DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · estranhamento pode levar os estudantes a imaginarem...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

Ângela de Fátima Coelho Mendes Fabro

2010

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

NRE Jacarezinho

Município Jacarezinho

Professor Ângela de Fátima Coelho Mendes Fabro

E-mail [email protected]

Escola Colégio Estadual Dr. Ubaldino do Amaral

Disciplina Arte ( X )

Conteúdos estruturantes Elementos formais.

Composição.

Movimentos e períodos.

Conteúdo específico Artes Visuais

Título Rastros, Relatos e Retratos: a confecção de Baús de

Guardados

Interdisciplinaridade Sociologia, Ciências.

Orientador Dra. Maria Irene Pellegrino de Oliveira Souza.

E-mail [email protected]

IES UEL- Campus de Londrina.

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RASTROS, RELATOS E RETRATOS:

A CONFECÇÃO DE BAÚS DE GUARDADOS “Por meio da arte o homem pode conseguir aprender a realidade, não só para suportá-la, mas, principalmente, para transformá-la, ou seja, para humanizá-la e, dialeticamente, humanizar-se”.

Maria Inês Hamann Peixoto

A apresentação do contexto contemporâneo leva-nos a pensar que a sociedade foi capaz

de criar um desenvolvimento técnico científico sem precedentes na história da humanidade.

Continuamos evoluindo, mas infelizmente todo esse avanço não foi capaz de garantir tempo e

espaço para as necessidades humanas.

A atual crise ambiental com seus respectivos problemas marcado pela degradação sócio-

ambiental e fruto da fragilidade dos valores que orientam a relação ser humano/natureza, se

intensifica ao longo do tempo e de forma cada vez mais acentuada, resultando na miséria, no

consumismo e na exclusão social e econômica.

Sabemos que o meio ambiente na atualidade apresenta uma gama enorme de imagens

que muitas vezes nos revelam mais informações do que um texto verbal, logo, espera-se com

esse trabalho conhecer o pensamento, a argumentação, a leitura do não verbal dos estudantes e,

a partir daí propor intervenções e reflexões, ampliando suas leituras de modo a contribuir na

formação de leitores sensíveis, críticos, criativos, questionadores, capazes de discutir,

argumentar, e agir.

Não só por suas relações e por suas respostas o homem é criador de cultura, ele é também ‘fazedor’ da história. Na medida em que o ser Humano cria e decide, as épocas vão se formando e reformando. (FREIRE, 2001, p.38).

É diante desse formar e reformar da sociedade inserida em contextos históricos e culturais

de sua época, criam sentidos que refletem sua maneira de conceber o mundo. A relação do ser

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humano com o ambiente sempre teve sua essência na transformação da natureza mediante a

dominação. Entretanto, como se pode constatar, esse domínio do ambiente, hoje não tem mais

sentido.

O homem se destaca nas diferentes áreas, através dos objetos que constrói e nos faz

refletir sobre a natureza, sobre os indivíduos e sobre nossa própria existência.

Reelabora seu modo de viver e sentir, torna-se um leitor de mundo interferindo no

cotidiano, construindo sua poética pessoal, seu modo singular de tornar visível seu olhar sobre o

mundo.

Na linguagem da Arte há criação, construção e invenção. O ser humano, através dela,

forma, transforma a matéria oferecida pelo mundo da natureza e da cultura em algo significativo.

Desse modo, garantir o acesso os estudantes às atividades artísticas, ao conhecimento em Arte

constitui-se num dos elementos essenciais para o fruir, conhecer e poetizar, pois assim

poderíamos contribuir para o redirecionamento do aluno a um olhar crítico que se faz pela

criatividade, despertando para utilização e o reaproveitamento de materiais alternativos que tantas

vezes destroem a natureza.

Vale lembrar que a Arte é importante na escola, principalmente porque “[...] é importante

fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo homem através dos tempos, a Arte é um

patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber.”

(MARTINS,1998,p.13).

