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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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CRÔNICAS DE FERNANDO SABINO: UM CAMINHO PARA A REFLEXÃO SOBRE A VIDA

Autora: Maria Kluskonski 1 Orientadora: Profª. Drª. Raquel Terezinha Rodrigues2

Resumo: Formar leitores críticos e conscientes do seu papel na sociedade é um dos grandes desafios enfrentados por professores de Língua Portuguesa. A leitura de textos literários contribui significativamente quando se pretende despertar no aluno, uma capacidade comunicativa eficiente. Nessa perspectiva, foram selecionadas algumas crônicas de Fernando Sabino para trabalhar a literatura no ensino fundamental por meio de atividades que contemplam as práticas discursivas essenciais para o ensino da língua materna: oralidade, leitura e escrita. Escolheu-se o gênero textual crônica, uma vez que a leitura de textos literários curtos, além de ensinar, possibilita o direcionamento de reflexões sobre a vida, permitindo a realização de atividades orais e escritas de maneira agradável e profunda. Como proposta de intervenção pedagógica, elaborou-se o Material Didático: “CRÔNICAS: Pequenos Detalhes, Grandes Lições”. Esta proposta foi implementada no Colégio Estadual Professor Pedro Carli, em Guarapuava – Paraná para alunos de sétima série do período matutino. Este artigo tem por objetivo relatar os resultados obtidos na implementação da proposta pedagógica elaborada no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná.

Palavras-chave: Crônicas; Fernando Sabino; intervenção pedagógica; leitura

literária.

Abstract: To frame critical readers and make them aware of their role in society is

one of the biggest challenges faced by Portuguese teachers. The reading of literary

texts contribute significantly when is intend to arouse in the student his

communication skills. From this perspective some chronicles, written by Fernando

Sabino, had been select in order to mold the literature in elementary school through

activities that contain the essencial discursive performances to the teaching of native

language: speaking, reading and writing. It had been chosen the textual short

1 Professora PDE 2009, Pós graduação em Supervisão Escolar, graduação em Letras, atuação no Colégio Estadual Professor Pedro Carli. 2 Doutora em Letras, área de concentração: Teoria Literária e Literatura Comparada, Graduada em Letras Português - Francês, Unicentro, Literatura Portuguesa e Teoria Literária, Professora adjunta do Departamento de Letras.

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chronicle, since the reading of short literary texts, yonder teaching, enabs to guide

reflections on life, allowing the achivement of oral and written activities on a pleasant

and profound mode. As a proposal of educational intervention, it had been

elaborated the Teaching Materials, “Chronicles: Little details, Big Lessons”. This

proposal was implemented in a public school called Escola Estadual Professor Pedro

Carli, in Guarapuava, Paraná, to seventh grade students in the morning. This article

aims to report the results achieved in the implementation of the educational proposal

elaborated in the PDE – Educational Development Program of Paraná State.

Keywords: Chronicle; Fernando Sabino; the pedagogical intervention; literary

reading.

1. Introdução

A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil;

e o escrever dá-lhe precisão. (Francis Bacon).

Um dos grandes desafios enfrentados atualmente pelos professores de

Língua Portuguesa é o de despertar nos alunos o gosto pela leitura. A partir do

momento em que o aluno cria o hábito de ler, ele desenvolve também habilidades

consideradas essenciais para a eficiente expressão escrita e oral.

A prática da leitura, na escola e fora dela, permite que o aluno descubra

novos mundos, novas realidades e enriqueça os conhecimentos acerca da sua

realidade, compreendendo que os acontecimentos na vida de cada um, dependem

da leitura que se faz do mundo. Ler não é apenas um exercício de decodificação, de

monólogo, de individualismo, é compreender o mundo, os fatos, ouvir as vozes do

outro e agir a fim de buscar a transformação da realidade. Em Cosson “... o bom

leitor, portanto, é aquele que agencia com os textos os sentidos do mundo,

compreendendo que a leitura é um concerto de muitas vozes e nunca um monólogo”

(COSSON, 2007, p. 27).

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Compreender a leitura como um concerto de muitas vozes é indispensável

quando a intenção é desenvolver um trabalho pedagógico que priorize as práticas

sociais, motivando o sujeito leitor a uma ação crítica e transformadora da realidade.

Conforme as DCE’s de Língua Portuguesa: “...é importante ter claro que quanto

maior o contato com a linguagem, nas diferentes esferas sociais, mais possibilidades

se tem de entender o texto, seus sentidos, suas intenções e visões de mundo”

( DCE’s, 2008, p. 55).

O trabalho com textos literários pode contribuir significativamente para o

aprimoramento da linguagem do aluno, ajudando-o no entendimento do mundo, das

pessoas e de si mesmo e, a partir desse entendimento desenvolvendo ações que

auxiliam na transformação de seu meio. Cosson afirma:

...na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação do hábito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e, sobretudo, porque nos fornece como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem.(COSSON, 2007, p. 30).

Segundo as DCE's de Língua Portuguesa, “...é tarefa da escola possibilitar

que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a

escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de

interação” (DCE’s, 2008, p. 48). Essa inserção permite ao aluno, explorar a língua

em seus diversos aspectos, ampliando sua visão de mundo, desenvolvendo o senso

crítico e consequentemente, melhorando o meio em que está inserido.

