Curso GESTÃO AMBIENTAL · 2013. 1. 29. · entrevista com Leonardo Boff que ressaltou questões...

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Curso GESTÃO AMBIENTAL Disciplina GESTÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS

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  • Curso GESTÃO AMBIENTAL

    Disciplina

    GESTÃO AMBIENTAL E

    RECURSOS HÍDRICOS

  • Curso GESTÃO AMBIENTAL Disciplina

    GESTÃO AMBIENTAL E RECURSOS HÍDRICOS

    Francisco FERREIRA

    www.avm.edu.br

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    Professor: Francisco Pontes de Miranda Ferreira

    Francisco estudou Jornalismo na PUC do Rio e Geografia na UFRJ.

    Realizou Mestrado em Sociologia e Antropologia também pela UFRJ.

    Atualmente atua como coordenador do Escritório Técnico do Mosaico

    de Unidades de Conservação da Mata Atlântica Central Fluminense -

    assessoria de comunicação, articulações políticas e elaboração de

    relatórios científicos (www.mosaicocentral.org.br). Na ONG Espaço

    Compartilharte, foi Assessor de Comunicação e Analista de Projetos

    Ambientais – atuando com reportagens, textos, apresentações

    informativas e educativas na área ambiental, oficinas de cidadania e

    meio ambiente em instituições de ensino, participação em eventos

    importantes da área socioambiental e elaboração de projetos

    (www.espacocompartilharte.org.br). Trabalhou na OSCIP INNATUS

    (Instituto Nacional de Tecnologia e Uso sustentável) na área

    administrativa e de comunicação dentro de projetos ambientais. No

    INNATUS também foi responsável pelo site e elaboração de projetos

    (www.innatus.org.br). Antes disso, desenvolveu várias outras

    atividades relacionadas com comunicação e meio ambiente. No Jornal

    Poiésis, como Colaborador e Jornalista Responsável (desde 2001). Nos

    Jornais “Popular” de Petrópolis e da Baixada Fluminense, como Editor

    e Repórter. Trabalhou na Produção de documentário com a SDR (TV

    do Sul da Alemanha), em 1995, filmado em Petrópolis e na Baixada

    Fluminense em comunidades carentes, e terminado com uma

    entrevista com Leonardo Boff que ressaltou questões ambientais e

    sociais. Foi Membro da equipe do projeto “Plano de Manejo e

    Zoneamento das Reservas El Nagual e Querência” pelo Fundo Nacional

    do Meio Ambiente (FNMA) realizado em Magé-RJ. É Diretor Executivo

    da Organização Não Governamental O Instituto Ambiental (OIA)

    (www.oia.org.br) e membro da equipe de pesquisa e divulgação do

    Projeto: “Reciclagem de Nutrientes da Biomassa“. Francisco faz parte

    dos Conselhos do Comitê Bacias Hidrográficas Piabanha, Paquequer e

    Preto e do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Atuou na

    Coordenação e como professor do curso de capacitação de professores

    em Educação Ambiental no Sindicato dos Professores do Rio de

    Janeiro e no projeto de capacitação de professores em Educação

    Ambiental: “Um Novo Olhar para a Educação Ambiental em

    Saquarema” – Universidade Solidária (UNISOL) (2003). Foi

    pesquisador do Projeto “Fronteiras em Mutação no Mundo da Soja:

    logística e biotecnologia” em Mato Grosso, CNPq – UFRJ (2001 –

    2002). Além disso, participou da Coordenação e execução do Projeto

    “Indução ao Ecoturismo em Saquarema: uma estratégia para o

    desenvolvimento local integrado e sustentável”, (UNISOL) 2002 e na

    elaboração do Projeto “Monitoração e análise ambiental como

    estratégia para a Gestão Participativa na Região das Baixadas

    Litorâneas: o caso de Arraial do Cabo” (2001). Tem várias publicações

    na área ambiental como o Capítulo de Livro “Sociedade e Natureza”,

    pela Editora Bertrand Brasil, RJ, 2003 (ISBN 85-286-0992-8) e o

    capítulo Enchentes no Rio de Janeiro: Efeitos da Urbanização no Rio

    Grande – Jacarepaguá, no “Anuário do Instituto de Geociências” da

    UFRJ, 1996. Escreveu verbetes para a Enciclopédia “Guerras e

    Revoluções do Século XX”, da Editora Campus. Foi coordenador de

    workshops e debates com parlamentares da Alemanha e da União

    Europeia com elaboração de documento para a reunião do G8 em

    Ostrhauderfehn e Bremen – Alemanha (maio 2007), com ênfase na

    temática ambiental. Realizou entrevista para a TV Globo (Jornal da

    Globo) sobre “Cidadania e Meio Ambiente”, exibido em 19/9/2003. Foi

    comentarista no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental

    (FICA) – SESC Teresópolis (18 e 19 de setembro – 2007).

  • Su

    mário

    07 Apresentação

    09 Aula 1

    Introdução à gestão dos recursos hídricos

    31 Aula 2

    Hidrologia

    73 Aula 3

    Legislação

    91 Aula 4

    Outorga

    107 Aula 5

    Comitês e agências de bacias

    hidrográficas

    123 Aula 6

    Tecnologias

    147 AV1

    Estudo dirigido da disciplina

    153 AV2 Trabalho acadêmico de

    aprofundamento

    155 Referências bibliográficas

  • Gestão Ambiental e

    Recursos Hídricos

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    Gestão é a ação de administrar, criar, produzir elementos, nutrir e manter. O gestor é aquele que interfere em algum setor produtivo. O gestor ambiental

    tem uma responsabilidade especial já que interfere na natureza que é o elemento que garante a vida no planeta. Cabe ao gestor ambiental promover o uso dos recursos naturais e a produção de bens com sustentabilidade

    socioambiental. Água é o elemento mais importante para a vida no planeta. Temos que cuidar bem da água para garantirmos o futuro das próximas gerações. No Brasil, o maior uso da água é agrícola, seguido do industrial e depois do doméstico. Cabe ao gestor administrar todos estes usos de forma participativa e promovendo a transformação de valores dentro de uma abordagem socioambiental. O caderno possui um texto teórico de introdução ao assunto em que merece destaque a importância da água como recurso

    natural finito e de extrema necessidade para a sobrevivência. Na primeira parte, enfatizamos aspectos geomorfológicos com exemplos. Nas aulas 1 e 2, o aluno deve desenvolver uma consciência da necessidade de estarmos transformando comportamentos e de promover a gestão participativa. Enfatizaremos as diversas formas de interferência antrópica nos canais fluviais e seus impactos. Veremos a importância da geomorfologia e da hidrologia na

    compreensão da formação dos canais fluviais e dos corpos de água em geral.

    Enfatizaremos os efeitos negativos da ocupação urbana desordenada nos canais fluviais. Nas aulas 3 e 4, ressaltamos os aspectos legais e as organizações diversas que envolvem a gestão de recursos hídricos. Veremos o histórico das leis ambientais no Brasil e a importância da Política e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Na quinta parte, o aluno vai conhecer o funcionamento dos Comitês e das Agências com exemplos concretos. Na

    parte 6, apresentamos diversas técnicas de uso de água e tratamento de resíduos. No final, o aluno é convidado a realizar um estudo de caso complexo em que terá a chance de realizar um planejamento estratégico de gestão de território e de instalações produtivas.

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    Este caderno de estudos tem como objetivos:

    Criar um gestor de recursos naturais crítico e preocupado com o

    futuro do planeta;

    Apresentar as normas e regras que envolvem os recursos

    hídricos no Brasil;

    Desenvolver as diversas formas de participação na gestão dos

    recursos hídricos;

    Capacitar o aluno para planejamento de uso de recursos hídricos

    nas instalações e no próprio território.

  • Introdução à Gestão dos Recursos

    Hídricos

    Francisco Pontes de Miranda Ferreira

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    A primeira aula é para apresentar a água como elemento chave,

    as questões relacionadas com a gestão ambiental e a necessidade

    de que essa gestão seja participativa. Introduzimos também a

    educação ambiental como instrumento importante. A água é o

    elemento mais importante para a vida. As primeiras ocupações

    humanas se instalaram nas beiras dos rios. O mau uso da água

    está comprometendo o futuro das próximas gerações. O gestor

    ambiental tem que buscar urgentemente a administração racional

    e sustentável dos recursos. Hoje sabemos que a gestão deve ser

    realizada de forma participativa. Vamos ver como a água é

    utilizada no Brasil e de que forma podemos melhorar a gestão

    deste recurso finito e ameaçado. Destacaremos a necessidade de

    mudarmos valores e comportamentos.

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    Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

    capaz de:

    Reconhecer a importância da água e dos recursos hídricos em

    geral;

    Entender a necessidade da participação e da mudança de

    hábitos;

    Sensibilizar sobre o papel da educação e da informação para

    transformar comportamentos.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 10

    História

    A água é o elemento mais importante para a

    vida. A água é uma substância química composta de

    hidrogênio e oxigênio. Existe em estado líquido, sólido

    (gelo) e gasoso (vapor). Para os seres vivos, a água é

    responsável por regular a temperatura do corpo e

    transportar nutrientes e resíduos. A mudança da água

    de estado sólido para líquido tem o nome de fusão e do

    líquido para o sólido de solidificação.

