DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · adequado da competência de ensiná-la, contribuindo...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DO ESTADO DE EDUCAÇÃO SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
MARA ALICE DELFINO
MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
UNIDADE DIDÁTICA
MARINGÁ
2010
MARA ALICE DELFINO
MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
UNIDADE DIDÁTICA
MARINGÁ 2010
1. IDENTIFICAÇÃO 1.1 Área: Língua Portuguesa
1.2 Professora PDE: Mara Alice Delfino
1.3 NRE: Maringá
1.4 Professor Orientador IES: Prof. Dr. Renilson José Menegassi
1.5 IES: UEM – Universidade Estadual de Maringá
1.6 Escola de implementação: Esc. Est. Prof. Francisco José Perioto - EF
1.7 Público Objeto da Intervenção: 8ª série do Ensino Fundamental
2. TEMA DO PROJETO: A reescrita em sala de aula de língua materna, como fator
de desenvolvimento da capacidade de produção textual do aluno.
3. TÍTULO: A REESCRITA DE GÊNEROS TEXTUAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL
4. CONTEÚDOS BÁSICOS: A revisão e reescrita de artigos de opinião
INTRODUÇÃO
Sendo a escrita um bem cultural de prestígio, cuja posse permite ao sujeito usá-la
tanto para um crescimento cognitivo individual quanto para atender às demandas de
uma sociedade que valoriza essa habilidade, a escola ainda não garante o domínio
adequado da competência de ensiná-la, contribuindo para o fracasso escolar. O ensino
ofertado em nossas escolas públicas não tem conseguido dar conta dos aspectos mais
básicos e primordiais da aprendizagem, como aquisição e desenvolvimento da leitura e
escrita, por exemplo.
Considerando a importância de uma intervenção transformadora, parece-nos que o
esforço de resolução dessa situação tem um caráter mais prático-metodológico do que
teórico. Nesse sentido, desenvolvemos um projeto que visa promover melhorias na
produção escrita do aluno do ensino fundamental e, em contrapartida, oferecer subsídios
teórico-metodológicos ao professor de língua materna.
Assim, pretendemos, nos deter exclusivamente ao estudo da revisão e reescrita de
textos de opinião, considerando os aspectos teórico-metodológicos que norteiam este
processo para o desenvolvimento da competência discursiva escrita do aluno. Buscando
ir além da mera constatação dos entraves na produção de texto, e rejeitando a ideia de
que escrever bem é um dom inato, essa investigação busca responder aos seguintes
questionamentos: como fazer com que nossos alunos reescrevam seus textos? Que tipo
de metodologia poderia nos auxiliar para motivar a revisão de textos? Que estratégias
são usadas pelos alunos na revisão e reescrita de textos? Qual o grau de relevância do
mediador neste trabalho com textos?
O ponto de partida será o roteiro de atividades do Caderno do Professor –
Orientação para produção de textos, da Olimpíada de Língua Portuguesa/Escrevendo
o Futuro do CENPEC. Neste material encontram-se oficinas, organizadas numa
sequência didática, que podem ser realizadas com os alunos, para que aprendam a se
expressar melhor no gênero artigo de opinião.
É importante, então, que as condições de produção estejam muito claras para o
aluno a cada proposta de trabalho apresentada pelo professor.
a) Condições de produção de textos na escola
Para escrever seus textos, o aluno precisa saber:
• qual a finalidade da escrita (entreter, sensibilizar os leitores; informar os leitores
sobre algum tema; convencer os leitores de alguma coisa);
• qual(is) o(s) provável(eis) receptor(es) para seu texto (professor e colegas da
turma; outros professores e colegas de outras turmas; comunidade escolar de
uma forma geral; família; leitores de um determinado jornal ou revista onde o
texto venha a ser publicado);
• qual o gênero textual em que o texto se materializará – o que determinará o
suporte em que circulará (jornal, revista, cartaz, folheto, livro etc.), sua forma
(superestrutura, silhueta) e sua estrutura linguística (sequências textuais,
variedade linguística, estruturas gramaticais e seleção vocabular específicas).
