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CUSTO FINANCEIRO DE ESTOCAGEM: ESTUDO DE CASO EM UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA JOCIMAR VAZOCHA WESCINSKI (UNOCHAPECÓ ) [email protected] Rodney Wernke (UNOCHAPECÓ ) [email protected] ANTONIO ZANIN (UNOCHAPECÓ ) [email protected] O artigo pretendeu responder questão de estudo relacionada a como evidenciar os efeitos financeiros negativos da gestão inadequada dos estoques de insumos em uma universidade comunitária. Nessa direção, o objetivo principal do trabalho foi elaborar relatórios que permitissem gerenciar os estoques de forma a identificar inadequações nos níveis de estocagem e os respectivos impactos financeiros. Quanto aos resultados do estudo, concluiu-se que o contexto encontrado na universidade é preocupante, pois na amostra de produtos considerada foi constatada a existência de prazos de estocagem altos e valores de estoques excedentes elevados, que acarretaram valores de custos financeiros significativos. Nesse sentido, os procedimentos de cálculos utilizados permitiram identificar os produtos mais problemáticos em cada almoxarifado pesquisado, bem como mostrar o desempenho geral destes setores de forma comparativa. Palavras-chave: Estoque, Custo financeiro da estocagem, Universidade comunitária. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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CUSTO FINANCEIRO DE ESTOCAGEM:

ESTUDO DE CASO EM UNIVERSIDADE

COMUNITÁRIA

JOCIMAR VAZOCHA WESCINSKI (UNOCHAPECÓ )

[email protected]

Rodney Wernke (UNOCHAPECÓ )

[email protected]

ANTONIO ZANIN (UNOCHAPECÓ )

[email protected]

O artigo pretendeu responder questão de estudo relacionada a como

evidenciar os efeitos financeiros negativos da gestão inadequada dos

estoques de insumos em uma universidade comunitária. Nessa direção,

o objetivo principal do trabalho foi elaborar relatórios que

permitissem gerenciar os estoques de forma a identificar inadequações

nos níveis de estocagem e os respectivos impactos financeiros. Quanto

aos resultados do estudo, concluiu-se que o contexto encontrado na

universidade é preocupante, pois na amostra de produtos considerada

foi constatada a existência de prazos de estocagem altos e valores de

estoques excedentes elevados, que acarretaram valores de custos

financeiros significativos. Nesse sentido, os procedimentos de cálculos

utilizados permitiram identificar os produtos mais problemáticos em

cada almoxarifado pesquisado, bem como mostrar o desempenho geral

destes setores de forma comparativa.

Palavras-chave: Estoque, Custo financeiro da estocagem,

Universidade comunitária.

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1. Introdução

Por não ser relacionado à atividade-fim de uma instituição universitária, um tipo de gasto que

pode passar despercebido é aquele relacionado à manutenção de estoques em níveis além do

necessário para o cotidiano. Entretanto, os recursos empregados nos itens estocados podem

ser excessivamente elevados e até prejudicar a gestão de caixa da entidade.

Entre as ferramentas para gerenciar estoques, talvez a metodologia de mais fácil execução e

análise seja a determinação dos prazos de estocagem. As informações oriundas do cálculo dos

dias de permanência em estoque podem ser utilizadas para verificar a pertinência da

manutenção dos volumes de estoques atuais da entidade, além de permitir o cálculo do

volume de estoque excedente (em unidades e valor monetário) e a mensuração do respectivo

“custo financeiro”.

É nesse contexto que emerge a questão de pesquisa a responder: como evidenciar os efeitos

financeiros negativos da gestão inadequada dos estoques de insumos em instituição

universitária? Nessa direção, o objetivo principal do trabalho foi elaborar relatórios adaptados

ao contexto de uma instituição de ensino superior, sediada em Chapecó (SC), que permitissem

gerenciar os estoques de forma a identificar inadequações nos níveis de estocagem e os

respectivos impactos financeiros. Estudos com esta abordagem se justificam em virtude de

que o custo de oportunidade de aplicar recursos em itens estocados pode ser representativo,

em termos financeiros, para uma instituição universitária comunitária que lida com

orçamentos restritos. Nessa direção seria pertinente conhecer o montante efetivamente

suportado pela entidade com a manutenção de estoques.

