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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

¹ – Professor Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, pertencente ao QPM da SEED do Paraná, Pós-graduado em Educação Motora pela Unicentro-Irati ² Professor do Curso de Licenciatura em Educação física da Universidade Estadual de Ponta Grossa

APRENDIZAGEM MOTORA E A PRÁTICA DE JOGOS PRÉ-DESPORTIVOS

BASQUETEBOL

Autor: Édipo Rogério Tozetto¹

Orientador: Professor Ms. Marco Antonio Salles Rosa²

Resumo

O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma pesquisa literária levantando subsídios teóricos e relatar uma experiência prática com a aplicação do projeto de intervenção pedagógica na escola, tendo como objeto de estudo o tema “a influência de um programa motor para aquisição de habilidades motoras fundamentais manipulativas”. A elaboração de uma unidade didática foi requisito do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR, com atividades pré-desportivas, onde foi catalogado exercícios e fundamentos básicos na modalidade de basquetebol. Os procedimentos metodológicos e didáticos adotados foram pesquisados em livros da disciplina de Educação Física, especializados na área da Educação Motora e do Basquetebol, adaptados conforme as condições de aplicabilidade encontradas na escola. A amostragem da intervenção prática foi realizada com um total de 26 alunos, sendo 13 meninos e 13 meninas, com idades entre 11 a 15 anos. O teste motor transversal, realizado inicialmente foi documentado em vídeo e avaliado o patamar da fase motora em que os alunos se encontravam e que porcentagem dos alunos não atingiram a fase de desenvolvimento correspondente, haja vista que de acordo com as idades apresentadas todos deveriam estar na fase especializada. Os resultados mostraram que uma parcela dos alunos ainda estariam na fase fundamental e que, portanto deveriam receber uma atenção maior nas atividades específicas. O restante do grupo seguiu com o programa normal de exercícios conforme o cronograma previsto no projeto. Em relação aos resultados: os alunos que apresentaram maior defasagem motora em relação ao restante do grupo, conseguiram transpor o estágio elementar da fase motora fundamental para a fase motora especializada, durante o projeto, de modo satisfatório. A aplicação de testes motores para se avaliar os alunos na fase especializada não foi realizada pelas dificuldades da aplicabilidade previstas no projeto inicial.

Palavra chave: Aprendizagem motora; desenvolvimento motor; basquetebol.

1 Introdução

Levando em consideração à complexidade do tema “Aprendizagem Motora”,

uma análise mais específica sobre o assunto pode contribuir significativamente para

estudos na área, principalmente para aqueles que tenham maior envolvimento com

práticas pré-desportivas e que busquem uma melhor compreensão da temática da

motricidade humana.

A avaliação da aprendizagem motora é complexa pela própria instabilidade

da motricidade humana, caracterizando-se dentro de várias tendências teóricas,

gerando incertezas. Nesta temática, discutir os elementos básicos foi fundamental

ao estudo.

Com a pesquisa de campo, o uso de conceitos e estratégias teóricas

apropriadas, investigou-se o processo de aprendizagem motora e a aquisições de

novas habilidades motoras.

Entre as mais variadas atividades pré-desportivas praticadas nas escolas do

ensino fundamental e médio, está relacionado o basquetebol, atividade esportiva

que trabalha diretamente com as habilidades manipulativas motoras complexas.

O basquetebol como atividade escolar está inserido nos planejamentos de

Educação Física e é praticado pela grande maioria dos alunos do ensino infantil e

fundamental, de escolas públicas e privadas e a prática da modalidade se torna um

campo vasto de investigação e de estudo, por possibilitar atividades motoras

cognitivas e de sociabilização, que podem corroborar no aperfeiçoamento das

habilidades adquiridas em fases anteriores.

Praticando um jogo pré-desportivo, e aprendendo a utilizar técnicas

corporais básicas, adequadas ás características específicas de uma modalidade

esportiva, o aluno poderá vivenciar novas experiências corporais e motoras, e a

evolução motora dependerá da sua individualidade e das peculiaridades da

modalidade escolhida.

Na prática dos pré-jogos desportivos das aulas de Educação Física, o jovem

vivencia o jogo de forma recreativa e lúdica, sem a rigidez exigida pelo treinamento

especializado. A prática de tais atividades envolve a adaptação e a familiarização

aos seus elementos, e como itens importantes desenvolvidos destacam-se o contato

com a bola, o espaço de jogo (quadra), a relação com os colegas e adversários e,

principalmente os aspectos de aquisição motora, visando à utilização das técnicas

que envolvem essa modalidade esportiva.

