Como fazer teologia da libertação. Boff, Leonardo; Boff Clodovis.
Curso GESTÃO AMBIENTAL · 2013. 1. 29. · entrevista com Leonardo Boff que ressaltou questões...
Transcript of Curso GESTÃO AMBIENTAL · 2013. 1. 29. · entrevista com Leonardo Boff que ressaltou questões...
-
Curso GESTÃO AMBIENTAL
Disciplina
GESTÃO AMBIENTAL E
RECURSOS HÍDRICOS
-
Curso GESTÃO AMBIENTAL Disciplina
GESTÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS
Francisco FERREIRA
www.avm.edu.br
-
So
bre
os
au
tore
s
Professor: Francisco Pontes de Miranda Ferreira
Francisco estudou Jornalismo na PUC do Rio e Geografia na UFRJ.
Realizou Mestrado em Sociologia e Antropologia também pela UFRJ.
Atualmente atua como coordenador do Escritório Técnico do Mosaico
de Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense -
assessoria de comunicação, articulações políticas e elaboração de
relatórios científicos (www.mosaicocentral.org.br). Na ONG Espaço
Compartilharte, foi Assessor de Comunicação e Analista de Projetos
Ambientais – atuando com reportagens, textos, apresentações
informativas e educativas na área ambiental, oficinas de cidadania e
meio ambiente em instituições de ensino, participação em eventos
importantes da área socioambiental e elaboração de projetos
(www.espacocompartilharte.org.br). Trabalhou na OSCIP INNATUS
(Instituto Nacional de Tecnologia e Uso sustentável) na área
administrativa e de comunicação dentro de projetos ambientais. No
INNATUS também foi responsável pelo site e elaboração de projetos
(www.innatus.org.br). Antes disso, desenvolveu várias outras
atividades relacionadas com comunicação e meio ambiente. No Jornal
Poiésis, como Colaborador e Jornalista Responsável (desde 2001). Nos
Jornais “Popular” de Petrópolis e da Baixada Fluminense, como Editor
e Repórter. Trabalhou na Produção de documentário com a SDR (TV
do Sul da Alemanha), em 1995, filmado em Petrópolis e na Baixada
Fluminense em comunidades carentes, e terminado com uma
entrevista com Leonardo Boff que ressaltou questões ambientais e
sociais. Foi Membro da equipe do projeto “Plano de Manejo e
Zoneamento das Reservas El Nagual e Querência” pelo Fundo Nacional
do Meio Ambiente (FNMA) realizado em Magé-RJ. É Diretor Executivo
da Organização Não Governamental O Instituto Ambiental (OIA)
(www.oia.org.br) e membro da equipe de pesquisa e divulgação do
Projeto: “Reciclagem de Nutrientes da Biomassa“. Francisco faz parte
dos Conselhos do Comitê Bacias Hidrográficas Piabanha, Paquequer e
Preto e do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Atuou na
Coordenação e como professor do curso de capacitação de professores
em Educação Ambiental no Sindicato dos Professores do Rio de
Janeiro e no projeto de capacitação de professores em Educação
Ambiental: “Um Novo Olhar para a Educação Ambiental em
Saquarema” – Universidade Solidária (UNISOL) (2003). Foi
pesquisador do Projeto “Fronteiras em Mutação no Mundo da Soja:
logística e biotecnologia” em Mato Grosso, CNPq – UFRJ (2001 –
2002). Além disso, participou da Coordenação e execução do Projeto
“Indução ao Ecoturismo em Saquarema: uma estratégia para o
desenvolvimento local integrado e sustentável”, (UNISOL) 2002 e na
elaboração do Projeto “Monitoração e análise ambiental como
estratégia para a Gestão Participativa na Região das Baixadas
Litorâneas: o caso de Arraial do Cabo” (2001). Tem várias publicações
na área ambiental como o Capítulo de Livro “Sociedade e Natureza”,
pela Editora Bertrand Brasil, RJ, 2003 (ISBN 85-286-0992-8) e o
capítulo Enchentes no Rio de Janeiro: Efeitos da Urbanização no Rio
Grande – Jacarepaguá, no “Anuário do Instituto de Geociências” da
UFRJ, 1996. Escreveu verbetes para a Enciclopédia “Guerras e
Revoluções do Século XX”, da Editora Campus. Foi coordenador de
workshops e debates com parlamentares da Alemanha e da União
Europeia com elaboração de documento para a reunião do G8 em
Ostrhauderfehn e Bremen – Alemanha (maio 2007), com ênfase na
temática ambiental. Realizou entrevista para a TV Globo (Jornal da
Globo) sobre “Cidadania e Meio Ambiente”, exibido em 19/9/2003. Foi
comentarista no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental
(FICA) – SESC Teresópolis (18 e 19 de setembro – 2007).
-
Su
mário
07 Apresentação
09 Aula 1
Introdução à gestão dos recursos hídricos
31 Aula 2
Hidrologia
73 Aula 3
Legislação
91 Aula 4
Outorga
107 Aula 5
Comitês e agências de bacias
hidrográficas
123 Aula 6
Tecnologias
147 AV1
Estudo dirigido da disciplina
153 AV2 Trabalho acadêmico de
aprofundamento
155 Referências bibliográficas
-
Gestão Ambiental e
Recursos Hídricos
CA
DER
NO
DE
ES
TU
DO
S
Ap
res
en
taç
ão
Gestão é a ação de administrar, criar, produzir elementos, nutrir e manter. O gestor é aquele que interfere em algum setor produtivo. O gestor ambiental
tem uma responsabilidade especial já que interfere na natureza que é o elemento que garante a vida no planeta. Cabe ao gestor ambiental promover o uso dos recursos naturais e a produção de bens com sustentabilidade
socioambiental. Água é o elemento mais importante para a vida no planeta. Temos que cuidar bem da água para garantirmos o futuro das próximas gerações. No Brasil, o maior uso da água é agrícola, seguido do industrial e depois do doméstico. Cabe ao gestor administrar todos estes usos de forma participativa e promovendo a transformação de valores dentro de uma abordagem socioambiental. O caderno possui um texto teórico de introdução ao assunto em que merece destaque a importância da água como recurso
natural finito e de extrema necessidade para a sobrevivência. Na primeira parte, enfatizamos aspectos geomorfológicos com exemplos. Nas aulas 1 e 2, o aluno deve desenvolver uma consciência da necessidade de estarmos transformando comportamentos e de promover a gestão participativa. Enfatizaremos as diversas formas de interferência antrópica nos canais fluviais e seus impactos. Veremos a importância da geomorfologia e da hidrologia na
compreensão da formação dos canais fluviais e dos corpos de água em geral.
Enfatizaremos os efeitos negativos da ocupação urbana desordenada nos canais fluviais. Nas aulas 3 e 4, ressaltamos os aspectos legais e as organizações diversas que envolvem a gestão de recursos hídricos. Veremos o histórico das leis ambientais no Brasil e a importância da Política e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Na quinta parte, o aluno vai conhecer o funcionamento dos Comitês e das Agências com exemplos concretos. Na
parte 6, apresentamos diversas técnicas de uso de água e tratamento de resíduos. No final, o aluno é convidado a realizar um estudo de caso complexo em que terá a chance de realizar um planejamento estratégico de gestão de território e de instalações produtivas.
Ob
jeti
vo
s g
era
is
Este caderno de estudos tem como objetivos:
Criar um gestor de recursos naturais crítico e preocupado com o
futuro do planeta;
Apresentar as normas e regras que envolvem os recursos
hídricos no Brasil;
Desenvolver as diversas formas de participação na gestão dos
recursos hídricos;
Capacitar o aluno para planejamento de uso de recursos hídricos
nas instalações e no próprio território.
-
Introdução à Gestão dos Recursos
Hídricos
Francisco Pontes de Miranda Ferreira
AU
LA
1
Ap
res
en
taç
ão
A primeira aula é para apresentar a água como elemento chave,
as questões relacionadas com a gestão ambiental e a necessidade
de que essa gestão seja participativa. Introduzimos também a
educação ambiental como instrumento importante. A água é o
elemento mais importante para a vida. As primeiras ocupações
humanas se instalaram nas beiras dos rios. O mau uso da água
está comprometendo o futuro das próximas gerações. O gestor
ambiental tem que buscar urgentemente a administração racional
e sustentável dos recursos. Hoje sabemos que a gestão deve ser
realizada de forma participativa. Vamos ver como a água é
utilizada no Brasil e de que forma podemos melhorar a gestão
deste recurso finito e ameaçado. Destacaremos a necessidade de
mudarmos valores e comportamentos.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Reconhecer a importância da água e dos recursos hídricos em
geral;
Entender a necessidade da participação e da mudança de
hábitos;
Sensibilizar sobre o papel da educação e da informação para
transformar comportamentos.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 10
História
A água é o elemento mais importante para a
vida. A água é uma substância química composta de
hidrogênio e oxigênio. Existe em estado líquido, sólido
(gelo) e gasoso (vapor). Para os seres vivos, a água é
responsável por regular a temperatura do corpo e
transportar nutrientes e resíduos. A mudança da água
de estado sólido para líquido tem o nome de fusão e do
líquido para o sólido de solidificação.
