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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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ME I

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ARTE, MODA E CULTURA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA

Lusia Barreto Berton1

Ronaldo Alexandre de Oliveira2

RESUMO: Este artigo é o relato de experiência realizada pela autora como requisito parcial para conclusão de participação do projeto de formação continuada PDE3 , sendo desenvolvido com os alunos do Ensino Médio da EJA ( Educação de Jovens e Adultos) da cidade de Apucarana. Tem como foco refletir sobre a maneira com que o aluno percebe e entende a arte, e por meio de jogos observados - atividades desenvolvidas para estimular a ampliação deste campo da arte, das possíveis interações que hoje podemos fazer no processo de criação artística. A cultural visual, torna-se um campo de estudo que tem emergido da confluência de diferentes espaços como a sociologia, a semiótica, os estudos culturais e a história da arte. Os discentes realizaram os trabalhos orientados a refletir sobre os valores sócios culturais de cada povo, inter-relacionar o universo da arte e o universo da moda, de maneira que a cultura visual possa fazer parte das abordagens de ensino. Ao pesquisar suas culturas, puderam observam as semelhanças e diferenças culturais.

PALAVRAS-CHAVE: Arte, cultura visual; moda;

ABSTRACT:. This article is the account of experience held by the author as partial requirement for completion of project participation of ongoing formation3 EDP. The work was developed with the middle school students of EJA (youth and adult education) from the city of Apucarana. The work focused on making a reflection about how student perceives and understands the art, and through these games observed-games are activities that stimulate the expansion of this field from the art of the possible interactions that today we can do in the process of artistic creation. The cultural visual, becomes a field of study that has emerged from the confluence of different spaces as sociology, semiotics, cultural studies, history of art. The students performed the work oriented to reflect on the cultural values of each people partners, inter-relating the universe of art and the universe of fashion, so that visual culture can be part of the teaching approaches.When researching their cultures, could observe the similaritiesand cultural differences.

Keywords: art, visual culture; fashion;

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1 Lusia Barreto Berton é especialista em arte educação, professora de Arte da rede pública de ensino do Paraná, atuando no CEEBJA Professora Linda Eyko Miyadi de Apucarana, e participa do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da SEED-PR.

2 Ronaldo Alexandre de Oliveira é docente do Departamento de Arte Visual da Universidade Estadual de Londrina. Atua na Área de metodologia e Ensino de Arte. Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura e Doutorado em Educação (Currículo)pela PUC/SP. Orienta o projeto aqui exposto neste artigo.

3 PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná ao qual os professores do Estado do Paraná que encontram-se no nível III da carreira docente podem participar por meio de processo seletivo. A exigência feita pela SEED é de que o docente desenvolva um projeto de intervenção na sala de aula visando transformar uma determinada realidade ali presente.

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INTRODUÇÃO

Cada vez mais o conceito de arte e de criação vem sendo ampliad

o, ganhando outros contornos. Concepções do que era arte em outros tempos, teve

seu campo alargado. Da mesma maneira o ensino, aquilo que ensinávamos em outros

tempos necessita de ser revisado. Precisamos pensar em outras possibilidades de

aprender e ensinar arte, pois a própria produção contemporânea de arte nos avisa destas

interações, destes campos que cada vez mais ficam em transito, se contaminam.

A pesquisa está relacionada à Educação de Jovens e Adultos (EJA), e as relações

metodológicas perpassam artes visuais e moda, das possibilidades de intersecção entre

as mesmas para que possamos ter um ensino de arte com marcas do nosso próprio

tempo. Lidar com a Educação de Jovens e Adultos é lidar com a diversidade. As turmas

da EJA são geralmente heterogêneas em diversos aspectos: origem, idade, raça, religião,

nível de conhecimento. A diversidade enriquece as aulas, pois se considera que a arte

nos possibilita relacionar, questionar, experimentar, refletir, contextualizar as produções

artísticas, afim de, fazer sentido em nossas vidas e na sociedade.

Os conteúdos estruturantes, apesar de terem as suas especificidades, são

interdependentes e de mútua determinação, o trabalho com esses conteúdos deve ser

feito de modo simultâneo, pois os elementos formais, organizados por meio da técnica, do

estilo e do conhecimento em arte, constituirão a composição que se materializa como

obra de arte nos diferentes movimentos e períodos.

FARACO (2000, apud DCE, 2008) afirma que um trabalho realizado de maneira

crítica, possibilita ao aluno uma percepção da arte em suas múltiplas dimensões

cognitivas e possibilita a construção de uma sociedade sem desigualdades e injustiças,

sendo assim, “ torna-se imprescindível adotar uma postura metodológica, que propicie ao

aluno uma compreensão mais próxima da totalidade da arte. Somente abordado

metodologicamente, de forma horizontal, os conteúdos estruturantes,- elementos formais,

composição e movimentos e períodos - , relacionados entre si e demonstrando que são

interdependentes, possibilita ao aluno a compreensão da arte como forma de

conhecimento, como ideologia e como trabalho criador (DCE ,2009)” .

MARTINS (2005) apresenta os objetos propositores: a interatividade, o lúdico e o

jogo com a finalidade de romper barreiras e impulsionar encontros entre a arte e a cultura.

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Sendo assim, a cultural visual torna um campo de estudo que muito interessa ao

ensino de arte. Essa vertente de trabalho (cultura visual) tem emergido da confluência de

diferentes espaços como a sociologia, a semiótica, os estudos culturais, a história da arte.

