DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · encontrou nas danças e ritmos brasileiros (fandango...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
A dança na educação física escolar: alguns passos no reconhecimento
de uma brasilidade dançante.
Profª Marlene Carmona de Figueiredo Gomes1
Profª. Drª. Astrid Baecker Avila2
Resumo
A dança é um dos conteúdos estruturantes da disciplina de educação física, sendo
assim, o conhecimento de alguns ritmos brasileiros e seus aspectos socioculturais,
podem ser contextualizados para uma compreensão mais alargada das próprias
técnicas corporais e do contexto em que estão inseridas. A proposta desenvolvida
por nós objetivou estabelecer relações entre os ritmos, as técnicas e seus
significados, para entender essas manifestações dançantes na realidade em que
estão inseridas e refletir sobre as variedades de ritmos existentes na cultura
brasileira. Para nossa proposta de ensino focamos no fandango e no carimbó. O
primeiro passo da pesquisa foi realizar um levantamento sobre o material existente
sobre esses ritmos (textos, imagens, vídeos) para ampliar o entendimento sobre
essas manifestações com o objetivo de pedagogizar tais conteúdos com vistas a
aplicação de uma proposta aos alunos da educação básica. O segundo passo, após
a pesquisa temática dessas manifestações, foi formular estratégias didático-
pedagógicas para problematizar esses conteúdos em aulas de educação física. A
aplicação da proposta foi acompanhada pelos registros em diário de campo,
depoimentos orais e por escrito dos alunos que participaram das aulas. Encerramos
nosso texto discutindo esses resultados e tecendo algumas considerações finais.
1 Professora PDE do Colégio Estadual. Rodolpho Zaninelli, Licenciada em Educação Física pela
PUC/PR, especialista em Magistério de Educação Básica e Superior (IBPEX). 2 Professora Orientadora da UFPR, Licenciada em Educação Física pela UFSM, Mestre Em
Educação Física pela UFSC e doutora em Educação pela UFSC.
Palavras – Chave: Educação Física, Dança, Cultura Brasileira, Danças Regionais
1-Introdução
O potencial educativo da dança
A disciplina de Educação Física no cotidiano escolar deve trabalhar
conteúdos que contemplem a diversidade cultural, a dança criou essas
possibilidades, pois oportunizou a pesquisa, a construção de diferentes formas de
experiências, favoreceu o processo ensino aprendizagem e possíveis reflexões
sobre a construção do conhecimento.
Primeiro buscamos entender a diversidade cultural existente em
determinados contextos, para depois compreender seu papel histórico e a própria
derivação das técnicas corporais daí surgidas. A forma didática de apropriação
desse universo cultural dançante utilizado por nós foi a experimentação, que permite
a partir das vivencias e reflexões desencadeadas em aula, uma reelaboração do
conhecimento apresentado permitindo aos alunos/as sintetizar toda riqueza que se
expressa na dança. Utilizamo-nos dos conhecimentos das danças fandango, do
Paraná, e o Carimbó, do Pará, demonstrando as influências regionais presentes na
cultura corporal. Com esse entendimento a proposta que ora desenvolvemos
objetivou: conhecer e vivenciar esses ritmos, criar e produzir coreografias nas
oficinas de dança, valorizar o trabalho coletivo, desenvolver a expressão
comunicativa da linguagem corporal, reconhecer e valorizar a cultura dos povos.
A vivência da dança é importante porque permite tanto uma integração
entre os discentes, numa perspectiva diferente do esporte, em que a competição é o
foco, como também ampliar suas percepções acerca do próprio corpo e seus
entendimentos acerca da cultura. A partir dessa noção desenvolvemos uma
proposta didático pedagógica tematizando essas manifestações dançantes.
A aplicação da proposta permitiu aos alunos/as das turmas 7ªB, 8ªB, 8ªC
e 2ºD, num total de140 alunos, do Colégio Estadual Rodolpho Zaninelli a
oportunidade de expressar a sua relação com a dança a partir das trajetórias
individuais, ao mesmo tempo em que, a partir das práticas corporais eles refletiram
vários aspectos socioculturais dessas danças. Assim, o/a aluno/a pode perceber o
corpo como elemento de criação e de integração (consigo, com os outros e com o
mundo) podendo transformar seus movimentos espontâneos em um repertório mais
rico e elaborado de movimentos, dançando e expressando-se.