As primeiras ocupações humanas aconteceram
nas beiras dos rios onde a água propiciava condições
essenciais para a vida social. As primeiras grandes
civilizações se desenvolveram nas margens dos grandes
rios. As tribos nômades se estabelecem e deixam de
ser nômades sempre em algum local em função da
oferta de água. A água possibilitou o desenvolvimento
da agricultura, a criação de animais e a formação de
raízes culturais. Os grandes rios também permitiram a
locomoção – transporte de produtos e a de pessoas em
busca de outros locais para a formação de novas
civilizações. As primeiras grandes civilizações surgiram
em torno dos rios Tigre, Eufrates e Nilo no Oriente
Médio, e Amarelo e Indo na Ásia, por volta do quarto
milênio antes de Cristo.
As gerações futuras estão comprometidas se
continuarmos consumindo água além da capacidade do
ciclo hidrológico de produzir. Passamos por uma
profunda crise de abastecimento de água. Cabe ao
gestor ambiental transformar os paradigmas que
envolvem o uso dos recursos hídricos no planeta. Para
isso, temos que promover uma urgente recuperação de
florestas para possibilitar a regeneração dos mananciais
e reverter imediatamente o quadro de poluição
(contaminação grave) provocado pela ocupação
urbana, pela industrialização e pela agropecuária. O
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 11
gestor deve se envolver no planejamento e na difusão
de informações para que transformações coletivas e
individuais sejam colocadas em prática.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 12
Gestão Ambiental
Gestão Ambiental
Condução, direção e controle do uso dos
recursos naturais através de
determinados instrumentos. Tarefa de
administrar o uso dos recursos visando a
qualidade ambiental. Assegurar o futuro
do ambiente com saúde.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 13
Gestão ambiental é a forma de administrar
recursos naturais de maneira racional e sustentável.
Deve sempre procurar a preservação da biodiversidade,
a redução máxima dos impactos ambientais e o
respeitos aos aspectos sociais e culturais. Toda gestão
deve ser realizada de forma participativa com o
envolvimento de vários atores de diversos setores da
sociedade. O gestor ambiental relacionado aos recursos
hídricos trabalha para reduzir, prevenir e eliminar a
poluição das águas, assim como das matas e do solo.
Deve sempre procurar melhorar as condições de vida
da sociedade. Preocupa-se, também, com a reciclagem
e o tratamento dos resíduos gerados pelas atividades
humanas (principalmente com os impactos gerados
pela ocupação urbana, pela indústria, pela produção de
energia e pela agricultura). O gestor deve se preocupar
com a educação ambiental e a informação. Deve
sempre chamar setores diversos da sociedade para o
diálogo e a busca de soluções. Participa, portanto, do
planejamento e do saneamento. Envolve um conjunto
de políticas públicas e práticas que levam em
consideração a proteção do meio ambiente, a saúde
das pessoas e a dignidade social. No caso dos recursos
hídricos, a gestão deve ter sempre a visão da bacia
hidrográfica como um todo. A gestão ambiental tem
sempre um caráter multidisciplinar e transversal.
Até o início dos anos de 1980, a política de
gestão e planejamento do uso do solo nos municípios
brasileiros cabia quase que exclusivamente às
autoridades e era definida pelo mercado. Cada vez mais
esta política autoritária está sendo substituída por
processos mais participativos, onde diversos atores
sociais podem e devem participar. Existe, portanto,
uma ampliação e uma descentralização das decisões
sobre a utilização do espaço urbano e rural.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 14
DESAFIOS DA GESTÃO PARTICIPATIVA
A gestão participativa dos recursos naturais é
essencial. Modelos baseados unicamente na estrutura
do Estado são insuficientes e ineficientes. Existe a
necessidade, cada vez maior, da presença das
Organizações Não Governamentais, Associações e
Cooperativas para solucionar problemas e administrar o
uso das águas e do solo. Para isso temos que criar
processos de decisão mais eficientes e estabelecer o
controle social das políticas públicas e do próprio
mercado. O Brasil tem uma tradição conservadora,
autoritária e paternalista que precisa ser ultrapassada.
O principal é produzir ações concretas, criar parceiros e
ter um ambiente participativo e transparente.
TRABALHO COMUNITÁRIO
A partir do início do século XX, a sociologia, a
antropologia social, a ecologia humana, a geografia, a
psicologia e outras ciências contribuíram para a
definição de comunidade, que deve ser visualizada
através de um conjunto de interações. A partir de
1939, surgiu nos Estados Unidos uma visão mais
dinâmica para conceituar comunidade. Os fatores
culturais ganharam maior destaque, assim como o
estudo dos fatores que podem provocar a estabilidade
ou a instabilidade da comunidade e da relação entre ela
e o indivíduo. Os cientistas sociais passaram, portanto,
a empregar os métodos qualitativos em conjunto com
os quantitativos. A comunidade passou a ser observada
com mobilidade – em permanente transformação e em
contato com a cultura e com um mundo social amplos.
A comunidade não forma uma situação social total –
não deve ser observada como um sistema isolado. Para
a sua análise contamos, portanto, com fatores culturais
e dinâmicos quantitativos e qualitativos. O limite de
uma comunidade não é apenas a quantidade de
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 15
pessoas envolvidas ou o tamanho da área, mas, muito
mais importante, a possibilidade de comunicação entre
os agentes que a compõem. O eixo da comunidade é,
portanto, a capacidade de comunicação e de
participação visando uma ação comum.
A falta de associações é um fator extremamente
limitante para o desenvolvimento econômico moderno.
Ou seja, quanto maior o nível de vida, maior será a
necessidade de organização e associação participativa e
política. Não interessa, entretanto, a quantidade de
organizações e associações numa comunidade, mas sim
a eficiência destas instituições. Um dos fatores
essenciais para a organização comunitária é que esta
tenha capacidade de visualizar um mundo que
ultrapasse a questão dos problemas familiares dentro
de casa e da vida individual – que as pessoas possam
enxergar a importância da união.
A sociedade e as formas de bem-estar social
promovidas pelo governo não podem ser consideradas
de forma separada do conjunto da sociedade. As
diversas organizações sociais devem interagir com as
políticas governamentais. A sociedade precisa ser mais
participativa – incluindo as organizações não
governamentais. O capitalismo financeiro absoluto é
insustentável e a grande questão para o futuro próximo
é como serão viabilizadas as novas formas de
solidariedade social. A cooperação (associação e
reciprocidade) é a grande saída para um século XXI
onde o estado terá força menor, mas a sociedade tem
que se organizar de alguma forma. Mas, cooperação
espontânea depende muito de “capital social”. A
confiança entre os agentes sociais aumenta a
cooperação entre legislativo, executivo e judiciário,
entre trabalhadores e patrões, entre grupos
particulares e governo e entre firmas particulares e
universidades. A apatia deve ser substituída pela
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 16
participação. Confiança social numa sociedade moderna
deriva de duas fontes relacionadas – normas de
reciprocidade e redes de engajamento cívico.
Principais Marcos
Em 1992, a Organização das Nações Unidas
(ONU) definiu o dia 22 de março como o “Dia Mundial
da Água”. Foi criado, então, um documento importante
conhecido como “Declaração Universal dos Direitos da
Água”:
A água é a seiva do nosso planeta. Ela
é a condição essencial de vida de todo
ser vegetal, animal ou humano. Sem
ela, não poderíamos conceber como é
a atmosfera, o clima, a vegetação, a
cultura ou a agricultura. O direito à
água é um dos direitos fundamentais
do ser humano: o direito à vida, tal
qual é estipulado no Artigo 3º da
Declaração dos Direitos do Homem.
(Artigo 2º)
No entanto, a água é um recurso limitado e vem
sofrendo todas as formas de agressões através da
poluição e do desmatamento principalmente. Em área
desmatada, a produção de água é afetada – fica
inviável o surgimento de nascentes e mananciais e o
próprio ciclo hidrológico é prejudicado com menos
evaporação e, portanto, menos chuva. Outro impacto
significativo vem sendo o desvio de canais fluviais, os
aterros diversos e a implantação de usinas
KIOTO – Março 2003 3º Fórum Mundial de Água
Crescimento Populacional com Poluição e Aquecimento Global Resultado: Diminuição drástica das reservas mundiais de água 20 anos –Água disponível para cada indivíduo – Reduzindo em 1/3 20% da População Mundial não têm acesso a água potável 40% Não possuem saneamento básico adequado 70% da água é utilizada na agricultura Escassez vai afetar a produção de alimentos Possibilidade de guerras pela água
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 17
hidroelétricas de grande porte. A degradação é
promovida principalmente pela ocupação urbana.
Indústria e ocupação urbana além de provocarem o
desmatamento, aumentam o despejo de resíduos e o
escoamento superficial. Resíduos domésticos, mesmo
sendo orgânicos em sua maioria, promovem muito
impacto quando despejados de forma concentrada e em
enormes volumes. A concentração urbana também
significa um consumo intenso de água em uma área
específica.
