Da sociedade da informação às novas Tics

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  • Da sociedade da informao s novas tics: questes sobre internet, jornalismo e comunicao de massa

    Tas Marina Tellaroli1

    Joo Pedro Albino2 Resumo Vivemos em uma sociedade que se transforma a cada dia devido ao advento das novas Tecnologias da Informao na Comunicao (TICs). A convergncia dos sistemas de comunicao, tecnologias da informao e crescimento das redes integradas tornam-se responsveis pela transio de uma sociedade antes voltada indstria, para uma sociedade agora baseada na informao. Neste artigo discutimos a atual sociedade pautada nas inovaes tecnolgicas, a Internet como veculo de comunicao - com ateno focada ao meio que superou o modelo de comunicao de massa - e a trajetria do jornalismo diante de tantas mudanas. Palavras-chave: Sociedade da informao, Jornalismo e Comunicao. A sociedade da informao no sculo XXI

    A sociedade vem passando por transformaes culturais, mercadolgicas e econmico-

    sociais ao longo de sua existncia, porm, nos ltimos anos, a mudana foi surpreendente,

    no que diz respeito s novas Tecnologias da Informao na Comunicao (TICs). Surge

    um novo meio de comunicao o computador com conexes via Internet que modifica a

    forma de produo e disseminao de informaes pautado no dispositivo comunicacional

    todos-todos3, onde no existe apenas um emissor, mas sim milhares.

    Todas as mudanas serviram de inspirao aos tericos que nomearam a Sociedade

    com diversos termos, cada qual seguindo uma linha de pensamento. A Sociedade do sculo

    XXI tambm conhecida como Sociedade da Informao, Sociedade em Rede, Sociedade

    1 Jornalista com especializao em Jornalismo e Mdia pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Mestranda do programa de Ps-graduao em Comunicao da Unesp-Bauru-SP. [email protected] 2 Professor do Programa de Ps-graduao em Comunicao da FAAC/Unesp-Bauru. [email protected] 3 Pierre Levy (1999, p. 63) explica que o dispositivo comunicacional pode ser distinto em 3 categorias: um-todos, um-um e todos-todos. 1-Um-todos: um emissor envia suas mensagens a um grande nmero de receptores. Ex: rdio, imprensa e televiso. 2- Um-um: relaes estabelecidas entre indivduo a indivduo, ponto a ponto. Ex: telefone, correio. 3- Todos-todos: dispositivo comunicacional original, possibilitado pelo ciberespao, pois permite que comunidades constituam de forma progressiva e de maneira cooperativa um contexto comum. Ex: conferncia eletrnica, worl wide web,ambiente de educao a distncia. Levy refora que as realidades virtuais compartilhadas, que podem fazer comunicar milhares ou mesmo milhes de pessoas, devem ser consideradas como dispositivos de comunicao todos-todos, tpicos da cibercultura (1999, p. 105).

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    Global, Sociedade Tecnolgica, Sociedade do Conhecimento, Sociedade Ps-Industrial,

    Aldeia Global4, entre outros. Segundo Sebastio Squirra (2006), vasto o territrio da

    Sociedade da Informao e os autores enfocam o assunto dos mais diferentes ngulos e

    objetivos e com os mais diferentes pressupostos tericos e segmentao cientfica

    (SQUIRRA, 2006, p. 4). Entretanto, todas essas expresses tm algo em comum: discutem

    a sociedade a partir da mudana de paradigma causada pelo advento do computador e

    Internet. Mas Juan Cebrian (1999, p. 57) indica que, alm da Internet, a Sociedade Global

    da Informao j vive imersa em uma sociedade miditica desde os anos 60 aps a ecloso

    do fenmeno televisivo.

    O conceito de Sociedade Global foi cunhado por G. Guervitch em 1950; apesar de o

    processo de globalizao no estar evidente na poca, tinha a ambio de compreender os

    fenmenos sociais envoltos dos grupos, classes sociais e Estados. Ortiz, citando Gurvitch,

    (2003, p. 17) considera diversos tipos de sociedades globais: a Nao, o Imprio, as

    civilizaes, mas isso no seria suficiente para abarcar todo o planeta; a Sociedade Global

    seria composta por um conjunto de sociedades globais que se tocam, mas no fundo,

    excluem-se. Mesmo uma idia de 1950 continua atual, a globalizao acentuada pelas

    inovaes tecnolgicas faz com que as regies locais participem de fenmenos globais (de

    consumo e miditicos), mantendo, porm, suas especificidades regionais.

