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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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A NARRATIVA FÍLMICA FICCIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR: uma ferramenta didático-pedagógica na disciplina de História

Autor: Prof. Sandro Roberto Gonçalves1

Orientador: Prof.ª Dra. Eulália Aparecida de Moraes2

Resumo

Elegemos o filme ficcional histórico como objeto de estudo para uma aplicabilidade metodológica no Ensino Médio. Justificamos a escolha por considerá-lo um processo portador de representação do imaginário social, que contribui para uma determinada consciência. Nenhum filme é neutro em relação à sociedade que o produziu, mesmo sem finalidades políticas, ele traduz a mentalidade do público ou parte dele. Conquanto a utilização dos filmes ficcionais apresente-se com um vasto campo para o ensino da História é necessário esclarecer que além da problemática didático-pedagógica de ordem metodológica optamos por um recorte temporal que envolve conteúdos específicos trabalhados pelas diretrizes curriculares. A partir de recortes dos aspectos mais importantes de trechos de filmes escolhidos de acordo com os referidos recortes nos propomos, com a metodologia de análise cinematográfica, a sugerir comentários das valorações históricas permitindo ao educando perceber-se como sujeito da História a fim de que interaja como transformador da sociedade. A aplicabilidade do filme ficcional em sala de aula permitirá identificar a capacidade de distinção do estudante quanto à materialidade e a realidade dos fatos históricos na construção de um “olhar” sobre a disciplina.

Palavras-chave: ensino de História; filme de ficção; ensino médio; sujeitos da História.

1 Especialista em História e Geografia do Paraná, graduado em História professor do Colégio

Estadual Dona Branca do Nascimento Miranda. 2 Professora adjunta da Universidade Estadual do Paraná (UEPR) – Campi Paranaguá (Fafipar)

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1 INTRODUÇÃO

A História, enquanto disciplina do currículo escolar dos ensinos fundamental e

médio, desempenha um papel fundamental na conscientização do indivíduo como

agente da sociedade e, como tal, pode despertar sua consciência no sentido de agir,

interagir e transformar não somente o seu meio social, mas também a sua própria

vida. Na trajetória de construção dessa disciplina ela foi se apropriando e

instrumentalizando com os mais diversos recursos disponíveis, dentre os quais,

podemos destacar a tecnologia que sempre esteve a serviço não somente do

desenvolvimento das sociedades, mas também se transformou em suporte para o

crescimento de todos os campos do conhecimento.

É nesta perspectiva que a melhor utilização dos recursos de mídia no

ambiente escolar, apresenta-se como uma possibilidade de resgate do

conhecimento histórico e não somente isso, mas também de uma reconstrução

desses saberes sob a ótica da realidade social em que vivemos.

Dentro da vivência em sala de aula percebemos que os alunos apesar de

terem facilidade de acesso aos mais diversos tipos de mídias (filmes, imagens e

sons), possuem um conhecimento ínfimo e muitas vezes distorcido sobre elas.

Restringindo-se apenas ao que está sendo divulgado pelos meios de comunicação

(modismos) ou pelo que “gostam de ver e ouvir” não fazendo conexão dessas fontes

de informação como sendo algo que pode lhes constituir num referencial para a

construção de um saber pedagógico e histórico que lhes servirá de apoio para

compreender, criticar e interagir com o meio social ao qual estão inseridos.

Por outro lado muitos professores também se sentem pouco à vontade quanto

ao uso dessa metodologia não sabendo muito bem como direcionar didaticamente o

momento de exibição do filme e posteriormente quais as estratégias metodológicas

que podem se aplicadas a ele.

Nossa tentativa de contribuição se situou nessa perspectiva de trazer tanto a

educandos quanto a educadores estratégias que permitiriam um melhor

aproveitamento da narrativa cinematográfica como um instrumento de

aprendizagem.

A concretização dessa proposta se efetivou com a implantação do Projeto de

Intervenção Pedagógica na Escola, tendo como base a utilização de um Caderno

Pedagógico que servirá tanto a Educadores quanto Educandos. Durante o período

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de agosto a dezembro de 2010 o projeto foi desenvolvido em quatro horas

semanais, contando com a presença de alguns alunos do 2º Ano do Ensino Médio

que frequentaram o Colégio no contra turno.3 Também utilizamos o material sempre

que possível nas próprias aulas de História, quando os conteúdos trabalhados em

sala coincidiram com o material disposto no Caderno Pedagógico. Como ponto

inicial de nosso trabalho utilizamos marcos conceituais sobre o cinema e o uso de

filmes com finalidades pedagógicas enfatizando que toda produção artística é “filha

de seu tempo”, quer dizer, expressa de alguma maneira a realidade histórica em que

foi concebida e traz a possibilidade de através de seus elementos terem-se uma

melhor compreensão da sociedade e da história.

1.1 Justificando a escolha do filme ficcional histórico

Por intermédio da linguagem fílmica se refletem os aspectos dos mais

diversos segmentos constitutivos da sociedade, tais como: a política, a economia, as

diferenças sociais, as tendências da moda, os preconceitos e as tentativas de

desmistificá-los, bem como a sua ideologia.

Isto se evidencia no discurso de diversos historiadores que ao pensarem os

objetos de estudo da História em meados do século XX, trouxeram uma contribuição

significativa para a ampliação das fontes a serem levadas em consideração para se

construir o pensamento histórico. Dentre eles podemos destacar Michel Vovelle que

com sua „história das mentalidades‟ evidenciou o estudo das fontes literárias e

artísticas que anteriormente tinham pouca ou nenhuma importância e que a partir de

então passaram a fazer parte do universo investigativo dos historiadores.

Quando olhamos para uma obra de arte efetivamente o que ela nos revela, ou

o que ela oculta? E quando assistimos a um filme quais elementos da realidade ou

da fantasia estão presentes? Esses elementos são de grande valia para o professor

de História no sentido de auxiliá-lo na discussão de temas pertinentes à História;

tanto mundial quanto regional; trazendo subsídios para um melhor entendimento das

forças ideológicas que regem as sociedades.

3 A forma de utilização deste tipo de encaminhamento foi amplamente discutida com a Equipe Pedagógica e

Direção do Colégio, bem como, com a Professora Orientadora. Sendo que foi consenso à aplicação do projeto no

contra turno e com alunos voluntários.

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Nas últimas décadas do século XIX e nas subsequentes do XX presenciamos

grandes transformações tecnológicas, principalmente no que tange às áreas de

comunicação, informação e entretenimento. Direta ou indiretamente esses avanços

ecoaram no campo educacional trazendo possibilidades de uma ampla flexibilidade

nas práticas de ensino.

É neste sentido que a utilização dos filmes representa um campo amplo e

diversificado enquanto instrumento metodológico e relativamente mal utilizado no

ambiente da sala de aula. Infelizmente, não raras vezes, ainda é comum as escolas

exibirem filmes com o único intuito de preencher a falta de um professor ou ainda

com a desculpa de se ter uma „aula diferente‟, mas sem dar-lhe um valor didático,

pedagógico que lhe é devido, além de cobrarem do aluno um relatório (sem nenhum

sentido, apenas um resumo) ao final da sessão.

É importante destacarmos que a ideia do filme como fonte histórica é muito

nova dentro da historiografia e ainda precisamos avançar muito nas análises,

discussões e estudos de como a sua utilização como ferramenta didático-

pedagógica contribui ou não para o aprendizado da História.

Os próprios teóricos até pouco tempo não viam com bons olhos a utilização

de fontes tão adversas daquelas que não os documentos escritos e oficiais.

Devemos ressaltar que a Escola dos Annales trouxe uma contribuição de grande

destaque nas décadas de 1960 e 70 ao ampliar as possibilidades de investigação

das fontes documentais. A chamada Nova História lançou as bases para a

compreensão de objetos e interpretações antes deixadas de lado pela Historiografia,

o que aumentou significativamente as lentes de observação dos estudiosos.

