DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · Mas se ele dizia “sibolete” porque não podia falar...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
LEVANTAMENTO HISTÓRICO DE INSTRUMENTOS E CRITÉRIOS UTILIZADOS NOS PROCESSOS EDUCATIVOS E SUAS
MANIFESTAÇÕES SOCIAIS
MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
CURITIBA
2010
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
KATYA APARECIDA DE CARVALHO PRUST
LEVANTAMENTO HISTÓRICO DE INSTRUMENTOS E CRITÉRIOS UTILIZADOS NOS PROCESSOS EDUCATIVOS E SUAS
MANIFESTAÇÕES SOCIAIS
Material Didático-Pedagógico – Caderno Pedagógico – apresentado à Secretaria Estadual de Educação do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de Professor PDE, sob a responsabilidade da Universidade Federal do Paraná, tendo como orientadora a Professora Doutora Ana Maria Petraitis Liblik.
CURITIBA2010
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO – CADERNO PEDAGÓGICO
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Katya Aparecida de Carvalho Prust
Área PDE: Matemática
NRE: Curitiba
Professor Orientador IES: Prof.ª Dr.ª Ana Maria Petraitis Liblik
IES vinculada: UFPR
Escola de implementação: Colégio Estadual Guaíra
Público objeto da intervenção: Professores e Pedagogos
CADERNO PEDAGÓGICO
SABERES E PRÁTICASAVALIATIVAS
Curitiba2010
ESTRUTURA ORGANIZACIONALGoverno do Estado do Paraná
Secretaria de Estado da Educação do ParanáUniversidade Federal do Paraná
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2009
AUTORIAJocele Lecheta (Pedagogia)
Katya Aparecida de Carvalho Prust (Matemática)Maria do Socorro dos Santos (Pedagogia)
Sirlene Benvinda da Silva Ribas (Pedagogia)Soeli de Fátima de Oliveira Murbach (Pedagogia)
Ana Maria Petraitis Liblik(Orientadora)
ÁREAS DE ATUAÇÃOMatemáticaPedagogia
Curitiba2010
SUMÁRIO
• Unidade I
Avaliação Escolar: a trajetória de um contexto educativo.....................03
• Unidade II
Levantamento histórico de instrumentos e critérios utilizados
nos processos educativos e suas manifestações sociais...................13
• Unidade III
Concepção de avaliação no Estado do Paraná e no Brasil...................32
• Unidade IV
Instrumentalizando a Avaliação..............................................................56
• Unidade V
Segredos de uma avaliação que pode “dar certo”..................................69
Unidade II
Levantamento histórico de instrumentos e critérios utilizadosnos processos educativos e suas manifestações sociais
Katya Aparecida de Carvalho [email protected]
O tema avaliação no processo ensino aprendizagem se encontra na pauta de
discussões de todos os setores relacionados à Educação, da sala de aula aos gabinetes
dos gestores da área, das reuniões com os pais aos grandes congressos sobre
Educação, muitos são os estudos dedicados ao tema.
Este trabalho tem como objetivo buscar entre pensadores e/ou estudiosos da
educação, como eles sugerem a verificação do processo de ensino e aprendizagem para
que atenda às necessidades de suas propostas e/ou teorias.
Identificamos o teste oral ou escrito como o instrumento mais antigo e mais
conhecido que se tem registros. Na história das civilizações, encontramos na China os
primeiros registros, não formais, que podemos considerar como uma prática avaliativa
utilizada pelo homem. Em 2205 a.C. o imperador chinês “Shun”, promovia ou demitia seus
oficiais por meio de exames.
No ano de 1143 a.C. encontramos outra situação em que foi utilizado exame oral.
