DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · Curtis Giordani cita exaustivamente fontes produzidas por...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
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UMA PROPOSTA DE ATLAS DE HISTÓRIA DA ÁFRICA
Autor: Jairo de Carvalho∗
Orientador: José Henrique Rollo Gonçalves∗∗
Resumo:
A Lei 10639 foi aprovada em 2003 pelo governo do Brasil, tornando obrigatório o ensino da História da África e da história e cultura afro-brasileiras nas escolas do país. Uma lei com esse teor era reivindicada há muito tempo pelas pessoas que se empenhavam no combate à discriminação racial como medida necessária à desconstrução dos estereótipos negativos pelos quais a sociedade via os negros e a África. Porém, a efetivação de uma pedagogia antirracista não poderia ser implementada de imediato, pois os professores não estavam capacitados para lecionar esses conteúdos, nem havia publicações que os auxiliassem na preparação de suas aulas. Nos anos mais recentes, as editoras produziram materiais didáticos nos quais foram incluídos capítulos abordando temas que visavam o atendimento da legislação, regulamentada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. O presente artigo trata da aprovação da Lei e de seu cumprimento. Também apresenta uma versão de atlas com uma série de vinte mapas abordando alguns dos fatos mais significativos da História da África.
Palavras-chave: Atlas; História da África; Lei 10639; formação de professores.
Abstract:
The Law 10639 had been approved in 2003 by the government of Brazil, making the teaching of African history and culture and history of afro-Brazilian obligatory in Brazilian schools. A law to this level was claimed long ago by people engaged in the fight against racial discrimination as a necessary deconstruction of the stereotypes by which society saw black people and Africa. However, the effectiveness of an anti-racist pedagogy could not be implemented immediately, because teachers were not trained to teach this content, and there was not publications that could assist in the preparation of their classes. In recent years, publishers have produced educational materials which were included in the chapters covering topics aimed at the compliance with legislation, regulated by Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- ∗
Professor na Rede Estadual de Educação do Paraná – NRE/Maringá. Cursista PDE 2009. [email protected]
∗∗
Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá e Pesquisador no Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história - UEM. [email protected]
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Brasileira e Africana. This article deals with the approval of the Law and its fulfillment. It also presents a version of Atlas with a series of twenty maps addressing some of the most significant events in the history of Africa.
Key words: Atlas; African History, Law 10639, training of teachers.
Introdução:
A pesquisa da qual resultou esse trabalho foi motivada por uma tentativa de
compreender os antecedentes da introdução do ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira nas escolas do País, mais especificamente, do Paraná. Pretendia-se,
também, obter um diagnóstico preliminar do processo de modo a verificar alguns
problemas e propor algumas soluções. Porém, no decorrer da pesquisa, novas
questões foram postas e percebemos que era preciso reduzir seu escopo,
afunilando-a para uma ação mais propriamente didático-pedagógica. Daí a decisão
de trabalhar na composição de uma proposta a respeito de algo de que carecemos
demais nas escolas: um conjunto articulado de mapas históricos da África. O que se
segue é uma síntese das reflexões que realizamos acompanhada de um material
cartográfico que, pelas suas próprias características exploratórias, chamamos de
proposta, pois ainda não o consideramos um produto totalmente acabado. Em
anexo, resumimos as ações didáticas que realizamos em sala de aula.
Por que estudar a história da África? Todas as alegações são válidas para
justificar esse estudo, injustificável é a sua negação. Nem mesmo o que já se chegou a
alegar como empecilho ao conhecimento dessa história pode hoje ser usado como
desculpa, pois há bastante tempo se sabe que as fontes existem e são relativamente
abundantes. Em seu livro “História da África: Anterior aos descobrimentos” (2009) Mário
Curtis Giordani cita exaustivamente fontes produzidas por autores árabes, europeus e
também africanos em língua árabe e em outras línguas. Ademais, vários povos
africanos desenvolveram escritas próprias, como, por exemplo, os alfabetos bamum e
vaï. São muitas as razões para empreender um estudo sobre a história da África. A
primeira e também a mais básica delas é que a humanidade sempre ganha com a
obtenção de novos conhecimentos. Outra razão é que a África foi o berço da
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humanidade, pois foi lá que nos últimos 100 mil anos o homem de características
modernas surgiu e de lá se espalhou por todo o planeta, fazendo povoar a terra1.