b) Gêneros textuais
Para Bakhtin (1992) o gênero se define como "tipos relativamente estáveis de
enunciados" elaborados pelas diferentes esferas de utilização da língua. Considera três
elementos "básicos" que configuram um gênero discursivo: conteúdo temático, estilo e
forma composicional. Nas condições de produção dos enunciados e dos gêneros
discursivos inserem-se as intenções comunicativas e as necessidades sócio-interativas
dos sujeitos nas esferas de atividade, em que o papel e o lugar de cada sujeito são
determinados socialmente. Em cada esfera de uso da linguagem há uma concepção
padrão de destinatário a que se dirige o locutor; esse destinatário sempre adota uma
atitude responsiva ativa adiante da totalidade acabada do gênero. O discurso estabelece
intercâmbios sócio-culturais, fruto de processos cognitivos e conhecimentos
acumulados historicamente que atendem a essa atitude responsiva ativa. Bakhtin (1992)
enfatiza que, quando fala/escreve ou lê/ouve, o indivíduo ativa seu conhecimento prévio
do paradigma dos gêneros a que ele teve acesso nas suas relações com a linguagem.
Cada um dos gêneros tem uma finalidade bastante específica, por isso apresenta
características muito particulares. Assim, é preciso que o professor, em cada um dos
casos, oriente diferentemente o aluno, para que o texto produzido seja satisfatório.
c) O Texto de Opinião
Assim como no caso dos outros gêneros textuais, escrever um texto de opinião,
argumentando, de forma clara, lógica e ordenada, é uma habilidade que se aprende.
Cabe, então, à escola orientar seu aluno em relação aos aspectos específicos desse
gênero, auxiliando-o na organização do que, de certa forma, ele já é capaz de fazer
como falante da língua portuguesa.
Existem várias possibilidades de organizar a estrutura de um artigo de
opinião, porém, de maneira geral, todos possuem os seguintes elementos: (Não
existe uma ordem específica para esses elementos e nem todos precisam aparecer num
mesmo artigo de opinião).
1. Contextualização e/ou apresentação da questão que está sendo discutida.
2. Explicitação do posicionamento assumido.
3. Utilização de argumentos para sustentar a posição assumida.
4. Consideração de posição contrária e antecipação de possíveis argumentos contrários à
posição assumida.
5. Utilização de argumentos que refutam a posição contrária.
6. Retomada da posição assumida.
7. Possibilidades de negociação.
8. Conclusão (ênfase ou retomada da tese ou posicionamento defendido).
OBJETIVO GERAL:
Os artigos de opinião são importantes instrumentos para a formação do cidadão.
Aprender a ler e a escrever esse gênero na escola contribui para desenvolver a
capacidade de participar, com argumentos convincentes, das discussões sobre as
questões do lugar onde se vive e, mais do que isso, de formar opinião sobre elas,
contribuir para resolvê-las, praticar a cidadania.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
a) Ler textos do gênero artigo de opinião e compreender sua função social, seus propósitos
comunicativos, o conteúdo temático e as características estruturais exigidas para sua
composição.
b) Produzir textos do gênero artigo de opinião, obedecendo às especificidades do tema e os
seus elementos composicionais.
c) Manifestar seu ponto de vista sobre determinado assunto e a argumentar de forma crítica
convencendo aqueles que o lêem.
d) Reescrever textos a partir dos apontamentos feitos pelo professor, visando melhorá-los,
tanto do ponto de vista estrutural, quanto no aspecto da clareza e organização das idéias.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
O trabalho com sequência didática supõe um rico processo de interação em aula
entre professor/aluno e aluno/aluno. Criam-se situações com contextos que permitem
reproduzir em grandes linhas e no detalhe a situação concreta de produção textual,
incluindo sua circulação.
