A criança necessita sentir-se emocionalmente bem no espaço que ocupa.
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · emocionais, a cognição e os sistemas comportamentais...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
AFETIVIDADE NO AMBIENTE FAMILIAR E RELAÇÕES COM O DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS NA ESCOLA
Autora: Jussara Chubak Piccoli1
Orientadora: Helga Loos2
RESUMO
Para se conseguir um lar equilibrado é necessário que a família tenha um presente e
um futuro que influencie positivamente o desenvolvimento da autonomia de uma
criança, proporcionando-lhe meios intelectuais e equilíbrio afetivo, contribuindo
assim, para que possa decidir seu próprio caminho, agindo adequadamente diante
das exigências da vida em sociedade. O sentimento de segurança surge quando a
criança sente que é aceita e amada, além de perceber estabilidade, consistência,
constância e solidez nas relações em família; para isso os pais devem conscientizar
seus filhos sobre o que deve ser feito, fornecendo referências e modelos de boas
ações. O presente trabalho, além de uma pesquisa teórica sobre o tema, realizou
uma pesquisa de campo investigando as percepções de crianças/pré-adolescentes
acerca da qualidade das interações que vivenciam em suas famílias. Tal
procedimento tem o objetivo de estabelecer, posteriormente, ações que visem uma
aproximação entre a família e a escola, buscando-se promover, em parceria, o
desenvolvimento integral das crianças e uma melhoria em seus processos de
aprendizagem escolar. A coleta de dados se deu por meio de um instrumento
padronizado (Escala de Qualidade na Interação Familiar), aplicado a 68 alunos da
6ª. série de uma escola estadual do município de Curitiba. O instrumento avalia as
relações familiares por meio de nove dimensões (positivas e negativas). Os
resultados mostraram que as dimensões “envolvimento”, “modelo”, “regras e
monitoria”, “clima conjugal” (positivo e negativo) e “sentimento dos filhos” foram
predominantemente bem avaliadas pelos alunos, tornando-se pessoas mais seguras
e confiantes, com melhores chances de aproveitamento.
Palavras-chave: família; afetividade; desenvolvimento; escola; aprendizagem.1 Graduada em Pedagogia, atua no Colégio Estadual Arlindo Carvalho de Amorim.
2 Graduada em Psicologia, Doutora em Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação pela UNICAMP. Professora do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação, Universidade Federal do Paraná.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................2
1.1 OBJETIVO GERAL.......................................................................3
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.........................................................4
1.3 JUSTIFICATIVA........................................................................... 4
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................5
2.1 INTELIGÊNCIA X AFETIVIDADE X EMOÇÕES...........................5
2.2 DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL............................................7
2.3 A AFETIVIDADE E A APRENDIZAGEM.......................................8
2.4 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E A FAMÍLIA...........14
3. METODOLOGIA........................................................................................... 17
4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS..................................................... 18
5.CONCLUSÃO................................................................................................ 28
REFERÊNCIAS................................................................................................ 29
1. INTRODUÇÃO
A família é o contexto mais importante nos primeiros anos de vida de uma
criança, isso porque é nesse contexto que ela irá adquirir as primeiras habilidades,
aprenderá hábitos básicos, a brincar, a rir e a se relacionar com as pessoas.
2
A família não é o único agente educacional, pois temos também a escola,
onde os processos de socialização e de construção do conhecimento se produzem
de maneira científica, desenvolvendo, portanto, a característica distintiva do homem:
a racionalidade. Não podemos, no entanto, esquecer da afetividade, que é um
conjunto de processos que regula os demais comportamentos humanos. Há várias
crianças que sofrem muitos conflitos porque sua vida emocional é mal ajustada.
As estruturas que formam o sujeito como um ser pensante se desenvolvem
por meio do organismo, da inteligência, do meio social e da afetividade, que faz com
que prestemos maior atenção na vida humana; assim, todos esses fatores são
essenciais para educar homens plenos e equilibrados, capazes de vários
comportamentos complexos e que, graças a isso, se fazem humanos, juntamente
com os outros homens, modificando continuamente a sociedade.
O ciclo da vida é um segmento histórico, em continuidade, o qual é sempre
renovado, passando de geração em geração. Através da família e da escola a
criança irá descobrir, nas formas sociais, um dinamismo consciente. Essas duas
formas de conhecimento, uma advindo da família e outra da escola, nem sempre se
completam harmoniosamente quando as crianças procuram compreender o mundo
à sua volta.
O conhecimento científico transforma o cotidiano, e vários são os tipos de
conhecimento necessários para que as crianças se desenvolvam em diferentes
contextos. As várias aprendizagens experienciadas por uma criança transformam a
qualidade de sua participação no mundo, embutindo valores desenvolvidos na
comunidade na qual ela está inserida. Rever continuamente a maneira como
ensinamos, enquanto pais e enquanto professores, permite que haja efetivas
mudanças nesta comunidade, tornando-a mais comprometida com a sociedade e
transformando seus membros em cidadãos
1.1 OBJETIVO GERAL
Explorar o papel da família no desenvolvimento das crianças/adolescentes
estabelecendo, posteriormente, ações que visem uma aproximação entre a família e
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a escola, buscando-se promover, em parceria, o desenvolvimento integral das
crianças e uma melhoria em seus processos de aprendizagem escolar.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Investigar como os alunos percebem a qualidade
de suas interações familiares, por meio de
instrumento padronizado elaborado para este fim.
• Identificar possíveis situações de prejuízo nas
interações bem como a existência de vínculos
saudáveis entre pais e filhos.
• Compreender a importância das habilidades sociais
entre os integrantes da comunidade escolar, por
meio das atividades previstas no Caderno
Pedagógico.
• Como fim último, planejar e implementar ações que
busquem assegurar a parceria entre família e
escola, visando a busca de objetivos comuns e de
soluções para os desafios educacionais.
1.3 JUSTIFICATIVA
Este projeto será desenvolvido em um colégio da rede estadual de ensino do
Estado do Paraná, a partir do mês de junho de 2010, tendo como objetivo conduzir
crianças e jovens a um futuro melhor. Supõe-se que a parceria entre a escola e a
família propiciará aos alunos segurança na aprendizagem, criando cidadãos críticos,
capazes de enfrentar os desafios que a sociedade apresenta.
A partir da inserção no colégio serão coletados dados, através de
questionários e observações, instrumentalizando os pais a desenvolver um trabalho
4
sistemático a respeito da dificuldade de aprendizagem nos alunos em que os pais
apresentam-se pouco afetivos.
