Da Voz Lírica do Alentejo ANEXOS -...

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS Da Voz Lírica do Alentejo (Contributo para o estudo da Literatura Oral e Tradicional de Reguengos de Monsaraz) ANEXOS Lina do Carmo Godinho dos Santos Mendonça Orientador(es): Prof. Doutor João David Pinto-Correia Doutora Ana Maria Fraústo Diogo Correia Paiva Morão Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de Estudos de Literatura e de Cultura, na especialidade de Literatura Oral Tradicional Ano 2018

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

Da Voz Lírica do Alentejo

(Contributo para o estudo da Literatura Oral e Tradicional de Reguengos de Monsaraz)

ANEXOS

Lina do Carmo Godinho dos Santos Mendonça

Orientador(es): Prof. Doutor João David Pinto-Correia

Doutora Ana Maria Fraústo Diogo Correia Paiva Morão

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de Estudos de Literatura

e de Cultura, na especialidade de Literatura Oral Tradicional

Ano 2018

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

Da Voz Lírica do Alentejo

(Contributo para o estudo da Literatura Oral e Tradicional de Reguengos de Monsaraz)

ANEXOS

Lina do Carmo Godinho dos Santos Mendonça

Orientador(es): Prof. Doutor João David Pinto-Correia

Doutora Ana Maria Fraústo Diogo Correia Paiva Morão

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor no ramo de Estudos de Literatura

e de Cultura, na especialidade de Literatura Oral Tradicional

Júri:

Presidente: Profª Doutora Maria Cristina de Castro Maia de Sousa Pimentel, Professora Catedrática

e Membro do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Vogais:

- Doutor Carlos Manuel Teixeira Nogueira, Investigador Integrado da Cátedra José Saramago

da Universidade de Vigo, Espanha;

- Doutora Ana Paula Amorim de Sousa Guimarães, Professora Associada da Faculdade de

Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa;

- Doutor José Joaquim Dias Marques, Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas

e Sociais da Universidade do Algarve;

- Doutor João David Pinto Correia, Professor Associado Aposentado da Faculdade de Letras

da Universidade de Lisboa, orientador;

- Doutora Maria de Lourdes Soeiro Cidraes, Professora Auxiliar Aposentada da Faculdade de

Letras da Universidade de Lisboa;

- Doutora Vanda Maria Coutinho Garrido Anastácio, Professora Associada da Faculdade de

Letras da Universidade de Lisboa.

Ano 2018

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Índice

Anexo I - Corpus composto pelas composições recolhidas no concelho de Reguengos de

Monsaraz………….……………………………………………………………..

1.Composições de carácter prático-utilitário……..………………………………………….

1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa……………………….…

1. 1.1. Orações…………………………………………………………………...

1.1.2. Benzeduras ………………………………………………………………

1.1.3. Esconjuros………………………………...………………………………

1.1.4. Rezas……………………………………………………………………...

1.1.5. Cantigas de Embalar………………………………………………………

1.2. Composições de sabedoria………………………………………………………

1.2.1. Provérbios………………….……………………………..………………

1.2.2. Expressões Populares…………….……………………………..…………

2.Composições de carácter lúdico ……………………………………………………………

2.1. Rimas Infantis…………………………………………………………………...

2.2. Cantigas de todos os dias………………………………………………………..

2.2.1. Cantigas Amorosas……………………………………………………….

2.2.2. Cantigas às Cantigas……………………………………………………..

2.2.3. Cantigas Conceituosas……………………………………………………

2.2.4. Cantigas Toponímicas……………………………………………………

2.2.5. Outras…………………………………………………………………….

2.2.6. Cantigas ao Despique…………………………………………………….

2.2.7. Cantigas de Roda…………………………………………………………

2.2.8. Canções e Modas…………………………………………………………

2.2.9. Cantigas de Entrudo………………………………………………………

2.3. Cantigas religiosas………………………………………………………………

2.3.1. Cantigas ao Menino Jesus……………………………………………….

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3

3

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2.3.2. Cantigas de Reis…………………………………………………………

Anexo II - Índice geográfico de informantes do concelho de Reguengos de Monsaraz

(com indicação da data das entrevistas)……………….......................................

Anexo III – Antologia de textos líricos da tradição oral do concelho de Reguengos de

Monsaraz recolhidos e publicados, entre 1899 e 2012…………………………

A - Antologia de composições publicadas, entre 1899 e 2012……..…….………………..

1.Composições de carácter prático-utilitário…………………………..….…………….........

1.1. Composições de natureza e intenção mágica e

religiosa…………………………………………………………………………….

1. 1.1. Orações…………………………………………………………………...

1.1.2. Ensalmos ………………………………………………………………….

1.1.3. Esconjuros………………………………………………………………...

1.2. Composições de sabedoria……………………………………………………….

1.2.1. Provérbios………………….……………………………………………...

2.Composições de carácter lúdico ……………………………………………………………

2.1. Cantigas de todos os dias………………………………………………………..

2.1.1. Cantigas Amorosas……………………………………………………….

2.1.2. Cantigas às Cantigas……………………………………………………...

2.1.3. Cantigas Conceituosas……………………………………………………

2.1.4. Cantigas Toponímicas…………………………………………………….

2.1.5. Outras……………………………………………………………………..

2.1.6. Cantigas ao Despique……………………………………………………..

2.1.7. Canções e Modas…………………………………………………………

2.2. Cantigas religiosas………………………………………………………………

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2.2.1.Cantigas de Reis……………………………………………………………

B. Antologia de textos líricos recolhidos, em 1999 – recolha do CTPP (Centro de

Tradições Populares Portuguesas Professor Manuel Viegas Guerreiro)...............

1. Composições de carácter prático-utilitário…………………………………………………

1.1. Composições de natureza e intenção mágica e

religiosa…………………………………………………………………………….

1. 1.1. Orações…………………………………………………………………...

1.1.2. Benzeduras………………………………………………………………...

1.1.3. Ensalmos………………………………………………………………….

1.1.4. Esconjuros………………………………………………………………...

1.2. Composições de sabedoria……………………………………………………….

1.2.1. Provérbios………………….……………………………………………...

1.2.2. Expressões Populares……………………………………………………...

2.Composições de carácter lúdico ……………………………………………………………

2.1. Rimas Infantis…………………………………………………………………..

2.2. Cantigas de todos os dias……………………………………………………….

2.2.1. Cantigas Amorosas……………………………………………………….

2.2.2. Cantigas às Cantigas……………………………………………………...

2.2.3. Cantigas Conceituosas……………………………………………………

2.2.4. Cantigas Toponímicas…………………………………………………….

2.2.5. Outras……………………………………………………………………..

Anexo IV – 2 Lindas Quadras dedicadas á Imponente Procissão, de Reguengos de

Monsaraz em 27 de Outubro de 1946, de João Flôres ..........................................

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Anexo V - Quatro quadras fundamentais dedicadas ao nosso falecido Doutor Domingos

Rosado Vogado natural de Reguengos de Monsaraz, de João Rosado Marques

Anexo VI – Descritivo do DVD de demonstração da recolha de literatura oral e

tradicional realizada no concelho de Reguengos de Monsaraz………………..

Bibliografia…………………………………………………………………………………..

Discografia…………………………………………………………………………………...

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ANEXOS

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Anexo I – Corpus composto pelas composições recolhidas no concelho de Reguengos

de Monsaraz

1. Composições de carácter prático-utilitário

1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa

1. 1.1. Orações

Para o quotidiano

De manhã

Ao levantar-se

ROr 1 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Com os anjos me levanto,

[…]

Subiu à cruz. Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 2a1 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Com Deus me deito,

Com Deus me levanto, Com a Graça de Deus

E o Divino Espírito Santo.

Recitou versão idêntica: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro

de 2011.

1 A informante informou que, por vezes, também reza esta oração à noite.

Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante no último verso: E do’Sprito Santo (Joaquim

Roque [1946], Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia Alentejana), Beja, Minerva Comercial, 1946,

pág. 57).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 2b2 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Oração ao levantar

Com Deus me deito, Com Deus me levanto,

Em louvor de Deus

E do Divino Espírito Santo.

RO 2c3 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz (Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

outubro de 2009.

Com Deus me deito,

Com Deus me levanto,

Na Graça de Deus E do Divino Espírito Santo.

ROr 34 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Oração da manhã

Deus te salve, luz do dia,

Deus te salve quem te cria,

Santo ou Santa deste dia.

ROr 4 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, Reformada (trabalhadora rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Oração da manhã

2 Cf. Manuel Joaquim Delgado [1956], A Etnografia e o Folclore do Baixo Alentejo: aspectos vários,

curiosidades linguísticas, Separata da revista Ocidente, Lisboa, 1956, pág. 78. 3 A informante explica que a oração também se reza à noite, “à deitada”. 4 Cf. J. A. Pombinho Júnior [2001], Orações Populares de Portel, Lisboa, Colibri-Câmara Municipal de

Portel, 2001, pág. 55.

Uma versão muito parecida foi recolhida na Aldeia da Tôr (Loulé):

Bendita seja a luz do dia,

bendito o Deus que a cria,

bendito o santo ou santa deste dia,

Padre-Nosso, Ave-Maria. (Idália Farinho Custódio, Maria Aliete Farinho Custódio, Isabel

Cardigos [2008], Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, vol. III, Loulé, Edição da Câmara Municipal de Loulé, 2008, pág. 40). Joaquim Roque publicou versão quase idêntica à de Loulé, com

variante no último verso: De quein fôr hôiz’o sê’ dia (cf. Roque [1946], pág. 57). A versão de Manuel

Joaquim Delgado, em quatro versos, é quase idêntica, com a diferença do terceiro verso: Bendito seja o

Filho da Virgem Maria (Delgado [1956], pág. 81).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Da minha cama me levanto

Pra minha vida governar,

Todos os santos me acompanhem, Nos passos que eu vou dar,

5 Deus à frente e eu atrás.

A Virgem Santíssima me guarde

Nas fúrias do Satanás.

ROr 5 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Deus te salve, manhã clara,

Por Deus foste ordenada,

Onde está o cáles bento

Mais a hóstia consagrada.

Ao lavar as mãos

ROr 6a5 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraza, a 12

de Junho de 2009.

Minhas mãos molho, Minha cara vou lavar,

Vou fazer a vontade à Virgem,

Para o Demónio não me atentar.

ROr 6b Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Minhas mãos vou molhar,

Pro meu rosto lavar […]

Antes da refeição

ROr 7 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Abençoado Pai do Céu,

E ao pão nosso deste dia,

Deus lhe conserve a vida,

Pra nos amar e servir.

5 Dita de manhã, ao lavar-se. Mas benze-se primeiro.

A informante recitou a mesma versão em 5 de Março de 2011.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 8 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Meu Deus, abençoa

Esta refeição que eu vou comer,

Que me sirva de proveito, À minha alma e ao meu corpo,

5 Em louvor de Deus e de Nossa Senhora,

Vou te rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

Depois da refeição

ROr 9a6 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Obrigado, Senhor,

Dá-me de comer, Sem eu o merecer,

Dá-me assim o Céu,

5 Quando eu morrer.

ROr 9b Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

outubro de 2009.

Obrigado, Senhor,

Pelo pão ou almoço que me deu,

Sem eu o merecer, Dai-me assim o Céu,

5 Quando eu morrer.

À noite

Ao fechar a porta

ROr 10 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Eu fechei a minha porta, Não tinha por quem esperar,

6 Não difere muito a versão de Parragil (Loulé):

Graças Te dou, Senhor, que me deste de comer,

sem eu merecer!

Assim me levai para o Céu,

5 quando eu vier a morrer. (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 315).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Entrou a Virgem Maria.

Que me veio a acompanhar.

ROr 11a Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Jesus à porta,

Jesus ao festigo,

Jesus na cama, Pra dormir comigo.

ROr 11b Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Jesus à porta,

Jesus ao postigo,

Jesus na cama Deitado comigo.

ROr 12 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Fecho a minha porta, Fecho o meu festigo,

E peço a Nossa Senhora

Que venha dormir comigo.

ROr 13a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Minha porta fecho, Minha porta vou fechar,

Saia quem sair,

Entre quem entrar,

5 Nossa Senhora Me venha acompanhar

E o Divino Espírito

Me venha salvar.

ROr 13b

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de

Outubro de 2009.

Minha porta fecho,

Minha porta vou fechar,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Saia quem sair

E entre quem entrar.

5 Entre Nossa Senhora,

Que me venha acompanhar, E o Divino Espírito Santo,

Para a minha alma salvar.

ROr 13c7 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhador rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Saia quem sair, Entre quem entrar,

Entre Nossa Senhora,

Pra me vir acompanhar.

ROr 14 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Minha porta fecho,

Minha porta vou fechar,

Vou fazer a vontade à Virgem,

Para o Demónio não me atentar.

Ao deitar

ROr 15 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Anjo da Guarda me guarde, Anjo da Guia me guie,

Guardai-me toda a noite,

E amanhã todo o dia.,

5 Pra que o meu corpo não seja ferido, Nem o meu sangue mortificado,

Comigo esteja o Senhor crucificado.

ROr 16a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Anjo da Guarda, Minha companhia,

Guardai a minha alma,

7 Aprendeu a oração com uma vizinha.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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De noite e de dia.

Recitou versão idêntica: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da

Luz (Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5

de outubro de 2009.

ROr 16b Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Anjo da Guarda, Minha companhia,

Guardai a mim e aos meus filhos,

Toda a noite e todo o dia.

ROr 16c Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012 .

Anjo da Guarda, Minha zelosa companhia,

Guardai a minh’alma

De noite e de dia.

ROr 16d8 Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de Monsaraz, residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Meu Anjinho da Guarda,

Meu doce companhia,

Guardai a minha alma,

De noite e de dia.

ROr 16e9 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Anjo da Guarda,

Minha doce companhia, Guardai-me esta noite toda a noite

E amanhã por todo o dia.

8 Cf. Delgado [1956], pág. 78. 9 Cf. Delgado [1956], pág. 78. Há uma versão mais extensa recolhida por Pombinho Júnior, em Portel:

Ó meu anjo da guarda,

Minha doce companhia,

Peço-te que me guardei

Esta noite, toda a noite,

5 E àmanhã todo o dia,

Assim como Jesus Cristo foi guardado

Nas entranhas da Virgem Maria! (Pombinho Júnior [2001], pág. 112).

Cf. Roque [1946], pág. 57.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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10

ROr 17a10 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª classe, natural de Telheiro, residente em Telheiro.

Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Com Deus me deito,

Com Deus me levanto,

Com a Graça de Deus E Espírito Santo.

ROr 17b Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Com Deus me deito, Com Deus me levanto,

Com a Graça de Deus

E o Divino Espírito Santo.

ROr 17c11 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Com Deus me deito,

Com Deus me levanto,

Na Graça de Deus Do Divino Espírito Santo.

ROr 17d Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Quando eu me deito,

Quando eu me levanto, Na Graça de Deus

E do Divino Espírito Santo.

ROr 18 Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Cruz de Cristo esteja aqui, Espíritos maus fugir de mim,

Ó meu puríssimo Jesus,

Filho de homem potente,

5 Guardai-me esta noite toda a noite, Amanhã por todo o dia,

O meu corpo não seja frido,

Nem mal deitado,

10 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 89. 11 Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 40.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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11

Nem sangue derramado,

10 Cruz de Cristo esteja ao meu lado.

ROr 1912 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Oração a Jesus

Jesus e Jesus comigo,

Jesus esteja ao pé de mim,

Se Jesus estiver comigo, Nada venha contra mim,

5 Jesus seja o que Deus quiser,

Se Jesus comigo tiver,

Contra mim Venha o que vier.

ROr 2013 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Jesus esteja comigo,

E a rosa aonde nasceu, E a hóstia consagrada,

E a cruz onde morreu.

ROr 2114 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Jesus se deite comigo,

Jesus a meu lado,

Jesus no meu peito,

Esteja o senhor crucificado.

ROr 2215 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Encosto-me ao cravo,

Abraço-me à Cruz,

12 A informante reza a oração à noite. 13 Encontrámos uma versão de Corga de Gilvrasino (Loulé):

Eu me entrego a Jesus

e à flor onde Ele nasceu

e à hóstia consagrada e à Cruz onde morreu. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 108).

14 Aprendeu as orações com a sua mãe e com o seu avô, que era um homem muito religioso. 15 Recitou a mesma oração no dia 25 de Setembro de 2011.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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12

Entrego a minha alma

Ao menino Jesus.

ROr 23a16 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suiça), natural de Campinho, residente em

Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Eu já me vou deitari,

Eu nã tenho por quem esperari,

Mas espero por Nossa Senhora,

Que me venha acompanhari.

ROr 23b Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Já me vou deitar,

Já nã tenho por quem aguardar, Aguardo por Nossa Senhora,

Que me venha acompanhar.

ROr 23c Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Já me vou deitar,

Não tenho por quem esperar,

Espero por a Virgem Maria

Me venha acompanhar.

ROr 23d17 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

outubro de 2009.

Vou-me deitar, Não tenho por quem esperar,

Espero por Nossa Senhora,

Que me venha acompanhar.

16 Oração que aprendeu com a sua avó.

Pombinho Júnior recolheu em Portel uma versão quase idêntica:

Nesta cama me deito,

Não tenho por quem esperar

Espero por Nossa Senhora

Que me venha acompanhar. (Pombinho Júnior [2001], pág. 94). 17 Aprendeu a oração com a mãe.

Cf. Delgado [1956], pág. 80.

Joaquim Roque recolheu uma versão, com algumas variantes: Nesta cama me ‘dêtê’

Nã tenho por quem ‘sperar:

Peç’ a Dê’s Nó’ Senhor

Que me venh’ acompanhar. (Roque [1946], pág. 57)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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13

ROr 23e Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Vou-me deitar, Nã tenho por quem esperar,

Espero por Nossa Senhora,

Que me venha acompanhar.

ROr 23f Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Vou-me deitar,

Não tenho por quem esperar.

Nossa Senhora Que me venha acompanhar.

ROr 24 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Menino Jesus, Filho da Virgem Maria,

Guardai-nos esta noite

E amanhã por todo o dia.

ROr 25a Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Na minha cama me deito,

Na sepultura da vida,

Se a morte me vier buscar,

E eu não puder falar, 5 O meu coração que diga

A Jesus para me salvar.

ROr 25b18 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Nesta cama me deito,

Na sepultura da vida,

Se a morte me vier buscari,

E eu não puder falari, 5 Meu coração peça

18 Reza a oração todas as noites ao deitar, depois de se benzer.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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14

A Jesus para me salvari.

ROr 2619 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 69 anos, agricultor, frequência do 9º ano, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011

Nesta cama me deitei, Sete anjos nela achei,

Três aos pés, quatro à cabeceira,

Nossa Senhora na dianteira,

5 Nossa Senhora me disse: - Durmo-te, poisa,

Não tenhas medo de nenhuma coisa.

Dormi e acordei,

E Nossa Senhora ao pé de mim.

ROr 2720 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

19 Pombinho Júnior recolheu uma versão mais curta:

Três anjos aos pés,

Três à cabeceira

E N[ossa] Senhora na dianteira.

Durme e repoisa,

Não tenhas medo de nenhuma coisa,

Que eu dormi e acordi, Nunca tal coisa temi! (Pombinho Júnior [2001], pág. 103.

Também a versão de Mosteiro (Loulé) se aproxima daquela que recolhemos:

Nesta cama me deito,

nesta cama me deitei

e sete Anjos encontrei:

quatro aos pés

5 e três à cabeceira,

e Nossa Senhora na dianteira.

E ela me disse

que dormisse descansada,

pois estava toda a noite,

10 na minha guarda. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 58-59).

A versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado cumpre textualmente o mesmo arquétipo, com excepção

do último verso com a referência ao bendito Filho que aparece como protector ao lado de sua mãe, a Virgem:

E o meu bendito Filho para te salvar (Delgado [1956], pág. 80). 19 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 95.

A composição recolhida por Manuel Joaquim Delgado é muito parecida:

Nesta cama vivo me deito,

Não sei se me levantarei,

Confesso-me a Deus em graça,

Vivo na Vossa Santa Lei. (Delgado [1956], pág. 78.) 20 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 95.

A composição recolhida por Manuel Joaquim Delgado é muito parecida:

Nesta cama vivo me deito,

Não sei se me levantarei,

Confesso-me a Deus em graça,

Vivo na Vossa Santa Lei. (Delgado [1956], pág. 78.)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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15

Nesta cama me deito,

Nã sei se me levantarei,

Confesso-me a vós, Senhor,

Comungo na vossa lei.

ROr 28 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

No Céu está uma estrela,

Ela caia sobre mim, Jesus Cristo esteja nela,

Que ela responda por mim.

ROr 29 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

O meu corpo vai caindo, Senhora tem-lhe mão,

Sois a minha protectora,

Senhora da Conceição.

ROr 30 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Ó meu Anjo da Guarda,

Semelhança do Senhor,

No céu foste criado

Pra emparo e guardador.

ROr 31 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 69 anos, agricultor, frequência do 9º ano, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Ó meu Deus da minha alma,

Senhor do meu coração, Guardai a minha alma,

De noite e de dia.

ROr 32a Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Quatro cantos tem a casa,

Quatro velas a acender,

Quatro anjos me acompanhem,

Na hora em que eu morrer.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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16

Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural

de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi

funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do

Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

ROr 32b21 Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),

natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos

do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Quatro cantos tem a casa,

Quatro velas a arder,

Quatro anjos me acompanhem, Esta noite, se eu morrer.

ROr 32c Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhador rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Quatro cantos tem a casa,

Quatro velas a arder, Quatro anjos me acompanhem

Esta noite ô adormecer.

ROr 33a Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santo António pequenino,

Filho da Vigem Maria,

Guarda-me esta noite

E amanhã pra todo o dia.

ROr 33b22 Informante: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Outeiro, a 13 de Setembro de 2011.

Santo António pequenino,

Filho da Virgem Maria, Guardai-me esta noite

21 Cf. Delgado [1956], pág. 78. Em Almarguinho (Loulé), foi recolhida uma versão que se aproxima da versão de S. Marcos do Campo:

Quatro cantos tem a casa,

quatro velas a arder,

o Senhor me acompanhe,

quando eu chegar a morrer. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 68).

Também Joaquim Roque recolheu uma versão parecida, de invocação a Nossa Senhora:

Esta casa tem quatro cantos

Quatro velas a arder.

Nossa Senhora m’acompanhe

S’ ê’esta noute morrer! (Roque [1946], pág. 58). 22 Aprendeu a oração com a avó materna.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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17

E amanhã todo o dia.

Recitou versão idêntica: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras

Informações: trabalhadora rural, lavadeira; Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª classe, natural de

Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

ROr 33c Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Santo António pequenino,

Filho da Virgem Maria,

Guardai a minha alma De noite e de dia.

Recitou versão idêntica: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo,

doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12

de Setembro de 2011.

ROr 33d Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo

António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Santo António pequenino, Filho da Virgem Maria,

Guarda-me a mim e à minha gente,

Hoje e amanhãeim por todo o dia.

Para confessar

ROr 34 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Eu, pecador, me confesso,

Para bem dos meus pecados, À hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

ROr 35 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Oração da menina que não sabia rezar

Chamava-se Maria e havia igreja naquela localidade. E as pessoas iam para a

missa diziam:

- Maria, anda, vamos à missa. - Ora, eu não sei rezar.

E soava uma voz:

- Já hoje.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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18

Era todos os dias a mesma coisa. E, então, ela rezava esta oração:

Meu doce Jesus da minha alma,

Pai do meu coração, Eu confesso os meus pecados,

Para saber quantos eles são,

5 Dai-me nesta vida paz,

Em morrendo, a salvação.

ROr 36a23 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Ó meu Deus da minha alma,

Senhor do meu coração, Perdoai os meus pecados,

Bem sabe quantos eles são,

5 Dai-me esta vida a graça

E na outra a eterna salvação, Que a minha alma se não perca,

Nem morra sem confissão.

ROr 36b24 Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos, reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Ó mê Deus da minha alma,

Senhor do meu coração,

Perdoai os meus pecados,

Bem sabe quantos eles são, 5 Dá-me nesta vida ingrata

E na outra a eterna salvação,

Que a minha alma se não perca,

Nem morra sem confissão.

ROr 36c Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de

Outubro de 2009.

Ó meu Deus da minha alma,

Senhor do meu coração,

Perdoai-me os meus pecados,

Bem sabe quantos eles são,

23 A informante diz que aprendeu a oração com o avô Domingos, avô paterno e faz referência ao contexto

de aprendizagem desta oração: Quando fizeram as mudanças da horta, o seu pai ainda não dormia lá, por

isso o avô fez companhia aos netos. 24 Oração que aprendeu com o seu avô Domingos dos Caeiros (o informante é primo da informante Maria

do Carmo Amieira, a ambos o avô ensinou a mesma oração).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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19

5 Dai-me nesta vida a graça

E na eterna a salvação.

ROr 37a25 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Senhor do Conforto, Foste preso, foste morto,

Perdoai os nossos pecados,

São tantos e prolongados,

5 Ao pé do meu confessor, Não os pude lá confessar.

Confesso-me a vós, Senhor,

Pa saber quantos eles são,

Que a minh’alma se não perca 10 Nem morra sem confissão.

ROr 37b Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

25 A informante rezava-a, quando passava algum tempo sem se confessar junto do padre. Aprendeu-a com

a sua mãe.

Pombinho Júnior, em Portel, encontrou e recolheu uma versão próxima das nossas:

Senhor Jesus do Conforto

Foste preso, foste morto,

Perdoou a vossa morte Que foi tão cruel e tão forte;

5 Perdoa-me os meus pecados,

Que são tantos e apelingrados;

Aos pés do meu confessor

Não os pude dar confessados,

Confesso-me a Nosso Senhor,

10 Para saber quantos eles são;

Que a minha alma se não perca

Nem morra sem confissão. (Pombinho Júnior [2001], pág. 121).

A versão de Joaquim Roque tem uma estrutura temática muito idêntica, apesar das variantes:

15 Senhor do Horto

‘Fostes’ preso e ‘fostes’ morto

Perdoai! – A minha morte

Foi tão cruel e tão forte.

Perdoai os ‘mê’s pocados’

20 ‘Forom’ todos ‘av’riguados’

‘Ôs péis’ do ‘mê’ confessor

Nã’ nos pude dar confessados,

Confess’os a Vós, Senhor,

P’ra saber ‘q’ont’eles são

25 P’ra qu’a minh’alma nã’se perca

Nẽi ê’ morra ‘sẽi confessão’. (Roque [1946], pág. 61). Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões textualmente muito similares (cf. Delgado [1956], pág.

84).

Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, também há várias versões que se aproximam daquela

que recolhemos e da versão de Pombinho Júnior (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 122-126).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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20

Senhor do Conforto,

Foste preso e foste morto,

Perdoai os meus pecados,

São tantos e repincados. 5 Diante do meu confessor,

Não os pude dar confessados.

Peço a vós, Senhor,

Pra saber quantos são, Pra que a minha alma

10 Não se perca nem morra sem confissão.

Paralelas

ROr 38a26 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Salve Rainha pequenina,

Rosa branca sem espinho,

Cravo de amor, Mãe do Senhor,

5 Dás-nos o juízo entendimento,

Pra arreceber o Santíssimo Sacramento.

ROr 38b27 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de Setembro

de 2011.

Salve Rainha pequenina,

Rosa branca sem espinha,

Cravo d’amor, Mãe de Nosso Senhor,

5 Dá-me luz e entendimento,

Pra receber o Santíssimo Sacramento.

ROr 38c Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Salve Rainha pequenina,

Rosa sem espinha,

Cravo d’amor, Mãe de Nosso Senhor,

5 Dai-nos luz e entendimento,

Pra arreceber o Santíssimo Sacramento.

26 Uma versão quase similar foi recolhida no Baixo Alentejo; contudo, a anteceder o último verso, apresenta

o seguinte verso: Para, na hora da minha morte, (Delgado [1956], pág. 81). 27 Cf. Roque [1946], pág. 72.

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21

ROr 38d28 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Salve Rainha pequenina,

Rosa sem espinha,

Cravo do amor, Mãe de Deus Nosso Senhor,

5 Dá-me luz e entendimento,

Para receber o Santíssimo Sacramento.

ROr 38e Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Salve rainha pequenina,

Mãe de espinho. […]

ROr 38f Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campo,

residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Salve Rainha pequenina, Filha da Virgem Maria,

Guarda-me hoje por toda a noite

E amanhã por todo o dia.

Para proteger

ROr 39a Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Anjo da Guarda,

Santo Anjo do Senhor, Meu zeloso guardador,

Pois a ti te confio

5 E à Piedade Divina,

Hoje e sempre me governo,

28 Encontrámos em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, em Orações Populares Portel e em

A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo: aspectos vários, curiosidades linguísticas, uma versão

praticamente idêntica, com uma ligeira variação, contém a variante espinho, em vez de espinha (cf.

Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 105; Pombinho Júnior [2001], pp. 135-136; Delgado [1956], pág.

81).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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22

Rezo, guardo e ilumina.

ROr 39b29 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santo Anjo do Senhor, Meu zeloso guardador,

Pois a ti me confiou

A piedade divina,

5 Hoje sempre me governa, Rege, guarda e ilumina.

ROr 40a30 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Anjo da Guarda,

Semelhança do Senhor, No céu foste criado

Pra meu amparador.

5 Só te peço por filho meu,

Que não te esqueças de mim, Que me livres da má morte

E que me chegues a bom fim.

ROr 40b Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de Setembro de 2011.

Ó meu Anjo da Guarda,

Semelhança do Senhor,

No céu foste criado,

Para meu amparo, Senhor. 5 Eu peço, ó filho meu,

Que não te esqueças de mim,

Que me livres da má morte,

Que me chega no fim.

ROr 41 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Camisinha de Virgem Maria,

29 Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 43. 30 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão mais curta, com quatro versos:

Ó Anjo da minha Guarda,

Semelhança do Senhor,

Que do Céu foste mandado,

Pra meu amparo guardador. (Delgado [1956], pág. 78)

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23

Tenho eu por paz e guia,

Quem mal me quiser fazer,

Deus lhe queira compreender,

5 Tenha pernas não ande, Tenha braços não nos alcance,

Tenha olhos não nos veja,

Tenha boca não nos fale,

Virgem Maria nos guie, 10 Santo António nos guarde.

ROr 4231 Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural),

natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

Cruz de Cristo feita aqui,

Espíritos maus fujam de mim,

Lá no Reino da Judeia, Ta um leão vencedor.

5 Aleluia, Aleluia, Aleluia.

ROr 43a32 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Deus te salve, cavalheiro honrado,

Com as armas de Cristo está armado,

Com o leite da Virgem Maria estou borrifada,

Que a minha alma não seja presa, 5 Nem agarrada nem bruxada,

Nem roubada nem sangue do meu corpo tirado,

Por feros caminhos irei,

O bom e o mau encontrarei, Os maus não virão,

10 Os bons encaminharão,

Encaminhada seja eu,

Ó meu Senhor São Francisco, Ó minha Senhora da Conceição

E ó meu senhor Jesus Cristo.

31 Aprendeu a oração com um virtuoso. 32 Informação da informante: Esta também é muito bonita. Esta também foi das primeiras que a avó Joana

[sua mãe] ensinava aos filhos todos.

Pombinho Júnior recolheu uma versão próxima daquelas que recolhemos, embora mais curta:

F… que para fora vás,

Com as armas de Cristo vás armado,

Com o leite da Virgem Maria borrifado;

Os bons te encontrarão 5 E os maus não te verão.

Acompanhado irás tu, F…

Com as armas de Cristo.

Aleluia! Aleluia! (Pombinho Júnior [2001], pág. 180).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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24

ROr 43b33 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Deus nos salve, cavalheiros honrados,

Com as armas de Cristo estamos armados,

Com o leite da Virgem Maria fomos borrifados, Que eu e os meus queridos

5 Não sejamos presos, nem agarrados,

Nem roubados, nem bruxados,

Nem sangue do nosso corpo tirado, Preferes caminhos iremos,34

Bom e mau encontraremos.

10 Os maus não nos virão,

Os bons nos encaminharão, Encaminhados sejamos todos nós,

Por o Senhor São Francisco,

Por a Senhora da Conceição,

15 Por o Nosso Senhor Jesus Cristo.35

ROr 43c

Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 91 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

setembro de 2011.

Deus te salve, cavalheiro honrado,

Com as armas de Cristo vens armado, Não sejamos presos nem roubados,

Nem bruxados, nem devorados,

5 Nem sangue do nosso corpo tirado,

Por feros caminhos andarei, Bom e mau encontrarei,

Os maus não nos virão,

Os bons nos encaminharão,

10 Encaminhados sejamos nós, Por o Senhor São Francisco,

Minha Senhora da Conceição,

Meu Senhor Jesus Cristo.

ROr 44 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

outubro de 2009.

Jesus Cristo viva,

Jesus Cristo reina,

33 Aprendeu a oração com a sua avó materna. 34 Na recitação da oração sente-se insegura e repete-a. Neste verso, “perde-se” e repete novamente a oração

e dirá iremos corrigindo andaremos, que tinha dito anteriormente. 35 Quando repete corrige meu por nosso.

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25

Jesus Cristo todo o mal nos defenda.

ROr 4536 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 5 de

Novembro de 2011.

Justo Juiz de Nazaré, Filho da Virgem Maria,

Que em Belém fostes nascido,

Entre […]

5 Eu te peço, Senhor, Pelo vosso sexto dia,

Que o meu corpo não seja

Preso nem ferido nem morto,

Nem nas mãos da Justiça envolto, 10 Paz tecum, paz tecum,

Cristo assim disse

Aos seus discípulos.

Se os meus inimigos vierem Para me prenderem,

15 Tarão olhos, não me virão, 36 A oração do Justo Juiz Divinal (ou Justo Juiz da Nazaré) está presente também, através de várias versões

em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, em Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia

Alentejana) e em A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo. Há uma versão de Loulé que se aproxima

textualmente da versão que recolhemos e que pode sugerir as partes esquecidas pela nossa informante:

Justo Juiz de Nazaré,

Filho da Virgem Maria,

que em Belém foste nascido, entre as idolatrias,

5 eu Vos peço, Senhor,

pelo Vosso sexto dia,

que o meu corpo não seja preso

nem ferido nem morto

nem nas mãos da justiça envolto.

10 ‘Pax tecum., pax tecum, pax tecum,’

Cristo assim disse aos discípulos.

Se os inimigos vierem,

para me prenderem,

terão olhos, não me verão,

15 terão ouvidos, não me ouvirão,

terão boca, não me falarão.

Com as armas de São Jorge, serei armada,

com as espadas de Abraão, serei coberta,

com o leite da Virgem, serei borrifada,

20 com o sangue de Senhor Jesus Cristo,

serei baptizada,

na arca de Noé serei arrecadada,

com as chaves de São Pedro, serei fechada,

aonde não me possam ver

25 nem ferir nem matar

nem sangue do meu corpo tirar. Amém.

Jesus, Maria e José,

que o Senhor me aumente a minha fé. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 280-281; Roque

[1946], pp. 67-69; Delgado [1956], pp. 92-93).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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26

Tarão ouvidos, não me ouvirão,

Tarão boca, não me falarão.

Com as armas de S. Jorge,

Serei armado, 20 Com espada de Abraão

Serei coberto,

Aonde não me possam ver,

Nem ferir, nem matar, Nem sangue do meu corpo tirar,

25 Também vos peço …

[…]

Com o leite da Virgem Maria Serei criado,

Com o sangue do meu Senhor Jesus Cristo

Serei baptizado,

30 Na arca de Noé serei arcadado, Com as chaves do S. Pedro serei fechado,

Aonde não me possam ver, nem ferir, nem matar.

ROr 4637 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campo, residente em

Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Os meus netos estão pra fora

Em bom dia, em boa hora,

Sejam por Nossa Senhora acompanhados,

Não sejam feridos nem roubados, 5 Nem do corpo deles sangue tirado,

Quem mal lhe quiser fazer,

Tenham pernas, não andem,

Tenham braços, não lhe mexam, Tenham boca, não lhe falem,

10 Tenham olhos, não nos vejam,

E eles fazem guia

Tão guardados sejam os meus netos Como Filho Nosso, o Filho da Virgem Maria.

ROr 47a38 Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural

da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Pai Nosso pequenino,

Quando Deus era menino, Tinha a chave do Paraíso.

Quem lhas deu, quem lhas daria?

5 Foi S. Pedro mais Santa Maria.

37 Oração que aprendeu com a sua avó. Costuma rezá-la também à noite. Julgamos que adaptou o primeiro

verso à sua intenção de rezar pelos netos. 38 Cf. Delgado [1956], pág. 81.

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27

Já os galos cantam,

Já os anjinhos se levantam,

E já Deus subiu à cruz,

Para sempre. Amém. Jesus.

ROr 47b39 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Pai Nosso pequenino,

Tem a chave do Paraíso, Quem la deu, quem la daria?

São Pedro, Santa Maria?

5 Cruz no monte, cruz na fonte,

Onde o Demo não me encontre, Nem de noite, nem de dia,

Nem à hora do meio-dia,

Já os galos cantam,

10 Já os anjos se levantam, Já Deus subiu à cruz,

Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 47c Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Santo António pequenino, Tem a chave do menino,

Quem lha deu, quem lha daria?

São Pedro, Santa Maria?

5 Cruz em monte, cruz em fonte, Nunca o Demónio me encontre,

Nem de noite, nem de dia,

Nem à hora do meio-dia.

Já os galos cantam, 10 Já os anjos se levantam,

Já Deus subiu à cruz,

Para sempre, Amém e Jesus.

ROr 47d40 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 69 anos, agricultor, frequência do 9º ano, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Santo António pequenino

Tem a chave do menino.

Quem lha deu, quem lha daria?

39 Versão muito próxima foi recolhida em Salir (Loulé) (Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 272).

Também Joaquim Roque publicou uma versão semelhante, com uma variante no verso 6: ‘Mê’ pocado’ nã’

encontre (Roque [1946], pág. 60). 40 Aprendeu esta oração com o seu avô.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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28

Foi São Pedro, foi Santa Maria.

5 Cruz em monte, cruz em fonte,

Nunca o Demónio me encontre,

Nem de noite nem de dia, Nem à hora do meio-dia,

Já os galos cantam,

10 Já os anjos se levantam,

Já Deus subiu à cruz, Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 47e Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Santo António pequenino, Tem na chave do menino,

Quem lha deu, quem lha daria?

São Pedro, Santa Maria?

5 Cruz em monte, cruz em fonte, Nunca o Demónio me encontre,

Nem noite nem de dia,

Nem às horas do meio-dia,

Já os galos contam, 10 Já os anjos se levantam,

Já Deus subiu à cruz,

Para sempre. Amém. Jesus.

ROr 47f

Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Santo António pequenino,

Quando Deus era menino,

Tinha as chaves do Paraíso Quem lhas deu, quem lhas daria?

5 S. Pedro, Santa Maria?

Já os galos cantam,

Já os anjos se levantam, Já Jesus subiu à cruz

Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 4841

41 A versão recolhida por Pombinho Júnior é mais extensa:

Santo António se levantou,

Caminho e carreira andou,

Nossa Senhora encontrou, Ela lhe perguntou:

5 - Aonde vais [,] António?

- À vossa Santa busca vou.

- Pois tu [,] António [,] irás

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29

Informante: Maria Gomes, 86 anos, analfabeta, reformada, natural de São Marcos do Campo, residente

em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Santo António se levantou,

Seu pezinho direito calçou.

A Virgem le procurou:

- Aonde vás, António? 5 - Vou com Nosso Senhor.

- Comigo nã irás,

Em terra ficarás,

Os meus filhos guardarás, No ma cão, na má cadela,

10 No ma lobo, na má loba,

No ma homem, na má mulher,

Nos possa fazer mal.

Para viajar/para sair de casa

ROr 4942 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Anjo da Guarda, Semelhança do Senhor,

Acompanha os meus filhos e toda a minha família

Pra onde quer que eles forem.

ROr 50a Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Da minha casa saio, Governar a vida vou,

Tantos anjos me acompanhem

Como rodadas e passos ê dou.

ROr 50b43

E na terra ficarás,

O meu corpo me guardarás

10 De mau lobo e de má loba,

De mau cão e de má cadela,

De mau homem e de má mulher E de tudo mau que houver,

Que eu nunca tenha perca

15 Nem dano nem prejuízo algum.

Em louvor da Virgem Maria

Um P[adre] N[osso] e uma A[ve] M[aria]. (Pombinho Júnior [2001], pág. 175). 42 Oração que a sua mãe dizia quando um dos filhos saía de casa. 43 Recitou a mesma versão a 21 de Outubro de 2011.

Há uma versão com diversas variantes recolhidas por Idália Farinho Custódio, em Alto do Relógio (Loulé):

Da minha casa eu vou sair,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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30

Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Da minha casa vou sair,

Prá minha vida ir governar.

Tantos anjos me acompanhem,

Como passos eu vou dar, 5 Deus comigo e eu com Deus,

Ele à frente, ê atrás,

Nossa Senhora me livre

Das astrácias de Satanás.

ROr 51a Informante: Maria Clara Bragado, 69 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de S. Marcos do

Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de novembro

de 2011.

Jesus, que eu [fulano] vou pra fora,

No bom dia e na boa hora, Que o véu da Virgem Maria

Esteja na sua companhia,

5 Que não seja morto,

Nem frido, nem preso, E nem roubado, e nem afogado,

E nem mal tratado.

Seja só dos anjos acompanhados,

10 Na arca do Padre Eterno, Nasceu o verbo divino,

Senhor, a quem Deus […],

Guiá-lo de bons caminhos.

Quem tiver olhos maus não o veja, 15 Quem tiver boca má não le fale,

Quem tiver braços maus não o alcance,

Quem tiver pernas más não o agarre.

Deus queira que [o meu filho ou a minha pessoa] Vá chegar ao destino dele,

20 Com tanta paz e alegria,

Conforme foi e veio o Filho da Virgem Maria.

Padre-Nosso e Ave-Maria.

ROr 51b Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

para a minha vida governar,

tantos Anjos me acompanhem

como passos eu vou dar.

5 Deus comigo e eu com Deus, Deus à minha frente e eu atrás,

e a Virgem Santíssima

me livre das astúcias de Satanás.

Amém. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 237).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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31

Senhor Jesus, eu vou pra fora, Em bom dia e boa hora,

Tomaremos Deus por sê pai,

A Virgem por sua mãe, 5 A camisa da Virgem

Por sua espada e sua guia.

Quem nos quiser dar a companhia

Será Deus e a Virgem Maria, Quem nos quiser fazer mal

10 Deus nos queira defender,

Se tiver pernas, não ande,

Boca, não me fale, Olhos, não me veja.

Valha-me as pessoas

15 Da Santíssima Trindade,

Atrás e à minha frente, É Deus Pai e é Deus Filho,

É Deus vivo,

Deus me queira livrar de todo o prigo.

Para encomendar

ROr 52a44

44 Oração que aprendeu com uma pessoa muito boa e por isso a sua mãe consentiu que a aprendesse, quando

o filho nasceu.

Usadas com uma intenção muito específica (uma para rezar contra os cães arraivados e a outra para livrar

da raiva – dos perigos e do mal), as versões recolhidas por Pombinho Júnior são praticamente idênticas

àquela que recolhemos. Transcrevemos a primeira: Encomendo-me à Luz

E ao Santo da Vera Cruz

E ao Reino da Virgindade

E às três pessoas da S[antíssima] Trindade

5 E ao Senhor S. Romão[,]

Está [coroado e] por c’roar[,]

Tem os pés em Roma

E a cabeça em Portugal.

Que nos livre do cão danado

10 E por danar[,]

De homem morto

E ma encontro [,]

De homem vivo

E de mau perigo[,]

15 São Romão esteja comigo

E Santo António meu amigo. Fuge[,] cadela[,]

Entremeio de mim e de ti, cadela,

Está Santa Maria Madanela. (Pombinho Júnior [2001], pág. 186).

Joaquim Roque apresenta como variante uma versão da Oração das Cinco Chagas (ou Jesus Menino quer

dizer missa), para livrar de cães danados e outros males, que é, na verdade, uma encomendação

textualmente semelhante à Encomendação à Luz recolhida em Reguengos de Monsaraz:

Ê m’encomend’ à Luz

E ô Rêno da Vera Cruz E à Santissima Trindade

E ô glorioso Senhor S. Remão

5 Que tem nos péis em Roma

E a cabeç’a em Portugal.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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32

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de 2009.

Encomendo-me à Luz,

E ô Senhor da Vera Cruz,

E ô Reino da Virgindade, E a São Romão,

5 Coroado e por coroar,

Tem a cabeça em Roma

E os pés em Portugal, Que Deus me livre

E me queira livrar,

10 Do cão danado e por danar,

Do homem morto e do mau encontro, Do homem vivo e do mau perigo,

Santo António é meu amigo,

São Romão esteja comigo.

ROr 52b45 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Eu me encomendo a Jesus,

Aos três cravos e à cruz,

E às três pessoas da Santíssima Trindade, E a São Romão de Paloma,

5 Que está coroado e por coroar,

Tem os pés em Roma,

A cabeça em Portugal, Para que me ilumine,

Ele me ‘quêra’ livrar

De cão danado e por danar

De bicho achado e por achar,

10 D’homem morto, mau encontro,

D’homem vivo, mau ‘prigo’ S. Remão ‘sêje’ comigo

E Sant’ Antóino, mê’ amigo,

Me livre de tod’o p’rigo. (Roque [1946], pág. 63)

A versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado é a mais curta, sem prejuízo da presença de alguns

motivos temáticos que a aproximam das diferentes versões recolhidas:

Eu me entrego à Luz

E à bela santa Cruz,

E ao rei da virgindade,

E às três pessoas da SS. Trindade,

5 Que nos livre de lobos e lobas,

Cães danados e por danar,

D´home morto, má’encontro,

D’home vivo, de má’perigo.

S. Romão seja comigo. (Delgado [1956], pág. 87). 45 Diz, particularmente, a oração quando tem medo de um cão.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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De cão danado e por danar,

10 Homem morto, mau encontro,

Homem vivo, mau perigo,

O Senhor São Romão Acompanhe comigo.

ROr 53a Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Encomendo-me a S. Silvestre,

Às sete camisinhas que o senhor veste, Os seus anjinhos são trinta e sete,

Me livre de bicha, de serpa,

5 De homem temeroso,

Mulher esgadelhada, Que anda por meio da estrada,

E do fradinho da mãe furada.

ROr 53b46 Informante: Josefina da Conceição Bragado Godinho, 58 anos, reformada, 4ª classe, natural de S. Marcos

do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de

Novembro de 2011.

Encomendo a minha filha a São Silvestre,

Às onze camisinhas que ele veste,

Aos sete anjos, trinta e sete, Corte a cabeça à serpente,

5 Corte o coração ao leão,

Corte pés e corte mãos

A quem chegar ao pé da minha filha Com má intenção.

46 Informação da informante: Era costume os rapazes que partiam para o Ultramar levarem escrita e

também é dita quando alguém sai de casa, por exemplo.

Encontramos uma versão muito parecida em Orações Populares de Portel:

Valha-me o Senhor S. Silvestre,

E as sete camisinhas que ele veste,

E os seus anjos trinta e sete.

Conforme ele cortou

5 A cabeça à serpe e as armas ao leão,

Àqueles que me quiserem fazer mal

Que lhes corte pés e mãos. (Pombinho Júnior [2001], pág. 115).

A Encomendação a São Silvestre, igualmente, se apresenta na obra de Joaquim Roque, como os primeiros

versos quase idênticos aos da versão de S. Marcos do Campo:

Ê’ m’ encomend’ a S. Selveste

E às onze camisinhas qu’ele veste

E òs sê’s enginhos trinta e Setembro

P´ra que corte a cabeç’à serpe 5 E a língu’ ô lião

E os braços e as pernas

Àqueles e àquelas

Que contra mim são!... (Roque [1946], pág. 66)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 54a47 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Eu entrego-me a Jesus,

À sua Santa Cruz, Ao Santíssimo Sacramento,

Às três relíquias que ele tem dentro,

5 Às três missas do Natal, Não me aconteça nenhum mal,

Maria Santíssima esteja sempre comigo,

Anjo da minha guarda me guarde,

Me livre das tentações do demónio.

ROr 54b48 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Valha-me o Santíssimo Sacramento,

As relíquias que lá tem dentro,

E as três missas do Natal, Que a mim e à minha gente,

47 Diz que reza a oração todos os dias.

Versão muito similar foi recolhida por Idália Farinho Custódio:

Eu me entrego a Jesus,

à Sua santíssima Cruz,

ao Santíssimo Sacramento,

às três relíquias que tem dentro,

5 às três missas de Natal

e às três toalhas do altar,

que não haja homem nem mulher

que me possam fazer mal.

Maria Santíssima esteja sempre comigo,

10 Anjo da minha guarda me valha

e me livre sempre de todo o mal.

Amém. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 219).

A versão recolhida por Joaquim Roque é mais extensa:

Ê’ m’ encomend’ a Jasus

E à sua ‘Santissema’ Cruz

E ô ‘Santissemo’ Sacramento E às três arrelicas que já ‘tẽi drento’

5 E às três ‘Possoas destintas’

Da ‘Santissema Trendade’

E às três Missas do Natal

P’ra que nã’ haje ‘nengẽi’

Que me possa fazer mal.

10 ‘Dê’s’ me livre de má’ lobo e de má loba

De má’ cão e de má cadela

De má’homem e de má mulher

E de todos os p’rigos ruins qu’hòver.

D’ homem morto, má encontro

15 D’homem vivo, má p’rigo…

E Jasus, e Jasus e Jasus têje comigo

Pás-tè, Pás-tè Pás-te!... (Joaquim Roque [1946], pág. 64) 48 Também é rezada à noite.

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35

5 Ninguém possa fazer mal.

Para acompanhar o ritual da missa

Ao avistar a igreja49

ROr 55a50 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Deus te salve, Casa Santa, Por Deus foste ordenada,

Nela está o cales bento

E a hóstia consagrada.

ROr 55b51 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Deus te salve, Casa Santa,

Por Deus foste ordenada,

Onde está o cales bento Mais a hóstia consagrada.

Recitou versão idêntica: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de

2012.52

ROr 55c Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Deus te salve, Casa Santa,

Por Deus foste ordenada,

Onde está o calis bento, E a hóstia consagrada.

Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural

de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras

Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi

funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do

Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.53

49 Geralmente, diz-se também esta oração, fora da ocasião da missa. No contexto de acompanhamento da

missa, estas orações podem ser ditas quando se está a entrar na igreja. 50 Com uma pequena variação no segundo verso, Que por ‘Dê’s fostes criada, Joaquim Roque apresenta

uma versão da oração (Roque [1946], pág. 58). 51 Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 97; Pombinho Júnior [2001], pág. 97. 52 A informante refere que costuma dizer também esta oração quando entra na igreja. 53 Oração aprendida com a sua avó.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 55d54 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Deus te salve, Casa Santa,

Por Deus foste ordenada,

Onde está o cálice branco, E a hóstia consagrada.

ROr 55e Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Deus te salve, Casa Santa, Por Deus foste ordinada,

Onde está o cales bento

E a hóstia sagrada.

Recitou versão idêntica: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada

(trabalhadora rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

ROr 55f Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24

de novembro de 2011.

Deus te salve, Casa Benta,

Por Deus foste ordenada,

Onde está o cales bento E a hóstia consagrada.

Ao entrar na igreja

ROr 56a55 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Mês pecados Ficam cá fora,

Que eu vou a ouvir missa

Do Reino da Glória.

ROr 56b56

Di-la à porta da igreja. 54 A informante diz que aprendeu a oração com a sua mãe. 55 A informante diz que aprendeu a oração com a sua mãe. 56 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 64.

Há duas versões muito parecidas, a versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado e a versão de Picota

(Loulé):

Pecados da vida

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de 2009.

Pecados meus,

Fiquem cá fora,

Que eu vou ouvir missa

Ao Reino da Glória.

Ao molhar a mão na água benta

ROr 57a57 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhador rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Água benta tomarei,

Em louvor dos meus pecados,

Que, à hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

ROr 57b58 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Água benta tomarei,

Na remissão de meus pecados, E, à hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

ROr 57c59 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de 2009.

Água benta tomarei,

Por intenção dos meus pecados,

Que, à hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

fiquem cá fora,

que eu vou ouvir missa, no reino da glória. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 97; Delgado [1956], pág. 78).

57 A versão recolhida por Joaquim Roque é bastante próxima das várias versões que recolhemos para o

contexto de “molhar a mão na água benta para se benzer ao entrar na igreja”:

Venho tomar água benta

Por cima dos mê’s pocados

P’ra que à hora da ‘nha morte

Sêjem todos pordoados! (Roque [1946], pág. 59). 58 Afirma que esta oração não é bem igual à da Tia Isménia. Aprendeu-a com a sua mãe. 59 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 66.

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ROr 57d60 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Água benta tomarei,

Pra remissão dos meus pecados,

Que, à hora da minha morte, Sejam todos perdoados.

ROr 57e Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Água benta tomarei, Surreição dos meus pecados,

À hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

ROr 57f61 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em

Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Ao louvor dos meus pecados,

À hora da minha morte,

Seja tudo perdoado.

ROr 57g62 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Com água benta me benzerei,

Por remissão dos meus pecados, À hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

Ao ajoelhar-se

ROr 58a63

60 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 66. 61 Aprendeu a oração com a sua mãe. 62 Oração quase similar, com variante no 2º verso, para perdão dos meus pecados (cf. Custódio, Galhoz,

Cardigos [2008], pág. 100). 63 Particularmente, a informante reza esta oração junto ao altar, quando chega à igreja.

A versão de Joaquim Roque não se afasta muito: Aqui m’enjoeljo

Aqui m’arpesento

‘Diente’ de ‘Dê’s’

E do Santissemo Sacramento. (Roque [1946], pág. 59)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de Setembro de 2011.

Aqui me ajoelho,

Aqui me apresento,

Ao pé do altar

Do Santíssimo Sacramento.

ROr 58b Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Aqui me ajoelho,

Aqui me represento, À vista do altar

Do Santíssimo Sacramento.

ROr 58c Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Aqui me enjoelho,

Aqui me apresento,

Em louvor do Santíssimo Sacramento.

ROr 58d64 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Aqui me enjoelho,

Aqui me apresento

A ouvir missa

Do Santíssimo Sacramento.

ROr 58e65 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Aqui me enjoelho,

Aqui me apresento, Em frente do altar

E do Santíssimo Sacramento.

64 A informante diz que aprendeu a oração com a sua mãe.

Praticamente similar, apesar da variante no terceiro verso, é a versão recolhida por Manuel Joaquim

Delgado:

Aqui me ajoelho,

Aqui me apresento,

A fazer a oração

Ao Santíssimo Sacramento. (Delgado [1956], pág. 77) 65 Cf. Pombinho Júnior [2001], pág. 68.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 58f Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em casa da sobrinha

Maria do Carmo), a 11 de Junho de 2009.

Aqui me joelho,

Aqui m’ apresento, À vista do Santíssimo Sacramento.

ROr 58g66 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em

Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Aqui me enjoelho,

Aqui me apresento, Ao louvor do Santíssimo Sacramento.

ROr 58h Informante: Rosete Falardo Ramalho 68 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24

de novembro de 2011.

Aqui me ajoelho,

Aqui me apresento,

Defronte do altar do Diviníssimo E do Santíssimo Sacramento,

5 Graças e louvores

Dou a todo o momento,

Ao Santíssimo E Diviníssimo Sacramento.

ROr 58i Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Aqui me enjoelho,

Aqui me apresento,

Em pares do altar

Do Santíssimo Sacramento.

Ao avistar o padre no altar, após sair da sacristia

ROr 59a67 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

66 Aprendeu a oração com a sua mãe. 67 A informante disse que aprendeu a oração com a sua mãe.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Deus te salve, cavalheiro honrado,

C’as armas de Cristo vens armado.

Benzo-te a ti e eu benzo-me a mim.

Bendita a hora em que eu cá vim.

ROr 59b Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Deus te salve, cavalheiro honrado,

Com as armas de Cristo vens armado, Com o leite da Virgem Maria borrifado,

Protege-te a ti, que eu me protejo a mim,

5 Bendita seja esta hora em que eu aqui cheguei.

ROr 59c68 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Deus te salve, cavalheiro honrado,

Com as armas de Cristo vens armado,

Persignai-te a ti, persignai-me a mim, Bem dita a hora em que eu aqui vim.

Quando a missa termina

ROr 60 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Graças a Deus que ouvi missa,

Graças a Deus que missa ouvi,

Bendita fosse69 a hora,

Em que ê aqui chegui.

68 Relatou que tinha entre os oito e os dez anos, quando a avó lhe ensinou as orações que nos recitou. Já

não consegue lembrar-se de todas elas.

Pombinho Júnior recolheu uma versão quase idêntica, em Portel:

Vinde, vinde, sacerdote,

Com as armas de Cristo vens armado.

Persignou-te ele, persignou-me a mim Bendita seja a hora

5 Que eu aqui chegui. (Pombinho Júnior [2001], pág. 69). 69 Quando repete a oração, a informante altera a forma verbal para seja.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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42

ROr 6170 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Já a missa se acabou,

Bendita missa seja,

No Céu e na Terra Como estamos na Igreja.

Ao avistar o cemitério

ROr 62a71 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Deus te salve, corpos mortos,

Que já foram como nós,

Roguem lá a Deus por mim,

Que eu cá rogarei por vós.

ROr 62b Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Deus de te salve, irmãos mortos,

Já foram vivos como nós,

Peçam lá a Deus por mim, Que eu cá peço a Deus por vós.

Para proteger da trovoada

ROr 63a Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Ai que estrondo vai no Céu,

Valha-nos o Santo Sudário,

E a cruz de Cristo

E a Virgem Mãe do Rosário.

70 A informante disse que aprendeu a oração com a sua mãe. 71 Versão muito similar foi recolhida em Portel e Santana:

Deus vos guarde, mortos,

Que já foram como nós:

Rogai a Deus por mim,

Que eu rogarei a Deus por vós! (Pombinho Júnior [2001], pág. 151).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 63b72 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro

de 2011.

Altas vozes há no Céu,

Valha-me o Santo Sudário,

Mais a Santa Madalena E a Virgem Mãe do Rosário.

ROr 63c73 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Altas vozes há no Céu,

Valha-me o Santo Sudário, E o Santíssimo Sacramento

E a Virgem Mãe do Rosário.

Recitou versão idêntica: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade,

natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

ROr 63d

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, analfabeta (sabe ler e escrever), pasteleira, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Altas vozes vão no Céu,

Valha-me o Santo Sudário,

Santíssimo Sacramento,

E a Virgem Mãe do Rosário. 5 Minha alma magnífica

Engrandeço-a ao senhor,

Neste campos se alegrou,

Meu Divino Salvador.

ROr 63e Informante: Inácia Martins Balancho, 83 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de São Marcos

do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de

Novembro de 2011.

Altas vozes vão no Céu,

Valha-me o Santo Sidário, Santíssimo Sacramento,

Virgem Mãe do Rosário.

ROr 63f74 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

72 Di-la quando soa o trovão. 73 Conta que aprendeu as orações da trovoada com o seu avô. 74 Ensinada pelo seu pai às suas filhas quando eram pequenas.

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Valha-me o Santo Sudário,

Ó Virgem d’Aciação,

Nossa Senhora do Rosário.

ROr 6475 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Ó que vozes há no Céu,

Ouvi a vossa santa humanidade,

A cruz de Cristo nos valha

E a Santíssima Trindade.

ROr 6576 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Ó que vozes há no Céu,

Valha-me o Santo Sedário, E o Santíssimo Sacramento,

E a Virgem mãe do Rosário,

5 Ó reselva cruz divina,

Ó vozes, não estejam tristes, Já Deus do céu alcançastes

O que na terra le pedistes,

Quem esta oração rezari,

10 E nela tiver devoção, Não lhe cairá perigo nenhum,

Nem de raio nem de trovão.

ROr 66a77 Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Bendito e louvado seja

O Sacramento da Eucaristia,

E o Fruto do Ventre Sagrado Da Virgem Puríssima Santa Maria.

75 Di-la quando faz o trovão grande. 76 Diz que falta qualquer coisa, que não está completa. Mais tarde, repete-a e fá-lo de igual forma,

substituindo apenas alcançou por alcançastes, no verso 7. Indaga-se sobre o significado de reselva,

reconhece que a palavra é estranha. 77 A sua avó cantava-a quando ouvia a trovoada.

Contou que uma senhora que não tinha fé nas orações da trovoada dizia, em casa da sua avó, quando havia

trovoada (era costume algumas pessoas juntarem-se em casa da sua avó com receio da trovoada): Santa

Galgarrabita em vez de Santa Bárbara bendita.

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5 Bendito e louvado seja

O Santíssimo Sacramento

Que está no Saculário E o Fruto do Ventre Sagrado

Da Puríssima Mãe do Rosário.

10 Bendito e louvado seja O Sacramento da Eucaristia

E o Fruto do Ventre Sagrado

Da Virgem Puríssima Santa Maria.

ROr 66b78 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira, trabalhou no

campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Bendito, louvado sejas,

O Santíssimo Sacramento da Eucaristia,

Do Fruto do ventre sagrado, Da Virgem puríssima Santa Maria.

ROr 6779 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Eu vejo vir uma trovoada, Encosto-me ao travisco,

Bradei pela Santa Bárbara,

Respondeu-me Jesus Cristo.

ROr 68 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Grande estrondo vai no Céu,

O Santíssimo Sacramento

Esteja na companhia De todas as alminhas cristãs.

ROr 69a80 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

78 Cantavam quando faziam as trovoadas.

Cf. Idália Farinho Custódio, Maria Aliete Farinho Custódio, Isabel Cardigos, Orações. Património Oral do

Concelho de Loulé, vol. III, Loulé, Edição da Câmara Municipal de Loulé, 2008, pág. 243. 79 Versão muito próxima foi recolhida em Querença (Loulé):

Eu vi vir a trovoada

e encolhi-me a um trovisco,

gritei por Santa Bárbara,

acudi-me Jesus Cristo. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 258) 80 Di-la quando faz o relâmpago.

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Jesus, que é o Santo nome de Jesus, Onde Jesus está o Santo nome de Jesus,

Que não entre mal nenhum.

ROr 69b81 Informante: Ana Romão Correia Cunha Cartaxo, 81 anos, reformada (doméstica), 4º ano de escolaridade,

natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 4 de Novembro de 2011.

Jesus, Jesus,

Que é o santo nome de Jesus,

Onde está Jesus Que não caia perigo algum.

ROr 69c82 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro

de 2011.

Jesus, Santo nome de Jesus,

Onde está o nome de Jesus Não caia perigo nenhum

Minha alma é divina

5 Agradeço-a ao Senhor

Meu espírito se alegrou Meu Deus, meu Salvador.

ROr 70 Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Jesus, que é santo nome de Jesus, Valha-nos Maria, mãe de Sant’Ana

Sant’Ana, mãe de Jesus,

Valha-nos o Santo nome de Jesus.

ROr 71 Informante: Maria de Jesus Cardoso Rita, 76 anos, analfabeta (sabe assinar), reformada, natural de

Carrapatelo (foi empregada doméstica em Reguengos), residente em Carrapatelo. Recolha realizada em

Carrapatelo, a 22 de Outubro de 2011.

Jesus te encomendou

Que minha alma acompanhasses,

Com prazer e alegria,

Pai-Nosso e Ave-Maria.

81 A oração que recolhemos é semelhante à oração recolhida, em Portel, por Pombinho Júnior:

Jesus!

Santo nome de Jesus!

Onde está Jesus

Não cai perigo nenhum!

5 Jesus! Jesus! (Pombinho Júnior [2001], pág. 143). 82 Di-la quando faz o relâmpago.

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ROr 72 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Meu Ave Menino,

Meu doce Jesus,

Livrai-nos do perigo E salvai-nos da cruz.

ROr 73a83 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Santa Bárbara bendita, No Céu está escrita,

Na terra assinalada,

Quantos anjos há no céu

5 Acompanhem a nossa alma.

ROr 73b84 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Santa Barbora bendita,

No Céu está escrita, Na terra assinalada,

Quantos anjos há no céu

5 Que acompanhem as nossas almas.

ROr 73c Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2009.

Santa Bárbora bendita,

No Céu está escrita,

Na terra assinalada, Quantos anjos há no céu,

5 Que acompanhem a minha alma.

Recitou versão idêntica: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 11 de Setembro de 2010.

ROr 73d Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

83 Cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 255. 84 Quando faz trovoada, não põe os pés no chão por segurança; em alternativa, põe nos paus das cadeiras,

para não ficar queimada, caso entre uma faísca em casa. Disse: O melhor de tudo é pormo-nos no meio da

lã. Mas agora já não há lã. Antigamente, toda a gente fugia para a cama. Quando é um raio, não há

remédio. A faísca corre a casa toda e, se nos apanha, a gente fica queimada.

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Santa Bárbara bendita, No Céu está escrita,

Na terra assinalada,

Quantos anjos há no céu 5 Nos acompanhem as nossas almas.

ROr 73e85 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete, a 16 de

Setembro de 2010.

Santa Bárbara bendita,

No Céu está escrita, Na terra assinalada,

Quantos anjos há no céu,

5 Que nos acompanhem a nossa alma. Santos novos, santos velhos,

Deus é réu.

ROr 73f Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,

No Céu está escrita E na terra assinalada.

ROr 73g Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Santa Bárbara bendita, No Céu está escrita,

Na terra assinalada.

[…]

Recitou versão idêntica: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever),

natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Realizada em Monsaraz, em 13 de Setembro de 2011; Rosa

Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente em

Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A informante

possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe) da Caixa de

85 Comenta que a sua mãe dizia sempre esta oração.

Em Orações Populares de Portel, há uma versão que, no final, os versos também recuperam a repetição de

“santos”:

Santa Bárbara bendita,

Que no céu está escrita,

E na terra assinalada.

Quantos anjos estão no Céu 5 Acompanhem as nossas alamas

Santos deuses, santos fortes,

Santos imortais,

Miserére nobis, miserere nobis. (Pombinho Júnior [2001], pág. 147).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos de

Monsaraz), durante 24 anos.

ROr 73h86 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, Trabalhadora Rural e Doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,

Que no Céu está escrita,

Na terra assinalada, Todos os santos e santas

5 Acompanhem as nossas almas.

ROr 73i Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, 6º ano de escolaridade, doméstica, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 5 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara bendita Que no Céu está escrita,

Na terra assinalada,

Quantos anjos há no céu

5 Acompanhem as nossas almas.

ROr 73j Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Santa Bárbara bendita,

Que no Céu está escrita, A terra assinalada.

[…]

ROr 73l Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,

Que no Céu está escrita,

[…]

ROr 74 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,

Que no Céu está escrita

E na terra assinalada. Quantos anjos há no Céu

5 Acompanhem as nossas almas.

Bárbora santa, serva de Cristo

86 Aprendeu as orações com a mãe.

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Tamém Deus nos altos céus,

Alcançou o que tu pediste.

Quem esta oração rezar

10 Ou tiver por devoção Não irá a fogo de Inferno

E nem morrerá de raio de trovão.

ROr 75a87 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Valha-me a Virgem Sagrada,

E a flor que dela nasceu,

E a hóstia consagrada,

E a cruz em que Deus morreu, 5 A voz do Céu ouvi-me,

Vossa Santa Majestade,

E a cruz de Cristo valei-me

E a da Santíssima Trindade.

ROr 75b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Valha-me a Virgem,

E a flor que dela nasceu, E hóstia consagrada,

E a cruz em Deus morreu,

5 Ó voz do Céu, ouvi-me,

Vossa Santa Majestade, A cruz de Cristo valei-me

E a Mãe Santíssima Trindade.

ROr 75c Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Valha-nos a Virgem Sagrada, E a flor que dela nasceu,

Mais a hóstia consagrada,

E a cruz onde Deus morreu.

5 Ó vozes do Céu, ouvi-me E a sua Santa Majestade,

E a cruz de Cristo valei-me

E as três pessoas da Santíssima Trindade.

87 Aprendeu a oração com a sua mãe. Afirma sobre o poder desta oração: Oração bonita e boa. Esta oração

toda a gente a devia dizer todos os dias.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 75d88 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Valha-nos a Virgem Maria,

E a flor que nela nasceu,

E a hóstia consagrada, E a cruz onde Deus morreu.

ROr 7689 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Verbo divino,

Poder da cruz, Sangue divino,

Salvai-nos, Jesus.

ROr 7790 Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Virgem Mãe da Conceição, Seu bendito filho me prometeu,

[… ]

Está chegada a ocasião,

Virgem Mãe da Conceição, valei-me, 5 Virgem Mãe da Conceição, valei-me,

Virgem Mãe da Conceição, valei-me.

Outras Invocações

ROr 78 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, , reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Oração a Nossa Senhora

Além vai Nossa Senhora, Entrando pelo Céu,

Em manguinhas de camisa,

Com o seu cabelo ao vento.

88 Di-la ao escutar trovões. 89 Conta que diz a oração que aprendeu com o Ti Palma, um velhote que tinha muito medo dos trovões.

Quando via a trovoada, corria para junto do Ti Palma. O Ti Palma dizia esta oração três vezes e acreditava

que isso espalhava a trovoada. 90 Concluída a oração, rezava-se um Padre-Nosso e uma Ave-Maria.

Di-la quando ouve os trovões. Diz que tem muita fé com esta oração, pois parece que os trovões passavam

ao dizê-la.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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ROr 79a Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Senhora da Conceição,

Com o seu Santo Berto Divino,

Deia a bênção aos meus filhos, Que andam por esses caminhos,

5 À busca da salvação

E do Sacramento Divino.

ROr 79b Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Senhora da Conceição,

Mais o seu Santo Berto Divino,

Deia a bênção aos meus filhos E a toda a minha família,

5 Que andam por esses caminhos

À busca da salvação,

E do Sacramento Divino, Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

ROr 79c91

91 Pombinho Júnior recolheu uma oração de invocação à Senhora da Encarnação, em Portel, com versos

similares aos da oração por nós recolhida de invocação à Senhora da Conceição (sublinhado nosso):

Senhora da Encarnação,

Sois mãe do Verbo Divino,

Deitai-me a vossa bênção

Que eu vou por este caminho,

5 Vou buscar a salvação

E o Sacramento divino.

Ó meu Deus Todo-Poderoso,

Filho dum Pai tão amoroso,

A alma que Vós me destes

10 Não ma deixeis morrer triste,

Já que na Cruz a remistes,

Arremi-me [,] Nosso Senhor,

Que eu sou grande pecador.

A arca do ceu

15 E a escada da eternidade,

Onde está o Cáliz bento

E a Hóstia consagrada.

Que esta oração rezar,

Um ano de dia a dia,

20 A Virgem lhe aparecerá

Antes da morte três dias,

Para lhe dar o perdão E o caminho da salvação.

(Pombinho Júnior [2001], pág. 162).

A versão de Pombinho Júnior também se aproxima, a nível temático, das versões recolhidas por Joaquim

Roque (Roque [1946], pág. 72).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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53

Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Senhora da Conceição,

Senhora do Vervo Divino,

Eu aí vou por este caminho

Buscar a salvação 5 E o Sacramento divino.

Ó meu Pai Todo Poderoso,

Filho de um Deus amoroso,

Não o deixai morrer triste, Já que na cruz remiste,

10 Quando dia a dia,

Ao Inferno não irás,

A Virgem te aparecerá, Antes da morte três dias,

Confessa-te, pecador,

15 Cativa-te ao Senhor,

Pai-Nosso em louvor. Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

Para rezar na Quaresma

ROr 8092 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro de 2011.

Quarentena

Adoremos a Deus Padre,

Que céu e terra fizestes,

Corpo e alma nos deste,

Por vosso precioso sangue. 5 Subiste à bela cruz,

Pra salvar os pecadores.

Eles estavam dormindo,

Também tavam folgando. Vós destes tais cuidados,

10 Dentro dos seus corações,

Que eles foram lembrados

Da sua morte paixão. Jesus Cristo todo-poderoso,

Filho da Virgem Maria,

Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé e em A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo, há

também várias versões de invocação à Senhora da Encarnação cujo corpo textual reúne muitas parecenças

com a oração que recolhemos e com a oração recolhida por Pombinho Júnior (cf. Custódio, Galhoz,

Cardigos [2008], pp. 126-139; Delgado [1956], pp. 88-90). 92 A informante disse que todos os dias se reza na Quaresma.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Julgamento da Alma – Dia do Juízo (Maria Aliete Dores Galhoz, Romanceiro

Popular Português. II- Romances Religiosos e Orações Narrativas. Romances Vulgares e Cantigas

Narrativas, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos – Instituto Nacional de Investigação Científica, 1988,

pp. 870-876).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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54

15 Fostes destinado em boa hora,

Fostes destinado em bom dia,

Na terra baldia, na cidade lazaria,

No céu e na terra, Está toda a vossa valia.

20 Já levam Jesus Cristo,

Vendido por trinta dinheiros,

Já le agarram pla mão, Levam de rastos plo chão.

Vamos a ver os varões,

25 Que sentença le mandam dar.

Sua sagrada certa parte, Seus santos escravos mérinhos,

Le mandaram coroar.

Uma cruel lancetada

30 Lhe mandaram dar, Que ô coração foi chegar,

Até que Jesus Cristo disse:

- Com toda a piedade,

Derrame-se o meu sangue, 35 Por cima da Cristandade,

Dele se faça o pão,

Dele se faça o vinho,

Deus nos deixa encontrar, Com todos aqueles e aquelas

40 Que no Paraíso estão.

Olharemos para cima,

Viremos as portas do céu abertas, Tão claras, tão floridas,

Com tão bons lugares.

45 Deus nos deixará lá entrar,

Olharemos pra baixo, Viremos as portas do Inferno,

Co elas estão denegridas.

Uma alma que estava nelas,

50 Chorando por culpas e penas, Chorando estava coitada,

Chorando mosquita dizendo:

- Oh que ê nunca nascera,

Oh que ê nunca fora nada, 55 Oh que ê nunca aqui se vira.

Lavaredas de fogo

Deitava pla boca, Pareciam casas que ardiam.

Aí vem Nossa Senhora

60 Com o seu bendito Filho requerindo:

-Tirem-me daqui esta alma, Que já se aqui está perdendo.

- Deixe-me em madre estar,

Que mesmo assim o tem merecido.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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55

65 Deixei o sol para o dia,

Deixei a lua para a noute,

Deixei estrelas no céu,

Com grande resplandores. Deixei vacas

70 Que não cabiam nessas coitadas,

Deixei ovelhas

Que não cabiam nessas defesas, O lête de sábado à noute guardado,

Pra no domingo pla manhã.

75 A merecer que o Senhor fizesse,

Não é feita à terça parte. O Paraíso fez-se pra a alma,

Com regra da verdade.

Também disse mê madre:

80 - Pensava que algumas mulheres casadas, Que eram as mais bem casadas,

Elas são as mais mal casadas,

Deitam-se co seus maridos,

Trazem outros averiguados, 85 Trazem a alma condenada,

E a morte no outro mundo.

- Ó mal mandada, vem comigo

Até ô Dia do Juízo. Vós, que esta oração sabeis,

90 Peço que a rezeis.

Vós, que a não sabeis,

Peço que a escuteis. Quem esta oração escutar,

Quarenta dias na Quaresma,

95 Ganhará quarenta perdões.

Mais ganhará quem a reza, Que tirará quatro almas

Das penas do Purgatório,

A primeira será a sua,

100 A segunda de sua mãe, A terceira de sê pai,

A quarta a mais necessitada

Que na parenteira tiver.

ROr 81a93 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira, trabalhou no

campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Oração da Andorinha

93 Esta oração foi-lhe ensinada pela sua comadre, já velhota.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Menino quer dizer missa (Galhoz [1988], pp. 681-

688).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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56

Andorinha gloriosa,

Mais bonita que uma rosa,

Quando Deus aqui nasceu,

Todo o mundo esclareceu, 5 Vêm em berros os judeus,

Pra matar o nosso Deus,

Já mataram ou não mataram,

Já os galos cantam, Já os anjos se levantam,

10 Já o Senhor subiu à cruz,

Para que a minha alma se não perca,

Pra sempre. Amém. Jesus.

ROr 81b94 Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),

natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos

do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Andorinha Gloriosa,

Tão bonita como uma rosa,

Quando nasceu,

Todo o mundo parceu: 5 - Pastorinho do bom dia,

Não visto por aqui passar

A Virgem Mãe Maria?

- Ela por aqui passou, Com o seu lindinho na mão.

10 Fazendo a sua oração,

Oração de plingrino,

Quando Deus era menino, Pôs os pés no seu altar

E as mãos no seu lugar.

15 -Tate, tate, Madalena,

Não te tejas a limpar, Lá detrás daquele outeiro,

Está um perro cão.

Se ele disser que não,

20 Puxa pelo teu cutelo E arretalha-lhe o coração.

Ó cutelo tão estimado,

As arrelíquias de Pedrão,

Onde foste baptizado,

94 Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Menino quer dizer missa; Orações Várias – Angelina

Gloriosa (Galhoz [1988], pp. 681-688, 923).

Joaquim Roque denomina a oração de Oração das Cinco Chagas e apresenta uma versão semelhante àquela

que recolhemos, com poucas variantes, das quais destacamos os dois versos finais que não se encontram na

versão de São Marcos do Campo: P’ra ficar d’arreliques / Ó Márt’e S. Sebastiã!... . (cf. Roque [1946], pág. 62). Também Manuel Joaquim Delgado a intitula de forma quase idêntica, Oração às Cinco Chagas,

e apresenta duas versões distintas, uma das quais segue alguns dos principais motivos temáticos presentes

na nossa versão: a pergunta acerca da Virgem Maria, a referência à oração do peregrino, os apelos feitos a

Madalena (cf. Delgado [1956], pp. 85-86).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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57

25 Nas pias de São João.

ROr 81c95 Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Andorinha gloriosa,

Tão bonita como uma rosa,

Plo mundo andou, À sombra dum loureiro se deitou,

5 Ali dormiu e sonhou

Que a cruz de Cristo era perdida

E ela a achou. […]

ROr 82 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira, trabalhou no

campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Oração do Senhor Morto

A oração de Jerusalém eu gostava de saber,

Quantas chagas o meu divino sacramento tem,

Tem mil trezentas e cinquenta e cinco, Dou voz a quem as disser de manhã,

5 Dar-lhe-ei a salvação,

Dou voz a quem as disser ao meio-dia,

Dar-lhe-ei o meu amor, Dou voz a quem as disser à noite,

Ficará livre dos pecados,

5 Como aqueles que estão baptizados.

Amém.

