DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009odo em que surge o ser humano na face da Terra. É o período da...

29
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

Transcript of DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009odo em que surge o ser humano na face da Terra. É o período da...

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1 Professora Pedagoga PDE 2099 da Rede Estadual de Ensino do Paraná, com graduação em Pedagogia e

especialização em Psicopedagogia,atuando na Escola Estadual Agostinho Stefanello-E.F.

2 Professora Assistente da FAFIPA, Curso de Pedagogia. Mestre em Educação pela UEM.

O PAPEL DA FAMÍLIA NO PROCESSO PEDAGÓGICO ESCOLAR: interações e

possibilidades

Maria Luiza Rosini1

Rita de Cássia Pizoli2

RESUMO

O presente artigo objetiva apresentar os resultados da pesquisa-ação realizada numa escola pública do noroeste do Paraná durante o desenvolvimento do programa PDE. A partir da constatação de violência, indisciplina, conflitos, baixa frequência e principalmente ausência da família foram planejadas ações para buscar a interação entre as famílias e os alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem. Após o estudo sistemático das implicações históricas que perpassam a relação família-escola na sociedade contemporânea, buscou-se realizar encontros com as famílias, cujas reflexões foram compiladas em uma cartilha pedagógica para este fim. Os resultados sinalizaram que é necessário buscar formas de adesão da família para assim qualificar a aprendizagem e garantir a continuidade entre educação familiar e escolar. A forma como deve se dar este intercâmbio e como torná-lo viável no cotidiano escolar são as principais reflexões deste trabalho que visa criar, no processo pedagógico cotidiano, meios e estratégias junto aos pais e professores, para o desenvolvimento de uma melhor interação entre Família/Escola, disponibilizando instrumentos para melhorar o desempenho acadêmico dos alunos.

Palavras-chaves: Educação Básica. Interação família-escola. Processo de ensino-

aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

De todas as espécies existentes no Planeta Terra, o homem é o que possui o

período de infância maior e consequentemente é o mais dependente ao nascer. Por

isso exige cuidados como alimentação, higienização, proteção e abrigo, além de

afetividade e calor humano. O homem não nasce homem. Não basta apenas estar

vivo para se tornar humano. O homem para se tornar humano deve ser educado.

Isto é o que o diferencia dos outros seres. Um dos princípios de Vygotsky é que o

homem transforma-se de biológico em sócio-histórico, num processo em que a

cultura é parte essencial da constituição da natureza humana.

Nesse sentido, a Educação possui um papel imprescindível. Não há como

escapar dela. Ela está em toda parte. Na rua, na escola, em casa, na igreja, no

clube. Não há uma única forma, nem um único modelo de Educação (BRANDÃO,

1981). É através dela que a criança torna seu, aquilo que a humanidade

desenvolveu ao longo da História.

As duas maiores instituições responsáveis pela Educação na

contemporaneidade são “a Família e a Escola”. São nelas que passamos boa parte

de nossas vidas. Ambas são responsáveis pela formação das novas gerações.

A família é o primeiro grupo social a qual o ser humano pertence. Ela é a

responsável pelo desenvolvimento da individualidade, pela subjetividade, da

socialização, do sentimento de pertença, além dos fundamentos das funções

psicológicas rudimentares e superiores como o raciocínio, a memória lógica, a

abstração, a capacidade de análise e síntese. Funções estas que serão

desenvolvidas e aperfeiçoadas mais tarde pela Escola. Além disso, a Escola

também tem como função básica disponibilizar para o aluno o patrimônio científico e

cultural historicamente acumulado pela humanidade.

Entretanto para compreendermos mais profundamente essas duas

instituições, família e escola, e abarcarmos verdadeiramente quais seus respectivos

papéis na educação de nossas crianças, é necessário que se faça um resgate

histórico sobre as transformações ocorridas com ambas no decorrer do tempo e da

história.

2 GÊNESES DA FAMÍLIA

O Homem, desde sua origem sempre procurou organizar-se em grupos,

buscando a proteção da espécie, a sobrevivência e o domínio da natureza. Para isso

agrupou-se em clãs ou tribos e ao longo da história foi estabelecendo leis e regras

de convivência. Dessa necessidade de organizar-se em grupo surge a Família.

Família vem do latim FAMULUS e significa escravo. IA no latim é plural. Logo,

família pode ser traduzida como “conjunto de escravo”. No minidicionário Luft (p.321)

encontraremos Família com os seguintes significados:

1. Núcleo parental, formado por pai, mãe e filhos;

2. Pessoa do mesmo sangue, parentela;

3. Linhagem, estirpe;

4. Grupo de gêneros de animais ou plantas com caracteres comuns;

5. Conjunto de tipos com as mesmas características básicas.

Em seu livro, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado,

Engels (1884), a partir dos estudos de L. H. Morgan e de anotações feitas por Karl

Max, mostra-nos a evolução da humanidade e paralelamente o desenvolvimento da

Família. Baseados no pressuposto de que, a maneira como vivem e se organizam

os homens de uma determinada época ou determinado local está fundamentado em

dois aspectos importantes: o grau de desenvolvimento do trabalho e por outro lado

da família. De acordo com os estudos de Engels (1884, p.16), a sociedade primitiva

está divida em três estágios principais de desenvolvimento, que são: Estado

Selvagem, Barbárie e a Civilização.

O primeiro estágio do desenvolvimento humano é denominado Estado

Selvagem. É o período em que predomina a apropriação dos produtos da natureza,

prontos para serem utilizados. Ela se subdivide em três fases. A Fase Inferior é o

período em que surge o ser humano na face da Terra. É o período da infância do ser

humano. Vivem parcialmente nas árvores. Colhiam frutos, nozes e raízes para

servirem como alimento. O principal progresso dessa fase é formação da linguagem

articulada. A Fase Média começa com a utilização do peixe na alimentação e com o

uso do fogo. Com isso, os homens fizeram-se independentes do clima e da

localidade e puderam se espalhar por sobre a maior parte da superfície da Terra.

Começam a usar toscos instrumentos de pedras. É a chamada Idade da Pedra. A

Fase Superior inicia com a invenção do arco e da flecha. Com isso, a caça passa ser

uma atividade costumeira. Há indícios de residência fixa em algumas aldeias e

começa a produção de instrumentos de subsistência como vasos e utensílios de

madeira e instrumentos de pedra polida (Período Neolítico), como o machado.

Todas essas invenções pressupõem grande experiência acumulada e faculdades

mentais superiores desenvolvidas.

No início desse período do desenvolvimento histórico da Humanidade não é

possível ainda falar de família, não há formado ainda um sentimento familiar. As

relações carnais eram reguladas por uma promiscuidade tolerante, isto é todas as

mulheres eram de todos os homens e todos os homens eram de todas as mulheres.