    Com as mudanas tecnolgicas vem tambm um forte desenvolvimento cientfico-

    tecnolgico tendendo convergncia entre a Informtica, a Eletrnica e a Comunicao.

    Com o mesmo pensamento, Daniel Bell (apud KUMAR, 1997, p. 22) argumenta que o que

    gerou a Sociedade da Informao foi a convergncia entre computador e telecomunicaes;

    aps tal convergncia, o computador centralizou funes que antes eram apresentadas por

    diversos meios comunicacionais. As tecnologias digitais, segundo Pierre Levy (1999),

    surgiram, ento, como a infra-estrutura do ciberespao, novo espao de comunicao, de

    sociabilidade, de organizao e de transao, mas tambm novo mercado da informao e

    do conhecimento (1999, p. 32).

    A convergncia dos sistemas de comunicao, tecnologias da informao e

    crescimento das redes integradas tornam-se responsveis pela transio de uma sociedade

    4 Aldeia Global foi o conceito usado pelo canadense Marshall Mcluhan, no livro O meio a mensagem, para explicar a interligao de todas as regies do planeta atravs da revoluo tecnolgica do computador e das telecomunicaes, mas, na poca, o autor elegeu a Televiso como meio integrado globalmente.

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    antes voltada indstria, para uma sociedade agora baseada na informao. As diversas

    sociedades, tanto do primeiro quanto do terceiro mundo reconhecem a importncia de

    estarem inseridos no processo de convergncia e correm busca de redes avanadas de

    comunicao. (STRAUBHAAR e LAROSE, 2004, p. 2).

    Manuel Castells (1999), visualizando o futuro da Internet como meio de comunicao,

    defende que este ser um veculo sobre o qual a nova sociedade estar embasada; o autor

    analisa no livro A sociedade em rede a sociedade voltada ao uso da informao, a

    partir de uma revoluo tecnolgica, trazendo a idia de que as novas tecnologias da

    informao esto integrando o mundo em redes interligadas globalmente. Existem

    mltiplas redes interligadas que se tornam fonte de formao, orientao e desorientao da

    sociedade, por isso, que a informao representa o principal ingrediente de nossa

    organizao social, e os fluxos de mensagens e imagens entre as redes constituem o

    encadeamento bsico de nossa estrutura social (CASTELLS, 1999, p. 573).

    Redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades e a difuso

    da lgica de redes modifica de forma substancial a operao e os resultados dos processos produtivos e de experincia, poder e cultura. [...] Eu afirmaria que essa lgica de redes gera uma determinao social em nvel mais alto que a dos interesses sociais especficos expressos por meio das redes: o poder dos fluxos mais importante que os fluxos do poder. A presena na rede ou a ausncia dela e a dinmica de cada rede em relao s outras so fontes cruciais de dominao e transformao de nossa sociedade: uma sociedade que, portanto, podemos apropriadamente chamar de sociedade em rede, caracterizada pela primazia da morfologia social sobre a ao social (CASTELLS, 1999, p. 565).

    Com base na citao de Castells visualizamos uma sociedade que mudou a dinmica

    nas relaes que envolvem troca de informaes, migrando do meio geogrfico (fsico)

    para o meio virtual oferecido pelas redes; com isso, houve transformaes nas relaes de

    poder. O poder est nas mos de quem detm as conexes que ligam as redes, como por

    exemplo, fluxos financeiros assumindo o controle de imprios da mdia que influenciam

    os processos polticos (idem, p. 566).

    So ntidas as transformaes elencadas pelo autor nessa nova sociedade. Christopher

    Freeman (apud CASTELLS, 1999, p. 107) citado por Castells, diz que, na sociedade em

    rede, houve uma mudana contempornea de paradigma, a transferncia de uma tecnologia

    que utilizava insumos baratos de energia, para outra, baseada nas telecomunicaes e

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    microeletrnica com insumos baratos de informao. A tecnologia foi transformadora tanto

    para a sociedade como para os meios de comunicao, tudo est relacionado direta ou

    indiretamente a ela. Por isso, a sociedade ganha um carter global, devido s trocas

    informacionais, mercadolgicas e culturais proporcionadas pela tecnologia.