Está registrado no livro de Juízes, capítulo 12 versículos 5 e 6 da Bíblia:
Para não deixar que os efraimitas passassem, os gileaditas tomaram os lugares onde o rio Jordão podia ser atravessado. Quando algum efraimita que estava tentando escapar pedia para atravessar o rio, os homens de Gileade perguntavam: - você é efraimita? Se ele respondia que não, eles o mandavam dizer a palavra “chibolete”. Mas se ele dizia “sibolete” porque não podia falar direito a palavra, então o agarravam e matavam ali mesmo, na beira do rio Jordão. Naquela ocasião foram mortos quarenta e dois mil efraimitas. (Jz 12.5-6).
Pode-se observar nesta passagem que os israelitas que se encontravam a leste do
rio Jordão pronunciavam o primeiro fonema da palavra “chibolete” com o som de “ch” (do
hebraico quer dizer águas correntes), porém os que viviam em Canaã a oeste do rio
Jordão, não conseguiam pronunciar o “ch” e diziam “sibolete” com som de “s”. Portanto,
os efraimitas eram identificados por seu jeito de falar e o processo avaliativo, neste caso,
se dava pela oralidade.
Figura 1 – Esquema representativo do Rio Jordão.
Na Grécia antiga, encontramos Sócrates que utilizava o inquérito oral com seus
alunos. Ele partia de perguntas simples, porém articuladas a um contexto e levava o aluno
a parir ideias complexas, método este denominado maiêutica, nome dado pela
associação que ele fez do método, à profissão de sua mãe, que era parteira. Em sua
analogia, assim como a parteira não faz o bebê, apenas o ajuda a nascer, os conceitos
eram reconstruídos pelo próprio aluno e emergiam de reflexões e aproximações
sucessivas até obter o conceito verdadeiro. Talvez possamos associar a Sócrates as
primeiras evidências do processo de auto-avaliação.
A corrente do humanismo propõe uma avaliação em que o aluno tenha um
atendimento diferenciado respeitando suas diferenças individuais, com o objetivo de
prepará-lo de acordo com seus interesses e aptidões. Contudo a ênfase era dada na
memorização, na leitura em voz alta feita pelo aluno, para que o professor pudesse
avaliar o quanto o aluno havia apreendido sobre o conteúdo trabalhado.
Ainda na corrente humanista, durante o período da Renascença, encontramos
Martinho Lutero, responsável pela Reforma Protestante e que promoveu também uma
reforma no sistema de ensino alemão, dando início a escola moderna. Lutero é o
precursor da ideia de escola pública e para todos. Segundo ele, a maior força de uma
cidade é ter muitos cidadãos instruídos. Na área de Educação foi a partir de suas
proposições que o ensino foi dividido em ciclos – fundamental, médio e superior.
Paralelamente as ideias de Lutero, podemos citar a Companhia de Jesus criada por
Inácio de Loyola em 1534, num movimento da igreja católica que se opõe à Reforma
Protestante, chamada de Contra-Reforma.
Lembramos que os Jesuítas tiveram grande influência na educação brasileira.
Chegaram ao Brasil em1549 e por 210 anos, ou seja, até 1759 foram os mentores da
educação brasileira. Até os dias atuais vivenciamos em nossas escolas herança deste
processo educativo. Ao observarmos a avaliação proposta nos centros educativos da
Companhia de Jesus, podemos identificar algumas semelhanças entre estas e as práticas
avaliativas atuais.
Os colégios pertencentes à Congregação seguiram a orientação denominada
modus parisiensis, método adotado na Universidade de Paris, instituição na qual
estudaram maioria dos padres que fundaram o primeiro colégio dos jesuítas. O método
tinha, “como aspectos básicos, a distribuição dos alunos em classes, realização, pelos
alunos, de exercícios escolares e mecanismos de incentivo ao trabalho escolar”.
(SAVIANI, 2008, P.52).
Dermeval Saviani, a seguir, esclarece a forma de trabalho proposta no modus
parisiensis e adotado pelos colégios jesuítas.