Frente a essa demanda que emergirá no contexto da pesquisa, se
desenvolverá o presente projeto, que tem por finalidade agir assertivamente na
escola em relação ao baixo rendimento escolar provavelmente nas famílias que
demonstram pouca afetividade e a partir do material coletado com a colaboração
das experiências dos pais estudaremos as possíveis mudanças de ação auxiliando
na autonomia de cada adolescente.
Para tal, serão realizados encontros com grupos de pais, a fim de sensibilizá-
los para a importância da afetividade na educação familiar e escolar, bem como de
desenvolver uma proposta pedagógica visando sua aplicabilidade.
Neste contexto, torna-se indispensável uma análise dos aspectos que
envolvem e exercem influência no desenvolvimento humano e na aprendizagem.
Assim justifica-se a relevância desta pesquisa, que busca identificar maneiras
por meio das quais se possa alcançar estratégias que facilitem a integração escola-
família, despertando novas formulações que servirão de base para novas pesquisas
a respeito do tema.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 INTELIGÊNCIA x AFETIVIDADE x EMOÇÕES
Inteligência é a qualidade que as pessoas possuem para resolver
corretamente um problema, que as permite adaptar-se a situações novas e aprender
com facilidade. Inteligente é, então, o indivíduo capaz de um pensamento abstrato e
que possui a capacidade de adquirir novos conhecimentos. De acordo com a
abordagem dinâmica, então, inteligente é todo indivíduo que faz parte de um meio
no qual age, manipula, transforma, desenvolvendo concomitantemente suas
estruturas psíquicas.
A afetividade também nasce no interior do indivíduo que participa do meio
físico ou social, podendo ser agradável ou desagradável; assim, o prazer e a dor são
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matrizes psíquicas dos afetos. Esses dois afetos básicos que constituem a vida
afetiva, o amor e o ódio, estão sempre presentes na vida psíquica, associados aos
pensamentos, às fantasias, aos sonhos, e se expressam de diferentes modos na
conduta de cada um.
Os afetos nos ajudam a avaliar as situações e servem como critérios de
valoração positiva ou negativa para as situações de nossa vida. Eles preparam
nossas ações e participam ativamente da percepção que temos das situações
vividas e do planejamento de nossas reações no meio, função essa caracterizada
como função adaptativa. Assim sendo, nossas capacidades cognitivas – nossa
inteligência – necessitam da afetividade para exercer suas funções.
Os afetos estão, também, ligados à consciência, o que permite dizer ao outro
o que sentimos, expressando através da linguagem nossas emoções. Por isso, nem
sempre nossos afetos são enigmáticos. Quando não queremos ou não podemos
demonstrá-los; a afetividade se expressa nos desejos, nos sonhos, nas fantasias,
nas expectativas, nas palavras, nos gestos, no que fazemos e pensamos. A
afetividade é o que nos faz viver.
As emoções fazem parte da vida afetiva, e são padrões comportamentais
típicos que expressam alegrias, tristezas e outros estados emocionais acerca da
nossa vida. Por vezes são difíceis de descrever enquanto sequências espaço-
temporais de atividade motora, mas é fácil a um observador identificar esses
padrões como emocionais, porque não somente pode reconhecer diversos tipos de
resposta, como também pode sentir nele mesmo uma estimulação afetiva
determinada por sua interpretação pessoal da reação observada.
Existem muitos termos relativos a emoções, como por exemplo: mágoa,
tristeza, pesar, desprezo, repulsa, desgosto, vergonha, remorso, ciúme, inveja,
ansiedade, frustração, dor, fuga, medo, ódio, cólera, raiva, ira, horror, terror, orgulho,
excitamento, animação, prazer, divertimento, felicidade, alegria, amor, humor,
sensações estéticas, disposição, afeto, sentimento, interesse, aversão,
temperamento, nervosismo diante do público, excitação sexual, otimismo,
experiência religiosa (ou transcendente).
As emoções são, portanto, expressões afetivas acompanhadas de reações
intensas e breves do organismo, que ocorrem em resposta a um acontecimento
inesperado ou, às vezes, a um acontecimento muito aguardado (fantasiado) e que,
quando acontece, podem acarretar distúrbios gastrointestinais, cardiorrespiratórios,
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sudorese, tremor, entre outras manifestações fisiológicas. As emoções podem gerar
momentos de tensão em um organismo, e as reações orgânicas são descargas de
tensão que aparecem subitamente e parecem difíceis de controlar.
Algumas respostas emocionais humanas provavelmente são escolhidas pela
observação e imitação daquilo que é visto (aprendizagem por observação) em nosso
ambiente imediato, mas alguns padrões relacionados à emoção são determinados
pela hereditariedade.
2.2 DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL
As etapas do desenvolvimento emocional pelas quais uma criança passa,
desde a sua concepção, representam momentos que induzem à incorporação de
experiências vividas e determinam a entrada e a saída de uma etapa a outra etapa
sucessiva. Cada uma delas é caracterizada por fenômenos específicos que desde o
início trazem consigo, na bagagem genética, valores que serão transmitidos para
todas as demais células do corpo durante o processo de desenvolvimento.
Nos primeiros tempos de relacionamento, as crianças demonstram o quanto
são importantes aos pais com comunicações emocionais específicas, como a
sequência de vocalização e de expressões faciais que sugerem alegria ou aflição.
A voz é de importância fundamental para a comunicação emocional. Ao falar
com os bebês, os adultos modificam sua voz e estes prestam mais atenção,
revelando atitudes positivas durante o discurso.
O tato, ou toque, também tem um papel muito importante; é através dele que
muitas vezes podemos expressar o que estamos sentindo: quando fazemos carinho,
quando batemos, quando abraçamos, etc. O contato de pele com pele tem a
possibilidade de transmitir mensagens ao outro, sobre como estamos nos sentindo,
através de neurotransmissores e nervos que levam até o sistema nervoso central a
mensagem enviada (através do toque) e este (o sistema nervoso central) modula,
por meio dos próprios neurotransmissores e nervos, e das células imunitárias
cutâneas, o estado da pele. Um contato terno e amoroso na pele produz a sensação
de apoio, consolo, companhia e presença amiga; um contato rude e agressivo faz a
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pessoa sentir-se rejeitada, desprezada, invadida, provocando-lhe reações de defesa
ou de raiva.
Há uma crescente maturidade cognitiva e afetiva através das interações com
outras pessoas, o que permite que se estabeleçam vínculos de parceria cada vez
mais estreitos entre pais e filhos. No final do primeiro ano de vida, as reações
emocionais, a cognição e os sistemas comportamentais tendem a organizar-se,
assegurando de que quem cuida do bebê estará emocionalmente sempre disponível
para ele. A próxima fase é a do auto-sistema e da regulação. A criança passa a
desenvolver, gradativamente, um “eu” autônomo, o que é permitido pela passagem
de uma fase sensório-motora para uma fase simbólica, com o aparecimento da
linguagem.