Proporcionar o contato com diversos gêneros textuais é de fundamental

importância para promover o letramento do aluno. Para Cosson, “apenas pelo

contato com um grande e diverso número de textos o aluno poderá desenvolver sua

capacidade de comunicação” (COSSON, 2007, p. 21).

A diversidade de gêneros discursivos que circulam diariamente nas esferas

sociais, contribui para a aquisição do conhecimento e a construção da identidade do

aluno, estimulando-o a optar por textos que venham ao encontro dos seus

interesses e das suas necessidades e que o auxiliem a entender os fatos que

permeiam sua vida.

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A crônica, por ser um texto curto e apresentar temas atuais, pode auxiliá-lo a

encontrar respostas para muitas questões que cercam o seu cotidiano, para

Cândido: “um dos objetivos deste gênero é ajudar a estabelecer ou restabelecer a

dimensão das coisas e das pessoas”. (CANDIDO, 2007, p. 21). Dessa forma,

pensando na contribuição dos textos literários para o processo de formação do

aluno, escolheu-se como corpus desse trabalho o gênero crônica - amplamente

difundido por Fernando Sabino.

Em suas crônicas, Fernando Sabino transforma os assuntos corriqueiros, até

mesmo os mais complexos, em fragmentos cheios de lirismo, revelando um olhar

diferente sobre a realidade, enxergando os sentimentos escondidos na vida de todos

os dias, revelando por meio de seus personagens que vale a pena analisar os fatos

com a inocência de uma criança, a qual consegue resolver situações embaraçosas

com criatividade e uma boa dose de humor.

A leitura e análise das crônicas de Fernando Sabino, pela sua linguagem

com o cotidiano, permitem muitas possibilidades de situações de uso da fala, da

escrita e de interação com o outro, nas quais o aluno expressa sua leitura de mundo,

contrapondo suas ideias, enriquecendo sua visão acerca dos fatos e identificando-se

como sujeito ativo no processo ensino e aprendizagem.

2. Fundamentação Teórica

2.1. A importância da escola no processo de letramento do aluno

“O aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e a escola, como lugar de crescimento permanente". (Nóvoa).

Desde o seu nascimento, o ser humano precisa suprir diversas necessidades

para desenvolver-se integralmente. Tais necessidades tornam-se mais complexas à

medida que o indivíduo vai adquirindo sua autonomia. Ao ingressar na escola –

lugar de aquisição, socialização e ampliação de conhecimentos, o aluno tem a

oportunidade de aprimorar sua capacidade comunicativa por meio de práticas que

contemplem a oralidade, a leitura e a escrita.

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Dentre estas habilidades, a leitura constitui-se como referencial para o

sucesso das outras, uma vez que o texto só adquire sentido quando ocorre a

interação entre texto e sujeitos - autor e leitor. Oportunizando ao sujeito, o contato

com diversas tipologias textuais, este contextualiza sentidos, enriquece suas

experiências e aprimora seu conhecimento de mundo, adquirindo assim condições

para ler, falar e escrever com proficiência.

Sendo assim, o papel da escola é primordial na formação de leitores ativos e

receptivos que não somente decodifiquem códigos linguísticos, mas saibam dialogar

com outros elementos, ampliando assim sua visão de mundo, tornando-se sujeitos

capazes de agir, interagir e transformar.

Dessa forma, para Bordini & Aguiar, em uma atividade receptiva e criadora,

o trabalho com textos literários é essencial para a promoção do desenvolvimento da

capacidade comunicativa, bem como para o desenvolvimento integral do aluno:

A obra literária pode ser entendida como uma tomada de consciência do mundo concreto que se caracteriza pelo sentido humano dado a esse mundo pelo autor. Assim, não é um mero reflexo na mente, que se traduz em palavras, mas o resultado de uma interação ao mesmo tempo receptiva e criadora. Essa interação se processa através da mediação da linguagem verbal, escrita ou falada. O texto produzido, graças a essa natureza verbal, permite o estabelecimento de trocas comunicativas dentro dos grupos sociais, pondo em circulação esse sentido humano. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 14).

2.2. gênero crônica

Na crônica, "Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida...” (Antônio Cândido).

Derivada do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo), a palavra crônica é

o registro de acontecimentos, num tempo e espaço determinados. O cronista, com

leveza e graça acrescenta doses de humor, sensibilidade, ironia, crítica e lirismo aos

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fatos do cotidiano. Seu objetivo básico é deflagrar uma visão da essência,

proporcionando ao leitor uma visão detalhada dos fatos.

Na crônica existe a liberdade do cronista, ele pode transmitir a aparência de

superficialidade para desenvolver o seu tema, o que também acontece como se

fosse “por acaso”, no entanto, esse acaso não funciona na construção de um texto

literário, pois o artista que deseje cumprir sua função primordial de antena de seu

povo terá que explorar as potencialidades da língua, buscando uma construção

frasal que provoque significações várias, ampliando as possibilidades de leitura

crítica. Para Sá. “A crônica – apesar de toda a sua aparente simplicidade – só pode

ser valorizada quando a lemos criticamente, descobrindo a sua significação”. (SÁ,

1987, p. 78 - 79).

