CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HIPNÓSE CLÍNICA, … · Palavras-chave: Hipnose, Esquemas, Terapia...
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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HIPNÓSE CLÍNICA, HOSPITALAR E
ORGANIZACIONAL
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
A UTILIZAÇÃO DA HIPNOSE PARA TRATAMENTO DE ESQUEMAS DE ABANDONO
Elaborado por
CHRISTIAN PABLO COSTA ANTUNES
Rio de Janeiro Outubro de 2017
CHRISTIAN PABLO COSTA ANTUNES
A UTILIZAÇÃO DA HIPNOSE PARA TRATAMENTO DE ESQUEMAS DE ABANDONO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência da disciplina TCC 2 do Curso de Pós-graudação em Hipnose Clínica do Centro Universitário Celso Lisboa, orientado pelo Prof. Ma. Clystine Abram Oliveira Gomes.
Rio de Janeiro
Outubro de 2017
CENTRO UNIVERSITÁRIO CELSO LISBOA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HIPNOSE CLÍNICA, HOSPITALAR E
ORGANIZACIONAL
Elaborado por
CHRISTIAN PABLO COSTA ANTUNES
A UTILIZAÇÃO DA HIPNOSE PARA TRATAMENTO DE ESQUEMAS DE ABANDONO
Data da aprovação: _____/ _____/ ________
Banca examinadora
__________________________________
Profª Ma.Clystine Abram Oliveira Gomes (orientadora)
__________________________________
Prof.Me. Gil Gomes
__________________________________
Profª Dra. Denise Bloise
Rio de Janeiro
Outubro de 2017
Antunes,ChristianPabloCostaAutilizaçãodahipnoseparatratamentodeesquemasdeabandono.ChristianPabloCostaAntunes.RiodeJaneiro:UCL,31deoutubrode2017.Nºdepag.il.Orientador:ClystineAbramOliveiraGomes,MestreTrabalhodeConclusãodoCursodePós-graduaçãoemHipnoseClínica,HospitalareOrganizacionalCentroUniversitárioCelsoLisboa.
1.Assunto.2.Assunto.I.2ºautor.III.Título.
Tenha coragem e acredite nos teus sonhos pois o mundo precisa dos talentos
que só você tem.
Marie Forleo
ANTUNES, C. P. C. A utilização da hipnose para tratamento de esquemas de abandono. 2017 33f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Hipnose Clínica, Hospitalar e Organizacional) – Universidade Celso Lisboa, Rio de Janeiro.
RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo sobre como a hipnose pode ser administrada para favorecer o tratamento de quem possui esquemas de abandono/instabilidade. Este tema é relevante na medida em que este tipo de esquema pode prejudicar a vida dos pacientes de diversas maneiras, tais como escolher parceiros amorosos que mantenham o padrão de abandono, tornar-se extremamente ciumento e não desenvolve um relacionamento sadio, ou até mesmo evitar qualquer tipo de relacionamento que esteja iniciando um processo de envolvimento. Neste sentido, quando a pessoa sofreu uma situação de abandono ou foi criada em uma família que não ofereceu a estabilidade emocional requerida, este padrão pode afetar a sua vida inteira, impedindo-a de viver uma vida amorosa feliz e satisfatória. Desta forma, desenvolver processos para curar ou pelo menos amenizar o impacto do esquema revela-se um importante cuidado para o bem-estar das pessoas acometidas pelo esquema de abandono. O propósito deste trabalho é analisar técnicas de hipnose que podem ser benéficas no tratamento de todos os tipos de esquemas, em especial o tratamento de esquemas de abandono/instabilidade. A partir da revisão bibliográfica baseada no criador da terapia dos esquemas Jeffrey Young e também de referências no estudo da hipnose foi elaborado um estudo sobre como funcionam os esquemas em geral, sua classificação, sua origem e seus tipos de enfrentamentos além de ser revisado mais profundamente o esquema de abandono/instabilidade. Também foi demonstrado como e por que a hipnose é uma ferramenta eficaz neste tipo de tratamento, além de comparar algumas técnicas hipnóticas que podem ser utilizadas com este tipo de paciente.
Palavras-chave: Hipnose, Esquemas, Terapia Cognitivo-Comportamental,
relacionamentos
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO …………………………………………………………………………… 9
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ………………………………………………………… 10
2.1 TERAPIA DOS ESQUEMAS …………………………………………………….… 10
2.1.1 Esquemas de abandono/instabilidade ………………………………..... 16
2.2 TRATAMENTO DE ESQUEMAS …………………………………………………. 18
2.2.1 Hipnose para o tratamento de esquemas …………………..…………. 19
2.2.2 Técnicas de hipnose ………………………………………………………. 20
2.2.2.1 Lugar seguro ………………………………………………………. 20
2.2.2.2 Regressão pelas emoções ………………………………………. 21
2.2.2.3 Reparação parental limitada …………………………………….. 23
2.2.2.4 Estados do ego ……………………………………..……………… 23
2.2.2.5 Progressão ao futuro desejável ………………………………… 25
3. CONCLUSÃO …………………………………………………………………………….. 26
4. REFERÊNCIAS …………………………………………………………………………... 28
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1. INTRODUÇÃO
Ser feliz nos seus relacionamentos amorosos, familiares e de amizade é um dos
objetivos mais comuns entre os seres humanos, porém nem sempre alcançado. Uma das
origens dos problemas mais comuns que impedem as relações serem saudáveis são os
esquemas gerados na infância e que tem uma influência durante toda a vida (YOUNG,
2008).
