CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

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Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: Definições, associações com a saúde, a educação e propostas de ação. Rio de Janeiro 2018

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Page 1: CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira

CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees

com a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo

Rio de Janeiro

2018

Taiza Ramos de Souza Costa Ferreira

CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com

a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica

Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Sauacutede Puacuteblica - aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede

Orientadora

Profa Dra Suely Ferreira Deslandes

Data da defesa 04052018

Rio de Janeiro

2018

Catalogaccedilatildeo na fonte

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica em Sauacutede

Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica

F383c Ferreira Taiza Ramos de Souza Costa

Cyberbullying de crianccedilas e adolescentes definiccedilotildees associaccedilotildees

com a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo Taiza Ramos de Souza

Costa Ferreira -- 2018

120 f

Orientadora Suely Ferreira Deslandes Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Escola Nacional

de Sauacutede Puacuteblica Sergio Arouca Rio de Janeiro 2018

1 Bullying - psicologia 2 Internet ndash utilizaccedilatildeo 3 Miacutedias Sociais

4 Sauacutede 5 Educaccedilatildeo 6 Violecircncia 7 Crianccedila 8 Adolescente

9 Cyberbullying I Tiacutetulo

CDD ndash 22ed ndash 3023

Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira

CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com

a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica

Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede

Aprovada em 04052018

Banca Examinadora

Dra Giovanna Marafon

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Dra Simone Gonccedilalves de Assis

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Suely Ferreira Deslandes (orientadora)

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Rio de Janeiro

2018

Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os

impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de

apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel

Agradecimentos

Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo

Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria

acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede

Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes

incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo

em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu

pensar em cursar o mestrado Te amo

Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como

minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)

por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas

para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)

diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um

trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes

Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma

inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada

Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo

corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em

especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me

oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada

pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva

maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie

Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da

Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma

Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs

Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen

Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram

muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me

esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo

que eacute de Guerreiro

Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar

ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da

secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada

Encerra-se um ciclo para que outro se inicie

Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e

coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo

RESUMO

Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no

contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica

que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear

inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas

quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores

e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados

de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem

satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre

prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno

Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a

Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que

diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e

constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que

contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo

digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos

profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo

Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

39

insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

59

sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

76

sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

77

Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

78

―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

79

Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

80

―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

81

Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

82

A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

83

narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

84

atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

85

Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

86

novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

87

configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

88

confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

89

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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Page 2: CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Taiza Ramos de Souza Costa Ferreira

CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com

a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica

Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Sauacutede Puacuteblica - aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede

Orientadora

Profa Dra Suely Ferreira Deslandes

Data da defesa 04052018

Rio de Janeiro

2018

Catalogaccedilatildeo na fonte

Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz

Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica em Sauacutede

Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica

F383c Ferreira Taiza Ramos de Souza Costa

Cyberbullying de crianccedilas e adolescentes definiccedilotildees associaccedilotildees

com a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo Taiza Ramos de Souza

Costa Ferreira -- 2018

120 f

Orientadora Suely Ferreira Deslandes Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Escola Nacional

de Sauacutede Puacuteblica Sergio Arouca Rio de Janeiro 2018

1 Bullying - psicologia 2 Internet ndash utilizaccedilatildeo 3 Miacutedias Sociais

4 Sauacutede 5 Educaccedilatildeo 6 Violecircncia 7 Crianccedila 8 Adolescente

9 Cyberbullying I Tiacutetulo

CDD ndash 22ed ndash 3023

Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira

CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com

a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica

Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede

Aprovada em 04052018

Banca Examinadora

Dra Giovanna Marafon

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Dra Simone Gonccedilalves de Assis

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Suely Ferreira Deslandes (orientadora)

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Rio de Janeiro

2018

Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os

impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de

apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel

Agradecimentos

Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo

Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria

acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede

Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes

incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo

em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu

pensar em cursar o mestrado Te amo

Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como

minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)

por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas

para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)

diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um

trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes

Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma

inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada

Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo

corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em

especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me

oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada

pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva

maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie

Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da

Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma

Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs

Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen

Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram

muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me

esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo

que eacute de Guerreiro

Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar

ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da

secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada

Encerra-se um ciclo para que outro se inicie

Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e

coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo

RESUMO

Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no

contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica

que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear

inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas

quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores

e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados

de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem

satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre

prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno

Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a

Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que

diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e

constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que

contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo

digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos

profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo

Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

39

insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

59

sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

76

sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

77

Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

78

―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

79

Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

80

―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

81

Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

82

A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

83

narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

84

atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

85

Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

86

novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

87

configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

88

confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

89

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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estudo de adaptaccedilatildeo do brief cope Psicologia sauacutede amp doenccedilas 2004 5 (1) 3-15

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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Instituto de Comunicaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica em Sauacutede

Biblioteca de Sauacutede Puacuteblica

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Cyberbullying de crianccedilas e adolescentes definiccedilotildees associaccedilotildees

com a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo Taiza Ramos de Souza

Costa Ferreira -- 2018

120 f

Orientadora Suely Ferreira Deslandes Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz Escola Nacional

de Sauacutede Puacuteblica Sergio Arouca Rio de Janeiro 2018

1 Bullying - psicologia 2 Internet ndash utilizaccedilatildeo 3 Miacutedias Sociais

4 Sauacutede 5 Educaccedilatildeo 6 Violecircncia 7 Crianccedila 8 Adolescente

9 Cyberbullying I Tiacutetulo

CDD ndash 22ed ndash 3023

Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira

CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com

a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica

Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede

Aprovada em 04052018

Banca Examinadora

Dra Giovanna Marafon

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Dra Simone Gonccedilalves de Assis

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Suely Ferreira Deslandes (orientadora)

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Rio de Janeiro

2018

Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os

impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de

apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel

Agradecimentos

Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo

Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria

acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede

Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes

incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo

em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu

pensar em cursar o mestrado Te amo

Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como

minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)

por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas

para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)

diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um

trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes

Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma

inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada

Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo

corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em

especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me

oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada

pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva

maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie

Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da

Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma

Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs

Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen

Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram

muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me

esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo

que eacute de Guerreiro

Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar

ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da

secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada

Encerra-se um ciclo para que outro se inicie

Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e

coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo

RESUMO

Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no

contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica

que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear

inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas

quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores

e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados

de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem

satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre

prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno

Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a

Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que

diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e

constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que

contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo

digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos

profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo

Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

39

insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

59

sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

76

sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

77

Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

78

―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

79

Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

80

―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

81

Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

82

A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

83

narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

84

atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

85

Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

86

novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

87

configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

88

confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

89

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

REFEREcircNCIAS

93

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CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

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Page 4: CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Taiza Ramos De Souza Costa Ferreira

CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES Definiccedilotildees associaccedilotildees com

a sauacutede a educaccedilatildeo e propostas de accedilatildeo

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Sauacutede Puacuteblica da Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica

Seacutergio Arouca na Fundaccedilatildeo Oswaldo Cruz como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em

Sauacutede Puacuteblica Aacuterea de concentraccedilatildeo Violecircncia e Sauacutede

Aprovada em 04052018

Banca Examinadora

Dra Giovanna Marafon

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Dra Simone Gonccedilalves de Assis

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Suely Ferreira Deslandes (orientadora)

Escola Nacional de Sauacutede Puacuteblica Seacutergio Arouca - ENSP

Rio de Janeiro

2018

Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os

impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de

apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel

Agradecimentos

Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo

Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria

acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede

Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes

incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo

em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu

pensar em cursar o mestrado Te amo

Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como

minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)

por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas

para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)

diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um

trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes

Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma

inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada

Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo

corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em

especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me

oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada

pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva

maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie

Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da

Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma

Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs

Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen

Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram

muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me

esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo

que eacute de Guerreiro

Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar

ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da

secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada

Encerra-se um ciclo para que outro se inicie

Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e

coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo

RESUMO

Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no

contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica

que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear

inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas

quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores

e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados

de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem

satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre

prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno

Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a

Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que

diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e

constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que

contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo

digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos

profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo

Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

39

insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

59

sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

76

sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

77

Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

78

―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

79

Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

80

―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

81

Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

82

A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

83

narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

84

atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

85

Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

86

novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

87

configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

88

confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

89

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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Page 5: CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Dedico este trabalho a todas as crianccedilas e (os) adolescentes que sofreram ou sofrem com os

impactos do cyberbullying em sua sauacutede psiacutequica que possam encontrar os mecanismos de

apoio necessaacuterios que lhes possibilite enfrentar essa forma de violecircncia tatildeo cruel

Agradecimentos

Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo

Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria

acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede

Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes

incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo

em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu

pensar em cursar o mestrado Te amo

Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como

minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)

por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas

para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)

diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um

trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes

Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma

inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada

Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo

corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em

especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me

oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada

pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva

maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie

Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da

Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma

Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs

Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen

Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram

muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me

esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo

que eacute de Guerreiro

Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar

ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da

secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada

Encerra-se um ciclo para que outro se inicie

Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e

coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo

RESUMO

Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no

contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica

que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear

inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas

quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores

e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados

de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem

satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre

prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno

Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a

Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que

diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e

constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que

contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo

digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos

profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo

Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

39

insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

59

sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

76

sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

77

Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

78

―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

79

Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

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―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

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Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

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A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

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narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

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atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

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Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

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novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

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configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

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confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

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expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

REFEREcircNCIAS

93

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el caribe 2012 29(3)

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50 FAUCHER C CASSIDY W JACKSON M From the Sandbox to the Inbox

Comparing the Acts Impacts and Solutions of Bullying in K-12 Higher

Education and the Workplace Journal of Education and Training Studies 2015 3

(6) 111-125

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52 REED K P COOPER R L NUGENT W R RUSSEL K Cyberbullying A

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54 YANG YT GRINSHTEYN E Safer Cyberspace Through Legal Intervention A

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58 RIBEIRO P RODRIGUES A P Questotildees acerca do coping a propoacutesito do

estudo de adaptaccedilatildeo do brief cope Psicologia sauacutede amp doenccedilas 2004 5 (1) 3-15

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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Journal 2013 8 (2-3) 87-106

WINTERMAN Denise BBC News Magazine Cyber self-harm Why do people troll

themselves online Reportagem publicada em 04 dezembro de 2013 Disponiacutevel em

httpwwwbbccomnewsmagazine-25120783 Acessada em 25052016

ZYCH I ORTEGA-RUIZ R DEL REY R Systematic review of theoretical studies on

bullying and cyberbullying Facts knowledge prevention and intervention Aggression

and Violent Behavior 2015 23 1-21

120

Page 6: CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Agradecimentos

Agrave Deus por ter me dado a graccedila de conseguir cursar um curso de poacutes-graduaccedilatildeo

Scricto Sensu numa instituiccedilatildeo renomada como a ENSP e poder seguir minha trajetoacuteria

acadecircmica iniciada nesta casa em 2012 com a especializaccedilatildeo em Direitos Humanos e Sauacutede

Agrave minha famiacutelia por todo apoio recebido paciecircncia nos meus dias estressantes

incentivo para que eu natildeo desistisse do meu objetivo Obrigado por terem sonhado comigo

em especial meu esposo Eduardo Brito que acreditou que eu seria capaz antes mesmo de eu

pensar em cursar o mestrado Te amo

Quero tambeacutem registrar minha gratidatildeo pelo privileacutegio de ter Suely Deslandes como

minha orientadora mentora amiga agraves vezes matildee (matildee loira minha diva da vida academia)

por todas as orientaccedilotildees recebidas por ter acreditar em mim pelo incentivo pelas chamadas

para a realidade pelas dicas compreensatildeo paciecircncia (e como vocecirc exerceu esse dom comigo)

diante das minhas dificuldades e limitaccedilotildees diante do trabalho aacuterduo que eacute construir um

trabalho acadecircmico com qualidade Cada sessatildeo ligaccedilatildeo e encontros foram importantes

Jamais vou esquecer todo o suporte que meu deu aprendi e aprendo muito com vocecirc Eacutes uma

inspiraccedilatildeo para mim Muito obrigada

Agrave coordenaccedilatildeo acadecircmica do Programa de Mestrado em Sauacutede Puacuteblica da ENSP todo

corpo docente docentes convidados pela competecircncia e excelecircncia no ensino Agradeccedilo em

especial aos docentes e pesquisadores da minha subaacuterea violecircncia e sauacutede por terem me

oportunizado refletir apreender e conhecer sobre a violecircncia suas especificidades Obrigada

pelos encontros reflexivos provocadores e desafiadores (Maria Ceciacutelia Minayo ndash nossa diva

maior Suely Deslandes Patriacutecia Constantino Joviana Avanci Simone de Assis Kathie

Njaine Ednilsa Ramos Liana Pinto Fatima Cequetto Ana Elisa Miriam Schenker e Liane da

Silveira) Obrigada a todos os colegas da turma MSP2016 tenho orgulho dessa turma

Saudade dos nossos cafeacutes e chaacute de bebecircs

Agrave minha turma da subaacuterea Ethos Guerreiro (Adri Bruno Cynthia Lu Ju Hellen

Rodolfo e Val) pela solidariedade incentivo e empatia ao longo desses dois anos Foram

muitas batalhas conquistas alegrias perdas anguacutestias e tristezas partilhadas natildeo vou me

esquecer do que vivemos juntos virtualmente e presencialmente Temos um Ethos coletivo

que eacute de Guerreiro

Obrigada membros da banca por acreditar no meu trabalho e me possibilitar chegar

ainda mais perto dessa realizaccedilatildeo que eacute me tornar mestre Bibliotecaacuterio Adriano equipe da

secretaria acadecircmica pela prontidatildeo e profissionalismo muito obrigada

Encerra-se um ciclo para que outro se inicie

Como diz um salmo de Davi e nisso me apeguei ―Confie no Senhor Tenha feacute e

coragem Confie em Deus o Senhor (Salmos cp27 v14) Bestrong Gratidatildeo

RESUMO

Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no

contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica

que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear

inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas

quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores

e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados

de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem

satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre

prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno

Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a

Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que

diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e

constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que

contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo

digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos

profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo

Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

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insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

59

sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

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sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

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Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

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―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

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Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

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―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

81

Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

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A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

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narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

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atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

85

Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

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novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

87

configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

88

confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

89

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

REFEREcircNCIAS

93

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58 RIBEIRO P RODRIGUES A P Questotildees acerca do coping a propoacutesito do

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CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

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Page 7: CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

RESUMO

Este estudo trata o cyberbullying como uma violecircncia psicoloacutegica que ocorre entre pares no

contexto das sociabilidades digitais logo se configura como um problema de sauacutede puacuteblica

que traz impactos agrave sauacutede emocional de crianccedilas e adolescentes que pode desencadear

inclusive em suiciacutedio Analisamos as formas de conceituar os fenocircmenos e suas dinacircmicas

quais os personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede dos perpetradores

e acometidos por essa categoria de violecircncia A seguir analisamos as propostas e enunciados

de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo propostas pelo e para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo (quem

satildeo os atores implicados e quais as estrateacutegias recomendadas) analisar os discursos sobre

prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno

Empreendemos tal estudo a partir de uma revisatildeo criacutetica da literatura tomando como base a

Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) nos moldes propostos por Fairclough sobretudo no que

diz respeito aos discursos e enunciados evocados em sua interdiscursividade (manifesta e

constitutiva) forccedila e praacutetica social Percebeu-se uma necessidade de novos estudos que

contextualizem a questatildeo do cyberbullying na cibercultura e novas possibilidades de interaccedilatildeo

digitais bem como estudos que discutam com maior aprofundamento o papel dos

profissionais de sauacutede no enfrentamento e na prevenccedilatildeo

Palavras-chaves Cyberbullying Sauacutede Educaccedilatildeo violecircncia

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

39

insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

59

sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

76

sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

77

Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

78

―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

79

Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

80

―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

81

Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

82

A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

83

narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

84

atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

85

Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

86

novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

87

configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

88

confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

89

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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Page 8: CYBERBULLYING DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ABSTRACT

This study deals with cyberbullying as a psychological violence that occurs between peers in

the context of digital sociabilities and is therefore a public health problem that impacts the

emotional health of children and adolescents which can lead to suicide We analyze the ways

of conceptualizing the phenomena and their dynamics which characters are identified and

which associations point to the health of the perpetrators and affected by this category of

violence Next we analyze the proposals and statements of prevention and intervention

proposed by and for the fields of Health and Education (who are the actors involved and what

strategies are recommended) analyze the discourses on prevention accountability coping

modes and dynamics of the phenomenon We undertake such a study based on a critical

review of literature based on the Analysis of Critical Discourse (ADC) in the ways proposed

by Fairclough especially with regard to the discourses and statements evoked in his

interdiscursividade (manifest and constitutive) strength and social practice There was a need

for new studies that contextualize the issue of cyberbullying in cyberculture and new

possibilities for digital interaction as well as studies that discuss with a deeper understanding

the role of health professionals in coping and prevention

Key-words Cyberbullying Health Education violence

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO13

11 Objetivos13

12 Metodologia 19

2 MARCO TEOacuteRICO24

21 Cibercultura sociabilidade digital e ciberespaccedilo 24

22 Bullying29

23 Cyberbullying35

231 Cyberbullying Violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica35

3 ARTIGO 1 CYBERBULLYING DE CRIANCcedilAS E ADOLESCENTES

CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E IMPLICACcedilOtildeES COM

A SAUacuteDE44

Introduccedilatildeo45

Meacutetodos49

Conceituaccedilatildeo51

Descriccedilotildees das dinacircmicas56

Personagens envolvidos58

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos61

Discussatildeo62

4 ARTIGO 2 CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO

PARA O CAMPO DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE

LITERATURA64

Introduccedilatildeo64

Metodologia66

Caracterizaccedilatildeo do acervo69

Estrateacutegias de prevenccedilatildeo74

Estrateacutegias de intervenccedilatildeo80

5 CONCLUSOtildeES 87

6 REFEREcircNCIAS91

Sumaacuterio de Quadros

Quadro 1 Seleccedilatildeo do acervo22

Quadro 2 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo24

Quadro 3 Vocaacutebulo designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas37

Quadro 4 Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de Cyberbullying

(2010-2016)69

Sumaacuterio de Tabelas

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma51

Sumaacuterio de figuras

Figuras 1 Modelo Tridimensional de Norman Fairclough23

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Em tempos em que manter-se por muitas horas diaacuterias conectadas agrave internet atraveacutes de

aparelhos eletrocircnicos eacute uma realidade cotidiana de parte da sociedade na contemporaneidade

natildeo eacute de se espantar que a sociabilidade tenha sofrido alteraccedilotildees para novas formas de

interaccedilatildeo mediadas por diferentes miacutedias sociais De tal modo a violecircncia tambeacutem ganhou

novas formas de expressatildeo

A violecircncia e suas mais distintas expressotildees tecircm sido pauta de estudos em diferentes

aacutereas do conhecimento inclusive no campo da Sauacutede

Segundo Assis e Marriel (2010) conceituar violecircncia eacute uma tarefa difiacutecil por se tratar

de um fenocircmeno de muacuteltiplas causalidades

Ainda sobre as violecircncias Wanzinack e Signorelli (2015 p 09) afirmam que elas

atingem de forma natildeo apenas diferente mas sobretudo desigual a distintos sujeitos e grupos

da sociedade Assim sendo as violecircncias se manifestam por meio de diferentes atores e

encontram- se em variados cenaacuterios

Entende-se que existe uma relaccedilatildeo estreita poreacutem natildeo exclusiva entre a Violecircncia e a

Sauacutede conforme apontam Minayo e Souza (1998 p520) ―a violecircncia natildeo eacute objeto restrito e

especiacutefico da sauacutede mas estaacute intrinsecamente ligada a ela Cabe ressaltar que o campo da

Sauacutede possui um papel social de relevacircncia pois dentre suas funccedilotildees estatildeo a elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias preventivas a promoccedilatildeo e recuperaccedilatildeo da sauacutede coletiva e individual

O cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se manifesta sob os moldes de

agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para aleacutem da

subjetividade do indiviacuteduo resultando em implicaccedilotildees praacuteticas e reais no cotidiano e

individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

Um estudo (Silva Silva Saldanha 2011) realizado atraveacutes de um questionaacuterio com

114 crianccedilas e adolescentes portuguesas constatou que o cyberbullying causa efeitos

devastadores na sauacutede mental e fiacutesica Entre as consequecircncias mais frequentes estavam as

crises de choro (714) a ansiedade (571) a dificuldade de concentraccedilatildeo (571) e os

pesadelos (571)

O cenaacuterio para este estudo foi o ambiente virtual visto que a violecircncia tem alcanccedilado

relevante capilaridade neste espaccedilo o que tem gerado amplas consequecircncias Satildeo

14

repercussotildees que perpassam tanto as relaccedilotildees sociais iniciadas fora do ambiente virtual que

podem ou natildeo ser nutridas neste ambiente (como exemplo relaccedilotildees familiares entre colegas

e vizinhos) ou ainda interaccedilotildees sociais mais superficiais (amigos virtuais eou seguidores de

redes sociais que podem ou natildeo ter uma relaccedilatildeo social real com o usuaacuterio nessas redes

sociais) Certas vinculaccedilotildees desenvolvidas neste espaccedilo satildeo conexotildees construiacutedas por meio de

interesses comuns que todavia podem ser rompidas a qualquer momento devido agrave

superficialidade nessas conexotildees

Essas relaccedilotildees sociais que ocorrem no ciberespaccedilo (espaccedilo virtual) e que podem

culminar em atos violecircncia na comunicaccedilatildeo digital se manifestam em meio a uma cultura

digital Cultura esta que alguns estudiosos da aacuterea das ciecircncias da comunicaccedilatildeo e ciecircncias

sociais chamam de cibercultura

Segundo Andreacute Lemos (2015) a cibercultura seria uma confluecircncia entre as formas

sociais praacuteticas humanas e a tecnologia sendo atraveacutes da inclusatildeo da sociabilidade na praacutetica

diaacuteria da tecnologia que ela adquire os seus contornos mais niacutetidos A existecircncia de uma nova

forma de apresentaccedilatildeo da cultura e da proliferaccedilatildeo de uma sociabilidade digital traz consigo

distintas facetas entre elas a violecircncia se faz presente no ciberespaccedilo e nas relaccedilotildees digitais

que ali se estabelecem A nova sociabilidade digital eacute mediada por distintas tecnologias que

facilitam o uso e acesso individual e remoto tais como os smarthphones notebooks e outros

modos de comunicaccedilatildeo que possibilitam o envio e recebimento de mensagens de textos

aacuteudios imagens fotos e viacutedeos Essas muacuteltiplas formas de interaccedilatildeo digital podem ser

utilizadas para depreciar denegrir e expor vexatoriamente eou negativamente agrave imagem de

algueacutem Assim o cyberbullying pode ser concebido e difundido poreacutem agraves vezes seus autores

natildeo satildeo identificados devido agrave possibilidade de anonimato (ainda existente) no ambiente

virtual ou ainda a morosidade na identificaccedilatildeo desses autores Apesar de todos os avanccedilos

tecnoloacutegicos que possibilitam rastreamentos e localizaccedilatildeo de aparelhos eletrocircnicos de

comunicaccedilatildeo

Aleacutem disso uma vez que uma imagem eacute veiculada no ambiente virtual essas

informaccedilotildees poderatildeo estar pra sempre circulando na rede mundial de computadores por meio

das diferentes conexotildees que podem ser realizadas Lemos (2015) considera o ciberespaccedilo

como um ambiente onde ocorre uma significaccedilatildeo sensorial da civilizaccedilatildeo pautada em

informaccedilotildees digitais

15

Jaacute Martino (2015) ao tratar das questotildees caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais

contemporacircneas afirma que os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos

estabelecidos conforme a necessidade de um momento e desmanchados depois Haacute uma

dinacircmica nos contatos sociais feitos atraveacutes da internet partindo da ideia do nuacutemero e dos

tipos de conexotildees que podem ser estabelecidas entre os participantes das redes sociais

presentes no chamado ciberespaccedilo

Eacute inevitaacutevel falar cyberbullying sem mencionar o fenocircmeno bullying por ambos os

fenocircmenos ocorrerem entre pares e pelo fato deste primeiro ser chamado de a versatildeo digital

do bullying dito como tradicional

Jaacute que para alguns o cyberbullying representaria ―uma nova forma de bullying (Neto

2005) O autor cita Bill Belsey professor que teria utilizado pela primeira vez o conceito

trata-se do uso da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (e-mails

telefones celulares mensagens por pagers ou celulares fotos digitais sites

pessoais difamatoacuterios accedilotildees difamatoacuterias online) como recurso para a

adoccedilatildeo de comportamentos deliberados repetidos e hostis de um individuo

ou grupo que pretende causar danos a outro (s)

Sabe-se que os primeiros estudos sobre o bullying satildeo oriundos dos paiacuteses do norte da

Europa dos paiacuteses considerados noacuterdicos na deacutecada de 1970 pelo professor universitaacuterio

Dan Olweus e posteriormente na Sueacutecia com Heinz Leymann Dan Olweus eacute apresentado

como o precursor em realizar pesquisas sistemaacuteticas sobre o tema Em 1989 Olweus e

Roland divulgaram os primeiros diagnoacutesticos de seu estudo sobre o bullying No entanto

estudos de bullying entre estudantes passaram ser mais observados em outros paiacuteses como os

Estados Unidos a partir da deacutecada de 1980 (Olweus 2003)

Segundo Malta et al (2010) o Bullying eacute uma praacutetica antiga Os autores o entendem

como uma ―violecircncia que traz repercussotildees no cotidiano de suas viacutetimas como uma ameaccedila

diaacuteria a integridade fiacutesica psiacutequica e da dignidade humana (pg3069) Os autores enfocam

ainda que o bullying natildeo eacute uma violecircncia demarcada por recortes sociais e econocircmicos e

perpassa por distintas camadas sociais e ―niacuteveis culturais Segundo Cleo Fante (2008 p 86)

o ―bullying eacute uma palavra de origem inglesa adotada em muitos paiacuteses para definir o desejo

consciente e deliberado de maltratar outra pessoa e colocaacute-la sob tensatildeo Conforme Shariff