Os exercícios escolares tinham como objetivo mobilizar, no processo de aprendizagem, as faculdades do aluno. Baseando-se na escolástica, o modus parisiensis tinha como pilares a lectio, isto é, preleção dos assuntos que deviam ser estudados, o que podia ser feito literalmente por meio de leitura; a disputatio, que se destinava ao exame das questiones suscitadas pela lectio; e as repetitiones, nas quais os alunos, geralmente em pequenos grupos, repetiam as lições explanadas pelo professor diante dele ou de um aluno mais adiantado. (...) Pode-se considerar que o modus parisiensis contém o germe da organização do ensino que veio a constituir a escola moderna, que supõe edifícios específicos, classes homogêneas, a progressão dos níveis de escolaridade constituindo as séries e programas sequenciais ordenando conhecimentos ministrados por determinado professor. (SAVIANI, 2008, P.52)
Figura 2 - Antigo Mosteiro dos Frades Jesuítas, no Maciço de BaturitéFonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mosteiro_dos_Frades_Jesu%C3%ADtas_02.JPG
A partir do modus parisiensis, podemos observar o processo avaliativo proposto
no Paradigma Pedagógico Inaciano, segundo Andréa Cecília Ramal,
recomenda-se que se utilizem perguntas diárias, provas semanais ou mensais e outros exames como instrumentos usuais de avaliação, que vão informar o professor e o aluno sobre o progresso intelectual e detectar as lacunas que deverão ser preenchidas. (RAMAL, 1997, p.63).
A autora continua,
(...) A avaliação é considerada um momento não isolado, mas em harmonia com todo o processo pedagógico, é um diagnóstico, uma oportunidade privilegiada para que o professor estimule o aluno a avançar ou a rever certos pontos. (RAMAL, 1997, p.66).
É possível observar na proposta Inaciana também, o valor da avaliação como
feedback sobre o trabalho do professor, possibilitando um repensar de sua prática
pedagógica.
Um pouco antes, no início do século XVII, Comenius, considerado o pai da
Didática, propõe em sua célebre obra Didática Magna (1658) uma forma diferenciada de
ensinar em substituição ao ensino preceptorial, ele advoga por um modo simultâneo de
ensinar.
Conforme o autor:
O nosso método didático exige necessariamente que todos os alunos de uma escola sejam confiados ao mesmo professor, para que os eduque e instrua com os
mesmos preceitos e os forme gradualmente, desde o principio até ao fim, não admitindo nenhum na escola depois do principio das lições, nem deixando que nenhum se vá embora antes do fim. Assim se conseguirá que um só professor seja suficiente para uma população escolar mesmo muito numerosa, e que todos aprendam tudo, sem lacunas nem interrupções. Será necessário, portanto, que todas as escolas públicas se abram e se encerrem uma vez por ano [...] para que, em cada ano, o programa de cada classe possa ser desenvolvido e todos os alunos (a não ser que a deficiência mental de alguns o impeça), conduzidos em conjunto para a meta, sejam promovidos em conjunto à classe superior, precisamente como acontece nas tipografias, em que, tirada a primeira folha para todos os exemplares, se passa à segunda, à terceira, e assim sucessivamente. (COMENIUS, 2001, p. 526-527).
Figura 3 - Johann Amos ComeniusFonte: http://search.creativecommons.org/?q=comenius&derivatives=on&format=Image
Segundo Comenius, o aluno deve “perguntar ao professor, reter o que perguntou e
ensinar o que reteve”. Ele sugere que após a apresentação de uma determinada matéria,
deve-se solicitar a um aluno que repita tudo que o professor explicou, e cite suas
aplicações utilizando os mesmos exemplos usados pelo professor. Caso o aluno tenha
dificuldades ou cometa equívocos em sua apresentação o professor deve corrigir e
explicar novamente. Na sequência solicita que outro aluno faça a apresentação – do
mesmo conteúdo – e procede da mesma forma, até que todos os alunos da turma façam
a apresentação e todas as dúvidas sejam sanadas. Comenius sugere que as
apresentações iniciem com os alunos que tenham menos dificuldades nos conteúdos e
mais facilidade em falar, pois isto incentivará os demais que segundo o autor “possam
mais facilmente segui-los”. Ao utilizar esta estratégia como forma de avaliação Comenius
cita que:
O professor poderá verificar melhor se todas as regras expostas foram bem entendidas por todos; se assim não aconteceu, fará as devidas correções, com grande vantagem para si e para os alunos... Uma vez que, deste modo, o aluno é admitido a exercer como que o ofício do professor, despertará na sua mente um grande desejo e um grande ardor de aprender e adquirirá o dom de saber tratar, com palavra franca e coragem, de qualquer assunto perante o público, o que será de grande utilidade na vida”. (COMENIUS, 1627, p.287- 288).