ROr 8396 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro

de 2011.

Versos da Paixão do Senhor

Com Jasus na pena pego,

Para com ela escrever

95 Comentário da informante: Dizem que as andorinhas eram as galinhas de Nossa Senhora, não se

matavam nem se desmanchavam os seus ninhos. Faziam os ninhos na chaminé e ninguém se atrevia a

desmanchá-lo.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Menino quer dizer missa (Galhoz [1988], pp. 681-

688). 96 Aprendeu a oração quando era pequena com o seu irmão.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – A Vida de Jesus Cristo (em amphigury) (Galhoz [1988], pp.

697-705). Há duas versões mais curtas de A Vida de Cristo recolhidas no concelho de Loulé (cf. Custódio,

Galhoz, Cardigos [2008], pp. 187-189).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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58

Uma obra capaz de se ver

Aqui e em toda a parte.

5 Eu sigo a minha arte

Como um fraco actor Mas peço ao Senhor juízo

Todo o quanto me é preciso, mas porém

Nasceu Cristo em Belém,

10 Numa pobre alpendurada, Viu-se a Virgem magoada, sozinha,

Chorando porque não tinha,

Sua mãe ali ô pé,

Sozinha mais Sã José se viu, 15 Logo ali le acudiu

Um preto e uma cigana

E Jesus, neto de Ana, visitar

Deu o sol em rebaixar, Pra casa deu esplandores;

20 Vieram os três pastores a trazer

A Jesus Cristo oferecer

Suas fazendas e bens, Vieram os Santos Reis adorá-lo,

À primeira cantiga do galo,

25 Todo o povo acudiu.

Ali é que o mundo viu O seu Deus anaversal,

Céu e terra e mar

Tudo ali enjoelhou;

30 E a Virgem sempre ficou pura, Tem a salvação segura

Só com este nascimento,

Augusto sacramento

Aqui é que principia; 35 É o filho de Maria,

Que hoje no mundo é nascido,

Pois ele foi concebido

Por obra e graça Do Divino Espírito Santo.

40 O poder de Deus é tanto

Que é Senhor do mundo inteiro,

Deus e homem verdadeiro se aclama, É a fé que se derrama

Pr’as partes da platine,

45 É a fonte da doutrina cristã, É aquela manhã,

Que ô mundo dá claridade,

É o sol da divindade que apareceu,

E a ná choveu no deserto de Sina, 50 É a hóstia divina consagrada,

É de Jacob escada,

Por o onde o anjo desceu,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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59

Foi o mundo que ergueu o pecado

Onde foi baptizado entre o rio Jordão

55 Por seu primo João, Jesus de Nazaré,

Salvação, graça e fé É do que o mundo está cheio,

É o que serve de recreio,

Pr’as almas puras.

60 Para cumprir as Escrituras, Se obrigou a padecer.

Pois iremos agora a ver

Os tormentos que passou,

A gente que sustentou 65 Com cinco pães e dois peixes.

Pois é pra que nã te queixes

Que não soube repartir,

Comeram cinco mil, Ainda sobrou comida.

70 Só o autor da vida

É que fabrica estes banquetes,

Deram-se doze ramalhetes Ao lava-pés.

Os mandamentos são dez cruzeiros.

75 Juda por trinta dinheiros

Vendeu o seu redentor, Por ser falso e traidor,

Usou-le traição,

Deu o seu divino mestre à prisão,

80 Deu-lhe um ódio de paz, Onde foi reconduzido,

Entre algozes metido e preso,

Era um ódio tão aceso,

Que tarrincavam os dentes, 85 Nem amigos nem parentes consentiu.

Inda o povo nã viu outro

Como aquele padecer,

Era o sangue a correr, suando, E o maldito povo gritando:

90 “Crucifica, Crucifica!”

O ódio é que fabrica a maldade,

O Senhor por sua bondade sofria, Só por ter a regalia

De deixar o mundo em paz,

95 Em casa de Caim faz, Onde o Pedro se negou,

Disse o Senhor:

- Eu sou filho do Padre Eterno,

Eu venho livrar do inferno as almas. 100 Ó ministro, bate as palmas,

Dá um grito violento,

Faz das pedras sustento, se podes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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60

Senão, vai-te pra Rei Herodes,

Que te deiam o bode cru,

105 Lá virás o bom Jesus.

Di Herodes a Pilatos. Este lendo lusates

Não achava criminoso

Na sinagoga, raivoso, diz:

110 - Que morra. Esse morrer não nos convém,

Que lá dentro além há delitos,

Eram tantos os gritos que entoou .

Pilatos atenciou Cristo: 115 - Ó mundo, que não tens visto

O teu manso cordeiro

Carregando com um madeiro da cruz.

Já o sol perdeu a luz Lá na rua da amargura,

120 E apareceu a Virgem Pura chorando,

Por quem vinha procurando,

Por seu querido esposo, Num caso tão lastimoso o via,

Feito em arterenia,

125 Como o outro não podia haver.

E o Senhor sem poder Caiu com a cruz no chão.

Por Deus te peço, quem me registou

Que me ajudes aqui, Simão,

130 Simão, de boa vontade, Levou com Cristo a cruz ao monte.

Foram-se lavar à Fonte da Graça,

Por Deus, te peço que faças

Como o filho do Rosário. 135 Chegou Cristo ao Calvário cansado,

Logo ali foi crucificado,

À força da violência.

Deixou Deus com paciência Que o cravassem de pés e mãos,

140 Para ver se estes passos vão,

Destes lassos pensamentos

Causassem muitos tormentos, E os espinhos da cabeça

É para que o mundo conheça

145 O mar em qu’eu navego. Até ali se achou um cego,

Logo lhe deram uma lança,

Quem é cego não alcança,

Com a sua vista o inferiu, 150 Daquele peito saiu

O sangue da divindade.

Deixou Deus à Cristandade,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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61

Para salvar o género humano,

Para maior desengano,

155 Deixou chagas abertas.

Vieram as três Perpétuas, por vezes, Com martelos e turqueses,

Jesus Cristo pregar,

Foram-no a sepultar

160 À sipultura nova. Foi santicicado à cova.

Só o Divino se ençarrou.

Só a mãe de Deus chorou.

Por ter dó e compaixão. 165 Chorou o seu Evangelista João,

Por não ver o seu Messias.

Vieram as três Marias,

Uma noite rigorosa e escura, Buscar Cristo à sipultura.

170 Respondeu-lhe um Serafim:

- Cristo não está aí.

Cristo ressuscitou glorioso, Subiu ô céu piadoso,

Trunfando na paixão,

175 Subiu ao céu de Abraão,

Onde lhe batiam as palmas. Foi livrar as almas

Que estavam esperando

Pela vinda do seu redentor.

180 Subiu ao céu o Senhor Em companha do Pai e do Filho

E do Divino Espírito Santo.

ROr 8497 Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),

natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos

do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Estando eu na minha sala,

Fazendo a minha oração,

Passou Santa Madalena Mais o Senhor São João.

5 Eu à janela me assomei,

Mas nunca os conheci.

Foram de rua em rua, Até à rua da amargura.

Vosso filho, má doçura,

10 Este homem é Jesus.

É Jesus que leva a cruz. 97 Aprendeu as orações com o seu pai. Cf. Oração Narrativa – Ciclo da Paixão – As Novas da Crucificação Chegam a Nossa Senhora (Galhoz

[1988] pp. 628-641).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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62

Ô passar da terra […]

Caiu Jesus por terra.

Disseram-lhe os fariseus:

15 - Levanta-te daí, Galileu, Se não daremos-te

Fel e vinagre a provar.

Seis sextas-feiras na Quaresma

[…] carnal. 20 Quem na souber que a diga,

E quem na ouvir que aprenda,

Lá no Dia do Juízo,

Terá quem se defenda.

ROr 8598 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro

de 2011.

Jesus Cristo foi dizer missa

À sua santa humanidade, Com o cálice bento na mão

E a hóstia para consagrar,

5 Seus filhos lhe pediram pão.

- O que querem, filhos meus? Que eu não tenho que lhe dar,

Hoje vou-me confessar

E amanhã a comungar.

10 Quem esta oração disser Três vezes ao deitar,

Por muitos pecados que tenha,

Todos se hão-de salvar.

Quem a souber que a diga, 15 Quem a ouvir que a aprenda,

Lá no Dia do Juízo

Terá com que se defenda.

ROr 86a99

98 Observação da informante: Na Quaresma, as mães não gostavam que as filhas cantassem nos trabalhos

do campo, então rezavam as orações.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Vida de Cristo – Jesus Cristo foi dizer missa (Galhoz [1988], pp. 688-692). 99 Aprendeu a oração com a avó materna, que era muito devota.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Milagres – Fonte de Nossa Senhora (Galhoz [1988], pp. 771-772).

Joaquim Roque recolheu e publicou uma oração - que não classificou, agrupando-a com outras em “Varias”

– que, na verdade, é uma “sequência narrativa” da oração Fonte de Nossa Senhora, correspondente ao

momento do milagre:

O ‘monino podiu’ água,

Logo s´abri’ uma fonte; A font’ era de prata

A águ’ era de ´chê’ro

5 O monin´era santo

Filho de ‘Dê’s vordadêro’. (Roque [1946], pág. 74)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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63

Informante: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Outeiro, a 13 de Setembro de 2011.

Levantei-me uma manhã cedo,

Cedo ao cantar do galo,

Encontrei Nossa Senhora

Com um passo tão ansiado, 5 Numa banda levava a lua,

Na outra o sol pintado.

O menino pediu água,

Onde água não havia, Logo uma fonte se abriu

10 De manjerona cercada.

- Ó que água tão preciosa,

Água com tanta alegria, Onde bebeu o menino,

Filho da Virgem Maria.

ROr 86b100 Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),

natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos

do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

Levantei-me um dia cedo,

Um dia cedo, cantar do galo,

Encontrei Nossa Senhora,

Com um passo tã ansiado, 5 Numa mão levava a cruz,

Noutra o Senhor crucificado,

E no peito levava uma cruz crucificado.

Quando o menino pediu água, Onde água não havia,

10 Formou-se uma fonte d’água,

Água tanta alegria,

Bebeu o filho da Virgem Maria, Padre-Nosso. Ave-Maria.

ROr 87101 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro

de 2011.

O Terço de Nossa Senhora

O terço de Nossa Senhora Pela rua se raza.

Muita gente fica em casa

100 Contou que a sua mãe e os seus avós sentavam os filhos à mesa antes das refeições e rezavam diversas

orações.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo Milagres – Fonte de Nossa Senhora (Galhoz [1988], pp. 771-772). 101 Cf. Oração Narrativa – Orações Várias - Pecador Descuidado (Galhoz [1988], pp. 914-918).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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64

Por ser murmuradora.

5 Sempre há gente traidora,

Que a sua vida é murmurar,

Murmura memo rezando, Até a que a morte vem chegando

E morre sem se confessar.

10 Morre sem se confessar,

Isto é regra sabida. E apartai-nos desta vida,

É coisa que tem que ser.

Não me sube arrepender

15 Aos pés do meu confessor. Saiba todo o pecador

Que morreu Deus por nosso bem.

É a paixão do Senhor

Esta semana que vem, 20 Esta semana que vem

É a paixão do Senhor.

Todos nós temos pena e dor,

Em chegando aquele dia, Pois a mim bem me parecia,

25 No meu fraco entendimento,

Que o maior sentimento

Qu’era o da Virgem Maria. Ó Virgem Maria,

Mãe do berbo divino,

30 Meus olhos inclino,

Por estar na vossa companhia. Os anjos me sirvam de guia,

Esses que morrem por viso,

Que ê também deles preciso,

35 Quando tiver para morrer E o Senhor te há-de dizer:

- Lá te mandei um aviso.

- Meu Senhor, descandeliza,

Cá ando nesta vida cansado, 40 Em conta sendo dada

Ao Filho do Padre Eterno.

- Pois agora vás pro Inferno,

Cá no céu não tens entrada. Cá no céu não tens entrada,

45 Então tu não o sabias,

Eu dei-te vida folgada, Para ver se te arrependias.

Tu nunca te arrependeste,

Nem pouco, nem munto, nem nada,

50 Nem nunca de mim lembrado, Pecando todos os dias.

Pois, tu, agora, querias

Estares à tua vontade.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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65

Digo-te uma verdade,

55 Vai penar criatura,

Que a tua alma nã tem cura,

Pra toda a eternidade. Amém.

ROr 88102 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Vão os anjinhos pro Céu, Vão todos em procissão,

S. José leva a cruz

E S. João o pendão.

5 Lá debaixo desse pendão, Vai um armamento armado,

Vai Jesus crucificado,

Aberto por pés e mãos.

O sangue do seu corpo corria, 10 Corria p’lo caixão sagrado.

Todo o homem que o beber

Será bem-aventurado.

Neste mundo será rei, No outro será coroado.

15 Quem na souber que a diga,

Quem na ouvir que àprenda.

Pois no Dia do Juízo Terá sua alma com que se defenda.

102 A informante ouviu a oração ao seu avô.

Cf. Oração Narrativa – Ciclo da Paixão – Monumento de Cristo (Galhoz [1988] pp. 656-658).

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1.1.2. Benzeduras

Benzedura da Água

RBenz 1a103 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Oração para beber água das ribeiras

Aqui passou a Nossa Senhora,

Com um cacheirinho na mão, Para espantar todos os bichinhos

Que nesta água estão.

RBenz 1b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Por aqui passou Nosso Senhor,

Com um cacheirinho na mão. […]

Benzedura do Pão

Quando se deixa a massa a fintar

RBenz 2a104 Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Deus te acrescente,

E as almas do Céu para sempre. Deus te deia virtude

103 A informante esclarece que dizia a oração, ajoelhada para beber no rego, fazendo o sinal da cruz sobre

a dos ribeiros. Exclama, depois de a dizer: O que é certo é que eu bebia tanta vez nos regos! [Entenda-se

com esta exclamação que a água dos regos nunca lhe fez mal à saúde porque a benzia antes de beber.]

Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, há duas versões de “orações” para rezar “quando se

bebe, nos campos água que desconhecemos”, mas apenas o primeiro verso é quase idêntico ao das nossas

versões (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 317-318). 104 A informante explica: Dizia-se depois de o pão já estar amassado e fazia-se o sinal da cruz sobre a

massa que ficava a fintar tapada com uma toalha.

Pombinho Júnior recolheu, em Portel, uma versão de invocação a S. Vicente:

Em louvor de S. Vicente,

Deus te acrescente; Eu fiz o que pude,

Nosso Senhor lhe ponha a virtude.

5 Em nome do Padre †[,] do Filho † e do Espírito Santo †

Amen. (Pombinho Júnior [2001], pág. 138).

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Que eu já fiz o que pude.

RBenz 2b105 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Deus te acrescente, As almas do Céu para sempre.

RBenz 2c106 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Deus te acrescente, E as almas do Céu pra sempre.

Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural

de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras

Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi

funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do

Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.107 Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, analfabeta,

reformada (trabalhadora rural), natural de Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em

Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.108

RBenz 2d109 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente,

E as almas do Céu para sempre.

Deus te ponha a virtude, Que eu por mim fiz o que pude.

Recitou versão idêntica: Joana dos Reis Gato, 80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (em solteira,

trabalhou no campo, doméstica), natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro,

a 12 de Setembro de 2011.110

105 A informante referiu: Depois de amassar o pão, faziam o gesto da cruz sobre a massa, [enquanto diziam

as palavras]. 106 Quando amassavam o pão, benziam-se. Depois de amassado, fazia-se a cruz na massa e dizia-se estas

palavras. Também diziam isto ao colocar o pão no forno. 107 Explicou que se punha a mão dentro do alguidar entre a massa e o barro e percorria-se todo o alguidar

para desligar a massa do barro, para que a massa fintasse. Punha-se um sinal de massa colado no interior

do alguidar, alguns dedos acima da massa, para se saber quando a massa estava finta. Quando a massa

atingisse o sinal, estava finta. E dizia-se estes versos. 108 Rezava um Pai Nosso e uma Ave-Maria, antes de amassar. 109 Dizia isto antigamente, quando punha o pão no forno, fazendo o sinal da cruz três vezes. 110 Quando começava a amassar, benzia-se e, quando deitava a última água na massa, dizia sempre: Esta

é em louvor das almas. Quando acabava de amassar, fazia a cruz, dizendo: Em nome do Pai, do Filho e do

Espírito Santo, e de seguida dizia a “oração”.

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RBenz 2e111 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro

de 2010.

Deus te acrescente, E as almas do Céu pra sempre.

Tu a cresceres

E nós a comer

5 É coisa que Deus pode fazer.

RBenz 2f112 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2009.

Deus te finte,

Deus te acrescente,

As almas do Céu para sempre.

111 A informante dizia estas palavras ao fazer a cruz no pão. Segundo a informante, deixava-se a massa do

pão a fintar cerca de uma hora e meia e colocavam um sinal no alguidar com um bocadinho de massa a

indicar até onde a massa devia crescer. Quando o pão demorava a fintar, punha-se umas calças de homem

com a “portinhola” para baixo e as pernas em cruz. E o pão crescia rapidamente; no máximo, em dez

minutos, estava finto. 112 A informante repete versão idêntica em 5 de Outubro de 2011. Na recolha de 13 de Setembro de 2009,

recitou uma benzedura que era costume dizer-se, depois do pão ser amassado, quando se punha a massa a

fintar. No início [no dia 5 de Outubro], insiste em dizer que não tinha por hábito em dizer tais palavras.

Verificamos, assim, que está, na verdade, muito esquecida. Pouco depois, lembra-se da oração e recita a

mesma que já tinha recitado no dia 13 de Setembro. Refere que faziam o gesto da cruz sobre a massa e que

antes de a amassar se benziam. Era o seu marido que amassava. Explica: Punha-se a fintar [a massa],

tapava-se, punha-se um punhado de farinha em cruz em cima do pão e tapava-se com o panal [designação

própria para o pano usado para tapar o pão] branco, depois uma manta ou um cobertor. Refere que, à

medida que as palavras eram ditas, faziam uma cruz por cima do pão. A informante repete o gesto, enquanto

diz a composição. No final, rezava-se o Pai Nosso.

O tempo durante o qual a massa ficava a fintar era conforme o fermento que se punha, se punha mais

fermento durava menos tempo, se punha menos, durava mais tempo: [Ficava] uma hora, talvez mais ou

menos, uma hora, uma hora e meia talvez.

Disse que tinha forno próprio no quintal, mandado fazer pelo marido.

Pombinho Júnior recolheu, em Portel, uma versão mais extensa:

Deus te finte,

Deus te acrescente,

E as almas do Céu para sempre.

A Virgem te ponha a mão

5 Que cresça mais um pão. (Pombinho Júnior [2001], pág. 139).

Uma versão da Aldeia de Tôr (Loulé) aproxima-se mais da versão recolhida por Pombinho Júnior:

Deus te finte

e Deus te acrescente.

Nossa Senhora te deite a Sua bênção e que cresça o pão

5 como o Senhor cresceu em graça.

Em nome de Jesus,

Pai-Nosso e Ave-Maria. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 316).

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RBenz 2g113 Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.

Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente

E as almas do Céu pra sempre.

Deus […] […] eu fiz o que pude.

RBenz 2h114 Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural),

natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

Deus te acrescente

E o Céu pra sempre.

RBenz 2i Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Deus te acrescente, E o Céu pra sempre.

Deus te ajude,

Que eu já fiz o que pude.

RBenz 2j115 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente,

Por a alma de sempre.

RBenz 2l116 Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Deus te acrescente

Pr’as almas do Céu pra sempre.

RBenz 2m Informante: Prazeres Carvalho Ramos, 74 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do

Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

113 Depois de amassar, fazia uma cruz sobre o pão. Benzia-se e depois dizia estas palavras.

Explica: Depois de amassar, tapavam o alguidar da massa com o panal e depois com o cobertor até fintar.

Punham um sinal, cerca de três dedos acima da massa, para saber quando a massa estava finta. E depois

estendiam a massa. Depois punham no tabuleiro e por fim levava ao forno. 114 Quanto se punha o pão a fintar, dizia-se três vezes, fazendo o sinal da cruz. 115 Quando acabava de amassar, fazia o sinal da Santa Cruz e tornavam-no a fazer sobre a massa com

farinha. E depois diziam as palavras recitadas pela informante. 116 Benzia-se antes de começar a amassar e, quando terminava, fazia a cruz sobre o pão, dizendo isto.

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Deus te dá a virtude,

Que eu já fiz o que pude.

RBenz 2n117 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2010.

Deus te deia a virtude, Que eu já fiz o que pude.

Deus te acrescente,

E as almas do Ceú pra sempre.

RBenz 2o118 Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, analfabeta, trabalhadora rural / doméstica, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Deus te ponha a virtude Que eu já fiz o que pude.

Recitou versão idêntica: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural

de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras

Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi

funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do

Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.119

RBenz 2p120 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Nosso Senhor te acrescente,

117 Quando começava a amassar, benzia-se. Peneirava a farinha para o alguidar. Depois punha-se o

fermento, o sal (depois de coado) e depois amassava-se. Quando se acabava de amassar, benzia-se a massa

e dizia-se as palavras recitadas. Por fim, benziam-se e faziam uma cruz na massa. Diz que antigamente este

costume servia para afastar as feiticeiras (diziam antigamente que era porque as feiticeiras quando queriam

entrar com as pessoas que entravam plo pão. Uma pessoa que queria mal à gente podia fazer mal pla

massa.).

Acabado de amassar, tapava-se o pão com o panal, com um cobertor ou dois e punha-se um chapéu em

cima do alguidar do pão, para ajudar a fintar. Já a sua avó e a sua mãe faziam isto. Por fim, empinava-se o

tabuleiro, em que se tendia, ao alguidar. Tiravam um pouco de massa para fazer um sinal no alguidar para

indicar que a massa estava finta. Faziam o sinal da cruz com a pá na pedra da entrada no forno.

A informante acrescenta: Também nas matanças, quando punham a carne no alguidar, também diziam as

mesmas palavras. E faziam uma cruz com umas pedrinhas de sal, enquanto se diz as palavras. Durante

três dias se dá volta à carne e se repete este ritual. Diz que a sua mãe e a sua avó já faziam assim e também

muita gente. 118 Depois de amassado, fazia-se a cruz na massa e dizia-se estas palavras.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão similar (cf. Delgado [1956], pág. 124). 119 Contou que começou a amassar, com 13 anos, 15 quilos de farinha. O pão era cozido em fornos de poia.

Por cada 15 quilos de farinha amassados, o pagamento da cozedura era um pão. Quando eram 25 quilos,

era um pão e uma merendeira. Amassava, peneirava, tendia, e, aos catorze anos, começou a deitar pão no

forno – diz que era difícil, que requeria técnica.

Quando começava a amassar o pão, benzia-se. E quando se acabava de amassar, deitava-se farinha por

cima, fazia-se o sinal da cruz em cima da massa (faz o gesto) e dizia-se estas palavras. 120 Depois de amassar o pão, faziam o sinal da cruz, dizendo isto. À porta do forno, faziam três cruzes.

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Com as almas do Céu pra sempre.

Nosso senhor te ponha a virtude,

Que eu já fiz o que pude.

Quando se põe o pão no forno

RBenz 3121 Informante: Prazeres Carvalho Ramos, 74 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do

Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Credo, Credo é Deus,

Se for cobranto,

Benza-te Deus. RBenz 4a122

Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, Reformada (trabalhadora rural),

natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

Deus te acrescente.

RBenz 4b123 Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Nossa Senhora te acrescente,

E as almas do Céu pra sempre.

Pai, Filho, Espírito Santo.

Benzeduras para curar/tratar

Benzeduras da Dor de Cabeça

RBenz 5a124 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, Trabalhadora Rural e Doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Benzedura da Dor de Cabeça

Eu te benzo fulano(a)

Da dor de cabeça.

121 Ao colocar o pão no forno, diziam isto, fazendo o sinal da cruz. 122 Faziam uma cruz à porta do forno, enquanto diziam isto. 123 Ao fechar o forno, depois de colocar o pão, faziam três cruzes e diziam esta composição. 124 Mostra como se faz a Benzedura da Dor de Cabeça, exemplificando junto da vizinha Mariana Gato

Curvinha. É feita com um rosário de contas na mão.

Primeiro, a pessoa que faz a benzedura benze-se e, depois, fazendo o sinal da cruz sobre a cabeça da pessoa,

diz: Pai, Filho Espírito Santo. De seguida, coloca uma mão na testa da pessoa que vai ser benzida e outra mão na nuca. E começa a proferir

as seguintes palavras da reza.

No final, colocavam-se os dedos nas fontes e dizia-se outra vez a mesma oração.

A benzedura era feita ou cinco, sete ou nove vezes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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72

Quando Deus por o mundo andava,

Pedro Paulo encontrava:

5 - O que tens, Pedro Paulo?

- Senhor, dor de cabeça, dor de miolo. - Aperta, Pedro, aperta em cruz.

Diz três vezes Jesus, Jesus, Jesus.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

10 Um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

RBenz 5b Informante: José Colaço, 70 anos, 4º ano de escolaridade, comerciante, natural de Cumeada, residente em

Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura da Dor de Cabeça

Eu te benzo, Jacinta,125

Da dor de cabeça. Pedro e Paulo vinham de Roma,

O Senhor encontrou.

5 O Senhor lhe perguntou:

- Donde vens, Pedro, Paulo? - De Roma, meu Senhor.

- Que há por lá?

- Dor de miolo, que é […]

10 - Volta atrás e curarás. - Com quê, meu Senhor?

- Aperta, Pedro, a cabeça em cruz.126

Diz três vezes Jesus, Jesus, Jesus127

Em louvor da Virgem Maria, 15 Padre-Nosso e Ave-Maria.128

Benzeduras do ‘Torcido’129

125 Nome da esposa. 126 Numa benzedura diferente para o mesmo efeito, a sugestão de apertar a cabeça em cruz também aparece.

(cf. Roque [1946], pág. 23). 127 À medida que o informante diz três vezes a palavra Jesus, aperta a cabeça da sua mulher, fazendo o sinal

da cruz, para nos exemplificar. 128 Acrescenta o informante: depois era um Padre-Nosso e uma Ave-Maria. 129 As benzeduras vocacionadas para o tratamento de desmanchos e entorses recolhidas por Joaquim Roque

não são textualmente idênticas às que recolhemos, contudo apresentam expressões típicas da especificidade

da função da benzedura (destacadas a negrito) e que ocorrem nas versões do concelho de Reguengos de

Monsaraz. Destacamos duas versões:

«Ê’ côso: - carne ‘cobrada’ nervo tôrto!

« - Isso mesm’ é qu’ ê’ côso!

«Ê’ côso por novêlo e a ‘Virja por a’ carne,

«E S. Domingos ‘por o nervo-tutano’ e ‘por o’ ôsso.

5 «S’ é carne ‘cobrada’, vá ó sê’ lugar, «S’ é nervo tôrto vá ò sê pôsto,

«S’ é ‘linha desmentida’ vá ò sê’ lomite.

«É glória… é Padre… é de sempre…

«É de nunc’ … glória… Amén.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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73

RBenz 6a Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Benzedura do Torcido

- Coso. [diz quem benze]

- Carne quebrada e linha torcida, nervo torto. [responde quem é

benzido] - Mesmo isso é que eu coso.

Se é carne quebrada, torne a soldari;

5 Se é linha torcida, vá ao seu lugari;

Se é nervo torto, torne a endireitari. Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Padre-nosso e Ave-Maria.130

RBenz 6b131 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Benzedura do Destorcido

- Coso [diz o benzedor].

- Carne quebrada, nervo torto [diz o doente].

- Mesmo isso é qu’eu coso [diz o benzedor]. Virgem Maria cose pela pele,

5 S. José cose pelo osso,132

Jesus Cristo pelo nervo torto.

Se é linha desmentida,

10 «Em ‘lavor’ de Deus e da ‘Virja’ Maria», etc.

e

Jasus, qu’ é santo nome de ‘Jasus’!

curandeira: Ê te côso

paciente: Carne ‘cobrada’, nervo tôrto

curabdeira: Isso mesm’ é qu’ ê, côso!

5 Ê’ côso pela pele,

A ‘Virja’ pela carne e Deus pelo ôsso!

Melhor cos’ a ‘Virja’ qu’ ê’ côso!

Carne ‘cobrada’ será soldada

Nervos ‘destorcidos’ e linhas ‘desmetidas’

10 Tornarão ò sê’lugar.

Em ‘lavor’ de Deus e da ‘Virja Maria’ Padre-Nosso… Avém-Maria. (Roque [1946], pág. 6).

Esta últma versão assemelha-se a uma versão de Almodôvar recolhida por Manuel Joaquim Delgado (cf.

Delgado [1956], pp. 45-46). 130 Comentário da informante: Benzia-se pelo menos durante três dias. Se não houvesse melhoras, rezava-

-se durante nove dias. Tinha de ser sempre rezada em número ímpar. 131 “Já não há novelos. Era um novelo de meia, enfiava-se uma agulha, com linha, com as duas pontas

certas, não levava nó. E opôs fazia assim, cosia [simula os gestos].

Sejam, três, sejam cinco, é as que for”, tudo isto é em nunes. 132 Explicação da informante: “[aqui] já ponho a agulha mais fundo.

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74

Vá à tua medida.

Se é linha desmandada,

10 Vá tu morada.

Se é nervo torto, Vai ao teu lugar,

Linha desmentida torna a toldar.

Em louvor de Deus, da Virgem Maria,

15 Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 6c133 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Benzedura do Destorcido

Eu te benzo, fulano(a),

De linha destorcida, Carne quebrada, nervo torto,

Isso mesmo é qu’eu coso,

5 A Virgem cose pela carne,

Eu coso plo osso. Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Sem estas palavras nada se fazia.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

10 Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

RBenz 6d134 Informante: Maria da Conceição Reis (Maria dos Três Queijos), 58 anos, 4º ano de escolaridade,

comerciante, natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em

S. Pedro do Corval, a 2 de Novembro de 2011.

Benzedura do Nervo Torcido

- Coso. [diz quem benze]

- Mesmo isso é qu’eu coso. [responde quem está a ser benzido] 133 Explicação da informante: Primeiro, a pessoa que faz a benzedura benze-se e, depois, passando com

uma agulha e linha por um novelo, diz as palavras.

No fim: Depois, rezava-se o Pai-Nosso, sempre fazendo o sinal da cruz, repetidamente, sob a zona do

corpo ‘torcida’, seguido da Ave-Maria. 134 Explicação da informante: Quando as pessoas dão um mau jeito, torcem um pé, torcem um braço, dão

qualquer coisa, diz-se que têm o nervo torcido. E é tradição, crença, a pessoa toda a vida acreditou, com

uma benzedura que eu vou dizer que a pessoa fica bem.

Então, pega-se num novelo, pega-se numa agulha e a pessoa diz [a informante à medida que diz a benzedura

demonstra como se faz com uma agulha e um carrinho de linhas porque não tinha um novelo à mão].

No fim, reza-se um Pai-Nosso. Reza-se uma Ave-Maria. Depois, agradece-se e reza-se mais, de hora a

hora, mais, por exemplo, umas cinco vezes que é pra começar a fazer efeito. E as pessoas não acreditam,

muitas não acreditam, mas que dá resultado, dá resultado, porque eu já sou, eu tenho experiência própria

que a mim já deu resultado. E a muitas pessoas a que já fiz esta oração a pessoa ficou bem.

A benzedura é feita durante três ou cinco dias, “umas três vezes por dia rezada”, “cinco vezes”. Tem de

ser em número ímpar. Na primeira vez, a pessoa deve estar presente, nas outras vezes pode estar ausente.

Há quem peça a outras pessoas para rezarem a oração, sem saberem umas das outras e sem a doente

saber, pois acredita-se que a oração rezada assim ainda faz mais efeito, que a pessoa melhora mais

rapidamente.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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75

San Vicente cose melhor do que eu.

Eu coso pela linha e ele cose pela carne.

5 Em louvor de San Vicente,

Para que este nervo torne a toldar, Para que esta linha torcida volte ao seu lugar,

Para que o pé direito da menina Sandra135

Se possa governar.

10 Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 6e Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura do Distorcido

Eu te benzo, Maria [fulano(a)].

Eu a coso, Carne quebrada, nervo torto,

Mesmo isso é que eu coso.

5 Se for carne quebrada,

Torne a soldar. Se for nervo torto,

Torne a endireitar.

Se for linha desmentida,

10 Volte ao seu lugar. Ó nervo, que torceste,

Hades ir ao lugar aonde nasceste.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Pai-Nosso e Ave-Maria.136

RBenz 6f137 Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhador rural), 2º ano de escolaridade, natural

da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Benzedura do Destorcido

Coso carne quebrada, nervo torto,

Mesmo isto é que eu coso.

Santa Maria cose pela pele

E São Jacob pelo osso. 5 Linha desmentida,

Vais à tua medida,

Linha desbandada,

Vais a tua morada, Nervo torto,

135 A filha da informante chama-se Sandra. 136 Explicação da informante: Depois reza-se um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Torna-se a repetir cinco

vezes (…) na mesma hora. Pode-se benzer três vezes ô dia. 137 No início, benze-se em cruz. A benzedura é rezada com o novelo e com a agulha.

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76

10 Torne a toldar,

Linha desmentida,

Vai ao seu lugar.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Padre-Nosso e uma Ave-Maria.138

Benzedura da Erisipela

RBenz 7 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Benzedura da ‘erzipla’

Tu, rosa maldita, Tu, rosa malvada,

Aqui foste nascida

E aqui foste criada.

5 Com uma faca de Flandres Serás cortada139

Elas se cortarão,

Pró mar se aventarão. Elas se derreterão

10 Como o sal derrete-se na água.

Peço à Senhora Santa Guiomar

E ô Senhor São João Que venha curar

Esta erzipla ou erzipela ou erziplão.140

138 Explicação da informante: é rezada com um novelo e uma agulha com linha sem nó que passava pelo

novelo. Reza-se cinco vezes, três vezes que se faz, mas são cinco vezes que temos que dizer esta oração. 139 Neste momento, explica que cortava-se uma lasquinha de um pazinho de figueira. 140 Explicou: porque havia erzipla, erzipela e erziplão que ainda era pior.

‘Odepois’ [no final] diz-se um Padre Nosso, uma Ave Maria e ‘odepois’ diz-se outra vez a oração a benzer

três vezes.

Após perguntarmos durante quantos dias se reza a benzedura, responde: pode ser cinco vezes, pode ser sete

vezes, pode ser nove vezes, conforme a pessoa estiver.

A informante contou que em “gaiata” benzeu uma senhora grávida, mas fê-lo contrariada, porque achava que não tinha idade para o fazer. Fui benzer a mulher com uma vontade de rir que até estourava. Era a fé

com que ê estava. Porque era, estava a fazer a figura de velha. Contou que a senhora ficou boa.

Disse que talvez tenha aprendido a benzedura com a sua mãe.

Explicou: A erzipla é inchaço e vermelho. Põe-se a pessoa inchada e muito vermelha.

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Benzedura dos Olhos

RBenz 8141 Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura dos olhos

Eu te benzo, Maria,

Dos olhos, de névoa e inflamação,

D’ar, recha, blida e cobranto, À mão de Deus Padre, Filho e Espírito Santo.

5 Recha maldita,

Que vieste a este lugar,

Aqui te hades secar, Aqui te hades mirrar,

Daqui não hades passar.

10 Pra que estes raios

E estes nervos sirvam De cuidado e de alívio

Às pessoas da Santíssima Trindade,

À Senhora da Luz,

15 Que de deia luz e claridade Nos olhos da Maria como antigamente.

Credo.

Benzeduras da Lua

RBenz 9a142 Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo

António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011

Benzedura da Lua

A mão de Deus e a da Virgem Maria

Vaia adiante da minha

Para que sirva de mezinha.

Eu te benzo, fulano(a), 5 De ar, de afito, de cobranto e de lua.

Santa Ana é mãe de Maria,

Santa Isabel e São João,

141 A informante explica: esta benzedura diz-se as cincos vezes, mas não é o Pai-Nosso e Ave-Maria, é o

Credo.

Diz que todas as benzeduras são rezadas cinco vezes seguidas.

Em caso de aflição, a informante já tem benzido pessoas.

A sua avó benzia as pessoas na aldeia de Campinho.

As benzeduras para as doenças dos olhos recolhidas por Joaquim Roque e Manuel Joaquim Delgado,

embora diferentes, têm algumas expressões idênticas à da composição que recolhemos: por exemplo, Aqui

te há-des secar, aqui te há-des mirrar, / Daqui nã’ há-des poder passar. (cf. Roque [1946], pp.128-39;

Delgado [1956], pp. 63-64). 142 Diz que era rezada todos os dias enquanto o queixoso andasse doente, uma vez ou duas.

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Em que estas palavras

São verdades

10 E em que este corpo fique são.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria E do Divino Espírito Santo,

Tire este mal deste corpo e desta carne,

Em modos que se possa governar.

15 Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 9b143 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Oração da Lua

Eu te benzo, Maria do Rosário,

D’ar e de afito e da lua e de cobranto.

Em louvor de Deus, do Divino Espírito Santo,

Que a mão de Deus vá adiante da minha, 5 Que é a verdadeira mezinha.

Em louvor de Deus, da Virgem Maria,

Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 10a144 Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.

Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Benzedura da Lua

Deus é Verbo, Verbo é Deus,

Tens cobranto, benza-te Deus.

Tu, Lua, que por aqui passaste,

A saúde do meu menino levaste, 5 Se tornares a passar,

Levarás o mal e deixarás o bem.

Em louvor de Deus, da Virgem Maria,

Com um Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10b145

143 Diz que a filha era muito doente da lua.

Explica o procedimento: amornava uma pinga de azeite num púcaro, num pucarozinho de alumínio. E era

assim: [faz os gestos junto à barriga de como se faz, passando sempre com as mãos pela barriga]. Recita a

composição. Benzia-se em cruz no início. Era rezada cinco ou sete vezes. Depois descansava e voltava a

rezar ou cinco ou sete vezes. 144 Comentário da informante: depois, no fim, rezava-se o Pai-Nosso e a Ave-Maria. A benzedura era feita

sete ou nove vezes, por exemplo. O número de vezes não podia ser par. 145 Conta que foi uma senhora dos Montes Juntos que lha ensinou, quando o filho esteve muito doente, em

bebé.

Diz que fito é uma espécie de Luar.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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79

Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro de 2011.

Oração do da Lua e Cobranto

Eu te benzo da Lua, fito e cobranto, Em nome de fulano,

Pai, Filho e Espírito Santo.

Lua formosa que por aqui passaste,

5 E a saúde de fulano levaste, Se por aqui tornares a passar,

A tua hás-de levar

E a de fulano hás-de deixar.

Santa Ana pariu Maria, 10 Maria pariu Jesus,

Doce é o cravo, doce é a cruz,

Doce é a palavra do menino Jesus.

Santa Isabel e São João, Conforme estas palavras santas são

15 Seja nosso Senhor servido,

Tirar esta lua, este fito e este cobranto,

Em nome de Maria, Pai, Filho e Espírito Santo.

E em louvor da Virgem Maria,

20 Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10c146 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Benzedura do Cobranto/ da Lua

Lua benta por’qui passou,

A cor do meu menino/minha menina levou, E a sua deixou.

Lua benta torne a passari,

5 A cor de filho/filha torne a deixari

E a sua levará. Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Padre-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10d147 Rezava-se três vezes. 146 De acordo com a informante, enquanto se reza, benze-se em cruz. 147 Durante a reza da benzedura, faz-se repetidamente o sinal da cruz. Enquanto a informante vai dizendo

a benzedura, vai fazendo o sinal da cruz em frente ao seu rosto como se estivesse a benzer-se a si própria.

Rezava-se três, cinco ou nove vezes no mesmo dia. Quando a pessoa está muito doente, pode ser rezada de hora a hora.

Relata a situação de uma senhora que estava muito doente e que melhorou com a benzedura. A informante

e outra senhora estiveram um dia inteiro na casa da doente a rezar a benzedura de hora a hora. Quando lá

chegaram, nem se levantava da cama; quando de lá saíram, já ficou levantada.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Benzedura da Lua e do Mau-olhado

Eu te benzo, Rosária,

De afito, de cobranto e de Lua, Doutro mal qualquer

Que no teu corpo estiver.

5 Sant’Ana pariu Maria,

Isabel São João. Estas palavras são verdade,

Este corpo fique são.

Lua bendita,

10 Que por aqui passaste, A saúde de Rosária levaste,

Hás-de tornar a passar,

A tua hás-de levar

E a dela hás-de deixar. 15 Em louvor de Deus, da Virgem Maria,

Que ela vai dianta minha,

Pra que sirva de mezinha.

Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 10e148 Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo

António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011

Benzedura da Lua

Lua, Luar,

Por aqui passastes,

A cor de fulano(a)

Levastes e tua deixastes. 5 Lua, luar,

Por aqui torna a passar,

A cor de fulano(a)

Torna a deixar E a tua torna a levar.

10 Em louvor de Deus

E do Divino Espírito Santo,

Pai-Nosso e Ave-Maria.

148 Em simultâneo, com esta frase, faz o gesto de se benzer.

Esta versão e as próximas versões que recolhemos têm os primeiros versos quase idênticos, os quais

desenvolvem a ideia de que a Lua afectou o paciente, levando-lhe a cor quando passou e que há-de passar

novamente para devolver a cor ao paciente – Joaquim Roque recolheu uma benzedura que apresenta o mesmo início temático: A lua por ‘qui passou/ E a cor de Fulano lovou/ A lua por’qui há-de passar/ E a

cor de Fulan’há-de dêxar!... (…) (Roque [1946], pág. 36). Esta “sequência temática” aparece num

espécime diferente recolhido por Manuel Joaquim Delgado, tornado-se assim visivelmente frequente nas

benzeduras específicas para o mal da Lua (Delgado [1956], pág. 62).

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RBenz 10f149 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Benzedura da Lua

Lua, que por aqui passaste, O bem de fulano(a) levaste,

O teu mal deixaste.

Lua, que por aqui virás,

5 O bem de fulano(a) Deixarás e o teu mal levarás.

[…]

RBenz 10g150 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Lua, se por aqui passastes, A minha cor levastes,

Se por aqui tornares a passar,

A minha deixarás

5 E a tua levarás.

RBenz 10h151 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Benzedura da Lua

Lua, tu que por aqui passaste,

A cor de fulano levaste,

Se tornares a passar,

A dele deixarás 5 E a tua levarás.

A minha mão que vá adiante

Da da Virgem Maria

Pra que sirva de mezinha. Padre-Nosso e Ave-Maria.

149 No início, benze-se em cruz. 150 Reza-se, fazendo o gesto de benzer em cruz no início, quando os bebés estão com a lua.

A informante afirmou que quando as pessoas estão com a lua ficam com a cara desfigurada. Diz que de vez

em quando se benze da lua.

Explicou que se dizia, normalmente, o nome do bebé e exemplifica:

Lua, se por aqui passastes,

A cor de fulano levastes,

Se por aqui tornares a passar,

A minha deixarás

5 E a tua levarás. 151 Benzedura aprendida com a sua mãe. Ao início, benze-se em cruz. A informante, no final, reza o Pai-

-Nosso e a Ave-Maria três vezes.

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RBenz 10i Informante: Maria Clara Bragado, 69 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de S. Marcos do

Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de novembro

de 2011.

Lua, que por aqui passastes, O bem do meu menino levastes.

Se por aqui tornares a passar,

Deixarás o bem, levarás o mal.

5 Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Padre-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 11152 Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Eu te benzo, Maria, da Lua,

Em nome de Deus, Pai, do Filho e do Espírito Santo,

D’ar, de Lua, tropesia e cobranto.

5 Maria, Deus te fez, Deus te gérou,

Deus te tire o mal que no teu corpo entrou, Deus perdoe a quem mal te olhou.

A mão de Nossa Senhora

Vá adiante desta minha,

10 Onde eu ponho a minha mão, Ponha a Senhora a sua mezinha.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Pai-Nosso e Ave-Maria.

Depois, corta-se o afito:

Eu te corto, afito,

15 Com a cruz de Cristo, Com o unto sem sal,

Com a cinza do lar,

Que o inimigo se faça desumbigo,

Saia pelo umbigo, 20 Vá pra trás do mar,

Não oiça galinha nem galo a cantar.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 12153 Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhador rural), 2º ano de escolaridade, natural

da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Benzedura da Lua 152 Explicou: Benze-se com as contas. Quando estão muito atacados, a gente unta-lhe a barriga [aos bebés],

com azeite. 153 Rezava-se durante cinco dias. Era rezada três vezes ao dia (de manhã, ao meio-dia e à noite). No início,

benze-se sempre.

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83

Lua, que pelo mundo andava,

Com seu bendito filho encalmejava.

Com que o curou? Com que o curaria?

5 Com o panal

Com que a sua mãe tendia.

Padre-Nosso e Ave-Maria.

Benzeduras do Quebranto

RBenz 13a154 Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Credo, credo é Deus,

Se é cobranto, benza-me Deus,

Deus me crie, Deus me criou,

Deus me tira o mal que no meu corpo entrou.

RBenz 13b155 Informante: Maria Clara Bragado, 69 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de S. Marcos do

Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de novembro de 2011.

Benzedura de Olhado

Deus é bebi.156

Bebi é Deus. Se tens cobranto,

Benza-te Deus.

5 Deus te fez,

Deus te criou [vai fazendo o sinal da cruz com a mão], Deus deia o pago

A quem mal te olhou.

154 A pessoa ao benzer-se diz estas palavras.

Explica que, para se saber se a pessoa a benzer tinha quebranto, punha uma tigela com água. Depois,

molhava-se o dedo em azeite e dizia: Em louvor de Nossa Senhora e do Divino Espírito Santo se este azeite

se espalha fulana tem cobranto [quebranto].

Explicou ainda que a benzedura é rezada nove vezes, durante pelo menos três dias. No fim de cada benzedura, reza-se o Pai-Nosso e a Ave-Maria. 155 A informante foi fazendo o sinal da cruz com a mão, enquanto recitou a composição.

É dita cinco vezes.

Disse que benze a neta quando lhe dói muito a cabeça.

Explicou: (…) a gente põe uma tigelinha com água e molha a cabeça do nosso dedo num cadinho de azeite

e odepois diz a oraçanita e cai uma pinguinha de azeite. Isto era a fé das pessoas antigas. Se a pinguinha

de azeite se desmancha toda, a pessoa tem olhado. Se as cinco pinguinhas de azeite ficam juntinhas, está

tudo bem. 156 Corruptela de verbo.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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84

Benzeduras do Sol157

RBenz 14a158 Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural

da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Benzedura do Sol

Nossa Senhora pelo mundo andava,

Com seu bendito filho encalmejava.

Com que é que o curou? Com que é que o curaria?

5 Com o panal,

Com que a sua mãe tendia.

Padre-Nosso e uma Ave-Maria.

RBenz 14b159 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Benzedura do Sol

Quando Nossa Senhora

Por o mundo andou,

Seu bendito filho encalmejou.

Com que o curou? 5 Com que o curaria?

Com um copo de água fria

E o panal onde Nossa Senhora tendia.

Em louvor de Deus, da Virgem Maria, 157 Em Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia Alentejana), Joaquim Roque publicou algumas versões

da Benzedura do Sol e que denomina de benzedura da calma ou dias calmarias, também assentes num

esquema narrativo-dramático, em que o diálogo entre os intervenientes tem motivos temáticos comuns às

versões que recolhemos, os quais surgem na indicação do método de tratamento / o remédio: o panal e o

copo de água fria (cf. Roque [1946], pp.19-20). As benzeduras recolhidas por Manuel Joaquim Delgado

insistem numa arquitectura textual parecida, mas, em vez do copo de água fria, aparecem as (os) pingas(os)

de água fria (Delgado [1956], pp. 55-56). 158 A informante explicou que põe uma toalha na cabeça e benze com as suas mãos. Mas havia outras

pessoas que punham um copo com água na cabeça para benzer. 159 Explicação da informante: havia quem colocasse um copo de água fria em cima da cabeça da pessoa a

benzer. Mas a informante sempre preferiu rezá-la, com uma bacia de água fria ao pé e com uma toalhinha

de bidé dobrada em quatro partes, passada além na água fria, dobra-se em quatro partes, põe-se em cima

da cabeça da pessoa [a informante vai fazendo os gestos que exemplificam o que explica].

À medida que diz a benzedura, faz o sinal da cruz com as mãos na cabeça.

Esclarece que, à medida que dizia e fazia a benzedura, ia sempre molhando a toalha na água e colocando

em cruz na cabeça da pessoa.

Diz que em a pessoa tendo sol, sol, até a toalha vai aquecendo, até salta o calor aqui [toca na cabeça] por

as mãos.

Conclui, no final, a explicação: depois, nunca se deve deitar a água da bacia para onde haja sol, tem de se

deitar para a sombra. Diz-se os Pai-Nossos e Ave-Marias sempre em nunes [sempre em número ímpar]. Por exemplo, três Pai Nossos e três Ave Marias.

Para a informante, o que “tira o sol” não é só a oração, mas sobretudo a toalha molhada em cima da cabeça.

A benzedura tem de ser feita em número ímpar de dias. A informante, em cada momento [“performance”],

repete-a cinco vezes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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85

Pai-Nosso, Ave-Maria.

RBenz 14c160 Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.

Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Benzedura do Sol

Santa Inclemência,

Que no mundo andou,

Sol suão apanhou.

Com que o curou? 5 Com que o curaria?

Com um pano de linho e água fria.

Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Com um Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 14d161 Informante: Sertório Orti Barona, 73 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 22 de Outubro de

2011.

Benzedura do Sol

São Solomão

Por o mundo andou,

Sol e lua tirou,

Com que tirou? 5 Com que tiraria?

Com um pano de linho

E um copo de água fria.

Em louvor de S. Silvestre e da Virgem Maria. Padre-Nosso e Ave-Maria.

RBenz 15162 Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

160 Era feita com uma toalha húmida nas costas e na cabeça. Depois começava na cabeça com as mãos em

cruz. Primeiro benzia a pessoa, depois molhava as mãos e punha as mãos em cruz na cabeça e dizia as

palavras.

[No final] depois dizia-se um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. De seguida, molhavam as mãos outra vez e

punham nas costas. Punham na cabeça duas vezes e depois punham nas costas até fazer cinco vezes.

Explica novamente: punham as mãos nas costas em cruz [faz o gesto], depois molhavam as mãos outra vez

na água fria, com uma toalha de linho. Era assim.

Fazia-se cinco, sete ou nove vezes. 161 O informante explicou: Quando a pessoa se constipa de sol, é com uma toalha, molham as mãos, é com

as mãos assim na cabeça, nas costas e com água fria e depois dizem a benzedura.

Rezava-se três vezes o Pai-Nosso e Ave-Maria e a benzedura era feita cinco dias seguidos. Convinha que

a água não apanhasse sol. 162 Explicação da informante: é com um copo com água e uma toalha dobrada em quatro partes.

Exemplifica as dobras num pano.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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86

Benzedura do Sol

Santa Isabel estava de parto,

Nossa Senhora visitá-la-ia, Nossa Senhora lhe dizia:

- Isabel, o que faz por’qui,

5 Com tanto fogo e tanto calor?

Com que te hades curar? Com a toalha do altar,

Cinco dobras num pano

E um copo de água fria.

10 Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Pai-Nosso e Ave-Maria.

Benzeduras do Ventre Caído

RBenz 16163 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Benzedura do Ventre Caído

Desceu Deus do Céu à Terra

E subiu ao seu altar,

Que o ventre dessa pessoa [o mesmo que fulano (a)]

Vai ao seu lugar.

RBenz 17164 Informante: Jacinta Rosa Borrego, 67 anos, Comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Cumeada. Recolha realizada em Cumeada, a 21 de Novembro de 2011.

Benzedura de Ventre Caído

Eu te benzo, Maria [fulano(a)],

De ventre caído.

Quando Cristo subiu ao Céu, Do Céu ao seu altar,

5 Assim pedi eu a Cristo

Que pusesse o ventre de Maria

Em seu lugar.

163 A informante explicou que se usa vinagre e cinco folhas de hortelã. Massaja-se a perna em sentido

oposto, o braço ou na zona da clavícula com esse preparado.

No fim, reza-se cinco Pai-Nossos e cinco Ave-Marias.

Reza-se durante cinco dias.

Nesta benzedura, também se faz o sinal da cruz na testa. 164 Explicação da informante: Essa é a de ventre caído, mas essa é benzida com cinco ramos de hortelã

molhado no vinagre e é nos braços assim [faz os gestos], e é nas pernas, e aqui [toca na testa com o indicador]. Começa-se aqui na testa aqui [faz o sinal da cruz na testa com o indicador], e aqui [faz o sinal

da cruz na face esquerda] e depois aqui de lado [faz o sinal da cruz na face direita], e depois é nos braços

e depois é nas pernas.

Depois oferece-se ao santinho, à imagem que a gente mais devoção tem.

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Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

Pai-Nosso e Ave-Maria.

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1.1.3. Esconjuros

Para afastar as feiticeiras

REsc 1165 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Oração para afastar as feiticeiras

Orca, bernorca,

Três vezes orca,

Deus te desterre

Desta monarca. […]

Para encomendar à morte

REsc 2 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Fulano166 comeu carne de grou. Estava167 para acabar

E ainda não acabou.

Para encontrar objectos perdidos e/ou para proteger da trovoada, para viajar

REsc 3a168 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

165 A informante explica que antigamente se dizia que existiam feiticeiras e que estas batiam à porta das

pessoas. A composição era dita para que as feiticeiras não batessem à porta.

Conta a história de uma senhora da aldeia que dizia que as feiticeiras batiam à sua porta todas as noites e

diziam:

- Senhora Perpétua, posso entrar?

Esta história era contada pela sua avó. 166 Nomeava-se o moribundo. 167 Alterna a forma verbal “estava” com “era”. 168 Depois diz-se um Pai-Nosso e uma Ave-Maria.

Depois faz-se a encomendação:

Ofereço este Pai-Nosso, esta Ave-Maria, esta Santa Oração que eu aqui estou a rezar para aparecerem as

coisas ou seja um anel d’ouro, ou seja…, coisas de valor, ou seja as pessoas que estão doentes, também

pode ser, quando a gente, quando roubam as coisas à gente, pra gente, esta oração é da encomendação de

Santo António, tanto que diz “Meu beato…”, não é o Santo António é o beato. Quando os rapazes iam

para o Ultramar, todos levavam a oração escrita por mim, porque se não for por mim as pessoas não têm

fé. Não vale de nada. Só vale eu! Joaquim Roque faz o registo de sete versões da Encomendação de Santo António, nenhuma coincidente

com as duas versões que recolhemos (cf. Roque [1946], pp. 69-70). Também as versões recolhidas por

Manuel Joaquim Delgado se afastam daquelas que recolhemos e encontram-se transcritas em prosa. (cf.

Delgado [1956], pág. 103).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Meu beato Santo António,

Conselheiro de Jesus Cristo,

Confessor de São Francisco,

Pelo hábito que vestiste, 5 O cordão que exististe,

O leite que mamaste,

As hostes que amparaste,

O marinheiro que guiaste. Meu Santo Bendito te peço,

10 Que me guardes a mim

E à minha gente toda,

A tudo que tiver a meu cuidado, Seja tudo tão bem guardado,

Como foi o Filho de Deus,

15 No ventre da Virgem Maria.

Pai-Nosso e Ave-Maria.

REsc 3b Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Santo António se levantou,

Caminhos e carreiras andou,

Jesus Cristo encontrou. - António, para onde vás?

5 - Eu, Senhor, convosco vou.

- Não, António, tu comigo não virás,

Nesta terra ficarás. As missas que cá disserem,

António, tu as ouvirás.

10 A mim, ao meu marido

E à minha filha, aos meus netos, António guardarás.

Foste livrar tê pai da forca,

Também peço

15 Ao meu Divino Santo António Que nos livres

Do mau lobo, da má loba,

Do mau zorro, da má zorra,

Do mau homem, da má mulher, 20 Do mau rapaz, da má rapariga,

Do mau cão, da má cadela,

Da má língua, do mau ódio,

Da má vingança, De todas as doenças ruins que houver,

25 Dando tiros e espingardas,

Dos maiores perigos que houver.

Eu cada vez rezo com mais devoção E ofereço ao meu Divino Santo António,

Meu beato Santo António,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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90

30 Conselheiro de Jesus Cristo,

Confessor de São Francisco,

Pelo hábito que vestiste,

Pelo cordão que existe, Pelo marinheiro que guiaste,

35 Pelos órfãos que amparaste,

Peço-te pelo amor de Deus

E do beato Santo António Que nos guardes a todos,

Tão bem guardados todos sejamos

40 Como foi guardado o Filho,

Dentro do ventre da Virgem Maria. Padre-Nosso e Ave-Maria.

Para prender de amor

REsc 4 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª classe, natural de Telheiro, residente em Telheiro.

Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Da minha casa te vais,

Mal de mim te dirão,

Mas tu nunca consentirás,

Pra mim te voltarás, 5 Com muito prazer e alegria,

Como Jesus Cristo se voltou

No ventre da Virgem Maria.

Para os cães não morderem

REsc 5a169 Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, analfabeta, reformada (foi comerciante), natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2009.

Cala-te, cão,

Ao pé de ti está São João,

Com um punhal na mão, Que te corta o coração.

5 Se és cadela,

Santa Madanela,

Com uma faca na mão Que te corta a goela.

REsc 5b170 Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

169 Aprendeu esta oração com a sua avó. A avó dizia que, ao dizer a oração, o cão já não mordia. 170 Para afastar os cães, em Portel também apelavam à ajuda de São Romão:

Fuge[,] cão[,]

Entremeio de mim e de ti, cão,

Está S. Romão. (Pombinho Júnior [2001], pág. 185).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Entre mim e o cão, Ponha São Romão a mão.

REsc 5c171 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Entre mim e ti, cadela, Esteja Santa Maria Madalena,

Pra te cortar as goelas.

REsc 5d Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Entre mim e ti, cão,

Esteja São Romão,

Com uma faca na mão,

Pra te cortar o coração.

REsc 5e Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Entremeio de mim e ti, cadela,

Está San Madalena,

Com uma faca na mão, Que te corta o coração.

REsc 5f Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Entremeio de mim e ti, cão,

Está São Romão, Com uma faca na mão,

Que te corta o coração.

Recitou versão idêntica: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011

REsc 5g Informante: Maria de Jesus Cardoso Rita, 76 anos, analfabeta (sabe assinar), reformada, natural de

Carrapatelo (foi empregada doméstica em Reguengos), residente em Carrapatelo Recolha realizada em

Carrapatelo, a 22 de Outubro de 2011.

171 Afirmou a informante: A gente via o cão, tinha medo. Foi uma velhota que ma ensinou já aos anos.

Em Portel, também circulava uma versão para afastar as cadelas:

Fuge[,] cadela[,]

Entremeio de mim e de ti, cadela,

Está Santa Maria Madanela. (Pombinho Júnior [2001], pág. 185).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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92

Entre meio de ti, cadela,

Está Santa Madanela.172

[…]

REsc 5h173 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de Campo,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Tó cão, tó cadela, Entre mim e de ti,

Está Santa Madanela,

Com uma espada na mão,

5 Que atravessa o coração.

REsc 5i174 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Tó cão, tó cadela,

Entre mim e mais dela,

Está a Santa Madalena, Com uma espada na mão,

5 Para lhe matar o coração.

Para proteger da Trovoada

REsc 6a Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro

de 2011.

Alto muve gavião,

Senhora da Conceição, Nosso Senhor se levantou,

O seu sapatinho calçou,

5 Plas estradas andou,

Encontrou Santo António, E o Senhor lhe perguntou:

- Aonde vás, Santo António?

Vou espalhar esta trovoada.

10 - Sim. Espalha-a lá pra bem longe Pra onde não haja eira nem beira

Nem raminho de oliveira

Nem gadelhinho de lã

Nem alminha cristã.

172 Corruptela de Madalena. 173 Comentário da informante: o que é certo é que o cão não se aproxima da gente, e o bicho desvia-se.

As coisas fazem bem quando agente tem fé nelas. 174 Recitou uma versão idêntica em 9 de Dezembro de 2000.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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REsc 6b Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural

da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

A Nossa Senhora se levantou,

Seu sapatinho calçou,

Nossa Senhora perguntou: - Aonde é que tu vais, Gregório?

5 - Vou acima àquele outeiro

Espalhar esta trovoada,

Que por cima de nós anda armada. - Deus a espalhe lá pra bem longe,

Onde não há eira nem beira,

10 Nem raminho de oliveira,

Nem gente cristã. Amém.

REsc 6c175 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

San Gregório se levantou

O seu bordanito apanhou.

Deus lhe perguntou: - Onde vás, San Gregório?

5 - Vou espalhar esta trovoada,

Pra onde não haja

Beira nem geira, Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

10 Nem bafo de gente crestã.

REsc 6d Informante: Francisca Antónia Godinho Pinto, 79 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta,

natural de Caridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

San Gregório se levantou,

Seu sapatinho calçou,

Nossa senhora lhe perguntou:

- Aonde vás, San José? 5 - Vou espalhar esta trovoada.

- Espalha-a lá pra bem longe,

Onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira, Nem gente cristã.

175 Em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé, podemos encontrar várias versões do esconjuro

da trovoada que não aludem apenas a Santa Bárbara, mas também a São Jerónimo, São Gregório, São

Gloirinho, Santo António e São Bartolomeu. Apesar de haver várias variantes, obedecem todas ao mesmo

esquema narrativo-dramático, em que o santo manifesta o seu desejo de “espalhar” a trovoada. (cf.

Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 260-263).

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REsc 6e Informante: Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S.

Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24

de Novembro de 2011.

San Gregório se levantou,

Seu sapatinho d’ouro calçou.

Nossa Senhora lhe procurou: - Onde vais, San Gregório?

5 - Vou espalhar esta trovoada

Lá pra bem longe,

Onde não haja eira nem beira, Nem gadelhinho de lã,

Nem raminho de figueira,

10 Nem alminha cristã,

Nem galinha a cantar, Nem mulher por filho a bradar.

REsc 6f Informante: Inácia Martins Balancho, 83 anos, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de São Marcos

do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de

Novembro de 2011.

San Gregório se levantou,

Seu sapatinho d’ouro calçou. - Onde vas, San Gregório?

- Vou espalhar esta trovoada.

5 - Espalha-a lá pra bem longe,

Onde não há eira nem beira, Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem alminha cristã.

REsc 6g Informante: Maria Ramalho Olivença (Ti Ramalha), 85 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural),

natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de 2011.

San Jerolme se levantou,

Seu sapatinho d’ouro calçou,

Sua estradinha tomou. - Aonde vais San Jerolme?

5 - Espalhar esta trovoada,

Pra onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira, Nem gadelhinho de lã,

Nem sangue de alma cristã.

10 Em louvor da Virgem Maria.

Pai-Nosso. Ave-Maria.

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REsc 6h Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em

Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

San Jerolnomo se alevantou, Seu cacheirinho d’ouro agarrou.

- Onde vás, San Jerolnomo?

- Vou espalhar esta trovoada.

5 - Então, espalha-a lá pra bem longe, Não haja raminho d’oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem alminha cristã.

REsc 6i176 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

San Jerónimo se levantou,

Seu sapatinho e meia calçou,

Seu caminhito andou, A Nossa Senhora encontrou:

5 - Aonde vás, Jirónimo?

- Eu, Senhora, convosco vou

Espalhar esta trovoada. - Então, espalha-a pra bem longe,

Pra onde não haja eira nem beira,

10 Nem raminho de figueira

Nem gadelhinho de lã, 176 Encontrámos a referência a S. Jerónimo e a Nossa Senhora, bem como o motivo do raminho de figueira

numa versão de Portel:

S. Jerolmo se levantou,

Seu pezinho direito calçou,

Nossa Senhora o encontrou.

- Aonde vás [,] Jerolmo?

5 Vou espalhar esta trovoada,

M,uito bem espalhada,

Para onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de figueira,

Nem gadelhinha de lã,

10 Nem alminha cristã. (Pombinho Júnior [2001], pág. 149).

A versão recolhida por Joaquim Roque tem poucas variantes, em relação à versão de Portel:

‘S. Girólmo s’ al’vantou’

Sê’ péi d’rêto calçou

E Nossa Senhor’ ô encontrou

E a senhora le prèguntou:

5 Onde vás Jirólmo?

- Vou ‘strambalhar (espalhar) as travoadas!

- S’ as vás ‘trambalhar,

‘Strambalh’às lá p´ra bẽi lõis Onde nã’ haja péi de figuêra

10 Nẽi ramo d’ólivêra

Nẽi gente cristã,

Nẽi gadelha de lã. (Roque [1946], pág. 77).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Nem alminha cristã.

REsc 6j Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

San Jirolmo se levantou, Seus sapatinhos calçou.

- Onde vás, Jirolnmo?

- Vou espalhar esta trovoada.

5 - Espalha-a lá pra bem longe, Pa onde nã faça eira nem beira,

Nem raminhos de figueira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem alma de gente cristã.

REsc 6l177 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

San Jironmo se levantou,

Seu sapatinho de ouro calçou.

Com o seu cacheirinho na mão, Nossa Senhora encontrou.

5 Nossa Senhora lhe perguntou:

- Onde vais, San Jironmo?

- Vou espalhar esta trovoada Lá para bem longe,

Onde não haja eira nem beira,

10 Nem raminho de oliveira,

Nem gadelinho de lã, Nem alma cristã,

Nem pedrinha de sal,

Que a mim e à minha gente

15 Nada possa fazer mal.

REsc 6m178 Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (doméstica), natural de

Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24

de Novembro de 2011.

177 Aprendeu a oração com a sua avó. 178 Joaquim Roque recolheu uma versão dedicada à trovoada com uma estrutura arquétipa muito parecida:

Santa ‘Barba’ bendita

No Céu ‘stá ‘scrita (inscrita)

Em papel e água e água benta

‘Spalhai esta ‘tromenta’

5 Lá p’ràs ‘bandas’ dos moiros Aonde nã haje pã’nẽi vinho

‘‘Nẽi’ ramo de rasmaninho

‘‘Nẽi’ gente cristã,

‘Nẽi’ gadelha de lã… (Roque [1946], pág. 77).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Santa Bárbara bendita,

No céu está escrita,

E na terra assinalada,

Espalha esta trovoada, 5 Lá pra bem longe,

Pra onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã, Nem nada que faça mali.

REsc 6n Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara bendita,

No céu está escrita, Na terra assinalada,

Vai espalhar esta trovoada,

5 Espalha-a lá pra bem longe,

Onde não haja eira nem beira, Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem uma alminha cristã.

REsc 6o Informante: Antónia Barradas Dias Rato da Silva, 64 anos, empregada de balcão (há 19 anos), 4º ano de

escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 21 de

Outubro de 2011.

Santa Bárbara bendita,

Que no céu está escrita,

Com água benta,

Desviai esta tormenta, 5 Leva-a lá pra bem longe,

Pra não haja eira nem beira,

Nem gadelhinho de lã, Nem alminha cristã.

REsc 6p179 Informante: Maria de Jesus Cardoso Rita, 76 anos, reformada, analfabeta (sabe assinar), natural de

Carrapatelo (foi empregada doméstica em Reguengos), residente em Carrapatelo. Recolha realizada em

Carrapatelo, a 22 de Outubro de 2011.

Santa Bárbara se levantou

E seu sapatinho calçou San Jerolnmo perguntou:

- Aonde vás, Santa Bárbara?

5 - Vou espalhar esta trovoada

179 Disse que aprendeu a oração com a sua avó.

Encontramos várias versões com a referência a Santa Bárbara em Orações. Património Oral do Concelho

de Loulé (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 246-255).

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Pra onde não haja eira nem beira,

Nem raminhos de oliveira,

Nem gadelhinhos de lã.

REsc 6q Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo

António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Santa Bárbara se levantou,

Seu sapatinho calçou

E o Senhor encontrou:

- Aonde vás, Santa Bárbara? 5 - Vou espalhar esta travoada.

- Espalha-a lá pra bem longe,

Pra onde nã haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira, Nem gente cristã. Amém.

REsc 6r180 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara se levantou,

Seu sapatinho calçou, Nossa Senhora encontrou

E ela lhe perguntou:

5 - Onde vais, António?

- Vou espalhar esta trovoada, Pra onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

10 Nem alma de gente cristã.

REsc 6s181 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Santa Bárbara se levantou,

Seu sapatinho calçou, Sua mão direita levou.

- Aonde vás, Santa Bárbara?

5 - Vou espalhar a travoada,

Que anda plo mundo armada. - Espalha-a lá pra bem longe,

Pra onde não haja beira nem eira,

Nem raminho de oliveira,

180 De início, a informante não se lembra dos versos iniciais da oração, mas, assim que nós dizemos que há

pessoas que rezam a Santa Bárbara, rapidamente se lembra de toda a oração. 181 Contou que aprendeu as suas orações com uma senhora do Baldio, que já faleceu há muitos anos.

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10 Nem gente cristã.

Amém.

REsc 6t Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Santo António se levantou,

O seu sapatinho calçou

E Deus lhe perguntou:

- Onde vás, Santo António? 5 - Vou espalhar esta trovoada

Pra onde não haja

Beira nem geira,

Nem raminho de oliveira, Nem gadelhinho de lã,

10 Nem bafo de gente crestã.

REsc 6u182 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Santo António se levantou,

O seu sapatinho calçou,

Sua mãe lhe perguntou:

- Onde vais, Santo António? 5 - Vou espalhar esta trovoada.

- Espalha-a lá pra bem longe,

Onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira, Nem alminha cristã,

10 E nem gadelhinho de lã.

REsc 6v183 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Santo António se levantou, Seu sapatinho de ouro calçou,

Nossa Senhora encontrou:

- Onde vais, Santo António?

5 - Vou espalhar esta trovoada. - Espalha lá para bem longe,

182 Relatou que reza o esconjuro assim que começa a ouvir os trovões. 183 A informante declarou: O que sei aprendi com a avó Joana e o que sei é tudo bom. Não de seve aprender

orações com qualquer pessoa, porque nem todas as orações são boas. “Eu gostava de aprender orações

com quem eu sabia que tinha um coração bom.

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Onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem pedrinha de sal,

10 Nem gadelhinho de lã, Nem alminha cristã,

Nem a nada a que possas fazer mal.

REsc 6x Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Santo António se levantou, Seu sapatinho d’ouro calçou.

Nossa Senhora lhe perguntou:

- Onde vais, San Gregório?

5 - Vou espalhar esta trovoada Pra bem longe,

Pra onde não haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã, 10 Nem uma alminha cristã.

REsc 6z Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Santo António se levantou,

Seu sapatinho calçou,

Santa Maria encontrou, Santa Maria lhe perguntou:

5 - Onde vais, San Jirolnemo?

- Vou espalhar esta trovoada

Que no céu está armada. - Espalha-a lá pra bem longe,

Onde não haja eira nem beira,

10 Nem raminho de oliveira,

Nem alminha cristã, Nem gadelhinho de lã,

Nem igreja com sino,

Nem mulher com menino.

REsc 6A Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural de Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Santo António se levantou,

Seus sapatinhos calçou,

Seu bordanito agarrou,

E Nosso Senhor encontrou, 5 E Ele lhe perguntou:

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- Onde vais, António?

- Vou espalhar estas trovoadas

Que andam no céu armadas.

- Espalha-as lá para bem longe, 10 Onde não haja eira nem beira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem raminho de oliveira,

Nem gente cristã. Amém.

REsc 6B184 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolhida em Outeiro, a 12 de Setembro

de 2011.

Santo António se levantou,

Seu sapatinho calçou,

Seu cacheirinho apanhou Sua mãe lhe perguntou:

5 - Onde vais, António?

- Vou espalhar esta trovoada.

- Espalha-a lá pra bem longe Pra onde não haja

Nem eira nem beira,

10 Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã, Nem alminha cristã.

REsc 6C Informante: Prazeres Carvalho Ramos, 74 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do

Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Santo Cristo se levantou,

Seu sapatinho calçou. - Aonde vás, Santo Cristo?

- Vou espalhar esta travoada,

5 Pra onde não haja eira nem beira,

Nem gadelhinho de oliveira, Nem alma cristã,

Nem folhinha de lã.

REsc 6D Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

São Gregório se levantou, Seu sapatinho calçou,

Foi por uma estrada adiente

184 A informante costuma dizer a composição quando os trovões são muito fortes e a trovoada custa a

passar.

A 5 de Novembro de 2011, a informante recitou esta composição, com omissão do verso 3.

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E Nossa Senhora o encontrou:

5 - Aonde vás, San Gregório?

- Vou espalhar esta trovoada

Que sobre nós anda armada. - Tão vai. Espalha-a lá pra bem longe

Aonde não haja eira nem beira,

10 Nem raminho de oliveira,

Nem gente cristã, Nem pedra de sal,

Nem coisa que faça mal.

REsc 6E Informante: Generosa Ramalho Pereira, 84 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),

natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos

do Campo, a 7 de Novembro de 2011.

São Gregório se levantou, Seu sapatinho calçou.

- Onde vás, São Gregório?

- Vou levar esta trovoada,

5 Lá pra bem longe, Onde haja eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem alminha cristã.

REsc 6F Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

São Jerónimo se levantou,

Seu sapatinho calçou,

Nossa Senhora o encontrou. - Onde vai, São Jerónimo?

5 - Vou espalhar esta trovoada.

- Espalha-a lá pra bem longe, Pra onde não faça eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

10 Nem corpo de mulher cristã.

REsc 6G185 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2009.

São Jirónimo se levantou,

Seu sapatinho de ouro calçou, Nossa Senhora encontrou,

Nossa Senhora lhe perguntou:

185 A 5 de Outubro de 2009, a informante recitou uma versão idêntica.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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5 - Onde vais, São Jirónimo?

- Vou espalhar está trovoada

Lá para bem longe,

Onde não haja nem eira nem beira, Nem raminho de oliveira,

10 Nem alma cristã,

Nem pedrinha de sal,

A mim e à minha gente Nada possa fazer mal.

REsc 6H186 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

São José se levantou,

Seu sapatinho calçou,

Seu cachadinho apanhou,

Seu caminho tomou. 5 No caminho encontrou Nossa Senhora

E Nossa Senhora lhe perguntou:

- Onde vais, São José?

- Vou espalhar esta trovoada, Pra onde não haja eira nem beira,

10 Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem alminha cristã.

186 Aprendeu a composição com a sua mãe: tenho muita fé com elas, afirmou. Contou que, quando há

trovoadas, põe um bocadinho de alecrim (que foi benzido no Domingo de Ramos) a arder, faz “um

defumador” e parece que as trovoadas que abalam logo.

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1.1.4. Rezas

Para oferecer/encomendar o bebé à Lua

RRez 1a187 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

julho de 2009.

Lua, Luar,

Aqui tens o meu filho,

Acaba de mo criar.

Eu sou mãe 5 E tu és ama.

Cria-o tu,

Que eu lhe dou mama.

RRez 1b188 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Lua, Luar, Aqui tens o meu/minha filho(a),

Ajuda-me a criar,

Eu sou mãe,

5 Tu és ama, Cria-a, tu,

Que eu dou-lhe mama.

RRez 1c189

187 De acordo com a informante, a primeira vez que as mães vão com os bebés à rua dizem estas palavras,

para os bebés não ficarem doentes com a lua. A informante afirma que as mães faziam o gesto de oferta do

bebé em direcção/dirigindo-se à lua.

As duas versões recolhidas por Joaquim Roque aproximam-se na forma e no conteúdo das diversas versões

que recolhemos. Contudo, o início é diferente e não aparece em nenhuma das várias versões que

recolhemos: Dês te salve, Lua-Nova / Boas noites te venho dar, na primeira versão, e Adê’s Lua ‘nha

comadre, na segunda versão (Roque [1946], pág. 38). O mesmo comentário se aplica à versão recolhida

por Manuel Joaquim Delgado, cujo início consiste, identicamente, a uma saudação à Lua: Boas noites, Lua-Nova, / Venho aqui para te falar (Delgado [1956], pág. 48). 188 A informante contou que encomendou as filhas e os netos à lua. Saiu à rua com o bebé e direcionou-o

para a lua, quando vem alta, e depois disse a composição que nos recitou. A informante disse ainda que

também é costume levar o recém-nascido à igreja. Colocam-no em cima do altar. Se o bebé chorar, cria-se.

Se não chorar, dá azar. Diz que há pessoas que dão ‘açoutes’ no bebé para chorar. 189 A informante relatou que saiu à rua com os filhos nos braços, nos primeiros dias de vida, e encomendou-

os à Lua.

Versão quase idêntica foi recolhida em Vale Judeu (Loulé):

Lua, luar, eu tenho uma filha, (ou filho)

ajuda-me a criar!

Tu és mãe,

5 e eu sou ama,

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Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Lua, Luar,

Aqui tens o meu filho,

Ajuda-mo a criar.

Tu és mãe 5 E eu sou ama,

Cria-o, tu,

Que eu dou-lhe mama. Recitou versão idêntica: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de

Monsaraz, residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011; Gertrudes

Maria Pacheco Borges, 63 anos, desempregada (cozinheira), 4º ano de escolaridade, natural de Outeiro,

residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 5 de Novembro de 2011.190

RRez 1d191 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Lua, Luar, Aqui tens a minha menina (o),

Ajuda-mo a criar.

Tu és mãe

5 E eu sou ama, Cria-a, tu,

Que eu le dou mama.

RRez 1e192 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Dezembro

de 2011.

Lua, Luar,

Aqui tens o meu menino(a).

Ajuda-mo a criar.

Tu como mãe 5 E eu como ama,

Cria-o, tu,

Que le dou mama.

