CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TERAPIA … · 2018-09-12 · 1.Resiliência 2. Refugiados....
Transcript of CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TERAPIA … · 2018-09-12 · 1.Resiliência 2. Refugiados....
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM TERAPIA
COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
LEILA MOHAMAD SLEIMAN EL KADRI
A RESILIÊNCIA EM REFUGIADOS: UM OLHAR DA
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
SÃO PAULO
2016
LEILA MOHAMAD SLEIMAN EL KADRI
A RESILIÊNCIA EM REFUGIADOS: UM OLHAR DA
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Trabalho de Conclusão de Curso Lato Sensu
Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental
Orientadora: Prof.ª Drª Renata Trigueirinho Alarcon
Coorientadora: Prof.ª Msc. Eliana Melcher Martins
SÃO PAULO
2016
Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a fonte.
El Kadri, Leila M. S.
A Resiliência em Refugiados: um olhar da Terapia Cognitivo-Comportamental
Leila Mohamad Sleiman El Kadri, Renata Tigueirinho Alarcon-São Paulo, 2016.
61 f+ CD- ROM
Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Centro de Estudos em Terapia
Cognitivo-Comportamental (CETCC).
Orientação: Prof. Drª. Renata Tigueirinho Alarcon
1.Resiliência 2. Refugiados. 3. Terapia Cognitivo-Comportamental. I El Kadri, Leila
Mohamad Sleiman. II Alarcon, Renata Tigueirinho.
Leila Mohamad Sleiman El Kadri
A Resiliência em Refugiados: um olhar da Terapia Cognitivo-Comportamental
Monografia apresentada ao Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental como parte das exigências para obtenção do título de especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
BANCA EXAMINADORA
Parecer:_______________________________________________________
Prof.: _________________________________________________________
Parecer:_______________________________________________________
Prof.: _________________________________________________________
São Paulo, ___ de ___________ de ____
DEDICATÓRIA
A aqueles que buscam extrair oportunidades das
adversidades, que refletem na prática o sentido de
Resiliência.
“A vida,
no que tem de melhor,
é um processo que flui,
que se altera e
onde nada está paralisado.”
Carl Rogers
AGRADECIMENTOS
A Deus pela dádiva de viver.
Aos meus pais pela valorização do saber.
Ao meu parceiro Nader, pelo incentivo e apoio constante.
Aos professores que nos inspiram a ser melhores profissionais.
A todos os amigos e colegas de jornada.
Em especial, a todos aqueles que nos ensinam a relevância e o poder da resiliência
como combustível de superação e ressignificação das nossas vivências.
RESUMO
Este estudo teve como objetivo geral verificar a relação entre resiliência e sujeitos refugiados sob a luz da terapia cognitivo-comportamental (TCC). Como objetivos específicos foram propostos: elencar aspectos que facilitam a resiliência de sujeitos refugiados; apontar aspectos que dificultam a resiliência de sujeitos refugiados e descrever o sujeito resiliente sob a luz da terapia cognitivo-comportamental. Naquilo que tange a metodologia da pesquisa, esta consiste em uma pesquisa básica, qualitativa, exploratória e bibliográfica. Para a análise dos dados coletados utilizou-se a técnica de análise de conteúdo. Verificou-se que a resiliência na TCC pode ser observada através dos pontos fortes do cliente, ela pode ser fomentada através das técnicas da TCC. Elencaram-se os aspectos que facilitam a resiliência de sujeitos refugiados: autoconfiança, otimismo, interpretação positiva dos fatos, bom humor, senso de identidade, empatia, extrair aprendizagens das adversidades, atribuir sentido, valores pessoais, espiritualidade, crenças e pressupostos adaptativos, motivações, expectativas, a própria cultura, a comunidade, as redes de apoio (instituições de apoio), a família, amigos e a interação com o meio que o acolheu. Percebeu-se que a própria migração, a ausência do quadro cultural, fatores pós a imigração, como a lentidão administrativa, os obstáculos à reconstrução de uma vida profissional e familiar, dificuldades em relação à língua, diferenças culturais, mudanças e inversão de papéis sociais, exclusão, discriminação e racismo dificultam a resiliência de sujeitos refugiados. Assim, o sujeito resiliente sob a ótica da TCC são pessoas que têm: um sistema de crenças mais resilientes em áreas de habilidade e de competência, valores pessoais que agem como fonte de forças, podem ter fatores da vida ou da cultura significativos para a resiliência, interpretam de modo positivo as situações e usam estratégias adaptativas para lidar com a adversidade e podem possuir crenças religiosas que favorecem a resiliência. A escassez de estudos que correlacionam este tema traz a necessidade de mais pesquisas nesta área. Ao final foram recomendados futuros trabalhos.
Palavras-chave: Resiliência. Refugiados. Terapia Cognitivo-Comportamental.
ABSTRACT
This study aimed to investigate the relationship between resilience and refugees in the light of cognitive behavioral therapy (CBT). Specific objectives were proposed: to list aspects that facilitate resilience of refugees subject; pointing out aspects that hinder the resilience of refugees and describe the resilient subject in the light of cognitive behavioral therapy. In what regards the research methodology, this consists of a basic research, qualitative, exploratory and bibliographical. For the analysis of the data collected was used the technique of content analysis. It was found that the resilience in the CBT can be observed through the client strengths, it can be enhanced through the techniques of CBT. It was listed the aspects that facilitate resilience of refugees people: self-confidence, optimism, positive interpretation of the facts, good humor, sense of identity, empathy, extract learning from adversity, to make sense, values, spirituality, beliefs and adaptive assumptions, motivations, expectations, own culture, community, support networks (supporting institutions), family, friends and the interaction with the environment that received. It was noticed that the migration itself, the lack of cultural context, factors after immigration, such as administrative delays, obstacles to the reconstruction of a professional and family life, difficulties in relation to language, cultural differences, changes and reversal of social roles , exclusion, discrimination and racism hinder the resilience of refugees. Thus, the resilient subject from the perspective of CBT are people who have a system more resilient belief in skill areas and skills, personal values that act as a source of strength, may have factors of life or significant culture for resilience positive way to interpret situations and use adaptive strategies to deal with adversity and can have religious beliefs that favors resilience. The few studies that correlate this theme brings the need for more research in this area. At the end they were recommended future works.
Keywords: Resilience. Refugees. Cognitive Behavioral Therapy.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10
2 OBJETIVOS .................................................................................................. 12
2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 12
2.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 12
3 METODOLOGIA ........................................................................................... 13
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ..................................................... 13
3.1.1 Quanto a natureza da pesquisa ........................................................ 13
3.1.2 Quanto a abordagem da pesquisa .................................................... 13
3.1.3 Quanto aos objetivos da pesquisa .................................................... 14
3.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos ................................................. 14
3.2 Análise e interpretação dos dados .......................................................... 15
4 RESULTADOS .............................................................................................. 16
4.1 RESILIÊNCIA ......................................................................................... 16
4.1.1 Conceito ............................................................................................ 16
4.1.2 Resiliência e Psicologia Positiva ....................................................... 18
4.1.3 Resiliência e Saúde Mental .............................................................. 19
4.2 REFUGIADOS ........................................................................................ 20
4.2.1 Refúgio e implicações psicológicas .................................................. 23
4.2.2 Refúgio e a etnopsiquiatria ............................................................... 26
4.3 RESILIÊNCIA EM REFUGIADOS .......................................................... 30
4.4 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL ...................................... 33
4.4.1 Terapia Cognitivo-Comportamental e Resiliência por Kuyken, Padesky e
Dudley (2010) ............................................................................................ 35
4.4.2 Terapia Cognitivo- Comportamental e Resiliência por Macedo et al (2012)
................................................................................................................... 36
5 DISCUSSÃO ................................................................................................ 43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 51
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 55
ANEXO .............................................................................................................60
10
1 INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da civilização, a humanidade depara-se com situações
adversas. Diante da ampla gama de dificuldades pelas quais o homem precisou
passar, fez-se necessário conhecer estratégias que pudessem auxiliá-lo a lidar com
as adversidades que o rodeavam.
O ser humano precisou aprender que, apesar dos obstáculos, existiam
mecanismos que poderiam ajudá-lo a lidar com os eventos adversos, ou seja, ser
resiliente. O sujeito resiliente possui a capacidade de "renascer da adversidade
fortalecido e com mais recursos" (WALSH, 2005, p. 4).
Sabe-se que o temor a perseguições por questões religiosas, políticas,
étnicas, raciais ou sociais consistem em uma grande adversidade. Tais vivências,
frequentemente, levam as pessoas a buscarem proteção em uma pátria diferente da
sua de origem, e assim, tornam-se refugiadas.
São frequentes na história dos homens os episódios de pessoas que
precisaram sair de suas terras. De acordo com dados oficiais da Agência da ONU
para Refugiados (ACNUR,2015) testemunhou-se um aumento dramático de
deslocamentos forçados ao redor do mundo, decorrentes de guerras e conflitos. Em
2014, calcula-se que 59,5 milhões de pessoas foram deslocadas forçadamente.
Desses 19,5 milhões eram refugiados, 38,2 milhões consistiam em deslocados
internos, sendo 1,8 milhão pessoas solicitantes de refúgio.
Diante de um cenário em que é crescente o número de pessoas em situações
de refúgio, aflora a necessidade de se debruçar sobre essa temática. A Lei 9.474 de
1997 regulamenta a condição jurídica dos refugiados. Ela caracteriza como
refugiado o sujeito que é obrigado a deixar seu país de origem em decorrência de
um grave e generalizado atentado aos direitos humanos, levando-o a procurar
refúgio em outro país (ACNUR, 2010).
A preocupação com a crise humanitária experenciada por esses indivíduos
traz à tona questionamentos sobre as possíveis contribuições que a Psicologia pode
proporcionar neste campo. São várias as perspectivas teóricas dentro da Psicologia
que se inclinam para tentar explicar as cognições e comportamentos humanos.
11
Verifica-se como têm sido notórios os resultados e a eficácia que a Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC) tem apresentado para auxiliar a compreender e
tratar os fenômenos mentais.
A TCC possui como base a ideia de que o modo de perceber e interpretar as
situações influenciam as emoções e os comportamentos das pessoas (BECK, 1997).
A resiliência em refugiados sob a luz da TCC pode refletir uma capacidade
destes indivíduos de superarem as adversidades devido a fatores internos e
externos.
Como fator interno tem-se o modo de perceber o evento traumático. Peres
(2009) corrobora essa ideia ao afirmar que a percepção e o processamento de uma
experiência traumática é o aspecto primordial para o desenvolvimento da resiliência.
Já no que tange a elementos externos, Poletto e Koller (2008) colocam a rede
de amparo social e afetiva como instrumentos de proteção para o indivíduo.
Desta maneira, percebe-se que a compreensão menos catastrófica, mais
funcional da adversidade está diretamente relacionada à forma de interpretação do
fato. Assim, o refugiado que consegue ressignificar os seus traumas e medos, tem a
maior possibilidade de ser um sujeito resiliente.
12
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Verificar a relação entre resiliência e sujeitos refugiados sob a luz da terapia
cognitivo-comportamental.
2.2 Objetivos Específicos:
a) elencar aspectos que facilitam a resiliência de sujeitos refugiados;
b) apontar aspectos que dificultam a resiliência de sujeitos refugiados;
c) descrever o sujeito resiliente sob a luz da terapia cognitivo-comportamental.
13
3 METODOLOGIA
A metodologia refere-se às maneiras de fazer ciência. Orienta as técnicas, os
instrumentos e caminhos que serão utilizados para desenvolver a ciência (DEMO,
1985).
De acordo com Minayo (1996) a metodologia consiste no percurso do
pensamento e da ação no contexto da realidade.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Para Gil (2006) pode-se classificar as pesquisas quanto a natureza,
abordagem, objetivos e procedimentos técnicos.
3.1.1 Quanto a natureza da pesquisa
Quanto a natureza, trata-se de uma pesquisa básica. Esta possui o intuito de
fornecer novos conhecimentos, úteis para o progresso da ciência, sem aplicação
prática prevista. Ela aborda verdades e interesses universais (PRODANOV e
FREITAS, 2013).
3.1.2 Quanto a abordagem da pesquisa
Quanto a abordagem, consiste em um estudo qualitativo. Prodanov e Freitas
(2013, p.70) explicam que nesta modalidade de estudo existe "uma relação dinâmica
entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo
objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números."
Para Minayo (1996) a pesquisa qualitativa atende a questões muito
peculiares. Nas ciências sociais, tem como preocupação um nível de realidade que
não pode ser mensurado.
14
3.1.3 Quanto aos objetivos da pesquisa
Quanto aos objetivos, esta é uma pesquisa exploratória. Para Gil (2009) esta
forma de pesquisa objetiva oferecer mais informações sobre um tema específico,
com a finalidade de torná-lo explícito ou de formular hipóteses.
