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República Federativa do Brasil

Presidente Fernando Henrique Cardoso

Ministro da Agricultura e do Abastecimento Marcus Vinicius Pratini de Moraes

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa

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Embrapa Suínos e Aves

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Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento Paulo Antônio Rabenschlag de Brum

Chefe Adjunto de Administraçíio Claudinei Lugarini

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O BORRACHUDO NOCÓES BÁSICAS DE BIOLOGIA E CONTROLE

Doralice Pedroso-de-Paiva Elmo Piazza Branco

Concórdia, SC 2000

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Ernbrapa Suínos e Aves. Circular Técnica, 23 ISSN: 0102-3713

Exemplares desta publicacão podem ser sol ic i tados a:

Ernbrapa Suínos e A v e s Br 153, Km 1 1 0, Vila Tarnanduá Caixa Postal 21 89.700-000, Concórdia, SC

Telefone: 49 4 4 2 8 5 5 5 Fax: 49 4 4 2 8 5 5 9 http:llwww.cnpsa.ernbrapa.br e-rnail:[email protected]

Tiragem: 2.000 exemplares

Tratamento Editorial: Tânia Maria Biavatt i Celant

PEDROSO-DE-PAIVA, D.; BRANCO, E.P. O borrachudo: noções básicas de biologia e controle. Concórdia: Ernbrapa Suínos e Aves, 2000. 48p. (Ernbrapa Suínos e Aves. Circular Técnica 23) .

1 . Borrachudo-biologia. 2. Borrachudo- controle. I. Título. Il.Série.

CDD 595.772

O EMBRAPA 2000

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........................................................ LISTA DE FIGURAS .

1 . INTRODUCAO ........................................................... 2 . AS CAUSAS DO CRESCIMENTO DA POPULACÁO DE

........................................................ BORRACHUDOS 3 . ESPÉCIES DE BORRACHUDOS IDENTIFICADAS NA

............................................ REGIÃO SUL DO BRASIL 4 . DESENVOLVIMENTO E MORFOLOGIA DO BORRACHUDO

4 . 7 . Ovo ................................................................. 4.2. Larva ............................................................... 4.3. Popa ................................................................ 4.4. Emergência ....................................................... 4 .5 . Adultos ............................................................

4.5. I . Alimentacão ........................................... 4.5.2. Acasalamento ......................................... 4.5.3. Oviposicão .............................................

Ei . COMO CONTROLAR O BORRACHUDO ......................... ............. 5 . 7 . Medidas de controle cultural ou mecânico

5.2. Medidas de controle biológico ............................. 5.3. Medidas de controle químico ...............................

........................................ 5 . RECOMENDACÕES FINAIS

............................................................ '7 . GLOSSARIO

8 . BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................... 9 . RESUMO ...................................................................

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Figura 1 2

LISTA DE FIGURAS

Conteúdo Ciclo biológico dos simulídeos. Ovos de simulídeos coletados em ConcórdialSC, 1999, conservados em álcool 7 0 % (Foto: Pedroso-de-Paiva, 1999). Larvas de diferentes espécies de borrachudos coletadas em ConcórdialSC. As menores, à esquerda: Simulium (Chirostilbia) pertinax; as maiores, à direita: Hemicneta rubritorax (Identificacão: Professor Dr. Mil ton Norberto Strieder, UNISINOSIRS). (Foto: Pedroso-de-Paiva, 1999) . Cápsula cefálica ("cabeça") de simulídeo com os "leques cefálicos". Pupas de diferentes espécies de borrachudos. 1 . Porção anterior da pupa saliente na abertura do pupário. 2. Base do pupário que se fixa no substrato. (Foto: Pedroso-de- Paiva, 1999) . Emergência de adultos de borrachudo. A - vista dorsal: B - vista lateral (Foto: Pedroso-de-Paiva, 1999) . Adulto de borrachudo, vista lateral. (Foto: Pedroso-de- Paiva, 1999) . Entrada direta de esterco de suínos em u m riacho. (Foto: Nelson Seifert, 1999) . Monturo de lixo próximo a u m riacho. (Foto: Pedroso-de- Paiva, 1999) . Margem de rio onde a mata fo i retirada para uso da área como pastagem. (Foto: Luciana Camargo Castro, 1999). Larvas de borrachudos fixadas sobre uma pupa demonstrando u m caso de superpopulação, observada no comportamento das larvas que se f ixam umas próximas às outras pela abundância de alimento. (Foto: Pedroso-de- Paiva, 1999). Predadores de larvas (1, 3, 6 ) e adultos (1, 2, 3, 4, 5, 7 ) de borrachudos. Larva de simulídeo parasitada por Mermitídeo (esquerda). Exemplar de mermitídeo (direita). (Foto: Pedroso-de-Paiva, 1999). Capa de apostila elaborada por aluna de escola municipal de primeiro grau.

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O BORRACHUDO

NOCÕES BÁSICAS DE BIOLOGIA E CONTROLE

Doralice Pedroso-de-Paiva' Elmo Piazza Branco2

Os borrachudos pertencem à Família Simuliidae, sendo Si~nulim (Chirostilbia) pertinax a espécie mais difundida no sul do pais. São insetos de hábitos diurnos, que causam prejuízos sócio- econômicos 2 agricultura e à pecuária.

São vetores de doenças para os homens e animais. Algumas espécies servem de vetores da oncocercose, doenca causada por unia filária', que se desenvolve no sangue do homem e que produz grandes tumores subcutâneos. Quando o verme se loc:aliza nos olhos, causa cegueira parcial ou total. Essa doenca ocorre em países da África Central e da ~ m é r i c a Central, além do Brasil (na Região Amazônica). Durante a construção da Rodovia Transamazônica foi registrada outra doenea desencadeada pelas picadas dos borrachudos, que ficou conhecida como "síndrome de Altamira" (nome da cidade onde foi feito o registro). A doença se manifesta pelo aparecimento de inúmeras petéquias', cobrindo toda a superfície do corpo ou restrita às faces ou às extremidades e, ainda; na mucosa bucal. Em 30% dos casos foram observados sangramentos nas gengivas e na mucosa nasal.

No início da década de 80 foram noticiadas pela imprensa sul-brasileira a ocorrência de "surtos" de borrachudos atribuídos aos desmatamentos das margens dos rios e ao uso abusivo de agrotóxicos.

I 1Méd. Vef., Ph.D., Pesquisadora, Embrapa Suinos e Aves, Cx.Postal 21, CEP

2 89.700-000, Concórdia, SC. E-mail: [email protected] (Eng. AgP., B.Sc., Epagri-SC. Rod. Admar Gonzaga, Km 3, No 1188, ~ a i r b itacorubi, Cx.Posta1 1391, CEP 88010-970, Florian6poiis-SC.

* Consultar glossário página 42. 7

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No Paraná foram realizados estudos sobre os diversos aspectos da biologia e comportamento do inseto ao lado de levantamentos das espécies, com iniciativas de controle através da retirada de entulhos dos rios e remocão das larvas em vertentes de açudes.

