Curti Sua Foto. Como a Circulação Midiática e o Consumo Do Instagram

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  • Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da ComunicaoXXXVI Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Manaus, AM 4 a 7/9/2013

    Curti sua foto. Como a circulao miditica e o consumo do Instagram edulcoraram as fotos1.

    Alhen Rubens Silveira Damasceno2

    Clotilde Perez3

    Universidade de So Paulo, So Paulo, SP

    RESUMO

    O aplicativo Instagram um programa gratuito em que os usurios baixam-no da internet para compartilhar e tratar suas fotos. Tal aplicativo vem se tornando muitousual e suas fotografias esto postadas nas mais diversas redes sociais: Instagram, Facebook, Twiiter, dentre outras. O consumo imagtico e a circulao miditica por meio desse aplicativo e de seus filtros nos chamam a ateno por saber que uma fotografia pode receber alguns retoques de imagens e adquirir outros significados. por isso que esse artigo tem como pretenso estudar o consumo, e a circulao miditica por meio das fotografias editadas pelo aplicativo Instagram.

    Palavras chaves: circulao miditica; consumo; imagem; mundo edulcorado

    Introduo

    Vivemos em uma sociedade imagtica e ao mesmo tempo consumista. Vivemos

    em uma poca em que precisamos est em contato a todo o momento, mesmo que esse

    contato seja no virtual e tambm nos parece que precisamos produzir e compartilhar

    contedos e nos mostrar acessveis aos contedos do outro.

    As redes sociais no virtual esto a para nos mantermos sempre em contato com

    os outros. Estamos compartilhando ou curtindo os contedos produzidos por nossos

    amigos ou por pessoas que seguimos por termos afinidades ou por puro prazer. Essa

    nova emergncia de estarmos produzindo mensagens, de transformar as relaes de

    contedo por meio das marcas, das nossas experincias, do nosso relacionamento com o

    ambiente nos torna seres midiatizados e que precisamos expressar esse lado com

    produes novas a todo o momento.

    1 Apresentado no GP Publicidade - Marcas e Estratgias, da INTERCOM. Manaus. 20132 Doutorando em Cincias da Comunicao pela Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo sob a orientao da Prof Dra Clotilde Perez. Publicitrio formado pela Universidade Federal do Cear. Membro do GESC3 Grupos de Estudos Semiticos em Comunicao, Cultura e Consumo da ECA/USP. [email protected] Orientadora do trabalho. Professora da graduao e da ps-graduao da ECA/USP. [email protected]

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    O Instagram, alm de ser um aplicativo, mais uma rede social desenvolvida

    para compartilharmos contedo por meio de imagens fotogrficas tiradas pelas cmeras

    de celulares ou tabletes. Tal aplicativo tem como princpio tornar as fotos com

    tonalidades mais vistosas por meio do uso de filtros que reproduzem vrios efeitos e

    tornam as fotografias esteticamente mais atrativas.

    Esse artigo tem por finalidade discutir o consumo, a imagem e a circulao

    miditica que, com o advento do aplicativo Instagram, trouxe tona um novo modelo

    de expresso e de manipulao de imagens, edulcorando as fotos e permitindo com que

    os usurios pudessem compartilhar momentos de suas vidas por meio de simples

    fotografias e de seus filtros.

    Circulao miditica

    Vivemos em uma poca em que a sociedade est midiatizada, isso quer dizer que

    estamos publicando e compartilhando informaes a todo instante e muito dessa

    produo diz respeito ao eu, ao contedo subjetivo, as impresses de cada um acerca

    do mundo. Essa seleo, transformao, produo de contedo que nos permite se

    envolver, curtir com assuntos que nos interessam algo que ns encontramos na

    contemporaneidade e muito dessa construo dessa narrativa comunicativa se deve as

    mdias sociais que nos permitem exercer nosso lado autoral por meio de textos, fotos,

    vdeos, ou seja, registros que ns fazemos sobre assuntos que nos interessam e que

    compartilhamos com pessoas que possuem as mesmas afeies que as nossas.