16

(2011) trabalhadores britacircnicos de minas de carvatildeo discorriam sobre colegas de trabalho

como bullies e a partir daiacute iniciou-se uma associaccedilatildeo dos bullies com ―brigotildees ou

―valentotildees Poreacutem somente a partir na deacutecada de 1800 (seacutec XIX) a termologia (bullies)

passou a se referir agrave fraqueza covardia tirania e violecircncia tendo ainda uma associaccedilatildeo a

gangues Deste modo agir como um bully representava tratar de maneira ―autoritaacuteria

intimidadora e apavoradora O que nos leva a entender que haacute provaacutevel relaccedilatildeo etimoloacutegica da

palavra bullying e o prefixo bully como falaremos a seguir

Ainda em Sharrif (2011) a etimologia expotildee muito sobre a problemaacutetica existente em

identificar o bullying ao reconhecer que houve uma transiccedilatildeo do que representaria um

comportamento valentatildeo de modo amplo para um trato de autecircntica hostilidade ao destacar a

comparaccedilatildeo existente entre a evoluccedilatildeo histoacuterica da palavra e do bullying no ambiente escolar

contemporacircneo

Assim o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidados (Alim

2016) Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs

horas diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de cyberbullying

(Arsegravene Raynaud 2015) Li et al (2012) trazem destaque sobre os efeitos do cyberbullying

que podem ser tatildeo graves quanto o do bullying presencial As viacutetimas apresentam a

probabilidade de sofrer de depressatildeo sendo que os autores (em geral tambeacutem crianccedilas e

adolescentes) enfrentam esse problema posto que seja uma violecircncia entre pares Em

decorrecircncia disso a violecircncia psicoloacutegica reproduzida no ambiente virtual pode desencadear

consequecircncias graves a sauacutede de suas viacutetimas (Li et al 2012)

Existem autores que consideram a necessidade de compreensatildeo por parte dos

profissionais de que o cyberbullying seria um processo que ocorre em adiccedilatildeo ao bullying

tradicional como um subtipo de bullying com caracteriacutesticas especiacuteficas (Stelko-Pereira e

Williams 2011 in Wendt 2013) Entretanto para Wendt (2013) em muitos casos pode natildeo

haver o bullying [no acircmbito da vida real] mas pode estar ocorrendo a vitimizaccedilatildeo [apenas]

17

online portanto trata-se de processos sobrepostos embora independentes (p83) [grifos

nosso]

Uma pesquisa internacional a TIC KIDS ONLINE (2015) que visa mapear possiacuteveis

riscos oportunidades na internet e aponta dados sobre mediaccedilatildeo parental ao entrevistar

crianccedilas e adolescentes entre 09 e 17 anos revelou que cerca de 20 foram tratados de forma

ofensiva na internet nos uacuteltimos 12 meses Entre os entrevistados 9 receberam mensagens

ofensivas pela internet 4 declarou que outras pessoas postaram mensagens ofensivas na

internet para outras pessoas verem o mesmo percentual de jovens foi excluiacutedo de grupo ou

rede social

Uma pesquisa nacional realizada no segundo semestre de 2009 neste caso

apresentada pela ONG SAFERNET cuja amostra contou com a participaccedilatildeo de 2525 alunos

e 966 educadores das redes puacuteblicas e privadas identificou com relaccedilatildeo a situaccedilotildees de

cyberbullying ―que 33 dos entrevistados jaacute haviam tido algum amigo viacutetima desse tipo de

humilhaccedilatildeo na rede

Tais maus tratos consistem em praacuteticas de difamaccedilatildeo humilhaccedilatildeo

ridicularizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo por meio de ferramentas da internet

Com o atual aumento das facilidades para acesso ao mundo virtual por

parte de crianccedilas e adolescentes esse tipo de agressatildeo se torna cada

vez mais frequente Uma caracteriacutestica importante desse tipo de

agressatildeo eacute que consiste num ―fenocircmeno sem rosto agrave medida que na

internet o agressor pode muitas vezes natildeo se identificar

(httpwwwpromeninoorgbrportals0pesquisabullyingpdf)

Compreende-se que existem situaccedilotildees na vida que podem gerar abalo emocional e

consequentemente paralisam pessoas algumas conseguem superar tais situaccedilotildees e saiacuterem

delas fortalecidas Um dos motivos para que cada indiviacuteduo lide de modo distinto com

problemas semelhantes estaacute relacionado com o conceito de resiliecircncia A resiliecircncia pode ser

caracterizada como a capacidade de superar uma dada situaccedilatildeo de adversidade e sair

fortalecido (Angst 2009) Importante considerar essa capacidade de recuperar-se de lidar de

forma positiva com as pressotildees eou estresse em situaccedilotildees de adversidades Interessante

apontar que o conceito de coping apresenta uma base conceitual semelhante agrave resiliecircncia

todavia natildeo se confunde agrave ela correspondendo a uma capacidade cognitiva comportamental

O coping eacute definido como ―conjunto das estrateacutegias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-

18

se a circunstacircncias adversas ou estressantes (Antoniazzi Bandeira DellacuteAglio 1998 in

Taboada et al 2006) Tais estrateacutegias individuais podem ser utilizadas como manejo

individual diante eou apoacutes situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying

Entende-se que existe um grau de fragilidade quando os jovens satildeo expostos ao uso da

internet seja devido ao uso prolongado das redes sociais e outras formas de navegaccedilatildeo na

web ou ainda o uso da internet sem o monitoramento dos responsaacuteveis bem como o uso de

aparelhos com acesso agrave internet desprotegidos de sistema de seguranccedila de dados e

informaccedilotildees Fatos como esses podem contribuir para o iniacutecio de um ciclo de violecircncia

Embora jaacute existam poliacuteticas de conscientizaccedilatildeo sobre uso adequado da internet

seguranccedila virtual e de responsabilizaccedilatildeo de pessoas que cometem crimes virtuais natildeo

necessariamente faz com que todas as formas de violecircncia virtual sejam identificadas eou

tenham seu ciclo rompido

Partindo desse recorte analiacutetico utilizamos as seguintes questotildees investigativas

- Como a literatura nacional e internacional conceitua o cyberbullying e descreve suas

dinacircmicas

- Qual o papel de gecircnero em tais dinacircmicas

- Quais conexotildees satildeo feitas com a sauacutede de crianccedilas e adolescentes que sofrem e praticam o

cyberbullying

- Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees propostos pela

literatura sobre cyberbullying - Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a questatildeo da

sociabilidade virtual juvenil (Deve haver regulaccedilatildeo Como ocorre Deve ser proibida)

- Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullyin

- O que fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

Nosso objetivo geral foi analisar como a literatura nacional e internacional aborda o

tema as associaccedilotildees que delimita entre o cyberbullying e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes e

as accedilotildees propostas de intervenccedilatildeoprevenccedilatildeo para os campos da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

19

Nossos objetivos especiacuteficos foram

1 Analisar as conceituaccedilotildees utilizadas para caracterizar o cyberbullying explorando

eventuais diferenccedilas entre os autores nacionais e estrangeiros

2 Analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela comunidade cientiacutefica sobre as

propostas de prevenccedilatildeo do cyberbullying e modos de enfrentamento no campo da

sauacutede e educaccedilatildeo

3 Analisar as representaccedilotildees associadas agrave construccedilatildeo dos sentidos do fenocircmeno (causas

personagens envolvidos e responsabilidades implicadas)

4 Analisar as praacuteticas de cyberbullying (perpetrar sofrer testemunhar) a partir das

dinacircmicas das relaccedilotildees de gecircnero

5 Identificar associaccedilotildees e implicaccedilotildees agrave sauacutede das pessoas intimidadas e dos

perpetradores causados pelos diferentes tipos de cyberbullying

6 Analisar as propostas de enfrentamento sugeridas para Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores

implicados e estrateacutegias sugeridas)

Diante disso apresentaremos como resultado dessa dissertaccedilatildeo dois artigos O primeiro

buscou analisar as conceituaccedilotildees de cyberbullying adotadas pela literatura nacional e

internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo enfocando suas ecircnfases e

―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as associaccedilotildees que delimitam

entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

No segundo artigo buscamos analisar criticamente as estrateacutegias de enfrentamento do

cyberbullying tanto no campo da Sauacutede quanto no campo da Educaccedilatildeo Elencando quem

seriam os atores implicados e que tipos de estrateacutegias haviam sido apontados pela literatura

investigada com enfoque em analisar criticamente tais discursos

METODOLOGIA

Propomos realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa considerando que este tipo

de estudo se compromete em trabalhar com ―os significados atribuiacutedos pelos sujeitos aos

fatos agraves relaccedilotildees praacuteticas bem como ―as interpretaccedilotildees dessas praacuteticas ao estudar uma

realidade especiacutefica (Minayo e Deslandes 2002)

20

Com relaccedilatildeo ao meacutetodo investigativo inicialmente haviacuteamos optado por utilizar do

meacutetodo de revisatildeo sistemaacutetica integrativa todavia a busca trouxe uma quantidade muito

elevada de trabalhos (7785) considerando o tempo para uma anaacutelise coerente de modo a

cumprir o cronograma proposto assim optamos por fazer uso de revisatildeo de literatura do tipo

―revisatildeo criacutetica (critical review)

Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um

tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant Booth

2009) A contribuiccedilatildeo de uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas

discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel

(Paregrave et al 2015) O escopo analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou

estatisticamente representativo Esse tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos

selecionados o que eacute considerado o seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as

revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo

(siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais

positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Cabe mencionar que preferimos por delimitar temporalmente o escopo da busca das

referecircncias para a revisatildeo literaacuteria sobre o tema proposto (de 2006 a 2016) Tal escolha

temporal se refere agrave disseminaccedilatildeo do acesso agrave internet por aplicativos em aparelhos moacuteveis

bem como a ampla disseminaccedilatildeo do maior site de relacionamento do mundo (FACEBOOK)

por exemplo datados a partir da deacutecada que trataremos a seguir

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo

BVS Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA

(Applied Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos

(all fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no

Medical Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Com o intuito de reduzir e qualificar mais esse acervo optou-se por trabalhar apenas os

estudos de revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no

tiacutetulo e ―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de

21

qualquer natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas

modalidades revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica

sistemaacutetica revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo

sistemaacuteticas e revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis

para acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em

301 estudos Depois de analisar cada artigo no MENDLEY foi identificado 156 artigos em

duplicidade que natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias

(MENDLEY) como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com

traduccedilatildeo de texto para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou

francecircs e quando houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor

seguido de et al Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com

recorte temporal de publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem

sendo difundido na uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

Desse nuacutemero de artigos apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo (conforme

quadro 1) Destacamos ainda que migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias

ZOTERO por ser um programa open sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados

pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos

salvos nos mais distintos formatos

22

Quadro 1 ndash Seleccedilatildeo do acervo

ACERVO (cyberbullying)

7785 estudos (allfields)

301

(apoacutes criteacuterio de exclusatildeo)

141

(apoacutes exclusatildeo das duplicidades)

72

(apoacutes recorte temporal)

57 estudos (prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo )

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia

dos autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

No que se refere agrave anaacutelise de dados especialmente no segundo artigo adotamos o

meacutetodo de Anaacutelise de Discurso Criacutetica (ADC) Considerando que a ADC possui outras

correntes de anaacutelise tomamos como referecircncia a orientaccedilatildeo dada por Norman Fairclough que

propotildee estudos criacuteticos e interdisciplinares sobre a praacutetica discursiva e sua relaccedilatildeo com a

transformaccedilatildeo social e de cultura Para Fairclough (2001) os discursos contribuem

diretamente para a construccedilatildeo dos sistemas de conhecimento e crenccedilas tendo trecircs funccedilotildees e

dimensotildees de sentido que ―coexistem e ―interagem em todo discurso sendo elas identitaacuteria

relacional e ideacional Na funccedilatildeo identitaacuteria estatildeo implicados os modos pelos quais as

23

identidades sociais satildeo constituiacutedas na funccedilatildeo relacional como as relaccedilotildees sociais entre os

atores presentes nos discursos satildeo representadas e ―negociadas na funccedilatildeo ideacional os

modos pelos quais significam o mundo seus processos entidades e relaccedilotildees Essas duas

uacuteltimas satildeo interpretadas (Halliday 1978 In Fairclough 2001) como de caraacuteter ―interpessoal

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Sendo assim se torna caro para noacutes identificarmos

que accedilotildees estatildeo sendo ditas a partir dos discursos construiacutedos nos estudos que seratildeo

analisados sobre o tema proposto Ou seja o que tem sido dito pelos estudos acerca do

cyberbullying Cabe destacar que o modelo proposto por Fairclough para a ADC abarca a

anaacutelise da praacutetica discursiva do texto e da praacutetica social

Conforme descrito na figura seguinte

Figura 1 - Concepccedilatildeo tridimensional do discurso em Fairclough (2001101)

O modelo tridimensional da ADC proposto por Fairclough distingue trecircs dimensotildees

dessa forma de anaacutelise de discurso texto praacutetica discursiva e praacutetica social Ao tratar

dimensatildeo textual o autor traz o entendimento de que todo o texto eacute elaborado de modo que

satildeo repletos de significados e inclusive de ambiguidades No que tange a praacutetica discursiva

segundo Fairclough (2001) permite explicar como os discursos satildeo produzidos distribuiacutedos

consumidos e interpretados reduzindo assim as possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva

propotildee categorias como a forccedila coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz

referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos de fala que o texto realiza [o que o texto evoca] a

coerecircncia trata do sentido que o texto possui [para quem faz sentido qual a loacutegica das

marcaccedilotildees e conexotildees] a intertextualidade ―eacute basicamente a propriedade que tecircm os textos de

PRAacuteTICA SOCIAL

PRAacuteTICA DISCURSIVA

TEXTO

24

serem cheios de fragmentos de outros textos (Fairclough 2001) [grifos nossos] A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que o Fairclough vai chamar

de interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto

Ao que se refere ao discurso como praacutetica social em Fairclough (2001) estaria

implicada necessariamente como uma dimensatildeo que produz os efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Sendo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo

de identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas

de crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Neste sentido todo o discurso possuiu uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

mudanccedila social em uma dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de relaccedilotildees

sociais

Destacamos que para realizar o processo de anaacutelise de discurso proposto utilizamos

um roteiro com matrizes de perguntas como Qual a conceituaccedilatildeo para o cyberbullying Quais

as definiccedilotildees e ou descriccedilotildees sobre as dinacircmicas do cyberbullying Como os personagens

envolvidos na praacutetica de cyberbullying satildeo descritos

No que tange a designaccedilatildeo e dinacircmica da anaacutelise submetemos os artigos selecionados

agraves matrizes de perguntas e posteriormente criamos bancos de dados temaacuteticos para as

definiccedilotildees propostas de enfrentamento diferenccedilas de gecircnero conexotildees entre a sauacutede de

crianccedilas e adolescente que sofrem e praticam cyberbullying Os quadros temaacuteticos permitiram

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees extraiacutedas e faacutecil acesso ao conteuacutedo no momento da anaacutelise

propriamente dita Para exemplificar segue abaixo o modelo de quadro temaacutetico

25

Quadro 02 Roteiro de organizaccedilatildeo do acervo

Matrizes de perguntas ndash Roteiro para a anaacutelise

Enfim cabe esclarecer que consideramos neste campo reflexivo as accedilotildees praacuteticas

apontadas nos estudos para os setores da Sauacutede e da Educaccedilatildeo incluindo as accedilotildees de cunho

preventivo e promotoras de cultura de paz1

Por fim por se tratar de um estudo de revisatildeo bibliograacutefica a pesquisa natildeo necessitou

ser submetida a um comitecirc de eacutetica em pesquisa com seres humanos

1 A cultura de paz estaacute intrinsecamente relacionada agrave prevenccedilatildeo e agrave resoluccedilatildeo natildeo violenta dos conflitos Eacute uma

cultura baseada em toleracircncia e solidariedade uma cultura que respeita todos os direitos individuais que

assegura e sustenta a liberdade de opiniatildeo e que se empenha em prevenir conflitos resolvendo-os () A cultura

de paz procura resolver os problemas por meio do diaacutelogo da negociaccedilatildeo e da mediaccedilatildeo de forma a tornar a guerra e a violecircncia inviaacuteveis Disponiacutevel em httpunesdocunescoorgimages0018001899189919porpdf

Acessado em 26052018

PERGUNTAS SAUacuteDE EDUCACcedilAtildeO

Como o Cyberbullying eacute

conceituado

Quais as descriccedilotildees das

dinacircmicas

Quais as descriccedilotildees dos

personagens

Quais as associaccedilotildees e

implicaccedilotildees com a sauacutede das

pessoas intimidadas e dos

perpetradores

Como as propostas de

intervenccedilatildeo satildeo apresentadas

(estrateacutegias de accedilatildeo objetivos

personagens envolvidos)

26

1 MARCO TEOacuteRICO

11 CIBERCULTURA SOCIABILIDADE DIGITAL E CIBERESPACcedilO

O surgimento da internet teria sido fruto da ARPANET uma rede de computadores

construiacuteda nos EUA pela Advanced Projects Agency (ARPA) do Departamento de Defesa

americano em 1969 com intuito de mobilizar recursos de pesquisas universitaacuterias para obter

superioridade tecnoloacutegica militar em comparaccedilatildeo a Uniatildeo Sovieacutetica Contudo somente na

deacutecada de 1980 eacute que a tecnologia da rede de computadores passou a ser comercializada ―Por

razotildees histoacutericas e culturais a internet foi deliberadamente projetada como uma tecnologia de

comunicaccedilatildeo livre (Castells 200310)

Desde entatildeo a sociabilidade contemporacircnea passou por significantes transformaccedilotildees

a partir do advento da internet De acordo com Castells (2003) a internet passou a ser a base

tecnoloacutegica para a forma organizacional da era da informaccedilatildeo Sendo assim da internet incide

a capacidade de distribuiccedilatildeo da forccedila informacional por todo o domiacutenio da atividade humana

permitindo pela primeira vez a comunicaccedilatildeo de muitos com muitos num momento

escolhido em escala global

De acordo com o dicionaacuterio Priberam (2016) internetlsquo eacute uma palavra de origem

inglesa que significa

―Rede informaacutetica utilizada para interligar computadores agrave niacutevel

mundial agrave qual pode aceder qualquer tipo de usuaacuterio e

que possibilita o acesso a toda a espeacutecie de informaccedilatildeo (httpswwwpriber

amptDLPOinternet)

Haacute um entendimento de que a internet contribui para as dinacircmicas de mercado

ampliaccedilatildeo e agilidade nas redes de contato acesso a informaccedilatildeo entre outros aspectos

concernentes agraves sociedades poacutes-modernas Atraveacutes dos avanccedilos tecnoloacutegicos na atualidade eacute

possiacutevel o acesso agrave internet por meios eletrocircnicos modernos como smartphones tablets

notebooks e ultrabooks

Cabe salientar que os avanccedilos tecnoloacutegicos bem como todo esse aprimoramento com

relaccedilatildeo agrave experiecircncia de interaccedilatildeo eou de estar conectado permitiu que novos modos de

27

sociabilidade fossem permitidos como as redes sociais Barnes foi apontado como um dos

criacuteticos que defende a ideia de alargamento e natildeo delimitaccedilatildeo do que hoje conhecemos como

redes sociais Ao realizar uma etnografia sobre o iniacutecio de uma estratificaccedilatildeo social numa ilha

norueguesa tal antropoacutelogo desenvolvera uma tese segundo a qual todos seus habitantes

estariam interligados uns aos outros por cadeias de conhecimentos interligados e pouco

extensatildeo mas que natildeo se limitava aos limites da ilha entretanto ligavam seus habitantes a

outros sujeitos fora do seu contexto social e topograacutefico de pertencimento (Barnes A 1954

apud Marteleto 2010)

Jaacute Lemos (2015) ao relatar sobre o ciberespaccedilo declara que este eacute compreendido como

um espaccedilo sem dimensotildees um universo de informaccedilotildees navegaacuteveis de forma instantacircnea e

reversiacutevel Afirma ser uma ―nova dimensatildeo espaccedilo temporal de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo

(p127) Para o autor esse natildeo lugar remete a duas perspectivas 1ordf O lugar onde estamos

quando entramos em um ambiente simulado (ambiente virtual) 2ordf Um conjunto de redes de

computadores interligadas ou natildeo em todo o planeta a internet ―as redes vatildeo se interligar

entre si e permitir a interaccedilatildeo por mundos virtuais () (pg128) Natildeo obstante a cibercultura

representaria um conjunto de aspectos e padrotildees culturais relacionados com a internet e a

comunicaccedilatildeo em redes de computadores (Dicionaacuterio online Priberam 2016) Com a criaccedilatildeo

dessa nova expressatildeo da cultura inserida no ambiente virtual foram estabelecidos novos

paracircmetros de privacidade do sujeito agrave medida que cada vez mais as pessoas estatildeo sendo

observadas por todos em todos os lugares fenocircmeno que alguns autores chamam de

vigilacircncia e visibilidade

Segundo Levy (2010) a Cibercultura em sua essecircncia tem caraacuteter de um universal

poreacutem sem totalidade pois ele seria indeterminado agrave medida que em cada nova transmissatildeo

pode representar um receptor ou emissor de informaccedilotildees de dimensotildees inalcanccedilaacuteveis e

aleatoacuterias Na cibercultura o real e virtual estatildeo a todo tempo em contato ao passo que um

indiviacuteduo pode estar no Brasil conectado online com uma pessoa do Japatildeo ou ainda em

conexatildeo com pessoas em diferentes nacionalidades numa mesma interaccedilatildeo online

Entendemos que esta universalidade eacute alcanccedilada agrave medida que possibilita diferentes e

muacuteltiplas conexotildees entre seres humanos em todo o planeta Deixa de ser total por natildeo

possuirmos o controle das dimensotildees que essas conexotildees podem alcanccedilar pela falta de

28

domiacutenio sobre as informaccedilotildees partilhadas visto que uma vez lanccediladas na rede natildeo se pode

mensurar o potencial de compartilhamentos acessos e quais novas conexotildees podem ser

geradas Nesse aspecto a interconexatildeo generalizada emerge do crescimento da internet como

uma nova forma de universal Para Levy (2010) o universo da cibercultura eacute indefinido se

considerada a gama de conexotildees que podem ser estabelecidas ao passo que o emissor ou

produtor a todo o momento pode estabelecer diferentes conectividades

Nessa sociedade poacutes-moderna os modos de conexotildees atraveacutes das distintas tecnologias

digitais tecircm gerado novas formas do que representa viver em sociedade Entre as

caracteriacutesticas da sociabilidade digital estaacute a hipervisibilidade e o tribalismo No que tange a

hipervisibilidade o ciberespaccedilo contribui para a criaccedilatildeo de uma ―realidade aumentada

(Lemos 2015) Que pode ser configurada com a exposiccedilatildeo e maior visibilidade que as vidas e

os corpos passam a ganhar Dados como localizaccedilatildeo fotos e hipertextos expotildeem informaccedilotildees

sobre o indiviacuteduo e todos que possui um viacutenculo virtual seja este viacutenculo ―fraco ou ―forte

O privado passa a ser publicizado a partir dos compartilhamentos realizados neste universo de

informaccedilotildees instantacircneas em tempo real Outra dimensatildeo da sociabilidade digital presente na

cibercultura eacute o que Lemos (2015) chama de tribalismo sendo esta uma ―tendecircncia

comunitaacuteria na rede social complexa do ciberespaccedilo Essa caracteriacutestica de tribalismo

concebe uma ideia de agregaccedilatildeo social empatia pautados no interesse muacutetuo de estar

conectados por ideologias ou alguma outra identificaccedilatildeo Contudo essa socialidade tribal traz

consigo um ethos de compartilhamento baseado no que Maffesoli vai chamar de eacutetica da

esteacutetica (Maffesoli 1987 apud Lemos 2015) Esse termo designa um processo em que a

sociedade eacute mascarada assumindo um ethos a partir daquilo que pretende compartilhar com

os outros um modo de ser partindo do que se quer ostentar

E se analisarmos o crescimento do acesso agrave conexatildeo de internet cada vez mais

pessoas estatildeo navegando na rede e compartilhando de seus interesses abrindo suas vidas

quase que indiscriminadamente

Para ressaltarmos o quanto o acesso agrave internet tem crescido no paiacutes verificamos que

em 2009 segundo o resultado da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) feita pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) cerca de 679 milhotildees de brasileiros

teriam conexatildeo com a internet ou seja o nuacutemero de domiciacutelios com acesso agrave internet no

Brasil aumentou em 71 entre 2005 e 2009 (Site UOL) Jaacute os resultados da PNAD 2013

divulgados em 2015 nos mostraram que cerca de 856 milhotildees de brasileiros (acima de 10

anos) o equivalente a 494 da populaccedilatildeo teriam acesso agrave internet incluindo por meio de

29

aparelhos que natildeo fosse notebooks e desktops Dos 312 milhotildees das residecircncias com

acesso agrave internet 977 estatildeo conectados por banda larga Em meacutedia 771 dos

domiciacutelios conectam a internet por banda larga fixa enquanto 435 teriam acesso

agrave banda larga moacutevel (Site EBC)

Em contrapartida apesar dos nuacutemeros expressivos o direito agrave inclusatildeo digital ainda

natildeo corresponde agrave realidade de todos os brasileiros sendo um tema de grande discussatildeo

Todavia jaacute eacute uma realidade em parte do Brasil acessar a internet por WIFI internet agrave raacutedio ou

modems 3G e 4G moacuteveis A partir da instalaccedilatildeo de aplicativos (apps) em aparelhos moacuteveis

que comportam o acesso agrave internet eacute possiacutevel conectar-se a Redes Sociais como Facebook