Baseando-se neste contexto, abordamos o aspecto da aprendizagem motora

com a seguinte indagação “Qual a influência que um programa de desenvolvimento

motor pode ter para a aquisição de habilidades motoras fundamentais

manipulativas”.

Como metodologia de ensino aplicado ao projeto, utilizou-se uma sequência

pedagógica, desde os exercícios individuais simplificados até os mais complexos, da

familiarização do aluno com a bola, a condução da mesma com o drible, a troca de

passes e o arremesso, em seguida para os exercícios em grupos mais dinâmicos: os

pré-jogos, 2x2, 3x3, 4x4 e também o jogo propriamente dito, com regras

simplificadas.

Como avaliação do projeto de intervenção para determinar o grau de

desenvolvimento motor dos alunos, utilizou-se um teste de verificação “transversal”

que foi reeditado ao final do projeto como parâmetro da aprendizagem motora. No

teste escolhido, “sequência desenvolvimentista de movimentos fundamentais”

( Gallahue, D, L; e Ozmun, J, C) ficou demonstrado que:

Teste inicial - uma pequena porcentagem dos alunos foram classificados como

atrasados no desempenho motor, estando os mesmos na fase motora fundamental,

estágio elementar ( figura 5,6 e 7 );

Teste final - comprovou-se que houve a evolução dos mesmos para a fase motora

especializada.

2 Citações

2.1 Aprendizagem

“Uma alteração na capacidade da pessoa em desempenhar uma habilidade,

que deve ser inferida como uma melhoria relativamente permanente no

desempenho, devido à prática ou à experiência.” (MAGGIL, R, A, 2000, p.136).

A aprendizagem é um processo que envolve tempo e prática. Na medida em que um indivíduo evolui, desde a condição de principiante em uma atividade até ser um praticante altamente capacitado, ele passa por vários estágios diferentes embora contínuos. (MAGGIL, R, A, 2000, p.164-165).

“O aprendizado é um processo interno que produz alterações consistentes

no comportamento individual em decorrência da interação da experiência, da

educação e do treinamento com processos biológicos”. (GALLAHUE, D, L.; e

OZMUN, J, C. 2002, p.17).

Diante do exposto, podemos definir a aprendizagem como a ação de

adquirir uma nova conduta ou modificar uma conduta anterior. Com efeito, o

significado de aprender é buscar informações, adaptar-se a mudanças, adquirir

hábitos, modificar condutas e comportamentos, adquirir conhecimentos e

habilidades, rever a própria experiência.

Dada esta breve definição, simplesmente acrescentamos a palavra motora

à palavra aprendizagem para indicar o tipo específico de aprendizagem que nos

interessa.

2.2 Aprendizagem Motora

“... Consideraremos a educação motora como um processo permanente de

alterações do comportamento motor proporcionado pelos processos de controle,

aprendizado e desenvolvimento motores.” (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C. 2002,

p.21).

O aprendizado motor, assim, corresponde apenas a um aspecto no qual o movimento desempenha parte principal, significando uma alteração relativamente constante no comportamento motor em função da prática ou de experiências passadas. (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C. 2002, p.17).

“Embora caminhar seja uma habilidade que os humanos desempenham “naturalmente”, ela precisa ser aprendida pela criança que tenta se movimentar em

seu ambiente através de seu novo e excitante meio de locomoção.” (MAGGIL, 2000, p.6-7).

Habilidades motoras grossas e finas se diferenciam de forma que a primeira define-se como as habilidades fundamentais caminhar, pular, arremessar, e se saltar, etc., e as finas se caracterizam como as habilidades óculo-manual e óculo pedal. (MAGGIL, R, A, 2000, p.8).

“Para desempenhar uma habilidade motora, a pessoa precisa preparar seu

sistema de controle motor. Essa preparação exige tempo”. (MAGGIL, R, A, 2000,

p.106).

“É importante respeitar o ritmo individual da criança, pois cada uma tem um

ritmo próprio não só pela sua originalidade, mas também pela maturação dos

centros nervosos que não é idêntica, nem com o mesmo grau, em cada uma das

crianças. Importa mais o trabalho realizado pela criança do que o resultado desse

trabalho.” (ROSA NETO, F, 2002, p.17).

