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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20
08
Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE
VOLU
ME I
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SECRETARIA DE EDUCAÇÂO DO ESTADO DO PARANÁ
SEED- NRE/ LONDRINA
História e Memória:
Um trabalho com Objetos Particulares em Londrina:
(1950 a 1975)
AUTORA: MARIA EUFRASIA DUTRA DA SILVA Orientadora: Prof. Dr. MARLENE ROSA CAINELLI
09/12/2009
Este Artigo relata a Intervenção Pedagógica realizada em uma turma no CEEBJA Londrina -Centro onde se trabalhou a Memória e a História nos Objetos Guardados pela população londrinense entre 1950 a 1975. Com este trabalho organizamos um Museu Escolar com objetos trazidos pelos alunos.
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História e Memória:
Um trabalho com Objetos Particulares em Londrina:
(1950 a 1975)
Autora: Maria Eufrásia Dutra da Silva
Orientadora:Prof. Dr. Marlene Rosa Cainelli
Resumo Este Artigo relata a Intervenção Pedagógica realizada no CEEBJA Londrino-Centro onde se
trabalhou a memória e a História nos Objetos Guardados pela população londrinense entre
1950 a 1975, auge da produção cafeeira. Optou-se pela História Local por entender que a
proximidade histórica se permite um melhor raciocínio histórico. Ao final deste, organizou-
se um Museu Escolar com objetos históricos trabalhados pelos alunos. Os objetos trazidos
pelos alunos encontravam-se guardados entre populares, antigos moradores. Estes foram
convidados a dar depoimentos relacionando objetos usados neste período. Assim os alunos
fizeram comparações, observando semelhanças, diferenças, tempo e espaço, apresentando
suas histórias e interpretações através de narrativas. As narrativas históricas permitiram o
andamento do trabalho com avaliações e conhecimento dos saberes históricos de cada aluno,
seus avanços e dificuldades. Utilizou-se vários recursos pedagógicos para subsidiar as
narrativas tais como: Relações interdisciplinares, entre Arte e Ciência, depoimentos,
fotografias, textos, vídeos e objetos com o propósito de analisar objetos guardados
observando uso, tecnologias e substituições destes. Neste período os objetos foram
substituídos por outros modernos, o que corresponde a instalação do capitalismo, na Capital
Mundial do café. O trabalhador rural fora substituído por máquinas e estes vieram para a
cidade em busca de trabalho.
Palavras chaves: narrativas históricas. objetos históricos. Museu Escolar. Depoimentos. Londrina. Café.
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Abstract This article relates pedagogical intervention happened at CEEBJA Londrina-downtown where
it was worked the memory and history at the objects stored by some Londrina people since
the heyday of coffee production between 1950 and 1975. It was chosen the local history
because it is assumed that the historical proximity allows better historical reasoning. By the
end, it was organized a “School Museum” with the historical objects collected by the students.
The objects which the students brought were kept by ordinary people, especially old residents.
These people were invited to give testimonies making relation with the objects used in those
times. Subsequently, the students made comparisons, observing the similarities, differences,
time and space, presenting their stories and interpretations through narratives. The historical
narratives provided the project process the chance to evaluate and develop the historical
knowledge at the students as well as their progress and difficulties. It was utilized a sort of
pedagogical resources to support the narrative compositions such as: interdisciplinary
relations between art and science, testimonies, photographs, texts, videos and objects in order
to examine the objects stored observing their usage, technologies and substitutions. At this
time the objects will be replaced by other modern ones, which corresponds to the capitalism
establishment in Londrina. The rural worker will be replaced by machines and they will go to
big city searching for work.
Keywords: Historical narratives. Historical Objects. School Museum. Testimonies. Londrina.
Coffee production.
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Que objetos a população tem guardado em suas casas que foram usados, substituídos ou
guardados no período de 1950 a 1975 em Londrina? Que relação existe entre sujeitos e
objetos no auge da produção cafeeira em Londrina? Com essas indagações organizou-se o
Projeto “Folhas” em 2008 agregando a essa proposta conteúdos da disciplina de História no
Ensino Fundamental - modalidade EJA. O objeto de estudo foram os objetos históricos que a
população guarda. A organização do Museu Escolar propiciou ao aluno reconstruir a
História a partir da relação de objeto/sujeito. O tema escolhido foi Cultura e Memória. O
trabalho realizou-se a partir de objetos guardados pela população de Londrina nos anos 1950 a
1975.
O estudo histórico em questão partiu da História local. Essa escolha objetivou
aproximar os alunos das histórias que os mesmos têm guardados em suas casas, nos objetos.
A memória dos sujeitos que os preserva há também, a indicação de como os mesmos
participaram da construção histórica de Londrina. O Ensino de História partindo do seu
lugar, da sua gente, dos objetos das suas relações sociais permite aos alunos uma reflexão
mais rica e dialogada. Sobre o fato a Schmidt afirma:
O ensino de História consiste em uma construção histórica com significado podendo ser explorado através das categorias de análise social se preocupando com explicações coerentes obtidas e interpretadas, ressaltando a importância dos sujeitos e suas relações com os objetos permitindo-lhes perceber as relações passado/presente. Neste caso Schmitd afirma: “A História Local possibilita gerar atividades investigativas, criadas a partir da realidade cotidianas: O trabalho busca informações em arquivos e perguntar-se sobre o sentido das coisas”( Schmidt, 2004, p.191)
Essa proposta se fundamentou em teorias, conceitos e raciocínios históricos
importantes nesta área de Ensino , como serão observados na seqüência deste trabalho. Os
historiadores que orientaram esta caminhada assinala que objetos requer o caminho do
diálogo, que segundo Ramos
O caminho é o próprio diálogo que certamente solicita do professor um trabalho qualificado- preparado que é muito mais exigente e rigoroso do que simplesmente transmitir conteúdos. Sair do campo da transmissão para o
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território da reflexão não significa cair no campo do pós-moderno– lugar onde tudo vale-.....mais do que nunca é preciso retomar a ética da prática educativa. (Ramos, 2004 p. 54)
O diálogo que subsidiou essa proposta, foi a mola mestra desse trabalho. Os alunos
citaram objetos que ativavam a memória e lembranças de si mesmo e dos colegas, travando
diálogos em que alunos interagiam entre si confrontando fatos e informações relativos às
memórias e objetos. Os diálogos permitiram repassar conteúdos essenciais de História no
Ensino Fundamental- EJA. Os alunos faziam narrativas históricas as quais, informavam o
tempo, sujeito/objetos e espaços, estabelecendo comparações, observando semelhanças,
permanências e transformações relacionadas a objetos e sujeitos no período de 1950 a 1975
em Londrina. O trabalho com objeto histórico remete à educação museológica tão ausente
no ensino de História nos dias atuais. Esse Ensino de História se guia na direção em que
Regis aponta
O museu que expõe cultura material tem condições para se transformar em espaço de insubstituível importância nos procedimentos de renovação pedagógica, trazendo para o ato de aprender o compromisso com o mundo vivido e os desejos de transformá-lo. ( Ramos, Regis. P 16, 2004)
O objetivo final do trabalho foi organizar um Museu Escolar com objetos históricos
trazidos pelos alunos. Antes, porém, em sala, esses objetos foram trabalhados no sentido de
(re)significar a História de Londrina, partindo da história de cada aluno.
