DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado,...

26
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado,...

Page 1: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PUacuteBLICA PARANAENSE

2009

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica

Versatildeo Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

0

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCACcedilAtildeO

SUPERINTENDEcircNCIA DA EDUCACcedilAtildeO

DIRETORIA DE POLIacuteTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL ndash PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

MATERIAL DIDAacuteTICO

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS

DOS NEGROS NO BRASIL

SIGELINDA MARIA ZANONI DE ANDRADE

IVAIPORAtilde - PR

2010

1

PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICA

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica elaborada como etapa obrigatoacuteria na implementaccedilatildeo do PDE ndash 2010 sob orientaccedilatildeo da Profordf Drordf Claacuteudia Prado Fortuna do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina ndash UEL

IVAIPORAtilde - PR

2010

2

Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010

Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil

Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade

Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional

Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR

Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR

Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna

Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL

Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica

Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria

Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente

Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr

Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias

3

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

4

SUMAacuteRIO

OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23

5

OBJETIVOS

- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de

Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de

colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto

social e escolar

- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura

ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e

a asiaacutetica

- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para

que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e

lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade

brasileira mais justa e democraacutetica

- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees

da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

OBJETIVOS

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 2: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

0

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCACcedilAtildeO

SUPERINTENDEcircNCIA DA EDUCACcedilAtildeO

DIRETORIA DE POLIacuteTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL ndash PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

MATERIAL DIDAacuteTICO

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS

DOS NEGROS NO BRASIL

SIGELINDA MARIA ZANONI DE ANDRADE

IVAIPORAtilde - PR

2010

1

PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICA

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica elaborada como etapa obrigatoacuteria na implementaccedilatildeo do PDE ndash 2010 sob orientaccedilatildeo da Profordf Drordf Claacuteudia Prado Fortuna do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina ndash UEL

IVAIPORAtilde - PR

2010

2

Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010

Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil

Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade

Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional

Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR

Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR

Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna

Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL

Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica

Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria

Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente

Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr

Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias

3

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

4

SUMAacuteRIO

OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23

5

OBJETIVOS

- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de

Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de

colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto

social e escolar

- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura

ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e

a asiaacutetica

- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para

que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e

lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade

brasileira mais justa e democraacutetica

- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees

da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

OBJETIVOS

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 3: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

1

PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICO-PEDAGOacuteGICA

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica elaborada como etapa obrigatoacuteria na implementaccedilatildeo do PDE ndash 2010 sob orientaccedilatildeo da Profordf Drordf Claacuteudia Prado Fortuna do Departamento de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina ndash UEL

IVAIPORAtilde - PR

2010

2

Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010

Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil

Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade

Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional

Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR

Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR

Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna

Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL

Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica

Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria

Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente

Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr

Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias

3

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

4

SUMAacuteRIO

OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23

5

OBJETIVOS

- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de

Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de

colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto

social e escolar

- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura

ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e

a asiaacutetica

- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para

que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e

lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade

brasileira mais justa e democraacutetica

- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees

da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

OBJETIVOS

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 4: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

2

Ficha catalograacutefica Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Professor PDE2010

Tiacutetulo Outras Memoacuterias e Outras Histoacuterias dos Negros no Brasil

Autor Sigelinda Maria Zanoni de Andrade

Escola de Atuaccedilatildeo Coleacutegio Estadual Barbosa Ferraz - Ensino Meacutedio Normal e Profissional

Municiacutepio da escola Ivaiporatilde-PR

Nuacutecleo Regional de Educaccedilatildeo Ivaiporatilde-PR

Orientador Dra Claacuteudia Prado Fortuna

Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina ndash UEL

Aacuterea do Conhecimento Histoacuteria

Produccedilatildeo Didaacutetico-Pedagoacutegica Unidade Didaacutetica

Relaccedilatildeo Interdisciplinar Histoacuteria Portuguecircs Metodologia do Ensino de Histoacuteria

Puacuteblico Alvo Alunos da 1ordm seacuterie A de Formaccedilatildeo de Docente

Localizaccedilatildeo C E Barbosa Ferraz E M Normal e Profissional ndash Rua Rio Grande do Sul 1220 Centro Ivaiporatilde-Pr

Apresentaccedilatildeo O presente trabalho busca informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto social e escolar Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade brasileira mais justa e democraacutetica Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Lei 106392003 sujeitos negros outras memoacuterias

3

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

4

SUMAacuteRIO

OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23

5

OBJETIVOS

- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de

Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de

colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto

social e escolar

- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura

ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e

a asiaacutetica

- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para

que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e

lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade

brasileira mais justa e democraacutetica

- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees

da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

OBJETIVOS

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 5: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

3

OUTRAS MEMOacuteRIAS E OUTRAS HISTOacuteRIAS DOS NEGROS NO BRASIL

4

SUMAacuteRIO

OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23

5

OBJETIVOS

- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de

Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de

colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto

social e escolar

- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura

ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e

a asiaacutetica

- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para

que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e

lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade

brasileira mais justa e democraacutetica

- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees

da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

OBJETIVOS

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 6: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

4

SUMAacuteRIO

OBJETIVOS 5 I - TEMA A Lei 1063903 6 II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE 8 III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL 11 IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA 13 V - TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL 14 1 HENRIQUE DIAS 14 2 ZUMBI 16 3 ADELINA A CHARUTEIRA 17 4 LUIZ GAMA 18 5 LINO GUEDES 18 6 CAROLINA MARIA DE JESUS 19 7 SOLANO TRINDADE 20 8 CAcircNDIDO DA FONSECA GALVAtildeO (DOM OBAacute) 21 REFEREcircNCIAS 23

