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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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ARTE, CRIATIVIDADE E REUTILIZAÇÃO

Nanci Peron1

Áurea Maria Paes Leme Goulart2

Resumo

O presente artigo relata a experiência vivenciada pela autora em uma escola do município de Floraí, pertencente ao Núcleo de Educação de Maringá, PR. A proposta teve como objetivo proporcionar aos alunos a apropriação de conhecimentos científicos sobre a arte e suas diferentes manifestações, oportunizando o desenvolvimento da consciência e de processos criadores. Para tanto, enfocamos o trabalho na relação homem-ambiente, pois compreendemos que a partir dessa interação a arte configurou-se como uma manifestação da capacidade humana de reprodução da realidade. A intervenção do projeto ocorreu junto às turmas de oitava série do ensino fundamental da Escola Estadual Honório Fagan – Ensino Fundamental, no período letivo de 2010. Toda a proposta foi idealizada na forma de oficinas com o objetivo de oferecer desde o conteúdo teórico, até as práticas de reflexão e criação, orientadas e sistematizadas com recursos diversificados, empregando materiais geralmente não aproveitados em nosso cotidiano. Os resultados obtidos com o trabalho foram a mudança no comportamento dos alunos no que diz respeito à capacidade de concentração, criação, interesse, autocontrole, envolvimento com a tarefa, valorização do trabalho coletivo e acolhimento daqueles que até o momento se sentiam excluídos. Concluímos, a partir da análise desses resultados que, mais importante que a diversidade de atividades e de técnicas nas aulas, o trabalho pedagógico é que faz a diferença. O preparo por parte do professor, ou seja, seu planejamento e sua forma de ensinar são aspectos fundamentais, que necessitam de uma formação continuada competente e uma busca constante da atualização de conhecimentos.

Palavras-Chave: Arte. Criatividade. Reutilização.

1 Professora PDE, graduada em Educação Artística pela Faculdade de Ciências, Letras e Educação de Presidente Prudente, pós graduada pela ( ) . Professora da Escola Estadual Honório Fagan – Ensino Fundamental Floraí – PR (e-mail: [email protected]).

2 Graduada em Pedagogia pela Faculdade Oswaldo Cruz, mestre e doutora em Educação pela Faculdade de Educação da USP. (e-mail: [email protected])

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1 Introdução

O ensino de Arte nas escolas, muitas vezes, centra-se no espontaneísmo

das atividades, visando a valorização da imaginação e da criatividade, mas

desprovida de conteúdos. É importante que os alunos apropriem-se de conteúdos

científicos e os apliquem em diferentes situações de sua vida, de forma crítica e

consciente, entendendo a arte como manifestação da capacidade humana.

No projeto aprovado pelo Programa de Desenvolvimento do Estado do

Paraná (PDE), tivemos como objetivo proporcionar aos alunos a apropriação de

conhecimentos científicos sobre a arte e suas diferentes manifestações,

oportunizando o desenvolvimento da consciência e de processos criadores.

Por meio de diferentes atividades procuramos desencadear reflexões e

intervenções a respeito de projetos ambientais realizados com materiais

descartáveis, de maneira a abranger aspectos históricos, sociais e artísticos,

relacionados à realidade dos alunos, auxiliando-os a repensar a utilização desses

materiais em benefício da comunidade. A relevância desse projeto encontra-se no

fato de que, ao apropriarem-se dos fundamentos norteadores do trabalho artístico,

os alunos puderam desenvolver um novo olhar para aquilo que era considerado

como lixo ou inútil, encontrando uma opção de trabalho integrador e criador.

Além disso, procuramos ajudá-los a superar a concepção de que o ensino

de Arte na Educação Fundamental passa pela facilidade de fazer aquilo que

interessa mais ao aluno ou para satisfazer interesses momentâneos, como cartões

comemorativos, apresentações artísticas para o Dia das Mães, Festas Juninas, e

outros mais, que muitas vezes carecem de fundamentação teórica ou de conteúdo.

