Dança de rua-historia

10
Introdução O conjunto de estilos da dança de rua recebe o nome de Street Dance, esses estilos se desenvolvem na realidade gestual do indivíduo, através de movimentos coordenados e harmoniosos, o que faz do corpo uma forma de comunicação. O Street Dance é uma dança criada, inicialmente, pelos breakers. Foi desenvolvida nas disputas e performances de suas festas. Trata-se de um estilo de vida com vestimenta, música e linguajar próprios (ROCHA et al, 2001; HERCHMANN, 1997). É caracterizada por quatro elementos que se dividem em três categorias: música -Rap (DJ's e MC's), artes plásticas - Grafite e dança - Street Dance (vários estilos). De acordo com Vianna (1997), o Street Dance não surgiu tão remotamente como o Ballet Clássico, mas também não se trata de algo muito recente. Grande parte dos negros pertencentes às fazendas do Sul dos EUA, entre 1930 e 1940, migrou para os grandes centros do norte do país. O chamado Blues, sua música rural, originou o Rhytm and Blues. Pertencente até então somente à cultura negra, esse estilo foi levado às rádios e ao convívio dos jovens brancos da época - onde havia grande separação racial (VIANNA, 1997). Famosos músicos que se utilizavam da dança, das vestimentas e da música negra, como Elvis Presley, James Browm, Ray Charles e Sam Cooke, contribuíram também para o surgimento do Rock & Roll. Ainda de acordo com Vianna (1997) observa-se a permanência do Rhytm and Blues, embora muitos negros tenham o diferenciado da sonoridade do Rock. Nota-se a surpreendente união do Rhytm and Blues (então considerado profano) com o Gospel (música negra religiosa), originando o Soul, filho de dois mundos contraditórios. Enquanto, na década de 60, o cenário histórico apresentava discussões sobre direitos civis e derrotas na Guerra do Vietnã, o Soul e os Panteras Negras (Black Panters) estavam se expandindo. Rocha et al (2001), explica que o movimento dos Panteras Negras baseou-se nas idéias de Mao Tse-Tung, com o objetivo de defender o poder negro (Black Pawer), permitindo liberdade de decisão com relação aos brancos. Tratava-se de um estilo musical puramente revolucionário. O autor também menciona a perda da pureza do Soul e sua transformação em um termo vago, igualado à Black Music da época; passou a representar, para alguns negros, um produto comercial. Da mesma forma, "Funk", como gíria, deixa de ser pejorativa e passa a representar o orgulho negro. A roupa; o modo de andar; residir em determinado bairro da cidade; o modo de cantar e dançar caracterizavam

Transcript of Dança de rua-historia

Page 1: Dança de rua-historia

Introdução

    O conjunto de estilos da dança de rua recebe o nome de Street Dance, esses estilos se desenvolvem na realidade gestual do indivíduo, através de movimentos coordenados e harmoniosos, o que faz do corpo uma forma de comunicação.

    O Street Dance é uma dança criada, inicialmente, pelos breakers. Foi desenvolvida nas disputas e performances de suas festas. Trata-se de um estilo de vida com vestimenta, música e linguajar próprios (ROCHA et al, 2001; HERCHMANN, 1997). É caracterizada por quatro elementos que se dividem em três categorias: música -Rap (DJ's e MC's), artes plásticas - Grafite e dança - Street Dance (vários estilos).

    De acordo com Vianna (1997), o Street Dance não surgiu tão remotamente como o Ballet Clássico, mas também não se trata de algo muito recente.

    Grande parte dos negros pertencentes às fazendas do Sul dos EUA, entre 1930 e 1940, migrou para os grandes centros do norte do país. O chamado Blues, sua música rural, originou o Rhytm and Blues. Pertencente até então somente à cultura negra, esse estilo foi levado às rádios e ao convívio dos jovens brancos da época - onde havia grande separação racial (VIANNA, 1997).

    Famosos músicos que se utilizavam da dança, das vestimentas e da música negra, como Elvis Presley, James Browm, Ray Charles e Sam Cooke, contribuíram também para o surgimento do Rock & Roll.