Pais e filhos, irmãos e irmãs, gerações diferentes, todos possuíam relações carnais

entre si, não havendo ainda regras ou barreiras impostas pela cultura, nem mesmo o

matrimônio ou sistema de parentesco culturalmente definidos. Com o

desenvolvimento da idéia do incesto, a relação entre pais e filhos é abolida. Surge

então, o primeiro tipo de organização familiar na História denominada de “Família

Consanguínea”.

Na fase superior deste período começa a se excluir da relação sexual irmãos

e irmãs entre si e com isso aparece a “Família Punaluana”, surgindo assim o

casamento por grupos, ou seja, os membros de um grupo casam com os de outro

grupo, mas não entre si. Nesta forma de família não se pode dizer com certeza

quem é o pai de uma criança, mas sabe-se quem é a mãe. Há a ausência do papel

paterno, pois além de não poder se estabelecer com clareza quem é o pai, os

homens saiam à procura de alimentos e as mulheres ficavam nos acampamentos

com os filhos. Com isso, só era possível estabelecer a linhagem da criança por parte

da mãe. Por causa disso, a mulher ganhou grande status e gozava de muita

liberdade.

No segundo estágio, que é denominado de Barbárie, surgem a criação do

gado e a agricultura, com o início do incremento da produção através do trabalho.

Também se subdivide em três fases. A Fase Inferior inicia com a descoberta e a

utilização da cerâmica. Na Fase Média principia-se a diferenciação de

desenvolvimento entre os diversos povos existentes devido principalmente a

domesticação e a criação de animais e o cultivo de plantas, que de acordo com as

condições naturais de cada localidade desenvolveu-se mais um ou outro. A Fase

Superior inicia com a fundição do ferro e onde há um avanço que supera todas as

outras fases juntas, com invenção de instrumentos elaborados de trabalho como

arado puxado por animais, barcos, foles de forja, do moinho a mão, da roda de

olaria, da preparação do azeite e do vinho, de carretas e carros de guerra, de

cidades amuralhadas com torres. São desse período os povos gregos da época

heroica, as tribos ítalas pouco antes da fundação de Roma, os Germanos e

Normandos.

A Família nesta fase passa por grandes evoluções. Aos poucos, o

relacionamento entre grupo se reduz a sua unidade mínima, isto é, ao par, um

homem e uma mulher, mas de maneira tal que a poligamia e a infidelidade

continuam a ser um direito dos homens. É a chamada “Família Sindiásmica”. O

homem possuía uma mulher principal, podendo ter outras mulheres. Por outro lado,

exige-se por parte das mulheres uma rigorosa fidelidade. Com isso, ao lado da

verdadeira mãe foi posto o verdadeiro pai. O vínculo conjugal, porém dissolvia-se

com facilidade tanto por uma ou por outra parte. Neste caso, os filhos pertenciam

exclusivamente à mãe.

No período de transição entre a fase média e a fase superior da barbárie

começa a surgir a “Família Monogâmica e Patriarcal”, alcançando sua plenitude na

fase da Civilização.

Enfim, no último estágio de desenvolvimento humano, chamado de

Civilização, inicia com a invenção da escrita alfabética, em que o homem amplia a

elaboração dos produtos naturais. Período da indústria e da arte.

Nessa fase do desenvolvimento, a família Monogâmica se fortalece e passa a

se basear no predomínio do homem. A finalidade da família é a procriação dos

filhos. Os laços conjugais já não podem ser rompidos. Só o homem pode fazê-lo. A

fidelidade conjugal, principalmente por parte da esposa é condição para o

reconhecimento de filhos legítimos, por isso, exige-se da mulher que guarde uma

castidade e fidelidade conjugal rigorosa. A paternidade deve ser indiscutível, pois os

filhos herdarão os bens do pai. A propriedade é passada de geração em geração.

Existe a necessidade de demarcação de território e a constituição da propriedade

privada. Como diz Engels:

A monogamia nasceu da concentração de grandes riquezas nas mesmas mãos - um homem- e do desejo de transmitir essas riquezas, por herança, aos filhos deste homem, excluídos os filhos de qualquer outro (1884, p.24).

Vale ressaltar também que de acordo com o referido autor (1884), a Monogamia

não surge como uma forma de amor entre o homem e a mulher, ou como uma forma

mais elevada do matrimônio. Pelo contrário, baseia-se em condições econômicas,

ou seja, uma forma de garantir o direito a propriedade privada. Também surge sob a

forma de escravidão, de um sexo pelo outro. A monogamia se constitui a primeira

divisão de classes, a primeira opressão de classes. A opressão do sexo masculino

em cima do sexo feminino. A monogamia foi, sem dúvida, um grande progresso

histórico, mas iniciou juntamente com a escravidão e as riquezas privadas, o período

de nossa História que dura até hoje e que se constitui as bases do sistema

capitalista, onde o bem-estar de uns se dá à custa da exploração de outros. Porém a

Monogamia trouxe consigo o embrião do maior progresso moral que lhe devemos: “o

amor sexual individual moderno”, anteriormente desconhecido do mundo e que irá

se desenvolver a partir do final da Idade Média e no início da Idade Moderna.

Sintetizando as ideias colocadas até aqui, podemos afirmar que há três formas

principais de matrimônio, que correspondem aos três estágios da evolução humana.

Ao estado selvagem corresponde o matrimônio por grupo, ao período da barbárie

corresponde o casamento sindiásmico e monogamia corresponde à civilização.

Quanto à cultura greco-romana, podemos afirmar que vivenciaram o tipo de

família monogâmica e patriarcal, traduzindo-a para o cotidiano de forma bem rígida.

Entre os gregos encontramos, antes da Monogamia, mulheres que ocupavam uma

posição mais livre e de maior consideração. Nos tempos heroicos, onde predomina a

Monogamia, encontramos a mulher grega humilhada pelo predomínio dos homens e

pela concorrência das escravas. Os filhos nascidos das escravas recebiam pequena

parte da herança paterna e eram considerados homens livres. Quanto à mulher

legítima, exige-se dela que tolere a infidelidade do marido e por sua vez guarde uma

castidade e uma fidelidade conjugal rigorosa. Já o direito romano conferia ao pai o

direito de vida e morte sobre todos os que vivam sob suas ordens: esposa, filhos,

escravos. Porém a mulher era mais livre e mais considerada, além disso, ela podia

romper o vínculo matrimonial à sua vontade, tal como o homem. O maior progresso

da Monogamia se deu através dos povos germanos, onde as mulheres gozavam da

mais elevada consideração e exerciam grande influência até nos assuntos políticos

(ENGELS,1884).