5

OBJETIVOS

- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de

Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de

colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto

social e escolar

- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura

ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e

a asiaacutetica

- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para

que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e

lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade

brasileira mais justa e democraacutetica

- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees

da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

OBJETIVOS

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 7: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

5

OBJETIVOS

- Informar a respeito da Lei nordm 1063903 que inclui no curriacuteculo oficial da rede de

Ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo aleacutem de

colaborar para o combate do racismo que infelizmente existe no nosso contexto

social e escolar

- Discutir sobre a persistecircncia em nosso paiacutes de um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia a brancura e valoriza principalmente as raiacutezes europeias da cultura

ignorando ou pouco valorizando as outras culturas que satildeo a indiacutegena a africana e

a asiaacutetica

- Conhecer que o preconceito foi construiacutedo historicamente e com isto contribuir para

que os grupos eacutetnicos brasileiros possam exercer de forma plena sua cidadania e

lutar contra o racismo e as discriminaccedilotildees na construccedilatildeo de uma sociedade

brasileira mais justa e democraacutetica

- Destacar que ainda persiste nos livros didaacuteticos um imaginaacuterio eacutetnico-racial que

privilegia as raiacutezes europeias da cultura Constatar que a convivecircncia entre padrotildees

da cultura africana e cultura branca europeia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais

OBJETIVOS

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 8: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

6

I - TEMA A Lei 1063903

Considerando a discriminaccedilatildeo racial ainda existente no Brasil faz-se

necessaacuterio e urgente repensar como os sujeitos negros da histoacuteria afro-brasileira e

africana satildeo tratados pelos curriacuteculos escolares Sabemos por exemplo que satildeo

muitos os personagens negros da histoacuteria de nosso paiacutes que tiveram papel de

destaque na construccedilatildeo da histoacuteria do Brasil e que nunca foram citados ou mesmo

retratados como negros Isso ocorre porque a histoacuteria e a literatura brasileira assim

como outras manifestaccedilotildees culturais estiveram ligadas agrave elite dominante que

durante muito tempo resistiu a conceder um lugar de fato e de direito as

comunidades negras

Na busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma

sociedade democraacutetica e igualitaacuteria o Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva promulgou a Lei 1063903 (alterada pela Lei 1164508) que estabelece as

Diretrizes e Base da Educaccedilatildeo Nacional e obriga a incluir no curriacuteculo oficial da

I - TEMA A Lei 1063903

QUAIS SAtildeO OS SUJEITOS NEGROS DA HISTOacuteRIA DO BRASIL QUE VOCEcirc CONHECE PROCURE RELEMBRAR DAS SUAS AULAS DE HISTOacuteRIA ATEacute AGORA E DEPOIS ESCREVA UM PEQUENO TEXTO SOBRE QUE HISTOacuteRIA DOS NEGROS FOI ENSINADA A VOCEcirc DEPOIS FACcedilA UMA PEQUENA ANAacuteLISE SOBRE ISTO

Vocecirc sabia Que a lei 1063903 tambeacutem acrescenta que o dia 20 de novembro (considerado dia da morte de Zumbi) deveraacute ser incluiacutedo no calendaacuterio escolar como dia nacional da consciecircncia negra tal como jaacute eacute comemorado pelo movimento negro e por alguns setores da sociedade

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 9: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

7

Rede de Ensino a temaacutetica Histoacuteria e Cultura Afro-Brasileira Essa lei trouxe a

necessidade de construirmos atraveacutes da pesquisa outras histoacuterias e outras

memoacuterias jaacute que uma grande parte da histoacuteria da cultura afro-brasileira foi omitida

dos livros escolares Diante disso fica a questatildeo por que foram negados os feitos

dos sujeitos negros na construccedilatildeo da nossa histoacuteria

A Lei 1063903 define que o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico das instituiccedilotildees

de ensino deveraacute conter em todas as disciplinas conteuacutedos relativos agrave Histoacuteria e a

Cultura Afro-brasileira e Africana na perspectiva de proporcionar aos alunos uma

educaccedilatildeo compatiacutevel com uma sociedade democraacutetica multicultural e plurieacutetnica

Os conteuacutedos sobre Histoacuteria da Aacutefrica e afro-brasileira devem fazer

abordagens positivas sempre na perspectiva de contribuir para que o aluno afro -

descendente mire-se positivamente na histoacuteria que eacute ensinada nas escolas Assim a

busca de uma educaccedilatildeo comprometida com a construccedilatildeo de uma sociedade mais

democraacutetica e igualitaacuteria eacute responsabilidade de todos noacutes Dentro desse contexto

vale transcrever o ensinamento de Franz Fanon

Os descendentes dos mercadores de escravos dos senhores de ontem natildeo tem hoje de assumir culpa pelas desumanidades provocadas pelos seus antepassados No entanto tecircm eles a responsabilidade moral e poliacutetica de combater o racismo as discriminaccedilotildees e juntamente com os que vecircm sendo mantidos agrave margem os negros construir relaccedilotildees raciais sadias em que todas cresccedilam e se realizem enquanto seres humanos e cidadatildeos (Franz Fanon-1968)

IREMOS ASSISTIR HOJE Agrave PALESTRA DE UM ADVOGADO SOBRE A LEI 1063903 QUE OBRIGA A INCLUSAtildeO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PUacuteBLICO E PRIVADO EM TODO O PAIacuteS ELABORE UM ROTEIRO DE PERGUNTAS E FACcedilA O REGISTRO DO QUE FOI EXPLICADO

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 10: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

8

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO HISTORICAMENTE

Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econocircmica Aplicadas os negros

e pardos representam 452 da populaccedilatildeo brasileira aproximadamente 73 milhotildees

de pessoas (Rocha 2006 p 13) no entanto a convivecircncia entre padrotildees da cultura