Já para Cervo, Bervian e Silva (2007, p. 63) "a pesquisa exploratória não
requer a elaboração de hipóteses a serem testadas no trabalho, restringindo-se a
definir objetivos e buscar mais informações sobre determinado assunto de estudo".
3.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos
Quanto aos procedimentos, é uma pesquisa bibliográfica. A qual é feita
baseada em materiais já elaborados, em sua maioria formado por livros e artigos
científicos (GIL, 2009).
Será realizada uma pesquisa bibliográfica, a qual explorará livros sobre a
temática como também artigos científicos existentes nas bases de dados do Scielo,
Bvs Saúde Pública, banco de dados da USP, Google Acadêmico e Lilacs.
Os descritores que serão aplicados para a busca são: resiliência, refugiados e
terapia cognitivo-comportamental nos idiomas português e espanhol.
Assim, este trabalho trata-se de um estudo teórico, nos quais os dados
obtidos são dados secundários. Estes "são dados existentes, levantados por
instituições ou por outros pesquisadores, que não aqueles que estão conduzindo a
pesquisa" (VIEIRA e HOSSNE, p. 133, 2015).
Os dados secundários estão disponibilizados e podem ser acessados através
da pesquisa bibliográfica e/ou documental (PRODANOV e FREITAS, 2013).
15
3.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Para a análise dos dados coletados empregar-se-á a técnica de análise de
conteúdo. A qual é definida como um conjunto de estratégias analíticas das
comunicações que tem por finalidade obter, através de técnicas sistemáticas e
objetivas de descrição de conteúdos da linguagem, indicadores que possibilitem
inferir ideias relacionadas às condições de criação/ recepção destas informações
(BARDIN, 2004).
O uso dessa técnica para a análise dos dados coletados permitirá verificar a
relação entre resiliência e sujeitos refugiados sob a luz da terapia cognitivo-
comportamental.
16
4 RESULTADOS
Com o intuito de compreender a resiliência em refugiados sob o olhar da
Terapia Cognitivo-Comportamental, serão abordados os conceitos pertinentes a
resiliência, resiliência e psicologia positiva, resiliência e saúde mental; refugiados,
refúgio e implicações psicológicas, refúgio e etnopsiquiatria, resiliência em
refugiados; terapia cognitivo-comportamental e a perspectiva da TCC sobre o tema.
4.1 RESILIÊNCIA
Para elucidar o tema resiliência serão apresentados o conceito, a relação da
resiliência e psicologia positiva e a resiliência e saúde mental.
4.1.1 Conceito
A resiliência pode ser definida como a capacidade que o ser humano possui
de se recuperar psicologicamente, ao ser submetido às adversidades, violências e
catástrofes da vida. Na sociedade moderna as mudanças estão muito rápidas e
intensas, o que exige frequentes esforços de adaptação, fazendo a resiliência ser
um desafio ao novo milênio (PINHEIRO, 2004).
Nesta perspectiva, a resiliência consiste na capacidade de renascer da
dificuldade mais forte e com mais recursos. Trata-se de um processo ativo de
resistência, reestruturação e crescimento como modo de enfrentar a crise e o
desafio (WALSH, 2005).
Ainda segundo esta autora a resiliência consiste na capacidade de resistir e
se recuperar de desafios vitais perturbadores.
A compreensão do indivíduo através do foco na doença abre espaço para
uma abordagem voltada a saúde, o surgimento da resiliência aponta para um novo
modelo de se compreender o desenvolvimento humano (GUZZO, 2006).
A resiliência está relacionada a viver a experiência transcendental do
renascer das amarras do sofrimento e da adversidade. Contudo, não na condição de
vítimas ou prisioneiros de suas histórias, mas sim com uma bagagem devido à
17
experiência da adversidade, caminhando firmemente à frente objetivando viver mais
e melhor (BARBOSA, 2014).
De acordo com Guzzo (2006, p. 13) “ser resiliente, contudo, pode significar
ajustar-se às diferentes condições de exploração, abuso, negligência e dominação
tão presentes em uma sociedade como a nossa”.
A interpretação e o processamento de uma experiência traumática é o fator
principal para o desenvolvimento da resiliência. Algumas características como a
flexibilidade, o otimismo, ousadia, autoestima e autoconfiança estão relacionadas ao
termo resiliência, pois possibilitam que haja uma mudança do foco do evento, ou
seja, permite, através da percepção, que o indivíduo cresça com o ocorrido (PERES,
2009).
Corroborando com essa ideia, Poletto e Koller (2008) afirmam que o impacto
das adversidades é determinado pela maneira com que são percebidas.
O conceito de resiliência, partindo da compreensão da interação da pessoa
com o seu meio, resulta no entendimento dinâmico dos fatores de risco e proteção
(CARVALHO et al., 2007).
Sapienza e Pedromônico (2005) explicam que os fatores de risco estão
relacionados aos aspectos ambientais que aumentam a probabilidade de acontecer
algum efeito não desejado no desenvolvimento. Já os fatores de proteção são os
recursos individuais que minimizam o efeito do risco.
No que tange os fatores de risco, é relevante enxergar as pessoas que se
encontram em situações de risco pessoal e social não apenas como vítimas, mas
sim buscar reforçar nelas seus recursos positivos os quais lhe permitirão lutar e
superar tais situações (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003).
Entende-se a proteção como o modo com que o sujeito lida com mudanças
da sua vida e o sentido que ele atribui às suas experiências, sua sensação de bem-
estar, sua auto eficácia, sua esperança e sua atitude frente às adversidades
(RUTTER, 1987 apud POLETTO e KOLLER, 2008).
A rede de amparo social e afetiva também é considerada fator de proteção
(POLETTO e KOLLER, 2008).
A família pode funcionar como essa rede de suporte, por isso muitos autores
destacam a importância de conhecer e promover a resiliência familiar.
18
Trabalhar com a resiliência consiste em transformar não apenas
comunidades, centros educativos e famílias, como também criar uma sociedade que
tenha como interesse maior oferecer uma resposta às necessidades de todas as
pessoas. Para isso, a família pode ser o primeiro passo (GARCIA, BRINO e
WILLIAMS, 2009).
A resiliência familiar refere-se ao potencial para recuperação, reparo e
crescimento das famílias que enfrentam grandes desafios na vida (WALSH, 2005).
Para Yunes, Garcia e Albuquerque (2007, p. 444) “tratar da resiliência em
famílias significa focar e pesquisar os aspectos sadios e de sucesso do grupo
familiar ao invés de destacar seus desajustes e falhas.”
Walsh (2005) apresenta os processos-chave da resiliência em famílias, os
quais fazem parte do seu modelo "funcionamento familiar efetivo", deste fazem parte
três domínios: sistema de crenças da família, padrões de organização e processos
de comunicação.
Naquilo que tange os profissionais que trabalham com famílias, é possível
que esses tenham um papel muito significativo, promovendo o funcionamento
saudável reforçando seus pontos fortes e diminuindo os fatores de risco (SEMEDO,
2011).
Assim, nota-se que a resiliência é um processo ativo e que se altera. Seus
efeitos podem ser minimizados na presença dos fatores de risco ou maximizados
quando os fatores de proteção se fazem presentes. A capacidade de passar por
adversidades, superá-las e, além disso, extrair aprendizados delas favorece um
desenvolvimento mais positivo e promove a saúde mental.
Neste sentido, faz-se relevante abordar a inserção da resiliência no contexto
da ciência da psicologia com um viés focado nos aspectos positivos do ser humano.
4.1.2 Resiliência e Psicologia Positiva
Ao longo da história, a psicologia centrava-se em investigar doenças,
negligenciando os elementos saudáveis das pessoas. Em 1998, Martin Seligman
assumiu a presidência da American Psychological Association (APA) iniciando assim
o movimento científico chamado de psicologia positiva. Esta nova proposta visa
19
melhorar a qualidade de vida das pessoas como também prevenir as patologias
(PALUDO e KOLLER, 2007).
A psicologia volta sua atenção para a saúde e todos os elementos positivos
da condição humana, após ter focado excessivamente no mal-estar e na patologia,
tentando compreender os fenômenos disfuncionais da mente. Esta nova perspectiva
se dá devido à ideia de que o enfoque dado ao tratamento está relacionado
diretamente com aquilo a que se direciona este olhar das disciplinas e dos
profissionais (LEMOS e JUNIOR, 2009).
Em uma de suas publicações para a edição especial da American
Psychologist Seligman e Czikszentmihallyi afirmaram que a psicologia não gerava
conhecimentos suficientes relacionados aos pontos virtuosos e as forças pessoais
que todos os indivíduos possuem. Desta maneira, enfatizaram a necessidade de
estudos sobre os aspectos positivos do ser humano como: esperança, criatividade,
coragem, sabedoria, espiritualidade e felicidade (PALUDO e KOLLER, 2007).
O movimento da psicologia positiva que investiga elementos potencialmente
saudáveis dos indivíduos é uma oposição à psicologia tradicional e sua ênfase nos
fatores psicopatológicos. Dentre os aspectos que refletem uma vida saudável,
sobressai-se a resiliência, pois faz menção a processos que explicam a superação
de adversidades com o foco no indivíduo (YUNES, 2003).
Nesta mesma linha, Godas (2010, p. 18) afirma que dentro da psicologia
positiva “destaca-se a resiliência como forma de referenciar e direcionar a reflexão
sobre os processos de superação de adversidades nos indivíduos pautados em suas
potencialidades e qualidades humanas.”
Verifica-se que o advento da psicologia positiva possibilitou tornar o olhar
para o sujeito mais otimista, visualizando os fatores que vão além do patológico,
permitiu perceber o ser humano como alguém dotado de forças e recursos pessoais
e/ou sociais, sendo então capaz de passar, superar e se fortalecer com experiências
adversas. Sendo assim, é válido apresentar a relação da resiliência com a saúde
mental.
4.1.3 Resiliência e Saúde Mental
Nas últimas décadas, a resiliência se tornou um conceito relevante na teoria,
pesquisa e prática em saúde mental (WALSH, 2016).
20
De acordo com Lemos e Junior (2009) a promoção de saúde refere-se a
conquistar a saúde em seu sentido mais amplo, o que implica na necessidade de
todas as disciplinas e competências atuarem de modo ético e interdisciplinar com o
intuito de promover uma saúde individual e coletiva.
Desta maneira, compreende-se que as estratégias de promoção da saúde
podem mudar estilos de vida e as condições sociais, econômicas e ambientais que
definem a saúde. Este movimento revela que a resiliência é um tema relevante para
a promoção da saúde (KINDI, 2012).
Para Barankin (2013) a promoção da saúde mental é um movimento novo e
animador. Quando se aprende a fomentar a resiliência em jovens e famílias, está
também nutrindo: estratégias de promoção da saúde, do cuidar das pessoas, das
famílias e das comunidades onde vivem aproveitando os seus recursos e
oferecendo oportunidades.
Nesta perspectiva, a resiliência auxilia não apenas no enfrentamento das
adversidades, como também na promoção de saúde mental e emocional. Ela é um
processo que vai além de superar as vivências adversas, uma vez que permite ao
sujeito sair fortalecido delas, o que necessariamente influência a saúde mental
(GROTBERG, 2003, apud, CARDOSO, 2014).
Promover a resiliência acarreta na promoção da saúde mental. O indivíduo,
quando possui a capacidade de resiliência tem a possibilidade de crescer e adquirir
uma bagagem de aprendizado em decorrência das adversidades que lhe
acometeram.
Pode-se constatar que a resiliência alimenta a saúde mental ao possibilitar à
pessoa, ocupar um papel além de vítima, ou seja, permite-a tornar-se protagonista
da sua história, detentora de recursos pessoais ou sociais que podem auxiliá-la a
assumir o controle de sua própria vida.
4.2 REFUGIADOS
“O tema do refúgio é tão antigo quanto à humanidade. Por razões políticas,
religiosas, sociais, culturais ou de gênero, milhões de pessoas já tiveram que deixar
seus países e buscar proteção internacional em outros” (BARRETO, 2010, p. 12).
21
Os refugiados são pessoas que se encontram fora do seu país de origem
devido a fortes temores de serem perseguidos em razão de sua raça, religião,
nacionalidade, grupo social ou opinião política. Eles são pessoas comuns, que
precisaram deixar suas propriedades, trabalhos, família e amigos para preservar sua
liberdade, sua segurança e sua vida. Aqueles que foram forçados a deixar seu país
por decorrência de conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos
direitos humanos também são considerados refugiados (ACNUR, 2016).
Dados mostram que nas últimas décadas, o deslocamento de refugiados
cresceu tomando dimensões mundiais. As estatísticas recentes informam que mais
de 60 milhões de indivíduos no mundo foram obrigados a se deslocar em razão dos
conflitos, perseguições e violações de direitos humanos. Assim, estima-se que a
população de apátridas está em torno de 10 milhões de pessoas (ACNUR, 2016).