2.3 A AFETIVIDADE E A APRENDIZAGEM
Camargo (2004) chama a atenção para o fato de que, ao se observar com um
outro olhar a relação dos indivíduos em sociedade, percebe-se que a racionalidade,
que vem ocupando o primeiro plano nessas relações, não é tão sólida e segura
quanto parece. A vida doméstica, política e econômica, observada mais de perto,
revela todo um jogo de tensões, contração, sedução, vergonha, alegria, raiva, medo
e tristeza. O cotidiano exige um certo controle racional das pessoas; no entanto,
tanto as atividades do dia-a-dia, como as relações pessoais, políticas e
internacionais revelam, a todo tempo, um teatro de emoções.
Por volta da primeira infância a criança torna-se capaz de reconstruir suas
ações passadas, narrando-as através da linguagem, e conseguindo antecipar suas
ações futuras. Temos, assim, o início da socialização das ações, ou seja, trocas
mais sistemáticas e compartilhamentos mais organizados entre os indivíduos.
Segundo Piaget (1971), essas relações existem em germe desde a segunda
metade do primeiro ano de vida, graças à imitação, cujos progressos estão em
íntima conexão com o desenvolvimento senso-motor. Através da linguagem a
criança descobre as riquezas do mundo, seus pais e os adultos aparecem como
seres grandes e fortes, inspiradores de atividades imprevistas e misteriosas.
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Sob a influência da linguagem e da socialização, a primeira infância sofrerá
modificações no que se refere à inteligência. Por meio da aprendizagem, a criança
organiza novos conhecimentos e apresenta novos hábitos, desenvolvendo-se no
âmbito social de maneira mais cooperativa e comunicativa.
É na escola, através dos processos formais de ensino-aprendizagem, que a
criança terá oportunidade de desenvolver mais suas habilidades, apropriando-se e
transformando-se, mediada pelo professor na construção e apropriação do saber.
Apesar desse importante papel, a sociedade tem apresentado, nos dias atuais, um
sentimento de desencanto em relação aos problemas cotidianos que a escola vem
enfrentando.
Valorizamos em nossa sociedade a leitura e a escrita, e isso vai se
transformar em um motivo para que a criança tenha necessidade de aprender.
Sendo coerente com a sua fala, ela irá escrever de maneira igual e, ao escrever, a
criança começa a falar em voz alta o que coloca no papel. Esse comportamento é
muito importante para seu desenvolvimento, pois é uma das maneiras dela revelar
suas emoções.
O seu autoconceito, ainda em formação, também vai ser um fator
determinante para o exercício das aprendizagens futuras, porque uma postura
positiva diante das atividades de aprendizagem pressupõe “meio caminho andado”,
já que a criança tende a não se sentir bloqueada ao tentar explorar o seu ambiente,
ou seja, a aprender. Ao contrário, demonstrará prazer em desenvolver tais
atividades, salientando-se na escola, sendo retroalimentada por suas conquistas
pessoais.
Vygotsky (1987) revelou a existência de dois tipos de atividades humanas: as
reprodutoras e as criadoras, sendo a primeira quase que exclusivamente derivada
da memória, enquanto a segunda envolve novas imagens ou ações. É a atividade
criadora que faz o homem se desenvolver, modificando seu presente e é por meio
dela que as emoções são trabalhadas.
Nesse sentido, explica Goleman (2001) que a aprendizagem é uma atividade
ao mesmo tempo reprodutora e criadora, pois remete à imaginação e traz em si
implicações afetivas, onde todas as emoções levam a uma ação imediata, que nos
fazem sentir vívidos na execução de qualquer tarefa, e diante de uma variedade de
metas.
9
Existem, entretanto, muitas queixas em relação ao ato de aprender; muitos
alunos dizem não ter interesse pelas aulas e os professores julgam que estes estão
alheios às atividades propostas. Há também erros na avaliação, pois os professores
muitas vezes desconhecem o aluno, suas possibilidades e significações, resultando
no fracasso escolar.
Qualquer aprendizagem supõe que seja despertado o interesse do aluno – ou
seja, sua afetividade, sua emoção relativa ao ato de aprender, de executar uma
tarefa ou de buscar uma meta – para que este não fique apático em sala de aula ou
tenha falta de atenção. Quando isso não ocorre, o estudante acaba por colocar em
dúvida a satisfação que se consegue com o conhecimento, deixando a escola em
desvantagem com relação ao mundo exterior. Para muitos alunos o estudo é
desqualificado como valor para a vida; seu valor associa-se aos valores culturais e
diferentes estilos de vida, onde alguém pode estar motivado para uma determinada
tarefa e desmotivado em relação à outra, ligada a situações específicas de acordo
com a emoção experienciada no momento.
Vivemos em uma cultura que desvaloriza as emoções, chegando a não ver o
entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui o viver humano.
Conforme explica Maturana (1999), não nos damos conta de que todo o sistema
racional tem um fundamento emocional.
Vygotsky (1987) também defende o entrelaçamento entre razão e emoção, já
que, para ele, a compreensão plena e verdadeira do pensamento do outro só se
consegue quando compreendemos neste outro os seus afetos e desejos.
Alunos com dificuldades de aprendizagem apresentam, muitas vezes, formas
fantásticas de imaginação que podem ser encaradas como positivas e necessárias
para o desenvolvimento. A imaginação e a fantasia estão a serviço da esfera
emocional, onde as imagens servem, também, como expressão dos sentimentos. O
problema reside apenas quando ela ultrapassa os limites da realidade e prejudica as
relações sociais. Por isso é necessário conhecer o conteúdo da imaginação nos
alunos com dificuldades de aprendizagem, bem como a sua história; devemos
verificar se o uso dessa imaginação é cíclico, repetitivo ou ficcioso, impedindo
avanços nos processos de aprendizagem.
A autorregulação é uma importante função psicológica que contribui para o
sucesso na aprendizagem. Envolve a capacidade de planejar, monitorar e avaliar os
processos envolvidos na aprendizagem, detectando erros e modificando situações,
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gerenciando ou transferindo uma aprendizagem para uma nova situação. Uma vez
consciente da própria cognição e motivado para aprender, realizando suas
atividades e não sendo exageradamente repreendido, o aluno estará realizando
operações mentais mais adequadas.
A antecipação do fracasso pode gerar emoções e sentimentos ligados à
apatia, inação, irritabilidade ou pânico, associando-se a uma baixa autoestima,
interferindo assim negativamente no desenvolvimento. A preocupação em não
escrever corretamente, por exemplo, pode levar os alunos até mesmo a não
utilizarem a escrita como instrumento de comunicação. Defende-se atualmente que
somente através da fusão entre emoção e cognição nas experiências das crianças é
que acontece a construção apropriada de sua identidade.