A Constituição de 1988 estabeleceu o Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e a
extrema importância das águas para a sobrevivência da
sociedade. Aconteceu em Dublin, na Irlanda, em 1992,
uma conferência internacional para discutir os recursos
hídricos que apontou os princípios para a gestão
participativa. A Conferência das Nações Unidas – Rio 92
criou a extremamente importante Agenda 21 que vem
direcionar as preocupações ambientais para o novo
século. Em 1995, foi criado o Instituto Nacional de Meio
Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA) e a
Secretaria de Recursos Hídricos, atual SRHU (Secretaria
de Recursos Hídricos e Ambientais Urbanos). Em 1997,
surgiu a Lei 9433 que introduziu os princípios de gestão
descentralizada e de participação, onde devem sempre
estar presentes o poder público, os usuários e as
comunidades através da sociedade civil organizada. No
presente, cabe à Agência Nacional de Águas (ANA)
buscar instrumentos de integração é aumentar as
diversas interfaces que desafiam a gestão dos recursos
hídricos no país. A ANA deve incentivar a capacitação e
o fortalecimento das instituições diversas que envolvem
a sobrevivência saudável das águas do Brasil. Para isso,
é essencial fortalecer os comitês – justamente a
temática principal do Encontro do Rio. A gestão ainda
depende muito da inserção dos municípios no
planejamento adequado do uso e da ocupação do solo.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 18
Reflexão
A maioria dos rios que atravessam as
cidades brasileiras estão deteriorados,
sendo este considerado o maior
problema ambiental brasileiro.
(Segundo o relatório: Gestão das
águas no Brasil UNESCO 2001)
PLANO DE BACIA
O plano é uma aposta no futuro de uma bacia
específica. O plano de bacia hidrográfica tem como
núcleo as disponibilidades e as demandas da bacia com
o objetivo de se preocupar com a quantidade e a
qualidade das águas. O diagnóstico caracteriza a
realidade presente com destaques para o meio físico e
as transformações sociais realizadas pelas ações
antrópicas. Os diversos instrumentos técnicos como
sensoriamento remoto e sistemas de informações
geográficas são de extrema relevância. Disponibilidade
hídrica, qualidade da água e demandas merecem
ênfase especial. É necessário, também, mapearmos as
políticas públicas e os investimentos na região, assim
como conhecer todos os atores e os muitos conflitos
existentes. Os prognósticos e cenários, por sua vez,
destacam vulnerabilidades e oportunidades. Temos
diversos cenários a serem traçados, desde os de
tendências até os imprevisíveis, com ressalto para os
planejados, prováveis e possíveis. No final, teremos
uma lista de potencialidades e fragilidades da bacia
com estimativas e projeções demográficas e
socioeconômicas. A articulação e a participação social
devem estar presentes sempre. O plano finalmente
conterá metas e diretrizes, recomendações, propostas
de medidas emergenciais e projetos, implantação de
instrumentos de gestão, programa de investimentos,
roteiro e avaliação e monitoramento.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 19
Abordagem socioambiental
A água possui várias funções: abastecimento
humano, irrigação, dessedentação de animais, energia
elétrica, indústria, lazer, estética... Ou seja, está
diretamente relacionada com as atividades sociais,
econômicas, culturais que realizamos no cotidiano. Um
indivíduo adulto necessita de cerca de dois litros de
água por dia para beber. Além disso utiliza muita água
para cozinhar e banhar-se. A água está inserida na
produção também de grande parte dos objetos que
consumimos diariamente. No entanto, o consumo da
água não é distribuído de forma igualitária. Alguns
consomem demais, como os grandes centros urbanos e
os países mais ricos. Outros sofrem com a escassez
como muitos países da África e do Oriente Médio.
Algumas atividades humanas que gastam excesso de
água são descarga de resíduos (como os banheiros),
lavagem de pisos e veículos, chafarizes. O desperdício
tem que ser evitado e isso envolve a construção de
nova consciência e de novos valores onde a natureza é
colocada como parte integrante e essencial da
existência. A degradação dos recursos hídricos está
relacionada diretamente com nosso comportamento. A
degradação e o desperdício chegaram a um ponto
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 20
muito crítico que temos que transformar a sociedade e
a maneira que consumimos. A disponibilidade de água
para as próximas gerações está em grande risco.
Um dos maiores problemas atuais é a escassez
de água. A boa gestão deste recurso natural é
fundamental para a sobrevivência do planeta. Cerca de
2/3 da água que consumimos é para a produção de
alimentos. Comida é água. É essencial o planejamento
do uso de água. O mau uso pode representar a falta de
alimentos. Muitos no mundo já sentem isso
diretamente. Segundo estudo da ONU, metade da
população do planeta vai enfrentar algum problema de
falta de água no século XXI. Hoje mais de 2 bilhões de
pessoas já sofrem com a escassez de água.
Outro problema grave são os poluentes que
estão destruindo as reservas de água. A poluição é um
fator de comportamento e cultural e, portanto,
extremamente social. Nosso modo de ver o mundo com
desrespeito à natureza, achando que se pode consumir
infinitamente é responsável pela enorme quantidade de
poluentes nos rios, lagos e oceanos. Agrotóxicos em
abundância no solo também poluem os recursos
hídricos – através do escoamento direto do material
tóxico e sua penetração no solo poluindo a água
subterrânea. O consumo de alimentos orgânicos tem
que aumentar e isso envolve um novo comportamento
social. A água doce do planeta, tão limitada, é a que
mais recebe poluentes. O principal é a poluição urbana
proveniente do esgoto. Logo em seguida vem a
poluição industrial. Outro grande problema é o
desmatamento. Sem proteção de mata nos topos dos
morros e ao longo dos rios (mata ciliar), o solo fica
exposto e mais propício para a erosão e a poluição. Os
rios acabam assoreados e alguns deixam até de existir.
A poluição de água pode ser de origem dispersa – como
no caso dos agrotóxicos e do lixo que escoam por todo
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 21
o território. Pode ser também pontual no caso da
descarga direta de esgoto ou poluente industrial. Uma
das soluções é o tratamento do esgoto ou do resíduo
industrial. Existem várias técnicas. Algumas com
produtos químicos e gasto de energia e outras
alternativas, promovendo a reciclagem. Reciclar o lixo é
importante. Mas, o mais essencial é transformarmos a
sociedade e seus comportamentos, principalmente
diminuindo o consumo.
Praticamente todos os 5.560 municípios do
Brasil possuem problemas com a qualidade dos
recursos hídricos e outras consequências provocadas
pelo mau uso das águas, segundo dados do IBGE de
2002. O problema mais citado na pesquisa do IBGE foi
o assoreamento que atinge 53% dos municípios. O
segundo maior problema foram as alterações
ambientais causadas pelo esgoto – 41% dos
municípios. O terceiro foi a poluição das águas por
outras fontes (38% dos municípios). Tudo isso
representa problemas sociais enormes como enchentes,
deslizamentos e inundações, fato que provoca
anualmente mortes e desabrigados. Lembrando
também que água poluída significa muitos problemas
diretos de saúde. A maioria das doenças tem origem
hídrica. Cada dólar investido em saneamento
representa quatro economizados com saúde, segundo a
OMS.
Educação Ambiental
No Brasil, os problemas ecológicos relacionados
com a urbanização e a industrialização estão
provocando o surgimento de políticas de proteção ao
meio ambiente com um potencial importante, tornando-
se um tema cada vez mais discutido na opinião pública.
Atualmente, poucos aspectos do mundo físico
continuam sendo apenas naturais - sem os efeitos da
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 22
intervenção humana - dando a conotação simbólica da
natureza como um aspecto novo e diferente. Hoje os
meios de comunicação e de informação influenciam
decisivamente na difusão das ideias que transformam o
mundo. Ecologia hoje não é apenas um conhecimento,
mas também organização, participação e
sustentabilidade.
No Brasil, é obrigatória a educação ambiental.
No entanto, não deve ser implantada como disciplina
específica no currículo de ensino e os educadores estão
completamente despreparados para exercer essa
tarefa. Além disso, não adianta nada colocar teoria
ambiental na cabeça dos alunos. É necessário criar
mudanças de valores, comportamentos e consumo e
transformações concretas no dia a dia das próprias
instituições de ensino, das comunidades e nas casas. O
incremento da educação ambiental deve influenciar
todo o conteúdo dos Projetos Políticos Pedagógicos das
instituições de ensino.
A Educação Ambiental deve ser tratada por
todas as disciplinas das escolas de Ensino Fundamental,
Médio e Superior de forma Interdisciplinar,
Multidisciplinar e Transversal. Deve estar incluída em
todas as atividades das instituições de ensino como
fator ético e de cidadania. O importante é trabalharmos
valores e transformações ontológicas, visando uma
melhor relação sociedade/natureza.
A Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999,
estabelece a política de Educação Ambiental e afirma
no Art. 2o que “a educação ambiental é um componente
essencial e permanente da educação nacional, devendo
estar presente, de forma articulada, em todos os níveis
e modalidades do processo educativo, em caráter
formal e não formal”. Ressalta que as instituições
educativas devem promover a educação ambiental de
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 23
maneira integrada aos programas educacionais que
desenvolvem e a sociedade como um todo deve
“manter atenção permanente à formação de valores,
atitudes e habilidades que propiciem a atuação
individual e coletiva voltada para a prevenção, a
identificação e a solução de problemas ambientais”.