WHATSAPP INSTAGRAM TWITTER SNAPCHAT entre outras inclusive de forma

―gratuita Obviamente tal gratuidade possui interesses e contrapartidas comerciais Todavia

o que nos chama atenccedilatildeo eacute que essas redes sociais representam um ponto de encontro de

centenas de milhares de jovens ao redor do mundo diariamente com longas duraccedilotildees de

conexotildees (sempre online) e em grande escala sem administraccedilatildeo de tempo eou supervisatildeo de

um adulto responsaacutevel Cada vez mais cedo crianccedilas tecircm acesso agraves redes sociais O que nos

leva a crer que crianccedilas por vezes com apoio de seus responsaacuteveis estariam omitindo ou

adulterando sua idade real para que tenham acesso agraves redes sociais que natildeo permitem o

acesso de crianccedilas menores de 13 anos (como no caso do FACEBOOK)2 Essa espeacutecie de

conivecircncia dos pais que permitem que seus filhos utilizem redes sociais mesmo quando

algumas plataformas digitais natildeo permitem o acesso de crianccedilas Inclusive esse acesso pode

ser considerado como um risco a sauacutede e a seguranccedila das crianccedilas

O estudo de Machold et al (2012) com 474 estudantes Irlandeses de trecircs escolas

secundaacuterias entre 11 e 16 anos de idade para avaliar padrotildees gerais de uso da internet e

identificar potenciais de risco incluindo cyberbullying contato improacuteprio uso excessivo

dependecircncia e invasatildeo de privacidade por outros usuaacuterios detectou que (403) o equivalente agrave

95 dos adolescentes fazem uso de redes sociais Com relaccedilatildeo ao tempo de uso duas horas

ou mais foram gastas nas redes sociais diariamente por (285) o correspondente a 62 sendo

que 450 estudantes cerca de (98) fazem uso sem supervisatildeo

Entretanto os laccedilos de afinidade neste ambiente invisiacutevel onde os perfis e as novas

relaccedilotildees estabelecidas nas redes sociais podem natildeo ser verdadeiros mas simulaccedilotildees Essa

realidade estaacute presente no cotidiano de milhares de pessoas que estatildeo predispostas a manter

2 httpspt-brfacebookcomhelp210644045634222

30

um contato virtual na maioria das vezes pautado na superficialidade agrave medida que esse

ambiente invisiacutevel (considerando suas dimensotildees) traz visibilidade para nossa localizaccedilatildeo e

atividades compartilhadas com os ―amigos virtuais Martino (2015) ao tratas das relaccedilotildees

sociais mantidas na rede considera que ―por seu turno conexotildees satildeo criadas mantidas eou

abandonadas a qualquer instante sem maiores problemas comparadas as ―instituiccedilotildees

sociais como a famiacutelia trabalho ou religiatildeo tendem a ser mais riacutegidas para com seus membros

do que as redes sociais

A internet trouxe um desenvolvimento expressivo para o funcionamento das

sociedades modernas Para Shariff (2011) pela sua natureza os meios eletrocircnicos permitem

que as formas tradicionais do bullying assumam caracteriacutesticas que satildeo especiacuteficas do

ciberespaccedilo

Esse espaccedilo seria representado por um solo natildeo configurado onde os sujeitos se

relacionam de qualquer territoacuterio fiacutesico com pessoas que estejam em um diferente local

como se ambas estivessem frente a frente sem a necessidade de haver um contato fiacutesico ou

real o encontro se daacute em uma nova dimensatildeo o ciberespaccedilo

Concluiacutemos que o ciberespaccedilo eacute um campo natildeo material poreacutem virtual onde a noccedilatildeo

de espaccedilo eacute perdida e o real eacute aumentado possibilitando a comunicaccedilatildeo por meios eletrocircnicos

e a disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees em larga escala com muacuteltiplas e distintas pessoas

22 Bullying

A violecircncia admite distintas expressotildees e multicausalidades (Ferreira e Tavares 2012)

Desse modo se faz necessaacuterio abordar a questatildeo do bullying antes de aprofundarmos sobre a

questatildeo central deste trabalho Segundo Fante e Pedra (2008) na maioria dos paiacuteses onde o

fenocircmeno eacute estudado emprega-se o termo em inglecircs (bullying) Entretanto existem

alguns paiacuteses que utilizam outros termos de sua liacutengua sem que se perca o

significado Satildeo usados por exemplo mobbing na Noruega e na Dinamarca [t raduz ido

para o po rtuguecircs co mo bu l lying] mobbning na Sueacutec ia e na F in lacircnd ia

[ t raduz ido para o por tuguecircs como b u l lying] hercegravelement quotidien na Franccedila

[traduzido para o portuguecircs como asseacutedio diaacuterio] prepotenza ou bullismo na I t aacute l ia

[traduzido para o portuguecircs como bullying] ijime no Japatildeo [traduzido para o portuguecircs

31

como arrelia3] Agressionen unter S h uuml le r n na Alemanha (traduzido para o portuguecircs

como agressatildeo entre alunos) a c o s o e a m e n a z a entre escolares ou in t i m i d a c ioacute n na

Espanha [traduzido para o portuguecircs como perseguiccedilatildeo ameaccedila e intimidaccedilatildeo] (pg 34)

[grifos nossos]

Algo que nos chama agrave atenccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave temaacutetica bullying eacute a compreensatildeo que

alguns autores tecircm acerca do significado e ambiguidade entre a questatildeo do bullying e o

Asseacutedio Moral (mobbing4

) cabe destacar que por se tratar de palavras inglesas essa

ambiguidade se apresenta a partir da realizaccedilatildeo de traduccedilatildeo da temaacutetica como no caso da

liacutengua espanhola Como exemplo destacamos ao estudo peruano de Armeno (2011) que ao

tratar do assunto bullying escolar utiliza a palavra acoso (perseguiccedilatildeo) escolar poreacutem ao

serem utilizadas em conjunto (acoso escolar) eacute traduzida para o portuguecircs como bullying

Contudo algumas traduccedilotildees por exemplo traduz ―acoso escolar como asseacutedio moral

quando as palavras estatildeo juntas poreacutem acoso sem escolar tem como significado perseguiccedilatildeo

como mostrado no quadro anterior

Eacute possiacutevel ver neste estudo que satildeo muitas as definiccedilotildees tratadas para este assunto

desde o entendimento sobre o significado ou a magnitude do cyberbullying e sobre o bullying

Em alguns casos tanto cyberbullying como o bullying podem ser confundidos por

dificuldades na clareza de suas definiccedilotildees Contudo Farrington (1993381) define o bullying

como uma ―opressatildeo repetida de caraacuteter fiacutesico ou psiacutequico de uma pessoa com menos poder

por outra com mais poder Neste sentido o mais forte exerce poder sobre o mais fraco seja

esse poder de ordem fiacutesica por meio de agressatildeo ou psicoloacutegica de modo a causar medo e

intimidaccedilatildeo

Dentre vaacuterias definiccedilotildees para o que se entende por bullying Melo (2011) define como

uma agressatildeo fiacutesica psicoloacutegica verbal moral sexual material ou virtual praticada por uma

ou vaacuterias pessoas contra uma mesma viacutetima de forma repetitiva por um periacuteodo prolongado

de tempo sem motivo aparente baseada numa relaccedilatildeo desigual de poder dificultando a

defesa da viacutetima e que deixa sequelas marcas e consequecircncias (pg21) Natildeo podemos deixar

de mencionar que o bullying eacute uma violecircncia entre pares

3 Arrelia traz entre sua significaccedilatildeo 1 Amofinaccedilatildeo [ato de aborrecer] apoquentaccedilatildeo [aborrecimento

aporrinhaccedilatildeo] 2falta de paciecircncia pressa sofreguidatildeo 3contenda rixa desavenccedila 4pressentimento de coisa

maacute mau agouro (Google) wwwgooglecombrsearch Acessado em 27102016

4 Palavra inglesa para asseacutedio moral

32

Armeno (2011) considera a questatildeo do bullying (―acoso escolar) como uma

violecircncia social que pode asssumir forma verbal fiacutesica e por isolamento social da viacutetima

Para o autor os espectadores (outros estudantes) seriam necessaacuterios visto que satildeo

para esses que o perpetrador do bullying ―perseguidor ―mostra seu poder O silecircncio dos

espectadores permite que as accedilotildees sejam sistemaacuteticas Em termos de conteuacutedos eles podem

ser racistas se a origem da questatildeo eacute eacutetnica se eles incluem piadas obcenas de cunho sexual

ou ainda homofoacutebicas se tecircm a ver com a suposta orientaccedilatildeo sexual dos que sofrem a accedilatildeo

Se os meios utilizados satildeo as mensagens por telefones celulares ou computadores considera

como bullying digital o que para o autor pode ser devastador porque a viacutetima natildeo teria um

lugar para fugir das accedilotildees de bullying sofridas na escola visto que na internet a accedilatildeo pode ter

continuidade (Armeno 2011) Diante disso entendemos que o autor compreende o ―bullying

digital como uma extensatildeo do bullying tradicional e que a escola eacute o campo em que tais

accedilotildees satildeo iniciadas e que a presenccedila de espectadores pode potencializar ainda mais as accedilotildees

promovidas pelos perpetradores por encontrarem nestes a ―plateacuteia para realizaccedilatildeo de seus

atos de bullying

Compete resgatar que o iniacutecio da conscientizaccedilatildeo acerca deste grave problema no

acircmbito escolar bem como ressaltar que os primeiros estudos sobre o assunto foram

produzidos pelo Professor Universitaacuterio Dan Olweus na Noruega como jaacute mencionado Em

1993 Olweus publica na Escandinaacutevia o livro ―Bullying at School onde expotildee o bullying

como um fenocircmeno presente no contexto escolar trazendo uma discussatildeo a partir dos

resultados obtidos em seus estudos projetos de investigaccedilatildeo apresentando uma possiacutevel

correlaccedilatildeo de ―caracteriacutesticas que poderiam identificar os perfis de viacutetimas e agressores O

livro apresenta o resultado obtido em sua pesquisa sistemaacutetica realizada na deacutecada de 1980

com 150000 estudantes escandinavos onde descobriu que 15 dos estudantes entre 08 e 16

anos estavam envolvidos com a questatildeo do bullying sendo viacutetimas e agressores com

regularidade e entre esses havia casos de agressores que tambeacutem eram vitimas de Bullying

(Olweus 2003) Como repercussatildeo do estudo de Olweus e Roland ―Bullying at School uma

Campanha Nacional Anti Bullying foi desenvolvida nas escolas norueguesas em 1993 com o

apoio do Governo tendo com resultado a reduccedilatildeo em cerca de 50 nos casos de bullying nas

escolas

Outro ponto relevante eacute com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero entre os personagens do

fenocircmeno bullying Cabe destacar a pesquisa de Da Costa et al (2015) que ao analisar a

prevalecircncia de casos de bullying entre 598 adolescentes brasileiros na faixa etaacuteria de 14 agrave 17

33

anos de aacuterea urbana de Belo Horizonte em 2009 constatou que houve uma prevalecircncia de

264 entre os entrevistados Sendo 280 entre os entrevistados de sexo masculino e 240

entre o puacuteblico do sexo feminino Isso significa que frac14 dos adolescentes que responderam ao

questionario sofreram bullying Entre os meninos esse nuacutemero foi um pouco mais elevado do

que entre as meninas A questatildeo do bullying estaria associada agrave insatisfaccedilatildeo com a vida que

levam dificuldades na relaccedilatildeo com pais envolvimento em brigas com colegas (pares) e

inseguranccedila na regiatildeo onde residem Uma observaccedilatildeo interessante eacute que o estudo de Da Costa

et al (2015) foi realizado no mesmo ano que a primeira Pesquisa Nacional de Sauacutede do

Escolar (PENSE5) 2009 realizada pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

Ministeacuterio da Sauacutede Poreacutem os resultados foram divergentes com relaccedilatildeo a mesma capital

investigada BH Com relaccedilatildeo agrave PENSE a pesquisa foi realizada em escolas para investigar

fatores de risco e proteccedilatildeo da sauacutede dos escolares jaacute a pesquisa de Da Costa e colaboradores

foi um estudo populacional realizado no domiciacutelio dos entrevistados por meio de inqueacuterito

com amostragem probabiliacutestica em trecircs estaacutegios setores censitaacuterios residecircncia e indiviacuteduos

Os inquiridos responderam questotildees sobre bullying caracteriacutesticas sociodemograacuteficas

comportamentos de risco agrave sauacutede bem-estar educacional estrutura familiar atividade fiacutesica

marcadores de haacutebitos alimentares e bem-estar subjetivo (percepccedilatildeo corporal satisfaccedilatildeo

pessoal e satisfaccedilatildeo com a vida atual e futura) Outro fator que pode ter influecircncia nos

resultados foi o tamanho da amostra visto que a pesquisa PENSE analisou apenas alunos

matriculados no 8ordf Seacuterie fundamental (atual 9ordm ano) de escolas puacuteblicas e particulares da

cidade de BH enquanto que o estudo de Da Costa a escolaridade dos investigados natildeo foi um

recorte A prevalecircncia de bullying na PENSE 2009 em BH foi de 69 segundo Malta

(2014)

Haacute um entendimento de que os adolescentes do sexo masculino seriam os maiores

praticantes e alvos de bullying conforme aponta resultado da pesquisa PENSE 2012 Nesse

estudo observou-se maior praacutetica de bullying entre os estudantes do sexo masculino (261)

e 160 entre as estudantes do sexo feminino (IBGE 2013)

Com relaccedilatildeo ao enfrentamento a essa problemaacutetica Schutz et al (2012) defendem a

ideia de que a atuaccedilatildeo contra o bullying assim como cyberbullying natildeo pode estar restrita agrave

individualidade das caracteriacutesticas dos sujeitos em questatildeo ou seja autor e alvo ignorando a

5 Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar ndash PENSE eacute um inqueacuterito com alunos de escolas puacuteblicas e particulares

realizado pelo IBGE em parceria com o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que disponibiliza informaccedilotildees para o sistema de informaccedilotildees para o Sistema de Vigilacircncia de Fatores de Riscos e Proteccedilatildeo as Doenccedilas Crocircnicas do Brasil

Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfressv26n32237-9622-ress-26-03-00605pdf Acessado em 26062018

34

teia complexa das relaccedilotildees que implicam a manutenccedilatildeo do fenocircmeno Os autores sugerem

uma anaacutelise sistecircmica da complexidade dos diversos sistemas envolvidos e das relaccedilotildees

estabelecidas entre autor e alvo testemunhas famiacutelia comunidade escolar a cultura na qual

estatildeo inseridos Apontam a necessidade de investigaccedilatildeo que verifique a incidecircncia dos casos e

abrangecircncia do problema incluindo toda a comunidade escolar

Em 2015 o Brasil passou a dispor de uma legislaccedilatildeo Federal que trata da questatildeo A

lei Anti Bullying instituiu o Programa Nacional de Combate agrave Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica

(bullying) Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica eacute a configuraccedilatildeo utilizada no Brasil para classificar o ato

de violecircncia que internacionalmente eacute denominado por Bullying

―No contexto e para os fins desta Lei considera-se intimidaccedilatildeo

sistemaacutetica (Bullying) todo ato de violecircncia fiacutesica ou psicoloacutegica

intencional e repetitivo que ocorre sem motivaccedilatildeo evidente praticado

por indiviacuteduo ou grupo contra uma ou mais pessoas com o objetivo

de intimidaacute-la ou agredi-la causando dor e anguacutestia agrave viacutetima em uma

relaccedilatildeo de desequiliacutebrio de poder entre as partes envolvidas

(Paraacutegrafo 1ordm da Lei 131852015)

Cabe mencionar que a lei natildeo deixa expliacutecito se inclui a questatildeo do asseacutedio moral no

trabalho visto que ao instituir o programa propotildee accedilotildees no acircmbito escolar com enfoque nos

estudantes

Outra definiccedilatildeo para a questatildeo do bullying bastante coerente adveacutem da lei do Estado

do Rio de Janeiro jaacute mencionada anteriormente que define o bullying como

A praacutetica reiterada e habitual de atos de violecircncia fiacutesica verbal ou

psicoloacutegica de modo intencional exercida por indiviacuteduo ou grupos de

indiviacuteduos contra uma ou mais pessoas com o objetivo de intimidar

agredir causar dor ou sofrimento anguacutestia ou humilhaccedilatildeo agrave vitima

inclusive por meio de exclusatildeo social (Paraacutegrafo 1ordm da Lei 64012013

- RJ)

A lei que institui 7 de abril como o Dia Nacional de Enfrentamento a Violecircncia na

escola faz menccedilatildeo ao Massacre de Realengo trageacutedia ocorrida em abril do ano de 2011

35

quando doze crianccedilas entre 13 e 16 anos (dez meninas e dois meninos) foram assassinados a

tiros na Escola Municipal Tasso da Silveira por um ex aluno da unidade escolar que apoacutes ser

atingido por um tiro disparado por um policial militar teria se suicidado (AGEcircNCIA

SENADO 2016) Segundo relatos a motivaccedilatildeo do crime seria incerta poreacutem a nota do

suiciacutedio deixada pelo o autor do massacre e de acordo com o testemunho da irmatilde adotiva o

jovem sofria bullying

Natildeo podemos deixar de mencionar que Campanhas de enfrentamento ao Bullying tecircm

aparecido em pautas de Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONGs) e Governamentais como

Stop Bullying do Department of Health and Human Services dos Estados Unidos (EUA)

comunidades escolares e universidades como Massachusettes Aggresion Reduction Center

da Brigde State University (EUA) e em diferentes paiacuteses como Portugal Inglaterra Canadaacute

e Noruega Este uacuteltimo foi um dos primeiros paiacuteses a desenvolver campanhas anti bullying

alertando sobre seus impactos na vida e sauacutede dos que sofre essa violecircncia

Por fim cabe discorrer sobre os agravos agrave sauacutede relacionados a sofrer bullying Os

meninos e meninas alvos de bullying estariam propensos a desenvolver episoacutedios de

ansiedade baixo rendimento escolar inseguranccedila na escola sofrer de tensatildeo crescente

estando preacute-dispostos ao maior uso abusivo de drogas e em alguns casos mais graves ao

suiciacutedio (Malta et al 2010) Gera tanto um sofrimento emocional moral quanto fiacutesico

podendo desencadear outros agravos tais como baixa autoestima depressatildeo estresse

doenccedilas psicossomaacuteticas transtornos mentais (Calhau 2008 p88) O bullying natildeo deve ser

considerado como uma simples brincadeira (―zoaccedilatildeo) entre crianccedilas e adolescentes muito

menos ser banalizado ao passo de ser algo rotineiro Pelo contraacuterio esse assunto carece de ser

tratado como uma questatildeo de Sauacutede Puacuteblica que deve ser discutida investigada e enfrentada

por muacuteltiplos setores

A PENSE (Pesquisa Nacional de Sauacutede do Escolar) uma pesquisa com escolares

adolescentes de escolas puacuteblicas e privadas realizada pelo IBGE que entre os objetivos visa

aferir dados sobre bullying incluiu na ediccedilatildeo de 2015 uma segunda amostra O que

representou um diferencial com relaccedilatildeo agraves ediccedilotildees anteriores De acordo com a pesquisa

(2015) a primeira amostra foi realizada com 2630835 estudantes frequentando o 9ordm ano do

ensino fundamental de escolas puacuteblicas e privadas do Brasil em Grandes Regiotildees Distrito

Federal Capitais e Estados e a segunda amostra realizada com 13199862 estudantes de 13 a

17 anos de idade frequentando as etapas do 6ordm ao 9ordm Ano (antiga 5ordf a 8ordf seacuteries) do ensino

36

fundamental e alunos do 1ordm ao 3ordm ano do Ensino Meacutedio (antigo 2ordm Grau) de escolas puacuteblicas e

privadas para o conjunto do paiacutes e em grandes capitais no ano de referecircncia da pesquisa

(IBGE 2015) Dentre os entrevistados desta ediccedilatildeo a primeira amostra 74 sofreram

provocaccedilotildees ou foram humilhados sempre ou na maior parte do tempo nos uacuteltimos 30 dias

que antecederam a pesquisa O estudo apontou com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que os

percentuais foram proacuteximos para os estudantes do sexo feminino 72 e sexo masculino

75 Jaacute os estudantes da regiatildeo Sudeste apresentaram o maior percentual 83 estes

afirmaram sofrer humilhaccedilotildees e constrangimentos no acircmbito escolar Outro dado relevante eacute

do Estado de Satildeo Paulo que obteve o maior percentual 90 se comparado ao percentual

obtido pela regiatildeo sudeste e demais regiotildees A aparecircncia do corpo e do rosto foram os

principais motivos da violecircncia psicoloacutegica sofrida pelos escolares Com relaccedilatildeo aos

perpetradores aproximadamente 198 dos escolares brasileiros haviam praticado atos

configurados como bullying (ter esculachado zombado mangado intimidado ou caccediloado)

poreacutem entre os estudantes do sexo masculino este nuacutemero foi mais elevado aproximadamente

242 Interessante que com relaccedilatildeo aos intimidados (aqueles que declararam se sentir

humilhados e provocados com frequecircncia pelos colegas) os nuacutemeros apresentados foram de

74 entre a faixa etaacuteria de 13 a 15 anos e 52 dos estudantes entre 16 e 17 anos (IBGE

2015) Na ediccedilatildeo da PENSE supracitada foi incluiacuteda uma questatildeo especiacutefica para abordar a

questatildeo do bullying natildeo utilizado nas PENSEs 2009 e 2012 Nessas ediccedilotildees ―bullying era

substituiacutedo por verbos como (esculachar zoar mangar caccediloar e intimidar) entretanto

passaram a adotar o termo ―intimidaccedilatildeo em consonacircncia a nomenclatura adotada a partir da

Lei de Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica (Lei Anti bullying e cyberbullying brasileira)

promulgada no ano em que a pesquisa foi realizada (2015) Relevante informar que o estudo

aponta como legiacutetimo o reconhecimento do bullying como uma importante questatildeo de Sauacutede

Puacuteblica bem como a relevacircncia de estrateacutegias intersetoriais de enfrentamento Natildeo houve

uma especificaccedilatildeo para o cyberbullying na pesquisa PENSE 2015 no quadro que analisou a

questatildeo da intimidaccedilatildeo apesar da lei vigente no paiacutes incluir e reconhecer a versatildeo virtual do

bullying Embora tenham mencionado no texto e haverem citado o recorte dado na Lei de

Enfrentamento a Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica sobre a questatildeo do cyberbullying nos dados

analisados pela pesquisa Natildeo houve ainda um toacutepico especiacutefico que pudesse identificar onde

ocorriam as ―intimaccedilotildees zoaccedilotildees e esculachos subentendendo-se que ocorria na escola

aleacutem disto os meios eletrocircnicos natildeo foram apontados

37

23 CYBERBULLYING

231 Cyberbullying violecircncia psicoloacutegica e simboacutelica

Entre o grande nuacutemero de pessoas conectadas pela internet novos modos de

interaccedilotildees aparecem a partir da utilizaccedilatildeo de dispositivos eletrocircnicos possibilitando assim a

disseminaccedilatildeo irrestrita de informaccedilotildees em formato ―multimodal onde ―os recursos de miacutedia

integram coacutedigos texto som e imagem (Junior E Rocha 2013 pg206) Com a internet o

potencial de transmissatildeo e receptaccedilatildeo de informaccedilatildeo se tornou mais expansivo em relaccedilatildeo a

outras miacutedias como o caso da TV analoacutegica (atualmente substituiacuteda pela TV digital) (idem)

Permitindo assim que o compartilhamento de informaccedilotildees seja propagado com maior

facilidade inclusive as informaccedilotildees difamatoacuterias

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos traz consigo a

probabilidade de disseminaccedilatildeo de violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de

relacionamentos criaccedilatildeo de falsos (―fakes) perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo ao

convite ao suiciacutedio por meio de sites escolares clandestinos No Japatildeo satildeo conhecidos como

―gakko ura saito os sites escolares clandestinos acessados pelo celular Eles geram uma nova

forma de cyberbullying em grupo poreacutem sem a necessidade de identificaccedilatildeo dos chamados

―caluniadores anocircnimos (Hasegawa et al 2007 Shariff 2011) O ijime-jisatsu [suiciacutedio

associado ao ijimi - cullying] eacute uma das consequecircncias desastrosas e culturalmente incidentais

do fenocircmeno no Japatildeo Outro aspecto cultural no Japatildeo do netto-ijime [cyberbullying] eacute a

taxa elevada de suiciacutedio entre os jovens O que nos mostra o quanto o territoacuterio invisiacutevel da

internet pode desencadear no campo presencial consequecircncias agrave sauacutede de seus afetados

Admitindo que vivenciar uma experiecircncia de violecircncia no universo digital pode ser bastante

devastador Conforme afirma Santos et al (2013) a internet se torna um palco de grandes

riscos

Entendemos que o cyberbullying manteacutem muitas das caracteriacutesticas do bullying

poreacutem natildeo constitui meramente uma de suas expressotildees na instacircncia virtual pois possui

algumas caracteriacutesticas proacuteprias como o longo alcance do conteuacutedo depreciativo audiecircncia

de larga escala (testemunhas) por causar impacto nas viacutetimas sem precedentes pela

38

possibilidade de anonimato por parte dos perpetradores Aleacutem disso a ocorrecircncia do

cyberbullying pode se dar a qualquer momento e em qualquer lugar pela

dificuldademorosidade na detecccedilatildeo dos praticantes do cyberbullying ou dos criadores de

perfis falsos constituiacutedos no intuito de depreciar agredir e constranger Ao que se refere agraves

traduccedilotildees para o portuguecircs dos termos adotados para a palavra cyberbullying a traduccedilatildeo

aparece disponiacutevel em vaacuterias liacutenguas conforme Google Tradutor

Quadro 3 Vocaacutebulos designativos de Cyberbullying em outras liacutenguas

Palavra Liacutenguas Traduccedilatildeo para Portuguecircs

Kiberzapugivanieye Russo Cyberbullying

Cyber-mobbing Alematildeo Cyberbullying

naumltmobbning Sueco Cyberbullying

Cyberintimidation Francecircs Cyberbullying

Cyber bullismo Italiano Cyberbullying

Netto yjime Japonecircs Cyberbullying

Cyberpesten Holandecircs Cyberbullying

El ciberacoso Espanhol Cyberbullying

Seiber-fwlio Galecircs Cyberbullying

Maltretiranje Seacutervio Cyberbullying

Cyberprzemoc Polonecircs Cyberbullying

Fonte da traduccedilatildeo Google Tradutor

O termo cyberbullying teria sido criado pelo educador e pesquisador do Canadaacute Bill