RRez 1f193

cria-a, tu,

que eu dou mama. (Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pág. 319). 190 Numa noite de lua cheia, punham os bebés nos braços e dirigiam-se à lua, dizendo a composição. A

informante disse estas palavras com os braços levantados como se neles tivesse um bebé. 191 Afirmou que a mãe, com o bebé nos braços, se colocava de joelhos, em direcção à lua, a oferecer o bebé

à lua, pouco depois do nascimento. 192 Comentário da informante: Faziam isto porque havia crianças que tinham ‘afitos da lua’. Diz que

chegavam a morrer. 193 A informante ofereceu os seus filhos à Lua.

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Informante: Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S.

Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de Novembro de 2011.

Lua, Luar,

Aqui tens o meu filho,

Ajuda-mo a criar. Tu és mãe

5 E eu sou ama,

Tu pra mo criares

E eu para lhe dar mama.

RRez 1g194 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, 4º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 6 de novembro de 2011.

Lua, Luar,

Aqui tens o meu filho, Ajuda-mo a criar.

RRez 1h Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Lua, Luar, Ajuda-mo a criar.

Eu sou mãe,

Tu és ama.

5 Ajuda-mo a criar, Que eu dou-le a mama.

RRez 1i195 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Oração da Lua

Lua, Luar,

Ofreço-te a minha menina,

Ajudai-ma a criar. Tu és ama

5 E eu sou mãe,

Cria-a, tu,

Que lhe darei mama.

194 Para oferecer o bebé à lua, à noite ao luar, levanta as mãos em direcção ao céu e diz as palavras recitadas. 195 Comentário da informante: A outra é quando nascem as crianças, começam a rir, começam a abrir os

olhos, começam os antigos a dizer que é a lua, que é isto, que é aquilo. E a minha mãe dizia assim: - Pega

na menina - eu só tive raparigas - e leva-a aí à lua e ‘ofrece-a’.

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RRez 1j196 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Ó Lua, Luar, Eu te entrego o meu

Para o acabares de criar.

Tu és mãe

5 E eu sou ama, Dá-lhe, tu, a vida,

Que eu lhe dou a mama.

RRez 1l Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó Lua, ó Luar,

[…]

Ajuda-mo a criar.

196 A informante referiu que antigamente morriam muitos bebés, por isso se oferecia o bebé à lua, para não

ter “afitos de lua”. Acreditava-se que oferecer o bebé à lua lhe dava a protecção contra a morte. Relata que

quase todos os dias se via passar um esquife com um bebé.

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1.1.5. Cantigas de Embalar

RCE 1 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

A menina está no berço,

Embala a si também,

Com esta canção em verso Que lhe ensinou a minha mãe.

RCE 2 Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,

Põe-se o sol, nasce a lua.

Qual será o teu destino?

Que sorte será a tua?

RCE 3 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Dorme, dorme, meu menino, Um soninho descansado.197

(…)

RCE 4a198 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,

Que a mãezinha já vem, Foi lavar os cueirinhos

À fontinha de Belém.

RCE 4b199 Informante: Maria Catarina Jesus, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Perolivas, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 8 de Novembro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,

Que a mãezinha logo vem.

Foi lavar os cueirinhos

À fontinha de Belém. 197 Cf. Leite Vasconcelos [1907], “Canções de Berço segundo a Tradição Popular Portuguesa” in Revista

Lusitana, X, nºs 1-2, Lisboa, Imprensa Nacional, 1907, pp. 1-86; [1938e] Opúsculos, vol. VII, Lisboa,

Imprensa Nacional, 1938, pág. 28. 198 Recitou a composição.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33. 199 Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e],pp. 32-33

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109

RCE 4c200 Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Dorme, dorme, meu menino,

Que a senhora logo vem, Foi lavar os cueirinhos

À fontinha de Belém.

RCE 4d201 Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Não chore, meu menino,

Que a mãe já aí vem,

Foi lavar os cueirinhos À fontinha de Belém.

RCE 4e202 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Ó meu Menino Jesus,

A tua mãe logo vem.

Foi lavar os cueirinhos

À fontinha de Belém.

RCE 4f Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade,a 7 de Novembro de 2011.

Ó meu menino,

Que a mãezinha já vem.

Foi lavar os cueirinhos

À fontinha de Belém.

RCE 5a203 Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz , a 11 de

Setembro de 2010.

Não chore, meu menino, não chore, Nada vale o seu chorar.

Muitas vezes uma mãe canta

200 A informante aprendeu a cantiga com a sua avó.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33. 201 Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33. 202 Canta e faz o gesto como se estivesse a embalar um bebé.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e], pp. 32-33. 203 Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938 e], pp. 26-27.

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110

Com vontade de chorar.

RCE 5b204 Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Drome, drome, meu menino, Nada vale o seu chorar.

Muitas vezes uma mãe canta

Com vontade de chorar.

RCE 6205 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

O meu menino tem sono

E o sono não le quer vir. Venham os anjos do céu

Ajudá-lo a dormir.

RCE 7a Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Passarinhos vindo em bando

A ver anjinho tão lindo,

Que a avó a está embalando,

Contente de a ver dormindo.

RCE 7b Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

(…)

Mamã o está embalando

Contente de o ver dormir.

RCE 8

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Tendo a mãe que se ausentar,

Diz à filha mais velhinha: - Fica tu em meu lugar,

Guardai a nossa casinha.

204 Esta versão surge porque solicitámos à informante que repetisse a versão cantada anteriormente, devido

ao ruído, e, ao repetir, introduz uma variante no primeiro verso.

A informante contou que sabia muitas cantigas de embalar, mas já está muito esquecida.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938 e] pp. 26-27. 205 Cf. Adolfo Coelho [1994], Jogos e Rimas Infantis, Lisboa, Edições Asa, 1994, pág. 14.

Cf. Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86; [1938e] pág. 30.

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RCE 9206 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Vai-te embora passarinho,

Deixa a baga do loureiro, Deixa dormir o menino

Que está no sono primeiro.

206 A informante disse que canta as cantigas de embalar à sua bisneta, de quem toma conta.

Cf. Adolfo Coelho [1994], Jogos e Rimas Infantis, Lisboa, Edições Asa, 1994, pág. 13; José Leite

Vasconcelos [1907], “Canções de Berço segundo a Tradição Popular Portuguesa” in Revista Lusitana, X,

nºs 1-2, Lisboa, Imprensa Nacional, 1907, pp. 1-86; [1938] Opúsculos, vol. VII, Lisboa, Imprensa Nacional,

1938, pág. 37, 38 e 47.

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112

1.2. Composições de sabedoria

1.2.1. Provérbios

RP 1 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

A água lava tudo, só a má língua é que não lava.

RP 2 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Maio de 2012.

A água o que quer é os medrosos, os foitos tem ela certos.

RP 3a207 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Abril, encher o covil. 208

Março, Margação209

Janeiro e Fevereiro, afogar a mão no ribeiro.210 Maio, leva-os a água.

RP 3b211

207 Em Abril, vae adonde has-de ir, e torna a teu covil (António Delicado [1923], Adagios Portugueses

reduzidos a lugares comuns (edição revista e prefaciada por Luís Chaves), Lisboa, Livraria Universal, 1923,

pág. 108). Fevereiro couveiro (ou «ricoqueiro», faz a perdiz ao poleiro; março, três ou quatro; abril, cheio está o

covil; maio, piopio pelo mato; junho, como um punho; em agosto, as tomarás a côso (diz-se das perdizes)

(Pedro Chaves [s.d], Rifoneiro Português, Porto, Domingos Barreira, s.d., pág.25, nº15). Março, marcegão, manhã de inverno, tarde de verão (Pedro Chaves [s. d.], pág.27, nº23). Lá vem Abril, que o tira do covil (Ana Eleonora Borges [2005], Provérbios sobre Plantas, Lisboa, Apenas,

2005, pág. 26). Este é um provérbio recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura),

segundo a recolectora. 208 A informante afirma que a perdiz punha ovos. 209 A informante explica: porque as plantas começam a crescer; o margaço era uma erva daninha, grande

e dura. 210 A informante explicita: chove muito. Depois, diz que sabe que o provérbio por si enunciado está

incompleto e acrescenta que o seu pai também sabia versos sobre os meses e também os ouvia ao pai da

D. Inácia [sua vizinha]. 211 Abril, aguas mil, coadas por um mandil, e em Maio três ou quatro (Delicado [1923], pág. 264). Fevereiro recoveiro faz a perdiz ao poleiro; Março três ou quatro (Delicado [1923], pág. 262). Fevereiro couveiro afaz a perdiz ao poleiro; Março, tres ou quatro; em Abril, cheio está o covil; em Maio…

pio, pio, pelo matto (s.a. [1882], Philosophia Popular em Proverbios, Lisboa, David Corazzi, Editor, 1882,

pág. 60). Em Janeiro / busca parceiro.

Em Fevereiro /recòcaneiro. Em Março / a três e a quatro.

Em Abril / enchem o covil.

Em Maio / chocai-o (ou passarinho em raio).

Em Junho / do tamanho de um punho (ou pelo S. João, apanham-se à mão).

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113

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Junho de 2009.

História da Perdiz212

[…]

Março, três ou quatro.213 Abril, enche o covil.

[…]

S. João, leva-nos o pão.

Santiago, leva-nos a água. E, Agosto, tira-nos o rosto.214

RP 3c215 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de

2009.

Sobre a perdiz216 Janeiro, faz recouqueiro.217

Fevereiro, dois e três.

Março, três e quatro.

Maio, chocai-o. S. João, leva-os ao pão.

Santiago, leva-os à água.

E, Agosto, atira-lhe o rosto.

RP 4218 Em Julho (mês de S. Tiago) / esperam-se à água.

Em Agosto / espingarda ao rosto.

Janeiro /desapartadeiro. (Isto é, as perdizes que andam em bandos ‘desapartam-se’, termo popular que

quer dizer ‘apartam-se, e procura cada qual seu casal).

Fevereiro / busca a perdiz o seu parceiro.

Março / três e quatro (ovos).

Abril / cheio está o covil.

Maio passarinho em raio. (Isto é, o ovo tem raios de sangue).

Junho /tamanho dum punho (ou pelo S. João já o perdigoto come pão).

Julho (mês de Sant’iago) esperam-se à água.

Agosto / espingarda ao rosto (Delgado [1956], pág. 25). 212 O título é dado pelo informante.

O informante diz que não se lembra do início, nem do “verso” relativo ao mês de Maio.

Os provérbios não são transcritos separadamente, por meses, por respeito à forma como são ditos pelo

informante, como se de uma história em verso se tratasse, como um só texto, isto é, por respeito à forma como circulam na tradição oral, ilustrando assim o modo como a memória os preservou ao longo do tempo. 213 Ovos, explica o informante. 214 A informante explicita que começava a caça da perdiz. 215 Fevereiro couveiro (ou «ricoqueiro», faz a perdiz ao poleiro; março, três ou quatro; abril, cheio está o

covil; maio, piopio pelo mato; junho, como um punho; em agosto, as tomarás a côso (diz-se das perdizes) (Chaves [s.d.], pág. 25, nº15). Abril, aguas mil, coadas por um mandil, e em Maio três ou quatro (Delicado [1923], pág. 264). Fevereiro recoveiro faz a perdiz ao poleiro; Março três ou quatro (Delicado [1923], pág. 262). Fevereiro couveiro / afaz a perdiz ao poleiro; / Março, três ou quatro; em Abril, /cheio está o covil; e em

Maio… pio, pio pelo mato (Delgado [1956], pág. 27). 216 Título atribuído pela informante. 217 A informante explica que a perdiz “faz o recouco, ou seja, buraco no chão/ninho”. 218 Cabra vae pela vinha, tal é a mãe e tal a filha (Delicado [1923], pág. 159).

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114

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, 9 de Maio de 2003.

A cabra que pula a vinha pula mãe e pula filha.

RP 5a219 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 8 de

Novembro de 2009.

A cavalo dado não se olha o dente.

RP 5b Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, agricultora, 65 anos, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

A cavalo dado não se olha o dente.

RP 6a220 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

A chover e a fazer sol e as bruxas do Campinho a fazer pão mole.

RP 6b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em a 6

de Novembro de 2009.

A chover e a fazer sol e as bruxas da Cumeada a fazer pão mole.

RP 7221 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 79 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Janeiro de

2008.

A Festa em Março, muita fome e muito mortaço.

A cabra que vai à vinha. Onde pula a mãe pula a filha (Chaves [s.d.], pág.102, nº67). A cabra vai à vinha, onde pula a mãe pula a filha (Borges [2005], pág. 9). Este é um provérbio recolhido

no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. Saltou a cabra para a vinha, também saltará a filha (Borges [2005], pág. 40). Este é um provérbio recolhido

no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. Cabra que vae pela vinha, por vae a mãe vae a filha (António Tomás Pires [1884], “Subsídios para o

Folclore Portuguez”, “Florilegio de proverbios, adagios, rifões, anexins, etc”, in O Elvense, nº 357, 3 de

Julho de 1884, pág.1). 219 Cf. Delicado [1923], pág. 113; Chaves [s.d.], pág. 49, nº66; Tomás Pires [1884], pág.1). Cavalo dado, não se olha o dente (Delgado [1956], pág. 23). 220 Quando chove e faz sol, alegre está o pastor (s.a. [1882], pág. 26). A chover e a fazer sol e a raposa a encher o fole (Chaves [s.d.], pág.170, nº367). A chover e a fazer sol, estão as bruxas a comer pão mole (Borges [2005], pág. 9). Este é um provérbio

recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. Quando chove e faz sol bailam as manas em Campo Maior (Tomás Pires [1884], pág.1). 221 Páscoa em março, fome ou mortaço (Chaves [s.d.], pág.28, nº33).

Páscoa em Março / ou fome ou mortaço (Delgado [1956], pág. 20, 27 e 113). Quando a fome vem em Março / ou muita fome ou mortaço (Delgado [1956], pág. 27).

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RP 8222 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.223

RP 9 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de

Novembro de 2011.

Ai, ai, quem escorrega também cai.

RP 10 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2010.

Amarelo é linda cor. Quem não gosta de amarelo não gosta do seu amor.

RP 11 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

A mulher mais velha que o marido faz o casal bem unido.

RP 12 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2 de Novembro

de 2011.

Anda por alma de quem mais não pode.

RP 13a224 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de

Novembro de 2009.

Ande lá por onde andar, aparece no mês de Natal.225

RP 13b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de

Dezembro de 2012.

Ande lá por onde andar, há-de vir no mês de Natal.

RP 14

222 Agua molle em pedra dura, tanto dá até que fura (Delicado [1923], pág. 235; s.a. [1882], pág. 48;

Chaves [s.d.], pág.62, nº453). 223 A informante explica que o provérbio equivale a “ter muita paciência”. 224 Ande o frio por onde ande, no Natal cá vem parar (Chaves [d.s.], pág.44, nº1). Ande o frio por onde andar procura-o pelo Natal (Tomás Pires [1884], pág.1). 225A informante diz que o provérbio se refere ao frio.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Novembro de 2009.

A necessidade é mestra de engenho.

RP 15 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

A pouco e pouco, vai a galinha ao choco.

RP 16 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

A prática vale mais que a gramática.

RP 17226 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de Junho de

2010.

A quem Deus promete, não falta.

RP 18227 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Abril de

2011.

As cunhadas são unhadas.

RP 19 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Ateimar em quem não quer é bater em ferro frio.

RP 20 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

A terra sabe pagar a quem a sabe lavrar.

RP 21228 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

226 Cf. Tomás Pires [1884], pág.1; Delgado [1956], pág. 34. 227 Cunhadas são unhadas (Chaves [s.d.], pág.128, nº737). As cunhadas são unhadas, e irmões encontrões (Tomás Pires [1884], pág.1). 228 Atrás de tempo, tempo vem (Chaves [s.d.], pág.86, nº1104).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Atrás do tempo, tempo vem.

RP 22229 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Abril de 2011.

Baba de cão come-se com pão. Baba de gato nem chegar ao fato.230

RP 23a231 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de

Junho de 2009.

Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.

RP 23 b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de

Junho de 2009.

Cada terra com seu uso.

RP 23c Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso.

RP 24 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Cantas bem mas não me divertes.

RP 25a232 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 78 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de Dezembro

de 2007.

229 Bafo de cão, até com pão (Borges [2005], pág. 16). Este é um provérbio recolhido no Alentejo

(Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. Bafo de Gato, nem ao fato.

Bafo de cão, até com cão (Tomás Pires [1884], pág.1). Bafo de cão

Até com pão;

Bafo de gato

Nem chega ao fato (Delgado [1956], pág. 34 e 127). 230 Segundo o informante, “a baba de cão não é prejudicial ao ser humano e a baba de gato é ruim – pode-

-se conviver com o cão, mas com o gato não.” 231 Cf. s.a. [1882], pág. 52; Delgado [1956], pág. 35. Em cada terra, seu uso (Delicado [1923], pág. 252). Cf. Chaves [s.d.], pág. 104, nº67. 232 Cf. Chaves [s.d], pág. 112, nº312.

Cautela e caldo de galinha não fazem mal ao doente (s.a. [1882], pág. 26).

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Cautela e caldo de galinha nunca fez mal a doentes.

RP 25b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de

Novembro de 2009.

Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

RP 26 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de

Janeiro de 2010.

Com ajudas morreu o meu avô e ele nunca mais voltou.

RP 27 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Outubro de 2009.

Comer e calar que é para aproveitar.

RP 28233 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4ª ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Com quem te vi com quem te comparei.

RP 29234

Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Com vinagre não se apanham moscas.

RP 30235 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Junho de 2000.

Conforme é a gente, assim é o presente.

RP 31236 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

233 Cf. Chaves [s.d.], pág. 483, nº25. 234 Cf. Delgado [1956], pág. 35. Não é com vinagre que se apanham moscas (Borges [2005], pág. 29). Este é um provérbio recolhido no

Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. Cf. Tomás Pires [1884], pág.1. 235 Conforme é o santo, assim é a oferta (Chaves [s.d.], pág. 123, nº602). 236 Dá-me gordura, dar-te-ei formusura (Chaves [s.d], pág. 130, nº36). A gordura / dá formosura (Delgado [1956], pág. 33).

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Dá-me gordura, dá-me formosura.

RP 32237 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 7 de

Março de 2011.

Dar dói, chorar faz ranho.

RP 33 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 31 de Agosto de

2011.

Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer.238

RP 34239 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

De noite todos os gatos são pardos.

RP 35 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Setembro de 1999.

Dentro de uma vida, há umas poucas de vidas.

RP 36240 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

De pequenino é que se torce o pepino.

RP 37241 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Depressa e bem não o faz ninguém.

RP 38 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Dezembro

de 2012.

237 Cf. Delgado [1956], pág. 35. O dar dói e o chorar faz ranho (Chaves [s.d.], pág. 132, nº83).

Cf. Delgado [1956], pág. 35. 238 Diz o povo e tem razão, acrescentou a informante, rematando o dito proferido. 239 Cf. Delicado [1923], pág. 93; Chaves [s.d.], pág. 137, nº226; Tomás Pires [1884], pág.1). 240 De pequenino se torce o pepino (Delicado [1923], pág. 252; s.a. [1882] pág. 48; Delgado [1956], pág.

35). De pequenino se torce o pé ao pepino (Chaves [s.d.], pág. 137, nº237). 241 Cf. Chaves [s.d], pág. 142, nº373.

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Desde que meu filho pari, nunca mais barriga enchi.

RP 39 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de

Junho de 2009.

De um atraso nasce um cento.

RP 40242 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Deus escreve direito por linhas tortas.

RP 41243 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Devagar se vai ao longe.

RP 42a244

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de

Maio de 2010.

Dias de Maio, dias de amargura, mas amanhece, já é noite escura.

RP 42b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Julho de 2009.

Dias de Maio, dias de amargura, mal amanhece, logo é noite escura.

RP43 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Dores paridas são dores esquecidas.

242 Cf. Chaves [s.d.], pág. 144, nº432. 243 Cf. Chaves [s.d.], pág. 146, nº474. 244 Dia de Maio, dia de má ventura, que, ainda não amanhece, já anoitece. (Delicado [1923], pág. 265.) José Leite de Vasconcelos encontrou uma quadra semelhante, traduzida em latim, num Códice de Roma,

na Biblioteca Nacional em Roma, em 1905:

Dia de Mayo,

Dia de má ventura

O’ainda bem não amanhece,

Já anoitece. [Fl. 511 v.] Trata-se um códice anónimo que contém provérbios portugueses, escrito entre 1769 e 1774, intitulado

Adágios, raccolta di detti e proverbi portoguesi, colla traduzione latina (cf. Leite de Vasconcelos [1938 e],

pág. 708). Dias de Dezembro, má ventura, / ainda bem não amanhece, já é noite escura. (Delgado [1956], pág. 35).

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RP 44 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

É como os capachos, conforme parvos os acho.245

RP 45 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2 de

Novembro de 2011.

É melhor cair em graça do que ser engraçado.

RP 46a246 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz, em Reguengos de Monsaraz, a 9 de Dezembro de 2000.

Em más horas, não ladram cães.

RP 46b Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro

de 2011.

À má hora não ladram cães.

RP 47 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de

Novembro de 2011.

Empreitadas a cavalo só as perde quem quer.

RP 48 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 60 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de

Abril de 2004.

Em terra boa está-se mais um dia.

RP 49247 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Em terra de cegos, quem tem um olho é rei.

245 O informante faz a afirmação a propósito do preço do quilo das silarcas (espécie de cogumelos) e explica

que “conforme é o cliente assim se pode vender o quilo 15 euros ou a 8 euros”, por exemplo. Explicou ainda que era a resposta à pergunta A como vendes o capacho?. Mas a pergunta perdeu-se com o

passar dos anos e aquilo que era uma resposta pronta evoluiu para uma expressão proverbial. A palavra capacho significa esteirão de buinho, explicou ainda o informante. 246 A hora má não ladram cães (Delicado [1923], pág. 256). 247 Em terra de pretos quem tem olho é rei (Delgado [1936], pág. 36).

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RP 50248 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Novembro de 2009.

Encomendas sem dinheiro esquecem à passagem do ribeiro.

RP 51a Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de Março de

2011.

É o velho da carapinhola, tanto ri como chora.

RP 51b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de

Novembro de 2011.

És como o velho da galinhola, tão depressa ri como chora.

RP 52249 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de

Janeiro de 2010.

Erva ruim não a queima a geada.

RP 53 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Eu sou como o Jacinto, tanto gosto do branco como do tinto.

RP 54250 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

Faz mais quem quer do que quem pode.

RP 55 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 28 de

Junho de 2012.

Fezes com pão passadoras são.

248 Encomendas sem dinheiro, esquecem ao primeiro ribeiro (ou «ficam no tinteiro» ou «ficam na toca dum

sobreiro») (Chaves [s.d.], pág. 166, nº269). 249 Erva má não a cresta (ou «empeça») a geada (Chaves [s.d.], pág. 168, nº168). 250 Mais faz quem quer que quem pode (Delicado [1923], pág. 136; s.a. [1882] pág. 48). Mais faz quem quer do que quem pode (Chaves [s.d.], pág. 207, nº72; Delgado [1956], pág. 37). Muito faz quem pode, mais faz quem quer (Tomás Pires [1884], pág.1).

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123

RP 56251 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Filho de peixe sabe nadar.

RP 57252 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Filho és, pais serás, conforme fizeres, assim encontrarás.

RP 58253 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro

de 2011.

Filhos e púcaros não são de mais.

RP 59a254 Informante: Maria de Lurdes Veladas, 54 anos, desempregada, 4º ano de escolaridade, natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Grão a grão, enche a galinha o paparrão.

RP 59b Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Bago a bago enche a galinha o papo.

RP 60255 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Junho de 2011.

251 Cf. Chaves [s.d], pág. 178, nº190. 252 Filho és, pae serás; assim como fizeres, assim acharás (Delicado [1923], pág. 155; Chaves [s.d], pág.

178, nº198). Filho és, e pai serás; assim como fizeres, assim acharás (s.a. [1882] pág. 48). Filho és, pai serás; / como fizerdes, assim acharás (Delgado [1956], pág. 36). 253 Filhos e dinheiro nunca sobejam (Chaves [s.d.], pág. 179, nº179). 254 Grão a grão enche a galinha o papo (Delicado [1923], pág. 162; Chaves [s.d.], pág. 188, nº118).

A grão e grão enche a gallinha o papo (s.a. [1882], pág. 49). Bago a bago enche a galinha o papo.

Grão a grão enche a galinha o paparão (Tomás Pires [1884], pág.1). Grão a grão enche a galinha o papo (Borges [2005], pág. 9) Este é um provérbio recolhido no Alentejo

(Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. 255 Guarda pão para Maio e lenha para Abril, o que não veio há-de vir, mas guarda o melhor trancão para

o mês de São João (Borges [20005], pág. 25). Este é um provérbio recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. Guarda pão para maio, lenha para Abril e o melhor tição para o mez de S. João (Tomás Pires [1884],

pág.1). Guarda o melhor tição para a noite de S. João (Delgado [1956], pág. 28).

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Guarda o melhor tição para o mês de São João.

RP 61256 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Guarda que comer, não guardes que fazer.

RP 62 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 62 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de

Setembro de 2006.

Há-de faltar primeiro a sopa do que a boca.

RP 63257 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro

de 2011.

Há mais marés que marinheiros.

RP 64 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de

Maio de 2010.

Hoje vamos ter festa na Bugalhêra, ladram os cães em Mantenêros.

RP 65258 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade,natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Honra e proveito não cabe no saco estreito.

RP 66a259 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Março igual o dia com o sargaço.260 Abril enche a perdiz o covil.

256Cf. Delgado [1956], pág. 36. Guardar que comer, e não guardar que comer (Delicado [1923], pág. 142). Guarda que comer, não guardes que fazer (Chaves [s.d.], pág. 188, nº130; s.a. [1882], pág. 42). 257 Cf. Chaves [s.d.], pág. 190, nº11. 258Honra e proveito não cabem n’um saco (s.a. [1882], pág. 41; Tomás Pires [1884], pág.1). Honra e proveito não cabem em saco estreito (Chaves [s.d.], pág. 194, nº142). 259 Em Março, ouga a noite com o dia, e o pão com o sargaço (Borges [2005], pág. 23) Este é um provérbio

recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. 260 Segundo o informante Serafim Amieira, este verso em particular siginifica o seguinte: iguala o dia com

a noite.

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RP 66b261 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Meses do ano262

Janeiro, uma hora por inteiro, Luar de Janeiro não tem parceiro.

Fevereiro, afoga a mãe no ribeiro.

Março, Marçagão, manhã Inverno, tarde Verão.

Abril, águas mil, vai aonde tens de ir e voltas ao covil. Maio, chocai-o.

Junho, S. João.

Julho, S. Tiago.

Agosto, espingarda ao rosto. Setembro, S. Mateus.

Outubro, S. Francisco.

Novembro, mês dos Santos.

Dezembro, mês do Natal.

RP 66c Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos (faz 79 anos a 23 de Outubro), reformada, 4º ano de

escolaridade, natural de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro

de 2011.Outras Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de

Dactilografia. Foi funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de

Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Natal, passadinha de pardal

Janeiro, passadinha de carneiro Fevereiro, quem bem souber contar, hora e meia lhe há-de achar.

RP 66d Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Janeiro, passadinha de carneiro.

Abril, vás aonde tens de ir e voltas ao teu covil.

261 Janeiro fora, mais uma hora e quem bem contar, hora e meia há-de achar (Chaves [s.d.], pág. 22, nº34). Janeiro tem uma hora por inteiro (Chaves [s.d.], pág. 23, nº43). Março marcegão, - pela manhan rosto de chão, e a tarde de bom verão. / Março marcegão – de manhan

cara de cão, á tarde cara de rainha, e á noite cavar com a foicinha. / Abril: aguas mil, coadas por um

mandil. / Em Abril vae onde has-de ir, e torna ao teu covil (s.a. [1882], pág. 59). Abril aguas mil, e em Maio tres e quatro (s.a. [1923], pág. 60). Janeiro tem uma hora por inteiro.

Fevereiro, afoga a mão no ribeiro.

Março, marcegão, pela manhã focinho de cão, e á tarde sol de verão.

Em Abril vae aonde tens has de ir, e volta ao teu cubiculo dormir (Tomás Pires [1884], pág.1). Em Janeiro sobe ao outeiro: se vires verdejar, põe-te a chorar; se vires terrear, põe-te a cantar (Manuel

Joaquim Delgado [1956], pág. 26). Luar de Janeiro / não tem parceiro, mas vem o de Agosto que lhe dá no rosto (Delgado [1956], pág. 26). Março, marçagão / de manhã, Inverno; de tarde, Verão (Delgado [1956], pág. 27). Abril, águas mil; e em Maio três ou quatro (Delgado [1956], pág. 27). Em Abril / águas mil coadas por um funil (ou candil) (Delgado [1956], pág. 27). Em Abril / vai onde hás-de ir / e torna ao teu covil (Delgado [1956], pág. 27). 262 Título atribuído pela informante.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RP 66e Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolhida em Telheiro, a 10 de Outubro de 2011.

Natal, passadinha de pardal.

Janeiro, passadinha de carneiro. Quem bem contar hora e mais l´há-de achar

De Janeiro em fora uma hora.

RP 66f Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Crescendo dos dias263

Natal, passadinha de pardal.

Janeiro, passadinha de carneiro.

Fevereiro, uma hora por enteiro. Março, já põem três e quatro.264

Abril, já enche o covil,

Maio, chocai-o,

S. João, vão ô pão, Santiágua, vão à água,

Agosto, espingarda no rosto.265

RP 66g Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Natal, passadinha de pardal.

Janeiro, passadinha de carneiro.

[…]

RP 67a Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Setembro de 1999.

Já estive menos tempo à de um patrão.

RP 67b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Junho de 2012.

Já estive menos tempo à de um patrão e pagou-me o ordenado por inteiro. 266

263 Título atribuído pelo informante. 264 A informante explica: isto era já as perdizes a porem três e quatro ovos. 265 A informante torna a explicar: era quando começava a caça. 266 O informante explicita: estar à espera de alguém que faça determinada coisa e não faz e nós não

podemos continuar sem aquilo estar feito.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RP 68 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Dezembro

de 2012.

Jesus, não venha algum da Luz ou de Badajoz, não coma mais do que nós.267

RP 69268 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 59 anos, , reformado, 4º ano de escolaridade natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Setembro de 1999.

Laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata.

RP 70 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Minha casa, minha casinha, por mais pobre que ela seja, é mais rica do que a da rainha.

RP 71269 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 31 de

Maio de 2010.

Morra o gato, morra farto.

RP 72 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2009.

Muito me ajuda quem não me entretém.

RP 73270 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

Dezembro de 2009.

Muito rico era o ferrão, cresceu-lhe a vida, faltou-lhe o pão.

RP 74271 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

267 Sobre este provérbio, o informante dá um exemplo que pode contextualizar o seu momento da

enunciação: Estava uma família que estava sentada à mesa e ao começar [a refeição], um lembrava-se de

dizer [a expressão], para iniciar a comida, ainda assim não viesse alguém e comesse. 268 A laranja de manhã é ouro, ao meio dia prata, à noite mata (Chaves [s.d.], pág. 200, nº37; Tomás Pires

[1884], pág.1; Delgado [1956], pág. 23). 269 Cf. Delgado [1956], pág. 37. Morra Martha, morra farta (Delicado [1923], pág. 210; Tomás Pires [1884], pág. 1; Delgado [1956], pág.

37).

Morra Marta (ou «o gato») morra farta (Chaves [s.d.], pág. 210, nº687). 270 Muito rico era o Ferrão, e a ele cresceu-lhe a vida e faltou-lhe o pão (Borges [2005], pág. 28). Este é

um provérbio recolhido no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. 271 Tanto tens tanto vales, nada tens nada vales (Tomás Pires [1884], pág.1).

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Muito tens, muitos vales. Nada tens, nada vales.

RP 75 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 80 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Dezembro de 2000.

Não há festa, nem dança, onde não vá com a pança.

RP 76

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade,natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Maio de 2012.

Não há nenhuma geração que não tenha uma puta e um cabrão.

RP 77 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de

2009.

Não julgues o bom por bom, nem o mau por mau.

RP 78272 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

Nas costas das minhas vizinhas, é que ouço ler as minhas.

RP 79273 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Não se morde a mão que nos dá de comer.

RP 80 a274 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Junho de 2011.

Não sirvas quem serviu.

RP 80 b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Junho de 2009.

Não sirvas quem serviu e não peças a quem pediu.

272 Pelas costas dos mais vê a gente as nossas (Tomás Pires [1884], pág.1). 273 A informante acrescenta: não se é mal agradecido, ingrato. 274 Não peças a quem pediu, nem sirvas a quem serviu (Tomás Pires [1884], pág.1).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RP 81 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

O barato sai caro.275

RP 82276 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

O cesteiro que faz um cesto faz um cento, assim não lhe falte a verga nem o tempo.

RP 83 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

O destino não é mais forte do que tudo.

RP 84 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3 de

Novembro de 2011.

Oferecer é cortesia, aceitar é pouca vergonha.

RP 85277 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Dezembro de 2011.

O homem pequenino, velhaco ó dançarino.

RP 86 a278

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Junho de 2000.

Olhamos para o regueiro do outro e não olhamos para a nossa trave.

RP 86 b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de

Julho de 2010.

275 A informante acrescenta: se o produto é ruim. 276 Quem faz um cesto, fará cento (Delicado, Adagios Portugueses reduzidos a lugares comuns (edição

revista e prefaciada por Luís Chaves), Lisboa, Livraria Universal, 1923, pág. 226). cesteiro que faz um cesto, faz um cento, dando-lhe verga e tempo (Pedro Chaves, Rifoneiro Português,

Porto, Domingos Barreira, s.d., pág. 114, nº349). Quem faz um cesto, faz um cento / tendo verga e tempo (Delgado [1956], pág. 40). Cesteiro que faz um cesto, faz um cento (s.a. [1882], pág. 41). 277 Homem pequenino /ou velhaco / ou dançarino (Delgado [1956], pág. 37). Homem pequenino, embusteiro ou bailarino (Chaves [1956], pág. 193, nº91). 278 A palha no olho alheio, e não a trave no nosso (Delicado [1923], pág. 192). Todos vêem o argueiro no olho do visinho, e ninguém vê a tranca no seu (Tomás Pires [1884], pág.1).

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Vê-se o arguêro no outro e não se vê a nossa trave.

RP 87279 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Olho por olho, dente por dente.

RP 88 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, , reformado, 4º ano de escolaridade natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1

de Agosto de 2011.

Ó Marquês, vem cá abaixo que eles já cá estão outra vez.

RP 89280

Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

O medo é que guarda a vinha.

RP 90 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro

de 2010.

Onde quer que ponhas tira Deus a mezinha.

RP 91281 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 Abril

de 2012.

O pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada.

RP 92282 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

O que não tem remédio remediado está.

RP 93283 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

279 Cf. Chaves [s.d.], pág. 281, nº51. 280 O medo guarda a vinha, que não o vinhateiro (s.a. [1882], pág. 55). O medo é que guarda a vinha, que não o cão (Chaves [s.d.], pág. 222, nº465). Mais guarda a vinha, o medo do vinhateiro (Borges [2005], pág.28). Este é um provérbio recolhido no

Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. 281 O pouco com Deus é muito e o muito com Deus é nada (Chaves [s.d.], pág. 307, nº557). 282 Cf. Chaves [s.d.], pág. 322, nº295. 283 O que o berço dá, a tumba leva (Chaves [s.d.], pág. 322, nº301).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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O que o berço dá a tumba tira. 284

RP 94285 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

O que vai ganhar à pica, perde-se na sacha.286

RP 95287 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Os amores são como os alguidares. Parte-se um, põe-se outro no mesmo lugar.

RP 96288 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

O seguro morreu de velho, e o desconfiado ainda está vivo.

RP 97 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de

Agosto de 2009.

Os homens todos lhe amargam o cu como o pepino.

RP 98289 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

O trabalho do menino é pouco, mas quem o perde é louco.

RP 99290 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 68 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de

Novembro de 2008.

Para lá do Marão, mandam os que lá estão.

284A informante comenta: nada é eterno, nem o dinheiro.

O que o berço dá, a tumba o leva (s.a. [1882], pág. 41; Tomás Pires [1884], pág.1). 285 O que ganhaste à monda, perdeste à sacha (Delgado [1956], pág. 23). 286 A informante explicita: “é um trabalho agrícola, faz-se o trabalho duas vezes”. 287 Perda de marido, perda de alguidar, um quebrado outro no poial (Delicado [1923], pág. 119; s.a. [1882]

pág. 57). 288 O seguro morreu de velho (s.a. [1882], pág. 42). O seguro morreu de velho e a D. Prudência foi-lhe ao enterro (Chaves [s.d.], pág. 395, nº282). 289 O trabalho do menino é pouco, e quem o perde é louco (Tomás Pires [1884], pág.1).

O trabalho do menino é pouco / mas, quem quem não o aproveita, é louco (Delgado [1956], pág. 39). 290 Para cá do Marão, mandam os que cá estão (Chaves [s.d.], pág. 67, nº291).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RP 100291 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Pobrêtes, mas alegrêtes.

RP 101292 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 82 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Abril de

2003.

Porco gordo, unta-se-lhe o rabo.

RP 102293 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Por fora corda e viola, por dentro pão bolarento.

RP 103294 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de

Junho de 2009.

Por novas não cansei, velhas as saberei.

RP 104295 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quando a esmola é grande, o santo desconfia.

RP 105 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º

ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 18 de

Março de 2012.

Quando a gente quer bem sempre se encontra.

RP 106a296 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

291Cf. Tomás Pires [1884], pág.1. Pobrête e alegrête (Delicado [1923], pág. 230). 292 A informante explica: Quanto mais tem, mais se lhe dá. A porco gordo unta-se-lhe o rabo (Tomás Pires [1884], pág.1). 293 Por fora cordas de viola, por dentro pão bolorento (Chaves [s.d.], pág. 804, nº480). 294 Por novas não penareis; far-se-hão velhas, sabê-las-eis (Delicado [1923], pág. 242.)

Por novas não penareis, far-se-ão velhas, sabê-las-eis (Chaves [s.d.], pág. 305, nº67). 295 Cf. Chaves [s.d.], pág. 311, nº31. 296 Quando te derem o porquinho, acode logo com o baracinho (Chaves [s.d.], pág. 317, nº151). Quando te derem o porquinho, acode com o baracinho (s.a. [1882], pág. 47).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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133

Quando nos oferecem o bacorinho, acode-se logo com o baracinho.

RP 106b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 63 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de

Abril de 2003.

Quando lhe oferecem o porquinho, vai logo com o baracinho.

RP 107 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Quando o pau dá, é que se lhe tira a casca.

RP 108297 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de

2009.

Quando o preto descansa, carrega pedra.

RP 109 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Junho de 2000.

Quanto maior é o dia, maior é a romaria.

RP 110298 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Outubro de 1999.

Quanto mais prima, mais se lhe arrima.

RP 111 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Queira Deus não aconteça ao marido o que à mulher lhe vem no sentido.

RP 112299 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de

Novembro de 2009.

Quem aceita não escolhe.

RP 113 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Julho de

2010.

297 O preto, quando descança, acarreta pedra (Tomás Pires [1884], pág.1). 298 Cf. Delgado [1956], pág. 40; Chaves [s.d.], pág. 318, nº191. 299 Cf. Chaves [s.d.], pág. 326, nº395.

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134

Quem a mim me enjêta em boa cama me deita.300

RP 114 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quem a paz quiser gozar, tem que ver, ouvir e calar.

RP 115301 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de Setembro

de 2010.

Quem aos vinte não é, aos trinta não tem, aos quarenta não é ninguém.

RP 116302 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Quem cala consente.

RP 117303 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quem compra ruim pano, compra duas vezes por ano.

RP 118304 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quem corre por gosto não cansa.

RP 119305 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quem dá aos pobres empresta a Deus.

300 A informante, ao reparar que estávamos a registar por escrito o provérbio por si enunciado, exclama

alegremente: O que elas gostam das minhas poesias. 301 Quem aos 20 não é e aos 30 não tem, não é ninguém (Tomás Pires [1884], pág.1). 302 Cf. Delicado [1923], pág. 251. Quem cala consente (ou «vence») (Chaves [s.d.], pág. 330, nº511). Quem cala / consente (e, quem calar / vencerá) (Delgado [1956], pág. 40). 303 Quem se veste de ruim panno, veste-se duas vezes no anno (António Delicado [1923], Adagios

Portugueses reduzidos a lugares comuns (edição revista e prefaciada por Luís Chaves), Lisboa, Livraria

Universal, 1923, pág. 150; (s.a. [1882], pág. 48). 304 Quem corre de gosto não cansa (Delgado [1956], pág. 40; Chaves [s.d.], pág. 334, nº 600). 305 Cf. Delgado [1956], pág. 40; Chaves [s.d.], pág. 343, nº 609.

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135

RP 120 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quem dá o pão dá a educação.

RP 121 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Quem dá o seu ser a quem o entende não o dá que bem o vende.

RP 122306 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 67 anos, 4º ano de escolaridade, reformada,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 23 de Novembro de 2011.

Quem filhos não tem cada dia mata cem.

RP 123 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Novembro de 2009.

Quem manda também pode.

RP 124 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Quem mas diz é quem mas põe no nariz.

RP 125307 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Setembro de 1999.

Quem meu filho beija minha boca adoça.

RP 126 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Quem não é pra aceitar não é pra dar.308

306 Quem filhos não tem, mais duro é que as pedras (Chaves [s.d.], pág. 343, nº 308). 307 Quem meus filhos beija, minha boca adoça (Chaves [s.d], pág. 349, nº960). 308 Esta expressão foi dita quando a informante nos oferece um sumo e um bolo, na sua mercearia, no

momento da despedida, dizendo que era para a viagem e nós, envergonhados e surpresos, recusámos,

inicialmente.

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RP 127309 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 24

de Julho de 2010.

Quem não é pra comer não é pra trabalhar.

RP 128310 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Quem não pede não ouve Deus.

RP 129311 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Quem não sente não é filho de boa gente.

RP 130312 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 72 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de Setembro

de 2001.

Quem nasce para dez réis não chega a ter vintém.

RP 131313 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro a 22 de Setembro de 2011.

Quem por Deus anda Deus encaminha.

RP 132 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quem quer pintos bonitos deite galinhas feias.314

RP 133a315 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz),

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Março de

2009.

Querem ver o lobo falem-lhe na pele.

309 Quem não é para comer, não é para trabalhar (Chaves [s.d.], pág. 351, nº1046). 310 Quem não fala, não o ouve Deus (Delicado [1923], pág. 135). 311 Quem não se sente, não é de boa gente (Tomás Pires [1884], pág.1; Delgado [1956], pág. 41). 312 Quem nasceu para dez réis, não chega a vintém. (Chaves [1884], pág.1). 313 Quem com Deus anda, Deus o ajuda (Tomás Pires [1884], pág.1). 314 A informante esclarece: deitar galinhas significa pôr galinhas a chocar os ovos. 315 Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele (Tomás Pires [1884], pág.1). Se queres ver o lobo, fala-lhe na pele (Delgado [1956], pág. 24).

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RP 133b Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Quem quer ver o lobo fale-lhe na pele.

RP 134 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de

Março de 2009.

Quem sabe da tenda é o tendeiro.

RP 135316 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 62 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de

Dezembro de 2002.

Quem tem boca não manda assobiar.

RP 136317 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Outubro de 2009.

Quem tem filhos tem cadilhos.

RP 137318 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1 de

Fevereiro de 2010.

Quem tem frio neste tempo tem raça de cão pelado.

RP 138 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9

Junho de 2012.

Quem tem padrinho baptiza-se.

RP 139 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 57 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Setembro de 1999.

Quem tem sorte até os cães lhe põem ovos.

316 Quem tem boca não diz a outro que sopre (ou «manda assoprar») (Chaves [s.d.], pág. 371, nº 1534). 317 Cf. Delgado [1956], pág. 41. Quem tem filhos tem cadilhos, quem os não tem, cadilhos tem (Chaves [s.d.], pág. 372, nº 1568). Quem tem filhos tem cadilhos; e quem os não tem, cadilhos tem (Tomás Pires [1884], pág.1). 318 É uma maneira de a gente reinar com as pessoas que dizem que têm frio, explicou-nos o informante.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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138

RP 140319 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Maio de 2012.

Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita.

RP 141 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de

2009.

Queres bom cão de caça, busca-lhe a raça.

RP 142320 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de

Agosto de 2011.

Queres ver o teu marido morto, dá-lhe pepino em Agosto.

RP 143321 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Se não fosse o pé cortava a bota.

RP 144 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de

Junho de 2009.

Se queres ser bom, morre ou vai-te.

RP 145322 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Setembro molhado, figo estragado.

RP 146323 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a Julho

de 2000.

319 Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita (Delicado [1923], pág. 195, s.a. [1882], pág. 47). Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita (Chaves [s.d.], pág. 375, nº 1637). 320 Queres ver teu marido morto? dá lhe couves em Agosto (s.a. [1882], pág. 61). Se queres ver teu marido morto, dá-lhe couves em Agosto (Delgado [1956], pág. 29). 321 Se não fosse a bota, cortava-lhe a perna (Chaves [s.d.], pág. 390, nº 159). 322 Cf. Delgado [1956], pág. 20 e 29; Chaves [s.d.], pág. 41, nº 34. 323 Cantaro que vai muitas vezes á fonte, - ou deixa a aza, ou a fronte / Tantas vezes vai o canatrinho á

fonte, até que quebra. / Tantas vezes vai o pucaro á fonte, até que lá fica (s.a. [1882], pág. 57). Tantas vezes vai o cântaro ao poço / até que lhe fica o pescoço (Delgado [1956], pág. 42). Tantas vezes vai a caldeirinha ao poço, até que lá fica o pescoço (Chaves [s.d.], pág. 403, nº 50).

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Tantas vezes vai o caldeirão ao poço, até que fica lá o pescoço.

RP 147324 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 59 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Maio de 2003.

Tanto bate a água na pedra até que a faz abrandecer.

RP 148 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de

Agosto de 2011.

Tanto é o que passa como o que não chega.

RP 149325 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Tudo no seu tempo lembra.

RP 150 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Junho de 2000.

Tudo pergunta o seu semelhante.

RP 151 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Junho de 2000.

Tudo vai com a mão ao cuzinho e vem cagadinho.

RP 152 Informante: Georgina Leal, 70 anos, comerciante, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tu és bom até que eu queira.

RP 153326 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Um amor, para ser querido, primeiro tem de ser batido.

324 Água mole em pedra dura, tanto dá até que a fura (Chaves [s.d.], pág. 62, nº 453). 325 Tudo vem a seu tempo, e os nabos no Advento (Delicado [1923], pág. 87). 326 O amor tem que ser sofrido, acrescenta o informante.

O Amor, para ser batido, há de ser batido (Tomás Pires [1884], pág.1).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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140

RP 154327 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Uma desgraça nunca vem só.

RP 155 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 21 de

Março de 2012.

Uma vez se engana o cão, a segunda ou se engana ou não.

RP 156 Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Um olho no burro, outro no cigano.328

RP 157 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de

Agosto de 2011.

Uns de mais e outros de menos.

RP 158 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Abril de

2011.

Zanga de irmãos, lavaduras de mãos.

327 Uma desgraça nunca vem só (Chaves [s.d.], pág. 78, nº 417). 328 Para evitar o engano, segundo a informante.

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1.2.2. Expressões Populares

REP 1329 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Acabou-se a papa doce.

REP 2 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

Adivinhar água.

REP 3a Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Ai Senhora da Orada, c’abrand’ o meu marido.

REP 3b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de

Setembro de 2011.

“Senhor dos Passos, c’abrand’o meu marido.”

REP 4330 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Maio de 2012.

Albarda-se o burro à vontade do dono.

REP 5331 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Março de 2011.

Anda a comer miolo de enxergão.

329 Cf. António Nogueira Santos [1990], Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas, Lisboa, Edições

Sá da Costa, 1990, pág. 290. 330 Cf. Delgado [1956], pág. 33. Albarde-se o burro á vontade do dono (Tomás Pires [1884], pág.1). 331 Diz-se quando o namorado ou a namorada é infiel e o outro não sabe; refere-se, assim, àquele que é

traído e não sabe. Este é um exemplo específico que a informante nos apresenta. No geral, a expressão é

usada quando alguém é enganado e não sabe.

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REP 6 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Andar de cu torcido.

REP7332 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de

2012.

Andar de mãos dadas.

REP 8333 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Outubro de 2011.

Arde como a isca.

REP 9 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

As conversas são como as cerejas.

REP 10334 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

As sopas estão a dormir.

REP 11 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Batendo no sentido.

REP 12335 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 28 de

Fevereiro de 2010.

Caem-me as campainhas do cu.

332 Diz-se de duas pessoas muito amigas ou de duas pessoas que parecem conspirar. 333 Quando algo arde depressa. A isca é uma planta que antigamente era usada para acender o cigarro,

juntamente com uma pedra e um ferro. 334 Quando a sopa não está a ferver. 335 A informante usou a expressão no seguinte contexto: Tenho tanto que fazer que me caem as

campainhas do cu.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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REP 13336 Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de

2011.

Cai-se lá com ele.

REP 14337 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Cama e mesa e roupa lavada.

REP 15338 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de

Setembro de 2011.

Conversas de alpendre.

REP 16 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

Dá o chá.

REP 17 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Outubro de 1999.

Dar fé.

REP 18 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolhida em Santo

António do Baldio, a 21 de Outubro de 2010.

Dito feito o faço.

REP 19 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9

Junho de 2012.

É bruto que nem um cerro.

REP 20339 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Novembro de 2009.

336 O mesmo que briga. 337 Santos [1990], pág. 81. 338 São assim designadas as conversas quando se consideram enganadoras, “boato”. 339 Diz-se a alguém que reclama muito.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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E não mordes a língua!

REP 21340 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de

2012.

É um pêdo fechado.

REP 22 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de

2012.

Eu é que não tenho uma boca emprestada.

REP 23a Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Era um pego sem fundo.

REP 23b Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Pego sem fundo.

REP 24 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2010.

Está a dormir e a apanhar ratos.

REP 25341 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Está com um olho no burro e outro no cigano.

REP 26 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 67 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 24

de Julho de 2010.

Está na massa do sangue.

REP 27

340 Diz-se quando há uma relação muito próxima entre duas pessoas. 341 Cf. Um olho no prato, outro no gato (Delicado [1923], pág. 243).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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145

Informante: Inácia Ramalho Paixão Caeiro, 65 anos, agricultora, 4º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Estar em pulgas.

REP 28 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Fazendo o gosto ao dedo.

REP 29342 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Fazer em fel e vinagre.

REP 30343 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Novembro de 2011.

Fazer o acero.

REP 31 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Fazer ouvidos de mercador.

REP 32 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 30 de

Agosto de 2011.

Fez uns pães que nem umas hóstias.

REP 33344

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Ficar debaixo de uma pedra.

REP 34 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 20 de Maio de

2012.

342 Cf. Santos [1990], pág. 173. 343 Significa fazer a aproximação àquilo que se quer. 344 Significa ficar em segredo.

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Fiz-lhe um risco à porta.

REP 35 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro

de 2011.

Houve parra e pasto.

REP 36345 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro

de 2010.

Isso pra preta que tem bom dente.

REP 37 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Isto é manteiga de mais por dez tostões.

REP 38a Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Já apareceu o rabo ao canivete.

REP 38b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 72 anos, reformado, 4º ano de escolaridade,natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Junho de 2012.

Já encontrámos o cabo ao canivete.

REP 39346 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Maio de 2009.

Já comem pão com côdea?

REP 40347 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3 de

Outubro de 2009.

Já escapa.

345Quando alguém não consegue partir alguma coisa. 346É o mesmo que perguntar a alguém se está melhor. 347O mesmo que dizer que está melhor.

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REP 41a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 58 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 29 de

Outubro de 2002.

Levar com um gato morto até que ele miasse.

REP 41b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2009.

Levando com um gato morto até que ele miasse.

REP 42348 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Levar tudo à ponta da espada.

REP 43 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Mais feia que a noite dos trovões.

REP 44349 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Mais tarde se colhem as peras.

REP 45350 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de

Outubro de 2011.

Maria, o teu gato já mia?

REP 46 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 22 de

Outubro de 2011.

348 Significa levar tudo muito a sério. Cf. Santos [1990], pág. 159. 349 A seu tempo, se recolhem as pêras.

Alguma hora, a minha pereira terá pêras (Borges [2005], pág. 11). Estes são duas expressões recolhidas

no Alentejo (Reguengos de Monsaraz, Mourão e Moura), segundo a recolectora. A seu tempo se colhem as peras (Tomás Pires [1884], pág.1). 350 Esta expressão usa-se quando as crianças se intrometem na conversa de um adulto, por exemplo, ou

quando querem ter uma atitude que não é própria da sua idade, mas de um adulto. Pela variante que se apresenta no REP46b, julgamos que a composição REP46a provém de uma resposta

pronta que se simplificou, tornando-se numa simples expressão de uso quotidiano.

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Meter o nariz em cu de gente.

REP 47 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 31 de

Dezembro de 2011.

Não está ali com nabos em saco.

REP 48 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Não é tarde nem é cedo.

REP 49 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Novembro de 2011.

Não lhe cabe uma palhinha no rabo.

REP 50351 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 71 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 2000.

Não passa da cepa torta.

REP 51 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade,natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2011.

Não pode com um gato pelo rabo.

REP 52 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Não sai às ervas.

REP 53 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro

de 2010.

Não se sabe o que está detrás da porta.

REP 54 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

Não vê mais terra do que a que pisa.

351 Santos [1990], pág. 101.

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REP 55352 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1 de

Dezembro de 2009.

Não vejo açougue.

REP 56 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Não tem dois dedos de testa.

REP 57 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Nem à lei da bala.

REP 58 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Abril de 2009.

Outra vez, senhora Inês!

REP 59353 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Parece que tem bichos carpinteiros no rabo.

REP 60 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 2000.

Parece um poço sem fundo.

REP 61354 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Julho de 2009.

Pica-lhe a cevada na barriga.

352 Diz-se de um namoro pouco intenso. 353 Santos [1990], pág. 51. 354 Diz-se da pessoa que se encontra bem materialmente e/ou de saúde. Também se usava em relação às

crianças, quando brincavam e pulavam, cheias de saúde.

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REP 62 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Pulou-lhe no cachaço.

REP 63355 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Puxar a conversa.

REP 64a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

Regar o pé.

REP 64b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Agosto de 1999.

Ter o pé regado.

REP 65 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Ser cuspida e escarrada.

REP 66356 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Tas calado, rachas lenha.

REP 67 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro de

2009.

Tem pau para toda a colher.

REP 68 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Maio de 2009.

Tens os correios bem pagos.

355 Santos [1990], pág. 120. 356 Equivale a dizer a alguém para não se intrometer meter na conversa dos outros.

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REP 69357 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Novembro de 2009.

Tinham pano para tanta manga?

REP 70 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 58 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 29 de

Outubro de 2002.

Trabalha que já cá o metes.

REP 71a358

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Outubro de 1999.

Untar os lábios com toucinho.

REP 71b Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Unta-lhe os bêços com toucinho (ao nosso Senhor) e vai dizer ao teu pai que já comeste.

REP 71c Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 68 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 Abril

de 2012.

Untas a boca com toucinho.

REP 72359 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Outubro de 1999.

Verão dos Marmelos.

REP 73 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Vim fora da tabela.360

357 Santos [1990], pág. 351. 358 Significa contentar. 359 É uma referência aos dias quentes de Outono. 360O mesmo que vir fora de tempo. A informante disse a expressão a propósito do facto de ser a filha mais

nova com muita diferença de idade relativamente aos irmãos.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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152

REP 74 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 1 de

Setembro de 2010.

Vinha no passinho de Santa Cruz.

REP 75361 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

“Viúva, queres casar?”

REP 76 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Outubro de 1999.

Voltar as barrigas das pernas.

REP 77362 Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de

2011.

Vou à cata dele.

361 Contexto conversacional: Não me convidem para almoçar, não me digam viúva, queres casar? 362 O mesmo que ir à procura.

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153

2.Composições de carácter lúdico

2.1. Rimas Infantis

Rimas em Jogos: fórmulas de selecção

RFS 1 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, 3º ano de escolaridade, comerciante, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Argolinha pimpolinha,363

O rapaz que bem que faz

Faz o jogo do papão. E o papão Manel João

5 Diz à velha do cordão

Que arrecolha o seu pezinho

Ta coxinho dum dedinho. 364

Rimas em Jogos para a primeira infância

RJPI 1365 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 19 de

Novembro de 2011.

Ada burriquito, Vamos a Belém,

A ver o Chiquito

Que a Senhora tem.

5 Que a Senhora tem,

Que a Senhora adora,

Anda burriquito,

Vamo-nos embora.

RJPI 2a366

363 A informante explica: era nos pés (…) depois estendiam os pés. Era o jogo da Argolinha Pimpolinha. 364 A informante explica: E depois eles ‘arrecolhiam’ - afirma pondo o dedo no bolso do casaco para

exemplificar. 365 Rima infantil de conteúdo natalício, cantada com o neto ao colo, fazendo cavalinho. É dita quando o

bebé já se senta com alguma facilidade, sentando-o na perna ou no joelho e faz-se um movimento brando,

segurando o bebé.

Teófilo Braga publicou uma versão desta rima infantil (cf. Teófilo Braga [1995], O Povo Português nos

seus Costumes, Crenças e Tradições, vol. I, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1995, pág. 244).

Cf. Coelho [1994], pág. 16. 366 Cf. Idália Farinho Custódio, Maria Aliete Farinho Galhoz [2011], Cancioneiro. Património Oral do

Concelho de Loulé, vol. IV, Loulé, Edição da Câmara Municipal de Loulé, 2011, pág. 33.

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Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 4 de Novembro de 2011.

Lagarto pintado

Quem te pintou?

Foi uma velha Que por aqui passou.

5 No tempo da eira

Fazia poeira.

Agarra lagarto Por esta orelha.

RJPI 2b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Novembro de 2011.

Lagarto pintado

Quem te pintou?

Foi uma velha Que por aqui passou.

5 No tempo da eira

Fazia poeira.

Dentro de uma caixa.

RJPI 2c Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, 6º ano de escolaridade, doméstica, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Lagarto pintado,

Quem te pintou?

Foi uma velha

Que aqui passou. 5 No tempo da eira,

Fazia poeira.

Puxa lagarto

Por esta orelha.367

RJPI 2d Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, 3º ano de escolaridade, comerciante, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Lagarto pintado,

António Tomaz Pires recolheu a seguinte versão:

Arre burriquito,

Vamos a Belém

A ver o chiquito

O’a senhora tem. (António Tomaz Pires [1936], Rimas e Jogos Colligidos no Concelho d’Elvas,

Elvas, Tipografia Progresso, 1936, pág. 4) 367 A informante faz o gesto de puxar a orelha.

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155

Quem te pintou?

Foi uma velha

Que aqui passou.

5 Plo tempo da eira Fazia poeira.

Puxa lagarto

Por esta orelha.

RJPI 3368 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de

Julho de 2010.

Palminhas, palminhas, Pra mamã dar maminha,

Pró pai dar coisinhas.369

Cantou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Julho de 2010.

RJPI 4a Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de Julho de

2010.

Pino moça,

Pino e moça, Trigo no saco,

Dinheiro na bolsa. (bis)370

Cantou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

RJPI 4b Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Pino, pino, moça, Trigo no saco,

Dinheiro numa bolsa.

RJPI 5a

368 Cf. Coelho [1994], pág. 22; Leite Vasconcelos [1907], pp. 1-86, [1938e] pág. 42. 369 A informante canta a rima ao seu neto de poucos meses, para o ensinar e incentivar a bater palminhas.

Enquanto canta, bate palmas.

No concelho de Elvas, António Tomás Pires recolheu uma versão diferente:

Palminha, palminhas,

P’r’a mãe dar as maminhas,

E o pae cando vier,

Dará sopinhas de mel. (Tomaz Pires [1936], pág. 4) 370 A informante canta e faz os gestos que acompanham a cantiga – o gesto consiste em tocar com a ponta

do dedo indicador na palma da outra mão, repetidamente.

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156

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de Novembro de 2010.

Pum, pum,

Vai lavar a loiça. Pum, pum,

Deixa-a bem lavada. (bis)371

Cantou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

RJPI 5b Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em 20 de Outubro de 2011.

- Pum, pum,

Vai lavar a loiça, - Pum, pum,

Já está lavada,

5 - Pum, pum,

Não sejas porca, - Pum, pum,

Sou asseada.

Rimas de zombaria

Rimas para zombar da religião

RRZR 1a Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

Com Deus me deito,

Com Deus me agasalho,

Com a mão no peito, E a outra no caralho.

RRZR 1b Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Com Deus me deito,

Com Deus me agasalho,

Com uma mão no peito,

371 A informante faz os gestos que acompanham a cantiga, enquanto a canta, dirigindo-se ao seu sobrinho,

um bebé de 10 meses, entretendo-o, divertindo-o e ensinando-o a repetir o gesto – o gesto consiste em tocar

com a ponta do dedo indicador na palma da outra mão, repetidamente.

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E outra no pescoço.372

Rimas para zombar das Pessoas

RRZP 1a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 64 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de

Maio de 2008.

- Maria Cachucha,

Com quem dormes tu? - Com o gato bravo

Que te arranha o cu. 373

RRZP 1b374 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de julho de

2009.

- Ó Maria Cachucha,

Com quem dormes tu? - Durmo com o gato

Que te arranha o cu.

RRZP 2 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 64 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Julho de 2009.

O tio Zé da Horta

Foi aos agriões.

No meio do caminho

Perdeu os safões.

372 O informante diz que não é bem assim. Tenta recordar mas não consegue. Julgamos que se envergonhou

de usar o termo obsceno. Recita a composição para retratar um pouco o ambiente que se fazia sentir nas ceifas, ou melhor, entre os

ceifeiros e ceifeiras, à noite, após o dia de trabalho. Antigamente, dormiam todos no campo, junto ao local

de trabalho, pois as distâncias das suas casas eram muito grandes e os transportes eram escassos. Assim,

recita-a a propósito de um indivíduo que à noite, após a ceifa, dizia isto para divertir os colegas que

esperavam que ele rimasse o último verso com a esperada palavra obscena. E ele tinha um cascavel na foice

e dizia a oração, levantando a foice e logo a cascavel tilintava.

É mais uma versão de rima de zombaria à religião, mas não usada num ambiente infantil, segundo o próprio

informante. Porém, num ambiente de lazer, de descontracção, está presente um saber adquirido talvez na

infância e, depois, transportado para a vida adulta. 373 A informante afirma: Ouvia cantar esta cantiga ao primo Domingos dos Caeiros, o “Solheiras”, no

campo, nos trabalhos da monda; como era mais lento o trabalho, os patrões gostavam de vigiar as

mulheres.

Cantou novamente a mesma composição, sem qualquer alteração, em 4 de Julho de 2009. 374 Cf. José Leite Vasconcelos [1975], Cancioneiro Popular Português, vol. I, Coimbra, Por Ordem da

Universidade, 1975, pág. 52.

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Cantigas Infantis

RCInf 1a375 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

As pombinhas da Catrina

Andaram de mão em mão.

Foram ter à Quinta Nova Ao pombal de S. João.

5 Ao pombal de S. João,

À quinta da Ribeirinha, O mau patrão mandou-me à água

E eu parti a cantarinha.376

RCInf 1b Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de escolaridade, trabalhador rural, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

As pombinhas da Catrina

Andaram de mão em mão. Foram ter à Quinta Nova

Ao pombal de S. João.

5 Ao pombal de S. João, À quinta da Roseirinha,

Meu patrão mandou-me à fonte

E eu parti a cantarinha.377

RCInf 1c Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora

rural), natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em

Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

As pombinhas da Catrina Andaram de mão em mão.

Foram ter à Quinta Nova

E ao Pombal de S. João.

5 Ao pombal de S. João,

375 Cf. Carlos Nogueira [2002], “Cancioneiro Popular de Baião”, vol. II, in Bayam, nº 7-10, Janeiro 2002,

pág. 285; Custódio, Galhoz [2011], Cancioneiro. Património Oral do Concelho de Loulé, vol. IV, Loulé,

Edição da Câmara Municipal de Loulé, 2011, pp. 85-87. 376 A informante recitou a composição.

Os dois versos finais foram recitados pelo marido da informante, pois também se encontrava presente

durante a entrevista. Trata-se do informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de

escolaridade, Trabalhador Rural, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em

Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel. 377 O informante canta. Introduz uma variante no penúltimo verso.

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159

À quinta da Roseirinha,

- Minha mãe, não bata mais

Que eu ainda sou pequenina.378

RCInf 2

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de escolaridade, trabalhador rural, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Naquela linda manhã, Estava a brincar no jardim,

A certa altura, a mamã

Chamou-me e disse-me assim:

5 - Não andes só a correr,

Tropeças sem querer,

Se cais, ficas mal.

Eu respondi:- Está bem.

Depressa, porém,

Esqueci-me de tal.

E depois eu não sei como foi,

10 Escorreguei, caí no chão,

No joelho ficou um dói-dói,

No nariz um arranhão.

RCInf 3a Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, 2º ano de escolaridade, trabalhador rural, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olha a machadinha,

Minha machadinha. (bis)

Quem te disse a ti

Que tu hás-de ser minha.

RCInf 3b379 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, analfabeta (sabe ler e sabe assinar),

reformada (trabalhadora rural), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Ah, ah, minha machadinha,

Ah, ah, minha machadinha,

Quem te pôs a mão,

Sabendo qu’és minha.

5 Sabendo qu’és minha,

378 Os dois últimos versos oferecem uma nova variante temática. 379 Cf. Custódio, Galhoz [2011], pp.81-82.

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160

Ê também sou tua.

Salta, machadinha,

Lá pró meio da rua.

Lá pró meio da rua,

10 Não hei-de saltari,

Salta, machadinha,

Vai buscar tê pari.380

RCInf 4381 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

julho de 2009.

Tenho um canito

Que se chama Bebéu.

Hei-de cortar o rabo

Para a fita do meu chapéu.

Fórmulas encantatórias

RFE 1 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2 de

Novembro de 2011.

Acha borracha

Dentro de uma caixa.382

RFE 2

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 56 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a abril

de 2000.

Escampa, escampa,

Tenho o burrinho debaixo da manta.

Não sei o que lhe hei-de dar, Dou-lhe caganitas com sal.383

RFE 3a Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

380 A informante finaliza, dizendo: Pronto. Parece que era só assim. 381 Eu tenho um cãozinho

Chamado Totó;

Desanda-lhe o rabo,

Quebra-se-lhe o nó. (cf. Nogueira [2002], pág. 268; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 100). 382 A informante explica que as crianças diziam esta fórmula encantatória quando perdiam alguma coisa. 383 A informante explicou que era costume as crianças dizerem isto quando chovia muito, era para fazer

parar de chover, isto é, “escampar”.

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161

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

S. Romão, S. Romão,

Toma lá o meu dente podre, Dá-me outro são.

RFE 3b Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete (em casa), a 16 de

Junho de 2009.

S. Romão, S. Romão, Toma lá o meu dente podre.

Dá cá um são.

RFE 3c Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

S. Romão, S. Romão,

Toma lá o meu dente podre, Dá-me cá um são.

RFE 3d Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

julho de 2009.

S. Romão, S. Romão, Tomá lá o meu dente podre

Manda para cá o teu são.384

RFE 3e Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio, 3º ano de escolaridade, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em

Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

S. Romão, S. Romão,

Toma lá o meu dente E dá-me cá o teu são.

RFE 3f Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), natural de Moura (cresceu

em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), analfabeta, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

S. Romão, S. Romão,

Toma lá o meu dentinho podre

384 A informante refere o contexto de enunciação: Aventava-o para cima do telhado e embrulhava-o num

miolinho de pão e dizia [os versos].

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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E dá o teu são.385

RFE 3g Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

S. Romão,

Toma lá o meu dente podre

E dá cá o são.

RFE 3h Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de

outubro de 2009.

S. Romão, S. Romão, Toma lá um dente podre.

Deita cá um são.

RFE 3i386 Informante: Joana dos Reis Gato, 80 anos, reformada (em solteira, trabalhou no campo, doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 12 de

Setembro de 2011.

Moura, Mourão,

Toma lá o meu dente podre, Dá-me cá um são.

RFE 3j Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Moura, Mourão,

Toma lá o meu dente podre,

Dá cá ver o teu são

Que me sirva de proveito.387

385 A informante compara o gesto do passado de atirar o dente para cima do telhado com o que algumas

pessoas fazem, o de colocar nos primeiros dentinhos de leite um pé de ouro para os puderem usar como

uma espécie de enfeite nos brincos, fios, pulseiras, como se de uma medalha/amuleto se tratasse. 386 Segundo Fernando de Castro Pires de Lima, no Alentejo, circulava uma composição praticamente

idêntica à que recolhemos:

Moira, moirão

Toma lá o meu dente podre

E dá-me um são. (Fernando de Castro Pires de Lima [1964], “A Prática Mágica do Arremesso do

Dente”, in Revista de Etnografia, Junta Distrital do Porto, vol. III, Tomo I, Julho de 1964, pág. 7). 387 Este verso é uma variante única no nosso corpus. Vem sinalizar o objectivo da fórmula proferida, obter

um dente saudável na segunda dentição.

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Lengalengas

RL1388 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Josezinho tem um burrinho389

Josezinho tem um burrinho

E o burrinho é fraco, A cavalo num macaco;

O macaco é valente,

5 A cavalo numa trempe;

A trempe é de ferro, A cavalo num martelo;

O martelo bate sola,

A cavalo numa bola;

10 A bola é redonda, A cavalo numa pomba;

A pomba é minha,

A cavalo numa pinha;

A pinha deita pinhões, 15 Lá vêm os ladrões,

Comendo pão com melões.

RL2390 Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, 6º ano de escolaridade, doméstica, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Galo francês

Pica na rês;

A rês é d’ouro, Pica no touro;

15 O touro é bravo,

Dá-lhe um beijinho

Debaixo do rabo.

Trava-línguas

RTl 1 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

Pedro Paulo Pinto Pereira,

Pobre pintor português,

388 Cf. Custódio, Galhoz [2011], pp.35-37; Maria José Costa [1992], Um Continente Poético Esquecido.

Rimas Infantis, Porto, Porto Editora, 1992, pág.127. 389 Aprendeu com o avô. 390 Cf. Leite de Vasconcelos [1975], pp. 65-67.

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Pinta portas, pedras, paredes (…).391

RTl 2 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13

de Setembro de 2010.

Uma porta bem intrinquilhada,

Quem seria que a intrinquilhou? (…)

Foi um carapinteiro

Que por aqui passou.

391 O informante comenta ao início: Havia uma lengalenga com as palavras em p, vinte e tal palavras

começadas por ‘p’. No final, diz que a composição era mais extensa, mas não se lembra do resto.

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2.2. Cantigas de todos os dias

2.2.1. Cantigas Amorosas

RCA 1a392 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

A candeia por estar alta

Não deixa de alumiar.

Meu amor, que está lá longe Não me deixas de lembrar.

Recitou versão idêntica: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em

S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.393

RCA 1b394

Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de

2011.

Candeia por estar alta, Não deixes de alumiar.

Meu amor, por estar lá longe,

Não me deixas de lembrar.

RCA 2

Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

A azeitona miudinha

Já se pode armar aos tordos. - Diz-me lá, ó cara linda,

392 A quadra foi cantada quando o marido estava em Setúbal (na altura, namorado) e havia um rapaz que

estava interessado nela. E a informante Florinda, para o afastar, cantou-a. A informante afirmou: E então o

outro sacudiu-se. Foi-se logo embora. […] Antes os namoros eram só com cantigas. 393 A informante escreveu a quadra numa carta ao marido, quando namoravam. 394 A mulher do informante dedicou-lhe a quadra, por estarem longe um do outro, numa carta.

José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Vila do Rei:

A candeia, por estar alta,

Não deixa de alumiar;

Meu amor, por estar longe,

Não deixa de me lembrar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 400).

Também Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

A candeia por estar alta, Nã´dêxa d´’alemiar;

Meu amor, por ´star lá lõis,

Nã’ dêxa de m’alembrar. (Manuel Joaquim Delgado [1955], Subsídio para o Cancioneiro Popular

do Baixo Alentejo, vol. I, Lisboa, Edição de Álvaro Pinto (“Revista de Portugal”), 1955, pág. 149)

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Como andas de amores novos?

RCA 3a395 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

A azeitona miudinha

Que também vai para o lagar,

Também eu sou pequenina, Mas sou forte no amar.

RCA 3b Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Azeitona miudinha

Também vai ao lagar.

Também eu sou miudinha,

Mas sou firme no amar.

RCA 4396 Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de

escolaridade, natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de

Novembro de 2011.

Adeus, amor, passa bem, Já não ouves minha fala.

Vou-te a fazer uma ausência

Como o fumo quando abala.

RCA 5

Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco),

natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Adeus que me vou embora

E adeus que me quero ir. Dá-me os teus braços, amor,

Que eu me quero despedir.

395 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Durrães (c. de Barcelos):

A oliveira pequenina

Dá azeitona p´rò lagar;

Menina também sou pequenina,

Mas sou firme no amar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 458).

A seguinte versão foi recolhida por Manuel Joaquim Delgado:

Azeitona pequenina

Também vai ò alagar;

Também eu sou pequenina,

Mas sou firme no amar. (Beja; Quintos; Vila Nova da Baronia; Salvada; Mina de S. Domingos;

Vila verde de Ficalho) (Delgado [1955], pág. 84) 396 O informante cantou a composição.

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RCA 6 Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

Setembro de 2011.

Adivinhar pensamentos É que ninguém adivinha.

Se eu adivinhasse o teu

Que dita não era a minha.

RCA 7

Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

A flor do carapeto

É bonita e cheira bem. Foste meu amor primeiro,

Não te deixo por ninguém.

RCA 8a Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações: trabalhadora rural, lavadeira.

A flor da oliveira,

Quando cai no lume, estrala. Assim faz o meu coração

Quando ouve a tua fala.

RCA 8b397 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

A folha da oliveira,

Quando cai no lume, estala.

Assim faz o meu coração

397 Foi recolhida uma versão em Amarante:

A folha da oliveira,

Quando chega ao lume, estala:

Assim é meu coração

Quando contigo não fala. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 401).

Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:

A folha da ôlevêra

Dêtada no lume, ´strala;

Assim é mê’coração,

Condo contigo não fala. (Vale de Santiago; Pêro Guarda; Fornalhas e Vale de Santiago-

Odemira)

A folha da oliveira,

Quando cai no lume, estrala; Assim é o meu amor,

Quando contigo não fala. (Barrancos) (Delgado [1955], pág. 71)

Outras versões foram registadas por Manuel Joaquim Delgado, em que a principal variante surge no

primeiro verso, A rama da oliveira (cf. Delgado [1955], pág. 78).

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Quando ouve a tua fala.

RCA 9 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

A folha do eucalitro

Tão alta que foi nascer.

Esse teu modo bonito

É que me fez convencer.

RCA 10a398 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

A laranja, quando nasce,

Nasce logo redondinha.

Também tu quando nasceste

Nasceste para ser minha.

RCA 10b Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,

residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

E a laranja quando narce Nasce logo redondinha.

Também tu quando narceste

Narceste para ser minha.

RCA 11

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Junho de 2009.

Algum dia em te não vendo, Já me encontravam chorando.

398José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

A laranja, quando ansce,

Logo nasce redondinha;

Também tu, minha menina,

Nasceste para ser minha. (Baião; Cabaços, c. de Moimenta da Beira; Marco de Canaveses;

Mosteiró, c. de Baião; Rebordainhos, c. de Bragança) (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 350).

Recolheu também a seguinte versão em Avis:

A azeitona, quando nasce,

Nasce logo redondinha;

Também tu, quando nasceste,

Foi logo para ser minha. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 305).

Em Barrancos foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:

A laranja, quando nasce, Nasce logo redondinha;

Tu também, quando nasceste,

Nasceste para ser minha. (Delgado [1955], pág. 72).

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Agora estou mal contigo,

Chora tu que eu estou rentando399.

RCA 12400 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de Março de 2011.

Algum dia era eu

Do teu prato a melhor sopa. Agora sou um veneno

Que entro nessa tua boca.

RCA 13 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

A menina Maria Antónia

Quando põe o seu chapéu,

Lá no meio da sua sala, Parece um anjo do céu.

RCA 14 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

A minha interesseira julga

Que me rouba o meu rapaz.

Namora, amiga, namora, Que um favor quem quer o faz.

RCA 15

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

A minha intressora julga,

Por usar saia cinzenta,

Que me rouba o meu amor.

Se quiseres saber, experimenta.

399 Rentando significa não querer saber, não se importar. 400 Uma versão muito próxima foi recolhida em Alandroal:

Algum dia era eu

No teu prato a melhor sopa;

Agora sou eu veneno

Que entra nessa tua boca. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 470).

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão: Algum dia era eu

Do teu prato a melhor sopa.

Agora, som um veneno,

Que entro na tua boca. (Mina de S. Domingos e Aldeia do Futuro) (Delgado [1955], pág. 267)

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RCA 16401 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 22 de Outubro de

2011.

Amor com amor se paga, Pra que não pagas, amor?

Olha que Deus não perdoa

A quem é mau pagador.

RCA 17

Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Amor cá e amor lá,

Não sabem dizer mai nada. Parece que têm já

Essa palavra entranhada.

RCA 18

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Amor vai e amor vem,

À volta vem por aqui.

Eu baixarei os meus olhos Chorei em que os teu não vi.

RCA 19402

Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Anda cá, meu goivo roxo,

Colhido da goivaria.

Quem quer bem trata por tu, Amor, não tens senhoria.

RCA 20a Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

401 Foi recolhida uma versão idêntica em Faro (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 305).

Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:

«Amor com amor se paga»,

Por que não pagas, amor?

Olha que Deus não perdoa

A quem é mau pagador. (Beja, Aldeia do Futuro, Panóias e Pêro Guarda) (Delgado [1955], pág.