Africana e da cultura branca europeacuteia natildeo tem sido suficiente para eliminar

ideologias desigualdades e estereoacutetipos raciais Segundo Ana Luacutecia Lopes (2006)

ainda persiste em nosso paiacutes um imaginaacuterio eacutetnico-racial que privilegia a brancura e

valoriza principalmente as raiacutezes europeacuteias da sua cultura ignorando ou pouco

valorizando as outras que satildeo a indiacutegena a africana e a asiaacutetica No final do seacuteculo

XIX o grande desafio era tornar o Brasil uma naccedilatildeo moderna Com a escravidatildeo

abolida com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o caminho estava aberto para a

modernidade Como uma naccedilatildeo com tantos negros poderia ser uma naccedilatildeo

moderna A soluccedilatildeo era o embranquecimento do povo brasileiro

II - TEMA O PRECONCEITO CONTRA OS NEGROS FOI CONSTRUIacuteDO

HISTORICAMENTE

Afro-brasileiro Adjetivo usado para referir-se agrave parcela significativa da populaccedilatildeo brasileira com ascendecircncia parcial ou totalmente africana O termo tem patrocinado uma calorosa discussatildeo sobre quem representa efetivamente esse segmento populacional no Brasil Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relaccedilatildeo agrave reserva de vagas pelo sistema de cotas para

negros na universidade

FACcedilA A LEITURA DAS DIRETRIZES PARA O ENSINO DA HISTOacuteRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO - BRASILEIRA E ELABORE EM GRUPO UM CARTAZ ONDE APARECcedilA O QUE VOCEcircS CONSIDERARAM DE MAIS SIGNIFICATIVO NESTE DOCUMENTO

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 11: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

9

O desejo de construir uma sociedade

brasileira nos moldes das sociedades brancas

europeacuteias levou a valorizaccedilatildeo da raccedila branca na

construccedilatildeo da identidade brasileira deixando para

segundo plano a participaccedilatildeo dos africanos e

indiacutegenas nesta construccedilatildeo Portanto podemos dizer

que a negaccedilatildeo da histoacuteria social desses povos foi

tambeacutem uma medida de dominaccedilatildeo e de controle social

e poliacutetico de um grupo sobre os demais (Lima 2004)

O preconceito estaacute ligado diretamente ao nosso passado no qual os

negros eram considerados seres inferiores incapazes de construiacuterem civilizaccedilotildees

(Souza 2008 p 140) Com base nos estudos darwinianos pensadores como o

francecircs Joseph-Auguste de Gobineau o alematildeo Richard Wagner e o inglecircs Houston

Steward Chamberlain desenvolveram a tese segundo a qual alguns grupos

humanos teriam herdado certas caracteriacutesticas que os tornavam superiores e os

autorizavam a comandar e explorar outros povos e outros considerados fracos por

terem herdado caracteriacutesticas que os tornavam naturalmente inferiores e

predestinados a serem comandados (Bento 2005 p 25) Diante disso as

caracteriacutesticas fiacutesicas passaram a distinguir os seres humanos e estabelecer

diferenccedilas intelectuais e morais entre eles Surge entatildeo a foacutermula baacutesica do

racismo o negro seria inferior preguiccediloso indolente caprichoso sensual incapaz

de raciocinar e o branco empreendedor disciplinado inteligentes enfim qualidades

que justificariam a exploraccedilatildeo deste sobre aquele

Assim com base nessas ideias de superioridade racial do branco foi

estabelecida no Brasil a poliacutetica do branqueamento A propoacutesito o trecho do livro

Cidadania em Preto e Banco obra de Maria Aparecida Silva Bento nos diz

Intelectuais meacutedicos advogados poliacuteticos brasileiros se entusiasmam com a ideia de que a raccedila branca era superior As teorias raciais trouxeram consigo um problema seacuterio para o Brasil A elite brasileira desejava apresentar o Brasil como um paiacutes branco igualzinho agrave Europa Mas como explicar que de fato o Brasil era um paiacutes majoritariamente negro (nesta eacutepoca 1872 o censo indicava que 55 da populaccedilatildeo era negra) que se enriqueceu com o trabalho escravo (BENTO 2005 p 29)

Estereoacutetipo eacute a

imagem preconcebida de determinada pessoa coisa ou

situaccedilatildeo

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 12: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

10

Dessa teoria equivocada que influenciou historiadores e escritores

ficaram geraccedilotildees e geraccedilotildees de preconceitos e desigualdades

A PINTURA ABAIXO DATA DE 1895 E REVELA MUITO SOBRE COMO A ELITE DA EacutePOCA PENSAVA NO FINAL DOS OITOCENTOS

CONSIDERANDO O QUADRO COMO DOCUMENTO HISTOacuteRICO FACcedilA UMA LEITURA DA IMAGEM APRESENTADA DEPOIS COMPLEMENTE SUAS OBSERVACcedilOtildeES REALIZANDO UMA PESQUISA NO LABORATOacuteRIO DE INFORMAacuteTICA SOBRE A POLIacuteTICA DO BRANQUEAMENTO NO BRASIL E DE QUE MANEIRA ESTA POLIacuteTICA SE CONCRETIZOU NOS TEXTOS E IMAGENS DA EacutePOCA

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 13: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

11

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

A escola eacute apontada muitas vezes como um ambiente indiferente aos

problemas enfrentados pela crianccedila negra e agrave particularidade cultural dessas