    Nas palavras do estudioso Fausto Neto (2010) em seu trabalho As bordas da

    comunicao vemos um retrato sobre esse protagonismo vivido pelos

    agentes/produtores de contedo, nas palavras do autor:

    O conceito de enunciao chama ateno para o fato de que o ato discursivo se constitui em um complexo trabalho, uma vez que o sujeito apropria-se da linguagem para referir-se, referir o mundo e referir o seu socius. Essa construo evidencia a natureza da comunicao interpessoal e complexa, (como a miditica) como uma questo relacional, e no s de carter transmissional. O sujeito lida com vrias injunes, de modo voluntrio, ou no, como a linguagem que age sobre ele produzindo surpresas e tambm dissabores ((FAUSTO NETO, 2010, p. 60).

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    Podemos transferir tal conceito na maneira de como o usurio/produtor do

    aplicativo Instagram se apropria da linguagem, no caso da linguagem fotogrfica, para

    mostrar seu ponto de vista, seu olhar particular para o mundo que o cerca e por meio do

    seu olhar ele tanto se refere ao seu particular, a captura da imagem, a angulao, a

    montagem da foto por meio dos filtros quanto ao pblico, ao postar suas fotos nas redes

    sociais para que elas possam ser visualizadas, compartilhadas e curtidas por inmeras

    pessoas.

    As convergncias no geram apenas homogeneizaes, pois as mdias apontam para seus medos de trafegar na solido, diante das lgicas de heterogeneidades que caracterizam o novo caminhar dos receptores. Sintoma desta realidade o fato de as mdias trabalharem cada vez mais com estratgias de autorreferencialidades, postulando sua existncia, descrevendo as suas operaes de produo da realidade que instituem, numa espcie de ao que visa capturar os receptores, compartilhando com eles o mundo desta realidade particular. Converte-se, por este processo de circulao e dos seus efeitos, o deslocamento do leitor cena discursiva algo que deixa de ser privilgio das rotinas produtivas. Mas, tal ato sinaliza tambm para efeitos contraditrios impostos pela prpria lgica scio-tcnica discursiva da midiatizao crescente: ao instituir a diversidade de formas, possibilitando que o receptor estabelea outras possibilidades de contatos com novos dispositivos, pem em risco velhas fidelizaes e contratos de leituras. (FAUSTO NETO, 2010, p.65).

    Ao desenvolver contedo prprio e post-lo nas redes sociais, o autor/produtor

    que tambm receptor de outros contedos tambm igualmente postados por outros

    autores/produtores gera em si a capacidade de protagonismo da situao, da mensagem,

    ou seja, ele no espera mais que as grandes esferas miditicas, que outrora detinham a

    informao, produzam contedo para que ele os absorva. Com o advento das mdias

    sociais, a comunicao de A para B ficou bem mais limitada e hoje o que vemos

    mensagem indo de A para B e de B para A e para C e assim se espalha, uma

    mensagem de todos para todos.

    Segundo Fausto Neto, na sociedade em vias de midiatizao, o novo cenrio

    proporciona novas formas de interao entre as instncias de produo e recepo,

    diferentes da ideia unidirecional que se atribua comunicao na sociedade dos

    meios. Esta ideia de circulao miditica identifica-se com a mensagem enquanto

    enunciao, que se realiza dentro de um contexto discursivo, em que a ideia de um

    emissor ou produtor que direciona sua mensagem ao receptor no encontra lugar.

    Trata-se da complexificao do processo da comunicao e no de sua desobjetivao: no se trata da supresso dos lugares de produo e da

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    recepo de discursos, mas de sua subordinao configurao de novos regimes de discursividades nos quais o discurso est preso. Trata-se da ordem interdiscursiva onde a circulao como terceiro se oferece como um novo lugar de produo, funcionamento e regulao de sentidos. (FAUSTO NETO, 2010, p.60).

