Serviço de Prótese da Face do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza.

Com este objetivo, foi elaborado o projeto do serviço, para atendimento dos

pacientes com necessidade de prótese buco-maxilo-facial.

Levando em conta o grande número deste tipo paciente e a quase inexistência

de serviços para atendê-los, considera-se extremamente oportuno a criação, nos

1

Projetos Especiais de Odontologia da UNIFOR, do primeiro serviço de atendimento

a pacientes com defeitos na face, boca e maxila do Estado do Ceará.

O serviço de Prótese Buco-maxilo-facial tem, como objetivo geral, o

atendimento e recuperação, por meios protéticos, adotando estratégias de promoção

de saúde, de pacientes portadores de lesões sediadas na boca, maxila e face

visando sua recuperação estético-funcional, sua integração social, melhoria de sua

qualidade de vida e conseqüente reabilitação para a atividade profissional.

Pretende-se com o serviço dotar Fortaleza de um serviço especializado no

atendimento aloplástico dos defeitos da face, qualificar, por meio de estágio

curricular, acadêmicos de odontologia, fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia no

atendimento destes pacientes especiais, recuperar por meio de prótese ocular,

pacientes portadores de lesões do bulbo ocular e óculo-palpebral, recuperar

pacientes portadores de lesões onco-cirúrgica ou agenesias na face, por meio de

prótese nasal, auricular e facial extensa, Confeccionar goteiras dentais, para, em

integração com a cirurgia buco-maxilo-facial, atender os pacientes portadores de

fraturas mandibulares, assim como desenvolver pesquisa na área de prótese facial

implanto-suportada.

É filosofia do projeto manter-se uma interdisciplinaridade e uma

transdisciplinaridade com especialidades afins, para que se possa proporcionar um

tratamento integral ao paciente e trabalhar estratégias de promoção de saúde.

É grande o número de pacientes que necessita de atendimento nesta área, o

que não existe é serviço para atendê-los. Portanto, é necessária uma articulação

com outros serviços que atuam com pacientes com este perfil como o Instituto dos

Cegos do Ceará, o Hospital do Câncer, as disciplinas de Oftalmologia, Oncologia e

Cirurgia Plástica do Curso de Medicina, além do curso de Fonoaudiologia, para

atendimento a pacientes portadores de fissuras palatinas.

2.3. FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR

O serviço funciona com professores da disciplina de Prótese Buco-maxilo-

facial, disciplina obrigatório no fluxo curricular 36.2 da graduação, e com estagiários

formados por alunos do 9o e 10o semestres, que trabalham em dupla/trio e realizam

tanto procedimentos clínicos como laboratoriais na execução das próteses. Para o

1

atendimento aos clientes e orientação aos alunos estagiários e/ou pesquisadores

estão lotados dois professores e, como auxiliar, um funcionário.

A seleção dos alunos é feita junto aos acadêmicos do nono e décimo

semestres e obedecendo a disponibilidade de horário dos mesmos. O critério de

avaliação, leva em consideração o desempenho do aluno na disciplina de Prótese

Buco-Maxilo-Facial, o interesse, o relacionamento interpessoal, o compromisso com

o paciente, além de conhecimentos técnicos sobre o assunto.

O serviço funciona durante três dias na semana, no Curso de Odontologia da

UNIFOR, atendendo por turno, em média seis pacientes.

Por serem pacientes especiais que fogem ao cliente tradicional de Odontologia,

a triagem e seleção dos mesmos, é feita pelos próprios professores lotados no

serviço.

Durante o atendimento é preenchida uma ficha clínica para a qual são

transcritos todos os relatos informados pelo paciente na anamnese. Tem-se

observado que além das dificuldades financeiras relatadas, essas pessoas chegam

tristes e muitas vezes deprimidas e até arredias, em conseqüência da situação

vivenciada. Isto nos levou a repensar nossa abordagem eminentemente biomédica e

visão segmentada do paciente.