O Rio Grande do Sul vinha executando trabalhos de controle do borrachudo com o uso de produtos químicos e, posteriormente, com produtos de origem biológica, além de reflorestamento e educação ambiental. Eram comuns as notícias dos incômodos causados pela presenca excessiva desses insetos, até com atendimento médico dos atingidos pelas suas picadas.

Em Santa Catarina, nesse período, entidades governamentais e comunitárias iniciaram uma ação conjunta de controle do borrachudo tendo em vista o agravamento dos problemas causados por suas picadas. Foram desenvolvidas algumas atividades de controle efetivo, como a retirada de entulhos dos rios com maior problema, além de pesquisas que permitiram conhecer melhor tanto a incidência do borrachudo no Estado, quanto a própria biologia e comportamento do inseto.

A maioria dessas tentativas de controle da população do borrachudo, foram realizadas baseando-se no uso de substancias que atuam sobre fases imaturas do inseto, pois o habitat do adulto é muito diversificado, porém não foram levadas em considcTração as causas da multiplicacão excessiva desse inseto.

O controle do borrachudo exige a união das comunidades, na busca de resultados, considerando a possibilidade de dispersão do borrachudo.

Nos últimos anos, em outras regiões do país, comunidades ribeirinhas das zonas intermediárias entre a faixa de montanhas da Serra do Mar e a faixa litorânea, onde o relevo permite a formacão de rios encachoeirados, como no Espírito Santo, vêm sentindo o problema com o aumento da população de borrachudos. Mesmo regiões anteriormente livres do inseto a niveis de incômodo, como Tocantins e Goiás, hoje já buscam informações sobre o controle do inseto.

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Em Santa Catarina vem sendo realizado, desde 1995, o Programa Estadual de Controle do Borrachudo, em resposta à solicitacão de mais de 400 liderancas do Estado presentes em quatro reuniões regionais, realizadas no final daquele ano. Desde então, foram realizadas palestras motivadoras e cursos sobre controle do inseto, para extensionistas e professores, além de reuniões de avaliacão do andamento do Programa nos municípios participantes. Esse Programa está baseado a participação da cornunidade na tomada de decisões e nas mudancas de valores e atii:udes para a conservacão do meio ambiente, pois essa mesma cornunidade terá que se unir e realizar acões e obras que irão demandar tempo e recursos, com o objetivo de minimizar a incômoda presenca dos borrachudos.

2. AS CAUSAS DO CRESCIMENTO DA POPULACÃO DO BORRACHUDO

Grandes infestacões desse inseto, ocorridas nos Estados Unidos foram relacionadas com o aumento de matéria orgânica nos rios, em decorrência do lancamento de despejos domésticos, agrícolas e industriais, conforme informação da agência governamental de proteção ambiental.

No estudo da ecologia de algumas espécies de simulídeos, dedicando especial atencão às condições do terreno e da água onde foram identificadas as larvas, foi analisado o conteúdo de nutrientes nesse meio. Nesse estudo, três rios, que apresentavam a menor quantidade de sólidos totais suspensos na água, for-Lm os que apresentaram maior diversidade de espécies de simulídeos, condição benéfica já que nem todas as espécies são antropófilas ís i~gam sangue humano). Havendo diversidade de espécies, há também menor número de elementos de uma mesma espécie, representando, assim, um ecossistema em equilíbrio. Já nos rios onde havia um maior nível de sólidos em suspensão, encontrou-se apenas uma espécie de borrachudo. As larvas foram encontradas, ern grande quantidade, em correntes de água mais quentes com

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baixa presenca de parasitos e predadores e com abundante oferta de alimento e substratos* adequados. A duracão do estágio larva1 da espécie Simulim (Neosimuliml vitarum foi influenciada tanto pela temperatura quanto pela quantidade de alimento disponível na água.

Outros tipos de partículas ingeridas pelas larvas de borrachudo foram determinados em algumas pesquisas, relatando a presenca de algas do grupo das diatomáceas e outras algas, fragmentos de microcrustáceos e de larvas de Chironomus*. Outras fontes de alimento de larvas de simulideos mencionadas são: protozoários, esporos e micélios de fungos, fragmentos de folhas e ramos, limo e partículas de areia.

Para o Simulium articum, que ocorre no Canadá, é possível que as bactérias sejam frequentemente o mais importante item na dieta das larvas. Nesse país houve coincidência de grande abundância de larvas de simulideos em rios de águas turvas, com pouca presenca de algas e protozoários, mas com abundante presenca de bactérias. Nessa pesquisa foi verificado, em laboratório, que as bactérias gram-negativas (como a Escherichia COII) são nutricionalmente mais completas que as gram-positivas (como o Bacillus subrilis e Aerobacter aerogenes). As paredes das células da E. coli contribuem com cerca de 20 % do peso seco das células e são compostas, em parte, por uma variedade de aminoácidos comparáveis aos. encontrados em muitas proteínas: Também foram isolados de 10 a 20% de lipidios.

Constatou-se em dados de relatório não publicado que, em 1986, no Estado do Paraná, foi estudada a sobrevivência de exemplares da espécie Simulium (C.)3 pertinax, em condições de laboratório e concluiu-se que a poluicão orgânica teve efeito favorável sobre o ciclo desse inseto e que o mesmo poderia ser utilizado como indicador biol6gico de qualidade de água.

Em experimento considerado piloto, realizado em locais com e sem lancamento de dejetos, foram feitas contagens do número de larvas correlacionando esse número aos teores de matéria orgânica. Foram significativas as diferencas encontradas entre as

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média; do número de larvas, sendo de 735 larvas1100cm2, no local onde o nível de sólidos voláteis registrado foi de 1 15,66mgll e de 31,33 larvas1 100cm2 onde'o nível desse parâmetro foi de 24,OO mgll. Os sólidos voláteis :representam a quantidade de sólidos orgânicos existentes na amostra.

Em monitoramento da sub-bacia do Lageado dos Fragosos (~cincórdia, SCI, com contagens de larvas de borrachudo, verificou-se que a entrada contínua de dejetos de animais foi mais favorável ao desenvolvimento dos borrachudos do que a entrada inti?rmitente.

Observa-se nas saídas de lagoas naturais e de acudes uma grande criação de larvas de borrachudo porque nesses dois casos a água possui altos níveis de nutrientes. Esse mesmo fato também já havia sido observado no Canadá.

Em resumo, altos níveis de matéria orgânica contribuem para o desenvolvimento das larvas de borrachudo e têm influência no aumento da população do inseto.

3. ESPÉCIES DE BORRACHUDOS IDENTIFICADAS NA REGIÃO SUL DO BRASIL

Em 1988 foram coletados adultos de borrachudos, em todo o Estado de Santa Catarina, para identificaçãÓ das espécies existentes. Esse trabalho permitiu descrever uma espécie até então desconhecida e que foi denominada Simulium (C.) entpascae.

