Curso Dialogo e Substantividade Democratica em Paulo Freire - Bianco Zalmora Garcia

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1 Diálogo e substantividade democrática elementos para uma fundamentação normativa da teoria da ação dialógica de Paulo Freire Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

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Curso Diálogo e Substantividade Democrática: Elementos para uma fundamentação da teoria da ação dialógica de Paulo FreireProf. Dr. Bianco Zalmora Garcia

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Diálogo e substantividade democrática

elementos para uma fundamentação normativa da

teoria da ação dialógica de Paulo Freire

Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

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Neste estudo procuro tematizar o pensamento freiriano considerando os fundamentos ético-políticos e epistemológicos de sua teoria da ação dialógica, a partir dos quais se pode delinear a concepção normativa de substantividade democrática e suas implicações nas práticas político-pedagógicas e político-revolucionárias.

A liberdade que emerge da própria natureza do diálogo, como condição de possibilidade da radicalidade democrática, configura a orientação política e educativa da práxis emancipatória em Paulo Freire.

Introdução

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A teoria da ação dialógica de Freire se opõe às práticas autoritárias, antidemocráticas e opressivas fundadas numa ação antidialógica que coisifica o ser humano e o condena ao silêncio, impedindo-o de realizar sua vocação ontológico-existencial de humanizar-se, humanizando o mundo, na e pela práxis libertadora.

A eticidade radicada na experiência vital de mulheres e homens e o sentido ético da presença humana no e com o mundo se pode apreender no substrato normativo da comunicabilidade dialógica.

Introdução

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Considerando o sentido emancipatório da ação dialógica se pode resgatar a educação como ato de liberdade e de libertação de homens e mulheres como sujeitos de sua história e de sua emancipação.

Neste sentido a reflexão de Freire nos leva a compreender, por um lado, a educação como ato de esperança: a utopia como sonho possível. Por outro lado, a educação como ato voltado para a formação da cidadania democrática e a reinvenção democrática do poder e da sociedade: a busca por uma educação radicalmente democrática.

Introdução

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Ao longo de toda obra de Freire se pode encontrar a defesa de uma ação libertadora de todas as formas de opressão: uma ação marcadamente dialógica cujo potencial emancipatório implica na humanização da mulher e do homem que, na e pela práxis, libertam-se da condição de objeto a que são submetidos social e historicamente para se tornar sujeitos em solidariedade.

Segundo Freire, ninguém se liberta sozinho: mulheres e homens se libertam em comunhão! A libertação de todas e todos – tarefa permanente - realiza-se na e pela superação da contradição opressores-oprimidos.

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Freire resgata a necessidade de construir uma teoria da ação libertadora do povo, esmagado e oprimido: em Pedagogia do Oprimido apresenta seus pressupostos teórico-práticos ao tematizar a dialogicidade enquanto essência da educação concebida como prática da liberdade.

Na verdade, a teoria freiriana da ação dialógica identifica-se com a teoria da ação revolucionária cuja legitimidade reside radicalmente no diálogo: a ação dialógica reporta-se a ação política mais ampla que envolve uma dimensão educativa: a revolução na perspectiva do oprimido.

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Em oposição à teoria da ação antidialógica – opressora – que serve aos interesses da manipulação e à dominação, Freire concebe uma teoria que atenda aos propósitos emancipatórios de mulheres e homens que, enquanto sujeitos em libertação, organizam-se e mobilizam-se como protagonistas da transformação do mundo no quefazer radicalmente democrático.

Deste modo, a teoria da ação dialógica de Freire de modo algum se reduz a uma teoria pedagógica, mas orienta-se para uma práxis libertadora da qual a ação educativa propriamente dita é, na verdade, sua interface teórico-prática.

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A práxis libertadora encontra na dialogicidade sua condição de possibilidade e legitimidade e nela se constitui substantivamente democrática. Ora, esta práxis em virtude da própria dialogicidade que lhe é intrínseca torna-se necessariamente democrática.

O diálogo restabelece o direito da mulher e do homem pronunciar o mundo pela palavra concebida por Freire como síntese da ação e reflexão – a palavra concebida como práxis.

Em virtude da intersubjetividade originária do diálogo, a pronúncia do mundo é realizada necessariamente na reciprocidade solidária dos sujeitos envolvidos, comprometidos.

