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  • Curso Redao Tcnica Mdulo 1 SENASP/MJ - ltima atualizao em 08/02/2008

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  • Curso Redao Tcnica Mdulo 1 SENASP/MJ - ltima atualizao em 08/02/2008

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    Conteudistas:

    Sandra Mara Bessa Professora MSc da Universidade Catlica de Braslia

    Andrea Coutinho Professora MSc da Universidade Catlica de Braslia

    Apresentao

    Escrever uma habilidade cada vez mais requisitada nos dias atuais. Um bom texto

    possui caractersticas especficas, e acima de tudo necessita comunicar uma

    mensagem. Entretanto, existem diferenas entre a escrita geral, a escrita literria e a

    escrita tcnica utilizada, principalmente,no mbito das instituies e entre elas.

    Nos rgos pblicos, h padres tcnico-legais a serem seguidos na comunicao e

    este curso procurar abord-los criando condies para que voc seja capaz de:

    Identificar-se como decisor lingustico, reconhecendo as implicaes de tal postura na produo de textos tcnicos.

    Reconhecer as caractersticas especficas dos principais documentos oficiais de forma a utiliz-los com proficincia.

    Ampliar os conhecimentos sobre as questes gramaticais que mais provocam dvidas em redaes tcnicas, de maneira a reconhecer a importncia do uso da

    norma culta em textos oficiais.

    Exercitar habilidades para a obteno de clareza, coerncia e coeso textuais.

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    Este curso est dividido em trs mdulos: Mdulo1 - Texto e inteno Mdulo 2 - Redao tcnica, cientfica e literria Mdulo 3 - Reviso gramatical

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    Mdulo 1 Texto e inteno

    Neste mdulo, voc estudar sobre a importncia de se desenvolver uma atitude

    decisiva ao redigir um texto, salientando quais so os aspectos favorveis a uma boa

    deciso lingustica.

    Este mdulo est dividido em trs aulas:

    Aula1 Decisor lingustico Aula 2 Gneros textuais

    Aula 3 Os diferentes sentidos

    Aula1 Decisor lingustico

    Fique atento, pois o que todos esperam de voc ao escrever textos que seja um

    bom decisor lingustico!

    Ser um bom decisor implica bom senso, capacidade crtica e conhecimento da

    lngua. Veja por que...

    Decidir como se escreve uma palavra no hoje um grande problema, no ? Existe o dicionrio e o corretor ortogrfico dos editores de texto para ajudar.

    Mas ser essa a nica deciso que tem que ser tomada quando se escreve um texto? Especialmente o texto tcnico?

    com Z ou com S?

    com X ou CH ?

    com G ou com J?

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    Tomar uma deciso sob o ponto de vista lingustico , acima de tudo, tornar-se capaz

    de fazer as melhores opes ao produzir um texto qualquer que seja ele. Nesse

    sentido, preciso considerar a adequao daquele texto ao contexto especfico da

    comunicao. fundamental, portanto, refletir sobre questes como:

    Para quem vou escrever? Qual o meu objetivo? Que canal de comunicao utilizarei? Qual a melhor forma de comunicar o que quero?

    Em relao comunicao, preciso, portanto, fazer escolhas as mais diversas, como

    a adequao ou a inadequao de uma dada forma lingustica que se quer utilizar. O

    decisor capaz de refletir criticamente sobre sua produo textual e realizar

    substituies quando tem dvida.

    Veja a diferena entre escrever um bilhete para deixar um recado na geladeira de

    casa ou enviar um e-mail (mesmo que informal) a uma chefia, por exemplo. Veja:

    preciso conhecer a lngua e seus princpios lingusticos, o que no pode ser

    confundido com o conhecimento superficial de regras gramaticais. No tocante a esse

    respeito, preciso compreender que as regras s passam a ter valor quando

    aplicadas em nossa produo.

