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34 CONSTRUÇÃO MERCADO 72 – JULHO 2007 EQUIPAMENTOS Aldo Dórea Mattos P oderia apostar que dentre todos os capítulos do TCPO (Tabelas de Composições de Preços para Orçamentos) o relativo a equipamentos é o menos consultado. Não por falta de importância, mas porque quem recorre ao livro está geralmente em busca de composições de custos unitários de serviços. Além disso, nas empresas é pouco comum se fazer a com- posição do custo horário dos equipamentos, seja por- que usam apenas máquinas alugadas, seja porque os orçamentistas usam tabelas pré-definidas por alguém em alguma época e em alguma circunstância. Nas empresas onde trabalhei e para as quais tenho feito trabalhos de consultoria, pude constatar que é corrente o desco- nhecimento sobre como se chega ao custo da hora de um equipamen- to. É para jogar luz nessa área tão pouco dominada da técnica orça- mentária que venho abordar sucin- tamente as parcelas que entram no cálculo do custo horário e a impor- tância da distinção entre hora pro- dutiva e hora improdutiva. A falta de entendimento leva a erros de orçamento e a negociações de pre- ços e reivindicações contratuais feitas sobre bases equivocadas. Os custos envolvidos na hora do equipamento são: Depreciação + Juros + Pneus + Combustível + Lubrificação + Operador + Manutenção Depreciação e juros perfazem o chamado custo de propriedade, enquanto pneus, combustível, lubrificação e operador compõem o custo de operação. A terceira família é, como já diz o nome, o custo de manutenção. Custos de propriedade Pode-se definir depreciação como a diminuição do valor contábil do ativo. Quando o construtor adquire um equipamento, ele não está gastando seu dinheiro, mas investindo, trocando uma quantia em dinheiro por um bem de valor equivalente. O valor do equipamento, contudo, começa a se desvalorizar a partir do instante em que é entregue ao compra- Como calcular custo horário dor, e a desvalorização prossegue devido a inúme- ros fatores, tais como idade, tempo de uso, desgas- te e obsolescência. Matematicamente, o cálculo da depreciação horá- ria pode ser feito de forma linear, dividindo-se a dife- rença entre o valor de aquisição (V o ) e o valor residual (V r ) pela vida útil do equipamento expressa em horas: Vo – V r D h = VU (em horas) Quando o construtor investe na aquisição de um equipamento, ele está dispondo de uma quantia de dinheiro que poderia estar aplicada no mercado finan- ceiro, rendendo juros. Por isso, o custo de proprieda- de de um equipamento deve levar em consideração também os juros correspondentes ao rendimento que o investimento auferiria ao longo de sua vida útil. O cálculo dos juros baseia-se no conceito de investimen- to médio (I m ) e da taxa de juros do mercado (i): I m . i (n + 1) J h = , sendo I m = (V o – V r ) + V r , a 2n onde n e a são respectivamente a vida útil em anos e a quantidade estimada de horas de trabalho por ano. Custos de operação O cálculo do custo horário dos pneus é similar ao da depreciação – basta dividir o custo pela vida útil dos pneus. Já o consumo de combustível e lubrificantes é variável, dependendo das condições de trabalho da máquina. O TCPO traz consumos médios aferidos em obras. São, portanto, índices empíricos. Os lubrificantes de um equipamento abrangem óleo do cárter, da transmissão, do comando final e do sistema hidráulico. O ideal mesmo é que a construtora aproprie o consumo real para cada equipamento. Nada é mais preciso do que usar dados retirados da efetiva observação dos equipamentos em operação. A hora do operador deverá ser calculada com os encargos sociais e trabalhistas pertinentes. Custos de manutenção Os custos de manutenção envolvem a manutenção Depreciação e juros perfazem o chamado custo de propriedade, enquanto pneus, combustível, lubrificação e operador compõem o custo de operação Orçamentistas ainda encontram dificuldades ao calcular valores horários de máquinas e veículos ACERVO PESSOAL artigo_equipamentos.qxd 2/7/2007 10:33 Page 34

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34 – CONSTRUÇÃO MERCADO 72 – JULHO 2007

EQUIPAMENTOS Aldo Dórea Mattos

Poderia apostar que dentre todos os capítulos doTCPO (Tabelas de Composições de Preços para

Orçamentos) o relativo a equipamentos é o menosconsultado. Não por falta de importância, mas porquequem recorre ao livro está geralmente em busca decomposições de custos unitários de serviços. Alémdisso, nas empresas é pouco comum se fazer a com-posição do custo horário dos equipamentos, seja por-que usam apenas máquinas alugadas, seja porque osorçamentistas usam tabelas pré-definidas por alguémem alguma época e em alguma circunstância.