    Ainda de acordo com Vianna (1997) observa-se a permanência do Rhytm and Blues, embora muitos negros tenham o diferenciado da sonoridade do Rock. Nota-se a surpreendente união do Rhytm and Blues (então considerado profano) com o Gospel (música negra religiosa), originando o Soul, filho de dois mundos contraditórios.

    Enquanto, na década de 60, o cenário histórico apresentava discussões sobre direitos civis e derrotas na Guerra do Vietnã, o Soul e os Panteras Negras (Black Panters) estavam se expandindo. Rocha et al (2001), explica que o movimento dos Panteras Negras baseou-se nas idéias de Mao Tse-Tung, com o objetivo de defender o poder negro (Black Pawer), permitindo liberdade de decisão com relação aos brancos. Tratava-se de um estilo musical puramente revolucionário.

    O autor também menciona a perda da pureza do Soul e sua transformação em um termo vago, igualado à Black Music da época; passou a representar, para alguns negros, um produto comercial. Da mesma forma, "Funk", como gíria, deixa de ser pejorativa e passa a representar o orgulho negro. A roupa; o modo de andar; residir em determinado bairro da cidade; o modo de cantar e dançar caracterizavam o "ser Funk". O Funk era apreciado principalmente pelos adeptos do Soul, pois utilizava um ritmo marcado por arranjos agressivos, o que radicalizava a proposta inicial.

    De acordo com Ejara (2004), o Funk remete sua alma (Soul) à descrição de temas do cotidiano, atuais, através de formas metafóricas inspiradas no bom humor. Era chamado também de Social Dance, pois possibilitava a dança a qualquer pessoa.

    No Street Dance, de estilos diversos, originais e contemporâneos, encontram-se influências do Funk. Analogamente, hoje, o Funk está para o Street assim como o Ballet está para as danças acadêmicas, e pode ser considerado base para o seu desenvolvimento.

Page 2: Dança de rua-historia

As origens

    Conforme Alves (2004), encontra-se, no Street Dance, um indício de origem jamaicana. Assim como os Estados Unidos, a Jamaica passava por conflitos civis e políticos, em que eram comuns os Disco-mobiles (carros de som semelhantes ao Trio elétrico brasileiro) e Talk Over (canto falado com mensagens políticas).

    Kool Herc, jamaicano fugido das lutas civis do país por volta de 68 e 69, chega aos EUA trazendo às ruas as primeiras Block Parties (festas de quarteirão), no Bronx, assim como os Disco-mobiles.

    Por haver, no bairro, brigas de gangues na disputa de territórios, com agressões e mortes, um precursor do movimento cultural Hip Hop, Afrika Bambaataa, contribui para que as gangues resolvam suas diferenças através da dança, chamadas "batalhas", disputas dançantes em que um dançarino "quebra" o outro, no sentido de dificultar a movimentação (batalhas de break) dentro das Block Parties. Com isso, a violência entre as gangues ameniza-se pouco a pouco (VIANNA, 1997).

    O Hip Hop (SHUSTERMAN, 1998) começou a se destacar nos anos 70, em meio à era disco, partindo do gueto nova yorkino do Bronx para Harlem e Brooklin e, futuramente, para o mundo. A chamada cultura Hip Hop, em 1974, ganha vida e é fundado o Zulu Nation1, criam-se então os quatro elementos (ALVES, 2004; SHUTERMAN, 1998; ROCHA et al, 2001).

Os Quatro Elementos - Rap (DJ's e MC's), Grafite e Street Dance

    O Rap (Ritmo e poesia) constitui-se por uma fala ritmada e rimada, com expressões que refletem a realidade do jovem. Kool Herc o trouxe (por meio dos Toasters) nas Block Parties.

    Os DJ's (discotecários) manejavam aparelhos de mixagem durante festas, com o intuito de produzir novas músicas e sons, com indumentária própria. (ALVES, 2004; SHUTERMAN, 1998; ROCHA et al, 2001; VIANNA, 1997).