Pensar no ensino da Arte é então pensar na sua leitura e produção, na sua linguagem, o

que, por assim dizer, é um modo único de despertar a consciência e novos modos de

sensibilidade. Isso pode nos tornar mais sábios, seja sobre nós mesmos, o mundo ou as coisas do

mundo; seja sobre a própria linguagem da Arte, que além de ter grande importância nas

transformações culturais, artísticas e sociais, possibilita que o aluno possa intervir de forma ampla

e consciente no seu ambiente sócio-político-cultural, lutando para que as mudanças que acredita

necessária aconteçam.

Os jovens de hoje, de amanhã devem ser capazes de criar e produzir mudanças sócio-

culturais, hoje apontadas como urgentes e fundamentais para a qualidade de vida e sobrevivência

do planeta. Barbosa (2005) para tratar da importância da Arte na vida do ser humano apóia-se

nas idéias de Fanon, o qual acredita que a Arte pode ser um meio para o indivíduo se firmar no

mundo e ter consciência do seu estar no mundo.

A aproximação deste processo pode talvez facilitar a compreensão de que o ensino da

Arte também requer um processo organizado para que possibilite a efetiva alfabetização não-

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verbal; neste caso a linguagem artístico-visual calcada na idéia de interação do sujeito como um

meio social e natural.

Para Barbosa (2005, p.99),

“A Arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum, outro tipo de linguagem, tal matéria-prima tornando possível a visualização de quem somos, de onde estamos e como sentimos.”

Através da Arte, é possível desenvolver a percepção e a imaginação para aprender a

realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar a realidade

percebida, bem como desenvolver a capacidade criadora de maneira a mudar uma determinada

realidade analisada. E para que saia da função de adorno, de mera ostentação de riqueza, de

livre expressão individual do artista, e se constitua num recurso de desenvolvimento, é necessária

a harmonização dos sentidos.

Os órgãos biológicos (ouvidos, olhos, etc.) precisam ser superados pela formação dos

órgãos sociais, a fim de que se desenvolva a capacidade sensorial humana, que por sua vez

culminará na sensibilidade. Assim, entendemos que pela Arte o sujeito torna-se consciente de sua

existência como ser social, o que possibilita conhecer e entender a si próprio e a representação da

realidade.

Por sua vez, a dimensão artística é fruto de uma relação específica do ser humano com o

mundo e o conhecimento. Essa relação é materializada pela e na obra de Arte, que é “parte

integrante da realidade social, é elemento da estrutura de tal sociedade e expressão da

produtividade social e espiritual do homem” (KOSK, 2002, p.139).

Concebemos o homem como um ser capaz de assumir-se como sujeito de sua história,

agente de transformação de si e do mundo, fonte de iniciativa, liberdade e compromisso no plano

pessoal e social. Assim, do nosso ponto de vista o homem não é um simples produto do meio,

fruto de ações e condicionamentos, mas ele também é produtor de relações que podem opor-se a

condições mais adversas e instaurar processos de mudanças e transformações na vida e no

ambiente onde está inserido.

O trabalho possibilitará não só ao aprendizado de novos conhecimentos, mas também,

envolverá o adolescente com sua realidade, suas experiências e saberes pré-existentes.

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Cada um de nós, combinando percepção, imaginação, repertório cultural e histórico, lê o

mundo e o representa à sua maneira, sob o seu ponto de vista, utilizando formas, cores, sons,

movimentos, ritmos e espaços.

METODOLOGIA

Ressaltando que esta unidade fará parte de uma pesquisa-ação, as propostas

apresentadas aqui, são na verdade parâmetros para o desenvolvimento da mesma, uma vez que

neste tipo de trabalho as propostas vão se construindo de acordo com as respostas dos

estudantes.

O professor acompanhará seus estudantes, sujeitos da pesquisa, no seu próprio ambiente

em nível local – método dedutivo –, de modo a levá-los a observar, tirar conclusões, fazer

registros, comentários que podem subsidiar os trabalhos que serão realizados em sala de aula.

Nesta pesquisa o levantamento de descartes encontrados no ambiente são elementos essenciais

para a continuidade do trabalho. Este momento é muito importante, pois depende desse olhar

para posteriormente sensibilizá-los quando diante da apreciação de obras e a relação com

diferentes materiais, ajudando a ampliar as referências como apreciadores de Arte e nas próprias

produções, para aprenderem a analisar a produção de um artista e desenvolver o olhar sensível e

crítico diante dos trabalhos apresentados.