    As primeiras ocupações humanas aconteceram

    nas beiras dos rios onde a água propiciava condições

    essenciais para a vida social. As primeiras grandes

    civilizações se desenvolveram nas margens dos grandes

    rios. As tribos nômades se estabelecem e deixam de

    ser nômades sempre em algum local em função da

    oferta de água. A água possibilitou o desenvolvimento

    da agricultura, a criação de animais e a formação de

    raízes culturais. Os grandes rios também permitiram a

    locomoção – transporte de produtos e a de pessoas em

    busca de outros locais para a formação de novas

    civilizações. As primeiras grandes civilizações surgiram

    em torno dos rios Tigre, Eufrates e Nilo no Oriente

    Médio, e Amarelo e Indo na Ásia, por volta do quarto

    milênio antes de Cristo.

    As gerações futuras estão comprometidas se

    continuarmos consumindo água além da capacidade do

    ciclo hidrológico de produzir. Passamos por uma

    profunda crise de abastecimento de água. Cabe ao

    gestor ambiental transformar os paradigmas que

    envolvem o uso dos recursos hídricos no planeta. Para

    isso, temos que promover uma urgente recuperação de

    florestas para possibilitar a regeneração dos mananciais

    e reverter imediatamente o quadro de poluição

    (contaminação grave) provocado pela ocupação

    urbana, pela industrialização e pela agropecuária. O

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 11

    gestor deve se envolver no planejamento e na difusão

    de informações para que transformações coletivas e

    individuais sejam colocadas em prática.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 12

    Gestão Ambiental

    Gestão Ambiental

    Condução, direção e controle do uso dos

    recursos naturais através de

    determinados instrumentos. Tarefa de

    administrar o uso dos recursos visando a

    qualidade ambiental. Assegurar o futuro

    do ambiente com saúde.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 13

    Gestão ambiental é a forma de administrar

    recursos naturais de maneira racional e sustentável.

    Deve sempre procurar a preservação da biodiversidade,

    a redução máxima dos impactos ambientais e o

    respeitos aos aspectos sociais e culturais. Toda gestão

    deve ser realizada de forma participativa com o

    envolvimento de vários atores de diversos setores da

    sociedade. O gestor ambiental relacionado aos recursos

    hídricos trabalha para reduzir, prevenir e eliminar a

    poluição das águas, assim como das matas e do solo.

    Deve sempre procurar melhorar as condições de vida

    da sociedade. Preocupa-se, também, com a reciclagem

    e o tratamento dos resíduos gerados pelas atividades

    humanas (principalmente com os impactos gerados

    pela ocupação urbana, pela indústria, pela produção de

    energia e pela agricultura). O gestor deve se preocupar

    com a educação ambiental e a informação. Deve

    sempre chamar setores diversos da sociedade para o

    diálogo e a busca de soluções. Participa, portanto, do

    planejamento e do saneamento. Envolve um conjunto

    de políticas públicas e práticas que levam em

    consideração a proteção do meio ambiente, a saúde

    das pessoas e a dignidade social. No caso dos recursos

    hídricos, a gestão deve ter sempre a visão da bacia

    hidrográfica como um todo. A gestão ambiental tem

    sempre um caráter multidisciplinar e transversal.

    Até o início dos anos de 1980, a política de

    gestão e planejamento do uso do solo nos municípios

    brasileiros cabia quase que exclusivamente às

    autoridades e era definida pelo mercado. Cada vez mais

    esta política autoritária está sendo substituída por

    processos mais participativos, onde diversos atores

    sociais podem e devem participar. Existe, portanto,

    uma ampliação e uma descentralização das decisões

    sobre a utilização do espaço urbano e rural.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 14

    DESAFIOS DA GESTÃO PARTICIPATIVA

    A gestão participativa dos recursos naturais é

    essencial. Modelos baseados unicamente na estrutura

    do Estado são insuficientes e ineficientes. Existe a

    necessidade, cada vez maior, da presença das

    Organizações Não Governamentais, Associações e

    Cooperativas para solucionar problemas e administrar o

    uso das águas e do solo. Para isso temos que criar

    processos de decisão mais eficientes e estabelecer o

    controle social das políticas públicas e do próprio

    mercado. O Brasil tem uma tradição conservadora,

    autoritária e paternalista que precisa ser ultrapassada.

    O principal é produzir ações concretas, criar parceiros e

    ter um ambiente participativo e transparente.

    TRABALHO COMUNITÁRIO

    A partir do início do século XX, a sociologia, a

    antropologia social, a ecologia humana, a geografia, a

    psicologia e outras ciências contribuíram para a

    definição de comunidade, que deve ser visualizada

    através de um conjunto de interações. A partir de

    1939, surgiu nos Estados Unidos uma visão mais

    dinâmica para conceituar comunidade. Os fatores

    culturais ganharam maior destaque, assim como o

    estudo dos fatores que podem provocar a estabilidade

    ou a instabilidade da comunidade e da relação entre ela

    e o indivíduo. Os cientistas sociais passaram, portanto,

    a empregar os métodos qualitativos em conjunto com

    os quantitativos. A comunidade passou a ser observada

    com mobilidade – em permanente transformação e em

    contato com a cultura e com um mundo social amplos.

    A comunidade não forma uma situação social total –

    não deve ser observada como um sistema isolado. Para

    a sua análise contamos, portanto, com fatores culturais

    e dinâmicos quantitativos e qualitativos. O limite de

    uma comunidade não é apenas a quantidade de

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 15

    pessoas envolvidas ou o tamanho da área, mas, muito

    mais importante, a possibilidade de comunicação entre

    os agentes que a compõem. O eixo da comunidade é,

    portanto, a capacidade de comunicação e de

    participação visando uma ação comum.

    A falta de associações é um fator extremamente

    limitante para o desenvolvimento econômico moderno.

    Ou seja, quanto maior o nível de vida, maior será a

    necessidade de organização e associação participativa e

    política. Não interessa, entretanto, a quantidade de

    organizações e associações numa comunidade, mas sim

    a eficiência destas instituições. Um dos fatores

    essenciais para a organização comunitária é que esta

    tenha capacidade de visualizar um mundo que

    ultrapasse a questão dos problemas familiares dentro

    de casa e da vida individual – que as pessoas possam

    enxergar a importância da união.

    A sociedade e as formas de bem-estar social

    promovidas pelo governo não podem ser consideradas

    de forma separada do conjunto da sociedade. As

    diversas organizações sociais devem interagir com as

    políticas governamentais. A sociedade precisa ser mais

    participativa – incluindo as organizações não

    governamentais. O capitalismo financeiro absoluto é

    insustentável e a grande questão para o futuro próximo

    é como serão viabilizadas as novas formas de

    solidariedade social. A cooperação (associação e

    reciprocidade) é a grande saída para um século XXI

    onde o estado terá força menor, mas a sociedade tem

    que se organizar de alguma forma. Mas, cooperação

    espontânea depende muito de “capital social”. A

    confiança entre os agentes sociais aumenta a

    cooperação entre legislativo, executivo e judiciário,

    entre trabalhadores e patrões, entre grupos

    particulares e governo e entre firmas particulares e

    universidades. A apatia deve ser substituída pela

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 16

    participação. Confiança social numa sociedade moderna

    deriva de duas fontes relacionadas – normas de

    reciprocidade e redes de engajamento cívico.

    Principais Marcos

    Em 1992, a Organização das Nações Unidas

    (ONU) definiu o dia 22 de março como o “Dia Mundial

    da Água”. Foi criado, então, um documento importante

    conhecido como “Declaração Universal dos Direitos da

    Água”:

    A água é a seiva do nosso planeta. Ela

    é a condição essencial de vida de todo

    ser vegetal, animal ou humano. Sem

    ela, não poderíamos conceber como é

    a atmosfera, o clima, a vegetação, a

    cultura ou a agricultura. O direito à

    água é um dos direitos fundamentais

    do ser humano: o direito à vida, tal

    qual é estipulado no Artigo 3º da

    Declaração dos Direitos do Homem.

    (Artigo 2º)

    No entanto, a água é um recurso limitado e vem

    sofrendo todas as formas de agressões através da

    poluição e do desmatamento principalmente. Em área

    desmatada, a produção de água é afetada – fica

    inviável o surgimento de nascentes e mananciais e o

    próprio ciclo hidrológico é prejudicado com menos

    evaporação e, portanto, menos chuva. Outro impacto

    significativo vem sendo o desvio de canais fluviais, os

    aterros diversos e a implantação de usinas

    KIOTO – Março 2003 3º Fórum Mundial de Água

    Crescimento Populacional com Poluição e Aquecimento Global Resultado: Diminuição drástica das reservas mundiais de água 20 anos –Água disponível para cada indivíduo – Reduzindo em 1/3 20% da População Mundial não têm acesso a água potável 40% Não possuem saneamento básico adequado 70% da água é utilizada na agricultura Escassez vai afetar a produção de alimentos Possibilidade de guerras pela água

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 17

    hidroelétricas de grande porte. A degradação é

    promovida principalmente pela ocupação urbana.

    Indústria e ocupação urbana além de provocarem o

    desmatamento, aumentam o despejo de resíduos e o

    escoamento superficial. Resíduos domésticos, mesmo

    sendo orgânicos em sua maioria, promovem muito

    impacto quando despejados de forma concentrada e em

    enormes volumes. A concentração urbana também

    significa um consumo intenso de água em uma área

    específica.