Assim, insere-se a moda, por suas características e significados dentro da cultura.

I. A RELAÇÃO ENTRE ARTE E MODA HISTORICAMENTE

“A moda, assim como a arte, tem uma função que vem ao encontro da necessidade básica do homem: se expressar e se comunicar ”. Neide Kohler Schulte

Os registros da Pré-História , reforçam a afirmação de Schulte ( 2005 ) pois as folhas dos vegetais, depois as peles dos animais, sendo usados como elementos para proteção, pudor ou adorno, com a intenção de se destacar dos demais, de relação de poder ou posição social, tem como intuito o ser humano se comunicar através do vestuário.

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Mesmo com o passar do tempo essa relação não muda. A roupa continua um

divisor das classes sociais. Com seu grau maior de estilização e planificação, a arte

mesopotâmica produz obras de grande qualidade estética, sobretudo no que se refere à

variedade de motivos introduzidos para ornamentar estátuas e selos. Para o vestuário, a

matéria-prima predominante eram o linho e a lã, usados sempre na sua cor natural. Um

retângulo de tecido ao redor da cintura preso por tiras ou simplesmente com um nó, numa

forma primitiva de saia era a vestimenta principal do povo na Mesopotâmia. Com a

fixação do homem a terra, surge o linho vegetal que serve de base têxtil também para a

indumentária egípcia.( )

Considerada como o berço da civilização ocidental, os gregos se destacaram muito

no mundo das artes. As esculturas, pinturas e obras de arquitetura impressionam, até os

dias de hoje, pela beleza e perfeição. Sofisticação, harmonia, equilíbrio, luxo, riqueza e

conquistas eram presenciadas na estética, no geometrismo, nas cores, nos tecidos, nas

essências são encontradas também em Roma.

Capuzes e chapéus surgem em Roma, pois necessitam cobrir as cabeças por

ocasião de viagem. Os símbolos mais usados eram os mitológicos, o cupido e aves,

representados em jóias, em materiais como ouro, prata, pedras preciosas e semi-

preciosas, cobre, bronze e ferro, e as mais apreciadas, as pérolas.

Na Idade média surge uma nova divisão da hierarquia. Os senhores feudais donos

de posses, exercem o poder e as pessoas que retornam ao campo são denominados

feudos - trabalhadores que se submetem aos senhores feudais e pagam impostos. Na

arte, dominada pelos preceitos da religião, os temas representados eram: Deus, os anjos,

os santos e, de modo geral, as cenas que instruíssem os fiéis a respeito dos

conhecimentos morais e espirituais da doutrina cristã. As roupas se diferenciavam mais

pelas cores e materiais, com elementos ligados à indumentária militar – braçadeiras,

couraças e, de padrões bicolores pelos quais podia-se identificar os feudos que se

relacionavam a cores e símbolos que se encontravam nas roupas dos nobres.

Com o crescimento das cidades e da população surgiram os tecelões, alfaiates,

remendões e outros artesãos responsáveis pela confecção das roupas. O vestuário

passou por grandes transformações sendo a principal delas o ajuste e modelagem das

peças. A classe alta no século XI usava túnicas longas, não muito decotadas e com

mangas largas, xales ou mantos que protegiam as costas. Todas as peças sempre

adornadas nos barrados. Calçavam botas, sapatos fechados bicudos e polainas. No

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século XIV os homens começaram a utilizar camisas que cobriam desde o ombro até à

cintura e brial agora mais comprido e justo com muitos enfeites e acessórios, como

botões e cintos ornamentados com pedrarias. As mulheres no século XI passaram a usar

os longos vestidos mais acinturados, bem ajustado ao corpo por baixo, com mangas de

modelagem seca e por cima outro vestido que poderia ser um pouco mais curto

com mangas longas e caídas um pouco mais que os utilizados desde a Antiguidade

clássica. .

No Renascimento o legado clássico volta a servir de referência cultural e artística.

Como características, temos o uso da técnica da perspectiva, de conhecimentos científico

e matemáticos, para reproduzir os estudos da natureza, do corpo humano e paisagens,

com fidelidade. Novas técnicas surgem na pintura como a tinta a óleo, a combinação da

perspectiva e do claro-escuro contribuiu para o maior realismo dos corpos. Na escultura, a

expressividade e o naturalismo são elementos do espírito e da inteligência. Na arquitetura

Proença (2008) cita que, era preciso criar espaços compreensíveis de todos os ângulos

visuais, que fossem resultantes de uma justa proporção entre todas as partes gerando a

tendência geral da moda no renascimento que caracterizou-se por formas volumosas e

tecidos pesados. A indústria têxtil se desenvolveu na Itália dando origem a tecidos nobres

como os brocados, veludos, cetins e sedas.

Embacher (2004) afirma:

“ A moda européia de cores vibrantes e formas fantásticas

cede lugar à moda espanhola, escura, ajustada e sombria. Os novos

efeitos resumem-se a efeitos acolchoados em gibões, corpetes,

meias e cintura fina, além da introdução do tricô “.

Os decotes acentuados utilizados por ambos os sexos, deram lugar aos rufos – tipo

de gola de tecido fino, engomado que destacava, pelo tamanho cada vez maior, o

prestígio social de quem usava. Os adornos ficavam por conta de brincos, aros, anéis e

colares, curtos e compridos. Pérolas e jóias faziam parte de bordados. A renda continua

em punhos e golas, para ambos os sexos e magníficas rendas.