Este desafio foi proposto a uma turma do CEEBJA Londrino-Centro. Essa turma com
alunos entre 20 e 60 anos são trabalhadores em busca da formação básica para ingressarem
no mercado de trabalho, muitos advindos da zona rural, hoje em confronto com a sociedade
urbana. Trabalhar com EJA implica em vivenciar angústias e dificuldades de adultos carentes
de formação básica para exercerem direitos e deveres de cidadãos Por se tratar de alunos
fora da faixa de idade no Ensino Fundamental optamos pelo ensino da História Local por
entender que esta forma de ensinar é mais próxima dos alunos que puderam a partir de suas
histórias, depoimentos, fotografias e objetos históricos guardados relacionar-se com a História
com mais interesse dando lhe um maior significado. Dessa maneira, foi possível fazer
reinterpretações históricas fazendo suposições usando os raciocínios históricos a partir de
fontes apresentadas pelos mesmos que segundo Cooper (2004, p. 57) citado por Cainelli
Fazer interferências sobre as fontes, sobre quem as fez, por que, como podem ter sido utilizadas e como afetaram a vida cotidiana do passado pode levar o historiador a considerar como é que essas pessoas pensavam e se sentiam. Desenvolver esta imaginação histórica esta formulando uma vasta
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variedade de suposições, é fundamental para se interpretar o passado (CAINELLI, 2006, p. 66).
É fundamental para desenvolver a consciência histórica identificar-se com seus pares,
visando interar-se da construção histórica da sua gente, e de si próprio, assim compreender
necessária em nossa disciplina, partir da História Local que segundo Rüsen, citado por
Schmidt
A consciência histórica relaciona ser (identidade) e “dever” (ação) com o objetivo de dar identidade aos sujeitos a partir de suas experiências individuais e coletivas e de tornar inteligível o seu presente conferindo uma expectativa futura a essa atividade atual. Portanto, a consciência histórica tem uma função pratica de dar identidade aos sujeitos e fornecer à realidade em que eles vivem uma direção temporal, uma orientação que pode guiar a ação intencionalmente, por meio da mediação da memória histórica. (apud in SCHMIDT, 2004, p 1)
Este recorte histórico remeteu à História da cidade quando milhares de migrantes e
imigrantes chegaram à cidade, animados pela qualidade das terras roxa aqui existentes,
próprias para o plantio de café. A esperança do enriquecimento os atraia. A respeito do fato,
a aluna citou em sua narrativa, a partir de depoimento do Sr José da Silva que chegou em
Londrina em 1958 o seguinte: “ O Sr. José... veio do Estado da Paraíba porque o seu irmão já
estava morando aqui em Londrina, e disse que era bom para ganhar dinheiro.... O ganho do
mês, o Seu José guardava no bolso do paletó e vinha para a cidade e gastava somente o
necessário, o resto ele guardava”.
As narrativas históricas, instrumento utilizado para avaliar conhecimento apresentaram
situações como: Consciência histórica1, empatia histórica2, e evidência histórica3. Assim, os
alunos, puderam ter reflexão histórica e recriando vivências das relações sujeito/objeto. Neste
1 Os efeitos sociais da aprendizagem de história se sintetizam e se consolidam na consciência histórica que,
segundo Rüsen, é a forma de consciência humana que está relacionada imediatamente com a vida humana prática: "se
entende por consciência histórica a soma das operações mentais com as quais os homens interpretam sua experiência da
evolução temporal de seu mundo e de si mesmos de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no
tempo" (2001, p. 57). Segundo Peter Lee (2003, p. 19-36),
2 "a empatia histórica pode melhor ser entendida como uma realização – algo que acontece quando sabemos o que o agente
histórico pensou, quais seus objetivos, como entenderam aquela situação e se conectamos tudo isto com o que os agentes
fizeram".
3 O conceito de evidência "encoraja o uso de vários tipos de materiais que o passado deixou para trás, a fazer e a responder a
questões que visam interrogar e avalia fontesem relação a investigações particulares e no contexto da sociedade que as
produziu. (Ashby, 2001, p. 37-58). Disponível em htttp://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-32622005000300004&script=sci_
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caso, concordamos que a História é reconstruída quer pela razão ou pela emoção o que
concordamos com a autora.
Quando se concebe o passado, presente e futuro como a compreensão do desenvolvimento do homem, da comunidade, apelam-se e se lida com a consciência histórica dos indivíduos que alimenta a consciência social. Neste sentido parece ser fulcral que esta consciência não se paute unicamente pela contemplação e enunciação das diferenças. Parece ser mais profícuo que a consciência histórica social seja experiência quer pela razão quer pela emoção, de forma a ser norteada da tomada de decisão nos diferentes segmentos temporais, tentando compreende-los à luz de contextos próprios. Em educação Histórica, esta compreensão pode incrementar-se com o manusear de diferentes narrativas frutos de diversos pontos de vista e promovendo a competência/ expressão narrativa das diferentes realidades e indivíduos. (GAGO, 2007, p.129)
O objetivo central foi a organização de um Museu Escolar, um espaço capaz de
concretizar os procedimentos de renovação pedagógica, trazendo para o ato de aprender o
compromisso com o mundo vivido e os desejos de compreendê-lo e transformá-lo. Com
esse propósito os trabalhos se iniciaram com narrativas em que os alunos relatavam
memórias de objetos históricos de suas vivências ou lembranças do passado.
. Para organizar o Museu Escolar usamos vários recursos tais como: vídeos,
fotografias, depoimentos e é claro, os objetos guardados. De modo, que ao expor os objetos
já o fizessem conscientes da importância destes na construção histórica da cidade, não
somente no aspecto local, mas em nível de Brasil e do mundo.
Os recursos usados objetivaram ressaltar a importância dos objetos no cotidiano, o
seu valor na vida das pessoas, e agora enquanto objeto histórico em exposição seriam
analisados e repensados no tempo e espaço. Este fato levou os alunos a uma intensa troca de
informações e memórias.