    Os Grafites eram demarcações de territórios entre gangues rivais, através de Tags (assinaturas) que, aos poucos, transformaram-se em forma de expressão artística (CIRINO, 2005).

Dança - Street Dance

    Paralelamente aos outros elementos, o Street Dance, nas Block Parties e metrôs de Nova York, teve sua origem (VIANNA, 1997).

    Os primeiros dançarinos (Breakdancers e B. Boys) protestavam contra a guerra do Vietnã através da teatralidade de cada passo, que representava uma violência física ao soldado, um dano causado, ou demonstrava seus ferimentos (ROCHA et al, 2001).

    Já Ejara (2004) o entende como falso patriotismo americano, pois os movimentos e estilos seriam derivados do Funk, desenvolvendo-se em outros estilos/modalidades, nas situações vividas por seus criadores. Ele define o Street Dance como uma terminologia geral dividida em vários estilos/modalidades. Comparando-se: o Balé (como terminologia geral) seria o que agrega os estilos/modalidades chamados de Neoclássico, Repertório, Moderno, etc.

Page 3: Dança de rua-historia

Estilos/modalidades

    De acordo com Ejara (2004) os estilos/modalidades dividem-se desta maneira:

Locking: criado por Don Campbellock, na cidade de Los Angeles (Estados Unidos), em finais de 60. Originado do Funk, especificamente de um passo chamado Funky Chicken.

Brooklyn Rock (Up Rocking): criado por dançarinos (Rockers), Rubber Band e Apache, entre 67 e 69, no bairro do Brooklyn, na cidade de Nova York (Estados Unidos), como movimentos de disputa2.

Popping: criado por Boogaloo Sam, nascido em uma pequena cidade da Califórnia, Fresno. O dançarino possuía, no início dos anos 70, seu grupo de Locking, quando em meados de 75 passou a criar seu estilo próprio, e seu grupo, antes chamado de Electronic Boogaloo Lockers, tornou-se Electric Boogaloos. Movimento caracterizado pela contração muscular.

Boogaloo: também criado por Boogaloo Sam na mesma época, ao observar o andador de um homem velho pela rua e seu movimento. Caracteriza-se por movimentos circulares do quadril.

B-Boying ou B-Girling (Breaking): surgido entre os anos de 75 e 76, no Bronx (Nova York). O Break Boy ou Break Girl veio do termo Break/B. (trecho de música, na maioria das vezes instrumental, que valorizava mais a batida e a linha de baixo). Ficaram conhecidos como B.Boy e B.Girl, os garotos e garotas (dançarinos), por dançarem no break da música.

Freestyle (estilo livre): originado em meados de 80 na chamada Golden Age (Era de Ouro). Tal nome se deve ao fato de esse estilo/modalidade de dança ser baseada em toda a forma de Social Dance ou Street Dance. Trata-se da modalidade mais freqüente na mídia hoje, em Videoclipes de música Rap, R&B e Pop (filme Honey de 2003). Não é dançada somente no acento rítmico da batida, mas também nas convenções vocais e instrumentais da música.

O Street Dance no Brasil

    De acordo com Alves (2004), os responsáveis pela "importação" do Street Dance ao Brasil trouxeram-no dos EUA, lá aprendiam a dançar em pistas de grandes casas noturnas, nos bairros de maior concentração de brasileiros. Nelson Triunfo, entre 70 e 80, leva a dança, do meio mais abastado, ao resto do país. Triunfo devolve o Break à rua, seu lugar de origem. Parte para o interior da Bahia, onde se torna estrela, aos quinze anos, de seus Bailes Soul. Depois em Brasília (hoje grande centro do Hip Hop nacional) e ainda para São Paulo, em 1976, onde forma o Grupo Black Soul Brothers.

    A chamada cultura Hip Hop caracteriza-se como um veículo de informação de questões raciais, sociais e políticas, debates que estiveram sempre presentes na história do povo que a originou (TRIUNFO, 2000).

