Daniel - Introdução e Comentário [Joyce G. Baldwin ].pdf

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Daniel Introdução e comentário Joyce G. Baldwin •SÉRIE CULTURA BÍBLICA- VIDA MOVA

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DanielIntroduo ecomentrioJ oyce G. BaldwinSRI ECULTURAB BLI CA- VIDA MOVADanielIntroduo eComentrio porJoyceG. Baldwin, B. A., B. D.De das Mulheres, Trinity College, BristoliVIDA NOVACopyright 1978 J oyce G. Baldwin Ttulo original:Daniel,AnIntroduction andCommentary Traduzido da edio publicada pela Inter-Varsity Press, (Leicester,Inglaterra)1." edio:1983Reimpresses:1987,1991, 2006, 2008Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados por Sociedade Rel igiosa Edies V ida Nova,Caixa Postal 21266, So Paulo, SP, 04602-970 www.vidanova.com.brProibida a reproduo por quaisquer meios (n ecnicos,eletrnicos, xerogrficos fotogrficos, gravao, estocagem em banco de dados, etc.), a no ser em citaes breves, com indicao de fonte.Impresso no Brasil /Printed in BrazilISBN978-85-275-0036-4Tr aduo nio R. MuellerRevisoJ lio Paulo T. ZabatieroCoor denao de Pr oduo Srgio Siqueira MouraOobjetivodestasriedecomentriossobreoVelhoTestamento, talcomoaconteceunosvolumes equivalentes sobreo Novo Testamento, ofereceraoestudiosodaBblia umcomentrioatualeprticodecadalivro,cujanfaseprincipalestivessenaexegese.Asquestescrticas demaiorimportnciasodiscutidas nasintroduesenotasadicionais, ao passo que detalhes excessivamente tcnicos foram evitados.Nestasrie,osautoresdecadacomentriotmplenaliberdade deoferecersuasprpriascontribuies eexpressar seu prprio ponto de vistaemassuntoscontrovertidos.Dentro dos limitesnecessrios de espaoelesprocuram,freqentemente,chamaraatenoparainterpretaesqueeles,autores,particularmentenoendossammas que representam a opinio formada deoutros sinceros cristos. O livro de Daniel, mais doqueoutros, objetodevriosdebateseinterpretaes,alguns-dos quais obscurecem seriamente o seu sentido e a sua mensagem para a igrejahoje,outendema diminuir o impacto do livro em meio a um mar de detalhescrticos.Aautoraaquitemporobjetivoexpressarosseus pontos-de-vista sinceramente mantidos e firmemente defendidos sobre vrios aspectos desta profecia que, embora possa continuar sendo ummistrioatoltimodia,exigeestudohojeparamostrar a sua relevncia para a nossa prpria poca atribulada.EspecialmentenoAntigoTestamentonohuma nicatraduo que, sozinha, reflita adequadamenteo texto original. Os autores desta srie utilizam livremente vrias verses, ou oferecem a sua prpria traduo, numesforoparatornarsignificativas as palavrasou passagens mais difceis.Ondenecessrias,palavrasdoTextoHebraico(ouAramaico)cujo estudosefeznecessrioaparecemtransliteradas.Issoajudaroleitor que no esteja familiarizado com as lnguas semticas a identificar a palavrasobdiscussoeseguiralinhadepensamento.Presume-se,emtoda asrie,queoleitortenha sua disposio uma ou mais verses fidedignas da Bblia em portugus.Ointeressenosentidoena mensagemdo Antigo Testamento conPREFACIO GERAL5-tinuainalteradoeesperamosqueestasrievenhaaestimularoestudo sistemticodarevelaodeDeus,deSuavontadeedeSeuscaminhos conformeregistradosnasEscrituras.AoraSodoeditoredospublica- dores,bemcomodosautores,queestes livros ajudem muitos a entender, e a obedecer a Palavra de Deus nos dias de hoje.D.J.Wiseman- 6-PREFACIO DA EDIO EM PORTUGUSTodo estudioso da Bblia sente a faltade bons e profundos comentrios emportugus.A quase totalidade das obras que existem entre ns pecapelasuperficialidade,tentandotratarotextobblicoempoucas linhas.ASrieCulturaBblicavemremediarestalamentvelsituao semquepequedooutroladoporusardelinguagemtcnicaededemasiada ateno a detalhes.OsComentriosquefazempartedestacoleoCulturaBblica soaomesmo tempo compreensveis e singelos. De leitura agradvel, seu contedodefcilassimilao.Asrefernciasaoutroscomentaristas e asnotasderoda-psoreduzidasaomnimo.Masnem por isso so superficiais.Renemomelhordaperciaevanglica(ortodoxa)atual.O texto denso de observaes esclarecedoras.Trata-sedeobracuja caracterstica principal a de ser mais exeg- ticaquehomiltica.Mesmoassim, as observaes no so de teor acadmico.Emuitomenossodebates infindveissobreminciasdotexto. Sodegrandeutilidadenacompreenso exata do texto e proporcionam assimopreparodocaminhoparaa pregao.CadaComentrioconsta deduaspartes:umaintroduoque situao livro bblico no espao e no tempo e um estudo profundo do texto a partir dos grandes temas do prprio livro. A primeira trata as questes crticas quanto ao livro e ao texto. Examinaasquestesdedestinatrios,datae lugar de composio, autoria,bemcomoocasioepropsito.Asegundaanalisaotextodolivro seo por seo. Ateno especial dada s palavras-chave e a partir delas procuracompreender einterpretaro prprio texto. H bastantecarne para mastigar nestes comentrios.Esta srie sobre o V.T. dever constar de 24 livros de perto de 200 pginas cada. Os editores, Edies Vida Nova e Mundo Cristo tm programado a publicao de, pelo menos, dois livros por ano. Com preos moderadospara cada exemplar, o leitor, ao completar a coleo ter um excelenteeprofundo comentrio sobre todo oV. T. Pretendemos assim, ajudarosleitoresde lngua portuguesa a compreender o que o texto vtero-- 7-testamentrio,defato,dizeoquesignifica.Seconseguirmosalcanar estepropsitoseremosgratosaDeuseficaremoscontentes porque este trabalho no ter sido em vo.Richard J.SturzEscrever umcomentriosobreo livro de Daniel nos dias de hoje comoestar bem dentro da crista de uma enorme onda. H um movimentoconstante; artigoseruditosaparecemem torrentes,eumpensar radicalestcolocandoem questo os de h muito estabelecidos mapas pelos quais estudiosos do passado tm orientado o seu curso. H confuso, um sentimentodeestaremaltomar,estarboiando,nosabendoao certoemquedireoseestsendo levado,umsentimentodenoter o suficiente conhecimento especializado para ser capaz de avaliar adequadamenteasprpriasposies.No obstante, uma situao excitante para quemestdentrodela,se to somente a gente conseguir se manter tona.Demasiadasvezes,eutemo,tenhosubmergidosobumamassade idias, precisando chegar novamente superfcie e comear tudo de novo.Minhadependnciade vrios livros e comentrios eruditos ser evidenteatodos.Tenhotentadoprestar umreconhecimento, emnotas de roda-p, dasfontesdeidiaseinformaes sempre que estivessecnscia delas,maspodemter havido dvidas inconscientes s quais no pudedar odevidoapreo.MinhagratidosedeveparticularmenteaoSr.A.R. Millard,PreletorSniorRankinemHebraicoeLnguasSemticasAntigasnaUniversidadedeliverpool, e ao Dr. L. C. Allen, Preletor em LnguaeExegesedoAntigoTestamentonoLondonBibleCollege,queleramo manuscritoeo incrementaramcomo seu conhecimento. Sou extremamentegratapelassuassugestes, a maior parte das quais foi incorporadaaotexto.QuerotambmagradeceraoProfessorD.J . Wiseman, editordasrieTyndaleOldTestamentCommentaries,pormeconvidar acontribuirparaela com mais um volume, e por colocar minha disposio a sua sabedoria e conhecimento especializado.Estoucnsciadequeestelivroestsaindoantesdeestar pronto, masemalgumpontagentetemqueparar,ou, para voltar metfora do mar, a gente tem que queimar o bote e encarar o que est pela frente. Seos cristosforemencorajadosa estudarem de novo o livro de Daniel, demodoque juntoscheguemosmaispertodesentir-lheopulso,entoPREFACIO DA AUTORA- 9todos os meus esforos tero valido a pena. Setembro de1977Joyce BaldwinCONTEDOPrefcio Geral ............................................................................................5Prefcio da Edio em Portugus............................................................. 7Prefcio da Autora.. ................................................................................9Abreviaturas Principais.............................................................................12INTRODUO......................................................................................... 15IUma Olhada Preliminar no L ivro................................................... 20IIQuestes Histricas..........................................................................21IIIAs Lnguas Originais.....................................................32IVA Data e a Unidade do Livro...........................................................38VGnero Literrio............................................................................... 50VIEstrutura..........................................................................................64VIIInterpretao....................................................................................68VIIITexto e Canon..................................................................................73IXAlgumas datas de Importncia para o Livro de Daniel. . . . . . . 78XFragmentos de Manuscritos de Daniel encontrados em Qumran.79XIOutros Documentos relacionados com Daniel...............................80ANLISE..............................................................................81COMENTRIO......................................................................................... 82NOTAS ADICIONAISA Esttua do Sonho de Nabucodonosor........................................102A Orao de Nabonido....................................................................124Filho do Homem..............................................................................157Algumas Interpretaes das Setenta Semanas................................. 