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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA – CADERNO PEDAGÓGICO

TÍTULO: Notícias do Dia-a-Dia para a Formação da Consciência Histórica

AUTOR: Profª. Marina Xavier de Oliveira Piffer

ORIENTADOR: Profª. Drª. Débora El. Jaick Andrade

NRE: Toledo - PR

ESCOLA: Colégio Estadual Senador Attílio Fontana

DISCIPLINA: História

PARANÁ2010

Marina Xavier de Oliveira Piffer

NOTÍCIAS DO DIA-A-DIA PARA A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

(..) não há amanhã sem projeto, sem sonho, sem utopia, sem esperança, sem o trabalho de criação e desenvolvimento de possibilidades que viabilizem a sua concretização. O meu discurso em favor do sonho, da utopia, da liberdade, da democracia é o discurso de quem recusa a acomodação e não deixa morrer em si o gosto de ser gente, que o fatalismo deteriora (FREIRE, 2001, p 86).

Figura 1

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I Ensino de História...................................................................................... 4

CAPÍTULO II A história dos debaixo................................................................................ 9

CAPÍTULO III A história local.......................................................................................... 11

CAPÍTULO IV Sugestões de Atividades........................................................................... 14

Atividade 1................................................................................................ 14

Anexo 1..................................................................................................... 16

Exemplo.................................................................................................... 18

Atividade 2................................................................................................ 20

REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 21

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CAPÍTULO I

Ensino de História

Atualmente no mundo moderno a tendência do ensino de História é a “libertação

da história”, e que as políticas educacionais adotem uma postura mais democrática e

humanista, buscando no ensino de história uma reorientação na política curricular, propondo

metodologias á fim de ver a história de forma diferente, não somente a escrita da história

linear dos fatos, dos grandes heróis, deixando os “grandes feitos” em que o passado era

narrado para que o presente fosse compreendido e o futuro reordenado. Nessa perspectiva,

emerge uma nova maneira de entender e ver a história de forma autônoma, ou seja, uma

história que tem como preocupação o homem como sujeito histórico, buscando construir uma

sociedade mais justa e com oportunidades para todos. Um ensino de história que busque

entender as organizações das sociedades em seus processos de mudanças e permanências ao

longo do tempo e espaço, fazendo emergir o homem político, o agente da transformação, visto

não somente como um indivíduo, mas também como um sujeito que atua pelo coletivo na

sociedade e comunidade na qual está inserido..

Assim, os conteúdos de história devem ser trabalhados em sala de aula

fundamentados em vários autores e de modo contextualizado e que suas interpretações sejam

por meio do livro didático ou por outros textos historiográficos, levantando diferentes

problematizações fundamentadas em diferentes informações, de forma que tais

acontecimentos contribuam para a crítica das contradições sociais, políticas, econômicas e

culturais presentes nas bases da sociedade atual.

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O ensino de história necessita de mudanças com o objetivo e incorporação de

produções historiográficas mais propícias a atender o jovem do mundo moderno.

Assim, o ensino de história precisa ser reorientado de forma que:

[...] as mudanças curriculares devem atender a uma articulação entre os fundamentos conceituais históricos, provenientes da ciência de referência, e as transformações pelas quais a sociedade tem passado, em espacial as que se referem às novas gerações [...] Diversidade cultural, problemas de identidade social e questões sobre as formas de apreensão e domínio das informações impostas pelos jovens formados pela mídia, com novas perspectivas e formas de comunicação, tem provocado mudanças no ato de conhecer e aprender o social ( BITTENCOURT apud SCHIMIDT, 2004, p. 13).

Neste contexto, é necessário que a concepção de história e de conhecimento seja

repensada, fornecendo suporte para a construção de outros olhares sobre a disciplina de

história e colocando questões sobre as possibilidades de apropriação de novas linguagens no

ensino de história.