Especialmente para nós, brasileiros, o conhecimento sobre o passado
africano ajuda na compreensão da nossa identidade, porque a África está presente
em nosso cotidiano. Nossa história está intimamente ligada à história da África, já
que os negros que foram aqui escravizados, e posteriormente seus descendentes,
não apenas ajudaram com seu suor e com seu sangue a construir a economia do
Brasil, mas também participaram amplamente em sua construção cultural.
As imagens e informações que em geral as pessoas têm da história do
continente africano e suas populações são distorcidas e não correspondem à
realidade, por isso é necessário um conhecimento sobre a África concebido através
de uma abordagem epistemológica que seja capaz de romper com as idéias
preconceituosas e estereotipadas da herança intelectual colonialista, como sugere
Elisa Larkin Nascimento (2008). Neste sentido, a história da África se constitui como
elemento de suma importância na luta contra o racismo, já que o pouco do que se
sabia sobre a história do continente africano até muito recentemente foi contado
apenas do ponto de vista do dominante.
A falta de conhecimento sobre suas origens muitas vezes acaba contribuindo
para o rebaixamento da autoestima dos negros brasileiros. Desvinculados das suas
raízes, desconhecendo as tradições de seu povo, é normal que tenham destruídos
seus projetos de futuro. Vidas sem história podem ser também vidas sem
perspectiva de mudança. Não é só a repressão violenta que mina a capacidade dos
negros na luta por direitos e pelo acesso pleno às oportunidades.
Parafraseando o historiador JoeI Rufino dos Santos, trata-se de
tornar o negro brasileiro visível através do seu passado recuperado.
Embora pareça uma tarefa de menor importância, é o primeiro e
indispensável passo para promovê-lo à condição de brasileiro de alto
nível (NASCIMENTO, 2008, p.27).
1 No dizer de Roland Oliver (1994, p.281): “A primazia da África na evolução humana é uma
descoberta recente que, até aqui, só teve tempo para produzir uma parcela do seu impacto potencial”.
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Se uma das razões para o desconhecimento do passado dos povos que
habitaram esse continente foi a alegação de que eles, diferentemente dos europeus,
por exemplo, não produziram história (isso também era um item que integrava a lista
das características inferiores dos negros em relação aos brancos na constituição de
uma ideologia que pregava uma suposta supremacia cultural e intelectual dos
europeus, apesar de toda a resistência das comunidades negras na luta pela
manutenção do seu legado cultural), então esse conhecimento é indispensável à
formulação de uma pedagogia antirracista, como parte das políticas de combate à
discriminação racial.
A reivindicação da comunidade negra pela reformulação dos
parâmetros curriculares das escolas brasileiras introduzindo a
história das civilizações africanas parece mais do que razoável. Não
se trata de enxertar, o já abarrotado currículo, com uma nova série
de conteúdos exóticos. Os descendentes de africanos, que segundo
as pesquisas do IBGE somam 44% da população do país, ao verem
na escola a história de seu povo, pelo menos aqueles que têm
condições de prescindir da entrada antecipada no mercado de
trabalho, talvez vejam alguma razão para irem às aulas e enfrentar a
sociedade de cabeça erguida, conscientes de que seus
antepassados tiveram, como os demais povos, uma história e não
apenas folclore. (CARVALHO, 1997, p.73)
São razões mais do que suficientes para um governo responder à demanda,
da sociedade brasileira como um todo e da comunidade afrodescendente em
especial, pela inclusão no currículo escolar das contribuições africanas à civilização
universal e à cultura brasileira, contrariando a historiografia até então predominante
no Brasil. Assim, em 1º de janeiro de 2003, com a posse do sindicalista Luis Inácio
Lula da Silva como presidente da República do Brasil, cuja biografia qualificava seu
governo como sensível às aspirações dos movimentos sociais, nem foi necessário
um volume maior de pressão do Movimento Negro para que o Governo Federal, em
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um de seus primeiros atos, em 9 de janeiro desse ano, sancionasse a Lei 10 639, de
autoria da deputada gaúcha Esther Grossi2.