Belsey para identificar o bullying virtual que faz uso das tecnologias digitais e para de modo

39

insistente e repetitivo hostilizar ofender ou ameaccedilar algueacutem (Maldonado 2009 in Melo

2011)

O que tem ocorrido eacute o crescimento de casos de agressotildees virtuais concebidas no

ambiente do ciberespaccedilo A forma de propagaccedilatildeo desse tipo de violecircncia deve ser analisada e

contextualizada O uso da internet pode ter um cunho prejudicial e essa consequente situaccedilatildeo

de exposiccedilatildeo pode tornar os sujeitos vulneraacuteveis ao passo de atingir em maior proporccedilatildeo a

geraccedilatildeo digital (os mais jovens) sendo necessaacuteria a mobilizaccedilatildeo de discussotildees sobre o papel

da escola na mediaccedilatildeo prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo virtual (Wendt 2011 p8)

Estudos tecircm advertido o quanto o cyberbullying tambeacutem pode desencadear agravos

relevantes agrave sauacutede de crianccedilas e adolescentes inclusive apontando um recorte de gecircnero

numa loacutegica binaacuteria desprovida de informaccedilotildees que caracterizem questotildees como a orientaccedilatildeo

sexual dos sujeitos Por exemplo Amemyia et al (2013) e Aranzales et al (2014) acreditam

que a praacutetica do cyberbullying eacute maior entre pessoas do sexo masculino Todavia minorias e

pessoas do sexo feminino satildeo mais propensas a serem atemorizados por estarem mais

vulneraacuteveis a situaccedilotildees de intimidaccedilatildeo Um estudo de meta-anaacutelise feito por Barllet et al

(2014) tendo como hipoacuteteses se cyber-bullying eacute considerado uma forma de bullying

tradicional e agressatildeo pessoas do sexo masculino seriam propensos a serem ―cyber-

valentotildees mais do que as do sexo feminino Inversamente se cyberbullying eacute considerado

relacional agressatildeo indireta as meninas seriam ligeiramente mais propensas a serem

perpetradoras de cyberbullying que os meninos Os autores apresentaram ainda outros

aspectos relevantes ao considerar na avaliaccedilatildeo questotildees como paiacutes continente e ano de

publicaccedilatildeo dos estudos bem como a idade dos atores pesquisados Ainda em Barllet et al

(2014) essas variaacuteveis poderiam influenciar significativamente os resultados de estudos sobre

cyberbullying Um dos fatores destacado tratou sobre as publicaccedilotildees que consideram o

cyberbullying uma forma de bullying tradicional e agressatildeo nesses casos os meninos seriam

mais propensos a serem perpetradores do que as meninas Contudo os resultados de

estimativas desse estudo afirmam que ainda sim os meninos teriam maior predisposiccedilatildeo a ser

―cyber-valentotildees Outro dado relevante eacute que no caso das meninas que relataram sofrer

cyberbullying a faixa etaacuteria estava entorno do iniacutecio adolescecircncia entretanto os meninos que

relataram sofrer cyberbullying apresentavam uma meacutedia de idade maior que as meninas

40

Assim o ambiente virtual eacute um terreno capaz de propiciar atos de violecircncia repetitiva

e ainda onde seus autores dificilmente satildeo descobertos o cyberbullying configura-se como

um tipo de violecircncia capaz de trazer consequecircncias graves as suas viacutetimas Para um usuaacuterio

do ambiente virtual que possui a imagem distorcida a internet pode representar uma

ferramenta de autodestruiccedilatildeo se natildeo utilizada de forma correta ou saudaacutevel Estudos apontam

dados significativos sobre os impactos do cyberbullying em estudantes6

Um fator relevante eacute que grande parte dos estudos ao mencionar sobre as pessoas que

satildeo atingidas pelo cyberbullying se referem a estes uacuteltimos utilizando o substantivo ―viacutetima

para identificar aqueles que sofrem este tipo de violecircncia Contudo acreditamos que o termo

traz a conotaccedilatildeo de passividade sugerindo ainda uma natildeo possibilidade de superaccedilatildeo da

condiccedilatildeo sofrida Eacute bem verdade que estudos apontam sobre as dificuldades das ditas

―viacutetimas em expor o dano sofrido ou pedir ajuda Entretanto outros conseguem ter

resiliecircncia a ponto de solicitar auxilio de familiares profissionais ou ainda autoridades Outro

aspecto relevante eacute que podem existir casos em que o intimidado pelo cyberbullying pode se

tornar um perpetrador ou ter sido um em outra situaccedilatildeo Inclusive pode haver casos em que

uma viacutetima de cyberbullying tenha sido um agressor (no caso do bullying tradicional) ou vice

versa Diante disso utilizaremos outros substantivos para relacionar aqueles que sofrem com

o Cyberbullying como por exemplo intimidados atingidos ou acometidos

Cassidy et al (2009) afirmam que adolescentes acometidos de cyberbullying teriam

uma maior predisposiccedilatildeo ao suiciacutedio do que aqueles que natildeo vivenciaram essas formas de

agressatildeo entre pares Apesar disso muitos dos que sofrem com o cyberbullying se calam

mesmo diante das constantes humilhaccedilotildees e depreciaccedilotildees Acreditamos que este calar por

parte dos intimidados pode representar tanto uma imaturidade acerca de como agir diante de

tal situaccedilatildeo como a falta de esclarecimento acerca dos serviccedilos e profissionais que podem

cuidar e acompanhar os casos de cyberbullying ou ainda uma ausecircncia de mecanismos de

apoio de faacutecil acesso que decircem conta de questotildees como esta Baronceli e Ciucci (2014) ao

6 Patchin e Hinduja (2010) dirigiram um estudo que objetivou apurar quais os impactos do

cyberbullying em jovens envolvendo 1963 alunos do ensino meacutedio oriundos de 30 escolas americanas Atraveacutes

de um instrumental de autodeclaraccedilatildeo estes estudiosos verificaram que tanto os cyberbullies (agressores) como

as viacutetimas apresentaram niacuteveis baixos de autoestima em maior frequecircncia quando comparados aos alunos sem

histoacuteria de vitimizaccedilatildeo online No entanto 231 dos alunos declararam ter sido perpetradores e 188 terem

sido viacutetimas de Cyberbullying Todavia as questotildees de gecircnero representaram diferenccedilas delimitadas

identificadas na ocorrecircncia dos subtipos de vitimizaccedilatildeo virtual entre meninos e meninas

41

investigar 529 preacute-adolescentes com idade inferior a 12 anos e 7 meses comparam

caracteriacutesticas de inteligecircncia emocional e controle negativo das emoccedilotildees relacionados ao

bullying e cyberbullying compreendendo que o bullying tradicional e cyberbullying satildeo duas

formas distintas de fenocircmenos da violecircncia envolvendo diferentes traccedilos de personalidades

Com relaccedilatildeo agraves formas de atuaccedilatildeo diante do cyberbullying segundo Melo (2011)

podemos encontrar a accedilatildeo direta e indireta Sendo a direta agressotildees por e-mail mensagens

instantacircneas natildeo havendo por parte do agressor o intuito de ficar no anonimato Jaacute a forma

indireta eacute vista como mais ―covarde e ―nefasta pois o agressor passa a usar nomes fictiacutecios

ou de terceiros o que pode ampliar a gravidade do problema visto que outras pessoas

(aqueles que assistem e disseminam a informaccedilatildeo) podem contribuir para esse estaacutegio de

―vitimizaccedilatildeo Entre as accedilotildees estatildeo votaccedilotildees online difamatoacuterias inclusatildeo de viacutedeos e

imagens vexatoacuterias entre outras

O campo virtual se tornou tambeacutem um meio de accedilotildees criminosas e violaccedilotildees de

direitos neste sentido atualmente jaacute existem Delegacias nuacutecleos e divisotildees policiais de

combate aos crimes de informaacutetica ou crimes ciberneacuteticos em diversos estados do paiacutes No

Rio de Janeiro por exemplo existe a Delegacia de Repressatildeo aos Crimes de Informaacutetica

(DRCI) localizada na Cidade da Poliacutecia na regiatildeo da Zona Norte da cidade e a Delegacia de

Proteccedilatildeo agrave crianccedila Viacutetima (DCAV) O que nos leva a entender que o cyberbullying jaacute pode ser

enquadrado como um crime contra a honra e dignidade por repercutir em danos agrave moral do

indiviacuteduo Natildeo podemos deixar de destacar que em algumas cidades brasileiras existem as

Delegacias de Proteccedilatildeo agrave crianccedila viacutetima de violecircncia Neste sentido cabe destacar o estudo de

Della Flora (2014) ao investigar 191 alunos de quatro turmas de 8ordf seacuterie (atual 9ordm ano)

fundamental e duas turmas de 1ordm ano do ensino meacutedio politeacutecnico e 17 professores constatou

que grande parte de alunos e professores citaram o registro de boletim de ocorrecircncia policial

como uma alternativa de enfrentamento ao cyberbullying por considerarem o ato como crime

em que o autor natildeo deve ficar impune Todavia uma vez que muitos de seus autores satildeo

outras crianccedilas ou adolescentes Segundo o artigo 104 do Estatuto da Crianccedila e adolescente -

ECA (Lei 806090) os menores de dezoito anos satildeo inimputaacuteveis Todavia a partir dos doze

anos de idade podem ser responsabilizados juridicamente caso cometam atos infracional

(conduta descrita no art 103 do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente como crime ou

contravenccedilatildeo penal) Ainda assim a questatildeo da responsabilizaccedilatildeo merece atenccedilatildeo cuidadosa

O que nos leva reconhecer a importacircncia de uma normatizaccedilatildeo que advirta e responsabilize os

42

responsaacuteveis pelo cyberbullying natildeo extinguindo o potencial e a necessidade de accedilotildees

preventivas de maior impacto

Com relaccedilatildeo ao manejo prevenccedilatildeo e enfrentamento do bullying e suas apresentaccedilotildees

foram realizadas nos uacuteltimos anos no Brasil algumas estrateacutegias de enfrentamento no campo

juriacutedico algumas delas jaacute mencionadas anteriormente Essas legislaccedilotildees apresentam cunho de

responsabilizaccedilatildeo das escolas em notificar accedilotildees de violecircncia no contexto escolar aleacutem de

atividades de conscientizaccedilatildeo incluindo informaccedilotildees sobre o cyberbullying atraveacutes do

enfrentamento por meio de accedilotildees educativas e capacitaccedilotildees Em contrapartida as escolas por

vezes natildeo se responsabilizam por questotildees que emergem no campo virtual como eacute o caso dos

sites de relacionamentos (Redes Sociais) considerando que estas uacuteltimas estariam aleacutem de

suas responsabilidades interventivas

Refletimos que algumas leis7 implantadas representam respostas a clamores sociais

muito particulares como eacute o caso do Massacre de Realengo jaacute mencionado anteriormente

Principalmente quando evidenciados eou provocados pela miacutedia (com destaque as

reportagens em canais abertos que atingem a grande massa da populaccedilatildeo) aos viacutedeos

inseridos em plataformas como YOUTUBE e Redes Sociais e que satildeo acessados por uma

parcela significativa da populaccedilatildeo Ao mesmo tempo as ferramentas digitais tambeacutem trazem

maior notoriedade para a difusatildeo do cyberbullying entre pares

Segundo apontam os indicadores do SAFERNET entre as principais violaccedilotildees das

quais os internautas solicitaram ajuda no ano de 2015 atraveacutes do Helpline (canal de

atendimento) estaacute o Cyberbullying com 265 (duzentos e sessenta e cinco) denuacutencias sendo

que 178 (cento e setenta e oito) eram do Brasil O estado de Satildeo Paulo liderou o nuacutemero de

registros com 54 (cinquenta e quatro) Entre os atendidos pelo Helpline ao longo do

funcionamento do serviccedilo de denuacutencia de crimes ciberneacuteticos ajuda e orientaccedilotildees estatildeo

crianccedilas adolescentes pais educadores e outros adultos Com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero

presente nas denuacutencias no ano de 2012 por exemplo foi registrado o contato de 27 mulheres

e 10 homens atraveacutes do nuacutemero das conversas via chat disponiacutevel no portal da Organizaccedilatildeo

(Site SAFERNET)

Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees contra o cyberbullying inerentes ao campo da sauacutede natildeo

identificamos registros de accedilotildees voltadas agrave prevenccedilatildeo do cyberbullying as accedilotildees observadas

ateacute o momento estavam estritamente ligadas aos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo e que

7 Observamos que algumas leis nacionais foram promulgadas nos uacuteltimos anos

43

segundo os achados careciam de capacitaccedilatildeo para realizar tais atividades de cunho

informativo vide as legislaccedilotildees municipais e estaduais que tratam sobre conscientizaccedilatildeo

sobre bullying e cyberbullying Seraacute que o tema tem sido tratado pelos profissionais dos

serviccedilos de sauacutede como CAPSI ndash Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Infantil e pelas equipes de

Programas de Sauacutede Escolar (PSE) Pois se presume que a implantaccedilatildeo do Programa Sauacutede

Escolar tenha sido um ganho para as unidades escolares por propor um trabalho integrativo

entre as redes de Educaccedilatildeo e Atenccedilatildeo Baacutesica de Sauacutede Tendo em vista que o programa tem

como objetivo avaliar as condiccedilotildees de sauacutede dos estudantes aleacutem do desenvolvimento de

atividades de formaccedilatildeo integral dos estudantes mas seu funcionamento nos municiacutepios eacute

bastante limitado por se tratarem de equipes miacutenimas para um universo de escolas e demandas

de alunos

Desse modo refletimos sobre a necessidade de suporte familiar social educacional e

psicoloacutegico agrave medida que o estado emocional desses indiviacuteduos eacute afetado assustadoramente

atraveacutes desse ato de violecircncia

Entendemos que o cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta sob

as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode repercutir para

aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em repercussotildees praacuteticas e reais seja nas

relaccedilotildees sociais ou na individualidade do sujeito (Dahberg e Krug 2007)

O conceito dado por Pierre Bourdieu (2001) para Violecircncia Simboacutelica traz uma

conotaccedilatildeo coerente com o tipo de violecircncia concebido no ambiente virtual

A violecircncia simboacutelica eacute uma espeacutecie de coerccedilatildeo que se institui por intermeacutedio

da adesatildeo que o dominado [viacutetima] natildeo pode deixar de conceder ao

dominante ou seja dominaccedilatildeo quando dispotildee apenas para pensaacute-lo e para

pensar a si mesmo ou melhor para pensar a relaccedilatildeo com ele de instrumentos

repartidos e que fazem surgir essa relaccedilatildeo com o natural partindo do princiacutepio

de ser a forma incorporada da estrutura da relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo [grifo nosso]

(Bourdieu 2001 p206)

Essa violecircncia eacute conduzida por um indiviacuteduo ou por um grupo que controla o poder

simboacutelico sobre os outros produzindo assim crenccedilas no processo de socializaccedilatildeo induzindo

os dominados a enxergarem e avaliarem o mundo sob as perspectivas e padrotildees estabelecidos

pelos dominantes (Souza 2012) Ou seja aquele que sofre de cyberbullying tem sua imagem

depreciada quer seja pelos xingamentos fotos postadas distorcidas disseminaccedilatildeo de

44

difamaccedilatildeo virtual ao ponto que os dominados dessa relaccedilatildeo de poder podem ser convencidos

de que as informaccedilotildees depreciativas divulgadas sobre ele satildeo de fato reais passando assim a

internalizar tais expressotildees Compreendemos que as relaccedilotildees na internet podem exercer um

poder sobre a vida de seus usuaacuterios e esse manejo utilizado de forma depreciativa por parte de

intimidadoreslsquo tem uma representatividade simboacutelica na vida de crianccedilas e adolescentes e de

todo o contexto em que a violecircncia virtual eacute concebida

A imposiccedilatildeo de significaccedilotildees que a ideia de violecircncia simboacutelica traz contribui para

entendermos o quanto as relaccedilotildees virtuais podem ser assimeacutetricas e desiguais Outro ponto

considerado eacute o fato de que os que satildeo atingidos por essas accedilotildees por vezes natildeo conseguem

inicialmente ponderar os xingamentos como depreciativos de modo que naturalizam tal

questatildeo enquadrando-as como brincadeiras como o exemplo dos apelidos (exemplo baleia

rolha de poccedilo) entre outros De certo modo o que ocorre eacute um poder simboacutelico no que

concerne a relaccedilatildeo entre perpetradores e aqueles que sofrem o cyberbullying Mais uma vez

recorremos a Bourdieu (2001) ao afirmar que o poder simboacutelico eacute representado por esse poder

invisiacutevel que eacute exercido somente a partir da permissividade eou conivecircncia daqueles que

natildeo querem saber que lhes estatildeo sujeitados ou mesmo que o exercem

Com base no arcabouccedilo teoacuterico jaacute utilizado observamos que a violecircncia psicoloacutegica

pode se apresentar em diferentes expressotildees como humilhaccedilatildeo o uso de poder xingamento e

insultos (OMS 2002)

A naturalizaccedilatildeo do cyberbullying pode permitir com que ela se torne uma violecircncia

simboacutelica e ao mesmo tempo velada tanto pelo oprimido quanto pelo opressor que durante o

processo de intimidaccedilatildeo virtual detecircm o poder da ofensa jaacute naturalizada e aceita como a

verdade pelo oprimido

45

Artigo 1

2 CYBERBULLYING CONCEITUACcedilOtildeES DINAcircMICAS PERSONAGENS E

IMPLICACcedilOtildeES Agrave SAUacuteDE (submetido em 28122017 e aprovado em 26032018

na revista Ciecircncia e Sauacutede Coletiva)

RESUMO

O estudo buscou realizar a revisatildeo criacutetica de um conjunto de revisotildees bibliograacuteficas no intuito

de conhecer como o cyberbullying eacute compreendido pela comunidade cientiacutefica como o

fenocircmeno vem sendo conceituado como suas dinacircmicas tecircm sido descritas quais

personagens identificados e quais as associaccedilotildees apontadas agrave sauacutede das pessoas intimidadas e

dos perpetradores A literatura mostrou que natildeo haacute um consenso sobre a conceituaccedilatildeo de

cyberbullying contudo haacute argumentos que defendem sua especificidade e diferenciaccedilatildeo em

relaccedilatildeo ao bullying (pode ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo demarcado

fisicamente pode ser disseminado globalmente o tempo de permanecircncias das postagens

ofensivas eacute indeterminado) Quanto agrave questatildeo de gecircnero associada a essa praacutetica observou-se

um vieacutes reducionista do debate indicando diferenccedilas baseadas numa suposta superioridade

tecnoloacutegica dos meninos Os estudos revisados apontam que tanto as viacutetimas quanto os

46

praticantes de cyberbullying vivenciam experiecircncias negativas em sua sauacutede psicoloacutegica e

comportamental podendo ocorrer inclusive evasatildeo escolar isolamento social depressatildeo

ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio Todavia pouco se problematiza sobre a cultura ciber e como esta

estabelece novas socialidades ndash conhecimento e debate cruciais agrave compreensatildeo do fenocircmeno

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia redes sociais ciberespaccedilo sauacutede

ABSTRACT

The study sought to perform a critical review of a set of bibliographical reviews in

order to understand how cyberbullying is understood by the scientific community how the

phenomenon has been conceptualized how its dynamics have been described what characters

are identified and what associations are related to health intimidated persons and perpetrators

The literature has shown that there is no consensus on the concept of cyberbullying but there

are arguments that defend its specificity and differentiation in relation to bullying (it can

occur at any moment and without a physically demarcated space it can be disseminated

globally of the offensive posts is undetermined) As for the gender issue associated with this

practice there was a reductionist bias in the debate indicating differences based on a

supposed technological superiority of the boys The reviewed studies show that both victims

and cyberbullying experience negative experiences in their psychological and behavioral

health including school dropout social isolation depression suicidal ideation and suicide

However there is little question about cyber culture and how it establishes new socialities -

knowledge and debate crucial to understanding the phenomenon

Key-words Cyberbullying violence social networks cyberspace health

INTRODUCcedilAtildeO

O cyberbullying eacute uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se configura como um

―problema social constituindo tema e preocupaccedilatildeo de diversos campos disciplinares aleacutem

de ser representado por alguns autores com uma questatildeo de sauacutede puacuteblica (Brochado Jackson

47

e Cassidy 2006 Carpenter E Hubbard 2014 Nixon 2014 Bottino at al 2015 Yang

Grinshteyn 2016 Brochado Soares e Fraga 2016) As distintas configuraccedilotildees do

Cyberbullying podem ser reconhecidas como atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

contra crianccedilas e adolescentes perpetrados nas ambiecircncias das redes de sociabilidade digital

podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaccedilo circunscrito e demarcado fisicamente

Essa forma de agressatildeo eacute perpetrada por meios eletrocircnicos sejam estes mensagens de textos

fotos aacuteudios ou viacutedeos expressos nas redes sociais ou em jogos em rede transmitidas por

telefone celulares tablets ou computadores e cujo teor tem a intencionalidade de causar dano

agrave outra pessoa de modo repetitivo e hostil conforme Ortega et al apud Brochado Soares e

Fraga (2016)

O cyberbullying tem emergecircncia recente e sua conceituaccedilatildeo ainda em construccedilatildeo abriga

consideraacutevel polissemia em suas definiccedilotildees (Garaigordobil 2011 Torres e Vivas 2012 Della

Ciopa Olsquoneil E Craig 2015) Pesquisas apontam que essa diversidade conceitual por vezes

tem direcionado os estudiosos a usar termos diferentes para se referir ao mesmo conceito ou

usar o mesmo termo com diferentes significados (Tokunaga 2010 Notar 2013 Ybarra et el

Apud Lucas-Molina et al 2016)

Nota-se que a violecircncia tambeacutem se manifesta neste novo espaccedilo o ―ciberespaccedilo ou seja

nesse ―lugar de interaccedilatildeo que se daacute no contexto de uma cultura peculiar conhecida como

cultura ―ciber ou cibercultura Vale pontuar que alguns autores questionam se o conceito de

cibercultura ainda seria vaacutelido dado o borramento das fronteiras considerando que as

relaccedilotildees digitais atravessam de forma onipresente o cotidiano (Roger E Saldado 2016)

O termo sociabilidade cunhado por Mafessoli (2006) faz referecircncia aos haacutebitos costumes

e uma espeacutecie de polidez presente na contemporaneidade A socialidade digital produz um

ethos que gera a necessidade de construir uma imagem social positiva O que eacute postado em

rede a maneira como se eacute visto neste ambiente ou ainda as maacutescaras que satildeo construiacutedas

48

sobre si neste espaccedilo valoram essa teatralidade a partir daquilo que se quer ou se permite que

os outros vejam (Mafessoli 2006) Para crianccedilas e adolescentes que estatildeo em

desenvolvimento essa identidade que se constroacutei pode ser significativamente influenciada a

partir dos padrotildees impostos pela rede A necessidade de ―estar conectado sendo sempre

visto por outros vem sendo aprimorada a cada nova atualizaccedilatildeo que os aplicativos de redes

sociais geram criando e forccedilando novas experiecircncias de compartilhamento para os seus

usuaacuterios digitais Bruno (2013) vai refletir sobre a importacircncia do olhar do outro para

constituir a imagem de si uma imagem engendrada na perspectiva de espetaacuteculo que

contribui para a construccedilatildeo de uma autoestima balizada pela popularidade que se tem nas

redes sociais Observa-se a partir da reflexatildeo de Bruno (2013) que os viacutenculos que se

estabelecem natildeo precisam ser necessariamente fortes para influenciarem as redes sociais Por

vezes aqueles que mais curtem e comentam um conteuacutedo digital satildeo pessoas cujas

vinculaccedilotildees sociais constituem ―laccedilos fracos Outra caracteriacutestica eacute a fluidez dessas relaccedilotildees

pois mesmo modo que novas conexotildees satildeo estabelecidas exclusotildees e bloqueio de pessoas

podem ocorrer sem motivos relevantes (2014)

Ao falar sobre a ―realidade social da virtualidade da internet Castells (2015) afirma que

a internet foi apropriada pela praacutetica social em toda a sua diversidade embora ela tenha

efeitos especiacuteficos sobre tais praacuteticas Aborda como as pessoas se comportam no ambiente

virtual como esperam ser vistas pelos outros Os jovens por exemplo estatildeo nesse processo de

descoberta de identidade de desvendar quem de fato eles satildeo ou gostariam de ser

As relaccedilotildees digitais redefinem dinacircmicas sociais contemporacircneas convocando aos

indiviacuteduos estarem sempre conectados atraveacutes das novas tecnologias independente da

geolocalizaccedilatildeo tempo e do quantitativo de pessoas a quem estatildeo vinculados Traccedilo marcante

da sociabilidade digital eacute a hipervisibilidade (2015) uma exposiccedilatildeo constante e voluntaacuteria dos

fatos e atos cotidianos e iacutentimos O privado passa a ser publicizado a partir dos

49

compartilhamentos realizados neste mundo de informaccedilotildees instantacircneas em tempo real

(2012)

Os jovens ―nativos digitais (2013) estatildeo cada vez mais cedo conectados nas redes sociais

digitais atraveacutes das TICsndash Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo Segundo a Pesquisa

Nacional de Amostra por Domiciacutelios ndash PNAD (2015) no Brasil aproximadamente 1021

milhotildees de pessoas de 10 anos ou mais de idade tiveram acesso agrave internet no periacuteodo em que a

pesquisa ocorreu Em 2015 ano da pesquisa com relaccedilatildeo aos grupos etaacuterios observou-se que

os adolescentes de 15 a 17 anos bem como os de 18 e 19 anos de idade apresentaram o maior

iacutendice percentual dentre os usuaacuterios da internet (sendo 82 e 829 respectivamente)