Antonio Candido, ao teorizar sobre a crônica, diz que ela pode servir de

caminho não somente para a vida, mas também para a literatura. Para o autor ela

pode dizer coisas sérias e empenhadas na sua aparente conversa fiada.

O seu grande prestígio atual é um bom sintoma do processo de busca de oralidade na escrita, isto é, de quebra do artifício de aproximação com o que há de mais natural no modo de ser do nosso tempo. É curioso como elas mantêm o ar despreocupado, de quem está falando coisas sem maior consequência; e, no entanto, não apenas entram fundo no significado dos atos e sentimentos do homem, mas podem levar longe a crítica social. (CANDIDO, 2007, P.16 - 18).

2.3. Fernando Sabino – nossa inspiração

“O papel do escritor, cada um a seu modo, é o de contestar, protestar, denunciar, se rebelar contra as injustiças sociais, contra as deformações de pensamento e os preconceitos...”. (Fernando Sabino).

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Foto do painel expositivo das obras de Fernando Sabino Fonte: Acervo pessoal

Para o editor Fernando Paixão:

Fernando Sabino é um dos nomes mais significativos da prosa brasileira contemporânea. Seu estilo claro, preciso, bem humorado, tem conquistado leitores há cerca de cinco décadas. Um dos maiores cronistas modernos, transformou-se na história de uma geração. Nas crônicas que escreveu conseguiu transpor com propriedade, seus anseios e frustrações, suas crises existenciais, sua visão generosa do homem e dos valores humanos. (PAIXÃO, [CAPA do livro], 1994).

O passar do tempo, a transição dos costumes, da linguagem e da literatura

não desgastaram o escritor. Fernando Sabino acompanhou as mudanças do nosso

mundo e sua obra conseguiu manter sempre a mesma qualidade, sem nunca deixar

de se renovar.

Com visão considerada como uma espiã da vida, Fernando Sabino se volta

para a “busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. É o escritor que

busca, que seleciona, que pesquisa, que trabalha o texto em suas diferentes fases

de elaboração até que ele seja publicado”. (SÁ, 1987, p. 23).

A observação atenta dos acontecimentos cotidianos permite ao cronista

captar o lado engraçado das coisas, fazendo do riso um jeito ameno de examinar

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determinadas contradições da sociedade, todavia, o painel urbano construído por

Sabino não se faz apenas com personagens engraçados, ele põe em cena pessoas

semelhantes às que conhecemos, ou de quem já ouvimos falar. Seu texto transita

entre a crônica e o conto, o que concede certa leveza, mas sempre com visão

crítica. Com humor, denuncia as formalidades sociais que tentam enquadrar o

indivíduo, porém reforça a ideia de que o primordial para o ser humano é a

convivência harmoniosa e a descoberta do outro.

3. Pequenos detalhes, grandes lições: a concretização da teoria

“Para conseguir grandes coisas, é necessário não apenas planejar, mas também acreditar; não apenas agir, mas também sonhar”. (Anatole France – Escritor Francês).

Foto – painel de entrada do auditório – dia da apresentação dos trabalhos Fonte: Acervo Pessoal

A implementação da Unidade Didática - “CRÔNICAS: Pequenos detalhes,

grandes lições”, aconteceu entre os meses de agosto e novembro de 2010, no

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Colégio Estadual Professor Pedro Carli, em Guarapuava, tendo como público alvo,

alunos de sétima série do período matutino.

Foram selecionadas algumas crônicas de Fernando Sabino para o

desenvolvimento da proposta pedagógica. Sabino é considerado uma das mais

ecléticas personalidades brasileiras da segunda metade do século XX, sua obra

literária caracterizou-se pela capacidade de explorar, com fino senso de humor, o

lado pitoresco e poético de fatos cotidianos. Para Bender:

“O Fernando Sabino mais divulgado é o das crônicas leves. Além das (des)graças e sutilezas do cotidiano, do “nonsense”, há um escritor vigoroso, preocupado com índios e com a justiça, com os absurdos da vida, com os heróis sem solução e com as definições do homem ante o “eu” e o mundo”. (BENDER, 1981, p. 93).

Ao optar pelos assuntos que merecem uma crônica, Sabino nos mostra que

“a crônica deve escolher um fato capaz de reunir em si mesmo o disperso conteúdo

humano, assim ela pode cumprir o antigo princípio da literatura: ensinar, comover e

deleitar”. (SÁ, 1987, p. 22)

A implementação efetivou-se seguindo alguns princípios do método da

sequência básica, dentre eles: a motivação que prepara o aluno para o texto, a

introdução que apresenta autor e obra, a leitura de textos e a interpretação que

envolve leitor, obra, autor e comunidade.

Também como fundamentação teórica utilizou-se alguns princípios da

Estética da Recepção proposta por Jauss. Essa teoria surgiu em 1967, na

Universidade de Constança, quando Hans Robert Jauss ministrou a conferência “O

que é e com que fim se estuda a história da literatura”. Nesta conferência Jauss

critica as concepções vigentes dos métodos de ensino da história da literatura por

considerá-las tradicionais e desinteressantes, propõe reflexões e aponta caminhos

para a inovação, apresentando seu projeto de reformulação da história da literatura.