A Lei, como sabemos, tornou obrigatório o ensino de História da África e da
História e Cultura Afro-Brasileiras nas escolas de Ensino Fundamental e Médio do
país, reconhecendo-se assim, a importância do estudo sobre as sociedades
africanas anteriores à colonização do continente pelos europeus, como parte da
estratégia de valorização da população descendente do grande contingente de
pessoas que chegaram ao Brasil na condição de escravas. Era mais um elemento
no combate à discriminação racial, pois auxiliava na desconstrução da ideia
distorcida e preconceituosa, porém amplamente difundida, de que a África não
produziu história, já que a sua população não desenvolveu essa capacidade, por ser
atrasada e selvagem.
A implementação da Lei deveria promover uma grande mudança no trabalho
dos profissionais de educação, pois eles, assim como as demais pessoas, em geral
desconheciam os conteúdos que deveriam ministrar aos seus alunos, já que
praticamente não tiveram oportunidade de ver a História da África nos cursos
universitários que concluíram. Apesar dos esforços individuais de alguns na procura,
muitas vezes desorientada, por informações que pudessem preencher a lacuna
deixada na sua formação acadêmica e de variadas iniciativas das autoridades
educacionais, o contato com os professores tem revelado que por não saber o que
deve ser ensinado, o ensino de História da África não tem sido abordado como
estava previsto na Lei 10639.
Os professores que saíam em busca de materiais que pudessem subsidiar a
preparação de suas aulas sobre a História da África, em um primeiro momento ainda
se deparavam com outro problema: a insuficiência de material disponível para
consulta. Depois, como era de se esperar, o fato de uma lei como essa estar em
vigor acabou por gerar demanda e teve início a corrida pela produção de materiais
que abastecessem o mercado. Rapidamente aumentou a oferta de livros que
versam sobre a temática, bem como de vídeos e sítios na internet. Inclusive, os
manuais didáticos adotados pelas escolas de Ensino Fundamental e de Ensino
Médio foram, na maioria, reformulados e tiveram inseridos alguns novos capítulos
2 Cumpre destacar que foi vetado o item que previa a participação do movimento negro na formação dos professores.
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para se adequarem à exigência da lei e, por consequência, à necessidade do
mercado. Portanto, já é possível, para aqueles profissionais mais interessados, ter
acesso com relativa facilidade a materiais razoáveis e dar conta de preparar suas
aulas sobre a História da África.
Em princípio havia a intenção de fazer o levantamento das instituições de
ensino superior do Paraná que incluíram na sua grade curricular a disciplina História
da África e comparar as ementas e programas para verificar as coincidências e as
possíveis discrepâncias. Ainda na década de 1990, algumas universidades
brasileiras já haviam incluído a História da África entre as disciplinas dos cursos de
graduação em História, porém na maioria delas o foco estava mais voltado para o
estudo do tráfico de escravos ou para a situação dos Estados contemporâneos pós-
independência, portanto divergente das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana (BRASIL, 2005)3, já que seu interesse estava orientado para o
conhecimento de uma situação marcada predominantemente por imagens negativas
do continente. Entre outros, o objetivo das Diretrizes é possibilitar a compreensão
dos processos históricos pelos quais a África passou e assim desconstruir a imagem
estereotipada de um continente selvagem, miserável, envolto em intermináveis
guerras étnicas, popularizada pela literatura e especialmente pelo cinema. Depois,
em decorrência da orientação das Diretrizes, vários cursos universitários de História
adotaram a disciplina História da África em seus currículos, alguns deles se
propondo a abordar aqueles fatos e processos históricos sugeridos pela professora
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva4, a autora do parecer n.º 3/2004 do CNE.