No município de ConcórdialSC, foram encontradas sete espécies diferentes de simulídeos, Simulium (C.) pertinax, S.4 (C.) acara yensi, lnaequalium , subnigrum, Simulium (P:iaronocompsia) auripellirum, S,,' (P;/5,incrustata, S. (P.)

' S . = Simulium P. = Psaronocompsia

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bonaerence e Th yrsopelma orbitale, sendo a espécie Simulinum (C.) pertinax a que ocorreu em maior número em todo o Estado6.

No Rio Grande do Sul, as espécies S. (C.) pertinax, S. (P.) incrustata e S. (P.) auripellitum foram destacadas como as espécies que mais perturbavam o homem e os animais e, entre estes últimos, o bovino como a principal fonte de alimento para os simulídeos.

No município de Concórdia foi verificado que S. (C.) pertinax é a espécie predominante. Essa espécie é uma das mais adaptadas ao ambiente modificado pelo homem e vem se mostrando, também, adaptada a níveis de poluicão de água em que outras espécies não conseguem sobreviver. E também a das espécie que apresenta preferência por se alimentar de sangue humano.

E interessante ressaltar que uma reducão no número de espécies de um inseto indica uma situação de desequilíbrio ecológico. Em outras palavras, no caso dos borrachudos, significa que há uma maior oferta de alimento para as larvas diminuindo a população de inimigos naturais pela poluição ocasionando u m aumento da população de larvas de borrachudo.

4. DESENVOLVIMENTO E MORFOLOGIA DO BORRACHUDO

Durante sua existência, o borrachudo, como outros insetos, apresenta formas de vida distintas. Três delas sáo fases imaturas e aquáticas. Iniciam com o ovo do qual nasce a larva e esta evolui para pupa. Desta pupa nasce a última forma de vida que 6 o adulto. Tão logo sai do revestimento da pupa (pupário), o adulto imediatamente sai da água e inicia a fase de vida aérea ( ~ i g u r a 1 ).

= Informação pessoal: Profo. Gilson R.P. Moreira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biologia, Departamento de Zoologia, março, 2000.

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Adulto 20 a 35 dias

Pupa 5 dias Ovo 4 dia

Larvas 21 dias

Figura 1 - Ciclo biológico do borrachudo

As fases imaturas dos simulídeos não devem ser vistas de forma isolada, mas sim dentro do sistema aquático onde vivem e no qual, tanto fatores bióticos (próprios dos indivíduos) quanto fatores abióticos (próprios do meio ambiente) devem ser conhecidos para o esclarecimento completo do seu papel no ecossistema de um curso d 'água. O conhecimento desses fatores e fundamental para a tomada de decisões dentro de um programa de controle desses insetos. Nas últimas décadas, as interferências do homem sobre os sistemas aquáticos têm perturbado sobremaneira seu equilíbrio. Anteriormente, essas perturbações só ocorriam esporadicamente, em conseqüência de alteracões

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climáticas e geológicas. Embora os rios existam há centenas de anos, a localizaçao de diferentes habitats de simulldeos 6 ef8mero no tempo geológico. Isto 6 particularmente verdadeiro em regioes de erosáo onde a velocidade da água 6 elevada, resultando em constante abrasão dos substratos expostos. Os organismos que ocupam essas zonas estão adaptados a esse ambiente em constante mudança. Uma revisho da ecologia das águas correntes delineou as várias formas de adaptaçso dos organismos a esses ecossistemas fluviais. As esp6cies da famflia Simuliidae estáo quase totalmente limitadas a esses ecossistemas e desenvolveram adaptações morfol6gicas e biol6gicas de forma a poder sobreviver em microhabitats especlficos. existentes na maioria dos rios.

4.1. O w Desde a fase de ovo já se observa a adaptação das fases

imaturas dos borrachudos Bs Bguas em movimento. Os ovos dos simulldeos sBo em geral ovais a subtriangulares, quando vistos lateralmente (Figura 2).

I Figura 2 - Ovos de simul(d.oa coletados em Conc6rdialSC. 1999, c o m a d o a

em 6lcool 70% (Foto: Pedrorode-Paiva, 19991.

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Dependendo da espécie de borrachudo são depositados em massas sobre os substratos, em pontos levemente abaixo da superfície da água ou dos respingos. Os ovos são recobertos por uma fina camada de substância gelatinosa e aderente ao substrato. Isto evita que sejam carreados pela correnteza.

A.deposição dos ovos, feita diretamente nos substratos, na linha de contato com a água, apresenta duas vantagens. Primeiro, proporciona a exposicão a água mais oxigenada, facilitando o desenvolvimento rápido do embrião. Segundo, podem ser depositados em pontos do rio imediatamente acima dos locais favoráveis ao desenvolvimento das larvas.

0 s fatores que afetam o desenvolvimento embrionário dos simulídeos são comuns a outros insetos. A temperatura é um deles, podendo favorecer ou prejudicar o desenvolvimento, parecendo ser o fator físico mais importante.

Espécies de inverno que ocorrem no Canadá, como o Prosimulim mysticum não conseguem tolerar temperaturas de 20°C. Da mesma forma, o Stegopterna mulata mostrou sensibilidade ao calor desenvolvendo-se melhor a 9'C. Outras espécies como o Simulium venustum/verecundum mostraram tolerância a uma variação de temperatura entre 15OC a 24"C, com maior taxa sobrevivência acima de 18°C.

Em experimento a campo, realizado na região de Joinville- SC, as temperaturas da água, observadas por dois anos, foram favoráveis ao desenvolvimento contínuo da espécie Simulium nogueiraai, em qualquer época do ano (média anual de 21,8 "C - máxima de 25.9 e mínima de 16,4"C).

Os níveis de oxigênio dis'solvido na água e o fotoperíodo (número de horas com luz), também podem interferir na taxa de desenvolvimento embrionário. Essa interferência é mais evidente em regiões onde as variações de temperatura e de fotoperíodo são mais drásticas, ocasionando parada temporária de desenvolvimento, como ocorreu no Canadá.

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área foi observada onde a velocidade da água era de 8 0 a 120 crnlsegundo - para algumas espécies essa velocidade foi de 4 0 crnlsegundo. A profundidade de colonizacão mais adequada perece estar a cerca de dez centímetros da superfície da água.

Como já visto anteriormente (item 2). diversos estudos descrevem as variadas fontes de alimentação das larvas, as quais incluem detritos, bactérias, algas e até insetos, plâncton, detritos - restos de plantas, pólen e organismos do ar, formando a "rnatéria orgânica", incluindo estágios iniciais da própria espécie, al(!m de descrever a velocidade de absorcão desses nutrientes. Esses mesmos estudos demonstraram que as larvas não sobrevivem em águas limpas, livres de partículas nutritivas.