2 – Desenvolvimento
Dança e cultura: diálogos necessários
As culturas de várias regiões do país nos mostra que a vivência e a história
dos povos, por meio da dança, deixaram marcas importantes na constituição de uma
cultura corporal. Somos capazes de reconhecer a identidade própria de um lugar e a
diversidade que constitui o Brasil. Nosso país é uma mistura de diversas e variadas
manifestações culturais, advindas de distintos povos que aqui se encontraram e
além de difundirem suas culturas fizeram com que as mesmas se miscigenassem
gerando novas formas culturais. Dentre essas manifestações a dança ganha
destaque pela riqueza e diversidade de ritmos, passos e movimentos retratando de
forma explícita os significados e os modos de vida desses povos. Cada estilo de
dança possui linguagem própria, sendo oriundas das tradições afro-brasileiras,
indígenas e européias.
As manifestações culturais brasileiras são um aspecto que compõem os
conhecimentos das danças e estabelecem a oportunidade de realizar tais práticas
corporais. Para podermos compreender esse universo é preciso um apanhado
histórico da cada estilo, pois traduzem a cultura popular e permite um entendimento
dessa linguagem do povo. Nesse sentido, buscamos compreender essa cultura
popular da forma como Gramsci (2002, p. 133) compreende o folclore,
Como “concepção de mundo e da vida”, em grande medida implícita, de determinados estratos (determinados ao tempo e no espaço) da sociedade, em contraposição (também esta na maioria dos casos, implícita, mecânica, objetiva) às concepções do mundo “oficiais” (ou, em sentido mais amplo, das partes cultas das sociedades historicamente determinadas) que se sucederam no desenvolvimento histórico. (Daí a estreita relação entre folclore e “senso comum”...)
A importância de trabalharmos com o folclore na escola é justamente
desmistificarmos a sua identificação com tradições que devem ser imutáveis e dar
ele o sentido de vida e movimento, como algo que está sempre sendo reelaborado e
que permite um ponto de partida para conhecimentos mais complexos. Assim,
ao analisarmos, refletirmos, observarmos e discutirmos sobre os sentidos e significados, tanto positivos quanto negativos, estaremos vendo de diferentes ângulos as questões da dança. Esses são dados importantes que servem de referências, os quais contribuirão para reelaborarmos o nosso próprio conhecimento e as nossas crenças, enfim compreendermos por meio da dança a realidade social da qual fazemos parte (...) ao percebermos a dança dessa forma, confrontando as tradições históricas com as formas atuais de movimentos, vivenciamos uma prática corporal que nos permite dar um sentido próprio às coreografias.(LDP,2007 p.203).
Nesse contexto a Educação Física oferece um aprendizado a partir de novas
experiências, em que podemos constatar que a prática da dança com suas
características e especificidades agrega efetivas possibilidades que conduzem a
reflexão sobre o processo histórico próprios de cada estilo e região. Todos os
elementos presentes na dança, ao serem incorporados permitem a socialização de
conhecimentos carregados nessa manifestação com expressões individuais e
coletivas. Conhecer a dança, praticar a dança e produzir movimentos, possibilitam
práticas corporais cheias de significados que retratam aspectos da cultura.
A dança, nas mais diversas formas de manifestações, seja ela social ou
cultural, é uma forma de comunicação entre as pessoas e pode despertar o
interesse de se trabalhar a origem de cada dança, sua história, o significado da
música, buscando nesta viagem cultural compreender a história do povo que a criou.