Normalmente, os indivíduos têm seus países para garantir e proteger seus
direitos básicos e sua segurança, porém, no caso dos refugiados, percebe-se que o
país de origem não foi capaz de dar essa garantia (ACNUR, 2016).
A ACNUR (2016) faz uma diferenciação entre os termos refugiados,
solicitantes de refúgio, deslocados internos, apátridas e retornados:
a) refugiados: são aquelas que se encontram fora do seu país de origem em
virtude de reais temores de perseguição associados a conflitos armados, a
raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política, imposição da
violação generalizada de direitos humanos;
b) solicitante de refúgio: aquele que solicita às autoridades o reconhecimento
como refugiado, porém ainda não teve seu pedido avaliado definitivamente;
c) deslocados internos: são sujeitos deslocadas dentro de seu próprio país,
pelas mesmas razões de um refugiado, porém não atravessaram uma
fronteira internacional para encontrar proteção;
d) apátridas: são pessoas que não têm sua nacionalidade reconhecida por
nenhum país. Pode se dar por vários motivos, como discriminação contra
minorias na legislação nacional, falha em reconhecer todos os residentes do
país como cidadãos quando este país se torna independente e conflitos de
leis entre países;
22
e) retornados: são os refugiados e solicitantes de refúgio que retornam
voluntariamente a seus países de origem.
No continente americano, o Brasil possui uma legislação de refúgio
considerada moderna em razão de usar um conceito ampliado para o
reconhecimento de refugiados. No final do ano 2015, o país registrava uma
população de mais de 8.500 refugiados reconhecidos pelo governo brasileiro, os
quais são de cerca de 80 diferentes países (ACNUR, 2016).
De acordo com Feitosa et. al. (2015) o Brasil possui a Lei n. 9.474/1997 que é
uma lei específica para organizar a acolhida dos refugiados. Indivíduos de vários
lugares do mundo vêm todos os anos em procura de proteção.
Esta Lei explica quem são os refugiados, quais são os procedimentos que o
Estado usa para lhes proporcionar proteção e quais são os seus direitos e deveres
no país (ACNUR, 2015).
Mesmo com todo o acolhimento que o Brasil possa oferecer, os refugiados
podem ter dificuldades na integração à sociedade brasileira. Os obstáculos iniciais
estão associados ao idioma português e às questões culturais. Eles podem ter
problemas como o dos próprios brasileiros, tal qual dificuldades no mercado de
trabalho e acesso à educação superior ou aos serviços públicos de saúde e moradia
(ACNUR, 2016).
No país que os acolheu, os refugiados têm direitos e obrigações. Eles devem
ter os mesmos direitos e a mesma assistência básica recebida por qualquer outro
estrangeiro que resida legalmente no país de acolhida, entre eles direitos civis
básicos e direitos econômicos e sociais. Quanto aos seus deveres: o cumprimento
das leis e o respeito aos costumes do país onde se encontram (ACNUR, 2016).
Assim, verifica-se que o refugiado é uma pessoa que precisou sair
forçadamente de seu país por motivos muito significativos. O ato de buscar o refúgio
em outro país envolve uma proteção inicial, porém apresenta algumas dificuldades,
como a repercussão psicológica.
23
4.2.1 Refúgio e implicações psicológicas
A migração não consiste apenas em um ato social, mas também psíquico
(MORO, 2015).
Serão abordados os principais aspectos psicológicos relacionados ao refúgio,
os quais podem implicar negativamente ou positivamente no refugiado.
4.2.1.1 Implicações psicológicas negativas
Considera-se neste estudo que as implicações psicológicas negativas do
refúgio são aquelas que configuram um fator de risco a saúde mental.
Os conflitos políticos e sociais, guerras e catástrofes naturais podem levar as
pessoas a terem que se deslocar forçadamente. E essas partidas não planejadas
são constantemente cercadas de sofrimento psicológico o qual está ligado às perdas
e traumatismo ao quais esses indivíduos foram submetidos (MARTINS-BORGES,
2013).
A migração, quando se trata de refugiados vítimas de violências, é vista como
potencialmente traumática, porque não foi um deslocamento planejado, elaborado e
compartilhado com o grupo de origem (ROUSSEAU et al., 1998 citado por SAGLIO-
YATZIMIRSKY, 2014).
Moro (2015) reforça essa perspectiva ao argumentar que independente das
motivações da migração, esta pode ser traumática. O traumatismo migratório não é
permanente, nem inelutável. Existem fatores sociais não favoráveis, sendo esses do
seu país de origem ou do próprio país de destino, os quais poderão agravar e
contribuir para o surgimento do trauma.
Em razão do deslocamento dos refugiados ser forçado e repentino eles
acabam por levar consigo muito pouco daquilo que representa a sua identidade:
costumes, relações, status profissional e social, residência. O sofrimento psicológico
experimentado por eles está associado ao traumatismo ao qual foram submetidos no
período pré-migratório e também ao migratório como: violências, tortura,
testemunhas e vítimas de massacres, morte de parentes, amigos, entre outros
(MARTINS-BORGES, 2013).
24
Moro (2015) corrobora com essa ideia ao afirmar que junto à experiência
migratória se acrescentam as condições que antecederam a viagem. É possível que
as pessoas que procuram refúgio político podem ter sofrido tortura e enormes
violências no país de origem, carregando um passado pré-migratório muito
traumático que influenciará a maneira de viverem o exílio.
Martins-Borges (2013, p.154) reforça que:
Os traumatismos do exílio são muitas vezes agravados por fatores que
ocorrem após a imigração, como a lentidão administrativa, os obstáculos à
reconstrução de uma vida profissional e familiar, dificuldades em relação à
língua, diferenças culturais, mudanças e inversão de papéis sociais (os pais
passam, com frequência, da função de protetores à de dependentes), etc.
A perda do quadro cultural familiar acarreta nesses indivíduos uma
“vulnerabilidade psíquica”. Desta maneira, soma-se aos traumas anteriores a
migração, o grande trauma do exílio com impactos psicológicos relevantes, como a
perda da coesão e da continuidade de si (MARTINS-BORGES e POCREAU, 2009).
É possível que os refugiados e migrantes se sintam sobrecarregados ou
confusos e desamparados, eles podem experienciar medos e preocupações
extremas, explosões de intensas emoções tal qual raiva e tristeza, pesadelos e
outras dificuldades para dormir (GAGLIATO et al., 2015).
Os eventos que levam a pessoa a migrar são sempre imbuídos de horror:
morte violenta dos familiares, abuso, perda simbólica da terra, etc. e por isso alguns
deslocamentos forçados serão vivenciados como um trauma extremo. A hostilidade
dos acontecimentos encontra-se no trauma da partida e impede o indivíduo de se
relacionar no país que o acolheu: a pessoa deixa de poder viver. Assim, se
estabelece a Síndrome do Estresse Pós-traumático, alguns dos sintomas que os
pacientes apresentam são: impossibilidade de dormir, pesadelos, reminiscências,
sofrem de dissociação traumática e isolamento (SAGLIO-YATZIMIRSKY, 2014).
As taxas de transtornos associados ao estresse extremo, como o Transtorno
de Estresse Pós-Traumático (TEPT) são mais altas em refugiados do que em
indivíduos que não se descolaram involuntariamente. Contudo, para a maior parte
dos refugiados e migrantes, situações potencialmente traumáticas do passado não
consistem no único ou no motivo mais relevante para o desamparo psicológico
(GAGLIATO et al., 2015).
25
Os autores enfatizam que grande parte do sofrimento emocional está
associado a preocupações e estresses atuais como também a incertezas em relação
ao futuro. Portanto, ser um refugiado ou imigrante não faz, por si só, pessoas
expressivamente mais vulneráveis em transtornos mentais, porém refugiados e
migrantes podem ser submetidos a muitos aspectos estressores que influenciam em
seu bem-estar mental.
Para Moro (2015) alguns aspectos tornam mais frágil a inserção do refugiado
na nova sociedade, que o acolheu, como: a exclusão, a discriminação e o racismo. E
estes fenômenos podem tornar os migrantes ainda mais vulneráveis.
Em contrapartida, o embasamento teórico permite perceber que as vivências
não são sempre ruins, elas podem ser observadas de uma perspectiva mais
otimista, ao passo que se percebe algo de positivo no deslocamento forçado.
4.2.1.2 Implicações psicológicas positivas
Ao invés de enxergar as pessoas deslocadas com um olhar de pena, pode-se
vê-las como “modelos”, uma vez que, a migração além de consistir em um
sofrimento, ela é uma ação criadora (FLUSSER, 2007).
Gagliato et al. (2015) enfatiza que muitas das respostas de estresse são
formas naturais que o corpo e a mente encontram para reagir a aspectos
estressantes e não devem ser compreendidos como anormais em situações muito
exigentes. As consequências do estresse podem ser atenuadas por meio de
serviços básicos, segurança e apoio social.
Moro (2015, p. 187) considera que “toda migração é um ato de coragem que
engaja a vida dos indivíduos e ressignifica toda a história familiar dos sujeitos,
inclusive por várias gerações.”
A autora percebe que esse ato de coragem é vivenciado pelas pessoas de
maneira ambivalente: há o desejo de ir embora e o medo de abandonar os seus,
desejo de independência e manter os laços, maneira de resolver conflitos familiares
e efetivação de uma jornada de ruptura ou de aculturação dentro do seu próprio
país, entre outros. Ela complementa ainda “a migração, aí está sua grandeza exis-
tencial, é um ato complexo que não pode ser reduzido às categorias do acaso ou da
necessidade” (MORO, 2015).
26
Saglio-Yatzimirsky (2014, p. 176) enuncia sobre o benefício que obter o
estatuto de refugiado proporciona “garante ao sujeito um alívio material, social e
psíquico, pois poderá buscar moradia, formação para entrar no mercado de trabalho,
recorrer ao sistema de saúde e preparar a vinda de sua família via pedido de união
familiar.” Ela relata ainda que além desses fatores, “do ponto de vista psicológico,
obter o estatuto de refugiado significa o reconhecimento de sua história vivida e
narrada.”
Martins-Borges e Procreau (2009) salientam que a vida da pessoa
transplantada não consiste apenas no passado e ela não deve se prender nas
perdas dolorosas vivenciadas. Para que o sujeito prossiga, supere ou suporte a
catástrofe e o sofrimento causado é preciso que ele consiga se abrir para o novo
espaço da vida, à sociedade que o acolheu e construir vínculos expressivos com o
meio social, através do trabalho, da rede de relações sociais (vida laica ou religiosa)
e da permanência do contato com seus compatriotas.
Quando ocorre algum acontecimento traumático no exílio, por não ter sua
comunidade junto a ele, o refugiado pode contar apenas com “suas defesas
individuais e com sua própria resiliência; deverá tentar se apropriar de certas
defesas culturais presentes na sociedade de acolhida, o que nem sempre é possível
por razões linguísticas, culturais e sociais.” (MORO, 2015, p.188)
Portanto, nota-se que é possível que o refugiado se recupere após o evento
traumático. Para isso é necessário que ele se permita explorar tudo aquilo que o
ambiente pode lhe oferecer, além de estar amparado pelo contato social com a nova
sociedade e com os seus similares.
4.2.2 Refúgio e a etnopsiquiatria
Ao se tratar do refugiado, do migrante, torna-se preciso refletir sobre a função
que a cultura exerce, principalmente em sua relação com a saúde mental na vida
dos sujeitos (MARTINS-BORGES, 2013).
Martins-Borges (2013) afirma que em razão da ausência da cultura fundadora,
verifica-se uma quebra entre a comunicação do mundo externo com o interno, uma
perda de fluidez dos mecanismos cognitivos, sentidos distintos para um mesmo fato,
27
normas sociais não compatíveis e uma incongruência entre o elemento idealizado e
a realidade.
Para Moro (2015) toda cultura dispõe de uma variedade de categorias que
possibilitam as pessoas construírem sua própria leitura do mundo e sua maneira de
dar sentido aos fatos. Ou seja, a cultura disponibiliza para o sujeito uma grade de
leitura do mundo.
O surgimento da doença, a falta de capacidade de zelar pelos filhos, a perda
de um familiar etc. podem desestabilizar os migrantes e acarretar-lhes muito
sofrimento. O qual pode ser atenuado, quando se busca um sentido possível, ainda
que momentâneo, junto ao paciente (MORO, 2015).
O refugiado, assim como outro indivíduo que foi submetido a situações
adversas, não resiste à necessidade de encontrar um sentido, embora, muitas
vezes, essa função esteja comprometida pela severidade das situações vividas
(MARTINS-BORGES e POCREAU, 2009).
Moro (2015) aponta que ao considerar a dimensão cultural da elaboração,
podem-se diferenciar as várias possibilidades de atribuir sentido frente a um mesmo
enunciado.
Ferreira (2014) apoiado nas ideias de Rosa et al. (2013, p.15) explica que
existe uma “prática de escuta específica da cultura do outro”.