162) 402 Foi recolhida uma versão em Envendos (c. de Mação):

Anda cá, meu goivo roxo,

Criado na goivaria:

Quem quer bem por tu se trata:

Amor não tem senhoria. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 306).

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Anda cá, meu lírio roxo,

Colhido na Primavera,

Queres saber o meu sentido,

Tas a tempo, considera.

RCA 20b Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Ó laranja de Janeiro,

Ó limão da Primavera,

Queres saber o meu sentido,

Estás a tempo, considera.

RCA 21 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4

de Julho de 2009.

Andas morta por saber Onde eu passo os meus serões,

Na casa da vendedeira,

Encostado aos balcões.

RCA 22403

Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro do

Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 22 de Outubro de 2011.

Andas pra baixo e pra cima Como o ouro na balança.

Enquanto tu não fores minha,

Minha alma não descansa.

RCA 23404

Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,

residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

Ao fichar desta carta

Fichou-se o mê coração. Tenho-te tantas saudades

Como letras que aí vão.

403 A seguinte versão foi recolhida por Manuel Joaquin Delgado:

Andas p´ra baixo e p´ra cima

Como o oiro na balança.

Enquanto não fores minha,

Meu coração não descansa. (Delgado [1955], pág. 270). 404 O informante cantou a composição.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Mina da Juliana (Aljustrel): Ao fechar da minha carta,

Çarrou-se o mê’ coração.

As saudades são tantas

Como letras que aí vão. (Delgado [1955], pág. 271)

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RCA 24 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

A oliveira no alto Tem as folhas aos anéis.

Quem namora com gaiatos

Toda a vida faz papéis.

Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada ao telefone, em Reguengos

de Monsaraz, a 1 de Outubro de 2009.

RCA 25

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Aqui pró meu lado direito É um gosto a gente olhar.

É o cravo mais bonito

Que se põe neste lugar.

RCA 26

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

As estrelas no céu dizem,

Elas dizem, dizem bem. Elas dizem que eu não tenho

Amizade a mais ninguém.

RCA 27 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de

2011.

As janelas do meu quarto

Elas são bem inferiores.

Pra que falas tu comigo Se tu não me tens amor.

RCA 28 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

As rosas do cemitério

São bonitas, cheiram bem.

Foste meu amor primeiro, Não te deixo por ninguém.

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RCA 29405 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

A tua boca é uma rosa, Os dentes são as folhinhas,

As tuas faces mimosas

São duas lembranças minhas.

RCA 30 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Baldoregas406 são sadiças,

Eu por mim não gosto delas.

Em vendo as moças bonitas Não me sustenho nas canelas.

RCA 31 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Chamaste ao meu bigode

Poleiro dos passarinhos.

E eu chamei à tua boca Caixinha dos teus beijinhos.

RCA 32407

405 Uma versão idêntica foi recolhida em Avis (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 619).

Também Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

A tua boca é ‘ma rosa,

Teus dentes são ‘nas’ folhinhas,

As tuas faces mimosas

São duas lembranças minhas. (Beja; Mina da Juliana; Aljustrel Colos; Castro Verde; Cuba e

Alvalade) (Delgado [1955], pág. 83) 406 O mesmo que beldroega, planta usada na gastronomia alentejana. 407 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Meixilhoeira Grande (c. de Portimão):

Chamaste-me pé de ginja,

Não serei tão delicada;

Não sou bonita nem feia,

Nem em ti mal empregada. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 565).

Também Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:

Chamastes-me pé de ginja,

Ê’ nã’ som tã’ delicada

Ê’ nã’ som bonita nem feia,

Mas em ti mal empregada. (Ervidel e Fornalhas – Vale de Santiago- Odemira)

Chamastes-me pé de ginja,

Eu não sou tão delicada, Não sou bonita nem feia,

Mas em ti mal empregada. (Beja, Quintos Colos e Amareleja)

Chamaste-me pé de ginja,

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174

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Chamaste-me pé de ginja,

Eu não sou tão delicado. Não sou bonito nem feio,

Sou em ti mal empregado.

RCA 33a Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Chapéu preto redondinho,

Que o meu amor traz na cabeça.

Não há neste mundo Que o meu amor não mereça.

RCA 33b

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Chapéu preto, redondinho,

Traz o meu bem na cabeça.

Não há nada neste mundo Que o meu amor não mereça.

RCA 34408

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Com pena, peguei na pena,

Com pena, pus-me a escrever.

Com pena, deixei a pena,

Com pena de te não ver.

RCA 35409

Eu não sou tão delicada,

Não sou bonita nem feia,

Sou em ti mal empregada. (Beja, Quintos, Vila Nova da Baronia e Barrancos) (Delgado [1955],

pp. 85-86) 408 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

Com pena ‘peguí’ na pena,

Com pena pus-me a escrever;

Caiu-me a pena da mão

Com pena de te não ver. (Mina da Juliana, Aljustrel e Beja) (Delgado [1955], pág. 478). 409 Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:

Coração por coração,

Amor, não deixes o meu,

Qu’este meu sempre tem sido

Leal para esse teu. (Delgado [1955], pág. 277).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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175

Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, trabalhadora rural e doméstica,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Coração por coração

Não deixes de amar o meu.

Podes encontrar um falso E o meu é leal ao teu.

RCA 36410 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Abril de 2011.

Da minha janela à tua

É um salto de uma cobra.

Quem me dera já chamar À tua mãe minha sogra.

Recitou composição idêntica: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de

escolaridade, natural do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 13 de Setembro de 2010.

RCA 37a

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Deitei o limão correndo,

À tua porta parou. Se o limão fez paragem,

Fará quem o deitou!

RCA 37b411 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro de 2011.

Deitei um limão correndo,

À tua porta parou. Quando o limão faz parada,

410 Foi recolhida a seguinte versão por José Leite de Vasconcelos:

Da minha janela à tua

É o salto duma cobra.

Inda espero de chamar

À tua mãe minha sogra. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 376).

Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:

Da minha janela à tua

É o salto duma cobra.

Quem me dera já chamar

À tua mãe minha sogra! (Beja, Montes Velhos, Aljustrel) (Delgado [1955], pág. 479). 411 José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão no Alentejo:

Atirei co’o limão verde,

À tua porta parou:

Quando o limão te quer bem,

Que fará quem o deitou! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 380).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Fará quem o deitou!

RCA 38 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 23 de Setembro de 2011.

Deolinda encantadora,

Encantaste-me em sentido.

Valha-me Nossa Senhora,

Pra eu casar contigo.

RCA 39

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Desfolhando o malmequer, Me lembrei de ti um dia,

Se me querias bem ou mal,

Mesmo a flor me dizia.

RCA 40

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12

de Junho de 2009.

Dizem que a folha do trigo É maior que a da cevada.

Também a minha amizade

Ao pé da tua é dobrada.

RCA 41412

Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete,

a 16 de Setembro de 2010.

Diz lá a Antónia Belém,

Que lhe manda dizer o Loreto, Que venha cá amanhã,

Que ele agora não está feito.

RCA 42 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

É de noite, o sol é posto,

O meu amor já cá não vem. Ou a conversa é de gosto

Ou alguém o entretém.

412 O informante explicou que, durante uma ceifa, a Antónia Belém queria namorar com o Loreto, mas ele

não estava interessado nela.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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177

RCA 43 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

És amor e desamor, Não tens amor a ninguém.

Tu amas quem te quer mal

E desprezas quem te quer bem.

RCA 44

Informante: Francisca Antónia Godinho Pinto, 79 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta,

natural de Caridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Escrevi-te com tinta verde,

Minha letra não degenera. Bebi água sem ter sede,

Meu amor, à tua espera.

RCA 45 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Estada nova, correnteza

Encalitre compassado. Em casa da minha sogra

É que eu tenho os meus cuidados.

RCA 46 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Está o céu enevoado,

Amanhã temos bom dia.

Está o meu amor zangado, Ai Jesus, o que seria?

RCA 47 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Eu algum dia pensava

Que o amar era só rir.

Mas agora estou a pensar Que o amar tira o dormir.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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178

RCA 48 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Eu estou desejando ligari O meu coração ó teu,

Prá minha alma descansar,

Também descanso eu.

RCA 49413

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Eu fui ao jardim colher Um raminho de alecrim,

Para dar ao meu amor

Que se chama Joaquim.

RCA 50

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Eu fui ao mato buscar

Um feixinho de lenha. Estou à espera da resposta

Que da tua boca me venha.

RCA 51

Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Eu fui à serra aos medronhos,

Achei a árvore mexida. Meu amor, eu só por sonhos

É que sei da tua vida.

RCA 52414 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Eu gostava que tu ouvisses

A minha lamentação. De noite, acordo bradando

413 A informante referiu que gostava muito de cantar esta cantiga (o seu marido chama-se Joaquim). 414 A informante contou que aprendeu a cantiga com uma rapariga que engravidou do namorado

(posteriormente, foi deixada pelo namorado) e que depois o filho morreu. A cantiga foi cantada na apanha

da azeitona.

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Pelo teu falso coração.

RCA 53415 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Eu hei-de amar uma pedra,

Deixar o teu coração.

Uma pedra sempre é firme, Tu és falso sem razão.

RCA 54 Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

Setembro de 2011.

Eu já vi (...)

Laranjas brancas em flor.

Mas não n’as pude alcançar

Pra trazer ao meu amor.

RCA 55a Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Eu já vi nascer da rocha

Um nascente d´água fresca.

Um amor que a gente gosta

Nunca mais na vida o deixa.

RCA 55b Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo

António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Eu já vi nascer da rocha Um nascente d’ água fresca.

Dum namoro que agente gosta

Nunca mais na vida o deixa.

RCA 55c

Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, Trabalhadora Rural e Doméstica,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Já vi nascer da rocha

415 Quase idêntica é a versão recolhida em Castro Verde:

Eu hei-de amar uma pedra,

Deixar o teu coração:

Uma pedra é sempre firme,

Tu és falso sem razão! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 473).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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180

Regatinho de água fresca.

Um amor que doutro gosta

Nunca mais na vida o deixa.

RCA 56

Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de

2011.

Eu julgava, amor, Que já tinhas morrido.

Mas graças a Deus

Ainda aí estás vivo.

RCA 57a416

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 11 de Outubro de

2011.

Eu não quero mais amar,

Que eu do amar tenho medo. Eu não me quero arriscar

A pagar o que eu não devo.

RCA 57b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12

de Junho de 2009.

Já não quero mais amar,

Que eu do amar tenho medo. Eu não quero arriscar

A pagar aquilo que eu não devo.

RCA 58417

416 Foi publicada a seguinte versão:

Eu não quero mais amar,

Que do amar tenho medo;

Não me quero arriscar

A pagar o que não devo. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 372).

Manuel Joaquim Delagado recolheu duas versões:

Já não quero mais amar,

Que do amor tenho medo.

Não me quero comprometer

A pagar o que não devo. (Ervidel)

Já não quero mais amr,

Qu’eu do amar tenho medo.

Eu não quero arriscar

A pagar o que não devo. (Colos, Odemira) (Delgado [1955], pág. 201) 417 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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181

Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações: Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Eu ouvi, mil vezes ouvi,

Lá nos campos, rufar o tambori. Da janela me bradam nas damas:

- Já lá vem, já lá vem, meu amor.

RCA 59 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, 25 de Setembro de 2011.

Eu prendi o sol à lua

E as campainhas ao sino.

Eu prendi minha alma à tua Com corrente de ouro fino.

RCA 60 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Fita azul da cor do astro

E a branca da cor da lua,

Dizes que não tenho esperança Eu algumas tenho tuas.

RCA 61 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro

de 2011.

Formiguinha ligeirinha,

Que andas sempre a caminhar,

Quem me dera ser pombinha

Que ao meu papo vinhas parar.

RCA 62 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Foste dizer mal de mim

Ao meu amor, por desprezo.

Deitastes água no lume.

Inda ficou mais aceso.

RCA 63 Informante: Sabina Costa Bentinho, 75 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Santo António

do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 10 de

Outubro de 2011.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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182

Fui acima a um chaparro

A colher trinta fueiros.

Cala-te daí, gaiato,

Ainda cheiras a cueiros.

RCA 64 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Fui ao céu por uma linha,

Desci à fita lilás.

Ê já fui ao céu por ti,

Tu por mim não és capaz.

RCA 65 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Fui soldado de Guevala, Sirvo um rei com muito gosto,

Faço guardas ao teu peito

Sentinelas ao teu rosto.

RCA 66a

Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Fui-te ver, estavas lavando No rio sem sabão.

Lava-te em águas de rosa

Que te fica o cheiro na mão.

RCA 66b

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, natural de Campinho, 4º ano de

escolaridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7

de Março de 2011.

Fui-te ver, estavas lavando

No rio sem asabão Era com águas de rosa

Fica-te o cheiro nas mãos.

RCA 67 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Há muito que não vinha,

Já o caminho tem erva. A amizade que eu te tinha,

Ainda hoje se conserva.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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183

RCA 68 Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,

residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

Já corri o mar à roda,

Nas asas de uma formiga. Já perdi o norte à terra

E a amizade à rapariga.

RCA 69a Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de

2011.

Já fui mar, já fui navio,

Da ribeira fui enchente. Eu daqui não desvio

De ser o gosto da tua gente.

RCA 69b Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro

de 2011.

Já fui mar, já fui navio,

Da ribeira fui enchente,

Já fui, agora já não, O gosto da tua gente.

RCA 70 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Já fui ribeira abaixo,

Cortando as linhas à lua,

Tenho buscado e não acho Cara linda como a tua.

RCA 71 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Já o sol lá vai baixo,

Deixá-lo ir que eu não choro.

Ainda cá fica na terra

O sol que eu mais adoro.

RCA 72418

418 Uma versão foi recolhida por José Leite de Vasconcelos:

José amo, José quero,

José trago no sentido;

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de Junho de 2009.

José amo, José quero,

José trago no sentido. Por causa de ti, José,

Trago o sono perdido.

RCA 73a419 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 21 de

Março de 2009.

Josezinho, cravo roxo,

Craveiro da minha varanda,

Caixinhas do meu segredo Onde o meu sentido anda.

Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 11 de Junho de 2009; Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade,

natural da Luz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17

de Outubro de 2009.

RCA 73b Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Ó José, ó Josezinho,

Cravo da minha varanda, Caixinha dos meus segredos,

Onde o meu sentido anda.

Por amor de ti, José,

Trago o meu sono perdido. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 596). Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:

José amo, José quero,

José trago em meu «sentido».

Por causa de ti, José,

Trago o meu sono perdido. (Colos, Odemira)

José amo, José quero,

José trago em emu «sentido»

Por causa de ti, José,

Trago os meus sonos perdidos. (Amareleja, Moura) (Delgado [1955], pág. 202) 419 Foi recolhida a seguinte versão em Monchique:

Antoninho cravo roxo,

Flores da minha varanda,

Caixinha dos meus segredos

‘Adond’o meu sentido anda. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 387).

Page 193: Da Voz Lírica do Alentejo ANEXOS - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/33400/2/ulfl243244_td_ANEXOS.pdf · Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante

DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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185

RCA 74 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Jura, amor, que eu também juro, Faz uma jura bem feita.

Jura que me hás-de dar,

Na igreja, a mão direita.

RCA 75

Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do

Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Limoeiro das cinco folhas,

Das quatro faz um quadrado. Tu já para mim não ôlhas

Que eu te bem tenho reparado.

RCA 76 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Limoeiro detrás da porta

Todo o ano dá limões.

Olha, o meu amor, agora, Quer amar dois corações.

Recitou versão idêntica: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da

Luz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de Outubro

de 2009; Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de

2011; Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro

de 2011.

RCA 77a Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro (local de trabalho – Padaria e Pastelaria), a 22 de Setembro de 2011.

Linda estrela da manhã,

Que se avista do festigo. Ó amor, eu quero-te bem,

Mesmo sem falar contigo.

RCA 77b Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

Setembro de 2011.

Linda estrela da manhã,

Que se avista do festigo.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Meu amor, eu quero-te,

Mesmo sem falar contigo.

RCA 78a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 26 de Março de 2011.

Linda letra é um S

Com um C acompanhando Com esta letra se escreve

O nome do rapaz que ando amando.

RCA 78b420 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Linda letra é um S

Com um C acompanhando.

Com estas letras se escreve O nome do rapaz que vou amando.

RCA 79c Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

Linda letra é um S,

Com um C acompanhando.

É o primeiro e último

Do rapaz que eu ando amando.

RCA 80a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Julho de 2009.

Lindo círculo leva a lua

E uma letra cor-de-rosa.

Se minha alma não for tua,

Outro dela se não goza. Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de Monsaraz,

em Reguengos de Monsaraz, a 1 de Outubro de 2009; Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor,

9º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de 2011.

RCA 80b Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

420 A informante explicou que cantava esta quadra a pensar no marido (na altura, seu namorado).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Lindo círculo leva a lua,

Uma estrela cor-de-rosa.

Se a minha alma não for tua, Outro dela se não goza.

RCA 81 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Manuele, és pedra terra,

Pedra com tanta valia

Quem me dera, Manuele, Estar na tua companhia.

RCA 82 Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural/tractorista), 4º ano de

escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada

em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Maria, se tu quisesses,

Éramos os dois felizes.

Uma planta não cresce,

Se lhe cortares as raízes.

RCA 83421 Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26 de Março

de 2011.

Meu amor é António,

António da Conceição,

Quero-lhe mudar o nome

De António para João.

RCA 84 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Meu coração traja luto, Por dentro, às escondidas,

Considerar que o meu amor

Faz ausências tão compridas.

421 Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:

O meu amor é António, António da Conceição.

Hei-de lhe mudar o nome

De António para João. (Vidigueira; Barrancos; Ervidel; Mina da Juliana, Aljustrel) (Delgado

[1955], pág. 222)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCA 85 Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Meus olhos com chorar Fizeram covas no chão.

Foi o que os teus não fizeram

Não fizeram nem farão.

RCA 86

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Minha fala não entoa,

É uma cana rachada. Como é que ela há-de entoar,

Se ela de amor está roubada.

RCA 87 Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformada (trabalhador rural/tractorista), natural de S.

Marcos do Campo, 4º ano de escolaridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em

Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Não chores, amor,

Que eu amanhã venho. Se tu tens paixões,

Eu também as tenho.

RCA 88422

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de julho de 2009.

Não me atires com pedrinhas,

Que eu estou lavando a loiça. Atira-me com beijinhos

Em acção que ninguém oiça.

RCA 89 Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Não me dava morrere

422 Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:

Não me atires com pedrinhas,

Quando estou lavando a louça;

Atira-me com beijinhos

Em modos que ninguém ouça. (Delgado [1955], pág. 335).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Depois de morto ter vida,

Pra ver quem te lograva,

Prenda d’alma tam querida.

RCA 90

Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Não me enleva quem tem Carros, parelhas e montes.

Só me enleva quem bebe

A água de todas as fontes.

RCA 91

Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Não o negues que eu já fui

No tê peito amor escolhido. Indas que agora o não seja

Tenho a dita de o ter sido.

RCA 92a Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Não olhes para mim, não olhes,

Que eu não sou o teu amor. Eu não sou como a figueira

Que dá fruto sem flor.

RCA 92b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4

de Julho de 2009.

Não olhes para mim, não olhes,

Que eu não sou o teu amor.

Eu não sou como a figueira, Dá fruto sem flor.

RCA 93 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Não penses por me deixaris

Me causas um desgosto.

Os pratos da cantareira Uns tirados, outros postos.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCA 94 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6

de Fevereiro de 2012.

Não quero pazes contigo, Nem hoje nem amanhã.

Eu não sou como as comadres,

Garreiam, logo estão bem.

RCA 95

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Na via da água corrente,

Apareceu um rochedo. Achei-te contente,

Descobri-te o meu segredo.

RCA 96 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, trabalhadora rural e doméstica,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

No tronco da verde faia,

O teu nome escrevi eu.

O nome era tão lindo Que a faia reverdeceu.

RCA 97

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

No tronco da verde faia,

O teu nome fui gravar.

Até a faia chorou

Só de me ouvir suspirar.

RCA 98 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó água, que vás correndo,

Por baixo da sacristia.

Ó terra, que vais comendo

O meu amor de algum dia.

RCA 99423 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

423 A informante relatou que esta composição era cantada quando um rapaz queria namorar com

determinada rapariga.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Ó alta faia sombria,

Chegas com a rama ao tanque.

Ainda eu te não conhecia, Já te tinha amor bastante.

RCA 100 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó alto clarão, pendente,

Caiu-te a rama para o lado.

Ó amor, a tua gente De rastos me tem deitado.

RCA 101 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Ó amor da confirmação,

Confirma-te bem da verdade,

Pra saberes se eu te quero bem ou não,

Só Deus do céu é que o sabe.

RCA 102 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó amor, da tua vista

Me quiseram separar.

Já não querem que eu exista

Aonde te possa avistar.

RCA 103

Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26 de

Março de 2011.

Ó amori, ó amori, Ó amori, ó meu bem,

O que eu por ti não fizer

Não faço por ninguém.

RCA 104

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de

2011.

O amor que eu pus em ti Mais valia pô-lo na água.

A água corre e lava tudo

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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192

E o amor nunca se acaba.

RCA 105 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

O amor que me juraste

Bem cedo o vi abalar.

Foi fumo de labaredas Que se desfizeram no ar.

RCA 106 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó amor, se houver alguém Que te queira aconselhar,

Volta-lhe tu por resposta:

- Conselhos tem eu para dar.

RCA 107

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Ó Ana, de Deus és santa, Deus te faça uma santinha,

Os anjos do céu te levem

Da tua casa pra minha.

RCA 108424 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

O anel que tu me deste

Era de vidro e quebrou-se. A amizade que eu te tinha

Era pouca e acabou-se.

424 Versão muito similar foi recolhida por José Leite de Vasconcelos:

O anel que tu me deste

Era de vidro, quebrou-se,

A amizade que te tinha

Era pouca e acabou-se. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 476).

Manuel Joaquim Delgado recolheu também uma versão muito semelhante: O anel, que tu me deste,

Era de ‘vrido’, ‘quibrou-se’;

O amor, que eu te tinha,

Era pouco e acabou-se. (Delgado [1955], pág. 336).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCA 109425 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

O anel que tu me deste, No domingo da Trindade,

Era-me largo no dedo,

Apertado na amizade.

RCA 110 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

O carvão que já foi lume

Com qualquer faúpa acende. Um amor que já foi meu

Com qualquer razão se prende.

RCA 111 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos

O ciúme é um calor

Que o coração nos aquece. Não quer bem ao seu amor

Quem o ciúme não conhece.

RCA 112426 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó coração duma pomba,

Ó asas da primavera,

Eu só queria adivinhar O teu sentido qual era.

RCA 113

425 Em Arganil, foi recolhida uma versão:

O anel que tu me deste,

Francisquinho da Trindade,

Era-me largo no dedo,

E apertado na vontade. ( Leite de Vasconcelos [1975], pág. 612). 426 Foi recolhida a seguinte versão em Vidigueira:

Ó coração de uma pomba

Ó asas da Primavera,

Desejava adivinhar

O teu «sentido» qual era. (Delgado [1955], pág. 297).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabetan (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó coração, que tens pena,

Dá-me uma que eu quero voar.

Não me deias das pequenas, Que não me sustêm no ar.

RCA 114427

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 11 de Outubro de

2011.

Ó coração retraído,

Ó cara cheia de enganos,

É a paga que me deste De eu te amar há tantos anos.

RCA 115 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de Setembro

de 2011.

Ó donzela, dá-me um beijo

Dessa boca encantadora.

Mata lá esse desejo, Não te tornes pecadora.

RCA 116428 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Olhos azuis são falsos,

E os pretos enganadores.

Estes meus encastanhados

São leais ao meu amor.

RCA 117 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de

Outubro de 2009.

427 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

Ó coração retraído,

Ó cara, cheia de enganos,

É a paga que me dás

D’eu te amar há tantos anos. (Beja; Barrancos; Ervidel; Vale de Santiago; Vila Verde de Ficalho

e Vila Nova de Mil Fontes) (Delgado [1955], pág. 297). 428 Foi recolhida a seguinte versão em Beja:

Os olhos pretos são falsos,

Os azuis, enganadores,

Esses teus acastanhados

São leais aos seus amores. (Delgado [1955], pág. 305).

Page 203: Da Voz Lírica do Alentejo ANEXOS - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/33400/2/ulfl243244_td_ANEXOS.pdf · Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante

DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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195

Olhos pretos e ramudos

É que me hadem cativar.

Olhem para os do meu amor,

Que essa feição lhe hão-de achar.

RCA 118a429 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Julho de 2009.

Olhos requerem olhos, Ó corações, corações.

Os meus requerem os teus

Em certas ocasiões.

RCA 118b

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Setembro

de 2011.

Ó olhos, requerem olhos,

Ó corações, corações. Os meus requerem os teus

Em certas ocasiões.

RCA 119 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó meu amor d’algum dia,

Eu ainda te quero bem. Ainda me está parcendo

Como tu não há ninguém.

RCA 120 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações: trabalhadora rural, lavadeira.

O meu amor é baixinho,

Não é da marca maior. É um rapaz trigueirinho

Cara mais linda que o soli.

429 José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:

Os olhos requerem olhos, Os corações corações;

Uma fala requer outra

Em certas ‘oscasiões’. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 326).

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão idêntica (Delgado [1955], pág. 306).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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196

RCA 121 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

O meu amor é pequenino Nem sombra fazes no chão.

Andas fazendo flores

Dentro do meu coração.

RCA 122

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

O meu amor é só de ouro

E eu de prata ramiada. Se eu o chegar a lograr,

Do mundo não quero mais nada.

RCA 123 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

O meu amor não é este,

Não é este, não o quero. O meu usa o chapéu preto,

Este usa um amarelo.

RCA 124 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O meu coração de vidro

Quebrou-se e não tem amanho.

Tenho mágoas para comigo, Ninguém lhe sabe o tamanho.

RCA 125a Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

O meu coração é morada.

Vem pra cá morar, amor.

De renda não pagas nada Ainda te fico em favor.

RCA 125b Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, Trabalhadora Rural e Doméstica,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Meu coração é morada,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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197

Vem pra cá morar, amor.

De renda não pagas nada,

Ainda te fico em favor.

RCA 126430

Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade,natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos

O meu coração fechou-se. Fechou-se, já se não abre.

Quem o fechou ausentou-se

E consigo levou a chave.

RCA 127

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz a 11 de Outubro de

2011.

O meu coração pra dois Partilha nenhumas tem.

Vem comigo, amor primeiro,

Que é só a quem eu quero bem.

RCA 128

Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos

O meu peito é mesa d’ouro Fechada com dois cadeados.

Numa parte, fecha amor,

Noutra, penas e cuidados.

RCA 129

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Ó minha intressora,431

Rala, vestidinha de amarelo, À tua porta só vão os amores

Que eu já não quero.

430 Em Castelo de Vide, José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

O meu coração fechou-se,

Fechou-se, já se não abre:

Quem o fechou, era seu,

Ausentou-se, leva a chave. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 647). 431 A informante explicou que a intressora era a rapariga que se interessava amorosamente pelo namorado

de outra.

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RCA 130432 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó minha pombinha branca,

Que já não vais beber à vala. Por causa de ti, pombinha,

Já o meu amor me não fala.

RCA 131

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó minha rosa camponeisa,

Criada no ramo alto, Podes viver na certeza,

Ao que eu prometo não falto.

RCA 132 Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,

residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

Ó minha rosa encarnada,

Em cima duma rochinha,

A minha amizade é tanta E a tua é tã poucachinha.

RCA 133 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Ó minha rosa encarnada,

És um espelho tão luzente.

Desculpa se estás zangada

Eu também não estou contente.

RCA 134433 Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 2 de Novembro de

2011.

Onde quer que tu andares, Eu a tudo me assujeito.

Nunca me deixas de lembrar,

Cacholinha do mê peito.

432 Em Almeirim, Montargil (c. de Ponte de Sor), foi recolhida a seguinte versão:

Ó minha pombinha branca,

Já não vais beber à vala;

Por causa de ti, pombinha,

Já o meu amor me não fala. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 548). 433 O informante contou que o rapaz que cantou esta quadra ganhou, posteriormente, em virtude dela, a

alcunha de Cacholinha.

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199

RCA 135 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em

casa), a 12 de Junho de 2009.

O nome do meu amor, Com cinco letras se escreve,

A primeira é um S

E as outras ficam em breve.

RCA 136 Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Ó que lindo chapéu preto, Naquela cabeça vai.

Ó que lindo rapazinho,

Para genrlo do meu pai.

Recitou versão idêntica: Inácia Martins dos Santos, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo,

a 7 de Dezembro de 2011.

RCA 137 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Junho de 2009.

Ó rapaz, enrola a esteira,

Mete a espada na bainha.

Não venhas fazer poeira,

Em casa de gente minha.

RCA 138 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Ó rapaz, vai-te deitar,

Que os teus olhos têm sono.

Vai dormir, vai descansar

Que o meu coração tem dono.

RCA 139 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de

escolaridade,natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em

S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Ó Rosa, não morras hoje

Que amanhã também é dia.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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200

Amanhã também eu morro

E vou pra tua companhia.

RCA 140 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó rosa que estás no adro,

Anda cá para o meu jardim. Do mundo não faças caso,

Amor, se gostas de mim.

RCA 141 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4

de julho de 2009.

Os dias que eu canto mais

São os de maior paixão.

Cada vez me lembras mais,

Amor do meu coração.

RCA 142434 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Os meus olhos, com chorar,

Fizeram covas no chão.

Coisa que os teus não fizeram,

Não fizeram, nem farão.

RCA 143a Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

O sol anda atrás da lua E a lua atrás do luar,

E a minha alma atrás da tua

Sem a poder alcançar.

RCA 143b

Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

Setembro de 2011.

O sol anda atrás da lua,

434 Foi recolhida a seguinte versão em Colos (Odemira):

Os meus olhos, com chorar,

Fizeram covas no chão.

Fizeram o que os teus não fazem,

Não fazem, nem farão. (Delgado [1955], pág. 303).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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201

A lua atrás do luar.

Minha alma anda atrás da tua

Sem a poder alcançar.

RCA 144a435 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4

de julho de 2009.

Os olhos daquele àquela, Os olhos daquele além,

Os olhos daquela moça

São iguais aos do meu bem.

RCA 144b

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13

de Setembro de 2010.

Os olhos daquele àquela,

Os olhos daquela além, Os olhos daquela donzela

Parecem os do meu bem.

RCA 145436 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

O sol quando nasce

Inclina às pedras do meu anele Também eu me inclinei

Nos teus olhos, Manuele.

RCA 146 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de Julho de

2009.

O sol quando nasce

Queima todas as flores mortais.

Só a ti ninguém te queima, Cada vez me lembras mais.

435 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Mina da Juliana (Aljustrel):

Os olhos daquela, aquela,

Os olhos daquela além,

Os daquela rosa

‘Som’ iguais òs do mê’ bem. (Delgado [1955], pág. 123). 436 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

Quando o sol nasce, inclina

Nas pedras do meu anel.

Também eu inclinei

Para o nome de Manuel. (Beja e Vale de Santiago, Odemira) . (Delgado [1955], pág. 355).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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202

RCA 147 Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Trabalhou durante 25 anos na Portucel.

Ó vizinha, dê cá lume, Pra acender o meu candeeiro.

Tenho o meu amor à porta,

Quero-lhe falar primeiro.

RCA 148437

Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Por causa de um saramago,

Arranquei um pé de trigo. Anda cá, amor zangado,

Fazer as pazes comigo.

RCA 149438 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13

de Setembro de 2010.

Pus-me a contar as estrelas,

Encontrei dois mil e doze,

Com duas dos teus olhos São duas mil e catorze.

RCA 150 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em

casa), a 11 de Junho de 2009.

Quando eu nasci,

Chorava com pena de ter nascido.

Parece que adivinhava

Que vinha a casar contigo.

RCA 151a Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.

Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Quando eu tinha amores,

437 A informante afirmou que esta cantiga se cantava nas mondas. 438 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

Pus-me a contar as estrelas, Contei duzentas e doze;

Com duas nesse teu rosto,

São duzentas e catorze. (Beja; Amareleja; Ervidel e Mina da Juliana, Aljustrel) (Delgado [1955],

pág. 355).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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203

Deixei um por não ter jeito.

Agora, nem um nem outro,

Que calote tão bem feito.

RCA 151b

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em

casa), a 11 de Junho de 2009.

Quando eu tinha dois amores,

Deixei um por não ter jeito. Agora nem um nem outro,

Que calote tão bem feito.

RCA 152 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Quando me pertas a mão

E os dedos porque mos apertas? S’ ele tu não me tens amore

Quando me apertas a mão.

RCA 153439 Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,

natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Capinho, a 9 de Abril de

2011.

Que julgava, amor,

Que já te não via,

Parecia-me um ano

Sendo só um dia.

RCA 154440 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Quem da porta está vendo

O seu adorado bem

Está no mundo vivendo

Com mais gostos que ninguém.

439 O informante cantou a composição. 440 A informante contou que, quando começou a namorar, não morava perto do seu marido. Mais tarde,

depois da morte do seu avô, o seu pai comprou uma casa na rua em que morava o seu marido, na altura,

seu namorado. Não moravam no mesmo lado da rua, nem mesmo em frente, ainda havia algumas casas a

marcar a distância. Mas, quando se assomavam à porta, viam-se. Um dia, um senhor que passava na rua

dirigiu-se a ela, cantando esta cantiga.

Page 212: Da Voz Lírica do Alentejo ANEXOS - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/33400/2/ulfl243244_td_ANEXOS.pdf · Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante

DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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204

RCA 155 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos

Quem está bem deixa-se estar, Quem não pode estar melhor.

Estou ao pé do meu amor,

Não há regalo melhor.

RCA 156441

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolhida em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro de 2011.

Quem me dera amar um dia,

Ter amor, ter afeição, Ser escrava, dar a vida

Por um eterno coração.

RCA 157a Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Rama verde, lírio escuro,

No teu peito faz encosto. Se não querias qu’eu te amasse,

Não nascesses ao meu gosto.

RCA 157b

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Salsa verde, ramo escuro,

No teu peito faz encosto,

Se não querias qu’eu te amasse,

Não nascesses ao meu gosto.

RCA 158 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Rosa branca, toma cor

Que a encarnada morreu.

Tu já não tens outro amor

Que te queira mais do que eu.

441 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão idêntica (cf. Delgado [1955], pág. 313).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCA 159442 Informante: Maria Inácia Parreira Borrego, 83 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de

Março de 2011.

Rosa, que estás em botão, Nesse campo desprezada

Vem para o jardim do mê peito

Se queres ser rosa estimada.

RCA 160a

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13

de Setembro de 2010.

Ribeiro abaixo,

Sempre com o chapéu na mão, Falando bem às casadas,

Que as solteiras minhas são.

RCA 160b443 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17

de Outubro de 2009.

Rio abaixo, rio acima,

Sempre com chapéu na mão, Falando bem às casadas,

Que as solteiras minhas são.

RCA 161 Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Se amasses como devias

Meu leal coração,

Nessa altura então sabias,

442 Em Querença (c. de Loulé), José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

Rosa, que estás em botão

Nesse campo desprezada,

Vem p´rò jardim do meu peito

Se quer’s ser rosa estimada. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 361). 443 Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:

Rua abaixo, rua acima,

Com o meu chapéu na mão,

A namorar as solteiras,

Que as casadas certas estão. (Beja e Ervidel)

Rua abaixo, rua acima, Com o meu chapéu na mão,

Namorando as casadas,

Que as solteiras certas estão. (Mértola e Vila Verde de Ficalho) (Delgado [1955], pág. 338 -

339).

Page 214: Da Voz Lírica do Alentejo ANEXOS - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/33400/2/ulfl243244_td_ANEXOS.pdf · Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante

DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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206

Se eu te queria bem ou não.

RCA 162 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Junho de 2009.

Saudades tenho eu

De um amor que está lá longe.

Não o dou a demostrar, O meu coração é de bronze.

RCA 163 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Se esta rua fosse minha,

Eu mandava-a ladrilhar,

Com pedrinhas de cristal, Só para o meu amor passar.

RCA 164 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Semeei para não nascer

Areia no areal.

Não tenho pena de ser Pró meu amor tão leal.

RCA 165444 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Abril de 2011.

Se eu soubera que, voando,

Alcançava o teu desejo,

Mandava formar as asas

Nas penas em que eu me vejo.

RCA 166 Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

Setembro de 2011.

Se eu tivesse a liberdade

444 Em Lisboa, foi recolhida a seguinte versão:

Se eu soubesse que, voando,

Alcançava o que desejo,

Mandava fazer as asas

Que as penas são de sobejo. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 439).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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207

Que o sol e a lua tem,

Entrava na tua casa

Sem licença de ninguém.

RCA 167a

Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Se eu tivesse, não pedia Nada do mundo a ninguém.

Mas assim como não tenho

Peço uma filha a quem a tem.

RCA 167b

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Junho de 2009.

Se eu tivesse, não pedia

Nada no mundo a ninguém. Como não tenho peço

Uma filha a quem as tem.

RCA 168 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Semeei salsa a um lado,

Hortelã a outra banda. Para namorar contigo,

Tive que andar em demanda.

RCA 169 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolhida em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro de 2011.

Tanta parra, tanta uva,

Tanta silva, tanta amora,

Tanta mocinha bonita E eu sem ter nenhuma agora.

RCA 170445 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora Rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Tenho dentro do meu peito,

Ao lado do coração,

Duas letrinhas que dizem:

445 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão igual em Beja, Barrancos, Ervidel, Mina da Juliana

(Aljustrel), Mértola, Monte da Vinha (Almodôvar), Fornalhas, Vale de santiago, Odemira (cf. Delgado

[1955], pág. 319).

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208

Morrer sim, deixar não.

RCA 171 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, analfabeta, trabalhadora rural e doméstica,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Tenho uma pena no meu peito

Que me leva à sepultura,

Do meu amor ser mais alto, Não sermos da mesma altura.

RCA 172446 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Tenho um lencinho amarelo,

Com raminhos cor-de-chá.

Já te quis, já te não quero,

São voltas que o mundo dá.

RCA 173 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de

2011.

Toda a noite tenho andado

À precura da madrugada.

Fui achá-la em tê peito

Ma sol nascido de manhã nada.

RCA 174 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Trocaste-me a mim por outra, Eu bem sei que me trocaste.

Ainda te hei-de procurar

Quanto na troca ganhaste.

RCA 175

Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tu dizes que me queres bem

446 A informante afirmou: Esta é bonita.

Foi recolhida uma versão em Amareleja (Moura): Tenho um lencinho encarnado

Às rosinhas cor de chá.

Já te quis, já te não quero,

São voltas que o mundo dá. (Delgado [1955], pág. 339).

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209

E eu querer-te mais não posso.

Se assim for, não há ninguém

Com um querer igual ao nosso.

RCA 176

Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada Reguengos de

Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Tu é que és a rosa branca Que eu trago no meu chapéu.

Amada, para seres santa,

Só te falta entrar no céu.

RCA 177

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Um copinho, dois copinhos,

Três copinhos de aguardente E um beijinho de uma donzela

Faz andar um homem quente.

RCA 178 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Vai-te embora, vai passar

Às correntes de água fria. Ainda te vais alembrar

Do teu amor de algum dia.

Recitou versão idêntica: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Baldio, em 21 de Outubro de 2011.

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210

2.2.2. Cantigas às Cantigas

RCC 1447 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de 2011.

Além naquela janela

Dois olhos me estã matando.

Matem-me devagarinho Que eu quero morrer cantando.

RCC 2a Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14

de Setembro de 2010.

Cantando muito calado,

Muito sério estou-me rindo,

Dormindo estou acordado,

Falo verdade mintindo.

RCC 2b

Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Cantando muito calado, Muito sério pra me rire.

Sonhando estou acordado,

Falo verdade a mentire.

RCC 3a

Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano, natural de Campinho, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de 2011.

Cantando se leva a vida,

Eu levo a vida a cantar.

Dizem que a vida cantando Custa menos a passar.

RCC 3b

Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Leva a vida

447 A informante contou que cantavam quando andavam mondando, colhendo a erva no meio do trigo.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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211

E leva a cantar.

Dizem que a vida cantando

Custa menos a passar.

RCC 4

Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural/tractorista), 4º ano de

escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada

em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Cantando se leva a vida, Eu levo a vida a cantar.

Quantas vezes canto eu

Com vontade de chorar.

RCC 5448 Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Cantar bem cantava eu

Na mais nova mocidade. Agora quero e não posso,

Tudo requer a idade.

RCC 6a Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Cantar pra mim é

Um grande divertimento. Enquanto não estou cantando,

Não tenho divertimento.

RCC 6b

Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O cantar para mim é

Um grande divertimento.

Enquanto não estou cantando, Não tenho destraimento.

RCC 7 Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 2 de Novembro de

2011.

448 Em Penajóia (c. de Lamego), recolheu-se a seguinte versão:

Algum dia cantei bem,

Foi na minha mocidade:

Agora quero, num posso,

Tudo requer a idade. (Leite de Vasconcelos [1975], pág.193).

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212

Dizem que o chá dos poejos

Faz bem às constipações.

É a primeira vez que vejo Cantar cabras em funções.

RCC 8 Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro do

Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

Eu gosto do meu copinho

E não o posso despensare.

Em bebendo mais um copinho O meu destino é cantar.

RCC 9449 Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Eu gostava de ouvir

Cantar a quem aprendeu.

Se houvera quem ensinar

Quem aprendia era eu.

RCC 10 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Eu já fui ao São Francisco,

Não fui vender nem comprar.

Só lá fui pra dar o risco450

A respeito do cantar.

RCC 11 Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,

natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Eu nasci cantarolando,

Pobrezinho, mas contente. Eu hei-de morrer cantando

Pra alegrar toda a gente.

449 José Leite de Vasconcelos recolheu em Vila Verde de Ficalho (c. de Serpa) uma versão:

Muito gosto eu de ouvir

Cantar a quem aprendeu:

Se houvesse quem me ensinasse,

Quem aprendia era eu. (Leite de Vasconcelos [1975], pág.198). 450 A expressão dar o risco significa iniciar ou dar ordem para se iniciar uma actividade.

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213

RCC 12 Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo,

residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de

2011.

Já foi tempo que canti bem, Hoje nã canto nada.

A idade tudo me tira,

Abalou-me a mocidade.

RCC 13

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 23 de Setembro de 2011.

Já que me pedem que eu cante,

Eu vou fazer-lhe a vontade. Não sei que gosto têm

De ouvir cantar quem não sabe.

RCC 14

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 23 de Setembro de 2011.

Minha concertina bela,

Composta de cercaduras,

Dormindo sonho com ela, Mesmo de noite às escuras.

RCC 15

Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Minha concertina bela,

Por dinheiro nenhum a vendo.

Estou cantando pra ela E ela está-me respondendo.

RCC 16 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente de Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Maio de 2011.

Não posso cantar, estou rouca, Falta-me a respiração.

Falta-me a luz dos teus olhos

E o amor no coração.

RCC 17451

451 A informante disse que esta composição era cantada quando as raparigas casavam novas.

No Cancioneiro Popular Português, estão publicadas as seguintes versões:

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214

Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrios, a 29 de Agosto de 2011.

Ontem à noite, à meia-noite,

Eu ouvi cantar e chorei.

Lembrei-me da mocidade, Tão novinha a deixei.

RCC 18

Informante: Francisca Antónia Godinho Pinto, 79 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta,

natural de Caridade, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Quando de casa abalei,

Ao meu pai pedi licença.

Agora, para cantar

Aos senhores peço licença.

RCC 19

Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),

3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho,

a 26 de Março de 2011.

Quando eu cantava bem, É que devias cá vir.

Agora que eu canto mal,

Vai-te a deitari a dormir.

RCC 20

Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano, natural de Campinho, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de Junho de 2011.

Quando eu não canto,

Canta o meu amor. Canta lá, agora,

Faz-me esse favor.

RCC 21a452

Esta noite, à meia-noite, Ouvi cantar e chorei

Pela minha mocidade,

Que tão mal a empreguei. (Castro Verde)

No alto daquela serra

Ouvi cantar e chorei

Pela minha mocidade

Que tão depressa a deixei. (Coura, c. de Paredes de Coura) (Leite de Vasconcelos [1979], pág.

421). 452 José Leite Vasconcelos recolheu uma versão quase idêntica, com uma variante no terceiro verso:

Quero cantar, ser alegre, Que a tristeza nada tem.

Eu nunca vi a tristeza,

Dar de comer a ninguém. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 201).

Em Beja, Mina da Juliana, Aljustrel e Mértola, Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão:

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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215

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de 2009.

Quero cantar, ser alegre

E a tristeza nada tem. Eu ainda não vi tristeza

Dar de comer a ninguém.

RCC 21b Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de

outubro de 2009.

Quero cantar, ser alegre,

Que a tristeza nada tem.

Ainda não vi a tristeza Dar de comer a ninguém.

RCC 22 Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, 4º ano de escolaridade, reformado (trabalhador

rural/tractorista), natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Uns cantando, outros chorando,

É mundo, vamos vivendo.

O mundo vai-se acabando Pr’aqueles que vão morrendo.

Quero cantar, ser alegre,

Que a tristeza não faz bem.

‘Inda não vi a tristeza

Dar de comer a ninguém. (Delgado [1955], pág. 239).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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216

2.2.3. Cantigas Conceituosas

RCCon 1 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações: trabalhadora rural, lavadeira.

Água clara não turva,

Vindo ela do rochedo. Amor firme não se muda

Sem haver algum enredo.

RCCon 2 Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

A mocidade não é

Paga por nenhum dinheiro.

Olha a diferença que faz O casado do solteiro.

RCCon 3 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Anica, rosa encarnada,

Manda ler a tua sina.

Pró ano, se fores casada, Trazes a tua concertina.

RCCon 4

Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Chove água miudinha,

Pra regar a terra é.

Deixa a pobre vai-te à rica, Busca forma no teu pé.

RCCon 5453 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de

Março de 2011.

453Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão muito próxima, em Beja:

Coitado do mentiroso,

Mente uma vez, mente sempre.

‘Inda que fale verdade,

Todos lhe dizem que mente. (Delgado [1955], pág. 391).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Coitado do mentiroso,

Mente uma vez, mente sempre.

Antes que454 fale a verdade, Todos lhe dizem que mente.

RCCon 6455 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Coração que dois adora

Que firmeza pode ter?

Só se for coração de homem

De mulher não pode ser.

Recitou versão idêntica: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever),

natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

RCCon 7 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23

de junho de 2000.

Da onde vem a ciência,

Aonde nasce o juízo,

Calculo que ninguém tenha

Aquilo que é preciso.

RCCon 8 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Maio de 2011.

Deixa lá falar quem fala, Deixa lá dizer quem diz,

Até as águas correr

Do rio para o chafariz.

RCCon 9456

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada ao telefone em Reguengos de Monsaraz, a 26 de

Novembro de 2009.

454 Neste contexto frásico, a expressão significa “mesmo que”. 455 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão igual em Alcáçovas (c. de Viana do Alentejo) e em

Sambade (C. de Alfândega da Fé) (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 309 e 637). Em Beja, Ervidel,

Vila Nova da Baronia e Vila Verde de Ficalho, foi também recolhida uma versão idêntica por Manuel

Joaquim Delgado (cf. Delgado [1955], pág. 277). 456 Em Fornalhas (Vale de santiago, Odemira), foi recolhida a seguinte versão:

Desde o princípio do mundo

Muita gente tem morrido.

Nem na terra fazem falta,

Nem o céu se tem enchido. (Delgado [1955], pág. 395).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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218

Desde que o mundo é mundo

Muita gente tem morrido.

Nem na terra fazem falta

E nem o céu se tem enchido.

RCCon 10457 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 7 de Março de

2011.

Eu fui ao jardim das noras Colher o pé à açucena.

Olha o que fazes agora,

Mais tarde não tenhas pena.

Recitou versão idêntica: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de

Setembro de 2011.

RCCon 11458

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Outubro de 2009.

É um regalo na vida

E à beira da água morar,

Quem tem sede vai beber,

Quem tem calma vai nadar.

RCCon 12 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever – pois aprendeu nos cinco anos em que esteve na Suíça), natural de Campinho, residente em

Campinho. Recolha realizada em Campinho, em 9 de Abril de 2011.

Fui ao cemitério veri

O campo da igualdade,

Tanta ilusão no mundo

Em tão pouca terra cabe.

RCCon 13 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Laranjeira de pé de ouro, Tanta laranja que tem,

457 A informante recordou que lhe foi cantada por rapaz que queria casar com ela e que ela rejeitou. 458 A informante recita esta composição, a propósito da lavagem de roupa à mão, tarefa que executou

durante parte da manhã e, por isso, já estava a ficar cansada. Mas como tem a água “à mão” e a roupa suja,

não resiste e vai levando, manualmente, peça após peça, apesar de ter máquina de lavar. Diz que são hábitos

da infância, pois desde pequena que ia lavar a roupa no tino de barro (o tino é uma espécie de tanque, visto

que não havia tanques de cimento, era comprado em S. Pedro do Corval), no quintal.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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219

Por baixo não se lhe chega

E lá acima não vai ninguém.

RCCon 14459

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Minha cabeça é um livro

Tudo nela fica assente.

Onde eu ponho o meu sentido Fica-se firme para sempre.

RCCon 15 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Minha mãe bem dizia,

Minha mãe dizia bem:

Ó filha, não te metas

Com quem vergonha não tem.

RCCon 16460 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 63 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 2

de Agosto de 2003.

Não faças de mim mangação, Que eu não se me dá.

Como tu és já eu fui

E como eu sou tu serás.

RCCon 17461 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 81 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2009.

Ninguém diga:” - Eu não hei-de

Desta fonte água beber”, Pode a sede apertar

E outro remédio não ter.

459 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão (em Beja e Junqueiros, Aljustrel):

Minha mãe bem me dizia,

Minha mãe dizia bem;

Ó filho, nunca te ajuntes

Com quem juízo não tem. (Delgado [1955], pág. 421). 460 O informante recitou a quadra, em resposta a alguém que lhe chamou velho. 461 Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado, em Beja e Fornalhas (Vale de Santiago,

Odemira): Ninguém diga eu não hei-de

Desta fonte água beber.

Pode a sede apertar muito

E outro remédio não ter. (Delgado [1955], pág. 431).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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220

RCCon 18a462 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó amiga, nunca contes A tua vida a ninguém.

Uma amiga tem amigas

E a outra amiga amigas tem.

RCCon 18b Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó amiga, não descubras

O teu segredo a ninguém.

Que uma amiga tem amigas, Outra amiga amigas tem.

RCCon 18c Informante: Georgina Leal, 70 anos, 4ª ano de escolaridade, comerciante, natural de Telheiro, residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó amiga, não descubras

O teu segredo a ninguém.

Uma amiga tem amigas

E outra amiga amigas tem.

RCCon 19463

Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

O coração mais os olhos

São dois amigos leais. Quando o coração está triste,

Logo os olhos dão sinais.

Recitou versão idêntica: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano

de escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

RCCon 20464

462 Uma versão, aludindo ao masculino, foi recolhida em Ervidel:

Amigo, nunca descubras

Teus segredos a niguém. Um amigo tem amigos,

E outro amigo amigos tem. (Delgado [1955], pág. 369). 463 Versão idêntica foi recolhida em Vila Verde de Ficalho (cf. Leite de Vasconcelos [1979], pág. 254).

Manuel Joaquim Delgado recolheu esta versão em Beja, Amareleja e Cuba (Delgado [1955], pág. 297). 464 O informante explica o contexto de enunciação: Aqui há anos, quando eu era gaiato, nesta festa da Boa

Nova, as pessoas iam em carroças, nos carros das bestas. E a mocidade iam seis, sete, oito numa carroça,

iam à festa e iam assim. E então era a romaria, iam cantando. E foi na altura em que as mulheres

começaram a rebicar os lábios, que chamavam rebique, não era batom, nessa altura chamavam rebique.

E há um indivíduo da minha terra que a namorada dele vinha nessa carroça, uma carroça atrás dele e

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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221

Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó meninas do rebique,

Venham bem acauteladas, Ainda assim eu não fique

Com as faces rebicadas.

RCCon 21 Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó moças, tenham cuidado,

Com a própria natureza,

Que o namoro é delicado

Pra quem tem delicadeza.

RCCon 22465 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó rosa, deixa-te estar

Fechadinha em botão.

Aberta, caem-te as folhas

E assim fechadinha não.

RCCon 23466 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó rosa, não consintas

Que o cravo te ponha a mão,

Que a rosa enxovalhada

Já não tem aceitação.

RCCon 24467

vinha rebicada, chamavam-lhe rebique. E elas lá vinham cantando pr’aqui, pr’ali e ele às tantas vira-se

para trás, pró lado da carroça delas e diz assim: [recita a quadra] 465 Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão, em Beja:

Ó rosa, deixa te estar

Fechadinha em teu botão.

Aberta, caem-te as folhas,

Fechada, não caem, não. (Delgado [1955], pág. 122). 466 No Algarve, foi recolhida uma versão:

Rosa branca, não consintas

Que o cravo te ponha a mão!

Deixa-te estar na roseira,

Recatada em teu botão. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 281). 467 Em Fornalhas (Vale de Santiago, Odemira), foi recolhida uma versão:

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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222

Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O tempo da mocidade

Nunca devia acabar.

Em chegando a certa idade, Todos a queremos deixar.

RCCon 25 Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

O tempo atrasado esquece

E a mim o pensar me vem.

Todo o erro se conhece Quando remédio não tem.

RCCon 26468 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Pelo céu vai uma nuvem,

Todos dizem: - “Bem a vi”.

Todos falam e murmuram, Ninguém olha para si.

RCCon 27469

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Junho de 2009.

Procurei a paz no mundo,

Só no cemitério a vi.

Por cima da porta escrito:

"Não há paz senão aqui".

O tempo da mocidade

Nunca devia acabar.

É um tempo tão bonito,

Todos o querem deixar. (Delgado [1955], pág. 395). 468 Segundo o Cancioneiro Popular Português, esta quadra é corrente por todo o país (cf. Leite de

Vasconcelos [1979], pág. 258).

Foi recolhida uma versão por Manuel Joaquim Delgado (em Beja, Ervidel, Cuba e Mina de S. Domingos):

Pelo céu vai uma nuvem,

Todos dizem: - bem na vi.

Todos falam e murmuram,

Ninguém olha para si. (Delgado [1955], pág. 444). 469 A seguinte versão foi recolhida em Beja e Colos, Odemira:

Procurei a paz no mundo,

Fui ao cemitério e vi,

Por cima da porta, escrito:

Não há paz senão aqui. (Delgado [1955], pág. 446).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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223

RCCon 28a

Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),

3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho,

a 26 de Março de 2011.

Quando eu não tinha dava, Agora tenho e não dou,

Vai pedir a quem o tenha

Que eu em não o tendo to dou.

RCCon 28b Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26 de

Abril de 2011.

Quando eu não tinha dava,

Agora tenho nã dou, Vai pedir a quem não tenha

Que eu em nã tendo te dou.

RCCon 29

Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 78 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Setembro de

1999.

Quem tem janelas de vidro

Não lhe pode atirar pedradas.

Eu fui atirar às vossas, Achei as minhas quebradas.

RCCon 30470 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 78 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 27 de Dezembro

de 2007.

Se a morte fosse interesseira,

Ai de nós, o que seria!

O rico comprava a vida, Só o pobre é que morria.

470 Uma versão da quadra que recolhemos foi recolhida em Faro:

Se a morte fosse interesseira, Ai de nós, o que seria!

O rico pagava a vida,

Quem fosse pobre, morria. (cf. Leite de Vasconcelos [1979], pág. 262).

Uma versão idêntica foi recolhida em Vale de Santiago (Odemira) (cf. Delgado [1955], pág. 455).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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224

2.2.4. Cantigas Toponímicas

RCT 1a Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.

A chapada do tê monte

É custosa de subir. Se não fossem os teus olhos,

Quem me faria lá ir.

RCT 1b Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 19 de Setembro de 2011.

Chapadas471 de Monsaraz

São custosas de subir.

Arranjem outro rapaz Que eu já cá não posso vir.

RCT 2 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Aldeia do Outeiro,

No meio tens uma palmeira,

Onde os meus olhos combatem

Cada vez com mais cegueira.

RCT 3a472 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolhida em Monsaraz, a 19 de Setembro de 2011.

Andas morta por saber

Onde eu faço a minha cama. É no Monte do Xerez473,

Na tarimba da cabana.

RCT 3b Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011.

Andas morta por saber

Onde eu faço a minha cama,

471 Chapadas são subidas muito íngremes. 472 A informante contou que um rapaz de Monsaraz estava enamorado de uma rapariga dos Sacaios (são

designados de Sacaios a Aldeia da Venda, a Aldeia dos Marmelos, Cabeça de Carneiros, Santiago Maior e

Aldeia de Pias no concelho do e os habitantes destas aldeias pertencentes ao concelho do Alandroal), mas

esta não lhe correspondia e uma vez nas festas de São Bento cantou-lhe esta cantiga. 473 Monte perto de Monsaraz, que ficou submerso com as águas da barragem do Alqueva.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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225

Na Monte do Xerez,

Na tarimba da cabana.

RCT 4 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Abril de 2000.

As moças desta aldeia,

Algumas, não são todas,

Usam dois pares de meias, Para fazer as pernas gordas.

RCT 5474 Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Camioneta da carreira,

Já te não posso avistari.

Só cá vens p’rás de Ferreira

Cá virem a cabrejar.

RCT 6475 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12

de Junho de 2009.

Campinho, terra das bruxas,

S. Marcos, das feiticeiras,

Cumeada, das manhosas,

Reguengos, das borrachêras.

Recitou versão idêntica: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, a 24 de Julho de 2010.

RCT 7 Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Trabalhou durante 25 anos na Portucel.

Esta moda aprendi eu

474 De acordo com o testemunho do informante, havia muita rivalidade entre as aldeias de Montes Juntos e

Ferreira de Capelins. Esta quadra era cantada pelos habitantes de Montes Juntos para os de Ferreira de

Capelins, quando a camioneta da carreira começou a ir a Montes Juntos e a Ferreira de Capelins. As aldeias

são próximas, apenas com dois quilómetros de distância. Os habitantes de Ferreira de Capelins apanhavam

a camioneta para irem até Montes Juntos e depois voltavam a pé para Ferreira. 475 Quadra idêntica foi recolhida por Manuel Joaquim Delgado no Baixo Alentejo, na freguesia da

Amareleja: Campinho, terra de bruxas,

S. Marcos, das feiticeiras,

Cumiada, das manhosas,

Reguengos, das bonacheiras. (Delgado [1955], pág. 24.)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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226

Com os moços do Campinho,

Quando ia pró trabalho,

De manhã pelo caminho.

RCT 8476

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu agora vou morar

Prá cadeia do Redondo. Não precisam de cá chorar,

Choro eu lá e tenho abondo.477

RCT 9 Informante: Isménia Moleiro Ramalho. 83 anos. Reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro

de 2011.

Eu fui ao Palácio da Pena

E cantei com alegria.

Vê lá não te arrependas Do nosso passado um dia.

RCT 10 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Eu já fui a Olivença,

Quando andei o caminho a pé.

Amor, faz a diligência,

Que a falta por mim não é.

RCT 11a478 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Já Reguengos não é vila, Já lhe querem pôr cidade,

Por ter uma igreja nova,

Na Praça da Liberdade.

476 O informante conta que um sacaio da Aldeia da Venda, a quem chamavam Rouquidõ, não tinha licença

de cadela e foi preso por isso. Foi levado para o Redondo e cantou esta quadra, porque os locais pediram

com insistência aos guardas para não o prenderem. 477 Abondo – significa quantidade suficiente. 478 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão semelhante (sem indicação do local em que foi

recolhida):

Já Reguengos não é vila, Já lhe querem pôr cidade,

Por ter a igreja nova

Na Praça da Liberdade. (José Leite de Vasconcelos [1983], Cancioneiro Popular Português,

vol. III, Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1983, pág. 98).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCT 11b479 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Já Reguengos não é vila,

Querem-lhe pôr cidade, Por ter uma igreja nova,

Na Praça da Liberdade.

RCT 12480 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Mandei fazer um navio,

Ideias que Deus me deu. Digam lá às do Baldio

Trago um cavalo mas é meu.

RCT 13 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Minha aldeia é Motrinos, Minha terra muito amada.

Foi aqui que eu nasci,

Foi aqui que fui criada.

RCT 14481

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Minha terra é Leiria,

Onde se faz o papel. Minha sogra é Maria,

O meu amor é Manuel.

RCT 15 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Minha terra é Motrinos, É a terra onde eu nasci.

479 O informante disse ser uma cantiga muito antiga: Se calha ainda era ‘galhavanas’. Quando eu a comecei

a ouvir. 480 O informante ouviu a quadra a um senhor do Baldio que vinha cá [ao Carrapatelo] aos balhos. 481Em Monte Real (c. de Leiria), José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:

Minha terra é Leiria,

Onde se faz o papel;

O meu nome é Maria

O meu amor é Manuel. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 57)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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228

Esteja longe ou esteja perto

Nunca me esqueço de ti.

RCT 16a Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Monsaraz é boa terra, Boa terra, melhor gente.

Dá de comer a quem passa

E leva dinheiro corrente.

RCT 16b Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Monsaraz é boa terra,

Boa terra, melhor gente, Dão de comer a quem passa

E a quem leva dinheiro corrente.

RCT 17 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12

de Junho de 2009.

Monsaraz está num outeiro,

Reguengos numa chapada,

S. Marcos está num ribeiro, Campinho numa assentada.

RCT 18 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Monsaraz é um jardim,

No meio tem uma baixura.

Tudo são cravos e rosas

Que me dão pela cintura.

RCT 19 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, natural de Motrinos, 3º ano de escolaridade,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Monsaraz é uma vila,

Uma vila medieval.

É a vila mais antiga Que existe em Portugal.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCT 20482 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Na tapada de São Brás,

Está uma pereira florida. Podes arranjar rapaz,

Que eu já arranjei rapariga.

RCT 21483 Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de

2011.

Nã sei o que tenho em Moura,

De Moura me vou lembrando. Em chegando à Guadiana,

As penas me vão levando.

RCT 22484 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

Ó aldeia do Baldio485,

As costas te vou voltando.

A minha boca vai rindo E os meus olhos vão chorando.

RCT 23a Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural de Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

O Alentejo não tem sombra,

É só a que vem do céu. Senta-te aqui, meu amor,

À sombra do meu chapéu.

482 A informante explicou o contexto em que ouviu a cantiga: Um casal de namorados, que já namorava

há muitos anos, desentendeu-se. A única diversão do povo era a taberna e os bailes. O rapaz cantou a

cantiga à namorada. 483 O informante referiu que ouviu o cantor Luís Piçarra cantar a quadra, em Moura.

Uma versão semelhante foi recolhida em Moura:

Eu não sei que tenho em Moura,

Que Moura me está lembrando!

Em chegando à Guadiana,

As ondas me vão levando. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 57) 484 A informante explicou que, quando os rapazes iam à tropa, as pessoas iam acompanhá-los no momento

da partida. Um rapaz recitou a cantiga 485 Refere-se à aldeia de Santo António do Baldio.

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RCT 23b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de

Outubro de 2011.

O Alentejo não tem sombra,

Se não a que vem do céu.

Deixa-te estar, meu amor, À sombra do meu chapéu.

RCT 24a486 Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora rural),

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo

António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

O meu monte fica, fica

Lá prós lados da Defesa487

Namora-a por ser rica

Não é pla boniteza.

RCT 24b Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, 3º ano de escolaridade, reformada (trabalhadora

rural), natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em

Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

O meu monte fica, fica Lá para os lados da Defesa.

Namorasa porque ela é rica

Não é pela boniteza.

RCT 25 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural), natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Ó Monte Vale da Remeira, Que pegas com o Baldio488,

O que fizeram ao Pêra489,

Para andar tão arredio?

RCT 26 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó vila de Monsaraz,

Estás formada em ladeira, Onde mora o meu rapaz,

Onde eu trago a parvoeira.

486 A informante disse que ouviu à Tia Lia, quando eram novas. 487 Defesa é o nome de uma herdade. 488 Refere-se à aldeia de Santo António do Baldio. 489 A informante relatou que a cantiga foi cantada a um rapaz, o Pêra, que tinha duas namoradas.

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RCT 27 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 19 de Setembro de 2011.

Ó vila de Monsaraz,

Não tens mas devias ter Um espelho a cada canto

Para o meu amor se ver.

RCT 28a490 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro

de 2011.

Ó Vila Real alegre, Província de Trás-os-Montes,

Os meus olhos em te não vendo

Parecem duas fontes.

RCT 28b

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó Vila Real alegre,

Província de Trás-os-Montes, Ó meu amor, em te não vendo

Os meus olhos parecem duas fontes.

RCT 29491 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Vento norte, vento norte,

Lá prós lados de Reguengos.

Eu nasci com pouca sorte,

490 Em Alcoutim, Mértola e Mexilhoeira Grande (c. de Portimão), foi recolhida foi recolhida uma versão

muiti próxima da que recolhemos: Ó Vila Real alegre,

Província de Trás-os-Montes,

No dia em que te não vejo,

Meus olhos são duas fontes. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 122). 491 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão quase idêntica (não tem indicação da localidade em que

foi recolhida):

Vento norte, vento norte,

Lá do lado de Reguengos,

Quem nasce p´rà pouca sorte

Toda a vida anda aos morengos. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98)

Também a versão recolhida por Manuel Joaquim Delgado se aproxima daquela que recolhemos: Vento norte, vento norte,

Lá do lado de Reguengos,

Quem nasce com pouca sorte,

Toda a vida ‘anda aos morengos’. (Delgado [1955], pág. 46.)

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232

Toda a vida ando aos morengos.492

RCT 30 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolhida em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro de 2011.

Vila Real alegre,

Província de Trás-os-Montes, É assim que se persegue,

Bebendo de fonte em fonte.

RCT 31493 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora rural), natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Viva a Póvoa! Viva a Granja!

E vivam os mais povoados!

E vivam os moços solteiros,

Em companha dos casados!

492 A explicação da expressão “andar aos morengos” é dada por Manuel Joaquim Delgado: Andar aos

trambolhões da sorte, andar aos «baldões». (Delgado [1955], pág. 46.) e também por José Leite de

Vasconcelos (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98). 493 Em Moura, foi recolhida uma composição muito similar:

«Viva a Póvoa! Viva a Granja!

‘Vivom nos’ dois povoados!

‘Vivom nos’ moços solteiros

Em companha dos casados!»

(Delgado [1955], pág. 46.)

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2.2.5. Outras

RO1 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

A ausência tem uma filha

Que se chama saudade.

Eu vivo de ti ausente,

Não é de minha vontade.

RO 2 Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhador rural), 2º ano de escolaridade, natural

da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

A cepa dá-nos a uva

E a uva dá-nos o vinho.

Comer castanhas assadas

No dia de S. Martinho.

RO 3494

Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de

2011.

A flor da laranjeira É parecida com a do tojo.

A noiva é alta de mais

E o noivo o rabo à rojo.

RO 4a

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, reformada, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Setembro de 2011.

Ai Jesus, valha-me Deus, Eu não sei aonde estou,

Ou os astros baixaram,

Ou a terra levantou.

RO 3b495

494 De acordo com o informante, a cantiga seguinte foi-lhe cantada por uma rapariga, muito alta, em jeito

de resposta negativa a um pedido de namoro do informante, homem de baixa estatura. 495 O informante conta uma história que ouvia contar a propósito do contexto desta quadra.

Era um senhor, todos os dias de manhã, subia acima duma pedra. E havia muita gente que admirava

porque é que o senhor ia todos os dias fazer ali em cima da pedra. E ele por jeito adivinhava muitas coisas.

E os colegas um dia pensaram:

- Amanhã vamos tramá-lo.

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Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de Setembro de 2010.

Ai Jesus, valha-me Deus,

Que eu já não sei aonde estou. Ou os astros baixaram,

Ou a terra levantou.

RO 4c Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

julho de 2000.

Não sei de onde venho,

Não sei para onde vou,

Ou os astros se baixaram, Ou a terra se levantou.

RO 5 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Ainda ontem foi domingo,

Já hoje é segunda-feira.

Falta sábado e domingo Pra ser a semana inteira.

RO 6496

Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Alegria dos meus olhos,

Eu não sei quem me a tirou.

Alegre que eu era dantes,

Tão triste que agora sou.

Então foram pôr uma folha de papel (espera já está mal), era uma mortalha de papel entre a pedra e o

chão que era para eles verem se realmente ele encontrava a diferença. E ele assim que subiu acima da

pedra, no outro dia, disse: [recita a quadra]. 496 Uma versão recolhida em Moura está publicada no Cancioneiro Popular Português:

A alegria dos meus olhos

Eu não sei quem ma tirou.

Tão alegre como eu era,

Tão triste que agora sou… (Vasconcelos [1979], pág. 35)

Em Barrancos, foi recolhida a seguinte composição: Alegria dos meus olhos

Eu não sei quem ma tirou.

Tão alegre como eu era,

Tão triste que agora sou. (Delgado [1955], pág. 155).

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RO 7a497 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 67 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Maio de 2011.

A minha mãe é pobrezinha, Não tem nada pra me dar.

Dá-me beijinhos, coitadinha,

Depois fica a chorar.

RO 7b

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 28 de Maio de

2011.

Minha mãe é pobrezinha,

Não tem nada para me dar.

Dá-me um beijo fica a rir Dá-me dois fica a chorar.

RO 8498 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, rural e doméstica, analfabeta, trabalhadora

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de Setembro de 2011.

Aqui está o Pouca Roupa,

Ao pé de quem traja bem.

Eu bem sei que ela é pouca Mas não deve nada a ninguém.

RO 9499 497 Foi recolhida a seguinte versão, considerada de uso generalizado:

Minha mãe é pobrezinha,

Não tem nada p´ra me dar;

Dá-me beijos, coitadinha, E, depois, põe-se a chorar. (Delgado [1955], pág. 422).

498 O informante contou que esta composição era sempre cantada em todos os bailes por um senhor que se

achava superior aos outros, a nível social, dirigindo-se àqueles que se vestiam melhor do que ele. 499 No Cancioneiro Popular Português, está registada a seguinte versão recolhida em Lisboa e Mesão Frio:

A rosa para ser rosa,

Deve ser de Alexandria;

A mulher, p’ra ser mulher,

Deve-se chamar Maria. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 592)

Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:

A rosa para cheirar

Deve ser de Alexandria;

A mulher, p´ra ser ‘fermosa’,

Deve chamar-se Maria. (Sta Bárbara de Padrões – Castro Verde)

A rosa, para ser rosa,

Deve ser d’Alexandria;

A mulher, p’ra ser ‘fermosa’, Deve se chamar Maria. (Mértola e Santiago do Cacém)

A rosa, para ser rosa,

Deve ser d’Alexandria;

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de Junho de 2009.

A rosa para ser rosa

Tem de ser Alexandria. O nome para ser bonito

Tem de se chamar Maria.

RO 10a Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora

rural), natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em

Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

A Senhora do Rosário

Tem umas contas de vidro,

Que lhas deu o maranheiro

Que se viu no mar perdido.

RO 10b Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, em 7 de Novembro de 2011.

Senhora da Caridade,

Tens umas contas de vidro,

Que lhe deu o marinheiro, Quando andou no mar perdido.

RO 11 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

As pedras da minha rua

Quem as arrencará?

Se for para ou sério,

A mangar não venhas cá.

RO 12 Informante: Sertório Orti Barona, 73 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 22 de Outubro de

2011.

Base500 lá, Ti Mari Zuca501,

O meu copo já não tem

Esta cabeça maluca

Só bebendo é que está bem.

A mulher, p´ra ser fermosa, Deve se chamar Maria. (Delgado [1955], pág. 79).

500 O mesmo que “Vaze”. 501 O informante disse que era o nome da dona de uma taberna.

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RO 13 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 90 anos, 3º ano de escolaridade, reformada, natural da Luz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3 de Novembro

de 2011.

Bem me diziam a mim, Eu não queria acreditar.

Bebia tão poucachinho

Que agora havia de pagar.

RO 14a502

Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Ceifeira, qu’andas à calma,

Ceifando o doiro trigo, Ceifa as penas da minh’alma

E leva-as depois contigo.

RO 14b Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Ceifeira, que andas à calma

A ceifar o louro trigo, Ceifa as penas da minh’alma

E leva-as contigo.

RO 15a503 Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

502 A informante cantou a composição.

No concelho de Serpa, em Vila Verde de Ficalho, foi recolhida uma versão:

Ceifeira que andas à calma,

No campo, a ceifar o trigo,

Ceifa as penas que eu padeço;

Ceifa-as… e leva-as contigo. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 221). Em Salvada e Beja, foi recolhida a seguinte composição:

Ceifeira, que andas à calma

No campo ceifando o trigo,

Ceifa as penas que eu padeço,

Ceifa-as bem, leva-as contigo. (Delgado [1955], pág. 477). 503 Em Castro Verde, foi recolhida uma versão:

Dá-me uma gotinha de água,

Dessa que eu ouço correr;

Entre silvas e mentrastos

Alguma pinga há-de haver! (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 103). Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão, em Barrancos:

Dá-me uma gotinha d’água

Dessa qu’eu oiço correr.

Entre pedras e pedrinhas,

Alguma gota há-de haver. (Delgado [1955], pág. 393).

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238

Dá-me uma pinguinha d’água,

Dessa que eu ouço correr.

Entre silvas e mentrastes,

Alguma pinga há-de haver.

RO 15b Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz, Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de 2011.

Dá-me uma pinguinha d’água, Dessa que eu ouço correr.

Entre silvas e mentrastes,

Alguma pinga há-de ver.

RO 16

Informante: Inês Maria Godinho Quintas, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural

de Caridade, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 8 de Novembro de 2011.

Deiam vivas, deiam vivas

A quem agora chegou. Estava pra me ir embora,

Agora já não vou.

RO 17 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.

De lenço branco ao pescoço,

É sinal de pouco riso. Mandaste cá vir um moço

Sem agora ser preciso.

RO 18 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, rural e doméstica, analfabeta, trabalhadora

rural e doméstica, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 25 de

Setembro de 2011.

Dentro da casca da noz,

Está uma grande morada.

Levanta mais essa voz Que eu já te não oiço nada.

RO 19504

504 A quadra foi cantada pelo informante. Este recordou que, quando foi assentar praça, esta foi a cantiga

que cantaram toda a noite.

Em Tolosa (c. de Nisa), foi recolhida uma versão:

Lá vem o comboio à ponta, Lá vem ele a assobiar;

Lá vem o ‘mê’ amorzinho:

Vem da vida militar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 277).

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239

Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de

escolaridade, natural de Caridade, residente em Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

E lá vai o camboio, lá vai,

E lá vai o camboio a assobiar. Leva a força na subida,

O meu amor pra vida militar.

RO 20 Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro

do Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

Em companha dos amigos,

É que ê gosto de estar.

Eles sempre devem ter Um bom conselho pra dar.

RO21 Informante: Domingos Falardo Amieira, 71 anos, reformado, analfabeto, natural de S. Pedro do Corval,

residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 23 de Outubro de 2011.

E o eucalitro é bem alto

E co’as folhas no are.

Esses mocinhos bonitos

Já dão em faltare.

RO 22505 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

É quase de admirar

Combinar-se tanta gente,

Ir à ilha do altar

Uma nação tão valente.

RO 23506 Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

És clara como o leite,

E o leite também se bebe,

Mal empregada sujeita

505 A informante explicou que a cantiga é relativa ao Carrapatelo, aldeia pequena. 506 O informante contou que a cantiga foi dedicada a uma que era assim um bocadinho alvarenga que

estava presente num baile.

Em Vila Nova da Baronia, foi recolhida a seguinte versão: És clara como o leite,

Corada como o tijolo;

Mal empregada menina

Ser ‘furada do miolo’. (Delgado [1955], pág. 399).

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240

Teres a cabeça tão leve.

RO 24 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carraatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Esse teu cabelo às ondas,

Penteado em viés.

Enganas qualquer sujeito, Não sabendo quem tu és.

RO 25507 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 59 anos, doméstica, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 2003.

Está a chegar a Primavera,

É tempo de rosinhas.

Tenho estado à tua espera

Já dizia que não vinhas.

RO 26508 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Junho de 2009.

Esta rua cheira a sangue, Quem seria que sangrou?

Foi a mãe do meu amor,

Com pancadas que levou.

RO 27509 Informante: José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do

Corval, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de

2011.

Eu andava à tu cata, Ainda bem que te encontri.

507 A informante relatou que a cantiga foi cantada à porta de casa da sua sogra, dedicada ao seu marido,

quando regressou da Guerra do Ultramar (nessa altura, ainda não namoravam). Algumas pessoas da aldeia,

vizinhos, familiares e amigos, juntaram-se e fizeram uma espécie de arraial, para dar as boas-vindas a

Serafim Amieira. 508 No Cancioneiro Popular Português, encontra-se uma versão recolhida em Rapa (c. de Celorico da

Beira):

Esta rua cheira a sangue,

Alguém nela se sangrou.

Foi uma moça solteira

Duma sova que levou. (Leite de Vasconcelos [1979pág. 348).

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Barrancos:

Esta rua cheira a sangue,

Eu não sei quem se matou.

Foi a mãe do meu amor,

Da janela se atirou. (Delgado [1955], pág. 191). 509 Segundo o informante, a cantiga foi cantada por um rapaz dos Sacaios, que não tinha muito jeito para

cantigas. Ri-se da cantiga que recitará, dizendo que está mal feita.

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241

Ainda bem que cá te acho,

Ainda bem que cá te achi.

RO 28 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha é realizada em Telheiro a 23 de Setembro de 2011.

Eu daqui pró futuros

Já não posso abrir a boca. O ramo onde eu estou seguro

Está preso por coisa pouca.

RO 29 Informante: Mariana dos Santos Mendes, 76 anos, reformada, (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Eu gostava de ir à tropa

E ser lá rancheiro-mor.

Toque mais uma peçota, Ó amigo Belchior.

RO 30 Informante: António Jacinto Fialho Guerra (Ti Guerra), 81 anos, reformado (trabalhador da Câmara

Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de escolaridade, natural da Caridade, residente na

Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Eu sou o pirata

Da perna de pau,

Olho de vidro, De cara de mau.