Vale lembrar que as observações dos estudantes poderão dar-se por fotografia, desenho,

texto-diário, relatórios, enfim, com recursos que os auxiliem na hora das discussões e das próprias

produções.

Nesta unidade são propostas algumas etapas com o objetivo de traçar um percurso por

meio do qual será possível observar como os estudantes se desenvolvem a partir da mediação

realizada pela docente, no sentido de estimular suas leituras e provocar seus olhares, propor

intervenções e reflexões ampliando seus repertórios a fim de contribuir na formação de um leitor

questionador, capaz de discutir e argumentar suas idéias, além de virem a intervir na sua

realidade observada. Assim, refletir sobre o que causou encantamento e o que causou

estranhamento pode levar os estudantes a imaginarem algo além da realidade.

Agora cabe ao professor criar caminhos para introduzir os estudantes nas produções

artísticas de modo que estes percebam o quanto a Arte pode estar a serviço de cada um.

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Conforme as DCE/Arte, a metodologia desta pesquisa contempla as três instâncias do

ensino de Arte.

O Teorizar: fundamenta e possibilita ao aluno que perceba e aproprie a obra artística, bem

como desenvolva um trabalho artístico para formar conceitos artísticos.

O Sentir e Perceber: são formas de apreciação, fruição, leitura e acesso à obra de Arte.

O Trabalho Artístico: é a prática criativa o exercício com os elementos que compõe uma

obra de Arte.

Este trabalho possibilitará não só o aprendizado de novos conhecimentos, mas também,

envolverá o adolescente com sua realidade, suas experiências e saberes pré-existentes, pois as

práticas coletivas de discussão, realizadas ao longo do trabalho, também contribuirão, para o

crescimento coletivo da turma.

Além disso, a construção da relação de autonomia, de criação e recriação de seus

trabalhos, possibilitará redefinir a relação dos adolescentes com a instituição, com os colegas,

com suas famílias e com a comunidade.

RASTROS, RELATOS, RETRATOS

Um baú de guardados, onde o novo pode conviver

com o velho, o rural com o urbano, os sonhos com a

realidade, as alegrias com as frustrações, esta é a

proposta que se descreverá a seguir.

Desta forma, os estudantes serão levados a

lembrar de fatos marcantes de suas vidas e após imaginar que lembranças e objetos gostariam de

guardar para sempre vão pensar em um lugar especial para depositá-los. Como seria este lugar?

Espera-se que através dos registros escritos, cada aluno consiga criar seu “depósito” de

lembranças.

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Para conhecer o que pensam os estudantes acerca do mundo no qual estão inseridos

faremos diversos questionamentos, que além de contribuírem para um mapeamento mais pontual

sobre o grupo, levarão os mesmos a pensarem de forma crítica sobre o assunto.

Você gosta de futebol? Para que time você torce?

Você gosta de ouvir música? Qual você mais gosta?

Você se lembra de alguma canção de ninar? Alguém

cantava para você dormir?

Que filme você mais gostou?

Cite três cantores, dupla, ou grupo musical que mais

gosta de ouvir.

Gosta de RAP ou HIP HOP?

Já visitou Exposições de Arte?

Que artista ou obra ficou em sua lembrança.

E o Teatro? Já participou de algum trabalho, gostou de interpretar algum personagem?

A fim de preparar um processo de reflexão e construção do conhecimento em Arte será

adotada a produção do artista Frans Krajcberg, pois esta pode contribuir para a conscientização

ambiental uma vez que o artista cria a partir dos descartes da natureza.

Para que se uma idéia sobre o pensamento de Frans Krajcberg apontaremos uma breve

biografia deste que nasceu na Polônia (Kozienice) em 1921 e emigrou para o Brasil em 1948.