Ainda é importante enfatizar o Art. 4o que estabelece os
princípios básicos da educação ambiental:
I - o enfoque humanista, holístico, democrático
e participativo;
II - a concepção do meio ambiente em sua
totalidade, considerando a interdependência entre o
meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o
enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de ideias e concepções
pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e
transdisciplinaridade.
Devemos ainda chamar a atenção para o Art.
10 que destaca que a “educação ambiental será
desenvolvida como uma prática educativa integrada,
contínua e permanente em todos os níveis e
modalidades do ensino formal”. Educação Ambiental só
terá valor mesmo quando educadores estiverem mais
preparados. No entanto, vemos muito pouco
investimento para capacitá-los. Uma das prioridades do
poder público deve ser a preparação e o
aprimoramento imediato de todos os educadores da
rede na prática da educação ambiental de forma inter e
multidisciplinar e transversal, agregada às
transformações concretas e como elemento condutor
dos Projetos Políticos Pedagógicos. O futuro do planeta
depende muito disso.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 24
Reflexão
Em seguida, temos um texto para reflexão.
Trata-se de uma CARTA ESCRITA NO ANO 2070
imaginando uma situação extremamente crítica de falta
de água no planeta. Situação muito provável se não
administrarmos imediatamente os recursos hídricos
com cuidado. Cabe ao gestor ambiental em conjunto
com toda a sociedade evitar desastre como o abaixo
descrito e garantir água e vida para as próximas
gerações: “Acabo de completar 50 anos, mas a
minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios
problemas renais porque bebo pouca água. Creio que
me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais
idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos.
Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores
nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu
podia desfrutar de um banho de chuveiro por
aproximadamente uma hora. Agora usamos toalhas em
azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as
mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras.
Agora, raspamos a cabeça para mantê-la limpa sem
água . Antes, meu pai lavava o carro com a água que
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 25
saía de uma mangueira. Hoje os meninos não
acreditam que utilizávamos a água dessa forma.
Recordo que havia muitos anúncios que diziam para
CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava atenção.
Pensávamos que a água jamais poderia terminar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e
mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados
ou esgotados. Imensos desertos constituem a paisagem
que nos rodeia por todos os lados. As infecções
gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias
urinárias são as principais causas de morte. A indústria
está paralisada e o desemprego é dramático. As
fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de
emprego e pagam aos empregados com água
potável em vez de salário. Os assaltos por um litro de
água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80%
sintética. Antes, a quantidade de água indicada
como ideal para se beber era oito copos por dia, por
pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa
é descartável, o que aumenta grandemente a
quantidade de lixo. Tivemos que voltar a usar as fossas
sépticas como no século passado porque a rede
de esgoto não funciona mais por falta de água. A
aparência da população é horrorosa:
corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação,
cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que
já não têm a capa de ozônio que os filtrava na
atmosfera. Com o ressecamento da pele, uma jovem de
20 anos parece ter 40. Os cientistas investigam, mas
não há solução possível. Não se pode fabricar água,
o oxigênio também está degradado por falta de
árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das
novas gerações. Alterou-se a morfologia dos gametas
de muitos indivíduos. Como consequência, há muitas
crianças com insuficiências, mutações e deformações. O
governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m3
por dia por habitante adulto. Quem não pode pagar é
retirado das "zonas ventiladas", que estão dotadas de
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 26
gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com
energia solar. Não são de boa qualidade, mas se pode
respirar. A idade média é de 35 anos. Em alguns países
restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio
que é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-
se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou
os diamantes. Aqui não há árvores porque quase nunca
chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, é
de chuva ácida. As estações do ano foram severamente
transformadas pelas provas atômicas e pela poluição
das indústrias do século XX. Advertiam que era preciso
cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando
era jovem, descrevo o quão bonito eram os bosques.
Falo da chuva e das flores, do agradável que era tomar
banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda
a água que quisesse. O quanto nós éramos saudáveis.
Ela pergunta-me: - Papai! Por que a água acabou?
Então, sinto um nó na garganta! Não posso deixar de
me sentir culpado porque pertenço à geração que
acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar
atenção a tantos avisos. Agora, nossos filhos pagam
um alto preço... Sinceramente, creio que a vida na
Terra já não será possível dentro de muito pouco
tempo, porque a destruição do meio ambiente chegou a
um ponto irreversível. Como gostaria de voltar atrás e
fazer com que toda a humanidade compreendesse
isto... Enquanto ainda era possível fazer algo para
salvar o nosso planeta Terra!”
Texto: publicado na revista "Crónicas de
los Tiempos“, de abril de 2002.
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 27
EXERCÍCIO 1
Pesquise algumas fontes de poluição de água, cite os
exemplos em sua região e faça um texto sobre o
assunto.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 2
Descreva a desigualdade na distribuição dos recursos
hídricos no mundo e no Brasil.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 3
Analise os marcos históricos ambientais citados e seus
resultados concretos na mudança dos hábitos da
sociedade.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 28
EXERCÍCIO 4
Pesquise as propostas de educação ambiental colocadas
na lei e acompanhe a prática de alguma instituição de
ensino – escreva um texto sobre o assunto.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 5
Com base nos dados sobre a distribuição de água no
mundo, desenvolva uma argumentação reflexiva e
crítica sobre como deve ser a atuação do gestor
ambiental neste cenário.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
EXERCÍCIO 6
O que é e como funciona o Plano de Bacia Hidrográfica?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 29
EXERCÍCIO 7
Qual das questões está correta:
( A ) Água é um recurso natural renovável;
( B ) A gestão dos recursos hídricos é de
responsabilidade do Estado;
( C ) Organizações Não Governamentais devem gerir os
recursos hídricos junto com os municípios;
( D ) A gestão dos recursos hídricos é de
responsabilidade de toda a sociedade.
EXERCÍCIO 8
Qual das respostas está correta:
( A ) O gestor ambiental deve se preocupar apenas
com a produtividade das empresas;
( B ) O gestor ambiental não pode se envolver com as
políticas públicas;
( C ) A educação ambiental é preocupação exclusiva
das escolas;
( D ) O gestor ambiental deve se preocupar com a
melhoria da qualidade de vida da população e
com a produtividade da empresa.
RESUMO
Vimos até agora:
A água é o elemento mais importante para a
vida e que as ocupações humanas sempre
procuraram a aproximação deste recurso;
As gerações futuras dependem de mudanças
urgentes de como utilizamos a água;
-
Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 30
Os desafios da gestão participativa e a
importância dos trabalhos comunitários;
A abordagem socioambiental para os recursos
hídricos;
A educação ambiental como ferramenta de
gestão. Se não cuidarmos bem da água
podemos provocar o fim da vida humana.
Cabe ao gestor ambiental buscar a
sustentabilidade socioambiental. A gestão dos
recursos naturais tem que ocorrer de forma
participativa;
No Brasil o maior uso da água é agrícola,
seguindo do industrial e depois dos usos
domésticos.
-
Hidrologia
Francisco Pontes de Miranda Ferreira
AU
LA
2
Ap
res
en
taç
ão
A segunda aula vai apresentar a hidrologia e o ciclo hidrológico e
aspectos geomorfológicos importantes para compreendermos as
bacias hidrográficas. A hidrologia estuda a distribuição, os
movimentos e a qualidade das águas. A água é um elemento
escasso, mal distribuído e ameaçado. A geomorfologia estuda os
processos que envolvem a formação dos canais fluviais e outros
corpos de água e merecerá destaque neste capítulo. Veremos
como o fato de o Brasil ter uma concentração urbana nas regiões
metropolitanas contribuiu para a destruição de rios e florestas.
Veremos como os canais fluviais têm sido impactados
incorretamente pela forma em que historicamente estamos
ocupando o território. Vamos estudar um caso de hidrologia
urbana na região Sudeste do Brasil.
Ob
jeti
vo
s
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
Compreender a ciência hidrológica;
Entender o ciclo hidrológico e seus componentes.
-
Aula 2 | Hidrologia 32
A hidrologia é o estudo da distribuição, dos
movimentos e da qualidade da água no planeta Terra.
O conjunto das águas no planeta forma a hidrosfera. A
hidrosfera em conjunto com a atmosfera e a litosfera
formam a biosfera que é a vida na Terra.
A água está presente nos corpos de água
distribuídos pelo planeta (oceanos, mares, rios, riachos,
lagos, lagoas, canais e poços), na atmosfera (como
chuva, neve, gelo e nuvem – líquido, sólido e gasoso) e
nos aquíferos (águas subterrâneas). No ciclo
geomorfológico, a água é essencial para o
intemperismo, transporte e depósito de sedimentos.
Segundo dados da ONU, temos cerca de 1.400
milhões de quilômetros cúbicos de água no planeta.