Este conteúdo pode ser trabalhado em toda a educação básica, focalizando os
elementos articuladores: o lúdico, a brincadeira, a sensibilidade, em qualquer faixa
etária, bem como despertar o ritmo interno de cada um, gerando outras
composições para as transformações que acreditamos ser possível.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná está centrada
em um entendimento de uma formação escolar integral, pois direciona para o
conhecimento científico e suas relações com outros saberes e aponta para uma
postura crítica e reflexiva. A disciplina de educação física, neste contexto continua
sendo referência de base porque aborda em seus conteúdos, a busca do
conhecimento, por meio das práticas educativas e pelo desenvolvimento do ser
humano na sua totalidade, potencializando novos valores pedagógicos focalizados
nas Diretrizes
propõe-se que a educação física seja fundamentada nas reflexões sobre as necessidades atuais de ensino perante os alunos, na superação de contradições e na valorização da educação. Por isso, é de fundamental importância considerar os contextos e experiências de diferentes regiões, escolas, professores, alunos e da comunidade (...) sempre em favor da formação humana”. Diretrizes Curriculares (2008, p.50)
Tendo em vista a função que a escola tem frente ao saber popular, o
conhecimento científico e os conteúdos escolares nosso objeto de intervenção
encontrou nas danças e ritmos brasileiros (fandango paranaense e o carimbó
paraense), os elementos de uma brasilidade dançante que vivenciamos nessa
proposição. Isso permitiu aos alunos, maior interesse em praticar a dança fora da
escola e aos professores agregar a sua prática outros significados para trabalhar
com o conteúdo dança.
A educação física e seu objeto de ensino, a cultura corporal, deve ainda ampliar a dimensão meramente motriz. Para isso, pode-se enriquecer os conteúdos com experiências corporais das mais diferentes culturas, priorizando as particularidades de cada comunidade, sob uma abordagem que contempla os fundamentos da disciplina, em articulação com os aspectos políticos, históricos, sociais, econômicos, culturais, bem como elementos da subjetividade representados na valorização do trabalho coletivo, na convivência com as diferenças, na formação social crítica e autônoma. (Diretrizes Curriculares de educação física, 2008, p. 62-63.)
O conteúdo dança nas Diretrizes Curriculares de Educação Física, contempla
o ensino do fandango paranaense e o carimbó paraense. Danças folclóricas
brasileiras, também denominadas danças populares cujos elementos são: o lúdico,
os aspectos sociais e culturais e seu aprendizado ocorre pela interação e pela
apropriação coletiva. Partimos então do entendimento de que o fandango
... é a mais legítima manifestação popular paranaense (...). ] Possui um conjunto muito grande de dança regionais chamadas “marcas” (...). É uma dança típica dos caboclos e pescadores, habitantes da faixa litorânea do Paraná. Para cada marca há um sapateado diferente. Existem marcas “bailadas” ou “valsadas”, dançadas como qualquer dança de salão, apenas seguindo o ritmo, e as de “rodas passadas,” que são dançadas entre duas ou três marcas. O passo característico do fandango e que entra em quase todas as marcas é o “oito”. (INAMI, 2005, p.125/126).
Os instrumentos também possuem suas peculiaridades, são duas violas,
(quase sempre compostas de cinco cordas duplas e uma meia corda, que são
confeccionadas com a caxeta – uma espécie de madeira - um acordeão, uma
rabeca e um pandeiro rústico, chamado adufo. Eles é que fazem o
acompanhamento no fandango. Os cantos são a duas vozes e executados pelos
próprios violeiros, que reproduzem versos e letras tradicionais ou improvisados na
hora.
As coreografias das “marcas” paranaenses são constituídas de uma grande
roda ou pequenas rodas, fileiras, pares soltos e unidos. Os dançarinos, trajando
vestes típicas de pescadores, calçando tamancos que são considerados o elemento
mais marcante, completam as vestes. As dançarinas usam saias floridas com
colorido discreto e blusas soltas complementando com sandálias rasteiras. As
marcas são dançadas aos pares que executam vários movimentos fazendo distintas
figuras. Os homens sapateiam impondo um ritmo constante e marcado pelas batidas
dos tamancos e se movem em linhas sinuosas, fazendo a figura “oito”, enquanto as
mulheres também realizam a figura “oito”, mas seus movimentos, apenas marcam
sua evolução espacial tendo como marca o “sarandeio”. A figura oito é um dos
elementos presente em todas as coreografias. Para dançar fandango recomenda-se
que o piso seja de madeira, para melhor destacar o som do sapateado.
Estas danças chegaram no litoral paranaense trazidas pelos portugueses,
colonos açorianos, recebendo as características da cultura espanhola, por volta de
1750. Desde então, o fandango passou a integrar as comemorações, no período do
carnaval, durante 4 dias, os dançarinos, chamados de „folgadores‟ e „folgadeiras‟,
praticavam os mais diversos bailados – entre eles Anú, Andorinha, Chimarrita, Tonta,
Caranguejo, Vilão do Lenço, Sabiá, Marinheiro, Xarazinho, Xará Grande.