Jean-Jacques Rousseau, um dos mais influentes filósofos do século XVIII,
considerado também grande educador do pensamento pedagógico iluminista, via o jovem
como ser integral, completo e foi o precursor dos estudos relacionados às várias fases do
desenvolvimento infantil.
Rousseau inovou ao propor uma educação diferenciada para as crianças,
combatendo a ideia de que as crianças deveriam ser educadas de acordo com os
interesses do adulto ou para atender os objetivos da vida adulta.
Segundo Rousseau,a natureza quer que as crianças sejam crianças antes de ser homens. Se quisermos perturbar essa ordem, produziremos frutos precoces, que não tardarão em corromper-se; teremos jovens doutores e crianças velhas. (ROUSSEAU, 1979, p.75).
Figura 4 - Capa da primeira edição de Emilio ou da Educação.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:EmileTitle.jpeg
Rousseau acreditava que o objetivo principal da educação era preparar a criança
para a liberdade, esta deveria aprender, a viver e a exercer a liberdade. Em sua obra
Emílio, o tema é abordado ao afirmar que “a liberdade não está em nenhuma forma de
governo, está no coração do homem livre; ele carrega por toda parte consigo. O homem
vil carrega por toda parte a escravidão”. (ROUSSEAU, 1979, p.560).
Ao nos depararmos com a obra de Rousseau, podemos observar que o filósofo
propõe uma avaliação baseada na observação que o mestre faz de seu aluno, uma vez
que considera que a educação não é mais do que pura expressão livre da criança ao se
relacionar com a natureza. Para ele o mestre deveria aguardar que a criança
demonstrasse interesse por um determinado assunto e a partir daí formular suas próprias
perguntas. Ao mestre caberia respeitar o desenvolvimento do aluno, possibilitando que a
aprendizagem ocorra de forma natural no tempo adequado de acordo como os interesses
e aptidões do educando. Com essa proposta pedagógica a criança é educada de forma
descontraída sem que haja imposições.
No final do século XIX, 1870, nasce na Itália a médica e educadora Maria
Montessori. No início da carreira dedicou seu trabalho a crianças com dificuldades de
aprendizagem, e como médica, procurou identificar como as crianças aprendem. Suas
observações apontaram que a aprendizagem é construída a partir do que existe no
ambiente ao qual a criança está inserida e a partir dessas observações deu início a um
método diferenciado que buscava atender às necessidades dessas crianças.
A aplicação efetiva do Método Montessori se dá a partir da inauguração da “Casa
dei Bambini” em Roma no ano de 1907. Na casa ela experimentou inúmeras inovações,
algumas utilizadas até os dias atuais como: a utilização de brinquedos educativos e
mesas e cadeiras menores, adequadas às crianças das turmas de educação infantil.
Figura 5 - Maria Montessori (1870 – 1952) Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Maria_Montessori.jpg
Para Montessori, assim como a criança aprende espontaneamente a engatinhar,
caminhar e correr ela aprende a falar, escrever e ler. Para ela o desejo natural de
aprender deve ser cultivado na criança. Seus estudos foram embasados em suas
observações, analisando o que as crianças faziam sozinhas de forma natural sem a
interferência dos adultos.