Jacques Le Goff em sua obra A História Nova (1993) destaca o papel da

renovação do domínio cientifico a partir do surgimento das Ciências Humanas e

Ciências Sociais, trazendo o diálogo com as demais disciplinas

(interdisciplinaridade). As fronteiras foram derrubadas em prol de uma História Total

em que a antropologia, a geografia e mesmo a biologia passam a constituir-se em

terreno fértil para a apreensão e compreensão do conhecimento histórico.

Destaca-se também o papel da desconstrução do documento histórico que

deve ser descoberto dentro de suas condições de produção acabando com a ideia

de um tempo único, homogêneo e linear. Tanto o texto literário quanto artístico e as

obras de arte nessa perspectiva e também o imaginário devem ser considerados

como elementos para o entendimento da realidade social e histórica.

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Nesse contexto cabe ainda destacar a contribuição de Marc Ferro com

inúmeras obras que apontam o filme como um documento base para a análise das

sociedades. Destacando a importância do elemento imaginário que está presente,

segundo ele, em qualquer gênero de filme e que estabelece uma relação entre

autor/tema/espectador permitindo a chamada contra-história. Kornis (1992, p.8) ao

referir-se ao pensamento de Marc Ferro afirma:

[...] o filme revela aspectos da realidade que ultrapassam o objetivo do realizador, além de, por trás das imagens, estar expressa a ideologia de uma sociedade. Ferro defende assim que, através do filme, chega-se ao caráter desmascarador de uma realidade política e social.

Portanto, hoje a utilização do cinema na sala de aula ganhou proporção e

importância no sentido de oferecer tanto aos professores quanto aos alunos um

referencial de análise, investigação e mesmo compreensão das realidades que os

cercam. Além de contribuir para que a tecnologia - que sem pedir licença - já invadiu

o nosso cotidiano permeie o espaço escolar e seja mais bem aproveitada.

Um dos objetos de análise da história que se tem apresentado nas últimas

décadas encontra-se no campo da memória coletiva que por si só não produz um

saber histórico, porém, sua representação através de narrativas escritas ou orais se

configura nos domínios do conhecimento da atual historiografia.

A Escola durante muito tempo só se preocupou com a transmissão de

saberes através da linguagem falada relegando para última instância as demais

formas de linguagem como instrumento na elaboração do processo

ensino/aprendizagem.

Neste contexto a produção fílmica (documentário ou ficção) se destaca como

uma possibilidade de fonte e de objeto de investigação do historiador:

[...] mais que lembrar ou esquecer a função da memória, enquanto mecanismo social é fazer lembrar e fazer esquecer e é nesse confronto permanente entre o que é lembrado e o que é esquecido que parece estar a importância do cinema como fonte histórica. Se por um lado o cinema reforça certos mitos da sociedade ocidental, por outro afronta essa mesma sociedade ao lembrar nomes, fatos e lugares aparentemente esquecidos pela memória social e muitas vezes pela própria história que, sem perceber, às vezes, submerge à força da falsa identidade entre memória/história. (Soares, 1994, p.3-4)

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Estes lugares, nomes e fatos ganham nova importância e também novos

significados em nosso presente na medida em que são inseridos no nosso cotidiano

através de outros meios, que não àqueles consagrados pela produção acadêmica

como convencionais. Pois como foi ressaltado anteriormente, a própria História é

carregada de uma carga grande historicidade que foi sendo moldada pelas diversas

correntes científicas que a influenciaram direta ou indiretamente. É o que se percebe

no trato com os documentos que passaram a abarcar uma gama considerável de

fontes das mais diversas origens.

O advento da modernidade e a explosão da tecnologia trouxeram para a

História elementos novos e fundamentais para que não somente esta disciplina, mas

as demais ciências humanas passassem a dispor de incontáveis formas de ver e

interpretar os fatos e não somente isto, mas também, analisar fontes nunca antes

tidas como objetos de interesse e pesquisa. O cinematógrafo (invenção de fins do

século XIX), que tanto espantou e extasiou seus primeiros expectadores, também

despertou um novo olhar sobre a realidade e a sociedade que de maneira veemente

e irreversível a transformou.

1.2 Objetivos didáticos para o uso do filme ficcional

Podemos afirmar que a produção filmográfica traduz direta ou indiretamente

as ideologias e valores postos nas sociedades. Daí a importância da utilização da

linguagem cinematográfica como um processo de abordagem de saberes e de

construção de um conhecimento pedagógico no âmbito da sala de aula, tendo como

foco o despertamento da criatividade do educando e sua busca pela compreensão e

apreensão do conhecimento.

Ao longo de sua evolução e história os idealizadores da produção

cinematográfica pensaram que esta era uma reprodução fiel do real. Mas com o

passar do tempo e o avanço tecnológico pelo qual passou fez-se do cinema um

mecanismo de interpretação e manipulação da realidade servindo não somente aos

interesses da chamada „indústria cinematográfica‟, mas principalmente a valores

ideológicos postos por uma elite dominante.

Cabe ressaltar que ao assistirmos a um filme com a finalidade de analisá-lo

„didaticamente‟, devem ser levados em consideração vários aspectos. Aspectos

estes que num primeiro momento passam despercebidos do público, mas que

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merecem atenção, já que a proposta é entender os mecanismos ideológicos

contidos nestes tipos de produções.

Neste sentido é importante sabermos os nomes daqueles que estão „por trás‟

dos bastidores já que a produção fílmica é sempre uma produção engajada, quer

seja na esfera política, econômica ou social. Ou seja, é uma produção que traz uma

ideologia formadora de opinião, quer o expectador tenha ou não consciência plena

disso. Portanto, quanto mais informação obtiver sobre um determinado filme melhor.

Sob esta perspectiva delimitamos os seguintes objetivos: desenvolver uma

metodologia adequada ao ensino de História que possibilite uma maior

compreensão e apreensão dos conteúdos tendo como recurso a utilização de filmes

como fonte que explicita ideologias, comportamentos, valores e visões de uma

determinada sociedade em seus diversos momentos e consequentemente levar o

educando a perceber-se como um ser histórico que interage em seu meio social.

Também de acordo com os eixos estruturantes propostos nas diretrizes

curriculares do Estado do Paraná para a disciplina de História; a saber: as relações

de trabalho, as relações de poder e as relações culturais desenvolver um trabalho

que privilegie alguns conteúdos específicos que contribuam para o desenvolvimento

do educando no sentido de aprender a “pensar historicamente” as diversas

sociedades, extraindo delas as semelhanças e diferenças e como estas se refletem

na formação das sociedades contemporâneas. Verificar o interesse pelo

conhecimento histórico por meio da análise de filmes que de alguma forma

expressem um dado momento da História.

Por fim, analisar a capacidade de distinção do educando quanto à

materialidade e realidade dos fatos históricos, através da construção de um “olhar”,

uma possibilidade de análise, desses fatos e como eles fornecem subsídios para

que os alunos se posicionem como agentes ativos do processo histórico tendo como

referencial os filmes, afinal, como dizem Froelich e Barcellos (s.d) “[...] o grande

desafio para a educação e sua relação com os meios modernos de comunicação

talvez não seja aprender a utilizá-los, mas sim, como fazer deles um artefato a mais

para a construção da autonomia dos sujeitos”; ou seja, buscar um melhor

aproveitamento do espaço das aulas de História trazendo como ferramenta didática

o uso do cinema privilegiando um espaço para amplo debate, e melhor utilizando

esse recurso metodológico.

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Para tal propusemos as seguintes atividades:

Exibição de trechos de filmes ficcionais históricos;

Levantamento das impressões e observações dos alunos;

Pesquisa de fontes (textos, comentários, sinopses dentre outros) que subsidiem

uma melhor compreensão dos temas expostos;

Elaboração de um relatório sobre as atividades desenvolvidas e que reflita os

conhecimentos apreendidos com tal metodologia.

2 Encaminhamentos metodológicos

A reformulação educacional oriunda das décadas de 1980 e 90 produziu a

necessidade crescente de se discutir o papel do ensino da História, bem como, de

seus fundamentos teórico-metológicos. É neste contexto que as novas tecnologias –

resultantes da sociedade industrial capitalista contemporânea – invadiram o espaço

escolar. Dentre elas podemos destacar os mais diversos tipos de mídias (CDs,

DVDs, pendrives, desktops e notebooks, além é claro, o uso da própria internet) que

trouxeram uma grande revolução para a sociedade de um modo geral, mas também

abriram uma gama imensa de possibilidades no que diz respeito ao acesso ao

conhecimento escolar e científico.