    Como nosso objeto de estudo o aplicativo Instagram e sua plataforma

    imagtica que possibilita a comunicao entre seus usurios por meios de fotos, estamos

    no campo da comunicao, mais precisamente das redes sociais como mdias que

    conseguem romper com as barreiras seguras que antes tnhamos da comunicao que

    era unidirecional para uma nova forma de comunicao em que todos podemos ser

    agentes produtores e consumidores. Podemos compartilhar experincias, nossa zona de

    contato com outros usurios se tornou mais extensa, somos produtos midiatizados a

    todo o tempo, fazemos questo de nos tornarmos visveis, nos damos vozes e ns,

    consumidores, nos apropriamos dos discursos miditicos, fazendo os novos valores

    circularem.

    Nas palavras do estudioso Fausto Neto, ele analisa a sociedade em vias de

    midiatizao sob o seguinte aspecto:

    No mais situados em fronteiras, estamos agora imersos em uma determinada zona de interpenetrao que solicita alm da compreenso dos lugares onde sujeitos e receptores esto em contato, descoberta de equipamentos analticos que possibilitem a descrio dos sentidos ali tecidos. Estas questes afetam, de um lado, o campo da mdia e as prprias condies e possibilidades de comunicao no mundo contemporneo, bem como a relao dos indivduos com a ambincia da midiatizao. E, de modo particular, a natureza do prprio ofcio investigativo sobre estes novos cenrios e objetos da comunicao miditica. (FAUSTO NETO, 2010, p. 66).

    Consumo

    O consumo sempre foi visto de como uma atitude errada, mal vista pela

    sociedade. O correto sempre foi trabalhar, produzir, exercer um papel, porm consumir

    s o necessrio. O suprfluo, nem pensar. A produo e o consumo formam o verso e o

    anverso da mesma folha, um depende do outro para sobreviver e no consumo que

    expressamos a nossa identidade, que so estabelecidas as relaes entre os indivduos

    mediadas pelos bens. Santi (2011) nos argumenta que o consumo legtimo seria apenas

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    aquele que compreendesse o campo das necessidades. Com o distanciamento

    progressivo das necessidades, surgiria o consumo de suprfluos, cujo extremo seria

    representado pelo consumo de luxo (SANTI, 2011, p. 14).

    O conceito de marca de Perez est pautado na semitica peirceana que diz o

    seguinte a marca uma conexo simblica e afetiva estabelecida entre uma

    organizao, sua oferta material, intangvel e aspiracional e as pessoas para as quais se

    destina (2004, p.10). nessa conexo simblica que a marca atribui seu valor, sua

    cultura, sua identidade e que percebida pelo seu pblico como uma maneira de se

    apropriar tambm dos mesmos atributos oferecidos pela marca atravs do uso, seja ele

    material ou no. O aplicativo Instagram comunga bem com o sentido de marca exposto

    acima, pois ao fazer uma conexo entre a imagem que se enquadrou e ao uso dos filtros

    como uma possibilidade emotiva de deixar a foto mais carregada de simbolismos, o

    usurio tem uma experincia alm de esttica, sensorial e produtiva na qual ele foi

    captou, interpretou e compartilhou seu momento com os usurios da sua rede social.

    As marcas, aqui estamos nos referindo a marca Instagram e sua potencialidade

    de sentido, exercem uma simbologia e quando a consumimos por meio de

    produtos/servios ela acaba por ser uma projeo de cada indivduo, essa subjetividade

    que o consumo das marcas desempenha na sociedade nos foi explicada por Bauman

    (2008). O autor nos fala que no caso da subjetividade na sociedade de consumidores,

    a vez de comprar e vender smbolos empregados na construo da identidade a

    expresso supostamente pblica do self (BAUMAN, 2008, p. 23).

    O autor continua nos falando sobre o consumo e da sua evoluo.

    Primeiramente, Bauman versa sobre dois modelos da fase da modernidade: a fase

    slido-moderna e a fase lquido-moderna. A fase slido-moderna caracterizada por

    uma sociedade de produtores mais voltada para a segurana, ambiente confivel,

    ordenado, duradouro, resistente ao tempo. Nessa fase, o que se buscava era uma

    concentrao de bens para que, num futuro prximo, houvesse uma tranquilidade do

    proprietrio, pois o grande valor a ser assegurado nessa fase era a segurana e quanto

    mais bens imveis mais seguros os proprietrios estariam. Os bens, nessa fase, no se

    destinavam ao consumo imediato, eles se dedicavam a um futuro de segurana, como

    nos confirma Bauman:

    Apenas bens de fato durveis, resistentes e imunes ao tempo poderiam oferecer a segurana desejada. S esses bens tinham a propenso, ou ao menos a chance, de crescer em volume, e no diminuir- e s eles

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    prometiam basear as expectativas de um futuro seguro em alicerces mais durveis e confiveis, apresentando seus donos como dignos de confiana e crdito (BAUMAN, 2008, p.43).