Morou em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, e atualmente reside na Bahia. Sua arte se mantém

fiel à concepção de Arte ligada à pesquisa e à utilização de elementos da natureza: a Arte

ecológica. A paisagem brasileira, em todo o seu esplendor e a defesa incansável do meio

ambiente marca toda a sua obra.

Seu amor pela natureza o fez recriar, em seus relevos, esculturas, pinturas e fotografias,

as texturas, os relevos, as formas e as cores presentes nas matas e nas florestas. Além disso, a

matéria prima utilizada pelo artista em suas criações também vem da natureza, principalmente do

resultado das queimadas criminosas que acontecem em todo o Brasil.

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Cria belíssimas esculturas a partir de árvores retorcidas e calcinadas que sobra das

queimadas. Essa atitude, além de ser considerada estética, ou seja, uma atitude que busca o

belo, e também uma atitude ética, pois busca denunciar a destruição do meio ambiente por meio

de expressão artística.

Suas obras, portanto, abrangem a relação do ser humano/natureza, contribuindo para o

desenvolvimento de uma consciência social e planetária, permitindo um rico e valioso trabalho

com a disciplina de Ciências.

Os vídeos apresentados para os estudantes também têm a finalidade de ampliar o

repertório destes, no sentido de perceberem como cada pessoa se expressa de maneira diferente

sobre um mesmo assunto e também, contribuir para o desenvolvimento de um olhar crítico,

inquiridor.

Saiba mais. Mostre aos estudantes como a formação acadêmica, a experiência de vida e as

idéias de Frans Krajcberg são essenciais para que o trabalho seja reconhecido e valorizado.

www.pitoresco.com.br; Frans Krajcberg imagens Google.

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Sensibilizando pela vida de um herói

Após o vídeo ver o filme escolhido é “Amazonas em

Chamas”, dirigido por John Frankenheimer.

Realizado em 1994, conta a história da vida de Chico

Mendes. Desde a infância, Chico foi testemunha das brutalidades

cometidas contra os seringueiros, explorados por seus patrões.

Ainda jovem, decidiu lutar em favor do povo de sua região. De

pequenas discussões com criadores de gado, passando pela liderança de seu sindicato e pela

campanha internacional contra a devastação da floresta amazônica, Chico Mendes acreditava no

diálogo e em soluções sem violência. Acabou transformando-se em uma figura de importância

nacional, um herói local, e um peso ainda maior para seus inimigos.

Como todo filme, este também é uma obra de Arte. Entretanto, este, em especial, é um

tipo de obra de Arte que denuncia e critica os problemas do mundo em que vivemos. No percurso

da história, em diversas ocasiões e de diversas maneiras, os artistas apontam os erros dos

poderosos que, invariavelmente, acabam causando algum tipo de sofrimento e de injustiça social.

Dessa forma, o filme propicia o debate sobre: o problema das queimadas e da exploração

de nossas riquezas naturais por empresas multinacionais; a relação que existe entre Arte e crítica

social.

ATIVIDADES

Após essa imersão no tema, serão formados grupos

os quais farão uma pesquisa em jornais, revistas e internet

sobre as causas dos nossos problemas ecológicos atuais,

tendo como causa o desenvolvimento acelerado, o

consumismo, a falta de conscientização para com o

Planeta. O trabalho deve incluir a busca de imagens e informações sobre artistas das mais

diversas formas de expressão (Artes Visuais, Música, Dança, Teatro, Literatura) que protestam e

denunciam a violência contra a natureza.

Em todos os momentos os estudantes serão levados a refletir acerca da vida no mundo

atual, das nossas necessidades, das vaidades, dos acertos e dos erros cometidos.

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Dentre as atividades propostas sempre se farão presentes os questionamentos necessários ao

despertamento de consciências.

O que todas essas obras possuem em comum?

Qual é a técnica utilizada pelo artista?

Como a natureza é representada em cada uma delas?

As formas são realistas ou abstratas?

As árvores estão sozinhas ou em grupo? O que isso pode simbolizar?

As cores das esculturas são fracas, suaves, ou são fortes e contrastantes?

Na sua opinião, o uso de troncos e raízes destruídos em queimadas criminosas em obras

de Arte é um ato artístico ou político?