RO 31 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Eu tenho à minha porta

O que tu não tens à tua,

Um vaso de violetas

Que dá cheiro a toda a rua.

RO 32a510 Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Já chove, já está chovendo,

510 Em Cancioneiro Popular Português, está publicada uma versão recolhida na Sertã:

Já chove, já quer chover,

Já correm os regatinhos,

Já se alegram os campos verdes,

Já cantam os passarinhos. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 16)

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242

Já correm os barquinhos,

Já os campos estão alegres,

Já cantam os passarinhos.

RO 32b511

Informante: Inácia da Conceição Janeiro, 68 anos, doméstica, 9º ano de escolaridade, natural de

Perolivas, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 25 de

Novembro de 2011.

Já chove, já ‘stá chovendo, Já correm os barranquinhos,

Já os campos estão alegres,

Já cantam os passarinhos.

RO 33 Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural / tractorista), 4º ano de

escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada

em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Já corri o mar à roda,

Nas asas de uma sardinha. Ó moças, não acreditem,

Que isto é mentira minha.

RO 34 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Já vi minha mãe zangada,

Aos pés da Virgem Maria. Estava uma santa escutando

O que outra santa dizia.

RO 35512 Informante: Luís Lopes dos Santos (Branquinho), 84 anos, reformado (sapateiro), 4º ano de escolaridade,

natural de Perolivas, residente em Gafanhoeiras. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de

2011.

Já um dos meus avôs bobia

Mais que o outro meu avô.

O meu pai até se lembia Vejam como é que eu sou.

RO 36513 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 10 de Setembro

de 2011.

511 A informante referiu que cantavam esta composição quando começava a chover, durante o trabalho do

campo. 512 O informante contou que a cantiga foi cantada por um homem que andava sempre embriagado. 513 A informante disse que a composição é uma “patranha”.

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Lá vai uma, lá vão duas,

Lá vão três penas ao ar,

Uma é minha, outra é tua,

E outra é de quem a apanhar.

RO 37514 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Liberdade, liberdade,

Quem a tem chama-lhe sua.

Eu não tenho a liberdade

De prantar um pé na rua.

RO 38a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Maria, tu és a lima

E o teu pai é um limão. A tua mãe é a laranja,

Ó que linda geração.

RO 38b Informante: Joaquina Ferreira Valadas, 83 anos, reformada (foi comerciante), analfabeta, natural de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Setembro de 2010.

Maria, tu é a lima,

O teu pai é o limão, A tua mãe é tingirina,

Ó que linda geração.

RO 39a515 Informante: Inácia Martins dos Santos, 86 anos, reformada, 3 º ano de escolaridade, natural de São Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a

7 de Dezembro de 2011.

- Menina, que sabe ler,

Faça-me esta conta bem: Um moio de trigo limpo

Quantas meias quartas tem?

(…)

514 Segundo a informante, a cantiga era cantada, nos trabalhos do campo, por uma rapariga cujo pai a proibia

de namorar com um rapaz de quem não gostava e não a deixava sair, para se divertir. 515 Há uma versão idêntica à quadra inicial, recolhida em Beja, tendo em conta que a composição tem uma

resposta, como se pode verificar nas duas outras versões que recolhemos (Delgado [1955], pág. 419).

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RO 39b516 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 60 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23

de junho de 2000.

- Menina, que sabe ler, Faça-me estas contas bem:

Um moio de trigo limpo

Quantas meias quartas tem?

- Um moio de trigo limpo

Vê lá bem não tenha joio,

Quatrocentas e oitenta

Meias partes tem um moio.

RO 39c Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de

Novembro de 2011.

- Menina, que sabes tanto,

Faça-me estas contas bem:

Um moio de trigo limpo

Quantas meias quartas tem?

- Falas-me em trigo limpo,

Vê lá bem não tenha joio.

Quatrocentas e oitenta meias Quartas tem o moio.

RO 40517

516 No Cancioneiro Popular Português, existe uma versão recolhida:

- Menina, que sabe ler,

Faça-m’esta conta bem:

Um moio de trigo limpo

Quantas meias quartas tem?

- Tu falas-me em trigo, Quem sabe se ele tem joio?

Quatrocentos e oitenta

Meias quartas tem um moio. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 182). 517 Foi recolhida uma versão no Porto:

- Menina, que tanto sabe,

Responda-me a esta pergunta.

Que ciência tem o mar.

Que tanta água em si ajunta?

- A ciência que tem o mar tem

Não é coisa de pasmar: Não rio, nem regato

Que não vá ao mar parar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 182).

Em Cuba, Beja e Vale de santiago, Odemira, foi recolhida uma versão da quadra inicial:

Menina, que tanto sabe,

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Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.

- Menina, que tanto sabes,

Responde-me a esta pergunta: Que ciência tem o mar

Que tanta água no meio ajunta?

- A ciência que o mar tem Não é coisa de pasmar.

Não há regato nem rio

Que ô mar não vaia parar.

RO 41 Informante: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente em Outeiro.

Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

Minha bela mocidade,

Minha mocidade bela, Às vezes, dá-me vontade

De deitar luto por ela.

RO 42518 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,, a 11 de Junho de 2009.

Minha mãe da minha alma,

Meu pai do coração, Duzentos anos que eu viva,

Não lhe pago a criação.

RO 43519

Responda a esta pergunta:

Que ciência tem o mar

Que tantíssima água ajunta? (Delgado [1955], pág. 420).

A quadra de reposta foi recolhida em Beja:

A ciência que o mar tem

‘Ê’ le vou desplicar’:

Que não há rio nem regatinho

Que ao mar não vá parar. (Delgado [1955], pág. 361). 518 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

Ó minha mãe da minha alma,

Ó pai do coração,

Por muitos anos que viva

Não vos pago a criação. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 124). 519 Foi recolhida uma versão em Durães (c. de Barcelos):

Minha mãe, p’ra me casar,

Prometeu-me três ovelhas: Uma manca, outra cega,

Uma mona, sem orelhas. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 379).

Em Junjeiros (Aljustrel), Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:

Minha mãe, para méu casar,

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Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações: trabalhadora rural, lavadeira.

Minha mãe, pra m’eu casar

Prometeu-me três ovelhas: Uma cega, outra coxa,

Outra não tinha orelhas.

RO 44 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

Minha mãe da minha alma,

Meu pai do coração,

Duzentos anos que eu viva, Não lhe pago a criação.

RO 45a Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Não é a aceifa que custa

E a aceifa não é não.

É a erva unha-gata E o cardo beija-mão.

RO 45b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 3

de Junho de 2011.

Não é a aceifa que custa,

Nem a calminha do Verão.

É a erva unha-gata É o cardo beija-mão.

RO 45c Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de

2011.

Não é a aceifa que custa, Nem o calor do Verão.

É a erva unha-gata520

Prometeu-me três ovelhas:

Uma cega, outra coxa

E outra trouxa das orelhas. (Delgado [1955], pág. 492). 520 Erva daninha com muitos picos que parecem agulhas, segundo as palavras do informante. As mulheres

punham cana nos dedos para os proteger, durante a ceifa.

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Mais o cardo beija-mão.

RO 45d521 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Não é a aceifa que mata,

Nem os calores do Verão,

É a erva unha-gata Mais o cardo beija-mão.

RO 46 Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro do

Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

No dia q’me casei,

Ia todo preparado,

Com um fato mê calçê

Todo sujo e esfarrapado.

RO 47 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17

de outubro de 2009.

Ó águia, que vais tão alta, Voando de pólo em pólo,

Fazia-me tanta falta,

Minha mãe me trouxe ao colo.

RO 48 Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Ó alegria do mundo, Diz aonde tens andado.

Eu tenho corrido tudo

E não te tenho encontrado.

RO 49522

521 A informante cantou a composição.

José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:

Não é a ‘acêfa’ que mata,

Nem os calores do Verão:

É a erva-unha gata

E o cardo beija-mão. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 222). 522 Versão idêntica foi recolhida em Beja, Salvada, Barrancos, Cuba, Mina de S. Domingos e Vila Verde

de Ficalho (cf. Delgado [1955], pág. 433). Em Avis, foi recolhida a seguinte versão:

Ó Ana, três vezes Ana,

Maria só uma vez,

Vale mais uma vez Maria

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Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó Ana, três vezes Ana,

Maria só uma vez,

Vale mais uma Maria Do que as Anas todas três.

RO 50

Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Ó António, maçã verde, Caído da macieira.

(…)

RO 51523 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz , a 10 de Setembro

de 2011.

Oh, que ranchinho de moços!

Oh, que velha mocidade!

São criados numa aldeia, Parecem duma cidade.

RO 52 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

O meu peito é sala escura,

Onde mora a solidão.

Seja noite ou seja dia, Estou sempre na escuridão.

RO 53a Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

(...)

Ó minha mãe, minha amada,

Do que as Anas todas três. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 601)

523 A informante explica as circunstâncias de enunciação da cantiga: nesse dia, à tarde, na rua: encontrou

um grupo de rapazes com cerca de 15 anos. Encantada, achando-os muito bonitos e bem arranjados, não

resistiu e cantou-lhes a cantiga ao passar por eles. Eles reagiram, positivamente, e pediram-lhe que ela a

repetisse.

Foi recolhida a seguinte versão em Beja e Vila Nova da Baronia: Oh, que ranchinho de moças!

Oh, que bela mocidade!

São criadas numa aldeia,

Parecem duma cidade. (Delgado [1955], pág. 441)

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249

Quem tem uma mãe tem tudo.

Quem não tem mãe não tem nada.

RO 53b Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações: trabalhadora rural, lavadeira.

Ó minha mãe, minha mãe,

Ó minha mãe, minha adorada, Quem tem uma mãe tem tudo,

Quem não tem mãe não tem nada.

RO 53c524 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

Ó minha mãe, minha mãe,

Ó minha mãe, minha amada,

Quem tem uma mãe tem tudo,

Quem não tem mãe não tem nada.

Recitou versão idêntica: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta,

natural de Moura, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a

23 de Setembro de 2011.

RO 54

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Outubro de 2011.

Ó minha mãe, minha mãe,

Ó minha mãe, minha santa.

Uma mãe é sempre emparo Dum filho que chora ou canta.

RO 55 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 21 de Outubro de 2011.

O meu pai já morreu, A minha mãe é viuvinha,

Agora vou ser soldado

Que triste sorte esta minha.

524 Versão igual foi recolhida em Beja, Ferreira do Alentejo e Alvalade (cf. Delgado [1955], pág. 438).

José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Tolosa (c. de Nisa): Ó minha mãe, minha mãe,

Ó minha mãe, minha amada,

Quem tem uma mãe tem tudo,

Quem a não tem, não tem nada. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 124).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RO 56 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever), natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de

2011.

Ó prima, ó rica prima, Ó prima do coração,

És a prima mais estimada

Que eu tenho na geração.

RO 57525

Informante: Deolinda Valadas Infante Cardoso, 61 anos, doméstica, 6º ano de escolaridade, natural de

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Outeiro, a 21 de Novembro de 2011.

Os cinco sentidos

O primeiro sentido é ver.

Ver-te é qu’é o meu desejo.

Prá onde quer qu’eu ôlho, Sempre parece que te vejo.

O segundo, ouvir.

Ê de ti não oiço nada. Mas, se mal de ti me dizem,

Fica-ma a cor mudada.

O terceiro, cheirar Um raminho de alecrim.

525 Uma versão de “Os Cinco Sentidos do Amor” foi recolhida em Penafiel:

O primeiro é ‘ver’

Aquilo que mais desejo:

Quando olho para a porta,

Sempre cuido que te vejo.

O segundo é ‘ouvir’

As vozes da prenda amada:

Quando ouço falas tuas,

Fico muito descansada.

O terceiro é ‘cheirar’;

Meu raminho de alecrim,

Só peço que não me deixes,

Nem que te apartes de mim.

E o quarto é ‘gostar’,

Mas que gostos posso ter?

Ausente do meu amor,

Melhor me fora morrer.

O quinto é ‘apalpar’,

Nem apalpo, nem padeço:

Também quero que me digas

Se eu acaso te mereço. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 339).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Em vivendo de ti ausente,

São desgostos para mim.

Quarto, gostar. Que gostos posso eu ter?

Em vivendo de ti ausente,

Mais me valia morrer.

Quinto, apalpar,

Só em ti apalparei.

Se lograr os teus carinhos,

Uma coisa qu’eu cá sei.

RO 58526 Informante: Inês Maria Godinho Quintas, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural

de Caridade, residente em Perolivas. Recolha realizada em Perolivas, a 8 de Novembro de 2011.

Ó Rosa, tu és a rosa,

Ó Rosa, tu és assim.

Tu és a flor mais bonita

Que há neste jardim.

RO 59a Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz, Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de 2011.

O sol é que alegra o dia, Pela manhã quando nasce.

Ai de mim o que seria,

Se o sol um dia faltasse!

RO 59b527

Informante: José Godinho, 78 anos, reformado, analfabeto, natural da Caridade, residente em S. Pedro

do Corval. Recolha realizada em 22 de Outubro de 2011.

O sol é que alegra o dia,

Pela manhã quando nasce. Ai de nós o que seria,

Se o sol um dia faltasse!

RO 60528 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Pus-me a chorar saudades,

526 A informante explicou que cantou a composição à irmã. 527 Versão idêntica foi recolhida em Quintos (cf. Delgado [1955], pág. 502). 528 José Leite de Vasconcelos recolheu a seguinte versão:

Pus-me a chorar ‘soidades’

Ao pé duma fonte fria;

Mais choravam os meus olhos

Que água da fonte corria. (Évora; Moura) (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 30).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Ao pé de uma fonte, um dia.

Choravam mais os meus olhos

Que a água da fonte corria.

Recitou versão idêntica: Manuel Fernando, 78 anos, reformado, analfabeto, natural do Outeiro, residente

em Outeiro. Recolha realizada em, Outeiro, a 22 de Setembro de 2011.

RO 61a Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Pus-me a contar às avessas,

Numa pedra ao inviés:

Dezasseis, quinze e catorze,

Treze, doze, onze e dez.

RO 61b529 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Pus-me a contar às avessas,

Na pedra duma coluna:

Nove, oito, sete, seis,

Cinco, quatro , três, dois, uma.

RO 62a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de

Junho de 2009.

Quando eu era pequenina,

Ainda não comia pão,

Davam-me as moças beijinhos

E agora já não mos dão.

RO 62b Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Quando eu era pequenina,

Era rentinha do chão.

Davam as moças beijinhos,

Agora já não os dão.

529 Encontra-se publicada uma versão recolhida Mesão Frio, em Cancioneiro Popular Português:

Pus-me as contar às avessas,

As pedras dessa coluna:

Nove e oito, sete e seis,

Cinco, quatro, três, dois, uma. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 201).

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RO 63 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Quando prás mais é sol posto, Já pra mim é o escurecer.

Todas fazem o seu gosto,

Só o meu não pode ser.

RO 64a

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Outubro de

2011.

Quinta-feira da Ascensão,

Toda a erva tem virtude. Queres amar meu coração

(...)

RO 64b530 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de escolaridade, vatural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Quinta-feira da Ascensão,

Toda a erva tem virtude. Quis amar teu coração,

Fiz diligências, não pude.

RO 64c531 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Quinta-feira da Ascensão,

Toda a erva tem virtude.

Quis lograr tê coração, Fiz diligências, nã pude.

RO 65 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

530 Em Évora, foi recolhida uma versão:

Quinta-feira da Ascensão

As flores têm virtudes;

Quis amar teu coração,

Fiz empenho mas não pude. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 312). 531 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Beja:

Quinta-feira dÁscensão

Toda a flor tem virtude.

Quis lograr teu coração,

Fiz diligências, não pude. (Delgado [1955], pág. 129)

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Quinta-feira da Ascensão,

Vão as moças à marcela,

Umas de blusa encarnada E outras de saia amarela.

RO 66 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 19 de

Novembro de 2011.

Quinta-feira da Ascensão,

Vão as moças à marcela.

Ainda torna a rebentar, Se a colheres com cautela.

RO 67532 Informante: Catarina Freira Capucho, 68 anos, reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz – foi contínua na escola da aldeia), analfabeta (sabe assinar, sabe ler pouco e

escrever) natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril de

2011.

Se eu soubera quem tu eras Ou quem tu vinhas a sere,

Nunca te teria dado

O meu génio a conhecere.

RO68533

Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Se eu soubesse ler,

Escrevia papel de prata. Escrevia-te em gratidão,

Como a tua mão me trata.

RO 69534

532 Manuel Joaquim Delgado recolheu as seguintes versões:

S’eu soubesse quem tu eras,

Ou quem haveras de ser,

Nunca t’eu teria dado

Meus segredos a saber. (Colos; Odemira; Mina da Juliana, Aljustrel; Mértola; Vale de Santiago,

Odemira, etc.)

S’eu soubesse quem tu eras,

Ou quem havias de ser,

Nunca t’eu teria dado

O meu rosto a conhecer. (Ferreira do Alentejo) (Delgado [1955], pág. 456). 533 A informante canta a composição. 534 Em Cancioneiro Popular Português, está publicada uma versão:

Se eu soubera que, voando,

Alcançava o que eu desejo,

Mandava fazer as asas,

Que as penas são de sobejo. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 63)

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de 2009.

Se eu soubesse que, voando,

Alcançava o que eu desejo, Mandava formar as asas

Nas penas em que me vejo.

RO 70535 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Sou um gajo cavalheiro,

Minha ideia é que me insina.

Tu herdaste o mineiro E a tua filha a concertina.

RO 71536 Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Tanta areia na cabeça

Nunca julguei que tivesses.

Elas não te ligam meia E tu parvo não no conheces.

RO 72a Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4

de julho de 2009.

Tenho pena de quem pena, Pena de quem penas tem.

Tenho penas de mim mesmo

Que peno mais que ninguém.

RO 72b

Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tenho pena que quem pena,

Pena de quem penas tem. Tenho pena de mim mesma

Que pena mais que ninguém.

535 De acordo com o informante, um rapaz dos Montes Juntos cantou a cantiga a uma rapariga da aldeia. 536 O informante explicitou que havia um indivíduo na sua terra que dizia que namorava com umas poucas

de raparigas mas era mentira, ele não namorava com ninguém e um dia ele estava dizendo isso junto de

alguns rapazes e então há um que lhe diz: [a cantiga].

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RO 73 Informante: Deolinda Caeiro Lopes, 75 anos, pasteleira, analfabeta (sabe ler e escrever), natural do

Outeiro, residente em Outeiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011.

Tenho pena, vivo triste,

Não posso viver alegre. Tenho o coração mais negro

Que a tinta com que se escreve.

RO 74537

Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Tens em casa uma amiga,

Não há meio de desovar. Pranta-lhe um pé na barriga,

Se queres ver enquanto ela pare.

RO 75538 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 82 anos, reformada, 2.º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 14 de Setembro de 2010.

Toda a vida fui pastor,

Toda a vida guardei gado. Tenho uma cova no peito

De me encostar ao cajado.

RO 76539 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Junho de 2009.

Trinta dias tem Novembro,

Abril, Junho e Setembro;

537 O informante explicou o contexto de enunciação da composição: O Sr. José Carmona tinha a mulher

grávida e um dia, na taberna, estava reclamando e dizia que a mulher nunca mais pare e há outro indivíduo

que lhe diz assim: [a composição]. 538 Uma versão muito próxima foi recolhida no Algarve:

Toda a vida fui pastor

Toda a vida guardei gado,

Tenho uma chaga no peito

De me encostar ao cajado. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 248).

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão, que afirma ser de uso generalizado:

Toda a vida fui pastor,

Toda a vida guardei gado.

Tenho uma nódoa no peito

De m’encostar ao cajado. (Delgado [1955], pág. 324). 539 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

Trinta dias têm Novembro,

Abril, Junho e Setembro;

Vinte e oito terá um

E os mais a trinta e um. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 247).

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257

Vinte e oito só há um

E o resto são trinta e um.

RO 77540 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de Junho de 2009.

Triste só, triste me vejo,

Triste sem ter alegria. Triste sou em considerar

Que alegre fui algum dia.

RO 78 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Uma silva, duas silvas,

É uma mancha sarrada.

Uma pica, outra arranha, Eu com silvas não quero nada.

540 Encontramos uma versão no Cancioneiro Popular Português:

Triste, sou, triste me vejo

Sem a tua companhia;

Tão triste que nem me lembro

Se alegre fui algum dia! (Lisboa, Penafiel) (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 33).

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Fornalhas (Vale de Santiago, Odemira): Triste sou e triste vivo,

Triste é minha alegria,

De triste já me não ‘lembra’

Se fui alegre algum dia. (Delgado [1955], pág. 257).

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2.2.6. Cantigas ao Despique

RCD 1541 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Abali das Casas Novas Contigo no pensar.

Corri outeiros e covas,

Pra contigo vir falar.

Resposta:

[…]

Eu bem sei que tu és boa Lá em casa dos teus pais.

Eu procuro pela pessoa,

Não procuro os cabedais.

Resposta: […]

Estou de abalo, vou-me imbora

Não demora um palito. Agora cantou o galo,

Logo canta o galarito.

RCD 2542 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Agora tudo namora,

Qualquer gaiato é casado. Governar mulheres e filhos

É que a porca torce o rabo.

Resposta:

De Lisboa me mandaram

541 A informante referiu que o Mestre Miguel, na altura em que estava interessado na Ramalha, quando

chegou ao baile e a viu a dançar com outro rapaz, cantou de imediato as duas primeiras quadras. Depois,

ela não sabia responder, meteu-se a minha Ti Inácia a cantar por ela e odepois ele disse assim, via que ela

que já andava com outro, cantando a terceira quadra.

A informante já não se recorda das respostas da Ti Inácia.

Por fim, a informante afirmou: Faziam-se e desfaziam-se namoros em cantigas. Era tudo em cantigas. 542 A informante lembrou-se de um senhor do Baldio (o Nã Se Queria) cantar a primeira quadra ao desafio.

A resposta foi dada por outro senhor. Disse que a composição foi cantada numa pausa da apanha da azeitona.

O primeiro verso da cantiga de resposta, De Lisboa me mandaram, é corrente nas cantigas do Cancioneiro

(cf. Leite de Vasconcelos [1983], pp. 58-59).

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259

Uma carta escrita a lápis,

Eu sou caçador de zorras,

Alserá que tu me escapes.

RCD 3

Informante: Luís Lopes dos Santos (Branquinho), 84 anos, reformado (sapateiro), 4º ano de escolaridade,

natural de Perolivas, residente em Gafanhoeiras. Recolha realizada em Perolivas, a 7 de Novembro de

2011.

Assim que te vi entrar, Logo disse: és cantador.

Armas cantigas no ar,

Tens cabeça de doutor.

Resposta:

De cabelo arrepiado,

Pareço mesmo um ouriço. Como posso ser doutor,

Se não tenho estudos para isso.

RCD 4543 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras

Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi

funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa

do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Estrada nova, correnteza

Que atravessa Portugal,

Nã queria maior riqueza Que ter um amor leal.

Resposta:

Valha-te Deus, criatura,

Que eu não sei o que receias.

Eu faço-te uma escritura

Com sangue das minhas veias.

RCD 5544 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos

543 A cantiga foi cantada por uma amiga da informante, que era da sua mocidade. Cantou-a a um rapaz

com quem “namoriscou” – no princípio do namoro. A resposta foi cantada pelo próprio rapaz. 544 A informante recordou a propósito do contexto da composição: uma rapariga gostava de um rapaz, cuja

mãe era viúva. Quando o rapaz chegou ao baile, cantou-lhe a primeira quadra. A rapariga ficou muito

admirada com a cantiga e de repente fez outra, em resposta. Depois foram os dois dançar e ajustaram-se.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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260

Eu gosto de ver chover,

Eu gosto de andar à chuva,

Eu gosto de amar e querer

O filho de uma viúva.

Resposta:

A tua cantiga finda, Ó amor, fica ciente,

Cara linda, cara linda,

És o meu amor pra sempre.

RCD 6545 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Fui acima ao loureiro

Corri-o de nó em nó. Mesmo que tu te vistas de verde,

Pra mim já estás de mais.

Resposta:

Os olhos do meu amor

São duas rodas dum carro.

Põe-se no meio da estrada Não deixam passar ninguém.

RCD 7 Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo,

residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de

2011.

Já Zé Galego nã canta

Porque sente a coisa torta. Apareceu-lhe hoje uma alma

Há um ano qu’era morta.

Resposta:

Rapazes de Monsaraz,

Levam esta pra contari:

Em nos546 anos são muitos,

545 A informante faz referência a umas cantigas que não eram versadas e parodia-as, pois a senhora a quem

se refere não sabia cantar. A lembrança disto fá-la rir muito. Era uma senhora que estava apartada do

marido. Conta que as pessoas da aldeia apanhavam barrigadas de rir ao ouvir o casal separado a cantar,

porque o que cantava não quadrejava.

A resposta da cantiga foi cantada pelo marido. 546 Expressão equivalente a "quando".

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261

Dão nas forças em faltari.

RCD 8 Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Lenço de quartinho e meio Ninguém usa se não eu.

Aqui anda na função

O alarve que mo deu.

Resposta:

Lenço de quartinho e meio

Aqui está quem to comprou. Com beijinhos e abraços,

O teu corpo é que o pagou.

RCD 9 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural

de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

Meu coração é de sal,

E água fria o não derrete. E todo o amor que é leal

Nunca falta ao que promete.

Resposta:

Aindas que atirem comigo

Ao mar por cima das ondas,

Não te deixarei de amar. Assim tu me correspondas.

RCD 10 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Não me dão pr'aí notícia

De uma flor que cantou.

Em que vaso foi gerada

E em que jardim se criou?

Resposta:

Em que jardim se criou Que importa você saber?

No vaso que foi gérada

Ninguém tem que lhe dizer.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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262

RCD 11547 Informante: Virgílio de Carvalho Paias, 89 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de São

Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a

7 de Dezembro de 2011.

Nas ondas do teu cabelo, Hei-de eu deitar-me a afogar,

Para que saibas, meu lindo amor,

Que há ondas sem ser no mar.

Resposta:

Nas ondas do meu cabelo,

Não te deixarei afogar. Sei nadar como um peixe,

Depressa te irei salvar.

RCD 12548 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras

Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi

funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Ó branca estrela de aurora,

Lavada no ouro em espuma,549 Aqui tens quem te adora,

Sem falsidade nenhuma.

Resposta:

Ó branca estrela de aurora,

Que se avista do postigo,

Meu amor, eu quer-te bem, Mesmo sem falar contigo.

RCD 13 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural

de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

547 A primeira quadra foi também recolhida por Manuel Joaquim Delgado, com variantes, em Beja,

Amareleja e Mina de S. Domingos e Alvalade:

Nas ondas do teu cabelo Hei-de-me ir afogar.

É p’ra que saibas, amor,

Que há ondas sem ser no mar. (Delgado [1955], 295).

O motivo temático das ondas do cabelo aparece em algumas quadras recolhidas no Cancioneiro Popular

Português, de José Leite de Vasconcelos (cf. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 628). 548 A informante relatou que um namorado cantou a primeira quadra, que foi respondida pela namorada.

Lembrou que os namorados antigamente se comunicavam através das cantigas e que esta composição ilustra

isso mesmo. 549 A informante explicou que é o sol.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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263

Ó fonte dos alendroinhos,

E tas de barreira a barreira.

Pra dançar os Sacainhos,

E pra cantar os de Ferreira.

RCD 14 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Os cantadores desta terra

Onde estarão metidos?

Ouviram falar na guerra,

Andarão pr’aí fugidos?

Resposta:

Eu vinha pr’aqui passando Mas não vinha atencionado.

Eu ouvi estar bradando,

Vim acudir aos teus brados.

Tas assentada, não balhas,

Nesta cadeira sem fundo.

Levanta-te, vem balhar,

És o enlevo de todo o mundo.

RCD 15 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Quando eu me juntei, Houve muitos que se admiraram.

Mas nunca me apartei

Como alguns se apartaram.

Resposta:

Chamaram-me mal casado,

Eu bem casado não estou. Dei um nó tão apertado,

Nunca mais se desatou.

RCD 16

Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Se o despique é comigo,

Já me ponho de joelhos. Ponho-te um pé na barriga,

Deitam-te unhas aos chavelhos.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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264

RCD 17550 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural

de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

Se quiseres que eu seja teu, Manda ladrilhar o mar.

E depois do mar ladrilhado,

Eu serei teu se calhar.

Resposta:

Eu das ondas fiz paredes,

Das estrelas o telhado, Dos peixes ladrilhos verdes,

Aí tens o mar ladrilhado.

RCD 18 Informante: António Ramalho, 95 anos, reformado, analfabeto, natural de São Marcos do Campo,

residente em São Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de Dezembro de

2011.

Sou pobre, nã tenho nada,

Senão o meu coração.

A minha riqueza é

A boa consideração.

Resposta:

Ó tempo, mê belo tempo,

Ó tempo que já lá vai,

Ó tempo quem te pudera

Fazer voltar atrás.

RCD 19a551 Informante: Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia), 81 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada

em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Tas assentada, não balhas, Numa cadeira sem fundo.

550 No Cancioneiro Popular Português, de José Leite de Vasconcelos, encontrámos uma versão da primeira

quadra, no feminino, que apresenta uma promessa no verso 4, em vez do desdém da quadra que recolhemos:

Se queres que eu seja tua

Manda ladrilhar o mar;

Depois de o mar ladrilhado

Serei tua sem faltar… (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 539). 551 A resposta à primeira cantiga também foi recolhida como quadra solta e classificada como “cantiga

toponímica” (RCT 25 a e RCT 25b). A Ti Lia cantava ao despique na sua mocidade, principalmente com o Ti Tenente. Chegaram a estar uma

noite inteira a despique. A informante contou: O nosso namoro foi sempre a despique. Ele arranjou namoro

com a Mari Rosa. O Ti Tenente cantou-lhe a primeira quadra da composição, à qual Ti Lia respondeu,

acusando-o de ser interesseiro.

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265

Levanta-te, vem balhar,

Enlevo de todo o mundo.

Resposta:

O meu monte fica, fica,

Lá pró lado da Defesa.

Namorasa por ser rica, Não é pela boniteza.

RCD 19b552 Informante: Maria Vitória de Sousa Serrano, 72 anos, reformada (doméstica), analfabeta, natural de

Moura (cresceu em S. Marcos do Campo, aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz.

Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

Estás assentado, não balhas

Numa cadeira sem fundo.

Levanta-te e vem bailar, Enlevo de todo o mundo.

552 Numa situação de despique, a informante relatou que cantou esta composição, dirigindo-se ao seu

marido (na época, namorado), porque estavam zangados.

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2.2.7. Cantigas de Roda

RCRo 1

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ao passar da ribeirinha,

Água sobe e água desce.

Deia a mão ao seu amor Antes que ninguém soubesse.

Antes que ninguém soubesse,

Dá-me cá abraços teus. Se não és o meu amor,

Vai-te embora, adeus.

À frente do amor, Brincas tu, brincar eu.

Anda cá para o meu braço,

Ninguém te quer mais do qu’eu.

RCRo 2a

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 66 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2010.

Cachopa do Minho,

Que Deus te abençoie,

Deixa o teu cantinho,

Vem até Lisboa. (...)

RCRo 2b Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Cachopa do Minho,

Que Deus te abençoa,

Deixa o teu cantinho,

Vem até Lisboa.

Mostrar como dançam

As tuas chinelas.

Ver os lisboetas Andar atrás delas.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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267

RCRo 3 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Em Castelo Branco, Toda a gente chora(bis)

Pela padeirinha

Que se vai embora.(bis)

Que se vai embora,

Que está d’abalada, (bis)

Bate, padeirinha,

Acerta a pancada. (bis)

Acerta a pancada,

Acertá no chão. (bis)

Bate, padeirinha, Amor do meu coração.

RCRo 4a553

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Erva cidreira, Que estais na varanda,

Quanto mais te rego

Mais a folha abranda.

553 Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:

Ó ERVA CIDREIRA

(«Moda» de dança de roda)

Ó erva cidreira,

Que estás no alpendre,

Quanto mais te regam,

Mais a silva prende.

Mais a silva prende,

Mais a rosa cheira;

Que ‘stás no alpendre,

Ó erva cidreira. (Beja)

Ó ERVA CIDREIRA

Ó erva cidreira,

Que ‘stás no alpendre,

Quanto mais te regam,

Mais a folha pende.

Mais a folha pende, Mais a rosa cheira;

Que ‘stás no alpendre,

Ó erva cidreira. (Colos; Odemira; Ervidel; Cuba; Mina da Juliana, Aljustrel; Ferreira do Alentejo

e Alvalade) (Delgado [1955], pp. 59-60).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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268

Mais a folha abranda,

Mais a rosa cheira,

Que estais na varanda,

Ó erva cidreira.

Uma moça bem garota,

Na maior força de amar,

Nega, amor, qu’eu também nego, Não me andes a falsear.

RCRo 4b

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olhos azuis

Que já foram meus, Agora são doutro,

Paciência, adeus.

Ó erva cidreira, Que estás na varanda,

Quanto mais se rega,

Mais a folha abranda.

Mais a folha abranda,

Mais a flor cheira,

Que estás na varanda,

Ó erva cidreira.

Quando eu não tinha

Com quem namorar,

Eu dava-te conversa Pró tempo passar.

Erva cidreira,

Que estás na varanda, Quanto mais se rega,

Mais a folha abranda.

Mais a folha abranda, Mais a flor cheira,

Que estás na varanda,

Ó erva na cidreira.

RCRo 5 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó Rosa das trinta folhas,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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269

Só tua mãe é que as tem.

Tu já pra mim não ôlhas

Com olhos de me qrer bem.

Ó Rosa, arredonda a saia,

Ó Rosa, arredonda-a bem.

Uma saia bem rodada,

Em qualquer mulher está bem.

Em qualquer mulher está bem,

Seja alta ou baixinha,

Ó Rosa, arredonda a saia, Redondinha, redondinha.

Redondinha, redondinha,

Redondinha, os caracóis, Esta é qu’era a moda nova

Que trouxeram os espanhóis.

Que trouxeram os espanhóis Trouxeram os japoneses

Esta é qu’era a moda nova

Dos soldados portugueses.

RCRo 6554

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Indo eu, indo eu, A caminho de Viseu,

Encontrei uma marreca

E a marreca era eu.

Ora ju, ju, ora já, já.

554 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

Indo eu…

Indo eu, indo eu

P´rà cidade de Viseu,

Indo eu, indo eu

P´rà cidade de Viseu,

Encontrei o meu amor,

Ai Jesus, que lá vou eu!

Encontrei o meu amor,

Ai Jesus, que lá vou eu!

Ora zus-truz-truz,

Ora, zás-trás, trás;

Ora zus-truz-truz,

Ora, zás-trás, trás!

Ora chega, chega, chega, Ora arreda lá p’ra trás!

Ora chega, chega, chega,

Ora arreda lá p’ra trás! (Estremadura e Ribatejo) (Leite de Vasconcelos [1975], pp. 133-134).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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270

RCRo 7

Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Lá detrás daquela serra,

Está um canito bebéu. (bis) Hei-de lhe cortar o rabo

Pra fita do meu chapéu. (bis)

- Ejoelha-te aos meus pés

E reza, reza a tua oração. (bis)

Levanta-te e vem dançar,

Mas dança com devoção. (bis)

RCRo 8 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Lá em cima está o tiro liro liro,

Cá em baixo está o tiro liro ló.

Juntaram-se os dois à esquina,

Tocando concertina, Dançando o sol e dó.

Comadre, minha comadre,

Eu gosto da sua afilhada. É bonita, apresenta-se bem,

Parece que tem as faces rosadas.

Lá em cima está o tiro liro liro, Cá em baixo está o tiro liro ló.

Juntaram-se os dois à esquina,

Tocando concertina,

Dançando o sol e dó.

Comadre, minha comadre,

Deixe ir o compadre à festa.

É bonito, apresenta-se bem, Parece que tem dois cornos na testa.

RCRo 9a Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Manelzinho você chora,

Você chora, quem lhe deu?

Vá lá mais meia volta, Ai Jesus, lá vou eu. (dança de roda e trocavam uns com os

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCRo 9b555 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Manelzinho, você chora, Você chora, rio eu.

Quem seria a lavadeira

Que o Manelzinho ofendeu?

Abre essas portas do peito,

Que o meu coração é teu.

Manelzinho, você chora,

Você chora, rio eu.

RCRo 9c556

Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Manelzinho, você chora,

Você chora, quem lhe deu?

Quem seria a vaidosa

Qu’o Manelzinho ofendeu?

RCRo 10557

555 O informante cantou a composição. 556 A informante cantou a composição. 557 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Lisboa:

A Triste Viùvinha

Olha a triste,

Olha a triste viùvinha,

Que anda,

Que anda na roda a chorar!

Anda a ver

Anda ver se encontra noivo,

Para com

Para com ela casar,

Que ela não

Que ela não tem que vestir

E ela não

E ela não tem que calçar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 108).

Manuel Joaquim Delgado também recolheu uma versão:

Olha a triste viùvinha,

Ela aí vem a chorar…

Eu juro que não há-de achar!

Que não há-de achar!... Com quem casar!

- Quer casar comigo?

- Não.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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272

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olha a triste viuvinha,

Que anda na roda a chorar. (bis) Anda a ver se encontra noivo

Para com ela casar. (bis)

- Queres casar? - Sim.

Ainda bem que já achou

A noiva para casar. (bis) Vai a dar a volta ao meio

Para o noivo lá ficar.

RCRo 11 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Olha os noivos,

Olha os noivos,

Já lá ‘levas um cabaço’,

Dois ou três hás-de levar;

Eu juro-te que não hás-de achar!...

Que não hás-de achar!... Com quem casar!

- Quer casar comigo?

- Não.

Já lá levas dois cabaços,

Três ou quatro hás-de levar;

Eu juro-te que não hás-de achar!...

Que não hás-de achar!...

Com quem casar!

-Queres casar comigo?

- Não.

Já lá levas três cabaços,

Quatro ou cinco hás-de levar;

Eu juro-te que não hás-de achar!...

Que não hás-de achar!...

Com quem casar!

-Queres casar comigo?

- Não.

Inda bem que já calhou

Noivo para se casar;

Dê a meia a volta ao centro,

Para o noivo lá ficar. (Beja e Fornalhas, Vale de Santiago, Odemira) (Delgado, [1955], pág. 62).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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273

O que estão fazendo lá dentro? (bis os 3 vv.)

Estão-se a preparar,

Estão-se a preparar,

Pró dia do casamento.

- Não te quero, não te quero,

Não te quero a ti, não. (bis)

- Só te quero a ti, só te quero a ti,

Amor do meu coração.

RCRo 12 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Novembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

O meu amor é padeiro,

Ó, ai, tem a cara enfarinhada, Ai, tem a cara enfarinhada.

Os beijos sabem-me a pão,

Ó, ai, eu nã quero comer mais nada. Ai, eu nã quero comer mais nada.

São laranjas, sim, sim,

São laranjas, sim, são, São laranjas, sim, sim,

É laranja, limão.

RCRo 13558 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

A Bela Menina

Ó minha bela menina,

Ó você que bem que cheira Cheira a cravo, cheira a rosa

Cheira a flor da laranjeira.

Cheira a flor da laranjeira,

Cheira a flor do alecrim.

Ó minha bela menina,

558 A informante cantou a composição. Contou que, no campo, quando havia pessoas em número suficiente

(Quando havia família que chegasse) e quando a pausa de descanso era mais prolongada, dançava-se A

Bela Menina. Esta cantiga também era cantada e dançada no Baile da Pinha, realizado durante a Quaresma. A informante afirmou ainda: Isto era bonito. Chamavamos-lhe A Bela Menina. Era muito bonito. Podia

não haver fartura de certas coisas (…), dantes éramos todas amigas umas das outras, tomara a gente

cantar todo o dia e aprender as cantigas. E agora sabe o que é isto [faz o gesto com os dedos de uma

tesoura], tesourinha de amolar (…), é cortar na pele umas das outras.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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274

Meu amor é Joaquim.

Meu amor é Joaquim,

O meu amor é Manuel. Ó minha bela menina,

Venha lá donde eu vier.

Batem as caixas no porto, E o meu coração é teu.

Manelzinho, ora você chora,

Você chora quem lhe deu?

RCRo 14a

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 12 de

Junho de 2009.

Ó raspa, ó raspa, E o raspa é coisa boa.

Aprendi a dançar o raspa

Com as meninas de Lisboa.

RCRo 14b

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4

de julho de 2009.

Ó raspa, ó raspa,

O raspa é coisa boa. Eu já vi dançar o raspa

Às meninas de Lisboa.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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275

2.2.8. Canções e Modas

RCM 1 Informante: Inácia Martins dos Santos, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de São Marcos

do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em São Marcos do Campo, a 7 de

Dezembro de 2011.

Abalaste, abalaste,

Não foi mais abalada.

Quando cá tornas a vir Já pra outro estou voltada.

Abalaste, não disseste:

“Saúde, amor, passa bem”. Essa é a primeira prova

De não me quereres bem.

RCM 2559 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

A cegonha traz No bico um raminho.

De meia encarnada,

Vem dando chegada

Ao seu velho ninho.

Ao seu velho ninho,

Ponha ovos, ponha,

Que seja bem vinda Branquinha, tão linda,

Lá vem a cegonha.

Senhora cegonha, Como tem passado?

Não há quem a veja,

Já vai pra igreja

Pousar no telhado.

Quando chega Agosto,

O bando levanta,

Anunciando a hora Que se vai embora,

Leva a meia branca.

RCM 3 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

559 O informante referiu que conhece a composição há várias décadas.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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276

Adeus, vila de Ferreira,

Tens uma fonte à entrada.

Para não morrer à sede, Deram-me água enxovalhada.

Deram-me água enxovalhada,

Cheia de sol e poeira. Tens uma fonte à entrada,

Adeus, vila de Ferreira.

RCM 4560 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

Afonso Henriques um dia

Ao Alentejo passou, Em S. Pedro das Cabeças

Suas tropas acampou.

Castro Verde nesse tempo E coisa que não existia,

E veio aqui pra combater

Afonso Henriques um dia.

RCM 5 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Abrill de 2011.

Ai romana, ai romana, Ai santinha, ai santinha,

Já te não tiram as nódoas

Que te pôs Pimentinha.

Que te pôs o Pimentinha,

Ao domingo e à semana,

Ai santinha, ai santinha,

Ai romana, ai romana.

560 O informante referiu que a composição é antiga.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Beja:

Afonso Henriques um dia

Além do Tejo passou;

Em S. Pedro das Cabeças

Suas tropas acampou.

Castro Verde nesse tempo

Quase que não existia;

Em S. Pedro batalhou

Afonso Henriques um dia. (Delgado [1955], pp. 36-37).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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277

RCM 6a Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de

escolaridade, natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realzada em Caridade, a 5 de

Novembro de 2011.

Ai, ai, trigueirinha, Linda moça trigueira,

(...)

Nesta rua, vou entrando, Alegram-se os moradores.

Vou dar vistas aos mês olhos

E alegria aos mês amores.

Ai, ai, trigueirinha,

Linda moça trigueira,

Sendo assim trigueirinha, ai, ai

Já não há quem te queira.

Já não há quem te queira

Quero eu que és minha.

Linda moça trigueira, Das trigueiras a rainha.

RCM 6b561 Informante: Domingos Gaspar dos Santos Ramalho, 68 anos, reformado (moiral de gado bravo),

analfabeto, natural do Outeiro, residente em Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Santo

António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 10 de Outubro de 2011.

Ai, ai, trigueirinha,

Lindas moças trigueiras.

Sendo assim trigueirinha, ai, ai,

Já não há quem te queira.

RCM 7562

561 O informante cantou a composição e referiu que esta composição era uma das que se cantava mais no

campo. 562 A informante cantou a composição, que classifica de cantiga.

José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão:

Alecrim,

Alecrim aos molhos,

Por causa de ti

Choram os meus olhos.

Meu amor,

Quem te disse a ti

Que a ‘felor’ do monte

Que é o alecrim?

Alecrim,

Alecrim dourado,

Que nasce no monte

Sem ser semeado! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 121).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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278

Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Alecrim,

Alecrim doirado,

Que nasceste no campo, Sem seres semeado.

Quem te disse a ti, Ó meu lindo amor,

Que a flor do campo

Qu’era o alecrim?

Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:

O ALECRIM

Alecrim,

Alecrim aos molhos,

Por causa de ti

Choram os meus olhos

Coro

Lindo amor,

Quem te disse a ti

Que a flor do mato

Qu’era o alecrim?

Alecrim,

Alecrim dourado,

Que nasce no campo

Sem ser semeado.

Coro

Lindo amor,

Quem te disse a ti

Etc. (Fornalhas – Vale de Santiago)

O ALECRIM

Alecrim,

Alecrim doirado

Que nasceu no campo

Sem ser semeado.

Coro

Ai! Amor,

Quem te disse a ti

Que a flor do campo

Que era o alecrim?

Alecrim,

Alecrim aos molhos,

Por causa de ti

Chorom nos meus olhos.

Ai! Ó amor amor,

Quem te disse a ti

Que a flor do campo

Que era o alecrim? (Beja; Ervidel; Colos; Odemira e Alvalade) (Delgado [1955], pág. 56).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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279

E alecrim,

Alecrim aos molhos,

Por causa de ti, Choram nos meus olhos.

RCM 8563 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Alentejo canta

Modas imortais. Os campos florescem

E as papoilas crescem

Por entre os trigais.

Por entre os trigais,

Ouvem-se as gargantas.

O povo cantando,

Lá vai saudando, Alentejo canta.

Alentejo dia,

Quem pra ti olhares Virás com certeza

Que a nossa riqueza

Nos irá salvar.

Nos irá salvar,

É nosso desejo

Águas nos teus campos,

Alqueva e Galé, Um dia Alentejo.

RCM 9 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Algum dia cantando,

Ria-se o céu, ria a terra,

Agora ficou chorando, Já eu não serei quem era.

Ó minha amora madura,

Diz-me quem te amadurou. Foi o sol, foi a geada,

O calor que ela apanhou.

563 O informante referiu que conhece esta moda desde a sua mocidade.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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280

O calor que ela apanhou,

Lá no meio da silveirinha.

Ó minha amora madura, Minha amora madurinha.

RCM 10 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Set embro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Algum dia era eu

No teu prato a melhor sopa. Agora sou veneno

Qu’entrou nessa tua boca.

Quem tem pai tem suprior, Quem tem mãe supremo tem.

Franciquinha, meu amor,

Tu é que hades ser meu bem.

Tu é que hades ser meu bem,

Tu é que és a minha amada.

Francisquinha, meu amor,

Ó minha rosa encarnada.

RCM 11a Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Algum dia me dizia

Eras minha saudade.

Agora em tão pouco tempo

Me perdeste a amizade.

Lindo ramo verde escuro,

A casa dos passarinhos.

Eles cantam docemente Pousados nesse raminho

Pousados nesse raminho,

Cantam sempre ao ar puro, A casa dos passarinhos,

Lindo ramo verde escuro.

RCM 11b Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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281

Alto ramo verde escuro,

A sala dos passarinhos.

Eles vivem ao ar puro

Cantando nesses raminhos.

Cantando nesses raminhos,

Onde corre o ar tão puro,

E lindo ramo verde escuro, A sala dos passarinhos.

RCM 11c Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,

natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Lindo ramo verde escuro,

E ó casa dos passarinhos,

Onde cantam docemente, Pousados nesse raminho.

Pousados nesse raminho

E andam vivendo ao ar puro, E ó casa dos passarinhos,

Lindo ramo verde escuro.

RCM 12 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Algum dia me dizias

Que eras minha saudade. Agora em tão pouco tempo

Me perdeste a amizade.

- Ó morena, porque não dança, É porque cansa ou não tens par?

- Meus senhores, venho da França,

Lá não se dança, não sei dançar.

RCM 13

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Algum dia eu era

Reis dos bons cantores.

Agora já sou

Dos mais enfreores.

Estava d’abalada,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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282

Lá pró meu montinho,

Saiu-me uma rosinha,

Dançando ô caminho.

Como é? Ela é linda,

É bela e formosa,

Dançando ô caminho,

Saiu-me uma rosa.

RCM 14a Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,

natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

À luz daquela candeia,

Foi feito o teu casamento.

Ó candeia não te apagues,

Que hás-de ir ao juramento.

Olha a noiva se vai linda,

No dia do seu noivado,

Deixa o pai e deixa a mãe, Vai viver com o seu amado.

Vai viver com o seu amado,

Vai viver com seu marido, Olha a noiva se vai linda,

Olhando pró seu vestido.

RCM 14b564 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Hoje, na igreja,

Entrou um ramo de laranjeira. Ai trata-a bem com lealdade,

Ai que é ela a tua companheira.

Ó Rosa, já te casaste, O António te apanhou.

Ai, Deus queira que sempre digas:

- Ai se bem estava, melhor estou.

Olha a noiva, se está linda,

Olhando pró seu vestido,

Ai deixa pai e deixa mãe,

Ai vai viver com seu marido.

564 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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283

Vai viver com seu marido,

Vai viver com seu amado.

Ai, olha a noiva, se está linda,

Ai, no dia do seu noivado.

RCM 15 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Anda aqui uma menina,

Traz bastante cegueira.

Ela deu ao seu rapaz Uma linda fuzileira.565

Uma linda fuzileira,

Ó que prenda tão bonita, É bordada, está bem feita,

Mal empregada ser de chita.

RCM 16a566 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9

de Abrill de 2011.

Ao romper da bela aurora,

Vai o pastor da choupana,

Gritando em altas vozes: - Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama,

Mais padece quem namora. Sai o pastor da choupana,

Ao romper da bela aurora.

RCM 16b Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

565 Segundo testemunho do informante, a fuzileira era uma bolsa feita para guardar a isca (planta que depois

de seca era batida), o fuzil e a pederneira (pedra usada para acender o cigarro). As raparigas costumavam

fazê-las, decorando-as com bordados ou missangas, por exemplo, e ofereciam-nas aos namorados. Os

homens mais velhos costumavam mandar fazê-las em pele. 566 Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Colos (Odemira):

Ao romper da bela aurora,

Sai o pastor da choupana;

Vem gritando em altas vozes:

Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama,

Mais padece quem adora;

Sai o pastor da choupana,

Ao romper da bela aurora. (Delgado [1955], pág. 27).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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284

Nem da esquerda ou da direita,

Na margem do Guadiana,

Melhor canta quem respeita A cadência alentejana.

Ao romper da bela aurora,

Sai o pastor da choupana. Vai gritando em altas vozes:

- Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama, Mais padece quem adora.

Sai o pastor da choupana

Ao romper da bela aurora.

RCM 16c Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Soa a voz do Alentejo,

No país está vibrando.

Nas ondas fortes do Tejo,

Saudades vai deixando.

Ao romper da bela aurora,

Sai o pastor da choupana.

Gritando em altas vozes: - Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama,

Mais padece quem adora. Sai o pastor da choupana

Ao romper da bela aurora.

RCM 17 Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Trabalhou durante 25 anos na Portucel

A ribeira, quando enche,

Vai de pedrinha em pedrinha.

O homem que leva a barca Leva o seu bem na barquinha.

Leva o seu bem na barquinha,

Leva tudo o que pertence. Vai de pedrinha em pedrinha,

A ribeira quando enche.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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285

RCM 18a Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

do Campinhoo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a

11 de Setembro de 2010.

A ribeira vai cheia E o barco não anda.

(...)

RCM 18b Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Ribeira vai cheia

E o barco não anda.

Tenho o meu amor Lá naquela banda.

Lá naquela banda

E eu cá deste lado. Ribeira vai cheia

E o barco parado.

RCM 18c Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Setembro de 2010.

Ribeira vai cheia

E o barco não anda. Tenho o meu amor

Lá naquela banda.

Lá naquela banda E eu cá deste lado.

Ribeira vai cheia

E o barco parado.

E esta noite à meia-noite

Eu ouvi cantar e chorei.

Lembro-me da mocidade,

Tão novo a deixei.

Ribeira vai cheia

E o barco não anda.

Tenho o meu amor Lá naquela banda.

Lá naquela banda

E eu cá deste lado. Ribeira vai cheia

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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286

E o barco parado.

RCM 19567 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Alcochete, a 1 de dezembro de

2009.

Às vezes, lá no monte

Faço vazas de ganhão.

Trabalho com dois bois valentes Que fazem tremer o chão.

Que fazem tremer o chão,

Quando vão beber à fonte. Faço vazas de ganhão

Às vezes lá no meu monte.

RCM 20 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Atirei o tiro à pomba,

A pomba no ar voou. Foi pousar naquela roseira,

A maldita pomba nunca mais voltou.

Quando vem o dono dela, Ao por ela procurar,

Digam-le que volte atrás

A buscar a pomba ao seu pombal.

RCM 21a Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

A Virgem Senhora d’Aires,

Onde ela foi apracida,

Entre Viana e Guiar,

No meio de uma lameda metida.

Numa lameda metida,

Essa ditosa santinha.

Foi solteiro, veio casado, Foi milagre da santinha.

Foi milagre da santinha,

Foi milagre do senhor. A Virgem Senhora d’Aires

567 O informante afirmou: Eu era rapaz já ouvia essa moda. Era muito cantada nos arraiais.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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287

Tão linda está no seu andor.

RCM 21b568 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu vi minha mãe rezando

Aos pés da Virgem Maria.

Era uma santa escutando O que outra santa dezia.

Ó Nossa Senhora d’Aires,

Está metida num deserto. Quando chega a mocidade

Me parece um céu aberto.

Me parece um céu aberto Com toda a sua gentinha.

Foi solteira, veio casada,

Foi milagre da santinha.

RCM 22569

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Cala-se aí, ó meus netos,

Deixem cantar o avô,

Para ver se ainda canta,

Como algum dia cantou.

A mocidade voltasse

Como volta a primavera,

568 O informante cantou a composição.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Beja:

A Nossa Senhora d’Aires

A Nossa Senhora d’Aires

Está metida num deserto;

Em chegando a mocidade,

Ai!

Me parece um céu aberto!

Me parece um céu aberto,

Com toda a sua gentinha;

Fui solteira, sou casada,

Ai!

Com milagres da Santinha! (Delgado [1955], pág. 26). 569 O informante disse que ouviu esta moda ao seu pai, quando andava atrás das ovelhas. Nunca a ouviu a

mais ninguém. Diz que o seu pai a pode ter aprendido quando andou a trabalhar em algumas propriedades

agrícolas mais distantes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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288

Ouviam cantar os homens

Como cantava a Severa.

Como cantava a Severa, Como a Severa cantou,

Essa mulher já morreu

Alguns alunos deixou.

Alguns alunos deixou

Pra cantar à alentejana.

Ó quem me dera, Severa,

Cantar em tua companha.

RCM 23570 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Cantando ganhei dinheiro,

Cantando se ma acabou.

O dinheiro que é mal ganho Algo o deu, algo o levou.

Ó meio tostão, meio tostão,

Deixa lá passar a gente. Cada vez tenho mais notas,

Cada vez estou mais contente.

Cada vez estou mais contente, Cada vez tenho mais massa.

Ó meio tostão, meio tostão,

Deixa lá passar quem passa.

RCM 24571 Informante: António da Silva Fialho (Taranta), 81 anos, reformado (trabalhador rural), 1º ano de

escolaridade, natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade a 5 de

Novembro de 2011.

Canta o melro no silvado,

O rouxinol na ribeira. Ó minha pombinha branca,

Quero ir à tua beira.

Quero ir à tua beira, Quero viver ao teu lado.

Rola pomba na azinheira

Canta o pardal no telhado.

570 O informante referiu que o seu pai cantava muio esta composição, quando andava atrás do gado. 571 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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289

RCM 25 Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz (em

casa), a 11 de Setembro de 2010.

Ceifeira, ceifeira, linda ceifeira, E eu hei-de, e hei-de cantar contigo,

Lá nos campos, secos campos, (bis)

À calma ceifando o trigo.

E à calma, e à calma, ceifando o trigo,

Pela força do calor,

Ceifeira, ceifeira, linda ceifeira,

E hás-de ser o meu amor.

RCM 26 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural

de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

Chamaste-me extravagante Por eu ter uma noitada.

Eu sou um rapaz brilhante,

Recolho de madrugada.

Recolho de madrugada,

Mesmo agora neste instante.

Por eu ter uma noitada,

Chamaste-me extravagante.

RCM 27a572 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Chapéu preto, carapuço

Isso é bom pra mô do frio.

Anda agora muito em moda A moda do assobio.

Pela rua, ia passando,

Eu ouvi: pst, pst, Eu logo repondi: [assobia]

Passou-se uma, duas, três,

Quatro, cinco, seis, sete, Oito, nove, dez semanas,

Um barquinho a navegar.

572 O informante referiu que ouvia esta cantiga quando era rapaz.

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290

RCM 27b Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Trabalhou durante 25 anos na Portucel

Quem quer bem dorme na rua À porta do seu amor. (bis)

Faz das pedras cabeceira,

Faz das estrelas cobertor. (bis)

Pela rua, ia passando,

Quando ouvi: pst, pst, (bis)

E eu logo respondi: [assobia] (bis)

Chapéu preto e carapuça

É bom por causa do frio. (bis)

Anda agora muito em moda

A moda do assobio. (bis)

Pela rua, ia passando,

Quando ouvi: pst, pst,(bis)

E eu logo respondi: [assobia] (bis)

Passaram-se uma, duas, três

Quatro, cinco, seis, sete,

Oito, nove, dez semanas. E o barquinho?

O barquinho navegar.

RCM 28573 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Das povoações que eu conheço

Fiz uma comparação. Comparei Moura com Serpa,

As Pias com Baleizão.

Granja com Amareleja E Safara com a Póvoa.

Santo Aleixo com Barrancos,

Brinches com Aldeia Nova.

Portel, Alqueva, Amieira,

Serpa, Brinches e Baleizão.

Évora, Beja, Vidigueira,

Moura, Monsaraz, Mourão.

573 O informante disse que aprendeu a composição com o seu pai.

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291

RCM 29 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

É bonito ver o lavrador Deitar a mão à semente,

Seja alta ou baixinha,

Passa a vida alegremente.

É bonito ver nos campos

Pachorrentos bois lavrando,

Atrás vem o almocreve, Alegremente, cantando.

RCM 30574 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural

de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

E já lá vem o Serpa Pinto,

Cortando as águas do Tejo.

E vem buscar homens pá guerra

Ao vosso Baixo Alentejo.

Ó nosso Baixo Alentejo,

E são homens de Portugal,

E cortando as águas do Tejo, E cortando as águas do mar.

RCM 31 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

É pra que saibas, Mariquita,

Que eu sou o rendeiro do ranho. Eu tenho um frio tamanho

Que não me pára a monquita.

Eu sou como o burro do Safara, Quando perdeu a peia.

Se Deus não me remedeia

Perco a cucharra.

RCM 32

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

574 O informante referiu que se cantava muito esta composição antigamente.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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292

Eu cuidava que o amor

Era só mangar e rir.

Agora fui exprementar

Até me tira o dormir.

Linda jovem era pastora,

Andava a guardar seu gado.

Em vindo à tarde, à tardinha, Chorava a jovem sozinha,

Pensando em seu bem amado.

Pensando em seu bem amado, Não pensando em mais ninguém,

Em vindo à tarde, à tardinha,

Chorava a jovem sozinha,

Pensando em seu lindo bem.

RCM 33 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu fui a uma caçada,

Ó Maria Rita, eras tão bonita,

No meio da cevada, aveia.

Estava uma lebre deitada

Ó Maria Rita, eras tão bonita

Não era minha, deixei-a.

A lebre estava chumbada,

Ó Maria Rita, eras tão bonita,

Dei ao gatilho, matei-a.

RCM 34575 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu hei-de ir, hei-de ir

À tu casa um dia,

Pra ver se me mostras A mesma alegria.

Que lindas donzelas,

Que há na freguesia, 575 O informante disse que aprendeu a composição com um homem da Amareleja, quando era pequeno. O

senhor andava a fazer o alavão com o seu pai. A pessoa que fazia o alavão era a pessoa que transportava o

leite do local onde as ovelhas eram ordenhadas para o local onde se faziam os queijos. Também ajudava na

ordenha. Assim, o alavão é todo o processo de fabrico dos queijos, desde a ordenha até ao próprio fabrico.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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293

São lindas e belas,

Têm simpatia.

Têm simpatia E sinceridade.

Há na freguesia

Linda mocidade.

Eu queria-te bem

A valer, deveras.

Tu é que és a tola

Que não consideras.

Que lindas donzelas,

Que há na freguesia.

São lindas e belas, Têm simpatia.

Têm simpatia

E sinceridade. Há na freguesia

Linda mocidade.

RCM 35 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu já vi nascer das rochas Regatinhos de água fresca.

Um amor que a gente gosta

Só por morto é que se deixa.

Abre-te, ó campa sagrada,

A minha mãe quero ver.

Quero-lhe beijar o rosto,

Antes de a terra o comer.

Antes de a terra o comer,

Antes de a terra o estragar,

Abre-te, ó campa sagrada, A minha mãe quero beijar.

RCM 36576 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

576 O informante contou que ouviu esta composição, pela primeira vez, quando tinha aproximadamente 11

anos.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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294

Eu não sei, amor,

Como te hei-de amar,

Que o mundo não tenha

De nós que falar.

Estando eu à porta sentado,

Gozando do fresco,

Sem ter namorado, Passam certas mulatinhas,

Cabelo à janota,

Todas catitinhas.

Pego no meu capote, Vou-me atrás delas,

Com certas meiguices,

Chamando por elas:

- Pois venha cá. - Eu não vou lá,

Já fui à Baía,

Meu bem, ao Pará.

RCM 37a577 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em 7

de Novembro de 2011.

Eu queria ter uma amiga

Que igualasse ô mê prazêre. As amigas de hoje em dia

São de levar e trazer.

Não quero que vás à monda Nem à ribeira lavari.

Só quero que m’acompanhes

No dia em que m’ê casari.

No dia em que me eu casari,

Hades ser minha madrinha.

Não quero que vás à monda

Nem à ribeira sozinha.

577 A informante cantou a composição.

Foi recolhida uma versão em Beja:

Não quero que vás à monda

Nem à ribeira lavar;

Só quero que tu me acompanhes

Ó meu lindo amor!

No dia em que m’eu casar.

No dia em que m’eu casar Hás-de ser minha madrinha;

Só quero que me acompanhes,

Ó meu lindo amor!

Eu não quero ir sozinha. (Delgado [1955], pág. 54).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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RCM 37b578 Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Não quero que vás à monda, Não quero que vás mondar,

Só quero que me acompanhes,

Ó meu lindo amor,

No dia em que m’eu casar.

No dia em que m’eu casar, (bis)

Há-de ser minha madrinha.

Não quero que vás à monda, E ó meu lindo amor,

Nem à ribeira sozinha.

RCM 38579 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu sou dividor à terra,

A terra me está devendo. A terra paga-me em vida,

Eu pago à terra em morrendo.

Nós semos trabalhadores, Que no campo trabalhemos,

Trabalhemos com ardor

Qremos o nosso valor.

Para ver se nos mantemos.

Quando trabalho não temos,

À Cambra nos dirigimos,

A pedir o presidente Que tenha dó desta gente,

Que nos dê algum arrimo.

Que nos dê algum arrimo, Que nos dê algum gasalho,

À Cambra nos dirigimos,

Falando no que sentimos,

Quando não temos trabalho.

578 O informante cantou a composição. 579 O informante contou que aprendeu a composição com os barraquenhos quando tinha 16/17 anos, numa

altura em que vieram trabalhar na Estrada da Abaneja, numa altura de grande miséria, em que havia pouco

trabalho. Os trabalhadores eram distribuídos pela Casa do Povo nos locais onde havia trabalho, indicados

também pelas Câmaras.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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296

RCM39580 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu sou dividor à terra, A terra me está devendo.

A terra paga-me em vida,

Eu pago à terra em morrendo.

Senta-te aqui, ó António,

Senta-te aqui ou meu lado,

Nesta cadeirinha nova Feita da raiz do cravo.

Feita da raiz do cravo,

Feita da folha da rosa, Senta-te aqui ao meu lado,

Nesta cadeirinha nova.

RCM 40 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu sou o rei dos cabreiros,

Muitos pensam que não. Minhas cabras pr’aí vão

Espalhadas por esses outeiros.

Tenho trinta reboleiros Pra meter na chibarria.

É pra que saiba, senhora Maria,

Que eu sou o rei dos cabreiros.

RCM 41a581 Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

580 José Leite de Vasconcelos recolheu uma versão em Arcos de Valdevez:

Assenta-te aqui, António,

Menino, que vens cansado;

Nesta cedeirinha nova.

Feita da raiz do cravo.

Assenta-te aqui, António,

No banco do meu tear;

Faz-me aqui duas canelas

E ò mundo deixa-o falar. (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 123).

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão semelhante à nossa em Beja, Ervidel e Mina da Juliana

(Aljustrel) (cf. Delgado [1955], pág. 76). 581 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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297

Fui colher uma romã,

Estava madura no ramo.

Fui encontrar o jardim (bis) Aquela mulher que eu amo.

Aquela mulher que eu amo

Di-lhe um aperto de mão Tava madura no ramo

E o ramo chegava ao chão.

RCM 41b

Informante: Luís Mestre Dias, 70 anos, reformado (trabalhador rural e motorista), 4º ano de escolaridade,

natural de Alqueva, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Fui colher uma romã, Tava madura no ramo.

Fui encontrar no jardim

Aquela mulher que eu amo.

E aquela mulher que eu amo

Dei-lhe um aperto de mão.

Estava madura no ramo

E o ramo chega ao chão.

RCM 41c Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Os olhos requerem olhos,

O corações corações,

Os meus requerem os teus Em certas ocasiões.

Fui colher uma romã,

Estava madura no ramo. Fui encontrar no jardim

Aquela moça que eu amo.

Aquela moça que eu amo Dei-lhe um aperto de mão.

Estava madura no ramo

E a romã chegava ao chão.

A romã chegava ao chão,

O ramo estava pendido.

Aquela moça que eu amo

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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298

Trago eu no meu sentido.

RCM 42 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Hei-de-te chamar

A estrela do Norte, Maria, já que Deus me deu

Tão bonita sorte.

Sem ires à pinguela, Sem ires à canada,

Maria, eu sou teu amor,

Tu és minha amada.

Tu és minha amada,

És amada minha.

Maria, olha o papagaio

De pena riscadinha.

Pena riscadinha, de pena amarela,

Maria, não vais ao monte,

Sem beber na fonte, Sem ires à pinguela.

RCM 43582 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Já não tenho pai nem mãe,

Nem nesta terra parente.

Sou filho das tristes ervas, Neto das águas correntes.

Marianita, meu amor,

Marianita, minha amada, Dá-me um beijo, ó linda flor,

Olha que eu estou de abalada.

Olha que eu estou de abalada, Mas que recorro os laços.

Dá-me um beijo, ó linda flor,

Que eu te darei um abraço.

582 O informante explicou que a cantiga (a primeira quadra) tem de ser cantada duas vezes, antes de se

cantar a moda.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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299

RCM 44 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Já que me pedes que eu cante, Eu vou te fazer a vontade.

Não sei que gosto é o teu

De ouvir cantar quem não sabe.

Avoa, pombinha, avoa,

Vai pousar o teu pombal.

Assim faz quem tem amores, Assim faz quem é leal.

Assim faz quem é leal,

Assim faz qualquer pessoa. Vai pousar no teu pombal,

Avoa, pombinha, avoa.

RCM 45583 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural

de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

Já morreu o boi Capote,

Camarada do Pombinho.

E já por’qui não há quem bote Regos à rés do caminho.

Regos à rés do caminho,

Regos à rés da estrada. Já morreu o boi Capote,

Só ficou o camarada.

RCM 46584

583 O informante contou que esta composição era cantada quando andavam no campo com os bois a lavrar

e exclama: A vida era tão alegre que a gente fazia a vida a cantar. 584 Em Beja, foi recolhida a seguinte versão:

Moreninha alentejana,

Quem te fez morena assim?

- Foi o sol da primavera

Que caía sobre mim.

Que caía sobre mim,

Que andava a ceifar o trigo;

- Moreninha alentejana,

Por que não casas comigo?

Por que não casas comigo?

- Por que não casas com ela’

Quem te fez morena assim’

- Foi o sol da primavera. (Delgado [1955], pág. 53).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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300

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Lavro a terra, ceifa o trigo,

Tiro a cortiça ao sobreiro, Também apanho azeitona,

Trabalhando o ano inteiro.

-Moreninha alentejana,

Quem te fez morena assim?

- Foi o sol da primavera

Que caía sobre mim.

- Que caía sobre mim,

Quando ceifava o trigo.

- Moreninha alentejana, Por que não casas comigo?

Por que não casas comigo?

Eu queria casar com ela. Quem te fez morena assim?

- Foi o sol da primavera.

RCM 47a585 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Levantei-me um dia cedo,

Fui passear ao campo. Encontrei o teu retrato, ai, ai,

Na folha do lírio branco.

585 O informante cantou a composição.

Foi recolhida a seguinte versão, em Beja:

Meu lírio roxo do campo,

Criado na Primavera,

Desejava, amor, saber

Ai! Ai!

A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,

Desejava, amor, saber;

Meu lírio roxo do campo,

Ai! Ai!

Oh! quem te fora acolher!

Oh! quem te fora acolher! Oh! meu amor, quem me dera!

Desejava, amor, saber

Ai! Ai!

A tua intenção qual era. (Delgado [1955], pág. 52).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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301

Meu lírio roxo do campo,

Criado na primavera,

Desejava, amor, saber ai, ai,

A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,

Qual era o teu preceder

Criado na primavera, Quem te pudesse colher.

RCM 47b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 69 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Junho de 2009.

Lírio roxo do campo,

Criado na Primavera,

Eu queria, amor, saber a tua intenção qual era

Um amor que eu queria tanto,

Criado na Primavera, Meu lírio roxo do campo.

RCM 47c Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 80 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11 de Junho de

2009.

Meu lírio roxo dourado,

Criado na Primavera.

Desejava, amor, saber, ai, ai

A minha intenção qual era.

A minha intenção qual era

Desejava saber, amor,

Lírio roxo do campo, Criado na Primavera, ai, ai.

RCM 47d586 Informante: Domingos Gaspar dos Santos Ramalho, 68 anos, reformado (moiral de gado bravo),

analfabeto, natural do Outeiro, Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio,

a 10 de Outubro de 2011.

Meu lírio roxo do campo,

Criado na Primavera.

Eu desejava saber, ai, ai, Tua intenção qual era.

Tua intenção qual era,

586 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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302

Um amor que eu queria tanto,

Criado na Primavera, ai, ai,

Meu lírio roxo do campo.

RCM 47e587

Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Meu lírio roxo do campo, Criado na Primavera,

Desejava, amor, saber, ai, ai

A tua tenção qual era.

A tua tenção qual era,

Um amor que eu queria tanto,

Criado na Primavera, ai, ai,

Meu lírio roxo do campo.

RCM 47f Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 70 anos, reformado, 4.º ano de escolaridade, natural

do Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Setembro de 2010.

Meu lírio roxo do campo, Criado na Primavera,

Desejava, amor, saber

A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,

Um amor que eu cria tanto,

Criado na Primavera, Meu lírio roxo do campo.

RCM 47g Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Meu lírio roxo de o campo,

Criado na Primavera,

Desejava, amor, saber, ai, ai

A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era

Desejava, amor, saber, ai, ai

Criado na Primavera, ai, ai Quem te pudera colheri.

587 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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303

RCM 47h Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Setembro de 2010.

Meu lírio roxo do campo, Criado na Primavera,

Desejava, amor, saber, ai, ai,

A tua intenção qual era.

A tua intenção qual era,

O amor que eu cria tanto,

Criado na Primavera, ai, ai,

Meu lírio roxo do campo.

Toda a vida fui pastor,

Toda a vida guardei gado.

Tenho uma cova no peito, ai, ai, De me encostar ao cajado.

De me encostar ao cajado,

Lá nos campos a rigor, Meu lírio roxo do campo, ai, ai,

Criado na Primavera.

RCM 48a588 Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Manjerico de a janela,

Dá-me a mão, quero subir.

Eu queria falar com ela Mas à porta não posso ir.

Mas à porta não posso ir

E eu queria falar com ela. Dá-me a mão, quero subir,

Manjerico de a janela.

588 A informante cantou a composição.

Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:

Manjerico da janela,

Dá-me a mão, quero subir;

Eu quero ir falar com ela,

Pela porta não posso ir.

Pela porta não posso ir,

Eu quero ir falar com ela;

Dá-me a mão, quero subir,

Manjerico da janela. (Serpa; Beja; Moura e Vale de Santiago) (Delgado [1955], pág. 48).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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304

RCM 48b589 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Venho daqui tantas léguas, Só ô fim deste barulho,

Pensava qu’eram bolêtas

Saíram-me cascabulho.

Manjerico da janela,

Dá-me as mãos, qu’eu quero subir.

Eu queria falar com ela

Mas à porta nã posso ir.

Mas à porta nã posso ir,

Eu queria falar com ela.

Dá-me as mãos, qu’eu quero subir, Manjerico da janela.

RCM 49 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Meu amor foi para o mar

E à pesca da sardinha,

Se por lá o encontrares, Dá-le saudades minhas.

Se fores ao mar pescar,

Pesca-me uma margarida. Margarida é minha amada,

Andava no mar perdida.

Andavas no mar perdida, No meio de água salgada.

Pesca-me uma margarida,

Margarida é minha amada.

RCM 50

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Minha linda pastorinha,

Estás na serra degredada.

Vem pró jardim do meu peito,

Se tu queres ser bem estimada.

589O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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305

Se tu queres ser bem estimada,

Deixarás de andar sozinha.

Regressa para a cidade,

Minha linda pastorinha.

RCM 51590 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Mondadeiras, lindo rancho,

Lenço de todas as cores,

Vão mondando e vão cantando Cantigas aos seus amores.

Um dia mais tarde quando

Chega à ceifa, que alegria! Vão ceifando e vão cantando,

Passa mais depressa o dia.

É bonito ver no campo Tão lindas, ceifando,

Ceifeirinha alentejana,

Numa das mãos leva a foice, Tão linda, ceifando.

Noutra os canudos de cana.

Com seu traje à camponesa Tão linda, ceifando,

Sempre de chapéu ao lado.

Numa das mãos leva a foice Tão linda, ceifando

As espigas do pão sagrado.

RCM 52a Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Moreninha alentejana,

Quem te fez morena assim?

- Foi o sol da Primavera Que caía sobre mim.

Que caía sobre mim

Quando passava no campo, Moreninha (...)

590 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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306

RCM 52b Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 9 de

Outubro de 2011.

-Moreninha alentejana, Quem te fez morena assim?

- Foi o sol da Primavera

Que caiu sobre mim.

- Que caiu sobre mim,

Que caiu sobre ela.

- Quem te fez morena assim?

- Foi o sol da Primavera.

RCM 53 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Na campina alentejana,

Cantam à sua maneira

Cantigas aos seus amores,

Lindas moças mondadeiras.

Lindas moças mondadeiras,

O seu lenço tapa o rosto,

Apanhando chuva e lama É do nascer ao sol-posto.

De manhã vão pró trabalho,

A trabalhar ganham fama. O seu lenço tapa o rosto,

Mondadeira alentejana.

RCM 54 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Não julguem por eu cantar A vida alegre me corre.

Eu sou como o passarinho,

Tanto canta até que morre.

Santo Antoninho da serra,

Onde foi fazer morada,

Lá no mais alto rochedo,

Atira, não mata nada.

Atira, não mata nada,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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307

Quem atira também erra,

Onde foi fazer morada,

Santo Antoninho da serra.

RCM 55591

Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de

Setembro de 2011.

Não julgues por eu cantar Que a vida alegre me corre.

Eu sou como o passarinho,

Tanto canta até que morre.

Ó erva cidreira,

Que estás no alpendre,

Quanto mais se rega

Mais a folha prende.

Mais a folha prende,

Mais a erva cheira

Que está no alpendre, Ó erva cidreira.

Além naquela janela,

Dois olhos me estão matando. Matem-me devagarinho

Que eu quero morrer cantando.

591 Manuel Joaquim Delgado recolheu duas versões:

Ó ERVA CIDREIRA

(«Moda» de dança de roda)

Ó erva cidreira,

Que estás no alpendre,

Quanto mais te regam,

Mais a silva prende.

Mais a silva prende,

Mais a rosa cheira;

Que ‘stás no alpendre,

Ó erva cidreira. (Beja)

Ó ERVA CIDREIRA

Ó erva cidreira,

Que ‘stás no alpendre,

Quanto mais te regam,

Mais a folha pende.

Mais a folha pende, Mais a rosa cheira;

Que ‘stás no alpendre,

Ó erva cidreira. (Colos; Odemira; Ervidel; Cuba; Mina da Juliana, Aljustrel; Ferreira do Alentejo

e Alvalade) (Delgado [1955], pp. 59-60).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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308

RCM 56a592 Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Trabalhou durante 25 anos na Portucel.

Ó águia que vais tão alta, Voando de pólo de pólo,

Leva-me ao céu onde eu tenho

A mãe que me trouxe ao colo.

A mãe que me trouxe ao colo

Que me está fazendo falta,

Voando de pólo em pólo,

Ó águia que vais tão alta.

RCM 56b

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó minha mãe, minha mãe, Ó minha mãe, minha amada,

Quem tem uma mãe tem tudo,

Quem não tem mãe não tem nada.

Ó águia que vais tão alta,

Voando de pólo em pólo.

Leva-me ao céu aonde eu tenho

A mãe que me trouxe ao colo.

A mãe que me trouxe ao colo,

Que me está fazendo falta,

Voando de pólo em pólo Águia que vais tão alta.

RCM 57 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó Elvas, Ó Elvas,

Badajoz à vista, Já não faz milagres

S. João Baptista.

S. João Baptista, S. Pedro, S. Paulo,

Ó Elvas à vista,

Badajoz ao lado.

592 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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309

RCM 58a593 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Novembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olha o cabreiro s’ele é fino, De velho passa a menino,

É um pouco inteligente.