Racismo Estrutura de poder baseado na ideologia da

existecircncia de raccedilas superior ou inferior Pode evidenciar-se na forma legal institucional e de praacutetica social No Brasil natildeo existem leis segregacionistas nem conflitos puacuteblicos de

violecircncia racial todavia encoberta pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusatildeo sistemaacutetica dos negros da

educaccedilatildeo cultura mercado de trabalho e meios de comunicaccedilatildeo (Rocha 2006 p 28 )

Vocecirc sabia RACISMO Eacute CRIME Racismo eacute crime Estaacute na Constituiccedilatildeo por meio da Lei 7716 de 1989

ldquoA praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da leirdquo Art 1 ldquoSeratildeo proibidos na forma da lei os crimes resultantes de discriminaccedilatildeo ou preconceito de raccedila cor etnia religiatildeo ou procedecircncia nacionalrdquo Esta lei substituiu a ldquoAfonso Arinosrdquo de 1951 primeira lei antirracista do Brasil (Rocha 2006 p 52)

III - TEMA A HISTOacuteRIA DOS NEGROS NOS LIVROS DIDAacuteTICOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 14: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

12

crianccedilas ao transmitir acriticamente conteuacutedos que folclorizam a produccedilatildeo cultural

da populaccedilatildeo negra valorizando uma homogeneidade construiacuteda a partir do mito da

democracia racial Ainda hoje quando estudamos sobre a histoacuteria do Brasil nos eacute

passada aquela velha imagem do negro soacute enquanto escravo como matildeo de obra

barata como ser inferior incapaz preguiccediloso indolente Enfim permanece o negro

assujeitado e sem voz Portanto erram os historiadores os escritores e os

professores quando natildeo mencionam sobre a contribuiccedilatildeo dos negros na construccedilatildeo

e desenvolvimento da nossa sociedade

O africano natildeo foi somente o escravo que construiu e manteve a

economia colonial e imperial dos trecircs primeiros seacuteculos e meio da ocupaccedilatildeo do

Brasil mas foi sujeito que sempre lutou por sua liberdade e por manter a sua cultura

Eacute de suma importacircncia que a escola assuma o seu papel de destacar na

histoacuteria do Brasil os personagens negros Destacar os vultos negros eacute contribuir para

a construccedilatildeo de uma identidade afro-brasileira que natildeo seja pautada no exoacutetico no

estereoacutetipo e na figura do negro lembrado sempre como escravo e como derrotado

Falar dos heroacuteis negros eacute contribuir para destacar a participaccedilatildeo do negro

na sociedade e romper com alguns discursos ainda muito presentes na nossa

sociedade

VAMOS AGORA ANALISAR UM LIVRO DIDAacuteTICO DE HISTOacuteRIA E DE LIacuteNGUA PORTUGUESA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA VERIFICAR QUAIS SAtildeO AS REPRESENTACcedilOtildeES DOS NEGROS QUE APARECEM NAS NARRATIVAS E NAS IMAGENS DO LIVRO ELABORE UM RELATOacuteRIO CRIacuteTICO COM OS RESULTADOS DA SUA PESQUISA

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 15: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

13

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

Na deacutecada de 30 surge a teoria da democracia racial Essa teoria teraacute

como principal mentor Gilberto Freire Ele afirmava que a colonizaccedilatildeo portuguesa

foi uma colonizaccedilatildeo que natildeo maltratou tanto o negro havendo uma convivecircncia

amistosa entre o colonizador e o negro escravizado Nasce assim a teoria da

harmonia entre negros e brancos O que antes era ldquodefeitordquo do Brasil passou a ser

qualidade O grande nuacutemero de negros e o alto grau de miscigenaccedilatildeo passaram a

ser valorizado O Brasil era um pais formado a partir da contribuiccedilatildeo dos negros dos

brancos e dos iacutendios e essas trecircs raccedilas viviam de forma harmocircnica Natildeo havia

discriminaccedilatildeo no paiacutes Do cruzamento das trecircs raccedilas surgiu o ldquobrasileirordquo Portanto

natildeo fazia mais sentido discutir sobre questotildees raciais jaacute que o ldquobrasileirordquo

sintetizava de forma harmoniosa as contribuiccedilotildees raciais Essa visatildeo de ldquoparaiacuteso

racialrdquo parecia perfeita quando comparada a outras realidades principalmente a

norte-americana onde as fronteiras raciais se desenhavam com mais nitidez Essa

visatildeo de um paiacutes racialmente democraacutetico eacute a que reina ateacute hoje entre a maioria do

povo brasileiro

Este mito da democracia racial construiacutedo na deacutecada de 30 passou a ser

quase que um dogma onde discutir sobre racismo parecia ser um absurdo Mas no

meio dessa visatildeo harmocircnica de um Brasil democraacutetico etnicamente sempre

encontramos pessoas que elevaram a voz discordando dessa visatildeo (Oliveira 2003)

Na deacutecada de 70 com o ressurgimento do movimento negro a questatildeo

racial foi ganhando espaccedilo e hoje a discussatildeo da problemaacutetica racial esta na

academia nos movimentos sociais nos governos na legislaccedilatildeo e na miacutedia Cada

vez mais tomamos consciecircncia que o racismo eacute uma realidade que deve ser

enfrentada por todos Neste processo de ldquovisibilizaccedilatildeordquo do negro eacute necessaacuterio

conhecer os contextos histoacutericos desta participaccedilatildeo e pesquisar e escrever novas

histoacuterias

IV - TEMA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 16: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

14

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

A luta pela verdadeira histoacuteria dos negros no Brasil faz parte das

reivindicaccedilotildees dos movimentos sociais negros no combate ao racismo neste paiacutes