182-11 -ABREVIATURAS PRINCIPAISANEPThe Ancient Near Eastin Pictures2, editado por J . B. Pritchard,1969.ANETAncientNearEastemTextsRelatingtotheOldTestament2, editado por J . B. Pritchard, 1955 (31969).ARAAlmeida Revista e Atualizada.ARCAlmeida Revista e Corrigida,aram.aramaico.art.artigo.AVEnglish Authorized Version (Verso Autorizada Inglesa),1611.BAThe Bible Archaelogist.BJ Bblia de J erusalm.BASORBulletin o fthe American Schools o fOriental Research.BVA Bblia Viva.c.cerca de.CBCambridgeBible:TheBook o fDaniel,por S. R. Driver,1900.CBQCatholic Biblical Quarterly.cf.conforme.DelcorLe Livre de Daniel, por M. Delcor, 1971.DNTTThe New International Dictionary o f New Testament Theology, editado por Colin Brown (3 vols., 1975,1976,1978).DOTTDocuments fromOldTestamentTimes, editado por D. Winton Thomas, 1958.EQEvanglica! Quarterly.ETExpositoryTimes.FSACFromthe Stone AgetoChristianity, por W. F. Albright, 1957. gr.grego..HDBDictionary o fthe Bible, editado por J . Hastings (5 vols.), 1911. H, heb.hebraico.IB.The Interpreter s Bible VI, 1956.ICCInternationalCriticaiCommentary:TheBooko fDaniel,por J . A. Montgomery, 1927.- 12-IDBTheInterpretersDictionary oftheBible (4 vols.), 1962.i.e.isto.1EJIsrael Exploration Journal.IOTIntroductiontotheOldTestament,por R. K. Harrison,1970. JBLJournal ofBiblical Literature.JCSJournal o f Cuneiform Studies.JNESJournal o f Near Eastern Studies.JSJJournal for the Study ofJudaism.JSSJournal o f Semitic Studies.JTCJournal for Theology and the Church.JTSJournal o f Theological Studies.KBLexiconinVeterisTestamentiLibros,porL.KoehlereW. Baumgartner, 1958.Lacocque Le Livre de Daniel, por A. Lacocque, 1976.LOTIntroductiontotheLiteratureo ftheOldTestament,porS. R. Driver, 1909.LXXSeptuaginta(traduogregapr-cristdo Antigo Testamento), mg.margem, referncia marginal.NDBONovoDicionriodaBblia,editadoporJ .D.Douglas(3 vols.), 1962 (trad. port. 1966).NDITNTONovoDicionrioInternacionaldeTeologiadoNovoTestamento,trad.port.de DNTT,emcurso(vol.I,1981,vol.II, 1982, vol. III, 1983).NEBThe New English Bible.NIVThe New International Version.NPOTNewPerspectives onthe OldTestament, editado por J . Barton Payne, 1970.NTSNew Testament Studies.PCB2PeakesCommentaryontheBible(EdioRevisada),editadopor M. Black e H. H. Rowley, 1962.PorteousDaniel. ACommentary, por N. W. Porteous, 1965.POTTPeopleso f OldTestamentTimes,editadoporD.J .Wiseman, 1973.lQp HabComentrio de Habacuque, de Qumran.1QMA Regra da Guerra, de Qumran.RBRevue Biblique.RQRevue de Qumran.RSVAmerican Revised Standard Version, 1952.RVEnglish Revised Version, 1881.- 13-TBCTorchBibleCommentary:Daniel,porE.W.Heaton,1956.TDNTTheological Dictionaryo ftheNewTestament, editado por R.Kittel/G. Friedrich (10 vols.), 1964-1977.TEVTodays English Version.TMTexto Massortico.VTVetus Testamentum.Vulg.Vulgata (traduo latina da Bblia, feita por J ernimo).ZA WZeitsehrft fr die AlttestamentUcheWissenschaft.-14-INTRODUOOlivrodeDanieldiferentedorestodos livrosquecompemo AntigoTestamento.Issoficaevidentemesmoparao leitor sem especializaoteolgica.Emboraseencontre,emnossasBbliasportuguesas, entreosprofetas,nocontmmensagensproclamadasemnomedoSenhor, maneira dos profetas; nem se trata de um livro histrico no sentido em que o so os livros de Reis, embora comece a partir de um ponto na histriaese mostre claramente interessado nela. Usando sonhos e vises, sinais,smbolosenmeroselepareceestardeclarando o curso da histriaechamandoatenoaoseusignificado,mapeando seu curso medida em queela se encaminha ao seu final. Em linguagem tcnica o livro , portanto,escatolgjco(gr. eschaton, fim). Tal como os primeiros captulos de Gnesis, universal em seu escopo, apresentando ainda uma abrangentevisodotempohistrico.Issosetoma possvelpor meio de uma srie de vises especiais que revelam a Daniel o propsito de Deus para o mundo. Tal desvendamento da histria a partir de uma perspectiva divina umacaractersticasalienteda literaturaapocalptica(gr. apokalypsis, revelao),umtipodeliteraturacom a qual Daniel usualmente identificadoequalsernecessrioqueretomemos maisadiantepara uma considerao mais ampla, luz de estudos recentes.Por mais diferente que o vro possa ser em seus conceitos e mtodos, h umacontinuidadeteolgicacom a lei e os profetas, especialmente na sua pressuposio de que o Deus que deu incio vida humana controla a histria e a levar ao termo por Ele designado. Entre todas as naes, somente em Israel tal compreenso da histria era possvel; pois somente a Israel Deus se havia dado a conhecer. No que a histria de Israel fosse em algumsentido uma super-histria; pelo contrrio, era uma histria bem comum, passvelde verificao por referncia das naes ao seu redor. Seu conhecimento de Deus, contudo, que tinha importncia para a sua existncia como uma nao, e, em particular, sua herana das promessas de Deus, lhedavam uma perspectiva histrica e um meio de interpretar os eventos. A tenso entre promessa e cumprimento faz histria. O desenvolvimento15-DANIELda maneira israelitadeescrever a histria se distingue pelo fato de o horizonte dessa histria se tornar cada vez mais amplo, e o espao de tempo compreendidoporpromessaecumprimentocadavezmaisextenso.1Assim,olivrodeDaniel estende o cursoda histria at suaconcluso. A profecia mirava em direo a um alvo, estando porm usualmente limitada ao cumprimento na histria das promessas feitas a Israel. A perspectivamaisamplade Daniel aplica o tema promessa-cumprimento a todas as naes,comoofez,com efeito, o autor deGnesis12:3, econtempla o tempo do fim ea realizao final do propsito de Deus para o mundo que criou.Sentindo-seisso, no de causar surpresa que cristos novos, e especialmenteosquesedoconta de serem minoria dentro de uma sociedadehostil,soparticularmenteatradosaestelivro.Porfavor,termine primeiroas notas sobre Daniel eento siga adiante em Gnesis, escreveram pessoasdas tribos Lisu, na Tailndia, a algum que estava empenhado no preparo de literatura na sua linguagem.2 Era parte da herana de Israel o ter como certo quenada podia ser obstculo ao propsito de Deus, fossequal fosse a ameaa sua vida nacional. E privilgio do cristo saber que as portas do inferno no prevalecero, enfim, contra a igreja de Deus. Ser privado de saber isso estar, realmente, desamparadocomo bem o sabe o governo marxista que probe a pregao sobre as coisas do porvir nos sermesdasigrejas.H,defato, uma razo mais sutil para cortar toda e qualquer referncia a livroscomo Daniel, pois estes enfraquecem a confiana em governos humanos de um modo geral e, em particular, naqueles que dependem de uma tirania soberba e arrogante. Quem dera a igreja levasse toasriocomoos comunistas o ensino positivo deste livro, beneficiando-se assim do incentivo que ele d ao servio corajoso e confiante.Na verdade o livro de Daniel esteve sob eclipse no mundo da teologia acadmica por mais de um sculo. No precisamos ir longe para buscar a razo disso, pois a herana da erudio bblica do sculo dezenove nos deixouhipotecados naesferaapocalptica.3 A escola do criticismo literriodeWellhauseneDuhmcolocoucritriosdeaceitabilidadequeexcluramos livrosapocalpticos erelegaramaprofecia ps-exlica em gerala um lugar de menor importncia. Assim, para ser aprovado, um livro(1)W. Pannenbeig, Basic Questions inTheology, I (SCM Press, 1970), p. 19.(2)Artigopublicadoem East Asia MiUions, boletim da Overseas Missionary Fellowship, dezembro de 1973.(3)K.Koch,TheRediscoveryo fApocalyptic(SCMPress,1972), p.36.- 16-INTRODUOdoAntigoTestamentotinhaque falar em termos histricos para uma situao historicamente constatvel. Os profetas do sculo oitavo, por exemplo, podiam ser vistos sedirigindo situao poltica, econmica e religiosa dos seus dias* e na medida em que o faziam sua mensagem era aceita como autntica. Quando parecia que se desviavam, como por exemplo quando olhavam adiante para uma era de prosperidade e bno, tais passagens eram julgadascomoinautnticas,acrscimos de um editor posterior. Por este critrio uma boa parteda literatura proftica se tornou pouco valorizada, especialmente os textos que no podiam serdatados com segurana pelo fatode aluses histricas serem usadas como artifcios literrios para transmitirosinsights espirituais do profeta. Foi esse o caso com Zacarias 9-14, uma parte muito negligenciada da literatura proftica, e com algumasseesdolivrodeIsaas,tais como os captulos24-27, quepareciamnoseencaixardentrodo contexto histrico do sculo oitavo a.C. Tornou-se inclusive costume a postulaode um grande hiato entre o exlio e o Novo Testamento, sendo toda a profecia desse perodo considerada de status inferior, destituda de originalidade e em grande parte uma imitaodeobrasmaisantigasemelhores.A sorte da literatura apocalpticafoiaindapior, sendoconsiderada como uma tentativa desesperada de fazer reviver as esperanas quando tudo estava perdido; era estimada como sendo o resultado de especulao humana, escrita para satisfazer a curiosidade humana, sem nenhum interesse na salvao.4Apesar dessa corrosiva influncia vinda do Continente, houve eruditosnaGr-Bretanhaquesedevotaram literatura apocalptica, notavelmenteR.H.Charles,cujolivro ApocryphaandPseudepigraphao fthe OldTestament publicado em1913, tornou disponveis os textos de livros que de outra forma seriam inacessveis, acrescentando a eles um comentrio e provendo, com isso, um vasto pano-de-fundo para o seu comentrio sobreDaniel.TheRelevanceo fApocalyptic,deH.H.Rowley(1944)* OldTestamentApocalypticdeS.B.Frost(1952)eTheMethodand MessageofJewishApocalyptic,deD.S.Russell(1964), continuaram a manteroassuntonapauta,semcontudorestauraraconfiana no valor intrnsecodaapocalpticabblica.Umamudananesseestadode coisas(4)O.Cullmann, SalvationinHistory(SCMPress,1967), p. 80. Cullmann sedissociadesteponto-de-vista, e argumenta por um uso neutro em oposio a um uso depreciativo do teimo apocalptico.