Descricões feitas em 1822 e 1844, embora superficiais, já esclareciam as adaptacões das larvas de simulídeos para se alimentarem por filtracão. Para isso as larvas possuem u m par de leques cefálicos*, estrutura esclerotizada consistindo de raios di!;postos em duas séries principais (Figura 4). Para se alimentar a l a ~ v a movimenta rapidamente os raios do leque formando uma corrente de água que direciona as partículas suspensas na água para a abertura bucal.

Figrdra 4 - Cápsula cefálica ("cabeça") de simulideo com os "leques cefálicos". Fonte: Elmo Piazza Branco, Manual TBcnico de Controle do Borrachudo; 1996.

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As larvas se fixam no substrato onde a corrente de água seja mais favorável a elas, pois há necessidade da velocidade da água para trazer as partículas de alimento para o leque cefálico. A atividade de alimentacão por filtragem realizada pela larva, sob variadas condicões de velocidade da corrente e de fornecimento de nutrientes, foi observada com o uso de u m equipamento de filmagem. Verificou-se que o leque cefálico alterava os movimentos, de ocasionais, para movimentos regulares, com o aumento da velocidade da água, de forma diferente nas nove espécies estudadas. Essa variação dependia também da temperatura da água e da concentração de alimento.

Em estudo sobre o consumo de alimentos pelas larvas de simulídeos foi verificado que elas não se alimentavam quando a temperatura estava entre 5'C e 8OC. Acima de 8OC até 21°C as larvas passavam a se alimentar, porém não havia diferenca na taxa de alimentacão.

As mais altas concentracões de larvas ocorrem quando há maior fornecimento de alimento, como ocorre após um lago natural, mesmo que a velocidade da corrente e os substratos não sejam favoráveis. Da mesma forma, as maiores concentrações de populacão de borrachudos foram observadas onde a velocidade da corrente era de 80 a 1 2 0 cmlsegundo. Para algumas espécies, entretanto, a velocidade de corrente considerada ótima era menor que 40 cm/segundo.

Os borrachudos, como outros insetos, também podem ser infestados por parasitos. Esses parasitos ocorrem principalmente nas fases jovens, de larva e pupa, e podem alterar o desempenho reprodutivo do borrachudo quando este consegue atingir a fase adulta, como ocorre com o parasitismo pelos mermitideos, que será visto adiante.

4.3. Pupa Os simulídeos empupam* em estojos cônicos (pupário)

tecidos pelas larvas de último estágio, com a secrecão gelatinosa da boca e fixados firmemente pela larva a substratos imersos na

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fêmeas se alimentam de sangue e procuram localizar uma fonte de alimento voando do local de emergência para buscar u m hospedeiro vertebrado para fornecer sangue. Após a alimentacão ela voa novamente em sentido ao rio, buscando o local de oviposição.

As fêmeas que se alimentam de sangue de mamíferos picam durante o dia, só algumas espécies, como Eusimulium latipes, Simullium (Ch.) tuberosum e S. (Ch.) reptans, que sugam sangue de aves, foram capturadas à noite, na Escócia e Noruega, usando armadilhas luminosas.

Para sugar sangue, a fêmea se fixa à pele do hospedeiro com suas partes bucais (lâminas maxilares), que possuem dentículos ,recurvados ao longo das margens, como ganchos e então perfura a pele com suas mandíbulas, que atuam como u m par de tesouras, até que o sangue comeca a escorrer. Em seguida a fêmea lança a saliva na ferida para evitar a coagulação. Esta saliva, que contém proteínas do inseto, tem acão anticoagulante e anestésica. É também alergênica* e produz o inchaço e a coceira que são muito desconfortáveis. O sangue passa direto ao estômago ou ao intestino, ao contrário das soluções acucaradas ingeridas pela fêmea, como o néctar das flores, que são armazenadas no papo.

As paredes abdominais da fêmea são excepcionalmente distensíveis - ela pode comumente dobrar seu próprio peso com uma simples refeição de sangue, e pode, ocasionalmente, tripicá- 10. Com uma refeição completa de sangue o inseto mal pode voar e, prontamente, procura um local de descanso por vários dias, enquanto o sangue vai sendo digerido.

Os borrachudos machos alimentam-se essencialmente de líquidos vegetais, nectar das flores, seiva de plantas e sucos de frutas.

A temperatura tem grande influência na fase adulta dos borrachudos. Eles vivem maior número de dias quando a temperatura é baixa, tendo sido observada a sobrevivência de 89 dias com temperatura de 10°C e de apenas 14 dias com temperatura de 25"C, em adultos de S. (C.) pertinax. Verificou-se que a temperatura do ar, a pressão atmosferica e a umidade

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relativa do ar foram os fatores ambientais que mais influenciaram na atividade de alimentação dos simulídeos com sangue.

4.5.2. Acasalamento O acasalamento ocorre apenas uma vez na vida da fêmea,

pr6ximo aos locais de emergência. Ambos os sexos são atraídos para o mesmo local. Em Simulium damnosum, assim como em muitos outros simulídeos, foi observada a ocorrência de revoada de machos (semelhante a uma enxameaçãoi. Os borrachudos se orientam por observação visual contra o azul do céu ou de outro obstáculo. Foi observada uma revoada de machos próximo a um automóvel estacionado num campo de grama baixa, imediatamente antes do acasalamento. Não foi observado acasalamento em vôo, provavelmente este ocorra com o par pousado em substratos. Às vezes foi observado o comportamento de revoada das fêmeas de cada espécie próximo aos hospedeiros vertebrados. Na revoada, a localização da fêmea ocorre por contato visual, conforme foi observado em experimentos com fêineas marcadas artificialmente.

4.5.3. Oviposição .Após a ingestão do sangue, cerca de uma semana,

dependendo da temperatura, os ovos desenvolvem-se e então a fê~mea voa do local de descanso em busca do local para deposição dos ovos. A orientação para o local de oviposição é complexa. A fêmea deve localizar uma corrente de água adequada ao desenvolvimento das larvas num ponto acima do local onde ela própria emergiu. Uma anemotaxia* positiva conduz a f&mea rio acima, voando próximo da água.

Na espécie Simulium damnosum a fêmea faz posturas de 100 a 600 ovos depositando-os juntos, sobre a vegetação ou pedras, à superfície da água. Encerrada a postura dos ovos, a fêmea está apta a procurar uma nova refeição de sangue e repetir esse processo, que é executado a cada ciclo ovariano, até seis vezes durante a vida da fêmea. O sangue é parte indispensável na fisiologia da fêmea, pois sem o mesmo ela não pode produzir OL'OS. ,

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Fêmeas que tenham sido parasitadas na fase de larva, ou de pupa, por vermes redondos (mermitídeos) podem apresentar desempenho reprodutivo alterado, como menor capacidade de oviposição.