Com base nos estudos de Philippe Áries (1981), podemos verificar que da

Antiguidade até a Idade Média não ocorreram grandes mudanças no formato da

Família. No século X, a família ainda não existia como sentimento, a casa era quase

que, um local público, permanentemente aberta aos visitantes. Não havia

privacidade nos cômodos, se fazia várias coisas na sala: se comia, se dançava, se

trabalhava e se recebia visitas Também não havia significado de infância, as

crianças eram tratadas como adulto em miniaturas. Era costume das famílias

enviarem seus filhos depois dos sete anos para casa de outra família, para que

aprendessem a fazer os serviços domésticos. Era muito comum esse tipo de

Educação. A Igreja e o Estado passaram a disputar a quem caberia a prerrogativa

de estabelecer o contrato nupcial. Até o final da Idade Média, o casamento

continuou sendo o que tinha sido desde o início de sua origem; um contrato firmado

pelas partes interessadas.

De acordo com Àries (1981), é a partir do século XIV que começam ocorrer

mudanças significativas na família. Mudanças essas que vão até o século XVII.

Durante esse período, as famílias passam a modificar suas relações com a criança,

substituindo a aprendizagem doméstica pela escola. As atividades da casa passam

serem desenvolvidas em locais específicos, havendo assim maior espaço para a

intimidade da família. No entanto, as mudanças ocorridas da Família Medieval para

a Família Moderna a princípio se limitaram apenas às classes pobres. Somente após

o século XIX estas mudanças passam a se estender a todas as camadas sociais,

devido principalmente à industrialização.

Com isso, a família assume novas funções e se consolida como lugar da

afetividade, o casamento se dá por escolha dos parceiros, com base no amor

romântico, há novas formulações para os papéis do homem e da mulher. Mesmo

diante desses avanços ainda restaram resquícios da família patriarcal moderna até o

século XX. Podemos considerar que as bases da família e do casamento estão

fortemente ligadas com o capitalismo e essa instituição vai mudando e se adaptando

às demandas econômicas. Até mesmo o amor é um sentimento constantemente

formatado por meio da ideologia.

No Brasil, a história da Família inicia-se no período de Colonização, onde

predomina, como na Europa, o Sistema de Família Monogâmica e Patriarcal. Este

tipo de Família é encontrado tanto entre os grandes proprietários de terra como

também entre os profissionais liberais, comerciantes e militares. Segundo Gilberto

Freire (1993), neste modelo de Família cabia ao pai o papel principal e determinante

em todas as relações entre mãe, filhos, empregados e escravos. O pai é o grande

proprietário das terras, dos bens e das pessoas que moram em suas terras. A ele

cabem todas as decisões e o destino das pessoas. Tudo é voltado para a

manutenção da propriedade privada, por isso não há preocupação com a Sociedade

ou com o Estado, nem com a formação de cidadãos. As esposas e filhas tinham que

ser dóceis e submissas. Saem pouquíssimas vezes de casa, não aparecem para as

visitas, são proibidas de estudar e casam-se cedo. Tem vários filhos. Os maridos

para as filhas são escolhidos pelos pais, sendo o critério principal de escolha, aquele

que possuísse maiores posses. Os filhos homens tinham outra função: ao mais

velho cabia herdar e administrar os bens do pai, ao segundo era destinada à carreira

eclesiástica. O terceiro deveria estudar e se tornar doutor, provavelmente médico ou

advogado (LORENSETI, 2006).

Desse modo, a Família Patriarcal era composta por um extenso grupo, cujos

membros eram formados pelo casal, seus filhos legítimos, parentes, afilhados,

agregados, escravos e até mesmo concubinas e filhos bastardos, todos abrigados

sobre o mesmo teto (BRUSCHINI, 2002).

O modelo de Família Monogâmica e Patriarcal predominou durante muito

tempo, desde os tempos da Colônia até o nascimento da República, estendendo-se

até meados do século XX. Vale ressaltar aqui, que na época dos Senhores de

Engenho e dos Barões de Café, este modelo era só predominante nas classes

dominantes. Nas classes mais pobres era comum o concubinato, o qual isentava o

homem das responsabilidades para com os filhos. Enquanto isso, os escravos eram

impedidos de formar famílias regulares.

A Família Monogâmica e patriarcal foi responsável por fortes influências na

formação social e cultural da população brasileira. Podemos citar como exemplo

dessa influência atitudes como: o machismo, a submissão da mulher, a educação

diferenciada entre meninos e meninas, o preconceito e desrespeito para com os

empregados domésticos, mesmo quando não são mais escravos.

A partir da década de 1950, de acordo com Porreca (2009), intensifica-se o

processo de modernização do País, tanto na dimensão econômica como política.

Isto gerou grandes e profundas transformações sociais e culturais, como a

concentração de renda, a pauperização de grande parte da população e o aumento

da força de trabalho infanto-juvenil. O setor da indústria dá um grande salto e passa

a ofertar produtos até então inacessíveis para a maioria da população. Amplia-se o

uso de aparelhos de televisão, rádio, telefone. O país tem um grande avanço

econômico que acaba promovendo a concentração de renda e a centralização do

capital.

Com o processo de urbanização, as grandes cidades passam a possuir uma

densidade demográfica nunca vista antes. O fenômeno do êxodo rural se acentua,

provocando mudanças na ocupação do espaço urbano, como o surgimento de

favelas, o desaparecimento da vizinhança e o inchaço populacional nas grandes

cidades.

Frente ao acentuado empobrecimento de uma grande parte da população e a

necessidade de se adquirir novos bens de consumo, surge a necessidade da

contribuição do salário da mulher, que passa então a fazer parte do mercado de

trabalho.

Todas essas mudanças acarretaram transformações não só no perfil da

família brasileira, mas como também em todo mundo ocidental. A instituição familiar

assume novas formas e contornos. O movimento feminista, a entrada da mulher no

mercado de trabalho, a mudança de valores na criação dos filhos, a invenção da

pílula anticoncepcional que separa radicalmente a sexualidade da reprodução,

quebra de tabus como a virgindade, movimentos culturais e sociais, como hippie,

punk que pregam a liberdade sexual e individual, a instituição do divórcio são

exemplos de alguns fatores que contribuíram para a modificação do perfil da família

tradicional, fazendo surgir novos “arranjos familiares”, termo utilizado pela

pesquisadora Elza Berquó (1988).