Uma das ferramentas para o cuidado da criança interior ferida é a hipnose. Através
dela é possível se chegar nas memórias mais profundas e escondidas e oferecer a
criança vulnerável o que ela precisa, gerando assim pensamentos funcionais, sentimentos
de paz e liberdade para se ter uma atitude mais amorosa perante a vida.
A terapia dos esquemas e a hipnose são ferramentas que podem ser utilizadas em
processo psicoterápico com o objetivo de criar condições internas necessárias para ter
relacionamentos saudáveis, sejam eles na vida pessoal ou profissional.
O objetivo geral dessa pesquisa é apresentar os métodos hipnóticos para o
tratamento de esquemas de abandono. Os objetivos específicos são: distinguir o
conceitos e funcionamentos da terapia do esquema; identificar as características do
Esquema de Abandono; examinar por que a hipnose pode ser uma ferramenta eficiente
para o tratamento de esquemas de hipnose de abandono; descrever e relacionar alguns
métodos de hipnose possíveis de ser usados neste tipo de tratamento.
A metodologia de pesquisa foi realizada através de uma busca bibliográfica, entre
os meses de julho e outubro de 2017, tomando como base livros relacionados ao tema de
esquemas e de hipnose. Também foram utilizados artigos que foram selecionados nas
bases de dados Google acadêmico, SciELO, Pepsic.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Terapia dos Esquemas
A terapia dos Esquemas é uma abordagem da psicologia desenvolvida por Jeffrey
Young que expande as possibilidades de tratamento da terapia-cognitiva-comportamental
na medida em que seu foco está na investigações da origem dos problemas psicológicos,
na relação entre o terapeuta e o paciente e também nos estilos desadaptativos de
enfrentamento aos esquemas.
Segundo YOUNG (2008.p 22) “os esquemas desadaptativos remotos são padrões
emocionais e cognitivos autoderrotista iniciados em nosso desenvolvimento desde cedo e
repetidos ao longo da vida”, estes padrões emocionais e cognitivos são formados por
memórias, emoções e sensações corporais, que podem ter relação apenas a ele mesmo
ou à outras pessoas.
A origem dos esquemas geralmente está em situações traumáticas e repetitivas da
infância e da adolescência, como por exemplo o abandono do pai, agressões verbais e
físicas, abusos sexuais, etc. Porém nem todos esquema é decorrente de traumas, por
exemplo, uma criança superprotegida pode desenvolver um esquema de
dependência/incompetência sem nunca ter passado por nenhuma situação traumática.
Os esquemas são padrões cognitivos e emocionais que são repetitivos durante
toda a vida. Os indivíduos tendem a ter as mesmas reações e atitudes perante diferentes
situações da vida mesmo que seja prejudicial a elas. Isso acontece pois o seres humanos
tem uma necessidade de coerência, como explica Young no trecho a seguir:
O esquema é o que o individuo conhece. Embora cause sofrimento, é confortável e familiar, e ele se sente bem. As pessoas se sentem atraídas por eventos que ativam seus esquemas. Trata-se de uma das razões pelas quais os esquemas são tão difíceis de mudar. Os pacientes os consideram verdades a priori, de modo que influenciam o processamento de experiências posteriores, cumprindo um papel crucial na forma como os pacientes pensam, sentem, agem e relacionam-se com outros. Paradoxalmente, levam os pacientes a recriar, inadvertidamente, quando adultos, as condições da infância que lhes foram mais prejudiciais. (YOUNG, 2008, P.23)
11
Os esquemas possuem níveis de gravidade, quanto mais cedo aconteceu a
situação original que ocasionou o esquema, mais grave este tende a ser. Outros fatores
determinantes são a intensidade e a recorrência dos fatos geradores do esquema. Quanto
mais dolorosos e repetitivos forem os traumas, maior será o nível de gravidade do
esquema, gerando assim sentimentos negativos mais intensos e que permanecerão por
mais tempo (YOUNG, 2008).
As causas dos esquemas proposta por Young (2008) são necessidades
emocionais não-satisfeitas na infância. Estas necessidades são: 1) Vínculos seguros com
outros indivíduos. 2) Autonomia, competência e sentido de identidade. 3) Liberdade de
expressão, necessidades de emoções válida. 4) Espontaneidade e lazer. 5) Limites
realistas e autocontrole.
Para Young (2008) essas necessidades são universais, ou seja, todos os seres
humanos às possuem, porem elas se apresentam em diferentes intensidades para cada
indivíduo. Toda vez que uma destas necessidades não é satisfeita, um novo esquema é
criado ou um antigo é reforçado. “Um indivíduo psicologicamente saudável é aquele que
consegue satisfazer de forma adaptativa as necessidades emocionais fundamentais”
(YOUNG, 2008.p.24).
Existem 18 tipos de esquemas que eles estão classificados em 5 grupos chamados
Domínios de Esquemas. Cada domínio está relacionado a um conjunto de necessidades
básicas não-satisfeitas (YOUNG, 2008).
Os pacientes do domínio de Desconexão e Rejeição não tiveram atendida a
necessidade dos vínculos seguros com outros indivíduos. Algumas de suas
características são a falta de previsibilidade, aceitação, proteção, segurança, cuidado,
empatia e abertura para compartilhar sentimentos. Sua família típica é pouco afetuosa,
fria, distante, rejeitadora, solitária, imprevisível e abusiva. Os esquemas deste domínio
são: 1) Abandono/ instabilidade; 2) Desconfiança/ abuso; 3) Privação emocional 4)
Defectividade/vergonha e 5) Isolamento social/alienação.