2. Revisão da literatura

Ao considerar o porte da empresa onde se realizou este estudo e, principalmente, os controles

internos disponíveis por ocasião da pesquisa, optou-se por empregar a metodologia que visa a

determinação do prazo de estocagem dos insumos armazenados e do “custo financeiro”

inerente. Nesse sentido, Assef (1999) defende que a política de estocagem deve começar pela

definição dos dias médios de estoque de cada insumo/produto, pois ao conhecer esse prazo o

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gestor da área pode analisar a conveniência do nível de estoque atual considerando as diversas

variáveis envolvidas no processo de aquisição e armazenamento de materiais.

Wernke (2008) menciona que uma possibilidade para otimizar o desempenho da empresa no

que tange à gestão de estoques consiste definir uma política de estocagem que abranja, ao

menos, o levantamento dos prazos médios de estocagem (em dias) das mercadorias, o cálculo

do custo financeiro (R$) de manter determinado volume estocado, o valor do estoque

excedente (R$) e o valor do custo financeiro (R$) do estoque excedente. Com esses

procedimentos o administrador contaria com informações para decidir acerca da manutenção

ou redução dos níveis de estoques da organização (quantidades e valor monetário). O referido

autor cita, ainda, que para apurar o custo financeiro dos estoques primeiramente é necessário

calcular o valor (em R$) estocado ao final do prazo de estocagem (em dias) de cada insumo

fabril. Com esse propósito, deve ser utilizada a fórmula do Valor Futuro (também conhecido

como Valor Nominal ou Montante). Esse conceito, para Puccini (2004, p.40), é o valor

“resultante da aplicação de um item principal (PV), durante (n) períodos de capitalização, com

uma taxa de juros “i” por período, no regime de juros compostos”. Referida concepção está de

acordo com Heymann e Bloom (1990), que afirmam que os relatórios financeiros, para efeitos

gerenciais, devem expressar os valores contábeis em termos de fluxo de caixa. Isso implica,

conforme tais autores, que os usuários desses relatórios devem dispor de informes que

considerem o valor do dinheiro no tempo trazido a valor presente.

Diante desse contexto é possível perder muito dinheiro em função do grande número de itens

estocados sem necessidade, sendo que esses recursos poderiam ser aplicados em outro

investimento mais rentável, o que acarreta um “custo de oportunidade”. Para Pindyck e

Rubinfeld (2009) os custos de oportunidade são os custos associados às oportunidades que

serão deixadas de lado caso a empresa não utilize os recursos da melhor maneira possível.

Sobre esse assunto, Assaf Neto e Lima (2009, p. 316) mencionam que “um custo de

oportunidade retrata quanto uma pessoa (empresa) sacrificou de remuneração por ter tomado

a decisão de aplicar seus recursos em determinado investimento alternativo, de risco

semelhante”. Ou seja, o custo de oportunidade é a melhor alternativa disponível que foi

sacrificada. É quanto se deixou de ganhar decidindo por um investimento em vez de outro, de

mesmo risco. Basso (2005) afirma que, se nenhum objeto avaliado ou atividade é necessitado,

todos os pedidos, de todos os povos, em todos os períodos, podem ser realizados; portanto,

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não existiria a necessidade de escolher entre as opções avaliadas separadamente, não existiria

oportunidade ou alternativa deixada de lado. Assim, com a escassez, nem todas as

necessidades ou demandas podem ser realizadas; o que obriga escolher a melhor alternativa

disponível. Nesse sentido, é interessante que seja considerado o custo de oportunidade do

capital “empatado” nos estoques. Acerca disso, Faria e Costa (2005) pugnam que a

determinação da taxa de oportunidade mais adequada ao custo de manter estoques é inerente

ao tipo de investimento que se faria, caso os recursos não fossem aplicados nesses ativos.