()Trad.portuguesaAImportnciadaLiteraturaApocalptica(Ed.Pauli- nas, 1980).-17DANIELhavera de ocorrer dentro das fileiras daqueles queestabeleceram a escola do crticismo literrio, a saber, os telogos das universidades da Alemanha.Desde o fim da Segunda Guerra Mundial tal mudana vem se fazendo sentir,e evidncias dela chegaram ao mundo de fala inglesa por meiodas traduesdasobrasdeWolfhartPannenberg,daUniversidade de Mainz. No mnimo podemos dizer que a antiga posio, de h muito arraigada, foi efetivamente desafiada. Na opinio de Klaus Koch, Com Wolfhart Pannenbergorenascimentodaapocalpticanateologiadeps-guerrateveseu incio...Ele leva a uma expressa aceitao, no apenas das idias apocalpticas mas do quadro total doapocalipticismo.5ArazoparaumareviravoltatograndequePannenbergdesafiou as vrias pressuposies com relao histria que sustentavam o antigoponto-de-vista.Entreestasestoaanlisehistrico-crticacomo a verificao cientfica dos eventos, a qual parece que no deixava nenhum lugar para os eventos redentivos; a teologia existencial que dissolve a histriatransformando-anahistoricidadedaexistncia, ea idia de que o contedorealdafsupra-histrico.6 Eleargumenta quea histria comorealidadeacessvel atravs da revelao bblica, e que a histria necessita de um horizonte universal para que eventos individuais possam ser apreciados em sua significao total. Sem histria mundial no h sentido na histria.Somente um ponto-de-vista baseado na histria mundial pode prover uma base adequada para a diviso do curso da histria em perodos.7 Embora Pannenberg se refira no a tais divises de tempo como ocorrememDaniel mas s divises de carter mais geral que criam as seesdeummanualdehistria,oque ele est dizendo tem uma relao importantecomtodaa literatura na Bblia que chamamos deapocalptica. Assim, em sua compreenso da histria, Daniel, longe de ser relegadoaumpapel secundrio, se coloca na interseo entreos Testamentos, naencruzilhadada histria.Fazpartedoconsidervelvolumede literatura que faz a ponte entre o Antigo Testamento e o Novo, e assim prov umanecessriapreparaoparaacompreensodoministriodeJ esus.Temosqueesperarpara ver se o movimento centrado em torno de Pannenbergvaiconseguir mudaropensamento teolgico na Alemanha a pontodeospreconceitos de mais de um sculo darem lugar a uma apre(5)K. Koch, op.cit., p. 101.(6)ParaumaexposiocompletadessatesevejaPannenberg,op.cit., pgs. 69 e segs.(7)Ibid.,p.69.- 18-INTRODUOciaopositivada literaturaapocalptica da Bblia. Klaus Koch otimistacomrelaoaisso:Atravs das tentativas de compreender uma nova maneiraoobscuropoderdaapocalptica,umnovo movimentofezde modoineludvelsuaentrada nateologia; um movimento que poder ser salutar,setrouxercomoconseqncia uma diligenteelaborao e avaliaodomaterial.8 VoltaraestudarolivrodeDaniel,portanto, algo quevembem a tempo; mas no somente por causa do pensamento atual nomundoerudito.Aigrejatodatemnecessidadedaespciedereafirmaoqueumestudodestelivropodetrazer,enomenosemvista das reivindicaes marxista de possurem a chave da histria e de serem capazesdeproduzir, porestratgia humana, um utpico governo mundial. Nodeseassombrarqueaigrejasetomederrotistaquandopede ladoumaparteimportanteda compreenso bblica da histria. Alm do mais,suaevangelizaosetomainefetivasemamensagemdoslivros apocalpticos.Quandoaigrejadeixauma partedasua mensagemfugir, pornegligncia,aspessoasvoprocurarumsubstitutoemoutrolugar. Aigrejastem de acusar a si mesma se, na mentede muitos, a f numa dialtica impessoal tomou o lugar da f no Poderoso Deus como o controlador da histria. O secularismo nega o sobrenatural. Razo tanto mais forte, ento, por que a igreja necessita de contar com as certezas e convices proclamadasemDaniel,dequeDeusestconstantemente governando e julgandoasquestes humanas, derrubando os poderosos dos seus tronos, subvertendoregimesinjustosetrazendoefetivamenteoSeureino,que abarcar todas as naes. Uma plena e confiante proclamao do propsito de Deus para o todo da histria tem de ser ouvida sem demora.Asseverartantacoisa,contudo,pareceringnuo,comosefosse fcil expor um livro que tem, ao menos em certas passagens-chave, desbaratadoosmaisaptosexpositores.Asopiniesestodivididasemquase cadaassunto.0caminhoaseguirdeverser,portanto, dar conta dessas diferenasdeopinio,apresent-lastoobjetivamentequantopossvel, juntamentecomas razes que lhes so subjacentes, e indicar o que parece a mim ser o trilho certo que expe a verdade.(8)K. Koch, TheRediscovery o fApocalyptic, p. 131.-19-DANIELI .UMA OLHADA PRELIMINAR NO LIVROConformeasdatas dadas no texto, os doze captulos de Daniel cobrem todo o perodo do exlio. O livro comea com informaes que nos levam ao ano de 605 a.C., quando Nabucodonosor pela primeira vez colocavaos ps na regio Siro-palestina, depois de ter derrotado e perseguido oexrcitoegpcio; ealtimadata mencionada oterceiroanodorei Ciro,537a.C.(cf.10:1), logoapso primeiro grupo de exilados ter retomadoaJ ud para reconstruir as suas runas. O livro sedivide em duas partes iguais: os captulos1a 6, relatando incidentes que ocorreram com Danieleseusamigos, eos captulos7a12,quesocronologicamente superpostosecontam,comdetalhes,quatrovisesquevieramaDaniel quando j era homem velho.Umaoutra maneiradedividiro livroobservar o uso deduas diferentes lnguas, pois embora o livro inicie em hebraico (1:1-2:4a), continuadepois em aramaico, at o fim do captulo 7, retomando por fim ao hebraico.Ocernearamaicodo livro liga,assim, assuas duas metades e sugere a sua unidade.9Comoseucontedodatadonosculosexto,serianaturalbuscar a opano-de-fundoqueprovesse o contexto histrico para o livro; nesse ponto,porm,oestudanteseapercebequeamaioriados comentrios apontam para outra direo, pois quase sem exceo tomado como certoqueolivrotenhasidoescritoem respostaaumaameaareligiosae poltica que pairava sobre a J udia, no segundo sculo a.C. O autor, usando material lendrio bem conhecido de seus compatriotas judeus, e acrescentando as vises para fazer a ponte ao curso da histria entre o exlio e seusprpriosdias,estavaencorajandoaoposioaoopressorestrangeiro e incitando os fiis batalha. Este ponto-de-vista mantido to firmementequemuitoscomentaristasnemsequerexpemasrazesparaas suasafirmaesconcernentesdatao do livro no segundo sculo. Essa tarefa foi bem executada por S. R. Driver no incio do sculo10e o leitor notemcoisamelhorafazerdoqueexaminar os argumentos com seus prpriosolhos,sempretendo em mente, contudo, que embora ele considerasse provvel que o livro tivesse sido escrito em168 ou167 a.C., estavaconvencidodequeaevidnciainterna mostrava que eleno podera ter sido escrito antes de c. 300 a.C., e na Palestina. Suas razes para tomar(9)Para uma discusso referente unidade do livro, veja abaixo, pgs. 38-50.(10)LOT,pgs. 497-515;CB,pgs. xlvii4xxvi.- 20-INTRODUOessaposiosoapresentadasa partirdetrsngulos: histrico, lings- ticoeteolgico.Umconhecimento maior das lnguas antigas tomou necessrias modificaes no argumento lingstico, o que levado em consideraoporAageBentzen;11 houve, contudo, poucas mudanas na apresentaoclssicado argumento histricodesde Driver, a despeito do lapsodetempoedocrescentevolumededocumentosquevieram luz, tendo relao com esse perodo histrico.II.QUESTES HISTRICASumfatoqueolivrodeDanielserefereapessoaseeventosde outra "formadesconhecidos,tantopeloslivrosbblicoscomopelahistriasecular.Arazoparaissopoderiaserqueoautortinha um motivoparticularparamencion-los,enquantooutrososignoraramcomo sendoirrelevantesaosseuspropsitos;poderiaserqueoautordeDanieltivessesuasprpriasfontesdeinformao, asquaisat agora ainda no vieram luz, e talvez nunca venham; ou poderia ser que o autor vivia tantotempodepoisdos eventos aos quais se referiu que s tinha um conhecimento bastante imperfeito dos dados histricos relevantes, incorrendo assim em erros. A maioria dos estudiosos tem assumido a ltima explicaocomoamaisprovvel,mesmolevando-seemcontaqueoautor poderiaterevitadoalgunsdosalegados erros por uma simples referncia aoslivroshistricosdoAntigoTestamentoeaosprofetas,quedeviam ser acessveis em J erusalm a pelo segundo sculo a.C.a)O cerco de Jerusalm e oterceiro ano de Jeoaquim (Dn 1:1)Com a acurada erudio que lhe caracterstica, S. R. Driver admite queaafirmaodoprimeiroversculodolivrono pode, estritamente falando,serrefutada,mas diz que altamente improvvel: no apenas h um silncio sobre isso no livro deReis, mas J eremias, no ano seguinte (c.25,&c...), fala dos caldeus de um modo que parece implicar claramentequeosseusexrcitosaindanotinham, sidovistosemJ udpor este tempo.12(11)A.Bentzen, IntroduoaoAntigoTestamento, II (So Paulo, ASTE), pgs. 225,226.(12)LOT, p.498.