Quem pertence ao domínio da Autonomia e Desempenho Prejudicados não
satisfez a necessidade de autonomia, competência e sentido de identidade. Suas
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características prejudicadas são a capacidade de sobreviver, funcionar de forma
independente ou ter bom desempenho devido as expectativas sobre si mesmo e sobre o
ambiente. Sua família típica possui um funcionamento emaranhado, oferecendo a criança
um ambiente de superprotegendo, não confiança ou desestímulo a um desempenho
competente extra-familiar. Os esquemas deste domínio são: 6) Dependência/
incompetência; 7) Vulnerabilidade ao dano ou à doença; 8) Emaranhamento/self-
subdesenvolvido e 9) Fracasso.
O terceiro domínio é dos Limites prejudicados. As pessoas desse domínio não
receberam limites realistas e autocontrole na infância. Suas características básicas são a
deficiência em se responsabilizar, respeitar e cooperar com os outros. Também possuem
dificuldade em estabelecer limites internos e comprometer-se com objetivos pessoais de
longo prazo de forma realista. Sua família típica normalmente é excessivamente
permissiva, tolerante. Geralmente evita confrontos, estabelecer limites adequados e
responsabilidades, gerando assim uma sensação na criança de superioridade ou falta de
compromisso com seus objetivos. Os esquemas deste domínio são: 10)
Arrogo/grandiosidade e 11) Autocontrole/autodisciplina insuficientes.
Os indivíduos do domínio do Direcionamento para o outro não obtiveram a
liberdade de expressão e validação de suas emoções. Suas características são o foco
excessivo na aprovação dos outros. Para evitar ser retaliados e perderem a conexão
submetem-se a supressão de seus próprios desejos, sentimentos (principalmente a raiva),
necessidades e inclinações naturais. Sua família típica geralmente impõe às crianças uma
aceitação condicional. Para receberem amor, atenção e aprovação elas precisam suprimir
seus sentimentos, desejos e necessidades para realizar os desejos dos pais. Os
esquemas deste domínio são: 12) Subjugação; 13) Auto-sacrifício e 14) Busca de
aprovação/busca de reconhecimento.
O quinto domínio é referente a Supervigilância e inibição. Os pacientes deste
domínio não permitiram-se viver a espontaneidade e o lazer. Suas características são a
repressão excessiva dos impulsos, sentimentos e escolhas para atender regras e
expectativas rígidas e internas sobre desempenho e conduta. Este desequilíbrio acaba
custando a sua auto-expressão, saúde e felicidade interna e nos relacionamentos. Sua
família típica é severa, exigente e às vezes punitiva. Valores como dever, cumprimento de
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normas, perfeccionismo, desempenho, evitação de erros e ocultação de emoções são
preponderantes em relação a alegria, prazer e relaxamento. É comum haver um
sentimento pessimista e preocupação excessiva, exigindo assim um estado de vigilância
permanente. Os esquemas deste domínio são: 15) negativismo/pessimismo; 16) Inibição
emocional; 17) Padrões inflexíveis/postura crítica exagerada e 18) Postura punitiva.
Um dos motivos que torna os esquemas extremamente disfuncionais na vida adulta
é que os dramas infantis se perpetuam de forma oculta no inconsciente. Quando um
adulto deparam-se com alguma situações onde o esquema é ativado, o que está sendo
vivenciado, no fundo é um drama infantil. Por exemplo: uma criança que acredita que seu
irmão mais novo recebeu mais atenção que ela pode desenvolver o esquema de privação
emocional, e isto acarretar um comportamento excessivamente ciumento. Neste caso, a
tendência é que o adulto acredite que seu comportamento é causado devido ao
comportamento dos outros que não lhe dão a atenção suficiente, quando na verdade, a
atenção que ele realmente está buscando é a do pai e da mãe que, aos olhos da criança,
não supriram a necessidade merecida.
Os pais geralmente são os maiores causadores de esquemas, mas não são os
únicos. Os irmãos, amigos, colegas de escola também podem despertar novos
esquemas. A medida que a criança vai crescendo os novos esquemas tendem a não ser
tão poderosos e prejudiciais (VALENTINI & ALCHIERI, 2009).
Existem quatro tipos de experiências que tendem a originar os esquemas (YOUNG,
2008).
1) Frustração nociva das necessidades. Ela ocorre em crianças que vivenciaram
poucas experiências positivas e o ambiente em que vivem oferece pouca estabilidade,
compreensão e amor. Os esquemas mais comuns neste caso são os de privação
emocional e abandono.
2) Traumatização ou vitimização. Ocorre quando há a presença de um fato
traumatizante na vida da criança. Os esquemas comuns são desconfiança/abuso,
defectividade/vergonha e vulnerabilidade ao dano.
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3) Prazeres sem limites e superproteção. Acontece quando há um excesso de
experiências positivas, superproteção e a ausência de limites realistas. Os esquemas
comuns são: dependência/incompetência e arrogo/grandiosidade.
4) Internalização ou identificação seletiva. Acontece quando há uma
identificação disfuncional com os pais, sendo que a criança internaliza sentimentos,
pensamentos e comportamentos não desejados dos pais.
Depois que passamos por uma das quatro tipos de experiências e desenvolvemos
algum ou alguns dos 18 tipos de esquemas, o nosso inconsciente define a forma como
iremos enfrentá-los. Ou seja, o inconsciente acredita que a situação que aconteceu no
passado continuará acontecendo no futuro. Exemplo: aconteceram traições no casamento
dos meus pais, logo acontecerão traições no meu casamento também. Diante disto nós
podemos enfrentar a situação de algumas maneiras, chamadas estilos de
enfrentamentos.