    A Constituição de 1988 estabeleceu o Sistema

    Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e a

    extrema importância das águas para a sobrevivência da

    sociedade. Aconteceu em Dublin, na Irlanda, em 1992,

    uma conferência internacional para discutir os recursos

    hídricos que apontou os princípios para a gestão

    participativa. A Conferência das Nações Unidas – Rio 92

    criou a extremamente importante Agenda 21 que vem

    direcionar as preocupações ambientais para o novo

    século. Em 1995, foi criado o Instituto Nacional de Meio

    Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA) e a

    Secretaria de Recursos Hídricos, atual SRHU (Secretaria

    de Recursos Hídricos e Ambientais Urbanos). Em 1997,

    surgiu a Lei 9433 que introduziu os princípios de gestão

    descentralizada e de participação, onde devem sempre

    estar presentes o poder público, os usuários e as

    comunidades através da sociedade civil organizada. No

    presente, cabe à Agência Nacional de Águas (ANA)

    buscar instrumentos de integração é aumentar as

    diversas interfaces que desafiam a gestão dos recursos

    hídricos no país. A ANA deve incentivar a capacitação e

    o fortalecimento das instituições diversas que envolvem

    a sobrevivência saudável das águas do Brasil. Para isso,

    é essencial fortalecer os comitês – justamente a

    temática principal do Encontro do Rio. A gestão ainda

    depende muito da inserção dos municípios no

    planejamento adequado do uso e da ocupação do solo.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 18

    Reflexão

    A maioria dos rios que atravessam as

    cidades brasileiras estão deteriorados,

    sendo este considerado o maior

    problema ambiental brasileiro.

    (Segundo o relatório: Gestão das

    águas no Brasil UNESCO 2001)

    PLANO DE BACIA

    O plano é uma aposta no futuro de uma bacia

    específica. O plano de bacia hidrográfica tem como

    núcleo as disponibilidades e as demandas da bacia com

    o objetivo de se preocupar com a quantidade e a

    qualidade das águas. O diagnóstico caracteriza a

    realidade presente com destaques para o meio físico e

    as transformações sociais realizadas pelas ações

    antrópicas. Os diversos instrumentos técnicos como

    sensoriamento remoto e sistemas de informações

    geográficas são de extrema relevância. Disponibilidade

    hídrica, qualidade da água e demandas merecem

    ênfase especial. É necessário, também, mapearmos as

    políticas públicas e os investimentos na região, assim

    como conhecer todos os atores e os muitos conflitos

    existentes. Os prognósticos e cenários, por sua vez,

    destacam vulnerabilidades e oportunidades. Temos

    diversos cenários a serem traçados, desde os de

    tendências até os imprevisíveis, com ressalto para os

    planejados, prováveis e possíveis. No final, teremos

    uma lista de potencialidades e fragilidades da bacia

    com estimativas e projeções demográficas e

    socioeconômicas. A articulação e a participação social

    devem estar presentes sempre. O plano finalmente

    conterá metas e diretrizes, recomendações, propostas

    de medidas emergenciais e projetos, implantação de

    instrumentos de gestão, programa de investimentos,

    roteiro e avaliação e monitoramento.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 19

    Abordagem socioambiental

    A água possui várias funções: abastecimento

    humano, irrigação, dessedentação de animais, energia

    elétrica, indústria, lazer, estética... Ou seja, está

    diretamente relacionada com as atividades sociais,

    econômicas, culturais que realizamos no cotidiano. Um

    indivíduo adulto necessita de cerca de dois litros de

    água por dia para beber. Além disso utiliza muita água

    para cozinhar e banhar-se. A água está inserida na

    produção também de grande parte dos objetos que

    consumimos diariamente. No entanto, o consumo da

    água não é distribuído de forma igualitária. Alguns

    consomem demais, como os grandes centros urbanos e

    os países mais ricos. Outros sofrem com a escassez

    como muitos países da África e do Oriente Médio.

    Algumas atividades humanas que gastam excesso de

    água são descarga de resíduos (como os banheiros),

    lavagem de pisos e veículos, chafarizes. O desperdício

    tem que ser evitado e isso envolve a construção de

    nova consciência e de novos valores onde a natureza é

    colocada como parte integrante e essencial da

    existência. A degradação dos recursos hídricos está

    relacionada diretamente com nosso comportamento. A

    degradação e o desperdício chegaram a um ponto

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 20

    muito crítico que temos que transformar a sociedade e

    a maneira que consumimos. A disponibilidade de água

    para as próximas gerações está em grande risco.

    Um dos maiores problemas atuais é a escassez

    de água. A boa gestão deste recurso natural é

    fundamental para a sobrevivência do planeta. Cerca de

    2/3 da água que consumimos é para a produção de

    alimentos. Comida é água. É essencial o planejamento

    do uso de água. O mau uso pode representar a falta de

    alimentos. Muitos no mundo já sentem isso

    diretamente. Segundo estudo da ONU, metade da

    população do planeta vai enfrentar algum problema de

    falta de água no século XXI. Hoje mais de 2 bilhões de

    pessoas já sofrem com a escassez de água.

    Outro problema grave são os poluentes que

    estão destruindo as reservas de água. A poluição é um

    fator de comportamento e cultural e, portanto,

    extremamente social. Nosso modo de ver o mundo com

    desrespeito à natureza, achando que se pode consumir

    infinitamente é responsável pela enorme quantidade de

    poluentes nos rios, lagos e oceanos. Agrotóxicos em

    abundância no solo também poluem os recursos

    hídricos – através do escoamento direto do material

    tóxico e sua penetração no solo poluindo a água

    subterrânea. O consumo de alimentos orgânicos tem

    que aumentar e isso envolve um novo comportamento

    social. A água doce do planeta, tão limitada, é a que

    mais recebe poluentes. O principal é a poluição urbana

    proveniente do esgoto. Logo em seguida vem a

    poluição industrial. Outro grande problema é o

    desmatamento. Sem proteção de mata nos topos dos

    morros e ao longo dos rios (mata ciliar), o solo fica

    exposto e mais propício para a erosão e a poluição. Os

    rios acabam assoreados e alguns deixam até de existir.

    A poluição de água pode ser de origem dispersa – como

    no caso dos agrotóxicos e do lixo que escoam por todo

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 21

    o território. Pode ser também pontual no caso da

    descarga direta de esgoto ou poluente industrial. Uma

    das soluções é o tratamento do esgoto ou do resíduo

    industrial. Existem várias técnicas. Algumas com

    produtos químicos e gasto de energia e outras

    alternativas, promovendo a reciclagem. Reciclar o lixo é

    importante. Mas, o mais essencial é transformarmos a

    sociedade e seus comportamentos, principalmente

    diminuindo o consumo.

    Praticamente todos os 5.560 municípios do

    Brasil possuem problemas com a qualidade dos

    recursos hídricos e outras consequências provocadas

    pelo mau uso das águas, segundo dados do IBGE de

    2002. O problema mais citado na pesquisa do IBGE foi

    o assoreamento que atinge 53% dos municípios. O

    segundo maior problema foram as alterações

    ambientais causadas pelo esgoto – 41% dos

    municípios. O terceiro foi a poluição das águas por

    outras fontes (38% dos municípios). Tudo isso

    representa problemas sociais enormes como enchentes,

    deslizamentos e inundações, fato que provoca

    anualmente mortes e desabrigados. Lembrando

    também que água poluída significa muitos problemas

    diretos de saúde. A maioria das doenças tem origem

    hídrica. Cada dólar investido em saneamento

    representa quatro economizados com saúde, segundo a

    OMS.

    Educação Ambiental

    No Brasil, os problemas ecológicos relacionados

    com a urbanização e a industrialização estão

    provocando o surgimento de políticas de proteção ao

    meio ambiente com um potencial importante, tornando-

    se um tema cada vez mais discutido na opinião pública.

    Atualmente, poucos aspectos do mundo físico

    continuam sendo apenas naturais - sem os efeitos da

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 22

    intervenção humana - dando a conotação simbólica da

    natureza como um aspecto novo e diferente. Hoje os

    meios de comunicação e de informação influenciam

    decisivamente na difusão das ideias que transformam o

    mundo. Ecologia hoje não é apenas um conhecimento,

    mas também organização, participação e

    sustentabilidade.

    No Brasil, é obrigatória a educação ambiental.

    No entanto, não deve ser implantada como disciplina

    específica no currículo de ensino e os educadores estão

    completamente despreparados para exercer essa

    tarefa. Além disso, não adianta nada colocar teoria

    ambiental na cabeça dos alunos. É necessário criar

    mudanças de valores, comportamentos e consumo e

    transformações concretas no dia a dia das próprias

    instituições de ensino, das comunidades e nas casas. O

    incremento da educação ambiental deve influenciar

    todo o conteúdo dos Projetos Políticos Pedagógicos das

    instituições de ensino.

    A Educação Ambiental deve ser tratada por

    todas as disciplinas das escolas de Ensino Fundamental,

    Médio e Superior de forma Interdisciplinar,

    Multidisciplinar e Transversal. Deve estar incluída em

    todas as atividades das instituições de ensino como

    fator ético e de cidadania. O importante é trabalharmos

    valores e transformações ontológicas, visando uma

    melhor relação sociedade/natureza.

    A Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999,

    estabelece a política de Educação Ambiental e afirma

    no Art. 2o que “a educação ambiental é um componente

    essencial e permanente da educação nacional, devendo

    estar presente, de forma articulada, em todos os níveis

    e modalidades do processo educativo, em caráter

    formal e não formal”. Ressalta que as instituições

    educativas devem promover a educação ambiental de

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 23

    maneira integrada aos programas educacionais que

    desenvolvem e a sociedade como um todo deve

    “manter atenção permanente à formação de valores,

    atitudes e habilidades que propiciem a atuação

    individual e coletiva voltada para a prevenção, a

    identificação e a solução de problemas ambientais”.

    Ainda é importante enfatizar o Art. 4o que estabelece os

    princípios básicos da educação ambiental:

    I - o enfoque humanista, holístico, democrático

    e participativo;

    II - a concepção do meio ambiente em sua

    totalidade, considerando a interdependência entre o

    meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o

    enfoque da sustentabilidade;

    III - o pluralismo de ideias e concepções

    pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e

    transdisciplinaridade.