Com ênfase em temas como paisagens, natureza-morta e cenas do cotidiano a cor

é valorizada no barroco por uma tendência artística que se desenvolveu primeiramente

nas artes plásticas e depois se manifestou na literatura, no teatro e na música. Os efeitos

de opostos como luz e sombra são recursos utilizados para dar vida as obras. A

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arquitetura marcada pelo excesso de volume e sombra, as colunas repletas de relevos,

cor e movimento dão ar de opulência.

As linhas curvas, delicadas e fluídas, as cores suaves, arabescos, o caráter lúdico

e mundano dos retratos e das festas galantes, em que os pintores representaram os

costumes e as atitudes de uma sociedade em busca da felicidade, da alegria de viver, dos

prazeres sensuais estão presentes na ourivesaria, no mobiliário, na pintura, na decoração

dos interiores dos hotéis parisienses da aristocracia, são elementos que caracterizam o

Rococó. Essas características retratam a sensualidade marcada pela leveza e delicadeza

dos ornamentos que se destaca também na moda. Camisas e coletes eram

ornamentados com rendas e sedas. Os babados, lacinhos e flores revelam o exagero do

rococó para cabelos e roupas realçando a inspiração na natureza. Os calçados femininos

eram delicados.

Do Rococó ao Romantismo a passagem foi acentuada pela valorização dos

sentimentos e da imaginação; o nacionalismo; a valorização da natureza como princípios

da criação artística e os sentimentos do presente. Os homens usavam cullote justo até os

joelhos, camisa, colete e casaca muitas vezes bordados e abotoados na frente, meias

brancas e sapatos altos, elementos estes que reforçam os traços do período romântico.

Os temas da pintura são os que remetem a fatos reais da história nacional e

contemporânea da vida dos artistas, onde a natureza se revela num dinamismo

equivalente as emoções humanas e a Mitologia Grega.

Segundo Braga (1999) “as mulheres européias entram no século XIX usando muita

pouca roupa. Por cima das vestes, que mais parecem camisolas, elas usam xales”.

Com a invenção da máquina de costura e das tintas a base de anilinas passa-se a usar as

cores vibrantes. As roupas ficam mais soltas e em menos camadas. O esporte se

fortalece e as mulheres para andarem de bicicleta precisam que as saias se dividem

dando maior agilidade.

Entre 1890 e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) passou a interessar mais de perto as artes aplicadas: arquitetura, artes decorativas, moda, design, artes gráficas, mobiliário e outras. Período denominado de Arte Nouveau – Belle Époque, O estilo é caracterizado por uma linha orgânica, sinuosa, delicada, longa e elegante, e assimétrica, tomando frequentemente a forma de haste de flores, bulbos, videiras, asas de insetos, e outras formas naturais, como algas e folhagens. Os arabescos e as curvas, complementados pelos tons frios, invadem as ilustrações, o mundo da moda e as fachadas e os interiores. Essa linha também é impregnada de uma força rítmica, como o

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movimento de um chicote no ar. Ligada mais a produção industrial em série, novos materiais são amplamente utilizados (o ferro, o vidro e o cimento), assim como são valorizadas a lógica e a racionalidade das ciências e da engenharia.

Braga (1999) afirma: “Acompanhada por particular efervescência artística – de que

são exemplos o expressionismo e o neo-impressionismo -, a virada do século é marcada

pelos cabarés e cafés para quem é mais culto e abastado”.

A "arte nova" revaloriza a beleza, colocando-a ao alcance de todos, pela articulação

estreita entre a arte e indústria.

Para Argan (1992) :

“... mesclam-se nas correntes modernistas, muitas vezes de

maneira confusa, motivos materialistas e espiritualistas,

técnicos-científicos e alegóricos-poéticos, humanitários e

sociais. Por volta de 1910, quando o entusiasmo pelo

progresso industrial sucede-se aconsciência de transformação

em curso nas próprias estruturas da vida e da atividade social,

formar-se-ão no interior do modernismo as vanguardas

arísticas preocupadas não mais apenas em modernizar ou

atualizar, e sim em revolucionar radicalmente as modalidades e

finalidades da arte”.

As manifestações das artes em geral se incorporam à tendência de vanguarda e

rompe com padrões rígidos caminhando para criações mais livres. A moda como uma

dessas manifestações, acompanha as tendências criando e recriando. A indumentária

aumenta e diminui seus tecidos, adornos e acessórios numa sequencia cíclica de

mudanças. Comportada, desafiadora, chocante, criativa. Assim as manifestações

artísticas permeiam o século XX e adentram o século XXI. As criações acompanham as

manifestações e acontecimentos sócio-econômicos-culturais deixando marcas de

inovação.Surgem modismos e, com a globalização se difundem com intensa rapidez.

2. CULTURA VISUAL

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A educação da cultura visual faz sentido devido ao fato de e a

arte e os artefatos sempre terem constituído ferramentas, por

meio das quais, uma cultura é aprendida, transmitida, mantida

e alterada”. Deborah Smith-Shank

A cultura visual, campo de estudo muito interessante ao ensino de arte, percebe

uma vertente de trabalho nos seus aspectos qualitativos, sensórios, formais, tais como

aqueles inerentes a própria linguagem visual: cores, linhas, formas, volumes, confluência

de diferentes espaços como a sociologia, a semiótica, os estudos culturais, a história da

arte.