E como ponto de partida para tentar compreender a história, dessa perspectiva, é

importante recorrermos às reflexões que Marc Bloch faz em sua obra o Ofício do Historiador

ao responder a indagação de um de seus filhos, sobre para que serve a história. Bloch (2001,

p.41), baseado nesta indagação, diz que cabe ao historiador, através da disciplina de história,

esclarecer as transformações e mudanças que acontecem no mundo e na sociedade. Assim, a

história, mesmo com os grandes desafios que enfrenta hoje, precisa buscar no passado as

justificativas das problemáticas do cotidiano de pessoas comuns, possibilitando-lhe transitar

por outros espaços e tempos, ampliando sua consciência histórica a fim de que possam se

perceber como sujeito histórico, ou seja, a história deve buscar o homem no tempo e no

espaço, no passado para compreender o presente e conhecer o presente para compreender o

passado. Sendo assim, uma história que busca aprofundar o conhecimento na tentativa de

compreender a complexidade das relações que se deram dos fatos e de suas problematizações,

passando a ser vista ou entendida com possibilidade de diferentes interpretações dos fatos

históricos. Dessa maneira, deve-se relacionar sempre o presente com o passado, uma vez que

as indagações do presente são o que nos faz voltar para o passado, para uma melhor

compreensão dos processos históricos.

Nesse sentido, segundo Leandro Karnal:

A história concebida como processo, busca aprimorar o exercício da problematização social, como ponto de partida para a investigação produtiva e

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criativa, buscando identificar as relações sociais de grupos sociais, regionais, nacionais e de outros povos. Perceber as diferenças e semelhanças, os conflitos/contradições, as solidariedades, igualdades e desigualdades existentes na sociedade, comparar problemáticas atuais e outros momentos, posiciona-se de forma crítica no presente e buscar as relações possíveis com o passado (KARNAL, 2005, p. 44).

Pensando dessa forma, a disciplina de história, atualmente, cabe analisar o “passado”

na sociedade, estudando os processos históricos construídos pelas ações e pelas relações

humanas praticadas no seu tempo e espaço. O ensino de história, nessa perspectiva, tem como

finalidade mostrar as variadas formas como os homens concebem a vida e a transformam em

vários momentos históricos, como se relacionam entre si e com a natureza. Isso permite que,

também o aluno entenda melhor o seu cotidiano, percebendo as rupturas e permanências, e

também se identificando como sujeito histórico e como produtor do conhecimento.

Nessa perspectiva, se faz necessário o professor de história repensar a concepção

de história, suas metodologias, valores, sua relação com o livro didático e com o conteúdo.

Ele é que deve elaborar os conteúdos de sua disciplina, ser o autor do seu plano de ensino, não

sendo necessário seguir à risca os conteúdos dos livros didáticos. Portanto, sendo necessário

ultrapassar a idéia e a prática da divisão e organização dos conteúdos do livro didático, os

quais são selecionados e divididos por agentes sociais que não fazem parte da realidade do

local, da escola e do aluno, deixando para os envolvidos da escola, principalmente os

professores, apenas a tarefa de refletir e decidir as técnicas de ensino.

A mudança nesse cenário exige que o currículo seja:

[...] construído de forma relacional e por meio de alianças efetivas, além de fazer parte do processo de construção da identidade coletiva. Currículo é o instrumento adequado de regulamentação não só para a formação dos objetivos de aprendizagem, que se encontram nas diversas formas de seleção e organização do conhecimento oficial, bem como para o estabelecimento de critérios de controle. (PACHECO, apud GONÇALVES; PASSOS; PASSOS, 2003, p.348).