Existe 3 estilos de enfrentamentos (YOUNG, 2008). São eles:
1) Resignação. O indivíduo que escolhe inconscientemente por enfrentar o
esquema pela resignação acaba repetindo na vida adulta os padrões que ativaram o
esquema na infância, mesmo que estes sejam prejudiciais aos mesmos. Exemplo:
Criança que foi abusada quando criança, escolhe apenas parceiros abusadores na fase
adulta. O paciente aceita que o esquema é verdadeiro e garante que ele permaneça
sendo vivido. Quando os gatilhos são ativados, as reações são desproporcionais e as
emoções são vividas de maneira intensa.
2) Evitação. Neste estilo de enfrentamento o paciente evita passar por qualquer
situação da vida que ative o esquema, mesmo que a consequência para a sua vida seja
desastrosa. Exemplo: Criança que foi abusada na infância passa a vida repelindo todo o
tipo de relacionamento quando percebe que este está se tornado estável, pois acredita
inconscientemente que seu parceiro também irá se tornar um abusador, mesmo não
tendo nenhuma evidência que isto seja verdade. Não suportam a ideia de confrontar a
situação ativador do esquema e geralmente utilizam-se de vícios como fuga, com por
exemplo comer e/ou beber excessivamente, sexo promíscuo, limpeza compulsiva, etc.
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3) Hipercompensação. Os hipercompensadores passam a vida lutando para que o
oposto do esquema aconteça, mesmo que não seja saudável. Exemplo: criança que foi
abusada quando criança torna-se um adulto que abusa dos parceiros, pois acredita que
se não agir desta forma será abusado novamente.
Estes estilos de enfrentamento tem uma influência direta nos qualidade das
relações amorosas e segundo Scribel (2007) devem estar sendo vistos a partir da
combinação dos esquemas do casal.
A construção da relação amorosa se dará a partir do entrelaçamento dos esquemas mentais do par conjugal (conjunção de esquemas), originando demandas especificas que se traduzem na relação sob a forma de expectativas mútuas. As especificidades de cada demanda são influenciadas pelas crenças e outros componentes da organização cognitiva. Na interação conjugal esquemas primitivos são ativados, sendo que em pessoas bem ajustadas, os esquemas dão origem a uma variedade de crenças que são flexíveis e que se adequam às circunstâncias e ao momento atual. No entanto, em pessoas com transtornos emocionais ou com perfis psicológicos rígidos, os esquemas tendem a ser desadaptativos, gerando atitudes disfuncionais em muitas situações da vida.
Conforme Young et al. (2003) os esquemas podem estar latentes ou ativos. Observamos que no relacionamento amoroso, dado o grau de envolvimento das pessoas, os esquemas mais primitivos são acionados de forma intensa. Assim, quando há o predomínio de esquemas adaptativos, o relacionamento se construirá a partir da soma das habilidades individuais, estabelecendo-se um clima de cooperação e cumplicidade que fortalecerá a dupla conjugal e também cada pessoa. A relação será, portanto, satisfatória e dirigida para o crescimento. Por outro lado, quando a escolha se dá com base em esquemas desadaptativos, a relação se construirá de forma perturbada, tendendo a reforçar esses esquemas por meio de pensamentos distorcidos, o que propicia um clima de insatisfação e conflito crônico. (SCRIBEL, 2007, s/p)
Para Young (2008) os estilos de enfrentamento não são estáveis e os pacientes
alternam entre eles durante a vida, ao contrário dos esquemas que permanecem fixos. O
indivíduo pode viver os 3 tipos de enfrentamentos em situações diferentes para o mesmo
tipo de esquema.
Os principais fatores que definem qual estilo de enfrentamento será adotado são o
temperamento do paciente, sendo que indivíduos de temperamento passivo tendem a ser
resignados e evitadores, enquanto que os que possuem temperamento agressivo
geralmente são hipercompensadores. Outro fator é a modelagem, ou seja, a criança
escolhe um dos pais para tomar de referência e assim assume seus estilos de
enfrentamento (VALENTINI & ALCHIERI, 2009).
16
2.1.1 Esquemas de abandono / instabilidade
Para Young (2008) os esquemas de abandono / instabilidade caracterizam-se por
um medo permanente de perder as pessoas mais próximas a elas. Acreditam que as
pessoas são instáveis e indignos de confiança e que irão lhes abandonar, ficar doentes e
morrer ou trocá-los por outro melhor a qualquer momento. Gerando assim um estado de
temor e alerta constante na busca de sinais que comprovem que serão abandonadas
(YOUNG, 2008).
Originam-se em situações em o indivíduo se sente deixado, tais como: o pai
abandonou a criança, a morte de um parente, um término de namoro, ou em situações em
que o apoio emocional se tornou instável e imprevisível, por exemplo ataques de raiva
(VALENTINI & ALCHIERI, 2009).
A crença que está por trás dos pensamentos, sentimentos e comportamentos do
indivíduo é: “se eu fui abandonado uma vez, serei abandonado sempre”. Isto gera uma
crença que as pessoas não são confiáveis e que irão abandoná-las a qualquer momento
por uma pessoa melhor e sentimento de insegurança.
As emoções mais comuns são raiva daqueles que as deixaram, tristeza, ansiedade
crônica e depressão. Estas são causadas por perdas reais ou apenas percebidas.
Pequenas ausências já são suficientes para ativar o esquema, gerando assim apego
desproporcional, possessividade, controle, ciúmes excessivo, acusações infundadas de
abandono e competitividade com parceiros e rivais. Todas estas são estratégias
disfuncionais para evitar a possível ausência da outra pessoa, que podem inclusive ter o
resultado oposto do esperado.