Obviamente que o acesso a esses meios ainda não são propiciados a todos;

mas o que assistimos nos últimos anos é a uma disseminação e democratização

cada vez maior desses tipos de fontes para a produção do conhecimento. Daí a

necessidade crescente também, de se redefinir o papel do ensino da História nos

diversos níveis de escolarização do educando.

É de fundamental importância compreender as demandas da sociedade para

a produção do saber escolar.

A escola sofre e continua sofrendo, cada vez mais, a concorrência da mídia, com gerações de alunos formados por uma gama de informações obtidas por intermédio de sistemas de comunicações audiovisuais, por um repertório de dados obtidos por imagens e sons, com formas de transmissão diferentes das que têm sido realizadas pelo professor que se comunica pela oralidade, lousa, giz, cadernos e livro, nas salas de aula. (Bittencourt ,2005, p.14).

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Não que a utilização desses recursos como lousa, giz, caderno e livros sejam

ruins; pois, o que importa é a metodologia empregada e o fim a que destinamos

esses recursos. Mas não podemos desconsiderar esse perfil diferenciado do nosso

público escolar. A rapidez e o volume de informações ao qual o educando está

exposto diariamente, a própria democratização do acesso às novas tecnologias deve

ser levada em conta, até mesmo para que o professor repense a sua metodologia e

prática escolares.

A criação do cinema e do mercado cinematográfico no início do século XX

causou ao longo das décadas um profundo impacto nas sociedades modernas,

inclusive, sob o ponto de vista de como elas compreendem e interagem com a

realidade.

[...] é imprescindível ao historiador procurar responder a duas questões fundamentalmente importantes: o que a imagem fílmica reflete é a própria realidade ou uma representação dela? E até que ponto as imagens podem ser manipuladas? Sob essa perspectiva afirma: hoje se admite que a imagem não ilustra nem reproduz a realidade, ela a reconstrói a partir de uma linguagem própria que é produzida num dado contexto histórico. Isto quer dizer que a utilização da imagem pelo historiador pressupõe uma série de indagações que vão muito além do reconhecimento do glamour dos documentos visuais. O historiador deverá passar por um processo de educação do olhar que lhe possibilite "ler" as imagens. (Kornis, 1992, p.1).

A linguagem cinematográfica surgiu da necessidade que os produtores tinham

de contar uma história com estruturas narrativas que se relacionassem com o

espaço conferindo-lhe materialidade e não uma sucessão de quadros de imagens

que não tinham um aparente significado e que não tivessem relação com a

realidade. Entretanto essa linguagem deveria passar ao expectador um caráter o

mais natural possível, sem que as montagens ou cortes denunciassem as intenções

de quem os elaborou.

Esta definição é o ponto de partida que permite retirar o filme do terreno das evidências: ele passa a ser visto como uma construção que, como tal, altera a realidade através de uma articulação entre a imagem, a palavra, o som e o movimento. Os vários elementos da confecção de um filme - a montagem, o enquadramento, os movimentos de câmera, a iluminação, a utilização ou não da cor - são elementos estéticos que formam a linguagem cinematográfica, conferindo-lhe um significado específico que transforma e interpreta aquilo que foi recortado do real (Kornis, 1992, p.3).

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Obviamente foi longo o processo pelo qual a produção cinematográfica

passou até chegar aos moldes atuais e ao se pensar no cinema como um formador

de opinião.

Nos últimos anos já temos na prática escolar procurado incorporar à aula

elementos da tecnologia disponíveis como um recurso didático/pedagógico. Dentre

eles destacamos a utilização de trechos de filmes que possam melhor contextualizar

e explicar um determinado tema pertinente à disciplina de História. Esta prática

resultou na elaboração de um pequeno roteiro de atividades desenvolvidas

objetivando dar um significado diferenciado a esse momento para que este

efetivamente cumpra com a finalidade de proporcionar aos alunos um espaço de

aprendizado e também de reflexão sobre os conteúdos propostos.

Tal roteiro foi estruturado da seguinte forma: partindo de conteúdos

específicos e pontuais apresentamos e contextualizamos o conteúdo do momento

histórico escolhido, através da utilização de textos contidos nos livros didáticos e

complementares, bem como materiais preparados na TV multimídia.

O objetivo desse primeiro momento foi sondar os alunos, detectando até que

ponto eles tinham ou não um conhecimento prévio sobre o conteúdo e também

trazer um suporte teórico que proporcionasse subsídios para o entendimento do

assunto.

Antes de trabalharmos especificamente com os recortes temporais tivemos a

preocupação e o cuidado de discutirmos as fontes em si como objetos de estudo da

história e como a historiografia os tratou ao longo de sua evolução enquanto ciência.

Ressaltamos, entretanto, que não é foi nossa pretensão primeira um estudo

aprofundado sobre o assunto, mas sim, justificar porque escolhemos o filme como

fonte para o estudo da história.

Utilizamos como recorte os períodos conhecidos como: Formação das

Monarquias Nacionais Europeias e A descoberta da América Espanhola e

Portuguesa. A escolha dos referidos períodos deve-se principalmente por serem

assuntos que despertaram “naturalmente” o interesse dos alunos e também

decorrentes de algumas atividades por nós desenvolvidas e que demonstraram

resultados positivos quanto ao uso do cinema em sala de aula como ferramenta

didático pedagógica.

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Abaixo seguem os conteúdos específicos que trabalharemos dentro da

temática apresentada:

A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS E DAS RELAÇÕES DE

PODER:

Um conceito para a palavra: Estado;

Antecedentes do Estado Moderno Europeu;

A formação do Estado Português e Espanhol;

Os teóricos do Estado Nacional absolutista;

Um conceito para a palavra: Nação;

Os teóricos do Estado-nação;

A formação e expansão do capitalismo comercial através da expansão marítima;

A DESCOBERTA DA AMÉRICA ESPANHOLA E PORTUGUESA:

As culturas indígenas americanas antes da chegada dos europeus;

O choque entre ameríndios e europeus;

A violência contra os indígenas;

A América conquistada pelos espanhóis: sua institucionalização e a formação da

sociedade colonial;

A América conquistada pelos portugueses: sua institucionalização e a formação

da sociedade colonial;

Religião e sociedade na América Conquistada;

2.1 As etapas de desenvolvimento do Projeto de Intervenção: construindo o caderno

Para a execução do Projeto da Intervenção Pedagógica na Escola, optou-se pela

elaboração de um Caderno Pedagógico composto de quatro unidades temáticas,

tendo como principal característica elementos que norteiam tanto professores quanto

alunos. Tais unidades temáticas foram as seguintes:

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UNIDADE I – A HISTÓRIA, O HISTORIADOR, AS FONTES E AS CONSTRUÇÕES

NARRATIVAS.

A construção de tal unidade objetivou a discussão sobre a própria História

enquanto ciência, enfatizando como ao longo dos séculos XIX e XX a mesma

ganhou dimensão e importância nos círculos acadêmicos. Também enfatizamos a

função do historiador enquanto pesquisador e como ele trata o seu objeto de estudo;

ou seja, as fontes que são constituídas dos mais diversos tipos de materiais e que

possibilitam uma gama considerável de interpretações, bem como, as construções

narrativas advindas da análise de tais documentos. O filme escolhido para este

assunto foi: “NARRADORES DE JAVÉ”4: produção nacional de 2003 que misturando

atores conhecidos do público com habitantes da região das gravações vivem no

povoado conhecido como Vale de Javé. Tal povoado está ameaçado de sucumbir

pelas diante das águas da construção de uma barragem. O badalar dos sinos

conclama seus habitantes a se reunirem em caráter emergencial para juntos tos

encontrarem uma solução para o problema. Depois de uma acalorada discussão a

saída encontrada era a de se escrever a “história científica do povoado”, os feitos

dos grandes heróis de Javé e assim resgatar a importância do lugar, o que

sensibilizaria os engenheiros construtores da barragem. O filme além de leve,

divertido e de fácil compreensão auxilia o professor de História a discutir em sala de

aula os diversos conceitos da disciplina, bem como o trato das fontes históricas que

são passíveis de inúmeras interpretações.