O objetivo deste material didático é apresentar uma metodologia diferenciada de

ensinar e de aprender história, pois após uma longa experiência no ensino da disciplina de

História no Ensino Médio na escola pública e tendo constante convívio e contato com os

alunos, percebo que eles demonstram grande interesse em aprender a História e conhecer a

sua história, relacionada a vida social. Porém, nota-se que estes alunos não se sentem

motivados em aprofundar os conhecimentos históricos. Isto ocorre porque os conteúdos e os

métodos das aulas de história não estão sendo atraentes e nem significativos para eles. Além

disso, os alunos não identificam os conteúdos, em sua maioria, com a realidade local, com as

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suas inquietações e com as suas aspirações. Ou seja, os conteúdos veiculados nos livros

didáticos de história se distanciam da realidade dos alunos do Ensino Médio da escola pública

e não atendem suas expectativas e suas necessidades reais. Isso acontece, especialmente, com

os estudantes do Ensino Médio noturno, em que a maioria é da classe trabalhadora e busca a

sua sobrevivência e a da sua família. Essa divergência de interesses entre o aluno e a escola

provoca-lhe insatisfação e, em muitos casos, favorece o abandono dos estudos.

Neste contexto, proponho para o ensino de História no Ensino Médio,

principalmente ministrado no período o noturno, uma metodologia de trabalho em sala de aula

que contemple o uso de notícias (jornais, revistas, internet, etc.) do dia-a-dia e de assuntos

variados de abrangência local, regional, nacional e mundial, pois acredito que isso despertará

no aluno o interesse pelo conhecimento histórico, pelas informações globais e pelos seus

impactos no espaço local, estimulando o entendimento, a compreensão, a reflexão-ação para

que atuem como sujeitos históricos no seu espaço e no seu tempo. Assim, partindo da

questão: “Será que uma nova metodologia para o ensino de História no Ensino Médio,

principalmente para o noturno, que privilegie o trabalho com notícias do dia-a-dia pode

despertar nos estudantes o interesse pelo conhecimento histórico, pelas informações globais e

seus impactos no espaço local, estimulando-os para a formação da consciência histórica?”

produziremos este material que objetiva ao professor e ao aluno a ultrapassar os conteúdos

dos manuais didáticos, oportunizando ao jovem um aprendizado do conhecimento de forma

contextualizada, ou seja, numa linguagem que aproxime os conhecimentos do seu convívio

social. Sendo que este material não tem o objetivo de esgotar as idéias, mas sim, discutir a

realidade social, econômica, política e cultural em diferentes perspectivas de análise, através

de notícias coletadas em jornais, revistas, internet, etc., oportunizando alunos e professores

construir, reconstruir e atualizar a construção do conhecimento por meio do diálogo e da

pesquisa, rompendo com o aprendizado linear e de fixação da história tradicional presentes

nos livros didáticos.

Nesse sentido, para reverter este quadro crítico, a escola precisa oferecer aos

alunos trabalhadores uma educação compatível com suas necessidades como também capaz

de forma homens com consciência crítica para ação e mudanças na sociedade onde vive.

Assim GADOTTI afirma que:

[...] as escolas devem ter autonomia para elaborar suas políticas junto com o secretário da Educação, junto com as instâncias decisórias (...) os cursos, por exemplo, devem ser feitos na e para a escola. As teorias precisam ser discutidas ali;

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não adianta ter grandes projetos fora da escola. Além disso, cada escola deve ter sua própria cara, sua fisionomia, e todos lá precisam estar empenhados. A Autonomia, ponto central das minhas idéias, significa liberdade para demitir, para admitir, para organizar o calendário escolar, a distribuição das disciplinas.(GADOTTI,1991, p. 23).

De tal modo, é preciso derrubar o paradigma tradicional da educação que é

organizada para servir aos interesses particulares - os interesses da classe dominante. É

necessário para isso, que as políticas educacionais das escolas públicas sejam adequadas de

forma a atender a todos, levando em consideração as diferenças de classes, de local, de região

ou nação.

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CAPÍTULO II

“A história dos de baixo”

O professor de História precisa procurar estratégias, procedimentos e caminhos

para despertar o interesse e facilitar a compreensão e a aprendizagem do aluno. É possível a

interação dos conteúdos com o cotidiano do aluno, trabalhar a partir da experiência, acatando

os vários saberes, conhecimento que o estudante traz de casa, criando um espaço de

conhecimento compartilhado (professor e aluno), pois o aluno é um sujeito histórico e social.