No Método Montessori o educador atua como um guia, aquele que propõe
desafios, sugere mudanças, observa o trabalho do aluno, suas conquistas, acompanha o
processo individual de aprendizagem, respeitando o momento e o ritmo de cada aluno. O
método tem como princípios a liberdade, a atividade e a individualidade.
O processo avaliativo proposto entende o erro, o equívoco ou a falta como parte da
aprendizagem, ao contrário dos métodos tradicionais, não são ressaltados ou
assinalados, mas valorizados, entendidos como mais uma etapa do processo de
aprendizagem. Este procedimento busca estimular a auto-avaliação no aluno. O professor
acompanha o desenvolvimento do educando e só propõe novos desafios quando percebe
que o aluno já superou a etapa em que se encontra.
No Brasil do século XX temos grandes educadores. Optamos por abordar o
trabalho realizado por Anísio Teixeira, considerando sua luta desde o início do século pela
obrigatoriedade do ensino público, gratuito, laico com acesso a todos os cidadãos. Sua
luta incluía a defesa de uma formação adequada aos professores, especialmente para
aqueles que atuam nas séries iniciais do ensino fundamental.
Em sua obra, evidencia o grande afunilamento existente no processo educacional
brasileiro, uma vez que a grande maioria dos educandos não consegue concluir a
educação básica. Para Anísio, este afunilamento está associado à situação econômica
dos alunos e não em função da competência de cada um.
Anísio Teixeira participou ativamente, junto com Florestam Fernandes, da
elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932), em que defendia a
educação como instrumento de reconstrução nacional, uma educação que atendesse aos
interesses dos educandos, respeitando suas características regionais e individuais.
Durante as décadas de 30 e 40 Anísio se manteve afastado da vida pública, por ser
considerado comunista e perseguido pelo clero.
Em 1950 Anísio Teixeira retoma à vida pública criando o Centro Popular de
Educação Carneiro Ribeiro, conhecido como Escola Parque, no Bairro da Liberdade em
Salvador. Neste espaço ele concretiza o que defendia, uma escola que ofertava à criança
uma educação integral, em que oferecia alimentação, higiene, socialização e também
preparava o aluno para o trabalho e cidadania.
Figura 6 - Anísio Teixeira (1900 – 1971)
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:An%C3%ADsioTeixeira.jpg
Segundo Anísio,
(...) não podemos ser uma escola de tempo parcial, nem uma escola somente de letras, nem uma escola de iniciação intelectual, mas uma escola sobretudo prática, de iniciação ao trabalho, de formação de hábitos de pensar, hábitos de fazer, hábitos de trabalhar e hábitos de conviver e participar em uma sociedade democrática, cujo soberano é o próprio cidadão. (TEIXEIRA, 1999, p.63).
Na Escola Parque Anísio consegue mostrar que é possível no Brasil oferecer uma
educação de qualidade para a classe da população que mais precisa dela: as classes
desprivilegiadas.
Ao longo de sua obra é possível observar que no processo avaliativo o professor
deveria valorizar os aspectos afetivos, as atitudes, a participação, o interesse, a
socialização e a conduta, priorizando a auto-avaliação.
O processo educacional manifestava-se frente a sociedade de diversas maneiras.
Havia nas escolas quadros de honra, certificados de honra ao mérito, entre outros
documentos nos quais as famílias viam o aproveitamento de seus filhos. Mensal ou
bimestralmente, os alunos recebiam os resultados de seus esforços nas avaliações em
um boletim ou, às vezes, em uma caderneta que era o documento formal do aluno. Nela,
além das notas, estava a frequência, as regras, os deveres dos alunos.
Para ilustrar, apresentamos a seguir a Caderneta Escolar de um aluno da década
de 50. Nela podemos identificar o modelo tradicional de educação adotado na época, a
rigidez na disciplina, a avaliação do aproveitamento do aluno, e a valorização da escola
pela sociedade.