UNIDADE II – A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS E DAS

RELAÇÕES DE PODER.

O filme escolhido para a ambientação desta unidade foi: “O OUTRO LADO DA

NOBREZA”. Produção de 1995 e vencedor do Oscar de melhor figurino e melhor

direção de arte. Passa-se na Inglaterra do século XVII, durante o Reinado de Carlos

II. O jovem e sonhador Robert Merivel, principal personagem, apesar de ser um

brilhante estudante de Medicina gasta os poucos recursos de seu pai (o alfaiate do

rei) de maneira despretensiosa e devassa. Sua vida muda completamente através

de uma oportunidade inusitada que o coloca no palácio real desfrutando das

4 Em todas as unidades do Caderno Pedagógico usamos como metodologia a transcrição literal das

falas do filme às quais queríamos posteriormente dar ênfase nas atividades propostas. Acreditamos que desta forma tanto o professor quanto o aluno teriam maior facilidade para “relembrar” o trecho exibido e poderiam discutir melhor os assuntos e questionamentos por eles levantados.

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benesses do rei. O desenrolar dos acontecimentos retratam os interesses da

nobreza, representada pela figura central do Rei em contraste com a pobreza e

doenças às quais a população estava exposta. Temas como a centralização do

poder político, a vida cotidiana do reino, os tratamentos médicos desenvolvidos na

época, a loucura e Peste Negra são tratados de maneira a constituir um material rico

para a reflexão do educando sobre o período de consolidação das Monarquias

Nacional Europeias. Portanto, o objetivo principal desta unidade foi a reflexão sobre

as grandes transformações ocorridas nos século XV, XVI e XVII, principalmente na

Europa centro-ocidental, nos campos da economia, política, sociedade e cultura e

concomitantemente contribuirão não somente para a o surgimento do estado

nacional europeu, mas também seus desdobramentos, dentre os quais, as grandes

navegações e a descoberta e exploração do continente americano.

UNIDADE III – A DESCOBERTA DA AMÉRICA.

Para esta unidade escolhemos o filme: ”1492: A CONQUISTA DO PARAÍSO”.

Produção de 1992 que retrata de maneira significativa o período das Grandes

Navegações (fins do século XV e início do século XVI), especificamente as ideais de

Cristovão Colombo que almejava comprovar a esfericidade da Terra através da

viagem de circunavegação onde propunha chegar ao Oriente navegando para o

Ocidente. O filme expõe as angústias do navegador frente à incredulidade dos

céticos, bem como, os desafios que cercavam uma viagem de tão grande monta. No

desenrolar da trama privilegia cenas que ilustram as intempéries a que foram

submetidos tanto os colonizadores quanto os colonizados e as disputas políticas,

econômicas e culturais que envolveram as corridas europeias pela conquista de

novos mercados fornecedores de matérias-primas e consumidores em potencial de

seus produtos. Justificamos assim a escolha desta produção cinematográfica pois a

proposta da Unidade é estudar alguns aspectos relevantes dos séculos XV e XVI,

com destaque para os objetivos dos conquistadores europeus; além das dificuldades

por eles enfrentadas ao navegarem pelo Oceano Atlântico. Sua chegada ao

continente americano e os resultados advindos do contato deles com os ameríndios.

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UNIDADE IV – RELIGIÃO E SOCIEDADE NA AMÉRICA CONQUISTADA.

A obra cinematográfica escolhida para esta unidade temática foi: “A MISSÃO”;

produzida em 1896 e com oito indicações ao Oscar (levando o de melhor fotografia),

além de receber a Palma de Ouro em Cannes. O desenrolar da trama se passa no

ano de 1750 (século XVIII) na América do Sul; fronteira entre Argentina, Paraguai e

Brasil, tendo como palco as disputas territoriais coloniais entre Portugal e Espanha,

bem como, dos jesuítas que estavam preocupados com a salvação e catequização

dos povos indígenas. O filme oferece a possibilidade de uma excelente

contextualização sobre o processo de colonização da América espanhola e

portuguesa, retratando o choque cultural advindo do encontro entre os europeus e

os ameríndios. Traz também a possibilidade de discussão sobre o papel das ordens

jesuíticas estabelecidas na América do Sul e como sua interferência no

comportamento do indígena trouxe consequências irreversíveis para a sua cultura.

Com a intenção de divulgar a fé cristã e a conversão dos nativos sob o pretexto de

protegê-los da escravização, as reduções ou missões jesuíticas acabaram sendo

mais um instrumento do colonialismo e da imposição da cultura europeia no

continente americano através de uma aliança política entre o Estado e a Igreja. A

elaboração de cada unidade estruturou-se da seguinte maneira:

Uma sinopse do filme escolhido para a unidade;

Teorização do conteúdo proposto fornecendo tanto ao professor quanto ao aluno

subsídios para a discussão dos assuntos tratados;

Atividades relacionadas à temática da unidade e que objetivam sondar os

conhecimentos prévios que os alunos têm sobre o assunto. 5

Utilizaremos a seguir um exemplo de como o Caderno Pedagógico foi

utilizado, para tal explicação vamos tomar como objeto a UNIDADE II – A

FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS EUROPEUS E DAS RELAÇÕES DE

PODER.

5 Não existe uma orientação quanto à ordem de uso dos materiais dispostos em cada unidade.

Podendo o professor utilizá-lo da forma que considerar mais conveniente e produtiva.

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TEXTO INTRODUTÓRIO6: Existe uma tendência generalizada de pensarmos que as estruturas de nossas sociedades atuais sempre existiram da mesma forma e as funções desempenhadas pelos indivíduos sempre foram as mesmas. Mas não podemos esquecer que elas são o resultado de um longo processo de transformação pelo qual os seres humanos passaram. Desde as sociedades tidas como coletivas até as denominadas complexas7 os papéis sociais desempenhados por seus membros foram constantemente modificados. Nosso objetivo dentro da Unidade é entender por que e como as sociedades europeias na Idade Moderna desenvolveram uma estrutura social tão diferente da medieval. Para isto é importante darmos significado a palavras, tais como: Estado, nação e nacionalidade que estarão em evidência na construção dos Estados Modernos. A sociedade feudal por mais consolidada que pudesse parecer, ao longo de dez séculos (século V ao século XV) sofreu uma série de mudanças em sua estrutura, principalmente no período denominado pela maioria dos manuais didáticos de Baixa Idade Média que vai do século X ao XV. Foram inúmeros os fatores que desencadearam esse processo, dentre os quais, destaca-se o surgimento de uma nova classe social ligada às atividades comerciais que se denominou burguesia. Ela foi responsável pelo ressurgimento das atividades econômicas em torno das cidades e também da reestruturação das atividades produtivas em que os comerciantes e artesãos passaram a desempenhar um papel preponderante. Juntamente com essa mudança gradativa de eixo: do campo para a cidade os demais estamentos da sociedade (senhores feudais: nobreza e clero; servos: camponeses) tiveram que se adequar às novas demandas. Uma das dificuldades enfrentadas para que essas transformações ocorressem estava na concepção que se tinha de poder político que até então era descentralizado. É na busca de uma centralização do poder político que surge uma aliança entre a nobreza (representada pelo Rei) e a burguesia emergente (representada pelos comerciantes). Ambas serão responsáveis pela concentração do poder nas mãos de um único soberano e também produzirá uma sociedade em que a instituição denominada: “Estado” surgirá com força total. Assim a partir de meados dos séculos XII e XIII em diversas regiões da Europa centro-ocidental diversas nações surgem dentro dessa nova perspectiva de sociedade. É o que acontece com os reinos localizados na Península Ibérica que originarão os Estados Nacionais Modernos de Portugal e Espanha que entre os séculos XV e XVI serão responsáveis pelo que se denominou chamar de Expansão Marítima Europeia. Por estarem mais próximos do Oceano Atlântico desenvolvendo atividades

6 Propõe-se a situar o aluno dentro do assunto da unidade trazendo elementos para discussão.

Lembramos que o mesmo constitui-se numa possibilidade de abordagem, portanto, o professor terá total liberdade para adequar o assunto à sua própria metodologia de ensino. Com a finalidade de otimização do tempo sugere-se a utilização de recursos, como: preparação de slides, a utilização de esquemas e mapas para a TV Multimídia que possam ilustrar de forma mais dinâmica o conteúdo. 7 Optamos pela utilização dos termos “sociedades coletivas” e “sociedades complexas”, por figurarem

como termos usuais na maioria dos manuais didáticos; entretanto, eles devem ser compreendidos dentro do contexto apenas como um dos elementos comparativos dentre as diversas sociedades humanas e não como uma regra para a evolução das mesmas.