5. COMO CONTROLAR O BORRACHUDO

O controle de borrachudos tem passado por fases semelhantes às do controle de qualquer outro inseto problema, tanto da agricultura quanto de produtos armazenados. A princípio, o homem conseguiu amenizar seus prejuízos usando o conhecimento empírico ou mesmo intuitivo. Com a descoberta dos produtos químicos, o homem chegou a fazer uso de u m Único princípio ativo, como se ele fosse verdadeiramente milagroso, deixando de lado os ensinamentos da própria natureza onde, na verdade, as populações todas e por todos os tempos, vêm sendo naturalmente controladas por uma série de fatores naturalmente integrados! Depois de muitos fracassos do controle químico, surgiu a esperança do controle biológico, como uma alternativa. Muitos acreditaram que o controle biológico poderia substituir de vez o uso dos inseticidas os quais vinham, até então, fazendo muitas vítimas além dos insetos, entre elas, os próprios aplicadores dos produtos. Como solução mediadora surgiu o controle integrado que visava congregar o uso dos produtos químicos e dos agentes biológicos. Desta forma, os inimigos naturais das pragas, como os predadores, parasitos e patógenos, atuariam em associação com os inseticidas químicos seletivos. Os estudos de Ecologia, através do conhecimento da dinâmica das populações de insetos, permitiu elaborar uma estratégia melhor de supressão das pragas. É o Manejo Integrado de Pragas (MIP) que veio trazer uma visão mais amadurecida para obtencão de sucesso nesse trabalho.

No MIP são incluídas as medidas que, no contexto do meio ambiente e dinâmica da população de simulídeos, utilizará as técnicas disponíveis e aplicáveis, de forma compativel como o

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Em resumo, o controle mecânico traz como principal estratégia de atuacão, o envolvimento da comunidade na solucão do problema. Através do conhecimento do ciclo de vida do inseto, da dinâmica populacional e de fatores ambientais, como a po l i i i~ão por matéria orgânica dos riachos e a recuperacão do quadro de degradacão do meio ambiente, pode-se atingir o objetivo de reducão do agravo causado pela excessiva populacão desse inseto (Figura 1 1 ).

5.2. Medidas de controle biológico Chama-se "controle biológico" de uma populacão de insetos

daninhos à destruicão de elementos dessa populacão realizada por outros seres vivos. Por exemplo, pássaros se alimentando de moscas, fazem um "controle biológico" da população de moscas. 0 s agentes de controle biológico existem na natureza, mas nem sernpre estão disponíveis para utilizacão num programa de coritrole e dependem da criação em laboratório, de um desses agentes (predadores ou infecciosos) e a liberacão deles no meio ambiente, para que façam parte da população, se reproduzindo e ajudando na manutenção do controle populacional do inseto alvo. O icontrole biológico natural depende da capacidade do predador ou do agente infeccioso se reproduzir e manter uma população de indivíduos capaz de controlar ou inibir o crescimento da populacão do inseto alvo. Esse predador ou agente infeccioso passa a fazer parte da teia alimentar do nicho ecológico onde é inserido.

O controle biológico no Brasil foi estudado de maneira muito tímida no início. Essa técnica ainda não havia, até 1985, deljpertado a atencão da maioria dos entomologistas brasileiros. Na área agrícola, essa técnica vem sendo usada em maior escala, terido sido identificados e caracterizados diversos vírus que atacam insetos que se alimentam da soja e outros vegetais.

A natureza em equilíbrio mantém as populacões em níveis que não causam incômodo. Quando o homem interfere no meio ambiente e quebra esse equilíbrio, pela oferta de grandes quantidades de alimento para uma espécie (como é o caso da oferta de dejetos para as larvas de borrachudo), causa o

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desequilíbrio pela criação excessiva desse inseto e, ao mesmo tempo, causa a morte dos inimigos naturais por esse mesmo excesso de matéria orgânica. Em u m açude onde se coloca excesso de alimento é fácil observar o resultado do desequilibrio pela mortalidade dos peixes. O mesmo ocorre em rios onde se despeja esterco de animais ou dejetos humanos, de uma só vez, como no caso dos rompimentos de esterqueiras. Mas, quando do lançamento de pequenas porções diárias, a alteração s6 vai ser percebida quando as espécies que se beneficiaram com a maior oferta de alimento começam a busca de alimento para as fases de vida livre, no caso dos borrachudos, quando os adultos iniciam a procura de hospedeiros para sugar sangue.

Em se tratando de borrachudos, o controle biológico é realizado por agentes de ação predadora como os pássaros, peixes e insetos, ou de ação infecciosa (vírus, bactérias, fungos), sendo vitais no controle natural dos insetos problemas.

Os predadores são aqueles que consomem de algumas a várias larvas ou adultos de borrachudo para completar seu próprio ciclo biológico, exercendo u m controle natural importante sobre as populações de simulídeos sob certas condições e, especialmente, nos estágios imaturos aquáticos.

Entre os predadores de larvas, foi citada a possibilidade das planárias atuarem como predadores por nadarem ativamente procurando as presas tanto na superfície da água quanto na coluna líquida As planárias são platelmintos da classe Turbelária, de vida livre. O Gênero Dugesia já foi extensivamente avaliado. Seu uso merece mais estudos. ~ o i s também atuam como predadores de outros organismos aquáticos benéficos como os Copépodes* e alevinos de peixes larv6fagosx. Têm a vantagem de tolerar águas com elevados teores de matéria orgânica, alcalinidade e baixos teores de salinidade.

0 s principais inimigos naturais dos borrachudos, no entanto, estão entre os próprios insetos. Com isso, aumenta a possibilidade de programas de manejo integrado desse inseto praga usando outros insetos como elementos de controle. A proteção dessa fauna benéfica é estratégia indispensável, pois o uso indiscriminado de inseticidas nas lavouras tem dizimado essa

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populacão. As formas jovens de libélulas, classificadas na ordem Odonata, chamadas de ninfas ou náiades (fase intermediária entre larva e adulto) foram registradas como predadoras de larvas de borrachudo. As fases jovens das libélulas levam três anos e meio para atingir seu total desenvolvimento. Nesse período elas se alimentam de outros insetos menores, inclusive de larvas de borrachudo. Ninfas de último estadio podem predar cerca de 6 larvasldia e quando encontram populações densas de presa, matam mais do que conseguem comer.

Libélulas da Austrália foram levadas para Nova Zelândia para o controle do borrachudo na década de 30. Pesquisa realizada no Brasil relata que cerca de 30% das ninfas de libélulas examinadas continham fragmentos de larvas de borrachudos no seu intestino.

Os adultos de libélulas são eficientes predadores de adultos de borrachudos. Há relatos da predacão pela ingestão de fêmeas por adultos de libélulas quando essas fêmeas de borrachudo estão pondo ovos ou em enxames de acasalamento. Fica claro que a predação de uma fêmea no momento da pr6-oviposição é de maior valor, pois estaria impedindo o nascimento de até uma centena de indivíduos. Esta predação de adultos parece estar sendo substimada nos programas de manejo integrado.