Saboreando o barreado, prato típico a base de carne e toucinho, cozido em panela
de barro lacrada. Com o passar do tempo, o Fandango executado no Paraná foi
incorporado pelo caboclo do litoral, agregando características e a tornado uma
dança folclórica presente até hoje.
Da mesma forma como apresentamos o fandango o faremos com o carimbó.
A dança do carimbó é uma dança muito animada, com muitos movimentos -
típica do Pará-, que agrega uma mistura de elementos da cultura afro brasileira,
indígena e européia. A dança no seu contexto histórico foi formando suas
características, ganhando contornos específicos e,
segundo registros, o carimbó surgiu em marapanim, cidade situada a cento e cinqüenta quilômetros de Belém, no litoral do Pará, como uma alternativa de lazer com intuito de dar leveza à dura tarefa do trabalho cotidiano do “caboclo”. Ainda segundo a mesma autora, a dança do carimbó é o resultado de uma das danças do fandango que ficou “desgarrada” pela Amazônia, revela em si, traços lusitanos, negros e índios. É típica do Pará e seus arredores.(...) Devido a suas “andanças”, vai juntando para si mais e mais elementos. Assim, há uma diversidade de coreografias que são inventadas e reinventadas a cada dia. (Maria do Socorro,2008).
A "Dança do Carimbó" é um braço desgarrado do fandango que ficou na região norte
do Brasil e que a principio, era apresentada num andamento monótono, como
acontece com a grande maioria das danças indígenas e que só tem significado
específico para seu povo. Com a chegada dos escravos africanos, estes foram
acrescentando seus requebros e impondo seu ritmo, começaram a aperfeiçoar a
dança, a monotonia foi ficando de fora e a dança foi adquirindo outras
características. Os colonizadores portugueses apreciaram e muito essa
manifestação artística e também foram estabelecendo suas características e
técnicas corporais transformando a dança do carimbó que passou a contagiar a
todos com essa mistura cultural, daí as semelhanças a serem observadas nas duas
danças.
O carimbo é uma das danças mais significativa de manifestação artística da
cultura do povo paraense. A dança é apresentada em pares, as mulheres cheias de
graça executam requebros sensuais, frente aos homens fazem um tipo de
provocação (segurando a barra da saia), diante das quais eles ficam seduzidos e
batem palmas uma espécie de chamamento para a dança. Entre gingados, giros e
rodopios em torno um do outro, a dança apresenta um ritmo frenético, é um
espetáculo a parte, os dançarinos fazem alguns movimentos com o corpo curvado
para frente, sempre deslizando um dos pés no sentido de acompanhar o outro pé,
que segue mais a frente marcando o ritmo vibrante. Os casais executam esses
movimentos tentadores, insinuantes e ondulantes. assumindo assim, seu caráter
particular e dinâmico, valorizando os elementos rítmicos que a dança impõem com
as sequências de movimentos e manifestação artística. .
Todos os dançarinos apresentam-se descalços. As mulheres usam saias coloridas,
muito rodadas e amplas, blusas de cor lisa e grande babado, usam pulseiras e
colares de sementes dos frutos da terra. Os cabelos são enfeitados com flores. Os
homens apresentam-se com calças pescador, a camisa do mesmo tecido da saia
das mulheres (é uma opção), com as pontas amarradas na altura da cintura.
A Dança do Carimbó vem do título dado pelos indígenas aos tambores de
diferentes tamanhos que realizam o acompanhamento básico do ritmo e na língua
indígena "Carimbó" - Curi (Pau) e Mbó (Oco ou furado), significa pau que produz
som. Os instrumentos que compõem o conjunto musical característico, e que fazem
marcação da dança tem, dois "carimbos" (tambores) com tamanhos diferentes para
se conseguir maior efeito e contraste sonoro. Os tocadores promovem o batuque. O
ganzá, o reco-reco, o banjo, a flauta, os maracás, afochê e os pandeiros completam
o conjunto.3
É nessa combinação de elementos históricos e culturais e as técnicas
corporais que daí emanam, que podemos compreender melhor as relações entre o
fandango e o carimbó. Esses, em diversos momentos, se aproximam em suas
formas básicas de dançar, mas sem perder suas principais características rítmicas
(música) e expressivas (movimentos e gestos) de manifestação do povo paranaense
e paraense, que se encontra projetada na história do saber cultural. O ensino e a
3 Esses instrumentos, assim como os do fandango, são apresentados na forma de vídeo para os alunos.
prática pedagógica do fandango e do carimbó nas aulas de Educação Física nos
leva a pensar inúmeras possibilidades de conhecimentos e de experiências que os
alunos/as podem vivenciar.