A riqueza ou carência de estímulos desempenham papel primordial nos
processos de desenvolvimento dos alunos, pois estes agem sobre as atividades e
suas relações com a realidade, determinando novas motivações. É nesse contexto
que o papel da família, a cultura e a experiência social definem o que é desejável.
A emoção está ligada à aprendizagem, especialmente quanto à capacidade
de sensibilizar-se ante o novo, sendo um meio eficaz para a comunicação e
aquisição de novas informações. Um nível emocional leve tende a produzir atenção
e interesse pela aprendizagem; porém, se é demasiadamente elevado este grau de
excitação, o desempenho pode declinar, e é por isso que se deve ter um nível
adequado de emoção, garantindo o envolvimento nas atividades, mas evitando um
nível excessivo de ansiedade.
De acordo com Goleman (2001), a motivação positiva reúne sentimentos de
entusiasmo, zelo e confiança, aumentando as possibilidades na conquista de um
objetivo. Tais sentimentos estão geralmente ligados à motivação intrínseca, ou seja,
o fato dos alunos perceberem que um resultado de aprendizagem é significativo, ou
tem interesse em si mesmo, constitui um forte motivo para aprender, quando a razão
para se esforçar está no que se aprende.
Aprender pela satisfação pessoal de compreender ou dominar algo implica
em que a meta ou o motivo da aprendizagem é precisamente aprender, e não obter
algo em troca da aprendizagem. Outras vezes, no entanto, trata-se de conseguir
algo desejado ou de evitar algo indesejado, em troca de aprender. É o que acontece
com a motivação extrínseca, uma situação em que o motivo para aprender está fora
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do sujeito que aprende, sendo motivado por suas conseqüências e não pela própria
atividade de aprender em si.
Na medida em que nossas emoções atrapalham ou aumentam nossa
capacidade de pensar e fazer planos, de seguir treinando para alcançar uma meta
distante, solucionar problemas e coisas assim, elas definem os limites de nossas
capacidades mentais, e assim determinam como podemos nos sair na vida. Para
Goleman (2001), na medida em que somos motivados por sentimentos de
entusiasmo e prazer no que fazemos, ou mesmo por um grau ideal de ansiedade,
esses sentimentos nos levam ao êxito.
Vemos assim que o desempenho escolar é resultante de uma combinação de
diversos fatores. A atribuição de causalidade é também um aspecto psicológico
relevante neste contexto. Uma atribuição leva ao aumento ou à diminuição da
motivação ligada a um elemento específico, já que constitui uma interpretação, uma
teoria implícita que uma pessoa constrói e que lhe dá referências acerca de certas
causas serem ou não consideradas válidas para se atingir uma dada conseqüência.
Os indivíduos tendem a interpretar suas experiências de sucesso e fracasso
concentrando-se em quatro fatores: inteligência, esforço, dificuldades da tarefa e
sorte, tendo como causas a localização (dentro ou fora do indivíduo), a
controlabilidade e a estabilidade (POZO, 2002).
A inteligência pode ser vista como causa interna, pertencente ao sujeito,
estável, imutável e fora do controle do mesmo; o esforço é concebido como uma
causa interna, instável que pode ser alterada e controlável monitorado pelo sujeito.
Tanto o nível de dificuldade da tarefa como a falta de sorte são causas externas,
instáveis e fora do controle do indivíduo.
À medida que a criança fica mais velha ela se torna mais consciente da
relação compensatória entre o esforço e a inteligência, começa a perceber que
pessoas diferentes podem ter sucesso ou fracassar investindo o mesmo esforço. À
proporção que as crianças avançam na escola, passam a ser mais avaliadas e
consequentemente aprendem a diferenciar os conceitos de inteligência e de esforço.
Quando os resultados imediatos não são possíveis ou quando os esforços extras
são necessários para obter êxito numa determinada tarefa, elas tendem a
abandonar a atividade em questão se não se percebem como eficazes para realizá-
las.
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Sentimentos de ineficácia estão associados a um declínio na motivação como
desempenho disfuncional e problemático; quanto mais o indivíduo se percebe eficaz,
melhores são as suas construções cognitivas de ações efetivas, estabelecendo
metas mais avançadas para si próprios.
Conforme Pozo (2002), a autoavaliação otimista aumenta o nível de aspiração
e de motivação e a autoeficácia exerce muita influência sobre o comportamento em
direção ao sucesso escolar. Estratégias cognitivas são destinadas à realização do
progresso cognitivo (repetir em voz alta palavras a serem memorizadas) e
estratégias metacognitivas são voltadas para o monitoramento e autocontrole do
processo de aprender. O aluno não só aprende o conhecimento como avalia o seu
progresso (toma providências imediatas quando percebe que não entendeu, usa o
autoquestionamento) para verificar se houve compreensão.
Criar assim um clima competitivo aniquila a motivação intrínseca para
aprender; sendo preferível estimular a autoeficácia através de auto comparações ao
longo do tempo, monitorando o progresso do indivíduo.
Pensamentos negativos são freqüentes em alunos com baixo rendimento,
sendo então muito importante ensinar os alunos a serem menos ansiosos e a
reagirem positivamente diante dos obstáculos. Isso porque uma aprendizagem
efetiva e auto-regulada está associada a um elevado senso de controle sobre o
ambiente, à auto-observação, à auto-avaliação, à auto-eficácia e ao uso de
estratégias cognitivas e metacognitivas (POZO, 2002).
É essencial, assim, transmitir aos alunos, bem como à sua família, estratégias
para se lidar com o fracasso de forma construtiva, instrumentalizando-os com uma
oportunidade de se repensar as estratégias utilizadas, de entender os erros
cometidos e de aprender a lidar com os sentimentos negativos e autodepreciativos,
de forma que possam, então, crescer como indivíduos.
A análise conjunta de expectativas e valores sugere algumas vias pelas quais
os professores podem intervir na motivação, fazer seus alunos se acercarem da
aprendizagem e se manterem nela. De acordo com Pozo (2002), para incrementar
as expectativas nas tarefas podemos:
- Adequar as tarefas às verdadeiras capacidades de aprendizagem dos
alunos, reduzindo a probabilidade de que fracassem; isto implica em um bom
planejamento institucional para a aprendizagem.
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- Informar os alunos sobre os objetivos concretos das tarefas e os meios para
alcançá-los, orientando sua atenção e guiando sua aprendizagem mediante a
ativação dos conhecimentos prévios adequados.
