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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 43(2):349-58, jul./dez. 1986 INCIDÊNCIA DA PERDA PRECOCE DA PRENHEZ EM eaUAS DA RAÇA MANGA LARGA P) (Premature loss of pregnancy on Mangalarga mares) FRANCISCO RAUL ABBOTT PERDIGÃO DE OLIVEIRA (2), JOSÉ FELIPE DE SOUZA LEÃO (2), CELSO AUGUSTO (2), LUIZ ROBERTO AGUIAR DE TOLEDO (2) e FRANCISCO GACECK (3) RESUMO: Foi analisada a ocorrência da perda precoce da prenhez (PPP) durante dezes- seis estações de cobertura, em éguas da raça mangalarga mantidas no Posto de Eqüideo- cultura de Colina, SP. Como PPP é considerada a perda de gestação iniciada e reconheci- da no primeiro exame clínico retal, feito em torno da quarta semana após o último salto, mas não confirmada em um segundo teste clínico, aos sessenta a setenta dias da última cobertura. Foram trabalhadas 446 éguas, das quais 352 (78,9%) tiveram gestações diagnosticadas no primeiro exame retal, sendo 25 (7,1 %) interrompidas pela PPP, cuja in- cidência entre não lactantes foi de 6,4% e entre lactantes, de 7,9%. A análise estatística feita pelo método do qui-quadrado, não indicou diferença entre os valores (P < 0,05). Os autores comentam a elevada ocorrência da PPP entre potras de primeira gestação (50%), especulando que coberturas das com idade média de 36 mêses, com maturidade reprodutiva eventualmente incompleta, podem contribuir para aumento da incidência. A eficiência de um estabelecinento de criação depende di.retanente do perfeito conhecirrento do ccrnportarrento reprodutivo de seu plantel. Umfato que preocupa con- sideravelnente o criador de eqüínos é, sem dúvida, a baixa taxa de nascimentos que se segue a cada período de nonta, BERGIN(1969) infonna que a baixa eficiência de reprodução na espécie repre- INTRODUÇÃO senta import.ante probl.ema econômico e que nos Estados Unidos, no período de 1950 a 1956, a percentagem de potros nasci.dos vi- vos foi de 55,3%, em um total de 80.[184 éguas em cruzarrento, Assinala ainda que dados mais recentes apontam para aquele país a nédia nacional de 50% de potros co- lhidos vivos cada ano. Desde longa data, em diferentes par- tes do mmdo, estudam-se as causas .da bai- (1) Projeto IZ-0010/1. Recebido para publicação em outubro de 1985. e) Do Posto de Eqüideocultura de Colina. (3) Do Departamento de Fisiologia e Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas, USP. 349

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B. Indústr. anim., Nova Odessa, SP, 43(2):349-58, jul./dez. 1986

INCIDÊNCIA DA PERDA PRECOCE DA PRENHEZ EM eaUASDA RAÇA MANGA LARGA P )

(Premature loss of pregnancy on Mangalarga mares)

FRANCISCO RAUL ABBOTT PERDIGÃO DE OLIVEIRA (2), JOSÉ FELIPE DE SOUZA LEÃO (2), CELSOAUGUSTO (2), LUIZ ROBERTO AGUIAR DE TOLEDO (2) e FRANCISCO GACECK (3)

RESUMO: Foi analisada a ocorrência da perda precoce da prenhez (PPP) durante dezes-seis estações de cobertura, em éguas da raça mangalarga mantidas no Posto de Eqüideo-cultura de Colina, SP. Como PPP é considerada a perda de gestação iniciada e reconheci-da no primeiro exame clínico retal, feito em torno da quarta semana após o último salto,mas não confirmada em um segundo teste clínico, aos sessenta a setenta dias da últimacobertura. Foram trabalhadas 446 éguas, das quais 352 (78,9%) tiveram gestaçõesdiagnosticadas no primeiro exame retal, sendo 25 (7,1 %) interrompidas pela PPP, cuja in-cidência entre não lactantes foi de 6,4% e entre lactantes, de 7,9%. A análise estatísticafeita pelo método do qui-quadrado, não indicou diferença entre os valores (P < 0,05).Os autores comentam a elevada ocorrência da PPP entre potras de primeira gestação(50%), especulando que coberturas das com idade média de 36 mêses, com maturidadereprodutiva eventualmente incompleta, podem contribuir para aumento da incidência.