Zilberman (1989), ao citar Jauss, diz que este divide em sete teses os

fundamentos de sua teoria sobre a recepção. As quatro primeiras têm caráter de

premissas e as três últimas explicitam a metodologia. A primeira tese refere-se à

natureza histórica da literatura; a segunda tese salienta que o conhecimento prévio

do leitor determina a recepção da obra; a terceira tese postula que o texto pode

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satisfazer o horizonte de expectativas do leitor ou provocar a ruptura desse horizonte

e na quarta tese, Jauss propõe examinar a relação dialógica do texto com a época

de seu aparecimento.

Em suas três últimas teses Jauss apresenta a metodologia, por meio da qual

prevê o estudo da obra literária: aspecto diacrônico – relativo à recepção das obras

literárias ao longo do tempo; aspecto sincrônico – mostra o sistema de relações da

literatura numa dada época e a sucessão desses sistemas; e por último, o

relacionamento entre a literatura e a vida prática.

Jauss prioriza, na leitura do texto literário, o leitor, uma vez que este atribui

sentido ao que lê, dialogando com o autor e sua produção, confrontando a sua

realidade com a do autor, reconstituindo o texto a partir das suas experiências e,

consequentemente abrindo novos horizontes de leitura do mundo. Segundo as

DCE’s de Língua Portuguesa:

Trata-se, de fato, da relação entre o leitor e a obra, e nela a representação de mundo do autor que se confronta com a representação de mundo do leitor, no ato ao mesmo tempo solitário e dialógico da leitura. Aquele que lê amplia seu universo, mas amplia também o universo da obra a partir da sua experiência cultural. (DCE’s, 2008, p. 58).

Em consonância com a teoria de Jauss, as professoras Maria da Glória

Bordini e Vera Teixeira de Aguiar elaboraram o método recepcional, composto de

cinco etapas. Nelas há a determinação, o atendimento, a ruptura, o questionamento

e a ampliação do horizonte de expectativas.

3.1. A crônica no cotidiano escolar

“Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: Veja! - e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente... E, ficando mais rico interiormente, ele pode sentir mais alegria e dar mais alegria – que é a razão pela qual vivemos. A primeira tarefa da educação é ensinar a ver...

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É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo... Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente”. (Rubem Alves).

Organizados em equipe, os alunos receberam revistas, a fim de localizar

gravuras que retratassem cenas do cotidiano. Nesta atividade, procurou-se

incentivar a criatividade, a sensibilidade e a observação de detalhes. Priorizou-se a

oralidade e o espírito de cooperação. Na etapa seguinte, houve questionamentos

acerca da realidade que as imagens sugeriam, comparando-as com o cotidiano dos

alunos.

Esse cotidiano discutido pelos alunos, foi relacionado à proposta de escrita do

cronista, pois a crônica é um texto que motiva a reflexão sobre os fatos do dia a dia

e o escritor Fernando Sabino foi um escritor que soube explorar com sensibilidade e

fino senso de humor o lado poético de tais fatos.

Os alunos familiarizaram-se com o gênero textual crônica, participando de

uma dinâmica. Conheceram a vida e o mundo do escritor Fernando Sabino por

meio de pesquisa no laboratório de informática. Para a realização desta atividade

contamos com a colaboração da professora de história.

Houve a socialização dos dados coletados e a montagem de um painel em

sala de aula. Apresentou-se também, diversos livros de Fernando Sabino a fim de

que os alunos conhecessem e se familiarizassem com as obras do autor em estudo,

uma vez que essa estratégia aguça a curiosidade para a leitura. Verificou-se

bastante interesse dos educandos pelas obras apresentadas.

Na TV pendrive, traçou-se um paralelo apresentando imagens que retratavam

a exploração do trabalho infantil nas diversas classes sociais e imagens que

mostravam crianças felizes, brincando, estudando, enfim, vivendo como crianças.

Essa atividade serviu como motivação para a leitura e interpretação da primeira

crônica de Fernando Sabino apresentada aos alunos: Na escuridão miserável.

Após a leitura e comentários, revisou-se a estrutura de uma crônica,

comentando sobre: narrador, personagens, tempo, espaço e temas abordados.

Assistiu-se a vídeos que demonstravam os direitos das crianças bem como a visão

infantil acerca do mundo, das coisas e das pessoas, ressaltando as cenas que

retratavam a exploração que muitas sofrem devido a ganância de pessoas que se

preocupam somente com o seu bem-estar.

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Como atividade extraclasse – ampliação de horizontes, os alunos realizaram

em casa a leitura das crônicas: Nascer de Carlos Drummond de Andrade e Dez

minutos de idade de Fernando Sabino, socializando, por meio de um painel

expositivo (pinturas, colagens, mosaicos, poesias, desenhos, frases...) as

conclusões sobre as questões abordadas nas crônicas.

Efetivou-se então a leitura e a interpretação de outra crônica selecionada:

Preto e branco. Ao circular entre os alunos enquanto realizavam a leitura, percebeu-

se a indignação dos mesmos pelo fato de um dos personagens discriminar o amigo

pelo fato deste ser “preto”, o que favoreceu a discussão sobre a temática da

situação dos afro-descendentes, bem com as dificuldades que enfrentam no seu dia-

a-dia.

Ao término da leitura, os alunos comentaram sobre o texto, analisaram o

comportamento dos personagens e expuseram sobre pessoas e fatos de seu meio

que apresentam condutas semelhantes às dos personagens.