    Devemos ainda chamar a atenção para o Art.

    10 que destaca que a “educação ambiental será

    desenvolvida como uma prática educativa integrada,

    contínua e permanente em todos os níveis e

    modalidades do ensino formal”. Educação Ambiental só

    terá valor mesmo quando educadores estiverem mais

    preparados. No entanto, vemos muito pouco

    investimento para capacitá-los. Uma das prioridades do

    poder público deve ser a preparação e o

    aprimoramento imediato de todos os educadores da

    rede na prática da educação ambiental de forma inter e

    multidisciplinar e transversal, agregada às

    transformações concretas e como elemento condutor

    dos Projetos Políticos Pedagógicos. O futuro do planeta

    depende muito disso.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 24

    Reflexão

    Em seguida, temos um texto para reflexão.

    Trata-se de uma CARTA ESCRITA NO ANO 2070

    imaginando uma situação extremamente crítica de falta

    de água no planeta. Situação muito provável se não

    administrarmos imediatamente os recursos hídricos

    com cuidado. Cabe ao gestor ambiental em conjunto

    com toda a sociedade evitar desastre como o abaixo

    descrito e garantir água e vida para as próximas

    gerações: “Acabo de completar 50 anos, mas a

    minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios

    problemas renais porque bebo pouca água. Creio que

    me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais

    idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos.

    Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores

    nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu

    podia desfrutar de um banho de chuveiro por

    aproximadamente uma hora. Agora usamos toalhas em

    azeite mineral para limpar a pele. Antes, todas as

    mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras.

    Agora, raspamos a cabeça para mantê-la limpa sem

    água . Antes, meu pai lavava o carro com a água que

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 25

    saía de uma mangueira. Hoje os meninos não

    acreditam que utilizávamos a água dessa forma.

    Recordo que havia muitos anúncios que diziam para

    CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava atenção.

    Pensávamos que a água jamais poderia terminar.

    Agora, todos os rios, barragens, lagoas e

    mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados

    ou esgotados. Imensos desertos constituem a paisagem

    que nos rodeia por todos os lados. As infecções

    gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias

    urinárias são as principais causas de morte. A indústria

    está paralisada e o desemprego é dramático. As

    fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de

    emprego e pagam aos empregados com água

    potável em vez de salário. Os assaltos por um litro de

    água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80%

    sintética. Antes, a quantidade de água indicada

    como ideal para se beber era oito copos por dia, por

    pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa

    é descartável, o que aumenta grandemente a

    quantidade de lixo. Tivemos que voltar a usar as fossas

    sépticas como no século passado porque a rede

    de esgoto não funciona mais por falta de água. A

    aparência da população é horrorosa:

    corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação,

    cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que

    já não têm a capa de ozônio que os filtrava na

    atmosfera. Com o ressecamento da pele, uma jovem de

    20 anos parece ter 40. Os cientistas investigam, mas

    não há solução possível. Não se pode fabricar água,

    o oxigênio também está degradado por falta de

    árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das

    novas gerações. Alterou-se a morfologia dos gametas

    de muitos indivíduos. Como consequência, há muitas

    crianças com insuficiências, mutações e deformações. O

    governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m3

    por dia por habitante adulto. Quem não pode pagar é

    retirado das "zonas ventiladas", que estão dotadas de

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 26

    gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com

    energia solar. Não são de boa qualidade, mas se pode

    respirar. A idade média é de 35 anos. Em alguns países

    restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio

    que é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-

    se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou

    os diamantes. Aqui não há árvores porque quase nunca

    chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, é

    de chuva ácida. As estações do ano foram severamente

    transformadas pelas provas atômicas e pela poluição

    das indústrias do século XX. Advertiam que era preciso

    cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.

    Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando

    era jovem, descrevo o quão bonito eram os bosques.

    Falo da chuva e das flores, do agradável que era tomar

    banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda

    a água que quisesse. O quanto nós éramos saudáveis.

    Ela pergunta-me: - Papai! Por que a água acabou?

    Então, sinto um nó na garganta! Não posso deixar de

    me sentir culpado porque pertenço à geração que

    acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar

    atenção a tantos avisos. Agora, nossos filhos pagam

    um alto preço... Sinceramente, creio que a vida na

    Terra já não será possível dentro de muito pouco

    tempo, porque a destruição do meio ambiente chegou a

    um ponto irreversível. Como gostaria de voltar atrás e

    fazer com que toda a humanidade compreendesse

    isto... Enquanto ainda era possível fazer algo para

    salvar o nosso planeta Terra!”

    Texto: publicado na revista "Crónicas de

    los Tiempos“, de abril de 2002.

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 27

    EXERCÍCIO 1

    Pesquise algumas fontes de poluição de água, cite os

    exemplos em sua região e faça um texto sobre o

    assunto.

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    EXERCÍCIO 2

    Descreva a desigualdade na distribuição dos recursos

    hídricos no mundo e no Brasil.

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    EXERCÍCIO 3

    Analise os marcos históricos ambientais citados e seus

    resultados concretos na mudança dos hábitos da

    sociedade.

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 28

    EXERCÍCIO 4

    Pesquise as propostas de educação ambiental colocadas

    na lei e acompanhe a prática de alguma instituição de

    ensino – escreva um texto sobre o assunto.

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    EXERCÍCIO 5

    Com base nos dados sobre a distribuição de água no

    mundo, desenvolva uma argumentação reflexiva e

    crítica sobre como deve ser a atuação do gestor

    ambiental neste cenário.

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    EXERCÍCIO 6

    O que é e como funciona o Plano de Bacia Hidrográfica?

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

    ____________________________________________

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 29

    EXERCÍCIO 7

    Qual das questões está correta:

    ( A ) Água é um recurso natural renovável;

    ( B ) A gestão dos recursos hídricos é de

    responsabilidade do Estado;

    ( C ) Organizações Não Governamentais devem gerir os

    recursos hídricos junto com os municípios;

    ( D ) A gestão dos recursos hídricos é de

    responsabilidade de toda a sociedade.

    EXERCÍCIO 8

    Qual das respostas está correta:

    ( A ) O gestor ambiental deve se preocupar apenas

    com a produtividade das empresas;

    ( B ) O gestor ambiental não pode se envolver com as

    políticas públicas;

    ( C ) A educação ambiental é preocupação exclusiva

    das escolas;

    ( D ) O gestor ambiental deve se preocupar com a

    melhoria da qualidade de vida da população e

    com a produtividade da empresa.

    RESUMO

    Vimos até agora:

    A água é o elemento mais importante para a

    vida e que as ocupações humanas sempre

    procuraram a aproximação deste recurso;

    As gerações futuras dependem de mudanças

    urgentes de como utilizamos a água;

  • Aula 1 | Introdução à gestão dos recursos hídricos 30

    Os desafios da gestão participativa e a

    importância dos trabalhos comunitários;

    A abordagem socioambiental para os recursos

    hídricos;

    A educação ambiental como ferramenta de

    gestão. Se não cuidarmos bem da água

    podemos provocar o fim da vida humana.

    Cabe ao gestor ambiental buscar a

    sustentabilidade socioambiental. A gestão dos

    recursos naturais tem que ocorrer de forma

    participativa;

    No Brasil o maior uso da água é agrícola,

    seguindo do industrial e depois dos usos

    domésticos.

  • Hidrologia

    Francisco Pontes de Miranda Ferreira

    AU

    LA

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    Ap

    res

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    taç

    ão

    A segunda aula vai apresentar a hidrologia e o ciclo hidrológico e

    aspectos geomorfológicos importantes para compreendermos as

    bacias hidrográficas. A hidrologia estuda a distribuição, os

    movimentos e a qualidade das águas. A água é um elemento

    escasso, mal distribuído e ameaçado. A geomorfologia estuda os

    processos que envolvem a formação dos canais fluviais e outros

    corpos de água e merecerá destaque neste capítulo. Veremos

    como o fato de o Brasil ter uma concentração urbana nas regiões

    metropolitanas contribuiu para a destruição de rios e florestas.

    Veremos como os canais fluviais têm sido impactados

    incorretamente pela forma em que historicamente estamos

    ocupando o território. Vamos estudar um caso de hidrologia

    urbana na região Sudeste do Brasil.

    Ob

    jeti

    vo

    s

    Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

    capaz de:

    Compreender a ciência hidrológica;

    Entender o ciclo hidrológico e seus componentes.

  • Aula 2 | Hidrologia 32

    A hidrologia é o estudo da distribuição, dos

    movimentos e da qualidade da água no planeta Terra.

    O conjunto das águas no planeta forma a hidrosfera. A

    hidrosfera em conjunto com a atmosfera e a litosfera

    formam a biosfera que é a vida na Terra.

    A água está presente nos corpos de água

    distribuídos pelo planeta (oceanos, mares, rios, riachos,

    lagos, lagoas, canais e poços), na atmosfera (como

    chuva, neve, gelo e nuvem – líquido, sólido e gasoso) e

    nos aquíferos (águas subterrâneas). No ciclo

    geomorfológico, a água é essencial para o

    intemperismo, transporte e depósito de sedimentos.

    Segundo dados da ONU, temos cerca de 1.400

    milhões de quilômetros cúbicos de água no planeta.