A Sociologia procura explicar sobre quais condições específicas e características

gerais dos grupos humanos se constituem e se relacionam e quais os movimentos e os

mesmos executam permanentemente. A História da Arte estuda a evolução das

expressões artísticas, a constituição e a variação das formas, dos estilos, dos conceitos

transmitidos através das obras de arte. A diversidade de e sobre as diferentes culturas,

sua multiplicidade e complexidade e é enfatizado nos Estudos Culturais e a Semiótica

estuda os signos, ou seja, as representações das coisas do mundo que

estão em nossa mente.

2. Semiótica, Signos e suas significações

As culturas possuem formas de manifestações, repetidas ou não em uma ou mais

culturas, que transmitem idéias que precisam ser decodificadas e compreendidas.

“Na abordagem semiótica, preocupamo-nos com que a

imagem diz acerca dos padões de sígnos, ou significantes,

usados para comunicar um entendimento, o significado de uma

coisa”.( BARBOSA,2005)

Para entendermos melhor a relação semiótica e os elementos que a compõem ,

vejamos a definição trazida por Santaella de semiótica, signo, semiose e semiologia:

Semiótica “é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentidos “. (SANTAELLA, 2002)

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Signo: para Peirce, é “algo que está no lugar de (representa) outra coisa para alguém”.

Signo é o que traduz de modo mais claro o clássico aliquid stat pro aliquo, ou seja, uma

coisa que está por outra, como o conceito tradicional de signo cunhado por Santo

Agostinho. O signo designa, em sentido lato, o próprio signo, o objeto e o interpretante, ou

seja, a “coisa significada” e a “cognição produzida na mente”. É à partir da relação do

signo com o objeto que se determina ou se produz um interpretante .(SANTAELLA, 2002)

Semiose: “é uma relação lógica entre signo e interpretante, que configura o processo de interpretação sígnica”. ( SANTAELLA e NÖTH, 2004)

Semiologia: É a ciência geral dos signos, que estuda todos os fenômenos de significação. Tem por objeto os sistemas de signos das imagens, gestos, vestuários, ritos, etc.

A semiótica se utiliza do conjunto de linguagens para entender o contexto. Não há

uma lei absoluta, uma linguagem única, mas um sistema de linguagem. Estuda os

mecanismos que conduzem ao entendimento. A análise dos sistemas de linguagens,

permeiam nossos sentidos – visual, tátil, olfativo, sonoro e gustativo. Ao conjunto de

estudos das linguagens apresentadas levam ao entendimento do todo.

Na comunicação as linguagens precisam ser analisadas em suas mensagens que

são materializadas em signos que, ao transmitir a informação deve ser codificado. Para as

linguagens artísticas, a cor, forma, som, etc., são signos que transmitem significados

individuais ou que, quando agrupados apresentados contextos sígnicos diferentes. Como

exemplo: uma linha reta horizontal traçada num papel carrega significados que se

expressam de acordo com sua altura, largura, direção, etc., ao associá-la a mais linhas,

mudam os significados ( ex:quatro linhas podem formar uma porta) e, num contexto maior

de cena ( ex: porta da casa) aumentam ou mudam ainda mais a significação

4. ARTE, MODA E CULTURA VISUAL

“Através da apropriação de metodologias alternativas, com a

finalidade de produzir significados alternativos sobre

representações visuais (que incluem as obras de arte),

expande-se a atenção sobre temas que se mantinham ocultos

na perspectiva da alfabetização visual, como as

posicionalidades identitárias subjetivas, as relações de poder,

as políticas de prazer, as ideologias do olhar, as narrativas

hegemônicas”. (HERNÁNDEZ,....)9

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As manifestações artísticas permeiam o trabalho dando enfoque a linguagem

visual. Imagens de obras de arte de períodos diferentes servirão de referenciais para o

estudo de culturas diferenciadas através da moda em suas diferentes manifestações.

Segundo Smith-Shank (p.259) o conteúdo educacional começa com “idéias e questões

relevantes que coincidam com os mundos, culturas, experiências e formas de

conhecimentos dos alunos”.

A vida pós-moderna está repleta de imagens por toda parte. As mídias

tecnológicas, revistas, publicidade, indumentária ou nos caminhos por se passa, se

depara com imagens que possuem significados que devem ser decodificados e

compreendidos. A educação da cultura visual auxilia na compreensão de mundo, crenças,

manifestações e conflitos culturais. A moda como um bem cultural possui elementos

importantes como cores, linhas, formas, volumes, texturas que guardam significados

políticos - sociais de culturas diferenciadas, portanto ao estudar temos que levar em

consideração o contexto, o lugar, a sociedade onde ela foi produzida e para quem ela foi

produzida.

5. METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido com uma turma de Educação de Jovens e Adultos

(EJA) no Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos Professora Linda

Eyko Miyadi de Apucarana. Divido em blocos, como em toda a EJA, são turmas do Ensino

Médio geralmente com 30 a 45 alunos, heterogêneas em diversos aspectos: origem,

idade, raça, religião, nível de conhecimento.