    A segunda fase caracteriza-se por ser uma sociedade em que a instabilidade dos

    desejos, o instantneo, o efmero ditam as regras. Estamos agora na fase dos

    consumidores, do ambiente lquido-moderno, onde tal ambiente contrrio ao

    planejamento, ao armazenamento em longo prazo, ou seja, aqui no aplica mais o status

    de segurana, o que importa a satisfao dos desejos ou a tentativa de satisfaz-los no

    agora, o que nos leva a pensar no uso imediato e na rpida substituio das mercadorias.

    Na sociedade lquido-moderna de consumidores, o tempo no contado de uma

    forma linear, com passado, presente e futuro, assim como era na sociedade slido-

    moderna dos produtores. Aqui, o tempo pontilhista (termo usado por Michel

    Maffesoli) ou seu quase sinnimo, pontuado (proferido por Nicole Aubert), ou seja, um

    tempo marcado por rupturas e descontinuidades. Nesse tempo pontilhista, a vida no

    passa de uma sucesso de presentes, aqui, o vislumbre do futuro no existe, o que conta

    so as experincias vividas no momento de agora, um tempo de possibilidades, o viver

    eternamente no instante do presente. Esse viver o agora faz com que as experincias

    sejam compartilhadas em tempo real, ou seja, quando se produz uma foto e a posta nas

    redes sociais, imediatamente o usurio est evidenciado sua vivncia no s para si e

    sim para um nmero grande de seguidores, compartilhadores de seu momento.

    Nessa vida agorista dos indivduos da era dos consumidores, o prazer no ter

    mais para o futuro. O uso, agora, imediato, o que se compra, se usa no mesmo

    instante, se descarta e se adquire algo melhor mais adiante. Os termos agora so o

    descartar e o substituir gerando, assim, um montante de produtos que sero

    consumidos e jogados fora, aumentando a remoo do lixo.

    Argumentando ainda mais sobre o prazer de consumir, Santi (2011) nos fala que

    o prazer uma sensao, assim, ele transitrio e precisa ser continuamente renovado

    com as mais novas e intensas experincias. Aqui nada acumulado; estamos sempre

    zerados em busca de novos prazeres (SANTI, 2011, P.26). As experincias vividas

    pelos consumidores por meio do consumo das marcas fazem com que tais experincias

    sejam cada vez mais surpreendentes, inusitadas, hedonsticas, pois sabemos que a

    satisfao total algo utpico de se alcanar e que satisfao pela aquisio do produto

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    passa pela busca do prazer, usufruto, descarte e nova busca, gerando, assim, um ciclo de

    valorizao da insatisfao e possvel preenchimento dessa insatisfao.

    Para Baudrillard (2007) a felicidade constitui a referncia absoluta da sociedade

    de consumo, revelando-se como o equivalente autntico da salvao

    (BAUDRILLARD, 2007, p. 47). Essa busca incessante pelo prazer, pela felicidade

    algo que a sociedade contempornea vem sempre nos projetando por meio da

    publicidade. A publicidade lida com a seduo, com o encantamento, com a linguagem

    emotiva, edulcorada e faz com que o produto seja desejado, vivenciado, experimentado.

    O Instagram tambm encanta, tambm nos emociona com seus diversos filtros pelos

    quais podemos compor uma foto, uma forma de publicizar o momento, a vida, as

    experincias pelo quais estamos passando e que queremos que outras pessoas nos d seu

    reconhecimento por meio de um curtir e compartilhar.