A eficiência de um estabelecinentode criação depende di.retanente do perfeitoconhecirrento do ccrnportarrento reprodutivode seu plantel. Umfato que preocupa con-sideravelnente o criador de eqüínos é, semdúvida, a baixa taxa de nascimentos que sesegue a cada período de nonta,

BERGIN(1969) infonna que a baixaeficiência de reprodução na espécie repre-

INTRODUÇÃO

senta import.ante probl.ema econômico e quenos Estados Unidos, no período de 1950 a1956, a percentagem de potros nasci.dos vi-vos foi de 55,3%, em um total de 80.[184éguas em cruzarrento, Assinala ainda quedados mais recentes apontam para aquelepaís a nédia nacional de 50% de potros co-lhidos vivos cada ano.

Desde longa data, em diferentes par-tes do mmdo, estudam-se as causas .da bai-

(1) Projeto IZ-0010/1. Recebido para publicação em outubro de 1985.e) Do Posto de Eqüideocultura de Colina.(3) Do Departamento de Fisiologia e Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas, USP.

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xa fertilidade eqüina. Entre os fatoresque concorrem para a diroinuição da taxa dermscinentos, destaca-se a perda precoce deprenhez, conhecida desde há mri.to sob adencminaçãc de norte embrionária p~ecoce(~1EP)• Em. geral, são consideradas carotais as perdas que ocorrem dos 25 aos cempríneí.ros dias de gestação, englobando,portanto,a fase embrionária e boa parteda fase fetal do novo ser. Em que pese adenoninação corrente da norte embrionáriaprecoce, considera-se mais adequado. chamá-la de perda precoce da prenhez (ppp), nelaincluindo-se as perdas nas fases enbr ionâ-ria e fetal.

RffiSDALE(1977) destaca que a deno-minação MEPé, algumas vezes, aplicada pa-ra perdas até os cem primeiros dias degestação, rrencionando, ainda, que a nortedo feto, com decanposição, reabsorção eretorno à corrente sanguinea, dificilmenteocorre. No f inal, da década de 1930, segun-do DAY(1939), a MEPjá era tida corro causaÍTnportante de ínfert í.Lí.dade 1mS éguas.

NISHIKAWA(1959) e ROSSDALE(1968), entreoutros, est imaram entre 7% e 15% a inci-dência de norte enbr'ionár ia em toda pre-nhes concebi.da. Em um plantel de 1.019éguas) PSI gestantes mantido sob rígidocontrole, vrn LEPEL (1975), na AlemanhaOcidental, ass inalou a ocorrência de 91casos de ~'lEPcom reabsorção (8, 9%)ó

FEOet alii (1978), trabalhando coméguas SRD (sem raça definida) no Estado

de São Paulo, relatam as observações fei-tas durante dois anos hípicos eu doisplantéis distintos. No pr irrei.ro, entre aslactantes que vieram a conceber no "cio dopotro" e eu cios subsequentes , não foiobservado nenhum caso de perda precoce;todavia, entre as não lactantes, de 41gestações três (7,39%) foram frustradas

pela MEP. No segundo pl.ante l , entre aséguas can potro ao pé, o índice de perdasfoi de 2,5%, enquanto entre as fêmeas nãolactantes, de 11,1%.

Na Alerranha Ocidental, ~1ERIcr(1966),em 3. 110 gestações diagnosticadas, regis-trou a ocorrência' de 225 casos de MEP( 7,29%) dos quais 170 se refer ism a éguascan potro ao pé (75,5%) e 55 a não lactan-tes (2l~,5%). KllJ; et al i.i (1975) re latamresultados de 116 éguas trabalhadas cemsêren congelado, das quaí.s 58 conceberam(50%), sendo que 41 produziram potrosvivos (35%) e sete manifestaram MEPduran-te o prÍTneiro terço de prenhez (12%).