Brunnet et al (2013) apontam um estudo americano que descreve que em meacutedia 93 dos

adolescentes entre 12 e 17 anos acessam a internet e dessa populaccedilatildeo 75 possuem seu

proacuteprio celular

O uso da internet em especial de redes de relacionamentos favorece as praacuteticas de

violaccedilotildees que vatildeo desde a invasatildeo de contas em sites de relacionamentos criaccedilatildeo de falsos

perfis para provocaccedilatildeo ameaccedilas e ateacute mesmo o convite ao suiciacutedio por sites clandestinos ou

comunidades (2011)

Assim o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se apresenta de forma

disseminada e tem sido incluiacuteda no campo discursivo da sauacutede a partir das associaccedilotildees entre

sua praacutetica e os desfechos deleteacuterios agrave sauacutede dos perpetradores e dos intimidado (Alim 2016)

Estudo sobre a literatura meacutedica identificou que o uso de internet por mais de trecircs horas

diaacuterias aumenta em quatro vezes a chance de um jovem ser alvo de Cyberbullying (Arsegravene

Raynaud 2014)

Embora associado ao tema do bullying mais consolidado teoricamente o cyberbullying

tem recebido bastante atenccedilatildeo da comunidade cientiacutefica internacional contudo pouco

estudado no Brasil

50

Diante disso o artigo tem como objetivo analisar as conceituaccedilotildees de Cyberbullying

adotadas pela literatura nacional e internacional produzida no Campo da Sauacutede e Educaccedilatildeo

enfocando suas ecircnfases e ―ausecircncias como caracterizam suas dinacircmicas relacionais e as

associaccedilotildees que delimitam entre o fenocircmeno e a sauacutede de crianccedilas e adolescentes

MEacuteTODOS

Trata-se de revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo criacutetica (critical review) Essa abordagem

metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a literatura sobre um tema revelando fraquezas

contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias (Grant MJ Booth 2009) A contribuiccedilatildeo de

uma revisatildeo criacutetica reside na sua capacidade de destacar problemas discrepacircncias ou aacutereas em

que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute confiaacutevel (Paregrave et al 2015)O escopo

analisado para uma revisatildeo criacutetica pode ser seletivo ou estatisticamente representativo Esse

tipo de revisatildeo raramente avalia a qualidade dos estudos selecionados o que eacute considerado o

seu ponto criacutetico Semelhante agraves revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem aplicar diversos

meacutetodos de anaacutelise sejam os de vieacutes interpertativo (siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso

anaacutelise temaacutetica por exemplo) ateacute os de caacuteriz mais positivista (anaacutelise de conteuacutedo)

Foram levantados artigos cientiacuteficos nas bases de perioacutedicos internacionais Scielo BVS

Scopus PubMed APA (American Psychological Association) ERIC e ASSIA (Applied

Social Sciences Index and Abstracts) durante o mecircs de fevereiro de 2017

Durante a busca inicial foi empregado o termo cyberbullyinglsquo em todos os campos (all

fields) resultando um acervo de 7785 artigos Ao buscar o termo ―cyberbullying no Medical

Subject Headings (MeSH) encontrou-se somente o termo bullying

51

(httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying) Dentre esses milhares de artigos

vaacuterios tratavam o tema do cyberbullying de modo secundaacuterio ou apenas como citaccedilatildeo

Visando reduzir e qualificar mais esse acervo optamos por trabalhar apenas os estudos de

revisotildees sendo selecionados os textos onde o termo ―cyberbullying constava no tiacutetulo e

―revisatildeo era mencionado em todos os campos Consideramos artigos de revisatildeo de qualquer

natureza designados pelos proacuteprios autores e pertencentes agraves mais distintas modalidades

revisatildeo bibliograacutefica revisatildeo comparativa revisatildeo compreensiva revisatildeo criacutetica sistemaacutetica

revisatildeo de evidecircncias revisatildeo de literatura revisatildeo sistemaacutetica revisatildeo natildeo sistemaacuteticas e

revisatildeo narrativa

Aplicamos criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para

acesso livre capiacutetulos de livros acervo cinza dissertaccedilotildees monografias resultando em 301

estudos Depois da anaacutelise de cada artigo foram identificados 156 artigos em duplicidade que

natildeo haviam sido identificadas pelo programa de gerenciamento de referecircncias (MENDLEY)

como nos casos de estudos registrados em escrita com caixa alta eou com traduccedilatildeo de texto

para idioma inglecircs quando o estudo original estava em idioma espanhol ou francecircs e quando

houve subtraccedilatildeo de autores tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al

Avaliando o acervo de 145 artigos novo refinamento foi realizado com recorte temporal de

publicaccedilotildees datadas entre 2006 a 2016 visando analisar como o tema vem sendo difundido na

uacuteltima deacutecada Definimos por fim um acervo de 72 artigos de revisatildeo

O acervo foi classificado em ordem alfabeacutetica com base no sobrenome de referecircncia dos

autores por ano de publicaccedilatildeo e por tiacutetulo (tabela 1) Os artigos foram lidos na iacutentegra e seus

conteuacutedos foram identificados e interpretados via anaacutelise temaacutetica a partir das seguintes

categorias por noacutes definidas como centrais aos propoacutesitos do estudo conceituaccedilotildees do

cyberbullying dinacircmicas personagens e implicaccedilotildees agrave sauacutede

52

RESULTADOS

Observa-se uma produccedilatildeo crescente no periacuteodo analisado (exceto 2016) com

predominacircncia de artigos americanos (27) O baixo nuacutemero de publicaccedilotildees em 2016 pode

refletir o pouco tempo entre a publicaccedilatildeo e a sua disponibilizaccedilatildeo nas bases de indexaccedilatildeo

pois a busca foi feita no iniacutecio de 2017

Com relaccedilatildeo aos campos da Sauacutede e Educaccedilatildeo natildeo houve diferenccedilas significativas

quanto ao nuacutemero de publicaccedilotildees Sauacutede (26) e Educaccedilatildeo (27) muito menos ao tipo de

abordagem produzida sobre o tema As demais publicaccedilotildees foram consideradas como

multidisciplinarinterdisciplinar As revistas com maior representaccedilatildeo neste acervo foram

Aggression and Violent Behavior (10) seguida da Computers in Human Behavior (5) Assim

tratamos o acervo a partir das especificidades entre os estudos e natildeo de suas aacutereas de origem

Tabela 1 Categorizaccedilatildeo do acervo segundo ano de publicaccedilatildeo nacionalidade e idioma

PUBLICACcedilOtildeES 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006

NUacuteMERO DE

PUBLICACcedilOtildeES

8 21 12 11 7 6 1 2 1 2 1

NACIONALIDADE

DO ESTUDO

EUA Reino Unido

Austraacutelia Portugual Belgica

Espanha e Greacutecia

EUA Singapura

Greacutecia Itaacutelia Brasil China

Canadaacute Franccedila

Austraacutelia Reino

Unido e Espanha

Franccedila EUA Itaacutelia

Turkia e Reino Unido

EUA Canadaacute e

Brasil

Sueacutecia Alemanha

Suiacuteccedila Reino Unido EUA e

Colocircmbia

EUA Espanha Meacutexico Austraacutelia

EUA Austraacutelia EUA EUA Canadaacute

IDIOMA Inglecircs (7) e

Espanhol (1)

Inglecircs (18)

Portuguecircs (2) e

Francecircs (1)

Francecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (10) e

Portuguecircs (1)

Inglecircs (6) Espanhol

(1)

Inglecircs (2) e

Espanhol (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

Inglecircs (2)

Inglecircs (1)

53

Conceituaccedilatildeo

O cyberbullying possui muitas conceituaccedilotildees revelando distintas interpretaccedilotildees adotadas

pela comunidade cientiacutefica Parte dos estudos analisados natildeo construiu uma definiccedilatildeo para o

cyberbullying mas toma de empreacutestimo os conceitos de bullying agressatildeo e asseacutedio jaacute

existentes na literatura (Zych Ortega-Ruiz Del Rey 2015 Remond Ker Romo 2015

Carpenter Hubbart 2014 Sabella Patchim Hinduja 2013 Bailey 2013 Bauman 2013

Stewart Fritsch 2011 Hanewald 2009)

Havia no acervo uma polifonia de definiccedilotildees para o cyberbullying sugerindo que a

comunidade cientiacutefica natildeo produziu um consenso sobre o entendimento da natureza e limites

do fenocircmeno Talvez por ―imaturidade ou como reflexo dessa processualidade visto que as

relaccedilotildees digitais satildeo dinacircmicas e influenciadas pelas novas tecnologias constantemente

incorporadas ao universo ciber Todavia tal polissemia gera uma espeacutecie de inconsistecircncia

nos dados das pesquisas e difiacuteculdades de comparaccedilatildeo entre os estudos (Aboujaoude et al

2013)

As traduccedilotildees de definiccedilotildees propostas em inglecircs e apropriadas por estudos de liacutengua latina

podem tambeacutem variar semanticamente e levar a compreensotildees diferenciadas como no

exemplo dos sentidos entre cyberbullying e acosso digital Estudos alematildees usam o termo

ciber-mobbing Tais termos retraduzidos ao portuguecircs produzem ecircnfases diferenciadas No

caso da traduccedilatildeo de acosso se evidencia o caraacuteter de perseguiccedilatildeo sistemaacutetica caracteriacutestica

natildeo necessariamente presente no fenocircmeno do cyberbullying

Aboujaoude et al (2015) identificaram diferentes designaccedilotildees para o cyberbullying como

cyberstalking agressatildeo on-line asseacutedio ciberneacutetico asseacutedio na Internet bullying na Internet e

54

vitimizaccedilatildeo ciberneacutetica ou cybervitimizaccedilatildeo A natureza hostil do ato e a intenccedilatildeo de causar

sofrimento foram considerados pela maioria dos estudiosos como cruciais para a definiccedilatildeo de

cyberbullying

Como avaliam Smith et al(2012) caracterizar o cyberbullying apenas como uma forma

de ―bullying digital tem sido uma tendecircncia e apoacutes analisarem diversos estudos concluem

que existe um debate sobre o uso de uma definiccedilatildeo generalista (bullying) ou a necessidade de

substituiacute-la por outra mais especiacutefica

Considerando o acervo analisado as principais definiccedilotildees adotadas podem ser divididas

em dois blocos as que reconhecem o cyberbullying como uma (nova) forma de bullying

apontando diferenccedilas e similaridades e as que tratam o cyberbullying como um fenocircmeno de

outra natureza diferente do bullying Analisaremos a seguir os argumentos que tratam das

especificidades que aproximariam e distinguiriam o bullying e o cyberbullying

No primeiro bloco de estudos a maioria do acervo reconhece o cyberbullying como o

bullying por meio digital eou uma variaccedilatildeo do bullying

Dentre os autores que percebem o cyberbullying como uma variaccedilatildeo de bullying alguns

defendem a importacircncia de contextualizar a violecircncia digital e sua expressatildeo nos

comportamentos agressivos (Ang 2015 Castro Schreiber Antunes 2015 Wendt Lisboa

2014 Chibarro 2007) A revisatildeo de Allison e Bussey (2016) apresenta o cyberbullying como

―agressatildeo intencional por meio eletrocircnico que ocorre de vaacuterias formas como insultos

ameaccedilas divulgaccedilatildeo de fotos embaraccedilosas e pode ser perpetrado atraveacutes de diversas miacutedias

sem a necessidade da presenccedila fiacutesica dos envolvidos Os autores se basearam em extensa

literatura de bullying e ao comparaacute-lo ao cyberbullying constataram que satildeo diferentes em

muitos aspectos tais como anonimato maior impacto uma maior audiecircncia de espectadores

individualidade na praacutetica de perpetrar ser dispensaacutevel a presenccedila fiacutesica dos envolvidos e a

55

viacutetima ser atingida em qualquer lugar e a qualquer momento (Kowalski et al 2014 Tanrikulu

2014 Thomas Conor Scott 2014) Para alguns o caraacuteter repetitivo natildeo estaria

necessariamente presente no cyberbullying (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Carpenter

Hubbert 2014 Slonje 2012) pois apenas uma postagem depreciativa leva o conteuacutedo a ficar

permanentemente exposto Jaacute a capacidade de anonimato eacute apontada como a principaluacutenica

diferenccedila entre os dois fenocircmenos (Bailey 2013 Zych Ortega-Ruiz e Allison e Bussy 2016)

Algumas revisotildees (Aboujaoude et al 2015 Ang 2015 Antoniadou Kokkinos 2015

Cantone 2015 Berne et al 2012) revelaram que natildeo haacute consenso se a repeticcedilatildeo das accedilotildees e o

desequiliacutebrio de poder seriam dinacircmicas do cyberbullying mas certamente ocorrem nos casos

do bullying O desequiliacutebrio de poder foi associado diversas vezes como suposta incapacidade

de resposta por parte da pessoa alvo do cyberbullying ou ainda por falta de habilidades

tecnoloacutegicas que permitiriam uma melhor resposta no meio digital Para Faucher Cassidy e

Jackson (2015) esse exerciacutecio de poder estaria associado ao quatildeo vulneraacutevel estatildeo os

conteuacutedos privados da pessoa alvo ou ainda por divulgar tais informaccedilotildees sem levar em conta

as consequecircncias de uma exposiccedilatildeo nas redes sociais (Suzuki et al 2012)

Em relaccedilatildeo agraves similaridades grande parte dos estudos aponta o caraacuteter de repeticcedilatildeo o uso

das palavras ferinas o desequiliacutebrio de poder e o dano intencional (Yang Grinshteyn 2016

El Asam Samara 2016 Baldry Farrington Sorrentino 2015 Della Cioppa OlsquoNeil Craig

2015 Chan H C Wong 2015 Cantone 2015 Chisholm 2014 Wingate Minney

Guadagno 2013 Nosworthy Rinaldi 2013 Burnett Yozwiak Omar 2013 Bailey 2013

Von Mareacutees N Pettermann 2012 Garciacutea-Maldonado Joffre-Velaacutezquez Martiacutenez-Salazar

2011 Mason 2008 Chibarro 2007) Thomas et al (2015) afirmam que os ataques de

bullying e de cyberbullying satildeo mais parecidos que diferentes e muitas vezes co-ocorrem

Para Yang e Grinshteyn (2016) o fechamento de uma acepccedilatildeo conceitual natildeo seria

beneacutefico pois uma definiccedilatildeo delimitada e concisa poderia excluir grande quantidade de

56

comportamentos potencialmente nocivos Aleacutem disso uma definiccedilatildeo que inclui elementos

descritivos da praacutetica de cyberbullying especificando certos tipos de dispositivos eletrocircnicos

com o passar do tempo pode se tornar obsoleta apoacutes o lanccedilamento de novas tecnologias

No segundo bloco estatildeo os autores que afirmam que cyberbullying eacute uma nova forma de

agressatildeo que apresenta diferenccedilas significativas em relaccedilatildeo ao bullying todavia muitos deles

natildeo se dedicaram a produzir uma teoria ou definiccedilatildeo especiacutefica (Brochado S Soares S

Fraga 2016 Chan Wong 2015 Chisholm 2014 Baek Bullock 2013 Cassidy Faucher et

al 2014 Jackson 2013)

Considerando a argumentaccedilatildeo sobre a natureza ineacutedita do fenocircmeno aponta-se o papel da

audiecircncia no contexto da perpetraccedilatildeo (Smith 2015 Baek e Bullock 2014) A audiecircncia do

cyberbullying eacute concedida em larga escala pelas plataformas digitais propagando esse

conteuacutedo depreciativo para milhares de pessoas tanto no ato da transmissatildeo da mensagem

viacutedeo ao vivo ou em outro momento aleacutem da possibilidade de baixar o conteuacutedo para acesso

offline Logo a capacidade exponencial de compartilhamento desse conteuacutedo natildeo pode ser

dimensionada pelo perpetrador e mesmo que a intenccedilatildeo de propagaccedilatildeo do conteuacutedo seja para

um grupo menor de pessoas o intimidador passa a natildeo ter mais domiacutenio sobre esse conteuacutedo

Quanto mais vizualizado eou compartilhado a audiecircncia aumenta significativamente

diferente do bullying cuja audiecircncia eacute limitada ao puacuteblico que estava presente no momento

do ataque No caso bullying mesmo que a cada novo ataque o grupo de espectadores cresccedila

natildeo se compara ao nuacutemero de pessoas que teratildeo acesso a um conteuacutedo hostil na internet

Brown Jackson e Cassidy (2006) alertam que o ambiente virtual favorece a desinibiccedilatildeo

mencionando o caso de pessoas que sofrem com o bullying e que utilizam a internet para se

vingar daquele que praticou tal bullying jaacute que a internet lhes oferta a possibilidade de

anonitamato atraveacutes de identidade alternativa (uso de perfis falsos) para assediar Deste modo

57

em alguns casos quem sofre bullying pode ser um perpetrador de cyberbullying contra seu

algoz de bullying face a face principalmente quando essa― revanche natildeo seria possiacutevel

acontecer como entre sujeitos com diferenccedila de padrotildees fiacutesicos

Cabe mencionar que parte dos estudos corrobora acerca de suposta inconsistecircncia nas

definiccedilotildees encontradas na literatura (Baldry Farrington Sorrentino 2015 Zych Ortega-Ruiz

Del Rey 2015) e que falta consenso entre os estudiosos que investigam o tema seja com

relaccedilatildeo agraves conceituaccedilotildees e termos ou sobre os aspectos de semelhanccedila e diferenccedila entre o

cyberbullying e bullying Conforme esse arcabouccedilo teoacuterico se expande eacute provaacutevel que novas

discordacircncias cientiacuteficas perpassem por esse campo em construccedilatildeo

Descriccedilotildees das dinacircmicas

As dinacircmicas de cyberbullying dependem das accedilotildees e representaccedilotildees de cada pessoa

envolvida nesse ciacuterculo de violecircncia Neste cenaacuterio atuam os perpetradores ndash os que praticam

a violecircncia os acometidos (chamados de viacutetimas) os espectadores (aqueles que assistem e

compartilham o conteuacutedo que viola outrem) os educadores e pais que por vezes satildeo os

uacuteltimos a tomar conhecimento do abuso

Houve diferenccedilas significativas sobre as descriccedilotildees das dinacircmicas do cyberbullying e os

motivos provaacuteveis estariam associados ao periacuteodo em que os estudos foram publicados pois

algumas formas de cyberbullying ainda natildeo eram reconhecidas anteriormente e os tipos de

dispositivos tecnoloacutegicos e as formas de conversaccedilatildeocomunicaccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo online disponiacuteveis tambeacutem mudaram rapidamente Haacute algum tempo o e-mail e as

58

mensagens de texto eram as formas mais disseminadas atualmente as interaccedilotildees atraveacutes das

redes sociais ganharam maior espaccedilo entre os jovens (transmissatildeo ao vivo viacutedeos chamadas

compartilhamentos em massa jogos online em grupo etc)

Destacam-se quatro estudos que exemplificam as dinacircmicas de cyberbullying Julia

Wilkins et al (20120 descrevem fundamentados no texto que institui o Programa Anti-

Bullying de Londres sete tipos de cyberbullying e Suzuki et al (2012) tambeacutem identificam as

mesmas modalidades a seguir compiladas 1 Por mensagem de texto - enviada via telefone

celular com a intenccedilatildeo de causar desconforto e ameaccedila 2 Imagemvideo-clipe - quando as

imagens das viacutetimas satildeo enviandas para outras pessoas no intuacuteito de ameaccedilar ou constranger

3 Intimidaccedilatildeo por chamada telefocircnica - por meio de chamadas silenciosas ou por mensagens

abusivas ou quando o celular da viacutetima eacute roubado e usado para perseguir outros culpando o

proprietaacuterio do telefone 4 intimidaccedilatildeo por e-mail quando satildeo enviados conteuacutedos muitas

vezes usando um pseudocircnimo ou o nome de outra pessoa para fazer com que essa pessoa se

pareccedila com o perpetrador (modalidade desatualizada) 5 chat room bullying - respostas

agressivas e intimidadoras em sala de bate papos (tambeacutem mais desatualizada) 6 intimidaccedilatildeo

atraveacutes de mensagens instantacircneas 7 bullying atraveacutes de websites ndash com uso de blogs

difamatoacuterios sites pessoais sites de pesquisa pessoais online e sites de redes sociais (por

exemplo MySpace) aleacutem da criaccedilatildeo de foacuteruns

Entre as dinacircmicas do cyberbullyng destacadas na literatura estariam ―namecalling

(apelidar algueacutem de modo rude) propagaccedilatildeo de rumores ―flamings (discussotildees calorosas

online) ameaccedilas fingir ser outra pessoa online (fakenames) envio de fotos indesejadas ou

mensagens de texto (sexting) postar eou compartilhar imagens e viacutedeos com conteuacutedo

iacutentimo de outra pessoa sem consentimento desta (Carpenter Hubbard 2014) excluir uma

pessoa de um circulo social online de forma intencional (Bailey 2013) Aleacutem das redes

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sociais o cyberbulling tambeacutem se manifestaria em jogos MMOGs - jogos onlines com

muacuteltiplos jogadores (multiplayers games) um jogador poderoso pode ―trollar (zombar

humilhar) algueacutem roubando itens do jogo como recompensas invadindo a conta formar

gangues e bloquear pessoas em uma rede social fazendo piadas com a imagem de uma pessoa

e controlando remotamente a cacircmeracomputador de uma pessoa sem o consentimento desta

(Chisholm 2014)

A revisatildeo de Kowalski et al (2014) ratifica as formas jaacute mencionadas e reconhece outras

formas de perpetraccedilatildeo entre elas harassament (envio de mensagens repetitivas e com

conteuacutedo ofensivo) bloqueio online solicitar informaccedilatildeo online de conteuacutedo pessoal e

posteriormente compartilhar a terceiros sem consentimento cyber-stalking (usar comunicaccedilatildeo

eletrocircnica para perseguir outra pessoa) e postar informaccedilatildeo inapropriada ou de cunho

depreciativo se passando por outra pessoa

Mehari Farell Le (2014) refletem que os comportamentos agressivos nas relaccedilotildees

sociais na internet tecircm baixo controle social e satildeo menos recriminados se comparados aos

perpetrados nas relaccedilotildees face a face Outro aspecto apontado na revisatildeo de Mehari et al

(2014) eacute a falta ou escassez de indiacutecios verbais que aumentaria a probabilidade de

desentendimentos e interpretaccedilotildees errocircneas Assim o que um jovem pretende como uma

brincadeira interaccedilatildeo amigaacutevel pode rapidamente tornar-se uma interaccedilatildeo mutuamente

agressiva se a outra pessoa interpreta o comentaacuterio como um insulto ou uma ameaccedila A falta

de sugestotildees natildeo verbais tambeacutem pode reduzir a empatia que serve como um controle natural

do comportamento dos adolescentes

Arsene e Raynaud (2014) destacam que o cyberbullying que ocorre por meios visuais

(foto ou viacutedeo) eacute mais prejudicial e mais negativo do que os que envolvem mensagens por

(SMS) e de texto na Internet As consequecircncias seriam mais graves as viacutetimas mais afetadas

60

do que em outras formas de cyberbullying e o risco de sofrimento psicossocial teria maior

potencial Na revisatildeo desses autores (2014) as fotos ou videoclipes tiveram impacto mais

negativo do que no asseacutedio tradicional (interpetrado como bullying)

Os personagens envolvidos

Os principais personagens do cyberbullying satildeo os praticantes e as pessoas escolhidas como

alvo (as denominadas viacutetimas) Poucos estudos como os Allison e Bulsey (2016) e Desmet et

al (2016) analisaram a figura dos espectadores (testemunhas) e seu papel na manutenccedilatildeo do

ciclo de violecircncia e propagaccedilatildeo do cyberbullying Allison e Bulsey (2016) identificaram quais

os fatores que influenciam as respostas das testemunhas aos atos de cyberbullying

Concluiram que os espectadores satildeo importantes no cyberbullying pois eles tem ―o pontecial

de alterar a situaccedilatildeo ao intervir mas a maioria das testemunhas permanece passiva (pg183)

Outro estudo indica que os espectadores seriam capazes de determinar qual o potencial de

extensatildeo que um episoacutedio de cyberbullying pode ter ao compartilhar curtir comentar um ato

de violecircncia nestes moldes Runions Bak (2015)

Haacute divergecircncia na literatura analisada com relaccedilatildeo ao recorte de gecircnero que perpassa o

cyberbullying A maioria reduz o debate agrave variaacutevel ―sexo buscando saber se meninos ou

meninas satildeo os maiores viacutetimas ou agressoras ou quais deles sofreriam mais as

consequecircncias do cyberbullying (Bauman 2013 Baldry Farringtone Sorrentino 2015)

Bauman et al (2013) identificaram na literatura casos de pessoas do sexo masculino que ao

mesmo tempo que eram praticantes de cyberbullying e de bullying Para outros estudos

pessoas do sexo feminino estariam mais envolvidas em cyberbullying e os meninos em

situaccedilotildees de bullying8 Isso sem considerar a orientaccedilatildeo sexual desses indiviacuteduos ou sua

8 A literatura apresenta recorrente associaccedilatildeo entre cyberbullying e bullying

61

posiccedilatildeo de gecircnero Bailey (2013) alega haver dissenso sobre os rapazes serem os maiores

causadores de cyberbullying

Por outro lado muitos autores acabam por reforccedilar estereoacutetipos de gecircnero de forma

acriacutetica No estudo Dooley Pyżalski Cross (2009) as garotas teriam maior interesse com a

aparecircncia sauacutede enquanto garotos estariam mais implicados com jogos on-line Tal texto

reproduz uma leitura de gecircnero onde meninas tendem a ter laccedilos de amizades mais intensos

compartilhando conteuacutedos iacutentimos e segredos pessoais principalmente atraveacutes de mensagens

de texto jaacute meninos socializam nas redes sociais em maiores grupos e compartilham menos

detalhes pessoais Chibbaro (2007) destaca estudo que afirma que a maioria (53) das

meninas sofreu cyberbullying de conhecidos como colega da escola seguido de amigo e em

um nuacutemero menor o irmatildeo foi o causador do ato Alim (2016) baseado no site