Passo 1 - Apresentação do projeto de escrita e da situação de produção:
Pode-se iniciar a sequência didática apresentando o gênero a ser estudado,
ressaltando a importância de ler e produzir textos deste gênero:
• providencie algumas cópias de artigos que sejam do interesse da classe;
• divida a turma em grupos e peça que observem qual é a situação de comunicação
(onde o texto foi publicado, quem o escreveu, informações sobre o autor,
destinatário, finalidade);
• mostre aos alunos que os artigos costumam circular em jornais ou revistas e
geralmente são escritos por especialistas no assunto, os articulistas, que tomam
uma posição sobre uma questão polêmica;
• leve para a aula pelo menos um jornal que tenha coluna de opinião e peça à
turma que procure em que parte do jornal encontra-se o artigo de opinião, para
que possam identificar o gênero em seu suporte usual;
• leia, com a classe, o artigo encontrado e retome a conversa sobre a situação de
comunicação própria do artigo de opinião, deixando bem claro que o texto
discute uma questão polêmica, com base no ponto de vista do articulista.
Obs.: O professor deve registrar as oficinas. Escrever sobre as atividades
desenvolvidas, suas impressões, as dificuldades e as reações do grupo.
Passo 2 – Diagnóstico inicial:
Os alunos, agora, vão escrever o primeiro artigo de opinião. Mas antes disso, terão
de encontrar uma questão polêmica que os mobilize e mereça ser discutida por sua
relevância social:
• faça um levantamento, junto com a turma, de assuntos polêmicos que estão
circulando no rádio, na TV ou na imprensa;
• questione sobre o tema, para gerar discussão, controvérsia, diferentes pontos de
vista;
• proponha que escrevam sobre polêmicas que estejam vivendo na escola. Por
exemplo: uso do boné, namoro no pátio, celular em sala de aula, horário para
entrar na aula, etc.
• identifique com o grupo questões locais, da comunidade, que recentemente
provocaram discussões e podem estar ligadas a polêmicas mais amplas;
• escolhida a questão polêmica pela classe, proponha a realização de um debate.
Divida a turma em dois grupos. De um lado, ficam os que irão argumentar a
favor e, do outro, os que irão argumentar contra. Depois vice-versa.
Obs.: O professor será o mediador, por isso não deverá tomar partido, mas ajudar os
alunos a se posicionarem contra ou a favor, estimulando-os a fundamentarem suas
posições.
• proponha aos alunos a escrita de um artigo de opinião com base na questão
polêmica levantada por eles;
• ressalte que esse texto servirá para uma avaliação inicial do que eles já sabem e
do que precisam aprender sobre artigo de opinião. Além disso, será possível
comparar essa produção com o texto final e identificar os avanços dos alunos.
Passo 3 – Leitura de textos:
Para que os alunos ampliem seu repertório e se aproximem do gênero estudado,
eles precisam ler bons e variados textos. O professor deve atuar como mediador entre os
estudantes e o texto, incentivando, questionando, dando informações sobre o autor, seu
tempo, suas fontes, sua obra, seus interlocutores, seu estilo etc.
• a turma lerá com o professor um artigo sobre a maioridade penal, escrito por
Renato Roseno (anexo 1). Cada aluno deverá ter uma cópia onde farão
anotações.
• em duplas, peça que observem, durante a leitura, como o articulista vai tecendo
seus argumentos e escrevendo o artigo de opinião com elementos próprios do
gênero:
� baseia-se em uma questão polêmica que circula na imprensa, na mídia ou
na sociedade;
� toma uma posição em relação ao que já foi dito sobre o assunto
controverso;
� apresenta argumentos ou razões que sustentam a posição assumida;
� antecipa e contesta os argumentos dos oponentes;
� articula o texto e o finaliza com uma conclusão.
• peça aos alunos que leiam novamente e grifem os trechos que respondem às
seguintes questões:
1. Quem é o autor do texto? Em que esse autor é especialista?
2. Onde o texto foi publicado?
3. Qual a questão polêmica?
4. O autor refere-se a um acontecimento que o levou a escrever esse artigo.
Que acontecimento foi esse?
5. Qual a posição do autor a respeito da polêmica?
6. Que argumentos ele usa para justificar sua posição?
7. No texto, o autor apresenta argumentos de pessoas que discordam dele.
Que argumentos são esses?
8. O autor propõe alguma alternativa de tratamento para os jovens
infratores, ou seja, reflete a respeito de uma solução para a polêmica?
9. Qual o objetivo do autor?
10. Quem é o público leitor?
Obs.: As duas últimas questões podem ser inferidas durante a discussão com os alunos;
contudo, as respostas não estão explicitadas no texto.