Nas empresas onde trabalhei e para as quais tenhofeito trabalhos de consultoria, pudeconstatar que é corrente o desco-nhecimento sobre como se chegaao custo da hora de um equipamen-to. É para jogar luz nessa área tãopouco dominada da técnica orça-mentária que venho abordar sucin-tamente as parcelas que entram nocálculo do custo horário e a impor-tância da distinção entre hora pro-dutiva e hora improdutiva. A faltade entendimento leva a erros deorçamento e a negociações de pre-ços e reivindicações contratuaisfeitas sobre bases equivocadas.

Os custos envolvidos na hora doequipamento são:

Depreciação + Juros + Pneus + Combustível+ Lubrificação + Operador + Manutenção

Depreciação e juros perfazem o chamado custo depropriedade, enquanto pneus, combustível, lubrificaçãoe operador compõem o custo de operação. A terceirafamília é, como já diz o nome, o custo de manutenção.

Custos de propriedade Pode-se definir depreciação como a diminuição

do valor contábil do ativo. Quando o construtoradquire um equipamento, ele não está gastando seudinheiro, mas investindo, trocando uma quantia emdinheiro por um bem de valor equivalente. O valordo equipamento, contudo, começa a se desvalorizara partir do instante em que é entregue ao compra-

Como calcularcusto horário

dor, e a desvalorização prossegue devido a inúme-ros fatores, tais como idade, tempo de uso, desgas-te e obsolescência.

Matematicamente, o cálculo da depreciação horá-ria pode ser feito de forma linear, dividindo-se a dife-rença entre o valor de aquisição (Vo) e o valor residual(Vr) pela vida útil do equipamento expressa em horas:

Vo – VrDh = VU (em horas)

Quando o construtor investe na aquisição de umequipamento, ele está dispondo de uma quantia dedinheiro que poderia estar aplicada no mercado finan-ceiro, rendendo juros. Por isso, o custo de proprieda-de de um equipamento deve levar em consideraçãotambém os juros correspondentes ao rendimento queo investimento auferiria ao longo de sua vida útil. Ocálculo dos juros baseia-se no conceito de investimen-to médio (Im) e da taxa de juros do mercado (i):

Im . i (n + 1)Jh = , sendo Im = (Vo – Vr) + Vr,a 2n

onde n e a são respectivamente a vida útil em anos ea quantidade estimada de horas de trabalho por ano.

Custos de operaçãoO cálculo do custo horário dos pneus é similar

ao da depreciação – basta dividir o custo pela vidaútil dos pneus. Já o consumo de combustível elubrificantes é variável, dependendo das condiçõesde trabalho da máquina. O TCPO traz consumosmédios aferidos em obras. São, portanto, índicesempíricos. Os lubrificantes de um equipamentoabrangem óleo do cárter, da transmissão, docomando final e do sistema hidráulico. O idealmesmo é que a construtora aproprie o consumo realpara cada equipamento. Nada é mais preciso doque usar dados retirados da efetiva observação dosequipamentos em operação.

A hora do operador deverá ser calculada com osencargos sociais e trabalhistas pertinentes.

Custos de manutençãoOs custos de manutenção envolvem a manutenção

Depreciação ejuros perfazem ochamado custo depropriedade,enquanto pneus,combustível,lubrificação eoperadorcompõem o custode operação

Orçamentistas ainda encontram dificuldades ao calcular valores horários de máquinas e veículos

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propriamente dita – atividades de limpeza, lavagem,inspeção, ajuste, calibração, regulagem, retoque, rea-perto e troca rotineira de peças – e os reparos – con-serto ou substituição de peças e partes danificadas,defeituosas ou quebradas. Geralmente calculam ocusto horário de manutenção pela multiplicação deum coeficiente:

Vo – VrMh = k x n x a

Empresas com longa história de trabalho têm emregistros de obras passadas uma proveitosa fonte deinformação para custos de manutenção. Quanto maisdetalhado e completo o banco de dados de que dispõeo construtor, mais confiável poderá ser sua estimati-va para obras futuras.