NoBullyingcom afirma que as meninas satildeo duas vezes mais causadoras de Cyberbullying do

que os meninos porque meninos seriam mais agressivos em termos fiacutesicos enquanto que

meninas tendem a ser mais ―silenciosas quando querem atingir algueacutem por vezes quando

intimidam o fazem em seacuterie Na mesma linha sexista estudos como de Chan e Wong (2015)

alegam que garotos satildeo os maiores perpetradores por serem mais haacutebeis no uso de tecnologias

do que as garotas

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem houve dissenso A maior incidecircncia estaacute entre os

adolescentes e os casos diminuem na fase universitaacuteria (Antoniadou Kokkinos 2015)

Segundo Suzuky et al (2014) as meninas seriam as maiores acometidas poreacutem entre 15 e 17

anos a incidecircncia eacute muito maior do que entre jovens de 12 e 14 anos Para Hamn et Al (2015)

o fator idade natildeo eacute determinante para ser alvo de Cybebullying

Para Alim (2016) haveria um recorte de condiccedilatildeo social pois os que mais sofreriam

seriam pessoas oriundas dos estratos de baixa renda

62

Da mesma forma natildeo haacute uma concordacircncia na literatura sobre o recorte eacutetnicoracial

Estudantes brancos satildeo considerados maiores perpetradores do que outras categorias eacutetnicas

(Ham et al 2015 Peterson M B Peterson 2014) O estudo de Peterson e Peterson (2014)

foi o uacutenico que objetivou examinar possiacuteveis ligaccedilotildees entre comportamentos de ciberbullying

e grupos eacutetnicos especiacuteficos Essa lacuna parece evidenciar que se desconsidera que a

discriminaccedilatildeo por etniacor da pele pode gerar experiecircncias de cyberbullying Para Peterson e

Peterson (2014) alguns aspectos precisam ser analisados tais como o perfil populacional das

pessoas que utilizam TICs a escassez de estudos que analisam especificamente o quesito

raccedilacor bem como o territoacuterio em que esses estudos estatildeo sendo produzidos e onde esses

dados de amostras estatildeo sendo coletas

Associaccedilotildees e implicaccedilatildeo com a sauacutede dos envolvidos

As psicopatologias estatildeo entre as principais implicaccedilotildees agrave sauacutede dos envolvidos nas

praacuteticas de cyberbullying (Reed et al 2016 Foody Samara Calbring 2015 Arsegravene

Raynaud 2014 Pearce 2011)

Os principais agravos listados para os que sofrem foram insocircnia depressatildeo baixo

rendimento escolar ou baixa concentraccedilatildeo (Couvillon Illieva 2011) Jaacute Burnett Yozwiak e

Omar (2013) apresentam estudos que afirmam que pessoas que sofrem Cyberbullying tem

menos horas de sono e menos apetite do que pessoas que sofreram outras formas de violecircncia

Bailey31

ao analisar a Child Behavior Checklist (CBC) inclusa em um dos estudos verificados

indicou que aqueles assediados por conhecidos tambeacutem eram mais propensos a relatar

maiores conflitos com os pais casos de abuso fiacutesico ou sexual vitimizaccedilatildeo interpessoal off-

line e comportamento agressivo aleacutem de outros problemas sociais (pg 2)

63

Aquele que eacute intimidado com cyberbullying teria aproximadamente oito vezes mais

chances de levar uma arma para escola do que outros estudantes que natildeo tiveram essa

experiecircncia (Burnett Yozwiak Omar 2013) Grande parte dos estudos considera ainda que o

cyberbullying estaacute associado agrave depressatildeo uso de drogas ideaccedilatildeo suicida e suiciacutedio estresse

solidatildeo e ansiedade (El Asam Samara 2016 Hinduja S Patchin 2011 Gini G Espelage

2014) com consequecircncias psiquiaacutetricas que afetam a sauacutede mental e o desenvolvimento

escolar (Carpenter Hubbard 2014) principalmente dos adolescentes que satildeo alvo A busca

por experiecircncias de risco ―viacutecio no uso de internet solidatildeo e o suiciacutedio satildeo alguns dos

fatores psicoloacutegicos para ambos os personagens (viacutetimas e agressores) sendo que para os que

praticam os fatores estariam interligados entre si (Alim 2016) Natildeo encontramos subsiacutedios

que fundamente os impactos da sauacutede dos espectadores

DISCUSSAtildeO

A escassez de estudos que refletem sobre a contextualizaccedilatildeo do cyberbullying na

cibercultura (Stylios et al 2016 Roger e Salgado 2016 Castro Schreiber Antunes 2015

Nocentini Zambuto e Menesini 2015) e nos seus modos de socialidade foi o aspecto mais

marcante nesta revisatildeo de revisotildees Como discutir um fenocircmeno sem relacionar ao seu

contexto sociocultural de produccedilatildeo e reproduccedilatildeo Eacute preciso reconhecer que a juventude que

vivencia o cyberbullying eacute em boa parte ―nativa digital implicando o domiacutenio de

comportamentos e gramaacuteticas proacuteprias aleacutem desse espaccedilo de convivecircncia ser estrateacutegico agraves

afirmaccedilotildees identitaacuteria desse segmento (Brown Jackson E Cassydy 2006 Wendt e Lisboa

2014)

Percebe-se que apesar da redundacircncia conceitual houve um avanccedilo expressivo na

busca por aprofundar as especificidades caracteriacutesticas do Cyberbullying Salienta-se ainda a

64

peculiaridade no cyberbullying da expansatildeo exponencial do puacuteblico de expectadores no que

tange agrave disseminaccedilatildeo do conteuacutedo ofensivo e por tempo indeterminado - elementos que

desafiam o trabalho de promoccedilatildeo de resiliecircncia aos que sofreram tais praacuteticas Uma pessoa

pode ser estigmatizada por um longo periacuteodo agrave medida que esse conteuacutedo natildeo pode ser

apagado facilmente como nos casos de sexting em que o conteuacutedo fica disponiacutevel em

buscadores associados ao nome da pessoa que sofreu a violecircncia Uma vez que o

Cyberbullying pode ocorrer em qualquer tempo e territoacuterio e se dispotildee de mecanismos de

ocultaccedilatildeo de conteuacutedos e torna mais difiacutecil a detecccedilatildeo preacutevia por parte dos adultos e

responsaacutevies

Em relaccedilatildeo aos aspectos de gecircnero destacamos a revisatildeo de Chan e Wong (2015) que

analisou as taxas de prevalecircncia de bullying e cyberbullying a respeito das caracteriacutesticas dos

praticantes e intimidados e em que circunstacircncias a accedilotildees eram descritas na China Taiwan

Hong Kong e Macau Percebemos um discurso sexista9 quando os autores fazem um recorte

de gecircnero em sua anaacutelise e como exemplos mencionam no estudo que em Taiwan um dos

fatos de meninos serem os maiores intimidadores se justificaria por uma maior habilidade no

uso de tecnologias Apesar da questatildeo cultural ser evidente favorece a interpretaccedilotildees de que

as adolescentes do sexo feminino natildeo teriam habilidades com tecnologias se comparada aos

adolescentes do sexo masculino natildeo refletindo sobre o tipo de acesso que as meninas

possuem aos meios tecnoloacutegicos culturais e educacionais em paiacuteses onde o homem eacute

considerado superior Outro registro sexista aparece no estudo de Chisholm (2014) que

defende que meninas tendem a se envolver em agressatildeo indireta social e relacional como no

cyberbullying para excluir pessoas em redes sociais e espalhar rumores A natureza

9 Um discurso sexista declara em seu posicionamento que determinado papel eou estereoacutetipo de gecircnero ou sexo

eacute superior que o outro Pode ser inclusive configurado como preconceito e discriminaccedilatildeo com base nesses

marcadores sociais (sexo ou gecircnero)

65

―competitiva das mulheres foi um aspecto destacado por Wingate (2013) ao corroborar a

ideia que as garotas estariam mais envolvidas com praacuteticas de cyberbullying relacionais

Por fim notamos tambeacutem que eacute consensual o reconhecimento de impactos na sauacutede

psiacutequica e no cotidiano escolar dos intimidados e apenas um pequeno grupo reconhece que

existem impactos entre os intimidadores No contexto da Sauacutede o tema ainda eacute recente e

pouco disseminado anunciando um longo percurso a ser percorrido no sentido de sua

compreensatildeo e de posicionamento do campo Jaacute no contexto da Educaccedilatildeo o tema comeccedilou a

ser discutido anteriormente o que pode ser atribuiacutedo agrave recorrente correlaccedilatildeo com o bullying

que perpassa o cotidiano da escola

Artigo 2

4CYBERBULLYING ESTRATEacuteGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA O CAMPO

DA SAUacuteDE E EDUCACcedilAtildeO ndash REVISAtildeO DE LITERATURA (natildeo submetido)

RESUMO

O presente estudo propotildee uma revisatildeo criacutetica de estudos sobre o cyberbullying com recorte

temporal entre os anos de 2006 e 2016 Os objetivos deste estudo foram analisar as propostas

de enfrentamento sugeridas para os setores da sauacutede e educaccedilatildeo (atores implicados e

estrateacutegias sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo modos de

enfrentamento e dinacircmicas do fenocircmeno Os resultados foram discutidos com base na anaacutelise

de discurso criacutetica proposta por Norman Fairclough Identificou-se na literatura revisada uma

maioria de accedilotildees baseadas na proposta de monitoramento e controle parental e escolar

discursos que propotildee praacuteticas no intuito de gerar uma mudanccedila no comportamento dos

66

indiviacuteduos envolvidos com o cyberbullying e propostas que expressam forte

intertextualidade manifesta do saber meacutedico

Palavra-chave Cyberbullying violecircncia intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo sauacutede e educaccedilatildeo

ABSTRACT

The present study proposes a critical review of studies on cyberbullying with temporal cut

between 2006 and 2016 The objectives of this study are to analyze the proposed proposals

for sectors of Health and Education (implicated actors and suggested strategies) and analyze

the discourses on prevention accountability coping methods and dynamics of the

phenomenon The results were discussed on the basis of critical discourse analysis proposed

by Norman Fairclough It was identified in the reviewed literature a majority of actions

based on the parental and school monitoring and control proposal discourses that proposes

actions aimed at changing the social behavior of individuals involved with cyberbullying and

proposals that express a strong intertextuality of medical knowledge

Key-words Cyberbullying violence intervention prevention health and education

INTRODUCcedilAtildeO

A virtualizaccedilatildeo das relaccedilotildees sociais trouxe profunda transformaccedilatildeo para a

sociabilidade contemporacircnea permitindo que novos espaccedilos de trocas de informaccedilotildees e que

relaccedilotildees comerciais esteacuteticas e afetivo-sexuais fossem constituiacutedas a partir das tecnologias de

comunicaccedilatildeo digital (Castells 2003) No ciberespaccedilo esse novo espaccedilo de interaccedilatildeo os

viacutenculos sociais se estabelecem atraveacutes da internet ganhando assim nova capilaridade As

redes sociais e outros modelos de conexotildees surgem com uma identidade proacutepria que

legitimam uma cultura peculiar a cibercultura ou cultura digital (Levy 2010) Entretanto

para alguns autores o conceito de cibercultura poderaacute cair em desuso visto que as relaccedilotildees

digitais possuem total interface com o cotidiano dos sujeitos sociais (Roger e Salgado 2016)

Martino (2015) ao tratar das caracteriacutesticas baacutesicas das redes sociais afirma que na

cultura digital os viacutenculos entre os indiviacuteduos passam a serem fluiacutedos raacutepidos estabelecidos

conforme a necessidade de um momento e a seguir desmanchados As relaccedilotildees digitais

permitem a disseminaccedilatildeo imediata e sem fronteiras geograacuteficas de informaccedilotildees e saberes de

apoio aleacutem de permitir trocas diversas (afetivas comerciais intelectuais) de favorecer ao

67

associativismo e possibilitar a organizaccedilatildeo de grupos em torno de vivecircncias comuns agendas

e pautas de atuaccedilatildeo (Lemos 2015) Todavia pode contribuir tambeacutem para que praacuteticas de

violecircncia sejam produzidas e disseminadas no ambiente virtual

O Cyberbullying representa uma nova forma de violecircncia sistemaacutetica que se manifesta

atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica entre pares nas ambiecircncias das redes de

socialidade digital que podem ocorrer em qualquer espaccedilo geograacutefico Eacute considerado por

diferentes estudiosos como um problema de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede emocional de

crianccedilas e adolescentes (Brown Jackson e Cassidy 2006 Carpenter e Hubbard 2014 Nixon

2014 Bottiono et al 2015 Yang 2016)

Partimos do entendimento que o Cyberbullying eacute uma modalidade de violecircncia que se

apresenta sob as formas de agressatildeo psicoloacutegica e simboacutelica A violecircncia psicoloacutegica pode

repercutir para aleacutem da subjetividade do indiviacuteduo resultando em consequecircncias praacuteticas e

reais no cotidiano e individualidade dos sujeitos envolvidos (Dahberg e Krug 2007)

O cyberbullying se configura ainda como um tipo de representaccedilatildeo e praacutetica social no

ambiente virtual (traduzido no Brasil como Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica) Tal traduccedilatildeo brasileira

ocorreu a partir da Lei 1318515 (BRASIL 2015) que estabeleceu o Programa Nacional de

combate agraves formas de Intimidaccedilatildeo Sistemaacutetica entre elas a que ocorre na rede mundial de

computadores

O tema cyberbullying vem sendo discutido de forma ampliada pela literatura

internacional ao longo das uacuteltimas deacutecadas (Garaigordobil 2011 Torres e Marcieles 2012

Della Ciopa et al 2015) Embora geralmente associada ao tema Bullying (possuidor de um

arcabouccedilo teoacuterico consolidado) a temaacutetica vem ganhando lentamente espaccedilo na literatura

cientiacutefica brasileira O fenocircmeno do Cyberbullying tem tido destaque nas miacutedias

especialmente em casos cujas repercussotildees satildeo de extrema violecircncia como os assassinatos em

seacuterie eou suiciacutedio Todavia haveria uma desconexatildeo significativa entre o que o puacuteblico

precisa saber e o que eacute realmente conhecido sobre o fenocircmeno cyberbullying (Carpenter e

Hubbard 2014)

Muitos programas e propostas de intervenccedilatildeo prevenccedilatildeo surgiram nos uacuteltimos anos

mas estudos que analisam o conjunto dessas propostas ainda satildeo escassos Segundo Wendt e

Lisboa (2014) ―se faz urgente e necessaacuteria uma maior compreensatildeo acerca desse fenocircmeno

para que seja possiacutevel o desenho de accedilotildees preventivas e interventivas eficazes (pag42)

68

Este estudo pretende portanto analisar os discursos adotados eou constituiacutedos pela

comunidade cientiacutefica sobre as propostas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo de cyberbullying a

serem aplicadas no campo da Sauacutede e da Educaccedilatildeo

Os objetivos propostos para este trabalho foram analisar as propostas de

enfrentamento sugeridas para os setores da Sauacutede e Educaccedilatildeo (atores implicados e estrateacutegias

sugeridas) e analisar os discursos sobre prevenccedilatildeo responsabilizaccedilatildeo e modos de

enfrentamento Partindo desse recorte analiacutetico tratamos das seguintes questotildees

investigativas Quais satildeo as principais hipoacuteteses que sustentam os modelos de intervenccedilotildees

propostos pela literatura sobre cyberbullying Como a comunidade cientiacutefica tem concebido a

questatildeo da sociabilidade virtual juvenil Qual o papel dos educadores diante de casos de

cyberbullying Qual o papel dos responsaacuteveis diante de situaccedilotildees de cyberbullying O que

fazer diante de situaccedilotildees de cyberbullying

METODOLOGIA

Como meacutetodo investigativo optou-se por uma revisatildeo de literatura do tipo ―revisatildeo

criacutetica (critical review) Essa abordagem metodoloacutegica objetiva analisar criticamente a

literatura sobre um tema revelando fraquezas contradiccedilotildees controveacutersias ou inconsistecircncias

(Grant 2014) Uma revisatildeo criacutetica tem sua relevacircncia por sua capacidade de destacar

problemas discrepacircncias ou aacutereas em que o conhecimento existente sobre um toacutepico natildeo eacute

confiaacutevel (Paregrave et al 2015) Assim como as revisotildees teoacutericas as revisotildees criacuteticas podem

adotar diferentes meacutetodos de anaacutelise sejam com vieacutes interpertativo como nos casos das

siacutentese interpretativa anaacutelise de discurso anaacutelise temaacutetica ou ateacute mesmo os de recorte mais

positivista como a anaacutelise de conteuacutedo em sua vertente quantitativa

Foram consultadas sete bases internacionais - Scielo BVS Scopus PubMed

American Psychological Association Eric e Applied Social Sciences Index and Abstracts-

durante o mecircs de fevereiro do ano de 2017

Inicialmente iriacuteamos realizar uma revisatildeo do tipo integrativa todavia durante a busca

inicial aplicamos o termo cyberbullying em todos os campos (all fields) e obtivemos o

resultado de 7785 artigos Durante o levantamento de dados buscamos pelo termo

―cyberbullying atraveacutes do Medical Subject Headings (MeSH) e constatamos apenas a

presenccedila do termo bullying (httpswwwncbinlmnihgovmeshterm=cyberbullying)

Verificou-se assim que o tema cyberbullying era tratado como subitem ou tema secundaacuterio

69

em estudos sobre o bullying O que pode estar ligado ainda agrave ideacuteia de que bullying e

cyberbullying seriam o mesmo fenocircmeno poreacutem ocorrendo em ambientes diferentes Assim

com a primeira busca usando o descritor cyberbullying em todos os campos surgiram 7785

artigos

No intuito de recortar e permitir maior aprofundamento analiacutetico do acervo optou-se

por trabalhar apenas com estudos de revisatildeo Foram selecionados apenas estudos cujo termo

―cyberbullying estava no tiacutetulo e ―revisatildeo presente em todos os campos Aplicaram-se ainda

criteacuterios de exclusatildeo tais como textos incompletos textos natildeo disponiacuteveis para acesso livre

acervo cinza dissertaccedilotildees monografias - o que resultou em 301 artigos Posteriormente

foram identificados 156 artigos em duplicidade que natildeo haviam sido contabilizados pelo

gerenciador de referecircncia MENDLEY por limitaccedilatildeo do programa Entre essas duplicidades

natildeo identificadas pelo programa encontraram-se estudos registrados em escrita por caixa alta

eou por traduccedilatildeo de texto para o idioma inglecircs nos casos em que o estudo original era em

outro idioma como espanhol ou francecircs ou quando havia subtraccedilatildeo de algum dos autores

tendo sido registrado apenas o primeiro autor seguido de et al Foi gerado um acervo de 145

artigos e um novo refinamento estabeleceu um recorte temporal visando analisar apenas

publicaccedilotildees datadas dos anos de 2006 ateacute 2016 de modo a apreender como o tema veio sendo

discutido ao longo da uacuteltima deacutecada resultando em 72 artigos de revisatildeo Desse nuacutemero

apenas 57 tratavam sobre prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo este o acervo analisado nesta obra

Migramos tal acervo para o gerenciador de referecircncias ZOTERO por ser um programa open

sourcelsquo (possibilita a customizaccedilatildeo dos itens utilizados pelo usuaacuterio) aleacutem de ser em

portuguecircs acesso livre e permitir a importaccedilatildeo de arquivos salvos nos mais distintos

formatos

Partindo do princiacutepio de que ―a linguagem adotada nos estudos eacute uma ―forma de

praacutetica social (Fairclough 2001) buscamos interpretar os fundamentos impliacutecitos nos

discursos adotados nos estudos analisados Assim analisamos quais accedilotildees estatildeo sendo

propostas partir dos discursos construiacutedos O modelo proposto por Fairclough para a Anaacutelise

do Discurso Criacutetica (ADC) demanda analisar o que o autor denomina de concepccedilatildeo

tridimensional pois propotildee examinar a praacutetica social dos discursos a praacutetica discursiva

presente no estudo e a proacutepria conformaccedilatildeo do texto

A anaacutelise da praacutetica discursiva segundo Fairclough (2001) permite explicar como os

discursos satildeo produzidos distribuiacutedos consumidos e interpretados explorando assim as

70

possiacuteveis ambivalecircncias A praacutetica discursiva inclui categorias analiacuteticas como a forccedila

coerecircncia e intertextualidade A forccedila dos enunciados faz referecircncia agrave ―accedilatildeo social e aos atos

de fala que o texto realiza (o que o texto evoca) a coerecircncia trata do sentido que o texto

possui (para quem faz sentido qual a loacutegica das marcaccedilotildees e conexotildees) a intertextualidade ―eacute

basicamente a propriedade que tecircm os textos de serem cheios de fragmentos de outros textos

permitindo reconstituir as influecircncias daquele discurso (Fairclough 2001) A categoria

intertextualidade possui duas diferenciaccedilotildees manifesta e constitutiva Sendo a manifesta

aquela que faz menccedilatildeo direta a outros textos e a constitutiva a ―constituiccedilatildeo heterogecircnea de

textos (as afinidades) por elementos das ordens de discurso o que Fairclough vai chamar de

interdiscursividade ou seja aqueles textos que satildeo ―desenhados por textos anteriores A

praacutetica discursiva seria uma mediadora entre a praacutetica social e o texto Tratar a dimensatildeo do

discurso como praacutetica social implica reconhecer a produccedilatildeo de efeitos ideoloacutegicos e

hegemocircnicos existentes nos discursos A praacutetica social possui diferentes orientaccedilotildees

econocircmica cultural e ideoloacutegica Satildeo inerentes agrave praacutetica social efeitos como a construccedilatildeo de

identidades sociais interferecircncia na realidade social aleacutem de servir de base para sistemas de

crenccedilas e conhecimentos sobre uma determinada questatildeo poliacutetica validada simbolicamente

Nessa perspectiva todo o discurso possui uma intencionalidade simboacutelica capaz de transmitir

uma mensagem de repercussatildeo social seja de mudanccedila de comportamento eou defesa de uma

determinada loacutegica seja ela de dominaccedilatildeo ou conformidade Um discurso eacute capaz de produzir

modos de ver e se portar numa dada sociedade bem como contribuir para a construccedilatildeo de

relaccedilotildees sociais

Nossa anaacutelise focou nas dimensotildees textuais (gramaacutetica e figuras de linguagem) e

categorias da praacutetica discursiva com enfoque na intertextualidade (manifesta e constitutiva)

Buscamos analisar o que os textos tecircm evocado a partir dos conceitos estabelecidos ou

ratificados pela comunidade cientiacutefica cuja escrita exerce um poder que influi na praacutetica

social

CARACTERIZACcedilAtildeO DO ACERVO

Cada texto foi lido integralmente e os temas de interesse do estudo (estrateacutegias de

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo em sauacutede e educaccedilatildeo) foram identificados comparados e

interpretados

71

Como pode ser visto no quadro 1 os EUA foi o paiacutes que mais publicou estudos sobre o tema

e o que possui o maior nuacutemero de revistas cientiacuteficas que abordou o assunto no periacuteodo

analisado O que demonstra um maior investimento na produccedilatildeo cientiacutefica dos EUA e a

relevacircncia do tema para a comunidade cientiacutefica do paiacutes supracitado A Agression and Violent

Behavior foi a revista estadunidense que mais publicou sobre o tema (8) seguida da

Computers in Human Behavior (5) do Reino Unido - ambas revistas classificadas como

intermultiprofissionais A revista Preventing School Failure Alternative Education for

Children and Youth do setor educaccedilatildeo publicou trecircs artigos e do setor sauacutede a revista alematilde

International Journal of Adolescent Medicine and Health teve duas publicaccedilotildees

Quadro 4 ndash Revistas com estudos de revisatildeo sobre Prevenccedilatildeo e Intervenccedilatildeo de

Cyberbullying (2010-2016)

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

1 Canadian Journal of

Educational

Administration and

Policy

1

Educaccedilatildeo

Canadaacute

2 Journal of Child and

Adolescent

Psychiatric Nursing

1 Sauacutede EUA

3 Adolescent Health

Medicine and

Therapeutics Journal

1 Sauacutede Reino Unido

4 World Medical amp

Health Policy

1 Sauacutede EUA

5 International Journal

of Psychology and

1 Sauacutede Espanha

72

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Psychological

Therapy

6 Psicologiacutea desde el

Caribe

1 Psicologia Colombia

7 Agression and

Violent Behavior

08 Intermultidisciplar EUA

8 Computers in

Human Behavior

5 Intermultidisciplar Reino Unido

9 International Journal

of Adolescent

Medicine and Health

2 Sauacutede Alemanha

10 International Journal

of Cyber Behavior

Psychology and

Learning

1 Intermultidisciplar EUA

11 Neuropsychiatrie de

llsquoEnfance et de

llsquoAdolescence

1 Sauacutede Franccedila

12 Australian

Education

Computing

1 Educaccedilatildeo Austraacutelia

13 Current Issues in

Middle Level

Education (CIMLE)