É comum outros esquemas estarem associados ao esquema de abandono, como
por exemplo: 1) Subjugação: Acontece quando o paciente acredita que caso não faça
todas as vontades do parceiro, este o irá deixar. 2) Dependência/incompetência:
Acreditam que se o parceiro for embora eles não conseguirão viver por conta própria. 3)
Defectividade: Temem que o parceiro descobrirá vários defeitos neles e por conta disto
irão abandoná-los (YOUNG, 2008).
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Para Boscardin (2011) um exemplo de transtorno caracterizado pela combinação
dos esquemas de abandono, subjugação e dependência é o amor patológico.
O Amor Patológico (AP) é um transtorno que acomete geralmente as mulheres, por estas valorizarem mais a relação a dois e tudo o que esta envolve. Neste transtorno, o indivíduo é dependente do amor do parceiro e faz tudo para não correr o risco de perder a pessoa que ama, deixando de lado seus próprios interesses e desejos. Esse é um padrão de relacionamento aprendido na infância, onde a maioria dessas mulheres passou por experiências contínuas de desamparo em que, por muitas vezes, sentiram-se na iminência de serem abandonadas e fizeram esforços constantes para evitar o abandono real ou imaginário. (BOSCARDIN, 2011, s/p)
Diante disto, o indivíduo pode decidir inconscientemente por algum dos 3 estilos de
enfrentamento. Os que optam pela resignação geralmente escolhem parceiros que não
querem compromisso. É importante notar que esta é uma decisão inconsciente e a
pessoa geralmente não sabe que fez esta decisão. Geralmente sua vontade consciente é
oposta, por exemplo se perguntarem a um indivíduo resignado se ele quer um
relacionamento estável, provavelmente ele dirá que sim, porém quando se olha as
atitudes da pessoa é comum ver que ele escolheu apenas parcerias que no fundo ele
sabia que iriam o abandonar, o mesmo acontece para os outros dois estilos de
enfrentamento.
Para quem enfrenta o esquema pela evitação, dificilmente constrói relacionamentos
íntimos, tomando alguma atitude inconsciente para que o relacionamento termine assim
que ele percebe que está aumentando o grau de compromisso. Exemplo: Em alguns
casos a pessoa escolhe trair o parceiro para ter um motivo para terminar a relação antes
que ela seja abandonada.
A pessoa que adota a hipercompensação tende a sufocar o parceiro até afastá-lo.
A crença que o parceiro irá a abandonar é tão grande que qualquer sinal de afastamento
do parceiro deixa a pessoa em estado de alerta, podendo gerar uma relação de ciúmes
excessivo. Interessante notar que neste caso justamente o medo de ser abandonado
pode gerar um desconforto tão grande no parceiro que acaba realmente a abandonando.
18
2.2 Tratamento de esquemas
O objetivo da terapia é reestruturação cognitiva dos esquemas através de
estratégias que trabalham as memórias, emoções, sensações corporais, cognições e
comportamentos do paciente para que ele estabeleça alternativas funcionais aos padrões
auto-derrotistas que se apresentam como maneiras fixas de ser.
Sobre o tratamento dos esquemas Young (2008) aponta a sua dificuldade.
A trajetória da cura de esquemas costuma ser árdua e longa. Modificá-los é difícil, pois configuram crenças profundamente arraigadas sobre si e sobre o mundo, aprendidas desde muito cedo. Inúmeras vezes, constituem tudo o que o paciente conhece. Por mais destrutivos que sejam, os esquemas proporcionam ao paciente um sentimento de segurança e previsibilidade. Os pacientes resistem a abster-se deles porque são fundamentais à sua sensação de identidade. É desagregador renunciar a um esquema. O mundo inteiro balança; por isso, a resistência à terapia configura uma forma de autopreservação, uma tentativa de se agarrar à sensação de controle e coerência interior. Renunciar a um esquema é abrir mão do conhecimento de quem se é ou de como é o mundo. (YOUNG, 2008. P 43)
O tratamento dos esquemas é composto por basicamente quatro etapas (Young,
2008): 1) a realização de questionários com o paciente para identificar quais são os seus
esquemas; 2) Aplicação de técnicas cognitivas para o entendimento racional de como o
esquema opera; 3) Realização de técnicas vivenciais com o uso de hipnose para que o
esquema seja tratado no nível do subconsciente; 4) Estratégias de mudanças de padrões
comportamentais.
Young produziu uma série de questionários com o objetivo de identificar e
classificar os esquemas nos pacientes que serão utilizados na primeira etapa. Após esta
primeira etapa é discutido e elencado quais são os principais esquemas a serem tratados
na terapia,
Na segunda etapa são realizadas técnicas cognitivas com o intuito do paciente
entender racionalmente como funciona cada esquema e distinguir como ele se apresenta
na sua vida. Dentre as técnicas cognitivas, pode-se salientar algumas como avaliar as
vantagens e desvantagens dos estilos de enfrentamento do paciente, relativização das
evidências que sustentam o esquema, elaboração de cartões-lembrete sobre como
funciona o esquema e seus mecanismos ativadores e também a elaboração de um diário
19
do esquema (YOUNG, 2008). Esta é uma etapa importante no processo, porém ao seu
término os pacientes costumam ter a sensação que entendem que o esquema não é
verdadeiro, mas ainda sentem-se da mesma maneira e não conseguem ainda viver de
uma maneira diferente.
Na terceira etapa os esquemas são trabalhados no nível subconsciente através de
técnicas de hipnose. O objetivo é tratar o esquema no nível emocional através da ativação
das emoções conectadas aos esquemas, identificar as suas origens na infância e realizar
a reparação parental para satisfazer parcialmente as necessidades não atendidas na
infância. No presente artigo será apresentado mais profundamente esta etapa nas
próximas sessões.