A pesquisa-ação, modalidade escolhida, permite ao professor/pesquisador, agente

ativo na realidade dos fatos observados nos ambientes onde acontecem a prática e suas

relações com o desenvolvimento dos alunos, por meio de uma dinâmica coletiva com o

estabelecimento de referências contínuas e evolutivas com o compromisso na formação e

o desenvolvimento de procedimentos crítico-reflexivos sobre a realidade, elaborados

durante a realização do projeto de trabalho permite realizar intervenções na sala de aula.

A moda torna-se uma área que pode dizer muito daqueles que a fazem e também

dos que a consomem. Trazendo comportamento, contextualização, historia, além dos

próprios processos de criação. A moda articula a cultura visual, acaba por produzir uma

imagem que assume condições expressivas de serem analisadas e pensadas dentro do

contexto da arte. As mensagens podem ser analisadas em si mesmas, nas suas

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propriedades internas, quer dizer, nos seus aspectos qualitativos, sensórios, formais, tais

como aqueles inerentes a própria linguagem visual: cores, linhas, formas, volumes,

movimento, dinâmica, que, em terminologia semiótica, analisa-se os quali-signos das

mensagens. A diversidade de signos apresentados por imagens televisivas, música,

moda, publicidade, jornais e revistas, etc., com significados que agem como mensagens

naturais ou construídas, ao serem questionados e decodificados possam atribuir sentidos

a sua vida cotidiana,

Para Lampert (2006): “A Moda é um ponto articulador na cultura visual e também

se constitui como elemento agenciador dos estudos culturais na contemporaneidade.

Assim, a abordagem do sistema estético da moda em contra ponto com as Artes Visuais,

pode sugerir a construção de uma reflexão crítica sobre a sociedade em que

vivemos”(p.1) e, continua : “ Não se trata de equiparar as áreas do conhecimento, apenas

pensar nas proximidades. Assim, entende-se que os estudos culturais podem

considerar/embasar estas proximidades entre Artes visuais, a Imagem da moda, a cultura

visual e a sociedade em que vivemos”.(p.8)

Assim, a moda serve como suporte para aplicar os conteúdos da arte na EJA de

modo que os alunos conheçam e compreendam as relações existentes e suas

significações. Vemos que essa postura de englobar outras manifestações culturais no

universo do ensino de arte ainda se mostra tímida se compararmos às maneiras como

ainda é praticada, onde as propostas ainda se mostram muito fragmentada e sem

sentido para aquele que aprende e também para aquele que ensina.

Neste processo o aluno se vê enquanto parte do processo, e amplia também o

universo do que seja ensinar e aprender arte na contemporaneidade. Ao propor atividades

de percepção visual a partir das roupas , fica claro que podemos aprender os

elementos da linguagem visual (forma, cor, textura, composição) a partir do nosso

cotidiano e isso muito interessa não somente a arte , mas a todo processo educacional

que respeite a cultura do lugar e do aluno. Em muito pode contribuir para trabalhar as

relações entre a cultura do aluno e o universo da História da arte se mostra adequado a

realidade escolar , uma vez que por meio das atividades elaboradas se propõe a

dialogar com o universo mais amplo da realidade escolar. Toma a realidade da

comunidade, do aluno como ponto de partida, iniciativa louvável em qualquer processo de

ensino e aprendizagem na atualidade e, partindo daquilo que é conhecido do universo

do aluno( sua própria vestimenta) compreender, e ampliar esse universo para uma

cultura mais ampla. 11

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Segundo Isabel Marques: “Um dos elementos essenciais que caracteriza o ensino

da Arte no ambiente escolar é o fato de que, na escola, temos a possibilidade de

relacionar, questionar, experimentar, refletir, contextualizar os trabalhos artísticos a fim de

que façam sentidos em nossas vidas e na construção da sociedade brasileira”. Desta

forma faz-se necessário pensar o ensino de arte na contemporaneidade de forma que a

cultura e toda sua complexidade,seja presente nas aulas de arte.

Ante as dificuldades culturais tem-se o enfretamento do que chamamos de

diferenças culturais. Quando procuramos fazer valer a cultura singular de cada povo, nos

deparamos com os modismos e a cultura vai se tornando algo longícuo de suas origens.

Ao adaptar a nova cultura, perde-se valores presentes em cada uma individualmente.

Por meio das roupas, acessórios, cabelos, jóias, maquiagens, decoração dos

corpos representam uma época, uma determinada cultura. Como um bem cultural possui

elementos que os distinguem onde, as cores, linhas, formas, volumes, texturas guardam

significados politicos-sociais de culturas diferenciadas.

O trabalho se distingue pelo caráter como o mesmo vê o ensino de arte na

atualidade. Parte do conceito de arte enquanto cultura e a cultura vista de forma ampla e

abrangente, o que inclui inclusive os modos de vestimenta dos alunos. Ao considerar a

moda, a maneira como cada um se veste enquanto parte da cultura, a possibilidade que

a docência inclua o aluno a partir de uma área de conhecimento, vai estruturando uma

prática docente por meio de atividades que alia a arte, moda e Cultura.

Associar o universo da moda com o universo da arte, revendo conteúdos básicos e

concebendo-as enquanto manifestação da cultura, ao analisar as obras, utilizar não

somente dos elementos formais, mas também o período onde a mesma foi produzida,

relacionando-a com a atualidade.

O portfólio, foi a maneira utilizada para a avaliação pelo grande número de

informações adquiridas, como o conhecimento adquirido, a coleta de dados, os estudos e

as criações foram acontecendo durante o processo de trabalho.