- Proporcionar uma avaliação do alcance dos objetivos propostos que seja
algo mais do que um prêmio ou castigo, que proporcione informação relevante sobre
as causas dos erros cometidos baseados em fatos internos, instáveis e controláveis.
As atividades de avaliação são ocasiões de aprendizagem, tanto para os
alunos como para os professores, onde as expectativas sobre o próprio rendimento,
bem como sua autoestima se originam externamente, como expectativas que os
demais têm em relação a eles, e que depois se interiorizam.
Conforme Pozo (2002), existem três funções que sustentam a atenção: um
sistema de controle de recursos limitados, um mecanismo de alerta ou vigilância e
um mecanismo de seleção ou filtro da informação.
Existem em nossa memória de trabalho muitos estímulos, fatos ou mudanças
ambientais aos quais atendemos. Um dos meios de incrementar os limitados
recursos atencionais é condensar vários elementos de informações numa só peça,
transformando os processos controlados em automáticos. Sem atenção não há
aprendizagem, ou quanto maior a atenção maior a aprendizagem. Costumamos dar
mais atenção a uma informação interessante e que tenha a ver com nossa
motivação. Inclinaremos mais por aquela informação que alude a nós pessoalmente,
que tenha a ver conosco, com nossas preocupações.
Convém diversificar as tarefas, graduar as novas aprendizagens (que
consomem mais recursos) e dar toda a autonomia possível aos alunos para que se
estabeleça seu próprio ritmo de aprendizagem; além de envolvê-los ativamente na
realização das tarefas, devemos também dosar as novas aprendizagens.
A melhor maneira de ajudar um aluno a recuperar uma informação é planejar
o contexto dessa informação facilitando, assim, sua recuperação. O estado
emocional do aluno pode afetar a recuperação de forma que se algo foi aprendido
em estado de ansiedade ou de euforia, será recuperado mais facilmente estando
nesses estados novamente. Reviver dentro do possível o contexto de aprendizagem
será uma boa ajuda para recuperar o aprendido.
2.4 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E A FAMÍLIA
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Algumas famílias se decepcionam pelos resultados dos estudos de seus
filhos, outras se demonstram indiferentes e ambos os comportamentos afetam o
sujeito impedindo o seu crescimento. Todos somos produtos do meio e sofremos
influência de nossas famílias, porém o que determina um bom aproveitamento
escolar nem sempre depende somente do tipo de família em que se está inserido.
A categoria das dificuldades de aprendizagem desenvolveu-se a partir do
conceito de “criança com lesão cerebral” analisada por Alfred Strauss
(neuropsiquiatra) e Heinz Werner (psicólogo especializado em psicologia comparada
e do desenvolvimento) em Michigan. Estes profissionais perceberam que crianças
que apresentavam dificuldades na aprendizagem possuíam características de
crianças com lesão cerebral mínima (síndrome de Strauss) e tinham distúrbios
perceptuais e do pensamento, além dos distúrbios motores, em especial a
hiperatividade e o desajeitamento.
Em 1960 os “distúrbios de aprendizagem” competiam com o termo
“dificuldades de aprendizagem”, que passou a designar crianças portadoras de lesão
cerebral mínima dissociada do distúrbio neurológico. Várias associações foram
criadas apoiando crianças e suas famílias e na década de 70 multiplicaram-se as
literaturas. De acordo com o National Joint Comitê on Learning Desabilities
(NJCLD)-EUA (1997), dificuldade de aprendizagem é um termo referido a um grupo
heterogêneo de desordens que se manifestam por dificuldades na aquisição e uso
da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas
desordens estão dentro do sujeito devido a uma disfunção no sistema nervoso
central durante um período na vida. Junto com as dificuldades podem aparecer
problemas de comportamento, percepção social e interação social.
Conforme o National Institute of Mental Health (NIMH-EUA, 2009), a
dificuldade de aprendizagem consiste em uma desordem em interpretar o que é
visto, ouvido ou a relacionar essas informações vindas das diferentes partes
cerebrais. As dificuldades de aprendizagem podem aparecer no falar, no escrever,
na coordenação motora, no autocontrole ou na atenção e abrangem os trabalhos
escolares, dificultando assim a rotina, a vida familiar, as amizades e as diversões,
podendo ocorrer durante toda a vida do sujeito ou em situações isoladas, com
pequeno impacto.
Quando há falhas no processamento das informações que comprometem os
neurônios e suas conexões o processo fica fragmentado gerando dificuldades na
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aprendizagem e, por isso, exercendo um efeito negativo que normalmente abala a
autoestima do sujeito.
As dificuldades de aprendizagem podem se tornar piores em um ambiente
cheio de ruídos, onde a comunicação é difícil ou impossível, acentuando o problema.
Existem também pais com pouco preparo, que lidando de maneira errônea com os
filhos acabam por agravar a problemática. E considerando-se que as situações de
aprendizagem são relacionais, todos os envolvidos – aluno, escola, especialistas e
família – são co-responsáveis pelo processo.
Segundo Polity (2001), quando se atende uma família é necessário considerar
alguns aspectos importantes: estrutura familiar; possibilidade de diferenciação e
formação da identidade das pessoas envolvidas; adaptação ao ciclo vital; lealdades,
alianças e colisões; padrões de repetição; padrão de aprendizagem familiar;
funcionamento familiar; manejo dos segredos e mitos familiares.
Desde sua concepção a criança é depositária de expectativas do casal, como
também das famílias de origem dos pais e, por vezes, contrariar as expectativas
pode ser perigoso ou ameaçador para algumas famílias. Daí a necessidade de
manter-se fiel ao sistema, fazer-se parte do grupo, compartilhando princípios e
definições simbólicas, não colocando em desequilíbrio o grupo, ou fugindo de
situações de frustração, ansiedade e conflito.
Exige-se das crianças em idade escolar que reproduzam o que foi ditado por
valores familiares transmitidos de geração em geração, o que é passado de pais
para filhos, determinando, em grande parte, como as gerações mais novas se
relacionarão com o conhecimento. De acordo com Polity (2001), a história, os mitos,
as lealdades, os mandatos e os temas da família, interagindo no ciclo vital desse
sistema, determinam padrões de funcionamento que dão origem à modalidade de
aprendizagem familiar. Está intrinsecamente enraizado nas expectativas que vão
sendo criadas o grau de satisfação e/ou resolução das questões intelectuais e
profissionais que afetam os pais.
O mito familiar fornece modelos de conduta, designando posições de cada um
dentro do grupo. No caso de uma criança adotada, por exemplo, o fato desta
demonstrar curiosidade sobre suas origens pode ser visto como deslealdade à sua
família adotiva, pois a adoção geralmente carrega consigo o estigma e a vergonha,
precisando ser tratada como um segredo.