Partimos da premissa que o ensino de artes é um dos meios mais eficazes

para a expressão de sentimentos, de concepções, de comunicação e, portanto, pode

ser utilizado como uma nova forma de linguagem, tanto no Ensino Básico como no

Fundamental, pois, como afirma Barbosa :

A arte, como linguagem aguçadora dos sentidos, transmite significados que não podem ser transmitidos por nenhum outro tipo de linguagem, como a

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discursiva e a científica. O descompromisso da arte com a rigidez dos julgamentos que se limitam a decidir o que é errado e estimula o comportamento exploratório, válvula propulsora do desejo de aprendizagem. Por meio da arte, é possível desenvolver a capacidade crítica permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade crítica permitindo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2009, p.1).

As aulas de arte deveriam ser as mais apreciadas no ensino formal, visto

que nelas o aluno tem a possibilidade de expressar sua criatividade e tem total

liberdade de criação, mas nem sempre é assim que acontece.

Em nossa proposta, houve um grande empenho em incentivar o aluno a ser

criativo, a combater o habito tão arraigado de ser comum, procurando superar o

ensino massificado, baseado no pensamento convergente e que não desafia o aluno

a empenhar-se ou mesmo diferenciar- se em sua produção. Enfim, na medida do

possível, procuramos oportunizar aos alunos a formação do pensamento divergente,

auxiliando-os a moverem-se em várias direções na busca de diferentes respostas.

Em contato com a sala de aula desde 1985, pudemos notar a crescente

desvalorização e desmotivação dos alunos para com o ensino escolar e, ao longo

dos anos, passamos a sentir certa inquietação ao observar a indisciplina dos alunos

e a ausência da participação dos pais na vida escolar de seus filhos. Esses alunos,

além de toda a desigualdade social que enfrentam, também tem sido desmotivados

pelo ensino tradicional com que se deparam nas escolas. Afinal, o mundo está em

constante inovação, avanços tecnológicos, no entanto a prática pedagógica em sala

de aula permanece inalterada. Essa inquietação nos induziu a pensar em como

mediar ou criar um plano de ação que influenciasse a situação em que nos

encontrávamos em sala de aula.

Sob essa perspectiva, a idéia central do nosso projeto foi a de subsidiar a

aprendizagem de conteúdos e o exercício de criação, por meio de oficinas de

reciclagem, onde esses alunos teriam total liberdade de planejar, e criar peças

artesanais, com materiais diversos fornecidos por nós, que anteriormente eram

descartados.

A aplicação do projeto consistiu em apresentar e explorar, anteriormente a

cada oficina, a fundamentação teórica, de uma maneira inovadora, mesclando

dinâmicas e aulas expositivas nas quais os alunos interagissem. Os conteúdos

propostos foram: cores (classificação das cores; cores complementares;

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tonalidades); textura; formas geométricas; medidas; colagem, criação com diferentes

materiais.

Aos alunos participantes do projeto, coube o uso de sua criatividade e a

imaginação, tendo sempre ao lado a agregação do apoio, da orientação constante e

da paciência por parte do professor.

Também foi discutida com os alunos a valorização de materiais reutilizáveis,

constantemente descartados e que, com as oficinas, puderam ser aproveitados,

modificando assim o conceito usual de preservação da natureza.

Ao longo da história, o homem modificou a natureza em função de suas

próprias necessidades, satisfazendo-as, ao mesmo tempo em que alcançava seu

desenvolvimento. Assim, o conceito de progresso, de transformação, sempre leva à

idéia de destruição do meio ambiente, como se a exploração ambiental fosse uma

conseqüência natural do avanço da ciência.

Mas, aos poucos, o homem começou a perceber que, ao contrário do que

imaginava, a natureza não se auto-protegia e que, se não tomados os cuidados

necessários, todo o planeta poderá ser afetado por essa exploração desenfreada.

É de Pitágoras a frase “educai as crianças e não será preciso punir os

homens” e é justamente essa a proposta do trabalho, que buscamos unir a

educação ambiental com a arte. Apoiamo-nos, em Vigotski (2007) ao afirmar que, o

que a criança é capaz de fazer hoje com o auxílio de um adulto, conseguirá fazer

amanhã sozinha.

Buscando a inovação e implantação de uma nova forma ensinar arte,

aplicamos oficinas teóricas e práticas, aproveitando-nos dos inúmeros recursos

recicláveis que disponibilizávamos. Nessa perspectiva, tivemos como objetivo geral,

proporcionar aos alunos a apropriação de conhecimentos científicos sobre a arte e

suas diferentes manifestações, oportunizando o desenvolvimento de processos

criadores e da consciência quanto a preservação ambiental por meio da criação de

produtos artísticos com materiais reciclados. Para a implementação desse objetivo

nos propusemos: 1-identificar a diversidade de materiais utilizados na expressão

artística de acordo com as diferentes épocas históricas; 2- conhecer as diferentes

manifestações artísticas na sociedade contemporânea e os valores daí decorrentes.