Quando o museu escolar foi exposto houve vários “falares na escola ” tais como: “Na
minha época de estudo de inglês minha professora tinha um gravador igual a esse...”
(Professora Maria José da área de matemática no CEEBJA), a discussão saiu da sala de estudo
indo para os corredores e biblioteca em que pessoas lembravam a primeira televisão, as ruas
de Londrina, os objetos usados nesse tempo.
A Professora Simone de Português leu as narrativas dos alunos e os considerou de
grande qualidade, quanto a qualidade dos textos. Esses foram acontecimentos paralelos ao
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trabalho, que apoiou nosso trabalho. Outra professora leu livros de História de Londrina,
buscando informações a respeito de sua família, entre outros. Era animador saber que outras
áreas se engajavam nessa pesquisa, pois havia ali também as suas histórias.
Alunos de outros cursos participaram visitando, relembrando, questionando, muitos não
conheciam alguns objetos expostos, como a lamparina, o torrador, a navalha e assim
questionavam, querendo saber desse passado vivido. Uma depoente, a Pedagoga da escola
fez questão de expor objetos que eram presentes de casamento dos seus pais, verdadeiras
relíquias, se mostrou muito preocupada com a possibilidade de que esses fossem quebrados
ou que alguém os levassem.
De maneira geral os objetos tinham grande valor afetivo e destes tinham receio que
fossem quebrados ou perdidos. Os visitantes e alunos recriavam situações de épocas passadas
diante dos objetos. Assim de acordo com Pessanha (1996, p. 37) citado por Cainelli,2006;
p.69....
[...] quando entramos em um museu, entramos no tribunal, onde várias falas se apresentam, várias vozes silenciosas , fortíssimas e eloqüentes se apresentam , há réplicas e tréplicas, há a possibilidade de o tempo todo de uma alteração, e tem se, de alguma maneira, que tomar posição [...] para que ele o público seja levado a tomar posição, que é o grande papel educativo que as instituições culturais podem ter a própria instituição tem que assumir esse papel pedagógico, nesse sentido não totalitário, não autoritário não mono lógico, e tem que abrir espaço para a dialogia, em todos os recursos possíveis.
A metodologia de estudo utilizada foi o “objeto gerador” desse modo dialogou-se,
recriou-se situações, levantou-se hipóteses históricas sobre a História e o cotidiano da
cidade, relacionando objeto e sujeitos históricos defendido por Ramos da seguinte maneira
O objetivo primeiro do trabalho como objeto gerador e exatamente motivar reflexões sobre as tramas entre objetos e sujeitos: Perceber a vida dos objetos entender e sentir que os objetos expressam traços culturais que os objetos são criadores e criaturas do ser humano. Ora, tal exercício deve partir do próprio cotidiano, pois assim se estabelece o diálogo, o conhecimento novo na experiência vivida: conversa entre o que se sabe e o que vai se saber- leitura dos objetos como ato dos objetos para novas leituras. (RAMOS, 2004, p. 32)
O objetivo principal exigia que fosse percorrido um longo caminho tais como:
Resgatar a memória do cotidiano de outras épocas exigia relacionar se com o patrimônio
cultural histórico da cidade de londrina. Como o trabalho se referiu a Patrimônio Cultural,
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sugeriu-se que os alunos consultassem a Constituição Brasileira para saberem sobre a Lei que
define sobre Patrimônio Histórico.
Demonstrar aos alunos que gerações passadas deixam legados para tanto convidou-se
algumas pessoas que viveram nesse período em Londrina para que as mesmas fizessem
depoimentos a respeito de suas vivências e as relações com seus objetos.
Para atingir o objetivo principal, recorreu-se a vários recursos pedagógicos no sentido
de demonstrar que os objetos contam histórias e não estão apenas no museu. Os mesmos
fazem parte da vida das pessoas e as ajuda a realizar tarefas, portanto relatam histórias que
podem ser ouvidas analisados e escritas. Na exposição do Museu Escolar houve apresentação
dos trabalhos seguindo o roteiro abaixo:
I- Os objetos na História de Londrina
II - Narrativas de alunos sobre os depoimentos coletados.
III- Depoimentos de Antigos Moradores e Narrativas Históricas
IV- A Casa de Fazer Farinha de mandioca.
V- Questão Interdisciplinar: Ciências, Artes e História
VI- A exposição de fotos e a História de Londrina.
VII- A Organização do Museu Escolar.
VIII - Considerações finais
I- Os objetos na História de Londrina
E de fato, buscou-se nos objetos guardados nas casas dos alunos, pesquisando,
conversando com antigos moradores. Nos momentos iniciais desse trabalho pediu-se aos
alunos que relatassem a respeito de suas histórias relacionadas aos seus objetos. Uma aluna
relata em seu texto: “Na casa de meus pais existem alguns objetos que existem desde antes
de eu nascer, os quais eles guardam até hoje, uns porque lhes são úteis outros por afeição ou
recordação de seus antepassados. Alguns desses objetos uso apenas como decoração, já
outros como o caldeirão, o engenho e a foice me são úteis até hoje...”
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A narrativa revela que o objeto é uma referência que liga gerações pelo respeito e
trabalho apontando passado e presente como ato revelador de histórias.
Conforme o exposto, o objeto não somente ajuda o homem a realizar tarefas, mas
ocupa um lugar afetivo, de decoração e se afasta da sua função inicial na vida das pessoas.
Revela também o espaço, classe social que as pessoas pertencem. Alem disso, evidencia o
tempo histórico presente, passado e futuro sendo o objeto, fator de referência na vida das
pessoas.
O texto aponta que os objetos estão ligados a fatos que implicam razão e emoção,
lembrando que a mesma é moradora da zona rural.
Os demais alunos também fizeram narrativas e com estas em mãos foi realizado um
levantamento sobre os objetos citados e encaminhamentos para o trabalho dos alunos que
foi: Conversar com familiares ou conhecidos sobre os objetos citados. Os alunos não queriam
falar dos objetos e nem contar suas histórias por considerá-las insignificantes ou sem valor.