Inda ontem veio das cabras, Com um chapéu sem ter abas,

Já conhece a promanente.

Como o cabreiro casou? Com uma moça tão bonita,

Chamada Maria Rita.

Todo o povo a enlevou.

RCM 58b

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Novembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Toda a gente se ademira

Dos couces que a besta atira. Como o cabreiro casou?

Vou tomá-la de empreitada

RCM 59594 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

outubro de 2009.

Oliveirinha da serra,

Dá-lhe o vento, leva a flore, Ó-i-ó-ai, só a mim ninguém me leva

Ó-i-ó-ai, lá pró pé do meu amor. (bis)

593 O informante cantou que se cantava no campo uma cantiga sobre os cabreiros (afirma que diziam que

os cabreiros eram assim ‘esparveirados’, mas não eram). 594 A informante cantou a composição e afirmou: Esta sei bem, dizendo satisfeita e a rir.

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma variante em Montes Velhos (Aljustrel)

Oliveirinha da serra,

O vento leva a flor;

Enquanto leva e não leva,

Vou falar ao meu amor.

Vou falar ao meu amor,

Vou falar ao meu benzinho;

Oliveirinha da serra,

Dá-lhe o vento no altinho. (Delgado [1955], pág. 64).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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310

RCM 60595 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó lampião, lampião, Alemeia a rua acima.

Namoro uma rapariga

Por acaso é minha prima.

Ó lampião, lampião,

Alemeia a rua abaixo

Eu perdi o meu anel Às escuras não o acho.

Às escuras não o acho

Deixei-o cair da mão Alemeia a rua abaixo,

Ó lampião, lampião.

O comboio que vai na calha Não saia da calha pra fora,

Estou a ver se cai da calha

Se não calha vou me embora.

Ó lampião, lampião,

Alemeia a rua abaixo

Eu perdi o meu anel

Às escuras não o acho.

Às escuras não o acho

Deixei-o cair da mão

Alemeia a rua abaixo, Ó lampião, lampião.

RCM 61596

Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Ó loureiro, ó loureiro,

Ó loureiro, linda rama, Por causa do loureiro

Anda o meu amor em fama.

Anda o meu amor em fama,

Deixá-lo andar,

Que à mais linda rosa

Me hei-de abraçar. 595 O informante cantou a composição. 596 A informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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311

RCM 62 Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Ó meu amor, Quem me dera trazer-te no coração

(…)

Se eu tiver a liberdade Que o sol e a lua tem,

Entrava na tua casa

Sem licença de ninguém.

RCM 63

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó minha mãe, ó minha mãe, Ó minha mãe, minha santa,

Uma mãe é sempre mãe,

Quando um filho chora ou canta.

Voa, voa, pombo-correio,

Voa, voa, sem parar,

Leva notícias ao meu lindo amor,

Que anda na guerra a lutar.

Que anda na guerra a lutar,

Lá por esse mundo fora

Ausentou-se do meu lado Naquela maldita hora.

RCM 64597 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

- Onde vás, ó Luizinha,

597 O informante apreendeu a composição com o seu pai.

Foi recolhida a seguinte versão:

Onde vás, ó Luisinha,

Com o teu cabelo à faia?

- Vou falar ao meu amor

Que anda nas ondas da praia.

Que anda nas ondas da praia, Anda no mar à sardinha;

Com o teu cabelo à faia,

Onde vás, ó Luisinha? (Beja, Cuba, Mértola, Aljustrel, Barrancos e Ervidel) (Delgado [1955], pág.

66).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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312

Com o teu cabelo à faia?

- Vou a ver o meu amor,

Que anda nas ondas da praia.

- Anda nas ondas da praia,

Anda no mar à sardinha.

- Com o teu cabelo à faia,

Onde vás, ó Luisinha?

RCM 65598 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó negra morte cruel,

Ó domadora da vida,

Onde é que tens o esquelete Da minha mãezinha tão querida.

Os ossos de minha mãe

Ouvi um dia dizer Que estavam no cemitério,

Não me lembro dela morrer.

Não me lembro dela morrer, Era ainda criancinha,

Abre-te, campa, quero ver

Os ossos de minha mãezinha.

RCM 66 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó rosa maravilhosa, Onde é que é o teu bem estar

Se não tens amor, ó rosa,

Vamos nós a combinar.

Rosa Branca, tu não vás

Ao meu jardim sem eu ir.

Tu por mim não és capaz

Fazer o que um homem faz, Leva a noite sem dormir.

Leva a noite sem dormir,

Pensando em ti, meu amor, 598 O informante explicou que só ouviu cantar esta moda a um rapaz de Oriola chamado Anastácio há cerca

de 50 anos – quando foi com outro senhor trabalhar para uma herdade perto de Oriola, chamada “As

Torres”. Mas, só passados um ano ou dois, é que aprendeu a moda na totalidade, quando se cruzaram

também em contexto de trabalho noutra herdade.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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313

Eu não posso resistir.

Rosa branca, deixa-me ir

Ao teu peito encantador.

RCM 67a599

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó Rosa, nunca consintas

Que um cravo te ponha a mão.

Uma rosa enxovalhada

Já não tem aceitação.

- Rosa branca desmaiada,

Onde deixaste o cheiro?

- Deixei-o no teu jardim À sombra do limoeiro.

- À sombra do limoeiro,

Onde não seja regada, - Onde deixaste o cheiro,

Rosa branca desmaiada.

Cantas bem, não cantas nada, Podias cantar melhor.

Pela fama que te dão

Tenho ouvisto obra melhor.

- Rosa branca desmaiada,

Onde deixaste o cheiro?

- Deixei-o no teu jardim

À sombra do limoeiro.

- À sombra do limoeiro,

Onde não seja regada,

- Onde deixaste o cheiro, Rosa branca desmaiada.

599 Foi recolhida uma versão em Cuba:

Rosa branca, desmaiada,

Onde deixaste o cheiro?

- Deixei-o na tua horta,

À sombra do limoreiro.

À sombra do limoeiro,

Para ver s’inda é regada;

Onde deixaste o cheiro,

Rosa branca, desmaiada? (Delgado [1955], pág. 75).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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314

RCM 67b Informante: Manuel Ramalho Furão, 75 anos, reformado (trabalhador rural/tractorista), 4º ano de

escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada

em Reguengos de Monsaraz, a 23 de Setembro de 2011.

-Rosa branca desmaiada, Onde deixaste o cheiro?

-Deixei-o nas tuas mãos,

À sombra do limoeiro.

- À sombra do limoeiro,

Onde não seja regado.

- Onde deixaste o cheiro,

Rosa branca desmaiada?

RCM 68 Informante: José Cardoso Pereira, 56 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Trabalhou durante 25 anos na Portucel

Pedimos a uma voz, Nossa Senhora, rogai por nós.

Nossa Senhora do Carmo,

Que estás lá no seu altar,

Todos lá vamos ajoelhar, A cantar, vamos rezar.

Senhora que és padroeira

Da nossa terra hospitaleira, Nossa senhora do Carmo,

Que estás lá no seu altar,

Todos lá vamos ajoelhar,

A cantar, vamos rezar.

RCM 69 Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Quando eu não tinha dava.

Agora tenho não dou.

Vai pedir a quem não tem,

Em eu não tendo te dou.

Ó minha pombinha branca,

Onde queres tu que eu vá.

É de noite, faz-se escuro, Tenho medo não vou lá.

Tenho medo não vou lá,

Tenho medo lá não vou.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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315

Ó minha pombinha branca,

Pra te amar aqui estou.

RCM 70 Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações: Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Quando eu era ganhão

Lá prós lados de Porteli, De samarra e gabão,

Na alcofa, pão e meli.

Na alcofa, pão e mele, São tempos que já lá vão,

Lá prós lados de Porteli,

Quando eu era ganhão.

Esta noite à meia-noite

Ouvi cantar e chorei.

Lembrei-me de a mocidade,

Queridos tempos que eu passei.

RCM 71600 Informante: Francisco Rodrigues Caeiro, 55 anos, reformado (foi GNR), 4.º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 11

de Setembro de 2010.

Se fores ao Alentejo, Não bebas em Castro Verde.

As fontes cheiram a rosa (bis)

E a água não mata a sede.

E a água não mata a sede.

Se fores ao Alentejo, (bis)

Província que eu mais invejo,

Não bebas em Castro Verde.

600 O informante cantou a composição.

Foi recolhida uma versão em Beja e em Alvito:

Se fores ao Alentejo,

Não bebas em castro Verde,

Que as fontes só têm rosas,

E a água não mata a sede.

E a água não mata a sede,

Cantar bem é qu’eu invejo;

Não bebas em Castro Verde,

Se fores ao Alentejo. (Delgado [1955], pág. 76).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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316

RCM 72 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Se fores um dia a Serpa, Procura pela Mariana.

É uma moça baixinha,

Até no cantar tem fama.

Ó menina Florentina,

É a flor que meu peito domina.

Seu amante delirante De viagem chegou nesse instante.

Já cá está o tiro liro liro, tiro liro ló,

Já cá está o tiro liro liro, meu amor, Já cá está o tiro liro liro, tiro liro lé,

Tiro liro liro, abre a porta, ó branca flor.

RCM 73 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Se as saudades matassem,

Ó linda morena, Já eu taria morrido,

Ó linda morena e ó linda morena.

Se algum dia era eu, Ó linda morena,

Algum dia eras tu,

Ó linda morena e ó morena linda.

RCM 74

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Se fores a Beja, Está uma roseira,

Tem o pé tombado

Pirolito olé, Para a Vidigueira.

Para a Vidigueira,

Para a Vila de Frades, Tem o pé virado,

Pirolito olé,

Não sei se já sabes.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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317

Não sei se já sabes,

Ou se já sabias

Tem o pé tombado, Pirolito olé,

Para São Matias.

Para S. Matias, Para S. Mateus,

Já te vás embora,

Pirolito olé,

Olha, Adeus, Adeus.

RCM 75601 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural

de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

Se fores ao mar à pesca,

E pesca-me uma margarida.

Margarida da minh’alma,

Que andavas no mar perdida.

E andavas no mar perdida,

Banhando em água salgada.

E pesca-me uma margarida, Margarida, és minha amada.

RCM 76602 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Se fores ao mar pescar,

Pesca-me uma margarida.

Margarida é minha amada, Andava no mar perdida.

Andava no mar perdida,

No meio de água salgada. Pesca-me uma margarida,

Margarida é minha amada.

RCM 77 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 71 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Setembro

de 2011.

Semeei salsa aos reguinhos,

601 O informante afirma: Também se cantava muito esta e era bonita. 602 O informante afirmou que aprendeu a composição quando tinha oito ou nove anos.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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318

Hortelã naquela banda.

Para lograr os teus carinhos,

Tive que andar em demanda.

Tive que andar em demanda,

Pra lograr os teus carinhos,

Hortelã naquela banda,

Semeei salsa aos reguinhos.

RCM 78 Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

Foi agricultor e trabalhou durante 20 anos na Portucel.

Tenho lá no meu quintali

Uma roseira enxertada,

Que dá rosas tantas

E tamém dá rosas brancas E dá outras enxertadas.

Que dá rosas enxertadas

E rosas de várias cores. (…)

RCM 79603 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Tenho na minha janela

O que tu não tens tua,

Um vaso de manjerico Que dá cheiro a toda a rua.

Que dá cheiro a toda a rua,

Tu és a moça mais bela, O que tu não tens na tua

Tenho eu à minha janela.

RCM 80604 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Tu é qu’és o meu rapaz,

Quando é que lá vás?

Vai o jardim das flores,

Ó meu lindo amor.

603 O informante disse que aprendeu a moda quando era pequeno. 604 O informante cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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319

Lá me encontrarás,

Se não me encontrares,

Pergunta quem tenha amores A quem namorar, ó linda flor.

Anda cá, meu boi Capote,

Camarada do Pombinho, Quem não for capaz

Não volte regos ao pé do caminho. (bis)

RCM 81605 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3º ano de escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo,

a 24 de Novembro de 2011.

Venho da Ribeira Nova

E passear ao laranjal. Trago sempre uma folhinha

No laço do avental.

No laço do avental, Pá barra do teu vestido.

Ai de mim que eu vou prá tropa,

Deixa-me ir dormir contigo.

605 Foi recolhida a seguinte versão, com muitas variantes, em Baião:

Venho da beira do rio

De regar o meu nabal: Já cã trago ữa folhinha

No laço do avental.

No laço do avental,

Vai o meu amor p’ra guerra

Se ele for e não voltar

Fechai-me aquela janela!

Fechai-me aquela janela,

Fechai-me aquele postigo,

Já lá vai o meu amor,

Já lá vai o meu abrigo! (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 163).

Manuel Joaquim Delgado recolheu uma versão em Mina de São Domingos:

Venho da Ribeira Nova,

Fui regar o laranjal;

Inda trago uma folhinha

No laço do avental.

Desejo falar contigo,

E uma hora não é nada;

O ladrão do meu amor

Já tem outra namorada.

Já tem outra namorada,

Já tem outra rapariga;

O ladrão do meu amor

Já tem outra nova vida. (Delgado [1955], pág. 83).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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320

E deixa-me ir dormir contigo,

Que uma vez só não faz mal.

Venho da ribeira nova, E passear ao laranjal.

RCM 82606 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Vou ensinar os rapazes

Como é que se namora,

Com o lenço na algibeira, Com a pontinha de fora.

Vou ensinar os rapazes

A arte de namorar. Se ainda não aprenderam,

Venham comigo estudar.

Venham comigo estudar, Comigo estudar agora.

Vou ensinar os rapazes

Como é que se namora.

RCM 83607 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 22 de Setembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

606 O informante cantou a composição. 607O informante conhece a composição desde criança.

Foi recolhida a seguinte versão por Manuel Joaquim Delgado:

Vou-me embora pra Lisboa,

Porque a vida cá é má,

À busca de coisa boa,

Procuro, não acho cá.

Procuro, não acho cá,

Já o comboio sopra na linha;

Às vezes penso comigo e digo

Não sei que sorte é a minha.

Quando cheguei ao Barreiro,

No barco passei o Tejo;

Chora por mim, que eu choro por ti,

Já deixei o Alentejo. (Cuba)

Variante na primeira quadra

Vou-me embora pra Lisboa,

Que a vida por cá está má,

Em busca de moças boas,

Que se não encontram cá. (Mina da Juliana – Aljustrel) (Delgado [1955], pág. 86).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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321

Vou-me embora pra Lisboa,

Porque a vida cá é má,

Em busca de coisa boa Procuro, não encontro cá.

Quando eu cheguei ao Barreiro,

Montei no vapor que passa o Tejo. Tu chora por mim, que eu choro por ti

Já deixei o Alentejo.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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322

2.2.9. Cantigas de Entrudo

RCE 1a608 Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Algum dia era,

E agora já não, Da tua roseira

O melhor botão.

RCE 1b

Informante: Raimundo Luís Godinho Caeiro, 68 anos, agricultor, 9º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 4 de

Junho de 2011.

Algum dia eu era,

Agora já não,

Na tua roseira,

O melhor botão.

RCE 2 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Chora a Videirinha,

Chora, chora,

Chora a videirinha,

Qu’eu me vou embora.

RCE 3 Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Está de resto o Carnaval, É hoje o último dia.

Eu nã fiquei bem nem mal

Fiquei mesmo como eu queria.

608 A informante cantou a composição.

José Leite de Vasconcelos e Manuel Joaquim Delgado recolheram uma quadra semelhante no Baixo

Alentejo: Algum dia era eu,

Agora já não,

Da tua roseira

O melhor botão. (Leite de Vasconcelos [1979], pág. 37; Delgado [1955], pág. 74).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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323

RCE 4a609 Informante: Mariana Gato Curvinha, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Telheiro (nasceu e cresceu no Convento da Orada, propriedade da família na altura), residente

em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 13 de Setembro de 2011.

Já lá vai o nosso Entrudo De galinhas com capões.

Vem a Santa Quaresma

De alabaças com feijões.

RCE 4b

Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, reformada (doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de

Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24

de Novembro de 2011.

Lá vem o Santo Entrudo

De galinhas e capões. Depois vem a Santa Quaresma

De alabaças com feijões.

RCE 5a610

609 A informante contou que ouvia uma cantiga à sua mãe. Essa cantiga era cantada no fim do Carnaval, no

último baile, na terça-feira de Carnaval, à meia-noite, davam um tiro e matavam o Carnaval, o Entrudo, e

depois em toda a Quaresma não se ouvia qualquer cante, nem sequer aos homens nas Tabernas.

No Alandroal, localidade perto de Reguengos de Monsaraz, foi recolhida a seguinte versão por José Leite

de Vasconcelos:

Já se acabou o Entrudo,

Já não se fazem funções;

Agora vem a Quaresma:

Calabaças com feijões. (Leite de Vasconcelos [1983], pág.253).

José Leite Vasconcelos recolheu uma quadra em Vila Nova de Ficalho (c. de Serpa), com um

último verso bem diferente que apela à prática de se acentuar a reza de orações, no período quaresmal:

Já lá vai o Entrudo

Com galinhas e capões;

Agora vem a Quaresma,

Rezemos as orações. (José Leite de Vasconcelos [1979], Cancioneiro Popular Português, vol. II,

Coimbra, Por Ordem da Universidade de Coimbra, 1979, pág. 188).

Por sua vez, Idália Farinho Custódio recolheu em Borno (f.de Querença, Município de Loulé) as

seguintes quadras que fazem parte de um total de seis quadras que dão corpo a uma “Cantiga de Entrudo”:

Já se lá vai o Entrudo, com galinhas e capões,

já lá vem santa Quaresma,

com as suas orações.

Já lá vem santa Quaresma,

com as suas orações,

já se lá vai o Entrudo,

com galinhas e capões. (Custódio, Galhoz [2011], pág. 73) 610 A informante cantou a composição.

Na Vidigueira, foi recolhida a seguinte cantiga, cuja quadra inicial é quase idêntica à da composição que

recolhemos (tem uma variante no 3º verso): Olha o Entrudo,

Que inda agora veio!

Faz andar as moscas

Todas num enleio!

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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324

Informante: Mariana Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, 1º ano de escolaridade, reformada (cabeleireira),

natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro de 2011.

Olha o Entrudo,

Que agora veio. Faz andar as moças

Todas num enleio.

5 Todas num enleio, Todas enleadas,

Ai que belo Entrudo

Prá rapaziada.

RCE 5b

Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de novembro de 2011.

Dança de Carnaval

Viva o Entrudo,

Qu’inda agora veio.

Faz andar as moças

Todas num enleio.

5 Todas num enleio,

Todas enleadas.

Olhem o Entrudo, Que vai d’abalada.611

RCE 6612

5 Todas num enleio

Pelo que seria:

Faz agora o que quiseres

Agora em três dias!

Agora em três dias,

10 Deviam ser quatro;

Faz andar as moças,

De cabelo ao alto!

De cabelo ao alto,

De laço caído.

15 Olha o Entrudo,

Já ‘stava esquecido! (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 252). 611 Estar de abalada significa estar prestes a ir embora.

A informante canta e faz os gestos com os braços de quem dança em roda, reproduzindo os gestos

coreográficos. 612 Sobre a composição que cantou, a informante disse: Foi na altura do Carnaval. Tinha eu aí uns 16 ou

17 anos. Ouvi-a cantar a um moço que já morreu. Era o avô da Inácia Serrana. Sobre a performance que

envolvia a cantiga, diz: Na rua, é com uma cana toda composta. Uma cana toda grave, cheia de fitas.

José Leite de Vascocelos recolheu uma versão no Algarve:

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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325

Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 17 de outubro de 2009.

Ó minha verde caninha,

Ó minha caninha verde, Salpiscadinda de amores,

Bem há pouco casadinha.

Ó i ó ai, bem há pouco casadinha, Ó i ó ai, bem há pouco casadinha.

RCE 7 Informante: Maria Margarida Couto Lopes, 72 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de

escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha

realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011.

Os dias que eu canto mais

São os de maior paixão.

(…)

Em casa não tenho pão.613

RCE 8614 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de novembro de 2011.

Pois agora desanda a roda,

Desanda a roda assim, assim.

Já pode ir buscar à roda

Um raminho de alecrim.

5 Um raminho de alecrim,

Outra mimosa flor.

Pois agora desanda a roda, Não é este o meu amori.

Não é este o meu amori.

Ó minha caninha verde,

Ó minha verde caninha,

Salpicadinha d’amores,

D’amores salpicadinha… (Leite de Vasconcelos [1975], pág. 114). 613 A informante lembrou que o Carnaval era muito divertido, dançando-se os dias inteiros, na aldeia de

Cima (Reguengos de Cima), até ao nascer do sol. Contou ainda que se cantava bastante ao despique. 614 A cantiga era cantada em baile de roda, formada por rapazes e raparigas encadeados uns com os outros.

Cantada a composição uma primeira vez, segundo a informante, os participantes voltavam para trás,

continuando a cantar esta mesma composição.

Segundo o informante Serafim Amieira, esta cantiga de roda também era cantada noutras ocasiões, por

exemplo, no intervalos dos bailes. A informante faz os gestos da dança, enquanto canta.

Segundo o informante Serafim Amieira, esta cantiga de roda também era cantada noutras ocasiões, por

exemplo, no intervalos dos bailes.

A informante faz os gestos da dança, enquanto canta.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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10 Não é este, eu não o quero.

O meu tem o chapéu preto,

Esse tem o amarelo.

RCE 9615 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Pró ano que vem, Já não há Entrudo.

Morreu o Galhorda,

Acabou-se tudo.

5 Isto do Entrudo

É um tempo louco.

Faz sair as velhas

Fora dos atoucos. 616

Fora dos atoucos,

10 Fora do convento

Isto do Entrudo É um lindo tempo.

RCE 10617 615 De acordo com o informante, a cantiga era cantada no Entrudo. Aprendeu-a na Amareleja, quando

trabalhou num monte a duas horas de distância a pé. 616 O informante explicou que os atoucos são as casas. 617 Esta quadra é similar a uma quadra que faz parte de uma composição denominada “O Cigano” (quarta

estrofe), recolhida em Colos (Odemira), por Manuel Joaquim Delgado:

Cigano, lindo cigano,

Cigano, meu lindo bem;

Já lá vai cigano preso

Sem roubar nada a ninguém.

Sem roubar nada a ninguém,

Sem roubar coisa nenhuma;

Foi só por achar uma corda

Que, na ponta, tinha a mula.

Que, na ponta, tinha a mula,

Noutra ponta tinha o trem;

Cigano, lindo cigano,

Cigano meu lindo bem.

Sou cigano, sou cigano,

Sou cigano, mas não nego;

Eu sou o maior cigano,

Que anda no altar do pego.

Que anda no altar do pego,

Que anda no altar do chão;

Sou cigano, não o nego,

Não o nego à geração. (Delgado [1955], pág. 58).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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327

Informante: Rosete Falardo Ramalho, 68 anos, reformada (doméstica), 4º ano de escolaridade, natural de

Gafanhoeiras, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 24 de Novembro de 2011.

Sou cigana, sou cigana,

Sou cigana, não o nego. Eu sou a maior cigana

Que apareceu no Alentejo.

RCE 11618

Informante: Joaquim José Rosado Leal (conhecido como Ferrador, alcunha de família), 74 anos,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz), 3º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 9 de Abril

de 2011.

Tenho pena, lindo amor, tenho pena,

Tenho pena, lindo amor, tenho dó, Tenho pena de não ir à fonte

De um carro de uma roda só.

De um carro de uma roda só, Se um carro de uma roda pequenina,

Tenho pena, lindo amor, tenho pena,

Tenho pena mas não é só minha.

618 O informante cantou a composição. Afirmou que ouvia o seu avô cantar a composição no Carnaval.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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328

2.3. Cantigas religiosas

2.3.1. Cantigas ao Menino Jesus

RCMJ 1a Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Arre burriquito,

Vamos a Belém

Ver o Deus Menino Que a Senhora tem.

Que a Senhora tem,

Que a Senhora adora, Anda burriquito,

Vamo-nos embora.

RCMJ 1b Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Vamos todos juntos

Cantar a Belém

Ver o Deus Menino Que a Senhora tem.

RCMJ 2a619 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Entrai, pastores, entrai,

Por esse portal sagrado,

Vinde ver o Deus Menino, Numas palhinhas deitado.

RCMJ 2b620

619 Em Cancioneiro de Idália Farinho Custódio e de Maria Aliete Galhoz, há duas versões similares da

quadra que recolhemos (cf. Custódio, Galhoz [2011], pp. 206-207).

José Leite Vasconcelos recolheu duas composições semelhantes (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 266

e 404). Por sua vez, Luís Chaves publicou várias versões idênticas, em Folclore Religioso (Cf. Luís Chaves

[1945], pág. 38, 41 e 66). 620 A informante cantou a composição.

Esta versão que recolhemos aproxima-se de uma versão recolhida em Vale de Judeu (Loulé) (cf. Custódio,

Galhoz [2011], pág. 212). José Leite de Vasconcelos recolheu estas duas quadras também (cf. Leite de

Vasconcelos [1983], pág. 402).

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329

Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Entrai, pastoras, entrai,

Por estes portais sagrados,

Adorar o Deus Menino Em palhinhas deitado.

Entrai, pastoras, entrai, Por estes portais adentro,

Adorar o Deus Menino

No seu santo nascimento.

RCMJ 3621 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Eu hei-de dar ao Menino,

Uma fitinha pró chapéu. Ele também me há-de dar

Um lugarzinho no Céu.

RCMJ 4 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Menino Jesus,

Teus pais e até Magos E pastores

E outros senhores

Rezavam com fé.

Junto ao teu bercinho,

Tão cheio de luz,

Tu és o caminho,

Meu rico Menino, Meu doce Jesus.

RCMJ 5 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

A segunda quadra também foi publicada por Luís Chaves, em Folclore Religioso, e por M. Inácio Pestana,

em Etnologia do Natal Alentejano (cf. Chaves [1945], pág. 63; M. Inácio Pestana [1978], Etnologia do

Natal Alentejano, Portalegre, Edição da Junta Distrital, 1978, pág. 32). 621 Em Cancioneiro Popular Português, é introduzida uma variante na oferenda, fitinha é substituída por

galão: Eu hei-de dar ao Menino

Um galão para o chapéu;

Também Ele me há-de dar

Um lugarzinho no Céu. (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 405).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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330

Nasceu o Deus Menino

Para nos salvar.

Vamos todos juntos Ao Menino pra cantar.

RCMJ 6622 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Nossa Senhora faz meia

Com linha feita de luz.

O novelo é lua cheia E as meias são Jesus.

RCMJ 7 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Olhei para o céu,

Estava estrelado.

Vi o Deus Menino

Em palhas deitado.

Em palha deitado,

622 Esta quadra da autoria de António Nobre entrou na tradição oral, o povo canta-a como sendo sua (trata-

se de um fenómeno corrente na literatura oral tradicional, a apropriação e adaptação de literatura erudita ao

gosto popular):

Nossa Senhora faz meia

Com linha branca de luz:

O novelo é a lua-cheia,

As meias são p’ra Jesus. (António Nobre [1892], Só, Paris, Léon Vanier-Editeur, 1892, pág. 72.)

Rodney Gallop recolheu esta quadra, com variação, em Elvas:

- Nossa Senhora faz meia

Com linha feita de luz

- Ó linda Rosa! –

Com linha feita de luz.

5 - O novêlo é lua cheia

As meias são p’ra Jesus,

- Ó linda Rosa! –

As meias são p’ra Jesus. (Rodney Gallop [1978], Cantares do Povo Português, Lisboa, Instituto

de Alta Cultura, 1960, pág. 62.)

Também M. Inácio Pestana publicou esta quadra em Etnologia do Natal Alentejano (cf. Pestana [1978],

pág. 38).

Manuel Joaquim Delgado recolheu a seguinte versão:

Nossa Senhora faz meia Com linha feita de luz.

O novelo é lua cheia,

E as meias são pra Jesus. (Beja; Ervidel; Ferreira do Alentejo; Cuba; Vila Nova da Baronia;

Mértola, etc) (Delgado [1955], pág. 432).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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331

Em palha aquecido623

Filho d’uma rosa,

D’um cravo nascido.

RCMJ 8 Informante: João Veva Rocha, 71 anos, reformado (antigo sargento-chefe GNR), 9.º ano de escolaridade,

natural de Capelins - Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos

de Monsaraz, a 16 de Setembro de 2010.

Ó meu Menino Jesus, Em palhas deitado,

E os filhos dos ricos,

Em berços dourados.

RCMJ 9a624

Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Ó meu Menino Jesus,

Ó meu Menino tão belo, Logo vieste nascer

Na noite do caramelo.

RCMJ 9b Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Ó meu Menino tão querido,

Ó meu Menino tão belo, Logo vieste nascer,

Na noite do caramelo.

RCMJ 9c Informante: Joaquina Códices Gomes Reis, 70 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Capelins-Alandroal, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz,

a 16 de Setembro de 2010.

Ó meu Menino Jesus,

Ó meu Menino tão belo,

Nascido e baptizado, Na noite do caramelo.

623 O informante referiu que aqui existem duas variantes: “uns dizem em palha deitado / em palha

estendido; a gente cantava em palha deitado / em palha aquecido”. 624 Foram recolhidas por José Leite Vasconcelos, no Alentejo, as seguintes versões:

Ó meu amado Menino,

Ó meu Menino tão belo,

Logo havíeis de nascer

No rigor do caramelo.

Ó meu Menino Jesus,

Ó meu Menino tão belo,

Logo Vós fostes nascer

Na noite do caramelo! (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 411 e 414).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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332

RCMJ 9d625 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Ó meu Menino Jesus, Ó meu Menino tão belo,

Que logo foste nascer

Na noite do caramelo.

RCMJ 9e Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 13 de

Setembro de 2009.

Ó meu Menino Jesus,

Ó meu Menino tão belo, Só tu quiseste nascer,

Na noite do caramelo.626

RCMJ 9f Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Ó meu Menino Jesus,

Ó meu Menino tão belo,

Só tu vieste a nascer Na noite do caramelo.

RCMJ 9g627 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Ó meu Menino Jesus,

Ó meu Menino tão belo,

Só tu vieste nascer Na noite do caramelo.

RCMJ 10628 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

625 A informante explicou que noite do caramelo significa noite fria. 626 Recitou cantiga idêntica em 5 de Outubro de 2009. 627 A informante cantou a composição. 628 O informante comentou que se trata de uma cantiga de Natal muito antiga.

M. Inácio Pestana publicou uma versão muito parecida: Qualquer filho de homem nobre

Nasce num céu de cortinas.

Só tu, Menino Jesus,

Nasceste numas palhinhas. (Pestana [1978], pág. 35).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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333

Qualquer filho d’homem nobre

Nasce num berço doirado.

Só tu, Menino Jesus, Numas palhinhas deitado.

Trailari, trailari, larilolé,

Menino nascido é.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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334

2.3.2. Cantigas de Reis

RCR 1a629 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Arreigota,

Arreigota, Se não me dá nada,

Cago-lhe à porta.

RCR 1b630 Informante: Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de 2012.

Arrengota, Arrengota,

Se não me dás esmola,

Cago-te aqui à porta.

RCR 2 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Despedida, despedida, Assim faz quem se despede.

Quem se despede cantando

Tem uma despedida alegre.

RCR 3a

Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Despedida, despedida,

Por cima de uma fita,

Venha-me dar a esmola Pela sua filha mais bonita.

629 A informante explicou que, normalmente, se cantava os Reis às pessoas que tivessem algumas posses,

que tivessem condições para dar aos “reiseiros”, lavradores que faziam matança, por exemplo. Afirmou

que quando não davam, cantavam coisas sem jeito. Por isto, a informante disse que tinha vergonha de dizer

essas coisas sem jeito, mas acabou por recitar uma cantiga. 630 Conta que cantavam as Janeiras, pedindo de porta em porta. Mas já não se lembra das cantigas. Também

cantavam os Reis. Quando não davam esmola aos pedintes, diz: a gente dizia uma estupidez. Recita a

composição, rindo.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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335

RCR 3b631 Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha ralizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Despedida, despedida, Por cima de um regador,

Venha-me dar a esmola

Por alma do tio Salvador.632

RCR 4a Informante: Joana Valido Cruz, 73 anos, reformada (trabalhadora rural), 2º ano de escolaridade, natural

da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 5 de Novembro de 2011.

Estas casas são bem altas,

Caiadas de papelão. Esta gente que aqui mora

Deus lhe deia a salvação.

RCR 4b633 Informante: António Joaquim Lopes Rodrigues, 74 anos, reformado, analfabeto, natural de Monsaraz,

residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 30 de Agosto de 2011.

Estas casas são bem altas,

Forradas de papelão.

Esta gente que aqui mora

Deus lhe dê a salvação.

RCR 4c634

631 Contou que ia sempre cantar os Reis à porta de uma senhora viúva que tinha três filhas. As cantigas que

recolhemos junto de si foram ensinadas pela sua mãe. 632 Nome do falecido marido. 633 Cantou a composição.

Relatou que havia um homem que respondia à medida que lhe cantavam a Cantiga de Reis (registamos a

resposta a negrito):

- Estas casas são bem altas.

- Derrubem-no!

- Forradas de papelão.

- Rasguem-no!

- Esta gente que aqui mora

Deus lhe dê a salvação.

- Matem-nas!

José Leite de Vasconcelos recolheu:

Esta casa é bem alta,

Forrada de papelão,

Os senhores que moram nela

Deitem p’ra cá um tostão.

Esta casa está bem feita,

Talhadinha ao picão:

Ò senhor que mora nela,

Deus lhe dê a salvação! (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 261 e 262). 634Por vezes, pedimos para repetir para evitar possíveis lapsos ou fragmentos imperceptíveis, até porque a

informante fala baixo e, por vezes, põe a mão à frente da boca enquanto fala.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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336

Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),

3º ano de escolaridade, natural de Campo, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho, a 26 de Março de 2011.

Estas casas são bem altas,

Forradas de papelão.

Esta gente que aqui mora Deus lhe deia a salvação.

Recitou versão idêntica: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural

de Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011; Florinda Maria

Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de Monsaraz, residente em

Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011;635 Isménia Moleiro Ramalho, 83

anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz.

Recolha em Reguengos de Monsaraz, a 11de Outubro de 2011; Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada,

2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz, residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a

24 de Setembro de 2011;636 Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica,

analfabeta, natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de

2011637; José Jaleca Dourado, 74 anos, barbeiro, 4º ano de escolaridade, natural de S. Pedro do Corval,

635 A informante relatou que, se as pessoas abrissem a porta para escutar as cantigas de reias e dessem

qualquer coisa de comer aos festeiros, a reacção destes era positiva. Se não abrissem a porta nem oferecessem alguma coisa, era cantada uma cantiga própria para a situação, da qual já não se lembra. 636 Conta que havia um homem que respondia à medida que lhe cantavam a Cantiga de Reis (registamos a

resposta a negrito):

- Estas casas são bem altas.

- Derrubem-nas!

- Forradas de papelão.

- Desforrem-nas.

- Esta gente que aqui mora

Deus lhe deia a salvação.

- Vamos a ver! 637 Cantou para nos mostrar “o estilo” das cantigas de reis. Referiu que havia os Reis que se cantavam, uma

coisa bonita que ainda ouviu cantar, mas não a aprendeu - eram “Os Reis do Oriente”, que correspondem

à composição que a seguir transcrevemos e que foi lida pelo informante António Cardoso, que a registou

por escrito, devido ao receio de dela se esquecer:

Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, em 20 de Novembro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Os Três do Oriente

Quais são os três cavalheiros

Que fazem sombra no mar?

São os três do Oriente

Que Jesus vêm buscar.

5 Não perguntam por pousada,

Nem aonde pernoitari.

Só perguntam o Deus-Menino,

Aonde o irão achar.

Foram-no achar a Roma,

10 Revestido no altari,

Com três mil almas de roda, Todas para comungari.

Missa nova quer dizeri,

Missa nova quer cantari,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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337

residente em S. Pedro do Corval. Recolhida em S. pedro do Corval, em 3 de Novembro de 2011638; Mariana

Rosa Carvalho Ramos, 71 anos, reformada (cabeleireira), 1º ano de escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em S. Pedro do Corval. Recolha realizada em S. Pedro do Corval, a 3 de Novembro

de 2011; Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de escolaridade,

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo

António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011;639 Maria José Bento, 76 anos, Reformada (trabalhadora rural

e auxiliar de cozinha), 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos

de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 6 de Novembro de 2011640; Maria Antónia

Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta (sabe ler e sabe

assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em Caridade, a 7 de Novembro de

2011641; Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S. Marcos

do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de

Novembro de 2011; Iria Morais, 89 anos, reformada, analfabeta, natural de Reguengos de Monsaraz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 8 de Fevereiro de

2012.

RCR 4d Informante: Rosa Marques Cardoso, 76 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de Motrinos,

residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011. Outras Informações:

trabalhadora rural, lavadeira.

Estas casas são mui altas,

Forradas de papelão. Esta gente que aqui mora

Deus lhe deia a salvação.

RCR 4e Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a de Outubro de

2011.

Estas casas são bem altas,

Forradas de ouro e marafim.

Esta gente que aqui mora

15 São João ajuda a missa,

São Pedro mudou missale.

O informante contou que ouviu estes versos a um senhor chamado Manuel Dias Nunes, quando

tinha 17 ou 18 anos. A sua esposa, Rosa Cardoso, também os ouviu quando era nova a uma senhora

chamada Chica Brites, que cantava muito bem.

Esta composição é muito semelhante à versão de Beja recolhida por Manuel Joaquim Delgado (cf. Delgado [1955], pág. 125). A decisão de não a incluir no nosso corpus tem simplesmente a ver com o facto

de o informante já não a saber de cor e transmiti-la através da sua leitura. 638 Também contou que um senhor, o senhor Francisco Paulo, em São Pedro do Corval, a quem iam cantar

os reis, respondia à medida que lhe cantavam esta quadra (registamos a resposta a negrito):

- Estas casas são bem altas.

- Derrubem-nas!

- Forradas de papelão.

Esta gente que aqui mora

Deus lhe deia a salvação.

- Matem tudo! 639 Contou que ia cantar os Reis ao monte dos Perdigões, perto de Reguengos, quando tinha 17 anos. 640 Comentou, para justificar o peditório: Era o tempo da fome. Chovia muito e não havia trabalho nesses

dias. 641 Cantou.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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338

Deus lhe deia um bom fim.

RCR 4f Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe)

da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Estas casas são bem altas,

Forradas de papelão.

Esta gente que cá mora

Deus lhe deia a salvação.

RCR 4g642 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Estas casas são bem altas,

São forradas de papelão. Viva quem aqui mora

Deus lhe deia a salvação.

RCR 4h Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Estas casas são bem altas,

Forradas de papel fino.

Esta gente que aqui mora

Deus lhe deia o Céu Divino.

Recitou versão idêntica: Josefina da Conceição Bragado Godinho, 58 anos, reformada, 4ª ano de

escolaridade, natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolhida em S. Marcos

do Campo, em 24 de Novembro de 2011.

RCR 4i Informante: Maria Joaquina Rosado Tendeiro, 67 anos, reformada (trabalhadora rural até aos 62 anos),

3º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Campinho. Recolha realizada em Campinho,

a 26 de Março de 2011.

Estas casas são bem altas, Forradas de papel fino.

Esta gente que aqui mora

Deus lhe deia bom destino.

RCR 5643 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

642 Versões similares foram publicadas por Luís Chaves (cf. Chaves [1945], pág. 45). 643 Cantou a composição.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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339

Estas casas são bem altas, Nela mora uma princesa.

Meta a mão ô seu tesouro,

E reparta com a pobreza.

RCR 6a Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Estas casas são caiadas,

Quem seria a caiadeira?

Foi o noivo mais a noiva Com ramos de laranjeiras.

RCR 6b Informante: Antónia Lopes Lourinho, 69 anos, reformada (trabalhadora rural), 4º ano de escolaridade,

natural de Perolivas, residente em Perolivas. Recolhida em Perolivas, 8 de Novembro de 2011.

Esta casa está caiada, Quem seria a caiadeira?

Foi a mãe do meu amor

Com junquilhos da ribeira.

RCR 7644 Informante: António Caeiro Paias, 87 anos, reformado (trabalhador rural), 3ª classe, natural de S. Marcos

do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24 de

Novembro de 2011.

Esta gente que aqui mora Deus lhe deia a salvação.

Se não derem, hadem ir morrer

À Salvada, mais negra que o carvão.

RCR 8 Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Esta gente que aqui mora

Deus lhe deia a salvação. Mande-me dar a esmolinha

Por seu primo João. 645

RCR 9 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 83 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 11 de Outubro

de 2011.

644 Cantiga de Reis cantada quando não davam esmola aos festeiros.

O informante contou que iam cantar aos Motrinos, quando estavam no Monte do Barrocal. 645 A informante apresenta outra alternativa para o último verso, seu marido João, mostrando que importava

o efeito rimático da escolha dos nomes. Por fim, comentou: Assim, faziam aqueles versos assim.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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340

Esta gente que aqui mora

Tem duas filhas rainhas.

Venha-me dar a esmola A estas meninas pobrezinhas.

RCR 10a Informante: Gertrudes Lameira Rita, 82 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de

Carrapatelo, residente em Carrapatelo. Recolha realizada em Carrapatelo, a 9 de Outubro de 2011.

Esta noite choveu neve,

No gargalinho do poço.

A minha avó é uma rosa

E o meu avô um cravo roxo.

RCR 10b Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Esta noite choveu neve

No gargalinho do poço.

Minha madrinha é uma rosa, Meu padrinho é um cravo roxo. 646

RCR 10c647

Informante: Francisca Jorge Godinho Gato, 86 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural de

Barrada, residente em Barrada. Recolha realizada em Barrada, a 11 de Setembro de 2011.

Esta noite choveu neve

No gargalinho do poço.

A minha madrinha é uma rosa

E o padrinho um cravo roxo.

RCR 10d Informante: Rosário Pinto Ramalho (Bisau), 77 anos, reformada (trabalhadora rural), 3º ano de

escolaridade, natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do Baldio. Recolha

realizada em Santo António do Baldio, a 3 de Novembro de 2011.

Esta noite chove neve

No gargalinho do poço. Venha-me dar a esmola,

Boquinha de cravo roxo.

RCR 10e648 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

646 A informante explicou que a informante Francisca explica que as expressões “Minha madrinha” e “Meu

padrinho” podem ser substituídas pelo nome das pessoas a quem se dirige a cantiga. 647 A informante referiu que esta cantiga era cantada à porta dos padrinhos. 648 A informante disse que costumavam cantar os Reis na rua à porta das vizinhas.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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341

Esta noite choveu neve

No gargalinho do poço.

Viva a menina Maria649,

Tem boquinha de cravo roxo.

RCR 10f650 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Esta noite choveu neve

No gargalinho do poço.

Viva a menina Maria,651

Boquinha de cravo roxo.

RCR 10g652 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Telheiro,

residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A

informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa do Povo de Reguengos

de Monsaraz), durante 24 anos.

Esta noite choveu neve

No gargalinho do poço. Viva a menina Antónia,

Boquinha de cravo roxo.

RCR 10h Informante: Delmira Cachopas, 93 anos, comerciante, 3º ano de escolaridade, natural de Montoito,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 26 de Novembro

de 2011.

Esta noite choveu neve

No gargalinho do poço.

Todas as flores abriram Menos o meu cravo roxo.

RCR 10i Informante: Inácia Bragado Adriano, 80 anos, reformada (trabalhadora rural), analfabeta, natural de S.

Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo. Recolha realizada em S. Marcos do Campo, a 24

de Novembro de 2011.

Esta noite choveu neve

No gargalo do meu poço.

Todas as flores abriram Menos o meu cravo roxo.

649 Segundo a informante, o nome era alterado em função do nome da pessoa a quem se dirigiam. 650 A informante cantou a quadra. 651 Segundo a informante, o nome era alterado em função do nome da pessoa a quem se dirigiam. 652 A informante recordou que cantaram a quadra à sua tia a seguinte, à porta de casa de sua avó, quando

era pequena.

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342

RCR 10j653 Informante: Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora), 73 anos, reformada (trabalhadora rural),

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), natural da Caridade, residente na Caridade. Recolha realizada em

Caridade, a 7 de Novembro de 2011.

Esta noite choveu neve

No gragalinho do poço. A minha neta é uma rosa

E o mê neto é um cravo roxo.

RCR 11654 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolhida em Telheiro, em 20 de Outubro de 2011.

Mesmo agora aqui cheguei,

Dei um toque na calçada. O meu coração me disse

Que aqui mora gente honrada.655

RCR 12a656 Informante: Francisca Piteira da Silva Neves, 62 anos, trabalhadora rural / doméstica, analfabeta, natural

de Motrinos, residente em Motrinos. Recolha realizada em Motrinos, a 29 de Agosto de 2011.

Ó pretinho da Guiné,

Mascarrado com cortiça,

Venha dessa chaminé

Uma vara de chouriço.

RCR 12b657 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Os sapatinhos da Guiné,

Mascarrados com cortiça. Venha dessa chamné

Meia vara de chouriças.

653 A informante cantou a composição. 654 Versão quase idêntica foi recolhida por José Leite de Vasconcelos:

Ainda agora aqui cheguei,

Dei um tope na caçada,

Logo o meu coração disse

Que aqui mora gente honrada. (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 259). 655 O informante relatou que se contava que, no final da cantiga, um senhor de Monsaraz costumava

responder:Desonrem-na! 656 A informante contou que cantava os reis junto das vizinhas e que se pedia carne, por exemplo.

José Leite de Vasconcelos recolheu:

Eu sou preto da Guiné,

Mascarrado com cortiça;

Venha dessa chaminé

Uma bela linguariça (Leite de Vasconcelos [1983], pág. 267). 657 A informante relatou que, quando os festeiros queriam que as pessoas a quem cantavam dessem alguma

coisa, cantavam esta composição.

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343

RCR 13658 Informante: Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso, 73 anos, trabalhadora rural e doméstica, analfabeta,

natural de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011.

Ou o toucinho é rançoso,

Ou a faca não quer cortar,

Ou a criada é preguiçosa Que não se quer levantar.

RCR 14659 Informante: António Joaquim Morais Cardoso, 74 anos, trabalhador rural, 2º ano de escolaridade, natural

de Monsaraz, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 20 de Outubro de 2011. Outras

Informações: Trabalhou quinze anos na Fábrica de papel.

Quais são os três cavaleiros Que fazem sombra no mar?

São os três do Oriente,

Que Jesus vêm buscar.

RCR 15660 Informante: Rosa Lopes Patinha Berjano, 78 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, reformada, natural

de Telheiro, residente em Telheiro. Recolha realizada em Telheiro, a 21 de Setembro de 2011. Outras Informações: A informante possui um curso de Guarda-Livros (Contabilidade) e de Dactilografia. Foi

funcionária (chefe) da Caixa de Previdência de Évora – serviço local de Reguengos de Monsaraz (Casa

do Povo de Reguengos de Monsaraz), durante 24 anos.

Venho aqui cantar os Reis,

À porta desta donzela, Se não me derem a esmola,

Vou-me embora sem ela.

RCR 16a661 Informante: Florinda Maria Fernandes, 70 anos, reformada, analfabeta (sabe ler e escrever), natural de

Monsaraz, residente em Monsaraz. Recolha realizada em Monsaraz, a 13 de Setembro de 2011.

Venho aqui cantar os Reis,

À porta do lavrador,

Não tem nada que me dar (…).

658 Cantiga cantada quando a pessoa a quem pediam se demorava a abrir a porta ou a dar algo de comer

e/ou beber aos festeiros. 659 A informante cantou a composição.

José Leite de Vasconcelos recolheu duas quadras semelhantes (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 278

e 279).

Em Quadros Alentejanos, Brito Camacho cita os versos de “Os Três do Oriente” (cf. Brito Camacho [2009], Quadros Alentejanos, Lisboa, Bonecos Rebeldes, 2009, pp. 107-108). Também António Tomás Pires

publica algumas versões de “Os Três do Oriente” (cf. António Tomás Pires [1923], Estudos e Notas

Elvenses, VI, A Noite de Natal, o Anno Bom e os Santos Reis, Elvas, Editor – António José Torres de

Carvalho, 1923, pp. 33-25). Por sua vez, Luís Chaves publica uma versão de Loulé e Manuel Joaquim

Delgado publica uma versão de Beja (cf. Chaves [1945], pág. 48; Delgado [1955], pág. 125). 660 A informante recordou que costumavam cantar à porta de sua avó, referindo que foi o Tio Garrana que

cantou a composição agora por si recordada. 661 A informante afirmou que, na noite de Reis, cantavam nas ruas e que as cantigas eram praticamente as

mesmas do Natal.

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RCR 16b Informante: Vitalina Rosa Godinho, 74 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Ferragudo. Recolha realizada em Ferragudo, a 24 de Setembro de 2011.

Venho aqui cantar os Reis,

À porta dum lavrador, Sua filha é uma rosa,

Sua mulher uma flor.

RCR 17a662 Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 88 anos, reformada, 3.º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

outubro de 2009.

Venho aqui cantar os Reis,

Colhendo um malvarisco.

Venha-me dar a esmola

O senhor D. Francisco.

RCR 17b663 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 65 anos, reformada, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 21 de

Junho de 2009.

Venho aqui cantar os Reis,

Estamos no mês de Janeiro. Venha-me dar os Reis,

Ó senhor Joaquim Caeiro.

RCR 17c664 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 58 anos, doméstica, 4.º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, a 5 de

Janeiro de 2002.

Vim aqui cantar os Reis,

Por cima de uma tarefa.

Venha-me dar a esmola,

Ó senhora Josefa.

662 A informante contou que uma vez foi cantar os Reis a casa do seu filho Francisco e que cantou a cantiga

que recordou. Explicou ainda que um “malvarisco” é uma flor assim alta (…), tem assim umas florinhas

pegada ao pé”. (…) “Há em cor-de-rosa, há em encarnado, (…) não sei se há lilás. Cor-de-rosa e vermelho

é que eu tenho visto. 663 A informante ouviu a cantiga à porta de casa de seus pais, sendo, por isso, dirigida ao seu pai, Joaquim

Caeiro. 664 A informante ouviu a cantiga à porta de casa de seus pais, sendo, por isso, dirigida à sua mãe, Josefa.

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Anexo II - Índice geográfico de informantes do concelho de Reguengos de Monsaraz

(com indicação da data das entrevistas)

Nota: A idade dos informantes corresponde à idade na última entrevista.

As localidades estão ordenadas por ordem alfabética.

Local de

Recolha BARRADA

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Francisca Jorge Godinho Gato (86 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada, natural de Barrada, residente em Barrada)

30/09/2011

11/09/2011

25/09/2011

2 Teodosa de Jesus Ganhão Valada (70 anos, analfabeta, reformada,

natural de Barrada, residente em Barrada) 30/09/2011

Local de

Recolha CAMPINHO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1

Catarina Freira Capucho (68 anos, analfabeta (sabe assinar, sabe ler

pouco e escrever), reformada (funcionária da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz), natural de Campinho, residente em

Campinho)

09/04/2011

2

Joaquim José Rosado Leal (74 anos, 3º ano de escolaridade,

reformado (trabalhador rural e funcionário da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz), natural de Campinho, residente em

Campinho)

09/04/2011

3 Luís Mestre Dias (70 anos, 4º ano de escolaridade, reformado

(trabalhador rural e motorista), natural de Alqueva, residente em

Reguengos de Monsaraz). Foi entrevistado no Campinho.

09/04/2011

4 Maria Joaquina Rosado Tendeiro (67 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada (trabalhadora rural), natural de Campinho, residente em

Campinho)

26/03/2011

Local de

Recolha CARIDADE

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 António da Silva Fialho (Taranta) (81 anos, 1º ano de escolaridade,

reformado (trabalhador rural), natural da Caridade, residente na

Caridade)

04/11/2011

05/11/2011

2

António Jacinto Fialho Guerra (Ti Guerra) (81 anos, 3º ano de

escolaridade, reformado (trabalhador da Câmara Municipal de

Reguengos de Monsaraz), natural da Caridade, residente na

Caridade)

05/11/2011

3 Joana Valido Cruz (73 anos, 2º ano de escolaridade, reformada

(trabalhador rural), natural da Caridade, residente na Caridade)

05/11/2011

4 Maria Antónia Valido Lobo (Maria Cantadora) (73 anos,

analfabeta (sabe ler e sabe assinar), reformada (trabalhadora rural),

natural da Caridade, residente na Caridade)

07/11/2011

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346

Local de

Recolha CARRAPATELO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Gertrudes Lameira Rita (82 anos, analfabeta, reformada

(trabalhadora rural), natural de Carrapatelo, residente em

Carrapatelo)

09/10/2011

2 Maria de Jesus Cardoso Rita (76 anos, analfabeta (sabe assinar),

reformada, natural de Carrapatelo, residente em Carrapatelo)

22/10/2011

Local de

Recolha CUMEADA

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Jacinta Rosa Borrego (67 anos, 3º ano de escolaridade,

Comerciante, natural de Campinho, residente em Cumeada)

21/11/2011

2 José Colaço (70 anos, 4º ano de escolaridade, Comerciante, natural

de Cumeada, residente em Cumeada)

21/11/2011

Local de

Recolha FERRAGUDO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Vitalina Rosa Godinho (74 anos, 2º ano de escolaridade, reformada,

natural de Monsaraz, residente em Ferragudo)

24/09/2011

Local de

Recolha MONSARAZ

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Antónia Barradas Dias Rato da Silva (64 anos, 4º ano de

escolaridade, empregada de balcão, natural de Monsaraz, residente

em Monsaraz)

21/10/2011

22/11/2011

2 António Joaquim Lopes Rodrigues (74 anos, analfabeto, reformado,

natural de Monsaraz, residente em Monsaraz)

29/09/2011

30/09/2011

3 José Cardoso Pereira (56 anos, 4º ano de escolaridade, reformado,

natural de Monsaraz, residente em Monsaraz)

30/09/2011

4 Florinda Maria Fernandes (70 anos, analfabeta (sabe ler e escrever),

reformada, natural de Monsaraz, residente em Monsaraz)

13/09/2011

Local de

Recolha MOTRINOS

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Francisca Piteira da Silva Neves (62 anos, analfabeta, trabalhadora

rural / doméstica, natural de Motrinos, residente em Motrinos)

29/09/2011

2 Rosa Marques Cardoso (76 anos, 3º ano de escolaridade, reformada,

natural de Motrinos, residente em Motrinos)

29/09/2011

22/11/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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347

Local de

Recolha OUTEIRO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Albertina Rosa Ferro Leal (67 anos, 3º ano de escolaridade,

doméstica, natural de Outeiro, residente em Outeiro)

05/11/2011

2 Deolinda Valadas Infante Cardoso (61 anos, 6º ano de escolaridade,

doméstica, natural de Outeiro, residente em Outeiro)

05/11/2011

21/11/2011

22/11/2011

3 Etelvina Raminhos Nunes Pinto (52 anos, 4º ano de escolaridade,

doméstica, natural de Outeiro, residente em Outeiro)

05/09/2011

4 Gertrudes Maria Pacheco Borges (63 anos, 4º ano de escolaridade,

desempregada (cozinheira), natural de Outeiro, residente em

Outeiro)

05/11/2011

5 Joana dos Reis Gato (80 anos, 4º ano de escolaridade, reformada

(em solteira, trabalhou no campo, doméstica), natural de Outeiro,

residente em Outeiro)

12/09/2011

05/11/2011

18/03/2012

6 Julieta de Fátima dos Ramos Janeiro Martins (64 anos, 4º ano de

escolaridade, reformada (trabalhadora rural), natural de Outeiro,

residente em Outeiro)

05/11/2011

7 Manuel Fernando (78 anos, analfabeto, reformado, natural do

Outeiro, residente em Outeiro)

22/09/2011

8 Mirandolina Carnaças Leal Aranha (65 anos, 3º ano de

escolaridade, reformada, natural de Outeiro, residente em Outeiro) 05/11/2011

Local de

Recolha PEROLIVAS

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Antónia Lopes Lourinho (69 anos, 4º ano de escolaridade,

reformada (trabalhadora rural), natural de Perolivas, residente em

Perolivas)

08/11/2011

2 Inês Maria Godinho Quintas (80 anos, analfabeta, reformada

(trabalhadora rural), natural de Caridade, residente em Perolivas)

08/11/2011

3 Luís Lopes dos Santos (84 anos, 4º ano de escolaridade, reformado

(sapateiro), natural de Perolivas, residente em Gafanhoeiras

(Perolivas))

07/11/2011

4 Maria Catarina Jesus (76 anos, analfabeta, reformada (trabalhadora

rural), natural de Perolivas, residente em Perolivas)

08/11/2011

5 Maria Ramalho Olivença (85 anos, analfabeta, reformada

(trabalhadora rural), natural de Perolivas, residente em Perolivas)

07/11/2011

Local de

Recolha REGUENGOS DE MONSARAZ

Nº Identificação

dos Informantes

Datas das

Entrevistas

1 Ana Romão Correia Cunha Cartaxo (81 anos, 4º ano de

escolaridade, reformada (doméstica), natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz)

04/11/2011

2 Delmira Cachopas (93 anos, 3º ano de escolaridade, comerciante,

natural de Montoito, residente em Reguengos de Monsaraz)

26/11/2011

06/11/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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348

3 Francisca Antónia Godinho Pinto (79 anos, analfabeta, reformada

(trabalhadora rural), natural de Caridade, residente em Reguengos

de Monsaraz)

06/11/2011

4 Francisco Rodrigues Caeiro (55 anos, 4º ano de escolaridade,

reformado (foi GNR), natural de Campinho, residente em

Reguengos de Monsaraz)

11/09/2010

5 Inácia da Conceição Janeiro (68 anos, 9º ano de escolaridade,

doméstica, natural de Perolivas, residente em Reguengos de

Monsaraz)

25/11/2011

6 Inácia Ramalho Paixão Caeiro (65 anos, agricultora, 4º ano de

escolaridade, natural de Perolivas, residente em Reguengos de

Monsaraz)

04/06/2011

7 Iria Morais (89 anos, analfabeta, reformada, natural de Reguengos

de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz)

08/02/2012

8

Isménia Moleiro Ramalho (83 anos, 2º ano de escolaridade,

reformada, natural de Campinho, residente em Reguengos de

Monsaraz)

Setembro/199

9

Abril/2000

27/09/2002

Abril/2009

11/06/2009

26/11/2009

05/07/2009

13/09/2009

28/10/2009

26/11/2009

14/06/2010

10/07/2010

23/07/2010

25/07/2010

14/09/2010

07/03/2011

10/04/2011

Maio/2011

28/05/2011

31/08/2011

10/09/2011

11/09/2011

12/09/2011

24/09/2011

11/10/2011

22/10/2011

02/11/2011

20/05/2012

9 João Veva Rocha (71 anos, 9º ano de escolaridade, reformado

(antigo sargento-chefe GNR), natural de Capelins - Alandroal,

residente em Reguengos de Monsaraz)

16/09/2010

10 Joaquina Códices Gomes Reis (70 anos, 4º ano de escolaridade,

reformada, natural de Capelins-Alandroal, residente em

Reguengos de Monsaraz)

16/09/2010

11 Joaquina Ferreira Valadas (83 anos, analfabeta, reformada (foi

comerciante), natural de Monsaraz, residente em Reguengos de

Monsaraz)

04/06/2011

11/09/2011

12

Josefa Rodrigues Godinho (90 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada, natural da Luz (Mourão), residente em Reguengos de

Monsaraz)

09/12/2000

13/09/2009

05/10/2009 17/10/2009

03/11/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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349

13 Manuel Ramalho Furão (75 anos, 4º ano de escolaridade, reformado

(trabalhador rural/tractorista), natural de S. Marcos do Campo,

residente em Reguengos de Monsaraz)

23/09/2011

14 Maria de Lurdes Veladas (56 anos, desempregada (foi

comerciante), 4º ano de escolaridade, natural de Monsaraz,

residente em Reguengos de Monsaraz)

11/09/2010

15

Maria do Carmo Valadas Amieira (67 anos, reformada, 4º ano de

escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de

Monsaraz)

Abril/ 1999

Agosto/ 1999

Setembro/199

9

Outubro/1999

Abril/2000

23/06/2000

25/06/2000

09/12/2000

29/10/2002

11/06/2009

12/06/2009

13/06/2009

04/07/2009

30/08/2009

25/09/2009

05/10/2009

26/10/2009

05/11/2009

06/11/2009

08/11/2009

09/11/2009

10/11/2009

01/12/2009

23/12/2009

28/02/2010

30/05/2010

10/07/2010

01/09/2010

24/07/2010

13/09/2010

05/03/2011

25/05/2011

05/06/2011

09/06/2011

20/08/2012

24/08/2012

22/10/2011

02/11/2011

19/11/2011

23/11/2011

31/12/2011

05/04/2012

09/05/2012

09/06/2012

28/06/2012

16 Maria Inácia Parreira Borrego (83 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz)

07/03/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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350

17 Maria José Bento (76 anos, 4º ano de escolaridade, reformada

(trabalhadora rural e auxiliar de cozinha), natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz)

06/11/2011

18 Maria Margarida Couto Lopes (72 anos, 4º ano de escolaridade,

reformada (trabalhadora rural), natural de Reguengos de Monsaraz,

residente em Reguengos de Monsaraz)

06/11/2011

19 Maria Vitória de Sousa Serrano (72 anos, analfabeta, reformada

(doméstica), natural de Moura (cresceu em S. Marcos do Campo,

aldeia dos seus pais), residente em Reguengos de Monsaraz)

23/09/2011

20

Raimundo Luís Godinho Caeiro (68 anos, 9º ano de escolaridade,

agricultor, natural de Campinho, residente em Reguengos de

Monsaraz)

Setembro/199

9

24/07/2010

07/03/2011

21 Rosete Falardo Ramalho (68 anos, 4º ano de escolaridade,

reformada (doméstica), natural de Gafanhoeiras, residente em

Reguengos de Monsaraz)

24/11/2011

22

Serafim Capucho dos Santos Amieira (71 anos, 4º ano de

escolaridade, reformado, natural de Campinho, residente em

Reguengos de Monsaraz)

Agosto /1999

Setembro/

1999

Abril/2000

23/06/2000

Julho/2000

05/06/2009

07/05/2009

11/06/2009

12/06/2009

13/06/2009

16/06/2009

04/07/2009

24/07/2010

13/09/2009

05/10/2009

17/10/2009

05/11/2009

07/11/2009

08/11/2009

09/11/2009

08/12/2009

16/01/2010

31/01/2010

01/02/2010

02/02/2010

03/02/2010

30/05/2010

31/05/2010

11/09/2010

13/09/2010

14/09/2010

07/03/2011

09/04/2011

30/08/2011

11/09/2011

12/09/2011

24/09/2011

09/10/2011 10/10/2011

11/10/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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351

03/11/2011

04/11/2011

06/11/2011

07/11/2011

19/11/2011

23/11/2011

24/11/2011

06/12/2011

07/12/2011

08/12/2011

06/02/2012

21/03/2012

11/05/2012

12/05/2012

09/06/2012

Local de

Recolha SANTO ANTÓNIO DO BALDIO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Domingos Gaspar dos Santos Ramalho (68 anos, analfabeto,

reformado (moiral de gado bravo), natural do Outeiro, residente em

Santo António do Baldio)

10/10/2011

2 Guiomar Rodrigues (44 anos, 4º ano de escolaridade, doméstica,

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do

Baldio)

03/11/2011

3 Maria do Rosário Neves Alfaiate (Ti Lia) (81 anos, analfabeta,

reformada (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio,

residente em Santo António do Baldio)

10/10/2011

21/10/2011

4 Mariana dos Santos Mendes (76 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio,

residente em Santo António do Baldio)

10/10/2011

5 Prazeres Carvalho Ramos (74 anos, analfabeta, reformada

(trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio, residente

em Santo António do Baldio)

03/11/2011

6 Rosário Pinto Ramalho (Bisau) (77 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada (trabalhadora rural), natural de Santo António do Baldio,

residente em Santo António do Baldio)

03/11/2011

7 Sabina Costa Bentinho (75 anos, 3º ano de escolaridade, reformada,

natural de Santo António do Baldio, residente em Santo António do

Baldio)

10/10/2011

Local de

Recolha S. MARCOS DO CAMPO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 Antónia Garcia (85 anos, 3º ano de escolaridade, reformada

(trabalhadora rural), natural de São Marcos do Campo, residente em

São Marcos do Campo)

07/12/2011

2 António Caeiro Paias (87 anos, 3ª classe, reformado (trabalhador

rural), natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do

Campo)

24/11/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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352

3 António Ramalho (95 anos, analfabeto (sabe ler e escrever),

reformado, natural de São Marcos do Campo, residente em São

Marcos do Campo)

07/12/2011

4 Generosa Ramalho Pereira (84 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada (trabalhadora rural), natural de São Marcos do Campo,

residente em São Marcos do Campo)

07/12/2011

5 Inácia Bragado Adriano (80 anos, analfabeta, reformada

(trabalhadora rural), natural de S. Marcos do Campo, residente em

S. Marcos do Campo)

24/11/2011

6 Inácia Martins Balancho (83 anos, 2º ano de escolaridade,

reformada, natural de São Marcos do Campo, residente em São

Marcos do Campo)

07/12/2011

7 Inácia Martins dos Santos (86 anos, 3º ano de escolaridade,

reformada, natural de São Marcos do Campo, residente em São

Marcos do Campo)

07/12/2011

8 Josefina da Conceição Bragado Godinho (58 anos, 4ª classe,

reformada, natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos

do Campo)

24/11/2011

9 Maria Clara Bragado (69 anos, analfabeta, reformada (doméstica),

natural de S. Marcos do Campo, residente em S. Marcos do Campo)

24/11/2011

10 Maria Gomes (86 anos, analfabeta reformada, natural de São

Marcos do Campo, residente em São Marcos do Campo)

07/12/2009

11 Virgílio de Carvalho Paias (89 anos, 4º ano de escolaridade,

reformado, natural de São Marcos do Campo, residente em São

Marcos do Campo)

07/12/2011

Local de

Recolha

S. PEDRO DO CORVAL

Nº Identificação

dos Informantes

Data das

entrevistas

1 Domingos Falardo Amieira (71 anos, analfabeto, reformado,

natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval)

23/10/2011

2 José Godinho (78 anos, analfabeto, reformado, natural da Caridade,

residente em S. Pedro do Corval)

22/10/2011

3 José Jaleca Dourado (74 anos, 4º ano de escolaridade, barbeiro,

natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval)

02/11/2011

4 Maria da Conceição Reis (Maria dos Três Queijos) (58 anos, 4º ano

de escolaridade, comerciante, natural de Santo António do Baldio,

residente em S. Pedro do Corval)

02/11/2011

5 Maria de Aires Valadas (61 anos, 2º ano de escolaridade, doméstica,

natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval)

02/11/2011

03/11/2011

6 Mariana Rosa Carvalho Ramos (71 anos, 1º ano de escolaridade,

reformada (cabeleireira), natural de Santo António do Baldio,

residente em S. Pedro do Corval)

03/11/2011

04/11/2011

7 Sertório Orti Barona (73 anos, 4º ano de escolaridade, reformado,

natural de S. Pedro do Corval, residente em S. Pedro do Corval)

22/10/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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353

Local de

Recolha TELHEIRO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1 António Joaquim Morais Cardoso (74 anos, 2º ano de escolaridade,

trabalhador rural, natural de Monsaraz, residente em Telheiro)

22/09/2011

20/10/2011

2 Deolinda Caeiro Lopes (75 anos, analfabeta, mas sabe ler e

escrever, pasteleira, natural de Outeiro, residente em Outeiro)

22/09/2011

23/09/2011

3 Georgina Leal (70 anos, 4ª classe, comerciante, natural de Telheiro,

residente em Telheiro)

22/09/2011

4

Mariana Gato Curvinha (80 anos, 3º ano de escolaridade, reformada

(trabalhadora rural), natural de Telheiro (nasceu e cresceu no

Convento da Orada, propriedade da família na altura), residente em

Telheiro)

13/09/2011

22/09/2011

5

Rosa Maria Morais Ramalho Cardoso (73 anos, analfabeta,

trabalhadora rural e doméstica, natural de Monsaraz, residente em

Telheiro)

22/09/2011

25/09/2011

10/10/2011

20/10/2011

6 Rosa Lopes Patinha Berjano (78 anos, 4º ano de escolaridade,

reformada, natural de Telheiro, residente em Telheiro)

21/09/2011

Concelho de Mourão

Local de

Recolha MOURÃO

Identificação

dos Informantes

Data das

Entrevistas

1

Elexina Pereira Marcão Real (87 anos, 2º ano de escolaridade,

reformada, natural de Monsaraz (nasceu no monte da Belhoa),

residente em Mourão)

22/11/2011

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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354

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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355

Anexo III – Antologias de textos líricos da tradição oral do concelho de Reguengos

de Monsaraz, recolhidos e publicados, entre 1899 e 2012.

A. Antologia de composições publicadas, entre 1899 e 2012

1.Composições de carácter prático-utilitário

1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa

1. 1.1. Orações

Para o quotidiano

De manhã

Ao nascer do sol

OrP 1665 Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Já lá vem o sol nascendo,

Com a sua capinha amarela,

Quem lha deu? quem lha daria? Foi a Santa Badanela.666

5 A Santa Badanela escreveu

Uma carta a Jesus Cristo O portador que a levou

Foi o padre S. Francisco.

O padre S. Francisco, 10 Meu divino amparador,

Amparai a minha alma,

Quando deste mundo for.

665 Aparato crítico do editor:

Ao Nascer do Sol (segundo o colector, é muito parecida (…) mas mais desenvolvida, há, segundo T. Braga,

op. Cit., p.242 [BRAGA 1913: 242], em Vila Boim a “oração pelas almas”. Oração? (…) O colector tem pertinência na interrogação: trata-se de um pequeno romance estrófico, ora

usado como oração, ora tomado como canto de trabalho. (…) Este pequeno romance estrófico era cantado em Trás-os-Montes como “romance de segada”, ao pôr-do-

sol, no regresso do trabalho, neste caso ceifa manual; começa, na maior parte das versões, Agora baixou

o sol/ lá por trás daquela serra; conhecemos, referindo o nascer do sol, a partir da Beira Alta, munic. de

Nelas, dist. de Viseu, para o Sul; recolhido, mais abundantemente, no Alentejo; não temos conhecimento

de nenhuma versão recolhida no Algarve. (Pombinho Júnior [2001], pp. 61-62). 666 Corruptela de “Madalena”.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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356

Ao levantar-se

Ao lavar as mãos

OrP 2667 Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria da Horta.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Pelo sinal † da Santa Cruz… Minhas mãos molho,

Meu rosto lavo,

Dou glórias à Senhora

E penas ao pecado.

À noite

Ao deitar

OrP 3668 Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Jesus que eu vou para o Céu, Os anjos me vão levando;

Tudo me vai esquecendo,

Só Jesus me vai lembrando.

OrP 4669 Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor morto,

Guardai a minha alma E o meu corpo;

Senhor vivo;

5 Guardai a minha porta,

O telhado e o meu postigo; Senhor crucificado,

Comigo deitado.

667 Aparato Crítico do Editor:

(…) no mesmo suporte, rosto, a citação: “Para o lavar as mãos

Minhas mãos molho,

Meu rosto lavo,

Para dar gosto à Virgem

5 Penas ao diabo.”

T. Braga, Canc. Pop. Port., 2º vol. – p. 228 [BRAGA 1913:228]. O confronto da versão de S. Marcos com

a referida de T. Braga explica a anotação de pecado! = diabo, perfeitamente corrente no léxico das orações

populares. (Pombinho Júnior [2001], pág. 51). 668 Pombinho Júnior [2001], pág. 89. 669 Aparato Crítico do Editor: (…) A oração está escrita em três versículos que não correspondem à ritmia

e assonâncias reais e que são perfeitamente detectáveis (…). (Pombinho Júnior [2001], pp.89-90).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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357

OrP 5670 Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria da Horta.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor[,] morto foste

E vivo estais,

Daí-me bom viver E graças para Vos servir;

5 Deitai-me a Vossa bênção

Que me quero deixar dormir.

OrP 6671

Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Quatro cantos tem a casa,

Quatro luzes estão a arder Quatro anjos me acompanhem

Esta noite, se eu morrer.

OrP 7672 Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Antónia Casado.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Nesta cama me deito,

Com esta tampa me cubram; Se eu morrer esta noite,

Os anjos do Céu me acudam!

OrP 8673 Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das

Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor, que na cruz estais,

Morto foi, e vivo estais,

Para não tornar a morrer[,] Senhor, daí-me bom viver

5 E graça para O servir;

Daí-me a vossa abênção

Que me quero deixar dormir.

670 Pombinho Júnior [2001], pág. 90. 671 Aparato Crítico do Editor: (…) Cf. 2º vol. Do Canc. Pop. Port., p. 219 [BRAGA 1913:219] que tem uma

versão desta oração (e do Alentejo) com o v. 2 Quatro velas estão a arder. (Pombinho Júnior [2001], pp.

91-92). Há uma versão parecida em Orações. Património Oral do Concelho de Loulé (cf. Custódio, Galhoz,

Cardigos [2008], pág. 68). 672 Aparato Crítico do Editor: (…) Consta, ao fundo, uma nota a lápis T. Braga, II, p. 219 [BRAGA 1913:219] e que não foi aproveitada

no dactiloscrito por não justificar o confronto (…). (Pombinho Júnior [2001], pág. 93). 673 Pombinho Júnior [2001], pág. 93.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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358

Depois da refeição

OrP 9674 Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria das Minas. Recolhida por

J. A. Pombinho Júnior.

Deus que aqui nos juntou

E que nos ajunta

E nos acobre No seu santo terreno,

5 No seu santo serviço[,]

Deus que nos deu para agora

Nos dê<a> sempre E para toda a hora

Ámen Jesus[,] M[ária][,]José.

Ao acender a luz

OrP 10675 Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria das Minas. Recolhida por

J. A. Pombinho Júnior.

Seja louvado N[osso] S[enhor] Jesus Cristo! Deus nos dê a luz na alma e no corpo,

Deus nos veja,

E o demónio cego seja!

Para acompanhar o ritual da missa

Ao entrar na igreja

OrP 11676 Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das

Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Fiquem aí, pecados meus[,]

Debaixo desse pinheiro, Que eu vou à casa santa

Visitar Deus verdadeiro.

Quando o padre diz: ‘Padre, Filho, Espírito Santo’

OrP 12677 Versão de A[ldeia] do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das

Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Senhor, que estais em primeiro lugar,

674 Pombinho Júnior [2001], pág. 82. 675 Pombinho Júnior [2001], pág. 8. 676 Pombinho Júnior [2001], pág. 64. 677 Pombinho Júnior [2001], pág. 70.

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359

Por seres um Deus Amparador,

E eu, como grande pecador,

Mil graças vos venho dar!

Quando a missa termina, ao sair da igreja

OrP 13678 Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora. Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Graças a Deus que ouvi missa,

Graças a Deus, que Deus a disse

No céu e na terra

Meu pai e minha mãe tenham quinhão nela. 5 Adora, adora Cristo, adora;

Deitai-me a vossa bênção,

Que me quero ir embora.

Oferecimento: Já me vou embora,

10 Minha alma cá fica

Se eu não puder voltar,

Os anjos me vão buscar. Amén.

Ao passar pelo cruzeiro

OrP 14679 Versão de Aldeia do Mato, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria Rosado (Maria das

Minas). Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Deus te salve, Cruz bendita,

Ramalhete de flores,

Onde morreu Jesus Cristo, Para salvar os pecadores!

Para proteger da trovoada

OrP 15680 Versão de São Marcos do Campo, munic. de Reguengos, dist. de Évora, ouvida a Maria da Horta.

Recolhida por J. A. Pombinho Júnior.

Valha-me o Santíssimo Sacramento,

E as três missas do Natal: Não haja nada no mundo

Que nos possa fazer mal.

678 Pombinho Júnior [2001], pág. 76. 679 Pombinho Júnior [2001], pág. 151. 680 Pombinho Júnior [2001], pág. 114 e 151.

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1.1.2. Ensalmos

EnsP 1681 Recolha junto dos formandos (2º ciclo) do Ensino Recorrente do Alentejo Central, efectuada pela

Coordenação Concelhia do Ensino Recorrente, em Reguengos de Monsaraz, em 1997.

Benzedura do ventre caído

Encomendamo-nos a S. Silvestre

E às onze camisinhas que ele veste. Os seus anjinhos são trinta e sete,

Que nos livre de bicha, de serpa,

5 De cão raivoso, de homem temeroso,

De mulher desguedelhada e que anda De noite no meio da estrada.

Em louvor da virgem Maria Reze-se um Padre-Nosso e uma Ave-Maria

681 Nota do recolector sobre o contexto de enunciação: Esta benzedura faz-se às pessoas que, por qualquer

motivo, apanharam um grande susto, ficando com esse trauma, ficando assim assustadiças. AA. VV., (Com)Viver a Tradição (Recolha de Cultura Popular), Alentejo Central, Ministério da Educação

– DREA – CAE Alentejo Central / Educação Recorrente e Extra-Escolar, 2000, pág. 49.

No corpus secundário, a composição XXXXX (recolhida pela Coordenação Concelhia) foi publicada como

“Benzedura do ventre caído” mas classificamo-la como ensalmo porque, apesar de ser usada com fins curativos (na referência à situação de enunciação, diz-se: “Esta benzedura faz-se às pessoas que, por

qualquer motivo, apanharam um grande susto, ficando com esse trauma, ficando assim assustadiças”), não

há qualquer referência ao gesto de benzer. Contudo, a referida composição pode ter dupla classificação,

uma vez que, na verdade, corresponde textualmente a uma oração, a Encomendação a S. Silvestre.

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1.1.3. Esconjuros

EscP 1682 Recolha realizada na aldeia de Motrinos, concelho de Reguengos de Monsaraz.

S. Jerónimo se levantou,

Seu sapatinho d’ouro calçou, Seu cacheirinho agarrou,

Seu caminho caminhou.