Passo 4 – Estudo das características do gênero:
Para o estudo do gênero, são propostas várias atividades de oralidade, leitura,
escrita e reflexão sobre a língua. Elas levam o aluno a identificar as características
peculiares do gênero, como formas de composição, expressões próprias e tempos
verbais utilizados:
• providencie cópias do texto “Deficientes, feios e pobres”, escrito por Jessé
Souza (anexo 2) para que os alunos identifiquem a questão polêmica; a posição
que o autor tomou; os argumentos utilizados por ele;
• solicite aos alunos que grifem essas informações no texto para que também
possam identificar a contra-argumentação. Lance questões para ajudá-los nesse
desafio;
• os alunos devem registrar os argumentos de cada profissional citado no texto;
• esclareça que os argumentos estão vinculados entre si, ao longo do artigo, por
elementos articuladores;
• oriente os alunos a identificarem esses elementos e a usá-los apropriadamente.
Para isso, reproduza a tabela de atividade abaixo e o quadro com os elementos
articuladores;
• divida a classe em duplas, recorte e embaralhe cada conjunto da tabela abaixo e
depois distribua os envelopes para que os alunos montem as frases e as escrevam
no caderno;
• solicite que leiam em voz alta as frases montadas.
Tabela para atividade
Devemos ajudar nossos pais,
pois, sem dúvida,
a cooperação é um valor fundamental para a convivência familiar.
As propagandas mostram produtos atraentes indispensáveis para a nossa vida,
mas
cabe ao consumidor analisar aquilo de que realmente necessita e selecionar o que é bom.
O fumo faz mal à saúde. Portanto, as pessoas deveriam parar de fumar.
A água doce, por causa dos abusos cometidos, poderá acabar em nosso planeta.
Assim,
é preciso definir algumas regras para o uso racional da água.
A limpeza de terrenos e casas é necessária para impedir a propagação do mosquito da dengue.
Além disso,
é importante que se faça uma campanha de conscientização para que as pessoas não deixem que a água se acumule em vasos e outros recipientes.
Se o desmatamento não diminuir, é provável
que a Amazônia se transforme em um imenso deserto.
É indispensável que se intensifiquem campanhas de coleta seletiva de lixo nas escolas, famílias e comunidade,
pois dessa forma
a responsabilidade cidadã crescerá entre os moradores.
A pena de morte não é solução para a criminalidade.
Primeiramente,
está comprovado que os crimes hediondos não deixaram de ocorrer nos países que a adotaram.
A pena de morte não é solução para a criminalidade.
Em segundo lugar,
porque muitos dos que foram executados tiveram, posteriormente, sua inocência comprovada.
A pena de morte não é solução para a criminalidade.
Finalmente,
não matar os semelhantes é um princípio ético fundamental.
ELEMENTOS ARTICULADORES
Uso Expressões
Tomada de posição Do meu ponto de vista / na minha opinião / pensamos que / pessoalmente acho
Indicação de certeza Sem dúvida / está claro que / com certeza / é indiscutível
Indicação de probabilidade Provavelmente / me parece que / ao que tudo indica / é possível que
Relação de causa e consequência Porque / pois / então / logo / portanto / consequentemente
Acréscimo de argumentos Além disso / também / ademais
Indicação de restrição Mas / porém / todavia / contudo / entretanto / apesar de / não obstante
Organização geral do texto Inicialmente / primeiramente / em segundo lugar / por um lado / por outro lado / por fim
Introdução de conclusão Assim / finalmente / para finalizar / concluindo / enfim / em resumo
Passo 5 – Pesquisa sobre o tema:
Em qualquer situação comunicativa, é preciso conhecer o assunto sobre o qual se
escreve ou fala. A pesquisa é fundamental – consultar diferentes fontes, entrevistar
pessoas, analisar documentos e coletar dados da cultura local. Essas informações são
organizadas em uma síntese (cartaz ou quadro) para serem compartilhadas com o grupo
e consultadas sempre que necessário:
• distribua cópias do texto “R$ 14,53 para viver o dia”, de Sylvia Romano (anexo
3) e peça aos alunos que leiam;
• proponha que façam uma pesquisa sobre o assunto, de modo que possam
embasar a construção de argumentos na produção coletiva;
• divida a classe em grupos de pesquisa. Cada grupo terá que buscar informações
sobre um dos aspectos da questão polêmica. Solicite que registrem os dados
coletados;
• peça que recorram a diferentes fontes, como: jornais, livros, internet, prefeitura,
delegacia, ONGs, autoridades, empresários, enquetes, trabalhadores, etc;
• os alunos devem socializar a pesquisa sobre os diferentes aspectos da questão
polêmica e anotar os resultados obtidos;
Obs.: O professor deve anotar na lousa ou em uma grande folha só os resultados
relevantes das pesquisas, aqueles que poderão ser transformados em argumentos de
diferentes tipos.