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pesqueiras e também por avançaram em seus conhecimentos náuticos esses Estados são apontados como os primeiros a conseguirem resolver seus problemas internos (território, língua, moeda, pesos e medidas, criação de um exército nacional, dentre outros) e formarem uma Monarquia Nacional. Como dissemos anteriormente a burguesia estava ligada a atividades de cunho comercial, afinal, desde o advento das Cruzadas os europeus mantinham contato com o Oriente (principalmente com Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente) e demonstravam um interesse crescente pelas “especiarias” comercializadas naquele local. Tornavam-se cada vez mais comuns as Feiras realizadas em regiões como Flandres e Champagne em que se trocavam mercadorias produzidas nos antigos feudos por produtos orientais trazidos por mercadores. É por isso justamente que a necessidade da expansão de mercado bem como a busca de matérias primas para a produção manufatureira leva os europeus a buscarem fora do continente novos locais de exploração e também de consumidores em potencial para seus produtos, contribuindo de maneira decisiva para a consolidação não somente da economia europeia, mas também para o fortalecimento do Estado Moderno.

SUGESTÃO DE ATIVIDADE: 1. Com os conhecimentos que você possui sobre o assunto e o auxílio do

professor e colegas explique algumas das características da sociedade feudal europeia dos séculos V ao XV, dando ênfase aos aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais.8

2. Chuva de Ideias9 Leia as palavras-chaves dispostas abaixo e procure dar um “significado” para cada uma delas: ESTADO TERRITÓRIO NAÇÃO NACIONALIDADE

8 O exercício constitui-se numa estratégia para relembrar juntamente com os alunos algumas

características do período medieval e também posteriormente levá-los a comparar as semelhanças e diferenças no que tange à formação do Estado Nacional Moderno. 9 A proposta é detectar os conhecimentos prévios que o aluno tem sobre o assunto. Portanto, num

primeiro momento, deverão ser levadas em consideração todas as respostas e argumentos dados por eles, mesmo que fora de contexto e posteriormente a intervenção do professor será de fundamental importância no sentido de direcionar as ideias para o conteúdo estudado.

SUGESTÃO PARA O PROFESSOR:

Um conceito para a palavra “Estado” – aproveitando a chuva de ideias proposta no

início da unidade. Agora através dos conceitos trazidos pelo texto didático fazer um

contraponto com aquilo que os alunos propuseram como “conceito” para as palavras-

chaves apresentadas.

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Não somente na unidade temática acima mencionada, mas nas demais

unidades houve a participação e contribuição significativa dos alunos que se

sentiram estimulados a executar as tarefas propostas, principalmente, quando eles

eram indagados a respeito do significado das palavras traçando um paralelo entre

passado e presente. Neste sentido nosso objetivo foi atingido; pois, nos propomos a

fornecer a eles subsídios para que buscassem relacionar o passado com o presente

dentro da perspectiva que a Educação Histórica estuda; ou seja, que partes do

passado continuam vivas em nosso presente através da nossa memória histórica e

dos documentos.

UM CONCEITO PARA A PALAVRA: “ESTADO”

“O Estado é, poderíamos assim sintetizar, entidade (grifo nosso) composta por diversas

instituições (grifo nosso), de caráter político, que comanda um tipo complexo de organização

social. Muitas vezes associamos Estado e Nação, tratando-os como sinônimos, mas enquanto o

Estado é uma realidade jurídica, a Nação é uma realidade sociológica... com Maquiavel, o termo

estado passou a designar o conjunto de instituições políticas de uma sociedade organizada

complexa”. In: SILVA, Kalina Vanderlei & SILVA, Maciel Henrique.

Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006, p.115.

UM CONCEITO PARA: “NAÇÃO”.

Hoje, ao falarmos de Nação, normalmente estamos associando esse termo a um contexto

político, oriundo da formação dos Estados nacionais na Europa Ocidental no início da Idade

Moderna. Assim sendo, o conceito mais corrente de Nação é aquele em íntima afinidade com a

ideia de Estado. Este, por sua vez, é o organismo político-administrativo que ocupa um

território determinado, sendo dirigido por governo próprio. A Nação, em seu significado mais

simples, é uma comunidade humana, estabelecida neste determinado território, com unidade

étnica, histórica, linguística, religiosa e/ou econômica. O Estado seria, nesse sentido, o setor

administrativo de uma Nação.... as ideias de nação e de Estado estão interligadas e deram

origem a um outro conceito, o de Estado-nação ... ele abarca a ideia de que determinada

população de um território seja reconhecida como pertencente a um poder soberano, unificada

por uma língua e uma cultura dominantes impostas a todos os habitantes dos território e

consideradas as únicas nacionais... tal realidade política surgiu no Ocidente com a formação

das Nações europeias no início da Idade Moderna. Estas se caracterizavam pela crescente

centralização do poder e fortalecimento do Estado e do soberano, em contrapartida à

fragmentação de poder existente no sistema feudal. Uma centralização traduzida, do ponto de

vista sociocultural, pelo nascimento de uma consciência nacional, ou seja, pelo nascimento da

consciência desenvolvida pela população daqueles territórios de que ela possuía uma unidade

cultural. In: SILVA, Kalina Vanderlei & SILVA, Maciel Henrique.

Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006, p.308-309

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Também quando aconteceram as exibições dos trechos de filmes

selecionados houve por parte dos alunos observações e questionamentos que para

nós não haviam sido percebidos, isto mesmo depois de termos exaustivamente

assistido aos referidos filmes. Acreditamos que esta é uma contribuição de fato

importante no uso dos filmes ficcionais históricos (e nos filmes em geral) como

instrumento de cunho pedagógico: sempre haverá um “olhar” diferente e significativo

para a produção cinematográfica.

O nosso cuidado na elaboração da produção didática tanto da parte teórica

quanto da parte prática foi o de propiciar ao educando a realização de atividades que

estimulassem a sua reflexão a respeito do assunto abordado e também o

instrumentalizasse na reconstrução dos saberes históricos, mesmo de temas por

eles já conhecidos, de uma forma mais dinâmica e favorecendo novas abordagens

que tiveram como ponto convergente as suas próprias construções narrativísticas,

quer fossem reproduzidas oralmente (o que ocorreu na maioria das vezes) ou por

escrito. Um exemplo disto se deu quando os mesmos foram indagados sobre a

seguinte questão: “Quais os assuntos ligados à disciplina de História que ao longo

de suas vidas escolares vocês conseguem lembrar ou narrar?”. Os assuntos que

mais apareceram foram: “O Descobrimento do Brasil”; “A Independência do Brasil”,

“O Feudalismo” e a “Segunda Guerra”; a justificativa por eles dada é de que ao

longo de suas vidas escolares estes foram os assuntos que os professores mais se

detiveram quando ministraram suas aulas. Além disso, podemos destacar alguns

conceitos dados pelos alunos para termos como: fonte histórica – é tudo aquilo que

serve de base ou referência para se compreender a sociedade do passado – ou

narrativa – é uma forma de expressão escrita ou oral que pressupõe uma certa

organização de ideias em torno de um assunto ligado à História. Cabe ainda

ressaltar o comentário feito por uma aluna sobre a exibição dos filmes e sua

articulação com o conhecimento: “Apesar de estarmos estudando a história através

destes filmes buscando dar-lhes um sentido didático e pedagógico é impossível não

deixar que a emoção e o sentimento estejam presentes nestas histórias”.