    McCracken (2012) nos fala que a publicidade tem com uma de suas funes a

    divulgao dos bens de consumo e que tais bens de consumos so importantes fontes de

    significados com os quais construmos nossas vidas. Para o autor, a publicidade coloca

    disposio da cultura moderna um espao para a performance, experimentao e

    inovao, em que se fabricam novos significados culturais e se reconhecem e se

    redirecionam os antigos (McCRACKEN, 2012, p. 178).

    O consumidor na ps-modernidade vive um momento singular em sua vida, a

    sociedade est passando por uma fragmentao de identidade, no somos mais uno e

    sim mltiplos em um nico corpo. Hoje em dia, no temos mais a certeza de como ser

    o futuro, vivemos o agora, as relaes so mais fluidas e dinmicas, no queremos mais

    ficar parados esperando sermos atingidos, somos produtores e receptores de contedos,

    somos virtuais e estamos em todos os lugares. Assim tambm so as marcas, elas

    refletem o momento que passamos, elas seguem no mesmo curso para no perderem seu

    espao, elas incorporam as manifestaes que so sentidas no meio social e difundem,

    por meio da publicidade, os valores a serem perpetuados garantindo assim a sua

    sobrevivncia no consumo.

    Lipovetsky (2005) nos argumenta que a sociedade, cujo valor cardeal passou a

    ser a felicidade em massa, inexoravelmente arrastada a produzir e consumir em

    grandes escalas os signos adaptados a esse novo thos, ou seja, mensagens alegres,

    felizes, aptas a proporcionar a todo momento um prmio de satisfao direta (2005, p.

    130).

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    Imagem

    Neste tpico, iremos falar sobre a imagem e como ela vem sendo estudada pelos

    tericos, seja na funo que a imagem exerce no campo publicitrio, seja na funo de

    representar algo para algum.

    Primeiramente, no temos como deixar de mencionar o estudo que Roland

    Barthes (1969) fez em seu artigo A retrica da imagem ao analisar um anncio

    publicitrio da massa Panzani. O estudioso nos fala que a significao da imagem, na

    publicidade, intencional e que os atributos do produto devem ser colocados da forma

    mais clara possvel, pois como ele nos fala a imagem publicitria franca ou pelo

    menos enftica (BARTHES, 1969, p.2).

    Neste artigo, Barthes discorre que a imagem publicitria estruturada em trs

    nveis: a mensagem lingustica, a mensagem denotada e a mensagem conotada. Na

    mensagem lingustica, Barthes explica que o verbal prevalece nessa mensagem e que a

    linguagem verbal cumpre uma tarefa de ajudar a compreender a imagem por meio de

    duas funes: a ancoragem (recurso que fornece a explicao da imagem, restringindo a

    polissemia) e o revezamento (complemento entre a imagem e o texto). Barthes chama o

    revezamento de relais.

    Na segunda mensagem, a denotada (icnica) a representao pura das imagens,

    Barthes comenta que a imagem denotada naturaliza a mensagem simblica, ela

    inocenta o artifcio semntico, muito denso, (sobretudo na publicidade) da conotao;

    ainda que o cartaz Panzani seja cheios de smbolos (BARTHES, 1969, p. 12), ou seja,

    sabemos que a publicidade se utiliza de meios simblicos para constituir a sua

    mensagem e que tudo de caso pensado, mas quando ela utiliza de imagens de objetos

    reais, de falsear uma cena, ela pega da realidade para simbolizar e reforar a mensagem,

    dando outro significado. No caso do anncio em questo, os tomates, os pimentes e a

    rede so reais, porm nesse contexto, esses objetos querem exprimir outro efeito de

    sentido, que vem a ser a mensagem conotada (simblica). Nesse tipo de mensagem

    podemos inferir os aspectos simblicos encontrados no anncio. No anncio Panzani,

    eles se referem ao frescor dos alimentos e tambm a italianidade ao preparar um prtico

    tpico com os ingredientes certos, como se estivesse saboreando este prato na prpria

    Itlia.

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    Figura 1: anncio das massas Panzani

    Um texto que se manifesta por mltiplas linguagens precisa ser estudado com

    todos os elementos, como o caso da mensagem publicitria. Como o texto um todo

    de sentido, precisamos analisar todas as partes para compreender o que os signos

    representam, quais as manifestaes que eles querem passar em conjunto e por isso

    que devemos estudar imagem e texto verbal juntos.