Os conceitos elaborados pelos alunos a respeito de objetos Históricos: estão aqui
relacionados e pode se observar o conhecimento histórico agregado. “Cada época se usa
determinado objeto necessário à realização de tarefas.” “ Os objetos indicam fatos, processos
e o tempo de vivência dos sujeitos a eles relacionados”. “Os objetos já nos acompanham
desde há muito anos atrás. Quando o homem descobriu que a pedra podia ser polida, ele não
sabia que tinha inventado uma das coisas mais maravilhosas do mundo, o objeto. Daí em
diante tudo evoluiu inclusive o objeto.” “Objeto Histórico é criado pelo homem e é passado
de geração em geração e guardado com carinho”. {“Objeto é um bem material produzido
pelo homem e que através desse objeto irá se tornar no futuro um objeto histórico.”. O
estudo a partir dos objetos permitiu trabalhar sistemas econômicos como: Capitalismo,
feudalismo, socialismo, classes sociais, migração e imigração pois esse projeto estendeu-se
de março a junho de 2008 sempre na perspectiva da dialogia entre sujeitos e objetos
concluindo com narrativas históricas portanto, entendeu-se a importância de se trabalhar a
esse respeito concordando que
Ambas a narrativa e a história, são mais que uma coleção de fatos ou seqüência de acontecimentos. Estas envolvem a descrição e a interpretação de causas que tem importância para os fatos. As suas investigações sugerem que a experiência se processa de modo narrativo que a compreensão da história pelos alunos se realiza preferencialmente deste modo.” (CAINELLI, 2004, p 101)
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As narrativas históricas, a exposição dos objetos concretizou a história de tal forma que se
pode recriar situações de épocas passadas, formulando hipóteses dando novos sentidos à História.
II- Os objetos na História de Londrina.
Dando continuidade ao trabalho , utilizou-se como recurso pedagógico, uma produção
Histórica Local. Apresentou-se um vídeo do you tube, criado por alunos da UEL com o
Título “ Nostalgia Londrinense” e neste os alunos puderam contextualizar os estudos sobre
objetos utilizados após a Segunda Guerra Mundial..
Após a Segunda Guerra a economia cafeeira apresentou rápida recuperação no mercado internacional. Os preços das rubiáceas não paravam de crescer. As lavouras cresceram de forma acelerada fomentando a necessidade de um número cada vez maior de mão-de-obra. Criou-se uma “fama” de riqueza, atraindo de forma crescente e descontrolada um número cada vez maior de migrantes e imigrantes.(Leme, Edison Holtz. p.29, 2005 )
Outro vídeo utilizado foi: “A História das Coisas” sugerido no Portal da Educação. O
vídeo comenta sobre o período do Pós-guerra, situando os alunos no tempo e espaço
observando a produção econômica, usos e substituições de objetos.
O vídeo mostra que os Estados Unidos tomarão como importante decisão produzir
objetos em grande escala visando a exportação dando início à grande substituição de objetos.
Apresenta, também, a problemática relativa à questão do lixo, (substituição de objetos) o
grande problema do século XXI, fato bastante trabalhado nesse projeto.
A sociedade de consumo é a sociedade do descartável somente para uma parcela da população: os que têm dinheiro para consumir. Para a grande maioria, o descartável é possibilidade de restituir a vida dos objetos, dando-lhe um pequeno valor monetário ou novas utilidades. O objeto finado transfigura-se em objeto ressuscitado. (RAMOS, REGIS p.85, 2004)
Os objetos usados, após análises permitiram aos alunos produziram narrativas tais
como: “Em Londrina a partir de 1950 os campos passam a ser mecanizados com caminhões
e tratores, tirando assim o trabalho de mão de obra. Por isso as pessoas que moram nos
campos vem para a cidade a procura de um lugar e conseqüentemente um emprego...”
“...Londrina cresce e o progresso fica cada vez mais presente, então as pessoas consomem
mais e agridem a natureza, com objetos que são descartáveis e hoje desejamos ter mais e
mais...” “....Nos campos tudo está se modernizando cada dia as pessoa estão migrando para
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as cidades em busca de um emprego uma vida melhor.” “ As máquinas e os caminhões
chegaram e com isto muitas pessoas que faziam o serviço na enxada, nos carros de boi, à
cavalo foram obrigados a deixar o seu lugar, o campo e ir procurar um outro modo de
sobreviver...”
Na exposição foi possível recriar situações de épocas passadas quando os alunos
trouxeram lamparinas, telefones da década de 1970, navalhas de 1950 e a partir destes
houveram lembranças de fatos e situações do período citado. Os relatos foram interessantes
tais como: “ Na casa que trabalho a minha patroa tem muitos objetos como: radiolas, vitrolas
e vários rádios”...
Os objetos citados foram expostos, demonstrando que esse trabalho ultrapassou os limites
escolares fazendo interações entre patrões e empregados.
Houve uma inquietação durante os trabalhos, o fato da aluna contar a “história dos
outros e não a sua”. Outra me disse: “ não sei nem a minha história como vou aprender a dos
outros?” e esta também trouxe para exposição um objeto que pertence a seu patrão sendo este,
da época da produção cafeeira em Londrina. Apesar da reclamação a aluna se interessava e
realizava todas as atividades propostas e escreveu o seguinte sobre objetos: “O sistema
capitalista fez com que se substituísse cada vez mais os objetos por causa da necessidade dos
homens, porque hoje em dia a humanidade quer as coisas prá já exemplo café instantâneo,
celular, controle remoto, internet, cafeteira, geladeira, chuveiro.” Trabalhar com objetos
requer uma dupla definição conforme o exposto abaixo
Quando estudamos os objetos falamos de cultura material. Reserva-se um termo mais específico para objetos, artefatos. O termo bens, em referência a economia. (MOURÃO. J Augusto p.173-2005)
. Os objetos enquanto cultura material remete as pessoas à lembranças conforme se
observou: Uma senhora com aproximadamente 50 anos nos relatou que a família tinha
preservado na casa do seu cunhado um fogão à lenha (relíquia de família). Quando falou
sobre isso, recordou, como era a vida cotidiana da época, as reuniões de família, as comidas e
até os pratos que eram feitos, momento em que toda a turma participava. Com essas memórias
houve interação e muitos relembraram, comidas, festas coisas comuns para o grupo.
Mais tarde, a mesma nos contou com tristeza, que o tal fogão fora desfeito, com a
reforma da casa, lamentou não ter fotografado a relíquia que agora só existe em sua memória.
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Durante as aulas se trabalhou objetos e fotografias do período citado e na exposição
fotografias e relíquias foram expostas com etiquetas que contavam a origem e histórias dos
objetos
III- Depoimentos de Antigos Moradores e Narrativas Históricas
As narrativas possibilitou reflexões históricas a partir dos depoimentos coletados, e
estas revelam a compreensão dos alunos a respeito da construção histórica da cidade como: O
depoimento de Elizabete que retrata a vida dos imigrantes italianos em Londrina em que os
alunos relataram:
“ ...Essa neta conta a saga da família de Lazari em Londrina e de seus pais Mateus e C.