Argumentam a favor desse raciocínio citando que se o dinheiro fosse destinado a uma conta

bancária ou utilizado para abater dívidas, então se aplicaria a taxa de juros adequada à opção

escolhida.

Sobre pesquisas com abordagem semelhante à pretendida neste estudo foram realizadas

consultas às bases de dados Scopus, Science Direct, Speel e Portal de Periódicos Capes, com

buscas pelas palavras-chave “financial cost”, “custo financeiro”, “opportunity cost”, “custo de

oportunidade”, “inventory” e “estoque”. Dessa seleção de termos resultaram três textos que

abordavam temática assemelhada à utilizada neste estudo (WEERASINGHE e ZHU, 2015;

REDIVO, 2004; SANTOS, 2007) e, ainda, outros três artigos que discorriam mais

especificamente sobre o custo financeiro de estocagem (WERNKE, LEMBECK e

NASCIMENTO, 2011; WERNKE, GOMES e LEMBECK, 2014; WERNKE e VARGAS,

2014).

3. Metodologia utilizada

Quanto aos objetivos esta pesquisa é classificável como descritiva, de vez que esse tipo de

estudo faz a descrição das características de uma população, fenômeno ou de uma experiência

(GIL, 2008). No que concerne à abordagem, pode ser classificada como qualitativa, que é

como Richardson (2008) denomina os estudos que descrevem a complexidade de determinado

problema, analisam a interação de certas variáveis, compreendem e classificam processos

dinâmicos vividos por grupos sociais. Pelo aspecto dos procedimentos adotados caracteriza-se

como um estudo de caso, pois se concentra em uma única entidade e suas conclusões limitam-

se ao contexto do objeto de estudo. No que tange à coleta de dados necessários ao estudo

foram realizadas entrevistas informais (não estruturadas) com o gestor responsável pela área

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de estocagem. Por intermédio dessas entrevistas foi possível conhecer o contexto da

instituição quanto aos controles internos utilizados para gerenciar os itens estocados. Quanto

ao período abrangido, a pesquisa foi desenvolvida no segundo semestre de 2015, mas utilizou

o mês de outubro daquele ano como base para obtenção dos valores pertinentes.

4. Apresentação e discussão dos resultados

A pesquisa foi realizada em universidade comunitária sediada em Chapecó (SC) que, em

razão de suas características operacionais, mantinha itens armazenados em quatro

almoxarifados. Todas as entregas dos fornecedores eram feitas no Almoxarifado Central (AC)

e, quando cabível, fazia-se o remanejamento para os demais almoxarifados: Equipamentos de

Proteção Individual (AE), Almoxarifado de Informática (AI) e Almoxarifado dos Reagentes

Químicos (AR).

A partir do sistema informatizado desses almoxarifados verificou-se que eram mantidos 1.134

produtos distintos em estoque. Porém, foram abrangidos neste somente os 20 principais itens

armazenados (11 produtos do AC e três de cada um dos demais almoxarifados). Para tanto, o

critério de seleção levou em conta o valor monetário total (R$) mantido em estoque no

período-base.

Além disso, as informações obtidas nas entrevistas efetuadas evidenciaram que não era

empregada qualquer metodologia mais aprimorada tecnicamente no que diz respeito ao

dimensionamento correto dos estoques e, principalmente, que não eram calculados os custos

financeiros de estocagem. Então, para avaliar o montante dos custos financeiros dos estoques,

o valor do estoque excedente e também o custo financeiro dos estoques excedentes, foi

proposta a elaboração de relatórios específicos (em planilhas Excel) a partir dos dados

disponíveis, como delineado na sequência.