A aprendizagem motora é vista apenas como um processo de estabilização de performance, a aleatoriedade, a variabilidade, o ruído, a desordem, ou seja, aqueles fatores relacionados com a entropia positiva, são elementos que necessitam ser reduzidos ou eliminados para que a estabilização ocorra. (TANI, G, 2000, p. 55-61).

“Cada individuo é único em seu desenvolvimento e progredirá até um nível

determinado pelas circunstâncias ambientais e biológicas em conjunto com as

necessidades específicas da tarefa motora.” (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C.

2002, p.97).

Nas primeiras idades deverá existir uma preocupação de assegurar um papel de facilitação da ação, permitindo que cada criança tenha acesso à diversificação de experiências em movimento, na exploração direta de espaços e materiais. Se assim acontecer a riqueza de aquisições processa-se de forma continua em plasticidade, permitindo mais tarde uma cultura motora fundamental a tarefas mais precisas e que solicitem maior exigência da motricidade. (FERREIRA NETO, C. 1995, p.117).

“Muitos adolescentes, porém, têm suas capacidades motoras atrasadas em

função das limitadas oportunidades de prática regular, do ensino deficiente ou

ausente e do pouco ou nenhum encorajamento.” (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J,

C. 2002, p.368).

“O fracasso em desenvolver formas maduras de movimentos fundamentais

tem conseqüências diretas na habilidade de um individuo em desempenhar

habilidades específicas de tarefas na fase motora especializada.” (GALLAHUE, D,

L.; e OZMUN, J, C. 2002, p.368).

Uma variedade de experiências de movimento e de contexto são ingredientes importantes para as condições de prática. A vantagem dessa característica da prática é que ela aumenta a capacidade da pessoa

desempenhar a habilidade praticada com sucesso. (MAGGIL, R, A, 2000, p.256).

“O desenvolvimento de habilidades motoras especializadas é altamente

dependente de oportunidades para a prática, encorajamento, ensino de qualidade e

o contexto ecológico do ambiente.” (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C. 2002,

p.368).

O desenvolvimento das capacidades e habilidades motoras é explicado

pelo conjunto de fatores que envolvem o funcionamento humano: o motor, o

cognitivo e o afetivo. Os três fatores estão interligados e juntos favorecem

ou não o desenvolvimento motor. (SCHMIDT, R; WRISBERG, C, A., p.201)

2.3 Desenvolvimento Motor

O desenvolvimento motor é uma alteração contínua no comportamento motor ao longo do ciclo da vida. Pode ser estudado como um processo, ou como um produto. Como um processo, o desenvolvimento motor envolve as necessidades biológicas subjacentes, ambientais e ocupacionais, que influenciam o desempenho motor e as habilidades motoras dos indivíduos desde o período neonatal até a velhice. Como um produto, o desenvolvimento motor pode ser considerado como descritivo ou normativo, sendo analisado por fases (período neonatal, infância, adolescência e idade adulta. (GALLAHUE; OZMUN, 2002, p.18).

O processo de desenvolvimento e, mais especificamente, o processo de desenvolvimento motor, deveria lembrar-nos constantemente da individualidade do aprendiz. Cada individuo tem um tempo peculiar para a aquisição e para o desenvolvimento de habilidades motoras. (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C. 2002, p.05).

Uma variedade de experiências de movimento e de contexto são ingredientes importantes para condições de prática. A vantagem dessa característica da prática é que ela aumenta a capacidade da pessoa desempenhar a habilidade praticada com sucesso e de se adaptar às condições em que não teve experiência prévia. (MAGGIL, R, A, 2000, p.256-257).

“O desenvolvimento motor fundamental maduro é pré-requisito para a

incorporação bem-sucedida de habilidades motoras especializadas correspondentes

ao repertório motor de um indivíduo” (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C. 2002,

p.368).

Depois que a criança alcança o estágio maduro de um padrão motor fundamental, poucas alterações ocorrem na “forma” daquela habilidade motora na fase motora especializada. Refinamento do padrão e variações de estilo na forma ocorrem à medida que se alcança maior habilidade (precisão, exatidão e controle), porém o padrão básico permanece inalterado. No entanto, grande melhora no desempenho, baseada em crescentes habilidades físicas, pode ser observada de ano a ano. (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C. 2002, p.369).