DANÇAS FOLCLÓRICAS: CARIMBÓ E FANDANGO
A dança do carimbó combina os elementos das danças afro brasileira, indígena e
européia, cujos passos são chamados de componentes básicos, sendo considerado
um expressivo meio de comunicação, valorizado pela tradição, de significado
histórico que explicam ensinamentos populares e da realidade da qual participa. Ela
expressa a cultura e tradição do povo paraense, criando um ambiente dinâmico e
flexível, onde o
Carimbó é uma das manifestações culturais presentes no Estado do Pará. (...) A dança de carimbó, diz respeito à reunião de pessoas em pares num círculo, que dançam soltos, evidenciando o cortejo, a conquista, onde o homem dança ao redor da mulher. A música do carimbó (Salles, 1969:280) entre outras características é andante, de ritmo binário simples, modo maior. A estrutura do canto é responsorial, acompanhado pelo instrumental. A poesia do carimbó contém versos curtos que são repetidos. A maioria dos versos diz respeito ao cotidiano do povo, descrevem seus amores, trabalhos, locais onde vivem e suas
lendas, expressam sua gente. (Maria do Socorro Mendes Pereira (consultado: 28/03/2010) )
Como podemos observar, as características do carimbó são marcantes, o grupo
forma uma roda que possibilita os diversos movimentos e ritmos individuais em
sintonia com a música e a expressão corporal do povo e da cultura paraense. É uma
dança alegre e contagiante que incorpora a influência indígena e africana.
Em relação ao fandango do Paraná podemos dizer que
Chegou ao nosso litoral com os primeiros casais de colonos açorianos e com muita influência espanhola, por volta de 1750 e passou a ser batido principalmente durante o Intrudo (percussor do Carnaval) (...) três séculos se passaram e nesse correr dos anos, o Fandango tornou-se uma dança típica do caboclo litorâneo, folclórico por excelência. Sua coreografia possui características comuns, com nomes e ritmos fixos para cada marca, ou seja, uma suíte ou reunião de várias danças, que podem ser bailadas (dançadas) ou batidas (sapateadas), variando somente as melodias e textos. Existem vinte e sete marcas diferentes e muitas outras existem ainda, próprias de cada região em que se dança o Fandango. Algumas conhecidas do litoral: Anu, Queromana, Tonta, Andorinha, Cana Verde, Marinheiro, Chamarita de oito, Charazinho,
Serrana, Chara e Feliz. http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=31
A implementação do projeto de intervenção – em cada nível de ensino da
educação básica – ocorreu a partir da aplicação de um planejamento com atividades
para o ensino da dança e das práticas corporais folclóricas nas aulas de educação
física refletindo suas possibilidades de trato pedagógico. Realizamos essa
intervenção no 2º semestre de 2010, nesse momento optamos por dois estilos: o
fandango paranaense e o carimbó paraense, por considerar suas temáticas
relevantes para esse estudo. Objetivamos oportunizar a vivência desses ritmos,
seus elementos decorrentes de ações da dança no contexto escolar; a descrição
das características de cada dança, configuração social e regional; efetivar a dança
como conteúdo que trabalha com atividades rítmicas e expressivas na escola.
Nessa proposta optamos por trabalhar do fandango uma de suas marcas, o
“ANÚ”, que apresenta em sua coreografia características batidas com ritmo próprio.
No carimbó, trabalhamos com a liberdade de se movimentar na dança,
porque exprime uma forma de dança de múltiplas tradições da região norte do Brasil
ligado a seus ambientes de origem, mas que utilizam novos elementos como
suportes para expressar e registrar essas manifestações artísticas, ampliando assim
as experiências dos alunos.
