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41 ANO XV / N ANO XV / N ANO XV / N ANO XV / N ANO XV / N 0 26 26 26 26 26 41 O povo, alguns traços característicos O Vietnã tem uma cultura milenar e possui uma das mais ricas e complexas forma- ções étnicas do sudeste asiático. São 54 grupos étnicos, de diferentes origens, cada um com sua própria identidade cultural, seu próprio vestuá- rio tradicional e sua própria língua ou dialeto, embora o vietnamita – o “Tieng Viet” – seja a língua oficial, o que facilita a comunicação em todo o território nacional. Os “Kinh” ou “Viets” são a etnia predo- minante. Constituem quase 90% da popula- ção. Sua ascensão se inicia com a expulsão dos chineses em 939; consolida-se paulatinamente VIETNÃ Cultura, costumes, crenças, lendas e superstições O PRÓXIMO O PRÓXIMO O PRÓXIMO O PRÓXIMO O PRÓXIMO TIGRE ASIÁTICO? TIGRE ASIÁTICO? TIGRE ASIÁTICO? TIGRE ASIÁTICO? TIGRE ASIÁTICO? Vitoria Cleaver com a conquista dos outros povos existentes no país e termina no século XVII, quando fo- ram subjugados os Champas, grupo que rei- nava na região centro-sul. Habitam hoje, so- bretudo, a costa e os deltas do Rio Vermelho e do Mekong e partilham as planícies com etnias minoritárias como os “Hoa”, de origem chinesa; os “Khmer”, de origem cambojana; e os “Cham”, de origem malaio-polinésia, embora a aristo- cracia fundadora do antigo reino de Champa provenha da Índia. Os outros grupos étnicos minoritários se concentram nas zonas monta- nhosas do Norte e do centro do país. Seus tra- jes são coloridos e os tecidos elaborados. So- bressaem a arquitetura das casas comunitárias de madeira de seus vilarejos, os telhados íngre- mes e as casas sobre estacas, para proteger os moradores das cobras e de animais selvagens, ao mesmo tempo em que servem de estábulo para os animais domésticos.

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O povo, alguns traçoscaracterísticos

O Vietnã tem uma cultura milenar epossui uma das mais ricas e complexas forma-ções étnicas do sudeste asiático. São 54 gruposétnicos, de diferentes origens, cada um com suaprópria identidade cultural, seu próprio vestuá-rio tradicional e sua própria língua ou dialeto,embora o vietnamita – o “Tieng Viet” – seja alíngua oficial, o que facilita a comunicação emtodo o território nacional.

Os “Kinh” ou “Viets” são a etnia predo-minante. Constituem quase 90% da popula-ção. Sua ascensão se inicia com a expulsão doschineses em 939; consolida-se paulatinamente

VIETNÃ

Cultura, costumes, crenças,lendas e superstições

O PRÓXIMOO PRÓXIMOO PRÓXIMOO PRÓXIMOO PRÓXIMOTIGRE ASIÁTICO?TIGRE ASIÁTICO?TIGRE ASIÁTICO?TIGRE ASIÁTICO?TIGRE ASIÁTICO?

Vitoria Cleaver

com a conquista dos outros povos existentesno país e termina no século XVII, quando fo-ram subjugados os Champas, grupo que rei-nava na região centro-sul. Habitam hoje, so-bretudo, a costa e os deltas do Rio Vermelho edo Mekong e partilham as planícies com etniasminoritárias como os “Hoa”, de origem chinesa;os “Khmer”, de origem cambojana; e os “Cham”,de origem malaio-polinésia, embora a aristo-cracia fundadora do antigo reino de Champaprovenha da Índia. Os outros grupos étnicosminoritários se concentram nas zonas monta-nhosas do Norte e do centro do país. Seus tra-jes são coloridos e os tecidos elaborados. So-bressaem a arquitetura das casas comunitáriasde madeira de seus vilarejos, os telhados íngre-mes e as casas sobre estacas, para proteger osmoradores das cobras e de animais selvagens,ao mesmo tempo em que servem de estábulopara os animais domésticos.