16
A forma de lidar com o conhecimento e, consequentemente, com a escolha
profissional pode sofrer influência das questões de gênero. Para os garotos tende a
existir uma exigência maior na área intelectual, na qual é cobrado para ser bem
sucedido profissional e financeiramente. Já para as garotas, principalmente para
aquelas cujas mães não trabalham fora, há uma ambivalência extrema e
expectativas pessoais de serem capazes de fazer tudo, nas áreas profissional,
familiar e de relacionamento.
3. METODOLOGIA
Este trabalho apresenta, como objetivo principal, estudar a formação do
vínculo entre a família e a escola. Para tanto, considera-se que um passo importante
é analisar a importância da família na vida afetiva dos alunos, de maneira que se
possa, a partir das percepções observadas, propor ações que ajudem a aproximar a
escola da família, bem como intervenções que venham a contribuir para o
desenvolvimento mais adequado das crianças e adolescentes da comunidade
escolar em questão e, consequentemente, melhorar o seu aproveitamento escolar.
Compõem a amostra 68 crianças, de ambos os sexos, alunos da 6ª série do
Ensino Fundamental de uma escola estadual do município de Curitiba. A coleta se
deu no ambiente escolar (nas salas de aula), com os alunos agrupados em suas
turmas de origem, tendo sido utilizada uma hora-aula para a aplicação do
instrumento em cada turma.
Os procedimentos de coleta dos dados seguiram as seguintes etapas: (1)
solicitação de permissão da direção da escola para o desenvolvimento da pesquisa;
(2) elaboração de consentimento dos pais para a participação dos filhos na
pesquisa; (3) aplicação de instrumento padronizado (EQIF – Escala de Qualidade da
Interação Familiar) (WEBER et al., 2009) aos alunos, contendo questões objetivas
em que cada criança avalia sua mãe (ou substituto desta) e seu pai (ou substituto
deste) conforme sua percepção acerca das interações familiares que vivencia.
A EQIF é composta de 40 questões em sistema Likert de cinco pontos
(alternativas de resposta: nunca, quase nunca, às vezes, quase sempre, sempre),
agrupadas em nove escalas. Seis delas abordam aspectos da interação familiares
17
considerados “positivos”: envolvimento, regras e monitoria, comunicação positiva
dos filhos, clima conjugal positivo, modelo parental, sentimento dos filhos. As outras
três referem-se a aspectos considerados “negativos”: comunicação negativa,
punição corporal, clima conjugal negativo.
A construção da EQIF se deu pela necessidade brasileira de avaliar práticas
educativas parentais e aspectos da interação familiar avaliados em conjunto, os
quais são capazes de fornecer um padrão comportamental familiar, sendo que este
padrão pode ter características protetivas (o padrão que apresenta mais aspectos
positivos e, portanto, oferece proteção ao desenvolvimento da criança e/ou
adolescente) ou caracterizar-se como sendo de risco (aquele que apresenta mais
aspectos negativos e se constitui, assim, um fator de risco para o desenvolvimento
saudável da criança e/ou adolescente). A EQIF é um instrumento que pode ser
utilizado com segurança, pois é confiável e consistente de acordo com as avaliações
de suas propriedades.
Pesquisas vêm relacionando os aspectos familiares positivos ao desempenho
satisfatório dos filhos em diferentes áreas, sendo que os mesmos apresentam
menos problemas comportamentais e menor envolvimento com drogas de todas as
espécies. Já os aspectos negativos são associados a situações que aumentam a
probabilidade da criança assumir comportamentos de risco.
O projeto de pesquisa que deu base ao presente artigo foi socializado,
contando com a participação de vários professores do Grupo de Trabalho em Rede
(disponível aos professores da rede pública do estado do Paraná e integrantes do
PDE), na forma de comentários e considerações, no sentido de discutir e
acrescentar novas possibilidades de reflexão.
4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Análise da Escala de Qualidade na Interação Familiar (EQIF)
A seguir serão apresentados histogramas que representam a distribuição dos
alunos que participaram da pesquisa (eixo da vertical), sendo que em cada
dimensão avaliada pelo instrumento podem ser observados os escores atribuídos
18
pelas crianças tanto aos pais como às mães (eixo da horizontal). Na análise das
dimensões são mencionados os escores mínimo e máximo a ser obtido em cada
uma delas, buscando-se fornecer parâmetros para o entendimento da média
alcançada pelos pais e pelas mães. Estes escores variam conforme o número de
questões que compõem cada uma das subescalas.
Dimensão: Envolvimento
A subescala Envolvimento diz respeito à participação e ao envolvimento dos
pais na vida dos filhos, investigando se os pais apóiam e são sensíveis às reações
dos filhos, mostrando-se presentes diariamente em suas vidas. Engloba
demonstrações de carinho físico e verbalizações positivas, bem como estímulos ao
diálogo e à autonomia do filho.
O histograma que representa os escores obtidos pelos pais apresentou uma
média de 30,63 (escore mínimo 8, escore máximo 40), o que equivale a 77,5%. Já
as mães apresentaram a média de 32,65 (equivalente a 82,5 em base percentual),
significando que tanto as mães quanto os pais da presente amostra foram avaliados
muito positivamente por seus filhos. Pode-se observar que a maioria dos alunos se
encontra dentro da curva normal, o que sugere um nível de envolvimento satisfatório
nas interações, ou seja, grande parte das famílias não se apresenta como famílias
de risco em relação a este aspecto. As poucas famílias em que os filhos atribuíram
baixos escores aos pais no quesito envolvimento (representadas pelas barras que
19
se aproximam do lado esquerdo dos gráficos) são as que necessitariam de
intervenção.
Dimensão: Regras e Monitoria
A subescala Regras e Monitoria é avaliada sob dois aspectos, sendo o
primeiro a existência de regras ou de normas que devem ser cumpridas pelo filho e
o segundo a ocorrência da monitoria, ou seja, a supervisão do cumprimento dessas
regras.
A média obtida no histograma para os pais nesta dimensão foi de 14,63
(escore mínimo 4, escore máximo 20), equivalendo a 73,15% e para as mães a
média de 16,44 com o percentual de 82,20%, valores que também são sugestivos
de mães e pais que apresentam um bom nível de apresentação e monitoramento de
regras em relação aos filhos.
Os pais que alcançaram bons escores nessa dimensão têm filhos que,
provavelmente, serão pessoas bem sucedidas. Os demais (representados pelas
barras que se aproximam do lado esquerdo dos gráficos) provavelmente são pais
autoritários, negligentes ou indulgentes, o que pode ser um fator de risco ao bom
desenvolvimento dos filhos. Isso porque todas as famílias devem ter as suas regras,
negociar e equilibrar limites, sendo que os pais não devem ser rígidos demais e nem
muito permissivos, sem regras e com papeis soltos.