A Família Nuclear, caracterizada pela presença do pai, da mãe e dos filhos,

ainda permanece e predomina nos dias atuais, apesar do número de filhos terem

sido reduzidos consideravelmente. A quantidade de divórcios e separações

aumentou muito nos últimos anos, fazendo com que subisse o número de famílias

dirigidas por mulheres. Este fato se deve também ao aumento do número de mães

solteiras nos últimos anos. O divórcio faz surgir também as Famílias Ampliadas,

com a formação de novos casais com os filhos do antigo casamento. Outro arranjo

familiar que tem crescido muito é o de Famílias Monoparentais que se constituem

quando um dos cônjuges vive com os filhos e com outros parentes na mesma casa.

Neste tipo de família também há um predomínio das mulheres chefes de família.

Enfim, não há mais na sociedade um modelo homogêneo de família, o modelo atual

baseia-se no ideal de família preconizado na Modernidade que enfatizava o amor

romântico, o matrimônio ideal e o afeto como base familiar. Na medida em que estes

aspectos foram se ampliando, as relações tornaram-se aberta as negociações e

formas de família nunca antes imaginadas passaram a ser aceitas, como por

exemplo, casais do mesmo sexo e mães e pais solteiros.

E assim, a Família segue seu percurso histórico, resistindo e adaptando-se às

mudanças ocorridas ao longo da História Humana, necessitando sempre de um

acompanhamento e cuidados especiais por parte do Estado e da Sociedade em

geral.

3 GÊNESE DA ESCOLA

Sabemos que o surgimento da Educação é praticamente simultâneo ao

aparecimento do ser humano no Planeta Terra. Porém, a Escola como a

concebemos hoje, não é inerente ao ser humano. Assim também como, o saber

científico e sistematizado não surge com a Escola. Ele é fruto da relação do homem

com a natureza, isto é, nossos ancestrais, começaram a produzir conhecimento

quando pela primeira vez utilizaram instrumentos para facilitar seu cotidiano e

mediar sua relação com a natureza, criando símbolos para representá-los. A partir

daí, o saber não parou mais de crescer.

Na época primitiva, a Educação possuía caráter espontâneo e era voltada

para transmissão das atividades da vida prática: como caçar um animal, como

plantar, como domesticar e tratar dos animais, como produzir determinada

ferramenta. Nessa etapa do desenvolvimento humano, a transmissão do saber era

comunitária, ocorria durante o trabalho no dia-a-dia. Os homens produziam sua

existência em comum e se educavam nesse processo. É o chamado “Comunismo

Primitivo” (SAVIANI, 2007).

Porém, à medida que o homem se torna sedentário, fixando-se na terra, surge

à propriedade privada, a divisão do trabalho, e a divisão de classes: classe dos

proprietários de terra e a dos não proprietários. Os que possuem terra passam a

viver do trabalho dos que não possuem terra e dedicam-se exclusivamente ao

exercício do poder (SAVIANI, 2007). Não necessitando trabalhar, a classe

proprietária, dispõe de tempo e passa a viver no ócio. A maneira como ocupam esse

tempo de ócio é que vai fazer com que a Escola surja, pois o tempo disponível é

dedicado à Educação. Aliás, o significado de Escola vem justamente desse fato

histórico, pois a palavra Escola, de origem grega, quer dizer “lugar do ócio”

(SAVIANI, 2007)

Surgem então, duas formas de saber: o saber erudito, dominante e privilégio

de alguns, que se dá num ambiente escolar e o saber comum a todos e que se dá

no próprio processo do trabalho. Inicialmente, esse saber escolar e erudito se dava

sob a orientação de um mestre e poderia ser individualizado ou em pequenos

grupos, independentes da idade ou seriação.

É na Idade Média que se inicia o processo de separação entre a vida

cotidiana e Educação Escolar. A atividade de ensinar tornou-se especializada,

desenvolvendo-se em espaços apropriados. Praticamente, nesta época, a Educação

Escolar é quase que exclusivamente da Igreja, que ligada ao Poder, privilegiava

somente à Classe Dominante, ou seja, o conhecimento erudito era prerrogativa do

Clero e dos Nobres. Nesse período é que surgem as primeiras Universidades,

privilégio de poucos. Em quanto isso, a grande maioria continuava se educando pelo

trabalho, no processo cotidiano de produção de sua existência

No Brasil, a partir de 1549, com a vinda dos padres Jesuítas trazidos pelo

primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, foram fundadas as primeiras

escolas. A economia baseada na monocultura, era implementada principalmente

pela mão de obra escrava, vinda da África. Os Jesuítas trataram logo de erguer

Escolas para atender aos filhos dos portugueses e aos próprios irmãos, além de

catequizar os nativos, ensinando-lhes os rudimentos da Língua Portuguesa e os

padrões culturais europeus. A Família Patriarcal, por reproduzir a sociedade

aristocrática europeia, recebeu de bom grado a educação jesuítica, que era

exclusividade dos proprietários de terra e dos senhores de engenho, excluindo-se as

mulheres e os filhos primogênitos. Estes recebiam educação escolar rudimentar,

pois seriam destinados a continuar os negócios da família. Havia escolas de ensinar

a ler e escrever e o colégio, onde se realizavam estudos humanísticos, filosóficos e

principalmente teológicos. Conforme Freitag (1984) o objetivo da Escola nesse

período era o de reproduzir as relações de poder e a transmissão das ideologias

dominantes de uma sociedade escravocrata. Sendo assim, a Educação fornecida

pelos Jesuítas preenchia perfeitamente estas funções, colaborando com o domínio

da população indígena e a submissão da população escrava.

Ficou a cargo dessa ordem religiosa, praticamente a responsabilidade da

Educação durante o todo Brasil Colonial e apesar de sua expulsão, a Igreja

permaneceu controlando as instituições de ensino ainda por um bom tempo, sendo a

principal responsável pela continuação da transmissão das ideologias dominantes

(FREITAG,1984).

No Período Monárquico, começa a se configurar um sistema educacional

popular e gratuito, mas que não teve muitos avanços, pois a grande maioria da

população era e continuou por muito tempo analfabeta. São poucas as mudanças

ocorridas na sociedade nesse período. A base econômica continua sendo a

monocultura que passa da produção açucareira para a cultura cafeeira. Porém, com

o surgimento da mineração, acentua-se a presença de uma classe social

intermediária, chamada de pequena burguesia, que tem participação política ativa e

que passa a reivindicar o acesso à escola, pois vê neste fato a oportunidade de

ascensão social (ROMANELLI, 1978). Isto promove o aparecimento de escolas

técnicas, academias, escolas militares e de nível superior, passando a educação

gradativamente para instituições não confessionais. Nesse ínterim, o ensino

elementar e secundário passa a ser de responsabilidade das Províncias e o Ensino

Superior do Governo Central, fincando os municípios neutros. A primeira

Constituição promulgada em 1824 trouxe o famoso artigo 179 que dizia assim: “A

instrução primária é gratuita a todos os cidadãos”. Embora de fato não acontecesse,

pois era dada muita importância ao Ensino Superior e a básica foi deixada de lado.