    M, Chegarei tarde hj. Bjim. Mnica

    Eduardo, Seguem anexos os relatrios solicitados. Se houver alguma pendncia, por favor, entre em contato. Atenciosamente. Mnica

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    O decisor lingustico reconhece e utiliza intencionalmente seu estilo pessoal de

    escrever, pois capaz de criar, aplicando tal potencial de maneira diversa, pois leva

    em considerao as possibilidades que a lngua lhe d de compreender, analisar,

    sintetizar e posicionar-se criticamente, seja como leitor ou escritor de textos.

    necessrio diversificar as leituras em prol do nosso capital cultural. Reconhecer os

    diferentes gneros e suas caractersticas ajuda a perceber, fundamentalmente, quais

    so os seus espaos de uso e, assim, se sentir mais vontade para fazer as suas

    escolhas.

    Neste curso, espera-se que voc se sinta como decisor lingustico capaz de,

    principalmente ao escrever textos tcnicos, perceber que comunicar uma idia no

    significa reproduzir modelos apenas. Mais do que isso, toda e qualquer forma de

    comunicao uma atividade cognitiva complexa que nos leva a criar.

    A seguir, voc ver como poder tomar as decises de que precisa.

    A convivncia com textos variados cria condies

    para que voc se torne um decisor. Pois num mundo

    letrado como o nosso, os diversos gneros textuais

    servem de modelo de escrita.

    Mas criar qualquer coisa?

    Na redao tcnica, em definitivo, a resposta no. Criar aqui implica conhecer profundamente.

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    O que deve ser considerado na deciso lingustica?

    Ao enviar mensagens, fundamental definir:

    a informao que se quer transmitir.

    o canal de comunicao a ser utilizado.

    quais so os objetivos do texto, levando em conta o contexto.

    quais os recursos disponveis que podem contribuir para essa deciso.

    que atitude deve-se ter ante a necessidade da deciso. Sempre que voc der incio produo de um texto, inclusive textos tcnicos, tenha em mente que voc transmite informaes e por isso, deve planej-las e organiz-las de maneira a alcanar seu intento.

    Dentre as possibilidades comunicativas sobre as quais voc estudar, esto: ata, requerimento, ofcio, exposio de motivos, relatrio, memorando e circular.

    Em cada caso, a finalidade do texto determinar o tipo de informao requerida, bem como o formato devido, tendo como registro lingustico adequado sempre o padro culto da lngua portuguesa.

    preciso ainda conhecer seu interlocutor. Um especialista, por exemplo, necessitar

    de informaes mais especficas e pormenorizadas, ao contrrio do leigo, que dever

    assimilar o contedo da mensagem de forma genrica, apesar da imprescindvel

    clareza textual.

    No caso especfico da redao tcnica, na maior parte das vezes, prevalecem as

    relaes comunicativas simtricas, em que os interlocutores apresentam as mesmas

    condies culturais ao se comunicarem e, por isso, as dificuldades so minimizadas,

    quando no so inexistentes.

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    Ao escrever textos, dirige-se a pblicos diversos, constitudos por interlocutores de diferentes nveis cognitivos e sociais.

    A partir das decises iniciais sobre o que se vai falar e a quem, preciso refletir sobre

    detalhes do que vai ser dito. Essa estruturao do texto pode ser mental ou

    escrita, como um esquema. Escolha a que melhor se adequa ao seu jeito de se

    organizar. Com esses elementos bem definidos, est na hora de escrever o texto.

    So inmeras as dvidas que surgem quando se escreve e isso acontece at com os

    mais experimentados escritores. necessrio, desta feita, ter mo fontes de

    consulta que nos ajudem a solucionar tais questes, as quais no so s suas, mas de

    todos aqueles que se propem a lutar com as palavras.

    Dentre os materiais para consulta, destacamos os seguintes:

    Dicionrios - convencionais (de significados), etimolgicos, enciclopdicos, ortogrficos.

    Gramticas - normativas, descritivas, pedaggicas, so fontes de consulta de aprofundamento

    Manuais de redao e estilo - governamentais, jornalsticos, empresariais, so instrumentos de homogeneizao da redao institucional.

    Obras e textos tcnicos - constituem fontes de consulta que sustentam opinies de especialistas.

    O texto deve ser produzido numa linguagem o mais neutra possvel, visando atingir a totalidade dos indivduos, adequando-se realidade comunicativa do momento.