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2.2 As contribuições do Grupo de Trabalho em Rede

Quanto à realização do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), o mesmo

aconteceu no período de março a junho de 2010 e estruturou-se da seguinte

maneira:

- UNIDADE I – Primeiros Contatos – por se tratar de uma modalidade de Ensino à

Distância, ainda relativamente, pouco utilizada pelos professores da Rede Pública

Estadual, o objetivo dela é informar os participantes do funcionamento e estrutura do

curso que tem como base as atividades e discussões desenvolvidas através de:

fóruns de discussões, chats e realização de tarefas chamadas de “diários”;

- UNIDADE II – Sob o título: APROFUNDAMENTO TEÓRICO. Objetivou a discussão

entre tutor e participantes à respeito da História enquanto narrativa e as diversas

possibilidades de encaminhamento dadas pelas construção de uma estrutura

narrativística. O texto base utilizado para tal discussão foi disponibilizado na

Biblioteca virtual do próprio curso;

- UNIDADE III – teve como foco principal a apresentação do Projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola para a apreciação dos participantes que tiveram a

oportunidade de opinar sobre a viabilidade ou não da execução das ações

pedagógicas nele contidas e também sugerir mudanças para o seu melhor

desenvolvimento.

- UNIDADE IV – até o momento da realização desta unidade o projeto ainda não

havia sido implantado na Escola, portanto, optamos pelo desenvolvimento de uma

atividade correlata que foi o desenvolvimento de um plano de aula dentro do

chamado: PLANO DE TRABALHO DOCENTE. Este plano deveria ser desenvolvido

pelos participantes que deveriam privilegiar o seguinte os seguintes itens: conteúdo,

justificativa, objetivos, encaminhamento metodológico/recursos, critérios de

avaliação e referências. Para a elaboração de tal plano de aula os professores

contaram com um exemplo por nós realizado e que dava destaque ao uso de mídias

(no caso trechos de filmes) como uma ferramenta pedagógica para o ensino da

História.

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Segue abaixo o exemplo dado na ocasião:

CURSO FORMAÇÃO DE PROFESSORES-TUTORES PARA EaD. Nome do cursista: Sandro Roberto Gonçalves. Unidade III: Refletindo sobre as mídias na Educação a Distância. Data: 21/08/2009. Atividade: Tarefa Mídias (relato de experiência-modalidade presencial).

1. Identificação Autor:Sandro Roberto Gonçalves. Disciplina: História. Público Alvo: alunos do 3º Ano – Ensino Médio. Recursos utilizados: Livro Didático Público do Estado do Paraná, TV pendrive, imagem, vídeo. Número de alunos: 35 Número de aulas: 5 TEMA: DISCUSSÃO SOBRE O CONCEITO DE NACIONALIDADE E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL BRASILEIRA. 2. Conteúdo Contextualização: Os séculos XV e XVI foram fundamentais para a Europa, principalmente, no que tange à construção do que entendemos como Estado Nacional. O poder político antes fragmentado agora passa a concentrar-se nas mãos de uma única pessoa (o rei) e as consequências se refletirão nos diversos segmentos envolvidos nesse processo de formação, tais como: a economia, a política, os diversos grupos sociais, a formação de um exército nacional, o surgimento de uma burocracia estatal, a unificação de pesos, medidas e moedas, o senso de pertencimento a um determinado território; enfim, tudo aquilo que pudesse dar condições de governabilidade ao monarca. Portugal foi um dos pioneiros nessa empreitada e como consequência nos séculos XV e XVI ampliam seus horizontes para fora do continente europeu e chegam à América. Nos séculos vindouros, entretanto, essa hegemonia passa a ser ameaçado por nações melhor preparadas do ponto de vista militar, econômico e mesmo tecnológico. Mas é importante destacar que nesse momento os europeus já tinham bem claros os contornos que definem termos como: nação e Estado. Fato que no Brasil, ainda no século XIX, não existia por uma série de fatores, dentre os quais podemos destacar: o próprio tipo de colonização ao qual fomos submetidos (caráter meramente exploratório), bem como, os mecanismos de repressão utilizados pela metrópole frente a movimentos que se colocavam contra a dominação colonial, é o exemplo do que aconteceu com a Inconfidência Mineira (1776) que se destaca justamente por ser um movimento de vanguarda e que representa de forma muito clara a tentativa de se construir uma “identidade nacional” através da luta não só pela independência mas também a busca por uma forma de governo mais liberal. É nesse contexto que vamos concentrar nossos esforços no sentido de compreender a formação do sentimento de nacionalidade despertado em alguns momentos de nossa história e representado, por exemplo, na pintura de Pedro Américo (quadro de 1888) e num trecho do filme: “Independência ou Morte” (de 1972).

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3. Abordagem Pedagógica OBJETIVOS: • identificar no fato conhecido como a Independência do Brasil (07.09.1822), os mecanismos constitutivos da nacionalidade brasileira. • Através da mostra e análise de uma imagem (quadro) e de um trecho de filme apontar as possíveis formas de interpretação desse fato histórico, resgatando a importância do mesmo para a compreensão da formação da identidade nacional brasileira. Justificativa para a utilização da imagem e do trecho do filme: A História é uma ciência que se constrói à medida em que o pesquisador observa/analisa o fato e traz uma interpretação, busca um significado para o mesmo. Isso se faz através da chamada fonte histórica que nas últimas décadas teve suas possibilidades aumentadas através da utilização de recursos disponibilizados pela própria evolução tecnológica da humanidade. Hoje o historiador pode-se valer dos mais variados recursos para obter uma melhor compreensão do passado desde análises laboratoriais do material pesquisado até os mais avançados recursos da informática. Não que esses instrumentos em si tragam a “verdade” pura e simplesmente, mesmo porque nessa disciplina não há uma “verdade absoluta”, mas podem auxiliar e muito a interpretar a maneira de pensar do homem nas diversas sociedades e épocas. Por isso a utilização da imagem na atividade proposta: o quadro que representa a Independência do Brasil e que foi pintado décadas após o ocorrido formula uma ideia do que foi a Independência, o que não significa ter sido uma representação fiel e verdadeira do que ocorreu. Demonstra um sentimento de romantismo e amor exacerbado à Pátria que serviu de certa forma, aos interesses de grupos políticos dominantes da época. Trazer à tona a discussão desses elementos através da observação da obra é extremamente válida para despertar o interesse dos alunos pela História do Brasil. A exibição do trecho do filme: “Independência ou Morte”, veio a corroborar com esse objetivo de instigar o aluno a se interessar por nossa História. Já que a cena exibida é exatamente a cópia do quadro de Pedro Américo. Na ocasião propôs-se aos alunos uma série de questionamentos para que posteriormente tirassem suas próprias conclusões, seguem abaixo, algumas dessas perguntas: a) Observe o quadro e descreva a cena (personagens, vestimentas, local, expressões dos indivíduos). b) Quais as classes sociais representadas? c) Todas elas participaram efetivamente da Independência e posteriormente da formação da nação brasileira? d) Quais as classes sociais que não foram representadas? Por que elas não estão ali? Qual a importância delas para a formação da identidade nacional? e) As cenas representadas pelo quadro e pelo trecho do filme estão de acordo com a leitura feita no texto do livro didático? Sim ou Não? Justifique: f) Quais os interesses por trás do desejo de perpetuar durante séculos a figura mítica do herói nacional? g) Será que hoje em dia nós brasileiros ainda temos essa mesma visão da História do Brasil, representada por essas mídias? h) Ainda existem grupos políticos e sociais interessados em perpetuar essa idéia? i) Quem é o povo brasileiro hoje? Quais são suas principais características culturais?