Uma bela tarefa a ser empreendida eacute tirar do anonimato figuras de pessoas negras

que se destacaram nas lutas em prol dos negros na histoacuteria brasileira

1 HENRIQUE DIAS

Mas afinal quem foi Henrique Dias

Henrique Dias era um dos negros combatentes Ele foi escravo e

provavelmente tentava conseguir reconhecimento mediante sua participaccedilatildeo na

guerra contra os holandeses Natildeo se sabe o nome de sua mulher mas sabe-se que

ele constituiu famiacutelia e o casal teve quatro filhos trecircs deles nascido apoacutes 1636 Ao

longo das lutas esse homem negro descendente de angolano e nascido no Brasil

se destacaria de forma extraordinaacuteria pela sua engenhosidade militar sua coragem

COM BASE NO QUE FOI DISCUTIDO ACIMA VAMOS REALIZAR UMA PESQUISA PARA ESCREVER OUTRAS HISTOacuteRIAS DO BRASIL HISTOacuteRIAS QUE RECUPEREM O LUGAR DOS NEGROS COMO PROTAGONISTAS SOCIAIS E SUJEITOS DA RESISTEcircNCIA LEIA OS TEXTOS ABAIXO E ESCOLHA UM DOS SUJEITOS NEGROS PARA DESENVOLVER A SUA PESQUISA E PRODUZIR MATERIAL DIDAacuteTICO PARA AS CRIANCcedilAS DAS PRIMEIRAS SEacuteRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL ESTE TRABALHO PODERAacute SER REALIZADO EM GRUPO

V ndash TEMA SUJEITOS NEGROS NA HISTOacuteRIA DO BRASIL

1 HENRIQUE DIAS

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 17: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

15

pessoal e pela sua mutilaccedilatildeo fiacutesica conseguida na batalhas O que moveria

Henrique Dias nesse laccedilo tatildeo estreito com os senhores brancos Isso natildeo era uma

contradiccedilatildeo Um negro lutando a favor dos senhores brancos Na opiniatildeo do

historiador Luiz Geraldo Santos da Silva certamente foram duas as principais

motivaccedilotildees a condiccedilatildeo de catoacutelico fervoroso combustiacutevel essencial para aquilo que

era uma espeacutecie de combate santo contra o Holandecircs protestante e a possibilidade

de obter alforria e certa ascensatildeo social o que a carreira militar costumava

proporcionar Essas duas possibilidades compotildeem a personagem meio misteriosa

de Henrique Dias Podemos ver nas suas accedilotildees um misto de submissatildeo e

contestaccedilatildeo identidade africana e aceitaccedilatildeo do poder branco

A luta de Henrique Dias rendeu-lhe frutos os quais alcanccedilaram outros

negros Estamos nos referindo a certas prerrogativas poliacuteticas importantes para a

eacutepoca como a criaccedilatildeo de corpos militares com hierarquia proacutepria formados por

negros denominados terccedilos dos Henriques (em homenagem a Henrique Dias) que

se instituiacuteram em toda a Ameacuterica portuguesa Eacute claro que existe nesse caso mais

uma complexidade essas formaccedilotildees serviam aos governos das capitanias e ao

impeacuterio portuguecircs para manutenccedilatildeo do domiacutenio branco e do escravismo mas por

outro lado reforccedilou a identidade dos negros reunindo-os em um coletivo e

possibilitou a inspiraccedilatildeo destes em prol da liberdade ou de um lugar melhor na

sociedade

Apesar da bravura e participaccedilatildeo em guerra como a Batalha dos

Guararapes em fevereiro de 1649 Henrique Dias continuava a ser discriminado

pelos senhores brancos Sobre isso se queixou ao rei em longa carta de agosto de

1650 Depois de janeiro de 1654 quando os holandeses jaacute tinham sidos expulsos

de Pernambuco e se deu a ocupaccedilatildeo portuguesa no Recife Henrique Dias inicia um

longo processo de reconhecimento dos trabalhos por ele prestados agrave Coroa Por

volta de marccedilo escreve uma carta a Dom Joatildeo IV pedindo permissatildeo para ir a

Lisboa e pedir os benefiacutecios prometidos ao longo da guerra e ateacute entatildeo adiados O

rei concede a ele a comenda dos Moinhas de Soure da Ordem de Cristo D Joatildeo

prometeu ainda terras em Pernambuco e dois mil cruzados em dinheiros

empregados em cousas para repartir por seus soldados Poreacutem o Conselho

Ultramarino instacircncia administrativa maacutexima para as colocircnias portuguesas natildeo

despachou acerca da concessatildeo do haacutebito da Ordem de Cristo nem mesmo

autorizou a viagem de Henrique Dias a Lisboa

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 18: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

16

Pelo menos algumas terras ele obteve Contudo a remuneraccedilatildeo

prometida em carta do rei nunca foi recebida Por isso ele foi ateacute Lisboa em marccedilo

de 1656 mesmo agrave revelia do Conselho Ultramarino Escreveu nova carta ao rei do

proacuteprio punho solicitando o recebimento da sua remuneraccedilatildeo mas o rei D Joatildeo IV

veio a falecer em 6 de novembro de 1656 Henrique Dias sabendo das dificuldades

por ser negro abriu matildeo de vaacuterios pontos de sua recompensa renunciando

definitivamente agraves instituiccedilotildees brancas e assim teve seu pedido aceito pelo