20
É necessário que a família reforce ambientes de diálogos e relações afetivas.
Em um sistema familiar com regras e papeis inflexíveis, a criança pode encontrar na
transgressão o espaço para se manifestar, tendo voz e sendo protagonista de
maneira inadequada. A falta de limites imposta pela família poderá fazer com que a
criança procure a lei e a interdição fora do seu habitat.
Dimensão: Comunicação Positiva dos Filhos
Esta subescala investiga a abertura de diálogo entre pais e filhos, bem como
a disposição dos mesmos de se sentirem à vontade para falar de si aos pais.
Pode-se observar nos gráficos apresentados que média obtida foi de 7,55
para os pais (escore mínimo 3, escore máximo 15), o que equivale a 50,33%, e de
8,53 para as mães (equivalente a 56,86 em base percentual). Tais escores sugerem
que boa parte dos alunos participantes desta amostra não se sente completamente
à vontade para se comunicar com suas mães, e menos ainda com seus pais, o que
pode ser observado também pela disposição das barras nos histogramas (alta
frequência de alunos concentrados no lado esquerdo, ou seja, que atribuíram baixos
escores aos pais nesta dimensão).
A existência de diálogo é um requisito fundamental para que uma família
possa ser considerada harmoniosa e, a partir de tal resultado, verifica-se ser preciso
intervir no sentido de conscientizar os pais da necessidade de se mostrarem afetivos
21
e receptivos aos filhos, de modo que estes percebam os pais também como amigos
e se sintam encorajados a contar o que se passa com eles – não precisando buscar
exclusivamente fora de casa (muitas vezes em companhias consideradas “não
desejáveis”) alguém para conversar.
Dimensão: Comunicação Negativa
A subescala Comunicação Negativa analisa a existência de modos
inadequados dos pais se dirigirem aos seus filhos, indicando falta de controle
emocional quando estes se comunicam com eles prioritariamente por meio de
ameaças, gritos, xingamentos e humilhações.
De acordo com a média obtida de 10,35 para os pais (escore mínimo 5 e
escore máximo 25), equivalente a 41,40%, pode-se supor que vários pais avaliados
na presente amostra tratam seus filhos de modo inadequado na forma de expressão
e conteúdos na comunicação, o que é representado pela quantidade de barras
presentes do lado direito do histograma (por se tratar de uma dimensão negativa,
um alto escore nesta subescala é um indicador negativo.
Já para as mães a média obtida foi de 11,72, equivalente a 46,88%, valor
ligeiramente inferior ao dos pais. A distribuição das barras no histograma, entretanto,
aponta uma concentração maior de crianças que avaliaram suas mães de maneira
positiva, o que sugere que um número menor de mães (comparativamente ao
22
número de pais) costuma se comunicar de forma agressiva com seus filhos. Apesar
disso, a situação ainda se mostra preocupante, já que se pode observar (tomando-
se por base a média obtida e analisando-se a distribuição no gráfico) que muitas
mães de crianças e pré-adolescentes da presente amostra são percebidas pelos
filhos como utilizando maneiras inadequadas no trato com eles ou demonstram
habitualmente falta de controle emocional.
É possível que isso explique, em parte, o resultado encontrado na dimensão
anterior (comunicação positiva dos filhos), pois crianças que são costumeiramente
tratadas com agressividade por seus pais tendem a se retrair, não se sentindo à
vontade para “se abrir” com seus pais, já que percebem que o que lhes for dito pode
“se voltar contra eles”, na forma de xingamentos ou de ameaças.
Dimensão: Clima Conjugal Positivo
Essa subescala é relativa à percepção do filho acerca de um convívio
harmonioso entre o casal, onde predomina o afeto, o respeito e o diálogo.
A média de 16,12 obtida para os pais (escore mínimo 5 e escore máximo 25),
correspondente a 64,48 em base percentual, e a média para as mães de 16,09, que
corresponde a 64,36%, representam valores quase equivalentes, o que sugere uma
percepção bastante coerente por parte dos filhos. Tais valores, bem como a
23
distribuição das barras nos histogramas, também indicam o predomínio de casais
(considerando-se a amostra estudada) que mantém um relacionamento satisfatório.
Por outro lado, pode-se visualizar a existência de uma quantidade expressiva
de casais que foram avaliados negativamente pelos filhos no que se refere ao clima
conjugal, já que tanto no gráfico dos pais como das mães é possível constatar
escores bastante baixos (próximos ao escore mínimo, que é 5), sendo notável que
muitos se situam abaixo da média atingida pelo grupo.
Julga-se que tal situação pode ser trabalhada pela escola, no sentido de
conscientizar os pais de que a qualidade do clima conjugal que mantêm com seus
parceiros é também alvo de atenção por parte dos filhos, e que a harmonia entre os
pais é desejada por eles e saudável ao seu desenvolvimento psicológico.
Dimensão: Clima Conjugal Negativo
Esta subescala corresponde à percepção dos filhos quanto à utilização de
formas agressivas com que os pais interagem entre si, com diálogo negativo, brigas
ou xingamentos.
A média obtida foi de 9,22 pontos para os pais (escore mínimo 4 e escore
máximo 20), correspondendo a 46,10%, e de 9,60 pontos para as mães, o que
equivale ao percentual de 48%. Aqui também se pode perceber coerência na visão
dos filhos, devido à proximidade dos valores entre pais e mães, pois é uma
dimensão que trata da relação entre o casal.
24
Tratando-se de uma subescala considerada negativa, é desejável que os pais
alcancem baixos escores; ou seja, quanto mais baixo o escore nesta dimensão,
melhor pode ser considerado o clima conjugal, a relação entre o casal. De acordo
com a média e coma distribuição nos histogramas verifica-se que isso tende a
acontecer, já que a maior concentração de alunos situa-se até o escore 10. Porém
em consonância com o verificado na dimensão anterior, verifica-se uma quantidade
significativa de pais e mães avaliados negativamente nesta subescala (que atingiram
altos escores), o que reforça a necessidade da intervenção sugerida anteriormente.
Dimensão: Punição Corporal
A subescala em questão corresponde às punições corporais utilizadas pelos
pais como forma de correção ou controle do comportamento dos filhos, seja para
disciplinar ou para descarregar suas próprias emoções. Assim sendo, trata-se de
uma dimensão negativa, ou seja, é desejável que baixos escores sejam atingidos, já
que a punição física não deve ser utilizada como uma estratégia prioritária de
educação dos filhos.