BELrnJE & VANNIEKERK(1975) , eméguas commás condi.ções nutr icí.onai.s, ano-

taram al.ta taxa de MEPentre os 25 e 31dias da gestação. Merkt, citado por DAWSON(1977), nencíona que 17% a 24% das: éguasque concebem no ciopost-partum \ podem

apresentar MEP, enquanto as que concebemencios subseqiientes .ao chamado "cio dopotro" .têm a incidência reduzida para 7%ou trenos; entre as não lactantes, apenas2% frustram a prenhez em conseqüência da~1EP.

IDRBERG(1975) relata resultados dasobservações realizadas durante dez anoshípicos no Instituto Estadual, de Criaçãode .Cavalos da Finlândia; entre 213 éguasprenhes no período, 34 (16%) tiveram agestação interranpida em conseqiiênci.a daMEP, sendo que em outras 22 gestações in-terranpidas (10,3%) a causa provavelmentetenha sido a mesma, No manejo desse esta-bel.ecínento de criação, as éguas eram exa-

minadas semanalnente durante a época decobertura (de abril a novembro) e a pre-nhez diagnosticada através da palpação re-

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tal, por volta de 35 dias após a últimacobertura (ocas ionalnente , na terceira se-mana); um segundo exame era realizado apóssetenta dias da cobrição. Observou o autorque a maior incidência de MEPfoi nas co-

bertas no irúcio da temporada de nonta ,sugerindo que a incidência verificada nosdiferentes anos de observação estivesserelacionada aos Longos períodos de seca ede calor e~cessivo ocorridos.

MATERIAL E MÉTOOOS

o presente trabalho foi conduzido noPosto de Equi.deocultura de Colina, SP, doInstituto de Zootecnia. A região apresentaprecipitação pluvial trédí.a anual de 1.350

mn, com 90%concentrados nos meses de se-terrbro a março; as variações de temperatu-

1 o 80 o ('ra anua sa.tuam-se entre 2 C a 16 C me-dias das máximas e das mínimas, respecti-vamente) .

Foram utilizadas 4L~6 éguas da raçamangalarga , trabalhadas em dezesseis tem-poradas de monta (de 1966/67 a 1981/82),sendo todas nasci.das e recriadas no Posto,e iniciadas em suas atividades coro repro-dutoras ao crmpl.et.arem34 meses de idade.Potras virgens e éguas falhadas no anohípico anterior eram mantidas em regÍID2e~clusivo de pastos de capins jaraguá(By'p'ªrrhenia ~ (Ness.) Stapf.) gordura(Melinis minutiflora P o de Beavv.), colo-nião (Paní.cummaxÍIll.nnJacq.), grama-bata-tais (Pasp§.hnn notatlUn), pangola (Digita-ria dectnroens), grama-africana (Çy];lodmlRlectostachyus) e coast cross (ÇY.nodondactyJon cv. Coast Cross}, Farinha de os-sos e sal mineral.í.zado eram oferecidos àvontade.

A partir do oitavo a nono mês daprenhez, as em gestação do ano hípico an-terior erammantidas em piquetes anexos àscocheiras, recebendo di.ar í.arente supl.ereen-

tação de concentrado, sais minerais e fa-

rinha de ossos, condição que se prolongavapelo pós-parto até a desmama. A estação demmta sempre tinha início em 1Q de set.em-bro , terminando em 28 de fevereiro. A de-tecção de cio era realizada eln dias alter-nados e se baseava no coroport.anento a cam-po e nas reações perante um ruf ião, As queapresentavam sinais externos de cio eramsubiretidas a e~D2 ginecológico, com afinalidade de se detectar possíveis anoma-lias. A evolução do folículo ovariano eraacompanhada por palpação retal, sendo aséguas cobertas sorente quando revelavamfolículo próxiroo da ruptura eu, talluém,ÍIr.ediatamente após a J iberação do óvulo. Amonta era natural, à mão, e seguia cartade nonta previ.arente elaborada.