Conselho Ultramarino embora ainda mais restrito

Henrique Dias voltou de Lisboa no primeiro semestre de 1658 Em 7 ou 8

de junho de 1662 morreu pobre e esquecido Foi enterrado no Convento de Santo

Antocircnio do Recife agraves expensas da Real Fazenda em local desconhecido

ZUMBI

Mas afinal quem foi este heroacutei da resistecircncia

Zumbi neto de Aqualtune princesa descendente de nobre linhagem

africana nasceu em Palmares em 1655 Em uma das expediccedilotildees contra Palmares

foi raptado levado agrave cidade vizinha de Porto Calvo e entregue ao Padre Melo que o

batizou com o nome de Francisco

Aos 15 anos fugiu e voltou para Palmares Muito jovem ainda ele se

tornou chefe de uma das povoaccedilotildees desse Quilombo Por sua bravura inteligecircncia

pelo corpo vigoroso e vontade de ferro em pouco tempo tornou-se chefe das forccedilas

armadas de Palmares

Durante anos Zumbi e seu povo resistiram a vaacuterias expediccedilotildees que

atacaram o quilombo Depois de sucessivas investidas Palmares foi destruiacuteda e

Zumbi morto dois anos depois no dia 20 de novembro de 1695 Traiacutedo por Antocircnio

Soares que denunciou seu esconderijo e o esfaqueou Zumbi lutou ateacute o fim Foi

castrado e sua cabeccedila dependurada e exposta em local puacuteblico do Recife

2 ZUMBI

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 19: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

17

1 ADELINA A CHARUTEIRA

Mas afinal quem foi Adelina a charuteira

No Maranhatildeo mais precisamente na cidade de Satildeo Luiacutes no seacuteculo XIX

tem a presenccedila de Adelina- a Charuteira filha de uma escrava conhecida como

Boca da Noite e de um rico senhor A biografia dessa ganhadeira eacute exemplar e

assim eacute a sua histoacuteria

Era ainda adolescente quando seu pai e senhor sofreu um reveacutes financeiro empobreceu e passou a fabricar charutos Adelina era encarregada das vendas e duas vezes ao dia ia para a cidade entregando tabuleiros de charutos de botequim em botequim e vendendo avulso para os transeuntes Em sua peregrinaccedilatildeo por Satildeo Luiacutes procurava parar sempre no Largo do Carmo onde estudantes do Liceu eram os seus fregueses Laacute teve a oportunidade de assistir a numerosos comiacutecios abolicionista promovidos pelos estudantes nas escadarias da escola Apaixonou-se pela causa e passou a frequentar as manifestaccedilotildees e passeatas em prol da aboliccedilatildeo da escravidatildeo(Schumaker 2000 p 23)

O ofiacutecio de vendedora levou Adelina natildeo soacute a formar uma vasta rede de

relaccedilotildees mas tambeacutem a conhecer todos os meandros da cidade sua facilidade em

circular pelas ruas tornou-se seu maior trunfo na luta contra a escravidatildeo pois

possibilitava que os ativistas do movimento se antecipassem agraves accedilotildees da poliacutecia e

articulassem fugas de escravos

ldquoAdelina a charuteira ficou famosa e sua vida consta do Dicionaacuterio das

mulheres do Brasilrdquo (Schumaker 2000 apud Bernardo 2003 pp 38-39)

3 ADELINA A

CHARUTEIRA

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 20: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

18

4 LUIZ GAMA

Mas afinal quem foi Luiz Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama foi abolicionista advogado e poeta Nasceu

no dia 21 de julho de 1830 no Estado da Bahia Era filho de um fidalgo portuguecircs

boecircmio e da valente e insubmissa negra Luiza Mahin

Luiz Gama foi vendido aos 10 anos para um traficante de escravos pelo

proacuteprio pai para pagar dividas de jogo

Em 1848 jaacute natildeo era mais escravo conseguindo fugir de seu uacuteltimo

senhor uma vez que sempre carregava consigo os documentos comprobatoacuterios de

sua condiccedilatildeo de negro liberto

Formou-se em Direito e foi um ardoroso abolicionista Com talento

coragem e obstinaccedilatildeo libertou mais de quinhentos escravos Abolicionista dos mais

eloquumlentes ajudou a fundar a ldquoOrdem dos Caifazesrdquo em Satildeo Paulo que

desempenhou importante papel na constituiccedilatildeo do Quilombo Jabaquara

Eacute de autoria de Luiz Gama a ceacutelebre frase ldquoAquele negro que mata

algueacutem que deseja mantecirc-lo escravo seja em qualquer circunstacircncia for mata em

legiacutetima defesardquo

Morreu em 24 de agosto de 1882 (Rocha 2006 p 39)

5 LINO GUEDES

Afinal quem foi Lino Guedes

Na literatura os negros continuaram sendo um foco de combate ao

racismo Lino Guedes nasceu em 1897 em Socorro Satildeo Paulo Era descendente

de escravo Usando uma linguagem direta em suas poesias Guedes falava que

para o negro possuir senso de solidariedade racial natildeo podia esquecer-se de quem

o fizera sofrer Achava que manifestaccedilotildees culturais e religiosas afro-brasileiras

4 LUIZ GAMA

5 LINO GUEDES

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 21: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

19

levavam os negros a esquecer da origem do seu sofrimento Lino Guedes morreu

em Satildeo Paulo em 1951

6 CAROLINA MARIA DE JESUS

Afinal quem foi Carolina de Jesus

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento interior de Minas Gerais

em 14 de marccedilo de 1914 Estudou ateacute o segundo ano primaacuterio Migrou para Satildeo