    Quando falamos de imagem, um turbilho de informaes nos vem mente, de

    que imagens esto falando? Da nossa imagem perante os outros, da imagem que aparece

    nas mdias, da imagem que geramos em nossas mentes, da imagem de uma pintura, de

    uma fotografia, da imagem do cinema ou at mesmo da imagem de um marca?

    Em semitica visual, a imagem considerada uma unidade de manifestao

    autossuficiente, como um todo de significao, capaz de ser submetido anlise

    (GREIMAS & COURTS, 2011, p. 254). Essa unidade de manifestao seria uma

    quarta etapa no percurso gerativo do sentido como nos apresenta Trindade (2009)

    Hoje se considera tambm um quarto nvel, o da manifestao textual, que incorpora a expressividade dos discursos para a anlise, j que os outros trs nveis anteriores pertencem ao universo do contedo, sendo este nvel um campo novo que passa ser explorado nos domnios da semitica visual a partir da dcada de 1980 (TRINDADE, 2009, p.35).

    Santaella (2010) nos fala que o mundo das imagens se divide em dois domnios:

    as imagens como representaes visuais: desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, etc.

    O segundo domnio fica por conta das imagens que aparecem como vises,

    imaginaes, esquemas, fantasias, ou seja, representaes mentais. Tais representaes

    tanto visuais quanto mentais so mediadas por meio dos signos. As representaes

    visuais esto num nvel do real, ou seja, vemos a imagem de uma pintura e nela esto

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    contidos vrios signos que ns conhecemos e vamos interpretando at chegar ao efeito

    de sentido esperado e quando isso acontece j se forma outro signo em uma semiose

    ilimitada. Mas como se processa as representaes mentais da imagem? Santaella nos

    argumenta que a semitica parte do pressuposto de que as representaes cognitivas

    so signos e operaes mentais ocorrem na forma de processo sgnicos. Neste caso, se

    coloca a questo sobre a natureza desses signos e processos (2010, p. 26) e Joly

    complementa falando o seguinte as imagens no so as coisas que representam, elas se

    servem das coisas para falar de outra coisa (JOLY, 2009, p. 84).

    Joly (2009) nos fala que apenas na publicidade que se encontra relaes

    imagem/texto que se estabelece todo o tipo de recursos retricos e que na maioria das

    vezes esses recursos aparecem de uma forma ldica: a suspenso, a aluso e o

    contraponto. Tais relaes entre o texto e imagem ns j vimos quando falamos de

    ancoragem como um recurso de complementaridade entre imagem e palavra.

    Joly nos argumenta que as palavras e as imagens revezam-se, interagem,

    complementam-se e esclarecem-se como uma energia revitalizante. Longe de se excluir,

    as palavras e as imagens nutrem-se e exaltam-se umas s outras (JOLY, 2009, p. 133).

    Nos dias de hoje, a imagem um ponto de muita importncia e na comunicao,

    principalmente, pois ela portadora de significaes polissmicas e que s por meio da

    palavra que essa polissemia afunilada para se ter a produo de sentido a que se quer

    chegar. A aglutinao entre imagem/palavra entendida como um processo de

    significao, emisso e recepo que move as relaes por meio dos signos e das

    representaes. De acordo com Floch (1985) la rhtorique de limage nintervient

    quau moment ou le concept deviant figuratif.4

    Instagram

    O aplicativo Instagram, lanado em maro de 2010, um programa gratuito em

    que o usurio de dispositivos mveis iOS (Apple) e do sistema Android baixam-no da

    internet para compartilhar e tratar suas fotos. um app (sigla para aplicativo) que

    combina editor de fotos com rede social. Tal rede social pode ser a do prprio programa

    4 A retrica da imagem no intervm seno no momento em que o conceito se torna figurativo (traduo nossa).

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    ou as demais: Twiiter, Facebook, Foursquare e Tumblr. O aplicativo foi desenvolvido

    por Kevin Systrom e Mike Krieger.