5 Deus Nosso Senhor o encontrou.

- Onde vais, S. Jerónimo? - Vou espalhar esta trovoada

Que por cima de nós anda armada.

- Espalha-a lá para bem longe,

10 Para onde não haja pão nem vinho, Nem flor de rosmaninho,

Nem eira nem beira,

Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã, 15 Nem alminha cristã.

682 Delgado [1956], pág. 107.

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1.2. Composições de sabedoria

1.2.1. Provérbios

PP1683

Agua branda em pedra dura tanto bate até que fura.

PP2684 A festa do Natal atras do lar: a da Paschoa na praça; a do Espirito Santo no Campo.

PP3685

A lavrador descuidado, os ratos lhe comem o semeado.

PP4686

Ande o frio por onde andar ha-de vir pelo Natal.

PP5687

Dia de S. Luzia, mingua a noite e cresce o dia.

PP6688 Dia de S. Silvestre, quem tem carne que lhe preste.

PP7689

Do Natal a Santa Luzia, cresce um palmo o dia.

PP8690

Em Dezembro a uma lebre galgos cento.

PP9691

Em Dezembro descansa, em Janeiro trabalho.

PP10692 Entre o Menino e Thomé três dias é.

PP11693

Mais do que o dado, vale a maneira de o dar.

683 s.a. [1914], “O Carnaval”, in O Ecco de Reguengos, Reguengos, 28 de Fevereiro de 1914, nº 245 pág.1. 684 s.a [1899]., “Preverbios de Dezembro”, in Jornal de Reguengos,10 de Dezembro de 1899, pág. 2. 685 s.a. [1947] “Provérbios”, in O Éco de Reguengos (II Série), 16 de Março de 1947, nº 710, pág. 4. 686 s.a. [1899], pág. 2. 687 s.a. [1899], pág. 2. 688 s.a. [1899], pág. 2. 689 s.a. [1899], pág. 2. 690 s.a. [1899], pág. 2. 691 s.a. [1899], pág. 2. 692 s.a. [1899], pág. 2. 693 s.a. [1947], pág. 4.

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PP12694

Mais vale pouco e acertado, do que o muito e errado.

PP13695 Moço desprevenido, serà velho arrependido.

PP14696

Nunca digas o que sabes, sem saber o que dizes.

PP15697

Olha para ti, e fica-te por aí.

PP16698

O que arma a esparrela, muitas vezes cai nela.

PP17699 O que convém, antes de tudo, é o modo mais simples de aprender.

PP18700

O Dezembro quer lenha no lar e richel no andar.

PP19701

Outubro, Novembro e Dezembro não busque o pão no mar.

PP20702

Pelo Natal bico de pardal.

PP21703 Pelo S. Thomé o porco pelo pé.

PP22704

Por S. Nicolau a neve no chão.

PP23705

Quem é bom de contentar, menos tem de chorar.

PP24706

Quem não pode dormir, acha a cama mal feita.

694 s.a. [1947], pág. 4. 695 s.a. [1947], pág. 4. 696 s.a. [1947], pág. 4. 697 s.a. [1947], pág. 4. 698 s.a. [1947], pág. 4. 699 s.a. [1947], pág. 4. 700 s.a. [1899], pág. 2. 701 s.a. [1899], pág. 2. 702 s.a. [1899], pág. 2. 703 s.a. [1899], pág. 2. 704 s.a. [1899], pág. 2. 705 s.a. [1947], pág. 4. 706 s.a. [1947], pág. 4.

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364

PP25707

Quem quizer bom alhal, semea-lo pelo Natal.

PP26708

Quem vae ao S. Silvestre, vae n’um ano e vem no outro e nunca se despe.

PP27709 Riquesa a valer é: saude e saber.

PP28710

Se queres a desgraça em Portugal, dá-lhe três cheias antes do Natal.

707 s.a. [1899], pág. 2. 708 s.a. [1899], pág. 2. 709 s.a. [1947], pág. 4. 710 s.a. [1899], pág. 2.

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365

2.Composições de carácter lúdico

2.1. Cantigas de todos os dias

2.1.1. Cantigas Amorosas

CAP 1711

A alcachofra ontem queimada,

Meu bem, por tua intenção,

Achei-a, de madrugada,

Màs negra que um tição. (Reguengos)

CAP 2712

Abre, morena, a janela;

Mas basta abri-la só meia, P’ra brilhar a meia lua

Onde brilha a lua cheia.

CAP 3713

Abre o meu peito, verás

Um enterro bem formado,

Verás meu coração morto

Tu, amor, mo tens matado. (Reguengos)

CAP 4714

Adeus, amor d’algum dia, Ainda te quero béim;

Ainda hoje pra mim,

Coma ti nã há ninguéim. (Aldeia do Mato)

CAP 5715 Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de

Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Adeus amor passa bem

711 J. A. Pombinho Júnior [1938h], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 25 de

Setembro de 1938, nº 401, pág. 7. 712 s.a. [1928g], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 41, Reguengos, 19 de

Outubro de 1928, pág. 1. 713 J. A. Pombinho Júnior [1940c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11 de

Agosto de 1940, nº 499, pág. 5. 714 J. A. Pombinho Júnior [1936], Cantigas Populares Alentejanas e seu subsídio para o léxico português,

Porto, Edições Maranus, 1936, pág. 45. 715 Luísa Róis [2004], Conversa com versos. Colectânea de Poesia Popular. Projecto para a Inclusão e

Cidadania do Concelho de Reguengos de Monsaraz, 2004, pág. 137.

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366

Já não ouves a minha fala

Vais-me fazer uma ausência

Como o fumo que abala

CAP 6716

Adês, amor, passa béim,

Que algum dia nos v’remos;

As pedras no ar s’encontrom, Taméim nós assim sarêmos.717 (Aldeia do Mato)

CAP 7718 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Adeus que me vou embora

Não me vou embora, não

Antes que me vá embora Fica cá meu coração

CAP 8719

A fita do tê chapéu, Ó redor dá quatro voltas.

Quéim namora às ‘condidas

Vai pró céu às cambalhotas. (Aldeia do Mato)

CAP 9720

A felor do carapêto,

Ao longe fachada faz. Se nã me amas com jêto,

À força nã és capaz. (Reguengos)

CAP 10721 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

A flor do cemitério

Quando abre dá paixão 716 Pombinho Júnior [1936], pág. 92. 717 J. A. Pombinho Júnior [1925a], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 24 de Junho de 1925, Ano II, nº 89, pág. 8. 718 Róis [2004], pág. 84. 719 Pombinho Júnior [1936], pág. 21; J. A. Pombinho Júnior [1934b], “Retalhos de um Vocabulário”, in

Brados do Alentejo, Estremoz, 5 de Agosto de 1934, nº 184, pág. 6. 720 Pombinho Júnior [1936], pág. 37. 721 Róis [2004], pág. 121.

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367

Eu falo contigo ao sério

Tu comigo à mangação

CAP 11a722

A folha da vinha branca

Era amarela, encarnou,

Estavas para mim tão firme!

Meu amor, quem te virou?... (Reguengos de Monsaraz)

CAP 11b723

A folhinha do salguêro

De amarela encarnou. Tavas para mim tã firme,

Ó amor, quéim te voltou? (Reguengos)

CAP 12724

A folha da vinha branca

O sol claro a passa.

Hê-de empregar tod’ ô jêto,

Para te cair em graça. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 13725

Aguardente bem temperada

É que faz a fala fina;

Eu gosto da minha amada Por ser a mais pequenina.

(Reguengos de Monsaraz)

CAP 14726

Ai de mim, que vou p’ràs malvas, Caminhando p’ràs ortigas.

Já perdi o norte à terra,

A amizade às raparigas. (Reguengos)

CAP 15727 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

722 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 541. 723 Pombinho Júnior [1936], pág. 47. 724 J. A. Pombinho Júnior [1925 b], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 19 de Julho de 1925, Ano II, nº 92, pág. 4; Leite de Vasconcelos

[1975], pág. 350. 725 José Leite de Vasconcelos [1975a], Etnografia Portuguesa, vol. VI , Lisboa, IN-CM, 1975, pág. 396;

Leite de Vasconcelos [1975], pág. 663. 726 Pombinho Júnior [1936], pág. 75. 727 Róis [2004], pág. 149.

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Algum dia eu era

No teu prato a melhor sopa

Agora sou um veneno Que entra na tua boca

CAP 16728 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Algum dia nessa rua

Tinha duas cadeiras

Onde assentavas meus olhos E agora vão de carreira

CAP 17729

Á luz daquela candeia, Jurou meu coração,

Jurou e não te falseia,

É mais firme que o chão. (Reguengos)

CAP 18730

À luz daquela candeia

Se fez mê casamento.

Ó candeia nã t’apagues Que hás-de vir a juramento. (Reguengos)

CAP 19731

À luz daquela candeia Se fêz o mê casamôlho.

Ó candeia nã t’apagues

Que o noivo é torto dum olho.732 (Reguengos)

CAP 20733

Amâr é um sentimento

Oculto no coração!... Quem ama tem que sofrer

Com muita resignação. 728 Róis [2004], pág. 150. 729 J. A. Pombinho Júnior [1938j], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 16 de

Outubro de 1938, nº 404, pág. 5. 730 Pombinho Júnior [1936], pág. 38. 731 Pombinho Júnior [1936], pág. 38. 732 J. A. Pombinho Júnior [1925], “Cantigas Populares Alentejanas”, in Ilustração Alentejana, Évora, Maio

de 1925, pág.19. 733 s.a. [1928a], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 35, Reguengos, 5 de Agosto

de 1928, Ano I, pág. 2.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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CAP 21734

Amas a Deus, nosso Senhor

Que morreu por toda a gente;

Só a mim não tens amôr Que morro por ti, somente.

CAP 22735

A minha intressôra rala, Qu’ê nã tenho ralador;

Onde quere qu’ê chigar,

Nã hás-de fazer felor.736 (São Marcos)

CAP 23737

A madronheira de vrido

De rija que não se quebra:

Assim andas tu comigo Cudas que o vento me leva. (Reguengos)

CAP 24738 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

A minha sogra diz que tem

Uma prenda p'ra me dar

Mas se ela não me der o filho

A prenda pode arrecadar

CAP 25739

Amôri, aperta-me a mão,

Faz-me ‘stralar estas unhas. Se eu te quero béim ò não,

Aqui tão as destemunhas. (Reguengos)

CAP 26740

Amôri, já lá vão balas,

734s.a. [1928e], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 39, Reguengos, 23 de

Setembro de 1928, pág. 2. 735 Pombinho Júnior [1936], pág. 65. 736 Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1933c] “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 17 de Dezembro de 1933, nº 151, pág. 6. 737 J. A. Pombinho Júnior [1948a], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,

Estremoz, 25 de Janeiro de 1948, nº 865, pág. 3. 738 Róis [2004], pág. 120. 739 J. A. Pombinho Júnior [1939a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 15 de

Janeiro de 1939, nº 417, pág. 17. 740 J. A. Pombinho Júnior [1938f], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 14 de

Agosto de 1938, nº 395, pág. 7.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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Que o chumbo vareia:

Nã posso q’rer bem

A quem me falseia. (Aldeia do Mato)

CAP 27741

A oliveira ao alto

Tem na folha aos anéis,

Quem namora às escondidas, Sempre anda a fazer papéis… (Reguengos de Monsaraz)

CAP 28a742

A oliveira pequenina

Dá azeitona p’rò lagar;

Eu também sou pequenina,

Mas sou firme no amar. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 28b743

Azêtona pequenina

Taméim vai ò alagar; Taméim ê sou pequenina

Mas sou firme no amar. (Reguengos)

CAP 29744 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.745

Amor da tua mãe

Nem à porta me quer ver Ainda espero que ele vingue

Entre a filha vem comer

CAP 30746 Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de

Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Amor diz à tua mãe

Que não diga mal de mim

741Leite de Vasconcelos [1975], pág. 386. 742 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 458. 743 Pombinho Júnior [1936], pág. 18. 744 Róis [2004], pág. 121. 745 Róis [2004], pág. 121. 746 Róis [2004], pág. 32.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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371

Pode ser que ainda sejamos

Rosas do mesmo jardim

CAP 31747

Amores vários, amores loucos,

Amores das ervas do campo,

Já me tinha admirado

Do nosso amor durar tanto. (São Marcos)

CAP 32748 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Amor, fala se podes,

Que eu de acenos não entendo

Custa-me os olhos da cara

Não te falar em te vendo

CAP 33749 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Amor já não posso

À porta falar contigo

Já tenho guarda à porta

E sentinela ao postigo

CAP 34750 Informante: Maria Joana Bugalho, nascida a 29 de Janeiro de 1923, em Reguengos de Monsaraz. Foi

trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Amor vai à minha casa

Cada vez que tu quiseres

Eu não posso ir à tua

Que não está dado às mulheres

CAP 35751 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

747 Pombinho Júnior [1936], pág. 97. 748 Róis [2004], pág. 17. 749 Róis [2004], pág. 16. 750 Róis [2004], pág. 123. 751 Róis [2004], pág. 117.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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372

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Anda cá amor não “vaias”

Ao rés da porta fugindo

Não vás fugindo à “desgracia” Que ela te irá perseguindo

CAP 36752 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

António me deu um lenço

Manuel um anel de ouro

Vale mais um lenço de António Que o anel daquele touro

CAP 37753

Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

À porta da minha sogra

Está uma roseira amarela

Todos passaram Só eu é que fiquei preso nela

CAP 38754

Aqui ó mê la drêto Éi um gosto a gente olhári;

Éi um cravo tã prefêto

Que acupa êste lugári. (Reguengos)

CAP 39755 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Aqui tens meu coração

Se o queres matar, podes

752 Róis [2004], pág. 16. 753 Róis [2004], pág. 83. 754 J. A. Pombinho Júnior [1938c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 20 de

Março de 1938, nº 374, pág. 6. 755 Róis [2004], pág. 18.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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373

Olha que estás dentro dele

Se o matares também morres

CAP 40756

Arranjaste amor’s novos,

‘Stimo da minha banda;

Queira Deus que durem tanto,

Comà àgua na ciranda. (Aldeia do Mato)

CAP 41757 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

A rosa depois de seca Foi-se queixar ao jardim

O cravo lhe respondeu

Mal de amor já não tem fim

CAP 42758

A roseira cardinal

Dá rosa a oito e oito;

Eu ainda hei-de ser tua. Mas por ora não me afoito. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 43759 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

A roseira cardinal

Dá rosas até à linha O meu coração não fala

Não fala mas adivinha

CAP 44760

“A roseira cardinal Dá rosas a três e três.

Todo o amor que é leal,

756 J. A. Pombinho Júnior [1938j], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 16 de

Outubro de 1938, nº 404, pág. 5. 757 Róis [2004], pág. 17. 758 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 113. 759 Róis [2004], pág. 85. 760 J. A. Pombinho Júnior [1925f], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 13 de Setembro de 1925, Ano III, nº 100, pág. 4.

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374

Vai e volta outra vêz. (Aldeia do Mato)

CAP 45761 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

A roseira dá botões

Dos botões rosas abertas

Tenho visto mangações E às vezes sem darem certas

CAP 46762

A salsa verde na serra Verdeja com’ò travisco;

O meu amor foi-me falso,

Como Judas foi a Cristo. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 47763

A salsa verde na serra

Verdeja com o travisco.

O meu amor foi-me falso Como Judas foi a Cristo. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 48764

A semana amorosa

Na «segunda-feira» eu te amo,

Na «terça» te quero béim, Na «quarta» por ti ‘spero,

Na «quinta» por mais nenguéim;

Na «sexta» dou um suspiro,

No «sábado» digo por quéim, No «domingo» vou à missa

Pra ver quéim me quere béim.

CAP 49a765 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

761 Róis [2004], pág. 35. 762 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 469. 763 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 35; Pombinho Júnior [1936], pág. 96. 764 J.A. Pombinho Júnior [1934], “Canções e modas alentejanas”, Arquivo Transtagano, ano II, Elvas,

1934, pp. 209-210. 765 Róis [2004], pág. 116.

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375

As telhas do teu telhado

Deitam água sem chover

Deixaste a mim por outra Ainda te hás de arrepender

CAP 49b766

- “As telhas do meu telhado Deitam agua sem chover.

Trocaste-me a mim por outra

Inda t’há-des arrepender. (Reguengos)

CAP 50767

As tuas olheiras negras

Dão mais brilho ao teu olhar…

Se não fosse a noite escura Não brilharia o luar.

CAP 51768

As telhas do meu telhado Deitam água sem chover.

Trocaste-me a mim por outra

Inda te hás-de arrepender. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 52 769 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Aventei o limão correndo

À tua porta parou

Quando o limão te quer bem

Farei eu quando lá vou

CAP 53770

Beldorégas sã sàdiças,

Cá pur mim nã gosto delas. Em vendo as moças bonitas,

Nã me sustenho nas canelas.

766 J. A. Pombinho Júnior [1926a], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 16 de Maio de 1926, Ano III, nº 110, pág. 4. 767 s.a. [1928f], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 40, Reguengos, 7 de Outubro

de 1928, pág. 2. 768 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 495. 769 Róis [2004], pág. 83. 770 Em Terra Alentejana, Pombinho Júnior refere como local de recolha a aldeia de Campinho (Pombinho

Júnior [1925e], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico português)”, in Terra

Alentejana, Évora, 30 de Agosto de 1925, Ano III, nº 98, pág. 3;[1936], pág. 28).

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376

(Reguengos)

CAP 54771

Cando ê era solteirinha

Usava fitas òs molhos; Agora, que sou casada,

Trago lágrimas nos olhos. (Reguengos)

CAP 55a772

Cando eu tinha quinze anos,

Tinha mais desambaraço;

Namorava por açanos Coisa que agora nã faço.773 (Reguengos)

CAP 55b774

Cando eu tinha quinze anos,

Tinha um outro saber; Namorava por açanos

Séim nenguéim o perceber. (Reguengos)

CAP 56 775

Chamaste-me corriol

Embaraçado no trigo;

Ê nã me embaraço

Se nã agora contigo. (Reguengos)

CAP 57776 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Comprei o chapéu branco

Para a noite namorar

O chapéu branco rompeu-se

E o namoro está-se a acabar

771 Pombinho Júnior [1936], pág. 55. 772 Em Ilustração Alentejana, Pombinho Júnior afirma que a composição foi recolhida em Aldeia de Mato

(Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1936], pág. 16). 773 O recolector afirma que recolheu a composição em Aldeia do Mato (Pombinho Júnior [1925], pág. 19). 774 Pombinho Júnior [1936], pág. 16. 775 Pombinho Júnior [1925g], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico português)”,

in Terra Alentejana, Évora, 27 de Setembro de 1925, Ano III, nº 101, pág. 4; [1936], pág. 41. 776 Róis [2004], pág. 116.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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377

CAP 58777 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Com quatro letras se escreve O nome que eu mais adoro

Quem saberá ler que leia

Saberá por quem eu choro

CAP 59778

Da faveira nace a fava,

Da fava nace o piolho.

Quéim namora sempre alcança A sua piscadela de ôlho. (Reguengos)

CAP 60779 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Deam-me cravos aos molhos

Para a mesa da minha sala

Alegria dos meus olhos É ouvir a tua fala

CAP 61780

De encarnado veste a rosa,

De verde o manjericão

De branco veste a açucena

De negro o meu coração.

CAP 62781

Desejava que as ‘strelas

Fossem minas destemunhas, Para ver, na minha ausência,

As faltas que tu me punhas. (Aldeia do Mato)

CAP 63782

Dêti um limão ò poço

777 Róis [2004], pág. 154. 778 Pombinho Júnior [1936], pág. 74. 779 Róis [2004], pág. 18. 780 s.a. [1910a], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 2, 16 de Janeiro de 1910, pág. 3. 781 J. A. Pombinho Júnior [1939], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 15 de

Janeiro de 1939, nº 417, pág. 17. 782 Pombinho Júnior [1936], pág. 43.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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378

Apodrecê-m’àmétade.

Toma amor’s do tê gosto,

Dêxa os descontravontade. (Reguengos)

CAP 64783

Dizem que amar é ter vida.

Ai, não – Amar é viver:

É ter a alma perdida Por causa duma mulher.

CAP 65784

Dizem que as mãis querem mais Ao filho que mais mal faz.

Por isso te quero tanto

Que tantas máguas me dás.

CAP 66785 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Dizem que a folha do trigo É mais alta que a da cevada

Amor, a minha amizade

Ao pé da tua é dobrada

CAP 67786 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Dizem que o meu amor é feio

É falso, não acredito Se o vissem com os meus olhos

Logo o achariam bonito

CAP 68787 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

783 s.a. [1928d], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 38, Reguengos, 9 de

Setembro de 1928, pág. 2. 784 s.a. [1928a], pág. 2. 785 Róis [2004], pág. 84. 786 Róis [2004], pág. 83. 787 Róis [2004], pág. 84.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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379

Dizem que o preto é luto

E acho na verdade

Deixa-te andar, meu amor Que andas à tua vontade

CAP 69788

Diz-me amor se tás doente Que ê sou tê boticário;

Tenho na minha tenda

Remédios pra quéim é vário. (Aldeia do Mato)

CAP 70789

Do céu caiu um sinal,

No chão se fez encarnado.

A amizade qu’eu te tinha, Fica em ódio refinado. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 71a790

Do céu caíu um sinal

No chão se fez encarnado.

A amizade que eu te tinha

Ficou em ódio-refinado.791 (Aldeia do Mato)

CAP 71b792

Do céu caiu um sinal

No chão se desfarinhou. Quéim neste mundo nã ama

No outro nã se salvou. (Reguengos)

CAP 72793

Ê já vi narcer o sol,

Numa manhéim de nuvrina.

Deixaste-me por ser pobre,

Outras faltas nã nas tinha. (Aldeia do Mato)

CAP 73794

Ê hê-de amar ‘ma pedra,

788 Pombinho Júnior [1936], pág. 97. 789 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 524. 790 Pombinho Júnior [1936], pág. 44. 791 Pombinho Júnior [1925b], pág. 4. 792 J. A. Pombinho Júnior [1935d], “Vocabulário Alentejano (subsídios para o léxico português)”, vol.

XXXIII, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1935, pág. 167; [1936], pág. 44. 793 Pombinho Júnior [1936], pág. 76. 794 Pombinho Júnior [1936], pág. 85.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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380

Dêxá-lo tê coração;

Uma pedra nã se muda,

Tu mudas-te séim rezão! (Reguengos)

CAP 74795

És amada do meu bem,

És a minha inimiga;

Nada tu falas com ele Que ele a mim me não diga.

(Reguengos de Monsaraz)

CAP 75796

És amada do mê béim,

És a minha intersôra;

Nada tu falas co’ele,

Que ê nã seje sabedora. (São Marcos)

CAP 76797

És clara cõmô pez, Corada cõmà cebola;

Namorar contigo, sim,

Casar contigo… xó-rôla!798 (Reguengos)

CAP 77799

És clara cômá neve,

Corada cômô medronho,

Tu é que és a feiticeira Com que eu de noite sonho. (Reguengos)

CAP 80800

«És’ma ‘alcôfa’ de enredos! ‘Alcôfa’ t’hê-de chamári.

Foste enredári mê béim;

Com q’olhos t’hê-de olhári!» (Aldeia do Mato)

795 J. A. Pombinho Júnior [1925c], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 26 de Julho de 1925, Ano II, nº 93, pág. 4; [1936], pág. 64;

[1933c], pág. 6. Leite de Vasconcelos [1975], pág. 499. 796 Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1933b] “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 17 de Dezembro de 1933, nº 151, pág. 6; [1936], pág. 64. 797 Pombinho Júnior [1936], pág. 98. 798 J. A. Pombinho Júnior [1933a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 25 de

Junho de 1933, nº 126, pág. 5. 799 Pombinho Júnior [1938h], pág. 7; [1948a], pág. 3. 800 Pombinho Júnior [1936b], pág.5.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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CAP 81801 Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de

Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Esse teu cabelo loiro Penteado ao deserto

Sobrancelhas de ouro fino

Olhos de quem eu me perco

CAP 82802 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Esta noite sonhei eu A outra sonhado tinha

Que estava na tua cama

Acordei estava na minha

CAP 83803 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Esta rua tem pedrinhas Esta rua pedras tem

Eu das pedrinhas não quero nada

Mas da rua quero alguém

CAP 84804

Êste meu doairo alegre

Já m’o quiseram porïbir;

Indas que eu queira, não posso, Olhar para ti sem me rir.805 (Reguengos)

CAP 85806

Ê tenho o mê coração Na mais delicada veia.

A tua composição

801 Róis [2004], pág. 33. 802 Róis [2004], pág. 120 803 Róis [2004], pág. 120. 804 Pombinho Júnior [1936], pág. 46. 805 Pombinho Júnior [1925a], pág. 8; [1935a] Pombinho Júnior em “Vocabulário Alentejano (subsídios para

o léxico português)”, vol. XXXIII, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1935, pág. 174. 806 Pombinho Júnior [1936], pág. 40.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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382

No mê sentido vareia. (Reguengos)

CAP 86807

«Eu bem sei onde tu vás Certa noite dar os serões:

Meu coração é sério

Não consinte mangações.» (Reguengos de Monsaraz)

CAP 87808

Eu já vi ‘ma açucena

Duma certa qualidade. Agora já tenho pena

Em te prantar amizade. (Reguengos)

CAP 88809

«Eu quero-te tanto bêim Comá cinza da barrela,

Que se dêta prá rua,

Nenguêim mais faz caso dela.» (Reguengos)

CAP 89810

- “Eu numa pedra, tu noutra,

Nosso coração no meio.

Indas qu’eu namore com outra, Tu nunca tenhas receio.” (S. Marcos)

CAP 90811

Fiz ‘ma exp’rimentação Na corrente d’água fria.

Reverdece um coração

Em vendo amor’s d’algum dia. (Reguengos)

CAP 91812

- «Fui acima ao castanheiro,

Fui colher uma castanha. Tu dizes que me namoras:

Oh! que mentira tamanha!” 807 J. A. Pombinho Júnior [1939d], “Retalhos de um Vocabulário (subsídio para o léxico português)”,

Separata do volume XXXVII da Revista Lusitana, Porto, Imprensa Lusitana, 1939, pág. 268. 808 J. A. Pombinho Júnior [1940e], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 1 de

Setembro de 1940, nº 502, pág. 4. 809 Pombinho Júnior [1939d], pág. 157. 810 J. A. Pombinho Júnior [1926a], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 16 de Maio de 1926, Ano III, nº 110, pág. 4. 811 Pombinho Júnior [1935a], pág. 172; [1936], pág. 45. 812 Pombinho Júnior [1925c], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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383

(Aldeia do Mato)

CAP 92813

Fui acima ao marmeleiro,

Fui colher uma gamboa; S’eu deixava o meu amor,

Essa sim que estava boa! (Reguengos de Monsaraz)

CAP 93814

«Fui chamado á do ‘scrivão

Para fazer ‘ma ‘scritura:

Morrer, sim; deixar-te, não;

Foi a minha assinatura.» (Reguengos de Monsaraz)

CAP 94815

- “Fui ó jardim das felôres,

Numa rosa dei um laço. Nan faças pouco de mim,

Qu’eu de ti pouco nan faço.” (S. Marcos do Campo)

CAP 96816

«Há cinco dias com hoje,

Contados pelos mês dedos,

Que nã falo ó mê amori!

Tudo por casa de enredos!» (Aldeia do Mato)

CAP 97817

Há nos teus olhos, trigueira,

Tanto brilho e tanta luz, Que entontece, que seduz

Quem os fita a vez primeira.

CAP 98a818

Hê-de amar, hê-de amar,

Hê-de amar, béim sê a quéim;

Hê-de amar a mê gosto, Nanja ò gosto de nenguéim. (Aldeia do Mato)

813 Pombinho Júnior [1925c], pág. 4; [1935c] “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 20 de Outubro de 1935, nº 247, pág. 6; [1936], pág. 59; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 133. 814 Pombinho Júnior [1939d], pág. 195. 815 J. A. Pombinho Júnior [1926], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 11 de Abril de 1926, Ano III, nº 106, pág. 4. 816 Pombinho Júnior [1936b], pág. 5. 817 s.a. [1928c], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 37, Reguengos, 25 de Agosto

de 1928, pág. 2. 818 Pombinho Júnior [1936], pág. 73.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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384

CAP 98b819

Hê-de amar, hê-de amar,

Hê-de amar, béim sê a quéim;

Hê-de amar esses tês olhos, Nã amar a más nenguéim. (Reguengos)

CAP 110820

Hê-de me ir, hê-de levar, Dos tês dedos os anéis.

Em me vendos abalar,

Cai-te o coração ós péis. (Reguengos)

CAP 111821 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Hei de me vestir de branco Ou de roxo cor de ameixa

Há por aí falas que me dizem

Que o meu amor me deixa

CAP 112822

Inda hão-de nascer os sábios

Que digam porque razão,

Um beijo dado nos lábios Se sente no coração.

CAP 113823

Indas q’atirem comigo Ao mar por cima das ondas,

Deixar de t’amar não hê-de:

Assim tu me correspondas. (S. Marcos)

CAP 114824

- “Indas que sejas casada, Não t’esqueço o bem q’rer;

Qu’inda podes viuvar

E vires p’ró meu poder.”

819 Pombinho Júnior [1936], pág. 73. 820 Pombinho Júnior [1936], pág. 108.

J. A. Pombinho Júnior [1934a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 17 de

Junho de 1934, nº 177, pág. 6. 821 Róis [2004], pág. 149. 822 s.a. [1928f], pág. 2. 823 Pombinho Júnior [1926a], pág. 4. 824 Pombinho Júnior [1926a], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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385

(Reguengos)

CAP 115825

Isto só pelo diabo,

Que tal mulher não queria; Se o quero comer de noite,

Tenho de o ganhar de dia. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 116826

Já lá tens amores novos,

Parabéns da minha banda:

Deus queira que durem tanto Como a água na cirando. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 117827 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Já me doem os olhos

Com olhar p'ra estrada nova

Para ver se vejo vir

O filho da minha sogra

CAP 118828

Já me querem retirar, Meu amor, da tua vista;

Aonde t’eu possa avistar

Já não querem qu’enzista. (Reguengos)

CAP 119829

Já o mê béim me dêxou,

Olha o ferro, olha agora!

Se ê tenho na minha rua, Quéim de joelhos me adora.

(Reguengos)

CAP 120830

Já o mê béim me deixou, Subiu paredes más altas.

Paciência, mê amor, 825 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 163. 826 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 513. 827 Róis [2004], pág. 120. 828 J. A. Pombinho Júnior [1938a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 9 de

Janeiro de 1938, nº 364, pág. 5. 829 Pombinho Júnior [1936], pág. 54. 830 Pombinho Júnior [1936], pág. 92.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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386

Ê só sirvo par’às faltas. (Aldeia do Mato)

CAP 121831

Já te podes ir embora, Já te podes ir zunindo.

Se tu nã gostas de mim,

Pra que me andas perseguindo. (Reguengos)

CAP 122832

Já vi num dia nuvrado,

Quatro rosas num botão. Tou pra ver o resultado

Qu’ê tiro da tua mão. (Reguengos)

CAP 123833

- “Leve o diabo aos homens todos, Tirando três p’ra fóra:

É meu pai e meu padrinho.

E o meu amôr que me namora.” (S. Marcos)

CAP 124834

Manjarico quando nasce

Deita cheiro de rigor;

É como o rapaz solteiro

Enquanto não tem amor. (Aldeia do Mato)

CAP 125835

Manuel me deu um lenço À saída da função,

Meti o lenço no bolso,

Manuel no coração. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 126836

Manuel, folha de cravo,

Rosto na minha almofada,

Os dias que te não vejo, Não coso, não faço nada.

831 Pombinho Júnior [1936], pág. 65. 832 Pombinho Júnior [1936], pág. 76. 833 J. A. Pombinho Júnior [1925], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 23 de Agosto de 1925, Ano II, nº 97, pág. 4. 834 J. A. Pombinho Júnior [1936d], Cantigas Populares Alentejanas e seu subsídio para o léxico português,

Porto, Edições Maranus, 1936, pág. 70. 835 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 610. 836 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 18.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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387

(Reguengos de Monsaraz)

CAP 127837 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Manuel pedra me dera Pedra de muita valia

Quem me dera Manuel

Estar na tua companhia

CAP 128838

Maria Amélia,

Lá do Val’ Melhorado,

Tens a cama feita, Falta-to namorado. (Reguengos)

CAP 129839

Maria Antónha, Lá de Monsaraz,

Tens a cama feita,

Falta-lo rapaz. (Reguengos)

CAP 130840

Maria Estrudes,

Lá de Montrigo, Tens a cama feita,

Falta-to marido. (Reguengos)

CAP 131841 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Maria tudo tem de bom

Só o género é que é traidor Quem me dera Maria

Que sejas o meu amor

837 Róis [2004], pág. 120. 838 J. A. Pombinho Júnior [1938i], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 2 de

Outubro de 1938, nº 402, pág. 5. 839 Pombinho Júnior [1938i], pág. 5. 840 Pombinho Júnior [1938i], pág. 5. 841 Róis [2004], pág. 38.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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388

CAP 132842

Mariana tecedeira

Tem o tear, mas não tece;

Em não vendo o seu derriço ‘Té o tear lhe aborrece! (Reguengos de Monsaraz)

CAP 133843 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Mentes quanto tu queres

Não sei se te vá acreditar

Olha que não estou resolvida A por ti esperar

CAP 134844 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Minha rosa de veludo

És a minha simpatia

Se me deixas perco tudo Nunca mais tenho alegria

CAP 135845

Mê coração é candeia, Azête o tê coração,

Os tês olhos sã torcidas

Que nunca criom morrão.846 (Reguengos)

CAP 136847 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Meu pai, minha mãe Não chorem, tenham paciência

842 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 253. 843 Róis [2004], pág. 18. 844 Róis [2004], pág. 153. 845 Pombinho Júnior [1936], pág. 103. 846 J. A. Pombinho Júnior [1933], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 26 de

Novembro de 1933, nº 148, pág. 7. 847 Róis [2004], pág. 17.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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389

Primeiro está o meu gosto

Que a sua conveniência

CAP 137848

Minha mãi fechou-me à chave,

Lá no quarto do bostigo,

P’ra comigo nã falares,

P’ra eu nã falar contigo. (Reguengos)

CAP 138849

Minha mãi fechou-me à chave,

Lá no quarto de jentari, Minha mãi fechou-me à chave,

P’ra contigo nã falári. (Reguengos)

CAP 139850

Minha mãi fechou-me à chave,

Lá no quarto da janela:

Tanto namorava eu Como namorava ela. (Reguengos)

CAP 140851 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Minha rua está calçada

Com cascalhinhos do amor

Foi calçada de propósito Para o meu amor passar

CAP 141852 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Minha rua não tem nome

Agora lho ponho eu

É a rua das flores

848 J. A. Pombinho Júnior [1940h], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 17 de

Novembro de 1940, nº 513, pág. 5. 849 Pombinho Júnior [1940h], pág. 5. 850 Pombinho Júnior [1940h], pág. 5. 851 Róis [2004], pág. 16. 852 Róis [2004], pág. 83.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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390

Onde o meu amor nasceu

CAP 142853

- “Munto brilh’ô branco, branco, Ó pé do branco lavado;

Inda mais brilha ‘ma menina,

Ó pé do seu namorado.” (Reguengos)

CAP 143854

Nã consentes qu’ê me meta

Nesse tê peto adorado?

E nã há bicho-careta, Que pur lá nã tenha andado! (Aldeia do Mato)

CAP 144855 Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de

Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Não finjas o que não és

Não mostres ser senhor

Tu serás para mim Uma arca, enganador

CAP 145856

Nã ôlhes parà noguêra,

Que téim as nozes no chão;

Ólha aquíi parò mê peto,

Que tá cheio de pàxão. (Aldeia do Mato)

CAP 146857 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não queiras amor pedreiro Cheirar a cal amassada

Quero mais bem um sapateiro

Que é obra mais delicada

853 Pombinho Júnior [1926], pág. 4. 854 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4; [1936], pág. 32. 855 Róis [2004], pág. 32. 856 Pombinho Júnior [1936], pág. 50. 857 Róis [2004], pág. 121.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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391

CAP 147858

Não quero, porque não quero,

Ser a tua rapariga.

Não quero, porque não quero, Falo muito decidida. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 148859 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Não me atires com pedrinhas

Quando estou lavando a louça

Atira-me com beijinhos Em acção que ninguém ouça

CAP 149860

Nas ondas do mar honesto, Numa «lezíria» escapi:

Não me lembrava da morte,

Só me lembrava de ti. (Reguengos)

C150861 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não passes à minha rua Que me estragas a calçada

Os passos que por mim deres

Já não te servem de nada

CAP 151862 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não sei o que fiz eu a Deus Para ser tão castigada

Para agora me trazerem

858 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 531. 859 Róis [2004], pág. 16. 860 J. A. Pombinho Júnior [1940f], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 22 de

Setembro de 1940, nº 505, pág. 4. 861 Róis [2004], pág. 117. 862 Róis [2004], pág. 152.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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392

Do meu amor separada

CAP 152863

Não sei o que me fizeste, P’ra assim tanto te querer:

Só sei que tu me prendeste

Para não mais t’esquecer.

CAP 153864

Não sei por quais me decida,

Quais olhos queira por meus,

Se os negros, cópia da noite Se os azuis cópia dos ceus.

CAP 154865 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Não tenho amor a ninguém

Ninguém mo tem a mim

Vou vivendo alegremente Como a rosa no jardim

CAP 155866

Nã quero, porque nã quero, Ser a tua rapariga.

Nã quero, porque nã quero,

Falo munto decidida. (Reguengos)

CAP 156 867

Nã sé que mal fiz

Ó ladrão do mê amor;

Passa por mim, nã me fala, É de má raça o ‘stupôr.868

(Reguengos)

863 s.a. [1929a], pág. 2. 864 s.a. [1928c], pág. 2. 865 Róis [2004], pág. 154. 866 J. A. Pombinho Júnior [1925], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 4 de Outubro de 1925, Ano III, nº 102, pág. 4; [1935a], “Retalhos

de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág. 7; [1936], pág. 52.

[1935], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág.

7. 867 Pombinho Júnior [1936], pág. 51. 868 J. A. Pombinho Júnior [1950], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,

Estremoz, 19 de Março de 1950, nº 977, pág. 3.

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393

CAP 158869 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Nesta rua vou entrando Alegram-se os moradores

Vou dar vista aos meus olhos

Alegria aos meus amores

CAP 159870

No tempo éim que t’amei

Más valia amar um burro:

Vendia-o numa fêra, Prantava o dinhêro a juro. (Reguengos)

CAP 160871

O alecrim na valeta Ao cair da fôlha chora

Sempre há-de haver quéim se mêta

Na vida de quéim namora. (Reguengos)

CAP 161872

O amor é uma nascente

Que nasce do coração

Não há nenhuma «corrente» Que faça maior prisão. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 162873 Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi Trabalhadora Rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

O amor que é moderado

Tem mais duração

Quando o amor cresce muito Ou dá cinza ou dá murrão

869 Róis [2004], pág. 120. 870 Pombinho Júnior [1936], pág. 82. 871 Pombinho Júnior [1936], pág. 82. 872 J. A. Pombinho Júnior [1942], “Cantigas Dobradas”, in Ethnos, Revista do Instituto Português de

Arqueologia, História e Etnografia, vol. I, Lisboa, 1942, pág. 396. 873 Róis [2004], pág. 75.

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394

CAP 163874 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

O beijo que tu me deste Sem a tua mãe saber

Toma-o lá, eu não o quero

Que já lhe foram dizer

CAP 165875

O cezirão é um enleio

Que se enleia no inverno.

O namoro é um paleio, Ê com paleio nã me governo. (Reguengos)

CAP 166876

O cezirão é um enleio Que se enleia no trigo:

Quéim me dera ser cezirão,

Para me enlear contigo! (Reguengos)

CAP 167877

O cizirão é enleio

Que s’enleia pelo trigo: Eu queria ser cizirão

Que enlevava o teu sentido! (Reguengos de Monsaraz)

CAP 168878

O cizirão é enleio

Que se enleia pelo chão,

De ti não quero saber,

Nem da tua geração. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 169 879

Ó coração de baeta

Daquela mais denegrida! Há três anos que te amo,

874 Róis [2004], pág. 17. 875 J. A. Pombinho Júnior [1936], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 8 de

Novembro de 1936, nº 303, pág.4; [1936], pág. 78. 876 Pombinho Júnior [1936], pág. 48. 877 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 431. 878Leite de Vasconcelos [1975], pág. 533. 879 Pombinho Júnior [1936], pág. 63.

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395

Inda nã tás resolvida? (Reguengos)

CAP 170880

«Ó José tu nã ames, Duas na mêma rua:

Cando vás à duma,

A outra toda se amua!» (Reguengos de Monsaraz)

CAP 171881 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Oh meu amor de algum dia Eu ainda te quero bem

Ainda me está parecendo

Como tu não há ninguém

CAP 172882 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Oh prima, oh rica prima O que se passou em mim

Não posso casar contigo

Que eu não gosto de ti

CAP 173883 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Oh rosa, oh linda rosa Está fechadinha em botão

Cada vez te quero mais

Amor do meu coração

CAP 174884 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

880 Pombinho Júnior [1939d], pág. 195. 881 Róis [2004], pág. 149. 882 Róis [2004], pág. 18. 883 Róis [2004], pág. 83. 884 Róis [2004], pág. 84.

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396

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Olhos verdes são falsos

Os pretos enganadores Estes meus acastanhados

São leais ao meu amor

CAP 175885

O lourêro é enleio,

A baga enleação.

Béim enleada ê ando,

Mê amor, na tua mão. (Reguengos)

CAP 176886

O mê amor é brioso,

Ele traz chapéu de palha; Ele diz que me quer’ munto

Mas ê cudo qu’é framalha!887 (Reguengos)

CAP 177888

O mê coração

De lial se perde,

Nam éi comó teu,

Só de enganos veve. (Reguengos)

CAP 178889

O mê lindo amor

É alto demais; Por isso te chamom

O escalda-favais.890

CAP 179891 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

885 Pombinho Júnior [1925a], “pág. 8; [1936], pág. 47; [1936a], “Vocabulário Alentejano (subsídios para o

léxico português)”, vol. XXXIV, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1936, pág. 285. 886 Pombinho Júnior [1936], pág. 57. 887 Pombinho Júnior [1925], pág. 19. 888 J. A. Pombinho Júnior [1937], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz,

28 de Março de 1937, nº 363, pág. 6. 889 Pombinho Júnior [1936], pág. 49. 890 J. A. Pombinho Júnior [1938e], “Vocabulário Alentejano (subsídios para o léxico português)”, vol.

XXXVI, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1938, pág. 199. 891 Róis [2004], pág. 154.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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397

O meu amor é de bronze

A minha alma dá badaladas

Nos dias que não te vejo

Trago as horas contadas

CAP 180892 Informante: Maria Jacinta Falardo Cachaço, nascida a 12 de Junho de 1932, natural de Reguengos de

Monsaraz. Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

O meu amor é padeiro

Tem a cara enfarinhada

Os beijos sabem a pão

E eu já não quero mais nada

CAP 181893

O meu amor está longe,

‘Stá lá longe, não o vejo. Hei-de mandar-lhe uma carta

Na folhinha dum poejo. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 181 894

O meu amor é um cravo,

Os dentes são as folhinhas;

Meu amor, as tuas vozes

Para mim são poucachinhas. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 182895 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

O meu amor me deixou

Por eu ter a saia rota

Anda cá grande parvo

Que a minha mãe dá-me outra

CAP 183896 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

892 Róis [2004], pág. 134. 893 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 93. 894 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 664. 895 Róis [2004], pág. 16. 896 Róis [2004], pág. 121.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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398

O meu amor não é este

Não é este que eu quero

Ele tem os olhos pretos E este tem amarelos

CAP 184897

O meu amor por ama-lo, Poz-me o peito numa chaga.

Da-me pancadas… Deixa-lo,

Mas ao menos não me paga.

CAP 185898

Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de

Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

O meu coração é de vidro Já o pus na tua mão

Se te queres vingar de mim

Deixa-o já cair no chão

CAP 186899 Informante: Maria da Luz Gomes Rosado, nascida a 1 de Janeiro de 1919, em Perolivas (c. de Reguengos

de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

O meu é que é O rei da rapaziada

Em chegando a lograr

De namoro não quero mais nada

CAP 187900 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

O meu par é o mais bonito Que existe neste lugar

E a moça mais bonita

É a que aqui se vem encontrar

897 s.a. [1928e], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 39, Reguengos, 23 de

Setembro de 1928, pág. 2. 898 Róis [2004], pág. 32. 899 Róis [2004], pág. 125. 900 Róis [2004], pág. 18.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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399

CAP 188901

O meu sonho foi quimera

foi um sonho que se desfez… Oh! Meu amôr quem me dera,

poder sonha-lo outra vez.

CAP 189902

Ó moças, não há tempo

Como é o de vindimar:

De dia escolhe-se a uva

E à noite é namorar. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 190903

Os dedos sã prós anéis,

Os passarinhos prós laços. Tou preso de mãos e péis

Na cadeia dos tês braços.904 (Reguengos)

CAP 191905

Ó olhos amaguados

Nã percom sua alegria.

Dêxem ver os resultados

Dos mês amor’s d’algum dia.906 (Reguengos)

CAP 192907

«Os olhos do mê amôr

Mais que todos lindos são. São bonitos e formosos

Mas têm má condição.» (Reguengos)

CAP 193a908

Os olhos azuis são falsos, Os pretos são lisonjeiros;

Estes meus acastanhados

São liais e verdadeiros. (Reguengos)

901 s.a. [1928], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 34, Reguengos, 23 de Julho

de 1928, nº 34, pág. 2. 902 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 259; José Viale Moutinho [2008], Terra e Canto de Todos. Vida

e Trabalho no Cancioneiro Popular Português, Vila Nova de Gaia, Editora 7 Dias 6 Noites, 2008,

pág. 212. 903 Pombinho Júnior [1936], pág. 108. 904 Pombinho Júnior [1934a], pág. 6. 905 Pombinho Júnior [1936], pág. 45. 906 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4; [1935a], pág. 173. 907 Pombinho Júnior [1935a], pág. 7; [1936], 94. 908 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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400

CAP 193b909

Olhos pretos sã falsários,

Os azuis lisonjêros;

Antes quero olhos castanhos Sã os liais, verdadêros. (Aldeia do Mato)

CAP 193c910

Olhos pretos sã falsérios, Os azuis lisonjêros;

Estes mês acastanhados

Sã liais e verdadêros. (Reguengos)

CAP 194 a911

Ó pai, ó mãe, não m’estrove

No amor qu’eu tanto quero; É melhor mandar fazer

A cova no cemitero. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 195b912

Ó pai, ó mãi nã méstrove

No amor qu´ê tanto quero.

É melhor mandar fazer

A cova no cemitério.913 (Reguengos)

CAP 196914 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

O Sol quando nasce

Queima todas as flores mortais

Amar-te é minha teima

Cada vez te quero mais

CAP 197915

Os teus olhos de veludo

Hão-de fazer-me doutor São os meus livros de estudo

909 Pombinho Júnior refere como local de recolha da composição a Aldeia do Mato.

Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; [1936], pág. 52. 910Pombinho Júnior [1936], pág. 52 911 Pombinho Júnior [1936], pág. 51; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 399. 912 Pombinho Júnior [1936], pág. 51; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 399. 913 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4. 914 Róis [2004], pág. 84. 915 s.a. [1928c], pág. 2.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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401

Na faculdade do amor.

CAP 198916

Os tês olhos é que são Causantes de eu te q’rer béim.

Os tês olhos nã me dêxom

Amar a mais nenguéim. (Reguengos)

CAP 199917

Os teus olhos são dois sóis

Que ao mundo dão clareza;

As sobrancelhas anzóis Que trazem minha alma presa. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 200918

Os teus olhos são tão lindos,

Que me lembram não sei bem

Se a mãe de Nosso Senhor

Se a minha mãe que Deus tem.

CAP 201919

O teu olhar desleal

Corações queima por gosto… Vou chama-lo ao tribunal

Por crime de fogo posto.

CAP 202920

Ouvi dezêri que partias

P´ra munto longe de mim.

Ó amôri, nã te vaias,

Que mê prato nã tem fim. (Regue ngos)

CAP 203921

Passaste a Santa Luzia

Por cima das passadeiras; Eu vi o que tu não querias,

Por cima das traçadeiras! (Reguengos de Monsaraz)

916Pombinho Júnior [1935d], pág. 111. 917 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 657. 918s.a. [1929a], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano II, nº 44, Reguengos, 10 de Julho

de 1929, pág. 2. 919 s.a. [1928c], pág. 2. 920 J. A. Pombinho Júnior [1938], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 10 de

Abril de 1938, nº 377, pág. 6. 921 Pombinho Júnior [1936], pág. 95; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 450; [1979] pág. 324.

Segundo a obra de Leite Vasconcelos a composição por colhida em: semanário Terra Alentejana, 2-VIII-

1925 (cf. Leite de Vasconcelos [1979] pág. 324).

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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402

CAP 204922

Passi pela travisquêra

Tombi-le a rama prô lado.

Nã posso, indas que quêra, Mostrar-te ruim agrado. (Aldeia do Mato)

CAP 205923 Informante: Maria Joana Bugalho, nascida a 29 de Janeiro de 1923, em Reguengos de Monsaraz. Foi

trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Pediste-me paciência

Tão pouca eu lá vou tendo

Custa-me os dias da vida Não te falar em te vendo

CAP 206924

Pedi-te uma vez um beijo Que um beijo não custa a dar…

- São quatro lábios unidos,

Duas bocas a pecar.

CAP 207925

Prògunta, béim pròguntado,

Se te quero béim ó não,

Às telhas do tê telhado, Às pedras do tê balcão. (Aldeia do Mato)

CAP 208926

Perguntas-me o que é morrer Meu amor, minha alegria!...

Morrer: - é passar um dia

Todo inteiro sem te ver.

CAP 209927

Podia-te dar o fim,

Dêxar-te desmaginar;

Pur tanto gostar de ti, É que me faz combinar.928 (Reguengos)

922 Pombinho Júnior [1936], pág. 96. 923 Róis [2004], pág. 123. 924 s.a. [1928f], pág. 2. 925 Pombinho Júnior [1936], pág. 28. 926 s.a. [1928b], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 36, Reguengos, 12 de Agosto

de 1928, pág. 1. 927 Pombinho Júnior [1936], pág. 44. 928 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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403

CAP 210929

Por cima s’acêfa o trigo,

Por baixo fica o chabouco.

- Serias tu o primeiro Que de mim farias pouco. (Reguengos)

CAP 211930

Por muito que a silva cresça, Nunca chega a ir ao chão;

Por muitos amores que eu tenha,

Manuel não deixo, não. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 212931

Pra te amar nunca fiz féi,

Aborreci tal ceguêra; A minha sina nã ei

Amar gente bandolêra.932 (Reguengos)

CAP 213933

Pude ler na escuridão

A carta da minha amada,

Pois da luz dos olhos dela

Vinha ainda iluminada.

CAP 214934

Pus um pé na pera ausente,

Recostei-me ao limão dôce, Amava-te cegamente

Se eu do teu agrado fosse. (Reguengos)

CAP 215935

Pus um péi na piornêra,

Dê um nó, dêxê-me tar.

Tu dizes que me nã queres,

Ê pra ti nã posso olhar. (Aldeia do Mato)

CAP 216936

929 Pombinho Júnior [1935d], pág. 127; [1925b] pág. 4; [1936], pág. 39. 930 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 466. 931 Pombinho Júnior [1936], pág. 30. 932 Pombinho Júnior [1925], pág. 19. 933 s.a. [1928g], pág. 1. 934 J. A. Pombinho Júnior [1940d], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 18 de

Agosto de 1940, nº 500, pág. 4. 935 Pombinho Júnior [1936], pág. 81. 936 Pombinho Júnior [1940d], pág. 4.

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404

Pus um pé na pera ausente,

Recostei-me ao limão dôce,

Amava-te cegamente

Se eu do teu agrado fosse. (Reguengos)

CAP 217937 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Quando eu tinha quinze anos

Mais do que a prata valia

Namorava por acenos

Tinha amores esses que eu queria

CAP 218938 Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi Trabalhadora Rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Quando foste minha amada

Pensaste em mim somente

Mas longe por desafronta

Namora toda a gente

CAP 219939

Quando ha pouco te deixei,

Foi um sorriso o adeus: Sorriso com que enganei

O pranto dos olhos meus.

CAP 220940 Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Quando olhares para mim

Inclina a vista ao chão Para a gente se querer muito

E os demais pensarem que não.

937 Róis [2004], pág. 83. 938 Róis [2004], pág. 75. 939 s.a. [1929a], pág. 2. 940 Róis [2004], pág. 33.

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405

CAP 221941

“Quando o sol deixar de dar

Na parede do meu monte,”

Deixarão então de amar As raparigas da fonte.

(Reguengos)

CAP 222942

Quarta-feira travejada Lá no cimo da ‘strada nova.

Mas que flor tã delicada

O filho da minha sogra. (São Marcos)

CAP 223943

Quatro coisas é preciso

Para quéim anda namorado: Pé leve e olho vivo,

Libaral e confiado. (Reguengos)

CAP 224944

Quatro coisas sã precisas

Para saber namorar:

Olho fino e pé leve,

Responder, saber falar. (Reguengos)

CAP 225945

Quéim quiser q’a silva creça

Ponhá no alto valado; Quéim quiser ter amor firme

Trágô descandalizado.946 (Reguengos)

CAP 226947

Quéim me dera ser arado

Pra lavrar esse tê pêto;

Indas que o nã sameasse,

Ficava o alquéve fêto. (Reguengos)

941 J. A. Pombinho Júnior [1939b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 4 de

Junho de 1939, nº 437, pág. 6. 942 Pombinho Júnior [1936], pág. 95. 943 Pombinho Júnior [1936], pág. 29. 944 Pombinho Júnior [1936], pág. 29. 945 Pombinho Júnior [1936], pág. 43. 946 Pombinho Júnior [1935a], pág. 164. 947 Pombinho Júnior [1936], pág. 20.

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406

CAP 227948

Quéim me dera ser o bôlso

Dêsse tê lenço-da-mão,

Para ò certo saber, Se me tens amor ó não!949 (Aldeia do Mato)

CAP 228950

Quem por amor se perdeu Não chore, não tenha pena,

Que uma das Santas do ceu

É Maria Magdalena.

CAP 229951 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Rua abaixo rua acima Com o meu chapéu na mão

Namorando as casadas

Que as solteiras minhas são

CAP 230952 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Salsa vejo à minha porta Qualquer raminho tempera

Vale mais um amor de fora

Que vinte ou trinta da terra

CAP 231953

- “Salsa verde, quando nasce,

No teu peito faz encôsto,

Se não querias que eu te amasse Não narcêsses tanto a mê gosto… (Aldeia do Mato)

CAP 232954 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

948 Pombinho Júnior [1936], pág. 67. 949 Pombinho Júnior [1925a], pág. 8. 950s.a. [1928d], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano I, nº 38, Reguengos, 9 de Setembro

de 1928, pág. 2. 951 Róis [2004], pág. 116. 952 Róis [2004], pág. 117. 953 Pombinho Júnior [1925c], pág. 4. 954 Róis [2004], pág. 16.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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407

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Saúde, amor, passa bem

Já não ouves a minha fala Vou-te fazer uma ausência

Como o fumo quando abala

CAP 233955

Se cudas qu’ê te amo,

Engana-te o coração;

Ê nã sou arrabacêro

Que apanhe a fruta do chão. (Aldeia do Mato)

CAP 234956

Se eu soubesse quem tu eras,

Quem tu havéras de ser, Mandava vir da botica

Remédios para morrer. (Aldeia do Mato)

CAP 235957 Segura-me, amor, que eu caio,

Linda flor é o maio

Criado na terra dura,

P’ró centro da sepultura. (Aldeia do Mato)

CAP 236958

Senhora doutora médica, Minha especialista,

Venho aqui «cego de amores»

Preciso curar a vista. (Reguengos)

CAP 237959

Se os meus olhos te incomodam

Quando os tens á tua frente

Prometo que hei-de arranca-los Quero amar-te cegamente.

955 J. A. Pombinho Júnior [1936a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 10 de

Maio de 1936, nº 276, pág. 8; [1936], pág. 24. 956 Pombinho Júnior [1940f], pág. 4. 957J. A. Pombinho Júnior [1942a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11 de

Janeiro de 1942, nº 573, pág. 4. 958 Pombinho Júnior [1940d], pág. 4. 959 s.a. [1928e], pág. 2.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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408

CAP 238960

Se quanto as vozes do mundo

Disseram que fosse verdade,

Que intenso amor, que profunda Seria a nossa amizade.

CAP 239961 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Silva verde na varanda

Todo o ano dá limões

Olha agora o meu amor Quer amar dois corações

CAP 240962

Sobrancelhas ramalhudas, Tens olhos de namorári,

Aqui me tens ô té lado,

Amóri, p’ra te falári. (Reguengos)

CAP 241963

Tanto tempo sem te ver

Só em mim se pode achar.

Muito custa um bem-querer Em se chegando a prantar. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 242964

Tão linda estavas á noite, Quando a janela se abriu,

Que a lua d’envergonhada

Numa nuvem se encobriu.

CAP 243965 Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de

Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

960 s.a. [1928a], pág. 2. 961 Róis [2004], pág. 149. 962 J. A. Pombinho Júnior [1940b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 26 de

Março de 1940, nº 488, pág. 7. 963 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 332; [1979], pág. 22.

Leite Vasconcelos colheu a composição em: semanário Terra Alentejana, 2-VIII-1925 (cf. Leite de

Vasconcelos [1979], pág. 22. 964 s.a. [1928g], pág. 1. 965 Róis [2004], pág. 32.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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409

Tenho dentro do meu peito

Ao lado do coração

Duas letrinhas que dizem Morrer sim, deixar-te não

CAP 243966

Tenho drento do mê peto Um canivete dourado,

Para partir o pã-leve

No dia do mê noivado. (Aldeia do Mato)

CAP 244967 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho o meu amor doente Não é falta de trato

Ainda ontem lhe mandei

Ainda suspirava num prato

CAP 245968

Tenho pena, vivo triste,

Choro de te ver chorar.

Só ’ma pena m’enziste Em te nã poder lograr.969 (Reguengos)

CAP 246a970 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho um amor, tenho dois e tenho três

Não quero mais

Para que quero eu amores Se eles não são leais

CAP 246b971

Tenho um amor, tenho dois, Tenho três, não quero mais:

966 Pombinho Júnior [1936], pág. 79. 967 Róis [2004], pág. 152. 968Pombinho Júnior [1936], pág. 49. 969 Pombinho Júnior recolheu a composição em Aldeia do Mato.

Pombinho Júnior [1925g], pág. 4. 970 Róis [2004], pág. 149. 971Leite de Vasconcelos [1975], pág. 480.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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410

Para que quero eu amores

Se eles não me são leais? (Reguengos de Monsaraz)

CAP 247972 Tenho um lençol igual ò teu,

Recortado òs corações.

Andas zangado comigo,

Mê amor, diz-m’ass rezões? (Aldeia do Mato)

CAP 248973

Tenho um sapato rompido, Tenho outro arremendado;

Tenho um amor perdido,

Tenho outro quási ganhado. (Reguengos)

CAP 249974 Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de

Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Tens a parreirinha à porta Não a sabes vindimar

Tens o teu amor ao lado

Não o sabes namorar

CAP 250975

Tôdô moço que é capaz

Nã traz chapéu à maromba.

A-pesar-de ser pequenina, Vòcêi commigo nã zomba! (Reguengos)

CAP 251976

Tomi amor’s com o vento, Nã sê se faria béim;

O vento é bandolêro,

Nã toma amor’s a nenguéim. (Reguengos)

CAP 252977

972 Pombinho Júnior [1936], pág. 85. 973 J. A. Pombinho Júnior [1940c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11 de

Agosto de 1940, nº 499, pág. 5. 974 Róis [2004], pág. 137. 975 Pombinho Júnior [1936], pág. 71. 976 Pombinho Júnior [1936], pág. 30. 977 s.a. [1929a], pág. 1.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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411

Trago comigo um pecado

Que não mais esquecerei.

De á minha mãe ter roubado

O grande amor que te dei.

CAP 253978

Trago dentro do meu peito

Uma chave inglesa, Para abrir teu coração

Com toda a delicadeza. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 254979

Trocastes-me a mim por outra,

Ê béim sê que me trocastes.

Manda-me dizer, amor,

Na troca canto ganhastes. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 255980

Trocaste-me a mim por outra, Paciência! não me importa;

Inda ‘spero perguntar-te

Quanto ganhaste na troca. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 256981

Trocaste-me a mim por outra

Por ser mais rica que eu.

Se algum dia me quiseres, Talvez te não queira eu.

(Reguengos de Monsaraz)

CAP 257982

- “Trocaste-me a mim por outra, Trocaste amôr, trocaste;

Tu me dirás a seu tempo

Quanto na troca ganhaste.” (Aldeia do Mato)

CAP 258983

Trocastes o ouro à prata,

Tendo o ouro mais valia;

Trocastes-me a mim por outra,

978 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 662. 979 J. A. Pombinho Júnior [1926], pág. 4; [1935a], pág. 111; [1942], “Cantigas Dobradas”, in Ethnos,

Revista do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, vol. I, Lisboa, 1942, pág. 399. 980 J. A. Pombinho Júnior [1926], pág. 4; [1935a], pág. 111; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 494. 981 Pombinho Júnior [1926], pág. 4; Leite de Vasconcelos [1975], pág. 495. 982 Pombinho Júnior [1926], pág. 4. 983 Pombinho Júnior [1926], pág. 4; [1935a], pág. 111.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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412

Coisa que t’eu nã fazia.

CAP 259984

Trocaste o ouro à prata Tendo o ouro mais valia;

Trocaste-me a mim por outra,

Coisa que te eu não fazia. (Reguengos de Monsaraz)

CAP 260985

Tu desejas, eu desejo

Semos dois a desejar:

Tu desejas estar comigo, Eu desejo-te encontrar. (Reguengos)

CAP 261986 Informante: Ricardina Bárbara Gerónimo, nascida a 8 de Fevereiro de 1939, em Cabeça Gorda (c. de

Beja). Foi Trabalhadora Rural e Doméstica. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Tua boca era uma rosa

Os dentes são as folhinhas

As tuas faces mimosas São duas lembranças minhas

CAP 262987

- “Tu és a minha entersôra

Eu não te digo que não.

Ganhas-me em ser lavradora,

Perdes na comportação. (S. Marcos)

CAP 263988

«Tu és minha intersôra,

Eu não digo que não. Ganhas m’em ser lavradora;

Perdes na comportação. (S. Marcos – Reguengos)

CAP 264989

Viuva d’olhos enxutos

Outros amores abraça;

984 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 495. 985 Pombinho Júnior [1940], pág. 4. 986 Róis [2004], pág. 32. 987 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4. 988Pombinho Júnior [1935a], pág. 143. 989 s.a. [1910c], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 7, 20 de Fevereiro de 1910, pág. 3.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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413

Já não suspira saudosa…

tudo foge! tudo passa…

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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414

2.1.2. Cantigas às Cantigas

CCP 1990

A minha guitarra é triste

É dolente, meiga e calma…

Parece que nela existe

A tristeza da minha alma.

CCP 2991

Cantigas e mais cantigas

Que a cantar é que isto vai. - Cantae, cantae raparigas

Rapazes, cantae, cantae.

CCP 3992 Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Cantigas são pataratas

Sem razões leva-as ao vento Quem se fia em cantigas

Tem falta de entendimento

CCP 4993

Com pena, Nossa Senhora

Chorando, pediu-me um dia

Que não chorasse cantando

Que os Anjos entristecia

CCP 5994

Eu cantar não sei cantar,

Eu não sei como se canta, Dá-se-l’um jeitinho à boca,

Revoltinhas à garganta. (Reguengos de Monsaraz)

CCP 6995 Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de

Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

990 s.a. [1928d], pág. 2. 991 s.a. [1929], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Ano II, nº 42, Reguengos, 3 de Abril de

1929, pág. 1. 992 Róis [2004], pág. 136. 993 s.a. [1929], pág. 1. 994 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 196. 995 Róis [2004], pág. 136.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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415

Luísa Róis.

Eu gosto de figos lampos

Da figueira rebaldia

Mesmo cantando falo Adeus amor de algum dia

CCP 7996 Informante: Maria Antónia Palolo Conde, nascida a 27 de Março de 1925, em Reguengos de Monsaraz.

Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Eu não sei armar cantigas

Não sei como se canta

Dá-se um jeitinho à boca Revoltinhas à garganta

CCP 8997

Gosto de cantar o fado, E o fado canta-se bem.

É dizer em quatro versos

O que a nossa vida tem.

CCP 9998 Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Já chove Já está chovendo

já corem os regatinhos

Já os campos estão alegres

Já cantassem os passarinhos

CCP 10999 Informante: Maria Inácia Gamado, nascida a 11 de Fevereiro de 1923, em Reguengos de Monsaraz. Foi

costureira e empregada fabril. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Já que me pede que eu cante

Vou-lhe fazer a vontade

Não sei que gosto é o seu

De ouvir cantar quem não sabe

996 Róis [2004], pág. 141. 997 s.a. [1928b], pág. 1. 998 Róis [2004], pág. 72. 999 Róis [2004], pág. 145.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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416

CCP 111000

Meu doce fado és tão triste

Como á noite a voz do mar,

Tão triste que a quem te canta Dás vontade de chorar.

CCP 121001

Nas cordas de uma guitarra Há qualquer coisa que sente…

Soluça, geme e delira

Parece a alma da gente.

CCP 131002

O cantar da mêa-noute

É um cantar insolente:

Acorda quéim tá dromindo, Faz mal a quéim tá doente.1003 (Reguengos)

CCP 141004

O cantar para mim é Um grande advertimento;

Encanto nã tou cantando

Nã tenho distraǐmento. (Reguengos)

CCP 151005 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Ontem à noite à meia-noite À meia-noite, noite seria

Ouvi cantar uma pomba

No coração de Maria.

CCP 161006

Quéim sabe balhar nã balha,

Quéim nã sabe quer’ balhar;

Quéim sabe cantar nã canta, Quéim nã sabe quer’ cantar. (Aldeia do Mato)

1000 s.a. [1928d], pág. 2. 1001 s.a. [1928d], pág. 2. 1002 Pombinho Júnior [1936], pág. 104. 1003 J. A. Pombinho Júnior [1935b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 15

de Abril de 1935, nº 220, pág. 7. 1004 Pombinho Júnior [1936], pág. 17. 1005 Róis [2004], pág. 38. 1006 Pombinho Júnior [1936], pág. 29.

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417

CCP 171007

Rapazes cantem baixinho

Ao passar ao seu postigo…

Não sei porquê adivinho Que está sonhando comigo.

CCP 181008 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho um saco de cantigas

E mais uma talegada

P'ra cantar ao meu amor Quando estou apaixonada

CCP 191009 Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de

Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Tenho um saco de cantigas

E mais uma talegada

Hoje canto tudo Amanhã não canto nada

CCP 201010 Informante: Gertrudes Medinas Caeiro, nascida a 29 de Agosto de 1924, natural de Reguengos de

Monsaraz. Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Uma noite toda a noite

Sou eu capaz de cantar

Cantigas a teu respeito Sem no teu nome falar

CCP 211011

Vou dar o meu pensamento

Em cantares recortado;

Direi talvez… quasi tudo; Mas tudo desordenado.

1007 s.a. [1928f], pág. 2. 1008 Róis [2004], pág. 35. 1009 Róis [2004], pág. 136. 1010 Róis [2004], pág. 137. 1011 s.a. [1910d], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 8, 27 de Fevereiro de 1910, pág. 2.

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418

2.1.3. Cantigas Conceituosas

CConP 11012

Abre-te ó janela d’ouro,

Tira-te tranca de vrido,

Resolve o tê coração

Que o mê tá resolvido! (Reguengos)

CConP 21013

Água clara nã se turva

Vindo ela dos rochedos. Amor’s firmes nã se mudom,

Nã havendo alguns enredos. (Reguengos)

CConP 31014

- “Agua clara não s’enturva,

Sem haver quem a enlode

Amor firme não se muda, Indas que queira não pode.” (Aldeia do Mato)

CConP 41015 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

A rosa para ser rosa

Deve estar no meio da horta

O amor para estar firme Deve estar lonje da porta

CConP 51016

- “Arrabaça c’o pé n’água Sempre s’está bendeando;

É com’á moça solteira,

Quando está namorando.” (Reguengos)

1012 J. A. Pombinho Júnior [1938g], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11

de Setembro de 1938, nº 399, pág. 5. 1013 Pombinho Júnior [1936], pág. 48. 1014 Pombinho Júnior [1926a], pág. 4. 1015 Róis [2004], pág. 15. 1016 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4.

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419

CConP 61017

Assentada numa pedra

Ouvi dar a meia-noute.

Coitadinho de quéim ‘spera, P’lo que tá nas mãs d’outre. (Reguengos)

CConP 71018 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Cravo roxo à janela

É sinal de casamento

Menina recolha o cravo Que o casar ainda tem tempo

CConP 81019

És homem, basta o teu nome, És falso por natureza.

Não há que fiar nos homens,

Nos homens não há firmeza. (Reguengos de Monsaraz)

CConP 91020 Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Eu devo o meu corpo à terra Porque eu da terra estou comendo

A terra me pague em vida

E eu pago à terra em morrendo

CConP 101021

Fecho os olhos de mansinho,

Não m’os abras, para ver…

Que a vida d’olhos fechados Custa menos a viver.

1017 Pombinho Júnior [1936], pág. 77. 1018 Róis [2004], pág. 19. 1019 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; Leite de Vasconcelos [1979], pág. 244.

De acordo com o Cancioneiro Popular Português, a composição foi colhida em: semanário Terra

Alentejana, 4-X-1925 (cf. Leite de Vasconcelos [1979], pág. 244). 1020 Róis [2004], pág. 71. 1021 s.a. [1929a], pág. 2.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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420

CConP 111022

Já corri o mar em roda,

Nas asas de uma cegonha;

Não há que fiar nos homens, Qu’eles não têm vergonha.

(Reguengos de Monsaraz)

CConP 121023

Já corri o mar em roda, Nas asas duma cegonha;

Nã há que fiar nos homens,

Que êles nã tēim vergonha.1024 (Reguengos)

CConP 131025

Intersôra, amiga minha,

O que é demais aborrece; «Quéim mais perto tá do lume

Mais à vontade s’aquece.» (Reguengos)

CConP 141026

Mê amor, prògunta agrado,

Nan pròguntes fremosura;

Uma mulher séim agrado,

É pior q’a noite ‘scura. (Aldeia do Mato)

CConP 151027 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Nas ondas do teu cabelo

É que eu me quero afogar

É p'ra que saibas ingrato

Que há ondas sem ser no mar

CConP 161028 Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

1022 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 134. 1023 Pombinho Júnior [1936], pág. 56. 1024 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4. 1025 Pombinho Júnior [1933b], pág. 6; [1936], 64. 1026 Pombinho Júnior [1936], pág. 83. 1027 Róis [2004], pág. 15. 1028 Róis [2004], pág. 75.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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421

Nesta vida passageira

O meu destino mal o digo

Não tenho eira nem beira Mas tenho um peito amigo

CConP 171029

Ninguem conhece no rosto, O que a nossa alma inspira.

A vida é gosto e desgosto,

Mentira tudo mentira.

CConP 181030

Nossa Senhora me disse

De cima do seu altar:

- Filha, faze por ser boa, Que eu farei por te ajudar. (S. Pedro do Corval, c. de Reguengos de Monsaraz)

CConP 191031 Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Nunca a vontade vem

A negra sorte mofina

Triste de quem já nasceu Com uma estrada de má sina

CConP 201032

O limão é fruto azêdo, Que narce no verde ‘scuro,

Nenguéim diga neste mundo:

- «Tenho o mê amor seguro». (Reguengos)

CConP 211033

- “Ó moças haja cuàtela,

Que o homem é importante; A honra duma donzela,

Está na bôca dum tratante.” (Reguengos)

1029 s.a. [1928b], pág. 1. 1030 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 228. 1031Róis [2004], pág. 75. 1032 Pombinho Júnior [1936], pág. 18. 1033 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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422

CConP 221034

O sete-estrêlo caiu

Na folhinha do sargaço.

Nã há que fiar nos homes, O más firme é o más falso.

(Reguengos)

CConP 231035

Os meus versos a ninguem, Conseguiram comover;

Só eu é que sinto bem

O que não sei bem dizer.

CConP 241036

O tempo vai, o tempo véim,

O tempo taméim se muda;

Brada por quéim te quis béim, Que talvez inda t’acuda. (Caridade – Reguengos)

CConP 251037

Passas por mim, nã me falas,

Guardas precêto a alguéim;

Deves passar e falar,

Respêtar a quéim quer’s béim.1038 (Reguengos)

CConP 261039

Informante: Maria Luísa Medinas, nascida a 5 de Junho de 1930, em Reguengos de Monsaraz. Foi

doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha realizada

em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Primeiro, lava a tua alma

Ao princípio e ao fim do dia Com uma oração pequenina

Padre Nosso, Avé Maria

Segundo, lava o teu coração Deves-lhe estima e respeito

Que o corpo é obra de Deus

Deve assear-se a preceito

1034 Pombinho Júnior [1936], pág. 91. 1035 s.a. [1928b], pág. 1. 1036 J. A. Pombinho Júnior [1938], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 2 de

Janeiro de 1938, nº 363, pág. 6. 1037 Pombinho Júnior [1936], pág. 62. 1038 J. A. Pombinho Júnior [1926], “Cantigas Populares Alentejanas (e seu subsídio para o léxico

português)”, in Terra Alentejana, Évora, 11 de Abril de 1926, Ano III, nº 106, pág. 4; [1935a], “Retalhos

de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág. 7. 1039 Róis [2004], pág. 109.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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423

Terceiro, põe-te à carteira

Com o corpo bem direito

Corpo torto faz marrecas E faz doença de peito

Quarto, ama a luz dos teus olhos

Tesouros que Deus te deu Com eles sem te mexeres

Podes ver terra e céu

Quinto, estuda-me as lições Faz as contas com cuidado

Traz os livros e cadernos

Tudo limpinho e asseado

Sexto, não lambas os dedos

P'ras folhas serem viradas

Traz as unhas sempre limpas

E bem certinhas cortadas

Sétimo, cuida da roupa

Antes limpo e remendado

Do que andar de fato novo Muito rico e pouco asseado

Oitavo, à noite faz as contas

Das coisas boas que dás Grande rol das coisas boas

E nenhum das coisas más

Decora os oito preceitos Para bem cumpri-los depois

Que este oito mandamentos

Se encerram só em dois

CConP 271040

Quéim tevér òpenião,

É béim que nela apareça.

Amor do mê coração Nunca deias à cabeça!1041 (Reguengos)

CConP 281042

- “Repara, toma sentido,

A quanto ‘stamos do mês.

Nan sejas, amôr, fingido,

1040 Pombinho Júnior [1936], pág. 42. 1041 Pombinho Júnior [1925b], pág. 4; [1935d], pág. 156. 1042 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4.

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424

Como fostes da outra vez. (Reguengos)

CConP 291043

Se fores ao cemitério, Entra, não peças lincença:

Verás o rico e o pobre

Sem nenhum fazer dif’rença. (Reguengos de Monsaraz)

CConP 301044

Se fôres um dia ao mar,

Que a fortuna te não deixe: “Bota a rede, vai-te embora,

“Quanto mais burro mais peixe.” (Reguengos)

CConP 311045

Tôdô home que nã tem

Três ó catro raparigas;

Nã é home, nã é nada:

É um mata-formigas! (Aldeia do Mato)

CCon P 321046 Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Uma rosa em botão

Não é fineza cheirar

Fineza é depois de seca

O mesmo cheiro deitar

1043 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 438. 1044 Pombinho Júnior [1938b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 6 de Março

de 1938, nº 372, pág. 6. 1045 Pombinho Júnior [1936], pág. 72. 1046 Róis [2004], pág. 71.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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2.1.4. Cantigas Toponímicas

CTP 11047 Informante: Perpétua Reis Bico, nascida a 27 de Março de 1925, em Reguengos de Monsaraz. Foi

trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Abalei da minha terra

Não foi por mal que eu fizesse Foi só por ouvir dizer

Quem não aparece esquece

CTP 21048

Adeus Aldeia de Cima,

Cercada de cachos de uvas, Vão os rapazes para a praça,

Ficam as moças viuvas.

CTP 31049

Aldeia de Lima Adeus, Aldeia de Lima,

Cercada de cravos verdes,

Onde o meu amor passeia,

Não é sempre, só às vezes. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 4a1050

Machede Adeus, aldeia de Machede,

A roda tem dois piais,

Adonde o meu amor se assenta

Dando suspiros e ais. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 4b1051

Adeus, aldeia de Machede, Que à roda tens dois piais,

Onde o mê amor se assenta

Dando suspiros e ais.

CTP 5a1052

Aldeia do Mato

1047 Róis [2004], pág. 147. 1048 J. A. Pombinho Júnior [1957], Achegas para o Cancioneiro Popular Corográfico do Alto Alentejo ,

Separata do Boletim da Junta da Província do Alto Alentejo, Évora, Minerva Comercial,1957, pág. 39. 1049 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 5. 1050 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 64. 1051 Pombinho Júnior [1925c], pág. 4; [1936], pág. 66. 1052 Pombinho Júnior [1928] “Reguengos, Portel e Mourão e as suas cantigas populares”, in Ilustração

Alentejana, Abril de 1928, nº 5, pág. 44; [1957], pág. 39; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 5.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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426

Adeus, Aldeia do Mato,

É terra de boa gente,

Dá de comer a quem passa

Que leve dinheiro corrente… (Reguengos de Monsaraz)

CTP 5b1053

Monsaraz é boa terra, Boa terra, melhor gente:

Dá de comer a quem passa,

Se traz dinheiro corrente. (Monsaraz, c. de Reguengos de Monsaraz)

CTP 5c1054

Baldio

Ó aldeia do Baldio, Casas novas de Carneiro,

Dá de comer a quem passa

Se leva muito dinheiro…

CTP 61055

Adeus, aldeia do Telheiro,

Ao lado fica o convento. Se me falas verdadeiro,

Tens amor para muito tempo.