2.4 Desempenho e aprendizagem

O desempenho é um comportamento observável e se refere ao executar uma determinada tarefa como andar por um local pré-determinado e ou executar algum fundamento esportivo, como se fosse uma bagagem adquirida ao longo de seu crescimento (rebater a bola, driblar a mesma, etc.). E a aprendizagem seria a alteração desta bagagem para um movimento mais refinado e ou elaborado através de um treinamento e de uma prática. (MAGGIL, R, A, 2000, p.136).

2.5 Avaliação motora

É importante ressaltar que uma avaliação preliminar do desempenho motor

permite ao Professor de Educação Física ter um ponto de partida para intervir com

atividades que permitam a aprendizagem de novas habilidades. Como também,

descobrir problemas pré-estabelecidos, progressos ou evoluções motoras,

transtornos de coordenação motora, possíveis transtornos neuromotores e

psicomotores, hiper-atividade, condutas indisciplinares e de sociabilizações e até

problemas de déficit de aprendizagem.

Podemos estudar o desenvolvimento motor através de testes avaliativos

qualitativos que definam mudanças comportamentais e que possibilitem a criança

uma progressão para níveis de aprendizados mais significantes e mais elaborados.

2.5.1 Testes de avaliação motora:

2.5.1.1 O método longitudinal é o mais confiável em que o aluno é estudado ao

longo de vários anos ou de sua trajetória escolar;

A principio, a melhor estratégia para o estudo do desenvolvimento humano é a abordagem longitudinal, na qual medidas individuais dos sujeitos são realizadas repetidamente em épocas específicas sob intervalos pré-determinados. A grande vantagem desse tipo de delineamento é o fato de as alterações nos níveis de desenvolvimento serem observadas diretamente e não inferidas. (GUEDES, DARTAGNAM PINTO, 1997, p.15).

2.5.1.2 O método transversal em que é avaliado um grupo ao mesmo tempo, com

pessoas diferentes e com idades diferentes;

Em um delineamento transversal os sujeitos são examinados em uma única oportunidade, por sua vez os níveis de desenvolvimento são inferidos mediante análise das diferenças entre os sujeitos pertencentes a cada grupo etário. Desse modo, por esse tipo de abordagem torna-se possível observar somente as mudanças em termos médios nos diferentes grupos etários, ao invés das mudanças individuais, como ocorre com a abordagem longitudinal. (GUEDES, DARTAGNAM PINTO, 1997, p.15)

2.5.1.3 O método longitudinal misto que é uma combinação dos dois testes

anteriores.

“Mesmo através da aplicação de testes, fica evidente que existem aspectos

qualitativos das funções intelectuais e funcionais do organismo humano que

permanecem inacessíveis”. (ROSA NETO, F, 2002, p.28).

As formas de avaliar o desenvolvimento motor de uma criança podem ser diversas; no entanto, nenhuma é perfeita nem engloba holisticamente todos os aspectos do desenvolvimento. A escolha e manejo de um instrumento de avaliação estarão condicionados por diversos fatores, como formação e experiência profissional; manuseio de material; aplicação prática; população; interpretação de resultados; informe correspondente; entre outros, os quais devem ser integrados com outras informações (dados pessoais, avaliação escolar, exame médico, etc.). (ROSA NETO, F, 2002, p.29).

3 Desenvolvimento

Ao nascer desenvolvemos algumas habilidades motoras, mas novas

experimentações ao longo de nossas vidas podem facilitar para amadurecê-las.

Para Ferreira Neto (1995, p.117), “ Permitir que cada criança tenha acesso a

diversificação de experimentações motoras, facilitarão uma cultura motora

fundamental mais complexa”.

De acordo com Gallahue (2002, p.368) “Muitos adolescentes tem suas

capacidades motoras deficientes pela falta de oportunidades de prática ou do ensino

deficiente ou ainda ausente e da falta de incentivo”.

Para conseguirmos ter proficiência nestas habilidades criaremos novas e

variadas atividades práticas que podem ser aplicadas em forma de atividades pré-

esportivas, bem como o basquetebol, levando em consideração que o objetivo

escolar seja apenas o desenvolvimento da aprendizagem motora em si e não o

desenvolvimento do esporte como competição ou formação de atletas.

Segundo Maggil (2000, p. 256) “A variedade de experiências de movimento

e de contexto são imprescindíveis para o desempenho e a habilidade praticada com

sucesso”.

As habilidades manipulativas têm um papel fundamental na evolução do ser

humano e a interação com o meio em que ele vive, pois poucas são as atividades

do homem onde não se requer o uso das mãos, também vale salientar o seu valor

ao desenvolvimento e a performance esportiva.