Por fim, na última etapa são criadas estratégias para mudança comportamental. O
objetivo é que se criem novos hábitos funcionais na vida do paciente e que ele viva
livremente através de suas escolhas e não mais por padrões rígidos gerados pelos
esquemas (YOUNG, 2008).
2.2.1 Hipnose para o tratamento de esquemas
Para o tratamento dos esquemas no nível subconsciente a utilização da hipnose se
apresenta muito eficiente por trabalhar as áreas do cérebro que disparam os esquemas e
não são acessadas naturalmente de forma cognitiva.
Para Sofia Bauer (2013) o conceito de hipnose pode ser conceituada da seguinte
maneira:
Hipnose é um estado alternativo de consciência ampliada, onde o sujeito permanece acordado todo o tempo, experimentando sensações, sentimentos talvez tendo imagens, regressões, anestesia, analgesias e outros fenômenos hipnóticos enquanto está neste estado.
Você fica mais interno, mais focado, mais acordado. Durante o transe, você vai se desligando das percepções externas e tem uma grande atividade interna, sem perder seu estado de alerta. (BAUER, 2013. p.17)
A hipnose é especialmente importante no tratamento dos esquemas, pois ela
consegue acessar e ressignificar as memórias localizadas no sistema amigdaliano. Neste
sistema está localizada a nossas memórias mais profundas de forma subconsciente.
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Para Young (2008) “O fato de aspectos emocionais e cognitivos da experiência traumática
localizarem-se em diferentes sistemas cerebrais pode explicar a impossibilidade de se
alterarem os esquemas por meio de métodos cognitivos simples.“ (YOUNG, 2008. p. 41).
Neste trabalho serão apresentadas e comparadas algumas técnicas de hipnose
que podem ser utilizadas para o tratamento de qualquer tipo de esquema, especialmente
os esquemas de abandono / instabilidade.
No caso dos esquemas de abandono o objetivo da hipnose é cuidar da criança
ferida para que o paciente tenha uma visão mais realista e funcional em relação à
estabilidade dos seus relacionamentos. Depois de tratados, estes tendem a abandonar o
medo extremado de que pessoas próximas podem a abandonar ou desaparecer a
qualquer momento. Além disto, sentem-se mais seguros nos seus relacionamentos, de
maneira que não precisam mais controlar, manipular ou apegar-se a relacionamentos de
forma desproporcional. Ao contrário, permitem-se escolher pessoas constantes e viver
relacionamentos íntimos. Outro fator que indica a melhora dos pacientes com esquema de
abandono é que conseguem permanecer a sós por longos períodos sem que isto os faça
deprimidos ou ansiosos nem busquem outro relacionamento imediatamente apenas para
não lidarem com as suas carências emocionais.
2.2.2 Técnicas de hipnose
Nesta sessão serão apresentadas algumas das principais técnicas de hipnose para
o tratamento de esquemas indicadas por Young (2008) e Bauer (2014). As técnicas são
independentes entre si, porém podem ser combinadas de acordo com a necessidade, ou
seja, é possível que em apenas uma sessão de hipnose todas as técnicas apresentadas
podem ser utilizadas de forma combinada e complementar.
2.2.2.1 Lugar seguro
A técnica do lugar seguro é uma preparação para o paciente entrar e sair dos
processos hipnóticos. Young (2008) recomenda que ela seja usada tanto no início como
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no final das sessões de hipnose. O seu objetivo é acalmar e tranquilizar o indivíduo
convidando-o para fechar os olhos e imaginar um lugar onde ele sinta-se completamente
calmo e seguro.
Esta técnica é especialmente importante para pacientes fragilizados por traumas
intensos, e ela faz um papel de caminho transitório entre a sessão terapêutica e a vida
cotidiana, garantindo assim que a pessoa não saia abalada do consultório e siga sua vida
normalmente.
2.2.2.2 Regressão pelas emoções
Esta técnica foi criada originalmente por Stephen Gilligan e adaptada por Sofia
Bauer (2013). Ela é excelente para descobrirmos a memória original que causou o
esquema e também para realizar o cuidado da criança interior. Com o objetivo de tornar a
técnica mais completa, foi adicionado à técnica um dos passos propostos por Young
(2008) referente a liberação da raiva.
A lógica da técnica é estimular o paciente a sentir as emoções e a partir delas o
inconsciente vai revelar a memória original através da regressão.
Os passos da técnica são os seguintes:
1º Convide a pessoa a falar o seu problema, seus sentimentos ou sofrimentos.
Quando a pessoa começar a se emocionar, peça para que ela localize em que parte do
corpo a emoção está localizada. Como ela sente fisicamente a emoção? Exemplo: É um
aperto no peito? Uma dor de cabeça? O estômago está “embrulhado”?
2º Quando a emoção estiver presente de forma bem intensa, peça para o paciente
voltar no tempo e descrever quando o foi a primeira vez que ele sentiu esta mesma
sensação na vida.
3º Pergunte qual a idade que ele tinha nesta primeira memória? Descreva todos os
detalhes da memória e da emoção neste momento.
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4º Peça para que a sua versão adulta faça um diálogo com a versão criança.
Estimule a criança a falar no transe com todas as pessoas que a fizeram sofrer (pai, mãe,
irmãos, estuprador, etc).
5º Estimule a liberação da raiva e permita que ela possa expressar e livrar-se de
todos os sentimentos guardados, especialmente a raiva dos pais. Este passo foi descrito
por Young (2008) como um dos primeiros e mais importantes no processo terapêutico,
pois enquanto a pessoa não sentir raiva ela não terá autonomia e continuará acreditando
que o esquema é verdadeiro, mesmo intelectualmente ela sabia que não é. É comum os
pacientes resistirem dizendo que não acham justo sentirem raiva dos pais e sentirem-se
culpados por entender racionalmente eles fizeram o melhor que podiam, se isto acontecer
apenas diga que é um exercício e isto será importante para o seu amadurecimento
emocional.