De acordo com a média de 6,05 obtida pelos pais (escore mínimo 3, escore
máximo 15), equivalente a 40,33%, e também de acordo com a distribuição dos
escores no histograma, verifica-se que palmadas e surras não é a estratégia
predominante neste grupo de pais para corrigir ou controlar o comportamentos dos
filhos. Todavia, uma parte deles é avaliada pelos participantes como fazendo uso
25
deste tipo de prática. O mesmo ocorre com as mães, que obtiveram uma média de
6,88 (correspondente a 45,86, em base percentual). A distribuição dos escores
alcançados pelas mães é similar à dos pais (como pode ser observado nos
histogramas), embora existam mais mães que alcançaram altos escores do que
pais, o que justifica sua média ligeiramente aumentada.
Parece ser necessário, também no que se refere a esta dimensão das
interações familiares, que haja uma intervenção da escola para orientação dos pais
e mães na busca de soluções disciplinares alternativas para seus filhos.
Dimensão: Modelo Parental
A subescala Modelo Parental verifica se há coerência na forma com que os
pais utilizam para ensinar seus filhos, fornecendo a si mesmos como exemplos (ou
modelos) dos valores e comportamentos que pretendem transmitir.
Os pais atingiram a média de 10,83 (escore mínimo 3 e escore máximo 15),
correspondente a 72,20%, enquanto as mães obtiveram a média de 11,53, o que
equivale a 76,86 em base percentual. Tais valores mostram que, conforme a
avaliação das crianças, os pais e mães da presente amostra, em sua maioria,
procuram agir de maneira coerente em relação aos ensinamentos que pretendem
passar aos filhos.
No entanto, percebe-se que uma parcela de pais não é avaliada tão
positivamente por seus filhos (estes são representados pelas barras mais próximas
26
do lado esquerdo dos gráficos) enquanto modelos a serem seguidos, sendo que se
pode notar que isso se aplica mais aos pais do que às mães. É possível supor que
os pais que dedicam muito tempo à vida profissional sofram pressões de ordem
externa que dificultem essa tarefa, acabando por não agir tão coerentemente com
seus filhos conforme gostariam. Acredita-se que a escola possa contribuir na
conscientização dos pais quanto à importância de serem, na prática, bons exemplos
para seus filhos.
Dimensão: Sentimentos dos Filhos
Essa é uma subescala que possui um caráter bastante subjetivo, pois se
propõe a avaliar como os filhos se sentem em relação aos pais, nas questões de
afeto e exemplo.
De acordo com a média obtida para os pais de 21,15 (escore mínimo 5 e
escore máximo 25), o que equivale a 84,60 em base percentual, e a média de 22,12
para as mães, que corresponde ao percentual de 88,48, percebe-se que os
sentimentos dos filhos em relação aos pais está, de maneira geral, em alta conta. A
partir de tal resultado se pode supor que os filhos, apesar de eventuais problemas
no trato de seus pais com eles, cultivam sentimentos positivos, de amor e afeto em
relação aos pais.
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Analisando-se as barras do histograma, observa-se que cerca de metade da
amostra concentra-se no escore máximo possível para esta dimensão, um dado que
pode ser considerado significativo. A outra metade dilui-se entre as outras
possibilidades de escores, mas ainda assim são poucos os alunos que se
posicionam do lado esquerdo dos gráficos, tanto no que diz respeito à avaliação dos
pais quanto das mães. Mas, tendo em vista que cada aluno é uma pessoa em
desenvolvimento, faz-se necessário que a escola esteja atenta para identificar essas
crianças, estudando a problemática familiar da qual fazem parte, de maneira a
buscar minimizar o sofrimento que vivenciam.
Nesse sentido, o resultado verificado nesta dimensão é importante também
do ponto de vista do desenvolvimento global das crianças e adolescentes da
comunidade escolar em questão, já que quando estas possuem um vínculo afetivo
significativo com seus pais, os “canais” mostram-se mais “abertos”, isto é, há maior
receptividade e pregnância em relação ao que é bom naquilo que é valorizado na
família. Assim, os filhos sentem-se mais seguros e autoconfiantes, demonstrando
essa segurança por meio de variados tipos de comportamentos considerados
positivos, entre eles, a disponibilidade ao aprendizado. A escola pode e deve, desse
modo, contribuir no que estiver ao seu alcance para o cultivo de boas relações
afetivas nas famílias de seus alunos.
5. CONCLUSÃO
A família e a escola são muitíssimo importantes para o desenvolvimento
infantil e as relações entre ambos denotam a necessidade de promover atividades
em conjunto, dividindo responsabilidades e tornando-as mais equilibradas para a
promoção do sucesso escolar dos filhos/alunos.
Independente do nível socioeconômico e do grau de escolaridade, os pais
normalmente demonstram-se preocupados com o rendimento dos seus filhos, sendo
que a escola, por sua vez, espera que esses pais supervisionem as atividades
realizadas na escola empregando estratégias adequadas. Esse envolvimento dos
pais é primordial, pois acompanhando as atividades, monitorando-as e orientando-
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as, de maneira espontânea ou da forma sugerida pela escola, os pais apóiam a
equipe escolar na promoção do desenvolvimento dos seus filhos.
Esta aproximação entre a família e a escola em relação aos processos de
aprendizagem e de desenvolvimento deve ser prioritária para aproximar e estimular
os alunos. As atividades realizadas em colaboração entre a escola e a família no
acompanhamento das crianças e adolescentes servem como subsídios para avaliar
o seu desenvolvimento, podendo-se, então, propor atividades que busquem garantir
a parceria existente entre escola e família.
Supõe-se que existe conexão entre a qualidade das interações familiares e o
desempenho escolar das crianças e adolescentes. Nesse sentido pôde-se
identificar, na pesquisa realizada, que os pais que estabelecem relações afetivas
intensas, mas que também monitoram e acompanham o comportamento de seus
filhos, inclusive na escola, propiciam a eles um melhor rendimento escolar. Porém,
convém aprofundar os estudos realizados em novas pesquisas.
A pesquisa realizada também permite supor a necessidade de que seja
realizado um trabalho de conscientização das famílias em reuniões voltadas para a
comunidade e grupos de pais, debatendo assuntos referentes à importância dos
vínculos familiares na vida psicológica dos alunos. Pretende-se agir assertivamente
principalmente em relação às famílias que demonstram pouca afetividade,
buscando-se a troca de experiências, a colaboração, estudando-se as possíveis
mudanças nas ações de modo a auxiliar na construção psicológica de cada criança/
adolescente. Neste contexto, torna-se indispensável uma análise conjunta dos
aspectos que envolvem e exercem influência no desenvolvimento humano e na
aprendizagem.
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