L De Lalíbera...” “ ...Quando seus avós( os avós de Elizabete) chegaram em Londrina havia
só mata fechada, e que eles derrubavam as matas e vendiam a madeira e depois loteavam as
terras e vendiam propriedades menores para imigrantes que chegavam de outros lugares para
se estabilizarem em Londrina, os quais a maioria cultivavam café.” “... Ela sendo neta de
desbravadores conta que o avô dela comprava terras desmatava e vendia os lotes para
imigrantes. O avô dela tinha propriedades entre a Rua Benjamim e a Rua Sergipe no Centro
de Londrina...” “.... A família de Elizabete sempre foi conservadora as mulheres não eram
participativas de todos os eventos e acontecimentos sociais. Havia padrão de moral e de
costumes, um desses costumes era o acordeom, instrumento que Elizabete sabia dominar..”
“... Entre os anos de 1950 a 1960 toda família queria ter um acordeom era costume daquela
época...” “... Uma coisa interessante que naquela época, as famílias tinham muitos filhos e
seus pais planejaram ter apenas três, eles já conheciam a camisinha. O pai dela foi voluntário
da Segunda Guerra, então ele era bem informado para sua época...”
Sobre o depoimento de Vanderlei Valério a aluna relatou: ” ...ele falou de valores que
se perderam, sobre o consumo desenfreado que leva as pessoas a descartar rapidamente com
muita facilidade objetos que poderiam ainda serem utilizados. Trouxe muitas fotos, objetos,
artigos que são muito interessantes. Por falta de energia elétrica, levantava-se às cinco horas
da manhã, almoçava-se às nove horas e o lanche da tarde era ao meio-dia. Ele não só levou os
objetos, mas fotos de muitas pessoas da família que fizeram muito por Londrina. Ele se
preocupa com a cultura e gostaria que todos dessem o devido valor...”
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Outro depoente, testemunha da História de Londrina, relatou suas memórias aos alunos.
O Sr José Patronio, a partir deste os alunos escreveram: ”... Seu Petronio vivia em meio as
pessoas simples, numa casa simplória, havia um fogão à lenha quando foi trocado por um à
gás isso lhe trouxe muita alegria pois não precisavam mais cortar lenha. Falou que havia
trabalho o ano inteiro, pois enquanto não era época de colheita do café, plantava-se outro tipo
de alimento entre as carreiras de pés de café...” Outro aluno relatou: ”...ele contou que as
ruas eram de terras e muito poeirentas que se lembra que na casa dele tinha poucos objetos
domésticos, não tinha móveis que era apenas bancos para se sentar e uma bacia que usavam
para se banhar...”
Os depoimentos de Elizabete De Lallibera e Vanderlei Valério mostraram o cotidiano
familiar de descendentes italianos, seus usos, hábitos e costumes.
Os alunos ao ouvirem esses depoimentos se mostraram surpresos e até admirados, houve
quem dissesse: “Eu gostaria de ter tido uma família assim” demonstrando empatia histórica
com a depoente citando ainda, que a família era “cuidadosa com os filhos, preservavam
valores”.
Ficaram admirados com ao fato de haver pessoas que naquela época já faziam
planejamento familiar, usando camisinha. Sobre o fato, fizeram comparações lembrando que
os pais de muitos deles tiveram vários filhos e até o momento achavam que era porque não
havia meios contraceptivos na época. Assim estabeleceram comparações a respeito de
informações importantes obtidas por algumas classes sociais da época, enquanto que outras
ficaram esquecidas, compreendendo melhor o seu passado para uma melhor atuação no
presente.
A depoente referiu-se também à importância de famílias numerosas naquele contexto
social e econômico pois estas seriam valiosas para o cultivo na produção cafeeira.
Complementando esse raciocínio histórico, sobre a mão de obra na cultura do café,
observou-se com o depoimento do Sr Joaquim que relatou e os alunos escreveram:
“...Ele relata que quando uma pessoa era contratada para a lavoura de café não perguntavam
quantas pessoas tinha na família mas __Quantas enxadas você tem?” Assim, concluiu-se
que os objetos substituíram pessoas, no momento da grande produção cafeeira, no período de
Pós Segunda Guerra.
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Quanto ao depoimento de José Faustino e José Petronio se - remeteram às migração
interna, no caso do primeiro, um pernambucano que veio para Londrina em um pau-de-
arara, fato este desconhecido pelos alunos até então. No depoimento o mesmo relata detalhes
desta viagem envolvendo emoção/ razão e sobrevivência humana.
O segundo, procedente de São Paulo, vindo para cá também como os demais, buscando
dias melhores nas terras roxas do norte do Paraná.
A memória, o fio condutor desse trabalho, pois, tanto as narrativas, quanto os
depoimentos, vídeos, fotos, ou objetos todos esses recursos, levaram a um lugar comum, a
memória partindo dos objetos. O objeto faz ligações com a cultura e a História. Para
trabalhar dessa forma utilizou-se o seguinte conceito
Fazer interferências sobre as fontes, sobre quem as fez, por que, como podem ter sido utilizadas e como afetaram a vida cotidiana do passado pode levar o historiador a considerar como é que essas pessoas pensavam e se sentiam. Desenvolver esta imaginação histórica esta formulando uma vasta variedade de suposições, é fundamental para se interpretar o passado (apud in CAINELLI, 2006, p. 66).
Os depoentes também trouxeram objetos os quais foram expostos à comunidade escolar
de forma que puderam ser apreciados e analisados historicamente entre os objetos podemos
citar torradores, álbum de fotografias, relógios e outros
IV- A Casa de Fazer Farinha.