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    A releitura do texto Lembre-se que o corretor ortogrfico do editor de texto bastante til, mas tem limitaes prprias. Por isso, na dvida, recorra s possveis fontes de pesquisa e garanta a produo de um texto claro e correto. Os textos mostram quem voc e o quanto sabe, por isso capriche ao escrever. No se deixe levar pela enganadora viso de que os textos ficam prontos e bem escritos logo em sua primeira verso. Stephen Kanitz assim escreve a esse respeito:

    Reescrevo cada artigo, em mdia, 40 vezes. Releio 40 vezes, seria a frase mais correta porque na maioria das vezes s mudo uma ou outra palavra, troco a ordem de um pargrafo ou elimino uma frase, processo que leva praticamente um ms. No fundo, meus artigos so mais esculpidos do que escritos. Quarenta vezes desnecessrio para quem escreve numa revista menos abrangente, 20 das minhas releituras so devido a Veja, com seu pblico heterogneo onde no posso ofender ningum.

    Fonte: http://www.kanitz.com.br

    Calma! No uma sugesto que voc reescreva documentos e outros textos

    quarenta vezes, mas que voc os releia por duas vezes at ter a certeza de que sua

    produo est realmente boa.

    Pecados da lngua

    Um hbito muito comum no ambiente de trabalho recorrer aos colegas quando se

    tem dvidas, mas isso nem sempre a melhor receita, j que eles tambm podem

    estar errados, pois, como todas as pessoas, carregam suas dvidas, limitaes e vcios

    de linguagem.

    Numa publicao da revista Veja, Jernimo Teixeira aponta os Pecados da Lngua,

    os quais so imperdoveis em textos orais ou escritos. Lembre-se de que, em textos

    escritos, nossos erros tomam enorme proporo, pois ficam registrados...

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    Pecados da Lngua

    Dez erros que comprometem a vida social e as pretenses profissionais de

    qualquer um.

    1. Houveram problemas.

    Houve problemas. Haver, no sentido de existir, sempre

    impessoal.

    2. Se ele dispor de tempo.

    um grave erro conjugar de forma regular os verbos derivados de

    ter, vir e pr. Neste caso, o certo dispuser.

    3. Espero que ele seje feliz e Vieram menas pessoas.

    Dois erros inadmissveis. A conjugao de seje no existe. E menos no

    concorda com o substantivo, pois advrbio e no adjetivo.

    4. Ela ficou meia nervosa.

    Meio nervosa. Os advrbios no tm concordncia de gnero.

    5. Segue anexo duas cpias do contrato.

    Ateno para a concordncia verbal e nominal. Seguem anexas.

    6. Este assunto entre eu e ela.

    Depois da preposio, pronome oblquo tnico: entre mim e ela.

    7. A professora deu um trabalho para mim fazer.

    Antes do verbo, usa-se o pronome pessoal, e no o obliquo: para eu fazer.

    8. Fazem dois meses que ele no aparece.

    O verbo fazer indicando tempo impessoal: faz dois meses.

    9. Vou estar providenciando o seu pagamento.

    O chamado gerundismo no chega a ser um erro gramatical, mas um vcio

    insuportvel. Vou providenciar mais elegante. 10. O problema vai ser resolvido a nvel de empresa.

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    O febro do a nvel de parece ter passado, mas ainda h quem utilize esta

    expresso pavorosa, Na frase em questo, na ou pela empresa so mais exatos e

    elegantes.

    Fonte: Veja On Line

    Aula 2 Gneros textuais

    Uma das habilidades relacionadas produo textual refere-se ao

    conhecimento do gnero textual.

    Nesta aula voc ser convidado a refletir sobre a natureza dos textos que circulam

    socialmente, e que se constituem como gneros, para procurar definir o que texto,

    o que o distingue de outros textos e, inclusive, se na oralidade, ou seja, quando se

    fala, tambm se est, ou no, produzindo textos.

    Existe uma pluralidade de discursos e de possibilidades para a organizao

    de um texto. Antes estas possibilidades eram limitadas a considerao de que

    textos eram apenas aqueles que seguiam as caractersticas da narrao,

    descrio e dissertao (era o que a escola ensinava, lembra?).