    Cerca de 97% é composto por águas salgadas. Dos 3%

    restantes ¾ são compostos de águas congeladas nas

    geleiras e nos polos. Além disso, cerca de 97% da água

    doce encontram-se nos aquíferos subterrâneos e

    muitos são de difícil acesso. Da água utilizada pelas

    atividades humanas, cerca de 80% vão para a

    agricultura. O que significa que a diminuição da

    produção de água ou sua contaminação representam

    menos alimentos. 15% é utilizado pela indústria e

  • Aula 2 | Hidrologia 33

    apenas cerca de 5% para o consumo direto humano –

    ou seja, para beber, cozinhar, limpar e tomar banho. O

    Brasil possui cerca de 13% da água do mundo, sendo

    mais de 70% encontrada na Região Amazônica.

  • Aula 2 | Hidrologia 34

  • Aula 2 | Hidrologia 35

  • Aula 2 | Hidrologia 36

    Geomorfologia e água

    A geomorfologia é uma disciplina preocupada

    com a descrição e a classificação das formas

    topográficas da Terra. Uma das principais preocupações

    da geomorfologia, também, é a pesquisa relacionada

    com a origem das formas terrestres. A geomorfologia

    trata, portanto, das forças que moldam e alteram os

    elementos da superfície terrestre. Incluindo as

    atividades tectônicas, os movimentos de massa, os

    efeitos do clima, a erosão e os depósitos resultantes do

    vento, do gelo e dos canais fluviais. Hoje

    acrescentamos à geomorfologia os efeitos da ação

    humana no ambiente físico.

    A construção de grandes barragens e a

    drenagem das zonas inundadas

    também causaram impactos

    importantes sobre os meios aquáticos,

    ao detruírem os habitats.

    (LÉVÊQUE, 1999: 152)

    A geomorfologia é, portanto, um ramo da ciência

    aliada com diversas outras disciplinas que envolvem a

    natureza e a sociedade. A geomorfologia deve destacar

    as formas e os processos, onde as atividades da água

    merecem uma atenção especial. Os rios ganham

    especial atenção já que são responsáveis pelo

    transporte de água, de sedimentos e pela

    transformação das formas topográficas, influenciando

    no processo de erosão e de deposição de material. Os

    fatores fluviais resultam, por sua vez, também de uma

    combinação entre os processos de erosão, de

    deposição, dos movimentos tectônicas e das estruturas

    geológicas.

  • Aula 2 | Hidrologia 37

    O ciclo hidrológico e a bacia de drenagem

    Como afirma Coelho Netto, (1994) a água é um

    dos elementos físicos mais importantes na formação da

    paisagem terrestre atuando principalmente como

    modelador do relevo.

    O reconhecimento, a localização e a

    quantificação dos fluxos de água nas

    encostas são de fundamental

    importância ao entendimento dos

    processos geomorfológicos que

    governam as transformações do relevo

    sob as mais diversas condições

    climáticas e geológicas.

    (ps. 94-5)

  • Aula 2 | Hidrologia 38

    A água está presente na atmosfera e acima ou

    abaixo da superfície terrestre na forma líquida, sólida

    ou gasosa. A bacia de drenagem drena água,

    sedimentos e materiais na direção de uma saída

    comum localizada num ponto específico do canal. O

    limite da bacia é estabelecido pelo divisor de águas.

    Existem bacias de drenagem de diversos tamanhos e

    várias bacias interligadas formam um sistema de

    drenagem. A precipitação é um fator essencial para

    compreendermos o ciclo hidrológico. As chuvas podem

    ser regionais ou locais. As regionais vão ser de maior

    importância como, por exemplo, a entrada de frentes

    frias mas os fatores climáticos locais também

    influenciam. A cobertura vegetal tem como uma de

    suas funções mais importantes interceptar parte da

    precipitação pelo armazenamento e pela

    evapotranspiração. A retirada e a modificação da

    vegetação podem, portanto, causar significantes

    transformações no escoamento da água e até no clima

    local ou regional. A infiltração da água no solo é outro

    fator essencial. O solo vai definir a quantidade de água

    que vai infiltrar ou escoar. A água na superfície corre

    mais rapidamente do que na profundidade. O solo vai

    afetar tanto o escoamento superficial quanto o sub-

    superficial. Tudo isso vai ser de enorme importância na

    modelação do relevo. As águas subterrâneas também

    devem ser levadas em consideração já que alterações

    podem provocar danos ambientais de forte impacto.

    A retirada em excesso de água

    subterrânea ou a contaminação por

    elementos poluentes pode causar

    grandes danos ecológicos e, por isso,

    sua utilização deve ser regulamentada.

    (COELHO NETTO: 1994: 114)

    Os solos são formados por várias partículas de

    diferentes composições minerais e de diversos

    tamanhos. Os espaços vazios são os poros que podem

    ser preenchidos por água. Quando totalmente

  • Aula 2 | Hidrologia 39

    preenchidos, são chamados de saturados. Tudo isto vai

    afetar o direcionamento e o tempo do escoamento da

    água. As características do solo também afetam

    diretamente a infiltração.

    Outro fator importante na compreensão das

    bacias hidrográficas são os tipos de leito, de canal e de

    rede de drenagem. Cunha (1994) descreve bem os

    tipos de leito (ps. 212-13):

    O leito menor corresponde à parte do canal

    ocupada pelas águas e cuja frequência

    impede o crescimento da vegetação –

    delimitado por margens bem definidas;

    O leito de vazante equivale à parte do canal

    ocupada durante o escoamento das águas de

    vazante;

    O leito maior, também denominado leito

    maior periódico ou sazonal, é ocupado pela

    águas do rio regularmente e, pelo menos uma

    vez ao ano, durante as cheias, é possível

    haver a fixação e o crescimento de vegetação

    herbácea;

    O leito maior excepcional é ocupado durante

    as grandes cheias, no decorrer das

    enchentes.

    Cunha também demonstra os tipos de canal (ps.

    214-20):

    Os canais retilíneos são pouco frequentes,

    exceto em trechos curtos dos rios ou os controlados por

    linhas tectônicas, associados ao leito rochoso de igual

    resistência à atuação da água;

    Os canais anastomosados caracterizam-se por

    apresentar sucessivas ramificações ou múltiplos canais

    separados por ilhas e bancos de areia;

    Os canais meandrantes são encontrados

    geralmente nas áreas mais úmidas e com vegetação

    ciliar – definindo margens de erosão e de deposição.

  • Aula 2 | Hidrologia 40

    A drenagem fluvial é constituída por um

    conjunto de canais de escoamento interligados e a área

    drenada por esse sistema é chamada de bacia de

    drenagem. Os fatores mais importantes são a

    topografia, a cobertura vegetal, o tipo de solo, a

    litologia e a estrutura das rochas. Quando a drenagem

    se dirige para o mar, é denominada de exorreica e

    quando vai na direção de um lago ou uma areia, é

    chamada de endorreica. Além disso, existe a

    classificação genética que considera a inclinação das

    camadas geológicas: consequente (originando o curso

    retilíneo), subsequente (acompanha as linha de

    fraqueza), obsequente (canal de pouca extensão que

    corre no sentido contrário ao rio consequente),

    ressequente (desemboca em um rio subsequente) e

    insequente (corre de acordo com o terreno e em

    direção variada). Uma bacia hidrográfica pode ter

    diferentes padrões geométricos e diversos subtipos

    (CUNHA, 1994: 223-26).

  • Aula 2 | Hidrologia 41

  • Aula 2 | Hidrologia 42

    Climas da terra

    Os principais elementos do clima são

    temperatura (sol); pressão atmosférica (relacionada

    com a temperatura), onde zonas frias representam as

    altas pressões e as zonas quentes a baixa pressão;

    ventos (deslocamento de ar da alta para a baixa

    pressão) e umidade do ar. Um ar com 100% de

    umidade encontra-se saturado, fato que provoca a

    condensação (nuvens). A condensação num primeiro

    momento provoca a liberação de calor dando início à

    chuva. Existem vários tipos de condensação em

    superfície. O orvalho que provoca gotículas de água é

    mais comum no campo do que na cidade, o nevoeiro

    que é comum nos vales (provocado pela inversão

    térmica já que o vale é aquecido no dia e resfriado à

    noite), a geada (de grande impacto nas plantações), a

    nebulosidade e a precipitação. Existem três tipos de

    precipitação: a chuva, a neve e o granizo (cristais de

    gelo de nuvens altas).

    Temos os fatores climáticos do clima zonais

    como a latitude, as grandes linhas do relevo, a

    distribuição de terras e mares, as correntes marítimas,

    as influências das atividades humanas e os fatores

    locais como o relevo, a vegetação, os rios e lagos, as

    rochas, as cidades, o desmatamento e as atividades

    rurais. A latitude influi na temperatura em função da

    inclinação do eixo da Terra. Temos, portanto, o solstício

    de verão e inverno (nos dias 21 de junho e 21 de

    dezembro) e o equinócio de primavera e outono (nos

    dias 23 de setembro e 21 de março). Fatos que vão

    afetar todo o clima do planeta. As grandes linhas de

    relevo são caracterizadas pelas cadeias montanhosas

    terciárias, onde algumas cadeias ficam no sentido

    Norte-Sul como as Rochosas na América do Norte e os

    Andes na América do Sul. Outras ficam no sentido

    Oeste-Leste como os Alpes na Europa e o Himalaia na

    Ásia.