• providencie cópias do quadro “Tipos de Argumento”, para que os alunos
possam consultar e identificar os tipos de argumentos que podem ser utilizados
na produção do artigo de opinião:
TIPOS DE ARGUMENTO
Argumentos Explicação
de autoridade
Ajuda a sustentar sua posição, lançando mão da voz
de um especialista, uma pessoa respeitável (líder,
artista, político), uma instituição de pesquisa
considerada autoridade no assunto.
De exemplificação
Relata um fato ocorrido com ele ou com alguém
para dar um exemplo de como aquilo que ele
defende é válido.
De provas
Comprova seus argumentos com informações
incontestáveis: dados estatísticos, fatos históricos,
acontecimentos notórios.
De princípio ou crença pessoal
Refere-se a valores éticos ou morais supostamente
irrefutáveis.
De causa e consequência Afirma que um fato ocorre em decorrência de outro.
Passo 6 – Produção coletiva do texto:
Na produção coletiva do texto, orientada pelo professor, os alunos organizam e
sintetizam o que foi aprendido. A troca de informações entre colegas permite ao aluno
que está em uma etapa mais avançada de conhecimento auxiliar no processo de
aprendizagem dos demais. Durante as discussões, aparecem diferentes pontos de vista, e
os alunos podem compreender que há vários modos de dar tom ao texto. Na negociação
sobre o que deve ser escrito, de que maneira e em que ordem, há a possibilidade de
autoria coletiva. Além de incentivar a participação de todos, essa produção oferece um
modelo para a escrita do texto individual.
• peça aos alunos que reescrevam, coletivamente, o texto “R$ 14,53 para viver o
dia”, de Sylvia Romano, com o objetivo de melhorá-lo, aproximá-lo do gênero
artigo de opinião;
• converse com eles sobre as possíveis modificações. Para isso, pergunte-lhes:
1. O título é adequado para um artigo de opinião? Por quê?
2. O autor indica claramente a questão polêmica?
3. Há diferentes vozes no texto? De quem são essa vozes?
4. Os argumentos apresentados são convincentes? Mostram dados, exemplos,
referem-se explicitamente a valores éticos ou morais; revelam a relação de
causa e consequência?
5. O autor usa elementos articuladores?
• valorize a participação de todos, mas interfira com suas contribuições;
• defina alguém para escrever o texto na lousa e peça a todos que copiem a
reescrita;
• lembre os grupos que o texto resultante dessa reelaboração é uma possibilidade,
entre outras.
Passo 7 – Produção individual:
O desafio dessa etapa é a escrita individual do texto. O professor pode relembrar a
situação de comunicação proposta no início da sequência didática. Além disso, deve
rever as aprendizagens sobre elementos do gênero estudado. Espera-se, nessa etapa, que
o aluno ponha em prática grande parte do que foi ensinado.
• retome com seus alunos o percurso feito até agora;
• cada aluno vai produzir um texto individual com base numa questão polêmica,
que tenha relação com a pesquisa feita, para que tenha o que dizer e possam
fundamentar a posição assumida;
• lembre a seus alunos que, como articulistas, devem:
o tomar uma posição, a favor ou contra, sobre o tema que provoca
desacordos, controvérsias;
o justificar e sustentar sua posição com um conjunto de argumentos ou
razões;
o antecipar e contestar argumentos contrários ao seu ponto de vista;
o planejar a organização dos argumentos;
o estabelecer a ligação entre diferentes partes do texto;
o acabar seu texto, reforçando a posição que defende.
o usar elementos articuladores.