Para isso, o ensino de história deve partir, principalmente, da “história dos de

baixo”, para entendermos que estes indivíduos são também agentes históricos dotados de

razão( que provém se sua própria lógica), sonhos, problemas, interesses, etc., que são os mais

variados possíveis. Nessa visão, só podemos entender suas atitudes à luz do seu tempo e de

sua cultura, que é construída na experiência, no espaço e no tempo. A experiência histórica se

expressa na consciência social dos sujeitos históricos, ou seja, a consciência de classe se

constrói nas experiências cotidianas comuns, a partir das quais são tratados os

comportamentos, valores, condutas, costumes e culturas.

Nesse sentido, Edward Thompson (1987, p. 12) chegou a conclusão que “a classe

é definida pelos homens enquanto vivem sua própria história”, em outras palavras, é definida,

construída na experiência.

Ainda nesse sentido, pode-se dizer que:

[...] os indivíduos, além de fazer sim sua história, têm consciência de que a fazem, pois ninguém melhor do que o próprio explorado para saber o que é a exploração ( horas intermináveis de trabalho, dificuldades econômicas e sociais, etc.,) acarreta no seu próprio corpo, nas suas relações sociais e na sua vida ( THOMPSON, 1987, 12).

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Aqueles que fazem parte da “história de baixo” também são agentes históricos e

não apenas vítimas passivas dos acontecimentos e das vontades das classes dominantes.

Assim, é possível mostrar que os indivíduos das classes populares ou exploradas têm com sua

própria cultura, seus objetivos, problemas, dificuldades e sonhos e que respondem às

necessidades do seu meio social, a partir dos elementos que estão presentes nos seus costumes

e tradições, de acordo com suas necessidades, seus objetivos e limitações que o contexto

histórico lhes impõe.

Para que isso se concretize, é fundamental tomar como pontos de partida a

realidade e a experiência do aluno para trabalhar a história. Isso, porque ensinar história

implica um trabalho constante e sistemático de identificação dos conteúdos teóricos da

disciplina com as experiências pessoais e coletivas dos estudantes.

Nessa linha de pensamento, as palavras de E. P. Thompson (Apud KUENZER,

2000 p. 207) reforçam nossas ideias, especialmente quando ele afirma que a compreensão da

“resposta mental e emocional, seja de um indivíduo ou de um grupo social a muitos

acontecimentos inter-relacionados ou a muitas repetições do mesmo tipo de acontecimento.”

Segundo Kuenzer:

A experiência não espera discretamente, fora de seus gabinetes, o momento em que o discurso da demonstração convocará a sua presença. A experiência entra sem bater à porta e anuncia a morte, crises, de subsistência, guerras de trincheira, desemprego, inflação, genocídio. Pessoas estão famintas: seus sobreviventes têm novos modos de pensar em relação ao mercado. Pessoas são presas: na prisão, pensam de modo diverso sobre as leis. (THOMPSON apud KUENZER, 2000, p.210)

Dessa forma, quando se fala em ensinar a partir da experiência do aluno, estamos

nos referindo a um trabalho que relaciona conteúdos à sua vida pública e privada, individual e

coletiva. Nessa perspectiva, cabe ao professor compreender, problematizar e contextualizar a

História ensinada com a história vivida pelos estudantes. Ou seja, este trabalho com o ensino

de história é concernente àquilo que Thompson (1997)identificou quando trabalhava com

educação de adultos, pois os seus alunos conseguiram encontrar seus próprios caminhos,

combinando talentos diversos, aliando conhecimentos e experiências diferenciadas em função

de objetivos comuns (PALMER,1996). Para seguir este caminho é necessário que o professor

tenha liberdade para seguir etapas, métodos para a construção da História.