Umavez cobertas, as éguas eram man-tidas em ruf iação até a quarta semana e,não mani.festando sinaí.s externos de cio,

subret idas à palpação retal para o diagnós-tico clínico de gestação. Canprovada aprenhez, passavam a constituir lotes demanejo especial e encami.nhadas a áreaspróprias, sendo as não lactantes mantidasem regÍID2 exclus ivo de pasto e as lactan-tes suplementadas com concentrado. Decor-ridos de sessenta a setenta dias da últÍInacobertura, as positivas para prenhez aopr inei.ro exarre voltavam a ser examinadas,para verificação de possíveis perdas em-brionárias. \ÁX!o perda precoce de prenhez(1'1'1') foram considerados os casos em que a

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gestação, reconhecida pelo prirreiro exarrecHníco em torno de trinta dias, não pôdeser confirmada no segundo teste, aos ses-senta a setenta dias. Os resultados refe-

rentes àstes e nãoteste do(1966).

perdas observadas entre Iactan-lactantes foram analisados peloqui-quadrado, segundo miES

RESULTAOOS E DISCUSSÃO

A PPP é um dos fatores que, na espé-cie eqiiína, concorre para a diminuição dataxa de nascimento.

O quadro 1 Ilustra o nontante deéguas trabalhadas nas dezesseis temporadasde nonta, bem caro o ntuIero de PPP nasduas classes consideradas. Das 235 nãolactantes, 187 (79,5%) apresentaram re-sultado positivo para o diagnóstico feitona quarta semana, No segundo exarre clíni-co, doze éguas inicia1mente positivas mos-traram-se negativas (6,l~%), sendo taiscasos considerados corro PPP. Das 211lactantes, 165 (78,2%) foram positivas pa-ra o diagnóstico na quarta semana; contu-do, sorente 152 (92,1%) ass im cont inuavamquando do teste clínico aos sessenta dias,denunciando um índice de PPP de 7,9% (tre-ze éguas). Cons iderando-se todo o plantel,a incidência de PPP foi de 7, 1%(25 éguasem Mro) .•

As condições de manejo, quando setrabalha con plantei mareroso, nem semprepennitem um terceiro teste cl ínico aos cemdias, por nuitos considerado caro tempolimite no que se relaciona a PPP. MJRBERG(1975) real.izou o segundo teste de prenhezatravés de exaoe clínico até os setentadias após a cobertura, relatando altasperdas (16%). Emdecorrência desses fatos,foram realizados dois exaires sucessivos,com a data limite de setenta dias para o

segundo teste, considerando-se cano abor-tanentos as frutações de prenhez aconte-ci.das após esse prazo, em que pese o fatodos fetos abortados até os cem dias rara-irente serem percebidos pelos tratadores.As perdas verificadas se colocaram dentroda média citada na literatura. É interes-sante ressaltar que os dados colhidos nopresente trabalho, por abrangerem númroelevado de animais em diferentes tempera-das de tronta, parecem traduzir a média deocorrência de PPP a nível de plantéis ma-nejados sob idênticas condições.

A análise dos ruhreros obtidos, pon-derando-se os valores totais dos dezesseisanos de observações para as duas classesde éguas, não indicou diferença entre PPPde lactantes e não lactantes (p < 0,05).

Na figura 1 é apresentado o histo-grama, para cada período de iront;a, dasocorrências observadas. Emquatro tempora-das (1970/71, 1972/73, 1978/79 e 1981/82)não foram constatados casos de PPP. Na de1975/76, encontra-se um dado aparenterrentealto (20%), mas que, na verdade, é poucosignificativo, pois se refere apertas a umcaso de PPP (1.unapotranca pr ímipara}, emum pequeno lote de cinco éguas com prenhezpositiva ao pr imei.ro exame, Na tereporada1976/77, verificou-se grande porcentagem(26,6%) de casos de PPP entre as nãolactantes, o que pode ser atribuído às más

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condições de nutrição a que foi subret idaessa classe, pois, mantidas exclusivamenteem regíne de pastagem, sofreram conseqüên-cias das precárias condições em que estasse apresentavam, face a prolongada estia-gem ocorrida na região e ao excesso de pi-soteiro.