Cerca de 97% é composto por águas salgadas. Dos 3%
restantes ¾ são compostos de águas congeladas nas
geleiras e nos polos. Além disso, cerca de 97% da água
doce encontram-se nos aquíferos subterrâneos e
muitos são de difícil acesso. Da água utilizada pelas
atividades humanas, cerca de 80% vão para a
agricultura. O que significa que a diminuição da
produção de água ou sua contaminação representam
menos alimentos. 15% é utilizado pela indústria e
-
Aula 2 | Hidrologia 33
apenas cerca de 5% para o consumo direto humano –
ou seja, para beber, cozinhar, limpar e tomar banho. O
Brasil possui cerca de 13% da água do mundo, sendo
mais de 70% encontrada na Região Amazônica.
-
Aula 2 | Hidrologia 34
-
Aula 2 | Hidrologia 35
-
Aula 2 | Hidrologia 36
Geomorfologia e água
A geomorfologia é uma disciplina preocupada
com a descrição e a classificação das formas
topográficas da Terra. Uma das principais preocupações
da geomorfologia, também, é a pesquisa relacionada
com a origem das formas terrestres. A geomorfologia
trata, portanto, das forças que moldam e alteram os
elementos da superfície terrestre. Incluindo as
atividades tectônicas, os movimentos de massa, os
efeitos do clima, a erosão e os depósitos resultantes do
vento, do gelo e dos canais fluviais. Hoje
acrescentamos à geomorfologia os efeitos da ação
humana no ambiente físico.
A construção de grandes barragens e a
drenagem das zonas inundadas
também causaram impactos
importantes sobre os meios aquáticos,
ao detruírem os habitats.
(LÉVÊQUE, 1999: 152)
A geomorfologia é, portanto, um ramo da ciência
aliada com diversas outras disciplinas que envolvem a
natureza e a sociedade. A geomorfologia deve destacar
as formas e os processos, onde as atividades da água
merecem uma atenção especial. Os rios ganham
especial atenção já que são responsáveis pelo
transporte de água, de sedimentos e pela
transformação das formas topográficas, influenciando
no processo de erosão e de deposição de material. Os
fatores fluviais resultam, por sua vez, também de uma
combinação entre os processos de erosão, de
deposição, dos movimentos tectônicas e das estruturas
geológicas.
-
Aula 2 | Hidrologia 37
O ciclo hidrológico e a bacia de drenagem
Como afirma Coelho Netto, (1994) a água é um
dos elementos físicos mais importantes na formação da
paisagem terrestre atuando principalmente como
modelador do relevo.
O reconhecimento, a localização e a
quantificação dos fluxos de água nas
encostas são de fundamental
importância ao entendimento dos
processos geomorfológicos que
governam as transformações do relevo
sob as mais diversas condições
climáticas e geológicas.
(ps. 94-5)
-
Aula 2 | Hidrologia 38
A água está presente na atmosfera e acima ou
abaixo da superfície terrestre na forma líquida, sólida
ou gasosa. A bacia de drenagem drena água,
sedimentos e materiais na direção de uma saída
comum localizada num ponto específico do canal. O
limite da bacia é estabelecido pelo divisor de águas.
Existem bacias de drenagem de diversos tamanhos e
várias bacias interligadas formam um sistema de
drenagem. A precipitação é um fator essencial para
compreendermos o ciclo hidrológico. As chuvas podem
ser regionais ou locais. As regionais vão ser de maior
importância como, por exemplo, a entrada de frentes
frias mas os fatores climáticos locais também
influenciam. A cobertura vegetal tem como uma de
suas funções mais importantes interceptar parte da
precipitação pelo armazenamento e pela
evapotranspiração. A retirada e a modificação da
vegetação podem, portanto, causar significantes
transformações no escoamento da água e até no clima
local ou regional. A infiltração da água no solo é outro
fator essencial. O solo vai definir a quantidade de água
que vai infiltrar ou escoar. A água na superfície corre
mais rapidamente do que na profundidade. O solo vai
afetar tanto o escoamento superficial quanto o sub-
superficial. Tudo isso vai ser de enorme importância na
modelação do relevo. As águas subterrâneas também
devem ser levadas em consideração já que alterações
podem provocar danos ambientais de forte impacto.
A retirada em excesso de água
subterrânea ou a contaminação por
elementos poluentes pode causar
grandes danos ecológicos e, por isso,
sua utilização deve ser regulamentada.
(COELHO NETTO: 1994: 114)
Os solos são formados por várias partículas de
diferentes composições minerais e de diversos
tamanhos. Os espaços vazios são os poros que podem
ser preenchidos por água. Quando totalmente
-
Aula 2 | Hidrologia 39
preenchidos, são chamados de saturados. Tudo isto vai
afetar o direcionamento e o tempo do escoamento da
água. As características do solo também afetam
diretamente a infiltração.
Outro fator importante na compreensão das
bacias hidrográficas são os tipos de leito, de canal e de
rede de drenagem. Cunha (1994) descreve bem os
tipos de leito (ps. 212-13):
O leito menor corresponde à parte do canal
ocupada pelas águas e cuja frequência
impede o crescimento da vegetação –
delimitado por margens bem definidas;
O leito de vazante equivale à parte do canal
ocupada durante o escoamento das águas de
vazante;
O leito maior, também denominado leito
maior periódico ou sazonal, é ocupado pela
águas do rio regularmente e, pelo menos uma
vez ao ano, durante as cheias, é possível
haver a fixação e o crescimento de vegetação
herbácea;
O leito maior excepcional é ocupado durante
as grandes cheias, no decorrer das
enchentes.
Cunha também demonstra os tipos de canal (ps.
214-20):
Os canais retilíneos são pouco frequentes,
exceto em trechos curtos dos rios ou os controlados por
linhas tectônicas, associados ao leito rochoso de igual
resistência à atuação da água;
Os canais anastomosados caracterizam-se por
apresentar sucessivas ramificações ou múltiplos canais
separados por ilhas e bancos de areia;
Os canais meandrantes são encontrados
geralmente nas áreas mais úmidas e com vegetação
ciliar – definindo margens de erosão e de deposição.
-
Aula 2 | Hidrologia 40
A drenagem fluvial é constituída por um
conjunto de canais de escoamento interligados e a área
drenada por esse sistema é chamada de bacia de
drenagem. Os fatores mais importantes são a
topografia, a cobertura vegetal, o tipo de solo, a
litologia e a estrutura das rochas. Quando a drenagem
se dirige para o mar, é denominada de exorreica e
quando vai na direção de um lago ou uma areia, é
chamada de endorreica. Além disso, existe a
classificação genética que considera a inclinação das
camadas geológicas: consequente (originando o curso
retilíneo), subsequente (acompanha as linha de
fraqueza), obsequente (canal de pouca extensão que
corre no sentido contrário ao rio consequente),
ressequente (desemboca em um rio subsequente) e
insequente (corre de acordo com o terreno e em
direção variada). Uma bacia hidrográfica pode ter
diferentes padrões geométricos e diversos subtipos
(CUNHA, 1994: 223-26).
-
Aula 2 | Hidrologia 41
-
Aula 2 | Hidrologia 42
Climas da terra
Os principais elementos do clima são
temperatura (sol); pressão atmosférica (relacionada
com a temperatura), onde zonas frias representam as
altas pressões e as zonas quentes a baixa pressão;
ventos (deslocamento de ar da alta para a baixa
pressão) e umidade do ar. Um ar com 100% de
umidade encontra-se saturado, fato que provoca a
condensação (nuvens). A condensação num primeiro
momento provoca a liberação de calor dando início à
chuva. Existem vários tipos de condensação em
superfície. O orvalho que provoca gotículas de água é
mais comum no campo do que na cidade, o nevoeiro
que é comum nos vales (provocado pela inversão
térmica já que o vale é aquecido no dia e resfriado à
noite), a geada (de grande impacto nas plantações), a
nebulosidade e a precipitação. Existem três tipos de
precipitação: a chuva, a neve e o granizo (cristais de
gelo de nuvens altas).
Temos os fatores climáticos do clima zonais
como a latitude, as grandes linhas do relevo, a
distribuição de terras e mares, as correntes marítimas,
as influências das atividades humanas e os fatores
locais como o relevo, a vegetação, os rios e lagos, as
rochas, as cidades, o desmatamento e as atividades
rurais. A latitude influi na temperatura em função da
inclinação do eixo da Terra. Temos, portanto, o solstício
de verão e inverno (nos dias 21 de junho e 21 de
dezembro) e o equinócio de primavera e outono (nos
dias 23 de setembro e 21 de março). Fatos que vão
afetar todo o clima do planeta. As grandes linhas de
relevo são caracterizadas pelas cadeias montanhosas
terciárias, onde algumas cadeias ficam no sentido
Norte-Sul como as Rochosas na América do Norte e os
Andes na América do Sul. Outras ficam no sentido
Oeste-Leste como os Alpes na Europa e o Himalaia na
Ásia.