    Primeiramente, o app s era disponibilizado para os usurios detentores dos

    produtos Apple (iphone, ipad, ipod touch). Essa exclusividade detinha uma faixa de 10

    milhes de usurios por todo o mundo e a Instagram foi considerada a desenvolvedora

    de aplicativos para a Apple mais promissora em 2010. Em 3 de abril de 2012, a

    Instagram disponibilizou seu app para o sistema Android, desenvolvido pelo Google.

    Um dia depois de lanado para download, o app j contabilizava com mais de um

    milho de acessos no Google Play.

    Tamanho sucesso entre as pessoas se deve ao fato de que qualquer usurio de

    smartfones possuidor do app pode tirar fotos e aplicar os filtros artsticos, embelezando

    a foto com uma maior facilidade e economia de tempo superior ao photoshop e ainda

    pode postar as fotos, logo em seguida, nas redes sociais. O app oferece 17 tipos de

    filtros que podem variar na mudana de cor, no trao mais retr da foto, na saturao

    etc., a foto pode vir com ou sem moldura, tudo vai depender da inteno do usurio na

    hora de escolher o melhor filtro. Recentemente, o aplicativo Instagram foi vendido para

    o Facebook por US$ 1 bilho.

    O Instagram trouxe a tona uma discusso sobre o que consumir um

    determinado aplicativo e por quem deve ser consumido, pois antes de ser liberado para

    o sistema Android, s um seleto grupo possuidor dos produtos da Apple tinha o

    privilgio de manipular as fotos por meio do app. Depois da abertura para outros

    smartfones o mercado se expandiu, mas houve uma reao desfavorvel para com essa

    abertura pelos detentores do Instagram no moldes antigos, ou seja, a aura da

    exclusividade foi rompida e qualquer um que possusse um smartfone poderia brincar

    com o app. O aplicativo passou de um mero recurso tecnolgico para um fator social de

    prestgio e segmentao.

    Listamos, aqui, alguns filtros que compem a edio de imagens que o

    Instagram possui5:

    5 Esta citao foi retirada do site http://vejario.abril.com.br/especial/dicas-filtros-efeitos-instagram-681781.shtml

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    - X-Pro II: este filtro satura os tons da foto, especialmente os azuis e verdes, tornando

    as cores mais vivas. Alm disso, acrescenta uma borda preta s imagens;

    - Earlybird: este filtro tem como funo realar as cores amarela e bege das imagens

    dando um visual de fotos velhas alm de arredondar suas bordas;

    - Lomo-fi: trata-se de uma referncia cmera russa Lomo. Este efeito confere foto

    um ar onrico, com amarelos e verdes saturados;

    - Sutro: este filtro d nfase aos roxos e marrons nas fotos;

    - Toaster: este filtro tem como caracterstica deixar as fotos com marcas parecidas com

    as do po, depois de ter sado da torradeira e tambm deixa as fotos com as bordas

    arredondadas;

    - Brannan: confere um efeito envelhecido foto, com nfase no cinza;

    - Valencia: proporciona bom contraste com leve saturao de cinza e marrom;

    - Inkwell: o filtro transforma fotos coloridas em preto e branco com alto contraste;

    - Walden: reala os tons azulados da fotografia;

    - Nashville: imagens ntidas, com tonalidade magenta-roxo, e emolduradas por uma

    borda distinta;

    - Hefe: a flocosidade com nfase no amarelo e em tons de dourado torna este filtro

    perfeito para quem quer realar as cores quentes da foto;

    - Lord Kelvin: este filtro deixa as produes supersaturadas, no maior estilo retr

    chique, alm de criar borda irregular nas imagens;

    - Rise: trata-se de um recurso que trabalha com a profundidade de campo de forma a

    trazer o objeto retratado, por exemplo, para o primeiro plano, deixando as reas em

    volta embaadas;

    - Lux: este recurso recentemente lanado ilumina as partes mais escuras e sombreadas

    da fotografia, revelando detalhes que antes no podiam ser vistos

    - Sierra: tom sutil de rosa e borda grande.