Porque ele prefere usar materiais presentes na natureza para se expressar?

PARA SABER MAIS!

Apresentação das obras do 1º artista plástico de nosso município, José Alexandre Pinto (Zé

Negrão)

O artista se destaca por produzir suas obras utilizando materiais alternativos coletados na

natureza, obras que sensibilizam e nos fazem refletir.

Agora professor, você pode elencar um artista do seu município, para que pesquisem e

apreciem suas obras. Lembre-se que devem ser abordados conceitos históricos, e o arquivo

público municipal fornecerá aos estudantes uma oportunidade para que possam ver nos

documentos da cidade, a biografia, os trabalhos e informações sobre artistas pioneiros da cidade,

e observarem que suas obras eram feitas com materiais alternativos, por exemplo. Esta proposta

implica também em não deixar passar a oportunidade de incluir exemplos de culturas locais e de

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Arte, relacionados com temas concretos, próximos da vida dos estudantes Isto provavelmente os

levará a querer preservar os trabalhos que se apresentarem, pois, no decorrer da pesquisa

perceberão quanto é importante conhecer e preservar a própria história.

Outra etapa da pesquisa deve ser voltada para artistas atuais do município a fim de que os

estudantes percebam que a cultura é algo dinâmico e que eles fazem parte dela.

Temas e atividades serão propostas conforme as discussões com os estudantes, à medida

em que surgirem novas idéias para os trabalhos, pois este é um momento muito importante para

sensibilizá-los, a fim de aprenderem a analisar a produção de um artista, para desenvolver um

olhar sensível e crítico diante dessas obras.

Estudante, agora é com você: Reflita sobre estas questões.

O que você sentiu mediante a proposta de trabalho? A que você

atribui esse sentir?

Qual sua opinião sobre esta proposta e sobre sua produção?

Se fosse para representar o bloco de ações como você faria?

Então agora é hora de começar a criar sua caixa de guardados. Lembre-se: criar é antes de tudo assumir riscos!

Esta é a última etapa da pesquisa: a construção de um Baú de Rastros, Relatos e Retratos

contendo a história de vida do estudante, através de modelagens, miniaturas, mini-esculturas,

desenhos, papietagens, contos, poesias, cartas,

registros de momentos alegres e tristes; frustrações,

sonhos, poéticas. Cada estudantes lançará mão da

técnica que lhe for conveniente.

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SOB AS LENTES DOS QUE PENSAM O FAZER

ARTÍSTICO E O HOMEM

“Falar de história de vida é pelo menos pressupor e

isso não é pouco – que a vida é uma história”.

BOURDIEU

Essa questão apontada por Bourdieu é de grande relevância para a compreensão da

importância que as histórias de vida podem ter uma formação dos adolescentes especialmente

porque a resposta a ela está diretamente relacionada à necessidade do sujeito em fazer escolhas,

tomar decisões e antecipar resultados.

A inclinação e a capacidade do homem de não apenas se adaptar a novas situações, mas

também, de transformar o meio onde está inserido, de adaptar o seu entorno a seu favor, fazem

menção a essa capacidade construtiva e principalmente criativa do homem. Mas o homem não se

adapta simplesmente a um meio, e sim procura transformá-lo, construí-lo. Faz com que o meio se

adapte a ele. O homem constrói o mundo. Imprime sentido à suas ações.

Assim, de acordo com a necessidade do contexto, é possível modificar, desconstruir,

reconstruir, selecionar, reelaborar, tudo o que se apresenta como problema, pois os processos

criadores se desenvolvem no conhecer, no fruir e no poetizar a Arte – codificadores fundamentais

para a sobrevivência no mundo cotidiano.

O encantamento neste processo oferece muito ao ato de criar: pessoas esquecidas, cenas

guardadas, filmes assistidos, fatos ocorridos, sensações são trazidas à mente sem aparente

esforço. Um grande trabalho é vivenciado e avaliado por aquele que cria, inova, se refaz sempre.