Essa narrativa chamou a atenção, até porque a aluna em questão apresentava maiores
dificuldades que os demais quanto à leitura, escrita e produção de texto. Pedimos à mesma
que produzisse narrativa histórica a respeito desta lembrança, a princípio achou que era
“muito difícil”, mas decidiu fazer, após conversar com familiares. Quando esta apresentou o
texto, realizou-se a leitura junto com a professora, para que esta percebesse a organização
das frases que não estavam adequadas, pediu-se para que reescrevesse. No retorno,
apresentou melhoras significativas, sem tanta repetição das palavras e desorganização de
frases. A narrativa apresentava uma evidência histórica muito interessante que levou a
repensar o uso dos livros didáticos. O fato também foi exposto para a sala, a mesma se
mostrou surpresa e orgulhosa ao saber que sua história de família faz parte da história do
Brasil e até foi dito que os engenhos de produção de açúcar, são estudados mas as casas de
fazer farinha, esquecidas. Nos livros didáticos é comum aparecer, os engenhos na produção
da cana- de- açúcar, mas quase nunca “Casas de Fazer Farinha” tão importante quanto os
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engenhos, pois se trata da produção alimentícia para os escravos e os não escravos. A
narrativa descrevia objetos usados para fazer farinha conforme seu pai fazia. E para saber
sobre o que a aluna narrava recorreu-se à internet para obter as informações e confrontar os
dados. Descobriu-se que os objetos citados eram justamente os usados nessa produção que
vem desde o período colonial brasileiro sobre isso a aluna relata: “ A casa de fazer farinha de
mandioca foi feita pelos meus pais .....Mas eles já conheciam essa produção que era cultivada
junto com os pais deles....Os objetos que são utilizados para fazer a farinha são estes: A roda,
o ralo, o forno, a peneira e a prensa...Com o passar do tempo não utilizamos a roda de
madeira. O trabalho é feito com o motor facilitando cada dia mais para fazer farinha.”
O texto revela uma evidência histórica em que o sujeito histórico não tem consciência
da importância histórica de sua produção histórica cultural, o que implica em não dar valor ao
que se sabe e preserva. Percebeu-se também transformações tecnológicas que modificam a
forma de produzir mesmo que em produções específicas que resistem a transformações. No
ensino de História através de narrativas enriquecem o ensino valorizando o educando que no
caso desta, percebeu modificações até no trato consigo mesma quanto à sua apresentação
pessoal, quanto a expressão e uso de roupas e cabelos. As narrativas, como também foi o
caso desta, eram repassadas oralmente, aos demais alunos. Nesses momentos discutiu-se
vários conceitos ou conteúdos, neste caso o de cultura, além de falar sobre o período do
Brasil Colonial em que se plantavam cana-de-açúcar em grandes latifúndios, no sistema de
trabalho escravo em que a alimentação era à base de mandioca, comparou-se esse período
histórico com esse estudo em questão no que diz respeito ao sistema econômico, alem de
comentar sobre a primeira Constituição Brasileira de 1824 conhecida como a Constituição da
Mandioca.
A partir da narrativa que foi exposta para a sala, trabalhou-se também cultura brasileira
lembrando hábitos alimentares (feijoada, feijão com arroz, mandioca e outros). Os alunos
perceberam que a farinha de mandioca é usada nos restaurantes e nas casas dos brasileiros
E a essência da cultura nos atinge através da memória. Ao lado da história escrita das datas das descrições de períodos, há correntes do passado que só desaparecem na aparência e que podem reviver numa rua, numa sala, em certas pessoas, como ilhas efêmeras de um estilo, de uma maneira de pensar, sentir que são resquícios de outras épocas. (Menezes.L. Medeiros e Silva. M. de F. de Souza-2004,)
A produção material cultural é produzida pelo homem desde a pré-história:
Paleolítico, Neolítico e Idade dos metais. Os seres humanos são essencialmente, produtores
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de objetos, em qualquer tempo ou lugar e deles dependem para sobreviver. Esse pensar
histórico remeteu-se à Londrina de cinqüenta anos atrás em que grande parte das casas eram
construídas com madeira nobre, principalmente, a peroba, hoje em extinção. Período que a
floresta natural foi substituída pelo plantio de algodão em seguida dos cafezais. Utilizando
suas memórias a aluna relata: . “... Eu adorava ir na casa que a minha vó tinha aqui no
centro era de madeira eu ainda me lembro do barulho do assoalho...” “ Ela (a avó da aluna)
já trocou de casa, hoje é de tijolos , trocou o fogão á lenha pelo de gás, o bule pela cafeteira e
outros objetos, que com o passar do tempo foram se modificando. A cama ainda é a mesma,
a mesa e as cadeiras ainda são os mesmos, como será daqui a 50 anos?” Observou-se que a
aluna tem lembranças até do barulho do assoalho, demonstrou saudades, se preocupou e fez
projeção para o futuro. Comparou observando, permanências e transformações, demonstrando
preocupação quanto ao futuro, diante da grande substituição de objetos. O espaço rural
londrinense era modificado pela monocultura cafeeira para atender a interesses econômicos.
Outra aluna relata “ A sociedade do consumo é a sociedade do descartável onde nem todos
tem dinheiro para se dar a esse luxo. O descartável depois de utilizado ainda pode ser
vendido e também pode ser utilizado para outros fins.” “ As pessoas são muito estranhas,
elas vão fazer compras, chega na loja olha um objeto e gosta, compra por exemplo um jogo de
sofá, passa um ano já está na garagem abandonado, pegando pó, imediatamente vai nas casas
de comercio e compra outro sofá mais moderno e confortável.” No primeiro trecho a aluna
analisou apenas o conceito trabalhado, a segunda utilizou o conceito e deu significado,
transferiu para o texto sua experiência. Quando se trabalha com objetos se liga à questão do
tempo, presente passado e futuro e também à questão do espaço indispensável no estudo da
História. Este conceito foi retrabalhado, porque a turma recebeu uma aluna, com o curso em
andamento, e esta é de origem ucraniana. Quando a mesma trouxe sua narrativa sobre sua
relação com objetos e história de vida notou-se a sua origem, ucraniana, a qual aproveitou-se
para dar noções sobre imigração em Londrina e calendários: Juliano e gregoriano. Foi
interessante, por que a aluna pesquisou e informou que um grupo de ucranianos no qual
vieram seus avós, vieram morar em Apucarana por volta de 1944, fato que a levou a fazer
pesquisas para confrontar os dados. Neste período Apucarana pertencia a Londrina, fato
desconhecido pelos alunos até então. Com este pensar concordamos com Norbert Elias
(1998, p.13)
O individuo não tem a capacidade de forjar, por si só o conceito de tempo. Este tal como a instituição que lhe é insuperável, vai sendo assimilado pela criança à medida que ela cresce em uma sociedade em que ambas as coisas
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são tidas como evidentes. Numa sociedade assim, o conceito de tempo não é objeto de uma aprendizagem em uma simples qualidade de instrumento de uma reflexão destinada a encontrar seu resultado em tratados de filosofia; ao crescer, com efeito, toda criança vai se familiarizando com o tempo como um símbolo de instituição social cujo caráter coercitivo ela conhece desde cedo. (apud in CAINELLI, 2006, p. 65).
A chegada da aluna no curso em andamento exigiu novas estratégias. A partir destes
estudos pode-se reforçar a noção de tempo histórico , e calendário partindo da história da
aluna, que trouxe para a exposição um calendário Juliano, assim outros alunos reconheceram
entre seus pares uma cultura e uma contagem de tempo diferente, agregada à nossa história.