-21-DANIELverdadequnohnenhumamenode umcerco a J erusalm nessapocaemIIReis,emboraolivrodiga que nosdiasdeJ eoaquim subiuNabucodonosor,reideBabilnia, contra ele, e ele, por trs anos, ficouseuservo(IIRs24:1),eCrnicasacrescente- quesubiu, pois, contra ele Nabucodonosor, rei de Babilnia, e o amarrou com duas cadeias de bronze, para o levar a Babilnia (II Cr 36:6). A presena de Nabucodonosor em J erusalm assim duplamente atestada antes do cerco de 597 a.C.,queocorreunostimoanodoseureinado, logoaps amorte de J eoaquim, no seu dcimo-primeiro ano (II Rs 246-10).A publicaodas Crnicas Babilnicas no Museu Britnico13tomou disponvelumafonte independentede informao exata, relacionada aos eventos da ascenso de Nabucodonosor ao trono. A seguinte tabela mostra osdetalhes,tal como podem ser reconstrudos a partir dos dados babil- nicos, dos acontecimentos do ano 605 a.C.:J aneiro/FevereiroAbril/Agosto(provavelmenteMaio/J unho)15 de Agosto 7 de SetembroOexrcitoretomadeuma campanha para a Babilnia.ABatalha de Carquenris, depois da qualNabucodonosorperseguiu os egpcios rumo ao sul, conquistando toda a terra de Hatti (i. e., Sria-Palestina).MortedeNabopolassar, pai de Nabucodonosor.Ascenso de Nabucodonosor.luzdessas informaes,a veracidadedasafirmaes bblicas comeaaparecerprovvel.J eoaquimhaviasidocolocado notronopelo fara egpcio Neco (II Rs 2334) e por isso Nabucodonosor, ao tomar tudo que pertencia ao rei egpcio (I I Rs 24:7) incluira a necessariamente o rei de J ud. Essa seria, ento, a ocasio em que J eoaquim se tomou seu servo e foi amarrado com cadeias para ser levado a Babilnia. Se ele realmentefez essa jornada ou no, no temos condies de saber. Vemos, ento, queaBbliaconsistenteemafirmarqueNabucodonosorfezpresso sobreJ erusalme seu rei; e a evidncia babilnica deixa uma margem de tempo para que ele efetivamente o tenha feito. Fica tambm claro porque(13)D. J . Wiseman, Chronicleso fChaldeanKings (626-556 BC)(Londres, 1956).Cf.A.K. Grayson, Assyrian and Babylonian Chronicles,Texts FromCunei- form Sources, V (Nova Iorque, 1975).- 22-INTRODUOodesfechodeixado um tanto vago. A mortede seu pai tornou imperativo o retomo do prncipe herdeiro (ele j era chamado, prolepticamente, derei, como podemos ver em J r 46:2); ele teria dedeixar o exrcito sob ocomandodos seus generais e voltar o mais depressa possvel para Babilnia, tal como vemos na narrativa de Beroso.14AsegundadificuldadeemDaniel1:1, ainda que bem menor, surge dedentro da prpria Bblia; enquanto Daniel data a interveno de Nabu- codonosor no terceiro ano de J eoaquim, J eremias 46:2 d o quarto ano de J eoaquim como a data da batalha de Carquemis (cf. J r 25:1, onde do quarto ano de J eoaquim se diz ser o primeiro do reinado de Nabucodonosor). hoje bem sabido que havia dois mtodos de se contar os anos de um reinado em uso no Antigo Oriente Mdio: o primeiro, o mais usual nos livros histricosdoAntigoTestamento, contavaos mesesentreaascensodo rei e o ano novo como um ano completo, enquanto que o segundo, o mtodo mais usualna Babilnia,chamava esses mesesdeanoda ascenso, comeando a contagem dos anos do reinado a partir do primeiro ano novo. A data em Daniel parecera ento ter provindo de uma fonte compilada na Babilnia, ao passo que a de J eremias seria de uma fonte palestina; corretamenteentendidas,ento,nohdiscrepnciaentreasduas.15Se a invaso de Nabucodonosor podera ser descrita como tendo lugar no terceiro ano de J eoaquim ou no, dependedo perodo do ano em queeracelebradoo Ano Novo e de se saber em qual parte do ano J eoaquim subiu ao trono. No sistema do ano de ascenso e com um Ano Novonooutono,seuprimeiroanoiriadesetembrode 608 a setembrode 607, o segundo entre 607 e 606 e o terceiro de setembro de 606 a outubrode605.Esteltimoperodoseencaixariabem com a afirmao de Daniel1:1, emtermoscronolgicos.16 Estaafirmao, emboranoestejalivredeincertezas, pode no obstante ser encarada como uma possibilidade,e,enquantoassimfor,nodeveriaserrejeitadacomosendo inexata.(14)Em J osefo, Contra Apionem i.19. Veja tambm D. J . Wiseman, Chroni- cleso f ChaldeanKings,pgs.2S-27; eSomeHistoricalProblemsintheBookof Danielem Notes on Some Problemsinthe Book o fDaniel (Tyndale Press, 1965), pgs. 16-18.,(15)Umaaplicaodos assimchamadossistemasdeps-datao eano de ascenso data da soltura de J eoaquim, e por isso sem preconceitos em relao a Daniel1:1, podeser encontradaemR.H.Sack, Amel-Marduk562-560 BC{Alter OrientundAltesTestament,4,1912),p.2$.(16)A.R.Millard,Daniel1-6andHistory, EQ, XLIX,2,1977, p.69.-23DANIELb)0Rei BelsazarTrs captulos de Daniel so datados com referncia a este soberano e no entanto, como o mostra qualquer lista de reis da Babilnia, no houvereicomessenomeno perodo neo-babilnico. Bl-ar-usur, como o seunometransliteradodaescritacuneiforme,foiofilhomais velhodo ltimoreideBabilnia,Nabonido,sendofreqntementenomeadonos tabletes de contratos porque como prncipe herdeiro atuava como regente na ausncia de seu pai.17 Uma vez que Nabonido esteve em campanhas na Arbiapordezanos,noretomandosenodepoisdaquedadeBabilnia,Belsazarfoiefetivamenteo rei l por mais da metadedo reinado de dezesseteanosdeseupai.Almdo maisseupaiconfiouoremadoa ele18 eo nome de Belsazar aparece associado ao do rei nas frmulas de juramento daquele reinado.1920Uma vez que isso no aconteceu a nenhum outroreiemtodaa histria da Babilnia, vemos que Belsazar foi rei em tudomenosnonome.Hevidnciadequeeletenharecebidodireitos reaiseexercidoprerrogativasde um monarca; no podia, contudo, ter o ttulode rei nos registros oficiais porque, enquanto seu pai vivia, ele no poderacumpriroritualdetomaras mosdeBelnaFestadoAno Novo, um ato realizado somente pelo rei.Umavezque Belsazar era, ento, na prtica o rei, no deixa de ser pedantea acusao feita ao autor do livro de Daniel,de errar em cham- loBelsazar,orei.Elainadequadaespecialmenteemvista de Daniel 5:7,16, 29, onde a recompensa por ler o misterioso escrito era ser feito a terceira autoridade no reino. Evidentemente o autor sabia que Belsazar era o segundo, depois de seu pai Nabonido.201(17)Veja, porexemplo, YaleBabilonian Collection, No. 39, publicado por A. T. Clay (1915) e citado em AAET, pgs. 309,310,no. 5.(18)R.P.Dougherty, Nabonidus and Belshazzar (Yale Oriental Series, XV, 1929),pgs.105-111;SidneySmith, BabylonianHistoricalTexts (Londres,1924), pgs. 84,88.(19)Dougherty,op. t . , pgs. 96-97.(20)J .V.Kinnier Wilson(The NimrudWineLists[Londres,1972], p.7) mostrou evidncias de um tipo de triunvirato nas capitais da Assria e em certas capitais de provncias. H, por exemplo, um texto de Assur que se refere a hazannus (prefeitos)do Porto Ashur, do Prto Shamash e doPorto Tigris, perfazendo, assim, trs. Outro texto fala do segundo e do terceirohazannu. Embora essa informaopossa ter relevncia para o texto de Daniel 5, sua aplicao para a Babilnia deve permenecer apenas tentativa.- 24-INTRODUOUmasegundaobjeo que levantada em conexo com a historici- dade de Belsazar a sua linhagem. Cinco vezes no captulo 5 Nabucodono- zorreferidocomosendo seu pai,sendoBelsazarchamadoseufilho (5:22).Muitasvezestem-selevantadoa suposio de que o conhecimento que o autor tinha desse perodo era to defeituoso que ele pensava que BelsazareraliteralmentefilhodeNabucodonosor,conquantosaibamos queseupaifoiNabonido,filhodeumnobrebabilnico, Nab-balatsu- iqbi.Temosdeteremmentequeostermospai efilho so usados figurativamente no Antigo Testamento, por diversas vezes. Eliseu chamou Eliasde meu pai (II Rs 2:12);filhos dosprofetas eram os seus discpulos,ehalgumaevidnciadequereisproeminentesderam seu nome asucessoresquenoeramdasuadinastia.21 EmIEsdras3:7; 4:42 h uminteressante exemplo de um rei conferindo como um prmio a honra deserchamadoseuparente,ouprimo.Contudo,aconstanterepetio dotema pai-filho em Daniel 5 parece implicar mais do que isso, como se a legitimidade do rei pudesse estar sob ataque.ApossibilidadedequeNabonidotivessesecasadocomuma filha deNabucodonosoredequeBelsazar fosse neto do grande rei foi exploradaporR.P.Dougherty.22 Atualmentetudoindicaque foi Nerighssar quecasoucomKa&,filhadeNabucodonosor,equeeleprprioera nascidoemumalinhagemcomconexesreais.Ofilhodesta uniofoi Labashi-Marduk,quefoidepostoemfavorde Nabonido, cuja me era a poderosaedominadoraAdad-Guppiecujopaidesconhecido.A insistncia do texto de Daniel na expresso rei Nabucodonosor, teu pai (av) pode representar a verdade literal.23Em resumo, o captulo contm detalhes circunstanciais. Considerando-sequedentrodepoucas dcadas depois da queda de Babilnia Belsazar se tornou praticamente esquecido na histria, temos aqui uma importante evidncia de um testemunho contemporneo.24(21)P. ex., oObelisco Negro de Salmanezer, esculpido em c. 830 a.C., chama o revolucionrio J e defilho de Onri. muito improvvel que Salmanezer III, que conduziu vrias campanhas na Sria-Palestina entre 859 e 841, no soubesse que J e matou os descendentes de Onri em 841 a.C.(22)Nabonidus and Belshazzar, pgs. 63-80.(23)A.R. Millard,DanielI S andHistory, EQ, XUX,2,1977, p.72.(24)Cf. R. P. Dougherty, op. cit., pgs. 199,200.