No processo de elaboração do projeto foi produzido um caderno pedagógico

baseado no Método Comparativo de Edmund Feldman onde ele parte de várias obras

para a análise comparada de problemas visuais propostos de maneira similar ou diversa

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nas obras e, a Proposta Triangular descrito por Ana Mae Barbosa a qual envolve três

ações básicas: o fazer artístico (criação), leitura da obra de arte e contextualização.

O material constitui-se de várias etapas: Contextualizando, Refletindo,

Conceituando, Realizando Atividade, Conceitos Básicos, Interagindo, Ampliando

conhecimentos.

Contextualizando/ Refletindo

Momento para questionamentos da linguagem visual tendo como foco

problematizar para refletir.

Na primeira aula foi considerado reforçar a importância do projeto, a forma de

aplicação e as referências utilizadas para concretizá-lo gerando expectativas nos alunos.

HERNÁNDEZ (2005) afirma :

“ As imagens são mediadoras de valores culturais e

contêm metáforas nascidas da necessidade social de construir

significados. Reconhecer essas metáforas e seu valor em

diferentes culturas, assim como estabelecer as possibilidades

de produzir outras, é uma das finalidades da educação para a

compreensão da cultura visual”.

Partindo da foto de um momento de um metrô lotado de pessoas, saídas do

trabalho, festas, conduções lotadas e, também obras de arte como “Afternoon Tea at the

Temple” 1766 - Michel-Barthélemy Ollivier / Bal Au Moulin de la Galette (1876), por

Pierre-Auguste Renoir / “ O Atelier do Pintor" (1855) - Gustave Coubert / Encontro de

verão - William Visconti Visconti – 2009 , foi colocado alguns questionamentos como:

O que mais chamou a sua atenção? Quais relações (sociais, visuais, econômica,etc.)

podem ser estabelecidas na imagem? Qual mensagem é transmitida? A forma cultural

pode ser um agente diferenciador de pessoas? O que auxilia na percepção de uma

determinada cultura? Quais elementos (cores, formas, linhas, caracterização,

ambientação) podem ser dimensionados como símbolos visuais? “Uma roupa pode

determinar uma época”. Você concorda com a afirmativa? Justifique. Quais elementos

presente nas imagens justifica que a moda seja mutável? Como percebemos as imagens

em relação às cores e as formas?

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Estudar a cultura do povo permeia o estudo sobre seus usos, costumes, dialeto,

expressões, analisar os signos visuais afim de, discutir e compreender as formas que se

assemelham e diferenciam. A cultura de um povo está interligada por seus personagens

comuns que trazem consigo toda uma gama de conceitos, tradições, contexto de vida e

simbolismos relacionados ä sua cultura. Cada personagem pode ser estudado em sua

biografia e reconhecer sua cultura, seu povo, seu contexto e o contexto em que vive.

Artistas e designers foram trabalhos para ilustrar obras com texturas gráficas

( Romero Brito) e conceitos relacionando as criações com trabalhos de artes visuais

( Ronaldo Fraga).

Conceituando/ Conceitos básicos

Um breve histórico da arte e da moda foi explicado por meio de slides e vídeos do

material didático. Relacionou-se os elementos da arte e da moda ( vestimentas,

acessórios) com as linguagens exploradas na disciplina de arte (Artes Visuais, Teatro,

Dança e Música), de modo que as propostas e atividades tiveram objetivos

fundamentados nos documentos legislativos do Paraná.

A vida pós-moderna está repleta de imagens por toda parte. As mídias

tecnológicas, revistas, publicidade, indumentária ou nos caminhos por se passa, se

depara com imagens que possuem significados que devem ser decodificados e

compreendidos. A educação da cultura visual auxilia na compreensão de mundo, crenças,

manifestações e conflitos culturais . As culturas possuem formas de manifestações,

repetidas ou não em uma ou mais culturas, que transmitem idéias que precisam ser

decodificadas e compreendidas.

“Na abordagem semiótica, preocupamo-nos com que a imagem diz acerca

dos padões de sígnos, ou significantes, usados para comunicar um

ntendimento, o significado de uma coisa”.( BARBOSA,2005)

A semiótica se utiliza do conjunto de linguagens para entender o contexto. Não há uma lei

absoluta, uma linguagem única, mas um sistema de linguagem. Estuda os mecanismos que

conduzem ao entendimento. A análise dos sistemas de linguagens, permeiam nossos sentidos –

visual, tátil, olfativo, sonoro e gustativo. Ao conjunto de estudos das linguagens apresentadas

levam ao entendimento do todo.

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Na comunicação as linguagens precisam ser analisadas em suas

mensagens que são materializadas em signos que, ao transmitir a informação deve ser

codificado.

Para as linguagens artísticas, a cor, forma, som, etc., são signos que transmitem

significados individuais ou que, quando agrupados apresentados contextos sígnicos

diferentes.

A moda como um bem cultural possui elementos importantes como cores, linhas,

formas, volumes, texturas que guardam significados políticos - sociais de culturas

diferenciadas, portanto ao estudar temos que levar em consideração o contexto, o lugar,

a sociedade onde ela foi produzida e para quem ela foi produzida. Ao observar as

pessoas de nosso convívio, podemos nos perguntar: Quanto sabemos de cada um? Que

são suas origens? Seus contumes? As informações contidas em toda a sua história?