4.1. Coleta dos dados necessários

Os controles internos da área de suprimentos da instituição em tela eram informatizados, o

que possibilitou importar os três principais dados necessários para aplicar a metodologia de

gestão de estoques escolhida: saldo atual em unidades físicas de cada material; respectivo

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consumo médio mensal em unidades físicas e valor monetário (R$) do custo de compra de

cada insumo. Referidos dados estão expostos na Tabela 1.

Ainda, para realizar o estudo pretendido também foi necessário obter informações

relacionadas com o número de dias de expediente mensal (em média 22 dias/mês) e com a

taxa de juros a considerar como “custo de oportunidade”. Neste caso, a taxa de juros

recomendada pelos gestores foi de 1,5% ao mês, em razão de ser a taxa de captação média

que a universidade costumava pagar para obter recursos junto às instituições bancárias.

4.2. Determinação do prazo médio de estocagem e do custo financeiro respectivo

Os dados citados na seção precedente permitiram apurar os prazos médios de estocagem dos

itens armazenados, conforme descrito na Tabela 2, a seguir.

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Nesta Tabela 2 dividiu-se o estoque atual em unidades físicas de cada insumo (coluna “A”)

pela respectiva quantidade média mensal consumida nos últimos 10 meses (janeiro a outubro

de 2015), conforme expresso na coluna “B”. Em seguida, multiplicou-se o resultado da

divisão pelo número de dias úteis do mês (22 dias, no caso da universidade pesquisada). O

resultado dessa equação forneceu o prazo médio de estocagem (PME), em dias, dos itens

abrangidos como consta da coluna “C” da Tabela 2.

O conhecimento do PME de cada item armazenado possibilita ao gestor uma comparação

deste com o prazo de entrega dos fornecedores. No caso do “Água mineral pet 500ml”

(primeiro produto listado na Tabela 2), a universidade mantinha nível de estoque equivalente

a 50,42 dias de consumo. Esse prazo é considerado inadequado porque, segundo o gestor do

almoxarifado, o fornecedor entrega esse item no prazo máximo de 2 dias depois de efetuado o

pedido. Portanto, não haveria necessidade de manter grande volume físico desse produto e

que implica prazo médio de estocagem tão elevado. Destarte, poderia ser comprado um lote

de estoque suficiente para cerca de 5 dias (como exemplo), proporcionando uma “margem de

segurança” de 3 dias. Além disso, apenas um dos 20 produtos enfocados no estudo possuía

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tempo de estocagem inferior a um mês de atividade (22 dias de expediente/mês). Tendo em

vista a identificação de longos prazos de estocagem, cabe ao gestor de suprimentos avaliar a

pertinência, ao menos, daqueles produtos com prazos de armazenagem mais elevados,

considerando a estimativa de dias para fornecimento ou reposição.

Depois de conhecidos os prazos médios, a avaliação dos estoques pode ser aprimorada com a

identificação do “custo financeiro” que a universidade arcava com os períodos de estocagem

excessivos. Para tanto, de início cabe levantar o valor total mantido em estoque. Com esse

propósito, os dados levantados até essa etapa permitiram determinar o valor total (em R$)

mantido em estoque pela organização em tela, conforme descrito na Tabela 3, para a amostra

de 20 itens selecionados.

O rol dos principais insumos utilizados pela universidade pesquisada atingiu o valor total de

R$ 70.793,22. Para chegar a esse montante, bastou multiplicar a quantidade em estoque pelo

respectivo custo de compra unitário (em R$).

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As tabelas citadas mostraram que a universidade mantinha valores expressivos em estoque

por períodos longos em termos de prazos médios de estocagem (em dias). Esse procedimento

pode repercutir negativamente no desempenho financeiro da instituição ou ter impactos na

necessidade de captar recursos para suportar o pagamento das aquisições de insumos se o

fluxo de caixa não estiver convenientemente equilibrado. Então, para evidenciar um dos

aspectos problemáticos relacionados aos níveis inadequados de estoques (ou mostrar o efeito

financeiro dessa “imobilização” de recursos nos estoques) pode ser empregada a mensuração

do “custo financeiro” respectivo, como exemplificado na Tabela 4 (com apenas 1 produto

detalhado e os demais representados na linha “outros”, por restrição de espaço no texto).