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Paulo Roberto Rodrigues Teixeira

A base da cultura vietnamita repousaessencialmente na tradição folclórica e é ex-tremamente rica em mitos, lendas, crenças etradições, que atravessaram os séculos, ao sepropagarem oralmente, por mil anos, antes doaparecimento da escrita, até chegarem aosnossos dias. A arte desses grupos minoritárioscontribui enormemente para o patrimôniocultural do Vietnã.

muitas hoje ocupadas por residências de Em-baixadas estrangeiras que, inseridas em cul-tura predominantemente asiática (o país foidominado por mil anos pela China, durante oprimeiro milênio), convivem em uma atmos-fera de crescente modernidade. A leveza daÓpera de Hanói, projetada por Charles Garnierà imagem da Ópera de Paris, contrasta com apesada arquitetura soviética do Mausoléu deHo Chi Minh, que guarda o corpo embalsa-mado do grande herói da independência, ca-rinhosamente chamado de “Tio Ho” pelosvietnamitas. É tão grandioso quanto o de Lê-nin em Moscou. Na verdade, a longa históriade invasões sofridas pelo Vietnã propiciou umrico legado de influências arquitetônicas quese encontram por todo o País.

Café tipo parisiense, herançada colonização francesa

Em território um pouco menor do queo estado do Maranhão (331.210km2), vivem93,4 milhões de habitantes, dos quais cercade 70%, no campo, contribuem para que oVietnã ocupe o primeiro lugar no mundo emprodução de pimenta; o segundo, em produ-ção de café, logo depois do Brasil (é o primeiroexportador mundial); o terceiro, em produ-ção de arroz, depois da Índia e da Tailândia; eo sexto, em produção de chá. Essa estrutura,entretanto, está mudando rapidamente de umpaís agrário para a manufatura. Com a mãode obra mais barata do que a da China, empre-sas estão se transferindo para o Vietnã e os in-vestimentos das multinacionais, sobretudo naárea de eletrônicos, continuam a crescer.

Hanói, Capital Política

e Cultural do País

Quando se chega a Hanói, a cidade sur-preende. São ainda bem visíveis os traços dostempos em que o Vietnã foi colônia da França(a dominação francesa terminou em 1954)nos edifícios públicos, que imitam os parisien-ses, e nas elegantes e charmosas mansões,

Cultivo de arrozFoto da autora

Mausoléu de Ho Chi Minh

Café no estilo Parisiense, tradicionalmente da época colonial de Hanói

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Predomina em Hanói um trânsito caó-tico, em que milhares de vespas, lambretas emotos disputam espaço com um número cadavez maior de carros de luxo. O ruído é ensur-decedor, pois a maioria dos vietnamitas dirigecom a mão na buzina, como que anunciandosua aproximação. Impressiona a capacidadedessas motos que transportam famílias intei-ras, às vezes de cinco pessoas, ou cargas enor-mes e diversificadas, inclusive animais, mor-tos ou vivos. Dirigindo suas motos, as mulhe-res usam uma máscara do tipo cirúrgica paratapar o rosto e uma jaqueta de mangas com-pridas que cobrem as mãos, não para se prote-ger da poluição, mas, sim, para preservar a pelebranca. Na cultura local, ser bronzeado signi-fica ser camponês e, portanto, ter menos status.No mesmo sentido, alguns homens deixamcrescer a unha do dedo mindinho para mos-trar que não são trabalhadores rurais.

Sem quase semáforos, atravessar umarua em Hanói ou em outras grandes cidadesdo Vietnã é um desafio renovado e já se tor-nou uma atração turística. Como o fluxo detráfego não para, o segredo é olhar para afrente e caminhar lentamente, sempre nomesmo ritmo, para que o motorista possa cal-cular os movimentos e desviar do transeunte.Respira-se aliviado cada vez que se chega àcalçada do outro lado, onde muitas vezes co-merciantes de flores em bicicletas e vende-doras mais idosas de frutas e legumes, comchapéu cônico típico e duas cestas pendura-das, uma em cada lado de um pau de bambu,que equilibram no ombro, dividem o espaçocom jovens de minissaia, e em geral portandouma cópia de uma bolsa de grife. O vestuárioocidental e os acessórios de luxo tornaram-se populares entre as jovens, embora o tradi-cional e elegante “Áo Dai”, traje nacional doVietnã, composto por uma calça comprida deseda e uma túnica ajustada, com fendas late-rais, que pode ser lisa ou estampada, conti-nue a ser usado em ocasiões especiais.