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Neste sentido, o diálogo apresenta um conteúdo ético-normativo para a coordenação das ações dos sujeitos em interação. Ao romper os esquemas verticais de relações, marcadamente autoritárias, o diálogo constitui uma relação de reciprocidade, horizontal e simétrica, dos sujeitos entre si.

No e pelo diálogo, mulheres e homens, na condição de sujeitos, interagindo solidariamente, ao pronunciar o mundo para nele intervir e transformá-lo, orientam-se por um compromisso amoroso e, por isso, movidos por uma intensa fé no ser humano, no seu poder de fazer e refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais.

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Segundo Freire, em Pedagogia do Oprimido, a ação educativa e política não pode prescindir – sob pena de se fazer “bancária” - do conhecimento crítico da situação em que mulheres e homens estão no mundo e que se reflete na sua visão do mundo e nas diversas formas de sua ação.

Freire se reporta apenas a uma e mesma ação que apresenta uma dupla qualidade: a de ser educativa e a de ser política. Aqui temos os dois planos de orientação teórico-prática da ação dialógica que se relacionam reciprocamente, convergem e dialeticamente se pressupõem.

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Considerando a ação política revolucionária e ação política pedagógica como interfaces teórico-práticas da ação dialógica, Freire compreende, em Conscientização, que a ação política ao lado dos oprimidos deve ser uma ação pedagógica no verdadeiro sentido da palavra e, portanto, uma ação com os oprimidos.

Freire afirma a educabilidade presente na “ação política ao lado dos oprimidos” com o objetivo de defender o caráter eminentemente pedagógico da práxis revolucionária. Enfim, a ação dialógica torna-se uma práxis substantivamente política e adjetivamente pedagógica.

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Numa perspectiva dialética, politicidade e educabilidade emergem co-originariamente da mesma fundamentação ética e epistemológica da ação dialógica e, como tais, desdobram-se enquanto interfaces da práxis e entre si convergem reciprocamente, sem que percam sua identidade.

A teoria da ação dialógica de Freire, emancipatória e substantivamente democrática, tem sua base de fundamentação na radicalidade ontológica do ser humano – na vocação de mulheres e homens para ser mais – em que se inscreve a dialogicidade como exigência existencial.

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A fundamentação da teoria da ação dialógica de Freire manifesta-se em duas dimensões críticas convergentes e indissociáveis - ética e epistemológica - que configuram a formação da subjetividade na sua relação com o mundo. O ser humano constitui-se como sujeito ético e sujeito de conhecimento, na práxis dialógica.

Ora, a práxis dialógica desdobra-se na ação política revolucionária e na ação política educativa. Portanto, ambas compartilham deste duplo estatuto ético e epistemológico, na perspectiva de sua orientação emancipatória, radicalmente democrática e libertadora (a ação cultural para a liberdade).

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A ação dialógica, substantivamente orientada para a liberdade e para a democracia, direciona-se necessariamente para um amplo projeto de emancipação que envolve a humanização e a libertação de mulheres e homens.

Ora, no pensamento freiriano, a liberdade e a substantividade democrática são concebidas enquanto princípios fundamentalmente éticos da existência humana, já que se enraízam na própria radicalidade ontológica do ser humano – a de sua inconclusão que o impele a ser mais – e se realizam nos processos intersubjetivos da comunicação dialógica em que mulheres e homens se auto-reconhecem e se assumem em solidariedade como sujeitos.

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Por fim, na perspectiva freiriana da utopia emancipatória, liberdade e substantividade democrática se apresentam como referentes fundamentais para justificar a legitimidade do agir humano dialogicamente coordenado, cuja normatividade é engendrada no fundamento originário da dialogicidade: a experiência vital.

A experiência vital que insere e impulsiona o ser humano, inacabado e consciente de seu inacabamento, num permanente mover-se no mundo na busca por ser mais. Assim, constituindo-se social e historicamente, mulheres e homens se tornam capazes de intervir no mundo, criando e recriando sua existência individual e social.

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Diálogo e substantividade democrática

Elementos para uma fundamentação normativa dateoria da ação dialógica de Paulo Freire

Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia

Universidade Estadual de Londrina

Centro de Letras e Ciências Humanas

Departamento de Filosofia

E-mail: [email protected]

Londrina - Paraná

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17Elementos de fundamentação da teoria freiriana da ação dialógica