1 Educaccedilatildeo EUA

14 Journal Theory Into

Practice

1 Educaccedilatildeo EUA

15 Journal of

Adolescent Health

1 Sauacutede EUA

73

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

16 Journal of Research

in Special

Educational Needs

1 Educaccedilatildeo Gratilde Bretanha

17 Temas em

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

18 Boletim Academia

Paulista de

Psicologia

1 Sauacutede Brasil

19 Children and Youth

Services Review

1 Intermultidisciplar EUA

20 Psychological

Bulletin

1 Sauacutede EUA

21 International Journal

of Adolescence and

Youth

1 Intermultidisciplar Reino Unido

22 Clinical Practice amp

Epidemiology in

Mental Health

1 Sauacutede Emirados Aacuterabes Unidos

23 Journal of Education

and Training Studies

1 Educaccedilatildeo EUA

24 Social Influence

Journal

1 Intermultidisciplar Reino Unido

25 Journal of

Information Systems

Education

1 Educaccedilatildeo EUA

26 Professional School

Counseling Journal

1 Educaccedilatildeo EUA

27 School Psychology 1 Educaccedilatildeo EUA

74

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

International

28 Emotional and

Behavioural

Difficulties

1 Intermultidisciplar Reino Unido

29 Gifted Education

International

1 Educaccedilatildeo EUA

30 Internet

Interventions

1 Sauacutede EUA

31 Preventing School

Failure Alternative

Education for

Children and Youth

3 Educaccedilatildeo

32 JAMA - Journal of

the American

Medical Association

1 Sauacutede EUA

33 Revista de

Psicologia Cliacutenica

1 Sauacutede EUA

34 School Psychology

International

1 Educaccedilatildeo EUA

35 LEnceacutephale 1 Sauacutede Franccedila

36 Journal of Human

Behavior in the

Social Environment

1 Serviccedilo Social

37 Australian Journal

of Guidance and

Counselling

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar Inglaterra

38 Alberta Journal of

Educational

1 Educaccedilatildeo Canadaacute

75

TIacuteTULOS DAS

REVISTAS

NUacuteMERO

DE

ARTIGOS

DO

ACERVO

CATEGORIA DAS

REVISTAS

NACIONALIDADE

DA REVISTA

Research

39 Nova Science

publishers

1 Educaccedilatildeo EUA

40 Psychiatric

Quarterly

1 Sauacutede EUA

41 Education Diggest 1 Educaccedilatildeo EUA

42 ACM ndash Association

for Computing

Machinery

1 Intermultidisciplar EUA

43 Psychology in the

Schools

1 Educaccedilatildeointerdisciplinar EUA

TOTAL 57

ESTRATEacuteGIAS DE PREVENCcedilAtildeO

Organizamos a apresentaccedilatildeo dos resultados em blocos temaacuteticos identificando seu

setor de origem (Educaccedilatildeo Sauacutede) entendendo que tais propostas possuem uma

especificidade disciplinar e mesmo discursiva Analisamos as possiacuteveis ambiguidades

contradiccedilotildees bem como os tipos de argumentos sobre prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo produzidos

nesses textos Todavia independente da origem boa parte do acervo apresentou evocacccedilotildees

discursivas a accedilotildees ―coletivas e interdisciplinares reconhecendo ser essencial que os

esforccedilos sejam sineacutergicos entre escola famiacutelia e sociedade devendo incluir accedilotildees preventivas

de modo a atuar em situaccedilotildees geneacutericas conduzidas para qualificar as relaccedilotildees sociais

prevenir as agressotildees online e buscando evitar novos episoacutedios de cyberbullying

Para Baek e Bullock (2013) apesar dos muitos estudos sobre cyberbullying haveria

uma lacuna de produccedilotildees que tragam uma perspectiva internacional sobre como o tema vem

76

sendo discutido pelo mundo Entre os estudos analisados pelos autores que abordam sobre

prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo tais programaspropostas podem ser divididas nas categorias leis e

poliacuteticas abordagens educacionais esforccedilos das escolas e papeacuteis dos pais Entretanto nesses

moldes de classificaccedilatildeo identificamos ambiguidades sobre o papel dos pais poliacuteticas de

enfrentamento e no que tange aos modus operandi dos programas mencionados pois ora satildeo

apresentados como propostas punitivas ora apresentam um vieacutes reflexivo numa perspectiva

de cultura de paz ou de copinglsquo

As contribuiccedilotildees associadas agrave Educaccedilatildeo agrave Sauacutede e de origem Interdisciplinar

identificadas nete estudo se caracterizaram por defender estrateacutegias preventivas baseadas 1

no controle e monitoramento das atividades online praticadas pelos jovens 2 no

estreitamento de viacutenculos entre profissionais da rede escolar e alunos e entre pais e jovens

3e na disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo e campanhas sobre cyberbullying bem como na

capacitaccedilatildeo de profissionais pais e alunos sobre o tema Por fim elencamos mais uma

categoria discursiva organizadora do acervo que trata dos fatores que levariam a ecircxitos e

fracassos das propostas de prevenccedilatildeo (4)

Controle e monitoramento

As estrateacutegias de prevenccedilatildeo baseadas na perspectiva de controle e monitoramento

foram as mais comuns As revisotildees de Couvillon e Ilieva (2011) e Smith et al (2012)

sugerem por exemplo limitar o uso de celulares na escola Esse texto como em muitos

outros os nuacutecleos verbais satildeo evidentes em sua perfomatividade proibitiva (implementar

controlesrestringir acessoexcluir miacutedias)

―As escolas podem implementar controles sobre a miacutedia existente

restringindo o acesso agraves aacutereas de Internet em que o ciberbullying

provavelmente ocorreraacute (por exemplo salas de bate-papo miacutedias sociais

sites) e excluir a miacutedia natildeo necessaacuteria para a experiecircncia de aprendizagem

como celular Smith et al 2012 (pg 121)

Considerando que a sociabilidade digital jaacute estaacute engendrada no cotidiano de crianccedilas e

adolescentes alguns estudos revisados por Sabella et al (2013) ponderam que a tecnologia

aleacutem de ser uma ferramenta social e de educaccedilatildeo desligar o computador natildeo interrompe

muitas formas de cyberbullying

77

Foram poucos os tipos de estrateacutegias de prevenccedilatildeo direcionadas para o campo da

Sauacutede ou por ele propostas se comparados agrave diversidade de propostas da Educaccedilatildeo mas

dentre estas destacam-se as propostas relativas ao que os artigos nomearam como controle e

monitoramento das atividades online das crianccedilas e adolescentes Uma revisatildeo do campo da

sauacutede propocircs que psiquiatras ―eduquem os pais de adolescentes viacutetimas de cyberbullying

que ―informem sobre monitoramento e controle do uso de tecnologias (Korenis e Billick

2015) Reconhecemos aiacute a presenccedila de interdiscussividade com o discurso biomeacutedico

sugerindo a influecircncia da autoridade meacutedica sobre os pais mesmo diante de fatos relativos agrave

sociabilidade e de cunho comportamental Confirma-se o campo de exerciacutecio da biomedicina

para aleacutem das fronteiras cliacutenicas incorporando o manejo de questotildees da vida social

Outros estudos tambeacutem apresentaram o discurso do monitoramento e controle como

estrateacutegia ―essencial de prevenccedilatildeo com intertextualidade constituiacuteda de um enunciado que

reforccedila a necessidade de supervisatildeo das praacuteticas juvenis e controle parental (Garcia

Maldonado 2011 Perren et al 2012 Torres e Vivas 2012 Bailey 2013 Brunett et al 2013

Aresene e Raynaud 2014)

No que tange agraves propostas interdisciplinares voltadas para a ―proteccedilatildeo online

estudos sugerem a ―tutoria de atividades ―programas de seguranccedila na internet voltado para

pais professores comunidade escolar e alunos e ainda o desenvolvimento precoce de haacutebitos

relacionados ao ―uso seguro da internet para crianccedilas de modo a garantir a efetiva

―internalizaccedilatildeo desses comportamentos (Hanewald 2009 Wendt e Lisboa 2014 Ang

2015) Tal discurso de proteccedilatildeo eacute portador de ambiguumlidades ora propondo um

―acompanhamento (necessaacuterio para determinadas faixas etaacuterias) o que pressupotildee certa

agecircncia e autonomia dos meninos e meninas em navegar online bem como evoca a ideacuteia de

controle (antiacutetese da autonomia sugerida) como estrateacutegia de prevenccedilatildeo Poreacutem natildeo fica claro

como tais propostas consideram os princiacutepios de liberdade de expressatildeo privacidade e

autonomia das crianccedilas e adolescentes

Nesse sentido a literatura analisada sustenta enunciados que reforccedilam a ideacuteia de que

os pais devem ser informados sobre boas praacuteticas e riscos na internet inclusive os riscos do

cyberbullying aleacutem de ―ter conhecimento dos tipos de tecnologias que satildeo utilizadas pelos

jovens para assim supervisionar ―monitorar no sentido de participaccedilatildeo das atividades online

(Hanewald 2009 Bayley 2013 Burnett et al 2013 Arsene e Raynaud 2014) Outros autores

tentam atenuar o confronto entre autonomiamonitoramentocontrole com expressotildees do tipo

78

―monitoramento no sentido de participaccedilatildeo da navegaccedilatildeo em alguns sites e apresentam uma

coerecircncia textual para que natildeo haja maacute interpretaccedilatildeo por parte dos jovens por acharem que

haveria uma perda de autonomia para navegaccedilatildeo na web Ao mesmo tempo o trecho traz

como forccedila um discurso de direcionamento tanto para as crianccedilas e adolescentes quanto para

os pais sobre um modelo de ajuste das praacuteticas rotineiras para que as formas de

monitoramento sejam naturalizadas e inseridas no cotidiano com a justificativa de prevenir da

violecircncia virtual Tal discurso tem tambeacutem como perspectiva de accedilatildeo a participaccedilatildeo dos pais

no universo online de seus filhos propiciando assim novas possibilidades de interaccedilatildeo

familiar

Wendt e Lisboa (2014) afirmam que os jovens acreditam que os adultos natildeo sabem

lidar com o cyberbullying todavia sugerem que o monitoramento parental visto como ―fator

protetivo pode contribuir para um menor comportamento de risco para os jovens na internet

Outra reflexatildeo apontada nessa literatura eacute que conforme os adolescentes se desenvolvem e

passam a adquirir maior independecircncia em relaccedilatildeo aos pais estes uacuteltimos costumam ajustar as

praacuteticas de supervisatildeo permitindo maior liberdade ao adolescente

Jaacute Sabella et al (2013) assinalam que o controle parental natildeo eacute tarefa faacutecil visto que os

aparelhos eletrocircnicos da atualidade satildeo de uso individual Aleacutem disso os adolescentes teriam

mais expertise no uso de tecnologias do que os adultos (Sabella et al 2013)

Estreitamento de laccedilos

No cenaacuterio das propostas oriundas da Educaccedilatildeo o estreitamento de laccedilos entre

alunos e professores se mostrou como uma alternativa relevante como apontam Couvillon e

Ilieva (2011) que ressaltam a necessidade de se ―avanccedilar de modo a ampliar a relaccedilatildeo de

confianccedila apoio e instruccedilatildeo entre alunos professores e demais funcionaacuterios (pg97)

No que concerne aos laccedilos familiares assinalados como relevantes para as accedilotildees de

prevenccedilatildeo percebe-se que a literatura analisada natildeo sinaliza claramente se reconhece a

existecircncia de rearranjos familiares e novos modelos de famiacutelias de crianccedilas e adolescente que

vivenciam experiecircncias de cyberbullying sejam como perpetradores acometidos eou

expectadores pois as orientaccedilotildees sempre invocam os personagens ―pais desconsiderando

que o cuidado dos filhos ocasionalmente esteja sob responsabilidade de outro adulto ou

tutor

79

Assim algumas revisotildees apontaram que os pais teriam um papel significativo na

prevenccedilatildeo do cyberbulyying quando esses permitem que seus filhos acessem somente a sites

considerados ―apropriados Assim essa permissatildeo demonstraria uma forma de cuidado e

propiciaria um ―ambiente saudaacutevel para que os filhos se sintam seguros de falar sobre alguma

situaccedilatildeo de cyberbullying vivenciada (Smith et al 2012 pg 121) Mas como os pais

poderiam valorar qual o poder ofensivo de redes sociais que satildeo os endereccedilos virtuais mais

utilizados pelos jovens na contemporaneidade Em contraponto um estudo revisado por

Slonje et al (2013) que investigou jovens de 25 paiacuteses constatou que 77 das viacutetimas

contaram o problema para algueacutem 42 contaram para os pais 52 para um amigo 7 para

os professores

Wendt e Lisboa (2014) pontuam que a ecircnfase e atenccedilatildeo devem ser voltadas para a

qualidade da relaccedilatildeo entre pais e filhos tal como agrave coerecircncia entre as praacuteticas parentais

utilizadas e a abertura para o diaacutelogo e negociaccedilatildeo Ressaltam ainda que o tempo gasto na

internet prejudica a qualidade na convivecircncia familiar

Capacitaccedilatildeo sensibilizaccedilatildeo campanhas

No que concerne agrave capacitaccedilatildeo e sensibilizaccedilatildeo sobre o problema a literatura

reforccedila que as escolas precisam incluir o tema em suas pautas poliacuteticas escolares de prevenccedilatildeo

e incluindo a conscientizaccedilatildeo de toda a comunidade escolar capacitando natildeo soacute os

professores que satildeo considerados imigrantes digitiais mas os alunos e demais profissionais da

escola promovendo assim um ambiente no qual o cyberbullying seja socialmente inaceitaacutevel

(Sabella et al 2013 Suzuky et al 2012 Smith et al 2012 Von Mareacutees Peterson 2012

Nosworty e Rinaldi 2013) Na revisatildeo de Sabella et al (2013) vemos a evocaccedilatildeo da ideia-

forccedila de conclamaccedilatildeo para que as escolas ampliem o conhecimento sobre poliacuteticas de bullying

e cyberbullying para ajudar a proteger os alunos e resguardar as escolas de sanccedilotildees legais

aleacutem de contribuir para o fortalecimento de viacutenculos no ambiente escolar e comunicaccedilatildeo

aberta entre os alunos

Ainda sobre tipos de prevenccedilatildeo nas escolas encontramos na literatura a proposta de

―capacitar os professores utilizando material com conteuacutedo objetivo e claro para que estes

tenham condiccedilotildees de entender o que representa o cyberbullying ―identificar casos seja

atraveacutes de manifestaccedilotildees psicopatoloacuteloacutegicas comportamentais ou ausecircncia escolar bem como

para o ―fortalecimendo de accedilotildees ciacutevicas no ambiente escolar que conscientizam de modo a

80

―contribuir para um ambiente harmocircnico e uma relaccedilatildeo de confianccedila entre esses atores

(Couvillon e Illieva 2011)

No campo da Sauacutede estudos apontaram a necessidade de campanhas de

conscientizaccedilatildeo para prevenir o cyberbullying (Mareacutees e Peterson 2012 Chisholm 2014) e

defendem que profissionais de sauacutede que trabalhem ou natildeo nas escolas deveriam ―capacitar

alunos e pais Enfatizam a importacircncia de instruir para o desenvolvimento de habilidades

emocionais de modo a reduzir comportamentos impulsivos agressivos e encorajar crianccedilas e

adolescentes a desenvolverem empatia e controlar a raiva utilizando teacutecnicas de ―auto-gestatildeo

emocional ou resiliecircncia (Von Mareacutees e Peterson 2012 e Suzuky et al 2012) O estudo de

Suzuky et al (2012) considera relevante que pais sejam conscientizados por conselheiros

escolares ou profissioanis de sauacutede sobre os problemas que o cyberbullying pode acarretar

Aresene e Raynaud (2014) destacaram a presenccedila recorrente de campanhas

governamentais a niacutevel nacional na Franccedila especiacuteficamente realizada por profissionais de

Sauacutede Puacuteblica chamando a atenccedilatildeo sobre o protagonismo do Setor nesse paiacutes frente ao tema

se comparados a outros campos como a Educaccedilatildeo

A disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees foi um tipo de prevenccedilatildeo sugerida Algumas

propostas relevantes foram destacadas para o setor Sauacutede Puacuteblica como a criaccedilatildeo de material

informativo com enfoque na prevenccedilatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas escolares que alcance

municiacutepios e estados com base em resultados de pesquisas (Gaacutercia Maldonado et al 2011

Kowalski et al 2014)

Ecircxitos e fracassos

Brown et al (2006) ressaltam que a literatura sugere como estrateacutegia de prevenccedilatildeo

primaacuteria que ―explorem a mentalidade digital como uma tarefa de poliacutetica escolar ou seja

que ―criem sites com uma linguagem digital apropriada para ―falar com os grupos de pares

utilizem desse mecanismo como estrateacutegia para que crianccedilas e adolescentes se relacionem e se

expressem nessa rede social escolar Tal literatura apresentou um discurso constitutivo que

propotildee mudanccedila de comportamento de alunos envolvidos em cyberbullying Quando se

propotildee a falar a linguagem dos nativos digitaislsquo essa estrateacutegia utiliza do convencimento para

propor intencionalmente um novo modelo de relaccedilotildees interpessoais desses jovens

81

Os autores mencionam a importacircncia de considerar as dinacircmicas sociais que

circundam a cibercultura como uma base para que praacuteticas positivas sejam desenvolvidas

Propor programas de acordo com a cultura local de um paiacutes ou regiatildeo foi visto como uma

accedilatildeo coerente ao inveacutes de copiar propostas de accedilatildeo jaacute existentes em outros paiacuteses De acordo

com um estudo grego embora haja uma seacuterie de programas de conscientizaccedilatildeo e material

relacionado a maioria dos programas foi projetada a partir de programas europeus muitas das

vezes ignorando que para aumentar a possibilidade de eficaacutecia de um programa de

intervenccedilatildeo se faz necessaacuterio sua adaptaccedilatildeo agraves necessidades e cultura do paiacutes (Antoniadou e

kokkinos 2013) Percebe-se neste contexto a denuacutencia sobre uma certa dominaccedilatildeo ideoloacutegica

de modelos que satildeo exportados de paiacuteses ―centrais que desconsidera aspectos importantes

como a especificidade da cultura de determinada regiatildeo a forma como os jovens interagem

nos meios digitais e como vivenciam as praacuteticas de violecircncia nessa acircmbiencia

Um estudo revisado por Slonje (2013) apontou que satildeo razoaacuteveis as taxas de sucesso

dos programas escolares de prevenccedilatildeo ao bullying Os autores acreditam que os programas de

prevenccedilatildeo ao bullying podem ser ampliados sem a necessidade de grandes alteraccedilotildees

incluidno a demanda do cyberbullying Assim seria um componente de uma poliacutetica anti-

bullying em toda a escola com accedilotildees de conscientizaccedilatildeo e atividades nesse aspecto poderiam

ser incluiacutedas no curriacuteculo escolar

Programas com vieacuteses punitivos voltados para que perpetradores ―tirem uma liccedilatildeo

sobre seus atos foram considerados ineficazes por parte da literatura Todavia haacute divergecircncia

no discurso sobre as abordagens punitivas no trato com o cyberbullying Segundo a revisatildeo de

Hanewald (2009) estudos consideraram a responsabilizaccedilatildeo dos perpetradores e a criaccedilatildeo de

poliacuteticas que tratam sobre a questatildeo da violecircncia digital como fatores positivos que inibiriam

novas accedilotildees de cyberbullying Um estudo do campo da Educaccedilatildeo defende que a

judicializaccedilatildeo dos casos de cyberbullying eacute uma estrateacutegia negativa ―Os distritos escolares

devem considerar cuidadosamente as accedilotildees que as escolas podem realizar sem colocar nossa

juventude no sistema de justiccedila criminal (Bailey 2013 pg 6) Tal referecircncia conclama as

instituiccedilotildees escolares tomarem para si a responsabilidade de atuar de forma preventiva de

modo que natildeo seja necessaacuteria uma intervenccedilatildeo de cunho punitivo no acircmbito judicial com os

jovens envolvidos com o cyberbullying Outros textos trazem a mesma perspectiva

(Aboujaoude et al 2015 Alim 2016 Baek e Bullock 2014 Bailey 2013 Baldry et al 2015

Berne et al2013 Cantone et al 2015 Cassidy Faucher e Jackson 2013)

82

A criaccedilatildeo de leis punitivas dividiu os autores Uns consideram que tais normativas

serviriam de base tanto para prevenccedilatildeo quanto para o enfrentamento aleacutem de servir de

paracircmetro legal para possiacuteveis accedilotildees praacuteticas adotadas pelas escolas diante de tais situaccedilotildees

(Baek e Bullock 2013 Bailey 2013)

Por outro lado os programas de prevenccedilatildeo que propiciem uma cultura de paz foram

considerados como uma alternativa eficiente no enfrentamento ao cyberbullying(Cassidy et al

2012)

Por fim um estudo de Della Cioppa et al (2015) que analisou programas de

prevenccedilatildeo do cyberbullying revelou que a maioria desses programas natildeo transcende a escola

(por exemplo para a famiacutelia a miacutedia) - o que pode explicar porque poucos programas de

prevenccedilatildeo natildeo conseguiram reduzir a vitimizaccedilatildeo dos casos de cyberbullying

ESTRATEacuteGIAS DE ldquoINTERVENCcedilAtildeOrdquo

Verificamos no acervo deste estudo duas linhagens de intervenccedilatildeo propostas diante de

casos jaacute ocorridos a primeira toma o foco das accedilotildees realizadas por instituiccedilotildees e a segunda

voltada para o manejo de cunho individual cujas accedilotildees satildeo alinhadas agrave perspectiva de coping

(modos de lidar)

Respostas institucionais de intervenccedilatildeo

De acordo com a literatura estudada (Mason 2008 Garaigordobil 2011) as propostas

de intervenccedilatildeo devem inicialmente identificar os casos de cyberbullying e sinalizar possiacuteveis

estrateacutegias para evitar que essas praacuteticas de violecircncia se consolidem a partir de accedilotildees

especiacuteficas de intervenccedilatildeo que tenham enfoque individual e nos grupos de agressores Intervir

em situccedilotildees concretas de cyberbullying de sorte que se torne possiacutevel minimizar os impactos

dessa violecircncia sobre os acometidos ofertando apoio psicoteraacutepico e proteccedilatildeo agraves viacutetimas sem

desconsiderar accedilotildees junto ao puacuteblico de espectadores

No primeiro grupo estatildeo aqueles que corroboram a ideia que a proteccedilatildeo dos dados

digitais eacute uma forma de lidar com o cyberbullying Essa proteccedilatildeo de dados tem como objetivo

natildeo permitir que conteuacutedos de cunho pessoal sejam acessados e expostos sem o

consentimento do proprietaacuterio Salientamos o discurso evocado na revisatildeo de Ang (2015)

sobre a praacutetica social do exibinicionismo tatildeo naturalizada nas miacutedias sociais digitais Ang

identificou entre os estudos revisados por ele mecanismos de accedilatildeo pelo qual essa loacutegica

83

narcisista ao extremo poderia contribuir para praacuteticas de cyberbullying contra pessoas que natildeo

se encaixam em determinados padrotildees esteacuteticos O autor reflete ainda que o anonimato na

Internet poderia ―exacerbar o senso desses adolescentes de desrespeitar os outros com a

crenccedila de que a agressatildeo eacute ―razoaacutevel aceitaacutevel e justificaacutevel (pg 38) Os elementos

discursivos desse estudo trazem o modo de representaccedilatildeo dos jovens sobre o mundo e sobre

os outros enfatizando o exibicionismo e natildeo empatia com seus pares

Com relaccedilatildeo agraves implicaccedilotildees para a escola segundo a revisatildeo de Hinduja e Patchin

(2011) a escola e seus administradores teriam obrigaccedilatildeo legal de agir quando ocorre a

violecircncia fora da internet e dentro dela quando esses atores tiverem ciecircncia desses fatos Para

Castro Schneider (2015) a escola teria como funccedilatildeo social a co-responsabilidade nos casos de

cyberbullying devendo a direccedilatildeo acionar os pais os Conselhos Tutelares e outros oacutergatildeos de

proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente aleacutem de aconselhar as viacutetimas (Faucher et al 2015) os

perpetradores (Chibbaro 2015) e ensinar aos alunos qual a maneira mais adequada de

responder a episoacutedios de cyberbullying (Notar et al 2016) Espera-se ainda da escola que

capacite professores a terem uma escuta qualificada e que tenham um espaccedilo sigiloso como

referecircncia de apoio para os alunos para que se sintam seguros em compartilhar sobre situaccedilotildees

de cyberbullying (Wingate et al 2013) A literatura ainda sugeriu que as escolas devam criar

programas que melhorem o clima escolar e que contribuam para o desenvolvimento da

empatia e resoluccedilatildeo de conflitos Percebe-se que haacute uma tendecircncia nos textos em sugerir

modelos de condutas por parte das escolas de modo a criar protocolos de comportamentos

diante de situaccedilotildees de bullyingcyberbullying

Destaca-se neste bloco de informaccedilotildees o papel da escola no acircmbito interventivo a

ideia de que funcionaacuterios escolares terem autonomia de impor restriccedilotildees e disciplina caso

regras escolares sejam violadas pelos alunos (Mason 2008) Tal discurso apresenta uma forccedila

discursiva ao designar uma ordem social em ―impor restriccedilotildees por parte dos profissionais da

educaccedilatildeo

A escola eacute chamada a oferecer capacitaccedilatildeo para pais cujos filhos estejam

envolvidos com cyberbullying de modo que esse treinamento tenha um recorte interventivo

ao buscar trabalhar com o puacuteblico dos estudantes cyberagressores no sentido de instruir esses

uacuteltimos e informar sobre o problema

Outras accedilotildees foram destacadas como propostas de cunho didaacutetico de modo a incluir a

famiacutelia e a comunidade no processo de intervenccedilatildeo (Garaigordobil 2011) e monitorar as

84

atividades online feita pelos alunos (Cassidy et al 2013 Carpenter e Hubbard 2014) Essa

uacuteltima proposta coloca em questatildeo como jaacute discutido anteriormente regras de convivecircncia

que interferem na privacidade dos alunos aleacutem das formas de se relacionar na

contemporaneidade ateacute mesmo da individualidade e autonomia dos jovens de fazerem o uso

de seus pertences tecnoloacutegicos no ambiente escolar

Jaacute a revisatildeo de Wendt e Lisboa (2014) evidencia que a falta de diaacutelogo entre pais e os

jovens precisa ser foco de intervenccedilatildeo por parte de psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede

dado que a vulnerabilidade na comunicaccedilatildeo familiar representa um fator de risco no que tange

aos moldes que a violecircncia apresenta no meio digital Os autores percebem que haacute um

distanciamento cultural por parte de pais e professores Sugerem que programas de

intervenccedilatildeo direcionados pelas escolas poderiam desenvolver grupos de responsaacuteveis com

atividades luacutedicas que envolvam o uso das novas tecnologias de modo a propiciar um

compartilhamento de experiecircncias entre responsaacuteveis professores e os alunos Wendt e

Lisboa ainda recomendam que psicoacutelogos e outros profissionais da sauacutede ofertem suporte

emocional aleacutem de reflexotildees sobre os riscos e os benefiacutecios que as dinacircmicas digitais

oferecem na contemporaneidade Todavia identificamos um estudo que sugere a puniccedilatildeo com

o argumento de reparar o dano pelos maus atos praticados pelos filhos (Faushe et al 2015)

Accedilotildees interdisciplinares foram propostas como manejo de intervenccedilatildeo O estudo de