As formas jovens de outros insetos como os Tricópteros* e os Plecópteros* também atuam da mesma forma que as das libélulas. Como as larvas desses insetos dão preferência às águas correntes, são mais importantes como predadores de formas jovens de borrachudos. Cada indivíduo dessas espécies preda de 1 a at6 75 larvas por dia, além de descolarem as larvas das pedras, afastando-as para os pontos de águas mais lentas, onde podem ser atacadas pelos peixes. A criação desses insetos em laboratório para liberacão a campo não deve ser fácil e nesse caso O USO de inseticidas seletivos nas lavouras pode, ao menos, deixar que esses insetos atuem no controle natural reduzindo a população de borrachudos.

Os ácaros, aranhas e centopéias são indicados também. como predadores de insetos, mas poucos estudos estão relacionados aos borrachudos.

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Nos estudos sobre peixes, que se alimentam de larvas de borrachudo, realizados em JoinvillelSC, foram encontradas 18 espécies diferentes de peixes com larvas de simulídeos no conteúdo ,,% estomacal. Dessas, cinco se destacaram como predadoras: cascudo (Hemipsilichthys cameron,l, mandi (~im&odel la cf. transitoria), Iam bari (Characidium sp. ), bagre (Acentronichthys leptos) e bagre-jundiá (Rhamdia quelem). Esses estudos concluíram, numa análise mais ampla dos resultados, que o peixe não pode ser considerado como solução para o problema de borrachudos. Pois, embora essas cinco espécies de peixes tenham mostrado maior afinidade para com as larvas de simulídeos, isto é, tenha sido encontrado maior número de larvas no conteúdo estomacal, isto não significava que estivessem realizando um eficiente controle biológico.

Um indivíduo, para ser u m inimigo natural efetivo, deve apresentar as seguintes características: capacidade de encontrar a presa mesmo quando ela é escassa, ou seja, alta capacidade de busca; ter preferência pela espécie que se quer combater, isto 6, alta especificidade com a presa; deve reproduzir-se mais que a presa (alto potencial reprodutivo); capacidade de ocupar todos os locais utilizados pela presa e boa sobrevivência com capacidade de adaptação à ampla variação de condições de clima e ambiente.

Todas as espécies de peixes estudadas em Joinville apresentaram baixa capacidade de busca (pela baixa porcentagem de simulídeos encontrados no conteúdo estomacal); baixa especificidade (embora ingerissem larvas de simulídeos, alimentavam-se de muitas outras espécies); baixa taxa de reprodução, limitada a determinada Bpoca do ano. Por esses motivos e também por não terem acesso aos locais onde as larvas se fixam (pontos de maior encachoeiramento), os peixes têm pequena participação no controle de simulídeos, porBm recomenda-se a preservacão dos peixes por desempenharem um papel importante na manutenção do equilíbrio entre os organismos aquáticos.

Registra-se, nas regiões de maior desenvolvimento dos borrachudos. a ausência total de Deixes. Dois sZo eles os . . organismos mais sensíveis ao aum matéria

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com esse parasito foi relatado, em 1898, por von Linstow. A maioria dos mermitídeos parasitos de borrachudos pertence aos gêneros lsornerrnis, Gastrornerrnis e Mesornermis.

Esses nematódeos estiveram bem próximos de serem colocados no mercado para o controle de pernilongos e borrachudos. o que estimula grandemente seu uso em programas regionais. A producão em larga escala e vários tipos de aplicação (ai4 por avião) já foram avaliados para esses organismos. Cerca de mil indivíduos da espécie Rornanomerrnis culicivorax, que é mais utilizado no controle de mosquitos (Culicídeos), mesmo não completando o ciclo em borrachudo, é eficiente no seu controle não permitindo que empupem. O uso desse parasito com outros agentes precisa ser bem avaliado, pois eles são atacados por outros organismos aquáticos. Na Universidade de Campinas foram realizados estudos que indicaram níveis de ataque por outro mermitídeo do gênero Gastromerrnis sp. em três espécies de borrachudos, sendo que o S (C.) pertinax foi a mais suscetível, erri um riacho nunca submetido a tratamento com larvicidas químicos. No litoral do Estado de São Paulo, a ocorrência de mermitideos em S (C.) pertinax é muito rara, em áreas que durante muitos anos receberam tratamento químico.

Sem a presenca de predadores, como peixes e outros insetos, destruídos tanto pela presenca de excesso de dejetos, bem como pelo uso indevido dos agrotóxicos e pelo desmatamento. as larvas do borrachudo se desenvolvem rapidamente, dada a abundância de alimentos e a falta de predadores, completando o quadro de desequilibrio ambiental.

5.3. Medidas de controle quhico O controle de insetos, durante muito tempo, foi realizado

através da aplicacão de substâncias que matavam ou inibiam o seu desenvolvimento, sem preocupacão com as causas do aurnento dessa populacão. No Brasil, a proliferacão de borrachudos foi controlada durante muitos anos com o uso de produtos químicos, entre eles os organofosforados.

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Dos produtos fosforados que foram utilizados, o mais difundido no sul do pais foi o temephos, ao qual os insetos desenvolveram resistência.

No controle com uso de substâncias, a utilização da exotoxina do Bacillus thuringiensis var. israelensis (Bti) foi sugerida para o controle de simulídeos, em substituição aos larvicidas fosforados, porque a espécie alvo, S. (C./ pertinax, havia desenvolvido tolerância ao fosforado em uso (themephos), deixando de responder a concentrações elevadas do produto, e também pelo maior impacto ambienta1 devido ao seu largo espectro de ação.

Devido a certas características próprias, o Bacillus thuringiensis (Bt) é colocado neste item, como pertencendo a um grupo de inseticidas de origem microbiana. e não como controle biológico, pelas razões expostas a seguir.

O Bt é uma bactéria que existe naturalmente no solo e que é fatal para as larvas de um amplo espectro de insetos incluindo mariposas, traças, orgulhos carunchos), besouros(escarabeídeos), na área agronômica, além de pernilongos e borrachudos, na drea de saúde pública. A toxina do Bt é ativada somente no aparelho digestivo das larvas de alguns insetos e não tem efeito prejudicial sobre outras espécies de acordo com alguns pesquisadores, embora o laboratório fabricante tenha achado conveniente salientar que o Bti não era especifico só para pernilongos (Culicidae) e borrachudos (Sirnuliidae), mas que as larvas de outros dipteros aquáticos como os Chironomidae* e Psychodidae*, por exemplo, também eram susceptíveis.

A vida biologicamente ativa do Bt é curta e, se não é ingerido pelas larvas, em poucos dias, será inativado.

