Curso de Umbanda - Aula 1

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Religião - Do Latim, “Religare”, que significa: Religação entre o Homem e Deus! No universo das religiões, encontramos os mais variados cultos, rituais, varias formas de interpretar a ligação com Deus, o qual pode ser denominado diferentemente dependendo da crença, região ou cultura. Falando especificamente sobre a cultura Africana, teremos varias ramificações desta vasta cultura, o culto aos Orixás é o principal, ORI = COROA, XÁ – LUZ, palavra que significa Coroa Iluminada ou Espírito de Luz, estes cultos diferem dentre as culturas Banto, Jejê, Keto e Nagô. Destas nações africanas temos cultos como o Batuque de Xangô, Tambor de mina, Catimbó, Omolocô e tantos outros; os mais conhecidos, Candomblé e a Umbanda, muitos destes originários da “Macumba”, termo utilizado pelos brancos para identificar os negros que reuniam-se a noite para a pratica de incorporações de seus ancestrais. Ainda hoje o termo “Macumba”, é ponto de discussão, ele vem do termo da nação Bantu, “ma-quiumba”, que significa espírito da noite, então quando os negros eram interpelados sobre o que faziam, afirmavam que estavam saldando os espíritos da noite, “ma-quiumba”, ou termo abrasileirado como “Macumba”. Sendo identificados como Macumbeiros. Outro significado para a palavra Macumba é Cura, e aquele que a pratica torna-se um macumbeiro ou curandeiro. Tendo também outro significado, Macumba é um instrumento de percussão, por tanto macumbeiro é quem toca a Macumba, instrumento de percussão. Em todos os ritos temos o culto aos Orixás, sendo alguns deles: Olorum, Zambi, Obatalá, Oxalá ou Orixalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Omulu, Obaluaie, Nanã, Ifá, Ewa, Iroko, Obá, Tempo, Ossaim, Oxumaré, Logun odé e mais alguns outros dependendo da nação, divergindo entre si quanto aos nomes, quantidades e formas de culto. Para todos teremos algo a falar posteriormente. Isto é apenas para ressaltar a pluralidade que encontramos, citando somente o culto africano.

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Religião - Do Latim, “Religare”, que significa: Religação entre o Homem e Deus!

No universo das religiões, encontramos os mais variados cultos, rituais, varias formas de interpretar a ligação com Deus, o qual pode ser denominado diferentemente dependendo da crença, região ou cultura. Falando especificamente sobre a cultura Africana, teremos varias

ramificações desta vasta cultura, o culto aos Orixás é o principal, ORI = COROA, XÁ – LUZ, palavra que significa Coroa Iluminada ou Espírito de Luz, estes cultos diferem

dentre as culturas Banto, Jejê, Keto e Nagô. Destas nações africanas temos cultos como o Batuque de Xangô, Tambor de mina, Catimbó, Omolocô e tantos outros; os mais conhecidos, Candomblé e a Umbanda, muitos destes originários da “Macumba”, termo utilizado pelos brancos para identificar os negros que reuniam-se a noite para a pratica de incorporações de

seus ancestrais. Ainda hoje o termo “Macumba”, é ponto de discussão, ele vem do

termo da nação Bantu, “ma-quiumba”, que significa espírito da noite, então quando os negros eram interpelados sobre o que faziam, afirmavam que estavam saldando os espíritos da noite, “ma-quiumba”, ou termo abrasileirado como “Macumba”. Sendo identificados como Macumbeiros. Outro significado para a palavra Macumba é Cura, e aquele que a pratica torna-se um macumbeiro ou curandeiro. Tendo também outro significado, Macumba é um instrumento de percussão, por tanto macumbeiro é quem toca a Macumba, instrumento de percussão.

Em todos os ritos temos o culto aos Orixás, sendo alguns deles: Olorum, Zambi, Obatalá, Oxalá ou Orixalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Omulu, Obaluaie, Nanã, Ifá, Ewa, Iroko, Obá, Tempo, Ossaim, Oxumaré, Logun odé e mais alguns outros dependendo da nação, divergindo entre si quanto aos nomes, quantidades e formas de culto. Para todos teremos algo a falar posteriormente. Isto é apenas para ressaltar a pluralidade que encontramos, citando somente o culto africano.

Neste momento irei como fonte de estudo, ressaltar a “Umbanda”, esta palavra tem

uma divergência de significados e também de origem, alguns a definem como:

AUMBANDAN,

AUM = a divindade suprema,

BAN = conjunto ou sistema,

DAN = regra ou lei,

significando: O CONJUNTO DAS LEIS DIVINAS. Tendo sua origem no alfabeto Adâmico, Sânscrito.