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CAPÍTULO III

A história local

Nessa perspectiva, apresento algumas atividades para o ensino de história para

serem desenvolvidas em grupo no ensino médio, principalmente no período noturno, sendo

que a maioria dos estudantes são trabalhadores. Partindo do princípio de que a história é um

conhecimento construído socialmente, que tem como objeto de estudo os processos históricos

construídos pelas ações e pelas relações humanas( atividades, experiências ou trabalhos

humanos, etc., praticas no tempo e espaço. Faz necessário analisar e interpretar várias fontes

de informações em jornais, revistas, internet e outras, possibilitando aos professores e jovens

a compreensão dos processos históricos e que possibilitam a construção de uma narrativa

histórica( interpretação ,explicações e compreensão da sociedade contemporânea e do meio da

qual estão inseridos, oportunizando aos mesmos construírem sua consciência histórica.

Uma das metodologias que enriquece o trabalho pedagógico e desperta o interesse

nos alunos é a história local. Segundo Ivo Mattozzi ( apud PARANÁ, 2008, p. 72) “histórias

locais permitem a investigação da região ou dos lugares onde os alunos vivem, mas também

da história de outras regiões ou cidades.” A história local também permite a utilização de uma

metodologia por temática abordando diferentes gêneros que estão presentes no seu meio

social. Esta abordagem permitirá que os alunos percebam que os agentes que fazem a história

são vários e que entre os vários ele está inserido no processo de formação histórica.

Trabalhar com a história local é uma forma de apropriar melhor o conhecimento

porque está articulado ao interesse do aluno, as suas experiências culturais, ligada à sua vida

cotidiana, fornecendo a recuperação das experiências individuais e coletivas do aluno,

contribuindo para a construção de uma consciência histórica. Portanto, é importante frisar que

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só a história local não é suficiente para explicar a realidade de um local, porque os

problemas políticos, econômicos, sociais, culturais de uma localidade, são explicados pela

relação de outras localidades, outros países. Assim, ao se trabalhar a história local como

indicador da construção da identidade, é necessário que a construção de identidade tenha

marcos de referência relacionados, que precisam ser conhecidos e situados, como o local, o

regional e nacional.

Segundo Ossana:

O trabalho com a história local no ensino de história pode ser um instrumento para uma construção de uma história mais plural, menos homogênea, que não silencie as especificidades. O local ou o regional, instituídos como objetos de estudo, podem ser contrastados com outros âmbitos e indicador a pluralidade em dois sentidos: na possibilidade de se ver mais de uma história ou mais de um eixo na própria história do lugar ou na possibilidade de se ver outras histórias micro, parte, todas elas, de alguma outra história que as englobe e, ao mesmo tempo, que reconheça suas particularidades(OSSANA Apud KUENZER, 2000, p. 214).

Dessa forma, o objetivo do ensino de história, é levar o aluno a entender que ele é

parte do processo histórico e a compreensão de que a história é resultado de um movimento

dinâmico e processual da história da humanidade. O ensino de história tem a função de fazer

com que o professor e o aluno, a partir do diálogo entre presente e passado, possam perceber

as possibilidades de interação e participação no meio social. Ou seja, como já disse Freire

(1996), o processo de ensino e aprendizagem aconteceria de forma dialética, em que tanto o

professor quanto o aluno aprendem juntos.

Assim, no ensino de história, um elemento importante para a constituição do

pensamento histórico é a compreensão de que as necessidades dos sujeitos na sua vida

cotidiana e em sua prática social estão ligadas com a orientação do tempo e espaço. Isso faz

com que os sujeitos busquem no passado respostas para as questões do presente. Nesse

sentido, os sujeitos reconhecem os contrastes e conflitos sócio-econômicos no seu espaço e,

conectados ao conhecimento científicos construídos pela humanidade, compreendem os

processos históricos nos quais estão inseridos.