Tabela 4 - Custo financeiro do estoque dos produtos pesquisados

Grupo Produtos

Total

Estocado

(R$)

E = A x D

Dia Médio de

Estocagem

C = (A/B) x Dias

úteis

Estoque a

VF (R$)

VF = VP

(1+i)^n

Custo

Financeiro

do Estoque

(R$)

AR Glicerol (glicerina 99%) C3H8O3 c/ 1000ml 5.580,00 1.205,48 10.149,79 4.569,79

... Outros ... ... ... ...

TOTAIS 70.793,22 - 94.987,33 24.194,11

Fonte: elaborada pelos autores, com dados da pesquisa.

Para determinar o “custo financeiro” dos estoques inicialmente foi calculado o valor (em R$)

armazenado ao final do prazo de estocagem (em dias) de cada item (na penúltima coluna da

Tabela 4) por meio da equação do Valor Futuro (VF). Para isso foi utilizada a taxa de 1,5% ao

mês como “custo de oportunidade”, para considerar o conceito do “valor do dinheiro no

tempo” e aprimorar as informações dos relatórios gerenciais propostos.

Em seguida, foi necessário obter o valor total (R$) atualmente estocado (coluna E) e o prazo

médio (em dias) de estocagem (coluna C) para cada insumo armazenado. No exemplo

reproduzido na Tabela 4, o estoque atual do item “Glicerol (glicerina 99%) C3H8O3 c/

1000ml” tinha o valor de R$ 5.580,00, enquanto que o PME (prazo médio de estocagem)

apurado foi de 1.205,48 dias (calculado na Tabela 2).

Com esses três dados disponíveis para cada item foi possível calcular o valor futuro (VF) do

estoque atual com a fórmula citada anteriormente. Ou seja, no cálculo do “Valor Total no

Período R$” citado na Tabela 4 foi considerado como fator “n” na equação do VF o “Prazo

Médio de Estocagem (em dias)” apurado para cada insumo armazenado. Ainda, foi utilizado o

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valor estocado (R$) de cada um dos produtos abrangidos, conforme mencionado na segunda

coluna da Tabela 4, como sendo o valor presente (VP) na referida equação.

Ao abranger todos os 20 itens da Tabela 4, numa amostra com R$ 70.793,22 de insumos

estocados foi apurado “custo financeiro” total da ordem de R$ 24.194,11 no período

pesquisado. Este valor representava 34,17% do montante estocado e não aparecia nos

controles contábeis tradicionais ou nos controles internos da universidade. No entanto, deveria

ser evidenciado aos administradores porque fornece um diagnóstico acerca dos recursos

financeiros que são consumidos pelos estoques mantidos no almoxarifado da instituição.

Cabe ressalvar que também foram mensurados os valores relativos ao “estoque excedente”

(R$ 49.778,35) e “custo financeiro do estoque excedente” (R$ 23.313,91). Porém, pela

restrição de espaço, neste artigo foi omitido o detalhamento a respeito.

4.3. Discussão dos resultados

Nesta seção estão sintetizados e comentados os principais “achados” da pesquisa. Com esse

propósito, a Tabela 5 apresenta um resumo dos resultados segmentados pelas quatro

subdivisões da área de suprimentos da universidade estudada.

A Tabela 5 evidencia que a participação de cada almoxarifado e respectivos grupos de

produtos armazenados foi bastante distinta nos critérios mencionados naquela ilustração, que

podem ser adotados para analisar a pertinência do nível de estoque mantido pela entidade.