3 O parecer n.º 3/2004 do Conselho Nacional de Educação, que regulamenta a Lei 10639 e estabelece diretrizes para o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira no currículo da Rede de Ensino do Brasil, explicita: “Em História da África, tratada em perspectiva positiva, não só de denúncia da miséria e discriminações que atingem o continente, nos tópicos pertinentes se fará articuladamente com a história dos afrodescendentes no Brasil e serão abordados temas relativos: – ao papel dos anciãos e dos griots como guardiões da memória histórica; – à história da ancestralidade e religiosidade africana; aos núbios e aos egípcios, como civilizações que contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da humanidade; – às civilizações e organizações políticas pré-coloniais, como os reinos do Mali, do Congo e do Zimbabwe; – ao tráfico e à escravidão do ponto de vista dos escravizados; – ao papel de europeus, de asiáticos e também de africanos no tráfico; – à ocupação colonial na perspectiva dos africanos; – às lutas pela independência política dos países africanos; – às ações em prol da união africana em nossos dias, bem como o papel da União Africana, para tanto; – às relações entre as culturas e as histórias dos povos do continente africano e os da diáspora” (BRASIL, 2005, p.21-22).
4 Em sintonia com essa definição de qual História da África deve ser ensinada no Sistema Estadual de Ensino do Paraná, o Conselho Estadual de Educação aprovou em agosto de 2006 as Normas
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Porém, ainda é muito pequeno o número de pessoas que conclui um curso de
graduação nas universidades brasileiras, inclusive em História, que tem a
oportunidade de tomar conhecimento de que os povos africanos produziram história.
Sobre a implementação da proposta
A proposta do PDE prevê a “implementação” com alunos (ou professores) a
partir de um material didático elaborado pelo Professor PDE. A discussão sobre a
capacitação dos educadores para ministrar conteúdos da História da História da
África em suas aulas dificilmente poderia se tornar um tema atrativo para os alunos
do Ensino Fundamental, ou mesmo do Ensino Médio. Talvez, pudesse despertar
interesse em professores, especialmente aqueles que ensinam História e convivem
com esse problema. A discussão sobre a dificuldade de atender plenamente a Lei
10639/03, devido à deficiência na formação dos profissionais da educação sobre os
conteúdos de História da África, foi iniciada no Grupo de Trabalho em Rede (GTR),
no qual os cursistas contribuíram para a percepção de que o conjunto dos
professores, e também dos alunos, não tinham acesso àqueles conteúdos que se
tornaram obrigatórios com a Lei 10639 e que uma produção didática que
apresentasse de modo compreensível os tais conteúdos poderia ser de muita
utilidade.
Embora não tenha sido realizado um curso de Introdução à História da África
para educadores, como chegamos a planejar, a idéia de produzir um material
didático simplificado que aborde de modo inteligível esses conteúdos foi se definindo
nos diálogos travados com educadores da rede pública do Paraná, especialmente
por ocasião da realização de oficinas que foram ministradas nos municípios de
Maringá, Colorado e Sarandi para professores de História, de Geografia, de
Filosofia, agentes educacionais e pedagogos, no “Itinerante 2010”. Parte do material
utilizado nessas oficinas foi aos poucos adquirindo o formato de uma Proposta de
Atlas de História da África, uma ferramenta que pudesse auxiliar o trabalho dos
educadores. A esses, só em muito poucos casos foi dada a oportunidade de
conhecer os conteúdos que precisam lecionar e também ainda não tinham acesso a
Complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (PARANÁ, 2006).
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um material preparado especialmente para auxiliá-los nas suas atividades em sala
de aula, pois as publicações brasileiras que abordavam a História da África, via de
regra, não tinham o perfil didático adequado à sua compreensão e muito menos à de
seus alunos do Ensino Fundamental e Médio.
A implementação, a experiência com alunos, consistiu em atividades
desenvolvidas com o objetivo de possibilitar a compreensão da situação atual da
população negra, inclusive a da diáspora, previa a realização de pesquisas sobre
personalidades negras e fatos históricos em que negros foram protagonistas, além
dos reinos e impérios africanos que tiveram sua existência antes do século XVI,
quando os europeus intensificaram o tráfico de escravos para a América.