BEfD1.JE & VAN NIEKERK (1975) demons-traram o efeito das condições de nutrição

das éguas na sobrevivência do enbrião,evidenciando que nas mantidas combaixosníveis nutricionais após a cobertura, obolo embrionário se desenvolvia nonnalmen-te até cerca de 25 dias da ovulação, de-pois do que cessava sua evolução, ocorren-·do a rorte do errbrião; entretanto, éguascobertas e mantidas com baixos níveis nu-tricionais até o 182 dia após a ovulaçãonão apresentarem norte embrionária se a

Quadro 1. Ndmero total de éguas manga1arga trabalhadas em dezesseis estações demonta; incidência de PPP

Estaçõesde

monta

Não 1actantestguas

trabalhadasÉguasprenhes

LactantesÉguas

PPPÉgU3S

traba1hadClsÉguasPPP

Éguasprenhes

1966/67 15 o301967/68 34 25

1968/69 11 9

1969/l0 8 5

~910/71

1971/72 15 111972/73 17 1?

1973174 12 121974/75 8 8

1975/76 7 5

1976/77 16 151977/78 14 14

1978/79 11 8

1979/80 11 11

1980/81 9 9

1981/82 18 15Totais 235 187

353

2 6 3

18 11

o 13 11

o 5 5

o g 7 o12 2

o 10 8 oo 11 9

o 14 13

13 8 2

4 7 7 o17 15 2

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69/70

6 7 8 9

73/74

10 11 12 13

77/7814 15 16

81/82

Estoçoes de monto

Figura I. lncidêncio da perda precoce da prenhez (PPP) em éguas lactantese nõolactantes da raça manga larga, durante dezesseis estações de monta (1966 a 1982)

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par t i.r dessa data fossem alimentadas ade-quadarrente, Por outro lado, se eram manti-das emum plano adequado de nutrição até o35Q dia após a cobertura, a nort;e eubrio-nár ia dificilmente acontecia, ainda queapós essa data a al.inentação fosse redu-zida.

.;

No presente trabalho, no lote delactantes a incidência da PPP foi elevadaem três temporadas de cobertura; na de1969/70 foi pouco significativa, referin-do-se a apenas una perda em um grupo decinco éguas positivas ao pr irreí.ro examecLínico, Fato serrelhante ocorreu na tem-

porada de 1975/76, quando entre oito éguasdiagnosticadas positivas ao prureí.ro exameduas manifestaram PPP, tendo uma delasconcebido no cio post=partnm,

Procurou-se isolar as perdas oraun-das de coberturas realizadas no cio post-partum das resultantes em cios subseqüen-

tes ao chamado "cio do potro". Assim, dastreze perdas veri fí.cadas na classe daslactantes seis se referem a coberturas decios subseqüentes e sete a coberturas nopr irmi.ro cio após o parto, uostrando quenas condições em que se desenvolveu o tra-balho não houve marcante influência doefeito do cio na PPP.

Os resultados de PI.ATI (1973) mos-tram que 21%das gestações concebidas desete a 21 dias após o parto deixaram deprosseguir, mas que apenas 6%das inicia-das após o 42Q dia do parto resul taram emMEP. Tanto esse autor coro MERKT(1966)consí.deram que a taxa mai.s elevada de per-das embrionárias em éguas que conceberamno "cio do potro" está parcialmente ligadaao estresse da lactação; a rrort;e do em-brião parece ocorrer predoninanterrente nasboas produtoras de leite, acontecendo as

perdas sobretudo a partir do 35Q dia dagestação, quando a lactação vai. atingindoseu pico, o que não foi avaliado no presen-te trabalho. M:>RBERG (1975) registrou al-tas taxas de perdas de prenhez pela MEP(16%), embora todas as éguas trabalhadast ivessen acesso a boas pastagens no verãoe recebido ampl.as porções de feno e aveiano mverno,

Causas nutr ic ionai.s estão ligadas,sem dúvida, à ocorrência da PPP. Outrosfatores, em sua mai.ori.a de difícil conpro-vação, tambémtêm sido apontados: defeitosgenéticos causando vulnerabílidade doerrbrião, di.sfunção do endorrétr'i.co, fatoreshonronai s , írrvolução post -partim retardada,infecções genitais, doenças agudas crm re-fl.exo no netabol isno geral, estresses, de-feitos do óvulo ou dos espermatozói.des ,etc.