O designer de moda ao idealizar um modelo, construir uma roupa, envolve-se com

questões da forma – equilíbrio, volume, espaço, ritmo – tanto quanto qualquer artista plástico,

design ou arquiteto, pois as roupas são capazes de expressar uma gama de significados, uma

linguagem em que tecidos, rendas, bordados, cetins, veludos e modelagens se relacionam uns

com os outros em composições de cores, formas e texturas. São profissionais que não podem ter

preconceitos, precisam estar sempre com a mente aberta e atenta para enxergar outras

possibilidades em tudo que os cerca.

Para criar, o design de moda pesquisa em várias fontes como livros, filmes de época,

peças teatrais, livros de arte, localidades, acontecimentos políticos, sociais e artísticos,

pesquisando contextos. Suas criações modificam ou reforçam conceitos passando a ser agentes

de intervenção e modificação da imagem pessoal atendendo às necessidades de um grupo ou

época.

Saber ver é essencial para o processo de criação. Ele comunica-se com o que está sua

volta e reflete sobre questões como: Para quem quero criar? Que região e público pretendo

atingir? Quais os valores e as expectativas do grupo atingir com a minha criação?

Realizando Atividade

“Arte e Moda são, assim, formas de expressão do ser

humano, e esta última pode ser considerada, no mínimo, um

veículo ou instrumento de expressão artística ”.Neide Köhler

Schulte

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A moda não é só a roupa, ela fala também pelos acessórios, cabelos, jóias,

decoração do corpo.

Mesmo sem conhecer, ao nos depararmos com uma pessoa que não conhecemos

podemos falar muitas coisas sobre ela. A maneira como se apresenta já traduz uma série

de mensagens como: raça, tipo físico, estilo de vida, sexo, etc.

“A primeira impressão é a que fica”. Esse é um ditado que tem lá seu lado de

verdade. Não é cem por cento seguro na afirmação mas, poderíamos traduzi-lo em “A

primeira impressão deixa muito de cada um”.

Pesquisar sobre suas origens procurando anotar os dados de referência como

local, data, cultura, acontecimento político ou cultural da época, ou seja, a maior

quantidade de dados importantes para poder se conhecer melhor e se comunicar.

Relatórios com dados individuais foram apresentados ao grupo por alunos que

procuraram trazer algum elemento de suas origens para demonstrar ao grupo.

Um dos alunos comentou no relatório:

“ Na região onde meus pais nasceram (RS) as famílias procuram manter a tradição

dos trajes, das danças e das comidas típicas por isso, mesmo tendo nascido em

Apucarana (Pr) faço parte de um grupo de tradições gaúchas. Não uso estas

roupas no dia a dia mas uso quando fazemos apresentações”.

Estudar o significado dos símbolos presentes culturalmente para cada aluno levou

a indagações onde os elementos cores, linhas e formas foram tomados como evidência

para conhecer melhor a maneira de entender as semelhanças e diferenças na cultura

visual. Passou-se a pesquisar símbolos ( formas, cores, palavras, sons) presentes

atualmente em seu meio que foram trazidos de diferentes culturas.

Saímos então para uma pesquisa de campo onde cada aluno tinha que procurar

uma pessoa e fazer com ela alguns questionamentos (os dados foram produzidos de

acordo com a escolha de cada aluno sobre gostos, características na fala, modo de se

vestir,...) para identificar algum elemento que definisse sua cultura.

A partir das pesquisas observou-se que, quando se fala em cultura as pessoas

pensam em alguns elementos como país ou região de origem, comidas, danças, músicas,

roupas típicas.

Com os elementos pesquisados e os registrados pelos alunos, cada um escolheu

um elemento específico e começou um curto estudo de identificação e relação com algo

similar que encontrasse de arte.

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Um dos elementos escolhidos por Dalzisa foi um cinto de couro( artesanato) feito

por sua mãe que mora em Recife (Pe), nordeste do país onde o artesanato é uma grande

manifestação popular. Analisou o material, a cor, a textura, pesquisou onde encontrar

outros objetos com o mesmo material (sapatos, bolsas, acessórios, roupas,...).

Na seqüência foi feitos alguns esclarecimentos sobre os artistas (designers) que

criam estas peças, seus trabalhos e sua atuação no mercado de arte e de moda.

Partindo dos dados relatos, cada aluno se interessou em pesquisar um artista. O

direcionamento foi para que escolhessem um elemento formal ( cor, linha, forma,

textura,...) para definir o trabalho do artista. Pediu-se que fossem apresentados os

trabalhos e para finalizar com uma criação e produção.

A atividade resolvida pelo grupo foi a de que, a partir de

estudos de texturas gráficas, cada um escolhesse, de acordo com

sua função no trabalho, uma parte do corpo que é mais

requisitada, retratando-a e criasse texturas gráficas para o seu

preenchimento.

Feitos os estudos de criação de imagem e texturas, optou-se pela produção final de

uma peça (camiseta pronta) onde seria copiada a imagem.

Como as atividades foram realizadas e avaliadas no decorrer do processo, no final,

rever e justificar as escolhas foram essenciais para concretizar o processo.