Passo 8 – Aprimoramento e reescrita do texto:
Depois da escrita individual, o aluno fará a revisão e as reformulações necessárias
para o aprimoramento de seu texto. A escrita deve ser corrigida no final. O texto,
durante muito tempo provisório, é o instrumento de elaboração do texto definitivo. Na
atividade escrita, o processo de produção e o produto final são, normalmente, separados.
O aluno-autor pode considerar seu texto como um objeto a ser retrabalhado, revisto,
refeito, mesmo a ser descartado, até o momento em que o dá ao seu destinatário. O
texto permanece provisório enquanto estiver submetido a esse trabalho de reescrita.
O professor, de posse de um roteiro fará as seguintes observações no texto do
aluno:
1. Colocou o leitor a par da questão polêmica?
2. Tomou uma posição?
3. Introduziu-a com expressões como: “penso que”, “na minha opinião”?
4. Levou em consideração os pontos de vista dos adversários para construir seus
argumentos?
5. Usou expressões que introduzem os argumentos, como “pois”, “porque”?
6. Utilizou argumentos de autoridade e/ou exemplos?
7. Usou expressões para introduzir a conclusão, como: “então”, “assim”, “portanto”?
8. Concluiu o texto reforçando sua posição?
9. Verificou se a pontuação está correta?
10. Lembrou-se de iniciar com letra maiúscula os nomes próprios, o início de
parágrafos e após o ponto final?
11. Corrigiu os erros de ortografia?
12. Substituiu palavras repetidas desnecessárias?
13. Escreveu com letra legível para que todos possam entender?
14. Encontrou um bom título para o artigo?
Comparação analítica entre a 1ª versão e a versão final:
Ao examinar as correções efetuadas pelos alunos, a partir das sugestões de revisão
que propomos, procuraremos detectar se o problema foi compreendido objetivamente e
representado pelo aluno no texto.
Para a revisão dos textos, sugerimos as operações sistematizadas por Fabre (in
Menegassi, 2001):
a) Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um elemento gráfico, acento,
sinal de pontuação, grafema (...) mas também do acréscimo de uma palavra, de um
sintagma, de uma ou de várias frases.
b) Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimido. Ela pode ser aplicada
sobre unidades diversas, acento, grafemas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou
diversas frases.
c) Substituição: supressão, seguida de substituição por um termo novo. Ela se aplica
sobre um grafema, uma palavra, um sintagma, ou sobre conjuntos generalizados.
d) Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por modificar sua ordem no
processo de encadeamento.
Embora saibamos que a interferência do professor se faz necessária, no momento
da revisão, nem sempre os comentários são claros como deveriam ser impedindo o
aluno de manifestar com qualidade suas reformulações.
AVALIAÇÃO “Artigo de opinião” A avaliação deve considerar, sobretudo, se o texto busca convencer o leitor. Os 7,0 pontos atribuídos aos aspectos próprios do gênero estão divididos em:
Pertinência ao tema 1,0 O texto está apropriado ao tema estabelecido
Presença de elementos da argumentação
3,0
•Tomada de posição.
•Apresentação de dois ou mais argumentos para convencer o leitor.
•Consideração pelo ponto de vista dos opositores.
•Conclusão, com reforço da posição tomada.
• Utilização de expressões que introduzem argumentos, evidenciam a posição tomada pelo autor e a conclusão.
Busca de informações 2,0 O texto deixa transparecer que o autor buscou sobre o tema informações para produzi-lo e elas são pertinentes e diversificadas.
Originalidade 1,0 O texto surpreende o leitor por trazer inovação.
O autor usou recursos que o tornam interessante.
Os 3,0 pontos atribuídos aos aspectos mais gerais do texto são divididos em:
Aspectos gerais de gramática e ortografia 3,0
• Concordância verbal.
• Concordância nominal.
• Uso do pronome.
• Pontuação.
• Uso de maiúscula.
• Uso de parágrafo.
• Ortografia.