CTP 71056

Évora

Adeus, ó cidade de Évora,

Dá para cá uma volta, Que eu tenho lá uma prenda

Não sei se é viva se é morta. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 81057

Adeus, ó estrêla do Norte,

Adeus, ó lua do Natal! Deixarei-te só por morte,

Rainha de Portugal! (Aldeia do Mato, Reguengos)

CTP 91058

“Adeus, vila de Reguengos, Cercada de cachos de uvas

Vão-se os rapazes embora,

Ficam as moças viuvas.”

1053 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 31. 1054 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 18. 1055 Pombinho Júnior [1957], pág. 39. 1056 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 45. 1057 Pombinho Júnior [1941], pág. 4. 1058 Pombinho Júnior [1957], pág. 39.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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427

CTP 101059

“Ailé,

Aldeia do Mato,

Vamos desmanchar O nosso contrato.”

CTP 111060

Aldeia da Caridade,

Ao lado fica o ribeiro. Eu não deixo a mocidade

Enquanto estiver solteiro.

CTP121061

Aldeia da Caridade

De comprida não tem fim. Não posso ter amizade

A quem ma não tem a mim.

CTP 131062

Aldeia da Caridade,

Hei-de a mandar ladrilhar De tojos e carapetos,

Para o meu bem passear.

CTP 141063 Informante: Florinda Rosado da Silva, nascida a 19 de Novembro de 1938. Residente na Cumeada (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhadora rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia.

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Aldeia da Cumeada

Terra da minha paixão

Quem me dera abraçar O amor do meu coração

CTP 151064 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Aldeia das Perolivas

P'ra baixo, p'ra cima não

P'ra baixo correm as água P'ra cima o meu coração

1059 Pombinho Júnior [1957], pág. 39. 1060 Pombinho Júnior [1957], pág. 39. 1061 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 39. 1062 Pombinho Júnior [1957], pág. 39. 1063 Róis [2004], pág. 84. 1064 Róis [2004], pág. 152.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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428

CTP 161065 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Aldeia das Perolivas Logo além à entrada

Prenderam o meu aor

Com uma fita encarnada

CTP 171066

Aldeia de Lima é minha, Hei-de a mandar calçar

De biquinhos de alfinetes

Para o meu amor passear. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 181067

Aldeia do Mato é minha,

Que ma deu minha tinha: Hei-de mandar pôr no centro

Uma rosa da Alexandria.

CTP 191068

Aldeia do Mato é minha, Que ma deu o rei de prenda,

Quem nela quiser morar,

Há-de-me pagar a renda. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 20 a1069

As do Campinho são bruxas;

De S. Marcos, feiticêras;

Da Cumeada, manhosas; De Reguengos, borrachêras.

CTP 20b1070

Campinho, terra das bruxas,

São Marcos, das fêtecêras,

Cumiada, das manhosas, Reguengos, das borrachêras.

1065 Róis [2004], pág. 152. 1066 Leite de Vasconcelos [1983], pág.5. 1067 Pombinho Júnior [1957], pág. 40. 1068 Pombinho Júnior [1928] pág. 44; [1957], pág. 40; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 5 1069 J. A. David de Morais [2006], Ditos e Apodos Colectivos. Estudo de Antropologia Social no Distrito

de Évora, Lisboa, Colibri, 2006, pág. 51. 1070 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1936], pág. 66; [1957], pág. 40; Leite de Vasconcelos [1983],

pág. 142.

Manuel Joaquim Delgado publica esta quadra, remetendo a sua recolha para a obra de J. A. Pombinho

Júnior (cf. Delgado [1956], pp. 13-14).

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429

CTP 211071

Barrada, terra de coxos.

Outeiro1072, dos aleijados.

Motrinos, dos bons moços. Telheiro, dos Malcriados.

CTP 221073

Carrapatelo é vila,

Casas Novas é cidade; Aldeia do Mato é corte,

Onde existe a mocidade.

CTP 231074

Comparo o Monte do Val,

… Pirolivas e Gafanhoeiras, A Horta do Zambujal,

S. Romão e Corujeira.

CTP 241075

Cumiada é verde lima,

Campinho é verde limão, Amor, vieste á luz,

Diz-me lá por que razão?

CTP 251076

Dia 25 de Abril, em S. Marcos se faz fêra,

onde se vêm advertir

os corvos da Amiêra.1077 (S. Marcos)

1071 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1936], pág. 66; [1957], pág. 40; David de Morais [2006], pág. 42.

Manuel Joaquim Delgado publica esta quadra, remetendo a sua recolha para J. A. Pombinho Júnior e

respectiva publicação na obra que acabámos de citar (cf. Delgado [1956], pág. 14).

Sobre os habitantes da aldeia do Outeiro, J. A. David Morais publicou a seguinte quadra recolhida em

Mourão: Os do Outeiro

Comem carne de carnêro.

E os de Mourão

Comem carne de cão.

(Mourão) (David de Morais [2006], pág. 77)

O autor explica: “(…) Isto porque não era muito prestigiante comer carne de ovinos velhos (carneiro ou

ovelha velha, a chamada ovelha badana): alentejano que se prezasse (e pudesse…) deveria, isso sim, comer

carne de borrego, em especial no ‘dia do borrego’ (segunda-feira a seguir à Páscoa, que ainda continua a

ser feriado em muitas localidades do Alentejo), dia grande entre os alentejanos, em que vão para o campo

confraternizar à volta do borrego assado no forno” (David de Morais [2006], pág. 77). 1073 Pombinho Júnior [1957], pág. 40. 1074 Pombinho Júnior [1957], pág. 40. 1075 Pombinho Júnior [1957], pág. 40. 1076 David de Morais [2006], pág. 36. 1077 J. A. David Morais afirma: “Existe também uma variante, em que o último verso é substituído por ‘os

alarves da Amieira’, donde a ocorrência de um suplementar epíteto de ‘Alarves’ aplicado aos amieirenses”

(David de Morais [2006], pág. 36).

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430

CTP 261078

Em chegando a Monsaraz,

Avista-se as Ferrarias.

Ó amor, não és capaz, Cumprires o que dizias.

CTP 271079

Em Reguengos nasce o sol, Em Mourão a lua cheia,

Em Monsaraz um jardim,

Onde o meu amor passeia.

CTP 281080

Hei-de ir pra’à Cumiada,

Que é terra que fica perto.

Tu andas desconfiada,

Ainda te o faço certo.

CTP 291081

Já corri o norte à Terra

Para brigar c’os alimões E só ainda encontri,

Como o nosso, dois corações. (Reguengos)

CTP 30a1082

Já Reguengos não é vila,

Aldeia lhe chamarão:

Foram buscar não trouxeram

O concelho a Mourão. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 30b1083

Já Reguengos não é vila,

Aldeia lhe chamarás;

Foram buscar não trouxeram,

O concelho de Monsaraz.

CTP 31a1084 Reguengos de Monsaraz

Já Reguengos não é vila

Já le querem pôr cidade,

Por ter praça de touros

1078 Pombinho Júnior [1957], pág. 40. 1079 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1080 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1081 J. A. Pombinho Júnior [1952b], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo, nº

1106, Estremoz, 7 de Setembro de 1952, pág. 3. 1082 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 144. 1083 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41. 1084 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98.

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431

E a Praça da Liberdade. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 31b1085

Já Reguengos não é vila

Já lhe querem pôr cidade,

Por ter a igreja nova

Na Praça da Liberdade.

CTP 321086

Piroliva

Já ouvi cantar o cuco

Na ponta do meu arado; As moças da Piroliva

Andam com o rabo alçado. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 321087

Monsaraz

Ladeiras de Monsaraz

São custosas de subir;

Arranja outro rapaz, Que eu já não posso cá vir. (Monsaraz, c. de Reguengos de Monsaraz)

CTP 341088

Mourão

Lá dos lados de Mourão Armou-se uma lavareda;

Há-des me vir ter à mão

Mais mansa que uma borrega! (Reguengos de Monsaraz)

CTP 351089 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Lá vai Serpa, lá vai Moura

As Pias ficam no meio Em chegando à minha terra

Eu canto sem receio

1085Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98. 1086 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 89. 1087 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 75. 1088 Pombinho Júnior [1925a], pág. 8; [1936], pág. 66.; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 78.

A composição publicada na obra de Leite de Vasconcelos foi colhida em: semanário Terra Alentejana, 24-

-6-1925 (cf. Leite de Vasconcelos [1983], pág. 78). 1089 Róis [2004], pág. 38.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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432

CTP 361090

Leve o diabo òs homens todos,

Afogados no Degébe!

Parecem machinhos novos Cando vã parô alquéve. (Reguengos)

CTP 371091

Lindas ruas de Reguengos

‘Stão calçadas a compasso, Quem nelas tomar amores

Deve ter desembaraço.

CTP 381092 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Minha terra é no Alentejo

Eu não o posso negar

Toda a gente me conhece

Pelo modo de falar

CTP 39a1093

Monsaraz é boa terra;

Dá de comer a quem passa.

Tem a fonte no Telheiro

E Santa Maria na Praça.

CTP 39b 1094

Monsaraz está numa altura

Dando vistas a quem passa,

Tem a fonte no Telheiro E Santa Maria na Praça.

CTP 40a1095

Monsaraz é boa terra,

Terra de muita hortaliça,

Tem muita moça bonita Mas não me metem cobiça. (Reguengos de Monsaraz)

1090 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4; [1936], pág. 20.

Pombinho Júnior refere que recolheu a composição em S. Marcos (cf. [1925d], pág. 49. 1091 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98. 1092 Róis [2004], pág. 17. 1093 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41. 1094 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41. 1095 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 76.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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433

CTP 40b1096 Monsaraz é boa terra,

Terra de muita hortaliça: Tem moças muito lindas,

Mas não me metem cobiça.

CTP 411097

Monsaraz é terra boa, Tem o feitio de nau;

É de pedra e não de pau

E tem o relógio à proa. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 421098

Monsaraz está num alto, Dando vistas a quem passa;

A fonte é no Telheiro,

Santa Maria na Praça. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 431099

Monsaraz é um navio

O Telheiro uma pistola

O Outeiro não tem feitio

E a Barrada é uma bola.

CTP 441100

Monsaraz é verde lima,

Mourão é verde limão,

A Granja é caracol,

Telheiro, manjericão.

CTP 45a1101

Monsaraz tá numa altura,

Mourão tá numa chapada,

A Granja numa bàxura, Amârlêja numa assentada. (Campinho - Reguengos)

CTP 45b1102

Monsaraz tá num outêro,

1096 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 42. 1097 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 76. 1098 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 76. 1099 Francisco Martins Ramos [2012], De Monsaraz a Melbourne. Reflexões Antropológicas numa Era

Global, Lisboa, Edições Colibri, 2012, pág. 31. 1100 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1101 Pombinho Júnior[1925e], pág. 3; [1927] “Vocabulário Alentejano (subsídios para o léxico português)”,

vol. XXVI, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1927, pág. 70; [1936], pág. 26; [1936], pág. 26.

Pombinho Júnior localiza a recolha da cantiga em Reguengos (cf. Pombinho Júnior, [1925e], pág. 3). 1102 Pombinho Júnior[1925e], pág. 3; [1936], pág. 26.

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434

Mourão numa assentada,

Amârlêja numa cova,

A Póvoa numa chapada.

CTP 461103

No Campinho fui narcido

Em São Marcos, baptizado,

Na Cumiada, divertido,

Em Reguengos, sorteado. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 471104

Ó aldeia do Baldio

Casas Novas de Carneiro,

Dá de comer a quem passa

Se leva muito dinheiro.

CTP 481105

O caminho de Reguengos

É muito custoso a andar.

Uma lebre a dois podengos É custosa de escapar.

CTP 491106

Ó moças da Caridade

Devo-lhe muito obrigado:

Da maior à mais pequena Todas me têm estimado.

CTP 501107

Ó Reguengo, ó Reguengo,

Ó Reguengo, ó ladrão,

Agora até já levaste O concelho de Mourão!

(Reguengos de Monsaraz)

CTP 511108

Ó tapada do Baldio,

Que dás voltas a Monsaraz, Toda a moça que tem brio

Namora só um rapaz. (Reguengos de Monsaraz)

CTP 521109

Ó vila de Monsaraz

1103 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 42; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 144. 1104 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 42. 1105 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1106 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1107 Leite de Vasconcelos [1983], pág. 144. 1108 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 41; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 18. 1109 Pombinho Júnior [1957], pág. 41.

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435

Quem te não conhecera!

Onde quer que chegares

Inda levantas bandêra.

CTP 531110

«Ó vila de Monsaraz,

Stás cercada de olivais;

Toda moça que lá mora ‘Stá picada dos pardais.» (Reguengos, 1922)

CTP 541111

Ó vila de Monsaraz Ó fonte com quatro portas!

Adeus Outeiro, adeus Barrada,

Adeus Motrinos, adeus Horta!

CTP 551112

Ó vila de Monsaraz,

Pareces um algueirinho.

Ó meu amor, se lá estás,

Vem-me esperar ò caminho.

CTP 561113

Ó vila de Monsaraz,

´Stás cercada de olivais;

Tôda moça que lá mora

´Stá picada dos pardais.

CTP 571114

“Pôs-se me o sol ao Baldio,

“O ar de dia” à ribeira,

Já venho a tremer de frio, A roupa está em Ferreira.”

CTP 581115

Quando fui a Monsaraz,

Avistei as Corredouras,

Se queres ser o meu rapaz, Não dei-de ter “intersoras”.

CTP 591116

Quem subir ao «Miradouro» Do alto do Covalinho,

1110 Pombinho Júnior [1938e], pág. 208; [1939a], pág. 176; [1957], pág. 42. 1111 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1112 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1113 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1114 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1115 Pombinho Júnior [1957], pág. 41. 1116 s.a. [1927], “O Miradouro”, in O Éco de Reguengos, nº 924, 27 de Novembro de 1927, pág. 1.

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436

De ver terra em redondeza

Fica de todo parvinho.

CTP 601117

“Reguengos, não é comarca

Nem vila lhe chamarão;

Foram buscar, não trouxeram O concelho de Mourão”.

CTP 611118

Reguengos, por ser Reguengos, Também é terra de pão;

Também tem moças bonitas,

Claras como o carvão.

CTP 621119

Reguengos melhor das vilas Talvez que algumas cidades:

Ó quem pudera lá ir,

Para matar umas saudades!

CTP 631120

Rua de S. Pedro tem

No meio duas travessas. Ainda não vi a ninguém

Escrever cartas às avessas.

CTP641121

São Manços é vila,

Cumiada é cidade Campinho é porto,

Onde existe a mocidade.

CTP 651122

Tenho uma mana Inácia

Para lá de Vila Boim; Tenho outra no Campinho

Essa não me esquece a mim.

CTP 661123 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

1117 Pombinho Júnior [1957], pág. 43. 1118 Pombinho Júnior [1957], pág. 43. 1119 Pombinho Júnior [1957], pág. 43. 1120 Pombinho Júnior [1957], pág. 43. 1121 Pombinho Júnior [1957], pág. 43. 1122 Pombinho Júnior [1957], pág. 43. 1123 Róis [2004], pág. 155.

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de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Tenho um amor em Alvito

Outro em Vila Boim

Tenho outro nas Perolivas Esse não me esquece a mim

671124

Tenho um amor no Baldio,

Tenho outro na Caridade, Tenho outro na minha terra

Com o dobro da amizade.

CTP 681125

Vejo ao longe Monsarás

E o castelo de Mourão,

Mais perto vejo Reguengos

- Terra do meu coração.

CTP 691126

Vento norte, vento norte,

Lá do lado de Reguengos, Quem nasce p’rà pouca sorte

Toda a vida anda aos morengos.

CTP 701127

Volti a cara prà Espanha,

Já nã volto a Portugal. Os homes tẽem más ronha

Que’ sete zorras num vale. (São Marcos)

1124 Pombinho Júnior [1928], pág. 44; [1957], pág. 43. 1125 s.a. [1927], pág. 1. 1126 J. A. Pombinho Júnior [1925], pág. 19; [1928], pág. 44; [1934b], pág. 6; [1936], pág. 23; [1957], pág.

43; Leite de Vasconcelos [1983], pág. 98. 1127 Pombinho Júnior [1936], pág. 98.

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2.1.5. Outras

OP 11128 Ergue as abas do chapéu,

Olha p’ra mim com jêto

Que te quero prèguntar

O mal que te tenho fêto. (Aldeia do Mato)

OP 21129

Água corrente nã coalha,

Só se a corrente for frouxa.

Mulher casada nã balha, Só se é cabra, louca ou coxa. (Reguengos)

OP 31130

Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Alegria dos meus olhos

Não sei que me a tirou Tão alegre que eu fui sempre

E agora já nada sou

OP 41131 Informante: Maria Catarina Madeira Verdasca, nascida a 15 de Junho de 1920, em São Vicente de Valongo

(c. de Reguengos de Monsaraz). Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa

da Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

A Palavra saudade,

Aquele que a inventou, A primeira vez que a disse,

Com certeza que chorou.

OP 51132

A poejeira no vale,

Quando reverdece, chora;

Que lhe importa a cada qual

A vida de quem namora?

1128 J. A. Pombinho Júnior [1939c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 10

de Setembro de 1939, nº 451, pág. 7. 1129 Pombinho Júnior [1936], pág. 35. 1130 Róis [2004], pág. 15. 1131 Róis [2004], pág. 81. 1132 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 290.

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OP 61133

O acipreste no vale

Muda a folha a toda a hora;

Que lhe importa a cada qual A vida de quem namora? (Reguengos de Monsaraz)

OP 71134

À minha porta está lama À tua fica um lameiro…

Quando falares dos outros

Olha para ti primeiro.

OP 81135

“- Arranca-se o limoeiro,

Por baixo fic´ô chabouco.

Serias tu o primeiro

Que de mim farias pouco!” (Aldeia do Mato)

OP 91136

- “Atirei o cravo ó poço,

Foi fechado, veiu aberto. É um regalo na vida,

Enganar-se quem é experto. (S. Marcos)

OP 101137

Bemdito seja o sacrário E bemdito o altar e a cruz!

Bemditas sejam as mães

Que dão morenas á luz!

OP 111138

Cala-te daí boca-aberta,

Rodilha da chum’néi;

Raparigas cõma ti Trago eu a pontapéi! (Reguengos)

OP 121139

Camélias, cravos e rosas, Amor´s prefêtos e lírios,

Béim-me-quer’s, sucenas,

Soïdades, goivos, martírios. (Reguengos)

1133 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 298. 1134 s.a. [1910], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 1, 9 de Janeiro de 1910, pág. 3. 1135 Pombinho Júnior [1925b], pág. 4. 1136 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4. 1137 s.a. [1928g], pág. 1. 1138 Pombinho Júnior [1936], pág. 33; [1936c],pág.4. 1139 Pombinho Júnior [1936], pág. 93.

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OP 131140

Comadre, minha comadre,

Ata o atilho da bota;

Já te podes ir gabar Que apanhaste cambalhota. (Reguengos)

OP 141141

Desejava-te encontrar Numa rua séim saída,

Que te q’ria purcurar:

- Que te importa a minha vida? (Reguengos)

OP 151142

Deste-me triaga a buber

Más a baga do lourêro. Quiseste-me exp’rimentar,

Inda morreste primêro. (Reguengos)

OP 161143

Dêxa vir a primavera,

Que arrebenta o carapêto.

Inda m’hás-de ver vingada

Das acções que me tens fêto.1144 (Reguengos)

OP 171145

Diga-me o que m’ensina

Parà minha constipação. - Compra trinta réis de quina,

E um ventéim de solimão. (Reguengos)

OP 181146

Ê já fiz ‘ma recêta

Com rezões da tua boca.

Quéim me faz ´ma desfêta,

Nã me torna a fazer outra. (São Marcos - Reguengos)

OP 191147 Informante: Madalena Galego, nascida a 18 de Fevereiro de 1926, natural de São Vicente de Valongo (c.

1140 Pombinho Júnior [1935d], pág. 105; [1936], pág. 36. 1141 Pombinho Júnior [1936], pág. 83. 1142 Pombinho Júnior [1936], pág. 96. 1143 Pombinho Júnior [1936], pág. 37. 1144 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4. 1145 Pombinho Júnior [1936], pág. 92. 1146 Pombinho Júnior [1936], pág. 87. 1147 Róis [2004], pág. 109.

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de Redondo). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

É linda a casa onde mora

Ali a minha vizinha A minha é mais pobre

Embora goste mais da minha

OP 201148

Essa dita criatura

Que essa rezão te contou,

Andà busca da vergonha

Mas inda a nã encontrou. (São Marcos do Campo)

OP 211149

- “Este mal que Deus me deu,

Não foram sezões malditas. ‘Stou melhor graces a Deus,

Não foi c’as suas visitas.” (S. Marcos do Campo)

OP 221150

Este meu doairo alegre

Já mo quiseram poribir;

Ainda qu’ eu queira, não posso

Olhar p’ra ti sem me rir. (Reguengos de Monsaraz)

OP 231151

Eu desejaria morrer Pregado como Jesus

Mas era preciso ter

Teus braços por minha cruz.

OP 241152

Eu não gosto, nem brincando,

Dizer adeus a ninguem.

Quem parte, parte sem vida,

Quem fica, saudades tem.

OP 241153

Eu ouvi em Santa Clara

1148 Pombinho Júnior [1936], pág. 86. 1149 Pombinho Júnior [1926], pág. 4. 1150 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 420. 1151 s.a. [1928f], pág. 2. 1152 s.a. [1928e], pág. 2. 1153 s.a. [1929], pág. 1.

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Gemidos de alguem que chora…

- Era a Rainha pedindo

Por mim a Nossa Senhora

OP 251154 Informante: Isabel Rosado, nascida a 27 de Janeiro de 1921, em S. Pedro do Corval (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva. Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Eu venho não sei da onde E encontrei não sei quem era

Era então o mês de Abril

À busca da Primavera

OP 261155

Fiz uma cova na areia

P’ra sepultar minha magua

Entrou por ela o mar dentro Não encheu a cova d’agua.

OP 271156

Fui lavar ao rio turvo, Escorregou-me o sabão,

Abracei-me com as rosas,

Ficou-me o cheiro na mão. (Reguengos de Monsaraz)

OP 281157 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Há tanto tempo que eu ando Para a tua casa ir

Hoje vou, amanhã vou

O dia certo sem vir

OP 291158

- “Inda canto, inda bálho,

Inda cá não há tristeza;

Inda cá não há quem tenha Minha libardade prêsa.” (Reguengos)

1154 Róis [2004], pág. 71. 1155 s.a. [1928a], pág. 2. 1156 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 234. 1157 Róis [2004], pág. 17. 1158 Pombinho Júnior [1926], pág. 4.

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OP 301159

Já corri o mar em roda,

Nas asas duma cegonha;

Em tôdô mar achi fondura, Só em ti pouca vergonha. (Aldeia do Mato)

OP 31 1160

Já foram e já vieram, As formosas andorinhas;

Levaram de mim saudades,

Trouxeram saudades minhas.

OP 321161

Já lá véim o sol nascendo,

Deitando raios às aldeias;

Já lá véim a tesourinha, Cortando em vidas alheias. (São Marcos)

OP 331162

Já morri, já m’entarri Debàxo de dois tarrões;

Agora ressuciti

Co’as tuas orações. (Reguengos)

OP 341163

Já morri, já m’entarrarom

Entremeio de dois tarrões;

Dês me nã leve do mundo Séim te dar duas rezões. (São Marcos)

OP 351164

Laranja de casca fina De fina nã vai ò fundo.

Mal empregada menina,

Andar nas bocas do mundo. (Aldeia do Mato)

OP 361165

Levanti-me hoje tã triste 1159 Pombinho Júnior [1936], pág. 56. 1160 B. de M. [1939], “As Andorinhas”, in O Éco de Reguengos, (II Série) nº 345, 3 de Março de 1939,

pág.1. 1161 Pombinho Júnior [1936], pág. 94; [1936b], pág.5. 1162 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4; [1935d], pág. 109.

Pombinho Júnior localiza o local de recolha da cantiga em S. Marcos ([1925f], pág. 4). 1163 Pombinho Júnior [1935d], pág. 110. 1164 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4; [1934], pág. 6; [1936], pág. 22. 1165 Pombinho Júnior [1925f], pág. 4; [1935d], pág. 109.

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444

Que me aborrece viver:

Se visse quéim desejava,

Nã m’havéra de aborrecer. (Reguengos)

OP 371166

Liberdade, liberdade,

Quem na tem chama-lhe sua;

Eu não tenho liberdade Nem de pôr o pé na rua.

(Reguengos de Monsaraz)

OP 381167

Mandi fazêri um jazido

No jardim, ó péi do mári,

P´ra sepultári mê sentido,

Encanto fôr melitári. (Reguengos)

OP 391168 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Maria, teu lindo nome Quem foi a tua madrinha

Quem foi a santa mulher

Que tão lindo gosto tinha

OP 401169 Informante: Madalena Galego, nascida a 18 de Fevereiro de 1926, natural de São Vicente de Valongo (c.

de Redondo). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Manuel era um petiz de palmo e meio

Um pouco mais seria na verdade

Fazia contas como um banqueiro

Lia no livro como um doutor

OP 411170

Minha avó quando morreu

Levou palmito e capella; Deixon-me as chaves da adega,

1166 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 49. 1167 J. A. Pombinho Júnior [1938l], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 5 de

Novembro de 1938, nº 407, pág. 6. 1168 Róis [2004], pág. 37. 1169 Róis [2004], pág. 109. 1170 s.a. [1910b], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 5, 6 de Janeiro de 1910, pág. 3.

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445

E o vinho bebeu-o ella.

OP 421171

Não julgues pelas risadas a alegria de ninguém

que ás vezes as gargalhadas

são maguas que a vida tem.

OP 431172

Não tenho pena em deixar

A mocidade em que estou,

Só tenho pena em deixar Pai e mãi que me criou. (Reguengos)

OP 441173 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

O António Maçã Verde

“Escolhido” da macieira

Não te cases, oh António Enquanto eu estiver solteira.

OP 451174

O arado lavra a terra,

A grade grada-a depois,

Quem vae guiando a rabiça

Sorri a quem guia os bois.

OP 461175

O chaparro dá boleta,

A esteva correpio Anda aí uma sujeita,

Não pode falar com brio. (Aldeia do Mato, c. de Reguengos de Monsaraz)

OP 471176 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

1171 s.a. [1928], pág. 2. 1172 J. A. Pombinho Júnior [1940], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 1 de

Março de 1940, nº 480, pág. 6. 1173Róis [2004], pág. 38. 1174 s.a. [1910b], pág. 3. 1175 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 298. 1176 Róis [2004], pág. 18.

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446

Oh António, Santo António

Oh Francisco, São Francisco

José de Nossa Senhora E Manuel Monte Cristo

OP 481177 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Oh lampião, lampião

Oh lampião rua abaixo

Eu perdi o meu anel E às escuras não o acho

OP 491178 Informante: Madalena Galego, nascida a 18 de Fevereiro de 1926, natural de São Vicente de Valongo (c.

de Redondo). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Óh minha Mãe da minha alma

Oh meu pai do coração

Por muitos anos que eu viva Não lhe pago a criação

OP 501179 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Oh minha mãe, minha mãe

Que me deu tantos miminhos

Hoje, por ser o teu dia Eu dou-te muitos beijinhos

OP 511180 Informante: Maria Catarina Medinas, nascida a 4 de Maio de 1922, em Reguengos de Monsaraz. Foi

Trabalhadora Rural. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em 2003,

por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de

Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

O meu amor é mais lindo

Do que a rosa quando abre

1177 Róis [2004], pág. 116. 1178 Róis [2004], pág. 109. 1179 Róis [2004], pág. 19. 1180 Róis [2004], pág. 37.

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447

Toda a gente mó cobiça

Nossa Senhora mó guarde

OP 521181

Ó olhos preparem lenços,

Ó lenços preparem fios;

Tá chagada a àcasião

De mês olhos serem rios.1182 (Reguengos)

OP 531183

Ó papel da empostura,

Inda te hê-de aventári; És uma fraca-figura

Que andas de mim a mangári. (Reguengos)

OP 541184

- “Ó penas! Não venham todas,

Juntas ao meu coração.

Venham mais acompassadas, Dar alívio ás que cá estão.” (Reguengos)

OP 551185

Ó penas! nã venhom juntas, Venhom mais acompassadas;

Que as penas em vindo juntas

Inda sã penas dobradas. (Reguengos)

OP 561186

O quêjo é par’às baldorégas,

Os ovos par’às ervilhas.

Dês faça as velhas cegas, Encanto ê balhar c’as filhas.1187 (Reguengos)

OP 571188 Informante: Mariana Mendes Conceição, nascida a 22 de Agosto de 1920, em Reguengos de Monsaraz.

Foi trabalhadora rural. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia). Recolha

realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de

Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

1181 Pombinho Júnior [1936], pág. 16. 1182 J. A. Pombinho Júnior [1925d], pág. 4. 1183 Pombinho Júnior [1936], pág. 57. 1184 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4. 1185 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4; [1936], pág. 16. 1186 Pombinho Júnior [1936], pág. 28. 1187 Pombinho Júnior [1925e], pág. 3.

Pombinho Júnior localiza a recolha da quadra em S. Marcos do Campo (Pombinho Júnior [1925e], pág. 3). 1188 Róis [2004], pág. 116.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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448

O rapaz de chapéu branco

Precisa da cara partida

Por baixo do chapéu branco Pisca o olho à rapariga

OP 581189

Os dias da semana

Os sete dias da semana

Eu t’vos a construi:

São palavras excelentes Escuta, amor, se quer’s ouvir.

«Segunda-feira» é rosa

Por sêr o primeiro dia; Uma paixão rigorosa

Numa ausência principia.

«Terça-feira» é àgua Que rega toda verdura,

Taméim os mês olhos regom

Essa tua fermosura.

«Quarta-feira» é trevo

Que narce rente ó chão;

Só Deus do céu é que sabe

Se por ti tenho paixão.

«Quinta-feira» é açucena

Todô ano dá sementes;

A todos falas verdade, Só a mim tanto me mentes.

«Sexta-feira» é rôxo,

O rôxo é sentimento; Quem nan há-de têr pena

Duma ausência há tanto tempo.

«Sábado» é alecrim Que todô ano dá flor;

Antes q’a morte me venha,

Nan te dêxo, mê amor.

«Domingo» é ramalhête

Todô ano dá carinhos;

Inda ‘spero dar-te abraços E nesse tê rôsto bêjinhos.

1189 J. A. Pombinho Júnior [1934], “Canções e modas alentejanas”, Arquivo Transtagano, Elvas, ano II,

1934, pp. 209-210.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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449

(Aldeia do Mato – Reguengos)

OP 591190

«O suspiro é uma flor

Cá p ra minha ´stimação; Todas as flores se vendem,

Só os suspiros se dão.» (Reguengos)

OP 601191

Passas por mim, não me falas,

Não me matas meu desejo:

És ingrato conhecido, Eu por ti cego não vejo. (Reguengos)

OP 611192

Passeaste no carrinho, Aprendeste bem a ‘scola.

Par’cias bom rapazinho,

Saíste-me um gabazola. (Reguengos de Monsaraz)

OP 621193

Por ê ser advertida,

Já me querem dêtar fama.

Ê sou cõmà oliveira, Sempre teve mão da rama!1194 (Aldeia do Mato)

OP 631195 Informante: Maria Natália Carrasco Mendes, nascida a 25 de Dezembro de 1297, em Reguengos de

Monsaraz. Foi Doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valadas (Santa Casa da Misericórdia).

Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão

Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por

Luísa Róis.

Pus-me a contar às avessas

Na pedra de uma coluna

Nove, oito sete, cinco, quatro, Três, dois e uma

OP 641196

1190 Pombinho Júnior [1939a], pág. 210. 1191 Pombinho Júnior [1940d], pág. 4. 1192 Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; Leite de Vasconcelos [1971], pág. 491. 1193 Pombinho Júnior [1936], pág. 17. 1194 Pombinho Júnior [1925d], pág. 4.

Pombinho Júnior localiza a recolha da quadra em Reguengos de Monsaraz (Pombinho Júnior [1925d], pág.

4). 1195 Róis [2004], pág. 79. 1196 s.a. [1928a], pág. 2.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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450

Pus-me a contar minhas máguas

A um Cristo d’um altar…

As máguas eram tão grandes

Que o Cristo poz-se a chorar.

OP 651197 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos

de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Quando era menina

Usava fitas e laços

Agora que sou casada

Tenho os filhos nos braços

OP 661198 Informante: Manuel Claro Galhano, nascido a 29 de Maio de 1931, em S. Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi trabalhador rura. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Quando o rebuliço se armou

Havia razão por isso

Foi por causa de um ouriço

Que bebeu e não pagou

OP 671199

Quatrocentos mil abelhas

Te mordom em cada mão;

Na língua um alacrau, Na orelha um atabão.1200

(Reguengos)

OP 681201

Quatrocentos sapateiros Se juntaram em campanha

Com martelos e turqueses

P’ra matarem uma aranha. (Reguengos de Monsaraz)

OP 691202

«Que linda está a Cruz

Coberta de flores!

1197 Róis [2004], pág. 154. 1198 Róis [2004], pág. 95. 1199 Pombinho Júnior [1936], pág. 27. 1200 Pombinho Júnior [1925e], pág. 3. 1201 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 251; Moutinho [2008], pág. 248. 1202 Pe Júlio Nogueira [1947], “Monsaraz”, in O Éco de Reguengos (II Série), nº 717, 1 de Junho de 1947,

pág. 1.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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451

Nela morreu Jesus

para salvar os pecadores.»

OP 701203

«Que lindo botão de rosa

Qu’eu tenho à minha direita:

Que sombra que ´stá fazendo,

Que lindo cheiro que deita!» (S. Marcos – Reguengos)

OP 711204 Informante: Maria Joaquina Garcias, nascida a 7 de Junho de 1925, em S. Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi Trabalhadora Rural. Utente do Polo de Apoio à Família da Santa Casa da

Misericórdia. Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Raparigas todas vamos

Toca a bailar, a bailar

Os vossos braços são ramos

Nascidos para abraçar

OP 721205

Salsa verde na parede

Dá-lo vento, troce o pé; Assim se trocerá a língua,

De quéim por mim que nã é. (Aldeia do Mato)

OP 731206

Samiei couves na serra,

Bem longe me fica a horta.

Não fales na minha vida Que eu da tua não m’importa. (Reguengos)

OP 741207

São minhas irmãs as arvores Almas tranquilas, singelas

Sabem ellas meus segredos

Eu sei os segredos d’ellas.

OP 751208 Informante: Filomena Maria Lopes, nascida a 5 de Junho de 1916, em Perolivas (c. de Reguengos de

1203 Pombinho Júnior [1939a], pág. 213. 1204 Róis [2004], pág. 75. 1205 Pombinho Júnior [1936], pág. 97. 1206 J. A. Pombinho Júnior [1951], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,

Estremoz, 15 de Julho de 1951, nº 1046, pág. 3. 1207 s.a. [1910e], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 9, 6 de Março de 1910, pág. 3.

1208 Róis [2004], pág. 152.

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452

Monsaraz). Foi costureira. Utente do Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Recolha realizada em

2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Saudades levam

Muita gente à sepultura Não me há-de levar a mim

Que o meu mal ainda tem cura

OP 761209

Saudade não as merece

Toda a gente que as inspira…

- Ter saudades de quem ‘squece

É ter crença na mentira

OP 771210

Saudades, tenho saudades

Do tempo em que não sabia Que esta palavra saudade

Infelizmente existia.

OP 781211

«Se fôreis um dia ao mar

Que a fortuna te não deixe:

«Bota a rede, vai-te embora,

Quanto mais burro mais peixe.» (Reguengos)

OP 791212

«Senhora dona de casa,

A culpa é toda sua: Porque não pega num pau

E põe tudo no olho da rua?» (Aldeia do Mato)

OP 801213

S’ê sóbésse lêri,

Como ê nan seio,

‘Screvia ‘ma carta,

Mandava no correio. (Reguengos)

OP 811214 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da

1209 s.a. [1929], pág. 1. 1210 s.a. [1928e], pág. 2. 1211 Pombinho Júnior [1939a], pág. 178. 1212 Pombinho Júnior [1938d], pág. 10; [1939], pág. 204. 1213 Pombinho Júnior [1937], pág. 6. 1214 Róis [2004], pág. 15.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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453

Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz, coordenada por Luísa Róis.

Se passares ao cemitério

No dia do meu enterro Diz à terra que não estrague

A trança do meu cabelo

OP 821215

Toda a vida me enlevou

Uma delicada dama,

Que a mulher em sendo gorda

Só ela apanha a cama. (Aldeia do Mato, Reguengos)

OP 831216

«Tenho drento do mê pêto

Um punháli com cinco bicos, Para matári e feriri

Quéim anda co’ mexericos.» (Aldeia do Mato)

OP 841217

Tenho pena de quem tem pena,

Penas de quem penas tem;

Tenho pena de mim mesmo,

Que peno mais que ninguém. (Reguengos)

OP 85a1218

- “Tenho quatro aventais

Com lacinhos côr de rosa; P’ra dar á minha intersôra,

Qu’ela é muito vaidosa.” (S. Marcos – Reguengos)

OP 85b1219

“Tenho quatro aventais

Com lacinhos cor de rosa,

P’ra dar à minha contrária Qu’ela é munto vaidosa.” (São Marcos)

1215 J. A. Pombinho Júnior [1952], “Retalhos de um Vocabulário” (2ª Série), in Brados do Alentejo,

Estremoz, 6 de Janeiro de 1952, nº 1071, pág. 5. 1216 Pombinho Júnior [1936b], pág.5. 1217 J. A. Pombinho Júnior [1940a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 5 de

Março de 1940, nº 485, pág. 6. 1218 Pombinho Júnior [1925], pág. 19. 1219 Pombinho Júnior [1933b], pág. 6.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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454

OP 861220

Tenho tantas saudades

Como folhas tem o trigo.

Eu não as conto a ninguem Todas consumo comigo.

OP 871221

Tenho uma saia verde Com raminhos côr de rosa,

Pra dar à minha intressôra

Que ela é munto vaidosa. (São Marcos)

OP 881222

Tens cabeça de andorinha,

Tens pescoço de cegonha,

Tens corpo de mula ruça, Cara de pouca vergonha. (Reguengos de Monsaraz)

OP 891223

Tira daí a argola,

Que eu sou fera da montanha;

Saíste-me um gabarola,

Nan te sabia da manha. (Reguengos de Monsaraz)

OP 901224

Tu dizes que me namoras,

Ó rapaz da gaforina! Tenho-te um ódio-mortal,

Ó mê preto da China! (Reguengos)

OP 911225 Informante: Maria Alves Santos Falé, nascida a 21 de Abril de 1923, em São Marcos do Campo (c. de

Reguengos de Monsaraz). Foi doméstica. Utente do Lar de Idosos D. Josefa Valada (Santa Casa da Misericórdia). Recolha realizada em 2003, por uma parceria efectuada entre a Fundação Maria Inácia

Vogado Perdigão Silva, de Reguengos de Monsaraz, e o Ensino Recorrente de Reguengos de Monsaraz,

coordenada por Luísa Róis.

Vou-me embora, vou partir

P'rá terra das andorinhas

1220 s.a. [1928b], pág. 1. 1221 Pombinho Júnior [1925], pág. 25; [1933b], pág. 6; [1936], pág. 65. 1222 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 372. 1223 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 578.

José Leite Vasconcelos recolheu a quadra em: semanário Terra Alentejana, 4-X-1925 (cf. Leite de

Vasconcelos [1975], pág. 578).

Pombinho Júnior [1925h], pág. 4; [1936], pág. 57. 1224 Pombinho Júnior [1936], pág. 58. 1225 Róis [2004], pág. 15.

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455

Mete carta no correio

Se queres saber novas minhas

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456

2.1.6. Cantigas ao Despique

CDP 11226

Anda cá, salta-quintais,

Dá um pulo véim cá fora;

Tu és o namora todas

A ti ninguéim te namora.

Resposta:

Tu chamaste-me salta-quintais, Tão todos enganados.

Nan quero tapar portelos

Que outros téim destapado. (Aldeia do Mato)

CDP 21227

- Cala-te aí, boca aberta, Cara de sardinha frita,

Vai dizer a Santo António

Que te faça mais bonita.

- Cala-te lá, boca aberta,

Barbas de cão perdigueiro:

Já vi andar teu pai

Ás turras com um carneiro.

- Cala-te aí, boca aberta,

Rodilha de chaminé,

Raparigas, como tu, Trago-as eu a pontapé.

- Cala-te lá, boca aberta,

Boca de sapo ranhado: Já te dei um pontapé

No cimo do meu telhado. (Reguengos de Monsaraz)

1226 Pombinho Júnior [1936], pág. 90. 1227 Leite de Vasconcelos [1975], pág. 172.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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457

2.1.7. Canções e Modas

CMP 11228

A Botica Nova

A botica nova

Não tem boticário. Canta o pintassilgo,

Responde o canário.

Responde o canário Do alto do castelo;

Já lá vem meu bem

De fato amarelo.

De fato amarelo

De fato algarvio.

Já lá vem meu bem,

Vem prô navio

Vem prô navio

Vem prá ‘stação;

Já lá vem meu bem E aperta-me a mão.

E aperta-me a mão,

E pisa-me o péi; Já lá vem meu bem

Tró-lari, ló, léi! (Reguengos)

CMP 21229

Ao passar da ribeirinha

O passar da rebêrinha, Pus o péi, molhi a meia.

Nan casi na minha terra,

Fui casar em terra alheia.

Fui casar em terra alheia,

Podendo casar na minha.

Pus o péi, molhi a meia,

O passar da rebêrinha. (Reguengos)

1228 J. A. Pombinho Júnior [1935], “Canções e modas alentejanas”, in Arquivo Transtagano, Elvas, 15 de

Fevereiro de 1935, ano III, nº 3, pág. 39. 1229 Pombinho Júnior [1934], pág. 312.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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458

CMP 31230

A Laurentina

A roupa do marinheiro Nan é lavada no rio,

É lavada no mar largo

À sombra do sê navio.

À sombra do sê navio,

À sombra do sê vapor.

Nan é lavada no rio

A roupa do mê amor.

Vai, vai, marujinho, vai,

Vai buscar a Làrentina;

Que ela ‘tá no meio do mar. Ela é tua, nan é minha.

Ela é tua, nan é minha;

Ela tua é que há-de sêr. Vai, vai, marujinho, vai

Nan na dêxes mais sofrer. (Reguengos)

CMP 41231

Contigo, sim, sim

Contigo, sim, sim, Cavalheiro e donzela,

Dá-la volta senhorita,

Passear em Palmela.

Passear em Palmela,

Passear, isso sim.

Dá-la volta, senhorita,

Cavalheiro, ai de mim! (Reguengos)

CMP 51232

Fui ao jardim passear

Fui ó jardim passear, }

Truxe um ramo de alecrim,} bis

ai

Pra dar ô mê amor, } Que se nan ‘squece de mim} bis

1230 Pombinho Júnior [1934], pág. 353. 1231 Pombinho Júnior [1934], pág. 313. 1232 Pombinho Júnior [1934], pág. 337.

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459

Que se nan ‘squece de mim,}

Para de mim s’alembrar }bis

ai

Truxe ramo de alecrim,} Fui ó jardim passear. } bis

(Reguengos)

CMP 61233

Manjericão da Janela

Manjericão da janela,

Dá-lhe o vento, abana, abana: Não há balas que atravessem

Os olhos da Mariana.

Os olhos da Mariana, Os olhos daquela maldita.

Dá-lhe o vento, abana, abana;

Dá-lhe o vento, vai e fica.

No cimo daquele outeiro,

Mói um moinho de vento;

Anda o meu amor também

A moer-me o pensamento.

Manjericão da janela, etc.

Eu não choro por ti, Rosa, Que o jardim mais rosas tem,

Choro por mal empregado

O tempo que te quis bem.

Manjericão da janela, etc.

(Reguengos)

CMP 71234

Nã me amas com fremeza, Quer’s-me trazer enganada;

Pela minha natureza

Vou tando desmaginada.

Vou tando desmaginada.

Pela tua presunção;

Quer’s-me trazer enganada

Engrato do coração!1235

1233 J. A. Pombinho Júnior [1946], “Canções e Modas Alentejanas (2ª Série)”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 3 de Fevereiro de 1946, nº 78, pág. 4. 1234 Pombinho Júnior [1936], pág. 44. 1235 Pombinho Júnior [1925 g], pág. 4.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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460

(Reguengos)

CMP 81236

Não quero que vás à Monda

No dia em que me casar, Não quero que vás à monda,

hás-de ser minha madrinha; nem à ribeira lavar,

não quero que vás à monda, (bis) só quero que me acompanhes (bis) nem à ribeira sozinha. no dia em que me eu casar.

Andas morta por saber

onde eu passo os meus serões: nas vendas das vendedeiras, (bis)

encostadinho aos balcões.

(F. Lopes Graça, Caridade, 1949)

CMP 91237

1

No tempo em que te eu amei, Mais valia amar um cão:

Fazia guarda ao monte

Não viesse algum ladrão.

2

No tempo em que te eu amei,

Mais valia amar um burro:

Vendia-o numa feira Prantava o dinheiro a juro.

(Reguengos de Monsaraz)

CMP 101238

Os alegres passarinhos Já têm novo cantar,

Aprenderam só de ouvir

Dois amantes a falar.

Dois amantes a falar,

Os alegres passarinhos,

Os alegres passarinhos,

Já têm novo cantar. (Reguengos de Monsaraz)

1236 Michel Giacometti [1981], Cancioneiro Popular Português, Lisboa, Círculo de Leitores, 1981, pp.

255/256. 1237 Leite de Vasconcelos [1979], pág. 358. 1238 Fernando Lopes Graça, Michel Giacometti [1965], Antologia de Música Regional Portuguesa, Vol.

IV, 2ª ed., Edição dos Arquivos Sonoros Portugueses e dos Estabelecimentos – Valentim de Carvalho Lda.,

1965, pág. 15.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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461

CMP 111239

O tocador do harmónio

O tocador do harmónio Tem dedos de «marafim»,

Tem olhos de enganador;

Não me há-de enganar a mim.

Não me há-de enganar a mim,

Não me há-de enganar, não,

O tocador do harmónio

Que anda aqui nesta função.

Que anda aqui nesta função,

Mais valia cá não vir;

Os olhos que eu vim ver Estão deitados a dormi. (Reguengos)

CMP 121240

Quero-me casar

Quero-me casar,

Não me caso não;

Quero-me casar, Há-de ser para o v’rão.

Há-de ser para o v’rão, Há-de ser se fôr;

Quero-me casar,

Mais o meu amor.

Mais o meu amor,

Rosa em botão;

Quero-me casar,

Há-de ser para o v’rão. (Reguengos)

CMP 131241

Se eu quisesse amar bonecos, Mandav’ós vir de ‘Stremôris.

Vergonha da minha cara

Se eu contigo tinha amôris.

Se eu contigo tinha amôris.

1239 J. A. Pombinho Júnior [1948], “Canções e Modas Alentejanas (2ª Série)”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 22 de Fevereiro de 1948, nº 869, pág. 3. 1240 J. A. Pombinho Júnior [1948a], “Canções e Modas Alentejanas (2ª Série)”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 28 de Julho de 1948, nº 809, pág. 3. 1241 Pombinho Júnior [1925g], pág. 4; [1935], pp. 60-61; [1936], pág. 51.

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462

Se eu era o tê namorado;

Mandav’ós vir de ‘Stremôris.

Mandav’ós vir do Chiado. (Reguengos)

CMP 141242

Se queres laranjinha

Anda cá, senta-te aqui, Eu numa pedra, tu noutra;

Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,

Se queres laranjinha que limão não há.

Aqui choraremos ambos A nossa ventura pouca.

Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,

Se queres laranjinha que limão não há.

Ó coração pede, pede,

Terra para um pomar,

Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,

Se queres laranjinha que limão não há. Estes meus olhos se obrigam

A dar água para o regar.

Se queres laranjinha, toma lá, toma lá,

Se queres laranjinha que limão não há.

Etc, etc… (Reguengos)

CMP 151243

Venha cá meu boi Capote, Camarada do Pombinho;

Quem não for capaz não volte,

Repouse ao pé do caminho.

Tu é que és o meu rapaz,

Quando é que lá vais,

Quando é que lá vais?

Vou hoje ao jardim das flores, Ó meu lindo amor,

A quem tenha amor,

A quem saiba amar. (Reguengos de Monsaraz)

1242 Pombinho Júnior [1948a], pág. 3. 1243 Lopes Graça, Giacometti [1965], pág. 10.

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463

2.2. Cantigas religiosas

2.2.1. Cantigas de Reis

RCRP 11244

Esta noite choveu neve,

No gargalinho do poço;

Viva a Senhora F…

Mais o sê cravo roxo! (Reguengos)

1244 J. A. Pombinho Júnior [1939], pág. 17.

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464

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465

B. Antologia de textos líricos recolhidos, em 1999 – recolha do CTPP (Centro

de Tradições Populares Portuguesas Professor Manuel Viegas Guerreiro)

1.Composições de carácter prático-utilitário

1.1. Composições de natureza e intenção mágica e religiosa

1. 1.1. Orações

Para o quotidiano

De manhã

Ao levantar

ROrCTPP 1 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Deus te salve, luz do dia,

Deus te salve quem te cria,

Santo ou Santa deste dia.

ROrCTPP 21245 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Quando eu me deito, Quando eu me levanto,

Na graça de Deus

E do divino Espírito Santo.

À noite

Ao fechar a porta

ROrCTPP 3 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Minha porta fecho, Minha porta vou fechar,

Saia quem sair,

Entre quem entrar,

5 Entre Nossa Senhora

1245 A informante referiu que rezava esta oração ao levantar.

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466

Que me vem acompanhar

E o divino Espírito Santo

Para a minha alma salvar.

Ao deitar

ROrCTPP 4 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Anjo da Guarda,

Minha companhia, Guardai a minha alma

De noite e dia.

ROrCTPP 5 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Jesus na boca,

Jesus no peito, Jesus na cama

Onde me deito.

ROrCTPP 6 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Nesta cama me deitei,

Sete anjos nela achei, Três aos pés, quatro à cabeceira,

Nossa Senhora na dianteira,

5 Nossa Senhora me disse:

- Dorme, pousa, Não tenhas medo de nenhuma cousa.

Dormi e acordei

E Nossa Senhora ao pé de mim.

Para confessar

ROrCTPP 7 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Ó meu Deus da minha alma,

Senhor do meu coração,

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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467

Perdoai os meus pecados,

Bem sabe quantos eles são.

5 Dá-me nesta vida a graça

E na outra a eterna salvação, Que a minha alma se não perca

E não morra sem confissão.

Orações Paralelas

ROrCTPP 8 Informante: Leonilde Paixão Rosado, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Abril de 1999.

Salve Rainha pequenina,

Rosa divina, Cravo de amor,

Mãe do Senhor,

5 Luzes e entendimento,

Para receber o Santíssimo Sacramento.

Para proteger

ROrCTPP 91246 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Deus te salve cavalheiro honrado, Com as armas de Cristo foste armado,

Com o leite da Virgem Maria foste borrifado,

Que eu e a minha família não sejamos presos,

5 Nem agarrados, nem roubados, nem embruxados, Nem sangue do nosso corpo tirado,

Por feros caminhos andaremos,

Bom e mau encontraremos,

Os maus não nos virão, 10 Os bons nos encaminharão,

Encaminhados sejamos nós

Pelo Senhor S. Francisco,

Pela Senhora da Conceição E pelo Senhor Jesus Cristo.

1246 Oração de protecção contra o “mau olhado”, segundo a informante.

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468

ROrCTPP 10 Informante: Leonilde Paixão Rosado, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos

de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

Abril de 1999.

Padre Nosso pequenino, Sete anjinhos,

Sete livros a rezar,

Sete candeias a alumiar,

5 O senhor é meu padrinho E a senhora minha madrinha,

Para que me fez a cruz na testa

Para que o demónio não me impeça,

Nem de noite nem de dia, 10 Nem ao pino do meio-dia,

Já os galos cantam,

Já os anjos se levantam,

Já o Senhor subiu à cruz, Assim seja. Amém. Jesus.

ROrCTPP 11 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Santo António pequenino,

Que tem a chave do menino, Quem lha deu, quem lha daria?

São Pedro, Santa Maria?

5 Cruz em monte, cruz em fonte,

Nunca o demónio me encontre, Nem de noite, nem de dia,

Nem à hora do meio-dia.

Já os galos cantam,

10 Já os anjos se levantam, Já Deus subiu à cruz,

Para sempre. Amém. Jesus.

ROrCTPP 121247

1247 A informante contou que foi uma tia que lhe transmitiu a oração, em papel e que se fosse rezada às

avessas tinha mais força, para proteger de todo o mal, bruxas, maus espíritos.

A particularidade de a oração ser proferida “às avessas” fez com que não fosse transcrita em verso.

Esta é uma versão às avessas das Tabuinhas de Moisés, conhecida no concelho de Reguengos como Oração

das Doze Palavras Ditas e Retornadas. No concelho de Loulé, foram recolhidas diversas versões, algumas

até têm uma narrativa introdutória que procura explicar a sua origem (cf. Custódio, Galhoz, Cardigos [2008], pp. 285-310).

Também encontrámos uma versão, a Oração do Anjo Custódio, outra denominação popular das Tabuinhas

de Moisés, em Rezas e Benzeduras Populares (Etnografia Alentejana), mas sem as palavras às avessas (cf.

Roque [1946], pp. 78-80).

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469

Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Oração das Doze Palavras “às avessas”

Tua é não e minha é alma esta que demónio daqui embora vai-te lua, a tem raio três; sol o tem que raios treze os são treze as treze as diz-me sabes que palavras três pelas quero

sim, Senhor? Deus da graças pela salvo ser queres, Custódio – XIII Ámen nós por morreu

Cristo Jesus Senhor meu o onde Jerusalém de casa a é primeira a e pés Divinos seus os

pôs Cristo Jesus Senhor meu o onde Moisés de Tábuas Duas as são duas as; Trindade Santíssima da Pessoas Três as são três as Mateus e Marcos Lucas João Evangelista Quatro

os são quatro as Cristo. Jesus Senhor meu do Chagas cinco as são cinco: nascimento seu

no teve Cristo Jesus Senhor meu o que Bentos Círios Seis os são seis os sacramentos Sete

as são sete as Bem-aventuranças Oito as são oito as ventre Paríssimo seu no Filho Bendito seu o trouxe Senhora Nossa que meses nove os são nove as Deus de Lei da Mandamentos

Dez os são dez as Virgens Mil onze as são onze os Apóstolos Doze os são doze as doze

as diz-me sabe que palavras treze pelas quero sim senhor? Deus de Graças pela salvo

queres, Custódio – XII. Ámen nós por morreu Cristo Jesus Senhor meu o onde Jerusalém de Cara o é primeira a

e por Divinos seus os pôs Cristo Jesus Senhor meu o onde Moisés de Tábuas duas as são

duas as.

Para encomendar

ROrCTPP 131248 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Encomendo-me à Luz,

E ao Senhor da Vera Cruz, E ao Reino da Virgindade e a S. Romão,

Coroado e por coroar,

5 Tem a cabeça em Roma e os pés em Portugal,

Que me livre e me queira livrar Do cão danado e por danar,

Do homem morto e do mau encontro

Do homem vivo e do mau perigo.

10 Santo António é meu amigo E São Romão esteja comigo. Amém.

1248 A informante aprendeu a oração com a avó.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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470

Para acompanhar o ritual da missa

Ao entrar na igreja

ROrCTPP 14 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Deus te salve, Casa Santa,

Que por Deus foste ordenada,

Aonde está o cálice bento E a hóstia consagrada.

Ao molhar mão na água benta

ROrCTPP 15a Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Água benta tomarei,

Por intenção dos meus pecados, Que, à hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

ROrCTPP 15b Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Água benta tomarei,

Na remissão dos meus pecados, À hora da minha morte,

Sejam todos perdoados.

Ao ajoelhar-se

ROrCTPP 16 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Aqui me ajoelho, Aqui me apresento,

Em louvor do Santíssimo Sacramento.

Ao avistar o cemitério

ROrCTPP 171249 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

1249 Depois reza-se o Pai Nosso.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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471

Deus os salve, corpos mortos,

Que já foram como nós,

Roguem lá a Deus por mim, Que eu cá rogarei por vós.

Para proteger da trovoada

ROrCTPP 18 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Santa Bárbara bendita,

No céu está escrita, Na terra assinalada,

Quantos anjos há no céu,

5 Que acompanhem nossa alma.

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472

1.1.2. Benzeduras

RBenzCTPP11250 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Benzedura do distorcido

Eu coso carne quebrada,

Carne quebrada coso, Linha que desmentiste,

Nervo que torceste

5 Volta ao lugar aonde nasceste,

Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Pai-Nosso e Ave-Maria.

RBenzCTPP21251 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Benzedura da Lua

Eu te benzo fulano de afito,

Lua e ar, cobranto Com a cruz do divino Espírito Santo. Amén.

Lua, tu por aqui passaste,

5 A cor de fulano levaste,

Volta atrás e deixarás Que a mão de Nossa Senhora

Vá diante da minha,

Para que sirva de mezinha,

10 Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Pai-Nosso e Ave-Maria.

1250 Explicação da informante: Benze-se em cruz no início. Com uma agulha com linha sem nó e um novelo

de linha, enquanto se reza a oração, cose-se. Reza-se três vezes a oração. 1251 Explicação da informante: Tem que dizer três vezes em cruz, direito ao fulano, depois oferece-se ao

Santíssimo Sacramento e a Nossa Senhora.

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473

1.1.3. Ensalmos

REnsCTPP 1

Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

Oração do susto

Desceu Deus do céu à terra E da terra ao seu altar,

Para que o ventre de fulano vaia ao seu lugar,

Em louvor de Deus e da Virgem Maria,

5 Sem Deus nada se fazia. Pai-Nosso e Ave-Maria.

Ofereço a São Vicente

Estes cinco Pai-Nossos

E estas cinco Ave-Marias 10 Para pôr esta criatura boa e escorrente

Como antigamente.

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474

1.1.4. Esconjuros

Para afastar a trovoada

REscCTPP 1 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade,

natural de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de

Monsaraz, em Abril de 1999.

São Jerónimo se levantou, Seu sapatinho de ouro calçou.

Com o seu cacheirinho na mão,

Nossa Senhora encontrou

5 E ela lhe perguntou: - Onde vais, S. Jerónimo?

- Vou espalhar esta trovoada

Lá para bem longe,

Onde não haja eira nem beira, 10 Nem raminho de oliveira,

Nem gadelhinho de lã,

Nem alma cristã, nem pedrinha de sal,

Que nem a mim nem à minha gente Nada possa fazer mal.

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475

1.2. Composições de sabedoria

1.2.1. Provérbios

RPCTPP1 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Abril águas mil.

RPCTPP2 a Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Burro velho não aprende línguas.

RPCTPP2 b Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Ferro velho já não aprende linguagem.

RPCTPP3 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Em Janeiro, sobe ao outeiro. Se vires verdejar, põe-te a chorar.

Se vires terrejar, põe-te a cantar.

Quando não chove em Fevereiro,

Nem bom prado, nem bom centeio. Março, marçagão,

Manhã de Inverno, tarde de Verão.

Abril frio, pão e vinho.

Quando o Maio chegar, Quem não arou, há-de arar.

Em Junho, foucinha no punho.

Em Julho, ceifa o trigo e o debulho

E em vento soprando vou limpando. Nem em Agosto caminhar,

Nem em Dezembro malhar.

Agosto amadura, setembro derruba.

Outubro seca tudo. De Todos os Santos ao Natal

Ou bem chover ou bem nevar.

Ande o frio por onde andar

Há-de vir pelo Natal.

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476

RPCTPP41252 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Enquanto há homens não se confessam mulheres.

RPCTPP5 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Feio e esquisito como o Raimundo bacro1253.

RPCTPP6 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Mais vale tarde do que nunca.

RPCTPP7 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Mourão: boa cara, ruim coração.

RPCTP8 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Não morram os homens que as oportunidades não faltam.

RPCTPP9 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstico, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Novas não as cansei, velhas as saberei.

RPCTPP10 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Não tem gosto nem desgosto, é como o amor da mulher velha.

RPCTPP11 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

1252 O mesmo que: As mulheres ficam sempre para último. 1253 O mesmo que “bácoro”.

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477

O menino e o pão têm frio no pino do Verão.

RPCTPP12 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, doméstica, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Quem dá o que tem mostra o que deseja.

RPCTPP13 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Quem muito dorme pouco aprende.

RPCTPP14 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Quem muito fala pouco acerta.

RPCTPP15 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Quem não se sente não é filho de boa gente.

RPCTPP16 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Quem não trabalha não manduca.

RPCTPP17 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Vozes de burro não chegam ao céu.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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1.2.2. Expressões Populares

REPCTPP1 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

À vontade do dono é que se albarda o burro.

REPCTPP2 Informante: Leonilde Paião, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Estar com um olho no burro e outro no cigano.

REPCTPP3 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Matar dois coelhos de uma cajadada só.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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479

2.Composições de carácter lúdico

2.1. Rimas Infantis

Lengalenga

RLCTPP1

Informante: António Lopes, 65 anos, 4º ano de escolaridade, reformado, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Senhor José Godinho

A cavalo num burrinho.

O burrinho era fraco

A cavalo num macaco. 5 O macaco era valente

A cavalo numa trempe.

A trempe era de ferro

A cavalo num martelo. O martelo batia sola

10 A cavalo numa bola.

A bola era redonda

A cavalo numa pomba. A pomba era branca

A cavalo numa tranca.

15 A tranca era da porta

A cavalo no Zé da Horta.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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480

2.2. Cantigas de todos os dias

2.2.1. Cantigas Amorosas

CTPPCA 1

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Alfinetes são ciúmes, Agulhas são saudades,

Namorado fora da terra

São dobradas as saudades.

RCTPPCA 2

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

A azeitona maçanilha

Pouca vai ao lagar. É como as meninas bonitas

Todos as querem lograr.

RCTPPCA 3 Informante: Inácia Veladas Amieira, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

A azeitona miudinha

Também vai ao lagar.

Também eu sou pequenina, Mas sou firme no amar.

RCTPPCA 4 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

A oliveira no alto

Tem as folhas aos anéis.

Quem namora com um gaiato

Toda a vida faz papéis.

RCTPPCA 5 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Eu sou fina como o corte

De espada natural. Serei firme até à morte,

Se a amizade for igual.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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481

RCTPPCA 6 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

José amo, José quero,

José trago no sentido. Por causa de ti, José,

Trago o meu sono perdido.

RCTPPCA 7 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Josezinho, cravo roxo,

Craveiro da minha varanda,

Caixinhas dos meus segredos

E onde o meu sentido anda.

RCTPPCA 8 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Limoeiro detrás da nora, Todo o ano dá limões.

Olha, o meu amor agora

Quer amar dois corações.

RCTPPCA 9

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Lindra letra é um S,

Com um C acompanhando. É o nome e o sobrenome

Do rapaz que eu ando amando.

RCTPPCA 10 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Não me inveja a mim

Quem tem carros, parelhas e montes.

Só me inveja a mim

Quem bebe a água de todas as fontes

RCTPPCA 11

Informante: Inácia Veladas Amieira, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Olha para mim que ainda

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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482

Tens quem te queira bem.

Vou a deixar a Galinda

Para depois de amanhã.

RCTTPCA 12

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Olhos azuis são falsos,

Os pretos enganadores, Estes meus acastanhados

São leais ao meu amor.

RCTPPCA 13 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

O nome do meu amor

Com quatro letras se escreve,

A primeira é o S

E as outras ficam em breve.

RCTPPCA 14 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ó olhos requerem olhos, Ó corações, corações,

E os meus requerem os teus

Em certas ocasiões.

RCTPPCA 15

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quando eu nasci, chorava

Com pena de ter nascido. Parece que adivinhava

Que vinha a casar contigo.

RCTPPCA 16 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quando eu tinha dois amores,

Deixei um por não ter jeito.

E agora nem um nem outro,

Que calote tão bem feito.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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483

RCTPPCA 17 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quem me dera amar um dia,

Ter amor, ter afeição. Ser escrava, dar a vida

Por um eterno coração.

RCTPPCA 18 Informante: Inácia Veladas Amieira, 63 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Salsa verde ao pé da nora

Qualquer raminho tempera.

Vale mais um amor de fora

Do que três ou quatro da terra.

RCTPPCA 19 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Se eu chorando restaurasse Um amor que já perdi,

Desfazia com chorar

Os dois olhos com que nasci.

RCTPPCA 20

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Se eu tivesse, não pedia

Nada no mundo a ninguém, E assim como não tenho

Peço um filhinho ao pai que o tem.

RCTPPCA 21 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Se me amas, dá-me a ver,

Quero amar teu lindo rosto.

Tenho mais quem me queira,

Só tu és do meu gosto.

RCTPPCA 22 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Tenho um lencinho amarelo Com raminhos cor de chá.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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484

Já te quis, já te não quero,

São voltas que o mundo dá.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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485

2.2.2. Cantigas às Cantigas

RCTPPCC 1

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Deus do Céu mandou à terra

Um aviso à mocidade, Que cantassem e “balhassem”,

E “divertissem-se” à vontade.

RCTPPCC 2 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quero cantar, ser alegre,

Que a tristeza nada tem.

Não vi tristeza nenhuma

Dar de comer a ninguém.

RCTPPCC 3 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Tens uns olhos tão bonitos, Mesmo à flor da cara,

Mesmo cantando te digo:

Meu amor, quem tos lograra.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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1.2.1. Cantigas Conceituosas

RCTPPCCon 1 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Erra o céu no oriente,

Nós erramos cá na terra. Erra tudo o que é vivente

E quem é mestre também erra.

RCTPPCCon 2

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Eu fui ao jardim das noras

Colher o pé à açucena.

Olha o que fazes agora, Mais tarde não tenhas pena.

RCTPPCCon 3 Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Por cima se ceifa o trigo,

Por baixo fica o restolho,

Raparigas, não se fiem

No rapaz que pisca o olho.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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487

1.2.2. Cantigas Toponímicas

RCTCTPP 1 Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Cada vez que eu vejo vir

Barcos à meia barreira,

Lembram-me as moças de Cuba E os vinhos da Vidigueira.

RCTCTPP 2 Informante: Maria do Carmo Godinho Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4ª classe, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril

de 1999.

Campinho, terra das bruxas,

S. Marcos, das feiticeiras,

Cumeada, das manhosas,

Reguengos, das borracheiras.

RCTCTPP 3 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2ª classe, natural de Campinho, residente em

Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

De Lisboa me mandaram Quatro pêras num raminho.

Por serem coisas de longe,

Comeram-mas pelo caminho.

RCTCTPP 4 Informante: Inácia Veladas, 63 anos, reformada, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz, residente

em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Em Moçambique, não há

Nem deve haver Tanto papel como cá

Há vontade de escrever.

RCTCTPP 5 Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

Para Lisboa mandei eu

Uma carta escrita a lápis,

Com ordem de castrar cães Alçará que tu te escapes.

RCTCTPP 6 Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4ª classe, natural de Reguengos de Monsaraz,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em Abril de 1999.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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488

Salsa verde, folha escura,

Lá para os lados de Mourão,

Cautela com a pendura

Não ta coma algum cão.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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489

1.2.3. Outras

RCTPPO 1 Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ali nos bancos da praça,

Onde pára a velharia,

Ó morte, não te esqueças

De passar por lá um dia.

RCTPPO 2 Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

As mulheres comparo eu

Com os burros dos ciganos.

Se andam de mãos em mãos, Vão cair em bons enganos.

RCTPPO 3 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Já não sou quem era dantes, Já não sou quem dantes era.

Sou um papel de paixão,

Que anda ao de cimo da terra.

RCTPPO 4

Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Lá vai uma, lá vão duas

Três penas ao ar,

Uma é minha, outra é tua Outra é de quem a apanhar.

RCTPPO 5

Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Maria três vezes Ou fulana só uma vez.

Vale mais uma fulana

Do que as Marias todas três.

RCTPPO 6 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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490

Maria tu és a lima,

O teu pai é o limão,

A tua mãe é a laranja, Ó que linda geração.

RCTPPO 7 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Minha mãe da minha alma,

Meu pai do coração,

Por muitos anos que eu viva,

Não lhes pago a criação.

RCTPPO 8 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Minha rua cheira a sangue,

Quem seria que sangrou? Foi a mãe do meu amor

Com porradas que levou.

RCTPPO 9 Informante: Maria do Carmo Valadas Amieira, 55 anos, doméstica, 4º ano de escolaridade, natural de

Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ó minha mãe, minha amada,

(…)

Quem tem mãe tem tudo. Quem não tem mãe não tem nada.

RCTPPO 10 Informante: Isménia Moleiro Ramalho, 70 anos, reformada, 2º ano de escolaridade, natural de Campinho,

residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Ó que ranchinho de moças,

Ó que bela mocidade,

São criadas numa aldeia, Parecem numa cidade.

RCTPPO 11 Informante: Serafim Capucho dos Santos Amieira, 63 anos, desempregado, 4º ano de escolaridade, natural

de Campinho, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

1999.

Procurei a paz no mundo,

Só no cemitério a vi, Ouvi uma voz dizer:

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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491

Não há paz senão aqui.

RCTPPO 12

Informante: Josefa Rodrigues Godinho, 78 anos, reformada, 3º ano de escolaridade, natural da Luz

(Mourão), residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Quando eu era pequenina,

Ainda não comia pão.

Davam-me as moças beijinhos E agora já não mos dão.

RCTPPO 13

Informante: Leonilde Paixão Rosado, 63 anos, reformada, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos

de Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em

1999.

Se este livro se perder

E tornar a ser achado, Para melhor se conhecer,

Leva o meu nome assinado.

RCTPPO 14

Informante: António Rosado Lopes, 65 anos, reformado, 4º ano de escolaridade, natural de Reguengos de

Monsaraz, residente em Reguengos de Monsaraz. Recolha realizada em Reguengos de Monsaraz, em 1999.

Tu deste-me uma cabaça, Estava rota na barriga.

Tu de cabra já não passas,

Não há ninguém que o não diga.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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492

Page 501: Da Voz Lírica do Alentejo ANEXOS - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/33400/2/ulfl243244_td_ANEXOS.pdf · Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante

DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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493

Anexo IV - 2 Lindas Quadras dedicadas á Imponente Procissão, de Reguengos de

Monsaraz em 27 de Outubro de 1946, de João Flôres

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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494

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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495

Anexo V - Quatro quadras fundamentais dedicadas ao nosso falecido Doutor

Domingos Rosado Vogado natural de Reguengos de Monsaraz, de João

Rosado Marques

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Anexo VI – Descritivo do DVD de demonstração da recolha de literatura oral e

tradicional realizada no concelho de Reguengos de Monsaraz

Identificação do ficheiro Tipo de composição

Reguengos de Monsaraz – Isménia Moleiro Ramalho

(10/09/2009)

Cantigas:

Cantiga Amorosa - RCA 76

Cantiga Conceituosa – RCon 10

Outra – RO 51

Reguengos de Monsaraz - Josefa Rodrigues Godinho

(5/10/2009)

Cantiga ao Menino Jesus:

RCMJ 9e

Reguengos de Monsaraz – Maria Inácia Borrego

(7/03/2011)

Cantigas Amorosas:

RCA 12; RCA 81; RCA 91;

RCA 93; RCA 145

Reguengos de Monsaraz – Iria Morais

(8/02/2012)

Oração Paralela: Ror 38c

S. Pedro do Corval – Domingos Falardo Amieira

(23/10/2011)

Cantiga:

Outra – RO 21

Campinho – Joaquim Leal

(9/04/2011)

Cantiga Amorosa: RCA 85

Monsaraz – António Joaquim Rodrigues

(29/09/2011)

Moda: RCM 18b

Monsaraz – Florinda Maria Fernandes

(13/09/2011)

Cantiga de embalar: RCE 9

Telheiro – Rosa Cardoso

(25/09/2011)

Orações para afastar a trovoada:

Ror 63a; Ror 72; Ror 73h

Telheiro – Rosa Berjano

(21/09/2011)

Esconjuro para afastar as

feiticeiras: REsc 1

Telheiro – António Cardoso

(22/09/2011)

Modas:

RCM 29; RCM 80

Barrada – Francisca Gato

(25/09/2011)

Oração ao avistar a igreja:

Ror 55a

Santo António do Baldio – Rosário Pinto Ramalho

(3/11/2011)

Esconjuro para achar as coisas

perdidas: REsc 3a

Caridade – Maria Antónia Valido Lobo

(7/11/2011)

Moda: RCM 37a

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Alentejo, Estremoz, 17 de Dezembro de 1933, nº 151, pág. 6.

------------------------------- [1934a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 17 de Junho de 1934, nº 177, pág. 6.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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503

------------------------------- [1934b], Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 5 de Agosto de 1934, nº 184, pág. 6.

------------------------------- [1934c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 17 de Dezembro de 1934, nº 190, pág. 6.

------------------------------ [1935a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 3 de Março de 1935, nº 214, pág. 7.

--------------------------------[1935b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do

Alentejo, Estremoz, 15 de Abril de 1934, nº 168, pág. 7.

------------------------------- [1935c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 20 de Outubro de 1935, nº 247, pág. 6.

------------------------------- [1936a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 10 de Maio de 1936, nº 276, pág. 8.

------------------------------- [1936b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 21 de Junho de 1936, nº 282, pág.5.

------------------------------- [1936c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 11 de Outubro de 1936, nº 299, pág.4.

------------------------------- [1936d], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do

Alentejo, Estremoz, 8 de Novembro de 1936, nº 303, pág.4.

------------------------------- [1937], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 28 de Março de 1937, nº 363, pág. 6.

------------------------------- [1938], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 2 de Janeiro de 1938, nº 363, pág. 6.

------------------------------- [1938a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 9 de Janeiro de 1938, nº 364, pág. 5.

------------------------------- [1938b], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do

Alentejo, Estremoz, 6 de Março de 1938, nº 372, pág. 6.

------------------------------- [1938c], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 20 de Março de 1938, nº 374, pág. 6.

----------------------------- [1938d], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 27 de Março de 1938, nº 377, pág. 10.

----------------------------- [1938e], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 10 de Abril de 1938, nº 377, pág. 6.

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DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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504

----------------------------- [1938f], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 14 de Agosto de 1938, nº 395, pág. 7.

----------------------------- [1938g], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo, Estremoz, 11 de Setembro de 1938, nº 399, pág. 5.

----------------------------- [1938h], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 25 de Setembro de 1938, nº 401, pág. 7.

------------------------------ [1938i], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 2 de Outubro de 1938, nº 402, pág. 5.

------------------------------ [1938j], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 16 de Outubro de 1938, nº 404, pág. 5.

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----------------------------- [1939], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 5 de Novembro de 1938, nº 407, pág. 6.

----------------------------- [1939a], “Retalhos de um Vocabulário”, in Brados do Alentejo,

Estremoz, 15 de Janeiro de 1939, nº 417, pág. 17.

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Estremoz, 4 de Junho de 1939, nº 437, pág. 6.

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Estremoz, 26 de Março de 1940, nº 488, pág. 7.

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Agosto de 1928, nº 36, Ano I, pág.1

s.a. [1928c], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Reguengos, 25 de

Agosto de 1928, nº 37, Ano I, pág. 2

s.a. [1928d], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Reguengos, 9 de

Setembro de 1928, nº 38, Ano I, pág. 2

s.a. [1928e], “Cancioneiros - Trovas Populares”in O Guadiana, Reguengos, 23 de Setembro de 1928, nº 39, Ano I, pág. 2

s.a. [1928f], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Reguengos, 7 de

Outubro de 1928, nº 40, Ano I, pág. 2

s.a. [1928 g], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Reguengos, 19 de

Outubro de 1928, nº 41, Ano I, pág. 1

s.a. [1929], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Reguengos, 3 de Abril

de 1929, nº 42, Ano II, pág. 2

s.a. [1929 a], “Cancioneiros - Trovas Populares”, in O Guadiana, Reguengos, 10 de Julho de 1929, nº 44, Ano II, pág. 2

s.a. [1927], “O Miradouro”, in O Éco de Reguengos, nº 924, 27 de Novembro de 1927,

pág. 1.

s.a. [1931], “Preverbios de Dezembro”, in Jornal de Reguengos – 10 de Dezembro de

1899, pág. 2.

s.a. [1910], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 1, 9 de Janeiro de 1910, pág.

3.

s.a. [1910a], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº2, 16 de Janeiro de 1910,

pág. 3.

s.a. [1910b], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 5, 6 de Fevereiro de 1910,

pág. 3.

s.a. [1910c], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº7, 20 de Fevereiro de 1910, pág. 3.

s.a. [1910d], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, – I Anno, nº8, 27 de Fevereiro de 1910,

pág. 2.

Page 515: Da Voz Lírica do Alentejo ANEXOS - repositorio.ul.ptrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/33400/2/ulfl243244_td_ANEXOS.pdf · Joaquim Roque recolheu uma oração com uma ligeira variante

DA VOZ LÍRICA DO ALENTEJO

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s.a. [1910e], “Tribuna Feminina”, in Folha Nova, I Anno, nº 9, 6 de Março de 1910, pág.

3.

SANTOS, António Nogueira, Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1990.

VENTURA, Capitão M. [1931], “Divagações”, in Jornal de Reguengos, 18 de Janeiro de

1931, pág.1.

DISCOGRAFIA

GRAÇA, Fernando Lopes, GIACOMETTI, Michel [1965], Antologia de Música

Regional Portuguesa, Vol. IV, 2ª ed., Edição dos Arquivos Sonoros Portugueses e

dos Estabelecimentos – Valentim de Carvalho Lda., 1965.