Código 22700.9.8_ RETROESCAVADEIRA sobre pneus, diesel, potência 85 HP (63 kW),capacidade 0,24 e 0,88 m3 – vida útil 10.000 h

Componentes Un Consumo (hora)Produtiva Improdutiva

Operador de terraplenagem h 1,00 1,00

Pneu 14 x 24 x 10 sem câmara un 0,0008 –

Pneu 10,5/65 x 16 x 10 sem câmara un 0,0008 –

Graxa kg 0,02 –

Óleo diesel l 12,50 –

Depreciação de equipamentos de terraplenagem 9,00 x 10-5 9,00 x 10-5

Juros do capital de equipamentos

de terraplenagem 3,84 x 10-5 3,84 x 10-5

Manutenção de equipamentos de terraplenagem 6,00 x 10-5

Custo horário da retroescavadeira (Vo = R$ 200.000,00)

Componentes Un Consumo Custo Unitário Total

Operador de terraplenagem h 1,00 6,90 6,90

Pneu 14 x 24 x 10 sem câmara un 0,0008 600,00 0,48

Pneu 10,5/65 x 16 x 10 sem câmara un 0,0008 400,00 0,32

Graxa kg 0,02 20,00 0,40

Óleo diesel l 12,50 1,80 22,50

Depreciação de equipamentos

de terraplenagem 9,00 x 10-5 200.000,00 (=Vo) 18,00

Juros do capital de equipamentos

de terraplenagem 3,84 x 10-5 200.000,00 (=Vo) 7,68

Manutenção de equipamentos

de terraplenagem 6,00 x 10-5 200.000,00 (=Vo) 12,00

Total R$ 68,28

No TCPO, o custo horário dos equipamentosvem parametrizado sob a forma de uma composição de custos e com a subdivisão em hora produtiva e hora improdutiva.Exemplo: interpretar a composição de custo horário abaixo e calcular seu valor.

� Esses índices devem ser multiplicadospelo preço do pneu novo;� Esses índices devem ser multiplicadospelo preço de aquisição do equipamento (Vo);� A depreciação foi calculada com valorresidual (Vr) igual a 10% do valor deaquisição: Dh = (Vo – Vr) / VU = 0,90 Vo /10.000 = 9,00 x 10-5 x Vo;� Os juros do capital foram calculados comtaxa anual de 12% a.a.:

i (n + 1)Jh = x [(Vo – Vr) + Vr] = 0,0000012 x

a 2n

[0,90 Vo x 0,6 + 0,10 Vo] = 3,84 x 10-5 x Vo� Para manutenção, adotou-se k = 0,6 ⇒Mh = k x Vo / VU = 0,6 Vo / 10.000 = 6,00 x10-5 x Vo;� A hora improdutiva só leva em conta ooperador, a depreciação e os juros.

Custo horário produtivo = R$ 68,28Custo horário improdutivo = R$ 32,58Para uma explicação pormenorizada sobre custo horário de equipamentos e outros exemplos, o leitor pode consultar"Como Preparar Orçamentos de Obras",de minha autoria.

Hora produtiva e hora improdutivaA hora produtiva de um equipamento é a hora de

trabalho efetivo. Seu custo é a soma de todas as par-celas de custo de propriedade (depreciação e juros),custo de operação (pneus, combustível, lubrificantes,operador) e custo de manutenção.

A hora improdutiva corresponde à hora de traba-lho em que o equipamento fica à disposição do servi-ço, porém sem ser empregado efetivamente. Amáquina está à disposição da obra e o operador ocio-so. É o caso, por exemplo, de um caminhão-pipa quefica parte do tempo aguardando o lançamento domaterial numa praça de aterro.

A hora improdutiva leva em conta apenas o custode propriedade (depreciação e juros) e a mão-de-obrade operação.

Aldo Dórea Mattosengenheiro civil econsultor de empresas

Cálculo – custo horário de retroescavadeira

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