    O futurlogo japons Yoneji Masuda (1982) j previa, nos anos 80, as transformaes

    que seriam causadas pelas TICs, sendo assim usou o termo Sociedade da Informao

    explicando que uma sociedade baseada na alta criatividade intelectual, onde as pessoas

    podem desenhar os seus projetos numa tela invisvel, bem como perseguir e alcanar a sua

    auto-realizao (MASUDA, 1982, p. 19). O governo japons desenvolveu um projeto

    chamado O plano para a sociedade da informao um objetivo nacional tendo em vista o

    ano 2000, em que tinha como meta transformar o pas, entre os anos de 1972 e 1985, em

    uma sociedade informatizada com projetos nas reas da Sade, Educao, Administrao,

    Computao, entre outros. O investimento de bilhes de dlares colocou o Japo frente de

    pases subdesenvolvidos na corrida pela informatizao da sociedade e acesso s TICs.

    Para estruturar a Sociedade da Informao, Masuda faz uma analogia Sociedade

    Industrial, pois considera esta um modelo social para prever a composio da Sociedade

    Informacional. Enquanto a mquina a vapor foi tecnologia de desenvolvimento da

    Sociedade Industrial, agora a tecnologia inovadora da Sociedade da Informao o

    computador e sua principal funo ser substituir e amplificar o trabalho mental do

    homem (MASUDA, 1982, p. 46). O autor explica ainda que:

    A revoluo da informao resultante do desenvolvimento do computador, expandir o poder produtivo da informao e possibilitar a produo automatizada em massa de informao, tecnologia e conhecimento cognitivos. [...] Na Sociedade da informao, as principais indstrias sero as indstrias intelectuais, cujo ncleo sero as indstrias do conhecimento. As indstrias ligadas informao sero adicionadas estrutura industrial primria, secundria e terciria como um novo setor, o quaternrio (MASUDA, 1982, pp. 46-47).

    Os veculos de comunicao parecem estar inseridos neste novo setor o quaternrio

    por serem detentores de informaes, a partir do momento em que coletam dados,

    interpretam-nos e os disseminam pelos meios comunicacionais.

    O autor Alvin Toffler popularizou a idia de uma sociedade ps-industrial no livro O

    choque do futuro (1970), mas foi no livro A terceira onda (1997) que desenvolveu o

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    conceito de uma sociedade diferente da industrial e agrria ao discutir uma teoria ps-

    industrial. Ele discute as transformaes na sociedade trazidas por ondas de mudana: a

    primeira onda advinda da revoluo agrcola, a segunda da revoluo industrial e a terceira

    da revoluo tecnolgica. A fora da primeira onda permeou entre os anos de 8.000 a.C. at

    1650 e 1750 d.C., perdeu sua fora e deu incio segunda onda: A civilizao industrial,

    produto desta segunda onda, ganhava fora e atingiu o ponto mximo nos Estados Unidos

    por volta de 1955. Nesta mesma dcada, a terceira onda comea a ganhar fora nos Estados

    Unidos, com a introduo do jato comercial, introduo generalizada do computador e

    invenes com alto teor tecnolgico (TOFFLER, 1997, p. 28).

    Toffler acredita, na poca da publicao de seu livro 1970, que os pases imersos na

    alta tecnologia oscilavam entre a terceira onda e as obsoletas economias e instituies da

    segunda, entretanto, ao discutirmos essa sociedade altamente industrializada do sculo

    XXI, podemos considerar ainda que estamos entre o choque das segunda e terceira ondas

    citadas pelo autor. Pode-se dizer, entretanto, que a Internet, aliada aos telefones celulares,

    TV Digital, TV a Cabo, esteja no limiar da terceira onda devido grande transformao

    que causou na comunicao e na troca de informaes entre as pessoas.