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    Figuras 2 e 3: logomarca do aplicativo Instagram e alguns filtros do aplicativo Instagram aplicados numa fotografia. Imagem retirada do site: compilacaogeek.blogspot.com.br

    Esses filtros combinados ou no com as bordas tornam as fotos mais atrativas e

    fceis de manipular. O tratamento dado as fotos no requer a ajuda de profissionais

    especializados nos tratamentos mais sofisticados das fotos. O Instagram vem com uma

    forma simples e econmica de produzir fotos com os mais diferentes filtros e com uma

    economia de tempo e uma postagem rpida e imediata.

    Um ponto chave dessa discusso sobre a manipulao das fotos o que

    chamamos de mundo edulcorado, ou seja, uma cultura das sensaes, uma

    romantizao, uma linguagem ludicizada, fantasiosa, beirando aos sonhos. A linguagem

    edulcorada tem como caractersticas uma multiplicidade de cores, uma espcie de

    escapismo, ou seja, uma fuga ao mundo dos sonhos. Essa fuga ao mundo dos sonhos

    pode ser bem representada em alguns filtros que tem o princpio mais retr, que nos

    transporta para um outro tempo, uma outra forma de ver o mundo. Os cenrios

    manipulados podem sugerir um tom mais suave, mais dionisaco, emotivo, tiramos a

    carga pesada, negativa da vida e a suavizamos, damos um toque mais hedonista, mais

    ldico ou at mesmo mais infantil ao nosso mundo por meio das fotos.

    Esse mundo edulcorado pode ser manipulado nos diversos filtros existentes no

    app que suavizam as imperfeies das fotos, exaltam as tonalidades das cores, alguns

    filtros trazem um estilo mais envelhecido foto, um toque saudosista.

    Esse edulcorado que identificamos nos filtros do aplicativo Instagram nos

    permitem falar da eufemizao que vem ocorrendo nas fotos, ou seja, as imperfeies

    que possam ocorrer podem ser corrigidas por meio de borramentos de imagens, os tons

    das cores podem ser realados dando destaque a um ou outro elemento que compe a

    fotografia e muitos outros efeitos. A pessoa que tira a foto e a manipula por meio de

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    simples filtros tem em mos um recurso que torna as fotos artsticas e imediatistas.

    Com o Instagram qualquer usurio pode tirar fotos, remodel-la ao prprio gosto e

    post-las para o compartilhamento com os outros usurios. uma maneira de ver o

    mundo, de se comunicar com as outras pessoas por meio de uma foto e de filtros que

    so trocados, manipulados e bordas que so acrescentadas, tudo isso para deixar um

    mundo com um aspecto mais edulcorado, mais divertido, mais artstico.

    Consideraes finais

    Neste artigo podemos avaliar como o consumo de um determinado aplicativo

    pode proporcionar mltiplos significados tanto para quem produz e manipula a foto

    como para quem v a foto. O aplicativo e rede social Instagram reinventou uma maneira

    de ver o mundo por meio de uma simples brincadeira divertida e simples de

    manipulao de imagens e compartilhamento.

    A circulao miditica da mensagem de todos para todos rompe a barreira da

    unidirecionalidade e faz com que agentes que antes eram s receptores tambm

    produzam contedos e se tornem produtores, complexificando, assim, a cadeia

    comunicacional por meio de zonas de contato que antes eram tidas como um feedback e

    que hoje essas relaes so mais estreitas e dinmicas.

    Os usurios que possuem o aplicativo tm uma forma de mexer com a imagem,

    de manipul-la, de torn-la mais agradvel aos olhos, de transformar a realidade por

    meio de uma troca de filtros. O usurio pode voltar no tempo, pode enquadrar as fotos,

    mexer com as cores e saturaes. A imagem da fotografia no mais o capturado pelas

    lentes do celular ou do tablet, a imagem, agora, a representao que o usurio quer dar

    ao mundo em que vive. Tal mundo nos parece um lugar mais emotivo, mais

    interpretativos das emoes, um lugar de emancipao individual, do culto hedonista. O

    aplicativo Instagram deu essa possibilidade de representao do mundo de um formato

    simples, rpido e edulcorado.

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    http://vejario.abril.com.br/especial/dicas-filtros-efeitos-instagram-681781.shtml