Trânsito caótico de Hanói, mas sem problemas.

Uma pequena moto transporta a família inteira.

Vendedoras maisidosas de frutas elegumes, comchapéu cônico típicoe duas cestaspenduradas, umaem cada lado de umbambu.

Comerciantes deflores em bicicletas.

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Uma variada e exóticagastronomia

Chamam a atenção o comércio efer-vescente nos mercados locais e nas bancas decamelôs ao lado de grandes shoppings e lojasde estilistas famosos, bem como os restauran-tes caros, convivendo com o consumo de co-mida preparada na rua. Desde cedo, mesinhase banquinhos de plástico se espalham sobreas calçadas para atender os clientes. O vietna-mita tem o costume de comer e encontrar osamigos na rua. Por essa razão os restaurantesde todo tipo proliferam.

A comida vietnamita mistura saboresvariados e é, certamente, dentre os hábitos cul-turais, o de mais difícil assimilação, porque osgostos e práticas de alimentação têm início emtenra idade. O arroz e o macarrão servem debase para muitos pratos, entre os quais o po-pular “Phó”, uma espécie de sopa que leva ma-carrão de arroz, legumes e pedaços de carneou frango, consumido de preferência no caféda manhã. O capricho na utilização de ingre-dientes como o amendoim, o tomate, as ervase especiarias, além do pão “baguette,” foi her-dado da França; o gosto pela pimenta, daTailândia. A comida vietnamita leva capim-limão, coentro, manjericão, hortelã, gengibreque, com os molhos de peixe ou soja, condi-mentam frango, carnes, frutos do mar e fru-tas, que agradam muito os ocidentais, sobretu-do as saladas de papaia verde e manga verde.

Há, porém, restaurantes especializa-dos em pratos exóticos, como carne de ca-chorro, de rato, de sapo, de cobra, de passa-rinho e até de inseto, que poucos estrangei-ros se aventuram a frequentar. Consideradoafrodisíaco como a carne do grande morce-go frutívoro, que dizem sabe a carne de fran-go, o “balut”, isto é, o ovo de pato fertilizado,com o embrião em crescimento, devidamentecozido, é servido na casca. Da cobra, alémda carne, se aproveita o sangue para prepa-rar uma bebida cor de vinho, indicada para obom funcionamento do sistema nervoso. Ocoração da cobra e a bile são usados na pre-paração de tônicos, recomendados para pro-blemas de coração e má formação óssea.

Pratos exóticos, como carne de cachorro, de rato, de sapo, decobra, de passarinho e até de inseto podem ser encontrados emrestaurantes especializados.Uma mistura de religiões

Há no país muitos templos, santuáriose pagodes, que escaparam dos bombardeiosda guerra, e que hoje representam a diversi-dade religiosa existente: são de budistas (80%da população se dizem budistas), de confu-cionistas, de taoístas, de animistas, de cultosaos antepassados e aos heróis da pátria divi-nizados – reflexo da maior liberdade de reli-gião, a partir de 1986 e que foi reafirmadapela Constituição de 1992. Com a reunifica-ção do Vietnã em 1975, sob o domínio deum governo marxista-leninista, o Estado foideclarado ateu e os lugares de culto religiosofechados; seus líderes foram submetidos aprogramas de reeducação e seus seguidores,discriminados ou perseguidos.

Desdecedo, mesinhas ebanquinhos deplástico seespalham sobreas calçadas.

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Costumes e superstições:Casamento, funerais, celebrações de longe-vidade e festejos para marcar a construção

da casa própria.

As sessões de fotos decasamento ocorrem geralmen-te na rua, em parques, jardins,diante de monumentos impor-tantes ou prédios grandiosos. Ohotel Sofitel Legend Metropo-le, inaugurado em Hanói, em1901, é um dos lugares maisprocurados pelos fotógrafos. Ohotel guarda entre suas pare-des muita história. Nele se hos-pedaram personalidades famo-sas: artistas, como Charlie Cha-plin, que com Paulette Goddardaí passou a lua de mel, em 1936; escritorescomo Graham Greene, em 1951, enquantoescrevia seu conhecido livro “The QuietAmerican”(“O Americano Tranquilo”); can-tores, como Joan Baez, que imortalizou, nacanção “Where are you now, my Son?”(“Ondeestá você agora, meu filho?”), a experiênciade ficar no Natal de 1972 no abrigo antiaé-reo, recentemente redescoberto durante umareforma do hotel e hoje aberto à visitação doshóspedes.