    Assim como as trs ondas de Toffler, a sociedade, segundo Pierre Levy (1999), passou

    por trs etapas: a primeira, quando as sociedades eram fechadas, voltadas cultura oral; em

    segundo, as sociedades civilizadas, imperialistas, com uso da escrita e, por ltimo, a

    cibercultura, relativa globalizao das sociedades. A cibercultura corresponde ao

    momento em que nossa espcie, pela globalizao econmica, pelo adensamento das redes

    de comunicao e de transporte, tende a formar uma nica comunidade mundial, ainda que

    essa comunidade seja e quanto! desigual e conflitante (1999, p. 248).

    Lcia Santaella (2003) traz uma abordagem interessante quanto evoluo das

    comunicaes. A autora foi uma das pioneiras ao discutir a cultura das mdias, em 1996, no

    livro Cultura das mdias; a evoluo da cultura de massa para uma cultura em que as

    tecnologias (videocassete, foto copiadora, aparelho para gravao de vdeo, indstria de

    filmes e surgimento da TV a cabo) e as linguagens propiciaram o consumo individualizado,

    oposto cultura de massa.

    As culturas passaram por transies at chegar ao que hoje a autora chama de

    cultura digital. Para compreender essas passagens de uma cultura outra, que considero

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    sutis, tenho utilizado uma diviso das eras culturais em seis tipos de formaes: a cultura

    oral, a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mdias e a

    cultura digital (SANTAELLA, 2003, p. 24). No so perodos culturais lineares, a

    formao de uma nova forma cultural e comunicacional integram-se anterior reajustando-

    se. A cultura digital chamada tambm de cibercultura, comeou a se intensificar no incio

    dos anos 1980 e tem como maior caracterstica a convergncia, devido s misturas entre

    meios e linguagens.

    A internet como veculo de comunicao

    Em 1969 entrava em funcionamento a primeira rede de computadores nos Estados

    Unidos, chamada ARPANET. Aps 19 anos de operaes, foi substituda pela NSFNET,

    operada pela National Science Foundation assumindo o posto de espinha dorsal da Internet,

    mas, em 1995, foi encerrada indicando a privatizao da Internet. At o fim dos anos 80, a

    Internet era um obscuro brinquedo tecnolgico usado basicamente por pequenos grupos de

    fanticos por computador (DIZARD, 2000, p. 24).

    Na dcada de 1990, com o aparecimento da World Wide Web, diminuio dos

    custos e aumento de contedo, a Internet espalhou-se pelo mundo; em 1996, j era usada

    com freqncia nos pases desenvolvidos. Ainda na dcada de 1990, segundo Wilson

    Dizard (2000, p. 24), a rede expandiu-se 50% a cada ano com a conexo de 300 milhes de

    computadores pessoais em mais de 150 pases. Desde a sua popularizao, h mais de 15

    anos, a Internet vem conquistando espao em todo o mundo, assumindo as relaes de

    comrcio, divulgao de informaes e se tornando um canal de relacionamento entre

    pessoas de diversas localidades. No incio de sua expanso, a Internet distribua apenas

    dados impressos e algumas informaes grficas, mas essa limitao desapareceu e vem

    sendo intensificada devido ao recurso multimdia capaz de manipular dados em vdeo, voz

    e impresso (DIZARD, 2000, p. 27).

    Com a popularizao da comunicao mediada por computador, houve uma

    preocupao latente quanto ao contedo disponibilizado na rede. Os jornais, de maneira

    geral, intimidaram-se com a possibilidade de serem engolidos pela nova tecnologia e

    migraram para o meio digital. O divisor de guas entre as mdias tradicionais e a mdia on-

    line foram as caractersticas advindas da tecnologia para divulgao de informaes e

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    convergncia das mdias, quando permitiram aos jornais on-line adicionar texto, som e

    imagem em velocidade instantnea de acesso. Hoje, os maiores e menores jornais do

    mundo podem ser acessados virtualmente; essa possibilidade despertou a ateno de

    estudiosos que questionam se a Internet ou no um veculo de massa, pelo fato de a

    massa estar associada a uma uniformizao das conscincias.

    Internet: meio de comunicao de massa?