V- Questão Interdisciplinar: Ciências, Artes e História
Com a intenção de realizar novas leituras a respeito da utilização e substituição de
objetos assim convidamos a Professora de Ciências para um trabalho interdisciplinar
utilizando o tema: “A super utilização de objetos” problematizando a substituição exagerada
de objetos que se intensificou a partir de 1950. Importa lembrar que, alunos já tinham
assistido ao Vídeo “A História das Coisas”, o mesmo foi reapresentado para os convidados,
alunos do curso de Ciências. Com essa forma de trabalho foi nosso propósito que os alunos
refletissem sobre a postura do cidadão frente ao exagero de consumo. Quando se fala em
consumo inevitavelmente se pensa em capitalismo que.
Para Marx o capitalismo é um determinado modo de produção de mercadorias ( mercadorias são objetos que têm a função de serem trocados e não de serem usados) que surge especificamente durante a Idade Moderna que chega ao seu desenvolvimento completo durante a implementação da Revolução Tecnológica com Revolução Industrial. http://lupiglauco.vilabol.uol.com.br/capitalismo.htm
Os alunos trouxessem objetos usados na década de 1950, 1960, a 1975,e estes também
foram expostos no Museu Escolar, e em sala, refletiram a respeito das antigas e novas
tecnologias. O vídeo alertava sobre o uso demasiado de objetos principalmente, os que
trazem danos à saúde e ao meio ambiente, quando descartados, como: pilhas, baterias,
lâmpadas e outros.
Esta aula foi rica quanto à interação de aluno de cursos diferentes, e professores de
diferentes disciplinas, cada uma contribuindo no processo de ensino aprendizagem segundo
seu conhecimento e disciplina.
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Os alunos, já adultos, fizeram várias intervenções, dando suas opiniões a respeito da
coleta de lixo em Londrina, uso e substituição de objetos. Questionaram a respeito de políticas
públicas quanto à forma de fazer e armazenar lixo.
Nesta aula se estabeleceu um grande diálogo entre as duas turmas com a participação
das professoras. Ao final os alunos concluíram que seria importante que cada Escola tivesse
um local que pudesse recolher lixo reciclável, porém entendemos que este seria tema para um
outro projeto.
O segundo encontro interdisciplinar foi realizado com a professora de Arte. O material
didático-pedagógico utilizado foi organizado pelos alunos do curso em questão, um arquivo
composto por cartões telefônicos reportando à história de Londrina normalmente, cartões
encontrado em carteiras, gavetas e bolsos das pessoas na cidade. Existem muitos
colecionadores desses preciosos documentos. Este arquivo foi usado pela professora em aulas
de arte e agora houve uma reutilização, agora por História..
Em 2008 combinou-se com a Professora de Arte sua participação nesse projeto e esta
considerou importante realizar esse trabalho em História, porém a mesma foi impedida de
participar, dada a sua carga horária em outro colégio, pois o horário, de 2008 já não era o
mesmo em 2009 então a mesma nos orientou o seguinte:
1 – Escanear os cartões e utilizar a TV Pen drive para fazer uma melhor exposição;
2- Os cartões foram distribuídos, aos alunos os quais podiam ser lidos no verso onde se
encontra de forma bem resumida o histórico da cidade;
Os alunos perceberam que a história está presente em cada objeto..
Através dos Cartões os objetos históricos da cidade foram analisados e ficou evidente a
produção cafeeira, com nomes de lugares, ruas, praças e outros.
Cada aluno escolheu um cartão telefônico e produziu uma gravura, uma narrativa através da
imagem. Esse momento foi oportuno para trabalhar o conceito de Fontes Históricas
Primárias.
As fontes primárias são consideradas documentos históricos tais como: utensílios, mobiliários, roupas, ornamentos pessoais ou coletivos, armas, símbolos, instrumentos de trabalho, construções, templos, casa, sepulturas, esculturas moedas, restos humanos ou de animais, ruínas e nomes de lugares. Os documentos escritos também são fontes primárias assim como as fontes
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visuais: caricaturas, fotografias,, gravuras, filmes, vídeos, programas de TV, entre outros. (CAINELLI p. 96, 2004)
Esse trabalho foi simples e prazeroso em que alunos puderam se expressar através da
Arte pensando a História além de compreender que objetos são importantes documentos
históricos que retratam o pensar e o fazer de uma cidade. Na organização do Museu Escolar
esses trabalhos foram expostos revelando o Ensino da História na Arte.
VI - A exposição de fotos e a História de Londrina
O estudo de objetos em exposição onde concretizou-se o conceito de objetos
históricos, usos e substituições, após a Segunda Guerra Mundial, acrescentando outros
conceitos tais como: capitalismo, migração, imigração, importação, exportação. Os alunos
organizaram e expuseram no Museu Escolar as fotos e sobre as quais refletiram e analisaram
a transformação dos objetos históricos tais como: casas, prédios e outros. Os próprios alunos
fotografaram o momento onde expunham os trabalhos. Essa exposição demorou um mês para
que se realizasse, pois a cada dia pediu-se que trouxessem as fotos e as pesquisas, não foi
tarefa fácil. Pelo fato de serem trabalhadores vinham diretamente, do trabalho para a escola,
nosso material chegou aos poucos. Foi importante a realização desta exposição para se
concretizar a idéia de que existem variados “Objetos históricos” na construção histórica de
Londrina como: casas, prédios, nomes de ruas, esculturas, símbolos, instrumentos e outros
Com esse trabalho perceberam que a Cultura e a Memória estão presentes no
imaginário da população e isto está representado em nomes de ruas e prédios da cidade. Na
exposição havia varias fotos, recortes de jornal, pesquisas a respeito da História de Londrina
tais como: Breve Histórica Universidade - UEL inaugurada em 1970, breve Histórico do
VGD- Estádio Vitorino Gonçalves Dias, fotos da Inauguração do Aeroporto em 1956, Estádio
do Café inaugurado em 1976, Breve histórico da Indústria Cacique Café Solúvel, Museu
Histórico de Londrina, histórico das Catedrais de Londrina, Cine: Ouro Verde, entre outros.
O objeto sugere fatos, processos e idéias e, desta forma potencia o conhecimento significativo de um determinado período – histórico - cronológico. (CAINELLI, 2004,p40).
Antes da exposição, em sala de aula, expuseram oralmente suas pesquisas, pois não eram
extensas e fizeram comentários sobre as mesmas, muitas vezes admirados com as
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modificações apresentadas na área urbana percebendo a importância do Café na construção
econômica e cultural da cidade observando nomes de lugares e ruas.