A sociedade vietnamita é tradicional-mente hierárquica e patriarcal, inspirada nosensinamentos confucionistas. A família e osdeveres filiais no Vietnã constituem as maio-res entre todas as virtudes. Atribui-se grandeimportância ao casamento e, sobretudo, a seter um filho homem, a quem caberá cuidardos pais quando envelhecerem. Os mais ido-sos são respeitados e a longevidade celebradapela família, a educação é incentivada e mui-to prezada (teoricamente no passado, qual-quer cidadão poderia ascender na escala so-cial e de poder mediante um sistema de exa-mes imperiais, realizados em vários níveis nascapitais provinciais e, no nível mais elevado,

Há ainda a influência do cristianismo,a partir do século XV, sobretudo da Igreja Ca-tólica e, em menor escala, de seguidores doprotestantismo, especialmente na região suldo Vietnã, onde igualmente existem algumasseitas locais, fruto da crise política e social doinício do século XX: a “Cao Dai”, que data de1926, e a “Hoa Hao”, que se fundamenta nobudismo e teve origem em 1939. Tambémna região sul do país, que historicamente caiuno âmbito da esfera de influência da Índia,comunidades de origem “Cham” e “Khmer”seguem o Hinduísmo, o Islamismo e o Bu-dismo Theravada, originário da Índia.

Pode-se dizer que essa mistura dereligiões se traduz, no nível familiar vietna-mita, na manutenção de um altar em cadacasa para o culto dos ancestrais, nas consul-tas ao espírito guardião ou fundador da vilaou cidade, na veneração da Deusa Mãe, quetem sua origem nas divindades antigas comoa deusa da floresta, da água e das monta-nhas, e na colocação de oferendas em umpagode budista, pelo menos uma vez por ano.Em suma, todas as religiões são toleradas,desde que não contestem a primazia do Par-tido Comunista.

O hotel Sofitel LegendMetropole, inaugura-do em Hanói, em1901, é um doslugares maisprocurados pelosfotógrafos.

Santuários e pagodes representam a diversidade religiosa existente:são de budistas, de confucionistas, de taoístas, de animistas e aindaa influência do cristianismo.

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uma espécie de doutorado, na corte estabele-cida na cidade de Hue). O papel da mulherevoluiu nos últimos anos. Hoje as mulherespossuem direitos políticos equiparados aos doshomens, mas a vida doméstica manteve-se sobsua responsabilidade. A cerimônia de casamentotornou-se mais simples que no passado, masquando segue o costume tradicional, pode sermuito custosa. Há troca de presentes entre asfamílias e culto aos antepassados da famíliada noiva, no dia seguinte às bodas. No bairroantigo de Hanói, ou 36 Ruas, como também éconhecido, existe uma rua especializada em lin-das caixas de laca vermelha em que se acondi-cionam as iguarias ali vendidas para a troca depresentes de casamento entre as famílias. Aliás,o bairro antigo é um mostruário da arte tradi-cional vietnamita: além dos objetos de laca,encontram-se os de bronze, de prata e em chi-fre de búfalo, cerâmica, pintura, caligrafia, es-culturas de madeira e pedra, caixas com incrus-tações de nácar, rendas, bordados e sedas.

O povo vietnamita, embora destemi-do – é o único, no mundo, que conseguiu ven-cer pelas armas três membros do Conselhode Segurança da ONU: China, França e EUA,ademais de outra grande potência, o Japão – étemeroso, dado às superstições que cercamsua vida quotidiana. Há, por exemplo, uma sé-rie de crenças a respeito do casamento, dasmulheres grávidas ou das que recém deram à

luz. Para o casamento, o dia é escolhido porum oráculo, a pedido dos pais. É o sábio oufeiticeiro quem determina o dia e o horáriodas bodas. Se morre um parente no ano emque se daria o casamento, a cerimônia étransferida para o ano seguinte, para evitar másorte. No passado, as grávidas não podiam sertocadas e, após o parto, não eram visitadasdurante um mês para evitar a influência deespíritos do mal. Havia também uma qua-rentena a ser observada para que a jovem mãepudesse sair de casa. As novas gerações, en-tretanto, não mais acreditam em muitas des-sas supertições e as jovens mães saem de casalogo após o parto.