    Hoje, a formao de um escritor crtico envolve outras prticas que passam

    pelo conhecimento das relaes sociais percepo de textos veiculados por

    meio de diferentes situaes de interao.

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    Carta

    Pense em um enunciado comum como escrevi uma carta e leia os textos a seguir:

    Texto 1

    Carta escrita pela escritora Clarice Lispector ao tambm escritor Lcio Cardoso em

    1947.

    Berna, 23 de junho de 1947. Lcio, Fiquei to contente em receber seu livro e a cartinha. Li o livro imediatamente, e voc bem sabe que alegria me d ler coisas suas. Acho o livro lindo, e as mulheres de seus livros so as pecadoras mais violentas e inocentes... Durante toda a leitura espera-se que alguma coisa mortal suceda e que de repente, fique tranquilo, pastoral, e ainda assim perigoso gosto tanto disso. A cena no anfiteatro to plstica e visvel, na minha opinio um dos pedaos melhores do livro. Vejo, Lcio, que voc est cada vez melhor, e isso me alegra tanto na admirao e na amizade. Estou esperando a professora Hilda . Irmgard no me deu logo o livro s trouxe quando veio passar uns dias na Sua. E depois no respondi logo, porque vrias coisas pequenas e maiores sucederam. Aqui nada de novo. Eu com o desejo permanente de voltar para o Brasil no sei quando vamos. Ou ento de viajar sem cessar, mas sobretudo no ficar parada gratuitamente num lugar. No meio disso tudo felizmente veio a primavera e voc no pode imaginar que boa notcia a primavera depois de um inverno longussimo. Logo que ela chegou passei uns dias meio boba, tomando qualquer sol que aparecia, farejando flor onde tivesse nascido. Uma das coisas que fao na Europa mudar de estao... (...) Se voc quiser me mandar A professora Hilda, ficarei muito contente. Maury manda lembranas. Eu desejo muitas felicidades para voc.

    Clarice.

    (LISPECTOR, Clarice. Correspondncias. Rio de Janeiro: Rocco, 2002, p. 134.)

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    Texto 2

    Carta escrita por um leitor do Jornal Folha de So Paulo seo Painel do Leitor.

    (Ao editor)

    So Paulo, 23/10/2007.

    Gostaria de elogiar a reportagem do Folhateen sobre o filme Tropa de Elite. Talvez tenha sido a nica entre as que li que tratou o filme com a seriedade que o assunto merece. Jovens que viram e amaram o filme dizem que ele mostra a realidade. Mas fica claro na entrevista com Rodrigo Pimentel que o filme mostra s uma parte editada e maquiada da realidade, com a funo de entretenimento, coisa que a maioria das pessoas que assiste ao filme no se d conta. Acho complicado, no nosso pas, de tantas diferenas sociais, um filme apresentar s guerra como soluo para a violncia, estigmatizar ONGs como amigos de traficantes e mostrar aes sociais como algo banal. Sou professora na comunidade de Paraispolis a segunda maior e menos violenta de So Paulo e acredito sinceramente nas aes sociais das instituies ali presentes. No seria ingnua de acreditar que a luta contra o trfico prescinde das tropas de elite, mas acho que seria importante destacar que essas aes so apenas paliativas, e no a soluo para esse problema. Andria Morais

    (In: Folha de So Paulo, 24/10/2007, p. 3)

    Voc acabou de ler dois textos cuja classificao, como gnero textual, carta.

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    E-mail

    Repare ento que, como prticas sociocomunicativas, possvel a variao de um

    mesmo gnero quando se modificam a linguagem, as intenes dos participantes, os

    objetivos do locutor. Alm disso, um gnero pode sofrer uma transmutao. Veja o

    exemplo.

    Como possvel perceber, o texto anterior um e-mail enviado de Ana para Maria. O

    e-mail, gnero atualmente muito utilizado, no deixa de ser uma variao da carta.

    Assim, alm do contedo temtico e do estilo, um gnero se distingue tambm pela

    forma de sua composio.

    possvel constatar sem esforo, que no fcil demarcar um nmero que limite os

    gneros textuais na atualidade. Pode-se falar em gneros diversos que vo do

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    manual de instruo, da bula de remdio, carta-postal e telegrama ao texto cientfico,

    resenhas e artigos, alm de textos literrios, romances, poemas e crnicas, e de

    textos tcnicos requerimento, atas e ofcios; pensando ainda nos quadrinhos, nas

    charges, nas receitas de bolo, outdoors, nas letras das msicas, etc.