Embora já haja evidências de que, indiretamente, outros insetos possam ser atingidos ao ingerirem larvas que haviam ingerido Bt, a toxina é por muitos, considerada inócua. E apresentado como vantagem do uso do Bt o fato de ser o mesmo aceitavelrnente específico e bastante letal. E uma bactéria que se adapta às estratégias de MIP 'por ser sua toxina mais efetiva sobre os insetos alvo. O Bt foi isolado depois de ter sido comprovada sua capacidade de matar certos insetos na fase

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larval. A bactéria pode se multiplicar facilmente e pode ser usada em forma de pó ou solução aquosa. Depois de alguns anos da sua descoberta, o Bt já se encontrava disponível a nível comercial e começou a ser usado por produtores de hortaliças para eliminar larvas de Lepidoptera (mariposas e borboletas), antes mesmo do lançamento no mercado dos inseticidas químicos. O Bt foi inicialmente produzido em pequena escala por empresas familiares (que operavam através de encomendas postais. Com o início da segunda guerra' mundial (1940) e sendo sintetizado o DDT*, começou a era dos inseticidas sintéticos e o Bt foi deixado de lado. Embora inócuo para muitos insetos benéficos, como ,joaninhas (Coleóptera), os produtos originários do Bt, apresentavam uma variacão na eficácia por serem misturas de diversas variedades de Bt, perdendo a credibilidade no seu uso. Por isso, o Bt, foi usado em baixa e intermitente escala, o que preservou e prolongou sua eficácia. Após a publicação de um livro despertando a população para os perigos do uso indiscriminado de produtos químicos, muitos produtores voltaram a buscar a segurança do Bt, quando não queriam usar os inseticidas sintéticos. Com o resultado negativo do uso dos produtos sintéticos, pela grande destruição biológica, contaminação ambienta1 e surgimento de resistência, por volta de 1960, voltou o Bt a ser considerado uma alternativa. Desde então o Bt foi largamento utilizado e pesquisado. Começaram a aparecer no mercado cepas diferentes do Bt tais como o 6. t. israelensis (Bti) e o B.t. kustaki. A produção da toxina pelo Bt ocorre quando a bactéria pára de se multiplicar e forma o esporo (célula de repouso ou forma de resistência). Este esporo, quando colocado em meio nutritivo conveniente, germina e reproduz a forma vegetativa. Ao lado do esporo é formado u m cristal chamado corpo-para-esporal, Esse cristal é uma pro-toxina que só será ativada se for ingerida pelas larvas que possuem o pH do estômago a u m nível que libera a fração tóxica e letal (chamada delta-endotoxina). A intoxicação é rápida e a morte ocorre poucos minutos após a ingestão. Pode-se observar o efeito letal sobre a população de larvas no máximo em 12 horas após a aplicação.

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As primeiras formulacões de Bti e a maioria em uso até agora, estavam baseadas na formacão dos esporos e dos cristais.

Os primeiros produtos atuavam provocando paralisia intestinal, atacando a parede e produzindo um desequilíbrio no processo de absorcão de substâncias (desequilibrio osmótico), além de causar lesões na parede estomacal permitindo a passagem dos esporos do intestino para a hemocele do inseto (correspondente à circulacão sanguínea dos mamíferos). As lesões causadas na parede intestinal em combinação com a falta de alimentacão, eram suficientes para causar a morte do inseto. 0 s esporos que chegavam à hemocele, em contato com a hemolinfa (o sangue do inseto) do sistema circulatório aberto da larva, encontravam meio favorável para a multiplicacão, competindo pelos nutrientes, causando uma debilitacão total que contribuía para a morte do inseto.

0 s produtos comercializados hoje são originários de uma bactéria mutante que não forma esporos, por isso chamada de "aesporogênica", mas que continua a produzir o cristal. Isso foi considerado como vantagem adicional por não ser lancado no meio ambiente u m microrganismo "vivo" (ou seja, u m esporo que em condicões ideais poderia voltar a se reproduzir). Assim, os produtos encontrados no mercado hoje são produzidos a partir dessas bactérias mutantes e contém na sua formulacão, apenas, os cristais com a delta-endotoxina.

A desvantagem dessa formulacão é não mais poder ser considerada como u m "controle biológico". Não sendo u m organismo "vivo" (esporo) o que se usa hoje é apenas a toxina produzida por u m bactéria e que precisa ser aplicada, como os produtos químicos, a intervalos curtos de tempo para poder manter sob controle a população de borrachudo ou de outro inseto alvo.

O controle com o Bti, em suas formulacões comerciais, vem sendo utilizado sem levar em consideracão os teores de matéria orgânica existentes na água, ainda sob a influência da informacão de que o borrachudo criava-se em "águas Iímpidas e cristalinas", ou seja, que os teores de resíduos não influíam na população do inseto. As empresas que produzem o inseticida, no entanto, já

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iilertam quanto à qualidade da água em que o produto vai ser iiplicado, informando que as maiores quantidades do produto recomendadas, devem ser usadas em água contendo alta concentracão de poluentes orgânicos elou algas. Isso se deve 2 ingestão mais baixa da delta-endotoxina do Bti, como resultado da competicão de outros organismos e fragmentos orgânicos ingeridos pela larva, como fonte alimentar.

No Estado de Santa Catarina, diversos municípios vêm utilizando o Bti no controle do borrachudo, sem levar em i:onsideracão esses níveis de matéria orgânica. Como exemplo, o Município de Joinville aplicou em 1996, o volume de 3.000 litros ido produto e, municípios pequenos, como Guaramirim vêm ;aplicando anualmente cerca de 240 litros desse inseticida. Calculado o custo do controle com o uso desse inseticida, iconsiderando o valor do produto utilizado em R$20,0011itro ($34.80). teríamos que o município de Joinville despendeu cerca ide R $ 60.000,OO ($104 400.00) só na compra do produto, sem iconsideraros outros custos de aplicacão (mão-de-obra, transporte, equipamentos de protecão individual, etc.).

A conscientizacão da necessidade de racionalizacão do uso idesse insumo pode ser obtida quando se demonstra a influência idos níveis de matéria orgânica sobre a populacão do inseto, em ,vista da informacão prestada pelos próprios fabricantes dos produtos pois, segundo eles, "a performance do Bti é altamente influenciada pela quantidade de matéria orgânica na água do criadouro. Assim, doses maiores são necessárias para esses habitats".

A preocupacão pela possibilidade de se tornar dependente de produtos microbianos, como o Bti, foi manifestada diante do fato de serem pouco estudados, em nosso país, os possíveis inimigos naturais, parasitos e patógenos que poderiam causar impacto nas populações naturais de borrachudos e pernilongos. Defende-se a proposta do desenvolvimento de programas regionalizados de manejo integrado do borrachudo com maior grau de sustentabilidade.

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6. RECOMENDAC~ES FINAIS

Para o controle efetivo do borrachudo é necessário o envolvimento de toda comunidade, pois dependerá dela a mudanca de comportamento.

A introducão do tema "controle de borrachudo" no programa de educacão ambiental das escolas ajudará a conscientizar as criancas e adolescentes a viver em equilíbrio ambiental, demonstrando o efeito negativo do desequilíbrio ambiental sobre a qualidade de vida da populacão. O estímulo a execucão de cartilhas pelos próprios alunos (Anexo), pode cativar o jovem a participar da solucão dos problemas da sua comunidade.