Paulo em 1947 indo morar na extinta favela do Canindeacute na zona norte Nessa

cidade trabalha como domeacutestica natildeo se adaptando contudo a esse tipo de

trabalho Passa a trabalhar como catadora de papel trabalho que realiza ateacute sua

morte em 1977 Carolina nunca se casou e teve trecircs filhos

Ateacute aqui temos uma histoacuteria que poderia ser a de qualquer outra mulher

brasileira pobre negra semialfabetizada favelada como tantas que existem pelo

Brasil afora natildeo fosse por um detalhe ndash a paixatildeo de Carolina Maria de Jesus pela

leitura e pela escrita Carolina dividia seu tempo entre catar papel cuidar dos filhos e

escrever

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre Carolina no jornal Folha

da Noite No ano seguinte eacute a vez da revista O Cruzeiro divulgar o retrato da favela

feito por Carolina

Em meados da deacutecada de 1960 o jornalista Audaacutelio Dantas ao visitar a

favela do Canindeacute para escrever uma mateacuteria sobre a expansatildeo do local conhece

Carolina que lhe entrega os manuscritos de seu diaacuterio Surge entatildeo seu primeiro

livro Quarto de Despejo livro-diaacuterio em que relata a fome cotidiana a miseacuteria os

abusos e preconceitos sofridos por ela seus filhos e outros moradores da favela

6 CAROLINA MARIA

DE JESUS

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 22: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

20

7 SOLANO TRINDADE

Afinal quem foi Solano Trindade

Solano Trindade nasceu em Recife em 1908 Atraveacutes de sua poesia ia

contra todos os tipos de opressatildeo mas a opressatildeo sofrida pelos negros vai ocupar

um lugar de destaque em sua obra Via nas manifestaccedilotildees culturais negras

elementos importantes para a formaccedilatildeo da identidade eacutetnica e para a luta contra o

racismo Solano Trindade morreu em 19 de fevereiro de 1974

Escritor negro ligado agrave coletividade negra brasileira Foi o primeiro a

escrever com especificidade para negrosEra poeta pintor teatroacutelogo ator e

folclorista Nasceu no dia 24 de julho de 1908 no bairro de satildeo Joseacute no Recife

capital de Pernambuco Era filho de Manoel Abiacutelio mesticcedilo sapateiro e da quituteira

Merenccedila (Emerenciana) Estudou ateacute completar num ano de desenho no Liceu de

Artes e Ofiacutecio A partir de entatildeo comeccedila a escrever

Solano Trindade foi o poeta da resistecircncia negra por excelecircncia Sua

carreira como militante do movimento negro inicia-se de fato a partir de 1930

quando comeccedila a compor poemas afro-brasileiros e jaacute integrado nesta corrente

participa em 1934 do I e II Congresso Afro-Brasileiro no Recife e Salvador Em

1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o centro Cultural Afro-brasileiro que

tinha o objetivo de divulgar os intelectuais e artistas negros

Em 1940 transfere-se para Belo Horizonte Depois vai para o Rio Grande

do Sul onde fixa residecircncia na cidade de Pelotas funda com o poeta Baldoino de

Oliveira um grupo de arte popular Esta foi sua primeira tentativa de criar um teatro

do povo o que natildeo se concretizou devido a uma enchente na cidade destruindo todo

seu equipamento de trabalho Em 1941 volta para Recife indo logo depois para o

Rio de Janeiro onde no ldquoCafeacute Vermelhinhordquo deteacutem-se a discutir e a conversar com

jovens poetas e intelectuais artistas de teatro poliacuteticos e jornalistas Ali fez sucesso

Em 1944 edita o livro ldquoPoemas de uma vida simplesrdquo onde se encontra o

seu declamadiacutessimo ldquoTrem sujo da Leopoldinardquo Em 1945 fundou o comitecirc

Democraacutetico Afro-brasileiro com Raimundo Souza Dantas Aladir Custodio e

Corsino de Brito Em 1954 em Satildeo Paulo na cidade de Embu cria um polo de

7 SOLANO TRINDADE

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 23: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

21

cultura e tradiccedilotildees afro-brasileiras Em Satildeo Paulo tambeacutem funda o Teatro Popular

Brasileiro-TPB onde desenvolve uma intensa atividade cultural voltada para o

folclore e para a denuacutencia do racismo Em 1955 viaja para a Europa com o TPB

onda daacute espetaacuteculo de canto e danccedila Em 1958 edita ldquoSeis tempos de poesiardquo em

1961 ldquoCantares ao meu povordquo (com uma reuniatildeo de poemas anteriores) Solano

Trindade faleceu no Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1974

Francisco Solano Trindade que completaria 100 anos em 24 de julho de

2008 contava em seus versos a realidade dos morros as mazelas de um paiacutes

adepto do racismo cordial As situaccedilotildees contadas nos seus versos estatildeo presentes

no cotidiano de milhares de brasileiros ateacute hoje tornando os textos do poeta do povo

incontestavelmente atuais

Munanga Kabengele O Negro no Brasil de Hoje Kabengele Munanga Nilma

Lino Gomes- Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender)

5 CAcircNDIDO DA FONSECA 6 GALVAtildeO (DOM OBAacute)

Afinal quem era Dom Obaacute

Eduardo Silva (2008) apresenta-o como homem livre negro que vivia na

cidade do Rio de Janeiro reverenciado como o priacutencipe do povo pelas massas e

considerado meio amalucado pelas elites Autointitulado dom Obaacute II d Aacutefrica (Obaacute

significa rei na liacutengua ioruba) era um liacuteder em seu proacuteprio reino a Aacutefrica Pequenardquo

Mantinha relaccedilotildees com o Imperador D Pedro II em frequentes visitas ao palaacutecio ao

qual se dirigia envergando seu bem cuidado uniforme de alferes ou metido em

elegante fraque cartola luvas bengala guarda-chuva e pince-nez de ouro Obaacute

escrevia para jornais expondo seu pensamento sobre questotildees poliacuteticas e sociais

de seu tempo o processo de aboliccedilatildeo da escravatura e relaccedilotildees raciais (SILVA E-