Gostei de desenhar o olho porque é através dele

que vemos a vida mais bela, tive a visão do arco

íris. Todas as vezes que ele aparece eu o admiro

muito, ele é muito lindo. Também admiro muito o

verde, as árvores. Toda a natureza é linda”. Nelson

– 45 anos

“ O elemento principal MÃO eu escolhi em razão de que, a mão significa ação,

atitude, ato de resolver. Os demais elementos, são

minha indignação e a da nação, ou melhor das classes

menos favorecidas querendo um basta na vergonha

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mundial ... Título principal que traz na palma da mão, a paz na forma literal,

quebrando as algemas do preconceito como um todo : raça, credo, religião,

condição social. O ser humano vivendo em condição de igualdade em todos os

sentidos, um sonho que teria que se tornar realidade, assim teríamos, com certeza,

um mundo melhor para todos”. César Pereira da Silva- 27 anos

Coloquei o desenho da minha MÂO porque é um símbolo

de trabalho, de luta. A natureza está sofrendo muito com

os desmatamentos e a poluição e nós temos que evitar

isso. A árvore que desenhei e os outros símbolos

representam que devemos lutar para ajudar a cuidar da

natureza”. Sérgio Carvalho Brandão- 35 anos

“ Caminho da canção. Escolhi fazer os pés como desenho porque é a parte que

mais gosto do meu corpo e, por várias outras razões: sou

podólatra, amo meus pés, é um fascínio. Além do que, os

pés são nosso suporte. Tentei demonstrar em meu

desenho a importância da música em minha vida. Com

meus pés a caminho da canção. Tenho como espelho

meus pais que são cantores amadores muito bons e, é

isso que a pauta significa em meu desenho”. Elenir Aparecida Brizola Antunes – 18

anos

Ação e Arte. A arte de fazer com as mãos, as mãos são

instrumentos da vida que fazem as coisas de maneiras muito

interessante. Mão que batem palmas, e delas fluem as

energias, a paz e o amor. Quando a palma é dada com

sentimento tudo fica mais belo”. Dalzisa Pinhati Paulo- 36 anos

“ Eu fiz a mão porque com ela podemos cuidar bem da natureza,

cuidar das flores e plantar mais árvores”. Jocimara Rodrigues – 19

anos

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“ Bom eu escolhi o meu cabelo porque sempre que olho no

espelho vejo que ele está mais bonito. Sempre alguém

pergunta se ele é pintado. Meu cabelo é ruivo, ondulado,

sou mistura de russo com alemão”. Maria Elena Folk Carmo

– 56 anos

Gostei de desenhar porque foi algo bolado (criado) por mim, feito na sala de aula,

todos com o mesmo entusiasmo. Pintei minha boca.

Gosto muito do design dela. Bolei um barco porque

gosto de mar, da natureza, tenho vontade de navegar.

O tema é eu cantando e jogando palavras ao vento. A

boca retrata em si muitas coisas. Amo minha boca”.

Ana Matilde Souza Escarlate – 33 anos

“ Mão, o Poder de sentir. Quando escolhi a mão para fazer o meu trabalho foi

porque dentre todos os membros de nosso corpo, ela tem algo em especial: nos dá

o poder de sentir pessoas e objetos através do tato, um dos cinco sentidos do ser

humano. Através dela conseguimos proporcionar o bem e trazer alegrias a quem

necessita, e em contra partida poder fazer o mal, causar tristezas a muitos seres

humanos, seja através de um tapa em outra pessoa....pela assinatura em leis e

documentos que poderão trazer alegrias ou tristezas a sociedade. A digital de uma

pessoa é única...Quando um esportista usa suas

habilidades para praticar esportes ele necessita do bom

funcionamento de todo o seu corpo e todos os membros

são importantes mas, a mão também é usada para

agradecer sua vitória a sua torcida...”. Fábio Ferreira dos

Santos – 25 anos

Após o termino dos trabalho os alunos vestiram suas obras e passaram nas demais

salas explicando o trabalho . Nos demais dias foi realizado uma mostra nos corredores

da escola para socialização dos conhecimentos adquiridos.

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Um dos grupos que realizou o trabalho. Parte da mostra nos corredores

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do projeto foi permeado por inserções e descobertas a partir das

apresentações e intervenções dos alunos.

Refletir sobre imagens e conceitos estabelecidos em diferentes momentos de diferentes

culturas, buscando um olhar sobre si e sua cultura, reforçou no aluno a idéia de pensar sobre seu

papel na sociedade.

A preocupação em realizar esta pesquisa-ação deu-se para que o aluno da EJA, em que

os grupos são formados de faixas etárias diferentes, pudesse entender como os elementos

presentes em sua cultura vem carregado de diferentes significações.

A pesquisa estabelecida pela Coordenação do PDE (Pr) foi motivadora. Repensar sobre

as práticas pedagógicas estabelece um espaço de reflexão, discussão e produção, estimulando a

discussão e formulação de pensamento crítico e conceitual sobre temáticas relacionadas à

cultura, arte e educação . questões aparentemente insignificantes na busca de analogias

e respostas que foram instigadas, investigadas e debatidas para completar o

conhecimento que lhes vem da analise, em si mesmo, em seu entorno. Ter elementos

para ler o mundo reforça e formaliza o conhecimento.

A avaliação por portfólio como um processo de acompanhamento, mediação,

diálogo, intervenção mútua entre o ensino e a aprendizagem, permitiu valorizar o

programa de ensino realizado percebendo o que e como se aprende de arte.

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