6º Promova um apadrinhamento da pessoa, onde você oferece palavras de carinho
e a ajuda a ressignificar o fato. Uma forma poderosa e eficiente é dizendo “você
sobreviveu a tudo isto, já passou, agora chegou a hora de viver um novo tempo cheio de
novas possibilidades”.
7º Caso acredite ser necessário, acrescente outras técnicas que estão
apresentadas aqui como por exemplo a de reparação parental e estados do ego para que
a criança interior sinta-se cuidada e que tenha conversado com todas as pessoas
envolvidas na memória geradora do esquema.
8º Dê sugestões pós-hipnóticas através de metáforas, como por exemplo a estória
da árvore dura que quando chega a tempestade ela quebra, e que agora ela pode ser um
bambu que passa por todas as tempestades com flexibilidade e sempre voltando inteira
para o lugar.
9º Faça a técnica de progressão de idade e/ou um retorno ao lugar seguro.
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2.2.2.3 Reparação parental limitada
A reparação parental limitada é uma das principais técnicas descritas por Young
(2008) para cuidar da criança interior. O objetivo dela é dar à criança interior exatamente
o que ela gostaria de ter recebido na infância. A técnica consiste em colocar o paciente
em transe e adicionar o terapeuta na cena hipnótica para que ele ofereça o cuidado
emocional que a criança ferida necessita e que não recebeu na infância.
Os passos desta técnica são:
1º Pedir permissão para o terapeuta falar com a criança vulnerável. Para isto, peça
para o paciente fechar os olhos e visualizar a sua criança ferida. Quando ele estiver na
cena, o terapeuta pede permissão para participar da cena e falar diretamente com a
criança vulnerável perguntando-lhe o que ela precisa.
2º Realizar a reparação parental. O terapeuta escuta a solicitação da criança
vulnerável e realiza o seu desejo com cuidado e bom senso. Exemplo: se a criança está
triste e pede um abraço, o terapeuta diz que está abraçando a criança e pergunta se ela
está bem com isto.
3º O adulto saudável faz a própria reparação parental. Após o terapeuta cuidar da
criança vulnerável, ele chama o adulto saudável do paciente para que cuide da sua
própria criança interior tendo a atitude do terapeuta como base. Exemplo: o terapeuta diz
“agora você é um adulto e pode cuidar da sua criança ferida. Diga pra ela que você está
junto dela e que nunca a abandonará.”
2.2.2.4 Estados do ego
Esta técnica é muito eficaz para situações onde o paciente tem alguma questão
mal resolvida com alguém, ou quando passa por um momento de indecisão onde “uma
parte do coração” quer uma coisa e outra parte quer outra.
Ela é descria por Sofia Bauer (2013) no seu livro como uma adaptação de várias
técnicas do Dr. Warkings, no seu livro Estados do Ego, e também outros autores como
Gerald Puck e David Grand.
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A lógica da técnica se baseia no fato de que nosso ego cria personagens interno a
cada vez que sofreremos algum trauma. Estes personagens são chamados aqui de
Estados do ego. Estes estados são formas do nosso alterego e nos facilitam a viver a
vida, porém criam formas rígidas e fixas de ser.
O objetivo da técnica é que o paciente promova um diálogo interno entre todos os
seus estados até que todos estejam em paz.
Os passos da técnica são os seguintes:
1º Peça para a pessoa fechar os olhos e imaginar um palco iluminado. Neste palco
irão aparecer alguns personagens, que podem estar na forma de pessoas conhecidas,
famosas, personagens de filmes, animais, objetos ou qualquer outra forma. Deixe claro
que todos personagens que aparecerem são partes do próprio paciente e tem uma função
no seu inconsciente. Diga que ao se abrir a cortina novos fachos de luz vão iluminando
cada personagem. Convide o paciente a agradecer a cada personagem pela sua
presença e mostrando que mesmo que ela ainda não entenda por que o inconsciente
escolheu aquela forma, ela é importante e tem a sua função e intenção.
2º Convide o paciente a escutar o que cada personagem tem a dizer para ela. Peça
para perguntar o nome, a idade, a função e a intenção de cada um deles. Tome o tempo
que for necessário sem pressa. Este é o momento de você e o paciente captarem o que a
mente sábia do indivíduo tem para revelar sobre ele mesmo.
3º Pergunte aos personagens se eles desejam conversar entre eles mesmos para
resolver alguma questão. Veja também se algum personagem precisa de ajuda e se
algum outro pode apoiar para que todos estejam sentindo-se valorizados, aceitos e
respeitados.
4º Feche a sessão agradecendo a presença de cada personagem e diga que agora
eles podem conversarem entre si sempre que quiserem. Por fim, baixe a cortina do palco
e acenda as luzes deste palco imaginário. Desta maneira peça para que lentamente a
pessoa vá retornando saudavelmente e abra os olhos assim que sentir-se confortável.
5º Desenhe um círculo grande no centro de uma folha de papel e peça para o
paciente desenhar os personagens dentro deste círculo. Ele representa o se eu interior.
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Posicione cada personagem onde bem entender, não necessariamente como ele estava
no palco, mas como ele faz sentido agora. Geralmente quem está mais afastado do
centro representa a origem dos esquemas. Também é comum quem está na esquerda
representar o passado e na direita quem representa o futuro. Esta etapa é importante
para este trabalho seja retomado e cada personagem seja trabalho sempre que for
necessário durante o tratamento.