O atendimento do paciente com lesão facial, principalmente extensa, deve ser

feito em local especial, tanto para conforto do paciente, geralmente sujeito de

curiosidades, como o profissional de atendimento, que necessita de instrumentais e

materiais, geralmente indisponibilizados nas clínicas odontológicas tradicionais.

Hoje são atendidos pacientes de várias cidades do interior do Estado do Ceará,

inclusive de outros estados, bem como de Fortaleza. Em geral são pessoas

carentes, que na maioria das vezes, precisam da ambulância da prefeitura de sua

cidade para comparecer ao serviço, o que provoca maiores dificuldades, além das

inerentes à situação. Em dois anos de serviço já foram atendidas em média 120

pessoas, com as mais variadas necessidades.

O projeto tem desempenhado seu papel de forma exemplar uma vez que

observa-se no aluno uma maior motivação na solução do problema do paciente,

considerando a importância que isto representa na reintegração social assim como

vislumbra um campo de atuação ainda pouco identificado com a prática do cirurgião-

dentista.

1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, N.C.B. Proposta para reconhecimento da especialidade Pacientes

Especiais aprovada na assembléia preparatória estadual. Presidente da Associação

Mato-grossense de Odontologia para Pacientes Especiais Relatora da APE – MT

BRASIL. Lei N. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. A Nova Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Brasileira.

CORREA, M.S.N.P. Odontopediatria na primeira infância. Ed Santos: São Paulo,

1998, 679 p.

EISEMBERG, L.S. The care and treatment of Handicapped Children. JDC, Jul/Aug,

1976.

FOURNIOL, A . Pacientes especiais e a Odontologia. Ed Santos: São Paulo, 1998,

472p.

KOCH, G.; TOMAS, M.; POUSEN, S.; RASMUSSEN, P. O paciente criança no

tratamento odontológico. In: KOCH, G.; TOMAS, M.; POUSEN, S.; RASMUSSEN, P.

Odontopediatria: Uma abordagem clínica. 2a Ed. Ed Santos: São Paulo, 1995, p.65-

77.

1

CAPÍTULO 10

Jornada Acadêmica de Odontologia da UNIFORJuliano Sartori Mendonça

Márlio Ximenes Carlos

Sérgio Luís da Silva Pereira

A jornada de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) é uma

atividade extracurricular, inserida no calendário de atividades letivas do curso de

graduação em Odontologia, realizada anualmente desde 1998, no segundo

semestre de cada ano. Em 2005, será realizada sua oitava edição.

O evento surgiu quando da realização da XXXIII Reunião da Associação

Brasileira de Ensino Odontológico na cidade de Fortaleza no ano de 1998, tendo

como primeira designação “I Jornada Acadêmica da UNIFOR”, nome este que foi

aprimorado, consolidando-se como a marca: Jornada Acadêmica de Odontologia da

UNIFOR – JAO da UNIFOR.

A jornada tem como objetivos primordiais:

Permitir aos discentes expor sua produção científica bem como exercitar

seus dotes pedagógicos, estimulando as atividades de monitoria bem como

os trabalhos de iniciação científica;

Permitir a exposição de conteúdos técnicos não trabalhados na grade

curricular do curso de graduação em Odontologia da UNIFOR ou o

aprofundamento dos trabalhados, e o contato com professores e filosofias de

trabalho distintas das adotadas no curso, alargando os horizontes

profissionais dos nossos discentes;

Permitir a discussão de temas relevantes ao curso de Odontologia da

UNIFOR ou a Odontologia cearense e brasileira, viabilizando aos nossos

discentes o conhecimento, a participação e a influência nos grandes debates

profissionais, aguçando ainda mais seu senso crítico;

Ser um momento de encontro, de congraçamento entre os discentes da

Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com os da Universidade Federal do

Ceará (UFC), bem como com profissionais do Estado do Ceará, promovendo

a interação e a troca de experiências.