A cultura se apresenta como um espaço simbólico que vem à tona em
decorrência da proposição de uma pluralidade de sentidos disponíveis para a
pessoa, com a finalidade desta revelar e carregar seu sofrimento. Consiste em uma
cultura restaurada, persistente a qual não se limita a expressão trágica dos fatos.
Uma ideia de cultura que estrutura o indivíduo a qual está preparada para acolher as
heranças repassadas pela migração (SAGLIO-YATZIMIRSKY, 2014).
Martins-Borges e Pocreau (2009) explicam que o fundamento da
etnopsiquiatria consiste em reconhecer a diferença do Outro, essa é a sua pedra
angular. Ela vai além de uma psicoterapia metacultural ou uma socioterapia, ela
objetiva a restauração da vitalidade do sujeito, de todas as suas dimensões e de
seus distintos canais de expressão.
Martins-Borges e Pocreau (2009, p. 243-244) afirmam que:
A etnospiquiatria, em algumas de suas modalidades práticas, sobretudo como
clínica do vínculo e do encontro, do sentido e da mediação, e, mais
28
particularmente, como experiência de coerência, propõe algumas soluções
aos desafios representados por esses desastres existenciais. Apoiando-se
sobre as diversas dimensões dinâmicas da identidade e da alteridade, sobre
os impactos mobilizadores das relações com o outro e com o grupo social,
essa abordagem torna possível também uma melhor compreensão da forma
como os traumatismos são metabolizados e transformados quando a pessoa
pode se reapropriar de sua história, a sua e a de sua família, de seus filhos e
de seu grupo, de sua afiliação.
Em contrapartida, Saglio-Yatzimirsky (2014) enfatiza que a etnopsiquiatria na
clínica com os refugiados apresenta o risco de reificar ou especializar a cultura do
outro, alienando a pessoa a uma cultura coisificada, recusando-lhe a possibilidade
de se separar do lugar de alienação favorecido pelo deslocamento geográfico na
migração.
Martins-Borges e Pocreau (2009) citam a prática clínica no Serviço de Auxílio
Psicológico Especializado aos Imigrantes e Refugiados (SASPIR), em Quebec no
Canadá, propõe-se um olhar que considera a dimensão cultural e psíquica do
sujeito; baseia-se nos universos existenciais e humanistas, tais quais a necessidade
de sentido, de continuidade de si mesmo e de coerência, além das distintas
dimensões da identidade.
Os autores enfatizam que essa abordagem propicia o acompanhamento e a
facilitação das elaborações essenciais relacionadas no trabalho psíquico dos
refugiados e dos indivíduos que foram expostos a eventos extremos, como a tortura.
O alcance obtido através das intervenções efetuadas no SAPSIR foca nos
recursos individuais, como a capacidade de adaptação e o desenvolvimento de
novas habilidades (MARTINS-BORGES e POCREAU, 2012).
Um aspecto importante dentro dessa modalidade de trabalho é a relação com
o religioso ou com o Sagrado:
Se o doente ou seu grupo de afiliação, vítima de transtornos, alia-se, inevitavelmente, ao mundo invisível, ao Além, para encontrar sentido e socorro à sua experiência dolorosa, o psicoterapeuta não pode fugir dessa experiência quase mística (MARTINS-BORGES e POCREAU, 2009, p. 236).
Um exemplo da importância da compreensão da cultura do Outro, fica nítido
em uma consulta transcultural relatada por Saglio-Yatzimirsky (2014), na qual Aziz
um jovem de Bangladesh, foi preso e torturado e sua esposa grávida foi estuprada
enquanto ele estava na prisão, e eles acabaram perdendo seu primeiro bebê. O
casal decidiu fugir. A fuga se deu em dois momentos, primeiro foram até à Índia,
29
onde viveram uns meses. Depois o jovem contratou um “atravessador” que os levou
para um lugar “mais longe”, a França, que até então o casal não sabia.
O terapeuta sugeriu fazer a análise da organização da viagem considerando
os elementos de cultura relatados pelo paciente, os quais se destinam a garantir a
proteção de sua família. Refere-se a baraka, a benção concedida por Allah que
impediu que seu filho nascesse em um país que ele seria forçado a abandonar. Não
seria concebível deixar sua esposa e seu filho. Sua mulher teria seu filho fora de sua
casa materna, como recomendado pela tradição. A viagem de exílio seria difícil para
um bebê recém-nascido, o qual sucumbiria às dificuldades. Allah, com a perda do
bebê, teria objetivado proteger a família garantindo que eles se tornassem pais
dentro da tradição (SAGLIO-YATZIMIRSKY, 2014).
Somente através dessa sugestão feita pelo paciente, de uma proteção de
Allah, que ele poderá recomeçar sua história em uma terra estrangeira. Apesar de
todo o ocorrido, Aziz se tornará pai dentro de alguns meses e terá seu filho em seus
braços, cercado de sua comunidade (SAGLIO-YATZIMIRSKY, 2014).
Knobloch (2015) reflete sobre os impasses no atendimento e assistência dos
migrantes e refugiados na saúde. A autora revela a dificuldade que existe em formar
uma equipe multidisciplinar “culturalmente sensível” e enfatiza que a solução
consiste em investir na formação dos sujeitos para que consigam entender a
vivência de mal estar dos imigrantes, devolvendo-lhes a dignidade, não
patologizando, nem negando seu sofrimento.
A cultura torna o espaço social coerente, já a necessidade de dar um sentido,
de encontrar uma significação a determinada experiência torna coerente o espaço
interior. Salienta-se o papel da psicoterapia neste processo, a qual busca restaurar a
capacidade de tornar coerente o que ficou caótico ou fragmentado (MARTINS-
BORGES e POCREAU, 2009)
Os autores enunciam que na experiência psicoterápica com refugiados
privilegiam-se três grandes modalidades técnicas de intervenção que se referem
(MARTINS-BORGES e POCREAU, 2009):
a) às perdas e separações: trata sobre os vínculos de origem nos quais o
sujeito reencontra uma continuidade existencial e apoio ao vínculos atuais;
b) à identidade: trata sobre as dimensões da identidade relacionada com a
alteridade, como um ponto de partida e não preso a sua cultura;
30
c) à projeção de si mesmo, no tempo e no espaço: trata sobre a coerência e o
sentido das experiências. As pessoas podem dar um sentido a seu
sofrimento, extrair algo de positivo, mesmo nas situações mais adversas.
Martins-Borges e Pocreau (2009) questionam como pode se restituir ao
paciente a possibilidade de sentido diante de situações incompreensíveis. Eles
explicam que essa tarefa exige paciência, é uma atividade progressiva que se torna
possível apenas no fim da terapia. Ela é o ponto culminante, tornando-se mais fácil,
desta maneira, coconstruir com o paciente um sentido para os eventos atuais.
A temática do refúgio convida o profissional a trabalhar esse tema sob uma
perspectiva da cultura do Outro, uma vez que, este se constrói e enxerga o mundo
sob as lentes que ela lhe oferece.
4.3 RESILIÊNCIA EM REFUGIADOS
Em refugiados tibetanos, verificou-se que as práticas espiritualistas, tal qual a
meditação e a oração, contribuíram significativamente para o desenvolvimento de
mecanismos de superação psicológica (HOLTZ, 1998 apud PERES, MERCANTE e
NASELLO, 2005).
Em jovens refugiados do Sudão percebeu-se que a sua fé cristã em Deus e
suas preces para os ancestrais e forças animistas da natureza e o mundo dos
espíritos foi fundamental para sua recuperação do trauma e resiliência (KAMYYA,
2009 apud WALSH, 2016)
Nas famílias de refugiados políticos no Peru, constatou-se que as crianças
oriundas de famílias com um sistema disciplinar justo e coerente tornaram-se mais
resilientes, já aquelas que provinham de famílias em que o sistema disciplinar era
mais arbitrário, com ofensas e castigos severos mostraram-se menos resilientes.
Este fator é muito relevante para a saúde mental das crianças (SILVA, 1999 citado
por GARCIA, BRINO e WILLIAMS, 2009).
Nieves e Cuzco (2015, tradução nossa) realizaram um estudo com refugiados
colombianos no Equador. Constataram que vários aspectos contribuíram para o
desenvolvimento de estratégias de resiliência nos refugiados:
31
a) enxergam os eventos vividos de modo positivo: os entrevistados
percebem as adversidades com uma perspectiva diferente e positiva, que
vem para fortalecê-los;
b) personalidade resiliente: foco nas potencialidades, nos recursos e na
capacidade de superar a adversidade, reforçam sua identidade de
colombianos e fortalecem seu autoconceito e tem uma autoestima positiva.
c) religião: a maioria dos entrevistados consideram como um dos principais
pilares, o apoio que podem encontrar na religião e principalmente em Deus;
d) redes de apoio: refere-se as redes de apoio formais e informais que
ajudaram os entrevistados a se integrarem em um meio desconhecido, tais
quais: serviços oferecidos das instituições, as redes tecnológicas
possibilitavam a comunicação e o apoio dos familiares apesar da distância.
Importância do apoio de amigos e familiares;
e) expectativas de futuro: expectativa de encontrar paz, tranquilidade,
segurança, desejo de sair adiante e de definir metas e alcançá-las;
f) motivações: a motivação é um fator relevante para o desenvolvimento da
resiliência, pois se refere a razão que move as pessoas. Os refugiados
possuem motivações que os impulsionam a seguir como: filhos e família;
g) experiências e aprendizagens: os eventos dolorosos passam a ter um
significado, quando são expressos como aprendizagens que ajudam a
reformular os esquemas mentais, superando a lógica da vitimização. Essas
experiências fazem com que os refugiados percebam que têm muitas
potencialidades e capacidades e permitem ver que todas as pessoas têm
pontos fortes para a construção de um processo de resiliência;
h) interação dos refugiados com o meio: no relacionamento notou-se a
confiança e calor na interação, amizade com as pessoas que trabalham em
instituições de apoio e também com a população. Os colombianos buscam os
espaços para reforçar sua identidade e compartilhar esse sentimento com
seus semelhantes e também interagem com a população de acolhimento.
Os autores concluem que conseguiram identificar características de resiliência
nos entrevistados como: bom humor, empatia, otimismo, identidade, autoestima
32
positiva, etc, que foram acionadas diante das situações adversas que eles
precisaram enfrentar (NIEVES E CUZCO, 2015, tradução nossa)
Verifica-se que o conceito de resiliência está intimamente relacionado à saúde
mental. Gagliato et al. (2016) elencam alguns modos para promover a saúde mental
e oferecer apoio psicossocial aos refugiados e migrantes em trânsito na Europa:
a) tratar todos os indivíduos com dignidade e respeito e apoiar a
autoconfiança;
b) responder aos indivíduos em desamparo de modo humano e solidário;
c) promover informações sobre serviços, estruturas de apoio, direitos e
obrigações legais;
d) oferecer psicoeducação relevante, utilizando uma linguagem apropriada;
e) priorizar a proteção e apoio psicossocial para crianças, principalmente,
aquelas que foram separadas, desacompanhadas e com necessidades
especiais;
f) fortalecer o apoio familiar: em razão do processo migratório os vínculos
podem estar prejudicados. O apoio social e familiar consistem na melhor
proteção e medida de resposta ao desamparo. Para a criança o fator chave
de proteção é o apego a um adulto cuidador;
g) identificar e proteger pessoas com necessidades específicas;
h) fazer intervenções culturalmente relevantes e que garantam um entendimento
adequado;
i) promover tratamento para sujeitos com transtornos de saúde mental severos;
j) não oferecer tratamentos psicoterapêuticos que necessitem acompanhamento
quando não há garantia de que a pessoa irá permanecer;
k) monitorar e acompanhar o bem-estar dos colaboradores e voluntários;
l) não trabalhar de modo isolado: coordenar e cooperar com os outros.
Portanto, nota-se que existem vários fatores que contribuem para a
resiliência dos refugiados, desde aspectos internos, como a religiosidade,
personalidade, modo de interpretar os fatos, etc. como os externos o quais envolvem
os amigos, a família, a comunidade entre outros anteriormente apontados. Ressalta-
33
se a importância que o profissional tem para auxiliar a promover a resiliência e
saúde mental dos refugiados e migrantes.
4.4 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A terapia cognitivo-comportamental foi criada por Aaron Beck, psicanalista
que acreditava que para a psicanálise fosse aceita entre a comunidade médica ela
precisaria ter comprovação empírica. Os resultados de seu estudo conduziram-no a
procurar novas explicações para a depressão. Assim, ele verificou a existência de
crenças negativas e distorcidas e então desenvolveu um método de tratamento
rápido (BECK, 2013).
No início da década de 1960, Beck desenvolveu a chamada “terapia
cognitiva” e hoje é utilizada como sinônimo de terapia cognitivo-comportamental
(TCC). O tratamento na TCC tem como base a conceituação de cada paciente. O
terapeuta busca provocar uma mudança cognitiva no paciente, que é mudança de
seus pensamentos e crenças, a qual acarretará a modificação das emoções e do
comportamento (BECK, 2013).