Cada ser humano é único em seus feitos, realizações, conquistas, fracassos, frustrações,

sonhos, desejos, idéias e sentimentos – são combinatórios de experiências recheados de

imaginação, de percepções e de reflexões. É assim o “inventário” de momentos vividos. Cada vida

é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde

tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis. Sua

singularidade reflete as interações com o meio sócio-cultural e carrega os traços de muitas

pessoas com as quais conviveu, cujos efeitos podem ainda ser sentidos em sua vida.

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A história de vida como meio de pesquisa teve uma evolução crescente e vem assumindo

formas variadas, desde as tradicionais como memórias ou crônicas, até formas novas que

valorizam a oralidade e consideram as vidas ocultas como testemunho vivo de época e períodos

históricos.

Além do valor investigativo, a biografia também tem outro valor, o de ser um importante

instrumento formativo, em função do autoconhecimento que pode propiciar ao sujeito que narra

sua história.

Por considerar cada adolescente como portador de uma história pessoal, portanto de um

projeto de vida que está vinculado à história social, o método biográfico assume especial valor

quando se trata de construir ou (re) construir uma identidade, porque amplia novas atitudes

formativas.

Compreendendo a lógica de sua formação, o sujeito amplia sua capacidade de questionar

seus próprios valores e idéias; distanciando-se criticamente de si mesmo, ao mesmo tempo em

que se reaproxima de suas intenções e propósitos. Pode enfim, fazer antecipações mantendo vivo

o seu projeto de vida.

Talvez o aspecto mais importante que aproxime a história de vida e a autobiografia como

instrumento de formação seja a firme convicção de que este processo de rememoração,

ordenação, narrativa, intrinsecamente reflexivo, é por si só transformador e gerador de

conhecimento.

O ato de escrever e “expressar” a própria trajetória através do fazer artístico pode manter a

pessoa integrada à sua sensibilidade, afetividade, imaginação e criação - dimensões responsáveis

pela sua ligação com o mundo e com aqueles que ficaram alijados de suas vidas.

A última etapa, a construção de um Baú de Rastros, Relatos e Retratos, com certeza terá

muitas histórias para refletirmos e nos lembrarmos que nossos alunos são retalhos das culturas

nas quais estão inseridos, e que não é mais possível ao professor, em especial o professor de

Arte, desconsiderar essa realidade.

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AVALIAÇÃO

Tendo como proposta inicial a criação de um baú de memórias, onde os estudantes

possam demonstrar seus potenciais perceptivos e capacidade de organizar ideias, analisando,

questionando, criticando e discutindo, bem como o registro através do portfólio, de rascunhos,

estudos, esboços, roteiros, maquetes, projetos, ensaios, diários anotações, dentre outros. Dessa

forma, a avaliação poderá ser rica e consistente, pois possibilitará uma visão mais detalhada do

objeto de estudo conferindo unidade ao que está fragmentado.

Para saber mais:

Sugestões de Filmes

O Príncipe das Águas

Jardim das Flores

Wall-e – Desenho Animado

Alguns artistas plásticos que trabalham com materiais alternativos

Efigênia Ramos Rolim

Hélio Leites

SUGESTÃO DE ATIVIDADES

De posse de história de vida escrita pelo estudante, pode-se dividir a turma em

grupos para a leitura da produção de forma que cada um deles possa ler e conhecer

uma ou mais histórias de vida narradas no texto.

Após a leitura, cada grupo vai trabalhar essas histórias no contexto das áreas da

Arte: Dança, Música, Teatro e Artes Visuais.

Finalizando, com a apresentação dos trabalhos.

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REFERÊNCIAS

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BARBOSA, A. M. (org.) Arte/Educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.

______. A. M. COUTINHO, R. G. (org.). Arte/educação como mediação cultural e social. São Paulo: UNESP, 2009.

BOSI, A. Reflexões sobre a arte. 7ed. São Paulo: Ática, 2004.

HERNANDEZ, F. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

MARTINS, M.C; PICOSQUE, G. GUERRA, M. T. Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.

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PERRENOUD, P. Não mexam na minha avaliação! Para uma abordagem sistêmica da mudança pedagógica. Genebra, Universidade de Genebra, 1993.

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www.pitoresco.com.br <acesso em julho 2010>