As diversas secretarias municipais íeducacão, agricultura, meio ambiente, planejamento) precisam envolver as comunidades rurais e urbanas, para fazer a identificacão dos focos ou criadouros de borrachudos, levando em conta as características de cada município ou região. Por exemplo. no oeste catarinense, muitos municípios têm como fonte de alimento para as larvas de borrachudos. principalmente, as fezes de animais (suínos e bovinos), além de fezes humanas e esgotos domésticos. Outras regiões têm problemas com o destino inadequado dos resíduos de pequenas indústrias de alimentos Ifecularia de mandioca, embutidos, etc.) ou de abatedouros.

Identificadas as fontes de alimento para as larvas de borrachudos através da localizacão dos focos ou criadouros dos borrachudos. é necessário estabelecer uma estratégia de trabalho para a eliminacão dessas fontes e a recuperacão ambiental das microbacias. Em algumas delas vem sendo estimulada a bovinocultura leiteira como alternativa de diversificacão aos produtores de subsistência. Nesse processo, dada a precariedade de espaco na pequena propriedade, o produtor vem ocupando áreas que deveriam ser de preservacão permanente para a instalacão de pastagens e abrigos, aumentando o processo de degradacão ambiental (Figura 14). A assistência técnica deve orientar e coibir procedimentos inadequados que, com o tempo, virão trazer problemas ao produtor, como o desequilíbrio

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ainbiental, tendo como consequência o excesso de borrachudos, entre outros.

Figura 14 - Capa de apostila elaborada por aluna de escola municipal de primeiro grau.

A educacão ambienta1 da populacão faz parte da estratégia de manutencão das medidas de contencão de resíduos orgânicos e destino adequado do lixo, prolongando os benefícios do trabalho realizado.

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Anemotaxia - movimento com o auxílio do vs:nto. Alergênico - que causa alergia. Chironomidae - insetos pequenos e delicados, encontrados em

quase todos os lugares, de aspecto semelhante aos mosquitos. Claviforme - em forma de clava, instrumento de madeira que se

usava como arma. Copépodes - animais metazoários, artrópodes, crustáceos de corpo

microscópicos ou muito pequenos. DDT o u D.D.T. - sigla do nome químico simplificado do Dicloro-

Difenol-Tricloro-etano, inseticida sintético que atua por contato ou ingestão. Fórmula bruta Ci4HsC15.

Empupar - transformar-se em pupa. Exúvia - a pele da pupa abandonada no pupário após o nascimento

do adulto. Filária - parasito com o corpo em forma de fio; designacão comum

aos animais nematódeos, da família dos filarídeos. São geralmente muito longos e finos. A evolucão faz-se através de invertebrados (mosquitos, borrachudos e carrapatos).

Hemocele - porcáo da cavidade do corpo do inseto que funciona como parte d o sistema sanguíneo.

Larvófago - animal que se alimenta de larvas. Leque cefálico - porcão da "cabeça" da larva responsável pela coleta

de alimento (algas e detritos orgânicos). Mede-palmos - locomocâo característica que dá a impressão de que a

larva está medindo a superfície de deslocamento. Nematoda - Classe de animais de corpo vermiforme, cilíndrico ou

filiforme. Entre eles estão as lombrigas. Peristáltico - (movimento peristáltico) - movimento vermiforme

progressivo. neste caso relativo aos segmentos do abdome do inseto, que impulsiona o adulto para o exterior da exúvia pupal.

Petéquias - Hemorragias pequeninas, sob a pele o u sob as mucosas.

Plecópteros - são insetos de tamanho pequeno ou médio, de corpo mole, levemente achatado e de cores sombrias. São encontrados perto de águas correntes. No desenvolvimento passam por metamorfose simples e os estágios de ninfa são aquáticos.

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I'sychodidae - são insetos de duas asas (dípteros), pequenos ou diminutos, com o corpo recoberto de pêlos e de aspecto semelhante ao de pequenas mariposas. 0 s adultos ocorrem em lugares sombreados nas proximidades da água; são algumas vezes abundantes em ralos e esgotos.

Pupa - o estágio entre a larva e o adulto em insetos com metamorfose completa. Estágio sem alimentação e em geral inativo.

Substrato - qualquer material que serve de suporte para larva; aquilo em que a larva se fixa. Pode ser natural: pedras, folhas, gravetos, solo argiloso, etc.; ou artificial: plástico, vidro, metal, cimento, cerâmica, etc.

C;uscetível - que pode sofrer modificações. l'ricópteros - insetos de tamanho pequeno a médio e de aspecto

geral que lembra o de mariposas. Possuem quatro asas membranosas pilosas e suas larvas são aquáticas.

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9. RESUMO

A excessiva população de borrachudo é o resultado do desequilíbrio ambiental por nós concretizado nos últimos anos.

Para atingir o objetivo da comunidade de poder novamente viver e trabalhar na área rural e, hoje, até mesmo na área urbana, sem a incômoda presença dos borrachudos, essa mesma comunidade terá que se unir e realizar ações e obras que vão demandar tempo e recursos para obter o controle adequado desse inseto.

A presença de matéria orgânica na água, a níveis crescentes, é a causa principal do crescimento da população de borrachudos. Sem a presenca de predadores aquáticos, peixes e outros insetos, destruidos tanto pela própria presença dos dejetos como pelo uso indevido dos defensivos agrícolas e desmatamento, ficou completo o quadro de desequilíbrio ambiental. Desta forma, as larvas encontraram as condições ideais para o seu desenvolvimento descomedido.

Entre as ações e obras a serem executadas, a primeira e mais importante é dar um destino racional aos dejetos, tanto de animais, quanto de humanos. A construção de esterqueiras e outras formas de manejo dos dejetos de animais, principalmente, de suínos e bovinos e a construção de fossas com filtro e sumidouros para os resíduos humanos nas propriedades e o tratamento dos esgotos das cidades, são ações indispensáveis para se atingir o controle do borrachudo.

A prática generalizada da transformação dos rios e riachos em lixeiras coletivas é outro fator que contribui para o crescimento populacional desse inseto. Os resíduos sólidos presentes na corrente de água criam novos pontos de encachoeiramento servindo de locais de instalaçáo das larvas do borrachudo. A ação conjunta da comunidade removendo os entulhos e criando uma consciência generalizada de se abolir essa prática, faz parte das ações necessárias para se reverter o quadro de infestação do borrachudo.

Outras ações como o reflorestamento das áreas degradadas, a construção de taipas e a reposição de cobertura vegetal que propicie u m sombreamento .nas saídas de açudes e at6 a construção de duas saídas a serem usadas alternadamente, também contribuirão para um efetivo controle do borrachudo.

E importante frisar, mais uma vez, que o controle do borrachudo 56 será obtido se todos trabalharem juntos para o bem comum.