A música e a dança apresentam suas raízes regionais e folclóricas, são
ferramentas utilizadas para expressão de gestos, técnicas corporais, que revelam
valores e significados. Passos simples de fácil realização são utilizados, como por
exemplo, manter um dos pés sempre a frente do corpo fazendo a marcação do ritmo
e da coreografia.
ATIVIDADE 1 EXPERIMENTAÇÃO/DESCOBERTA
Apresentamos aos alunos o conteúdo do fandango, do Paraná, e do carimbó,
do Pará, utilizando-nos de alguns vídeos4 para que os discentes pudessem
visualizar essas diferentes manifestações dançantes. Para tal, orientamos os
alunos/as a partir de um roteiro que continha as seguintes tarefas:
A) Estabeleça relações entre o carimbó e o fandango.
B) Observe as técnicas corporais presentes em ambos. Elas se parecem? No
que elas diferem? Observe especificamente:
ços e quadril;
A partir do que os alunos levantaram durante a atividade a professora
organizou (com eles) os elementos destacados pela turma. Do fandango eles
perceberam que se tratava de uma dança e uma música muito monótona, alguns
acharam triste, o que mais chamou atenção foi o sapateado dos tamancos
executadas pelos homens. Do carimbó eles gostaram pela alegria que a dança e a
música transmitem. Observaram que são dançadas em roda e que o carimbó
apresenta movimentos mais livres e bonitos e que é dançado descalço.
A segunda atividade foi aplicar uma sequência pedagógica para o
aprendizado do fandango favorecendo a assimilação dos alunos das técnicas
corporais presente no fandango.
4 São eles:http://www.youtube.com/watch?v=10cxbdnqk8I,
http://www.youtube.com/watch?v=3NzMIiMeW8k,
http://www.youtube.com/watch?v=d23kRAQLRHc,
http://www.youtube.com/watch?v=BeeoqCurMn8,
http://www.youtube.com/watch?v=tNacDNhaAxQ,
http://www.youtube.com/watch?v=zMTMlG__oH4
Finalizamos essa aula destacando a importância da participação de todos e
situamos geograficamente o Estado do Pará. Nessa oportunidade também refletimos
sobre as letras das músicas, as expressões utilizadas, comparando-as e destacando
as diferentes expressões da região norte e região sul do Brasil.
ATIVIDADE 2
REPRESENTAÇÃO/CRIAÇÃO/REELABORAÇÃO
O objetivo é criar e elaborar coreografia para apresentar ao grande grupo.
técnicas corporais do carimbó e fandango. Os alunos colocam nestes movimentos
sua experiência corporal e extraem os elementos que possam contribuir para sua
recriação. Em grupos (dois grupos), um dança o carimbó e outro dança o fandango;
os alunos/as elaboram uma coreografia com movimentos que foram apreendidos
nos vídeos. Nesta apresentação deverá ter passos básicos de cada ritmo; fazendo a
combinação dos movimentos e dos deslocamentos em todas as direções.
cada ritmo e a coreografia. Nesse momento todos os grupos apresentam as
construções elaboradas e criadas por eles. Na seqüência da atividade, propor
discussão sobre a prática, a exploração dos movimentos e sobre a construção de
uma nova técnica corporal das danças folclóricas carimbó e fandango.
o que foi válido, relacionar o que a dança do carimbó e a dança do fandango tem em
comum. A prática depende de cada detalhe e cada elemento adicionado deve ser de
forma gradual, passo a passo, para promover a integração e o aprendizado dos
alunos.
Essa aula foi avaliada pelos alunos e pela professora como sendo muito boa,
pois o grupo que apresentou o fandango percebeu que o sapateado é o forte dessa
dança. O grupo do carimbó não teve muita dificuldade em realizar os movimentos
por serem mais livre.