Um fato interessante que aconteceu é que alguns alunos leram a crônica para

seus pais/familiares e no encontro seguinte expuseram aos demais sobre os

comentários ouvidos em casa. Interessante o comentário da irmã da aluna F.I. – 7ª:

“A discriminação racial é uma grande tolice, afinal há tantas outras coisas para se

preocupar nesse mundo além da cor das pessoas, pois raça não representa caráter

nem dignidade”.

Como atividade de intervalo e para permitir o reconhecimento da

intertextualidade, sugeriu-se aos alunos a leitura do texto Racismo de Luís Fernando

Veríssimo e solicitou-se que assistissem no youtube a canção Amizade Sincera de

Renato Teixeira e Dominguinhos. Ressalta-se aqui o interesse dos alunos pela

canção, pois vários trouxeram “pendrive” com a música para socializar com os

colegas.

Em seguida propôs-se a leitura do texto de Fernando Sabino: “A última

crônica”. Selecionou-se essa, porque, ainda no primeiro parágrafo, o autor enumera

algumas características da crônica: busca do pitoresco, do irrisório no cotidiano de

cada um; captação de aspectos humanos na vida diária; vislumbre do circunstancial,

do episódico, do acidental; o escritor como espectador, captando a essência de um

fato, com o olhar fora de si. Como o objetivo final da implementação era que os

alunos produzissem uma crônica, julgou-se interessante relembrar as características

desse gênero.

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Ao término da leitura, quando os alunos expunham suas impressões sobre o

texto, uma aluna comentou: “Que texto interessante, quase chorei professora... a

menininha ficou super feliz com a comemoração de seu aniversário de uma maneira

tão simples, só com a família. A gente comemora com um monte de gente e às

vezes não está feliz, sente um vazio aqui dentro. (I. Z. – 7ª). Tal comentário

reforça o que disse Antonio Candido ao comentar o texto: “A última Crônica”,

comprovando que a literatura além de ensinar, conscientiza e permite a reflexão

acerca da vida:

... as suas reflexões, a maestria com que constrói a cena e todo o ritmo emocionado sob a superfície do humor lírico – constituem ao mesmo tempo uma pequena e despretensiosa teoria da crônica, deixando ver (...) que por baixo delas há sempre muita riqueza para o leitor explorar. (...) por serem leves e acessíveis talvez elas comuniquem mais do que um estudo intencional a visão humana do homem na sua vida de todo o dia. (CANDIDO, 1992, P. 19)

Para ilustrar melhor nossa conclusão, sugeriu-se que os alunos lessem em

casa, os textos: Festa de Aniversário de Alessandra Mascarenhas e Festa de

Aniversário de Jorge Azevedo. Os dois abordam a mesma temática de “A última

crônica”, com enfoques diferentes. Foi uma experiência interessante, os alunos

perceberam que, muitas vezes, as coisas simples são mais verdadeiras e naturais

que as sofisticadas, como afirma a aluna G. F. – “o importante no aniversário da

gente é sentir-se amada e importante na família, de que adianta um festão sem

amor e emoção?”

No decorrer do trabalho de leitura e desenvolvimento das atividades

propostas, um grupo de alunos sugeriu que, além da produção da crônica, fossem

organizadas apresentações para a comunidade escolar abordando as questões

estudadas. A ideia foi acatada, os alunos organizaram-se em equipes, junto com a

professora idealizaram a socialização dos trabalhos e ensaiaram com a colaboração

de uma aluna do primeiro ano do Ensino Médio noturno.

Os discentes produziram suas crônicas. A correção foi realizada

individualmente. Os textos foram digitados somente por uma aluna, uma vez que

não havia tempo para que cada aluno digitasse a sua com o acompanhamento da

professora. Cada aluno ilustrou a sua crônica e os desenhos foram escaneados.

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O encerramento das atividades aconteceu no auditório do Colégio por meio

de uma exposição para toda a comunidade escolar. Nesta exposição, os alunos

representaram (manequins vivos) a sociedade. Sendo: Primeiro ambiente: As

mazelas da sociedade – tendo como causa principal: o desemprego. (meninos de

rua, exploração infantil, discriminação racial e ao idoso).

No segundo ambiente mostraram, que com pequenos gestos (ajuda ao

próximo, respeito ao idoso, um abraço amigo, orientação aos necessitados...),

podemos contribuir para a melhoria da sociedade. No terceiro ambiente, mostramos

que o mundo será melhor se as pessoas conviverem bem, se as famílias

compartilharem o amor, o respeito e a amizade, se vivermos como irmãos. No quarto

ambiente um grupo de alunos tocou violão e cantou canções sobre a amizade, o

amor e a vida com o intuito de mostrar aos visitantes que a vida é como uma canção

e quando praticamos o amor podemos ser felizes. E finalmente no quinto ambiente

expusemos os “livros” contendo as crônicas dos alunos. Os visitantes puderam ler os

textos e perceber que em cada crônica havia uma lição de vida e amor.

Foto – livros contendo as crônicas produzidas pelos alunos – exposição

Fonte: Acervo pessoal

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4. Conclusão:

“É a escola cidadã, que forma cidadãos conscientes e por inteiro, que na busca de sua felicidade pessoal sejam também integrados à comunidade em que vivem, capazes de pensar, associar ideias, inventar e interferir, sob as mais diversas maneiras, na estrutura da sociedade, a fim de melhorá-la!" (Vera Vaz).