1

O conclave é organizado por uma comissão composta de docentes e discentes

do curso de Odontologia da UNIFOR, trabalhando sob os auspícios do Centro

Acadêmico e da Coordenação do curso. O trabalho na organização da jornada é

voluntário. Os discentes dispostos a trabalhar manifestam seu desejo após

convocação do Centro Acadêmico e se distribuem pelas várias subcomissões,

sendo o coordenador discente escolhido por meio de votação entre os voluntários.

Já o coordenador docente e os demais professores são escolhidos e convidados

pela comissão discente a integrar as comissões já estabelecidas, visto que o papel

maior dos docentes é o de facilitador, pois a jornada é uma atividade feita pelos

discentes para os discentes.

A comissão organizadora é dividida em várias comissões temáticas: tesouraria,

instalação, divulgação, secretaria, científica e social, com a finalidade de

descentralizar os esforços e maximizar os resultados.

Financeiramente, o evento é de responsabilidade do Centro Acadêmico do

curso de Odontologia da UNIFOR, cabendo o bônus ou o ônus sobre o resultado

financeiro do mesmo. No entanto, o conclave recebe forte apoio institucional da

UNIFOR. Além disso, são comercializados espaços para feira promocional e

“merchandising”, sem falar no montante arrecadado com adesões a jornada e

inscrições às atividades científicas propostas.

A jornada é realizada nas dependências da UNIFOR, aproveitando-se da

estrutura do bloco do curso de Odontologia, uma vez que não há atividade letiva

neste período, assim como da estrutura disponibilizada pela Vice-reitoria de Pós-

graduação e da Vice-reitoria de Extensão. Eventualmente, são utilizados espaços

externos a UNIFOR para realização de solenidades e festas.

Dentre as estratégias de divulgação do evento, estão: visitas aos locais de

concentração de acadêmicos e cirurgiões-dentistas para a distribuição de cartazes e

“folders”; envio de mala direta e manutenção de página na internet, a fim de

viabilizar informações e serviços, como a inscrição para apresentação de trabalhos

científicos na jornada.

Dentre as atividades oferecidas durante a jornada, podemos dividi-las em três

grupos: as científicas, as comunitárias e as sociais.

As atividades científicas, por sua vez, podem ser divididas: naquelas onde o

participante da jornada é o protagonista da mesma, como os fóruns acadêmico e

1

profissional, clínico e científico, os temas livres e os painéis; e naquelas onde o

participante da jornada caracteriza-se mais como um ouvinte, como os cursos,

seminários, simpósios, fóruns de debate, mesas redondas, “workshops” e “hands-

on”.

As atividades comunitárias são caracterizadas pela prestação de serviços à

sociedade, como campanha contra o câncer de boca, campanha de vacinação dos

estudantes de Odontologia contra a hepatite, ou campanha educativa a respeito da

cárie dentária, doença periodontal e traumatismo dentário com crianças de escolas

próximas a UNIFOR e com os filhos de funcionários da própria instituição, entre

outras. Estas ações são particularmente preciosas àqueles alunos que não

chegaram as disciplinas profissionalizantes, pois normalmente as atividades

científicas propostas não são de entendimento fácil em função do não domínio do

conteúdo teórico por parte destes discentes.

As atividades sociais são caracterizadas pelo congraçamento dos participantes

da jornada, como as solenidades de abertura e encerramento, os “coffee-breaks”, os

“happy-hours” e as festas noturnas. É importante destacar o espaço aberto nestas

atividades para que os discentes exponham seus dotes artísticos por meio de

apresentações de dança, teatro, música e literatura.

Enfim, a jornada tem se mostrado um excelente instrumento para aproximar

alunos e professores por meio de atividades nas quais a relação de poder esteja

alterada e os papéis nessa hierarquia imprecisos. Também constitui um excelente

laboratório para forjar líderes e testar seus desempenhos. Possibilita o convívio com

acadêmicos e profissionais de outras áreas, como a Fonoaudiologia, Fisioterapia,

Enfermagem, entre outros.

1