Essas atividades evidenciaram o interesse dos alunos em observar cada
detalhe, desfazendo a resistência apresentada inicialmente com o fandango. Eles
começaram a participar da aula prática timidamente, aos poucos foram se soltando,
a cada passo, a cada elemento acrescentado eles interagiam, até cantavam trechos
das músicas e faziam questão de dançar com a professora. Cabe ainda relatar, que
não tínhamos tamancos para utilizar nas aulas, mesmo assim, foi feita uma releitura
do fandango em relação ao tamanco. Utilizamos vários pedaços de madeira e foi-
lhes sugerido realizar as batidas dos mesmos com a utilização das mãos e assim as
meninas também tiveram a oportunidade de realizar ações que comumente nessa
dança é destinada apenas aos meninos. Consideramos isso um aspecto importante,
pois permite que na própria vivência os discentes percebam as questões de gênero
ligadas a esse conteúdo, ao mesmo tempo, que não reforçamos a “caricaturização”
dos sexos durantes essas manifestações folclóricas.
ATIVIDADE 3 Nosso objetivo foi elaborar um roteiro temático sobre dança e cultura. Para isso
organizamos as seguintes atividades:
socialização de conhecimentos carregados de manifestação de expressões
individuais e coletivas, conhecer e praticar a dança, produzir movimentos tem a
vantagem de possibilitar práticas corporais que retratam sua cultura. Nesta
atividade, a proposta é criar a semana de danças brasileiras, apresentando diversos
ritmos e estilos. Cada dia da semana um grupo faz sua apresentação. O professor
deve expor as possibilidades que a dança pode oferecer. Utilizar a música e a dança
de maneira que todos possam participar do processo de socialização e oportunizar a
vivência de dançar.
movimentos e sobre os diversos estilos de danças apresentados. Relacionar os
movimentos do corpo com as danças e as características peculiares que as
identificam e as diferenciam uma da outra relacionando com seus contextos
históricos e sociais.
Os alunos já estavam mais a vontade, pois tinham incorporado os dois estilos
e já escolhiam as músicas que queriam dançar. Solicitamos que os grupos fizessem
uma releitura dessas duas manifestações dançantes e misturassem os passos das
duas danças de acordo com o entendimento deles. Foi uma experiência que nos
trouxe mais resultados do que esperávamos, pois pudemos perceber o quanto eles
haviam assimilado do fandango e do carimbó e revelaram sua capacidade criativa
de reorganizar tais técnicas com outras referências e estímulos trazidos de suas
vivências dentro e fora da escola.
ATIVIDADE 4 Apresentamos essa proposta de ensino aos alunos do curso de licenciatura em
Educação Física da UFPR, na disciplina de atividades rítmicas (duas turmas do 1º
período). Queríamos que os alunos de licenciatura tivessem a oportunidade de
vivenciar as mesmas práticas experimentadas pelos alunos da educação básica, e
poderem observar os resultados dela. Nossa perspectiva era lançar um desafio aos
futuros professores para que não deixem de trabalhar com o conteúdo dança
quando formados. Socializamos uma proposta de ensino como forma de estímulo
para que surjam outras. Os graduandos experimentaram tanto a prática dançante
como as explicações sobre essas manifestações.
A grande maioria dos alunos nunca tinha tido nenhum contato com essas
manifestações folclóricas, apenas dois alunos já tinham assistido uma apresentação
de fandango. Do carimbó pouca coisa por meio da “banda calipso”. Após a vivência,
as explicações e o debate, os alunos demonstraram aprendizado e reconheceram a
importância desse conhecimento na sua formação.
Considerações Finais
Refletindo e estabelecendo resultados
É na prática diária que temos a oportunidade de incorporar conhecimentos
que possam interagir com outras culturas e assim direcionar nossas ações no
processo ensino aprendizagem que devam ser contextualizados para que
professores e alunos caminhem juntos, capazes de empregar novos conhecimentos
a sua metodologia de trabalho como mais um recurso pedagógico, colocado a
disposição de cada atividade realizada. Com isso podemos acrescentar novas
experiências e extrair delas os elementos que contribuíram para melhorar essa
prática educativa. Contudo, considerou-se os processos participativos como
elemento integrador.
Durante a aplicação das atividades, ficou claro que os conteúdos são retratos
da realidade que os discentes precisam descobrir, assim utilizamos de recursos
didáticos, como vídeos, para facilitar e organizar a construção do conhecimento. A
forma de ensinar também precisa ser enfocada para proporcionar maior colaboração
e com isso maior envolvimento nas atividades, melhorando o relacionamento e a
convivência entre os alunos e entre eles e o docente.