Com a implementação deste trabalho buscou-se aprimorar a capacidade

comunicativa, facilitar a aquisição do conhecimento, promover a reflexão e a

humanização por meio da leitura de textos literários curtos. Percebeu-se que a

proposição de atividades orais e escritas que vem ao encontro dos interesses dos

alunos, a aplicação de métodos de ensino adequados, a interdisciplinaridade, a

qualidade do material didático e a conscientização do aluno tornam-se grandes

aliados do professor quando o objetivo é desenvolver um trabalho significativo com a

literatura no ensino fundamental e alcançar bons resultados em atividades que

contemplem a prática da leitura, da oralidade e da escrita.

Outros fatores importantes e determinantes na busca do sucesso das

atividades propostas são: o diálogo, o incentivo, o respeito à individualidade, ao

ritmo de aprendizagem e principalmente o atendimento aos interesses dos alunos.

“Quando o professor realiza o trabalho com literatura em sala de aula a partir das

expectativas dos estudantes, significa que ele está atento aos interesses dos

mesmos”. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 19).

Confirmou-se também que o trabalho em equipe é um grande aliado do

professor quando a intenção deste é contar com a efetiva participação dos alunos.

“Em equipe” as atividades fluem naturalmente, os alunos desenvolvem o espírito de

cooperação e ajuda mútua, interagem com o outro e a partir dessa interação tornam-

se capazes de expor seu ponto de vista sem o receio de sentirem-se diminuídos,

melhorando sua autoestima e desenvolvendo o hábito de ouvir e acatar as ideias do

outro, contrapondo às suas e, consequentemente, aprendendo com autonomia.

Segundo Alexandre: “... ouvir requer: atenção, disposição e atitude... para a pessoa

que deseja aprender há momentos para ouvir e momentos para falar. É necessário

respeitar esses momentos e estar apto para exercê-los” (ALEXANDRE, 2001, p. 57).

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Verificou-se que a socialização das leituras, das produções orais e escritas é

bastante significativa para o aluno. Essa prática ajuda-o a compreender que todo

texto amplia seus sentidos no momento em que acontece o diálogo entre autor –

texto e leitor. Sabe-se que ao produzir, o autor retrata suas expectativas por meio do

texto, transmite orientações e expõe sua visão acerca dos fatos. Ao lê-lo, o leitor

dialoga com o autor, contribui com suas vivências pessoais, concede vida ao texto,

possibilitando a fusão de expectativas e a reconstrução de sentidos.

A leitura de um texto exige muito mais que o simples conhecimento linguístico compartilhado pelos interlocutores: o leitor é, necessariamente, levado a mobilizar uma série de estratégias, com o fim de preencher as lacunas e participar, de forma ativa, da construção do sentido. Dessa forma, autor e leitor devem ser vistos como estrategistas na interação pela linguagem. (Koch; Elias, [CAPA do livro] 2008).

O trabalho com a crônica enquanto texto literário baseou-se nos princípios

dos métodos: sequência básica de Cosson e estética da recepção de Jauss.

Percebeu-se que esses métodos são aliados do professor na realização de

atividades de leitura, oralidade e escrita, pois permitem o direcionamento de

atividades individuais e coletivas que objetivam: motivar a análise e a reflexão sobre

a realidade auxiliar na construção do “eu” social e ampliar os conhecimentos

humanos, culturais e linguísticos dos alunos.

O “intervalo” proposto ao final da realização das atividades referentes aos

textos, teve como objetivo principal: incentivar a leitura extraclasse. A produção de

crônicas, a confecção do livro e a socialização dos trabalhos permitiram ao

educando a percepção de que ele é o sujeito de sua história e, sendo assim, esta

deve ser escrita com consciência, criticidade e autonomia. Avaliando as atividades realizadas, pode-se concluir que os objetivos

propostos foram alcançados, os alunos perceberam que, sendo a literatura “a arte

da palavra”, ela retrata a vida das pessoas de determinado lugar e época. Sendo

assim, o estudo de textos literários além de ensinar, permite conhecer e entender o

homem, seu mundo, sua época, suas realizações, expectativas e capacidades.

Finaliza-se este trabalho concluindo que há muitos desafios a serem

enfrentados. Faz-se necessário que todos os envolvidos com a Educação realizem

um trabalho consistente, alicerçado em ações responsáveis e compromissadas a fim

de promover a real melhoria do ensino. Cabe ao professor de português o

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desenvolvimento de atividades contextualizadas, criativas e interessantes,

reforçando o papel da língua enquanto prática social e insistindo para que o aluno

leia, escreva, reflita, debata, analise e aja em seu meio. Enfim, como nos dizeres de

Morin: “o ensino deve favorecer a arte de agir”.

5. Referências:

AGUIAR, Vera Teixeira & BORDINI, Maria da Glória. Literatura: A Formação do Leitor: Alternativas metodológicas. Porto Alegre, RS. Mercado Aberto. 1993. ALEXANDRE, Darbí José. Educar: Um ato de amor. São Paulo, SP. Ave Maria. 2001. BENDER, Flora Cristina. Fernando Sabino: Literatura Comentada - seleção de textos, notas, estudos biográfico, histórico e crítico e exercícios, São Paulo, SP. Abril Educação. 1981. CANDIDO, Antonio [et al.]. A Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas, SP: Editora da UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. COSSON, Rildo. Letramento Literário: Teoria e Prática. São Paulo, S.P. Editora Contexto. 2007.