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2 Fundamentação teórica

Como fundamentação teórica, buscamos trazer reflexões a respeito do que

é arte, educação artística e preservação ambiental.

Há autores que, ao debaterem sobre o que é a arte ressaltam que a arte é

um dos conceitos mais difíceis de definir em toda a história do pensamento humano.

Segundo Ana Mae (2005), a idéia de obra de Arte deve ser experimentada,

degustada e para isto, exige concentração e opções de significados, manifestar

qualidade estética e ser capaz de provocar diferentes significados.

Primeiramente discutimos junto aos alunos, o posicionamento de Herbert

(2001). Frente à sua compreensão de arte gostaríamos de explicitar que este autor

tem vários campos para defini-la, evidenciando não ser possível expressá-la com

simples palavras. O autor inicia essa reflexão com algo bem expressivo afirmando

que arte constitui-se nos elementos existentes na natureza tais como o ar, o solo, as

cores que se encontram ao nosso redor e que normalmente não tomamos

consciência.

Para Oliveira e Garcez, a arte tem várias funções na sociedade e na cultura:

[...]interpretar o mundo; provocar emoção e reflexão; expressar o pensamento e a visão de mundo do artista; explicar e refletir a história humana; questionar a realidade; representar crenças e homenagear deuses, idéias, pessoas, entre muitas outras (OLIVEIRA; GARCEZ, 2004, p. 19).

Outra consideração importante é dada por Osinski (2002), ao trazer a

informação que a arte teve origem junto à do próprio homem. A informação

apresentada pela autora acima citada é complementada por Tolstoi ao definir a arte

como:

[...] uma atividade humana que consiste em um homem comunicar conscientemente a outros, por certos sinais exteriores, os sentimentos que vivenciou, e os que recebem os sinais ficariam contaminados desses sentimentos levando os a experimentarem a arte (TOLSTOI, 2002, p.15).

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A arte, assim como a cultura, foi e ainda é construída concomitantemente à

história do homem e nesse sentido é fundamental trazermos os fatos históricos aos

alunos. Podemos afirmar que o homem é historicamente constituído, e que o papel

social da educação é o de trazer os fatos históricos aos alunos e auxiliá-los na

compreensão e análise dos mesmos.

O homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade. Resultando estas do desenvolvimento das gerações humanas, não são incorporadas nem nele, nem nas suas disposições naturais, mas no mundo que o rodeia, nas grandes obras da cultura humana. Só apropriando-se delas no decurso da sua vida ele adquire propriedades e faculdades verdadeiramente humanas (LEONTIEV, 1978, p. 282).

Anterior à formalidade de ensinar Arte, o homem a transmitia por tradição,

afirmação esta corroborada por Osinski (2002) ao afirmar que os conhecimentos

artísticos inicialmente eram transmitidos por meio da tradição, fato que se manteve

do período Paleolítico até o renascimento.

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná consideram que:

Para compreender a arte como trabalho criador ou criação artística parte-se do fato do trabalho configurar toda a ação histórica e socialmente desenvolvida pelo homem sobre a natureza (ou sobre o mundo humanizado). Assim, o ser humano vem produzindo sua existência e se constituindo como ser histórico e social (PARANÀ, 2008, p. 29).

A aprendizagem da arte pela criança, tal como qualquer aprendizagem,

geralmente tem uma pré-história. Podemos entender que, atualmente, a criança não

chega à escola sem nenhuma idéia a respeito de arte. O estudo da aritmética na

escola pela criança, por exemplo: muito antes de ingressar na escola ela já tem

certa experiência no que se refere à quantidade (muito, pouco, mais, menos).

Anterior a esta experiência, já teve oportunidade de realizar uma ou outra operação,

como a de dividir algo com outra criança, de determinar a grandeza, de somar e

diminuir.