Outras vertentes a definem como derivada de “U’mbana”, que significa “A arte de curar”, na língua Banto falada na Angola, “O Quimbundo”, tendo também a palavra “Kimbanda”, que em quimbundo significa “Curandeiro”; no Brasil passou-se a identificar todas as pessoas que

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praticavam ritos com a chamada do Orixá Exú, o qual é mais ligado a crosta terrestre e sincretizado com o “Diabo” dos Católicos, mas que nada tem de semelhança em seus trabalhos, estes eram denominados como quimbandeiros, este assunto abordarei mais adiante.

Outras ainda a definem como Umbanda, Um – Único, Banda – Povo, sendo assim, “União das Bandas”, ou “União de todos os povos”, tendo a Umbanda, em sua criação, a união cultural dos povos africanos, indígenas e os brancos europeus, trazendo assim a Pajelança e os Deuses Indígenas, os Feiticeiros e Orixás Africanos, o Catolicismo e a Cultura Européia constituída como sociedade organizada, mais tarde incorporados aos ritos Umbandistas, os povos Orientais, Indianos, Ciganos, também os Baianos, Boiadeiros, marinheiros e tantos outros povos que se uniram a este movimento espiritual.

KARDECISMO E UMBANDAA Umbanda foi à religião dos pobres, dos menos favorecidos socialmente, levando-se em consideração que nossa terra foi colônia portuguesa e fora abastecida com trabalhadores índios e negros como escravos dos senhores fazendeiros e nobres europeus. Mas isso não foi impedimento para que a miscigenação ocorresse entre os povos. Índios, Negros e Brancos, todos foram sendo misturados e assim nasceu uma nossa pátria chamada Brasil e com ela todas as suas diversidades sociais, econômicas e culturais, cada qual com suas crenças, suas histórias, suas culturas, das mais variadas e diferenciadas. Mesmo dentro de cada cultura distinta, Índios, Negros e Brancos, tinham a diversidade, pois os Índios, os quais eram o povo nativo, tinham tribos imensas com culturas milenares, sendo até considerados alguns dos primeiros habitantes do planeta. Com uma cultura diversificada foram massacrados indistintamente, feitos escravos, mas lutaram bravamente e conseguiram manter sua cultura nativa de certa forma preservada, por sua resistência e bravura, por não se deixar dominar tão facilmente, não eram escravos de grande valia, adoeciam em demasia e vinham a falecer com muita facilidade, também não se submetiam a escravidão sem lutar, preferiam a morte a ter que servir outros povos, isto não por serem os brancos seus dominadores, mas por uma convicção cultural, a qual entre as diversas tribos rivais prevalecia que inimigos dominados eram sacrificados e não feitos escravos, uma questão de respeito, por sua bravura, por seu inimigo, por sua dignidade. Já os negros, vindos do continente Africano, principalmente os sudaneses, como os povos do golfo da Guiné, hoje Nigéria e Benin, pertencentes às nações Jejê, Keto e Nagô e os povos Banto, da Angola, Congo, Cambinda, Benguela e Moçambique, das colônias portuguesas, trazidos para a nossa rica terra brasileira todos estes povos, foram espalhados por todo o território brasileiro, fazendo assim com que diversas culturas convivessem entre si, tendo que adaptar-se a nova realidade. Os africanos, com suas tribos, com seus reis e uma cultura diferente da indígena brasileira, eram povos que lutavam entre si, sendo que os vencidos eram feitos escravos para servir ao Rei vencedor, povos que aprenderam com os brancos o comércio negreiro, seus costumes e sua sede de poder, pois a escravidão já não era uma novidade para estes povos, muitos escravos foram levados para Europa muito antes de começar o tráfico humano para o Brasil. Estes povos lucravam com a venda de escravos de tribos vencidas para os comerciantes de negros, não importando qual o grau de hierarquia dentro das tribos vencidas, eram todos tratados igualmente como simples

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escravos. Os brancos com sua cultura européia, com seus muitos anos de sociedade organizada, com regras, com hierarquias e poderes. Reinados e conchavos para o fortalecimento de seus domínios. Uma lei que imperou durante séculos no velho continente, uma lei de domínio, de aquisição de novas terras, de conquistas de novos horizontes, a qual, a coroa de Portugal foi dominante, assim como a Espanha, Inglaterra e França. A busca por novas terras trouxe ao Brasil, Portugueses e Espanhóis, prevalecendo à coroa de Portugal como detentora de terras Brasileiras, onde procuraram incutir junto aos povos dominados, (índios e negros), sua cultura, seus ideais e sua sociedade européia. Trouxeram para nossas terras todo um contexto sócio-econômico, cultural e religioso, ao qual nenhum dos povos estava acostumado, mantendo estes povos como escravos, trabalhadores que somente viviam para servir, sem dar a importância para a suas culturas, suas crenças, sua história, sua religiosidade que não se apagou, que se manteve intacta por muitas e muitas gerações até os dias de hoje.