Para Gallahue (2002, p. 368) “O fracasso no desenvolvimento fundamental

terá conseqüências no desempenho de habilidades específicas na fase motora

especializada”.

Partindo deste princípio, fizemos um estudo de como o basquetebol, como

atividade pré-desportiva pode influir sobre a aprendizagem motora e a aquisição de

habilidades manipulativas complexas, desde a fase motora fundamental até a fase

motora especializada e como essas atividades podem auxiliar crianças que estejam

com o desempenho motor atrasado.

3.1 Procedimentos de coleta e de análise dos dados

Antes de iniciar as atividades da Intervenção Pedagógica, foi mapeado o

perfil psicomotor das crianças participantes, conforme suas atividades físicas

cotidianas, as experiências motoras vivenciadas, suas participações em aulas de

educação física nas primeiras séries do ensino fundamental e nos treinamentos de

escolinhas pré-desportivas. Todo este processo foi importante para a compreensão

do grau de evolução do desenvolvimento motor das crianças e os processos que

viabilizarão futuras aquisições de habilidades motoras.

Esta pesquisa inicial mostrou as características gerais dos alunos

matriculados na 6ª série “A”, período matutino, do ensino fundamental do Colégio

Estadual Santo Antonio, alunos advindos parte da região urbana e uma parcela

menor da zona rural, que cursaram as séries iniciais do ensino fundamental (1ª a 4ª

séries) em escolas municipais e em escolas particulares do município de Imbituva,

Paraná.

A amostragem foi aleatória com um total de 26 alunos, sendo 13 meninos e

13 meninas, com idades que variavam de 11 a 15 anos (tabela 1, figura 1).

O primeiro procedimento realizado na semana inicial do projeto foi solicitar

aos pais dos alunos participantes, autorização por escrito, por meio de documento

padrão do Programa PDE - PR, da participação de seus filhos nas aulas práticas e

na filmagem dos testes realizados para o projeto e o uso dos dados levantados para

divulgação no Portal da Educação da SEED, do governo do Estado do Paraná.

Após as aprovações iniciais, foi feito um levantamento histórico das

atividades físicas e recreativas dos alunos até aquele presente momento, o que

ficou evidenciado conforme os gráficos respectivos. (figuras 2, 3 e 4).

O objetivo principal da pesquisa foi levantar o grau de desenvolvimento

motor inicial dos alunos, para determinar a fase motora em que se encontravam e

quantificar caso necessário, os alunos com atraso no desempenho motor, sendo

que numa situação normal para suas respectivas idades, deveriam estar em

“estágio transitório” e “estágio de aplicação”, da fase motora especializada.

Para se obter tal resultado, antes do inicio das aulas práticas foi realizado

um teste de verificação motor “transversal”, seguindo as normas da obra literária

“COMPREENDENDO O DESENVOLVIMENTO MOTOR, Bebês, Crianças,

Adolescentes e Adultos”, Seqüência Desenvolvimentista de Movimentos

Fundamentais, tabela 11.18, tabela 11.19, e tabela 11.23.(GALLAHUE, D, L.; e

OZMUN, J, C. 2002, p.265- 277).

Nesse teste realizado de forma “transversal”, os alunos executaram em três

tentativas, diferentes movimentos manipulativos com a bola de basquetebol: quicar a

bola, arremessá-la, e recepcioná-la.

O teste foi reeditado ao final do projeto da mesma forma que o inicial, e os

mesmos foram documentados em vídeos e analisados por três profissionais de

Educação Física, pertencentes ao quadro de Professores Colégio estadual Santo

Antonio.

3.2 Resultados da análise dos vídeos do teste inicial:

3.2.1 Cinco (5) alunos foram classificados atrasados no desenvolvimento motor,

classificados como estando no estágio elementar da fase motora fundamental para o

fundamento “arremesso”. (figura 5)

3.2.2 Cinco (5) alunos foram classificados atrasados no desenvolvimento motor,

classificados como estando no estágio elementar da fase motora fundamental para o

fundamento “quicar a bola”. (figura 6)

3.2.3 Um (1) aluno foi classificado como atrasado no desenvolvimento motor,

classificado como estando no estágio elementar da fase motora fundamental para o

fundamento “recepção”. (figura 7)

Os padrões de avaliação adotados nos testes foram feitos conforme a

“ sequência desenvolvimentista de movimentos fundamentais”, tabelas 11.18, 11.19

e 11.23 (Gallahue, D, L.; e Ozmun, J, C. 2002, p.265-277).