A aprendizagem escolar nunca começa no vazio, mas sempre se baseia no

conceito espontâneo, que a criança trouxe de sua vida cotidiana. De acordo com

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Vigotski, (2004), a aprendizagem escolar nunca começa no vazio, mas sempre se

baseia no conceito cotidiano (conceito espontâneo) que a criança trouxe de sua vida

social: “[...] não podemos ignorar a circunstância de que a aprendizagem escolar

nunca começa no vazio, mas sempre se baseia em determinado estágio do

desenvolvimento, percorrido pela criança antes de ingressar na escola” (VIGOTSKI,

2004, p. 476).

No entanto, esse conhecimento inicial consiste apenas no ponto de partida

para a aprendizagem. Como esclarece Gasparin (2005):

Esse saber anterior é o ponto de partida, mas não significa que a aprendizagem escolar seja uma continuação direta da linha de desenvolvimento pré-escolar da criança. A aprendizagem escolar trabalha com a aquisição das bases do conhecimento científico, por isso é substancialmente diversa da aprendizagem espontânea (GASPARIN, 2005, p. 18).

Saviani (1991), ao explicitar a primeira fase do seu método pedagógico, a

prática social, afirma que ela é o ponto de partida de todo o trabalho docente.

Evidencia que a prática social é comum a professor e alunos. Podemos acrescentar

que ela é comum a todo um grupo social, no qual, todavia, cada agente se posiciona

diferentemente em relação a ela. Desta maneira, professores e alunos, na relação

pedagógica, também possuem níveis diferenciados de compreensão da mesma

prática social.

A prática social, considerada na perspectiva do pensamento dialético, é

muito mais ampla do que a prática social de um conteúdo específico, pois se refere

ao contexto que engloba o modo como os homens se preparam para viver,

expressando suas ações nas instituições do trabalho, da família, da igreja, dos

meios de comunicação social, dos partidos políticos, entre outras.

Sendo assim, procuramos desencadear reflexões e intervenções a respeito

de projetos ambientais realizados com o lixo, de maneira a abranger aspectos

históricos, sociais e artísticos, relacionados à realidade dos alunos, auxiliando-os a

repensar a utilização de materiais descartáveis em benefício da comunidade.

Barbosa (1991) ressalta que “[...] precisamos levar a arte que hoje está circunscrita a

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um mundo socialmente limitado a se expandir, tornando-se patrimônio da maioria e

elevando o nível de qualidade de vida da população” (BARBOSA, 1991, p. 6).

Desta forma, a educação artística, deve ter como objetivo criar nas crianças

e jovens um olhar atento e abrangente frente ao meio que os rodeia e não

desencadear posicionamentos apaixonados ou problemáticos a respeito de um tipo

de arte, expressão artística, ou artistas em especifico (PORCHER, 1982).

De acordo com as especificidades da Educação artística podemos levar os

alunos a refletir a respeito a relação direta do homem com o meio ambiente e com

os demais membros de seu grupo, por meio do conteúdo: sistemas de objetos

naturais e artificiais auxiliando-os a desenvolverem uma consciência mais crítica a

respeito de suas ações frente à natureza e à sociedade. Para tanto, consideramos

os objetos naturais aqueles oriundos da natureza, enquanto os artificiais são aqueles

que o homem cria, como resultado de sua ação transformadora sobre o ambiente

em que vive. Vigotski (1999, p.328-329) ressalta, em seus estudos, que “[...] a arte é

a mais importante concentração de todos os processos biológicos e sociais do

indivíduo na sociedade”.

Também cabe a esta disciplina contribuir para o desenvolvimento psíquico e

da personalidade desses alunos, por meio de propostas expressivas, criativas e

sensibilizadoras.

São as oportunidades de aprendizagem que permitirão o desenvolvimento

de sua imaginação, criatividade e expressão artística. Outras funções podem ser

desenvolvidas com a Arte: observação; memorização; análise e síntese, dentre

outras.

[...] a atividade criadora da imaginação depende diretamente da riqueza e da diversidade da experiência anterior da pessoa, porque essa experiência constitui o material com que se criam as construções da fantasia. Quanto mais rica a experiência da pessoa, mais material está disponível para a imaginação dela. Eis porque a imaginação da criança é mais pobre do que a do adulto, o que se explica pela maior pobreza de sua experiência (VIGOTSKI, 2009, p.22).

Frente a essas reflexões, podemos compreender a importância da

aprendizagem de conteúdos artísticos para a formação da criança e do jovem, como

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também, da preparação e do compromisso do professor no processo de formação

de sua consciência.