-
Aula 2 | Hidrologia 43
Nuvens: As nuvens são divididas em altas (5-
13 km de altitude) – cirros, cirros-estratos e cirros-
cúmulos – formadas por cristais de gelo; os cirros são
nuvens esparsas cuja aparência é sempre tênue e
fibrosa, lembram chumaços de algodão. As cirros-
estratos cobrem o céu de maneira total ou parcial, mas
não ocultam o sol nem a lua e formam um halo em
torno do foco de luz; médias (2-7 km) – altos-estratos
(forma estirada, fibrosa ou uniforme e se dispõem em
lençóis ou camadas de coloração azulada ou
acinzentada. Cobrem o céu de maneira total ou parcial
mas não impedem a visão do sol), nimbos-estratos
(apresentam coloração cinzento-escura, são densas o
bastante para ocultar o sol e de forma difusa devido à
precipitação de neve ou chuva que geralmente atinge o
solo) e altos-cúmulos (nuvens de aspecto globular,
formadas por flocos, lençóis ou camadas de aspecto
achatado) e baixas (menos de 2 km) – estratos-
cúmulos (formam manchas, camadas e lençóis
cinzentos de coloração embranquecida e quase sempre
com porções escuras), estratos (com o contorno bem
delineado quando deixam entrever o sol são em geral
de cor cinza, têm base uniforme e produzem granizo,
gelo ou prismas de neve), cúmulos (têm parte superior
mais larga – semelhantes a cogumelos, compostas de
flocos grandes) e cúmulos-nimbos (têm formas que
lembram montanhas e torres com grande extensão
vertical e podem apresentar precipitação abaixo da
base).
As precipitações atmosféricas estão
geralmente ligadas a algumas poucas
famílias de nuvens: altos-estratos,
nimbos-estratos e cúmulos-nimbos.
Essas últimas são muitas vezes
associadas a chuvas fortes, neve ou
granizo, trovoadas e até furacões. A
chuva constante, que dura o dia
inteiro, é geralmente produzida por
altos-estratos ou nimbos-estratos.
(ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO
BRASIL PUBLICAÇÕES LTDA. 1999)
-
Aula 2 | Hidrologia 44
Outro fator climático importante é a recepção da
energia solar pela Terra. A intensidade da radiação
solar depende do período do ano, do período do dia e
da latitude. No hemisfério sul, por exemplo, no dia 3 de
janeiro (perinélio) temos um intensidade de radiação
solar 7% maior do que no dia 4 de junho (afélio). Os
efeitos da atmosfera na radiação solar devem ser
destacados como a dispersão seletiva que é
responsável pelo azul do céu, a reflexão difusa
provocada pelas nuvens e a absorção seletiva realizada
pela camada de ozônio (ultravioleta), o vapor d’água, o
gás carbônico, o metano, o nitrato e o CFC
(infravermelho). É neste último efeito atmosférico que
encontramos o problema do efeito estufa (onde ocorre
a forte absorção da radiação terrestre em contraste
com a fraca absorção da radiação solar) e da formação
de ilhas de calor nas áreas poluídas urbanas. A
absorção também vai ser influenciada pela distribuição
entre terras e mares (continentalidade).
O sol é a única fonte de energia
importante para a Terra. A energia
solar é, sem dúvida alguma, a causa
geratriz de todos os fenômenos que
ocorrem na atmosfera terrestre. A
energia solar, absorvida pela superfície
da Terra, provoca seu aquecimento. a
superfície aquecida passa a irradiar
calor, uma parte do qual é absorvida
por nuvens e por partículas em
suspensão. Uma parte do calor
absorvido por nuvens e por poeiras é
devolvido à superfície (efeito estufa).
O efeito estufa aumenta com a
poluição atmosférica e tende a tornar
a Terra mais aquecida. (SILVA M. V.,
1992 – Programa para computador:
Universidade Federal Rural de
Pernambuco).
A região tropical recebe mais energia solar
durante o ano e fica entre 30ºN e 30ºS.
-
Aula 2 | Hidrologia 45
CLIMATOLOGIA DOS TRÓPICOS
A pesquisa relacionada com o tempo e o clima é
muito importante para as ciências ambientais e,
consequentemente, para o estudo das bacias
hidrográficas. Em nossa região tropical, a precipitação
ganha um destaque ainda mais significativo.
A variabilidade da precipitação pluvial
é importante nos trópicos, pois tende a
ser mais variável do que na região
temperada e também é mais sazonal
em sua incidência dentro do ano.
(AYOADE, 1998: 172)
Para os estudos da hidrologia, um dos fatores
importantes relacionados com a precipitação tropical é
a frequência de tempestades de forte impacto. O
intervalo de ocorrência dessas tempestades vai
influenciar muito no canal fluvial. As tempestades
tropicais são desigualmente distribuídas ao longo dos
meses ou até do dia, como em alguns casos quando
chove forte por poucas horas. Estas concentrações vão
afetar toda a bacia hidrográfica. A variação sazonal
também vai influir na evaporação. Quanto maior o
número de instrumentos de medição climática,
presentes na bacia hidrográfica, melhor serão a
qualidade da monitorização da área e o planejamento
para o futuro.
As principais massas de ar tropicais, que se
formam na América do sul, são a Tropical Continental e
a Tropical Marítima. As regiões formadores de massas
de ar estão nas proximidades dos polos e na faixa dos
trópicos – são zonas com predominância de altas
pressões (anticiclones). O ar polar frio de alta pressão
tende a ir para os trópicos e o ar tropical quente de
baixa pressão para os polos. Ao migrar para a zona
tropical, a frente fria vai provocando a substituição do
ar quente por ar frio à superfície. O ar frio e denso
-
Aula 2 | Hidrologia 46
desloca-se junto à superfície terrestre. O ar frio passa a
se aquecer, em contato com a superfície, provocando
instabilidade e formação de nuvens cúmulos e cúmulos-
nimbos. A chuva acontece logo após a passagem da
frente fria, muitas vezes acompanhada de trovoadas
(SILVA M. V., 1992 – Programa para computador:
Universidade Federal Rural de Pernambuco).
Em toda a região Sudeste do Brasil, existe uma
distribuição irregular de chuvas ao longo do ano. Um
período de estiagem no inverno e um período de
chuvas fortes no verão. Este modelo é caracterizado
como pluvial-tropical. No Estado do Rio de Janeiro, a
chegada de frentes frias no verão é intensificada devido
à posição geográfica do estado. O seu litoral aponta
diretamente para o sul, de onde chegam as correntes
polares oceânicas da Antártica. Outra característica do
estado é a aproximação das serras ao norte, com
altitudes acima de 1000 metros (Bocaina, Mantiqueira e
Órgãos) e paralelas ao litoral. As frentes frias se
desordenam ao encontrarem a serra e tentarem
transpô-la, para penetrar no interior do continente. No
verão, o intenso aquecimento do continente atrai as
massas polares.
DRENAGEM URBANA
-
Aula 2 | Hidrologia 47
O Brasil tem mais de 70% de sua população
morando em regiões metropolitanas. As enchentes são
problemas constantes - principalmente no sudeste e no
sul do país - onde as chuvas de verão são concentradas
e intensas e o crescimento urbano acelerado. A
geomorfologia fluvial urbana adquire, com isso, uma
fundamental importância. Envolvendo geografia,
engenharia, meteorologia, biologia, urbanismo e
história. Desenvolvendo-se como ciência essencial para
a melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos. A
água merece um destaque especial na formação do Rio
de Janeiro. Cidade os entre morros e o oceano, com
milhares de rios, riachos e corpos aquáticos e semi
aquáticos como lagoas, alagados e mangues. Desde o
início da fundação, os administradores vêm
promovendo aterros, canalizações e dessecamentos
sobre os rios e os terrenos alagados. Da mesma forma,
o Rio de Janeiro vem perdendo seu solo permeável -
coberto pela vegetação. Por todas estas razões, o
investimento em geomorfologia fluvial urbana necessita
ser avaliado com maior seriedade. Trabalho que deve
ser interdisciplinar e envolver toda a sociedade. O
problema dos canais fluviais urbanos são numerosos e
graves (como enchentes, poluição e desmoronamento
das margens). A própria urbanização sem planejamento
é a principal causa dos distúrbios. As soluções
convencionais, com obras de engenharia, são
extremamente caras, provocam desequilíbrios graves e
não resolvem o problema de forma definitiva. Aos
poucos, os técnicos estão se conscientizando que os
cuidados com a vegetação, evitando o excesso de
escoamento, são mais eficientes.
Muitas mudanças fluviais ocorrem devido à
atividade humana que transforma o comportamento da
descarga e da carga sólida dos rios. As atividades de
maior destaque são remoção da vegetação,
desmatamento e urbanização. Cada canal apresenta
-
Aula 2 | Hidrologia 48
características e efeitos específicos. As mudanças
podem ser estudadas pela observação de
transformações ao longo do tempo, através do estudo
de dados cartográficos, pela coleta direta de alterações
na descarga e na forma do rio, pela análise da
produção de sedimentos e pela observação das
transformações climáticas. As obras de engenharia são
de grande impacto e as alterações em toda a bacia e na
planície de inundação vão ocasionar efeitos em cadeia,
muitas vezes irreversíveis. As obras de engenharia em
canais compreendem todas as formas de modificações
realizadas para a utilização do rio para abastecimento
de água, navegação ou eletricidade e toda forma de
contenção contra a ação das águas. As obras visam
também a prevenção contra as enchentes. O rio vai
sempre tender a meandrar nas planícies, mesmo se
retificado artificialmente. A velocidade da água depende
da inclinação do terreno. As obras de canalização,
retificação e alargamento vão alterar a velocidade a
jusante e a montante. As obras de engenharia em
canais são realizadas desde a antiguidade. Os egípcios
e os romanos foram pioneiros - com obras de grande
impacto.
