DANÇA E EXPRESSÕES RÍTMICAS

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EIXO TEMÁTICO: DANÇA E EXPRESSÕES RÍTMICAS Tema: Dança criativa, dramatização e pantomima Tópico 18: Elementos constitutivos da dança: formas, espaço, tempo Habilidades: 1. Vivenciar os elementos constitutivos da dança. 2. Identificar os elementos constitutivos da dança. É comum relacionarmos o ensino da dança na escola, quando ela existe, com ensaios para festas escolares ou com deixar o aluno escolher a música, montar uma coreografia e apresentá-la no final de um determinado número de aulas. A dança se transforma em uma atividade com um fim em si mesma, desprovida de um conhecimento ou de uma problematização. Por vários motivos, que agora não nos compete analisar, a dança recebeu esse tratamento ou foi sendo esquecida dos currículos e das aulas de Educação Física. Tema sem dono, a partir de 1997, por meio dos PCNs, a dança foi mencionada e sugerida como parte integral da educação em “Arte” (a então Educação Artística, da antiga LDB, de 1971). Em 2004 passou a fazer parte da proposta curricular de Arte em nosso Estado, inserção que deve ser encarada como um desafio para os professores de Educação Física. É preciso somar esforços e planejar essas aulas, se possível, de forma conjunta com o professor de Arte da escola. As percepções provenientes das duas áreas contribuem para ampliar o conhecimento e a vivência do aluno sobre a dança e o processo criativo. É possível dar aos alunos alguns elementos para enriquecer o processo de criação, melhorar a percepção do próprio corpo e a sensibilidade musical. Montar uma coreografia não é uma ação vazia, pois possui um conteúdo e um significado que devem ser compreendidos pelos sujeitos que participam da dança ou que estejam assistindo a ela. No Ensino Médio, é possível trabalhar com uma comunicação que vai além da forma puramente estética, da expressão da natureza ou dos sentimentos humanos. Todas essas formas são importantes e interessantes, mas o aluno pode refinar ou aprofundar essa linguagem, sendo ele mesmo o autor/criador do sentido e do significado da própria expressão. Saber criar, improvisar e lidar com situações inesperadas são competências exigidas em todos os âmbitos da nossa vida. Ensina-se e aprende-se o processo criativo ao experimentarem-se as dificuldades e os desafios que o ato de criar apresenta, daí a necessidade de proporcionar situações em que o aluno seja estimulado a produzir e a criar. Como mediadores no processo de ensino-aprendizagem, iremos levar elementos que provoquem a curiosidade ou que desafiem os alunos a querer conhecer mais. Coimbra (2003) menciona três abordagens básicas da estrutura composicional, no contexto da dança. Apesar de ela estar se referindo à dança de uma forma específica, são informações que se aplicam a outros trabalhos de expressão corporal, além de serem de fácil compreensão. A primeira se refere ao número de pessoas e aos arranjos de relacionamentos de grupos: solo, dueto, trio, quarteto, quinteto e grandes grupos. Existe uma possibilidade de articulação em uma composição entre grupos de mais de dois integrantes. Por exemplo, um grupo com quatro pode ser assim arranjado: 4-0, 2-2, 3-1 ou 2,1,1. A segunda abordagem refere-se aos termos de movimentação e de correlação de seqüências de movimentos nos grupos organizados com mais de dois integrantes. Essas organizações acontecem, a princípio, nas formas em: Uníssono: todo o conjunto de alunos realiza o mesmo movimento ao mesmo tempo, podendo variar, no entanto, as direções e os níveis alto, médio ou baixo. Cânon: nessa estrutura, o movimento é o mesmo em diferentes grupos, diferenciando, no entanto, o tempo e o início de cada frase de cada grupo. É uma sucessão de movimentos em tempos predeterminados. Por exemplo: em um grupo dividido em quatro subgrupos, o primeiro inicia o movimento no tempo 1; o segundo, no tempo 2; o terceiro, no tempo 3 e o quarto, no tempo 4. Antífona e responsorial: caracterizados pela alternação de movimentos entre dois grupos, como numa seqüência em que há troca de perguntas e respostas, ou seja, um grupo pergunta e o outro responde com movimentos. O termo antífona é alusivo ao canto alternado entre dois grupos, e responsorial está associado à alternação entre o solista e o grupo. Contraste simultâneo: caracterizados pela ação alternada entre duas partes distintas, em que mais de um grupo ou mais de um aluno executam movimentos totalmente diferentes uns dos outros, ao mesmo tempo.