3 Desenvolvimento

Para Fayga (1976), a criatividade não pode ser considerada propriedade

exclusiva de algumas poucas pessoas privilegiadas, mas precisa ser entendida

como potencial característico da condição humana. Importa que a criatividade não

seja tratada como objeto isolado, por si só, mas como um elemento no interior de

um contexto mais amplo, relacionada às questões sociais, econômicas, políticas e

culturais, que, sem dúvida, podem servir de obstáculo à livre manifestação dessa

habilidade humana:

criar significa mais do que inventar, mais do que produzir algum fenômeno novo. Criar significa dar forma a um conhecimento novo que é ao mesmo tempo, integrado em um contexto global [...] Através da forma criada se intensifica um aspecto da realidade nova e com isso se reformula a realidade toda. Por essa razão, o processo de criar significa um processo vivencial que abrange uma ampliação da consciência, tanto enriquece espiritualmente o indivíduo que cria, como também o que recebe a criação e a recria para si (OSTROWER, 1976, p. 134-135).

Segundo Azevedo, a leitura de imagens pode contribuir para que os aluno

tomem consciência “[...] do problema do lixo, de seu ciclo, dos resíduos, do descarte,

do consumo e suas relações tão presentes no cotidiano dos sujeitos” (2009, p. 330).

O autor reporta-se a Carolina Marielle para afirmar que a consciência

consiste na grande alavanca que ativa a compreensão e as relações estabelecidas

com o dia a dia pelos alunos permitindo que possam transcender a situação vivida

em sala de aula. Tal consciência consiste em “[ ...] uma gravitação servindo como

impulso para ações futuras que vão desde a separação do lixo, a atenção com o

desperdício, consciência da continuidade dos ciclos dos materiais” (AZEVEDO,

2009, p. 330-331).

É importante sermos autênticos e admitirmos que o problema ambiental está

diretamente ligado ao fato de nós, seres humanos, utilizarmos os recursos naturais

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sem nos preocuparmos com o “depois”. Afinal, sabemos que uma vez degradados,

dificilmente haverá a recuperação ou substituição dos recursos naturais. São poucas

as empresas, indústrias que tem um uso sustentável de recursos. Praticamente não

ouvimos falar de uso sustentável dos recursos naturais, tarefa praticamente

inatingível para muitos países.

Nossa preocupação com a reutilização e reaproveitamento dos materiais

não foi buscar fontes novas e sim aproveitar e aplicar o que já existe de forma

criativa, a custo zero para a natureza.

Mas, como fazer tal tarefa com a nova geração tão envolvida com a

tecnologia e os bens de consumo? Os passos adotados e de fácil aplicação para

essa tarefa foram:

1º passo: conscientização – oportunizar ao grupo de alunos situações que

contribuíssem para o desenvolvimento da sensibilidade e consciência em relação ao

meio ambiente de forma geral e aos problemas relacionados a ele.

2º passo: conhecimento – oferecer oportunidades de discussões e reflexões

para ampliar a compreensão sobre o meio ambiente enfocando principalmente as

influências do ser humano e de suas atividades.

3º passo: atitudes – incentivar a formação e apropriação de valores por parte

dos alunos desafiando-os a refletirem e criarem propostas/projetos voltados à

proteção do meio ambiente, bem como à resolução dos problemas ambientais que

os cercam.

4º passo: habilidades – proporcionar aos alunos condições de adquirirem

habilidades necessárias à participação ativa quanto à utilização da Arte como

instrumento de conscientização da importância de proteção do meio ambiente.

5º passo: capacidade de avaliação – possibilitar aos alunos a oportunidade

de avaliar os programas que já estão em andamento e verificar sua eficácia,

desenvolvendo sua consciência como cidadãos.

6º passo: envolvimento – contribuir para que os alunos desenvolvessem o

senso de responsabilidade e de urgência com respeito às questões ambientais.

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3.1 Materiais e método

Como proposta de intervenção, foram realizadas oficinas junto a turmas de

oitava série da Escola Estadual Honório Fagan – Ensino Fundamental , situada no

município de Floraí, Núcleo Regional de Maringá. Nesse processo buscamos

alternativas metodológicas subsidiar a Arte, por meio de oficinas nas quais os alunos

tiveram total liberdade de criação de peças artesanais feitas com material

descartável de indústrias de tecidos do município.