DIRETRIZES CURRICULARES DA REDE PÚBLICA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DO PARANÁ, DCE’s , Língua Portuguesa, Secretaria de Estado da Educação, SEED, Curitiba, 2008. KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender os sentidos do

texto. São Paulo, SP. Editora Contexto. 2008.

PAIXÂO, Fernando, [orelha do Livro] in SABINO, Fernando. Os Restos Mortais. São Paulo, S.P. Editora Ática. 1994.

SÁ Jorge de. A Crônica. São Paulo, S.P. Série Princípios – 3ª edição – Editora Ática.

1987.

ZILBERMAN, Regina e SILVA, Ezequiel Theodoro da. Literatura e Pedagogia: Ponto e Contraponto. Porto Alegre, RS. Mercado Aberto, 1990.

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5.1. Outras fontes pesquisadas:

• Os textos e vídeos citados no artigo, encontram-se nos seguintes endereços eletrônicos:

1. http://www.quemtemsedevenha.com.br/na_escuridao_miseravel.htm acesso -

08 de fevereiro de 2010. 2. http://www.youtube.com/watch?v=LJr0jIHiKZE acesso - 08 de fevereiro de

2010.

3. http://www.youtube.com/watch?v=CQswJT7qOKI acesso - 15 de fevereiro de

2010.

4. http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/autor.php?autor=Carlos%20Drummond%20de%20Andrade acesso - 09 de março de 2010.

5. http://cacosmeusbotoes.blogspot.com/2007/08/outras-crnicaspreto-e-brancofernando.html acesso - 17 de março de 2010.

6. http://cronicasbrasil.blogspot.com/2007/04/racismo-luis-fernando-verssimo.html acesso - 25 de março de 2010

7. http://letras.kboing.com.br/renato-teixeira/amizade-sincera/ acesso - 25 de março de 2010.

8. http://www.varaldaliteratura.ale.nom.br/literatura.php?id=114 acesso - 25 de abril de 2010.

9. http://www.gostodeler.com.br/materia/9701/festa_de_aniversario.html acesso

- 05 de maio de 2010.

10. http://www.youtube.com/watch?v=ciw3WEoZMYQ acesso - 25 de maio de 2010.

11. http://intervox.ufrj.br/~jobis/s-ult.html acesso - 25 de maio de 2010.

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ANEXOS

Preconceito

Flávia Ivanski

Era uma sexta feira, o sol estava radiante e eu andando perto de um lindo

lago. Então me sentei num banco que havia na praça perto dali. Detive-me

observando aquele lugar, admirando a linda paisagem. Focalizei minha atenção em

uma pequena menina que aparentava ter uns sete ou oito anos. Ela estava

brincando alegremente, distraída, esquecida em suas fantasias infantis. Parecia que

o mundo pertencia somente a ela!

Avistei um menino negro, aparentando a mesma idade da garota. Aproximou-

se com a intenção de brincar com ela.

Ao perceber a presença do menino, ignorou-o e aos poucos foi se afastando.

O menino pediu:

- Posso brincar com você?

Olhando-o dos pés à cabeça, ela respondeu:

- O quê? Você brincar comigo? Nem pensar! E mais uma vez, afastou-se.

Desta vez, rindo da cara do garoto.

O menino chorou. Não entendia o porquê da rejeição. Olhou-se pensando

haver alguma coisa errada consigo. Como não entendesse o motivo, retirou-se em

silêncio e foi brincar sozinho, próximo dali.

Ao notar uma linda borboleta voando por perto, a menina corre atrás, sem

perceber cai na água e, devido ao susto, desmaia.

Sem pensar duas vezes o garoto corre para socorrê-la, atirando-se no lago.

Ao retomar os sentidos, a menina surpreende-se com a atitude do garoto.

Sente-se envergonhada por ter sido racista. Pede desculpas, abraça-o com gratidão,

carinho e admiração. Convida-o para brincarem juntos.

Ainda machucado pela humilhação, ele olha-a e diz:

- Não posso brincar agora. Mamãe me espera. Precisamos ir à creche buscar

o meu irmão menor. Ele não consegue andar e como o caminho é longo, mamãe

sozinha não aguenta. Vou ajudá-la. Tchau!

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Percebi que lágrimas rolavam pela face da garota. A angústia e o

arrependimento ardiam em sua pequena alma.

Quanto ao menino, este saiu correndo, pulando e cantando. Ao perceber a

minha presença abriu-se num sorriso. Sorriso belo, inocente, encantador, puro...

Puro como a alma de uma criança...

___________________________________________________________________

A menina que tinha sonhos

Isabela Zanela

Eram três horas da tarde, voltando do curso de francês, percebi que alguém

me observava. Era uma menina linda, porém suja e desarrumada,

Aproximei-me para verificar o que ela fazia ali parada. Ela queria comida,

disse que há alguns dias estava sem comer. Não neguei. Após pegar comida para

ela, perguntei-lhe:

- Onde estão seus pais? – Sem pensar muito ela me respondeu

- Não tenho pai, nem mãe.