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EIXO TEMÁTICO: DANÇA E EXPRESSÕES RÍTMICAS

Tema: Dança criativa, dramatização e pantomima

Tópico 18: Elementos constitutivos da dança: formas, espaço, tempo

Habilidades: 1. Vivenciar os elementos constitutivos da dança.

2. Identificar os elementos constitutivos da dança.

É comum relacionarmos o ensino da dança na escola, quando ela existe, com ensaios para festas escolares ou com deixar o aluno escolher a música, montar uma coreografia e apresentá-la no final de um determinado número de aulas. A dança se transforma em uma atividade com um fim em si mesma, desprovida de um conhecimento ou de uma problematização. Por vários motivos, que agora não nos compete analisar, a dança recebeu esse tratamento ou foi sendo esquecida dos currículos e das aulas de Educação Física. Tema sem dono, a partir de 1997, por meio dos PCNs, a dança foi mencionada e sugerida como parte integral da educação em “Arte” (a então Educação Artística, da antiga LDB, de 1971). Em 2004 passou a fazer parte da proposta curricular de Arte em nosso Estado, inserção que deve ser encarada como um desafio para os professores de Educação Física. É preciso somar esforços e planejar essas aulas, se possível, de forma conjunta com o professor de Arte da escola. As percepções provenientes das duas áreas contribuem para ampliar o conhecimento e a vivência do aluno sobre a dança e o processo criativo. É possível dar aos alunos alguns elementos para enriquecer o processo de criação, melhorar a percepção do próprio corpo e a sensibilidade musical. Montar uma coreografia não é uma ação vazia, pois possui um conteúdo e um significado que devem ser compreendidos pelos sujeitos que participam da dança ou que estejam assistindo a ela. No Ensino Médio, é possível trabalhar com uma comunicação que vai além da forma puramente estética, da expressão da natureza ou dos sentimentos humanos. Todas essas formas são importantes e interessantes, mas o aluno pode refinar ou aprofundar essa linguagem, sendo ele mesmo o autor/criador do sentido e do significado da própria expressão. Saber criar, improvisar e lidar com situações inesperadas são competências exigidas em todos os âmbitos da nossa vida. Ensina-se e aprende-se o processo criativo ao experimentarem-se as dificuldades e os desafios que o ato de criar apresenta, daí a necessidade de proporcionar situações em que o aluno seja estimulado a produzir e a criar. Como mediadores no processo de ensino-aprendizagem, iremos levar elementos que provoquem a curiosidade ou que desafiem os alunos a querer conhecer mais. Coimbra (2003) menciona três abordagens básicas da estrutura composicional, no contexto da dança. Apesar de ela estar se referindo à dança de uma forma específica, são informações que se aplicam a outros trabalhos de expressão corporal, além de serem de fácil compreensão. A primeira se refere ao número de pessoas e aos arranjos de relacionamentos de grupos: solo, dueto, trio, quarteto, quinteto e grandes grupos. Existe uma possibilidade de articulação em uma composição entre grupos de mais de dois integrantes. Por exemplo, um grupo com quatro pode ser assim arranjado: 4-0, 2-2, 3-1 ou 2,1,1. A segunda abordagem refere-se aos termos de movimentação e de correlação de seqüências de movimentos nos grupos organizados com mais de dois integrantes. Essas organizações acontecem, a princípio, nas formas em: Uníssono: todo o conjunto de alunos realiza o mesmo movimento ao mesmo tempo, podendo variar, no entanto, as direções e os níveis alto, médio ou baixo. Cânon: nessa estrutura, o movimento é o mesmo em diferentes grupos, diferenciando, no entanto, o tempo e o início de cada frase de cada grupo. É uma sucessão de movimentos em tempos predeterminados. Por exemplo: em um grupo dividido em quatro subgrupos, o primeiro inicia o movimento no tempo 1; o segundo, no tempo 2; o terceiro, no tempo 3 e o quarto, no tempo 4. Antífona e responsorial: caracterizados pela alternação de movimentos entre dois grupos, como numa seqüência em que há troca de perguntas e respostas, ou seja, um grupo pergunta e o outro responde com movimentos. O termo antífona é alusivo ao canto alternado entre dois grupos, e responsorial está associado à alternação entre o solista e o grupo. Contraste simultâneo: caracterizados pela ação alternada entre duas partes distintas, em que mais de um grupo ou mais de um aluno executam movimentos totalmente diferentes uns dos outros, ao mesmo tempo.