Propositalmente foi realizada a intervenção pedagógica anterior às

atividades práticas, resultando em uma proposta teórica diferenciada.

Diante desta dinâmica acreditamos ser possível que os alunos participantes

de tal proposta tivessem as ferramentas necessárias para se apropriarem dos

conceitos de Arte, bem como, criar para a utilização desse conhecimento.

O intuito foi o de proporcionar uma dinâmica de aula diferenciada, fazendo

com que o panorama vivenciado na escola se tornasse incomum durante as aulas

de arte.

Cada Módulo do projeto foi composto de aulas teóricas sobre a temática a

ser desenvolvida e de oficina de atividades relacionadas ao tema,. As aulas

resgataram a história da arte e este resgate foi exposto de forma criativa e dinâmica,

fazendo com que os alunos interagissem junto à professora.

Durante o projeto foram realizadas as seguintes atividades:

1 a . Etapa

Iniciamos o trabalho junto aos alunos da oitava série, apresentando o

projeto, e definindo como seriam nossos encontros para que pudéssemos realizar as

atividades propostas no Projeto didático-pedagógico.

Após a conversa inicial lançamos convite para a realização da nossa

primeira atividade juntos, que foi a leitura da imagem.

Atividade proposta em campo aberto, em locais da cidade onde os

participantes pudessem observar áreas degradadas e preservadas, executando a

ação de comparação e por conseqüência se conscientizando da necessidade de

preservação ambiental. Após esta atividade extra-escolar, realizamos uma breve

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discussão sobre o que vimos, e por meio da fala dos alunos foi possível estabelecer

uma discussão sólida e com grande participação de todos.

Figura 1- Área preservada (arquivo da autora).

Figura 2 - Área degradada, com erosão(arquivo da autora)

A proposta do segundo encontro foi dedicada à decoração dos diários –

portfólios. Os alunos receberam um caderno comum e diferentes materiais

alternativos (alguns deles, eram refugos de confecções da localidade), aproveitados

pelos alunos para produzir uma capa e ornamentar seu diário.

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Figura 3 – Confecção do Portfólio (arquivo da autora).

Figura 4 – Confecção do Portfólio (arquivo da autora).

2ª Etapa

Essa etapa constituiu-se de três módulos direcionados para o planejamento,

composição e confecção de acessórios de moda.

No primeiro módulo trabalhamos inicialmente com o conteúdo sobre as

cores, procurando estabelecer uma linha do tempo, a partir da pré-história. Na

prática, os alunos utilizaram o pincel ou a pintura a dedo, misturando a tinta liquida

em recipientes que foram elaborados com material descartável. Cada aluno

trabalhou individualmente, com criatividade e imaginação, finalizando o trabalho com

colagem utilizando materiais decorativos ( lantejoulas) no contorno da composição.

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Figura 4 – Nascimento das cores (arquivo da autora).

A seguir (aula II e Oficina II), foram realizadas discussões e atividades

práticas a respeito da sensibilidade e da diversidade de texturas.

O trabalho foi atingido com a exploração das diferentes texturas existentes

na natureza e com a utilização da máquina fotográfica como recurso tecnológico,

para obter as imagens dos diferentes materiais encontrados como por exemplo

troncos de árvore, folhas. Assim, foram identificadas e registradas as diferentes

texturas naturais, por meio da impressão das fotos obtidas pelos participantes. Os

alunos utilizaram materiais descartáveis para fazer a textura artificial, como linha,

barbantes, lantejoulas e tecidos em relevo, como rendas, lã e bordados.

Os trabalhos foram confeccionados com a técnica de colagem no papel

sulfite e organizados no portfólio.

Figura 5 – Texturas naturais(arquivo da autora).

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As atividades realizadas na aula e oficina III, foram direcionadas à

exploração do conceito de tonalidade (como formar as tonalidades? Quem dá o

tom?)

A técnica utilizada foi a mesma da oficina I, referente às cores, mas dessa

vez, as tintas foram misturadas com o branco e o preto, escurecendo ou clareando

uma nuance, criando as mais diversas tonalidades,utilizando recipientes de material

descartável.

Para utilização das cores produzidas, foram confeccionadas flores com o

material de garrafas pet, que serviram como decoração da árvore de Natal de

materiais reciclados da escola, no final do ano letivo.