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Em relação ao Almoxarifado Central (AC), mesmo que fosse responsável por abrigar mais de

95% das unidades físicas, nesta unidade a participação percentual no valor total estocado (R$

41.496,76) era bem menor (58,62%). Esse nível de estoque e os prazos médios respectivos de

cada item acarretaram que o “Custo financeiro do estoque” (R$ 12.168,95) deste setor

respondesse por 50,30% do valor total apurado. Além disso, ao calcular o “Valor Total do

Estoque Excedente” desta unidade (R$ 23.139,00) se constatou que este equivalia a 46,48%

do montante calculado nesta pesquisa. Por último, o custo financeiro do excedente estocado

atingiu R$ 11.668,55 e representou participação de 50,05% no montante determinado a partir

dos produtos envolvidos. Ao ser informado destes resultados, o gestor desta unidade afirmou

que desconhecia tal realidade e surpreendeu-se com o fato de que com apenas 11 itens (de um

estoque com mais de 1.000 produtos) o valor resultante já foi elevado. Assim, se for

mensurado o custo financeiro de estoque de todos os itens desse almoxarifado, a tendência é

que esses valores sejam muito mais expressivos.

No âmbito do Almoxarifado de Informática o cenário oriundo dos cálculos realizados

permitiu dessumir que, apesar de não manter muitos insumos em estoque (cerca de 1,40% do

total das unidades físicas abrangidas), o valor monetário estocado representou 25,35% do

total, com um custo financeiro de estocagem de R$ 6.350,80. Chamou a atenção nesse

almoxarifado o fato de que o valor excedente de estoque (R$ 15.885,87) era apenas R$

2.058,04 menor que o valor total em estoque (R$ 17.943,91). Segundo o responsável pelo

setor, valores elevados já eram esperados em razão de manter armazenados equipamentos e

periféricos de informática, que têm valores monetários elevados de custo de compra.

Quanto ao desempenho do Almoxarifado de Reagentes, pela Tabela 5 foi constatado que o

mesmo teve participação de 2,40% no total de unidades físicas estocadas. Contudo, os

insumos armazenados neste setor possuíam valor monetário de R$ 9.019,59 (12,74% do total

estocado), o que acarretou custo financeiro de estoque de R$ 5.312,48 (21,96% do total da

pesquisa). Ainda, o valor do estoque excedente (R$ 8.633,25) também ficou muito próximo

ao valor total desta unidade (R$ 9.019,59) e implicou que o custo financeiro deste estoque

excedente chegasse a R$ 5.187,64 (o que equivalia a 22,25% do custo financeiro total

mensurado). Ao conhecer essas informações o técnico-químico responsável pela gestão deste

almoxarifado afirmou que, até então, não se preocupava com os níveis de estoques, pois

priorizava somente que não faltasse algum tipo de insumo.

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Por último, no caso do Almoxarifado de EPI’s os indicadores mensurados mostraram que este

mantinha os valores monetários mais baixos (R$ 2.332,96 de estoque; R$ 361,87 de custo

financeiro do estoque; R$ 2.120,24 de estoque excedente e R$ 334,48 do custo financeiro do

estoque excedente). Em relação às unidades estocadas, representa apenas 0,62% do conjunto

de insumos avaliados neste estudo, mas o valor monetário (R$) estocado atingiu 3,30% e o

custo financeiro deste estoque equivaleu a 1,50% do total mensurado.

A respeito de desempenhos indesejados em termos dos valores dos estoques e dos custos

financeiros apurados, estes provavelmente estão vinculados ao fato de que não existia nenhum

controle relacionado a essa problemática na instituição. Além disso, o software de controle

interno do setor de suprimentos não estava configurado para apresentar esses relatórios,

impossibilitando os gestores de terem essa informação por intermédio daquele instrumento.

Por isso, recomendou-se que os relatórios expostos nas tabelas das seções precedentes fossem

implementados e que os gestores fossem treinados para interpretá-los corretamente.