O fato de se encontrar um número considerado alto de alunos com

desempenho motor atrasado, dentro do grupo de 26, pode-se considerar

hipoteticamente como crianças que tiveram poucas experiências motoras em fases

iniciais das suas vidas, alunos da zona rural com pouco ou nenhum acesso a

atividades pré-desportivas, alunos que não tiveram aulas de Educação Física em

séries iniciais do ensino fundamental e/ou não tiveram atividades voltadas ao

aprendizado motor.

Para Gallahue (2002, p.368) “Algumas crianças tem sua capacidade motoras

atrasadas em função da falta de práticas, do ensino motor deficiente e ainda da

ausência do mesmo e da falta de estímulo e que o fracasso terá conseqüências no

aprendizado motor futuro”.

Para Maggil (2000, p.256), “ A variedade de experimentações aumenta a

capacidade de uma criança ter um melhor desempenho motor em relação a outras”.

Os alunos citados nos itens 3.2.1, 3.2.2 e 3.2.3 receberam uma carga

maior de fundamentos de basquetebol e um tempo mais adequado de atividades

específicas. O restante do grupo seguiu com o curso normal dos exercícios

conforme o cronograma previsto na unidade didática.

Durante a intervenção foram executadas três sessões semanais de 50

minutos de atividades específicas pré-desportivas, previstas no material didático

desenvolvido durante o programa PDE de 2009.

Ao final do projeto, foram reeditados os testes motores e verificado a

evolução motora dos alunos classificados como atrasados para o estágio de

aplicação da fase motora especializada.

3.3 Os objetivos pretendidos do projeto de intervenção pedagógica:

3.3.1 Compreender o desenvolvimento motor infantil e o processo de aquisições de

novas habilidades motoras fundamentais manipulativas.

3.3.2 Desenvolver habilidades gerais e específicas do basquetebol, identificando as

deficiências e dificuldades dos alunos procurando solucioná-las, mudando

conceitos e estratégias pedagógicas para serem utilizadas eficientemente nas aulas

de Educação Física durante o período em que os alunos estejam freqüentando o

período de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental.

3.3.3 Comparar e mensurar o desempenho do grupo, coletivo e individualmente e

reforçar atividades estrategicamente aos alunos com maiores dificuldades.

3.3.4 Investigar o processo da aprendizagem motora e a sua evolução a partir de

jogos pré-desportivos na modalidade de basquetebol, avaliando os aspectos

relativos às ações propostas pelo trabalho que será executado.

3.4 Dificuldades encontradas na aplicação do projeto:

3.4.1 Haja vista que a aprendizagem motora ocorre lentamente e junto com o

amadurecimento da criança, o tempo para o desenvolvimento do projeto tornou-se

um obstáculo, dificultando a obtenção de avaliações e de resultados significantes, o

que demandaria de um tempo maior. Ao período de execução do Projeto de

Intervenção Pedagógica somava-se 32 horas-atividades.

Para Maggil (2000, p.164-165) “A aprendizagem depende da prática e do

tempo, conforme a evolução da prática, o aluno passa vários estágios diferentes,

mais contínuos”.

Para Gallahue (2002, p.17) “ O comportamento prático do aluno é decorrente

da experiência, do aprendizado e do treinamento com processos biológicos.”

Esta dificuldade já estava previsto no planejamento inicial, e foi discutido e

acordado com Professores que participaram do Grupo de Trabalho em Rede (GTR

2009), curso a distância da Secretaria de Estado da Educação do estado do Paraná,

realizado no período compreendido entre fevereiro e maio de 2010.

3.4.2 Crianças com idades muito elevadas para o projeto em questão. Este assunto

também foi abordado com os Professores do GTR, pelo motivo de a maior parte

dos alunos já estarem com a fase motora fundamental concluída.

3.4.3 O fato de não ser uma turma homogênea em termos de desenvolvimento e

idade cronológica, que segundo a direção escolar, se fez pela necessidade da

escola remanejar alunos do período vespertino para o turno matutino, por problemas

de evasão escolar e por reprovações, tornando a média da faixa etária muito alta

para os padrões normais.

3.4.4 Outro fator relevante foi a falta de materiais específicos para a idade

trabalhada (bolas mirim, tabelas com altura apropriada, etc.).