Gine e Espelage (2014) apesar de natildeo descreverem qual o papel de psiquiatras meacutedicos pais

e professores diante de casos de cyberbullying sugere que a intervenccedilatildeo por parte desses eacute

necessaacuteria para diminuir o risco de angustias que podem repercutir em suiciacutedio Neste caso o

discurso apresenta uma funccedilatildeo de linguagem identitaacuteria ao reconhecer o papel social desses

atores e a necessidade de sua atuaccedilatildeo Reed (2015) destacou a formulaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo com base em modelos jaacute existentes como uma estrateacutegia positiva designada para

intervir na depressatildeo de pessoas que vivenciaram o cyberbullying Outro modelo semelhante

visa agrave formaccedilatildeo de ciacuterculos restaurativos e grupos de reflexatildeo voltado para os agressores

mas com monitoramento das accedilotildees de cyberbullying por eles praticadas Tanto no que se

refere aos autores como aos acometidos a perspectiva de mudanccedila de comportamento adveacutem

de tratamento psicoloacutegico sem desconectar a oferta de aconselhamento Experiecircncias como

estas foram consideradas exitosas quando reproduzidas (Suzuky et al 2012 Sabella et al

2013 Slonje et al 2013)

85

Programas de conscientizaccedilatildeo tambeacutem foram considerados como accedilotildees de intervenccedilatildeo

cujos objetivos satildeo o de contribuir para a reduccedilatildeo do estresse imediato e ajudar a prevenir

consequecircncias de longo prazo bem como um mecanismo para denuacutencias anocircnimas aos canais

e oacutergatildeos de proteccedilatildeo (Garaigordobil 2011 Raskauskas e Ruyinh 2015)

Criar instrumentos para avaliar os riscos de um jovem sofrer cyberbullying tambeacutem foi

considerado pelos estudos como um instrumento de intervenccedilatildeo ao passo que permitiria a

criaccedilatildeo de novas estrateacutegias de accedilotildees (Baldry et al 2015) Entendemos que a criaccedilatildeo de

instrumentos para avaliaccedilatildeo traz como implicaccedilatildeo discursiva as maneiras de interpretar o

sentido de haver riscos de sofrer cyberbullying

Por fim um uacuteltimo grupo de propostas de intervenccedilatildeo se refere agrave criaccedilatildeo de leis

coibitivas da praacutetica de cyberbullying No que tange a legislaccedilatildeo a criaccedilatildeo de leis especiacuteficas

para lidar com cyberbullying abre margem para uma argumentaccedilatildeo de que se faz ―necessaacuteria

a criminalizaccedilatildeo do fenocircmeno como condiccedilatildeo efetiva para lidar com ele A anaacutelise dessas

propostas envolve a agurmentaccedilatildeo sobre execuccedilatildeo das leis podendo inclusive resultar em

accedilotildees paliativas aleacutem da presenccedila de um discurso apelativo de judicializaccedilatildeo das relaccedilotildees

sociais em conflito (Yan e Grinshteyn 2016)

Entendemos que as estrateacutegias relacionadas acima correspondem a accedilotildees de cunho

institucional e poliacutetico Natildeo encontramos modelos de intervenccedilatildeo especiacuteficos para o campo da

sauacutede

bdquoCoping‟ ndash o manejo individual

Os modelos de coping apresentados nos estudos analisados reportam a um manejo de

ordem psiacutequica e individual ofertando ainda a possibilidade de acionamento de outros sujeitos

como professores amigos e famiacutelia Natildeo estatildeo relacionados diretamente ao campo Educaccedilatildeo

mas ao manejo que prioriza a sauacutede mental dos indiviacuteduos

Apresentaremos a seguir as propostas de enfrentamento designadas pela literatura

como modelos de intervenccedilatildeo de ordem individual Verificamos que natildeo se trata propriamente

de modelos de intervenccedilatildeo mais sim de estrateacutegias de como lidar com o fenocircmeno Nesse

bloco ressaltam-se os modos de lidar que promovem resiliecircncia sugeridos a partir de

experiecircncias existentes ensinadas e replicadas ou seja sugestotildees de formas de prevenccedilatildeo de

86

novos agravos agrave sauacutede psiacutequica dos envolvidos com o cyberbullying ou ainda formas de

coping que supunham que a partir de determinado comportamento natildeo ocorram novos

episoacutedios do fenocircmeno Estrateacutegias de enfrentamento (coping) satildeo consideradas praacuteticas de

esforccedilos cognitivos e comportamentais para tratar das demandas peculiares e os objetivos

desses modos de lidar satildeo distintos e tomam por base o niacutevel de envolvimento desse sujeito

com a questatildeo do cyberbullying (no caso das viacutetimas) por exemplo o que vai determinar

quais os tipos e niacuteveis de estrateacutegias seraacute adotado para lidar como o cyberbullying (Castilho

2010 Bezzara in Veiga e Caetano 2014)

Como formas de coping satildeo discutidas o confronto a resoluccedilatildeo planejada do

problema a aceitaccedilatildeo o autocontrole a procura de ajuda a reavaliaccedilatildeo positiva da situaccedilatildeo o

distanciamento e fugaevitamento do problema (Serra 1987 Ribeiro e Rodrigues 2004)

O manejo utilizado por vitimados foi pontuado de forma recorrente pelos estudos

analisados Dentre as formas de lidar com o cyberbullying estatildeo informar algueacutem sobre o

ocorrido evitar a pessoa que praticou o cyberbullying revidar a accedilatildeo de alguma maneira

bloquear certas pessoas de contato on-line alterar senhas e nome de usuaacuterio excluir

mensagens anocircnimas sem ler evitar socializar abertamente o nuacutemero de celular rastrear

nuacutemero de IP do agressor e informar aos canais de atendimento de sites de relacionamentos

sobre a ocorrecircncia de atos de cyberbullying trocar nome e nuacutemero de telefone caso se sinta

ameaccedilado (Slonje et al 2013 Nixon 2014) Poreacutem eacute prematuro dizer que tais

comportamentos possam impedir um indiviacuteduo de vivenciar tal experiecircncia muito menos dar

conta da dimensatildeo exponencial que o cyberbullying pode alcanccedilar Entendemos que haveria

um discurso de intencionalidade devido agrave forccedila dos verbos utilizados bloquearlsquo alterarlsquo

rastrearlsquo revidar Ao fazer uso de tais verbos o discurso produz um sentido de proposiccedilatildeo

de construccedilatildeo de praacuteticas ativas que confrontem as accedilotildees de cyberbullying vivenciadas pelos

acometidos

Verifica-se que satildeo muacuteltiplas as formas de copinglsquo sinalizadas pelo acervo analisado

Em meio agraves distintas formas de lidar com o cyberbullying encontram-se atores que estariam

em uma posiccedilatildeo de passividade diante de accedilotildees do cyberbullying os chamados expectadores

Pode-se disser que esse tipo de comportamento tambeacutem representa um modo de lidar

contudo sem um caraacuteter de enfrentamento Neste caso o comportamento dos expectadores

nos chama atenccedilatildeo em meio ao cenaacuterio das propostas de enfrentamentos devido a sua ineacutercia

A falta de intervenccedilatildeo diante de um episoacutedio de cyberbullying por parte dos expectadores se

87

configura com o que Wingate et al (2013) denominam de ―ignoracircncia pluralista que

corresponde a um comportamento grupal onde sujeitos de um determinado grupo ao terem

uma opiniatildeo diferente preferem se calar diante de uma resposta contraacuteria a deste grupo ao

qual pertence O vocabulaacuterio em destaque traz como lexicaccedilatildeo agrave falta de conhecimento dos

espectadores diante dos danos que o cyberbullying pode causar em outrem Wingate et al

(2013) salientam que ocorre uma espeacutecie de ―efeito espectador (O que o grupo vai pensar

caso tenha uma reaccedilatildeo diferente das regras culturais estabelecidas pela comunidade que faz

parte) Por exemplo uma viacutetima de cyberbullying pode ter muitos amigos numa rede social

mas se eles natildeo reagirem cria a impressatildeo de que ignorar o cyberbullying eacute a resposta

normativa (Wingate et al 2013)

Uma das revisotildees (Raskauska e Ruinh 2015) tratou de identificar estrateacutegias para

lidar com o cyberbullying promotoras de reduccedilatildeo imediata do estresse gerado pelo fenocircmeno

ou aquelas que contribuam para diminuiccedilatildeo em longo prazo tais como praacuteticas com enfoque

nas emoccedilotildees e que promovam uma cultura de paz para evitar o confronto estrateacutegias de apoio

social que ofertem suporte que provoquem o amortecimento do impacto negativo do

cyberbullying (falar com um amigo professor ou profissional sobre o assunto) estrateacutegias

focadas na evacuaccedilatildeo que incluem distanciamento do enfrentamento no qual se evita ou se

retira da situaccedilatildeo estressante (como os bloqueios de perfis e exclusotildees) ou accedilotildees que gerem

resiliecircncia e porporcione o bem estar e sauacutede mental (como o natildeo pensar sobre o fato

ocorrido) A procura por apoio social se revelou mais peculiar entre o gecircnero feminino de

acordo com dois estudos revisados por Raskauska e Ruinh (2015)

O estudo de Nixon por exemplo embora revisasse pesquisas sobre eficaacutecias das

estrateacutegias de intervenccedilatildeo verificou que a maioria dessas pesquisas teria examinado

estrateacutegias de reduccedilatildeo de risco ou promoccedilatildeo de comportamentos que superem os riscos como

o suiciacutedio baixo rendimento escolar entre outros Tais estrateacutegias quando adotadas pelos

adolescentes podem mitigar ou reduzir o impacto negativo do cyberbullying (Nixon 2014)

A revisatildeo de Alim (2016) destaca um estudo de Justim Patchim e Sammer Hinduja

com adolescentes americanos de 11 a 18 anos de idade que analisou a probabilidade de um

jovem ser punido por um adulto como um fator para praticar ou natildeo atos de cyberbullying

Tal estudo observou que os adolescentes que pensavam que os adultos poderiam puni-los

eram menos propensos a fazer cyberbullying Alim (2016) ainda elencou as formas como os

adolescenes lidam com o fenocircmeno entre elas (a) responder aos ataques (b) saber em quem

88

confiar (c) ser astuto em relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo tecnologia (d) respeitar os

outros (e) estar no controle e (f) falar cara a cara (Fisher 2013 apud Alim 2016) Entre as

estrateacutegias relatadas pelos adolescentes consideradas eficazes e que impedem accedilotildees de

cyberbullying incluem accedilotildees tecnoloacutegicas como a exclusatildeo do perfil e o ajuste da

privacidade uso de configuraccedilotildees para evitar o contato Estas seriam moderadamente uacuteteis

para pessoas que sofrem com cyberbullying e outras formas de asseacutedio on-line O bloqueio do

agressor foi uma das respostas mais predominantes relatar o incidente a um consultor on-line

ou denunciar atraveacutes de relatoacuterio on-line tambeacutem foi identificada aleacutem de bloquear o acesso

do perpetrador agraves informaccedilotildees pessoais na linha do tempo de redes sociais Para Alim (2016)

as estrateacutegias dos adolescentes para o enfrentamento mudam com o passar dos anos e que as

soluccedilotildees tecnoloacutegicas e a procura de apoio satildeo eficazes na luta contra o ciberbullying Jaacute a

revisatildeo de de Allison e Busey (2016) ressaltou estudos que apontam que as normas de

comportamentos sociais entre pares podem influenciar a decisatildeo de transeuntes do universo

online participarem de cyberbullying inclusive no que tange ao comportamento dos

expectadores Verifica-se que o texto se apropia de elementos discursivos de forccedila (modos de

accedilatildeo) ―bloquear o agressor ―responder aos ataquese ao mesmo tempo de modos de

representaccedilatildeo desses sujeitos que fazem parte de comunidades sociais ―falar cara a cara

―saber em quem confiar Esse tipo de discurso contribui para moldar e restrigir as normas e

convenccedilotildees entre agressores e acometidos

Cabe destacar que parte das revisotildees que sugerem modos de lidar (coping) com o

cyberbullying propocircs accedilotildees preventivas concomitantemente Aleacutem disso pensar tais

estrateacutegias e reproduzir tais praacuteticas adequando as novas complexidades do fenocircmeno e da

cibercultura se fazem necessaacuterios (Aboujaoude et al 2015) visto que um modelo de

intervenccedilatildeo fechado natildeo daria conta da constante atualizaccedilatildeo tanto das tecnologias que

possibilitariam praacuteticas de cyberbullying como das ambiecircncias relacionais da cibercultura

CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

89

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Percebemos que a literatura analisada por muitos momentos demonstrou uma

aproximaccedilatildeo do tema cyberbullying com o bullying tradicional Eacute suficiente considerar o

cyberbullying mais do mesmo neste caso bullying

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

voltar a circular apoacutes tempos depois em que o conteuacutedo foi disparado e o assunto degradante

veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

90

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagado deliberadamente em redes

sociais contra grupos eacutetnicos raciais natildeo brancos eacute inquietante natildeo ter identificado na

literatura reflexotildees sobre cyberbullying e gecircnero que transcendam a classificaccedilatildeo binaacuteria

aleacutem de invisibilizar questotildees como o racismo Tambeacutem cabe considerar que natildeo bastaria

nomear situaccedilotildees como cyberbullying sem refletir sobre o tipo de violecircncia praticada com tais

sujeitos Para isso eacute preciso ter ciecircncia do que de fato se configura cyberbullying para que

equiacutevocos interpretativos natildeo ocorram ao passo de classificar qualquer tipo de violecircncia

digital como cyberbullying desconsiderando por exemplo que trata-se de uma violecircncia

entre pares Estudos que apontem prevalecircncia de casos de cyberbullying contra jovens LGBT

grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio mulccedilumanos e

religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos satildeo de grande relevacircncia

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o conteuacutedo difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica do

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que cometem cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo anonimato

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

91

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura direciona maior responsabilidade no trato da prevenccedilatildeo do

cyberbullying agrave comunidade escolar Teriam as escolas capacidade de capacitar prevenir e

ainda intervir em situaccedilotildees de cyberbullying isoladamente Por outro lado natildeo eacute possiacutevel

admitir que questotildees de cyberbullying na escola sejam classificadas como uma problemaacutetica

de menor impacto para os alunos ou ―brincadeira de adolescente uma demanda que foge da

competecircncia escolar por transcender o seu espaccedilo fiacutesico Pensando nessa suposta

responsabilidade em alguns paiacuteses como no Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe

multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem dar conta de certas demandas por falta de

suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar continuidade a projetos iniciados por falta de

recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio refletir se de fato tais propostas e manejo

seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno complexo e com atravessamentos

peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros setores e atores sociais Partimos do

entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos de cyberbullying necessitam ser

realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedila parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos ―nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens pode ter tambeacutem

aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria Quais os

seus limites Quando um profissional eou um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

92

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre o uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a uma banalizaccedilatildeo do monitoramento

de praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi o nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

REFEREcircNCIAS

93

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CONCLUSOtildeES

No percurso de nosso estudo notamos que a conceituaccedilatildeo para cyberbullying eacute um

assunto com grande representaccedilatildeo entre os estudos analisados Que apesar dos avanccedilos alguns

pontos de atenccedilatildeo precisam ser considerados O cyberbullying constitui-se como uma das

expressotildees do bullying ou suas especificidades satildeo elementos suficientes para que o

evidencie como um fenocircmeno de outra natureza de violecircncia entre pares

Consideramos que a comunidade cientiacutefica que estuda sobre cyberbullying precisa

levar mais em conta o contexto das relaccedilotildees digitais onde se produz tais atos de violecircncia

Como analisar um fenocircmeno que perpassa pela rede mundial de computadores sem abarcar a

cultura produzida neste universo de interaccedilatildeo

Percebeu-se com a literatura analisada que haacute uma necessidade de se explorar o

conhecimento sobre os modos de sociabilidade e de se incorporar a discussatildeo sobre o

contexto da cibercultura Que tipos de interaccedilotildees ocorrem nesse contexto sociocultural e que

podem propiciar situaccedilotildees de violecircncia como o cyberbullying Quais formas de cyberbullying

podem ser produzidas a partir das muacuteltiplas plataformas digitais atualizadas e inseridas

atraveacutes desse avanccedilo veloz das tecnologias digitais

Outro ponto que consideramos importante eacute natildeo confundir outras formas de asseacutedio

na internet com o cyberbullying Uma vez que o cyberbullying eacute uma forma de violecircncia

psicoloacutegica e que ocorre entre pares

Eacute importante salientar que analisar o cyberbullying como se fosse apenas uma

personificaccedilatildeo do bullying no ambiente virtual seria o mesmo que desconsiderar que o

cyberbullying pode trazer impactos muito maiores agrave sauacutede considerando sua larga escala de

alcance e as muacuteltiplas formas de praticar tais atos de violecircncia Diante desses impactos

produzidos pelo cyberbullying como manter a resiliecircncia se o conteuacutedo disponiacutevel na internet

100

voltar a circular apoacutes tempos depois em que esse conteuacutedo foi disparado e o assunto

degradante veio agrave tona

Refletimos que a questatildeo gecircnero foi tratada superficialmente por grande parte dos

estudos analisados ou quando o assunto foi estudado permaneceu restrito ao modelo binaacuterio

(meninos e meninas) Verifica-se que a reflexatildeo sobre a questatildeo foi reduzida ao aferir sobre

quem eram os maiores acometidos e perpetradores se pessoas do sexo feminino ou pessoas

do sexo masculino sem considerar suas origens e grupos de pertencimento Chamamos a

atenccedilatildeo para os estudos orientais que traziam um discurso sexista que qualificavam as

habilidades dos meninos como superiores se comparados com as meninas em aspectos

tecnoloacutegicos

Em tempos em que o discurso de oacutedio eacute propagando deliberadamente em redes

sociais percebeu-se ainda uma ausecircncia de reflexotildees sobre a questatildeo do cyberbullying contra

jovens LGBT grupos eacutetnico-raciais como negros latinos pessoas do oriente meacutedio

mulccedilumanos e religiosos de matrizes africanas e evangeacutelicos

Ainda no que se refere aos personagens sugerimos que mais estudos abordem sobre

o papel dos expectadores (testemunhas) uma vez que esses personagens seriam responsaacuteveis

por proliferar o material difamador na web e fortalecer um provaacutevel ataque de cyberbullying

que porventura venha ocorrer Uma vez postado um conteuacutedo violador natildeo se tem um

controle sobre as consequecircncias e alcances de sua accedilatildeo violenta

Apesar de terem sido identificados estudos no campo da Sauacutede a temaacutetica cabe ser

ainda mais explorada pela aacuterea Avaliamos que a literatura trouxe uma discussatildeo sobre os

impactos na sauacutede psiacutequica dos envolvidos muito raso cabendo um aprofundamento no que

diz respeito agrave sauacutede dos praticantes do cyberbullying O que leva um indiviacuteduo a praticar

cyberbullying Os estudiosos precisam provocar uma reflexatildeo de que a praacutetica de

cyberbullying natildeo pode ser tratada como uma simples traquinagem ou brincadeira de crianccedilas

ou adolescentes Identificar quem satildeo os personagens que praticam cyberbullying e quais os

seus perfis analisando inclusive se aqueles que praticam cyberbullying sofrem ou jaacute sofreram

algum tipo de violecircncia

Casos de sobreposiccedilatildeo de bullying e cyberbullying foram apontados entretanto natildeo

ficou claro se de fato esse tipo de sobreposiccedilatildeo eacute recorrente entre praticantes e viacutetimas Ou

seja se quem pratica bullying tambeacutem pratica cyberbullying concomitantemente ou se quem eacute

viacutetima de bullying se torna um cyberbullie favorecido pelo do anonimato

101

Eacute possiacutevel considerar que o cyberbullying se configura como uma nova forma de

violecircncia sistemaacutetica que se manifesta atraveacutes de atos de violecircncia psicoloacutegica e sistemaacutetica

entre pares nas ambiecircncias das redes de socialidade digital que podem ocorrer em qualquer

espaccedilo geograacutefico Inclusive sendo considerado por estudiosos como um problema de sauacutede

social e de sauacutede puacuteblica por afetar a sauacutede mental de crianccedilas e adolescentes

Percebe-se com a literatura analisada que esforccedilos estatildeo sendo empregados para que

haja o enfrentamento do cyberbullying mesmo que a passos lentos em alguns paiacuteses Poreacutem

existem locais em que essa discussatildeo estaacute mais amadurecida e portanto as propostas

implementadas se tornaram referecircncia para outros territoacuterios como exemplo do programa de

Olweus nos paiacuteses Noacuterdicos estudos americanos entre outros Todavia demandam

adapataccedilotildees culturais adequando-se aos paiacuteses onde seratildeo implementadas seja no que diz

respeito aos modos da sociabilidade juvenil local seja aos modos de uso das miacutedias sociais

digitais

Ainda assim a literatura apontou excessiva responsabilidade da escola no trato da

prevenccedilatildeo do cyberbullying agrave comunidade escolar Entretanto em alguns paiacuteses como no

Brasil as escolas natildeo dispotildeem de equipe multiprofissional local e por vezes natildeo conseguem

dar conta de certas demandas por falta de suporte Natildeo obstante haacute dificuldades em dar

continuidade a projetos iniciados por falta de recurso e equipe capacitada Torna-se necessaacuterio

refletir se de fato tais propostas e manejo seriam eficientes para dar conta de um fenocircmeno

complexo e com atravessamentos peculiares aleacutem de requerer accedilotildees articuladas com outros

setores e atores sociais Partimos do entendimento que as accedilotildees interventivas frente aos casos

de cyberbullying necessitam ser realizadas conjuntamente de forma articulada com diferentes

atores

Notou-se a presenccedila de interdiscursividade em grande parte dos estudos analisados

tanto na modalidade manifesta e constitutiva Acredita-se que por tratarem de estudos de

revisatildeo onde os autores precisaram recorrer a outras fontes que poduziram discurso eou

analizaram discursos produzidos por programas de prevenccedilatildeo e enfrentamento

Outro aspecto bastante reforccedilado nas propostas de intervenccedilatildeo e prevenccedilatildeo eacute a

necessidade de haver um certo monitoramento e controle das atividades online tanto pelos

pais quanto pelos profissionais da escola Ainda que o ―controle social dos comportamentos

online jaacute faccedilam parte das novas pautas educacionais contemporacircneas tais praacuteticas exigem

refletir que a tecnologia jaacute faz parte do cotidiano dos nativos digitais e restrigir punir ou

controlar sem respeitar a individualidade e o direito de autonomia dos jovens podem ter

102

tambeacutem aspectos negativos Ateacute que ponto controlar as atividades online se faz necessaria

Quais os seus limites Quando um profissional e um responsaacutevel estaacute invadindo o direito a

privacidade e autonomia do sujeito jovem e quando esse monitoramento eacute permitido para pais

enquanto sujeitos responsaacuteveis sobre seus jovens Quais os pontos positivos e negativos do

monitoramento parental Eacute bem verdade que os responsaacuteveis legais por uma crianccedila e

adolescente tem o papel de acompanhar o desenvolvimento social e cultural desses indiviacuteduos

e que estabelecer limites tambeacutem se faz necessaacuterio no processo educacional Apesar dos

jovens serem considerados ―nativos digitais e os adultos imigrantes digitais e que

supostamente estes uacuteltimos natildeo teriam domiacutenio sobre uso das novas tecnologias esses

possuem um dever de zelar pelo bem estar e sauacutede daqueles que estatildeo sobre sua

responsabilidade legal Eacute importante considerar que certo monitoramento de atividade tem um

aspecto positivo relacionado agrave proteccedilatildeo Entretanto natildeo se pode silenciar ou negar o acesso

aos meios de comunicaccedilatildeo digital jaacute que esses representam instrumentos para construccedilatildeo de

identidade identificaccedilatildeo de interesses e socialidade Cabendo refletir que a ideia de

monitoramento natildeo deve ser negada por completa jaacute que possui aspectos positivos no que

tange a proteccedilatildeo de dados poreacutem isso natildeo deveria levar a banalizar o monitoramento de

praacuteticas digitais fazendo dessa praacutetica um instrumento de dominaccedilatildeo e cerceamento da

liberdade de expressatildeo e de acesso a internet Para isso eacute relevante pensar que uma relaccedilatildeo

familiar mais consolidada e com a presenccedila de diaacutelogo saudaacutevel entre pais e filhos se faz

necessaacuterio em tempos em que o diaacutelogo face a face no ambiente familiar pode ser silenciado

pelo distacircnciamento propiciado pelas telas de aparelhos eletrocircnicos

Cabe mencionar que houveram limitaccedilotildees em nosso acervo que refletem o estado

de arte do tema na produccedilatildeo cientiacutefica Um desses limites foi ter identificado poucos estudos

publicados em portuguecircs (5) jaacute que grande parte dos estudos eram em inglecircs outra limitaccedilatildeo

foi nuacutemero reduzidos de estudos que tratavam do papel dos profissionais de sauacutede

Reforccedilando a relevancia de haver um posicionamento especiacutefico do Campo da Sauacutede a

criaccedilatildeo de protocolos de intervenccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede para lidarem

com esta demanda de forma coerente

Identificou-se a necessidade de estudos futuros investigarem as redes sociais como

um territoacuterio de praacutetica e propagaccedilatildeo de atos de cyberbullying Que estudos com esse recorte

aponte quais os papeis dessas plataformas digitais no manejo com o cyberbullying

Acreditamos que esse estudo natildeo esgota as necessidades de ampliaccedilatildeo do

conhecimento sobre cyberbullying e as formas de prevenccedilatildeo e intervenccedilatildeo sendo necessaacuterios

103

novos estudos que abordem a temaacutetica que analisem como os modos de prevenccedilatildeo e

intervenccedilatildeo estatildeo sendo praticados em diferentes paiacuteses Ainda eacute escasso o conhecimento

sobre programas eficazes contra o cyberbullying Neste sentido novas pesquisas sobre

avaliaccedilatildeo de riscos e necessidades pode fornecer informaccedilotildees valiosas sobre o melhor foco de

intervenccedilatildeo e como intervir de forma mais eficaz (Baldry 2015)

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