A Caderneta Escolar apresentada a seguir, pertencia a um aluno da 1ª série do
Científico de 1959, equivalente ao 1° ano do Ensino Médio atual, do Colégio Estadual e
Escola Normal Antonio Firmino de Proença de São Paulo.
Figura 7 – Página de apresentação da Caderneta Escolar.¹
¹ Foram retirados a foto e nome do aluno para evitar a identificação do mesmo.
Nesta época a Caderneta Escolar era utilizada como documento de identificação,
uma vez que esta continha um número que identificava o portador da Caderneta, sua foto,
dados pessoais, como nome do pai, naturalidade, data de nascimento, endereço e
também informava o período em que o aluno frequentava as aulas.
Figura 8 – Página de identificação do aluno.²² Foram retirados o nome do aluno e de seu pai para evitar a identificação do mesmo.
Historicamente constatamos que a Caderneta Escolar era mais que um documento
que identificava o aluno na escola ou fora dela. Trazia em seu corpo orientações gerais
sobre a atuação do aluno, seu comportamento, aproveitamento escolar, quais os deveres
e o que era vedado ao aluno e também sobre a utilização da mesma, como podemos
observar na página 4, reproduzida a seguir.
Figura 9 – Apresenta as observações sobre o uso da Caderneta Escolar e o Regime Disciplinar do Aluno.
Nas páginas 5, 6 e 7 encontramos um extrato do Regimento Interno dos
Estabelecimentos de Ensino Secundário e Normal do Estado, registrado no Ato n° 10, de
27 de janeiro de 1950 do Regime Disciplinar dos Alunos da Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo. Nele o Art. 70 trata do dever do aluno (página 5). O Art. 71 indica o
que é vedado ao aluno (páginas 5 e 6).
Em ambos os artigos, podemos observar os traços de uma escola tradicional, em
que são explícitos os deveres do aluno e o que ele não deve fazer, com normas bastante
rígidas de conduta. O Art. 72 descreve as penalidades impostas aos alunos que não
cumprissem o exposto nos artigos 70 e 71. É possível observar na página 7 que para os
casos de infrações leves às normas estabelecidas, havia uma pena de até 8 dias de
suspensão, mas de acordo com a gravidade da situação a pena poderia ser a exclusão
definitiva do aluno daquela escola.
Figura 10 – Apresenta o Regime Disciplinar do aluno (cont.).
Na página 8 são apresentadas as normas do processo avaliativo na Escola.
Podemos observar que além das provas e trabalhos, as arguições eram práticas adotadas
para a verificação da aprendizagem dos alunos. O resultado das avaliações eram
registrados mensalmente na Caderneta do aluno, uma forma dos pais acompanharem o
aproveitamento do filho. A Caderneta trazia também a frequência diária do aluno, havia
uma página específica para cada mês letivo, com espaço para registrar a presença ou a
ausência do aluno diariamente, como podemos verificar na página 20 da caderneta.
Figura 11 – Apresenta as normas para avaliação do aproveitamento do aluno.
Algumas das normas apresentadas naquela época são frequentemente adotadas
nas escolas dos dias atuais. A média aritmética das notas de cada disciplina é uma delas.
Vale observar que para a aprovação não bastava o aluno obter a média 4 em cada
disciplina, tinha que obter concomitantemente a média aritmética igual ou superior a 5 no
conjunto das disciplinas obrigatórias da série. Estas informações podem ser confirmadas
na página 24 desta Caderneta.
A média final de cada disciplina era obtida por meio da média ponderada entre as
notas das provas parciais e da prova final, assim como a nota da 2ª época, que resultaria
na aprovação ou reprovação a do aluno. Conforme podemos verificar no “Cômputo das
Médias Finais” - página 24 da Caderneta.
No item 2 das observações da página 9 é informado o período pré-estabelecido
para a realização das provas mensais, prática esta utilizada por algumas escolas até os
dias atuais, embora contestada por professores e educadores.