    Segundo Andr Lemos A rede de redes chamada Internet est em vias de se tornar

    para os anos 90, aquilo que foi o rock para os anos 60: um fenmeno de massa (LEMOS,

    1996, p. 2). Antnio Hohlfeldt (2003) explica que existem vrias formas de comunicao,

    para posteriormente definir a comunicao de massa. A primeira delas a

    intracomunicao, explicada pela Psicologia. Naquela, a pessoa conversa com si mesma; a

    comunicao interpessoal ocasionada por um dilogo entre duas pessoas; a grupal d-se

    quando h interao entre mais de duas pessoas (por exemplo, no caso de uma palestra ou

    coletiva de imprensa) e a comunicao de massa, que dada pelos veculos de

    comunicao de massa. A comunicao de massa pressupe a urbanizao massiva, fenmeno que ocorre em especial ao longo do sculo XIX, graas segunda Revoluo Industrial, dificultando ou mesmo impedindo que as pessoas possam se comunicar diretamente entre si ou atingir a todo e qualquer tipo de informao de maneira pessoal, passando a depender de intermedirios para tal. Esses intermedirios tanto implicam pessoas que desenvolvam aes de buscar a informao, trata-la e veicul-la os jornalistas quanto de tecnologias atravs das quais se distribuem essas informaes. Todo esse conjunto constitui um complexo que recebe a denominao genrica de meios de comunicao de massa ou media (2003, p. 62).

    Hohlfeldt considera como veculo de comunicao de massa todos os veculos que

    distribuem informao. Na biblioteca on-line wikipedia5, a definio de comunicao de

    massa um pouco diferente; veculos ou sistemas de comunicao num nico sentido, ou

    seja, o receptor apenas recebe a mensagem, no havendo feedback imediato; no caso da

    Internet essa possibilidade acentuada. A televiso, o rdio, a mdia impressa, as revistas,

    entre outros, so meios que tambm possibilitam a interatividade, no de forma veloz como

    a rede, so apenas limitados.

    5 www.wikipedia.com

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    A comunicao de massa, segundo Carlos Camponez (2002, p. 76), entendida

    como um tipo de comunicao em que a mensagem transmitida, pelo que chamamos de

    mdia de massa, de um centro emissor para uma pluralidade de indivduos receptores,

    mas o autor ressalta que no fcil precisar a massa, pois esta dificilmente pode ser

    definida.

    John Thompson (1998) alega que o termo comunicao de massa imprprio, ao

    ser usado para caracterizar a mdia e especificamente a expresso massa, pois ela evoca a

    imagem de uma vasta audincia de milhes de indivduos. O que importa na comunicao

    de massa no est na quantidade de indivduos que recebe os produtos, mas no fato de que

    estes produtos esto disponveis em princpio para uma grande pluralidade de destinatrios

    (1998, p. 30). Alm dessa concepo quantitativa, outra idia considerada negativa em

    relao massa, fruto da corrente voltada para o estudo dos efeitos da comunicao

    desenvolvido na dcada de 20, a dos estudos da Teoria Hipodrmica em que os

    indivduos so vistos como seres indiferenciados e totalmente passivos, expostos ao

    estmulo vindo dos meios (ARAJO, 2001, p. 126). Hoje, afirmam os estudiosos que a

    idia de receptor passivo deve ser descartada, pois pouco ou nada tem a ver com o carter

    da recepo.

    Esta uma imagem associada a algumas das primeiras crticas cultura de massa e sociedade de massa, crticas que geralmente pressupunham que o desenvolvimento da comunicao de massa tinha um grande impacto negativo na vida social moderna, criando um tipo de cultura homognea e branda, que diverte sem desafiar, que prende a ateno sem ocupar as faculdades crticas, que proporciona gratificao imediata sem questionar os fundamentos dessa gratificao (THOMPSON, 1998, p. 30).

    A comunicao de massa est bastante ligada a certos tipos de mdia, como os

    jornais de grande circulao, TV e rdio, porm a troca de informaes pelos sistemas

    digitais cria um cenrio tcnico novo, onde a comunicao e a informao podem ser

    trabalhadas de maneiras mais flexveis.

    A Internet adquire caractersticas marcantes ao se configurar como um meio onde os

    usurios no so apenas consumidores de informao, mas tambm autores, alm de

    possibilitar a interatividade instantnea assumindo um papel oposto ao de um meio de

    comunicao de massa, porm cedo para afirmar que a Internet assume ou no tal

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    caracterstica. Eugnio Trivinho (2003, p. 174) entende que a mensagem (teoria da

    comunicao) torna-se suscetvel no ciberespao de acolher no seu interior os prprios

    usurios por meio de seus espectros imagtico-virtuais. Tal mistura virtual-heterognea

    entre sujeito e objeto jamais foi ou ser possvel no processo de comunicao interpessoal e

    de massa.