Ainda no terreno das crendices já es-quecidas, os vietnamitas, no passado, nãogostavam de que se colocasse a mão na ca-beça das crianças ou que elas fossem afagadase admiradas, como no Ocidente.Os locaisacreditavam que o gesto era de mau agouroe poderia despertar a inveja de espíritos domal. Era, portanto, melhor ignorá-las.

Outras tradições entretanto sobrevi-vem, ademais da cerimônia de casamento edas celebrações de longevidade, em que oidoso, ao ser festejado, no dia de seu ani-versário ou durante os feriados do ano novo

Casas de arquitetura tubular cujo imposto é calculado pelo tamanhoda fachada.Foto da autora

Loja típica do“36 ruas”

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lunar, recebe uma túnica vermelha e floresde que se tira uma foto, para que o idososaiba que não passará seus últimos anos devida na solidão. Permanecem os festejos paramarcar a construção de uma casa nova oumesmo a sua reforma ou renovação. Para ovietnamita, é importante ter a casa própria.O proprietário deve fazer oferendas e espe-ra-se que convide os vizinhos, amigos e pa-rentes para compartilhar sua felicidade. Ascasas de arquitetura “tubular”, surgidas du-rante a dinastia Le (1428-1788), podem che-gar aos 80 metros de profundidade e nãoultrapassar os dois metros de largura, umavez que o imposto era calculado pelo tama-nho da fachada, geralmente ocupada poruma loja, que esconde as áreas de habitaçãoe de trabalho. Nos diferentes andares vivemos avós, os pais e os filhos, que quando secasam trazem a esposa para esta mesma casa,onde ela deve assumir a administração dolar, tarefa não muito apreciada pelas gera-ções mais jovens de mulheres. Está ficandocada vez mais comum que os jovens casaisbusquem sua própria morada.

Os funerais, por sua vez, são muitosolenes e seguem um ritual bem definido.Durante a cerimônia fúnebre, a família do de-funto usa turbantes e túnicas de gaze branca.O dia e a hora das exéquias são escolhidoscuidadosamente. Antigamente, também eraescolhido o local do sepultamento, que eradeterminado em consulta com os oráculos.Ainda hoje, quando se viaja pelo interior doVietnã, é possível ver túmulos esparsos juntoaos arrozais, cada um virado para um pontocardeal diferente, aquele considerado o maispropício para o descanso do morto. Esta tradi-ção se perdeu, uma vez que nos dias de hojesó existe permissão para enterrar nos cemité-rios existentes. Há, entretanto, famílias quecontinuam a não dispensar a opinião de umsábio. O período de luto é de dois anos.

Ainda no campo das superstições, osnúmeros 6 e 8 trazem sorte, em contraposiçãoao número 13, dia em que não se começam

nem se concluem negociações. O dia 17 é con-siderado o mais propício à realização de tran-sações comerciais. Aliás, os vietnamitas acre-ditam que, se o primeiro cliente do dia sair daloja sem comprar nada, o comerciante não farágrandes negócios nesse dia.

O Calendário lunar e o Horóscopo.A festa mais importante do ano lunar

Enquanto a maioria dos paísesaderiu ao calendário europeugregoriano, instituído em 1582,pelo Papa Gregório XIII, comoforma de delimitar o ano civil,no Vietnã se adota o calendá-rio lunar, cujos meses têm so-mente 29 dias e meio. Por essarazão, as festas solares não têmdata fixa. Os feriados civis, en-tretanto, seguem o calendário oci-dental e estão geralmente associadosà história revolucionária recente do país. Nosúltimos 30 anos, com a liberalização da eco-nomia e da vida social, muitos festejos tradi-cionais foram reavivados, inclusive alguns queremontam às dinastias imperiais do Vietnã.

O “Tet Nguyen Dan” (Festival do Pri-meiro Dia) é a festa mais importante do ca-lendário lunar e assinala a chegada do anonovo. É uma festa familiar e sua tradição é

Tet Nguyen Dan(Festival do PrimeiroDia) é a festa maisimportante docalendário lunar.