  • Aula 2 | Hidrologia 43

    Nuvens: As nuvens são divididas em altas (5-

    13 km de altitude) – cirros, cirros-estratos e cirros-

    cúmulos – formadas por cristais de gelo; os cirros são

    nuvens esparsas cuja aparência é sempre tênue e

    fibrosa, lembram chumaços de algodão. As cirros-

    estratos cobrem o céu de maneira total ou parcial, mas

    não ocultam o sol nem a lua e formam um halo em

    torno do foco de luz; médias (2-7 km) – altos-estratos

    (forma estirada, fibrosa ou uniforme e se dispõem em

    lençóis ou camadas de coloração azulada ou

    acinzentada. Cobrem o céu de maneira total ou parcial

    mas não impedem a visão do sol), nimbos-estratos

    (apresentam coloração cinzento-escura, são densas o

    bastante para ocultar o sol e de forma difusa devido à

    precipitação de neve ou chuva que geralmente atinge o

    solo) e altos-cúmulos (nuvens de aspecto globular,

    formadas por flocos, lençóis ou camadas de aspecto

    achatado) e baixas (menos de 2 km) – estratos-

    cúmulos (formam manchas, camadas e lençóis

    cinzentos de coloração embranquecida e quase sempre

    com porções escuras), estratos (com o contorno bem

    delineado quando deixam entrever o sol são em geral

    de cor cinza, têm base uniforme e produzem granizo,

    gelo ou prismas de neve), cúmulos (têm parte superior

    mais larga – semelhantes a cogumelos, compostas de

    flocos grandes) e cúmulos-nimbos (têm formas que

    lembram montanhas e torres com grande extensão

    vertical e podem apresentar precipitação abaixo da

    base).

    As precipitações atmosféricas estão

    geralmente ligadas a algumas poucas

    famílias de nuvens: altos-estratos,

    nimbos-estratos e cúmulos-nimbos.

    Essas últimas são muitas vezes

    associadas a chuvas fortes, neve ou

    granizo, trovoadas e até furacões. A

    chuva constante, que dura o dia

    inteiro, é geralmente produzida por

    altos-estratos ou nimbos-estratos.

    (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO

    BRASIL PUBLICAÇÕES LTDA. 1999)

  • Aula 2 | Hidrologia 44

    Outro fator climático importante é a recepção da

    energia solar pela Terra. A intensidade da radiação

    solar depende do período do ano, do período do dia e

    da latitude. No hemisfério sul, por exemplo, no dia 3 de

    janeiro (perinélio) temos um intensidade de radiação

    solar 7% maior do que no dia 4 de junho (afélio). Os

    efeitos da atmosfera na radiação solar devem ser

    destacados como a dispersão seletiva que é

    responsável pelo azul do céu, a reflexão difusa

    provocada pelas nuvens e a absorção seletiva realizada

    pela camada de ozônio (ultravioleta), o vapor d’água, o

    gás carbônico, o metano, o nitrato e o CFC

    (infravermelho). É neste último efeito atmosférico que

    encontramos o problema do efeito estufa (onde ocorre

    a forte absorção da radiação terrestre em contraste

    com a fraca absorção da radiação solar) e da formação

    de ilhas de calor nas áreas poluídas urbanas. A

    absorção também vai ser influenciada pela distribuição

    entre terras e mares (continentalidade).

    O sol é a única fonte de energia

    importante para a Terra. A energia

    solar é, sem dúvida alguma, a causa

    geratriz de todos os fenômenos que

    ocorrem na atmosfera terrestre. A

    energia solar, absorvida pela superfície

    da Terra, provoca seu aquecimento. a

    superfície aquecida passa a irradiar

    calor, uma parte do qual é absorvida

    por nuvens e por partículas em

    suspensão. Uma parte do calor

    absorvido por nuvens e por poeiras é

    devolvido à superfície (efeito estufa).

    O efeito estufa aumenta com a

    poluição atmosférica e tende a tornar

    a Terra mais aquecida. (SILVA M. V.,

    1992 – Programa para computador:

    Universidade Federal Rural de

    Pernambuco).

    A região tropical recebe mais energia solar

    durante o ano e fica entre 30ºN e 30ºS.

  • Aula 2 | Hidrologia 45

    CLIMATOLOGIA DOS TRÓPICOS

    A pesquisa relacionada com o tempo e o clima é

    muito importante para as ciências ambientais e,

    consequentemente, para o estudo das bacias

    hidrográficas. Em nossa região tropical, a precipitação

    ganha um destaque ainda mais significativo.

    A variabilidade da precipitação pluvial

    é importante nos trópicos, pois tende a

    ser mais variável do que na região

    temperada e também é mais sazonal

    em sua incidência dentro do ano.

    (AYOADE, 1998: 172)

    Para os estudos da hidrologia, um dos fatores

    importantes relacionados com a precipitação tropical é

    a frequência de tempestades de forte impacto. O

    intervalo de ocorrência dessas tempestades vai

    influenciar muito no canal fluvial. As tempestades

    tropicais são desigualmente distribuídas ao longo dos

    meses ou até do dia, como em alguns casos quando

    chove forte por poucas horas. Estas concentrações vão

    afetar toda a bacia hidrográfica. A variação sazonal

    também vai influir na evaporação. Quanto maior o

    número de instrumentos de medição climática,

    presentes na bacia hidrográfica, melhor serão a

    qualidade da monitorização da área e o planejamento

    para o futuro.

    As principais massas de ar tropicais, que se

    formam na América do sul, são a Tropical Continental e

    a Tropical Marítima. As regiões formadores de massas

    de ar estão nas proximidades dos polos e na faixa dos

    trópicos – são zonas com predominância de altas

    pressões (anticiclones). O ar polar frio de alta pressão

    tende a ir para os trópicos e o ar tropical quente de

    baixa pressão para os polos. Ao migrar para a zona

    tropical, a frente fria vai provocando a substituição do

    ar quente por ar frio à superfície. O ar frio e denso

  • Aula 2 | Hidrologia 46

    desloca-se junto à superfície terrestre. O ar frio passa a

    se aquecer, em contato com a superfície, provocando

    instabilidade e formação de nuvens cúmulos e cúmulos-

    nimbos. A chuva acontece logo após a passagem da

    frente fria, muitas vezes acompanhada de trovoadas

    (SILVA M. V., 1992 – Programa para computador:

    Universidade Federal Rural de Pernambuco).

    Em toda a região Sudeste do Brasil, existe uma

    distribuição irregular de chuvas ao longo do ano. Um

    período de estiagem no inverno e um período de

    chuvas fortes no verão. Este modelo é caracterizado

    como pluvial-tropical. No Estado do Rio de Janeiro, a

    chegada de frentes frias no verão é intensificada devido

    à posição geográfica do estado. O seu litoral aponta

    diretamente para o sul, de onde chegam as correntes

    polares oceânicas da Antártica. Outra característica do

    estado é a aproximação das serras ao norte, com

    altitudes acima de 1000 metros (Bocaina, Mantiqueira e

    Órgãos) e paralelas ao litoral. As frentes frias se

    desordenam ao encontrarem a serra e tentarem

    transpô-la, para penetrar no interior do continente. No

    verão, o intenso aquecimento do continente atrai as

    massas polares.

    DRENAGEM URBANA

  • Aula 2 | Hidrologia 47

    O Brasil tem mais de 70% de sua população

    morando em regiões metropolitanas. As enchentes são

    problemas constantes - principalmente no sudeste e no

    sul do país - onde as chuvas de verão são concentradas

    e intensas e o crescimento urbano acelerado. A

    geomorfologia fluvial urbana adquire, com isso, uma

    fundamental importância. Envolvendo geografia,

    engenharia, meteorologia, biologia, urbanismo e

    história. Desenvolvendo-se como ciência essencial para

    a melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos. A

    água merece um destaque especial na formação do Rio

    de Janeiro. Cidade os entre morros e o oceano, com

    milhares de rios, riachos e corpos aquáticos e semi

    aquáticos como lagoas, alagados e mangues. Desde o

    início da fundação, os administradores vêm

    promovendo aterros, canalizações e dessecamentos

    sobre os rios e os terrenos alagados. Da mesma forma,

    o Rio de Janeiro vem perdendo seu solo permeável -

    coberto pela vegetação. Por todas estas razões, o

    investimento em geomorfologia fluvial urbana necessita

    ser avaliado com maior seriedade. Trabalho que deve

    ser interdisciplinar e envolver toda a sociedade. O

    problema dos canais fluviais urbanos são numerosos e

    graves (como enchentes, poluição e desmoronamento

    das margens). A própria urbanização sem planejamento

    é a principal causa dos distúrbios. As soluções

    convencionais, com obras de engenharia, são

    extremamente caras, provocam desequilíbrios graves e

    não resolvem o problema de forma definitiva. Aos

    poucos, os técnicos estão se conscientizando que os

    cuidados com a vegetação, evitando o excesso de

    escoamento, são mais eficientes.

    Muitas mudanças fluviais ocorrem devido à

    atividade humana que transforma o comportamento da

    descarga e da carga sólida dos rios. As atividades de

    maior destaque são remoção da vegetação,

    desmatamento e urbanização. Cada canal apresenta

  • Aula 2 | Hidrologia 48

    características e efeitos específicos. As mudanças

    podem ser estudadas pela observação de

    transformações ao longo do tempo, através do estudo

    de dados cartográficos, pela coleta direta de alterações

    na descarga e na forma do rio, pela análise da

    produção de sedimentos e pela observação das

    transformações climáticas. As obras de engenharia são

    de grande impacto e as alterações em toda a bacia e na

    planície de inundação vão ocasionar efeitos em cadeia,

    muitas vezes irreversíveis. As obras de engenharia em

    canais compreendem todas as formas de modificações

    realizadas para a utilização do rio para abastecimento

    de água, navegação ou eletricidade e toda forma de

    contenção contra a ação das águas. As obras visam

    também a prevenção contra as enchentes. O rio vai

    sempre tender a meandrar nas planícies, mesmo se

    retificado artificialmente. A velocidade da água depende

    da inclinação do terreno. As obras de canalização,

    retificação e alargamento vão alterar a velocidade a

    jusante e a montante. As obras de engenharia em

    canais são realizadas desde a antiguidade. Os egípcios

    e os romanos foram pioneiros - com obras de grande

    impacto.