No período Republicano, a Educação Escolar passa a ser o problema

fundamental da nacionalidade, e sua importância é dada devido ao fato dela ser

instrumento de preparação profissional e meio de aperfeiçoamento individual e da

sociedade. Com a decadência da produção cafeeira causada pela crise mundial de

1929, os investimentos se deslocaram para outros setores produtivos. Com isso a

pequena burguesia se fortalece cada vez mais e os cafeicultores se veem obrigados

a dividir o poder com a nova classe emergente.

Na era Vargas, começa surgir as primeiras Leis de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional que aos poucos vão trazendo transformações e reformas

consubstanciais ao quadro da educação nacional.

Apesar de todas essas mudanças e reformas, o sistema educativo nacional

desse período, passou longe de atender as demandas da população brasileira, tanto

no aspecto quantitativo, pois muitos continuavam sem acesso à Escola e dos que

entravam, a grande maioria era excluída logo nos primeiros anos, quanto no aspecto

qualitativo, representado pela disseminação de um tipo de ensino que já não

correspondia as novas exigências surgidas coma expansão econômica e

estratificação social mais diversificada.

No final dos anos 70 e início da década de 80, alguns educadores começam a

discutir a Educação como processo histórico que deveria ver o homem como ser

social e o conhecimento como produto da atividade humana. A educação passa a

ser vista como ferramenta que precisaria proporcionar ao cidadão o mínimo

necessário para tomar consciência da situação vigente e dar condições de agir para

transformar essa situação. Mas, essas ideias não avançaram. Ao contrário, com o

progresso do capitalismo, elas foram se tornando raras, principalmente nos últimos

anos da década de 80. Acontecimentos estruturais neste período marcaram para

sempre a História do povo brasileiro tanto no aspecto econômico, político e

educacional, tais como: esvaziamento do Estado, diminuição do trabalho devido aos

limites de produção, a globalização, a dívida crescente do Estado brasileiro, redução

crescente dos gastos públicos, desregulamentação da economia, defendida por

Figueiredo e depois por Sarney, o grande aumento da pobreza e da miséria. O país

recorre aos empréstimos do FMI e do Banco Mundial. Estes, em contrapartida,

exigem medidas para aliviar a pobreza vigente, incluindo reformas educacionais, que

são vistas pela maioria como estratégias modernas, entre elas podemos destacar,

de acordo com Nagel (2000):

Prioridade na Educação básica e secundarização do Ensino

Superior, isto devido ao grande número de analfabetos da época,

porém não é discutida qual a consequência disto em longo prazo e

nem estabelecida outra explicação para esta opção.

Descentralização e a desregulamentação da Educação é visto

como positivo, pois liberta a educação dos erros de administração

centralizada, e é encarada como garantia de autonomia e maior

eficiência;

A participação da Comunidade no interior da Escola, também é

vista como positivo sinal de modernização, não é vista ou discutida a

consequente desobrigação do Estado para com a Educação. Citamos

como exemplo aqui o Programa Amigos da Escola e outros de

Voluntariado;

Investimento no Ensino a Distância, que é visto como alargamento

das oportunidades e não como mera fonte de lucro das grandes

empresas de telecomunicações;

Diminuição da reprovação escolar, que é encarada somente como

produto do processo de professores mal qualificados;

Correção de fluxo para garantir a aceleração dos estudos para

aqueles, cuja aprendizagem o Estado e a Escola não deram conta de

garantir;

A década de 90 chega e as mudanças continuam, tanto no aspecto

econômico quanto político e social, no Brasil e no mundo. Ocorrem alterações tanto

no modelo produtivo da indústria, como na forma de atuação do Estado e

principalmente na Educação. Se desde o período pós-guerra até meados da década

de 70, predomina o Estado do bem estar social, onde o governo era o único

responsável pela educação, moradia, saúde, seguridade social, controlava a

economia e era um grande empregador possuindo inúmeras empresas estatais e de

infraestrutura, com a crise do capital nos meados da década de 70 e 80, há uma

grande mudança na forma de administrar, baseada nas ideologias do

neoliberalismo, que é de forma resumida a volta do liberalismo clássico, onde o

Estado é mínimo, o mercado livre, há privatizações de empresas estatais,

flexibilização das relações trabalhistas. Essas mudanças ocasionaram grande

influência na Educação. Com o governo Fernando Henrique de Melo, a política,

inclusive a educacional continuou subordinada aos organismos internacionais e

dentro da filosofia neoliberal. O governo FHC recusa a LDB construída pelos

educadores e as mais de trinta organizações políticas, científicas e sindicais, que

reunidas no Fórum Nacional pela Defesa da Escola Pública organizaram-na. Este

projeto de lei ficou anos em tramitação no Congresso, sofreu várias modificações,

mas acabou sendo substituída pela lei Darcy Ribeiro, lei nº9394/96, que

representando os interesses do Banco Mundial, foi aprovada pelo Congresso em

dezembro de 96. Ela manteve a antiga estrutura de Ensino, mudando apenas a

nomenclatura de 1º e 2º grau para Ensino Fundamental e Ensino Médio,

respectivamente (FRIGOTTO, 2003). Porém a Educação brasileira, com esta nova

lei, continuou marcada pelo dualismo: de um lado, uma educação voltada para elite

e do outro lado para a classe trabalhadora. Isto pode ser notada quando a nova lei

divide o ensino Médio em Educação Geral e Ensino Profissionalizante e também no

Ensino Superior quando instala centros de excelência destinada a elite, com o

propósito de unir ensino e pesquisa. Outro aspecto que mostra essa dualidade é

quando a lei, no Ensino Fundamental, propõe para a rede pública um ensino rápido,

com promoção automática e formação mínima para os professores (SAVIANI, 2005).

O projeto de Educação de FHC foi baseado, tanto no nível de organização

como no nível pedagógico, nas características de mercado. Por isso, foram

substituídos objetivos cognitivos por critérios de competências e habilidades, de

empregabilidade que estão no centro dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos

mecanismos de avaliação, isto é, as competências a serem valorizadas e avaliadas

são aquelas que os empresários consideram desejáveis. A escola é vista como

empresa, o aluno como cliente e o voluntariado como questão de cidadania. Há

ênfase na descentralização, na gestão democrática (participação e autonomia) e na

avaliação institucional.