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levada a sério. Todos viajam para sua provín-cia natal para estar com a família. No país, háuma semana de feriados, em que não se podecontar com qualquer tipo de serviço, uma vezque os preparativos começam pelo menos umasemana antes. É um período de celebrações,mas também de temor.

De acordo com as crenças locais, tudoo que ocorrer no início do ano marcará a vidado indivíduo durante todo o ano. No primei-ro dia do “Tet”, se uma pessoa rica e vencedo-ra na vida visitar você, haverá prosperidade efortuna, mas, se essa visita for de parte de um“João ninguém”, haverá má sorte. Por isso,muitos simplesmente não querem recebervisitas durante essa semana. Vietnamitas, àsvezes, são obrigados a estar confinados em umhotel durante o “Tet” por haverem perdido umparente. Ficam impedidos de visitar tanto afamília como os amigos para não lhes levarmau agouro. Segundo o ritual, o primeiro diade festividades é compartilhado com a família;o segundo é aberto aos amigos mais próximos(é também o dia em que os bem-sucedidos sãoconvidados para trazer sorte à família); o ter-ceiro é dedicado às relações profissionais ou apessoas ligadas aos negócios da família.

O “Tet” tem suas árvores da sorte: sãoas laranjeiras “kumquat” e os pessegueiros emflor, que se acredita trazem prosperidade e bem-estar e são usados para decorar lojas, casas etemplos. Menos tradicionais são as miniaturas

de árvores de pitaia, po-melo ou abricó. Há tam-bém as guloseimas típicasda época. Assim como noOcidente, comem-se uvas,lentilhas e romã, os vietnamitas saboreiam o“banhchung” e o “banhtet,” que consistem embolos de arroz grudento, recheado ou não compasta de feijão e carne gordurosa de porco,embrulhados em folhas de bananeira e ata-dos com fibra de bambu. Há outras iguariase muitos doces preparados à base de coco,gengibre e sementes da flor de lótus.

Imponente pagode na cor laca vermelha tradicional.Nos templos e pagodes, cópias de no-

tas de dinheiro em papel e outros objetos úteissão queimados para que subam aos antepas-sados no mundo dos espíritos. Nas ruas, osom dos tambores acompanha a dança dodragão, tradição milenar de origem chinesa,ou se joga o xadrez humano, com as pessoasrepresentando as peças. Joga-se apenas no“Tet” e os participantes devem ser jovens eafortunados. O “bit mat dap nieu”– que separece com o “quebra-panelas” de barro, dasbrincadeiras de aniversário do nordeste doBrasil – é também um jogo tradicional, emque os participantes com máscaras (em lu-gar de olhos vendados) tentam quebrar vasi-lhas de barro com varas de madeira.

Em 2016, entraremos no ano do ma-caco, que se inicia em 8 de fevereiro, e ter-minará em 27 de janeiro de 2017. O macaco

Pessegueiros em flor

O famoso etradicional “banhtet”

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é associado a características de ambição, es-perteza e aventura. Corresponde ao ano 4714do calendário lunar chinês. A astrologia chi-nesa seguida pelo Vietnã tem um ciclo de 12anos e cada um deles é representado por umanimal sagrado como símbolo das energias do-minantes em cada ano e nas pessoas nascidasnesse ano: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão,Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Galo,Cão e Porco. No caso do Vietnã, o boi foisubstituído pelo búfalo, o carneiro, pela ca-bra, e o coelho, pelo gato, mas as característi-cas atribuídas a cada um desses animais coin-cide nos dois países. Além dos animais sagra-dos, que se vão revezando naquele período,os cinco elementos vitais – metal, água, ma-deira, fogo e terra – também se revezam. Ohoróscopo tem muita importância para o povovietnamita, bem como a roda da fortuna e osconceitos de destino, sorte e azar. Como é su-persticiosa, a população tende a seguir à riscatodas as orientações para evitar a má sorte.

As Lendas e o Teatro

O período mais remoto da História doVietnã está dominado por lendas, já que hápoucos registros escritos. Segundo as lendaslocais, os vietnamitas são fruto do casamentoentre um rei-dragão, Lac Long Quân, e umespírito celestial feminino, ÂuCo, que lhe deucem filhos. Lac Long Quân enviou a esposacom 50 filhos para as montanhas, tendo elepermanecido junto ao mar com os outros 50filhos. Essa seria a origem da divisão entre osvietnamitas que habitam as terras altas e osda costa, fixados no delta do Rio Vermelho. Ofilho mais velho, Hung Vuong, se tornou o reidos Kinh ou Viets e inaugurou a dinastia len-dária dos reis Hung que, segundo acreditam,dominaram o país por 150 anos.