    Triunfo, outros pioneiros do Hip Hop e o produtor Milton Salles, por volta de 90, fundam o movimento Hip Hop organizado, chamado Mh20 (VIANNA, 1997).

Page 4: Dança de rua-historia

    Já para Rocha et al (2001) a conscientização da cultura negra no Brasil foi iniciada por Gerson King Combo e seus companheiros, embalando com o Soul e o Funk os jovens do Rio de Janeiro, com consciência da carga socialmente cultural que o Hip Hop trazia. Nelson Triunfo e seus companheiros, em São Paulo, antecipavam a visão do que o Hip Hop pregaria tempos depois, pois dançavam por diversão e busca da auto-estima.

    Conforme o Brasil descobria videoclipes, como os de Michael Jackson, e filmes, como "Flashdance", ou ainda, a partir do momento em que a sociedade absorveu a nova informação pelos canais oficiais, ou pela mídia de massa, suas barreiras e preconceitos perante a cultura e a dança diminuíram (ROCHA et al, 2001).

    Com tal explosão, a cultura sai dos guetos para o mundo e invade aulas de dança acadêmicas, aulas de ginásticas em academias conceituadas e o mercado fonográfico, através de suas músicas (LOPES, 1999; ROCHA et al, 2001).

    Como lembra Gonzaga (2000), vários profissionais, então, passam a se utilizar dessa nova forma de expressão e trabalho físico, trazem diversos estilos de aulas às academias como, Cardio-jazz, Cardiofunk, Low Funk, Street Dance, Funk-fitnees, Hip Hop, dentre outros nomes dados às aulas3 derivadas desse movimento da cultura negra - o Hip Hop.

    Rocha et al (2001) nota que, nas escolas, os quatro elementos passaram a ser muito utilizados em aulas de Língua Portuguesa (letras de músicas Rap), em aulas de Artes (o Graffiti) e em aulas de dança (o Street Dance). Exemplifica com a passagem da dona de casa Simone, mãe de três filhas que dançam numa escola da Grande São Paulo. Simone, inicialmente, diz não ter gostado, mas mudou sua opinião depois que percebeu a importância que tinha na vida das garotas. Da mesma forma, B.Boys e B.Girls, que trabalhavam em escolas da periferia de São Paulo, conseguiram se aproximar de questões de difícil acesso aos educadores convencionais. Em vez de violência, estabeleciam-se competições saudáveis, como os chamados "rachas", e as crianças tidas como problemáticas, sublimando seus problemas familiares e sociais, melhoraram seu comportamento (ROCHA et al, 2001).

    Desse modo verifica-se o quanto o Street Dance pode contribuir nas Universidades e na Educação Física através de conteúdos referentes à dança e da educação pela proximidade e interação com o público.

     Pela imensa aceitação atual do Street Dance nos meios educacionais, esportistas, midiático e de entretenimento, os futuros professores universitários vinculados a essa dança carregam um elemento de grande potencial, conteúdo e valia. Daí a importância do estudo dos mesmos.

Considerações finais

    Constatou-se que referenciais bibliográficos brasileiros referentes ao assunto são escassos, bem como, notou-se uma diferença contrastante de opiniões no que se refere ao surgimento da dança referida. Rocha et al (2001) descreve a dança como uma espécie de protesto contra a guerra do Vietnã e, Ejara (2004) discorda ao colocar tal descrição como um falso patriotismo americano; outra discordância nota-se entre Alves (2004) e Rocha et al (2001) quanto aos verdadeiros precursores da "cultura Hip Hop" no Brasil.

    O presente estudo reuniu informações importantes no que diz respeito à chamada cultura e/ou movimento Hip Hop, embora a definição do que seja o Street

Page 5: Dança de rua-historia

Dance não esteja clara ainda, tão pouco única. O autor que mais especifica sua definição parece ser Ejara (2004), por apresentar clareza e domínio na descrição do Street Dance como um conjunto de estilos/modalidades, definindo-os com precisão.