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4. Procedimentos Metodológicos: I. Através de uma discussão informal os alunos apresentaram algumas definições e ideias sobre os termos: nacionalidade, identidade, formação do Estado Nacional, construção de uma identidade nacional. II. Leitura dos textos disponíveis no Livro Didático Público do Estado do Paraná com respeito à temática proposta. Os alunos deveriam ler pelo menos duas vezes os textos. O objetivo era de inteirá-los do assunto, buscar palavras desconhecidas do vocabulário, destacar palavras-chaves e confrontar as ideias propostas pelo autor com as ideias levantadas na discussão anterior. III. Os alunos foram divididos em grupos e mais uma vez leram e discutiram os textos para posterior apresentação dos pontos relevantes. IV. Justificativa por parte do professor do por quê da escolha da Independência do Brasil como ponto de partida para se discutir a temática. V. Utilização da TV multimídia – a imagem abaixo – quadro de Pedro Américo - foi exposta à apreciação dos alunos. VI. Utilização da TV multimídia – trecho do filme: “Independência ou Morte” – foi exibido para a apreciação dos alunos. VII. Após os alunos assistirem abriu-se um espaço para a discussão das possíveis interpretações dadas ao fato (Independência) a partir das mídias apresentadas. VIII. Os alunos apresentaram um relatório (grupos de quatro) trazendo um resumo do texto estudado, bem como, suas impressões e conclusões sobre a temática proposta.

5. Referências

Livro Didático Público do Estado do Paraná. Historia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. 2ª Edição. p.244-247 www.diaadiaeducacao.pr.gov.br

Pintura: Pedro Américo - 1888 http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/arte/2quadro.jpg

Trecho do Filme: Independência ou Morte – 1972 http://www.youtube.com/watch?v=2HuSZMs1MNY

- UNIDADE V – Conforme orientações recebidas pela Coordenação do Curso esta

unidade teve por objetivo discutir e sintetizar os principais pontos levantados pelo

professor tutor e pelos cursistas nas Unidades II, III e IV. Para tal fez-se a leitura do Texto

Síntese disponível na própria Unidade sendo realizadas duas atividades: o Diário e o

Fórum de discussão.

- UNIDADE VI – por se tratar da última unidade do Curso disponibilizou-se um

questionário previamente elaborado pela própria Coordenação em que os participantes

tiveram a oportunidade de avaliar: a si próprio, o curso como um todo e o professor tutor.

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Para o desenvolvimento do nosso Projeto de Intervenção a participação dos

professores cursistas foi de grande importância; pois, contribuiu para o

amadurecimento do trabalho. As discussões e debates nos fóruns possibilitaram-nos

a construção de um perfil das Escolas e do próprio educador quanto ao uso de

tecnologias na sala de aula. Também revelou as dificuldades encontradas (desde

problemas de espaço físico, tempo e também equipamentos, bem como, problemas

de ordem teórico-metodológica) no cotidiano para que tais tecnologias sejam mais

bem aproveitadas na disciplina de História.

Os fóruns de discussão do GTR propiciaram elementos fundamentais no

diagnóstico de como os professores participantes se posicionavam em relação ao

uso dos filmes como uma ferramenta ao aprendizado da disciplina. A seguir

destacamos alguns exemplos de como se deram tais discussões.

Primeiramente disponibilizamos as seguintes questões para reflexão dentro

do fórum:

1. Em seu ambiente escolar você e seus colegas costumam utilizar o filme

como uma ferramenta de aprendizagem? Como se dá essa utilização?

2. Quais as dificuldades comumente enfrentadas por você e seus colegas

quando utiliza esse tipo de ferramenta (pode citar qualquer tipo de dificuldade, quer

seja de ordem operacional ou didática).

O Professor “A” contribuiu da seguinte forma:

Sempre que possível utilizo filmes como procedimento didático. Num primeiro momento trabalho a teoria e como complementação utilizo um filme de acordo com o tema trabalhado e a partir dele inicio a aula. Após assistirmos o filme destacamos os aspectos relevantes para a discussão e elaboração de relatório. No Colégio em que leciono temos além da utilização em sala, um Projeto de Cinema na Escola, os professores da equipe escolhem os filmes com os objetivos propostos e é organizado um calendário para assistir os filmes. Vale salientar que uma das dificuldades é que os filmes são adquiridos pelo professor e não pela Escola, porém, é importante que tenhamos este material, até pelo fato de nos alternarmos nas Escolas que por sua vez não possuem os filmes. Embora se tenha muitos filmes possíveis de serem trabalhados nas aulas de História, é fundamental uma prévia e criteriosa seleção e em alguns casos fazermos recortes devido a questão do tempo.

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O Professor “B” destacou:

Sempre que possível eu ofereço algum filme aos meus alunos, mas isso costuma acontecer uma vez ao ano por turma em média. Gostaria de utilizar muitas vezes, no entanto, embora os dias atuais sejam permeados de inúmeros filmes a todo tempo, nem sempre os mesmo são cabíveis à utilização em sala de aula. Há alguns que realmente surpreendem por abordar fatos históricos que nos passam a impressão de serem cópia fiel do acontecido. Lamento muito não termos produções mais atualizadas visto que muitos desses filmes são antigos e de difícil acesso. Eis aí a primeira dificuldade encontrada. A segunda dificuldade é modo como avaliar um filme ou trecho trabalhado em sala de aula, o que exatamente cobrar em relação ao atendimento do assunto pois, por mais que nos esforcemos em esclarecer aos nossos alunos a necessidade de tal abordagem, eles, muitas vezes, acham o que professor foi infeliz na escolha ou algo assim.

Na ocasião teci o seguinte comentário ao Professor “B”:

Concordo com você quando diz que muitas vezes enfrentamos dificuldades na escolha do filme adequado ao conteúdo e também em como cobrar dos alunos algo relacionado ao filme exibido. Por essa razão também por algumas experiências realizadas em sala é que penso que uma estratégia é sempre a contextualização do tema a ser estudado e o filme ou trechos dele como um pano de fundo para “ilustrar” as aulas. A fundamentação teórica para os alunos é importantíssima até mesmo para que depois possam discutir a pertinência ou não do filme.

O Professor “B” replicou:

Ainda caberia acrescentar aqui o uso banalizado de filme por alguns profissionais sem um objetivo claro relacionado à disciplina, tal prática serviu para causar a impressão para alguns colegas (sobretudo diretores e pedagogos) de que o professor usa o filme para “matar tempo” ou coisa assim; isso foi muito prejudicial para nossa disciplina que é tão rica em materiais deste nível e resultou em pedidos de justificativa pela coordenação da minha escola, por exemplo, quando houver a intenção de passar filmes inteiros.

Os comentários do Professor “C” também foram importantes:

Geralmente emprego trechos de filmes. Dificilmente trabalho filmes na íntegra. A justificativa é, sobretudo, o tempo exigido na transmissão e problematização dos filmes, o qual exigiria no mínimo umas cinco aulas (calculo umas três para exibição e duas para discussões). Diria que em média consigo articular de dois a três filmes por semestre por turma (trabalho em um colégio onde a divisão é por blocos). Na parte operacional diria que é a de arcar com os custos dos filmes, uma que não consegui ainda organizar meu acervo particular. A outra seria a de ficar na dependência dos aparelhos de DVD‟s disponíveis na escola ou de ter de

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converter os arquivos previamente em formato compatível om a TV Pendrive e salvá-los nos dispositivos de armazenamento. Na parte didática, diria que é o de despertar o interesse do aluno para além da imagem transmitida. Incorporar a essa percepção superficial, diferentes visões, subjacentes a desconstrução da imagem explicitamente veiculada pelo filme. Uma vez que é justamente essa primeira imagem (a do herói, do bem sucedido, etc) a que lhes atrai. Por outro lado, e, diretamente decorrente desta primeira, diria que é a de oferecer-lhes em troca desse simulacro, a realidade nua e crua. Considero que aqui, além de evidente apatia e falta de espírito crítico dos alunos, nos deparamos, muitas vezes sem perceber, com uma dificuldade de ordem maior. A falência das nossas ideologias e visões de mundo.