A interferência do Banco Mundial e de outros organismos internacionais como

BIRD, BID, FMI na Educação se explica pelo fato de que a base do desenvolvimento

econômico do capitalismo e neoliberalismo exige uma sociedade integrada e a

Educação é o caminho para isso. Isto ficou definido na 24ª Cepal, a reunião dos

Ministros das Finanças e Economia, em 1992, convocados pela ONU. O governo

dos anos 90 garantiu o acesso da grande maioria à Escola, mas não sua efetiva

permanência e seu sucesso nela.

Na contemporaneidade, devido à grande resistência ao neoliberalismo, surge

o Estado social-liberal. Esta nova forma de governo combina os princípios da social

democracia e do liberalismo. Na prática isto significa que o Estado fica com o

planejamento dos serviços e a execução é repassada para outros setores como

Ongs, prefeituras, escolas, sociedade civil organizada. Esta realidade está presente

na escola hoje e um exemplo disso é o dinheiro que vem direto para as Escolas.

Outro exemplo é a obrigatoriedade da formação de conselhos em todas as esferas

do governo. A implementação de projetos como “Acorda Brasil, Comunidade

solidária, Amigos da Escola, Todos pela Educação” são outros modelos dessa nova

forma de governar, onde a sociedade civil também é considerada responsável pelos

serviços sociais.

Tudo isso trouxe grandes consequências para a Educação brasileira. Para

citar uma delas, podemos mencionar o grande número de analfabetos funcionais

existentes nos dias atuais. Uma grande parte dos nossos educandos conclui a 8ª

série e até mesmo o Ensino Médio sem se apropriarem efetivamente de saberes

fundamentais como leitura, escrita, interpretação, cálculos básicos, considerados

importantes para a continuação dos estudos e a possibilidade de se construir e lutar

por uma vida melhor. Este fato é apenas um dos grandes desafios posto à Escola

nos dias presentes.

4 FAMÍLIA E ESCOLA: POSSIBILIDADES DE INTERAÇÕES

Como vimos os modos de produção e de educação, tanto na Sociedade, na

Família e na Escola, variam ao longo da História. De acordo com Carvalho (2004),

educar, no decorrer da História, nunca foi atribuição exclusiva dos pais. A

transmissão da cultura e a preparação para a vida adulta eram tarefas educativas

assumidas por vários indivíduos, grupos ou instituições de acordo com o momento

histórico e com o modo de produção vigente. Antes da Escola, a Educação se dava

na Comunidade e na Família. Na modernidade, a Educação Escolar tornou-se o

modo de educação predominante. Sendo ela a responsável pela educação formal e

acadêmica, sua principal função é garantir a aprendizagem de todos seus alunos

através da aplicação de um currículo composto por conhecimentos acumulados e

sistematizados historicamente pela humanidade. Esta é, em linhas gerais, a tarefa

específica da Escola. Nenhuma outra instituição tem esse papel, nem mesmo a

família deve substituí-la nesse sentido. O Estado, por sua vez precisa garantir todas

as condições necessárias para que a Escola cumpra com eficiência seu papel. Mas

por outro lado, cabe a cada cidadão e a comunidade cobrar e exigir o efetivo

empenho do Governo neste sentido.

Por sua vez, a família continua sendo o local inicial da Educação. Segundo

Kaloustian (1988), a família deve ser o lugar onde a sobrevivência e a proteção

integral de seus membros é garantida, não importando sua configuração ou situação

atual. A família é o primeiro ambiente onde as necessidades fisiológicas, de

segurança, de pertença, de autorrealização, de estima do ser humano são

atendidas. Ela oferece as bases afetivas necessárias ao desenvolvimento e bem-

estar de seus membros, contribuindo de maneira significativa para a construção da

subjetividade e da identidade pessoal.

Evidenciando o papel importante da família em todos os aspectos da vida de

seus membros, principalmente no processo de escolaridade, a legislação brasileira

tratou de legalizá-lo através de diversas Leis e Estatutos, como:

Estatuto da Criança e do Adolescente, que nos artigos 4º estabelece como

dever da família, da comunidade e do poder público assegurar, com absoluta

prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, saúde, alimentação,

educação, cultura, esporte, lazer, convivência familiar e comunitária da

criança e do adolescente. E no seu artigo 55 diz que é obrigação dos pais ou

responsáveis matricular e acompanhar seus filhos na rede regular de ensino;

Lei de Diretrizes e bases da Educação (Lei nº 9394/96) nos artigos 1º, 2º, 6º e

12 que estabelecem a educação como dever da Família e do Estado;

Plano Nacional de Educação (Lei nº 10172/2007) que define como uma das

prioridades a implantação de Conselhos Escolares e outras formas de

participação familiar para enriquecimento das oportunidades educativas e dos

recursos pedagógicos;

Partindo do pressuposto que o homem é um ser social, produzido historicamente

e que é principalmente através da educação que ele se humaniza, a aprendizagem

escolar possui um papel decisivo no desenvolvimento do ser humano e é

determinada por fatores sociais e individuais. Na Dimensão Social, de acordo com

Carvalho (2004) a educação engloba a transmissão da cultura vigente e dos

conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade. Essa dimensão

depende de vários setores e é influenciado por eles como, por exemplo, o interesse

econômico vigente. A dimensão individual constitui o desenvolvimento das Funções

Psicológicas Superiores como: memória, análise, síntese, raciocínio, formação de

habilidades e valores. A dimensão individual é subordinada ao contexto social, mas

também ao contexto familiar em que se encontra a pessoa humana. A Escola e a

Família são fontes de recursos que ajudam a criança a construir seu processo de

desenvolvimento e aprendizagem. Portanto, Família e Escola, devem caminhar

juntas, mas com seus papéis bem definidos e para isso o primeiro passo é discutir,

no espaço da comunidade escolar, a função específica e inerente de cada uma.

5 ANALISANDO O COTIDIANO ESCOLAR

Buscando respostas para questão do fidedigno papel da Família e da Escola no

processo ensino-aprendizagem e concomitantemente analisar a realidade em que

está inserida a Escola Estadual Agostinho Stefanello – E.F, realizou-se uma

pesquisa junto aos pais e ao corpo docente da Escola, fazendo-se um levantamento

das ideias sobre este tema e levantando um diagnóstico sobre a atual realidade da

Instituição.

Com os pais, o trabalho da pesquisa foi realizado através da aplicação de um

questionário para perceber-se como se dá a participação da família na vida

acadêmica dos filhos, bem como o grau de importância que dão ao processo de

escolarização e que visão possuem da Escola. O questionário foi encaminhado aos

pais através dos alunos e foi aplicado por amostragem, onde uma turma de cada

série do período da manhã e uma turma de cada série do período da tarde

responderam ao mesmo. Os dados foram tabulados e transformados em tabelas e

serviram de subsídios para análise das questões colocadas acima.