Passo 9 – Publicação do texto produzido:
Para finalizar o trabalho, o professor prepara os textos produzidos pelos alunos
para publicação. Os artigos de opinião podem ser publicados no jornal local, jornal
mural ou na internet (site da escola / blog, etc).
Para valorizar a conquista dos alunos, pode-se promover uma cerimônia especial
de lançamento da publicação ou de inauguração do mural.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
CENPEC. Escrevendo o Futuro. http://escrevendo.cenpec.org.br
GAGLIARDI, Eliana. Pontos de vista / Eliana Gagliardi, Heloisa Amaral – São Paulo:
Cenpec: Fundação Itaú Social; Brasília, DF: MEC, 2008.
ANEXO I
Sou contra a redução da maioridade penal
Renato Roseno
A brutalidade cometida contra dois jovens em São Paulo reacendeu uma fogueira:
a redução da idade penal. Algumas pessoas defendem a ideia de que a partir dos
dezesseis anos os jovens que cometem crimes devem cumprir pena em prisão.
Acreditam que a violência pode estar aumentando porque as penas que estão previstas
em lei, ou a aplicação delas, são muito suaves para os menores de idade. Mas é
necessário pensar nos porquês da violência, já que não há um único tipo de crime.
Vivemos em um sistema socioeconômico historicamente desigual e violento, que
só pode gerar mais violência. Então, medidas mais repressivas nos dão a falsa sensação
de que algo está sendo feito, mas o problema só piora. Por isso, temos que fazer as
opções mais eficientes e mais condizentes com os valores que defendemos.
Defendo uma sociedade que cometa menos crimes e não que puna mais. Em
nenhum lugar do mundo houve experiência positiva de adolescentes e adultos juntos no
mesmo sistema penal. Fazer isso não diminuirá a violência. Nosso sistema penal como
está não melhora as pessoas.
O problema não está só na lei, mas na capacidade para aplicá-la.
Sou contra porque a possibilidade de sobrevivência e transformação destes
adolescentes está na correta aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Lá estão previstas seis medidas diferentes para a resposibilização de adolescentes que
violaram a lei. Para fazer bom uso do ECA é necessário dinheiro, competência e
vontade.
Sou contra toda e qualquer forma de impunidade. Quem fere a lei deve ser
responsabilizado. Mas reduzir a idade penal é ineficiente para atacar o problema.
Problemas complexos não serão superados de modo simplório e imediatista. Precisamos
de inteligência, orçamento e, sobretudo, de um projeto ético e político de sociedade que
valorize a vida em todas as suas formas. Nossos jovens não precisam ir para a cadeia.
Precisam sair do caminho que os leva até lá. A decisão agora é nossa: se queremos
construir um país com mais prisões ou com mais parques e escolas.
Renato Roseno é advogado, coordenador do
Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca – Ceará) e da
Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced).
Fonte: www.cedecaceara.org.br/maioridadena.htm.
ANEXO II
Deficientes, feios e pobres
Jessé Souza
Esse mundinho de criar frase politicamente correta para os excluídos ou injustiçados é mais que hipocrisia. É idiotizante. Querem transformar negros em afro-descendentes. Índios em nativos. Deficientes físicos em portadores de necessidades especiais. Tudo isto não passa de uma forma que os politicamente corretos acharam para tentar esconder que - mesmo com o pomposo nome de portadores de necessidades especiais - os deficientes físicos continuam sem acesso, sem respeito e sem poder exercer plenamente sua cidadania. Tenho um irmão cadeirante (que anda de cadeira de roda, um paraplégico T-4) - aviso logo, antes que digam que estou comentando algo que eu não entendo. E não é uma terminologia pomposa que o vai dignificar ou mudar a situação de exclusão em que vive, mesmo rodeado de pessoas que o apóiam e o ajudam a ultrapassar obstáculos tanto físicos quanto psíquicos. Os prédios não dão acessibilidade, os taxistas fazem cara feia e não param, os ônibus não estão adaptados e as pessoas, em vez de tratarem o deficiente físico como um cidadão, acabam os classificando como coitadinhos ou os rodeando de uma pena irritante. Entre eles