A primeira atividade foi a de procurar no livro didático os capítulos sobre a
História da África e verificar se esses capítulos estavam de acordo com Parecer do
Conselho Nacional de Educação. Constatamos que os livros didáticos de História
adotados pela escola abordam fatos da História da África e da história dos negros
brasileiros de acordo com a periodização convencional, na qual também estão
contidos os outros fatos da História Geral e da História do Brasil ocorridos na mesma
época. Diferente era o livro adotado anteriormente, pois nele a maior parte desses
fatos nem mesmo foi mencionada.
Outra atividade foi o encaminhamento de pesquisas sobre personalidades
negras, a África antes da chegada dos europeus e acontecimentos da História do
Brasil em que os negros tiveram papel destacado. Alunos pesquisaram na internet e
produziram materiais sobre a vida e o trabalho de algumas personalidades negras
que se destacaram nos esportes e na cultura como Pelé, Adhemar Ferreira da Silva,
Milton Nascimento, Gilberto Gil, Machado de Assis, Aleijadinho. Também realizaram
pesquisas sobre temas como Movimento Negro, Democracia Racial, Quilombo dos
Palmares, Revolta dos Malês e Balaiada. A história de formações estatais africanas
anteriores à chegada dos europeus como Axum, Mali, Songai, as cidades-Estado
iorubás e o Grande Zimbábue, também foi objeto de pesquisa.
O terceiro momento da implementação consistiu na interação dos alunos com
partes da produção didática “História da África: Proposta Preliminar de Atlas”. Os
alunos desenharam mapas com informações sobre alguns acontecimentos
significativos da História da África. Produziram versões explicativas sobre as
migrações do homo sapiens para fora do continente africano, o Império do Mali; o
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Império Songai; a expansão dos bantos; as cidades-Estado iorubas; as cidades-
Estado suaílis; o tráfico de cativos africanos.
Ainda relacionado com a questão racial, na mostra cultural da Semana da
Consciência Negra foi organizada uma apresentação de filmes cujos temas eram a
vida e a luta de personagens africanos e de negros da Diáspora. Os alunos
assistiram antecipadamente e confeccionaram cartazes e preparam comentários
sobre cada um dos filmes dos quais foram selecionados trechos para serem exibidos
na mostra.
Essas experiências reforçaram a opinião de que a produção de um material
didático, além dos já existentes, que auxiliasse na compreensão da História da
África era uma coisa que poderia ser realizada como atividade do PDE. Havia ainda
a possibilidade de desenvolvimento de outras modalidades de recursos pedagógicos
com os quais o essencial da História da África pudesse ser apreendido no trabalho
em sala de aula, ou fora dela. A interação com alunos e com professores, no GTR e
no Itinerante, trouxe subsídios para a produção do material que tomou o formato de
um atlas, cuja proposta é a que apresentamos a seguir.
Características da proposta preliminar para uma cartografia histórica da África
Esse Atlas de História da África que estamos apresentando, acaba por se
somar à recente, porém relativamente abundante, oferta de materiais didáticos que,
por sua natureza, pretendem facilitar a compreensão dos processos civilizatórios
africanos. Ele se compõe de uma sequência de mapas acompanhados de
explicações sucintas sobre cada uma das questões representadas nas páginas
dessa versão preliminar.
A elaboração do material procurou observar a orientação das Diretrizes sobre
o que é fundamental no ensino da História da África, assim eximindo-se da
pretensão de abordar toda a dinâmica do continente. Não se pode esquecer que a
África, entre os continentes é o que tem a história mais longa, pois foi lá que ocorreu
o aparecimento do homo sapiens. Daí a conveniência de efetuar recortes e
privilegiar o enfoque a partir das organizações estatais mais importantes que se
formaram no continente, ou seja, iniciar o estudo por alguns dos reinos e impérios,
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não ignorando suas relações com outros sistemas civilizatórios com os quais esteve
em contato, mesmo que em nada dependesse deles para o seu desenvolvimento.