Segundo Wilson e Branch (2011) a TCC tem como foco principal a maneira
com que os indivíduos pensam e agem para ajudá-los a resolver seus problemas.
O meio influencia nas atitudes, crenças e nos pensamentos que se
desenvolvem na infância e, frequentemente, continuam na vida adulta
(GREENBERGER e PADESKY, 1999).
Beck (2013) esclarece que se tem adaptado a TCC a pacientes de diferentes
níveis de renda e educação e distintas culturas e idades. Ela é utilizada em cuidados
primários, na saúde, escolas, programas vocacionais, prisões, etc. Existe a
modalidade grupal, casal e familiar (BECK, 2013).
Stallard (2009) explica que a TCC busca compreender como as situações e
as vivências são interpretadas, como também a forma de identificar e modificar as
distorções que ocorrem no processamento cognitivo.
O modelo cognitivo explica que o pensamento disfuncional é comum em
todos os transtornos psicológicos. O terapeuta foca nas crenças, as quais são o
nível mais profundo de cognição, com o intuito de provocar uma melhora duradoura
no humor e no comportamento do paciente (BECK, 2013).
34
Greenberger e Padesky (1999, p. 30) mostram que na TCC “os pensamentos
influenciam o modo como nos comportamos, o que escolhemos fazer e não fazer e a
qualidade de nosso desempenho.” Os pensamentos e as crenças influenciam
também nas respostas fisiológicas.
De acordo com Beck (2013) a TCC tem princípios básicos:
a) é baseada em uma formulação em desenvolvimento contínuo dos problemas
do paciente e em uma conceituação de cada paciente em termos cognitivos;
b) requer uma aliança terapêutica sólida;
c) enfatiza a colaboração e a participação ativa;
d) orientada para objetivos e focada nos problemas;
e) enfatiza inicialmente o presente;
f) é educativa, tem a finalidade de ensinar o paciente a ser seu próprio
terapeuta;
g) tem um tempo limitado;
h) as sessões são estruturadas;
i) ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder aos seus pensamentos e
crenças disfuncionais;
j) utiliza uma variedade de técnicas para alterar pensamento, humor e
comportamento.
Desde o início da terapia, o terapeuta desenvolve uma conceitualização
cognitiva do paciente. Esta consiste em um trabalho constante ao longo do
tratamento, podendo ser reformulada quando novos dados aparecem, ela é de
extrema importância para a preparação de um plano de tratamento, pois ela norteia
as intervenções terapêuticas (KNAPP e BECK, 2008).
A meta principal da TCC é aumentar a autoconsciência, o autoconhecimento
e melhorar o autocontrole através de habilidades cognitivas e comportamentais
adequadas (STALLARD, 2009).
Assim, entende-se que a TCC é uma abordagem que destaca a importância
dos pensamentos sobre as emoções e os comportamentos. Para alcançar os
objetivos delineados neste trabalho, é fundamental compreender como está linha
compreende o processo de resiliência.
35
4.4.1 Terapia Cognitivo-Comportamental e Resiliência por Kuyken, Padesky e Dudley (2010)
A resiliência tem como base as capacidades do cliente, assim a incorporação
dos pontos fortes à conceitualização do caso é um primeiro passo para a construção
da resiliência do paciente.
Em momentos de grande sofrimento, os pacientes esquecem-se dos seus
recursos internos e externos. Então as perguntas do terapeuta sobre pontos fortes,
habilidades e apoio permitem que o cliente se lembre de recursos que podem ser
úteis.
Os pacientes atuam com um sistema de crenças mais resilientes em áreas de
habilidade e de competência. E tal sistema pode auxiliá-los a persistirem diante dos
empecilhos na procura das metas da terapia.
Os valores pessoais também agem como fonte de forças para os pacientes,
uma vez que, eles comunicam sobre suas escolhas e seus comportamentos. Esses
valores são como crenças sobre o que é mais significativo na vida do paciente. Ao
integrá-los às conceitualizações como fazendo parte do sistema de crenças do
cliente, podem-se compreender melhor as reações deles em situações distintas.
Fatores da vida ou da cultura do cliente podem ser pontos fortes a algumas
vezes perigosos também.
A TCC auxilia os clientes a, além das capacidades preexistentes, desenvolver
novas aptidões emocionais, cognitivas, comportamentais e interpessoais. As quais
serão reforçadas ao longo da terapia para que o cliente conheça as competências
que possui e que pode usá-las diante de adversidades.
Para ser resiliente, o sujeito não precisa possuir pontos fortes em todas as
dimensões que a resiliência possui.
Perceber quais são as estratégias que o indivíduo utiliza para lidar com a
adversidade é um passo em direção da resiliência. Normalmente, as pessoas não
possuem consciência dos recursos que usam para ser mais resilientes, quando são
explicitados na conceitualização de caso aumenta as chances da pessoa considerá-
los em outras dificuldades.
Evidências apontam que indivíduos mais resilientes interpretam de modo
positivo as situações e usam estratégias adaptativas em eventos desafiadores ou
36
neutros (LYUBOMIRSKY, 2001; LYUBOMIRSKY, SHELDON e SCHKADE, 2005
citados por KUYKEN, PADESKY e DUDLEY, 2010).
Geralmente, as crenças centrais e os pressupostos subjacentes da resiliência
revelam as preocupações humanas com autonomia, competência, afiliação e
conexão com a humanidade de uma forma mais ampla (normalização). Essas
crenças e pressupostos são ativados apenas quando relacionados a adversidades,
pois a resiliência só é necessária diante destes desafios.
As crenças religiosas tanto podem ser um agente de sofrimento como
também deter um papel-chave na resiliência.
Por fim, as conceitualizações da resiliência favorecem perceber a pessoa por
inteiro, não apenas através de suas questões problemáticas; maximizam os
resultados da terapia provenientes do alívio do sofrimento ajudando a volta do
funcionamento normal e uma melhor qualidade de vida; possibilita desenvolver uma
aliança terapêutica positiva e fornecem orientações para a mudança.
Apesar do alívio dos sintomas ser um resultado expressivo para os pacientes,
a saúde mental positiva e um funcionamento adequado também são relevantes.
Assim, a TCC pode auxiliar o sujeito a funcionar de modo mais completo e
aproveitar uma vida com significado.
A meta da TCC é introduzir flexibilidade de maneira que as crenças e as
estratégias possam ser utilizadas de diferentes formas, em distintos momentos, os
quais vão depender das exigências de cada situação e dos objetivos do pacientes
nessas.
4.4.2 Terapia Cognitivo- Comportamental e Resiliência por Macedo et al (2012)
Ao conhecer os aspectos que constituem a resiliência, torna-se possível
pensar em formas de promovê-la, aumentando a capacidade do sujeito de superar
as adversidades e auxiliando a prevenir os transtornos mentais (WOLFF, 1995, apud
MACEDO et al., 2012).
Pesquisar sobre os elementos protetores como emoções positivas (otimismo,
bom humor, etc.), flexibilidade cognitiva, estilo de enfrentamento ativo, apoio social
percebido, competência social e o senso de sentido de vida é relevante para
37
compreender os fatores que protegem o sujeito e orienta para pensar maneiras de
promover o fortalecimento dos pontos fortes da personalidade.
Estão sendo desenvolvidos e testados protocolos de resiliência com base na
TCC para contribuir com a pesquisa da prevenção de transtornos mentais e de
promoção de qualidade de vida e bem- estar.
A TCC pode promover a resiliência por meio de técnicas cognitivas e
comportamentais, como: restruturação cognitiva e resolução de problemas, técnicas
de manejo de ansiedade e treinamento em habilidades sociais. É importante
destacar que o treino em habilidades sociais ajuda no aumento da percepção de
suporte social, o qual é um fator significativo para a resiliência.
Na reestruturação cognitiva, ao passo que o sujeito aprende a identificar e
avaliar seus pensamentos distorcidos, seu nível de resiliência pode ser aumentado,
pois sua interpretação perante situação adversa terá como base a realidade. Deste
modo, haverá menos possibilidade de acarretar emoções negativas desadaptativas
e comportamentos disfuncionais.
4.4.2.1 Estudos que utilizam protocolos de promoção de resiliência baseados em
TCC com adultos
Verifica-se que a maior parte das pesquisas sobre resiliência possui como
público-alvo crianças, adolescentes e indivíduos em circunstâncias difíceis ou
destacam atributos pessoais relacionados ao enfrentamento efetivo de
adversidades. São poucos os estudos que têm como foco a promoção da resiliência
em adultos saudáveis ou que possuem níveis de estresse e depressão que não
configuram transtornos psiquiátricos. Existe, um número limitado de pesquisas que
analisam a eficácia de programas que treinam e promovem a resiliência e não
ressaltam apenas os aspectos necessários para enfrentar situações de estresse
(BURTON, PAKENHAM e BROWN, 2010, apud MACEDO et al., 2012).
Considerando os poucos estudos sobre programas de promoção de
resiliência em adultos, Macedo e Santos (2010) citados por Macedo et al. (2012)
fizeram uma revisão sistemática relacionada ao tema e acharam sete pesquisas que
mostram protocolos de treinamento em resiliência utilizando a TCC para adultos.
38
Cohn e Pakenham (2006) apud Macedo et al. (2012) fizeram uma pesquisa
com soldados do Exército Australiano. O treinamento militar dos soldados envolvia
disciplina, trabalho sob pressão, exigências físicas, isolamento social, agressividade,
ameaças à sensação pessoal de segurança, perda do sentimento de liberdade,
redução de privacidade, privação do sono, renúncia às próprias vontades e aumento
da intensidade das emoções. Assim, o estudo almejava mensurar a eficácia de um
breve programa cognitivo-comportamental para alteração de atribuições causais,
expectativas de controle, estratégias de enfrentamento e ajustamento psicológico.
Para esta intervenção utilizou-se a psicoeducação, reestruturação cognitiva e
estratégias de enfrentamento, encorajou-se os soldados a perceber suas
dificuldades como resultantes de fatores controláveis, como uma falta de esforço ou
estratégia, e não falta de aptidão. Mostrou-lhes como desafiar suas crenças irreais e
usar uma abordagem mais realista. Incentivou-os a escolher estratégias adaptativas
que estivessem de acordo com a interpretação mais realista dos motivos das
dificuldades do treinamento (COHN e PAKENHAM, 2006, apud MACEDO et al.,
2012).
Comprovou-se a hipótese de que militares que receberam a intervenção
mostraram melhor ajustamento psicológico, ou seja, baixos níveis de estresse e
mais pensamentos positivos, comparados aos soldados do grupo de controle. A
maioria dos participantes relatou que o programa foi útil, ajudou-as a pensar e
modificar a maneira com que lidavam com os problemas, sugerindo a eficácia do
programa na mudança de pensamento e crenças e a encontrar estratégias de
enfrentamento mais adequadas(COHN e PAKENHAM, 2006, apud MACEDO et al.,
2012).
Millear, Liossis, Shochet e Donald (2008) citados por Macedo et al., (2012)
criaram o Promoting Adult Resilience (PAR) um programa para desenvolver a
resiliência no local de trabalho. Adultos resilientes têm maior capacidade de se
adaptar às situações e de administrar bem sua vida profissional e pessoal. O estudo
piloto foi aplicado em uma empresa. As sessões apresentavam a ordem: pontos
fortes e resiliência (compreensão da força pessoal e superação de problemas),
calma e tranquilidade (manejo do estresse), falando com si mesmo (princípios da
TCC), resolvendo problemas no trabalho e na vida (resolução de problemas) e
39
prevenção e gerenciamento de conflitos (habilidades sociais). Os participantes
relataram melhora da autoeficácia, diminuição dos níveis de depressão e estresse,
melhor adaptação no trabalho e na família.
Liossis, Shochet, Millear, Biggs e Herbert (2009) apud Macedo et al., (2012)
fizeram a segunda aplicação do programa PAR em profissionais do setor de
atendimento ao cliente de uma organização governamental. O número de sessões
foi reduzido, porém mostrou-se eficaz também aumentando os aspectos associados
à resiliência dos participantes. Verificou-se que o conteúdo do programa é eficaz
para diferentes profissionais e problemas de saúde mental, para aumentar a
resiliência, o bem- estar e o equilíbrio vida-trabalho.
Burton et al. (2009) citados por Macedo et al. (2012) fizeram um estudo piloto
no qual foi avaliado o programa de Resiliência READY (Resilience and Activity for
every Day), com a finalidade de promover o bem-estar no ambiente profissional.
Visa cinco fatores de proteção identificados a partir de evidências empíricas:
emoções positivas, flexibilidade cognitiva, suporte social, sentido de vida e
estratégias de enfrentamento. A linha teórica foi baseada na Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT), terapia oriunda da TCC.