Nas páginas 10 e 11 encontramos as Recomendações aos Alunos e os Dez
Conselhos aos Alunos, respectivamente. É interessante observar que a Caderneta
Escolar não trazia apenas normas de conduta na escola, fornecia também orientações
sobre procedimentos sociais, relacionamentos interpessoais, valores morais (de acordo
com a época em questão) e também uma tentativa de estimular a auto confiança dos
alunos.
Figura 12 – Apresenta as Recomendações aos Alunos.
Ao verificarmos as páginas 21, 22, 23 e 24, nas quais eram registradas as notas do
aluno, percebemos que mudou muito pouco nos últimos 50 anos a forma como a escola
apresenta a avaliação do aluno aos pais ou responsáveis.
Figura 13 – Apresenta, na página 20 da Caderneta Escolar, o controle de frequência do aluno e na página 21 o Resultado das Provas Parciais e Final.
Figura 14 – Boletim da Vida Escolar, em que consta as notas das provas mensais.
Na década de 50, com a Caderneta Escolar, os pais acompanhavam diariamente a
vida escolar de seu filho, desde a frequência às aulas, até o resultado final do ano letivo.
Todos os acontecimentos fora da rotina escolar eram registrados na Caderneta, e em
caso de indisciplina ou desrespeito às normas da escola o aluno só retornava às aulas
após o visto dos pais e/ou o comparecimento destes na escola para tomar ciência dos
fatos ocorridos e tomar as devidas providências.
O uso de cadernetas ou agendas como são denominadas hoje é uma prática
utilizada basicamente com crianças da educação infantil e das séries iniciais do Ensino
Fundamental. Nos demais níveis de ensino, geralmente os pais recebem apenas o
boletim com as notas de seu filho, as demais informações são repassadas em reuniões
que nem sempre são suficientes para que os pais acompanhem de fato a vida escolar de
seu filho.
Figura 15 – Na página 24, Cômputo das Médias Finais, na página 25 espaço utilizado para as Comunicações do Estabelecimento, com os pais.
Procuramos, neste trabalho, fazer alguns recortes para retratar como os processos
avaliativos eram realizados e a relação destes com a sociedade vigente e assim tentamos
compreender um pouco os reflexos destes processos nas práticas avaliativas adotadas
pelos professores nas escolas hoje.
Atividades
Atividade IPesquise em sua escola se há registros de:
1) como eram os instrumentos avaliativos utilizados em décadas
passadas;
2) como os resultados das avaliações eram transmitidos para os pais e/ou
responsáveis dos alunos - cadernetas, boletins, reuniões;
3) participação de alunos nas discussões sobre os processos avaliativos
utilizados pela escola.
Atividade II1) Pesquise junto a familiares como eram as avaliações quando esses
frequentavam a escola e como os pais e/ou responsáveis eram informados
sobre os resultados da avaliação. Registre os relatos de sua pesquisa para
que seja possível realizar as devidas comparações entre as diferentes
épocas e escolas.
REFERÊNCIAS
Livros
BÍBLIA. A Bíblia da Mulher; versão Almeida Revista e Atualizada. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
RAMAL, A. C. A LDB e o processo de renovação pedagógica jesuíta. Revista de Educação CEAP, ano 5, n° 17, junho 1997.
ROUSSEAU, J. J. Emilio ou da Educação. 3ª ed. São Paulo: Difel, 1997.
SAVIANI, D. Histórias das ideias pedagógicas no Brasil. 2 ed. Campinas: Autores Associados, 2008.
T EIXEIRA, A. S. Educação não é privilégio. UFRJ: Rio de Janeiro, 1999.
Site
COMENIUS, I. A. Didáctica Magna; trad. Joaquim Ferreira Gomes. Fundação Calouste Gulbenkiam. Lisboa, 2001. Disponível em< http://www.futuroeducacao.org.br/biblio/didaticamagna.pdf Acesso em: 11 jun 2010.