Nessa abordagem, para que ocorra um bom desempenho no ensino aprendizagem,

é necessário que o professor tenha consciência da realidade do aluno, respeitar suas

dificuldades, seu tempo, suas inquietações, angústias, sempre pronto para o diálogo com o

aluno. Assim, cabe ao ensino de história, com o apoio do professor, possibilitar ao aluno

concretizar suas próprias ideias sobre os fenômenos e objetos do mundo. Isso contribuirá para

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suas interpretações, reflexões e críticas, criando uma visão consciente do seu meio social.

Essa forma de trabalho tornará o aluno pronto a responder aos desafios do seu meio e do

mundo. Pois, a partir disso, é que o aluno vai fazendo história pela sua própria atividade

transformadora e criadora, porque “ser membro da comunidade humana é situar-se com o seu

passado”, passado este que “é uma dimensão permanente da consciência humana, um

componente inevitável das instituições, valores e padrões da sociedade” (HOBSBAWN, apud

KARNAL, 2005, p. 19).

Após este texto de fundamentação, apresentamos sugestões de atividades para o

professor trabalhar em sala de aula, preferencialmente com alunos do Ensino Médio. As

fontes utilizadas nesta proposta de trabalho deverão ser desenvolvidas a partir da realidade do

estudante trabalhador que tem pouco tempo para dedicar-se aos estudos.

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CAPÍTULO IV

SUGESTÕES DE ATIVIDADES:

ATIVIDADE 1

O objetivo desta atividade é apresentar para o professor do Ensino Médio, uma

metodologia de trabalho em sala de aula que contemple o uso de notícias (jornais, revistas,

interne, etc.), despertando nos estudantes o interesse pelo conhecimento histórico, pelas

informações globais e seus impactos no espaço local, estimulando-os, desta forma para a

formação da consciência histórica.

O desenvolvimento do trabalho com notícias do dia a dia para a formação da

consciência histórica, deverá ser encaminhado respeitando a seguintes etapas:

• Como se trata de um projeto de intervenção, esta acontecerá durante um bimestre,

ocupando uma aula de história por semana;

• A organização do trabalho em classe:

- Os alunos deverão se organizar em grupos de 4 a 5 pessoas, ficando livre a

escolha entre os participantes para compor o grupo;

- Cada componente do grupo ficará responsável por coletar uma notícia (pode

ser na Internet, em revistas ou jornais) de livre escolha, semanalmente, sendo

atual e que tenha repercussão nas mídias. As notícias deverão ter a data e o

local do fato ocorrido para serem catalogadas;

- Caso apareçam mais de 4 notícias coletadas pelos participantes do grupo na

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semana, estes devem selecionar as 4 melhores para que, a partir daí, seja

produzido um pequeno texto de forma objetiva e clara (resumo) sobre cada

notícia. Na folha do resumo, ainda, deverá conter bem especificado o local

(País/Estado/Região) onde a informação relatada ocorreu;

- Cada grupo deverá montar sua pasta, na qual ficarão armazenadas todas as

notícias coletadas durante o período de realização do projeto correspondente a

um bimestre, juntamente com os seus resumos. Esta pasta deve ter um nome

escolhido pelos integrantes do grupo;

- Antes do término do bimestre, acontecerá um seminário com a turma da sala

para a apresentação e discussão das notícias que fazem parte das pastas de cada

grupo. Neste momento, o objetivo maior é provocar o debate e a construção do

conhecimento histórico, a partir da contextualização das notícias com a

realidade social do grupo e também da sociedade da qual fazem parte;

● Avaliação

- O aluno deverá, neste debate, apresentar domínio sobre os assuntos das

notícias organizadas pelo seu grupo, pois será arguído pelos demais colegas e

também será avaliado pela sua participação e domínio do conteúdo;

- Após o seminário, será feita uma avaliação pelos alunos dos pontos

positivos e negativos do projeto.