Os participantes avaliaram como positivo o programa, houve um aumento nos
níveis de aceitação, emoções positivas, atenção, crescimento pessoal e autonomia e
os níveis de estresse e depressão diminuíram.
Macedo et al. (2012) citam outro programa o qual foi avaliado por Kirby,
Williams, Hocking, Lane e Williams (2006) o Williams Life Skills (WLS), o qual
objetiva auxiliar indivíduos não clínicos a enfrentar de modo mais eficaz, emoções
negativas e situações estressantes em sua vida diária. O workshop WLS abrange o
ensino sobre técnicas cognitivo-comportamentais, treino de habilidades e
relaxamento. Em outros estudos, essa intervenção ajudou na queda da hostilidade,
depressão, raiva, ansiedade e isolamento social- benefícios de diminuição de fatores
de risco se mantiveram por longo prazo.
Foram elaboradas três modalidades de intervenção, todas foram eficazes
para aumentar o bem-estar, redução da ansiedade e do estresse. Auxiliou ao retorno
ao estado normal após um período estressante, tendo vantagens sobre o bem-estar
40
psicossocial de uma população saudável (KIRBY, WILLIAMS, HOCKING, LANE e
WILLIAMS, 2006, apud MACEDO et al., 2012).
Mitchell, Stanimirovix, Klein e Vella-Brodrick (2009) citados por Macedo et al.
(2012) fizeram uma intervenção por meio da Internet. A Psicologia Positiva foi a
base deste estudo, a qual foca no bem-estar e no bom funcionamento mental,
enfatizando emoções positivas, aos traços de caráter e desenvolvimento de
habilidades. Os autores consideram que promover saúde mental consiste em
divulgar intervenções que tenham tido eficácia, que sejam acessíveis e sustentáveis,
assim a Internet pode apresentar tudo isso. Assim, esta pesquisa objetivou testar a
eficácia da intervenção baseada em Psicologia Positiva e TCC através da Internet.
Dividiu-se em três grupos, no qual um focava nos pontos forte pessoais, outro
em resolução de problemas e o terceiro era o placebo. Viu-se que o bem-estar pode
ser melhorado por meio da atividade intencional (identificar e usar forças pessoais) e
que as mudanças continuam por no mínimo três meses. Desta maneira, a Internet
mostrou-se útil para disseminar intervenções que objetivam promover bem-estar e
podendo atingir um público maior (MITCHELL, STANIMIROVIX, KLEIN e VELLA-
BRODRICK, 2009, apud MACEDO et al., 2012)
Macedo et al. (2012) concluíram através desses estudos que todos os
programas de resiliência pesquisados, resultaram em ganhos dos participantes no
final das intervenções. Ainda que em diferentes contextos: treinamento militar,
ambiente de trabalho, atenção básica à saúde, por meio da Internet, utilizando
recursos áudio visuais e sendo os participantes diferentes.
Foram utilizadas as técnicas cognitivos-comportamentais o que é um ponto
em comum, cada uma visando diferentes “fatores” de proteção, distintas técnicas e
duração diferente dos programas. Ainda assim, todos os protocolos incluíram a
psicoeducação do programa, da abordagem terapêutica que era a TCC e resiliência,
a qual foi designada como “bem-estar”, “autoconfiança” e “manejo de estresse”
(MACEDO et al., 2012).
Macedo et al. (2012) perceberam que a base de todo os protocolos foi a
reestruturação cognitiva. As demais técnicas eram procedentes dessa, uma vez que,
para aumentar a capacidade de resiliência, é preciso mudar pensamentos
41
distorcidos e buscar estratégias mais adaptativas. A partir da reestruturação, podem
ser melhor aplicadas as estratégias de enfrentamento e atribuir-se a real
identificação pessoal, enfatizando os pontos fortes e aceitando aquilo que não pode
ser modificado.
Através da perspectiva do eixo pensamento-emoção-comportamento, as
pessoas são capazes de se atentarem mais a maneira com que reagem aos
pensamentos. Assim, percebem a interdependência desses elementos e se
empenham em identificar, avaliar e reestruturar possíveis interpretações distorcidas
em relação à realidade. Foram usadas as técnicas cognitivas de resolução de
problemas e estabelecimento de metas. O planejamento do futuro e definição de
obstáculos também auxilia a superar o problema, porque ajudam a “prever” quando
a barreira será enfrentada (MACEDO et al., 2012).
Nestes protocolos, além das técnicas cognitivas, foi aplicado o treinamento de
habilidades sociais, técnicas de relaxamento, técnicas de manejo do estresse e
aumento da autoestima com base na Psicologia Positiva. Essas técnicas são
aspectos relevantes para promover a resiliência (MACEDO et al., 2012).
Utilizar os protocolos de promoção de resiliência é vantajoso também em
termos de saúde pública, pois sua aplicação em pacientes com problemas
cardíacos, pacientes com HIV, e outras doenças acarretou benefícios para o bem-
estar psicológico; e nos adultos saudáveis resultou em diminuição da tensão arterial
(o que diminui as chances de ter uma doença cardiovascular). Observando essas
vantagens, utilizar esses protocolos representa um investimento em prevenção, o
que diminui os custos em tratamentos (KIRBY et al., 2006, citados por MACEDO et
al., 2012.
Kirby et al. (2006) e Burton et al. (2010) apud Macedo et al. (2012) destacam
a relevância de serem disponibilizados materiais para utilização dos participantes em
casa ou após o término do estudo, pois auxilia na manutenção dos benefícios do
programa a longo prazo. Este recurso de tarefa de casa já é amplamente aplicado
na TCC, pois facilita o aprendizado fora do consultório e viu-se que auxilia a
promover a resiliência.
42
Embora houvesse divergências nestas pesquisas, quanto à definição de
resiliência e suas aplicações em diferentes ambientes, todos os programas visavam
o mesmo objetivo de ajudar os participantes a: enfrentar, de maneira mais eficaz,
suas emoções negativas e situações estressantes, para aumentar o número de
fatores positivos em seu dia-a-dia, apenas das adversidades (MACEDO et al., 2012).
43
5 DISCUSSÃO
A resiliência consiste na capacidade que cada indivíduo pode ter diante de
situações adversas. É um processo dinâmico e ativo, o qual pode ser desenvolvido e
não uma condição fixa.
O sujeito resiliente consegue não só resistir, mas também se fortalecer e
crescer quando se depara com os mais variados desafios e adversidades que
podem suscitar no transcorrer de sua vida.
Intrinsicamente ligados ao processo de resiliência estão os fatores que podem
minimizar ou maximizar os impactos da adversidade no indivíduo, são,
respectivamente os fatores de proteção e os fatores de risco.
A resiliência pode ser trabalhada em nível pessoal ou grupal, como por
exemplo, na família. Ressalta-se que pessoas ou famílias resilientes não são
pessoas sem falhas, mas sim, seres que possuem acima de tudo fatores saudáveis
e são esses aspectos que buscam ser identificados e reforçados.
Em oposição ao modelo de psicologia tradicional que se norteava e enfatizava
o lado patológico do ser humano, emerge um novo movimento nomeado de
psicologia positiva. Nesta nova forma de enxergar e entender o sujeito, são
salientados os atributos positivos, seus recursos, forças e virtudes, propondo-se a
melhorar a qualidade de vida dos sujeitos. Assim, fica em evidência a resiliência,
uma vez que está relacionada à superação dos desafios, com base nas
potencialidades pessoais.
Promover a resiliência significa não apenas facilitar a superação de
dificuldades, mas também fomentar a saúde mental das pessoas. Favorece-se o
desenvolvimento de novas estratégias de promoção de saúde e prevenção de
doenças, reforçam-se os traços e forças pessoais.
Alicerçados nos conceitos de saúde e resiliência, torna-se possível pensar no
tema refugiados. Pessoas que necessariamente passaram por situações adversas,
sendo elas de origem política, religiosa ou racial. Como consequência dessas
adversidades, esses indivíduos saíram de seus países, deixaram para trás seu
44
trabalho, profissão, família, amigos e seu lar, no intuito de se manterem seguros e se
preservarem.
Em decorrência dessa migração forçada, não planejada, os refugiados podem
apresentar implicações que colocam em risco a sua saúde mental.
Há um consenso entre alguns autores quanto ao sofrimento psicológico que
esse deslocamento não planejado pode causar, ele é considerado potencialmente
traumático (MARTINS-BORGES, 2013; MORO, 2014; ROUSSEAU et al., 1998 apud
SAGLIO-YATZIMIRSKY, 2014).
Nota-se que não apenas o período pré-migratório pode ter sido traumático,
como também pode ser potencializado com as experiências após a imigração
(MARTINS-BORGES, 2013; MARTINS-BORGES e PROCREAU, 2009; GAGLIATO
et al., 2015 e MORO,2014).
Quanto aos sintomas mais presentes, os autores citam a dificuldade de dormir
e os pesadelos. Muitas vezes atrelado a eles surge o Transtorno de Estresse Pós-
Traumático (SAGLIO-YATZIMIRSKY, 2014 e GAGLIATO et al., 2015).
É importante que o pesquisador esteja atento a todas as informações
pertinentes à condição dos refugiados. Toda mudança na vida de um ser humano
pode acarretar sérias implicações psicológicas. No refúgio a probabilidade aumenta,
uma vez que, as mudanças geralmente estão imbuídas de violência e de situações
que feriram seus direitos.
Assim, ser afetado pela situação, não pode ser considerado apenas
frequente, como também saudável, uma vez que há uma coerência entre a situação
de descolamento involuntário e as emoções de temor, por exemplo. Nesta
perspectiva, Gagliato et al. (2015) salientam que as respostas de estresse não
devem ser entendidas como anormais, mas sim como uma maneira natural do corpo
e da mente de reagiram sob estresse.
Em razão disso, é preciso cuidar para não rotular e cristalizar o sujeito em
termos patológicos. Constata-se que, sob diferentes prismas, a migração pode ser
vista como algo funcional.
45
É possível perceber o que há além do sofrimento dos refugiados, sob a óptica
de Flusser (2007), eles podem ser vistos como referência, pois a migração está
associada à criação. Portanto, eles podem criar novas possibilidades, sendo muito
mais que apenas vítimas de seu destino.
Nesse sentido, Barbosa (2014) ao falar sobre a resiliência explica a
importância de enxergar as pessoas que passam pelo sofrimento, não só como
vítimas de suas histórias, mas como pessoas mais ricas em função das vivências
adversas. Junqueira e Deslandes (2003) corroboram com essa ideia de ver além da
condição de vítima, de considerar quais são seus pontos fortes e reforçá-los para
que os auxilie a enfrentar as situações.
Ainda nesta perspectiva, Martins-Borges e Procreau (2009) reforçam que a
vida da pessoa deslocada, vai muito além do passado e de suas experiências
difíceis. Para superar o sofrimento, o indivíduo precisa estar aberto para as novas
possibilidades na sociedade em que ele se estabeleceu, desenvolvendo sua vida
social e mantendo o contato com seus compatriotas. Porém, salienta Moro (2014)
muitas vezes, quando não possui sua comunidade, o sujeito estará munido apenas
de seus recursos pessoais e sua resiliência.
Verifica-se que ao abandonar todos os seus bens materiais, o sujeito pode
deixar para trás também a sua história e aspectos intrínsecos de sua identidade.
Portanto, para Saglio-Yatzimirsky (2014) ter o estatuto de refugiado pode
proporcionar um alívio psicológico, material e social. E, acima de tudo, pode ter o
reconhecimento de sua história.
Assim, ser visto como refugiado, traz à tona toda sua história, aspectos de
sua identidade e personalidade. Apesar dos motivos que levaram ao refúgio, na
condição de refugiado o sujeito pode ser uma pessoa detentora de suas próprias
vivências, sua cultura, seus recursos e forças pessoais.
É de suma importância que o sujeito reconheça a importância de sua cultura,
uma vez que, ela será seu filtro para compreender a nova realidade do local que o
acolheu. Neste sentido, pode o terapeuta auxiliá-lo a perceber os aspectos sadios
provenientes de sua cultura para usá-los como fonte de força e saúde mental.
46
Nota-se o papel substancial que tem a atribuição de sentido às experiências.
Quando o faz, o indivíduo tem a capacidade de visualizar suas experiências sob
novos prismas, podendo assim ressignificar até mesmo sua história. Moro (2014) e
Martins-Borges e Procreau (2009) salientam que a procura de um sentido pode
atenuar as dificuldades, nos refugiados isso também é possível. Os últimos
destacam o papel da psicoterapia como auxiliadora na restituição de sentido para o
paciente diante de situações adversas.
Muitos aspectos podem contribuir para o desenvolvimento da resiliência.