M:>RBERG(1975) rrencaona que o altoíndice de prenhez frust rada precocerentepor ele observado pode ser devido" ao fatode a maior ia das éguas ter sido coberta nocio post.-parrim, o que não foi evidenciado

no presente trabalho. MERKT(1966) infonnaque gestações oriundas de coberturas fei-tas no cio post=part.un atingem as maí.saltas taxas de PPP, can até 24%de perdas.M:>RBERG(1975) tanoém destaca que os maio-res índices inciden sobre éguas ínsenina-das can sêmen congelado ou recém-coletado,conparat ivarrente às submetidas à tronta na-tural.

As observações do plantel de éguasda raça mangal.arga do Posto de Eqi.iideocul-tura de Col.ina se r'eferem à coberturas porrmnta natural, o que reforça as observa-

ções daquele autor, tendo emvista a inci-dência rel.at ivarente baixa de PPP. O ires-rm autor sugere, ainda, que o manuseio dosêmen e a própria Inseminação podemdani-

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ficar os espennatozóides, aierentando o nú-mero de células anonnais, afetando, conse-qi.ientemente, o índice de PPP. KLUG et alii(1975), usando sêmen congelado em 116éguas, verificaram que 41 (44%) produzir~npotros vivos e que sete (14,5%) tiveram aprenhez tenninada precocemente por morteeror.ionár ia; consideram não existir evi-dências de que o uso de sêmen congeladoincremente as taxas de perdas enbrionárias.

Confrontando os dados do presenteexper iroento can os arrolados por FEO etalii (1978) e por IRWIN(1975), constata-se que a incidência de PPP nas duas clas-ses de éguas mangal.argas não corresponde àdos dois autores. O pr iioeiro trabalhou candois rebanhos no Estado de São Paulo,obtendo 0% e -2,59% de perdas para lactan-tes e 7,3% e 11,1% para não lactantes.IRWIN(1975), na Austrália, com487 éguas,registrou 6,2% de perdas para lactantes e10,3% para não lactantes. Os resultadosdesses autores contrastam tanoém can os de~rkt (in MJRBERG,1975), que assinalouincidência significativarrente maior deperdas para lactantes cobertas no ciopost-partum (17%), ban comopara lactantescobertas em cios subseqüentes (9%), contraapenas 2%da ocorrência em não lactantes.

Os resultados obtidos no Posto deEqi.iideocultura de Colina indicam ocorrên-cia ligeiramente maior de PPP entre aséguas lactantes, além do que a distribui-ção anual nas duas classes não foi unifor-me em todo período considerado. Nos dezes-seis anos de observações, a PPP não foiregistrada em seis estações de rronta na

classe das lactantes e em oito na das nãolactantes. Isso pennite sugerir que sobreas fêrreas lactantes incidam maí.s fatorespredisponentes, cano involução retardadado útero. Quanto às não lactantes, o fatorpredisponente de maior importância pareceter sido a entrada de potras virgens nosserviços de cobertura; entre os animaistrabalhados, de doze éguas não lactantesque tiveram perda precoce da prenhez, seiseram potrancas de pr iroei.ra gestação (50%).MITCHELL & AlLEN(1975) analisaram o de-sempenho reprodutivo de potras cobertasprecocemente e verificaram que um n(nrerosignificativamente alto de diagnosticadascem prenhez perderam ou reabsorveram pre-cocerente os fetos. Os autores admitem serprovável o fato estar relacionado cem aimaturidade reprodutiva, já que as maioresnecessidades nutricionais para atender ocrescimento e à própria manutenção seriamincanpativeis coma sobrecarga fisiol6gicajmposta pela gestação. O próprio sí.stenade manejo em que se realizou o presenteexper inento talvez tenha contribuído paraaurrentar a incidência de PPP entre as po-tras de pr ine i.ra gestação; recriadas acampo e sem receber nenhima supl.erentaçãoal irrentar , talvez não tenham resistido àsobrecarga Imposta pela pr.inei.ra gestação.