    O texto e seu contexto

    Os textos que circulam pelo mundo apresentam caractersticas e funes especficas

    e, logicamente, um pblico prprio. Essas caractersticas permitem que os aspectos

    de textualidade, tais como coeso e coerncia, tcnicas de elaborao e

    argumentao, impessoalidade no discurso, sejam abordados.

    O texto resultado de uma interao entre sujeitos. O texto escrito ter sempre um

    destino, portanto, alm das formas da lngua, preciso entender as condies de

    produo e todo o processo mental envolvido nessa construo. Assim, mais do que

    uma aprendizagem meramente conceitual e informativa, ao escrever, voc ter a

    oportunidade de pensar o texto a partir de seu funcionamento, de seu uso, o que,

    claramente, reflete um contexto social e histrico.

    A enorme diversidade de atividades sociais que existem hoje em dia

    provocou o aparecimento de discursos bem especficos e, portanto, de diversos

    gneros.

    Os diferentes gneros

    Atualmente, h inmeros gneros, o que se tornou at mesmo difcil de mensurar.

    Assim, para executar um trabalho qualquer ou acessar uma situao de comunicao

    em que seja entendido e entenda, preciso determinar qual o gnero e o tipo de

    discurso que so efetivamente necessrios.

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    Para aprender a produzir um texto que apresente certas caractersticas, necessrio

    entrar em contato com o corpus textual* deste gnero para que, em situaes

    definidas, sirva sempre como referncia.

    *corpus textual um conjunto de textos selecionados que serviro de base para

    anlise terminolgica

    Na universidade determinados gneros tais como o resumo, a resenha, o artigo so

    muito importantes para a produo do texto cientfico. Em determinadas profisses,

    como as executadas na rea de segurana pblica, imprescindvel o conhecimento

    dos elementos que estruturam, por exemplo, o texto tcnico.

    Neste curso voc entrar em contato com algumas proposies que buscam eliminar

    as situaes artificiais apresentando passos para a produo especfica de um

    gnero: o texto tcnico. Antes disso, no entanto, pense um pouco sobre a linguagem,

    sobre a palavra , que ser o elemento construtor desse gnero realizando os

    exerccios.

    Aula 3 Os diferentes sentidos

    Um dos elementos diferenciadores dos gneros textuais, alm do estilo, da forma,

    do objetivo etc., reside no entendimento da significao das palavras e suas possveis

    construes, pois nem sempre a linguagem apresenta um nico sentido. A mesma

    palavra, empregada em contextos diferenciados, capaz de ganhar novos sentidos,

    que podem ser figurados e podem vir carregados de valores.

    Criar condies para que voc possa pensar sobre a significao das palavras e

    suas possveis construes o propsito desta aula.

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    Observe a palavra corao nos textos a seguir:

    Anatomia do corao

    O corao localiza-se na cavidade torcica, no mediastino. Dois teros do seu volume esto situados esquerda da linha sagital mediana. Esta posio, chamada de levocrdica, a mais frequente. Variaes na posio do corao em relao ao trax podem ocorrer. A posio mesocrdica, ocorre quando a maior parte do seu volume est situada na poro mediana do trax. A posio dextrocrdica ocorre quando grande parte de sua massa localiza-se no hemitrax direito. Estes termos so utilizados com frequncia ao descrevermos as mal formaes congnitas. A forma do corao aproximadamente cnica, com a base voltada para trs e para a direita, e o pice para a frente e para a esquerda. H trs faces no corao: a anterior ou esternocostal, sobre a qual os pulmes direito e esquerdo se sobrepem, deixando exposta apenas uma pequena poro; a face inferior, que repousa sobre o diafragma, recebendo tambm o nome de face diafragmtica; e a face lateral esquerda, formada principalmente pelo ventrculo esquerdo, que produz a impresso cardaca na face medial do pulmo esquerdo. Estas faces so delimitadas pelas margens cardacas. A direita bem definida, sendo chamada de aguda, enquanto que a esquerda ou obtusa pouco definida. Anteriormente, alm dos pulmes, o corao relaciona-se tambm com o esterno, costelas e msculos intercostais; posteriormente com a aorta descendente, esfago e veia zigos; e lateralmente com os pulmes, hilos pulmonares, nervos frnicos e vagos.