Como no inicio mencionei, a miscigenação das raças ocorreu durante o decorrer dos tempos, fazendo assim com que aparecessem novas raças como os mamelucos, mulatos, caboclos, cafuzos, etc... Esta miscigenação continuou fazendo com que o povo brasileiro se tornasse um povo multirracial, mais tarde com a vinda de tantas outras raças, isso intensificou-se ainda mais. Mas em que isto pode ser relevante para um estudo sobre a Umbanda?

Em Tudo!

A diversidade destas raças e sua miscigenação fez com que estes povos partilhassem suas culturas, seus costumes, suas crenças, fazendo com que surgisse uma nova cultura posteriormente. Os povos indígenas, por não se deixar dominar e assim não tornando-se escravos, mantiveram sua cultura mais preservada, não tanto reprimida quanto a cultura africana, pois eram os nativos e assim permaneceram em suas tribos, conservando sua individualidade cultural e étnica, muitos até os dias de hoje. Tinham e ainda tem um conceito um pouco diferente sobre seus próprios deuses, com alguma diversidade entre as diversas tribos existentes.

Temos dentro da cultura Indígena brasileira os deuses Tupã, Catú, Nháa, Jaci, Caramuru, Caupé, Yara, Saci e tantos outros. Todos relacionados à natureza, o céu, o mar, os rios, as montanhas, cachoeiras e pedreiras, a terra, a agricultura e os animais.

Os negros por sua vez, escravizados, massacrados física, moral e culturalmente, tiveram que adaptar-se a cultura e religiosidade européia, mesmo contra a vontade, pois se não o fizessem a chibata lhes ardia na pele. Com muita esperteza, conseguiram manter sua religiosidade, pois dentro das senzalas, nas fazendas era imposta a religião católica, a qual era dominante entre os senhores escravocratas. Sendo obrigados a cultuar os santos católicos, os negros assim criaram o sincretismo cultural, aonde associavam seus deuses Iorubás aos santos católicos, surgindo o que vemos hoje em muitos terreiros, tendas, casas de Umbanda, os Congás ou Pejis (altares), com imagens de santos católicos sendo cultuados com nomes Iorubás como: Jesus Cristo sincretizado como Oxalá, São Jorge como Ogum, São Sebastião como Oxósse, São Jerônimo como Xangô, Nossa Senhora Mãe de Jesus como Iemanjá, Nossa Senhora da Conceição como Oxum, Santa Barbara como Inhansã, assim como outras conjunções destes e

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de outros Orixás que estudaremos mais a fundo logo à frente, lembrando que estas conjunções podem divergir dentre as regiões e ritos diferenciados.

Estas divindades em sua origem africana habitaram a terra em seus primórdios, tiveram vida terrena e transformaram-se em deuses sendo cultuados por diversos povos africanos, na Umbanda somente a nomenclatura é utilizada pela vertente africana da mesma, mas a forma de culto aos Orixás é a associação com as forças da natureza.

Na Umbanda, por sua diversidade, temos várias formas de cultos, com mudanças de determinados Orixás para cada rito. As mudanças ocorrem dependendo de cada dirigente espiritual, exemplo:

Em alguns terreiros cultua-se a Umbanda tradicional, esta sendo a anunciada por Zélio de Morais, com orações especificas, sem atabaques, inclusive com disposições distintas para homens e mulheres; também cultua-se a Umbanda Branca, esta mais voltada para o Kardecismo, com a manifestação de médicos, orientais, bem como outros espíritos que utilizam esta forma plasmada para sua manifestação; A Umbanda traçada é a qual seus dirigentes trabalham com ritos de Umbanda, tendo a incorporação de Caboclos e Pretos Velhos e ainda o Candomblé, onde não existem atendimento espiritual, apenas o recebimento da energia dos Orixás e a sua dança, com dias e ritos distintos; Já no Umbandomblé, o rito é único, cultuando a Umbanda e o Candomblé ao mesmo tempo; Temos ainda a Umbanda Esotérica, o Omolocô, Tambor de mina, Batuque de Caboclo e muitos outros. Cada qual com seus ritos, suas crenças e suas peculiaridades. Alguns trabalham com “feitura de cabeça”, raspagem e corte, sacrifícios de animais e seus significados os quais não vou me aprofundar, pois o objetivo do estudo não é este.