3.4.5 A dificuldade em ter um local apropriado, exclusivo e disponível para

execução do projeto (quadra de basquetebol) e desenvolvimento dos fundamentos,

pois o número de aulas de Educação Física, preenche todo o período matutino,

muitas vezes com mais de uma turma.

Como resultado satisfatório do projeto, destaca-se a audiência e a

participação com Professores de outras escolas do estado do Paraná no GTR

2010. O grupo participou das discussões, enviando opiniões, citando experiências

próprias vivenciadas em suas escolas e municípios e até exemplificando alguns

exercícios para aplicações práticas, que foram devidamente catalogadas na

unidade didática desenvolvida para a intervenção pedagógica na escola.

Destaca-se ainda a evolução dos alunos da fase motora fundamental,

estágio elementar , nos exercícios de recepcionar, arremessar e quicar a bola,

(figuras 5, 6 e 7), para a fase motora especializada.

Como resultado do grupo no geral não foi possível descrever a evolução

dentro da fase especializada onde os mesmos se encontravam, levando-se em

consideração as dificuldades encontradas, mas que não podemos ignorar o que os

autores especializados na área, em uníssono afirmam que, quanto maior as

experimentações de movimento na infância maior será o desempenho motor.

4 Figuras, gráficos e Tabelas

4.1 Tabela da faixa etária dos alunos

Tabela 1: Diagrama da faixa etária

IDADE (ANOS) Nº DE ALUNOS PORCENTAGEM

1 11 1 3,84

2 12 16 61,53

3 13 6 23,07

4 14 2 7,69

5 15 1 3,84

Fonte: Autor

4.2 Gráfico da faixa etária dos alunos

Figura 1: Gráfico da faixa etária

Fonte: autor

3,8

61,5

23

7,73,8

FAIXA ETÁRIA %

11

12

13

14

15

4.3 Gráfico: Educação Física de 1ª a 4ª série do ensino Fundamental

Figura 2 – Gráfico representando a porcentagem de alunos que tiveram aulas de Educação Física

nas séries iniciais do ensino fundamental (25 alunos).

Fonte: Autor

4.4 Gráfico: Escolinhas de basquetebol

Figura 3 – Gráfico representando a porcentagem de alunos participaram de escolinhas de

basquetebol (7 alunos).

Fonte: Autor

96,2

3,8

Tiveram aula

26,92

73,08

Tiveram treinamento

4.5 Gráfico: Escolinhas desportivas (outras modalidades)

Figura 4 – Gráfico representando a porcentagem de alunos que participaram de escolinhas de

basquetebol (17 alunos).

Fonte: Autor

4.6 Gráfico: Teste de desenvolvimento motor - Quicar a bola

Figura 5 – Gráfico representando a porcentagem dos alunos nos estágios fundamental e

especializado (agosto de 2011).

Fonte: Autor

65,38

34,62

Tiveram treinamento

80,77

19,23

Estágio Especializado

Estágio Fundamental

4.7 Gráfico: Teste de desenvolvimento motor – Arremesso

Figura 6 – Gráfico representando a porcentagem dos alunos nos estágios fundamental e

especializado (agosto de 2011).

Fonte: Autor

4.8 Gráfico: Teste de desenvolvimento motor – Recepção

Figura 7 – Gráfico representando a porcentagem dos alunos nos estágios fundamental e

especializado (agosto de 2011).

Fonte: Autor

80,77

19,23

Estágio Especializado

Estágio Fundamental

96,15

3,85

Estágio Especializado

Estágio Fundamental

5 Conclusão

Os resultados obtidos na Intervenção Pedagógica apontam o que era

proposto no projeto de intervenção pedagógica realizado no Colégio Estadual Santo

Antonio, que um programa de desenvolvimento motor pode influenciar na aquisição

de habilidades manipulativas e que o basquetebol pode ser um deste meios. O

próprio perfil motor realizado no início do projeto deu pistas para um possível

resultado, pois os gráficos identificaram que as crianças que participaram de

escolinhas de basquetebol, de outras modalidades, e que tiveram Educação Física

nas séries iniciais do Ensino infantil foram avaliadas num patamar de

desenvolvimento motor, acima das outras.

Conforme Gallahue (2002, p.17) “ O aprendizado motor produz alterações

no comportamento em decorrência da experiência e do treinamento”.