    (In: http://www.manuaisdecardiologia.med.br/Anatomia/anatomia.htm)

    Repare que no plano do contedo, assim como no plano de expresso, a palavra

    corao no texto 1 aparece no seu sentido denotativo. Isto , tomada em seu

    sentido mais usual e sempre literal, com valor objetivo e constante.

    No entanto, leia o Texto 2, letra de uma msica de Ivan Lins e, mais uma vez, busque

    a palavra corao.

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    Amor (Ivan Lins / Vitor Martins) (...) Vem me encantar Me tirar dos confins Fazer festa pra mim Vem corao Acender meus bales Minhas paixes Vem afastar as assombraes Arejar meus pores Vem acalmar os meus vendavais Meus temores, meus ais (...)(http://mpbnet.com.br/musicos/olivia.hime/letras/desencanto.htm)

    Perceba que, ao significado de corao, so acrescidos outros significados que so

    resultantes de valores sociais, outras impresses e sentimentos, novas reaes

    afetivas ou psicolgicas que a palavra capaz de evocar. Corao tem, no texto, o

    sentido de uma pessoa querida e, claro, como este sentido subjetivo, conotativo,

    capaz de mudar de uma poca para outra e de uma cultura tambm para outra.

    Encontre agora, mais uma vez, em uma propaganda do Hospital Beneficncia

    Portuguesa de So Paulo, a palavra corao.

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    http://www.nossasaopaulo.org.br/nssp.index.asp

    Repare que no terceiro texto a palavra corao exibe um duplo significado. Pode

    apresentar o sentido denotativo - colocamos o corao em tudo o que fazemos:

    reporta-se ao corao como rgo pois o hospital uma referncia mundial em

    cardiologia; ou o sentido conotativo, curiosamente na mesma frase colocamos o

    corao em tudo o que fazemos pois alude a atitude de dedicao profunda de

    todos aqueles que trabalham no hospital.

    Qual seria a analogia possvel neste caso?

    O fato do corao representar, socialmente, os sentimentos humanos

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    Gneros textuais

    Se formos ao dicionrio encontraremos (muitas vezes de forma no to abrangente) algumas definies distintas para a palavra corao. Veja:

    Acepes substantivo masculino 1 Rubrica: anatomia geral. rgo muscular oco, na cavidade torcica, que recebe o sangue das veias e o impulsiona para dentro das artrias; dividido em duas partes (direito ou venoso, e esquerdo ou arterial) por um septo musculomembranoso, e cada metade contm uma cmara receptora (aurcula) e uma cmara ejetora (ventrculo) 2 Derivao: por extenso de sentido. a parte anterior do trax, onde se sente pulsar o corao; peito Ex.: levar a mo ao c. (...) 6 Derivao: sentido figurado. a parte mais central ou mais profunda de algo; mago Ex.: (...)

    9 Derivao: sentido figurado. a parte mais ntima de um ser; o bero dos sentimentos, das emoes, do afeto, do nimo, da coragem etc. Ex.: 10 Derivao: por extenso de sentido, sentido figurado. lembrana, memria Ex.: aquelas frias ficaram no c. do menino 11 Derivao: sentido figurado. pessoa a quem se ama 12 Derivao: sentido figurado. qualidade de bom, generoso; bondade Ex.: mulher sem c. 13 Derivao: sentido figurado. feitio moral; carter, ndole, temperamento Ex.: tem o c. obstinado dos fortes

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    (http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=cora%E7%E3o&stype=k

    Finalizando esta aula importante esclarecer que uma das preocupaes

    principais do curso oferecer elementos para que voc possa perceber a

    diferena entre a escrita geral, a escrita literria e a escrita tcnica, pois s assim

    ser capaz de desenvolver os textos tcnicos de acordo com os padres e as

    normas vigentes.