    Concluiu-se que, ao pesquisar e defrontar diversas formas de descrição e definições, desenvolvimento e utilização do Street Dance, a dança é bastante recente e encontra-se em processo de constituição; também demonstra-se ser de interesse de muitos envolvidos no assunto e ainda constitui fato histórico não visto de maneira concordante com relação a seu surgimento e criação, por diversos autores.

    Nota-se a freqüente aparição na mídia e a influência no meio social tanto em que surgiu quanto no Brasil. Sua história é rica de informações; porém inconclusa. O quadro geral mostra o quanto ainda se deve estudar e questionar e o quanto tal estudo apresenta potencial de pesquisas na área de Educação, Educação Física, História e Artes, além de trabalhos de cunho social.

Notas

1. Zulu Nation - Maior organização de Hip Hop do mundo, fundada por Afrika Bambaataa (ALVES, 2004). 2. Apache Line (frente a frente) - linha imaginária onde os dançarinos ficam um defronte ao outro e ao

saírem, cada um em seu momento, executam seu movimento tentando "quebrar" o movimento do outro.

3. Essas denominações eram dadas na maioria das vezes, apenas para enfatizar/ enaltecer as aulas de certos professores; mas no seu comum eram originadas do mesmo estilo de movimentos ou objetivos de trabalho físico.

Referência bibliográfica

ALVES, T. Pergunte a quem conhece: Thaíde. São Paulo: Labortexto Editorial, 2004. EJARA, F. A História da Dança de Rua Clássica, 3º Encontro de Hip Hop do Colégio Fênix, 2004.

(mimeo)

GONZAGA, E. Hip Hop nova era, Fitness Brasil, 2000. (mimeo)

LOPES, H. The Street's Essence. Bauru, 1999. 10 transparências.

ROCHA, J.; DOMENICH, M.; CASSEANO, P. Hip Hop: a periferia grita. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001. 155 p.

SANTOS, J. L. O que é Cultura. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.

SHUTERMAN, R. Vivendo a arte: o pensamento pragmatista e a estética popular. São Paulo: Editora 34, 1998.

TRIUNFO, N. Rev. Hip Hop - Cultura de rua. V.1. Rio de Janeiro, 2000, p. 16.

VIANNA, H. O mundo funk carioca. 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

Referência on-line

HITÓRIA DO HIP HOP. Disponível em: http://dancaderua.com.br/historia. Acesso em: 25/04/2005.

Page 6: Dança de rua-historia

História do Hip Hop

Na década de 60, proliferou-se uma grande discussão sobre direitos humanos e, nesta ordem dos fatos, os marginalizados da sociedade de Nova York se articularam para fazer valer suas propostas na eliminação das suas inquietações.

Assim surgiram grandes líderes negros, como Martin Luther King e Malcom X, e grupos que lutavam pelos direitos humanos como Os Panteras Negras (Black Panthers).

Enquanto isso na Jamaica surgiram os ‘Sound Systems’, que eram colocados nas ruas dos guetos jamaicanos para animar bailes. Esses bailes serviam de fundo para o discurso dos ‘Toasters’, autênticos MC’s (Mestres de Cerimônia) que comentavam, com uma espécie de canto falado, assuntos como a violência das favelas de Kingston e a situação política da Jamaica, sem deixar de falar, é claro, de temas como sexo e drogas. No final da década de 60, muitos jovens jamaicanos foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos, devido a uma crise econômica e social que se abateu sobre a ilha. E um deles em especial, o DJ jamaicano Kool Herc, introduziu nos bailes da periferia de Nova York a tradição dos ‘Sound Systems’ e do canto falado. Inspirando vários DJ’s (Disc Jóqueis) americanos, entre eles o DJ Grand Master Flash, inventor do scratch, cuja invenção sofisticou o canto falado. Surgiram os MC’s (Mestres de Cerimônia) e os Rappers, que construíam discursos indignados, raivosos, cheios de referências a conflitos raciais e sociais. Eram vozes herdeiras da radicalidade dos Panteras Negras (Black Panthers), que juntando-se a bases sonoras dançantes e efeitos como o scratch criaram o RAP (sigla de Rythm And Poetry, ou Ritmo e Poesia, em português) que eram compostos por uma base musical dançante acompanhado de rimas faladas que seguiam o ritmo.