- 25-DANIELc)Dario, o MedoDepoisdoassassinatodeBelsazar,quemarcouofimdoimprio babilnico,oautordizqueDario,oMedo,recebeuoreino(5:30)e 6:28pareceimplicarqueesseDarioprecedeuaCiro.Considerando-se queCiroeramuitoconhecidodoslivrosbblicos como o libertador dos judeusdaBabilnia,essefoiumerroextraordinrio(IICr36:22-23; Ed1:1-8;3:7;4:5;5:13-6:14;Is45:1).ComohouveumDarionotronopersade522a486,DarioIHistaspesou Dario, o Grande, tem sido comumenteassumidoqueoautorconfundiu tanto a histria que pensavaqueesseDariohaviaprecedidoaCiro(reiemBabilniaentre539530 a.C.). Alega-se que ele estava escrevendohistria consoladora a partir do que voc consegue se lembrar.Aessaaltura ser til examinarmos o que dito sobre Dario no livrode Daniel. Primeiramente ele chamado Dario, o Medo (5:31), talvez para distingui-lo de Dario Histaspes, e sua idade dada,cerca de sessenta edois anos. A julgar pela durao do seu reino (36 anos), dificilmente DarioHistaspesteriatidosessenta e dois anos de idade quando subiu ao trono.SobreDario,o Medo,aindadito querecebeu o reino (ARA, seapoderou), uma expresso que H. H. Rowley demonstrou no significarmaisdoqueelesucedeuaalgum no trono.25 Nocaptulo6 ele chamadorei28vezes editoque, porinstigaodosstrapas porele designados,fezpassar umdecretoqueeleprprio no tinha poder para revogar.OcaptuloterminacomaasseveraodequeDanielprosperounoreinadodeDario, enoreinadodeCiro,opersa(6:28),oque poderiaserentendidocomoimplicandoemqueambosestivessemreinandoaomesmotempoouqueumseguiuao outro. Compare com Daniel1:21,ondesedizqueDanielcontinuouatoprimeiroanodorei Ciro. Dasduasrefernciasrestantes a Dario,11:1meramente reitera que eleera ummedo, enquantoque9:1trazdetalhes especficos: ele era filhodeAssuero,da linhagemdosmedos,que foi constitudo rei sobre o reino dos caldeus. luzdetodasessas informaes,ficaclaroque o autor no estavamalinformadocomrespeitoaessesoberano.Defato,comoJ .C. Whitcombafirma,olivrodeDanield bemmais informaesconcer(25)H.H.Rowley,Dariusthe MedeandtheFourWorld Empiresinthe Book o fDaniel (Cardiff, 1935), p. 52.- 26-INTRODUOnentesvidapessoaldeDario,omedo,doquedeBelsazaroumesmo deNabucodonosor.Poisele o nico monarca no livro cuja idade, filiao e nacionalidade so registrados.26 Supor que Dario o medo no existiu,desprezandoassimaevidnciaprovidaporestelivroumaatitude arbitrriaeinsensata,especialmente luz da sua vindicao em conexo com Belsazar, que houve tempo em queera contado como sendo uma figurafictcia.Deve ser dada a devida considerao a possveis explicaes dasaparentesdiscrepncias,antesdeseprocederem s acusaes de que houve a um engano de identificao.Os textos histricos cuneiformes que revelaram a identidade de Bel- saza tambm lanam luz sobre os acontecimentos relacionados com a quedadoimpriobabilnico,em539 a.C. Duas figuras at ento desconhecidas sodestacadas na queda da cidade de Babilnia: Ugbaru, que morreu trs semanasdepois, e Gubaru, que frequentemente mencionado em diferentestextoscomogovernadordeBabilniaedodistritoqueficava aqumdoRio.27 Olmstead,escrevendosobre Gubaru(usandoaforma gregadonome,Gobrias),fazaseguintedeclarao,comrespeitoaos seuspoderes:Nassuasrelaescomseussditos babilnicos,Ciroera reideBabilnia,reidetodasas terras... Porm Gobrias foi o stra- paquerepresentava a autoridade real depois da partida do rei... Sobre toda a vasta extenso do territrio frtil (i.e., Babilnia e o distrito aqum doRioEufrates),Gobriasgovernouquasecomoummonarca independente.28 AtesedeWhitcombqueDarioomedo era um nome alternativo para Gubaru, e que os detalhes dos incidentes em Daniel seriam satisfatoriamente enquadrados com a pessoa desse governador. Ciro no ficou muitotemponaBabilnia; presumivelmente,porm,o tempo suficiente(26)J .C. Whitcomb,Darius the Mede (Eeimans, 1959), p. 8.(27)Ibid., pgs. 10-16. Infelizmente, quando a Crnica de Nabonido foi pela primeira vez publicada, em 1880, no se fez distino entre os dois nomes, Ugbaru e Gubaru. A confuso da resultante, no reconhecida mesmo depois da correo feita por Sidney Smith, em Babylonian Historical Texts, invalidou muito trabalho erudito, inclusive a argumentao de H. H. Rowley em Darius the Mede and the Four World Empires inthe Book o fDaniel; cf. J . C. Whitcomb, op.cit., pgs. 26 e segs.. A CrnicadeNabonidoencontra-seagora re-editada na obra de A. K. Grayson, Assyrian and BabylonianChronicles, pgs. 104-111. Na p.109 ele diz: SeUgbaru idntico ao Gubaru de in, 20, algo incerto. Certamente nenhum dos dois pode ser identificado com Gobrias,governador de Babilnia, como sugeriu Smith, BHT, pgs. 121 e segs.(28)A.T.Olmstead,TheHistoryo fthePersianEmpire(Chicago,1948), pgs. 71 e 56. Citado por Whitcomb, na p. 24.- 27-DANIELpara comissionar o retorno dos exilados a suas prprias terras, e particularmente o dos judeus a J erusalm (Ed1). Depois de uns poucos meses voltou a Ecbatana, deixando Gobrias como seu representante.29Se for levantadaaobjeode que, nesse caso, ele no deveria ser chamado derei, comoopor28vezesem Daniel 6, Whitcomb responde argumentando quenoaramaicoasutildistinoentretermostaiscomoobabilnico pihatu(governadordodistrito)eopersakhshathrapva(strapa) nopoderiaserexpressadaanoserrecorrendo-seaousodapalavra estrangeira.Ofato,contudo,queoautordeDanielfezessasdistines.Esteum pontofraco na hiptese de Whitcomb. O termo aramaicomalk,usadotambmcomrefernciaaBelsazar,erapassvelde umaaplicaomaisampladoqueoestritosignificadoderei, sendo apropriadoparaGubaru,queeraogovernanteefetivonaausnciade Ciro.Aolongodesuabemarticulada monografia, Whitcombesclarece diversasquestesderelevnciaparaahistriadesseperodo.Umadas mais importantesadasituaoda Mdiaduranteoimprio neo-babi- lnico.Foiaterra paraaqualalguns israelitas haviamsidodeportados depoisdaquedadeSamaria,sendonaqueletempopartedo imprio assrio.Osmedos, porm,sedestacaramnasguerrasquepuseramfimao mesmo,sendobemsucedidosnoestabelecimentodoseuprprioimprio. Foi por medo deles que Nabucodonosor construiu uma grande cadeia defortificaes,visandotomaroseureinoinexpugnvel.Em559a.C., oreivassaloCiroII, buscandovencere impor-sesobreo chefe-supremo dosmedos,entrouemaliana com Nabonido, de Babilnia. E assim, em 550,a Mdia deixou de ser uma nao separada, tornando-se a primeira satrapia,Mada.Noobstante,aestreitarelaoentrepersasemedos nunca foi esquecida. . .Os medos eram honrados do mesmo modo que os persas. . .Estrangeiros habitualmente falavam dos medos e persas; e quando usavam um nico termo, erao meda.30 Dessa poca em diante, portanto,era um imprio conjunto, embora encabeado por Ciro. ImportantesevidnciascontemporneassoprovidaspelaesteiadeHar, na qual Nabonidofazumrelatriodos acontecimentos do seu perododereinado.Escrevendonoseudcimoano(546a.C.) ele se refere aos reis do Egito, dos medas edos rabes. O professor D. J . Wiseman menciona que(29)Olmstead, op.cit., p. 71. Gobrias, governador de Babilnia e Daqum do Rio, parece ter tomado posse no quarto ano de Ciro.(30)Ibid., p. 37.- 28-INTRODUOo rei dos medas por esse tempo, quatro anos depois de ele ter conquistado a Mdia, no podia ser outro senoCiro, e conclui que na Babilnia Ciro usava o ttulo deRei dos Medas ao lado do mais geralmente usado Rei da Prsi a....31Esta ltima citao partedo argumentodo professor Wiseman em defesadasuaprpriateoriacomrespeito a Dario o meda, que apareceu pela primeira vez em1957, e que identifica Dario o meda com Ciro, o persa.32 Embora no haja evidncia de que Gubaru tenha sido um meda, chamadoderei,denomeDario,filhodeAssuero,ou quetenha tido cerca de60 anos; Ciro sabidamente relacionado com os medas, sabe-se que foi chamado derei dos medas e que tinha mais ou menos 60 anos quando se tornou rei de Babilnia. Essa sugesto requer que Daniel 6:28 seja traduzidodessaforma:Daniel,pois,prosperounoreinadodeDario,isto, noreinadodeCiro,opersa.Este freqentementeo sentido da partculahebraicaqueusualmente entendida como a conjunoe; e realmenteexemplosde um uso nesse sentido podem ser encontrados em outras partes do livro: alguns dos filhos de Israel, assim da linhagem real comodos nobres (1:3); odocumento e interdito (6:9; ARA, a escrituraeointerdito;BJ ,odocumento com o interdito) fica assim sendo simplesmenteo documento (v.10; a escritura, ARA), provando que oescritorconsideravaasduas palavrascomosinnimas.J ames Barr, comentandosobre7:1,diz quealguns pensam que o e aqui explicativo,ouseja,teveDanielumsonho, isto,visesdasuacabea (ARA, anteseusolhos).33 Portanto,trata-sedeumusocomum, noape(31)ChristianityToday, II.4, de 25 de novembro de 1957, p. 10. Gtado por Whitcomb, op.cit.,p. 47.(32)Veja tambm NDB, art. Dario, vol. I, pgs. 390,391.(33)IB, p. 451. Estes exemplos e as sugestes que aqui seguem foram mencionadosporD. L. Emery, com correspondncia com o professor Wiseman, que este ltimo generosamente compartilhou comigo. Cf. David W. Baker, E Faz Toda a Diferena: PleonasmonoAntigoTestamento,palestraproferidanoGrupo de EstudodoAntigoTestamentoda Tyndale Fellowship, em Cambridge (1978), e parte deumatesededoutoramentoemfase de concluso. Ele cita diversos textos bblicosemqueoreconhecimentodeumvavexplicativosolucionariaum problema textual.Econclui:Osexemplosapresentadosestocompreendidos,cronologicamente,desdeoscasosna literatura ugarticadosculocatorzea.C., passando por exemplos hebraicos em textos atribudos ao dcimo sculo (Gn 4:4; 13:8) e at aos do perodo ps-exlico (p. ex., Ne 1:10; II Cr 2927),bem como do aramaico do sculoquinto(AP11).Noh, portanto, nenhuma razo, em termos cronolgicos, para que Daniel 6 28 no possa ser assim interpretado.