    A Bacia de drenagem compreende a

    geomorfologia das encostas, topos, fundos de vales,

    corpos de água subterrânea e ocupação do solo. A

    urbanização vai ser de grande efeito em todo o

    complexo da drenagem, que deve ser compreendido

    como um sistema aberto. A energia do escoamento é

    aumentada pela atividade humana, ampliando a

    frequência de cheias. O aprofundamento e o

    alargamento de canais, através de obras de

    engenharia, elevam a velocidade do fluxo do canal. Os

    impactos atingem tanto a água superficial quanto a

    subterrânea.

  • Aula 2 | Hidrologia 49

    A resistência da calha é diminuída pela retirada

    da vegetação na beira dos canais. A cobertura vegetal

    na bacia de drenagem tem um papel fundamental para

    interceptar parte da precipitação. Com a cobertura do

    solo pela urbanização, a quantidade de água que vai

    atingir o canal aumenta drasticamente. Vários textos

    importantes comprovam o argumento acima. A

    expansão urbana sobre uma bacia hidrográfica pode

    produzir aumento significativo na frequência das

    enchentes. O desenvolvimento acelerado das regiões

    metropolitanas brasileiras tem resultado em alto grau

    de problemas em relação as enchentes. O solo urbano

    tem sido ocupado de forma desordenada trazendo com

    isso problemas sérios nos sistemas de drenagem pluvial

    (TUCCI, BRAGA JR. E SILVEIRA, 1989: 77-101).

    A enchente urbana é um problema muito

    frequente na realidade brasileira, já que o

    gerenciamento do desenvolvimento urbano não tem

    considerado o controle de enchentes. Com o

    desenvolvimento urbano ocorre a impermeabilização do

    solo, através de telhados, ruas calçadas, pátios, entre

    outros. Dessa forma, a parcela que infiltrava passa a

    escoar pelos condutos, aumentando o escoamento

    superficial. O volume que escorria lentamente pela

    superfície do solo ficava retido pelas plantas, com a

  • Aula 2 | Hidrologia 50

    urbanização passa a escoar no canal, exigindo maior

    capacidade de escoamento das seções. Os efeitos

    principais da urbanização são o aumento da vazão

    máxima, antecipação do pico e aumento do volume do

    escoamento superficial.

    As inundações localizadas podem ser provocadas

    por:

    Estrangulamento da seção do rio devido a

    aterros e pilares de pontes, estradas, aterros

    para aproveitamento da área e assoreamento

    do leito do rio e lixo;

    Remanso devido a macrodrenagem, rio

    principal, lago, reservatório ou oceano;

    Erros de execução e projeto de drenagem de

    rodovias, avenidas, entre outros.

    Normalmente, esses problemas se disseminam

    nas áreas urbanas à medida que existe pouco controle

    sobre as diferentes entidades que atuam na

    infraestrutura urbana. Adutoras, pontes ou rodovias

    são frequentemente projetadas sem considerar seu

    impacto sobre a drenagem. Essas inundações

    normalmente ocorrem em diferentes pontos das

    cidades isoladamente ou pela combinação dessas

    situações. A vazão máxima aumenta devido à

    urbanização com duas condições principais: a

    impermeabilização e a redução do tempo de

    deslocamento do escoamento. A impermeabilização faz

    com que parte significativa da água que se infiltraria,

    escoe pelos pavimentos até o pluvial, aumentando o

    escoamento superficial de cada parcela urbana. Com a

    construção de condutos pluviais, canais e outros

    dispositivos hidráulicos, o escoamento chega mais

    rápido a jusante, reduzindo o tempo de concentração

    da bacia. A duração da precipitação também diminui,

    aumentando a intensidade para o mesmo tempo de

    retorno e em consequência, a vazão.

  • Aula 2 | Hidrologia 51

    As medidas de controle de inundações podem

    ser classificadas em estruturais, quando o homem

    modifica o rio (medidas de controle através de obras

    hidráulicas tais como barragem, diques, canalização,

    entre outras) e em não estruturais quando o homem

    convive com o rio (encontram-se medidas do tipo

    preventivo como zoneamento de áreas de inundação,

    alerta da inundação e seguros). Evidentemente que as

    medidas estruturais envolvem custos maiores que as

    medidas não estruturais.

    A tendência de controle das cheias urbanas

    devido a urbanização são realizadas na maioria das

    vezes através da canalização dos trechos críticos. Esse

    tipo de solução segue a visão particular de um trecho

    da bacia, sem que as consequências sejam previstas

    para o restante da mesma ou dentro de diferentes

    horizontes de ocupação urbana. A canalização dos

    pontos críticos acabam apenas transferindo a inundação

    de um lugar para outro na bacia (TUCCI,1994:117-

    136).

    A infiltração é uma das parcelas importantes na

    quantificação dos processos hidrológicos em bacias

    urbanas. A estimativa dessa variável esbarra na grande

    variedade das superfícies urbanas existente nos

    cenários das cidades brasileiras. Os principais impactos

    devidos ao desenvolvimento de uma área urbana sobre

    os processos hidrológicos são decorrentes da ocupação

    do solo. A bacia é revestida em grande parte da sua

    superfície através de edificações, ruas, calçadas, entre

    outros. Em consequência desse revestimento, a

    percentagem da água que infiltra é reduzida, uma vez

    que as novas superfícies são impermeáveis ou quase

    impermeáveis; os pontos de detenção superficial são

    eliminados nas áreas construídas; a rugosidade das

    superfícies é reduzida; os pequenos canais da

    drenagem natural são substituídos por tubulações

  • Aula 2 | Hidrologia 52

    subterrâneas; os canais da drenagem natural são

    retificados e revestidos; e os problemas de escoamento

    superficial não são pequenos. A consequência dessa

    nova ocupação do solo é a produção de um maior

    volume de escoamento superficial num tempo menor,

    resultando num aumento da vazão de pico, redução do

    tempo de concentração e diminuição da vazão de base.

    O primeiro ponto fundamental de todas essas

    alterações é a separação do escoamento das águas da

    chuva, indicando a importância dos processos de

    infiltração. O solo em áreas urbanas passa também a

    não apresentar suas características naturais de

    infiltração, porque a ação antrópica significa, além do

    revestimento do solo, escavação, aterro, compactação

    e mistura de materiais de diferentes granulometrias.

    Dentro desse contexto, é necessário avaliar o

    seguinte:

    As características da infiltração de superfícies

    urbanas típicas;

    A mudança nas características do

    escoamento, devido à diminuição da

    detenção, que ocorre de maneira distribuída

    numa bacia hidrográfica rural;

    A diminuição da rugosidade decorrente das

    superfícies de revestimento serem mais lisas

    que o solo natural.

    O escoamento superficial em superfícies urbanas

    está sujeito ao tipo de cobertura e da infiltração. O

    escoamento superficial é uma das parcelas do ciclo

    hidrológico na bacia urbana que tem maior significado

    no dimensionamento e controle da drenagem pluvial.

    (GENZ & TUCCI,1995:105-128)

  • Aula 2 | Hidrologia 53

    O desenvolvimento urbano brasileiro tem

    ocorrido sem nenhum controle sobre a ampliação da

    vazão causada por essa ocupação. Como resultado, o

    somatório do efeito dos loteamentos sobre a

    macrodrenagem tem gerado frequentes enchentes na

    maioria das cidades. Usualmente, a abordagem do

    problema tem sido realizada através da construção de

    canais que apenas transferem as enchentes de um

    lugar para outro dentro da bacia. O controle da

    drenagem deve buscar evitar que as cheias naturais

    sejam ampliadas. As medidas de controle podem ser

    realizadas sobre o lote, o loteamento e na

    macrodrenagem.

    As medidas de controle do escoamento podem

    ser classificadas de acordo com sua ação na bacia

    hidrográfica em:

    Distribuída ou na fonte: é o tipo de controle

    que atua sobre o lote, praças e passeios;

    Na microdrenagem: é o controle que age

    sobre o hidrograma resultante de um ou mais

    loteamentos;

    Na macrodrenagem: é o controle sobre os

    principais riachos urbanos.

    As medidas de controle podem ser organizadas

    de acordo com a sua ação sobre o hidrograma em cada

    uma das partes das bacias mencionadas acima em:

    Infiltração e percolação: normalmente cria

    espaço para que a água tenha maior

    infiltração e percolação no solo, utilizando o

    armazenamento e o fluxo subterrâneo para

    retardar o escoamento superficial;

    Armazenamento: através de reservatórios

    que podem ser de tamanho adequado para

    uso numa residência (1-3 m³) até na macro-

  • Aula 2 | Hidrologia 54

    drenagem urbana (alguns milhares de m³). O

    efeito do reservatório urbano é o de reter

    parte do volume do escoamento superficial,

    reduzindo o seu pico e distribuindo a vazão

    no tempo;

    Aumento da eficiência do escoamento:

    através de condutos e canais, drenando áreas

    inundadas. Esse tipo de solução tende a

    transferir enchentes de uma área para outra,

    mas pode ser benéfico quando utilizado em

    conjunto com reservatórios de detenção;

    Diques e estações de bombeamento: solução

    tradicional de controle localizado de

    enchentes em áreas urbanas que não

    possuem espaço para amortecimento da

    inundação.