- Os alunos deverão selecionar as melhores notícias e reproduzi-las para

montar um painel que ficará exposto aos demais estudantes do colégio.

- Ao final do projeto, depois de devidamente corrigidas, as notícias serão

encadernadas em um único volume e ficarão disponíveis na biblioteca do

colégio e poderão ser utilizadas como suporte de leituras e pesquisas futuras;

● Desdobramentos do Projeto

- Em paralelo ao projeto será desenvolvido um material pedagógico

correspondente às atividades desenvolvidas que é uma obrigatoriedade do

programa;

- Simultaneamente, seremos tutores de um grupo de Trabalho em Rede, GTR,

o qual professores de história poderão contribuir para o desenvolvimento deste

projeto;

- Como conclusão final, será escrito um artigo científico, com as conclusões

deste trabalho.

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ANEXO 1

DATA PAÍS/ESTADO/REGIÃO RESUMO

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COLE A NOTÍCIA

Fonte e data da notícia:

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EXEMPLO

DATA PAÍS/ESTADO/REGIÃO RESUMOFevereiro de

2010Brasil Em 50 anos, é possível que ninguém mais

morra de velho. A Ciência está preparando um arsenal de drogas e tecnologia que promete manter você vivo para sempre .

Nos impressiona o avanço da ciência! É uma notícia no mínimo animadora pra quem quer viver mais tempo: “Em 50 anos, é possível que ninguém mais morra de velho.”

Você terá o corpo que quiser. Sua família vai crescer, e você vai viver com seus tataravós, e você continuará jovem e produtivo o suficiente para pegar no batente sem se preocupar em aposentar-se com idade.

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COLE A NOTÍCIA

Figura 2

Disponível em: http://www.degracaemaisgostoso.org/2010/02/download-revista-super-interessante-fevereiro-2010.html

Fonte e data da notícia: Super Interessante, fevereiro de 2010.

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ATIVIDADE 2

A seguir segue outras sugestões que podem ser trabalhadas com as informações

coletadas em revistas, jornais, internet, dentre outras fontes, com o objetivo de oportunizar a

melhor compreensão do processo histórico, bem como estimular o entendimento, a

compreensão, a reflexão-ação para que atuem como sujeitos históricos na sociedade e no

meio na qual está inserido.

1)Coletar notícias de leituras realizadas no decorrer da semana e em conjunto

com os colegas de sala de aula o aluno deverá fazer uma análise destas

notícias coletadas registrando por escrito as suas observações sobre o contexto

histórico das mesmas para depois discutir no grande grupo

2) Em equipes os alunos devem consultar jornais, revistas, internet, etc.,

procurando descobrir no seu bairro, cidade ou região os principais problemas

do seu meio social. Depois, discutir as informações obtidas e montar um painel

mostrando os principais problemas do meio do qual está inserido.

3) Em grupo, pesquisar em jornais, revistas, internet e outros sobre a violência

contra a mulher na sociedade contemporânea e montar um painel com vários

tipos violência que acontecem com elas.

4) Pesquisar sobre as exigências do mercado de trabalho no seu bairro, cidade

ou região. Usar classificados de jornais, pesquisas em revistas, internet e

outros. Debater com os colegas sobre essas exigências e o atual contexto do

mercado de trabalho.

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10. REFERÊNCIAS

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BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

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BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. 5. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1986.

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FREIRE. Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. São Paulo: Cortez, 1991.

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21

GRAMSCI, Antônio. Os Intelectuais e a Formação da Cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.

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Imagens:

Figura 1: Disponível em http://blufiles.storage.live.com/y1pduNGAfoTxcPfn7cOyRptwQGN6ZsOCiF-C7j2nbec5Okt9PqGnBMZHh6pISEdrca_G-l9qN2f90U. Acesso em 03/05/2010.

Figura 2: Disponível em: http://www.degracaemaisgostoso.org/2010/02/download-revista-

super-interessante-fevereiro-2010.html

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