mesmos, os cadeirantes se divertem os colocando apelidos e chamando sem arrodeios ou hipocrisia por suas deficiências. E nós, tendo um em nossa família, aprendemos que essa história de palavras politicamente corretas não passa de uma cortina para esconder as graves falhas da sociedade com quem é diferente, feio, aleijado, pobre, de cor... Não importa se chamamos de puta, garota de programa, mulher da vida ou qualquer terminologia politicamente correta. O que importa é se este politicamente correto é só da boca para fora ou estamos carregados de preconceito ou exclusão. Não interessa se o cadeirante é paraplégico, aleijado, deficiente ou portador de necessidades especiais. Importa é o engenheiro construir rampas, o taxista parar e dobrar sua cadeira no porta-malas, o prédio público ter banheiros adaptados e os meios-fios adaptados. Jamais iremos construir um mundo sem exclusão achando que buscando palavras politicamente corretas estamos acionando uma varinha de condão para incluir e dar acessibilidade aos deficientes ou mudando a mentalidade de quem discrimina e exclui. Só vamos mudar a realidade de quem está em desvantagem em relação aos que se acham normais permitindo que os portadores ou deficientes de toda espécie exerçam sozinhos seu direito de ir e vir, sintam-se cidadãos plenos e possam viver sem ser tratados como coitadinhos, que precisam de pena e dó para que as leis sejam respeitadas.
Jessé de Souza é jornalista. Fonte: Folha da Boa Vista, 19/9/2007.
ANEXO III
R$ 14,53 para viver o dia
Sylvia Romano
“O salário mínimo surgiu no Brasil em meados da década de 30. A Lei nº 185 de
janeiro de 1936 e o Decreto-Lei nº 399 de abril de 1936 regulamentaram a instituição do
salário mínimo como, a remuneração mínima devida a todo trabalhador adulto, sem
distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada
época e região do país, as necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário,
higiene e transporte. O Decreto-Lei nº 2126 de 1º de maio de 1940 fixou os valores do
salário mínimo, que passaram a vigorar a partir do mesmo ano.”
Quando o então presidente Getúlio Vargas anunciou a implantação do salário
mínimo, a notícia foi recebida com euforia e, de imediato, milhões de trabalhadores
foram beneficiados com a nova medida, já que na época ganhavam abaixo desse valor.
Agora, acaba de ser divulgado em nossos principais veículos de comunicação que
o brasileiro passará a ter em 2008 um reajuste do salário mínimo e que o mesmo será
elevado para R$ 408,00 (quatrocentos e oito reais) mensais.
Fazendo um cálculo primário, multiplicando a importância por 13 meses,
somando-se o 13º salário e dividindo-se o total por 365 dias do ano, chegaremos ao
valor de R$ 14,53 (quatorze reais e cinquenta e três centavos) para sobreviver um dia.
Com esta importância o brasileiro, se for sozinho, sem mulher, filhos e agregados, terá
de pagar transporte, moradia, alimentação, serviços básicos, impostos, vestuário e outras
necessidades prementes como, saúde e educação, ou seja, o básico que uma vida digna
exige.
Levando-se em conta que a grande parcela de salários é exatamente o salário
mínimo, surge uma questão: Como essa enorme população viverá? Será que os
economistas do governo já fizeram essa conta simplista? Não saberia calcular o mínimo
necessário para se ter a dignidade da independência financeira, até porque ela varia
muito de pessoa para pessoa, de região para região e de referencial para referencial. Mas
tenho certeza que, com o novo salário mínimo que se pretende para 2008, vamos
continuar a ver a pobreza florescendo dia a dia e, com ela, a violência crescendo cada
vez mais, pois frente as necessidades da miséria, não restará ao cidadão menos
favorecido outra alternativa senão a delinqüência e a violência, únicas saídas para a
sobrevivência.
O salário mínimo foi criado para atender as necessidades básicas do trabalhador.
Seria bom que os nossos atuais governantes se inteirassem da realidade e revissem,
junto aos seus economistas, a situação financeira da nossa população.
Sylvia Romano é advogada trabalhista,
responsável pelo Sylvia Romano
Consultores Associados, de São Paulo.