Em função dos resultados obtidos nos testes, propõe-se que as atividades

pré-desportivas do basquetebol sejam utilizadas nas aulas de educação Física para

estimular à curto prazo, uma melhor aprendizagem das crianças que apresentem

dificuldades de desempenho motor, como foi o caso estudado neste projeto.

Segundo Gallahue (2002, p.368) “Para se atingir a fase motora

especializada é necessário uma boa preparação na fase motora fundamental”.

O fato de serem utilizados testes “transversais” e não “longitudinais” como

procedimento mais adequado de avaliação motora, se deu pelo pouco tempo

destinado a aplicação da intervenção pedagógica, mas que numa sequência deste

trabalho deve ser priorizados à prática das aulas de Educação Física e que esse

resultado seja acessível, durante todo o trajeto escolar do aluno, desde o ensino

fundamental até o ensino médio, para que todos os professores da área tenham

acesso ao mesmo.

A principio, a melhor estratégia para o estudo do desenvolvimento humano é a abordagem longitudinal, na qual medidas individuais dos sujeitos são realizadas repetidamente em épocas específicas sob intervalos pré-determinados. A grande vantagem desse tipo de delineamento é o fato de as alterações nos níveis de desenvolvimento serem observadas diretamente e não inferidas. (GUEDES, DARTAGNAM PINTO, 1997, p.15).

O que se pode presumir sobre aprendizagem motora é que a qualidade e a

quantidade de experiências motoras durante o desenvolvimento maturacional da

criança, podem determinar o nível de domínio motor que a mesma terá no futuro,

mas que esse trabalho demandará de um certo tempo.

As atividades pré-desportivas, não só do basquetebol, mas de outras

modalidades também, não devem ser planificadas apenas ao segundo ciclo do

ensino fundamental (5ª a 8ª séries), mas também nas séries iniciais do ensino

infantil(1ª a 4ª séries).

Os profissionais de Educação Física do ensino fundamental podem se

empenhar ao ensino da “aprendizagem motora” sempre reavaliando seu

planejamento e sua aplicabilidade.

O estudo aqui realizado terá uma sequência no que diz respeito aos estudos

teóricos para uma aprofundamento do conhecimento teórico da aprendizagem

motora e a realização de uma experiência prática que dure o tempo que os alunos

levem frequentando as quatro séries do ensino fundamental (5ª a 8ª séries),

aplicando um programa de desenvolvimento motor nas modalidades coletivas e

individuais, realizando testes mais precisos (longitudinais), no início e ao final de

cada ciclo.

Depois que a criança alcança o estágio maduro de um padrão motor fundamental, poucas alterações ocorrem na “forma” daquela habilidade motora na fase motora especializada. Refinamento do padrão e variações de estilo na forma ocorrem à medida que se alcança maior habilidade (precisão, exatidão e controle), porém o padrão básico permanece inalterado. No entanto, grande melhora no desempenho, baseada em crescentes habilidades físicas, pode ser observada de ano a ano. (GALLAHUE, D, L.; e OZMUN, J, C. 2002, p.369).

Referências

FERREIRA NETO, C. Motricidade e Jogo na Infância. p.117, Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

GALLAHUE, D. L., OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor de bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo , p. 18, 2002.

GUEDES, DARTAGNAN PINTO, Crescimento, composição corporal e desempenho motor de crianças e adolescentes, São Paulo, 1997.

MAGGIL, R. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. Tradução Erik Gerhard Hanitzsch. 3ª ed. São Paulo: Edgard Blucher, p. 31-135-164, 2000.

ROSA NETO, F. Manual de Avaliação Motora. Porto Alegre, p. 13, 2002.

SCHMIDT, R; WRISBERG, C, A., Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema, 2ª Ed, Rio de Janeiro: Ed. Movimento, p.201, 2001.FERREIRA NETO, C. Motricidade e Jogo na Infância. p.117, Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

TANI, G. Processo adaptativo em aprendizagem motora: o papel da variabilidade. Revista Paulista de Educação Física, supl. 3, p.55-61, 2000.

Bibliografia consultada

DAIUTO, MOACIR, Metodologia do Ensino e do treinamento, Cia Brasil editora, São Paulo, 1991.

GUARIZI, MARIO R., Basquete - da Iniciação ao jogo, 1ª Ed, 2007.

GRECO, P.J.; BENDA, R.N. Iniciação Esportiva Universal. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

LOZANA, CLÁUDIO. Atividades Recreativas para o aprendizado do Basquetebol ,Ed. Sprint, 1ª Ed., 2007.