Aliás, essa lenda faz parte do repertó-rio de apresentações do Teatro Aquático deHanói ou “roinuoc”, originário do delta do RioVermelho, há cerca de mil anos. As apresen-tações se davam nas aldeias, nos rios e nos

lagos, para celebrar o fim das colheitas. Hojese usa um tanque de água como palco, emque as marionetes contam histórias mitoló-gicas, folclóricas ou sobre a vida quotidianarural. O espetáculo é acompanhado por pe-quena orquestra de instrumentos musicaistradicionais, em geral fabricados com mate-riais naturais, como madeira, bambu, chifresde animais ou pedra.

De todas as formas tradicionais de tea-tro, o “mua roi nuoc” é o que mais floresceurecentemente, dado o crescimento da indús-tria do turismo, que recebeu 8,5 milhões deturistas estrangeiros e 65 milhões de viajantesdomésticos em 2015, o que representou umamovimentação de mais de US$ 10 bilhões.As demais formas de teatro enfrentam a con-corrência da televisão. Quase todo vietnami-ta, seja homem ou mulher, assistiu a novelasda Globo, estando a Escrava Isaura e SinháMoça entre as preferidas. A música e asdanças desempenham papel importante noteatro vietnamita.

Vietnã, o próximo tigre asiático?

Em 7 de maio de 2014, foram cele-brados 60 anos da histórica vitória de DienBien Phu, em que os vietnamitas, lideradospelo General Vo Nguyen Giap, puseram fim

Teatro Aquático de Hanói, originário do delta doRio Vermelho, no detalhe os bonecos.

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ao domínio colonial francês, marcando o iní-cio da retirada da França de toda a Indochina,com enorme repercussão sobre os movimen-tos de liberação no mundo.

Vinte e um anos depois, o General Giap,comandante do exército norte-vietnamita, serátambém o artífice da primeira derrota militardos EUA, em 30 de abril de 1975, quando sedeu a queda de Saigon, hoje cidade de Ho ChiMinh, centro econômico-financeiro do país.Apenas quarenta anos se passaram.

Quem hoje associa o Vietnã a um lu-gar ainda destruído pelas guerras se equivoca.Poucos Países mudaram tanto em tão curto es-paço de tempo. Campos alagados de arrozais se

transformaram em largas aveni-das e o número de arranha-céusnão para de crescer. As ForçasArmadas do Povo Vietnamita(Exército, Marinha, Aeronáutica,Forças das Fronteiras e GuardaCosteira), por sua vez, impressio-nam, no contexto do sudeste asiá-tico, com seu efetivo de 482.000homens mais outros três milhõesna reserva.

O crescimento das tensõesno Mar do Sul da China (disputasobre as ilhas Paracel e Spratly) ali-menta a corrida para moderniza-ção tecnológica das Forças Arma-das vietnamitas, que dependemsobretudo da Rússia para manu-tenção dos armamentos quepossuem. O Vietnã tornou-se umimportante parceiro da Rússia emmatéria de cooperação técnico-militar. Recentemente, dela adqui-riu 6 submarinos de projeto 636(classe Kilo, na designação daOTAN) e caças SU-30MK2, alémde lanchas porta-mísseis e fraga-tas. A cooperação com a Índia nosetor é promissora. Com os EUA,a cooperação está subordinada aum conjunto de exigências políti-

cas (melhorias na área de proteção aos direi-tos humanos e redemocratização), mas a apro-ximação americano-vietnamita nessa área podeter impulso repentino e o Vietnã poderá vir areceber volume de armamento idêntico oumaior do que o recebido da Rússia, e passar afavorecer uma política de aliança mais estreitaentre os dois países. Na verdade, o Vietnã de-senvolve esforços para garantir o atendimentodas necessidades básicas para sua defesa, umavez que ainda carece de recursos financeirospara manter uma força aérea e naval capaz dedesafiar a China.

Como consequência da adoção, em1986, pelo VI Congresso do Partido Comu-

Desfile militar atual.Acima, tropa masculina e,abaixo, a presença feminina.