Para chegarmos na construção da proposta foi preciso refletir teoricamente
sobre a Educação Física escolar, suas metodologias e conteúdos, enfocando o
folclore na dança para realizarmos um levantamento sobre o que conhecemos do
fandango e do carimbó. Com esse material organizado fizemos o planejamento,
acompanhamento e avaliação das atividades. Por exemplo: é preciso encontrar
meios e alternativas que possam construir o saber coletivo e individual, promover
mudanças sem se distanciar dos objetivos. Além de mobilizar os alunos /as nas
aulas que no decorrer das ações possibilitaram a compreensão do construir,
compartilhar, criar, cooperar, conectado ao elemento integração e afetividade.
A proposta criada, desenvolvida e aplicada nos permitiu observar que o
Fandango e o Carimbó propiciaram um trabalho pautado numa aproximação entre
os alunos, em que o lúdico pode se manifestar e ao final todos puderam, de forma
descontraída, brincar com essas danças. Aliado a isso realizamos reflexões sobre o
aprendizado que ampliaram os conhecimentos dos discentes sobre essa cultura tão
próxima, fandango, como também dos sentidos e significados de uma dança
distante, o carimbó. A forma lúdica minimizou a resistência demonstrada por eles no
início e as ações coletivas despertaram a participação de todos.
A metodologia da problematização utilizada nas atividades foi muito
interessante pois permitiu ao aluno brincar e criar novas formas de se expressar,
explorar a criatividade que se refletiu diretamente no processo ensino aprendizagem.
Enquanto proposta educativa consideramos importante aplicar esses conteúdos e
seus elementos articuladores na resolução de problemas em relação a dança,
adotando um novo comportamento dentro e fora da escola, acentuou a importância
e o valor dos processos cooperativos e solidários. A proposta além de permitir esta
análise nos levou, a refletir sobre a nossa prática e diante dos resultados, modificar
o que acharmos necessário em benefício dos alunos, mostrando todo um significado
histórico e sociocultural em nossa vida profissional.
Tanto para os alunos da educação básica, como para os alunos do curso de
licenciatura de educação física da UFPR as vivências práticas e o conhecimento
disponibilizado nessas atividades, permitiu um novo entendimento sobre o folclore e
suas formas de ensino, resignificando-o como algo vivo e não como um passado
morto e imutável. Essa experiência, na visão dos próprios alunos estabeleceu outras
referencias para prática pedagógica, como: aprendizado, criatividade, motivação e
superação.
Durante as aulas o foco não foi a perfeição na execução dos movimentos, mas
respostas por meio deles e o resultado foi gratificante, além do que esperava.
Sempre gostei de trabalhar com o conteúdo dança por proporcionar um aprendizado
contínuo e flexível imprimindo mais atrativos e que dê novo sentido as aulas, um
realce a mais, e que no meu entendimento, deve ser mais explorado.
REFERÊNCIAS PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da rede pública de Educação Básica do Estado do Paraná, Educação Física, Curitiba: SEED – PR, 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Livro didático público: Educação Física – ensino médio. Curitiba: SEED-PR, 2006. 2ªed. PINTO, Inami Custódio. Fólclore: aspectos gerais. Curitiba: Ibepex, 2005. VERDI,Érica,1965. Dança na escola: uma abordagem pedagógica. São Paulo: Phorte, 2009. BREGOLATO, Roseli Aparecida. Cultura corporal da dança. São Paulo: Ícone, 2000 – Coleção educação física escolar: no principio de totalidade e na concepção histórico-crítica-social,v.1. GRAMISCI, Antonio, 1891-1937 Cadernos do cárcere, volume 6- Antonio Gramisci, tradução,
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VARGAS, Lisete Armizaut Machado de. Escola em dança: movimento, expressão e arte. Porto Alegre: mediação, 2007. – (coleção educação e arte, v. 9.) Fonte:
Disponível:
www.webartigos.com/.../Carimbo-Um-icone-da-identidade paraense/pagina1.html
Maria do Socorro Mendes Pereira (consultado: 28/03/2010)
(http://www.rosanevolpatto.trd.br)
http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/5ritmos/fandango.html
http://www.rosanevolpatto.trd.br/fandango.html
Retirado de http://www.unicamp.br/folclore/Material/extra_dancas.pdf
(consultado: 15/06/2011).