O Break era uma dança inventada pelos porto-riquenhos, através da qual expressavam sua insatisfação com a política e a guerra do Vietnã. Tinha inspiração, entre outras coisas, em movimentos de artes marciais, como o Kung Fu. O Break se alastrou junto com as gangues de Nova York, que por volta do final da década de 60, respondia à opressão social com violência brutal. Era comum o confronto armado. Por tradição norte-americana os grupos étnicos não se misturavam, daí tínhamos gangues de hispânicos e gangues de negros. Cada uma tinha seu código de grupo, o chamado TAG (assinatura dos grafiteiros), e demarcavam os territórios com Grafites nos muros dos bairros de Nova York. Contudo nos momentos de descontração, essas gangues dançavam o Break.

O Movimento Hip Hop é um movimento social que foi criado pelas Equipes de Bailes norte-americanas, por volta de 1968, com o objetivo de apaziguar as brigas dos jovens negros e hispânicos agrupados em gangues. Seu nome tem origem nas palavras Hip (quadril, em inglês) e Hop (saltar, em inglês). Logo, a expressão Hip Hop (saltar balançando o quadril) se referia ao Break, a dança mais popular da época. As Equipes organizavam Bailes e Festas de Quarteirões nas ruas, nos ginásios e nos colégios, incentivando os jovens a dançarem o Break ao invés de brigarem entre si. As Equipes também incentivavam o Grafite como forma de arte e não apenas como uma forma de marcar territórios. A mais famosa dessas Equipes foi a Universal Zulu Nation, que tinha como líder o DJ Afrika Bambaataa, reconhecido como fundador oficial do Hip-Hop.

Afrika Bambaataa nasceu e foi criado no Bronx e, quando jovem, fazia parte de uma gangue chamada Black Spades (Espadas Negras, em português), mas viu que as brigas entre as gangues não levariam a lugar nenhum. Muitos dos membros originais da Zulu Nation também faziam parte da Black Spades, que era uma das maiores e mais temidas gangues de Nova

Page 7: Dança de rua-historia

York. Bambaataa se utilizou de muitas gravações já existentes de diferentes tipos de música para criar Raps. Usando sons, que iam desde James Brown (o mestre da Soul Music) até o som eletrônico da música “Trans-Europe Express” (da banda européia Kraftwerk), e misturando ao canto falado trazido pelo DJ jamaicano Kool Herc, Bambaataa criou a música “Planet Rock”, que hoje é um clássico. Bambaataa também foi um dos líderes do Movimento Libertem James Brown, criado quando o mestre da Soul Music estava preso e, anos depois, foi o primeiro ‘Hip-Hopper’ a trabalhar com James Brown, gravando “Peace, Love & Unity”.

Além disso, a Zulu Nation organizava palestras chamadas de ‘Infinity Lessons’(Aulas Infinitas, em bom português), que eram aulas sobre conhecimentos, prevenção de doenças, matemática, ciências, economia, entre outras coisas e que serviam para modificar os pensamentos das gangues. Segundo seu próprio líder, Afrika Bambaataa, a Zulu Nation apóia o conhecimento, a sabedoria, a compreensão, a liberdade, a justiça, a igualdade, a paz, a união, o amor, a diversão, o trabalho, a fé e as maravilhas de Deus. Essa verdadeira ‘Nação’ também viajou por todo o mundo para pregar a boa palavra do Hip-Hop, fazendo muitos shows e arrecadando fundos para campanhas Anti-Apartheid (Anti-Racista) e chegou a reunir 10.000 membros em todo o mundo. Segundo a Zulu Nation, no espaço descontraído da rua era, e ainda é, possível manifestar opiniões e se divertir. Os jovens excluídos, no contato com seus iguais (o grupo), podiam sentir e vivenciar a rara oportunidade da livre-expressão através da arte, sem repressão.