Na sequência do fórum a interação do Professor “B” com o Professor “C” foi

muito elucidativa quanto à importância da nossa proposta com o projeto de

intervenção:

Concordo com você quanto à necessidade de incorporarmos mais filmes. São, sem dúvida, um ótimo recurso pedagógico. Também é com pouca frequência que consigo ofertar filmes para os meus alunos. Geralmente passam-se umas 15, 20 aulas até que surja a oportunidade de encaixar um filme... com relação à obtenção de filmes até que não é problema. Temos boas locadoras na região. O que dificulta mais esse acesso é ter que arcar com as despesas quando da sua utilização. A escola onde leciono possui pouco ou nenhum acervo. A segunda dificuldade por você destacada é sem dúvida a mais difícil. Os alunos são extremamente apáticos e desinteressados. Após ter lido o projeto do Sandro, fico com a impressão de que talvez envolvê-los desde o início como participes de um projeto maior seja uma estratégia. Deixando claro que não necessariamente chegaremos a algum lugar, mas que, seguiremos juntos nessa caminhada. Talvez concluindo com um produto a exemplo do material didático sugerido pelo mesmo (caderno pedagógico, temático ou um roteiro).

Este tipo de discussão através do fórum de debate expôs as dificuldades

enfrentadas pelos professores, tanto as técnicas e operacionais, quanto as de cunho

metodológico e didático. Entretanto, foram enriquecedoras para o amadurecimento

do projeto de intervenção, na medida em que pudemos avaliar ao longo do processo

de desenvolvimento dos trabalhos, quais pontos levantados pelos participantes do

GTR poderiam ser melhorados e adaptados de acordo com os problemas

encontrados na realidade da Escola em que foi implantado.

Cabe ainda destacarmos a última discussão que tivemos no fórum por conta

do encerramento do GTR, onde lançamos os seguintes questionamentos:

1. Qual a importância do passado histórico para a vida do aluno? Para tal

reflexão deixo uma citação da Prof. Drª Maria Auxiliadora Schmidt, que poderá servir

como marco inicial da discussão: Ninguém precisa aprender história só para

conhecer o passado. Todos precisam aprender história para conhecer e agir no

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próprio mundo onde vivem.

2. A utilização de trechos de filmes ficcionais históricos é relevante para o

aprendizado da História em sala de aula? Sim ou Não. Justifique:

O Professor “B” respondeu aos questionamentos da seguinte maneira:

Em história é comum os alunos indagarem: “professor, mas para que estudar isso, este carinha até já morreu?...” Aí vem a angústia de como abordar o tema valorizando o passado histórico como fonte de aprendizado para os tempos contemporâneos. É o que procuro fazer, comparo itens históricos enfatizando melhorias e mudanças negativas ao longo do tempo. O uso de recursos audiovisuais é uma ferramenta a mais no ensino de história com certeza cabendo a nós, tanto a seleção de bons materiais quanto a intermediação do assunto abordado a fim de não permitir a pura assimilação passiva do que foi abordado. Eu tenho encontrado dificuldades em encontrar bons vídeos educativos a disposição na internet paro uso na TVpendrive, não sei se vocês colegas compartilham a mesma dificuldade. Penso que, com a super tecnologia reinante atualmente, se houvesse interesse dos órgãos públicos, nossas aulas poderiam ser enormemente enriquecidas com o auxílio de tais vídeos.

O Professor “C” deu sua contribuição da seguinte forma:

A exibição de filmes é um excelente recurso a ser empregado na disciplina de História, especialmente como instrumento potencializador de questões problemas para a discussão (questões que se colocam para além da imagem reproduzida, e que dificilmente os alunos são capazes de penetrar com sua visão superficial e acrítica). Esse recurso, entretanto, perde um pouco sua validade quando se vê reduzido a função meramente ilustrativa. Isso porque reitera essa visão simplista trazida pelo próprio aluno, impedindo-o de aprofundar seu senso crítico.

O Professor “D” complementou:

O meu interesse por este curso se deu pelo fato de julgar importante esta prática pedagógica e a busca de melhores formas de utilização do mesmo. A utilização de trechos de filmes históricos auxilia grandemente no aprendizado dos conteúdos nas aulas de História.

A pertinência dos exemplos acima relacionados está no fato de trazer à tona

uma discussão mais consistente e aprofundada sobre a importância da disciplina de

História para os dias atuais e também de como o uso dos filmes pode contribuir para

a construção de um conhecimento histórico alicerçado e de significância tanto para

educadores quanto para educandos.

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Evidenciamos que há um grande interesse por parte dos professores na

utilização de filmes ficcionais históricos; inclusive, muitos deles já desenvolvem em

seu trabalho metodologias que buscam propiciar ao aluno uma gama maior de

possibilidades para se aprender História através da utilização deste recurso.

Outro aspecto que podemos destacar é que a utilização da modalidade do

Ensino à Distância foi enriquecedora na medida em que pudemos trocar ideias com

professores da rede pública do Estado do Paraná de diversas localidades tomando

ciência das realidades postas em cada uma destas regiões.

Apesar dos pontos favoráveis acima citados gostaríamos de registrar que

houve dificuldades no sentido de manter todos os inscritos na plataforma

participando do começo ao fim do curso. Muitos desistiram no percurso apesar dos

insistentes e-mails e avisos incentivando-os a prosseguirem.

Os motivos foram inúmeros e vão desde a falta de um computador para

acessar a plataforma até a inexistência de tempo hábil para a realização das leituras

propostas em cada unidade e a participação nos fóruns de discussão; apesar de

hoje ser amplamente disseminado pelo país o uso do computador e da internet,

como também, as modalidade de Ensino à Distância, eles ainda não estão

acessíveis a um grande número de pessoas que em muitos casos sentem-se

despreparadas para o seu uso e até mesmo mostram-se “resistentes” à utilização

deste tipo de material.

Neste sentido consideramos de fundamental importância não somente

instrumentalizar as Escolas e os Educadores com ambientes físicos e equipamentos,

mas também, oferecer-lhes permanentemente a oportunidade do aperfeiçoamento e

acesso a estas tecnologias. Lembrando que o “saber usar a tecnologia” por si só não

capacita o professor na aplicabilidade metodológica deste recurso de forma didática.

Portanto, faz-se necessária também uma formação que lhe proporcione condições

de apropriação deste tipo de saber pedagógico.

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3 Conclusão

No mundo contemporâneo os desafios que se apresentam à sociedade de

são de diversas ordens. Não é diferente na Educação e no próprio ambiente escolar;

nossa realidade cotidiana com professores desvalorizados e desmotivados, salas de

aula superlotadas e muitos alunos sem nenhum interesse pelo que está sendo lhes

ensinado demonstram a urgente necessidade de repensarmos os nossos métodos e

as nossas práticas.

Além disso, os recursos tecnológicos como os computadores e o mundo

digital vieram para ficar e consequentemente devem ser utilizados a favor da

Educação. Existe uma necessidade urgente de que a Educação acompanhe estas

novas demandas e esteja não somente se instrumentalizando melhor, mas também,

abrindo espaço para reflexão e discussão de como essas novas tecnologias serão

mais bem aproveitadas para a aquisição do conhecimento; ou seja, para fins

didáticos e pedagógicos.

É neste sentido que acreditamos ter contribuído para isto com a proposta do

uso de filmes ficcionais históricos em nossas aulas. Percebemos que através dela

muitos educadores no seu plano de trabalho docente passaram a reservar um

momento para utilizar as metodologias propostas no Caderno Pedagógico, inclusive

com adequações à sua realidade escolar, não somente os professores da disciplina

de História, mas também de outras disciplinas como Geografia, Filosofia e Língua

Portuguesa.

Já os alunos demonstraram um interesse maior pelas aulas em que os filmes

eram exibidos e a maneira como lhes era cobrado o conteúdo; não se limitando a um

simples resumo do que assistiram, mas sabendo que havia toda uma intenção de

aprendizado e fixação através dos temas propostos pelos filmes.

Talvez a originalidade de nosso trabalho não tenha sido na utilização dos

filmes por si só, mas residiu no fato de construirmos uma proposta que passo a

passo indicou possibilidades de como estes recursos trazem tanto a professores

quanto alunos um conhecimento histórico significativo.

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REFERÊNCIAS

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