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Ao falar das ricas possibilidades de movimentos que cada segmento e articulação do corpo permitem, um professor instigou os seus alunos a demonstrar o que era possível fazer com os pés, as pernas, os quadris, os ombros, os olhos, etc. Os alunos ora repetiam movimentos comuns, ora propunham os mais inusitados. Era possível rodar, encolher, esticar, abrir, fechar, pulsar, ondular, dentre outras inúmeras possibilidades. O professor apresentou, então, uma música instrumental ritmada, com tempos fortes e fracos. Você pode fazer essa seleção, pesquisando alguns dos seus CDs ou fitas, ou então pedindo ajuda a seus alunos. Faça uma seleção de acordo com o seu objetivo. Os alunos foram divididos em 3 grupos e tiveram como desafio expressar corporalmente aquela música. Entretanto, cada grupo só podia utilizar um segmento do corpo. O primeiro foi o pescoço e o rosto (olhos, boca, nariz, língua, bochecha). O segundo grupo iria mover braços, mãos (dedos) e ombros. O terceiro grupo moveria pernas, pés e quadris. No caso de turmas muito numerosas, você pode fazer mais de um grupo com cada segmento. Para focar o segmento do corpo envolvido, o professor utilizou um lençol para isolar a parte do corpo em evidência. Como a apresentação final ficou para a aula seguinte, o professor sugeriu que os alunos se produzissem utilizando a mesma cor de blusa, um mesmo adereço no corpo, uma pintura no rosto ou na mão, tanto para ressaltar a parte em evidência como para ofuscar a parte não envolvida. O resultado desse trabalho foi muito rico, pois permitiu aos alunos perceber o quanto a posição de um pé, por exemplo, pode interferir, remeter, ou mesmo alterar o sentido de uma idéia. Os alunos perceberam também o quanto o olhar é expressivo e fundamental na linguagem corporal. Com os olhos, podemos acolher ou ameaçar, mostrar-nos indiferentes ou interessados. Além do trabalho acima, é possível oferecer, como inspiração para o trabalho, uma cena ou uma situação que faz parte do cotidiano deles, uma imagem marcante de revista ou jornal, um fato que virou notícia naqueles dias, dentre outros. As dificuldades serão maiores, já que as pernas e os pés podem facilitar o entendimento de algumas situações, mas não de todas. Por outro lado, a expressão facial consegue dizer muito sem grandes movimentações. Identificar os tempos musicais fortes e fracos de uma música é uma importante habilidade que irá contribuir no momento de expressar corporalmente o ritmo. Essa competência envolve algumas habilidades como ouvir, sentir e expressar por meio do próprio corpo. Fazer com que os alunos ouçam em silêncio uma música não é uma tarefa fácil; entretanto, não podemos deixar de tentar essa experiência. Escolher uma boa música é a chave do sucesso nesse trabalho. Nas músicas instrumentais, clássicas ou da nossa MPB, você encontrará muito material interessante. Esses momentos devem ser aproveitados para apresentar o novo e despertar o gosto musical. O bom nem sempre está nas rádios comerciais ou nas músicas mais divulgadas. A seleção de músicas não deve seguir os mesmos critérios que se utilizam para uma festa. A escolha segue a orientação que cada trabalho específico exige. Uma outra possibilidade de trabalho com criação e improvisação pode ser criada utilizando um grande plástico de construção (lona terreiro), de aproximadamente 10 metros. Com os alunos assentados ao seu redor, o professor estabelece alguns critérios para o uso do material. O plástico, apesar de ser resistente, tem algumas limitações, e, se não for utilizado com bom senso, irá rasgar. Os alunos podem ser desafiados com as seguintes questões: - Que sons conseguem produzir sem tirar o plástico do chão? Esse momento de exploração do material gera uma certa “bagunça” e muito barulho, com muitos sons e iniciativas individuais. - Depois de um tempo, peça que, em grupos menores, produzam um som para que os demais o identifiquem. Nesse momento, o grupo começa a ouvir as idéias, a testar sons, a fazer opções. Alguns logo sentem a satisfação do “dar certo” e ousam cada vez mais. Outros, dependendo do grupo, ficam travados, tentam desqualificar a experiência. Tudo isso faz parte do processo e são pontos que você pode retomar no momento da avaliação. - Dos sons produzidos pelos grupos, elejam alguns para entrar em uma única composição, que será realizada por todos. Todas as partes dessa vivência duram aproximadamente uma aula. Essa escolha pode ter como critério um tema preestabelecido ou não. Em uma escola, o tema escolhido foi “trabalho em equipe”. Um dos grupos representou a saga das formigas. Para isso se transformaram em um grande formigueiro. Como era necessário um grande número de “formigas”, optaram por unir-se a um outro grupo. Já um outro optou por ficarem todos debaixo da lona. A única parte do corpo que aparecia era uma das mãos de cada participante. O efeito visual foi de uma grande e única formiga. Experiências como essas abrem as portas para que mais alunos se interessem por esses tipos de aulas. Além de ser um excelente exercício de representação, que pode beneficiar imensamente o aluno na hora de ler textos, incluindo-se aí os de literatura! Nessa tarefa estava envolvido o tema ou a história que eles gostariam de contar, a interação com a plasticidade do material, o trabalho coletivo, a abstração, etc. É possível explorar sons partindo de situações fornecidas pelo professor ou mesmo deixar que cada grupo escreva, em um papel, uma situação que gostaria que o outro grupo encenasse; por exemplo: uma banda; o recreio; uma grande tempestade em uma grande casa abandonada. Disponibilize materiais como pneus, latas, jornais, etc. Negocie com aqueles alunos que não desejam participar desses momentos, para que expressem esse seu desejo utilizando outros recursos que não a fala. Essa comunicação deverá ser elaborada com início, meio e fim. Foi o que