Possuir uma espiritualidade mostrou-se relevante para a superação de
adversidades. Cabe ressaltar que, não é necessária uma crença religiosa em uma
divindade específica. Viu-se que práticas espiritualistas, fé Cristã, crença nos
ancestrais, forças animistas da natureza, mundo dos espíritos, fé Islâmica
colaboraram para as pessoas passarem por situações adversas e saírem delas mais
resilientes. Um sistema de disciplina familiar, justo e coerente, também colabora
para tornar as crianças mais resilientes, o que reflete diretamente na saúde mental
delas.
Através da pesquisa de resiliência em refugiados, foi possível elencar os
principais aspectos que influenciaram no desenvolvimento de resiliência nos
refugiados, como: a maneira positiva de enxergar as adversidades, aspectos de
personalidade, religião, redes de apoio, expectativas de futuro, motivações,
experiências e aprendizagens e interação com o meio (NIEVES E CUZCO, 2015,
tradução nossa).
Peres (2009) também considera importante observar o modo que a pessoa
enxerga a realidade, porque considera que a interpretação e o processamento do
trauma é o fator fundamental para desenvolver a resiliência. Ainda nesta
perspectiva, Poletto e Koller (2008) enunciam que a maneira com que se percebe o
evento determinará seu impacto.
Há uma concordância quanto a duas principais características de pessoas
resilientes: o otimismo e a autoestima positiva (NIEVES E CUZCO, 2015 e PERES,
2009). Além desses, os primeiros autores elencaram outros atributos resilientes
47
encontrados nos refugiados como: bom humor, empatia, identidade, etc. Já o último
autor cita também: flexibilidade, ousadia e autoconfiança.
É notória a relação entre resiliência e saúde mental. Assim, Gagliato et al.
(2012) mostraram que é possível promover a saúde mental dos refugiados. Através
de, principalmente, um tratamento humano e respeitoso a eles, fomentar sua
autoconfiança, oferecer informações e psicoeducação, proteger e apoiar as crianças,
fortalecimento do suporte familiar, oferecer tratamento para transtornos e certificar-
se da relevância e da compreensão daquilo que está sendo apresentado de acordo
com cultura do refugiado.
A psicologia pode auxiliar na compreensão dos fenômenos que acontecem
com as pessoas. Dentre as suas várias modalidades de trabalho, nesta pesquisa foi
focada a terapia cognitivo-comportamental.
A TCC se norteia pelo modo que as pessoas pensam e interpretam as
situações, uma vez que, isso irá afetar diretamente as suas emoções e os seus
comportamentos. Sabe-se que o meio em que o sujeito está inserido irá influenciar
no modo que ele interpretará os fatos.
Através da conceitualização do caso do paciente é que o terapeuta da TCC
consegue elencar os tópicos principais da vida do sujeito, compreender como seus
pensamentos e crenças se formaram e assim, ele alinha a isso um plano de
tratamento.
A resiliência pode ser focada na conceitualização quando o terapeuta inclui os
pontos fortes e recursos do cliente. Embora seja difícil para o paciente que esteja
passando por um período estressante identificar seus aspectos positivos, ele sente-
se aliviado quando o terapeuta detecta-os (KUYKEN, PADESKY e DUDLEY, 2010).
Os autores mencionam que os valores pessoais também podem ser
integrados a conceitualização como um ponto forte, como aspectos culturais
também, porém estes podem ser perigosos.
Ao se tratar dos refugiados é possível identificar também seus recursos
positivos, verificar como sua cultura, seus valores, sua espiritualidade podem
colaborar com a sua resiliência. A TCC além de observar os atributos positivos do
48
cliente, ela também contribui para que ele desenvolva novas capacidades
emocionais, cognitivas, comportamentais e pessoais, as quais poderão ser usadas
em momentos adversos.
Reforça-se o papel que têm as estratégias utilizadas pelo sujeito para lidar
com as adversidades, o terapeuta precisa apontar quais são para que assim elas
possam ser acionadas novamente.
Corroborando com as afirmações de Nieves e Cuzco (2015), Peres (2009) e
Poletto e Koller (2008) é frisado o modo com que as pessoas interpretam os fatos.
Sujeitos mais resilientes irão encarar de maneira positiva as situações e fazem uso
de estratégias mais adaptativas diante dos eventos adversos ou não
(LYUBOMIRSKY, 2001; LYUBOMIRSKY, SHELDON e SCHKADE, 2005 citados por
KUYKEN, PADESKY e DUDLEY, 2010).
Pessoas resilientes possuem, normalmente, crenças centrais e pressupostos
subjacentes da resiliência o quais mostram preocupações com autonomia,
competência, afiliação e conexão com a humanidade de uma forma mais ampla.
Ratificando a importância da espiritualidade apontada no início deste capítulo,
Kuyken, Padesky e Dudley (2010) afirmam que as crenças religiosas podem ser um
agente de sofrimento como também possuir um papel-chave na resiliência.
Confirmando a ideia de que é necessário ver no refugiado muito mais do que
seus traumas, pode-se encontrar na TCC um meio para isso, pois as
conceitualizações da resiliência permitem enxergar o indivíduo por completo, e não
se restringindo aos seus problemas.
A TCC ajuda no desenvolvimento de uma saúde mental positiva, não só
reduzindo sintomas como auxilia o sujeito a ter um funcionamento mais adaptativo e
desfrutar de uma vida com significado. Neste sentido, a TCC introduz a flexibilidade
fazendo com que possam ser utilizados em diferentes momentos, as crenças e as
estratégias positivas do paciente.
Verifica-se que a terapia cognitivo-comportamental, através de uma
conceitualização que foca nos aspectos resilientes do sujeito, contribui para que sua
resiliência, por meio dos recursos internos, seja identificada e utilizada, fomentando
49
assim a saúde mental das pessoas que passam ou passaram por situações
adversas.
Nesta perspectiva, a TCC pode contribuir na identificação e aplicação dos
aspectos resilientes dos refugiados, uma vez que ela tem sido adaptada e estudada
para diferentes povos e culturas. Ela pode ajudar a validar todo o sofrimento pelo
qual os refugiados passaram, mas acima de tudo enfatizará os recursos que essas
pessoas possuem apesar de tudo que lhes ocorreu.
Atentar-se para os fatores de proteção para a resiliência como emoções
positivas (otimismo, bom humor) flexibilidade cognitiva, estilo de enfrentamento
ativo, apoio social percebido, competência social e o senso de sentido de vida pode
ajudar a fortalecer seus pontos fortes (MACEDO et al., 2012).
As técnicas da TCC que podem ser usadas para promover a resiliência são:
restruturação cognitiva e resolução de problemas, técnicas de manejo de ansiedade
e treinamento em habilidades sociais. Sendo que este último favorece o aumento da
percepção de suporte social, fator muito importante para a resiliência.
Nos programas encontrados de promoção de resiliência com base na TCC
foram utilizadas diferentes técnicas cognitivo-comportamentais sendo em comum o
uso da psicoeducação do programa, da TCC e da resiliência, a qual foi nomeada
como “bem-estar”, “autoconfiança” e “manejo de estresse”. A base de todo os
protocolos foi a reestruturação cognitiva. A qual ajuda o sujeito a perceber os fatos
como são, sem distorções, percebendo seus pontos fortes e as melhores estratégias
de enfrentamento.
Para auxiliar na promoção da resiliência foram usadas também as técnicas
cognitivas de resolução de problemas e estabelecimento de metas. Técnicas
comportamentais como o treinamento de habilidades sociais, técnicas de
relaxamento, técnicas de manejo do estresse e aumento da autoestima.
Os programas de resiliência podem ser aplicados em diferentes contextos,
com diferentes profissionais e problemas de saúde mental.
Todos os protocolos aplicados por diferentes autores trouxeram resultados
positivos. Alguns protocolos conseguiram: redução da ansiedade, depressão,
50
estresse e hostilidade. Favoreceram um melhor ajustamento psicológico, melhora da
autoeficácia, melhor adaptação no trabalho e na família, aumento nos níveis de
aceitação, emoções positivas, atenção, crescimento pessoal e autonomia.
Em suma, todos os programas foram eficazes para aumentar a resiliência, o
bem- estar e o equilíbrio vida-trabalho. Auxiliando ao retorno ao estado normal após
um período estressante. Sendo vantajoso também em termos de saúde pública.
51
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para alcançar os objetivos traçados nesta pesquisa foram apresentados os
principais conceitos relacionados ao tema resiliência, refugiados, terapia cognitivo-
comportamental e a perspectiva da TCC sobre o tema.
Este estudo teve como objetivo geral verificar a relação entre resiliência e
sujeitos refugiados sob a luz da terapia cognitivo-comportamental. Não foram
encontrados estudos que evidenciassem especificamente essa relação.
Porém, através da interconexão de todos os resultados encontrados na
pesquisa bibliográfica, foi possível identificar que a resiliência na TCC pode ser
observada através dos pontos fortes do cliente, esses serão identificados e
apresentados ao cliente colaborativamente. Assim como, também é possível que a
resiliência seja fomentada através das diversas técnicas que essa abordagem
possibilita.
Já no que tange a resiliência e sujeitos refugiados encontrou-se apenas uma
pesquisa a qual ressaltou aspectos que contribuem para a resiliência deste público:
seu modo positivo de interpretar as adversidades, aspectos de personalidade,
religião, redes de apoio, expectativas de futuro, motivações, experiências e
aprendizagens e interação com o meio.
São características também da resiliência em refugiados: otimismo,
autoestima positiva, bom humor, empatia, identidade, etc.
Atributos internos da personalidade do sujeito ou aspectos que tiveram a
influência do seu meio e de sua cultura consistem nos fatores que podem proteger o
sujeito, de modo a torná-lo mais resiliente.
Recursos internos do refugiado como, por exemplo, o modo otimista que ele
interpreta as adversidades pelas quais passou refletirá diretamente em seus
sentimentos e em suas atitudes, tal qual é proposto pelo modelo que embasa a
TCC.
52
A característica de extrair aprendizados das situações, a capacidade de
atribuir um sentido as experiências difíceis e de ressignificá-las são aspectos
essenciais no sujeito resiliente.
Desta maneira é que se dá a relação entre resiliência e sujeitos refugiados
sob a luz da terapia cognitivo-comportamental.
Naquilo que tange ao objetivo de elencar os aspectos que facilitam a
resiliência de sujeitos refugiados, percebeu-se que os aspectos internos como
autoconfiança, otimismo, interpretação positiva dos fatos, bom humor, senso de
identidade, empatia, extrair aprendizagens das adversidades, atribuir sentido,
valores pessoais, espiritualidade, crenças e pressupostos adaptativos, motivações e
expectativas facilitam a resiliência nos refugiados.
Assim como, aspectos externos podem facilitar a resiliência deles, são eles: a
própria cultura, a comunidade, as redes de apoio (instituições de apoio), a família,
amigos e a interação com o meio que o acolheu.
Já quanto ao objetivo de apontar aspectos que dificultam a resiliência de
sujeitos refugiados, verificaram-se os elementos que impactam negativamente no
estado emocional dos refugiados, como a própria migração pode ser uma
experiência traumática por ser um deslocamento forçado, a ausência do quadro
cultural, fatores pós a imigração, como a lentidão administrativa, os obstáculos à
reconstrução de uma vida profissional e familiar, dificuldades em relação à língua,
diferenças culturais, mudanças e inversão de papéis sociais, exclusão,
discriminação e racismo.
Notou-se que os refugiados podem ser mais suscetíveis a terem seu bem-
estar afetado, já que tiveram que se deslocar compulsoriamente. Contudo, foi
possível constatar que apesar dos possíveis obstáculos, não existe um
determinismo. É natural que eles sejam afetados, porém se sobressai seu papel
proativo, que rejeita o lugar de vítima e que consegue visualizar oportunidades onde
outros poderiam enxergar dificuldades.
O fato dos refugiados terem passado por situações adversas não define seu
destino. Não existe resiliência sem adversidades. A capacidade deles de não só
53
suportarem as situações adversas, como também de sairem fortalecidos delas,
mostra a sua resiliência.
De modo a responder o terceiro objetivo específico desta pesquisa, a TCC
permite identificar quem é o sujeito resiliente sob a sua ótica. São pessoas que têm:
um sistema de crenças mais resilientes em áreas de habilidade e de competência,
possuem valores pessoais que agem como fonte de forças, podem ter fatores da
vida ou da cultura significativos para a resiliência, interpretam de modo positivo as
situações e usam estratégias adaptativas para lidar com a adversidade, geralmente,
possuem crenças centrais e pressupostos subjacentes relacionados as
preocupações humanas com autonomia, competência, afiliação e conexão com a
humanidade de uma forma mais ampla e podem possuir crenças religiosas que
favorecem a resiliência.
Mesmo quando a resiliência não for tão facilmente identificada nessas
pessoas que passaram por tantos sofrimentos, ainda assim é possível estabelecer
possibilidades. Não sendo necessário ser vítima de seu próprio destino, cabendo à
sociedade acolhedora e aos profissionais de saúde especializados focarem e
investirem em programas de promoção de resiliência.