Fiquei incomodada com a resposta da menina. Ela continuou falando:

- Um dia não lembro bem porque, meu pai me tirou de casa e falou que só me

aceitaria novamente em casa se eu trouxesse dinheiro e comida. Percorri muitos

quilômetros pedindo esmolas. Não consegui quase nada Acabei me perdendo e não

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encontrei mais o caminho de volta. Faz muito tempo que durmo na rua. No início eu

sofri, mas agora sei me virar, pedir comida. Trabalhei um tempo entregando

panfletos no sinaleiro, mas com a polícia vigiando, não durei muito tempo no

trabalho. Agora peço comida e durmo na rua.

Olhando-a, fiquei imaginando a vida dessa garota. Perguntei-lhe:

- O Conselho Tutelar nunca pegou você?

- Sim, uma vez, há muito tempo, mas eu fugi. Hoje me arrependo, se não

tivesse fugido, veria concretizado um dos meus maiores sonhos: ter um lar!

Emocionada, perguntei-lhe:

- Qual é seu outro sonho?

Ela fitou-me com seus lindos olhos verdes e falou:

- Estudar!

A garotinha abraçou-me com ternura, esboçou um sorriso meio triste e saiu

correndo. Nunca mais vi a bela menina de olhos verdes e cabelos encaracolados,

que tinha um sonho: “estudar”.

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Um aniversário, uma lição

Fabiana Caroline Dzioba

Era domingo. A família reunida. Todos felizes comemorando o aniversário da

vovó.

Em meio àquela agitação toda, resolvi afastar-me. Sentei numa balança que

havia nos fundos. Fiquei ali pensando em como são belos e únicos esses momentos

de alegria e descontração com a família. Esquece-se toda a preocupação do dia-a-

dia.

Levantei-me e ao voltar para a festa, percebi que alguém me espiava pelo

muro. Observei. Era uma pequena menina. Dirigi-me até ela, cumprimentei-a. Não

ouvi nenhuma resposta. Tentei conversar, sorri, mas não obtive sucesso.

Subi no muro para vê-la melhor. Notei que alguém a segurava no colo. Então

perguntei:

- Por que ela não me responde?

- Ah! A minha irmãzinha? Ela não fala e também não caminha. - Mamãe

pediu para eu ajudá-la. Ela adora ver e ouvir brincadeiras.

Levei um choque. Aquela pequena criança queria correr, gritar e brincar como

as outras, mas não podia. Encantei-me com a outra que abdicava de seus prazeres

infantis para cuidar da irmãzinha com tanto zelo e amor.

Conversei com a maior por algum tempo, despedi-me e voltei à festa. Fiquei

com aquela sensação doce e amarga que sentimos quando, em meio à felicidade,

deparamo-nos com a solidão e a solidariedade.

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Amizade incomparável

Edenilson dos Santos Fernandes

Até que enfim deu certo daquele grupo levar a molecada para passear no

parque. Depois de conversar com os pais, os organizadores ficaram muito animados

e felizes. Seria um domingo diferente!

No parque, as crianças poderiam brincar, passear de pedalinho, jogar futebol,

empinar pipas, subir e descer os barrancos, dar comida aos peixes, gansos e patos,

andar de bicicleta, correr, brincar e o melhor de tudo “estar com os amigos”.

Chegou o grande dia. Percebi as crianças todas animadas. Notava-se o

sorriso estampado no rosto de cada uma.

Tudo em ordem. Alegria geral. Ônibus quase lotado. Alguém lembra:

- Professora, o Zezinho ainda não chegou!

Todos ficaram preocupados. O que teria acontecido? Eu, que só observava a

agitação também me preocupei.

De repente a algazarra aumentou. As crianças batiam palmas, assoviavam e

gritavam: “Até que enfim”!

Vi lá longe, o pequeno Zezinho arrastando-se, com alguém no colo.

Todos ficaram admirados. O que seria aquilo. À medida que ele se

aproximava pude perceber que o Zezinho trazia no colo uma outra criança: pálida e

pequena. Ao entrar no ônibus ele diz:

- Oh gente, me desculpem o atraso. Este é o Jorge. Meu vizinho e amigo. Eu

não poderia passear me divertir e deixá-lo em casa, sozinho. Não se preocupem, os

pais dele autorizaram e eu vou cuidar dele. Sei que não será fácil porque ele não

caminha, mas vamos nos divertir, tenho certeza!

Os colegas em pé, aplaudiram o Zezinho. Fiquei emocionado.

O ônibus partiu e dentro dele, uma das mais belas expressões de amizade,

solidariedade e amor.

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Primeira crônica

Thayná Lais Siqueira.

Dia ensolarado, quente, crianças no parque, diversão...

Pais atentos, olhando, olhando e olhando. Jovens, amigos, casais,

passeando.

Não é um parque qualquer, é o parque onde todos se divertem.

Estou observando dois irmãos dividindo seus baldes de areia, sem brigas;

uma brincadeira inocente de castelinho, em um lugar onde balanças ficam, arvores

agitam-se, adultos conversam, e riem felizes, crianças chamam a atenção com sua

pureza, afinal são crianças, ainda anjos.

Dirijo-me para casa com a sensação de felicidade e paz. A vida é

maravilhosa!