-29DANIELnasnoidiomahebraicoemgeral,mastambmnoestilodoautorde Daniel.Conquantosejaverdadequeevidnciassecularesainda nosetenham encontrado com respeito identificao de Dario com Ciro, h algumacorroboraodissona Bblia Grega. Em Dn11:1, a LXX e Teodcio tmCiro em vez de Dario, o meda. Isso sugere que o tradutor grego tinha conhecimento do duplo nome, preferindo usar o que era mais conhecido para evitar queos seus leitores se confundissem. Uma segunda linha de evidnciaencontramos em I Esdras 3:l-5:6, a histria dos Trs Guardies que foram desafiados pelo rei, Dario, para uma competio, que foi vencida por Zorobabel. Como parte do prmio ele pediu que o rei se lembrasse doseu votode reconstruir J erusalm ede restaurar os utenslios do templo.ConseqentementeZorobabelfoienviadopara cumprir qssa misso. Mas, segundo Esdras 4:1-5, Zorobabel se encontrava com certeza em J erusalm antes do reinadode Dario Histaspes. provvel, por isso, que a histriapreservacorretamente o nome Dario, embora I Esdras no faa distinoentreosdoisDarios,deixandotambmdereconhecerqueCiro eoprimeiroDarioso umaea mesma pessoa. A confuso no relato de Esdrasgeralmentereconhecida. J . Barr da opinio de que o Dario da histriadosGuardieseraoriginalmenteCiro.34 Exatamente como se os doisnomespertencessemmesmapessoa. Talcompreensoda situao tambmevitao absurdo que representaria o mesmo homem ter autorizado a reconstruo do Templo e mandado mil cavaleiros e msicos para escoltarosconstrutores (IEsdras 5:1-3), presumivelmente no seu primeiro ano, e logo depois, no segundo ano (I Esdras 6:23) ter que mandar pesquisarnosarquivospara verificaraalegadapermissoparaareconstruo. luz de tais equvocos que a cuidadosa documentao do autor de Danielpode ser mais bem apreciada. Para ele, era importante esclarecer que o Dario ao qual se referia erao meda. D. J . Wiseman assinala ainda que na descrio do posterior Dario (II) comoo persa (Ne12:22) poderia estar implicada a necessidade de se distinguir o rei cm esse nomedeoutro conhecido na Babilnia como Dario, o meda.3SEmborasejaverdadequeaidentidadede Dario no pode ser estabelecidacomsegurananopresenteestadodonossoconhecimento,h demasiadasevidnciasdelecomosendoumapessoa histrica para impedirasuatotalrejeio.Simplesmenteno funciona mais desprez-lo co(34)PCB2, p.373.(35)Em Notes on Some Problems inthe Book o fDaniel, p. 14.- 30-INTRODUOmo fico e construir sobre essa fico a teoria de que o autor acreditava existir um imprio meda separado.36d)0uso do termoCaldeuApalavracaldeuusadaemdoissentidosno livrodeDaniel: primeiro,paradesignarospovosdosuldaBabilnia,deorigemsem- tica,que se estabeleceram ao redor do Golfo Prsico nos sculos12 e11 a.C.,equeeramchamadospelosbabilniosdecaldeus(Dn5:30;.9:1); emsegundo lugar,comrefernciaastrologia pela qual essa gente erafamosa(2:2, 4, 5, etc.), no sendo este um uso babilnico do termo. DevezqueNabucodonosorera um caldeu por descendncia, o uso tnico do termo no livrode Daniel no causa surpresa; e o seu uso por Her- doto37 comoumtermotcnicoparaossacerdotesde Bel no quinto sculoa.C.mostraqueporaquele tempo ele j tinha um sentido secundrio. No h nada de imprprio no uso do termo em ambos os sentidos, e nemdeveriaissocausar confuso;seria maisoumenoscomoo usoda palavraportuguesaciganoparaexpressartanto umapessoa dessa raa denmades como um andarilho qualquer (no fazendo, por conseguinte, distino entredescendncia e estilo-de-vida). desnecessrio dizer que os primeiros no usariam a palavra em ambos os sentidos.Emboraotermocaldeutenhasidousadocom um sentido tnicoemregistrosassrios do oitavo e stimo sculos, h uma completa ausnciadapalavradosregistrosbabilnicosdo sculo sexto, em qualquer dosseussentidos(aomenosnoquetangeatextosquese encontram nossadisposiohoje).Ousobblico,portanto, ato presente continua semapoio externo,38 porm no se justifica afirmar ser a palavra anacro- nstica com um argumento a partir do silncio.Adiferenaentreaformahebraicadapalavrakdim eda grega,quetransliteraobabilnicokaldyu(deondeoportuguscaldeu)podehojeserexplicadaembasesfilolgicas.Ohebraicoparece preservar uma forma mais antiga da palavra,39sem ser por isso menos acu(36)Veja abaixo, sobre o captulo 8, pg. 66.(37)Histriai.181,183. Para maiores informaes quanto significncia da evidncia fornecida por Herdoto, veja R. K. Harrison./Or, p. 1113.(38)A. R. Millard, Daniel 1-6 and History, ^,XLIX, 2,1977, pgs. 69-71.(39)A.R.Millard,ibid..EleserefereaW.vonSoden,Grundrissder Akkadischen Grammatik, Analecta OrientalitL, 33,47 (Roma, 1969), 30 g.-31DANIELrada que a forma grega, como alguns comentadores tm suposto.40Concluindoestaseosobreaspressuposieshistricasdoautor do livro de Daniel, quero afirmar, e enfatizando, que no h razo para se questionaroseuconhecimentodahistria. As indicaes so de que ele tenhatidoacesso a informaes ainda no disponveis ao historiador dos nossosdiaseque,onde no existem provas conclusivas do contrrio, ele deve ser considerado digno de crdito.I I I .AS LfiSGUAS ORIGINAISComo o livro de Esdras, Daniel escrito parte em hebraico (1 :l-2:4a; 8:1-12:13) e parte em aramaico (2:4b-7:28), uma lngua estreitamente relacionadacomohebraico,tendoa mesma forma de escrita. Temos duas palavras aramaicasemGnesis31:47,oquepoderia indicar que as duas lnguas tenham existido desde cedo lado a lado; e uma curta inscrio na EstladeMilcarted evidnciasdaexistnciadoaramaico nos meados do sculo nono a.C.41 A Bblia d testemunho do uso do aramaico como lnguainternacionalnooitavosculoa.C.(IIRs18:26);eratambm a lngua oficial do imprio persa.Vriassugestes tmsidofeitas para explicar a mudana de lngua nolivrodeDaniel.Amaisconvincentesugerequeoscaptulos2a7 contm aquela parte do livro que seria de interesse para no-judeus, e para quem talvez pudesse ter sido at publicada separadamente. H. H. Row- leyumdosquepensamqueestaseotivesse circulado em separado, postulando,entretanto,que um autor macabeu a tenha usado para encorajararesistnciaentreosseuscompatriotas judeus.42 Outrateoriaa dequeoautortenhadeliberadamente feito uso deduas lnguas diferentesnaestruturaodoseulivro, usandoalnguainternacionalparaos captulos 2 a 7, que continham a mensagem s naes.43(40)P. ex., Porteous, p. 28.(41)D07T, p.239.(42)Sobreestaeoutrasevidnciascomrelao ao assunto, pode-se convenientemente consultar IOT, p. 1133.(43)A.Lenglet,La Structure Littraire de Daniel 2-7, Biblica, 53, 1972, pgs. 169-190. Para maiores detalhes veja a seo VI, abaixo, pgs. 64-67.-32-INTRODUONo passado, contudo, o interesse tem se concentrado no tanto nas razes para o uso das duas lnguas como na evidncia por elas apresentada com relao data em que o livro foi escrito. desnecessrio dizer que o tipodeconhecimentoespecializadoqueserequerparasepoderavaliar os dados e os argumentos neles baseados deixa essa questo para o pequenocrculodaquelesefetivamentepreparadosparapoderememitirum juzo independente. Mesmo assim amplamente reconhecido que precrio tentar estabelecer a data do livro a partir de evidncias lingsticas, especialmentequandoaquantidadedematerialcomparativobastante limitada,comoaindaocasocomohebraicoeoaramaicodo Antigo Testamento.44 Tentativastm sido feitas, no entanto, por diversos eruditosbemconhecidosnestesculo,todoselesdeixando-se guiar por S. R. Drivere o seu muito citado dito: As palavras persas pressupem um perodoemqueo imprio persa j estejabemestabelecido; as palavras gregasexigem,ohebraicoapoiaeo aramaico permite uma data aps a conquistadaPalestinapor AlexandreMagno(332 a.C.).45 Comentadoresmaisrecentes,nemsempredando as razes queos levam a fazer tais declaraes, tm ido ainda mais adiante. N. Porteous, por exemplo, diz que oaramaiconoanterioraoterceirosculoa.C., talvez mesmo do segundosculo.46 DavidF.Hinson,escrevendoprimariamenteparaas igrejasdoscamposmissionrios,dizoseguinte:A linguagem em que o livro escrito favorece a idia de que ele tenha sido composto no tempo deAntocoIV47Sosomentedoisexemplosescolhidosaoacaso para mostraramaneiraemque o argumento lingstico est sendo ainda usado, mesmo que tenha sido deixado pela maioria dos eruditos que se especializam nas lnguas originais, hebraico e aramaico.No que diz respeito ao hebraico, pouco pode ser provado com relao sua data. Embora devam ter ocorrido mudanas nesta lngua no decorrerdossculos, estas nosofceisdeseobservar, e podemos dizer queDboranofalou de modomuitodiferente do que Colet [escritor de Eclesiastes], embora bem mais demilanos os separem.48Um estudo(44)Veja,p.ex.,P.R.Ackroyd,CriteriafortheMaccabeanDating of the Old Testament, VT, III, 1953, pgs. 113-132.(45)LOT, p. 508; os itlicos so do prprio Driver.(46)Porteous, p. 7.(47)D.F.Hinson,OldTestament Introduction2:TheBookso ftheOld Testament(TheologicalEducationFundStudyGuide10)(SPCK,1974), p.129.(48)D.WintonThomas, The Language of the Old Testament, em: H. W. Robinson (ed.),RecordandRevelation (Oxford, 1938), p. 383.- 33 -DANIELdas30expresses alistadas por Driver em apoio a uma data mais recente levou W. J . Martin concluso de que no h nada com relao ao hebraicodeDanielquepossaserconsideradoextraordinriopara umapessoa bilngueou,comotalvezsejaaquiocaso, trilngenosexto sculo a.C.49 Definidamente,ohebraico do livro no pode ser confiantemente assinalado para um sculo mais do que outro.Nocasodoaramaico,oassuntorecebeu um estudo meticuloso da partedevrioseruditosnosinciosdosculo,50 sendo o mais completo odeH.H.Rowley.51 Contudo,otrabalhodeveprosseguirconstantemente,luzdos novos textos aramaicos que esto sendo continuamente publicados,levando-seassimemcontaasemprecrescentecompreenso dos problemas que estes possibilitam; est a a razo de ser do longo artigo escrito por K. A. Kitchen,The Aramaic of Daniel.52Ele estuda: (a) vocabulrio, (b)ortografiaefontica, (c)morfologia geral e sintaxe. Acho queserdeutilidadesumariaraquiasconclusesaqueKitchenchega como resultado de seu judicioso e bem documentado trabalho.Em primeiro lugar se nos mostrado que o aramaico de Daniel e de Esdrasaramaico imperial, em si mesmo praticamente impossvelde se datar com qualquer convico no perodo entre 600 a 330 a.C. Por isso, irrelevantefazerdistinesentrearamaicoorientaleocidental, que se desenvolveu mais tarde.53 A nica indicao de um lugar de origem, surge da ordem das palavras, que revela influncia acadiana, provando que o aramaico de Daniel (e Esdras) pertence mais antiga tradio do aramaicoimperial(sculosstimo-sexto a quarto a.C.) em oposio a derivados palestinianosposterioreselocaisdoaramaicoimperial.54Kitchenfaz umalistadeumbom nmero de eruditos que hoje consideram uma ori-(49)W.J .Martin,TheHebrewof Daniel, em NotesonSome Problems in the Book o fDaniel, p. 30.