A Bacia de drenagem compreende a
geomorfologia das encostas, topos, fundos de vales,
corpos de água subterrânea e ocupação do solo. A
urbanização vai ser de grande efeito em todo o
complexo da drenagem, que deve ser compreendido
como um sistema aberto. A energia do escoamento é
aumentada pela atividade humana, ampliando a
frequência de cheias. O aprofundamento e o
alargamento de canais, através de obras de
engenharia, elevam a velocidade do fluxo do canal. Os
impactos atingem tanto a água superficial quanto a
subterrânea.
-
Aula 2 | Hidrologia 49
A resistência da calha é diminuída pela retirada
da vegetação na beira dos canais. A cobertura vegetal
na bacia de drenagem tem um papel fundamental para
interceptar parte da precipitação. Com a cobertura do
solo pela urbanização, a quantidade de água que vai
atingir o canal aumenta drasticamente. Vários textos
importantes comprovam o argumento acima. A
expansão urbana sobre uma bacia hidrográfica pode
produzir aumento significativo na frequência das
enchentes. O desenvolvimento acelerado das regiões
metropolitanas brasileiras tem resultado em alto grau
de problemas em relação as enchentes. O solo urbano
tem sido ocupado de forma desordenada trazendo com
isso problemas sérios nos sistemas de drenagem pluvial
(TUCCI, BRAGA JR. E SILVEIRA, 1989: 77-101).
A enchente urbana é um problema muito
frequente na realidade brasileira, já que o
gerenciamento do desenvolvimento urbano não tem
considerado o controle de enchentes. Com o
desenvolvimento urbano ocorre a impermeabilização do
solo, através de telhados, ruas calçadas, pátios, entre
outros. Dessa forma, a parcela que infiltrava passa a
escoar pelos condutos, aumentando o escoamento
superficial. O volume que escorria lentamente pela
superfície do solo ficava retido pelas plantas, com a
-
Aula 2 | Hidrologia 50
urbanização passa a escoar no canal, exigindo maior
capacidade de escoamento das seções. Os efeitos
principais da urbanização são o aumento da vazão
máxima, antecipação do pico e aumento do volume do
escoamento superficial.
As inundações localizadas podem ser provocadas
por:
Estrangulamento da seção do rio devido a
aterros e pilares de pontes, estradas, aterros
para aproveitamento da área e assoreamento
do leito do rio e lixo;
Remanso devido a macrodrenagem, rio
principal, lago, reservatório ou oceano;
Erros de execução e projeto de drenagem de
rodovias, avenidas, entre outros.
Normalmente, esses problemas se disseminam
nas áreas urbanas à medida que existe pouco controle
sobre as diferentes entidades que atuam na
infraestrutura urbana. Adutoras, pontes ou rodovias
são frequentemente projetadas sem considerar seu
impacto sobre a drenagem. Essas inundações
normalmente ocorrem em diferentes pontos das
cidades isoladamente ou pela combinação dessas
situações. A vazão máxima aumenta devido à
urbanização com duas condições principais: a
impermeabilização e a redução do tempo de
deslocamento do escoamento. A impermeabilização faz
com que parte significativa da água que se infiltraria,
escoe pelos pavimentos até o pluvial, aumentando o
escoamento superficial de cada parcela urbana. Com a
construção de condutos pluviais, canais e outros
dispositivos hidráulicos, o escoamento chega mais
rápido a jusante, reduzindo o tempo de concentração
da bacia. A duração da precipitação também diminui,
aumentando a intensidade para o mesmo tempo de
retorno e em consequência, a vazão.
-
Aula 2 | Hidrologia 51
As medidas de controle de inundações podem
ser classificadas em estruturais, quando o homem
modifica o rio (medidas de controle através de obras
hidráulicas tais como barragem, diques, canalização,
entre outras) e em não estruturais quando o homem
convive com o rio (encontram-se medidas do tipo
preventivo como zoneamento de áreas de inundação,
alerta da inundação e seguros). Evidentemente que as
medidas estruturais envolvem custos maiores que as
medidas não estruturais.
A tendência de controle das cheias urbanas
devido a urbanização são realizadas na maioria das
vezes através da canalização dos trechos críticos. Esse
tipo de solução segue a visão particular de um trecho
da bacia, sem que as consequências sejam previstas
para o restante da mesma ou dentro de diferentes
horizontes de ocupação urbana. A canalização dos
pontos críticos acabam apenas transferindo a inundação
de um lugar para outro na bacia (TUCCI,1994:117-
136).
A infiltração é uma das parcelas importantes na
quantificação dos processos hidrológicos em bacias
urbanas. A estimativa dessa variável esbarra na grande
variedade das superfícies urbanas existente nos
cenários das cidades brasileiras. Os principais impactos
devidos ao desenvolvimento de uma área urbana sobre
os processos hidrológicos são decorrentes da ocupação
do solo. A bacia é revestida em grande parte da sua
superfície através de edificações, ruas, calçadas, entre
outros. Em consequência desse revestimento, a
percentagem da água que infiltra é reduzida, uma vez
que as novas superfícies são impermeáveis ou quase
impermeáveis; os pontos de detenção superficial são
eliminados nas áreas construídas; a rugosidade das
superfícies é reduzida; os pequenos canais da
drenagem natural são substituídos por tubulações
-
Aula 2 | Hidrologia 52
subterrâneas; os canais da drenagem natural são
retificados e revestidos; e os problemas de escoamento
superficial não são pequenos. A consequência dessa
nova ocupação do solo é a produção de um maior
volume de escoamento superficial num tempo menor,
resultando num aumento da vazão de pico, redução do
tempo de concentração e diminuição da vazão de base.
O primeiro ponto fundamental de todas essas
alterações é a separação do escoamento das águas da
chuva, indicando a importância dos processos de
infiltração. O solo em áreas urbanas passa também a
não apresentar suas características naturais de
infiltração, porque a ação antrópica significa, além do
revestimento do solo, escavação, aterro, compactação
e mistura de materiais de diferentes granulometrias.
Dentro desse contexto, é necessário avaliar o
seguinte:
As características da infiltração de superfícies
urbanas típicas;
A mudança nas características do
escoamento, devido à diminuição da
detenção, que ocorre de maneira distribuída
numa bacia hidrográfica rural;
A diminuição da rugosidade decorrente das
superfícies de revestimento serem mais lisas
que o solo natural.
O escoamento superficial em superfícies urbanas
está sujeito ao tipo de cobertura e da infiltração. O
escoamento superficial é uma das parcelas do ciclo
hidrológico na bacia urbana que tem maior significado
no dimensionamento e controle da drenagem pluvial.
(GENZ & TUCCI,1995:105-128)
-
Aula 2 | Hidrologia 53
O desenvolvimento urbano brasileiro tem
ocorrido sem nenhum controle sobre a ampliação da
vazão causada por essa ocupação. Como resultado, o
somatório do efeito dos loteamentos sobre a
macrodrenagem tem gerado frequentes enchentes na
maioria das cidades. Usualmente, a abordagem do
problema tem sido realizada através da construção de
canais que apenas transferem as enchentes de um
lugar para outro dentro da bacia. O controle da
drenagem deve buscar evitar que as cheias naturais
sejam ampliadas. As medidas de controle podem ser
realizadas sobre o lote, o loteamento e na
macrodrenagem.
As medidas de controle do escoamento podem
ser classificadas de acordo com sua ação na bacia
hidrográfica em:
Distribuída ou na fonte: é o tipo de controle
que atua sobre o lote, praças e passeios;
Na microdrenagem: é o controle que age
sobre o hidrograma resultante de um ou mais
loteamentos;
Na macrodrenagem: é o controle sobre os
principais riachos urbanos.
As medidas de controle podem ser organizadas
de acordo com a sua ação sobre o hidrograma em cada
uma das partes das bacias mencionadas acima em:
Infiltração e percolação: normalmente cria
espaço para que a água tenha maior
infiltração e percolação no solo, utilizando o
armazenamento e o fluxo subterrâneo para
retardar o escoamento superficial;
Armazenamento: através de reservatórios
que podem ser de tamanho adequado para
uso numa residência (1-3 m³) até na macro-
-
Aula 2 | Hidrologia 54
drenagem urbana (alguns milhares de m³). O
efeito do reservatório urbano é o de reter
parte do volume do escoamento superficial,
reduzindo o seu pico e distribuindo a vazão
no tempo;
Aumento da eficiência do escoamento:
através de condutos e canais, drenando áreas
inundadas. Esse tipo de solução tende a
transferir enchentes de uma área para outra,
mas pode ser benéfico quando utilizado em
conjunto com reservatórios de detenção;
Diques e estações de bombeamento: solução
tradicional de controle localizado de
enchentes em áreas urbanas que não
possuem espaço para amortecimento da
inundação.