    A comunicao de massa envolve emissor mensagem receptor, um processo de

    sentido unidirecional que, por vezes, recebe o feedback, processo corriqueiro nos veculos

    on-line. Trivinho considera o computador como um veculo de televiagem

    comunicacional-interativa, sendo o hardware emissor e receptor respondendo tambm

    pelo feedback.

    A questo do feedback parece o ponto forte das discusses sobre o assunto, como

    afirmam Straubhaar e LaRose (2004, p. 14):

    Na viso clssica, a audincia era uma massa indiferenciada, annima tanto para ela mesma quanto para a fonte, e receptora passiva da mensagem de massa. A economia dos meios de massa era tal que audincias de milhares ou milhes eram necessrias para recuperar da maior base possvel os milhes de dlares investidos na criao e manuteno de sistemas de mdia. Respostas (feedback) eram em grande parte limitadas a relatrios de pesquisas de audincia, os quais levavam dias ou semanas para serem criados. [...] Tecnologias da informao e uma crescente abundncia de canais transformaram a economia para favorecer grupos menores e menores, chegando at mesmo no nvel do indivduo. Sistemas avanados de pesquisa de audincia aumentaram a riqueza e rapidez das respostas da audincia para as fontes de mdia, e tecnologias de mdia interativa prometem respostas imediatas. Talvez mais que qualquer outra mudana nos meios de massa que viemos considerando, esse fortalecimento do elo de resposta altera a natureza fundamental do processo de comunicao de massa.

    As mudanas tecnolgicas alteraram de forma significativa a comunicao de

    massa. Wilson Dizard (2000) divide a mdia em duas, mdia antiga e nova mdia, e a

    transio da velha para a nova liderada pela tecnologia. Os meios de comunicao de

    massa esto entre os vrios setores da comunicao que esto sendo transformados pelas

    novas formas de coletar, armazenar e transmitir informao. O fator comum nessa transio

    a mudana para a informao na forma digital (2000, p. 24).

    Talvez a informao digital tenha sido um dos pontos principais para a

    transformao da mdia de massa, alm desse, Dizard adiciona outros elementos: mundo

    dos computadores multimdia, compact discs, bancos de dados portteis, redes nacionais de

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    fibras ticas, mensagens enviadas por fax de ltima gerao, pginas de Web e outros

    servios que no existiam h 20 anos (2000, p. 54).

    Dizard questiona-se: ser que as novas tecnologias esto adequadas definio de

    meios de comunicao de massa? E responde que, se seguirmos o que diz o dicionrio, a

    resposta no. Afirmando o que j dissemos sobre o termo, o autor diz que a mdia de

    massa significa produtos informativos e de entretenimento padronizados e distribudos a

    grandes pblicos por canais variados. Os meios digitais modificam essas condies, Muitas vezes, seus produtos no se originam de uma fonte central. Alm

    disso, a nova mdia em geral fornece servios especializados a vrios pequenos segmentos de pblico. Entretanto, sua inovao mais importante a distribuio de produtos de voz, vdeo e impressos num canal eletrnico comum; muitas vezes em formatos interativos bidirecionais que do aos consumidores maior controle sobre os servios que recebem, sobre quando obt-los e sob que forma (DIZARD, 2000, p. 23).

    A teoria da comunicao de massa relacionada aos meios digitais indica elementos

    de mudanas de paradigma no processo comunicacional. As questes a cerca da Internet

    como veculo de comunicao de massa esto no limiar das discusses, isso porque a rede

    ainda recente e envolve um nmero relativamente alto de excludos digitais.

    O jornalismo diante da sociedade da informao digital

    Pode-se dizer que, com o avano das novas tecnologias, o jornalismo foi um dos

    setores que mais sofreram rupturas e mudanas no paradigma comunicacional; est

    havendo substituio do paradigma do pensamento linear pelo paradigma do pensamento

    hipertextual, o surgimento de um novo espao: o ciberespao, onde reconfigura os espaos,

    as relaes entre os seres humanos e a estrutura de poder. E diante de tamanhas mudanas

    que o jornalismo est inserido; voltado agora para o ambiente virtual, preciso adquirir

    novos aspectos para sobreviver no mundo globalizado.