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aconteceu com uma turma de 2º ano do Ensino Médio. Para culminar o trabalho com dança e movimentos expressivos, o professor deu aos alunos a oportunidade de escolher entre a dança, a pantomima ou a dramatização. Cinco alunas logo se fecharam para a proposta e disseram que não queriam participar dela. Por serem tímidas e com dificuldade de lidar com a expressão corporal, o professor “aceitou” que elas ficassem de fora, mas pediu-lhes que contassem, de uma forma expressiva, aquilo que elas estavam relatando. Aquelas cinco meninas, sem perceber que estavam criando algo, representaram, de uma forma muito lúdica, os próprios medos, a vergonha, a incerteza de se iriam ou não participar, os comentários sobre o trabalho dos colegas e os planos de matar aula no dia. Foi um dos trabalhos mais criativos daquela turma. Além das vivências de criação e improvisação que podem durar de 1 a 2 aulas, é interessante envolver os alunos em produções de maior fôlego, que envolvam a comunidade, tal como uma mostra de dança, monólogos, cinema mudo ou teatro. Uma parceria com o professor de Literatura pode produzir um belo trabalho. Escolha com os alunos um poeta ou escritor, partindo de critérios preestabelecidos entre a turma e os professores envolvidos. Junto à sugestão do nome, pode estar uma justificativa que convença os demais da importância daquele nome para a música ou para a literatura brasileira. Faça uma votação. A declamação de poemas ou de letras de músicas, intercalada com trabalhos de dança criativa dos alunos pode compor o espetáculo. Escolher um intérprete e/ou compositor da MPB, mesmo que pouco conhecido dos alunos, é uma ótima oportunidade de apresentar-lhes outros ritmos, outras poesias e outras melodias. Todos podem se envolver de alguma maneira, quer na produção do palco, quer na montagem das cenas, no figurino, na produção do programa ou na divulgação do espetáculo na escola/comunidade. O trabalho com o jornal é uma possibilidade desafiadora, além de possibilitar uma parceria com outras disciplinas. Os temas retratados nos trabalhos de criação e improvisação deverão ser provenientes de manchetes ou imagens de jornais, de preferência daquela semana. A cada trabalho vamos acumulando experiências e nossa capacidade de avaliação vai aumentando; com isso, os trabalhos realizados pelos alunos vão sendo enriquecidos. Para avaliar esse tópico, o professor deve estar atento à caminhada anterior da turma e às suas dificuldades iniciais. Houve avanços? Qual foi o processo de produção de pantomimas, danças e exercícios expressivos? Os objetivos postos inicialmente foram contemplados? Se não, quais os motivos? Houve envolvimento e comprometimento com os trabalhos, disposição para aprender, pesquisas e análises de vídeos?

Para saber mais:

BARRETO, Débora.Ensino, sentidos e possibilidades na escola. Campinas: Autores Associados. MARQUES, Isabel A . Dançando na escola. São Paulo: Cortez, 2003. S BORQUIA, Silvia Pavesi e GALLARDO, Sérgio Pérez. As danças na mídia e as danças na escola. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, Campinas, v.23, p.105-118, jan. 2002.

Orientação Pedagógica: Elementos constitutivos da dança: formas, espaço, tempo - O processo criativo

Currículo Básico Comum - Educação Física Ensino Médio

Autor(a): Aleluia Heringer Lisboa Teixeira

Centro de Referência Virtual do Professor - SEE-MG/2005