    As principais medidas de controle localizado no

    lote, estacionamento, parques e passeios, normalmente

    denominadas de controle na fonte (source control), são

    as seguintes:

    O aumento de áreas de infiltração e

    percolação ;

    O armazenamento temporário em

    reservatórios residenciais ou telhados.

    As principais características do controle local do

    escoamento são as seguintes:

    Aumento da eficiência do sistema de drenagem

    de jusante dos locais de controlados;

    Aumento da capacidade de controle de

    enchentes do sistema;

    Dificuldade de controlar, projetar e fazer

    manutenção de um grande número de

    sistemas;

    Custos de operação e manutenção podem ser

    altos.

  • Aula 2 | Hidrologia 55

    A ocupação de um lote urbano, a priori, tem

    premissas básicas determinadas pela legislação

    municipal que conformam o projeto de edificação. Além

    dessas premissas básicas, existem fatores

    socioeconômicos que influenciam sobre a forma de

    ocupação, principalmente, os costumes da população e

    o custo da propriedade. Com a exploração do

    crescimento das cidades, o mercado de imóveis seguiu

    a tradicional lei da oferta e procura, elevando os preços

    das terras em áreas urbanas. O alto custo faz com que

    os projetos de edificação busquem o maior

    aproveitamento possível do lote urbano, induzindo a

    maior impermeabilização do solo. Um exemplo típico é

  • Aula 2 | Hidrologia 56

    a destinação de áreas não edificáveis para

    estacionamento de carros que, na sua maioria, são

    pavimentadas com superfícies impermeáveis ou muito

    pouco permeáveis. (GENZ & TUCCI, 1995: 129-152)

    AS ROCHAS

    As rochas podem ser classificadas de acordo

    com a origem ou com a composição química. Quanto à

    origem são divididas em três tipos: magmáticas,

    sedimentares e metamórficas.

    As rochas magmáticas podem ser intrusivas ou

    plutônicas quando solidificadas no interior da crosta,

    como o granito, e extrusivas ou vulcânicas quando

    solidificadas em superfície como a pedra-pomes. Essas

    rochas cristalizam-se e formam os minerais. Os

    minerais compõem as rochas. As rochas plutônicas se

    cristalizam lentamente e as vulcânicas rapidamente,

    formando uma massa homogênea.

    As rochas sedimentares são resultantes da ação

    dos agentes exógenos como a chuva, o vento, o calor.

    Estes agentes provocam o desgaste das rochas através

    do intemperismo. O material é depois transportado pela

    erosão e finalmente depositado em outro local.

  • Aula 2 | Hidrologia 57

    Solidificam-se e acabam virando outra rocha. As rochas

    sedimentares são divididas em três tipos, também,

    segundo a origem. As mecânicas ou clásticas como o

    arenito, o argilito, o siltito e os folhelhos, as orgânicas

    formadas por galhos, folhas, troncos, animais e fósseis.

    Os exemplos mais conhecidos são o petróleo e o carvão

    mineral. O outro grupo é formado pelas rochas

    sedimentares de origem química como o calcário

    presente nas grutas de Maquiné, em Minas Gerais, e de

    Bonito, no Mato Grosso do Sul.

    O último grupo é formado pelas rochas

    metamórficas, resultantes de quando as rochas

    magmáticas e sedimentares sofrem pressão e

    transformações. Portanto, temos rochas metamórficas

    magmáticas (ortoderivadas), como o ortognais, e as

    rochas magmáticas sedimentares (paraderivadas) como

    o quartzito presente na pedra de São Tomé e na

    ardósia. Temos também o paragnaisse. O carvão

    mineral metamorfizado, por exemplo, se transforma no

    famoso diamante e o calcário metamorfizado vira

    mármore. O processo de metamorfose provoca a

    reorganização dos minerais. Existem graus de

    metamorfose: alto (como o mármore), médio e baixo

    (como a ardósia).

    As rochas também podem ser classificadas

    segundo a composição química. Ou seja, quanto à

    quantidade de sílica presente nas rochas. A composição

    química vai definir como as rochas vão reagir ao

    intemperismo.

    SiO2

    Ultrabásica Básica Intermediária Ácida

    40% 70%

    Devemos, agora, destacar as estruturas

    tectônicas resultantes da força da gravidade, do fluxo

    do magma e das intrusões, provocando movimentos de

  • Aula 2 | Hidrologia 58

    expansão e de contração das rochas. As estruturas são,

    portanto, geradas por movimentos de rompimento

    (rúptil) onde a rigidez da rocha é maior ou de

    dobramento, onde a plasticidade é maior devido ao

    calor superior. As fraturas são movimentos rúpteis onde

    não há movimentação dos blocos provocando, por isso,

    a quebra. As falhas são também movimentos rúpteis

    onde há movimentação dos blocos e, portanto, a

    quebra e o deslocamento. As falhas são de três tipos

    básicos: inversas, normais ou transcorrentes. Mas, a

    mais comum é a oblíqua que é formada pela

    combinação do movimento normal e do transcorrente.

    As dobras são movimentos de dúcteis que afetam a

    rocha compacta ou as camadas. Podendo formar “zonas

    de cisalhamento” que são pequenas fraturas. As dobras

    são anticlinais, sinclinais, redobradas ou recumbentes.

    A foliação, por sua vez, depende da formação da rocha,

    onde o alinhamento é relativo ao processo de formação

    delas, ao processo de dobra ou os dois ao mesmo

    tempo. Neste caso, a rocha encontra-se num estágio

    mais pastoso. Os planos formados pelas estruturas têm

    orientação (em relação ao Norte magnético) de acordo

    com o mergulho. É necessário, portanto, descrevermos

    a “zip direction” (direção do mergulho) e o ângulo do

    mergulho (dip angle). A água procura percorrer pelas

    fraturas, falhas e as zonas de dobra – formando rios e

    lagos. O relevo, portanto, é consequência dos fatores

    exógenos e endógenos que modificam a paisagem.

    O intemperismo é o efeito da atividade dos

    agentes externos no processo de desintegração das

    rochas. Acontece na interface entre as forças

    endógenas e exógenas. O regolito é o produto do

    intemperismo que inclui o material inconsolidado que

    recobre o substrato geológico (o material sólido é a

    rocha). O regolito pode ser “in situ” (autóctone) ou

    transportado (autóctone). O solo é o regolito com

    horizontes definidos e com o material orgânico. As

    rochas básicas são menos resistentes e, por isso, vão

  • Aula 2 | Hidrologia 59

    ser mais rapidamente intemperizadas (como o basalto).

    Já as rochas ácidas são mais resistentes e a ação do

    intemperismo é mais demorada (como o quartzito). Os

    fatores que influenciam no intemperismo são geológicos

    – como a mineralogia da rocha, a origem da rocha

    (plutônica, vulcânica, sedimentar ou metamórfica) e a

    presença de estruturas tectônicas (a física da

    paisagem); climáticos – como a quantidade de água e o

    regime pluviométrico, a temperatura (provocando a

    dilatação e a contração da rocha) e a amplitude

    térmica; e geomorfológicos (provocando áreas de

    dispersão ou de concentração de água e material).

    Existem três tipos de intemperismo: físico, que consiste

    na quebra da rocha em fragmentos sem alteração das

    moléculas (proveniente da espoliação térmica, da ação

    das geleiras ou pelo intemperismo biológico físico como

    a ação de raízes de árvores); e químico, que envolve,

    por sua vez, a desintegração das moléculas e

    formando, portanto, as argilas minerais. Os minerais

    primários com o intemperismo químico se transformam

    em minerais secundários (argila). O intemperismo

    químico pode ser por dissolução (quando o mineral se

    dissolve na água), por hidrólise (quando o composto é

    quebrado pela água) e por oxidação (como o óxido de

    ferro e o óxido de alumínio). Existe também o

    intemperismo biológico químico quando a matéria

    orgânica age sobre a rocha.

  • Aula 2 | Hidrologia 60

    Estudo de Caso de Hidrologia Urbana

    Publicado em 1996, no Anuário do Instituto de

    Geociências (UFRJ)

    Enchentes no Rio de Janeiro: Efeitos da

    Urbanização no Rio Grande - Jacarepaguá

  • Aula 2 | Hidrologia 61

    O rio Grande tem a maior parte de seu curso

    localizado na baixada de Jacarepaguá, entre os maciços

    da Pedra Branca (W) e da Tijuca (E). A bacia

    hidrográfica do rio Grande ocupa uma área de 99 mil

    km2, sendo 70% em área urbana. O canal principal

    corta os bairros de Pau da Fome, Taquara, Covanca,

    Freguesia, Cidade de Deus e Jardim Gardênia Azul. De

    acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro

    de Geografia e Estatística (IBGE), a população de

    Jacarepaguá, em 1991, era de 427 mil e 791

    habitantes. Em 1980 a população da região era de 101

    mil e 156 habitantes. Significando que o número

    quadruplicou em apenas uma década (1980 - 1991).

    Hoje, a população deve estar em torno de 500 mil. O

    conjunto de modificações realizadas para o crescimento

    urbano, em especial na calha fluvial, e a ocupação

    irregular têm provocado o aumento da ocorrência e do

    volume de enchentes catastróficas.

    É muito provável que o crescimento urbano

    desorganizado, ao longo do rio Grande, tenha alterado

    os intervalos de recorrência de cheias e tornado os

    sistemas de drenagem inadequados. As catástrofes

    estariam, então, diretamente relacionadas com isso.

    Houve, sem dúvida, uma enorme redução da

    capacidade de infiltração do solo e um crescimento do

    escoamento superficial. A Mata Atlântica, que ocupava