199711) Na verdade dom Obaacute era o alferes Cacircndido da Fonseca Galvatildeo membro

do Corpo de Voluntaacuterios da Paacutetria que participou da Guerra do Paraguai buscava

reconhecimento social por seus feitos ora valendo-se dos tracircmites legais ora

dirigindo-se ao proacuteprio Imperador Depois de concedidas as honras do posto de

alferes do exeacutercito (1872) Galvatildeo encaminha um pedido de pensatildeo por causa de

8 CAcircNDIDO DA FONSECA

GALVAtildeO (DOM OBAacute)

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 24: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

22

moleacutestia adquirida no Campo Novas reivindicaccedilotildees se sucedem ateacute 1880 ano em

que encaminha ao Senado do Impeacuterio o pedido de uma restituiccedilatildeo de 20$000 Nos

seus artigos[7] sobre justiccedila social argumenta que havia se deslocado de Salvador

para o Rio de Janeiro para se sentir mais cidadatildeo

[] Conta-se que no dia 2 de dezembro que seguiu-se agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica o priacutencipe Obaacute como de costume dirigiu-se ao paccedilo para cumprimentar o imperador que encontrando as portas fechadas ou sendo despedido enfureceu-se e prorrompeu em vivas e disparates O que haacute nisso de autecircntico natildeo afirmamos o que eacute certo poreacutem eacute que o governo provisoacuterio da Repuacuteblica casou-lhe as honras de alferes sobrevivendo ele apenas alguns meses a esse desgosto Natildeo seria preferiacutevel tecirc-lo feito recolher a um asilo No dia imediato ao do seu falecimento os grandes jornais da capital consagraram-lhe artigos biograacuteficos cedendo-lhe escolhido lugar na interminaacutevel galeria dos tipos da rua [Melo Morais Filho sd]

MAS AFINAL QUEM FOI

AGORA Eacute COM VOCEcircS CONTINUEM ESTA LISTA E BOM TRABALHO

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 25: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

23

REFEREcircNCIAS

BERNARDO Teresinha Negras Mulheres e Matildees Lembranccedilas de Olga de Alaketu Satildeo PauloRio de Janeiro Pallas 2003 CARDOSO Rafael A Arte Brasileira em 25 Quadros (1790-1930) Rio de Janeiro Record 2008 LIMA Heloisa Pires A presenccedila negra nas telas visita agraves exposiccedilotildees do circuito da Academia Imperial de Belas Artes na deacutecada de 1880 1920 Rio de Janeiro v III n 1 jan 2008 Disponiacutevel em httpwwwdezenovevintenetobrasobras_negroshtmgt LIMA Mocircnica Fazendo Soar os Tambores O ensino de Histoacuteria da Aacutefrica e dos Africanos no Brasil In O Nascimento da cultura Africana Rio de Janeiro UERJ 2004 MUNANGA Kabengele [et al] O Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Global 2006- (Coleccedilatildeo para entender) OLIVEIRA Eduardo de Quem eacute Quem na Negritude Congresso Nacional Afro-Brasileiro- CNAB Brasiacutelia Secretaria Nacional de Direitos Humanos do Ministeacuterio da Justiccedila Dicionaacuterio 1926 OLIVEIRA Nelson Silva Vultos negros na histoacuteria do Brasil um povo invisiacutevel na naccedilatildeo brasileira 2 ed Rio de Janeiro CEAP 2006 ROCHA Rosa Margarida de Carvalho Almanaque Pedagoacutegico Afro- Brasileiro Uma proposta de intervenccedilatildeo pedagoacutegica na superaccedilatildeo do racismo no cotidiano escolar Belo Horizonte Mazza 2006 SILVA Paulo Vinicius Baptista Racismo em Livros Didaacuteticos estudo sobre negros e brancos em livros de Liacutengua Portuguesa Belo Horizonte Autecircntica 2008 TRINDADE Camila Cem anos de Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwsocialismoorgbrportalarte-cultura77-artigo523-cem-anos-de-solano-trindade Acesso em 21042010 LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S)

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010

Page 26: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · de raciocinar e o branco, empreendedor, disciplinado, inteligentes, enfim, qualidades que justificariam a exploração deste sobre aquele.

24

Adelina a Charuteira Disponiacutevel em http4bpblogspotcom_fD-mDJAoi9gSrk3mO4kI6IAAAAAAAAL0g-rTuix1ouNYs320escravajpg Acesso em 20062010 Carolina Maria de Jesus Disponiacutevel em httpconscienciarevolucionaria-kassanblogspotcom200911malcolm-x-el-hajj-malik-el-shabazz-ohtml Acesso em 20062010 Dom Obaacute Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiCC3A2ndido_da_Fonseca_GalvC3A3o Acesso em 20062010 Henrique Dias Disponiacutevel em httpwwwmilitaryphotosnetforumsshowthreadphp100945-Henrique-Dias-The-First-Black-General-One-of-Brazilian-Army-Patriarchs Acesso em 20062010 Lino Guedes Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr00300301009jspttCD_CHAVE=466 Acesso em 20062010 Luis Gama Disponiacutevel em httpwwwnoticiario-perifericocom200709luis-gama-lus-gonzaga-pinto-da-gamahtml Acesso em 20062010 Redenccedilatildeo de Catilde Modesto Brocos Redenccedilatildeo de Catilde 1895 oacuteleo sobre tela 199 x 166 cm Acervo Museu Nacional de Belas Artes Solano Trindade Disponiacutevel em httpwwwpalmaresgovbr_tempsites0002Mailings223Mailing23htm Acesso em 20062010 Zumbi Disponiacutevel em httpsarau-da-ademarblogspotcom2009_11_01_archivehtml Acesso em 20062010