Quanto ao cotejamento dos resultados obtidos nesta pesquisa com os “achados” dos artigos

destacados anteriormente, vale salientar alguns pontos. Os estudos de Wernke, Lembeck e

Nascimento (2011), Wernke, Gomes e Lembeck (2014) e Wernke e Vargas (2014) abordam o

custo financeiro de estoque e o estoque excedente de modo semelhante ao enfoque aqui

aplicado, mas em empresas comerciais e industriais que mantinham apenas um almoxarifado.

Quanto às características e resultados, convém destacar que nesses artigos os percentuais entre

os grupos de insumos avaliados também foram muito distintos, bem como foram identificados

produtos “problemáticos”, ou seja, aqueles cujos valores monetários referentes ao custo

financeiro de estoque e ao estoque excedente eram altos. Ao priorizar esses insumos os

gestores poderiam cogitar medidas para minimizar os efeitos desses níveis indesejados de

estoques. Além disso, no que concerne às diferenças em relação aos artigos citados, no caso

da instituição universitária em tela os insumos são recebidos em um local e, depois,

distribuídos para outros almoxarifados menores que fazem o controle e distribuição aos

consumidores/usuários. A partir disso foi possível constatar que o Almoxarifado Central (AC)

teve a maior participação nos valores envolvidos. Contudo, ao se observar a diferença em

percentual do valor do estoque total para o valor do estoque excedente de cada um dos quatro

almoxarifados, nas outras três unidades (AR, AE e AI) essa disparidade foi bem maior. Isso

permite concluir que nestas a gestão de estoques é menos eficiente que no AC.

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5. Considerações finais

O artigo visou responder questão de estudo relacionada aos efeitos financeiros negativos da

gestão do estoque de insumos de uma instituição de ensino superior. Com esse propósito

objetivava elaborar relatórios adaptados ao contexto dessa instituição que permitissem

gerenciar os estoques de forma a identificar inadequações nos níveis de estocagem e os

respectivos impactos financeiros. Nessa direção, os autores entendem que a pergunta de

pesquisa foi convenientemente respondida de vez que, por intermédio das tabelas

apresentadas nas seções precedentes, foi possível evidenciar os prazos médios de estocagem,

o custo financeiro do estoque e o estoque excedente, entre outras informações gerenciais

relevantes. Em razão disso, o objetivo priorizado neste artigo também foi atingido. Ou seja, a

partir dos cálculos que foram explicitados anteriormente os gestores puderem conhecer a

pertinência dos níveis de estoques mantidos nos quatro almoxarifados abrangidos.

Quanto aos resultados do estudo, concluiu-se que o contexto encontrado na universidade é

preocupante, pois na amostra de produtos considerada foi constatada a existência de prazos de

estocagem altos e valores de estoques excedentes elevados, que acarretam custos financeiros

significativos. Nesse sentido, os procedimentos de cálculos utilizados permitiram identificar

os produtos mais problemáticos em cada almoxarifado pesquisa, bem como mostrar o

desempenho geral destes setores de forma comparativa.

No que tange às limitações desta pesquisa, é pertinente destacar dois pontos. O primeiro

relaciona-se ao fato de ter envolvido somente alguns produtos do total de itens estocados em

cada almoxarifado. O segundo ponto diz respeito à definição da taxa de juros utilizada nos

cálculos, visto que poderiam ser utilizadas metodologias mais aprimoradas para definir o

custo de oportunidade considerado na equação do custo financeiro do estoque. Contudo,

optou-se por adotar a taxa de juros mensal que a universidade arcava ao captar recursos

bancários à época da pesquisa pela maior facilidade de obter tal informação.

Como recomendação para trabalhos futuros, seria interessante comparar os resultados

apurados com a realidade de uma ou mais universidades particulares. Com isso, seria possível

aferir se estas dão mais importância à problemática relacionada ao custo financeiro de

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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João_Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016. .

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estoques, aos prazos médios de estocagem e aos níveis de estoques excedentes do que a

instituição comunitária pesquisada.

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