VII - A Organização do Museu Escolar.
Nossa última e esperada etapa foi a culminância do trabalho. Todo o trabalho
realizado tanto em narrativas, quanto em objetos e painéis foram expostos de tal forma
organizado que o público pode se identificar de acordo com a origem e história do objeto e
estabelecer relação com os sujeitos no tempo e espaço histórico. Os alunos e a comunidade
escolar colaboraram para que tal atividade pudesse se realizar. O objetivo ao fazer este
projeto foi dar voz aos diferentes sujeitos histórica e através de seus objetos, saber da cultura,
da memória e utilizar como estudos históricos. Assim os alunos foram instrumentalizados
com diferentes saberes históricos relacionados à história de Londrina. É importante
acrescentar que os objetos desenvolveram nos alunos a capacidade histórica de imaginação e
empatia com isso puderam analisar a história a partir de novos olhares.
A Pedagoga da Escola, fez a seguinte avaliação a respeito do trabalho: “A professora
procurou registrar a história dos objetos, dando voz aos alunos, ou seja, apresentando, junto
aos objetos, a história, origem, contada pelo seu dono/herdeiro. Os alunos trouxeram torrador
de café, moinhos, relógio do período em estudo, álbuns de fotografias, objetos pessoais
(navalha, mala, caneta tinteiro), instrumentos musicais, coleção de santos, coleção de cédulas,
eletrodomésticos (ferro de passar, rádio, liquidificador), garrafas, telefone, abajur a vela,
chaleira, espelhos, lamparina, quadros, pilão, fotos (de festas, de casamentos, de famílias,
tiradas por profissionais da época ou pelos familiares e amigos), publicações do período
(livros, revistas, e jornais). Todos esses objetos foram expostos no espaço escolar (com
identificações e apresentações escritas feitas pelos alunos), para que toda a comunidade
escolar pudesse apreciar, ler indagar... O museu ficou exposto por dois dias em que toda a
escola pode se emocionar, revivendo, recordando, o que ocorreu e como foram os anos
1950 a 1975, história contada a partir dos objetos colhidos pelos próprios alunos.
Gostaríamos de salientar que o trabalho realizado, como um todo, vem contextualizar e
re(significar) o estudo da História.”
Organizando o museu lidou-se com objetos da população local muito próxima assim a
História ficou repleta de investigações criadas a partir de realidades cotidianas, possíveis de
análises daqueles que observavam, de sorte que os sujeitos que se relacionam com esses
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objetos podem se posicionar a respeito dos fatos esclarecendo, dialogando sobre hábitos, usos
costumes, tecnologias.
A História Local possibilita gerar atividades investigativas, criadas a partir da realidade cotidianas: O trabalho informações em arquivos e perguntar-se sobre o sentido das coisas”. (SCHMIDT, 2004, p.191)
Em meio a questões tão ricas quanto à organização e apresentação do Museu Escolar
os alunos se posicionaram a respeito: “Eu considerei importante o que aprendi muitas
coisas que eu não dava valor e hoje passei a dar. O que eu aprendi vou levar para o resto da
vida.” “ Eu aprendi que as pessoas guardam seus objetos antigos com carinho que faz parte
da história das pessoas” “De alguma forma me fez lembrar algo do meu passado e que tudo
que temos devemos as pessoas que lutaram e conquistaram essas coisas e que naquela época
já podiam ser tão criativos” -“ Pouco importante, pois não pude trazer tudo o que quis expor.
Aprendi que muitas pessoas gostam de reviver o passado lembrar e ouvir histórias de muito
tempo atrás. E que outras pessoas não gostam porque sofreram muito, elas se recordam da
pobreza e da escassez. Acho que é muito importante esse trabalho e que não podemos deixar
as raízes históricas cair no esquecimento.” “ Aprendi que é importante respeitar nossas
origens, até para mim contar para meus filhos saber como era Londrina na década de 50. Foi
muito bom.” “ Aprendi que as pessoas guardam seus objetos antigos como lembrança para
mostrar para filhos netos e jovens.”
No terceiro texto, a aluna, deu voz a colegas que tiveram dificuldades em trabalhar
com questões de memória pois os mesmos recordavam coisas que queriam esquecer tais como
separação de pais, abandono de família, morte e outros fatos que lidam com a emoção.
VIII - Considerações finais.
O trabalho com museu implica em lidar com razão e emoção, dois aspectos humanos
que não se separam da História. Quando se trabalha com museu de fato se (re) significa as
fontes históricas primárias. O Museu Escolar estabelece ligações e valoriza a comunidade
escolar, como um todo, pois, dela é retirado recursos pedagógicos com os quais se trabalha.
Expõe cultura material valorizando objetos históricos da população que se aproxima da
Escola enquanto instituição que promove saber e cultura. Essas novas leituras históricas
fugiu do história tradicional contada nos livros didáticos, conforme o proposto no projeto. A
História Local auxiliou em conteúdos previstos nos Parâmetros Curriculares. A História de
Londrina foi (re) significada quando pessoas da comunidade revelaram suas memórias. Os
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objetos guardados escondidos foram trazidos á exposição para que pudessem ser analisados,
apreciados historicamente.
A partir dos objetos estabeleceu-se diálogos e reflexões que permitiu aos alunos,
estabelecer comparações perceber transformações, permanências na sociedade como um
todo. Os depoimentos foram fundamentais nesse trabalho para que fosse repensada a história
de Londrina
Ao realizar esse trabalho recebemos grande apoio de colegas e Equipe Pedagógica. As
relações interdisciplinares foi de grande valia, me refiro a elaboração do arquivo de cartões
telefônicos feitos pelos alunos de Arte que muito colaborou com esse trabalho. Outro fato
interessante foi a participação da professora de Ciência e seus alunos que ofereceram sua
colaboração e seu conhecimento enriquecendo nosso trabalho. Quanto a comunidade escolar
de maneira geral nos auxiliaram desde a Bibliotecária, Equipe Pedagógica Administrativos,
Serviços Gerais e Professores. Dessa maneira a Escola como um todo se tornou colaborativa,
mais propícia para o Ensino.
As narrativas foram instrumentos valiosos nessa avaliação de ensino/aprendizagem, as
mesmas ofereciam dados importantes para o prosseguimento ou retrocesso do trabalho. Este
fazer exigiu um constante pensar e repensar da prática pedagógica no Ensino de História.
Concluiu-se que a partir do que os alunos sabem, dos objetos que os mesmos tem, com
certeza pode-se qualificar e humanizar o Ensino, valorizando o educando, assim como a
comunidade escolar.
24
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