As principais medidas de controle localizado no
lote, estacionamento, parques e passeios, normalmente
denominadas de controle na fonte (source control), são
as seguintes:
O aumento de áreas de infiltração e
percolação ;
O armazenamento temporário em
reservatórios residenciais ou telhados.
As principais características do controle local do
escoamento são as seguintes:
Aumento da eficiência do sistema de drenagem
de jusante dos locais de controlados;
Aumento da capacidade de controle de
enchentes do sistema;
Dificuldade de controlar, projetar e fazer
manutenção de um grande número de
sistemas;
Custos de operação e manutenção podem ser
altos.
-
Aula 2 | Hidrologia 55
A ocupação de um lote urbano, a priori, tem
premissas básicas determinadas pela legislação
municipal que conformam o projeto de edificação. Além
dessas premissas básicas, existem fatores
socioeconômicos que influenciam sobre a forma de
ocupação, principalmente, os costumes da população e
o custo da propriedade. Com a exploração do
crescimento das cidades, o mercado de imóveis seguiu
a tradicional lei da oferta e procura, elevando os preços
das terras em áreas urbanas. O alto custo faz com que
os projetos de edificação busquem o maior
aproveitamento possível do lote urbano, induzindo a
maior impermeabilização do solo. Um exemplo típico é
-
Aula 2 | Hidrologia 56
a destinação de áreas não edificáveis para
estacionamento de carros que, na sua maioria, são
pavimentadas com superfícies impermeáveis ou muito
pouco permeáveis. (GENZ & TUCCI, 1995: 129-152)
AS ROCHAS
As rochas podem ser classificadas de acordo
com a origem ou com a composição química. Quanto à
origem são divididas em três tipos: magmáticas,
sedimentares e metamórficas.
As rochas magmáticas podem ser intrusivas ou
plutônicas quando solidificadas no interior da crosta,
como o granito, e extrusivas ou vulcânicas quando
solidificadas em superfície como a pedra-pomes. Essas
rochas cristalizam-se e formam os minerais. Os
minerais compõem as rochas. As rochas plutônicas se
cristalizam lentamente e as vulcânicas rapidamente,
formando uma massa homogênea.
As rochas sedimentares são resultantes da ação
dos agentes exógenos como a chuva, o vento, o calor.
Estes agentes provocam o desgaste das rochas através
do intemperismo. O material é depois transportado pela
erosão e finalmente depositado em outro local.
-
Aula 2 | Hidrologia 57
Solidificam-se e acabam virando outra rocha. As rochas
sedimentares são divididas em três tipos, também,
segundo a origem. As mecânicas ou clásticas como o
arenito, o argilito, o siltito e os folhelhos, as orgânicas
formadas por galhos, folhas, troncos, animais e fósseis.
Os exemplos mais conhecidos são o petróleo e o carvão
mineral. O outro grupo é formado pelas rochas
sedimentares de origem química como o calcário
presente nas grutas de Maquiné, em Minas Gerais, e de
Bonito, no Mato Grosso do Sul.
O último grupo é formado pelas rochas
metamórficas, resultantes de quando as rochas
magmáticas e sedimentares sofrem pressão e
transformações. Portanto, temos rochas metamórficas
magmáticas (ortoderivadas), como o ortognais, e as
rochas magmáticas sedimentares (paraderivadas) como
o quartzito presente na pedra de São Tomé e na
ardósia. Temos também o paragnaisse. O carvão
mineral metamorfizado, por exemplo, se transforma no
famoso diamante e o calcário metamorfizado vira
mármore. O processo de metamorfose provoca a
reorganização dos minerais. Existem graus de
metamorfose: alto (como o mármore), médio e baixo
(como a ardósia).
As rochas também podem ser classificadas
segundo a composição química. Ou seja, quanto à
quantidade de sílica presente nas rochas. A composição
química vai definir como as rochas vão reagir ao
intemperismo.
SiO2
Ultrabásica Básica Intermediária Ácida
40% 70%
Devemos, agora, destacar as estruturas
tectônicas resultantes da força da gravidade, do fluxo
do magma e das intrusões, provocando movimentos de
-
Aula 2 | Hidrologia 58
expansão e de contração das rochas. As estruturas são,
portanto, geradas por movimentos de rompimento
(rúptil) onde a rigidez da rocha é maior ou de
dobramento, onde a plasticidade é maior devido ao
calor superior. As fraturas são movimentos rúpteis onde
não há movimentação dos blocos provocando, por isso,
a quebra. As falhas são também movimentos rúpteis
onde há movimentação dos blocos e, portanto, a
quebra e o deslocamento. As falhas são de três tipos
básicos: inversas, normais ou transcorrentes. Mas, a
mais comum é a oblíqua que é formada pela
combinação do movimento normal e do transcorrente.
As dobras são movimentos de dúcteis que afetam a
rocha compacta ou as camadas. Podendo formar “zonas
de cisalhamento” que são pequenas fraturas. As dobras
são anticlinais, sinclinais, redobradas ou recumbentes.
A foliação, por sua vez, depende da formação da rocha,
onde o alinhamento é relativo ao processo de formação
delas, ao processo de dobra ou os dois ao mesmo
tempo. Neste caso, a rocha encontra-se num estágio
mais pastoso. Os planos formados pelas estruturas têm
orientação (em relação ao Norte magnético) de acordo
com o mergulho. É necessário, portanto, descrevermos
a “zip direction” (direção do mergulho) e o ângulo do
mergulho (dip angle). A água procura percorrer pelas
fraturas, falhas e as zonas de dobra – formando rios e
lagos. O relevo, portanto, é consequência dos fatores
exógenos e endógenos que modificam a paisagem.
O intemperismo é o efeito da atividade dos
agentes externos no processo de desintegração das
rochas. Acontece na interface entre as forças
endógenas e exógenas. O regolito é o produto do
intemperismo que inclui o material inconsolidado que
recobre o substrato geológico (o material sólido é a
rocha). O regolito pode ser “in situ” (autóctone) ou
transportado (autóctone). O solo é o regolito com
horizontes definidos e com o material orgânico. As
rochas básicas são menos resistentes e, por isso, vão
-
Aula 2 | Hidrologia 59
ser mais rapidamente intemperizadas (como o basalto).
Já as rochas ácidas são mais resistentes e a ação do
intemperismo é mais demorada (como o quartzito). Os
fatores que influenciam no intemperismo são geológicos
– como a mineralogia da rocha, a origem da rocha
(plutônica, vulcânica, sedimentar ou metamórfica) e a
presença de estruturas tectônicas (a física da
paisagem); climáticos – como a quantidade de água e o
regime pluviométrico, a temperatura (provocando a
dilatação e a contração da rocha) e a amplitude
térmica; e geomorfológicos (provocando áreas de
dispersão ou de concentração de água e material).
Existem três tipos de intemperismo: físico, que consiste
na quebra da rocha em fragmentos sem alteração das
moléculas (proveniente da espoliação térmica, da ação
das geleiras ou pelo intemperismo biológico físico como
a ação de raízes de árvores); e químico, que envolve,
por sua vez, a desintegração das moléculas e
formando, portanto, as argilas minerais. Os minerais
primários com o intemperismo químico se transformam
em minerais secundários (argila). O intemperismo
químico pode ser por dissolução (quando o mineral se
dissolve na água), por hidrólise (quando o composto é
quebrado pela água) e por oxidação (como o óxido de
ferro e o óxido de alumínio). Existe também o
intemperismo biológico químico quando a matéria
orgânica age sobre a rocha.
-
Aula 2 | Hidrologia 60
Estudo de Caso de Hidrologia Urbana
Publicado em 1996, no Anuário do Instituto de
Geociências (UFRJ)
Enchentes no Rio de Janeiro: Efeitos da
Urbanização no Rio Grande - Jacarepaguá
-
Aula 2 | Hidrologia 61
O rio Grande tem a maior parte de seu curso
localizado na baixada de Jacarepaguá, entre os maciços
da Pedra Branca (W) e da Tijuca (E). A bacia
hidrográfica do rio Grande ocupa uma área de 99 mil
km2, sendo 70% em área urbana. O canal principal
corta os bairros de Pau da Fome, Taquara, Covanca,
Freguesia, Cidade de Deus e Jardim Gardênia Azul. De
acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a população de
Jacarepaguá, em 1991, era de 427 mil e 791
habitantes. Em 1980 a população da região era de 101
mil e 156 habitantes. Significando que o número
quadruplicou em apenas uma década (1980 - 1991).
Hoje, a população deve estar em torno de 500 mil. O
conjunto de modificações realizadas para o crescimento
urbano, em especial na calha fluvial, e a ocupação
irregular têm provocado o aumento da ocorrência e do
volume de enchentes catastróficas.
É muito provável que o crescimento urbano
desorganizado, ao longo do rio Grande, tenha alterado
os intervalos de recorrência de cheias e tornado os
sistemas de drenagem inadequados. As catástrofes
estariam, então, diretamente relacionadas com isso.
Houve, sem dúvida, uma enorme redução da
capacidade de infiltração do solo e um crescimento do
escoamento superficial. A Mata Atlântica, que ocupava