    Antes do surgimento da Internet, nos primrdios da humanidade, o homem sentia

    necessidade de se comunicar, o aprimoramento da arte de contar histrias trouxe benefcios

    como a inveno da escrita e do papel. A prxima grande inveno foi a prensa de tipos

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    mveis6 - de Johannes Gutemberg - entre os anos de 1430 e 1440, possibilitando a

    produo de jornais impressos e, assim, o acesso informao.

    Jorge Pedro Sousa (2001) relata que a instalao de tipografias por toda a Europa

    permitiu a exploso da produo de folhas volantes, de relaes de acontecimentos e de

    gazetas, que, publicadas com carter peridico, se podem considerar os antepassados

    diretos dos jornais atuais (SOUSA, 2001, p. 19). O primeiro jornal impresso que se tem

    referncia data de 1597, chamado Noviny Poradn Celho Mesice Zari Lta 1597 (Jornal

    Completo do Ms Inteiro de Setembro de 1597), editado em Praga, porm outros

    historiadores do o mrito ao semanrio Nieuwe Tijdinghen, criado em Anturpia por

    Abrao Verhoeven, em 1605. Mas, o primeiro jornal impresso com publicaes dirias de

    que se tem registro - exceto aos domingos - o jornal O Daily Courant, criado na Inglaterra

    em 1702. Era apenas uma folha de papel, mas no s mostrou que as pessoas queriam

    conhecer rapidamente as notcias como tambm contribuiu para transformar o conceito de

    atualidade (SOUSA, 2001, p. 20).

    O jornalismo passou por transformaes ideolgicas ao longo dos sculos. No incio do

    sculo XIX, era considerado imprensa opinativa, ideolgica ou de partido; por volta dos

    anos trinta do sculo XIX, comeam a aparecer nos Estados Unidos jornais com notcias

    factuais e menos opinativas, com nfase aos artigos.

    No final do sculo XIX, emergiu nos Estados Unidos a chamada segunda gerao da penny press, designada por Timoteo Alvarez como a segunda gerao da imprensa popular. Conforme o seu nome indica, os jornais tornaram-se economicamente acessveis maioria da populao americana: s custavam um penny. Alm disso, direcionavam-se para a maioria da populao e no para uma elite. Alis, o propsito imediato dos donos desses jornais era obter lucro, quer com as vendas, quer com a incluso de publicidade. Estas circunstncias provocaram a primeira grande mudana na forma de fazer jornalismo. Os contedos tiveram de corresponder aos interesses de um novo tipo de leitores. O jornalismo tornou-se mais noticioso e factual, mas, por vezes, tambm mais sensacionalista. Seleo e sntese da informao e linguagem factual impuseram-se como fatores cruciais da narrativa jornalstica. [...] A este movimento de renovao do jornalismo deu-se o nome de Novo Jornalismo. o primeiro Novo Jornalismo da histria e teve como principais expoentes e impulsionadores os empresrios Pulitzer e Hearst (SOUSA, 2001, p. 24).

    6A prensa de tipos mveis foi um processo grfico criado, no sculo XV, por Johannes Gutemberg para produzir livros; a partir do sculo XVIII, a prensa tambm usada para a impresso de jornais. O primeiro livro impresso por ele foi a Bblia, no incio em 1455, tendo ficado pronta 5 anos depois.

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    Pulitzer adotou, em seu jornal The World, uma linguagem acessvel, clara, simples,

    precisa e com manchetes e grafismos diferenciados; para atrair o interesse dos leitores deu

    nfase ao contedo, passou a cobrir escndalos e histrias humanizadas. J na primeira

    metade do sculo XX, devido s duas guerras mundiais, o jornalismo adquiriu carter

    descritivo, sem anlise e interpretao das notcias, a partir dos anos 1960, o jornalismo

    evoluiu para um modelo mais analtico, devido em parte, especializao dos jornalistas.