(50)Mais facilmente acessvel ao leitor em geral o sumrio de Montgomery em ICC, pgs.15-20. uma apresentao do assunto conforme era compreendido em 1927, data do livro.(51)H. H. Rowley, The Aramaic o fthe Old Testament (1929); mas veja tambmR.D.Wilson, em Biblical andTheological Studies by Members o fthe Faculty ofPrincetonTheologicalSeminary (1912), pgs. 261-306.(52)Em Notes on Some Problems in the Book o fDaniel, pgs. 31-79.(53)Ibid.,p.lS.(54)Ibid., p.76. Evidncias para o aramaico palestiniano se encontram nos Rolos do Mar Morto, especialmente o Genesis Apocryphon e o Targum de J.-34-INTRODUOgemoriental(mesopotmica)paraa parte aramaica de Daniel como provvel, embora provas absolutas no possam ser dadas, em virtude da relativa unidadedo aramaico imperial. A concluso de P. W. Coxon, em uma nota filolgica sobre o verbobeberam em Daniel 53, que esta forma pertencesemnenhuma dvida ao aramaico oficial, sendo uma caractersticaespecificamenteoriental.ssIncidentalmente,esemnenhumaconexocomDaniel,falandosobre a data do livro de Enoque, R. H. Charles escreveu,hmuitosanosatrs:0fatodequeoscaptulos VI-XXXVI foramescritosemaramaicofavoreceumadatapr-macabeana; porque quandouma vezumanaorecupera,ou tenta recuperar a sua independncia,sabemos pela histriaqueela tenta fazer reviver a sua lngua nacional.5556 0queverdadeiroparaEnoquepresumivelmente aplicvel tambm a Daniel.Atenotambmtemsidoprestadaaos estrangeirismos no aramaicodeDaniel,sendodeparticularsignificaoaspalavras provindasdo persa e do grego. H. H. Rowley enumera vinte palavras que ele considerava como tendo uma derivao do idioma persa;57checando-as para ver quantasapareciamnosTarguns judaicos(doprimeiro sculo a.C. emdiante), constatouquedozepersistiam.Como comparao ele chamou a ateno a26palavras persas que apareciam na coleo de papiros em aramaico do sculoquinto,deA.E.Cowley58 dasquaissomenteduasapareciam nos Targuns e duas em Daniel. Concluiu assim que a sobrevivncia de palavras persas em Daniel apontava para uma data mais prxima dos Targuns quedosculoquinto.Respondendoaisso, K.A.Kitchen59 destacao fatodequeumgrupodeumasvinte e poucas palavras representa uma basefrgildemaispara um argumento estatstico; que uma comparao deveria tambm ser feita com o vocabulrio do aramaico imperial, incluindo o dos documentos aramaicos publicados desde1923 ; que o tipo de pa-(55)ZAW,89,1977, p. 276. Ele se refere ao argumento de E. Y. Kutscher de que o aramaico de Daniel perpassado com formas orientais, tanto na gramtica comonasintaxe(emT.A. Seboek (ed.), CurrentTrendsin Linguistics, 1970, pgs. 362-366),esugerequeasassimchamadasexpresses prostticasemDanielcorroboram a sua tese de uma origem antiga e oriental para o aramaico do livro.(56)R. H. Charles, The Apocrypha andPseudepigrapha (OUP, 1963), p. 170.(57)H. H. Rowley, The Aramaicof the Old Testament,p. 138.(58)A.E.Cowley,AramaicPapyrio f theFifthCenturyB.C.(Oxford,1923).(59)Em Notes on Some Problems in the Book o fDaniel, pgs. 35-44.35 -DANIELlavras deve ser levado em conta, pois h seis termos que at agora no foramaindaencontradosemescritosposterioresa330a.C.,almdo fato decertostermosnoteremsidocompreendidospelostradutores gregos doAntigoTestamento.Outropontoimportantequeeledestacao de queas palavras persas em Daniel so palavras do persa antigo, isto , pertencentesaoperodoanteriora300a.C.A evidncia, assim, antes em favor de uma data mais antiga que de uma mais recente, e Kitchen conclui dizendo o seguinte (p. 77): Estes fatos sugerem para as palavras persas no aramaico de Daniel uma origem anterior a 300 a.C..Muito se tem dito com relao ocorrncia de palavras gregas no livro, e para o no-especialista a inferncia pode parecer conclusiva no sentido de elas apontarem para um perodo posterior s conquistas de AlexandreMagno.Issoatqueficaclaroqueexistemsomentetrs palavras, e todaselas nomesde instrumentos musicais.60 Mercadorias gregas j eram comercializadasportodooAntigoOrienteMdiodesdeo sculo oitavo a.C.; aparentemente,gregoseramempregadosnaBabilnia no tempo de Nabucodonosor; por isso no h nada de surpreendente no fato de existirem instrumentos musicaisdeorigemgrega e com nomes gregos na Babilnia dosextosculo.Oquerealmentesignificativoohavertopoucas palavrasdeorigemgreganoaramaicodeDaniel.SegundoM.Hengel, desdeotempo dos ptolomeus, J erusalm era uma cidade em que o grego era falado em escala sempre maior.61 A partir dos papiros Zeno pode-sedemonstrarquea lngua grega era conhecida em crculos aristocrticosemilitaresdo judasmoentre260e250a.C.,na Palestina.Ela j eraamplamentedifundidaporocasiodaascensodeAntocoIV,em 175a.C.edificilmenteseriasuprimidamesmoquandodavitoriosa luta delibertaoempreendidapelosmacabeus.62 Doterceirosculoem dianteencontramosquasequeexclusivamenteinscriesgregasnaPalestina.63 Confrontadocomtais evidncias, o fato de no mais que trs palavrasgregasapareceremnoaramaicodeDaniel(sendoestasainda termostcnicos)umargumentocontraumadatanosegundosculo para o livro. prefervel partindo-se das evidncias gregas e persas . . .(60)Sobre a identificao de symphnia(gaita de foles, ARA) veja Notes on Some Problems inthe Book o fDaniel, pgs. 25 e segs.(61)MartinHengel, JudaismandHellenism, I(Fortress Press, Philadelphia, 1974. Tr. por J ohn Bowden do alemo Judentumund Hellenismus2, 1973), p. 104.(62)Ibid., p. 103.(63)Ibid., p. 58.-36INTRODUOcolocaroaramaicodeDanielnosfinsdosculosexto, no quinto ou noquartosculosa.C.,eno no terceiroousegundo. Este tlimo no totalmentedescartado,sendo,contudo,muitomenosrealistaenoto favorecido pelos fatos como j uma vez se imaginava.64ArazopelaqualKitchenchegaaumaconclusodiferentede Rowleynoquedizrespeitodataodoaramaiconoresideapenas naquantidadedenovaliteraturaaramaicadisponveldesde1929; reside tambm uma distino queele faz, e que no foi feita por Rowley, entre ortografiaefontica.Textosemaramaicoantigoeimperialempregavamumaortografia fencia que era, sob vrios aspectos, somente aproximadafonticaaramaica,talcomoerafalada; mudanasnapronncia doaramaico entre os sculos oitavoe quinto a.C. fizeram de tais pronnciasaproximativaselementospuramentehistricos.Descobre-seestes fenmenos por escritos fonticos espordicos e por falsos arcasmos em documentosdavidacotidianaescritosem aramaico imperial. Contrastando com isso, em Daniel e Esdras, queso textos literrios produzidos dentro datradiodeescribas,astransformaesfonticassemostramatravs damodernizao. . . dapronncia, provavelmente no oudepois do terceiro sculo a.C.65 Se for dado o devido reconhecimento a esta modernizao,oaramaicodeDanielpoderiatersidoescrito em qualquer poca entre fins do sculo sexto e o segundo sculo a.C.Eodebatecontinua.EmboraRowleytenhacontestadoasdescobertasdeKitchen,66 estasencontraramapoio(sendorefutadososargumentosdaquele)da partede E. Y. Kutscher, atualmente o principal ara- masta judeu,emseugranderesumo do estado atualdas pesquisas sobre oaramaicoantigo,sendotambmfavoravelmenterecebidaspormais outroslingstas.67 Vemsetornando,conseqentemente,umfatodefinitivamenteaceitoqueadatadeDanielnopodeserdecididasobre(64)K.A.Kitchen,em NotesonSomeProblemsintheBooko fDaniel,p.50.(65)Ibid., p. 78.(66)Em uma resenha,/SS, 11,1966, pgs. 112-116.(67)E.Y.Kutscher,emT.A. Seboek(ed.), CurrentTrends inLinguistics, pgs. 400403; M. Sokolof, TheTargum o fJob fromQumranCave XI (Ramat Gan, 1974), p. 9, n. 1; A. R. Millard,EQ. XLIX, 2,1977, pgs. 67-68. Veja tambm L. De- queker, The"Saintsof theMost High in Qumran and Daniel {Leiden, 1973), p. 131, eDelcor, pgs.31-33, emambososquais referncia feita aos argumentos de Kitchen.- 37DANIELbaseslingsticas,equeassemprecrescentesevidnciasnofavorecem a tese de ser ele um livro do segundo sculo, de origem ocidental.IV.A DATA E A UNIDADE DO LIVRODepoisdetermosargumentadoquea histria registrada em Daniel 1a 6 no pode ser considerada como no-digna de confiana, e que as evidncias das lnguas originais em que o livro foi escrito no exigem e mesmo nodo apoio a uma data no segundo sculo, queremos agora considerar mais especificamente as questes de data e de unidade.Um ponto de partida bvio so as informaes prestadas pelo autor. ConformeDaniel1:1,DanielfoilevadoparaBabilniaem605a.C.,68l vivendo pelo menos at537 (10:1), quando j devia ter mais de oitenta anos de idade. Contudo, embora 537 seja a ltima data fornecida pelo livro, noassinalao ltimo evento registrado, pois as profecias, cobrem ossculosquinto,quarto,terceiroepartedosegundo. Sendo axiomti- co quea data de um livro histrico na sua forma final no pode ser ante.riorao ltimo acontecimento por ele registrado, aqueles que pensam que amaiorpartedocaptulo11consistede histria e node profecia aderemaumadataaoredorde167-165a.C.,naPalestina.Heaton,por exemplo,assinalaamudanadehistriaparaprofeciaemDn11:40, argumentandoqueistonosforneceadatada composio finaldo livro. Escrevendoem165/4a.C.,aperspectivado autor se concentra na iminentedestruiodoquartoreino,quandoDeusfinalmentetomariao poderepassariaareinar.69 Porquanto o autor se mostra acurado at o ano165, desse ponto em diante elerevela ignornciados movimentos de Antoco,ficandoclaroqueestavaentoaescreverprofeciaenomais(68)D.J . Wiseman,emumaresenhadaobradeA.K.Grayson, Assyrian andBabylonianChroniclesparaarevistaBibliothecaOrientalis,sugeriuqueuma passagem na Crnica Babilnica (BM 21946, rev. 4, p.105) que relata que Nabuco- donosorlevoumuitosprisioneirosdaregiosrio-palestina em 602a.C. poderia indicarqueDanieleseuscompanheirospudessemestarentreeles.Se assim fosse, o exlioeoretornodopovo poderam ter sido datados contando-se a partir de 605, oque cronologicamente deixaria o devido espao para o decreto de Ciro e os preparativos para o retomo.