A investigação com os professores foi realizada também através da aplicação de

um questionário e cujo objetivo foi o de analisar como o professor vê a questão da

participação da família no processo de escolarização dos alunos e como esta

participação deve ocorrer. Os dados também foram tabulados e transformados em

tabelas e serviram para análise das questões colocadas aqui.

Tanto no questionário para os pais como para os professores foram elaboradas

vinte questões, sendo dezoito objetivas e duas subjetivas, pois assim os

participantes poderiam expor de maneira livre suas opiniões e pensamentos sobre o

tema. Para o corpo docente, o questionário foi entregue pessoalmente e dado um

prazo para que o devolvessem respondidos. Para a família, foi enviada a pesquisa

através dos filhos com uma carta explicando o objetivo e orientações de como

responder as questões. Em ambos os casos, os questionários foram respondidos

anonimamente, para que assim as respostas pudessem ser dadas sem

constrangimento.

Quanto à investigação realizada junto aos pais, depois da tabulação e da análise

das repostas obtidas, pode-se verificar que a grande maioria das Famílias deseja e

quer participar da vida escolar dos filhos, porém quando isso não acontece o

principal motivo é falta de tempo. Os pais saem cedo de casa e só voltam à noite. E

quando acompanham, as formas mais comuns são através de orientações,

comparecendo a Escola e verificando as tarefas, conforme mostra o gráfico abaixo

(gráficos 1 e 2):

Gráfico 1

Gráfico 1

Gráfico 2

Quase a totalidade dos pais acredita ser de extrema importância a

participação da Família na Escola, porém poucos conhecem o colegiado da

Instituição e menos ainda querem participar e se envolver com isto, pois demanda

tempo, doação e trabalho voluntário. Isto é bem claro na análise do gráfico 3.

Gráfico 3

Setenta por cento das famílias tem procurado a escola para saber sobre o

desenvolvimento do filho, principalmente através da entrega do boletim.

Gráfico 4

O que ficou muito claro é que mesmo não podendo participar ativamente da vida

escolar de seus filhos, a Família confia na Escola e o que busca nela é encontrar

boa qualidade do ensino e veem em um maior número de reuniões a possibilidade

de melhorar a interação entre ambas.

Gráfico 5

Gráfico 5

Os educadores que participaram da pesquisa deixaram claro que para eles a

participação dos pais na Escola é boa e que o motivo da ausência de

acompanhamento dos pais em relação aos estudos dos filhos se deve a falta de

interesse e comodismo, sendo que a carência de tempo por motivo de trabalho

aparece em segundo lugar. Percebe-se que para a maioria dos professores, o

trabalho e a falta de tempo não podem ser usados como desculpa para não

acompanhar os estudos dos filhos.

Gráfico 6

Há, segundo os educadores participantes da pesquisa, uma diferença

perceptível e aguda nos alunos que tem esse acompanhamento e os que não têm.

As circunstâncias que mais os professores precisam dos pais é o incentivo ao

estudo e a melhoria no comportamento e na disciplina. Para os educadores, quando

o aluno vem de casa com conceitos de limites e regras, isto facilita em muito o

processo ensino-aprendizagem.

Gráfico 7

6 UMA PROPOSTA DE INTERAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA

Uma das formas de interação existentes entre Família e Escola que vem

ganhando força nos dias atuais é a Escola para Pais. Pensando nisto e baseando-se

na experiência vivida no ano de 2008, quando a Equipe Pedagógica da Escola

organizou um programa com vários encontros para os pais de alunos que estavam

apresentando sérios problemas de aprendizagem, evasão e falta de interesse nas

atividades acadêmicas e cujo sucesso foi grandioso, pois dos onze alunos, cujos

pais foram convidados a participar, dez alunos conseguiram por mérito ser

aprovados para série seguinte é que se organizou um ciclo de palestras para os pais

através de cinco encontros, ocorridos quinzenalmente.

Em cada encontro foi discutido um tema, sendo que no primeiro, foi abordado o

tema da adolescência, suas características, seu desenvolvimento histórico, origem e

as transformações que ocorrem com a criança nessa fase. A dinâmica utilizada foi a

apresentação das ideias principais a serem discutidas, a leitura de um texto sobre o

tema abordado e a divisão em pequenos grupos para análise de questões sobre o

tema, e para finalizar uma plenária no grande grupo. No segundo encontro foi

abordado o tema “O fenômeno do adolescentrismo” que tratou de discutir os

problemas da dominação dos filhos adolescentes em relação aos pais. Na

atualidade, há um endeusamento da infância e da adolescência. Todos querem ser

jovens. Ninguém quer envelhecer. Com isso há uma decadência da autoridade

paterna e materna. Por isso há uma carência de adultos que educam e formam as

novas gerações. O trabalho deste encontro organizou-se da seguinte forma: leitura

dirigida do texto, discussão coletiva das principais ideias abordadas no texto,

aplicação de uma dinâmica onde os pais puderam responder a várias questões

ligadas ao tema. No terceiro encontro, o assunto discutido com os pais foi sobre o

sentimento de pertença que a criança e o adolescente devem experimentar, pois

este é subsídio importante para a formação de pessoas felizes e equilibradas. A

estrutura utilizada no trabalho foi a mesma dos encontros anteriores, com dinâmica

para facilitar a participação dos pais. Nesse ponto, os pais começaram a trazer

questões do cotidiano familiar para discussão, como por exemplo: É correto deixar

uma adolescente de doze anos namorar firme? O que fazer quando isto acontece?

Outros questionamentos foram surgindo naturalmente das discussões e percebeu-se

o empenho dos pais em responder as situações colocadas pelos colegas. Na quarta

etapa de trabalho com os pais, foi discutido sobre a importância de se assumir

responsabilidades, não deixando para as instituições o que é tarefa dos pais. Para

isso utilizou-se o filme “O problema não é meu”. Depois de assistir ao vídeo, os pais

comentaram o que mais lhes chamou a atenção e em seguida debateu-se vários

pontos sobre o assunto. Para finalizar as reuniões, na quinta etapa discutiu-se o

tema “Como participar da vida escolar dos filhos” e ainda a possibilidade de

continuação dos encontros no próximo ano letivo. A estrutura do encontro foi de

apresentar as principais ideias do tema em forma de slides (Power Point), depois

distribuir uma cópia para cada participante de dicas práticas de como participar da

vida escolar dos filhos e para finalizar, discussão das várias questões colocadas

sobre o tema. No final deste último encontro, fez-se uma grande confraternização,

com a participação da Direção da Escola e de toda Equipe Pedagógica da Escola.