    Ainda nos anos 1960, surge um segundo momento do Novo Jornalismo que teve duas

    foras propulsoras: a assumpo da subjetividade nos relatos sobre o mundo; e a retomada

    do jornalismo de investigao em profundidade, que revelou ao mundo escndalos como o

    do Watergate (SOUSA, 2001, pp. 28-29). Nesta fase, o jornalista visto como um

    intrprete da realidade.

    Paralelo evoluo do meio impresso surgem os primeiros sinais - no final da dcada

    de 1920 - de um novo veculo miditico, porm as duas grandes guerras adiaram sua

    disseminao; a TV s chegou aos Estados Unidos e Gr-Bretanha em 1944; no Brasil

    apenas em 1950. A evoluo foi relativamente lenta at o incio da dcada de 1950,

    quando teve incio o perodo de crescimento explosivo (ARMES, 1999, p. 71).

    Em 1980, o jornalismo sofre novamente mudanas causadas pelas novas tecnologias da

    informao na comunicao devido convergncia entre telecomunicaes e informtica,

    dando espao a um outro veculo informativo: os meios on-line. H tambm uma

    transformao no cenrio das corporaes de imprensa, comeam a se formar grandes

    grupos multimediticos, que substituram gradualmente as empresas monomdia

    (SOUSA, 2001, p. 32).

    Na dcada de 1970 o jornalismo on-line trilha seus primeiros passos nos Estados

    Unidos, quando o New York Times atravs do New York Times Information Bank oferece

    aos assinantes, dotados de computador, artigos e textos de suas edies dirias. Segundo

    Dizard (2000, p. 234), em 1980, em Ohio, o jornal Columbus Dispartels disponibilizou

    todo seu contedo aos assinantes que possuam computador, porm exigiam o pagamento

    de uma taxa pelo servio.

    O jornalismo desenvolvido na web tem a possibilidade de ser instantneo assumindo

    ainda outras caractersticas, segundo Marcos Palcios (2003, p. 17), so seis os elementos

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    do jornalismo on-line: a multimidialidade/convergncia, interatividade, hipertextualidade,

    personalizao e memria e, ainda, a atualizao.

    Nota-se que a imprensa transforma-se a cada inovao tecnolgica; muda a maneira de

    produo de contedo e altera a forma de recepo. Exemplos: o veculo impresso

    caracteriza-se por exigir do pblico o conhecimento da escrita; o rdio atinge um nmero

    maior de pessoas por usar apenas o som (audio); a televiso atrai um nmero tambm

    elevado de pessoas pelo apelo visual e auditivo; j o veculo on-line agrega em si todas as

    caractersticas dos outros veculos e gera uma mudana de paradigma da tecnologia da

    informao.

    Consideraes finais

    Procuramos oferecer ao leitor, neste artigo, uma viso ampliada da sociedade

    pautada na informao a partir da mudana no paradigma informacional causado pelo

    advento do computador e Internet. Tais transformaes foram responsveis por nos inserir

    no mundo ciberespacial fornecendo-nos dados, notcias, informaes de todo tipo em todas

    as lnguas e culturas existentes.

    A teoria da comunicao de massa, que muito foi usada para atribuir aos receptores

    dos veculos miditicos (rdio, televiso e jornal impresso) a idia de uniformizadora de

    conscincias, merece ateno ao discutirmos a Internet. Tal veculo possibilita a

    interatividade instantnea no veiculando a mesma mensagem a uma massa homognea, na

    Internet devido ao seu ambiente desterritorializado, qualquer pessoa de qualquer lugar do

    mundo pode optar por qual informao deseja ver ou rever.

    Inserido nesse ambiente poroso e rizomtico est o jornalismo que ganhou novas

    possibilidades para a publicao de notcias. No trajeto apresentado foi possvel perceber a

    transformao dos meios de comunicao at chegarmos ao jornalismo on-line, um veculo

    miditico novo, mas que cresce velozmente em todo o mundo.

    Referncias bibliogrficas ARAJO, Carlos Alberto. A pesquisa norte-americana. In: Teorias da comunicao: conceitos, escolas e tendncias. HOHLFELDT, Antnio, MARTINO, Luiz C., FRANA, Vera Veiga (Orgs.). Petrpolis, RJ: Vozes, 2001.

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