Desta maneira, pode-se produzir não apenas avanços em níveis pessoais,
como também se estará promovendo a saúde mental de pessoas que poderão
influenciar toda uma geração. Enfatiza-se que, promover a resiliência além de
promover a saúde mental, significa também diminuir investimentos em saúde
pública, uma vez que, estará sendo reforçado o trabalho de prevenção que irá
repercutir e deixar suas marcas em toda a comunidade de refugiados como também
na empática sociedade que lhes ofereceu uma proteção e mais uma chance de
viver.
A escassez de trabalhos que correlacionam resiliência e refugiados traz a
urgência de mais estudos sobre o tema, considerando que, segundo a Acnur (2015)
59,5 milhões de pessoas precisaram se deslocar forçadamente em 2014. As
implicações desse deslocamento já estão sendo sentidas, por isso é preciso que
sejam estudadas e trazidas à tona.
54
Para contribuir ainda mais com a área tão rica da TCC, faz-se necessário que
haja mais estudos que abordem a resiliência em refugiados sob a sua perspectiva,
uma vez que, até o momento em que foi realizada está pesquisa, não foi encontrado
nenhum.
Recomenda-se como trabalhos futuros que seja feita uma pesquisa aplicada,
um estudo de campo, na cidade de São Paulo – Brasil, pois este município tem
recebido um grande número de refugiados de diversas etnias e culturas. Assim,
sugere-se que essa riqueza seja trazida à tona, através de pesquisas que revelem o
nível de resiliência, as estratégias resilientes pertinentes a cada cultura e que
quando necessário, os índices de resiliência sejam elevados por meio de programas
de promoção de resiliência através da Terapia Cognitivo-Comportamental.
55
REFERÊNCIAS
ACNUR - Agência da ONU para Refugiados. Lei 9474/97 e Coletânea de Instrumentos de Proteção Internacional dos Refugiados. 3 ed. Brasília: Servideias, 2010. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2010/Lei_9474-97_e_Coletanea_de_Instrumentos_de_Protecao_Internacional_dos_Refugiados.pdf?view=1>. Acesso em: 30/11/2015 as 23:16. ______. Trabalhando com refugiados. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/scripts/doc.php?file=t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2015/10014> . Acesso em: 24/04/2016. ______. Protegendo Refugiados no Brasil e no mundo. Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/scripts/doc.php?file=t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2016/Protegendo_Refugiados_no_Brasil_e_no_Mundo_2016> . Acesso em: 24/04/2016. ______.Estatísticas. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/portugues/recursos/estatisticas/>. Acesso em: 04/12/2015 as 13:56. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 3 ed. Lisboa: Edições 70 Ltda., 2004. BARANKIN, T. Aperfeiçoar a resiliência de adolescentes e suas famílias. Revista Adolesc. Saúde, 2013. Disponível em: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=401#. Acesso em: 23/04/2016. BARBOSA, G. (org) Resiliência: Desenvolvendo e ampliando o tema no Brasil. São Paulo: SOBRARE, 2014. BARRETO, L. Refúgio no Brasil: a proteção brasileira aos refugiados e seu impacto nas Américas. Brasília: ACNUR, Ministério da Justiça, 2010. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/scripts/doc.php?file=t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2010/Refugio_no_Brasil>. Acesso em: 23/04/2016. Beck, J. Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. ______. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. CARDOSO, D. Estratégias para promoção da resiliência com mulheres sobreviventes ao câncer de mama. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2014. Disponível em: <http://wp.ufpel.edu.br/pgenfermagem/files/2015/10/38b3eff8baf56627478ec76a704e9b52.pdf> Acesso em: 23/04/2016.
56
CARVALHO, F. et al. Fatores de proteção relacionados à promoção de resiliência em pessoas que vivem com HIV/AIDS. Revista Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v23n9/04.pdf>. Acesso em: 17/04/2016. CERVO, A.; BERVIAN, P. e SILVA R. Metodologia Científica. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. DEMO, P. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1985. FEITOSA, J. et al. Pode entrar Português do Brasil para Refugiadas e Refugiados. São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/scripts/doc.php?file=t3/fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2015/Pode_Entrar>. Acesso em: 24/04/2016. FERREIRA, A. Migração, rupturas psíquicas e espaços terapêuticos Psicologia USP, vol.26, 2015. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/pusp/v26n2/0103-6564-pusp-26-02-00193.pdf>. Acesso em: 29/04/2016. FLUSSER, V. Bodenlos: Uma Autobiografia Filosófica. São Paulo: Annablume, 2007. GAGLIATO et al. Saúde Mental e Apoio Psicossocial para Refugiados, Solicitantes de Refúgio e Migrantes em deslocamento na Europa: Guia de Orientação Interagencial, 2015. Disponível em: <http://mhpss.net/?get=262/Portuguese_mhpss_guidance_note_12_01_2016.pdf>. Acesso em: 28/04/2016. GARCIA, S.; BRINO, R. e WILLIAMS, L. Risco e Resiliência em escolares: um estudo comparativo com múltiplos instrumentos. Revista Psic. Da Ed. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.laprev.ufscar.br/documentos/arquivos/artigos/2009-garcia-brino-e-williams.pdf. Acesso em: 18/04/2016. GIL, A. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2009. __________. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. GODAS, L. Resiliência e comportamento de autocuidado em pacientes atingidos pela hanseníase: relação positiva? BVS- saúde pública, Bauru, 2010. Disponível em: < http://saudepublica.bvs.br/pesquisa/resource/pt/sus-21630>. Acesso em: 22/04/2016. GREENBERGER, D. e PADESKY, C. A mente vencendo o humor: mude como você se sente, mudando o modo como você pensa. Porto Alegre: Artmed, 1999.
57
GUZZO, R. Resiliência e vulnerabilidade: conceitos e discussões para uma psicologia que se recrie pela crítica IN DELL’AGLIO, D.; KOLLER, S. e YUNES, M.(org). Resiliência e Psicologia Positiva: interfaces do risco à proteção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=01RSAy6gA0sC&oi=fnd&pg=PA11&dq=refugiados+e+resiliencia&ots=6fps6YYUU_&sig=ZPqfWTjwT35cmD-Ixa9s8RCZbsE#v=onepage&q=refugiados%20e%20resiliencia&f=false> Acesso em: 11/04/2016. JUNQUEIRA, M.F.P.S.; DESLANDES, S.F. Resiliência e maus-tratos à criança. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2003, v. 19, n.1, p. 227-235. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2003000100025 KINDI, A. Resiliência: revisão bibliográfica na base Scielo. Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2012. . Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Psicologia/2012/BIBLIOT_DIG_LEVV/Violencia/TGI__-_Alice_Kindi.pdf>. Acesso em: 23/04/2016. KNAPP, P.; BECK, A. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 30, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000600002>. Acesso em: 10/05/2016. KNOBLOCH, F. Impasses no atendimento e assistência do migrante e refugiados na saúde e saúde mental. Psicologia USP, vol.26, São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v26n2/0103-6564-pusp-26-02-00169.pdf>. Acesso em: 29/04/2016. KUYKEN, W.; PADESKY, C. E DUDLEY, R. Conceitualização de Casos Colaborativa: o trabalho em equipe com pacientes em terapia cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2010. LEMOS, P. e JÚNIOR, F. Psicologia de orientação positiva: uma proposta de intervenção no trabalho com grupos em saúde mental. Revista Ciênc. saúde coletiva vol.14. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000100029>. Acesso em:22/04/2014 MACEDO, T. et al. IN FALCONE, E. OLIVA, C. e FIGUEIREDO, C. (org). Produções em Terapia Cognitivo-Comportamental. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012. MARTINS-BORGES, L. Migração involuntária como fator de risco à saúde mental. Rev. Interdiscip. Mobil. Hum.vol.2. Brasília,2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-85852013000100009 >. Acesso em: 25/04/2016.
58
MARTINS BORGES, L. e POCREAU, J. Serviço de atendimento psicológico especializado aos imigrantes e refugiados: interface entre o social, a saúde e a clínica. Revista Estud. psicol., Campinas, v. 29, 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2012000400012>. Acesso em: 26/04/2016. ____________. Reconhecer a diferença: o desafio da etnopsiquiatria. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 15, 2009. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/per/v15n1/v15n1a14.pdf>. Acesso em: 29/04/2016. MINAYO, M. (org.) Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1996.
MORO, M. Psicoterapia transcultural da migração. Psicologia USP, vol.26, São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v26n2/0103-6564-pusp-26-02-00186.pdf>. Acesso em: 25/04/2016.
NIEVES, F. e CUZCO, M. Estrategias de resiliencia y convivencia de los refugiados colombianos radicados en la Ciudad de Cuenca. Universidad de Cuenca, Ecuador, 2015. Disponível em: <http://dspace.ucuenca.edu.ec/bitstream/123456789/21615/1/tesis.pdf>. Acesso em: 06/05/2016.
PALUDO, S. e KOLLER, S. Psicologia positiva, emoções e resiliência IN DELL’AGLIO, D.; KOLLER, S. e YUNES, M.(org). Resiliência e Psicologia Positiva: interfaces do risco à proteção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=01RSAy6gA0sC&oi=fnd&pg=PA11&dq=refugiados+e+resiliencia&ots=6fps6YYUU_&sig=ZPqfWTjwT35cmD-Ixa9s8RCZbsE#v=onepage&q=refugiados%20e%20resiliencia&f=false>. Acesso em: 22/04/2016. PERES, J. Trauma e superação. São Paulo: Editora Roca Ltda, 2009.
PERES, J,; MERCANTE, J. e NASELLO, A. Promovendo resiliência em vítimas de trauma psicológico. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rprs/v27n2/v27n2a03.pdf>. Acesso em: 04/05/2016.
PINHEIRO, D. A resiliência em discussão. Revista Psicologia em estudo v. 9. Maringá, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000100009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 05/04/2016 POLETTO, M. e KOLLER, S. Contextos ecológicos: promotores de resiliência, fatores de risco e de proteção.Estud. psicol.,v. 25,n. 3,Campinas, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2008000300009&lng=en&nrm=iso> Acesso em: 01/05/2016.
59
Prodanov, C. e Freitas, E. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2 ed. Nova Hamburgo: Feevale, 2013. SAGLIO-YATZIMIRSKY, M. Do relatório ao relato, da alienação ao sujeito: a experiência de uma prática clínica com refugiados em uma instituição de saúde. Psicologia USP, vol.26, São Paulo, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v26n2/0103-6564-pusp-26-02-00175.pdf>. Acesso em: 26/04/2016. SAPIENZA, G. e PEDROMÔNICO, M. Risco, proteção e resiliência no desenvolvimento da criança e do adolescente. Revista Psicologia em estudo, v. 10. Maringá, 2005. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/pe/v10n2/v10n2a07>. Acesso em: 17/04/2016. SEMEDO, D. Descrição e compreensão das vivências de familiares de pessoas com doença oncológica e na identificação das dimensões do processo de resiliência, no contexto da realidade Cabo Verdiana. Faculdade de Medicina Universidade de Coimbra. Coimbra, 2011. Disponível em: <http://www.portaldoconhecimento.gov.cv/bitstream/10961/2538/1/Mestrado%20Sa%C3%BAde%20P%C3%BAblica%20-%20Deisa%20Salyse%20Cabral%20%20Semedo.pdf>. Acesso em: 23/04/2016. STALLARD, P. Bons pensamentos-bons sentimentos: manual de terapia cognitivo-comportamental para crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2009. Vieira, S. e Hossne, W. Metodologia Científica para a Área da Saúde. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. WALSH, F. Fortalecendo a Resiliência Familiar. São Paulo: Roca, 2005. WILSON, R. e BRANCH, R. Terapia cognitivo-comportamental para leigos. Rio de Janeiro: Alta books, 2011. YUNES, M. Psicologia positiva e resiliência: foco no indivíduo e na família Rev. Psicol. Estud. vol. 14. Maringá, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722003000300010>. Acesso em: 22/04/2016. YUNES, M.; GARCIA, N. e ALBUQUERQUE, B. Monoparentalidade, pobreza e resiliência: entre as crenças dos profissionais e as possibilidades da convivência familiar. Revista Psicologia reflexão e crítica, v.20. Porto Alegre, 2007.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722007000300012>. Acesso em: 21/04/2016.
60
ANEXO
61
Termo de Responsabilidade Autoral
Eu Leila Mohamad Sleiman El Kadri, afirmo que o presente trabalho e suas
devidas partes são de minha autoria e que fui devidamente informado da
responsabilidade autoral sobre seu conteúdo.
Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de
Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob
o título “A Resiliência em Refugiados: um olhar da Terapia Cognitivo-
Comportamental”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em
Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de
quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por
mim praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais
decorrentes das ações realizadas para a confecção da monografia.
São Paulo, __________de ___________________de______.
______________________
Assinatura do (a) Aluno (a)