Esta ideia partiu dos próprios participantes, demonstrando assim o estabelecimento

de um vínculo afetivo entre os mesmos.

A princípio pensou-se em convidar para participar dos encontros, os pais dos

alunos que estavam encontrando dificuldades para adaptar-se as regras da Escola,

que não possuem boa participação nas aulas e que correm o risco de abandono e

evasão escolar. Mas depois de análise da realidade, verificou-se que seria melhor

abrir também para outros pais. Então foram convidados também os pais dos alunos

de 5ª e 6ª séries, do período da manhã e da tarde. Foi enviado convite através dos

alunos e também uma ficha de inscrição. Houve cinquenta e duas inscrições. A

média de número de participantes de cada encontro girou em torno de vinte cinco.

Muitos pais que se inscreveram, nunca apareceram nas reuniões. Mas o grupo de

vinte cinco pais que iniciou, permaneceu firme até o último encontro, tendo apenas

duas desistências, sendo que uma porque o aluno transferiu-se de município. Houve

o predomínio do número de mães participantes, mas destaca-se também a

participação de vários casais, ou seja, o pai e a mãe do aluno.

A dinâmica utilizada para os encontros foi praticamente a mesma durante o

curso, o que mudou foi os temas abordados e a maneira de se discutir: os pais

foram posicionados em círculos, inicialmente foi oferecido ao grupo a ideia geral do

assunto a ser explorado, fazer a leitura geral do texto, comentar os aspectos

relevantes do texto e por fim as discussões das questões, em grupos menores,

sempre com uma dinâmica diferente,com o objetivo de fazer os pais participarem.

Depois de algum tempo de conversa, fazia-se a plenária, onde cada grupo expunha

as discussões e conclusões.

A participação dos pais foi surpreendente. Todos tiveram oportunidade de falar,

dar sua opinião e observou-se que estavam muito a vontade para colocar suas

ideias e o mais importante é que no decorrer dos encontros começaram a trazer

situações do cotidiano relacionado a educação dos filhos para o grupo discutir e

pedir a apreciação dos outros pais.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da relação família/escola ter se modificado muito nos últimos anos,

pois se antes, a família acreditava de todo na Escola, agora passa a criticar e a

cobrar mais dela, ao mesmo tempo transfere para a Escola funções que lhe são

inerentes. Por sua vez, a Escola culpa a Família pelo fracasso escolar vigente. A

interação família e escola se faz urgente e necessária. De acordo com Vasconcelos

(1994) não podemos cair nesse jogo de empurra-empurra. O que podemos fazer é

assumir com responsabilidade o nosso compromisso, buscando articulação com os

demais setores da Comunidade Escolar. Para isso, a Escola deve buscar a

participação dos pais no processo pedagógico. Mas o que se entende por

participação dos pais? Será apenas tomar parte das reuniões formais para entrega

de resultados de avaliações e ouvir informações sobre o mau comportamento dos

filhos, ajudar a organizar festas e eventos na Escola, atuar no Conselho Escolar?

Verificar e acompanhar a realização do dever de casa? Muitos podem ser os

significados da palavra participar. Destacando a importância da família no processo

pedagógico PARO (2007) evidencia:

Grande parte do trabalho do professor seria facilitado se o estudante já viesse para a Escola predisposto para o estudo e se, em casa, ele tivesse quem, convencido da importância da escolaridade, o estimulasse a esforçar-se ao máximo para aprender (2007, p.16).

Dentre todos esses significados, propomos um modelo onde os pais,

professores, direção e equipe pedagógica podem reunir-se para discutir os

problemas comuns que envolvem Família e Escola. A realidade nos mostra que a

maioria das Famílias está passando por situações difíceis, massacradas por uma

sociedade capitalista, consumista e hedonista, os pais muitas vezes se encontram

estressados e cansados pela carga de trabalho, com falta de tempo e de recursos

para acompanhar as atividades escolares dos filhos, a maioria não tem domínio dos

conteúdos científicos. Mas podemos perceber em nosso cotidiano que a maioria das

Famílias, independentes de seu arranjo, está sedenta e aberta a novas

possibilidades e novos caminhos que os ajudem a ajudar seus filhos. Com diz Paro

(2007), que se busque sempre não a participação maciça dos pais, mas que o

envolvimento dos pais que existe seja o resultado de uma afetiva abertura para a

participação e que essa participação seja favorável a um processo escolar de maior

qualidade.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AIRÉS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de janeiro: Zahar, 1981.

BERQUÓ, Elza. Arranjos familiares no Brasil. In: LORENSETTI, Everaldo, et alii. Sociologia – Ensino Médio. Curitiba: SEED-PR, 2006. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. BRUSCHINI, Cristina. Teoria Crítica da Família. In: AZEVEDO, M. A. e GUERRA, V. (org). Infância e violência doméstica: fronteiras do conhecimento. São Paulo: Cortez, 2000. CARVALHO, Maria Eulina Pessoa. Modos de Educação, Gênero e Relações Família-Escola. Caderno de Pesquisa, n. 121.p.41-58, jan./abr. 2004.

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.

FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Moraes, 1984. FRIGOTTO, Gaudêncio. CIAVATTA, Maria. Educação Básica no Brasil na década de 1990: subordinação ativa e consentida à lógica do mercado.Educação e Sociedade, vol 24, n.82.p.93-130,abril/2003. Campinas. KALOUSTIAN, S. M. Família Brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez, 1988.

LORENSETTI, Everaldo, et alii. Sociologia da Educação – Ensino Médio. Curitiba: SEED- PR, 2006. NAGEL, Lizia Helena. Educação via Banco Mundial: Imposição ou Servidão Necessária? 2000. Disponível em: www.pde.pr.gov.br/arquivos/File/pdf.Acesso em 10 de outubro de 2009.

PARO, Vitor Henrique. Qualidade do Ensino: a contribuição dos pais. São Paulo: Xamã, 2007.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1978.

SAVIANI, Dermeval. O trabalho como princípio educativo frente as novas tecnologias. 2007. Disponível em: www.diadia.pr.gov.br/.../Encontro3Otrabalho comoprincípioeducativo.pdf. Acesso em: 20 de setembro de 2009.

__________________ A Política Educacional no Brasil. In: Stephanou, Maria e Bastos, Maria Helena Camera (orgs.). Histórias e Memórias da Educação no Brasil, vol.III – Século XX. Petrópolis: Vozes, 2005.

VASCONCELOS, Celso dos S. Relação Escola-família: da discussão à interação educativa. In: Revista da AEC (93): 75-86, out/dez/94. Brasília: AEC, 1994.