Pode-se especular que a taxa de PPt>no planteI do Posto de Equideocul.tura deColina se imst re re'lat ivanente alta entreas fâneas não lactantes, cert.arente pelofato de ser elevado o miaero de potrancasque a cada ano ent.ram em serviços de co-bertura, visto ser acentuada a reposiçãodo plantel de seleção.

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Nas condições do presente trabalho ecan base nos dados analisados, pode-sedestacar:

1. A perda precoce da prenhez (ppp)concorreu com 7, 1% na diminuição da taxade nascírrentos do pl.antel observado.

2. A PPP nas éguas não lactantes foide 6,4% e nas lactantes, de 7,8%, não ha-

OO!O..USCES

vendo influência do tipo de cao sobre suaocorrência.

3. Nas não lactantes houve elevadaocorrência da PPP nas potras de primeiragestação.

4. A PPP não incidiu regulamente acada ano, sendo sua frequênci.a possivel-mente dependente da intensidade de atuaçãoe/ou interação dos fatores predisponentes.

SUMMARY: Premature loss of pregnancy (PLP) was studied during sixteen breedingseasons of the Mangalarga mares of the Posto de Eqüideocultura de Colina, State os SãoPaulo, Brazil. Premature loss of pregnancy was defined as the losses occurring betweenthe fourth and eight week past the last stallion service. During the experimental period446 mares were studied and 352 (78.9%) of them were pregnant at the first rectal palpa-tion exam four week after the last breeding service. Twenty five (7.1%) of them pre-sented PLP, the incidence of PLP among the non lactating mares was 6.4% and for thelactating mares this value was 7.9%, statistical analysis by the Qui-square test showedthat these values were not different (P < 0.05). The mares that concieved for the firsttime showed high incidence of PLP (50%). Considering that these mares were 36 monthsold, the authors belíeve that they may have not been fully developed concerning theirreproductive tract and that this fact concurred for the high PLP value.

REFERÊNCIASBIBLI<X;RÁFlCAS

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Nas condições do presente trabalho ecan base nos dados analisados, pode-sedestacar:

1. A perda precoce da prenhez (ppp)concorreu com 7, 1% na diminuição da taxade nascinentos do pl.antal. observado.

2. A PPP nas éguas não lactantes foide 6,4% e nas lactantes, de 7,8%, não ha-

CDOCLusCEs

vendo influência do tipo de C10 sobre suaocorrência.

3. Nas não lactantes houve elevadaocorrência da PPP nas potras de primeiragestação.

4. A PPP não inci.diu regulannente acada ano, sendo sua frequênc.ia possivel-mente dependente da intensidade de atuaçãoe/ou interação dos fatores predisponentes.

SU MMA RY : Premature loss of pregnancy (PLP) was studied during sixteen breedingseasons of the Mangalarga mares of the Posto de Eqüideocultura de Colina, State os SãoPaulo, Brazil. Premature loss of pregnancy was defined as the losses occurring betweenthe fourth and eight week past the last stallion service. During the experimental period446 mares were studied and 352 (78.9%) of them were pregnant at the first rectal palpa-tion exam four week after the last breeding service. Twenty five (7.1%) of them pre-sented PLP, the incidence of PLP among the non lactating mares was 6.4% and for thelactating mares this value was 7.9%, statistical analysis by the Qui-square test showedthat these values were not different (P < 0.05). The mares that concieved for the firsttime showed high incidence of PLP (50%). Considering that these mares were 36 monthsold, the authors believe that they may have not been ful1y developed concerning theirreproductive tract and that this fact concurred for the high PLP value.

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