2.2.2.5 Progressão ao futuro desejável
Para Bauer (2014) é recomendado terminar a sessão de hipnose com uma técnica
de progressão ao futuro desejável. O objetivo é retirar o paciente do estado de dor para
estado de prazer e esperança.
Várias técnicas podem ser utilizadas com esta finalidade. Por exemplo: imaginar
uma porta que ao ser aberta seu futuro perfeito será exibido; um navio que desembarca
no futuro dos sonhos, ou até mesmo um gênio da lâmpada que está realizando seus
desejos mais profundos. Gomes (2013) utiliza o Relaxamento muscular progressivo para
permitir entrar em um estado alterado de consciência, depois sugere o paciente imaginar
uma ponte para ir para o futuro, enquanto conta de um até dez, aprofundando o transe
hipnótico. Ao sair da ponte o paciente estará na situação futura de total plenitude e bem-
estar, resolvendo o problema com seus recursos internos.
Após chegar no futuro perfeito, estimule o paciente para se sentir as emoções de
chegar neste objetivo e dê sugestões pós-hipnóticas para esta sensação permanecer com
a pessoa até a próxima sessão.
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3. CONCLUSÃO
A partir da revisão bibliográfica pode-se concluir os esquemas em sua maioria
originam-se em situações traumáticas da infância (como por exemplo abandono dos pais,
abusos sexuais, agressões verbais e físicas, etc) e tem impacto na vida inteira dos
indivíduos (YOUNG, 2008).
No caso dos pacientes que sofrem de esquemas de abandono, pequenas perdas já
são o suficiente para gerar reações desproporcionais, como ciúmes excessivo,
possessividade, acusações infundadas de abandono, competitividade com o parceiro,
depressão, etc. É importante perceber que o motivo parece ser algum acontecimento que
está no presente, quando na verdade a origem do comportamento é um drama infantil que
ainda está latente.
Diante de um esquema, os pacientes podem reagir a eles de três formas,
chamadas estilos de enfretamento: Resignação, evitação e hipercompensação. O estilo
adotado varia de acordo com a situação e a fase da vida, ao contrário dos esquemas
quem tendem a permanecer fixos (YOUNG, 2008).
Os indivíduos que enfrentam o esquema de abandono / instabilidade pela
resignação tendem a escolher parceiros que os mantenham inseguros, instáveis e com
padrão de abandono. Os que optam pela evitação tendem a terminar seus
relacionamentos sempre que está se criando um compromisso, enquanto os
hipercompensadores tendem a ser excessivamente ciumentos e sufocar os parceiros por
medo de ser abandonado.
O tratamento da terapia dos esquemas (YOUNG, 2008) tem quatro grandes
etapas, a primeira caracteriza-se por identificar os esquemas através de questionários, a
segunda oferece ferramentas cognitivas para o paciente distinguir como o esquema
funciona e seus benefícios/malefícios, a terceira é composta por ferramentas hipnóticas
para trabalhar a origem dos esquemas no inconsciente e a quarta com o foco
comportamental para o paciente gerar novos hábitos funcionais.
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Em relação a terceira etapa, a hipnose é uma ferramenta eficiente no tratamento,
pois consegue trabalhar as memórias mais profundas localizadas no sistema límbico que
outras abordagens não conseguem ter acesso.
Através do cuidado da criança interior que possui esquemas de
abandono/instabilidade, seu tratamento é capaz de possibilitar as condições internas
necessárias para que o paciente tenha uma vida amorosa livre dos estilos de
enfrentamento deste esquema.
A participação do paciente como um agente de transformação no processo do
tratamento é fundamental, cabe ao paciente o poder de controlar a sua própria vida e
fazer as suas escolhas. Portanto ao trabalhar os esquemas de abandono o paciente terá
a capacidade de perceber que tem autocontrole da própria vida e de seus pensamentos,
emoções e comportamentos (GOMES, 2013).
As técnicas de hipnose apresentadas podem ser utilizadas de maneira
independente ou combinadas de acordo com a necessidade de cada paciente. Sendo
assim, existe espaço para a criação de novos estudos e técnicas para tratamentos dos
esquemas.
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4. REFERÊNCIAS BAUER, S.; Manual de hipnoterapia ericksoniana. Rio de janeiro: Wak editora, 2013
BAUER, S.; Manual de hipnoterapia avançado e técnicas psicossensoriais. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2014
BOSCARDIN, M.K, 2011. Esquemas iniciais desadaptativos em mulheres com amor patolótico. Disponível em http://repositorio.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/9064/2/Esquemas_Iniciais_Desadaptativos_em_Mulheres_com_Amor_Patologico.pdf Acesso em: 15 out. 2017
GOMES, C.A.O. Hipnose Cognitiva – uma ferramenta coadjuvante no tratamento psicoterápico. In: COSTA,Marlus Vinicius Ferreira da. Manual Brasileiro de Hipnose Clínica. Cidade: Editora, 2013. PAIM, K.; MADALENA, M.; FALCKE, D. Esquemas iniciais desadaptativos na violência conjugal. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 8, n. 1, p. 31-39, 2012.
SCRIBEL, M. C; SANA, M.R; BENEDETTO, A.M, 2007. Os esquemas na estruturação do vínculo conjugal. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872007000200004 Acesso em: 15 out. 2017
VALENTINI, F. & ALCHIERI, J. Modelo clínico de estilos parentais de Jeffrey Young: revisão da literatura. Contextos Clínicos, v. 2, n. 2, p. 113-123, 2009.
YOUNG, J.E.; Terapia do esquema : guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras / tradução Roberto Cataldo Costa.. - Porto Alegre : Artmed, 2008.