Para realizar essa versão que apresentamos aqui denominada “Uma proposta
de atlas de História da África”, foi utilizado o vetor de um mapa do continente,
disponível na internet para uso livre. Com os recursos do software Corel Draw, foi
inserido primeiramente uma camada de cores que pudesse representar os grandes
ecossistemas africanos. Assim as partes amarelas de tonalidade mais clara
representam as paisagens de deserto como o Saara e o deserto da Namíbia,
contrastando com esses ambientes as áreas verdes representam as regiões em que
predominam as florestas tropicais. Já, as regiões de savana e as de transição entre
deserto e floresta são representadas por cores intermediárias. Sobre essa base, foi
sobreposta uma outra cor aleatória para destacar a área em que ocorreu o processo
histórico abordado.
Uma parte dos textos que acompanham os mapas teve por base um artigo
que publiquei a algum tempo atrás intitulado “Questão negra, História da África e
currículos”. Outros, assim como os mapas, resultaram da consulta a uma grande
quantidade de obras. Serviram como fonte de informação e de inspiração
especialmente os livros de Alberto da Costa e Silva, Elikia M’Bokolo, Eduardo David
de Oliveira, Leila Leite Hernandez, Jean-Marie Lambert, Kabengele Munanga e
Nilma Lino Gomes, além da coleção organizada por Joseph Ki-Zerbo. Também
tiveram grande utilidade, pelo fácil acesso, inúmeros sítios da internet, vários deles
hospedados em servidores norte-americanos, europeus e africanos.
Esse trabalho pretende ser uma contribuição à pedagogia antirracista que
combate a discriminação racial, auxiliando na desconstrução de alguns equívocos
que ainda povoam a mentalidade média dos brasileiros, como o de que a África é
um continente sem história, ou de que os elementos civilizatórios africanos foram
levados pelos europeus àquele continente.
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História da África
Índice 1..... A África é o berço da humanidade 2..... Egito 3..... Kush [Núbia] 4..... Cartago 5..... Axum 6..... Berberes 7..... Expansão do Islã 8..... Império dos Almorávidas 9..... Gana 10..... Mali 11..... Expansão dos bantos 12..... Civilização Suaíli 13..... Rotas de comércio 14..... Navegações portuguesas 15..... Diáspora africana 16..... Ocupação europeia antes da Conferência de Berlim 17..... A partilha da África pelos europeus 18..... Resistência africana 19..... A África colonizada 20..... Independência das colônias africanas
História da África 1
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A paisagem africana possibilitou o desenvolvimento das mais remotas e fundamentais fases da evolução da espécie. As pesquisas arqueológicas realizadas no Chade, no Grande Vale do Rift (Etiópia), no desfiladeiro de Olduvai (Tanzânia), encontraram importantes sinais de que antepassados dos humanos, chamados de Sahelanthropus tchadensis, Australopithecus afarensis, Homo habilis, Homo erectus, viveram na África. Os mais antigos fósseis da nossa espécie (Homo sapiens), entre 190 mil e 160 mil anos, foram encontrados onde hoje fica a Etiópia. Admite-se que esses humanos modernos surgiram há cerca de 200 mil anos um pouco mais ao sul, na região central do continente. De lá, em migrações que levaram alguns milênios, se espalharam pelo interior do território africano enquanto alguns grupos rumaram para o norte alcançando a Ásia e a Europa, através do Oriente Médio e do Mediterrâneo. Mais do que as outras espécies, o Homo sapiens criou cultura, manipulando artefatos ao mesmo tempo em que desenvolvia idéias e conceitos, que puderam ser transmitidos com a ajuda da linguagem. Utilizou pedra e madeira como ferramentas e depois acrescentou novas matérias-primas como conchas, ossos, chifres e marfim para produzir facas, lanças, arpões e objetos de arte. Quando chegou à Ásia (50 mil anos atrás) e à Europa (40 mil anos), o homem já dispunha de recursos de que se valeu para enfrentar esses novos ambientes.
História da África 4
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