LOCKING

O Locking surgiu no início dos anos 70, em Los Angeles, Califórnia, criado por Don Campbell que em 72 formou o grupo The Lockers, o primeiro grupo profissional de street dance na história. Claramente se vê no Locking a influência do Funk. Segundo Shabba-Doo (Ozone no filme Break Dance), membro do The Locking, existia um passo de Funk chamado Funky Chicken (algo como Funk da galinha) o que obrigou Don a fazer o primeiro passo do estilo. Muitos passos foram adicionados como: movimentos de braços minucios/s, usando os cotovelos, mãos e dedos, e é claro muito Funk nos pés. O The Lockers se apresentaram muito no programa “soul Train” de uma TV americana, fizeram shows com James Brown, Pariament, Frank Sinatra, Funkadelie, e influenciaram muitos dançarinos pelo mundo. O Locking é a Street Dance mais antiga e mais clássica. É difícil ver por aí, hoje em dia Lockers dançando, já o Breakin e o Poppin são mais comuns.

Apesar de Don Campbell ser o criador, outros dançarinos deram sua contribuição para o Lockin, como um cara chamado Scooby-Doo e outros chamados Skeeter Rabbit que criaram passos que levam seus nomes. Em todos os estilos de dança saber o básico é importante, mas no Lockin isso é primordial, pois só assim você entenderá a verdadeira forma desta dança.

POPPING

Surgiu no início dos anos 70 em uma pequena cidade americana chamada Fresno na Califórnia. Seu criador foi Boogaloo Sam que logo mais formaria um grupo chamo Electric Boogaloo. O Poppin é a evolução de uma dança antiga, o Robot (que era apenas a cópia dos movimentos mecânicos de um robô). Mas o estilo ficou muito mais complexo, pois, não é tão frio como o Robot, tem muito mais energia e se apropria de movimentos de ilusão, mímica, lown (palhaço), desenhos animados e dança indiana, também foi inspirado por passos usados pelo cantor Jame Brown que ele mesmo chamava de Boogaloo (fazendo ondas pelo corpo). Boogaloo Sam, eletrificou o Robot e somou ao Boogaloo de James Brown. Do Poppin também surgiu um passo muito conhecido e usado por Michael Jackson, originalmente Back-Slide (deslizar para trás), pois Moonwalk como foi chamado por Michael, na verdade é quando se desliza para frente. Boogaloo Sam irmão de Poppin Pete que atuou no filme Break Dance, no clipe Beat it de Michael Jackson entre tantos outros, ele também fazia parte do Eletric Boogaloo. Apesar de ser criado em Fresno, muitas cidades da região como Backersfield, Sacramento e Compton, desenvolveram seu estilo e passos próprios no Popping. Isso ajudou a desenvolver a dança mais ainda. E quando chegou até o mundo nos anos 80 já era algo extraordinário. Grandes dançarinos da segunda geração como Boogaloo Shrimp (Turbo no filme Break Dance) e Poppin Taco (filme Break Dance) ficaram conhecidos no mundo inteiro

Page 8: Dança de rua-historia

por causa de suas inovações no Poppin. Muitos dançarinos da primeira geração como Poppin Pete, Skeeter Rabbit continuam na ativa até hoje e viajam o mundo passando para as próximas gerações a verdadeira essência do Poppin.

DICA

Existem três fundamentos básicos da dança do B.Boy (dançarino):

1.Top Rock (preparação) é como um passo de Funk estilizado. 2.Foot Work (trabalho dos pés) traçando as pernas em volta do corpo continuamente;3.Freeze (congelamento) é a finalização da dança do solo do B Boy.

Giros, saltos, acrobacias e todos os movimentos de ginástica foram adicionados depois de 1980. Estes movimentos (power move) não são considerados dança, são apenas movimentos de dificuldade e velocidade que somados à dança tornam o B. Boy mais extraordinário.

Power Move não é um estilo de dança, é uma denominação para estes novos elementos. Por isso não se esqueça, B. Boy (dançarino) é aquele que D A N Ç A no Break (BATIDA) da Musica!