Figura 6 – Reutilização de garrafas pet –confecção de flores para árvore de natal (arquivo da autora).

O segundo módulo desenvolvido durante a aplicação do projeto foi

direcionado à Moda na Arte contemporânea

A parte teórica versou a respeito de arte contemporânea e figuras

geométricas. Esse conhecimento foi então direcionado à criação de composições

com figuras geométricas envolvendo a arte contemporânea, as possibilidades de

aplicação por meio da técnica de colagem em tecidos. Foram confeccionados

acessórios como colares, cintos, trançados e flores, com o uso de tecidos, pedrarias,

correntes, argolas e mosquetão.

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Após a elaboração dos acessórios, foram feitas fotos do material, que

passaram a fazer parte também do portfólio. O material confeccionado foi doado

pelos próprios alunos.

Figura 7 – Composição de figuras geométricas (arquivo da autora).

Figura 8 – Confecção de acessórios (arquivo da autora)

No último modulo da proposta pedagógica realizamos oficinas com os

alunos para a organização da exposição dos trabalhos, finalizando com a montagem

da árvore de Natal iluminada, exposta à comunidade, na entrada da escola.

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Figuras 9 e 10 – Exposição dos acessórios criados

pelos alunos com os materiais alternativos (arquivo da autora)..

Figuras 11 e 12 – Confecção e exposição da árvorede natal com materiais reciclados (arquivo da autora).

.

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4 Resultados

Ao final do trabalho, foram recolhidos os diários e realizada a análise dos

mesmos, para verificação dos resultados e expectativas, tanto dos alunos como da

professora. Tais trabalhos serviram como material avaliativo durante o bimestre do

ano letivo, fato que serviu como incentivo para a participação, mas que não foi o

fator mais decisivo para a assiduidade do aluno.

O que mais contribuiu para a participação foi a utilização de técnicas

variadas e inovadoras, como os passeios e o uso de tecnologia, por meio das quais

alcançamos um maior envolvimento dos alunos, acima do que o esperado no início

do trabalho. Todas as turmas se envolveram com a montagem da árvore de Natal,

em um trabalho coletivo de muito dinamismo e compartilhamento que obteve seu

reconhecimento junto à comunidade.

Um resultado gratificante e inesperado foi o do envolvimento dos alunos de

inclusão, que ao sentirem-se valorizados, estimulados e acolhidos pelos demais

alunos, manifestaram uma ampliação do sentimento de auto-estima.

Durante as aulas, a expectativa perante as atividades e a satisfação ao se

depararem com os resultados de seu próprio esforço, podem ser considerados

fatores decisivos para a melhoria de sua atenção e motivação.

Nas aulas teóricas, percebemos o interesse para conhecer melhor sobre

determinadas técnicas e as possibilidades de aplicação das mesmas. Já nas aulas

práticas, houve um empenho de todos os envolvidos para colocar em prática, da

melhor forma possível, o que haviam aprendido no decorrer das aulas.

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Considerações finais

Os resultados indicam que o trabalho pode ser desenvolvido durante o

período normal do ano letivo, fazendo parte do planejamento e das aulas normais,

sem necessidade de utilizar um tempo extraordinário, para que possamos conseguir

resultados satisfatórios. O aluno, ao chegar à oitava série, ano do curso em que o

projeto foi desenvolvido, muitas vezes já possui outras atividades que exigem de sua

presença, como, por exemplo, uma atividade profissionalizante ou mesmo com

atribuições domesticas, como auxiliar no trabalho de casa ou acompanhar irmãos

menores. Essas incumbências, muitas vezes, são a causa para que não haja a

participação efetiva nas atividades, quando realizadas em contra-turno.

Portanto, os resultados desse trabalho, indicam que projetos inovadores,

mesmo sem o aumento de carga horária ou a utilização do contra-turno, podem

alcançar maior envolvimento e aprendizagem dos alunos nas aulas de artes.

Podemos concluir que, mais importante que a diversidade de atividades e de

técnicas nas aulas, o trabalho pedagógico é que faz a diferença. O preparo por parte

do professor, ou seja, seu planejamento e sua forma de ensinar são aspectos

fundamentais. Manter-se continuamente atualizado, por meio de estudos, leituras e

uma formação continuada eficiente, podem auxiliá-lo a tornar-se um profissional

mais competente e compromissado com a aprendizagem e formação de seus

alunos.

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