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nista, da Doi Moi ou “renovação” – programaque busca conciliar o sistema político centra-lizado com abertura econômica ao exterior, viaestímulo aos investimentos estrangeiros e in-tensificação de fluxos de comércio, na linhado modelo chinês – o Vietnã passou a regis-trar elevadas taxas de crescimento doméstico(média de 7% ao ano até a crise de 2008 esuperior a 5% desde então; em 2015, espera-se uma taxa de 6,2%).

O Vietnã logrou igualmente conciliara ampliação dos fluxos de comércio e absor-ção de investimentos estrangeiros commelhoria das condições de vida da popula-ção. O comércio exterior, que correspondiaa 20% do PIB, em 1986, equivale hoje a cer-ca de 150% do PIB. O percentual da popu-lação abaixo da linha de pobreza declinou ea maior parte dos Objetivos do Milênio, es-tabelecidos pela ONU, foram alcançados ra-pidamente, sobretudo os ligados à elimina-ção da pobreza e fome.

Tais avanços foram facilitados pela uti-lização de mão de obra abundante e barataem intensa migração desordenada do campopara a cidade. Os investimentos estrangeiros,em sua maioria, foram destinados a ativida-des de montagem em setores como calçados,têxtil e eletrônicos. Nos dias de hoje, muitosfabricantes estão se transferindo da Chinapara o Vietnã, aproveitando a mão de obraainda barata. Particularmente, os vultosos in-vestimentos da Samsung e da Intel estão dan-do ao Vietnã uma segunda oportunidade dese tornar o próximo tigre asiático.

As exportações do Vietnã vêm manten-do crescimento consistente desde 2011, commédia de 22% de crescimento anual. A situa-ção fiscal e o controle da inflação registraramavanços recentes. O investimento direto estran-geiro vem crescendo ano a ano e alcançou, ape-nas em 2013, US$ 22 bilhões, um crescimentode 35% em relação ao ano anterior.

Segundo a “PricewaterhousecoopersLLP”, a República Socialista do Vietnã tempossibilidades de se transformar em uma das

Indústria têxtil, o fortedas exportações doVietnã em constantecrescimento.economias de crescimento mais rápido nomundo até 2050. Evidentemente, há dificul-dades, tais como a necessidade de continuarreestruturando os bancos e saneando as ine-ficientes empresas estatais; os sinais de es-gotamento das reservas de petróleo, que iso-ladamente respondem por grande parte dasexportações vietnamitas (muitas reservas porexplorar encontram-se em áreas do Mar doSul da China em litígio com Pequim); e odesafio de realizar mudanças qualitativas,uma vez que o bom funcionamento da eco-

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VITORIA CLEAVER – Nasceu na cidade de Recife, em Pernambuco. É formadaem Direito pela PUC (Rio de Janeiro) e licenciada em Inglês também pelaPUC (Recife). Ingressou no Instituto Rio Branco em 1969.Ocupou diversos cargos diplomáticos em Londres, Tóquio, Assunção,Buenos Aires e Quito. Foi embaixadora no Vietnã, na Nicarágua e Cônsul-Geral em Zurique. Atualmente, ocupa a Presidência da Associação deDiplomatas Brasileiros.

nomia exigirá cada vez mais a modernizaçãoda infraestrutura, a capacitação de mão deobra, o aumento da eficiência do setor esta-tal e o desenvolvimento da ciência, tecnolo-gia e inovação.

Para que as previsões se concretizem,serão imperativas decisões corretas, além detambém trabalho árduo e disciplina, duasqualidades que caracterizam o povo vietna-mita. O desempenho do país nas provas doPrograma de Avaliação Internacional de Alu-nos (PISA), organizada pela OCDE, em 2012,

foi excelente. Na sua primeira participaçãonessas provas, os jovens vietnamitas de 15anos tiveram pontuação mais alta em leitu-ra, matemática e ciências do que estudan-tes de países desenvolvidos, inclusive EUAe Grã-Bretanha. Em ciências e matemática,avaliados conjuntamente, o Vietnã ficou no12o lugar, os EUA, no 28 o, e o Brasil, no 60 o.Três fatores contribuíram para o desempenhovietnamita: um governo comprometido, umplano de estudos bem preparado e grande in-vestimento na formação de professores.