(69)rflC.p. 240.38-INTRODUOhistria.Se tal pensamento correto, ento o livro de Daniel seria o nicona Bblia possveldeser datado, em sua forma finalescrita, com uma margem de errode no mais que alguns meses dentrodo mesmo ano. Por maislmpidaquepareatalproposio,no entanto, no podemos parar por a no que diz respeito a esta questo, uma vez que a data do livro est inextrincavelmente relacionada com o lugar de origem e a unidade de autoria.a)Haver um nico lugar de origem?J vimos queas evidncias a partir do aramaico de Daniel favorecem umaorigemorientalantes do que palestina. Escrevendo em1895, j por essetempoF.Lenormant havia notadoa colorao nitidamente babil- nica, bem comocertos aspectos da vida da corte de Nabucodonosor... descritoscomumaveracidadee exatido tais como seria difcil a um escritorqueescrevessesculosdepois.70 Montgomeryseimpressionara comoorientalismo dos captulos1-6, vendo seu valor histrico essencial no modo comoespelha as condies deste complexo que a vida oriental, sobre o qual estamos muito mal informados.71Desde1926, bem mais informaes foram colocadas nossa disposio.Em1941,R.H.Pfeiffer concedeuaoautordeDanieldois genunosecosdahistriababilnica:Presumivelmentenuncachegaremos a saber como o nosso autor sabia que a nova Babilnia era criao de Nabucodonosor(4:30[H.4:27]),como ficou provado pelas escavaes (vejaR.Koldewey, Excavations at Babylon,1915), e que Belsazr, mencionadotosomenteemregistrosbabilnicos,emDanieleemBaruque 1:11(que baseado em Dn), estava na funo de rei quando Ciro tomou Babilnia em 538 (cf. o captulo 5).72 Se se reconhecesse no autor uma testemunha contempornea destes acontecimentos, no haveria problema.(70)ICC, p.74,ondeMontgomerycita F. Lenormant com aprovao, embora partindoda paraa argumentao de que prticas religiosas babilnicas sobreviveramatmuitotempodepoisda queda do imprio, sendo somente ligeiramente alteradas pelas sucessivas fases polticas..(71)Ibid., p.76. Vejatambm W. F. Albright (JBL, 40,1921), que observaaatmosfera babilnicaqueenvolve os captulos 1-7 (p. 116), argumentando serem estes captulos escritos na Babilnia (p. 117).(72)R.H.Pfeiffer, IntroductiontotheOldTestament (Black, 1952), pgs. 758-759.- 39-DANIELAdefesadeumaproveninciababilnicaparaoscaptulos1-6 reforadapeladescoberta,emQumran,daOraode Nabonido, conforme o julgamento de D. N.Freedman: Por trs de Daniel 4 h uma histriadoterceirosculo(ouaindaanterior),cujaorigemseencontra na Babilnia;. . .o material nos captulos 3-5, pelo menos, j tinha assumido a sua forma atual no perodo pr-palestiniano, sendo incorporado como umaunidadepeloautor de Daniel (embora com algumas necessrias modificaes).73William Brownlee da mesma opinio:Estas observaes sobaseadasnapressuposiodequetaistradiestenhamrealmente seoriginado no exlio e de que no so totalmente fictcias uma posio qual fomos levados pela Oraode Nabonido.74 Esses autores supem queo nome Nabucodonosor tenha substitudoo de Nabonido em Daniel 4 nas tradies que chegaram ao autor (palestino) do nosso livro.Umaporodedetalhes quedo apoio tese de uma origem babilnicaparaoscaptulos1-6somencionadosnocursodocomentrio sobreestescaptulos.Aomesmotempo hcertosaspectos desse trecho quenoparecemapropriados paraotempodoreinadodeAntoco IV. Essaquestobemcolocadapor W.LeeHumphries:Como uma srie delendas,essasnoseriam,emsieporsi mesmas,apropriadas paraa situaoda Palestina na crise marcada pelo perodo de Antoco IV Epif- nio, e difcil de compreender como poderam elas ter sido criadas nessa pocaemquealinhademarcatriaentrecoisas judaicasecoisaspags eratoagudamentetraada.Poisnessas lendasaspossibilidades de uma vidaemcontatoeeminteraocomassuntosestrangeirossoafirmadas,nohavendoumapolarizaonesseaspecto.75 Noh, portanto, faltadeapoioeruditoparaaafirmaodequeoscaptulos1-6sejam deproveninciababilnicaeseencaixemmelhornumperodoanterior aotempodeAntocoIV.Quantotempoantes ,umassunto discutido: poucososcolocariamantesdoquartosculo;76 contudo,operodo(73)D. N. Freedman, The Prayer of Nabonidus, BASOR, 145,1957, pgs. 31-32. Veja tambm a Nota Adicional, pgs. 124-126.(74)W.H.Brownlee,TheMeaningo f theQumranScrollsfortheBible (OUP, 1964), p. 42.(75)W.LeeHumphries,ALife-StyleforDiaspora: aStudyof theTales of Esther and Daniel, JBL, 92,1973, p. 221.(76)P.R.Davies(DanielChapterTwo,JTS,XXVII,1976,pgs.392401)temargumentado,entretanto, nosentidodequea origem da histria de Daniel2sejaconsignadaaofimdoperodoexlicoou logo depois (p. 400), ou seja, no sexto sculo.- 40-INTRODUOneo-babilnicoposterioroupersaanterioroquemelhorseenquadra aoselevaremcontaasinformaesexatassobreoimpriobabilnico que vimos estarem preservadas nestas histrias.Objetodeestudoespecialtemsidoocaptulo7,porque,embora pertencendoaoscaptulosquetratamdevisesecomotalsegunda partedolivro,oltimodoscaptulosaramaicos, revelando afinidades com o captulo2. Tem sido argumentado que o cap.7 pertence primeira parte do livro eque, ao menos em sua forma original, faz parte do seu estgiopr-macabeano.77 Somentedessaformapode-sefazer justias diferenasentreoscaptulos1-7e8-12.M.Delcoraceitaaargumentaopor umainfluncia cananita por trs das imagens do captulo 7, que sugereumadatamais antiga para este captulo.A influncia da religio edaliteraturadeCana emIsrael...devetersido continuada aps o exlio.78Algumaquantidade de evidncia tem sido apresentada em apoio de uma teoria segundo a qual a viso do captulo 7 tem um paralelo na histriadaoposio do Oriente Mdio.79 A historiografia oriental esteve, pormuitosanos, baseada na sucesso dos imprios assrio, meda e persa. Ostrseramorientais,sendocitadospeloshistoriadores com o objetivo deglorificaros reis persas orientais.Na exegesede Daniel no se pode maisnegligenciarocontextosituacionaldahistria da oposio oriental contra o helenismo. Arevoltamacabeanas uma parte dela, edeve ser entendida em conexo com a resistncia religiosa ao helenismo, que havia comeadonoorientepelomenos cem anos antes.80 Uma vez queo captulo8deDanieltambmexplicitamente anti-helenista, podera pelo mesmo argumento ser datado muito antes do perodo macabeano.(77)L.Dequeker,TheSaintso f the MostHigh inQumranandDaniel,p.111.(78)Delcor, p. 32. Cf.Les sources duchapitre VII de Daniel, VT, XVIII, 1968, pgs. 290-312.(79)J .W.Swain,TheTheoryofFourMonarchies.OppositionHistory under theRomanEmpire,Classical Philology,35,1940, pgs.1-21; eS. K. Eddy, TheKingisDead.StudiesinNearEasternResistancetoHellenism334-331BC (Lincoln, Nebraska, 1961), especialmente as pgs. 183-212.(80)L.Dequeker,The Saints of the Most Hight, Oudtestamentische Stu- dien, XVIII, pgs. 132,133.-41 -DANIELb)Haver mais que um autor?Uma maneirade se acomodar a uma data anterior para os primeiros 6ou7captulos e ainda continuar sustentando uma data macabeana para a ltima partedo livro supor a existncia de mais de um autor. Mont- gomery, por exemplo, postulou queo primeiro autor, escrevendo na Babilnia,compsos captulos1-6 por volta do sculo terceiro a.C.; os captulos 7-12, por sua vez, teriam sido escritos no segundo sculo, pouco antesdaretomadadotemplodeJ erusalmpelos judeus,umavezqueos macabeus so descritos como um pequeno socorro (Dn 1134). Ele pensadiscerniraquiumelemento de predio que inclusive pode ter contribudo para o sucesso dos heris macabeus.810argumentodequediversidadedelnguasindicadiversidadede autoriacontinuaasersustentado;82 sabe-se,porm,queo artifcio literrio de enquadrar a poro centralde uma obra numa moldura de um estilo diferente era comumenteempregado no Antigo Oriente Mdio. J temosum exemplo disso no Cdigo Legal de Hamurabi, do sculo dezessete a.C.83 Referindo-se aos livros de J e de Daniel, Gordon faz a seguinte observao:ApossibilidadedeumaestruturaABAintencionalmerece sriaconsideraoe deveria nos deter no sentido de se evitar uma afobadadissecaodotexto.Assim,umasupostaevidnciadeautoria composta toma-se um argumento em favor da unidade do livro.Vrioseruditosrecentes,reconhecendoaproveninciababilnica dosprimeiros6ou7captulos,cremqueum autor do segundo sculo fezusodematerialmaisantigo, que deve ter chegado a ele numa forma jrelativamentefixada.Emborapossatersidoresponsvelporalguns acrscimos editoriais (sobre os quais h pouca concordncia nos detalhes, em virtude da falta de evidncias mais slidas), no todo eledeixou as his(81)ICC, pgs.96-99.Eissfeldtfaz a mesma distino, embora tenda a conferirosltimos captulos aos anos167-163, deixando assim espao para uma adaptao do autor medida em que o curso dos acontecimentos o exigia. Para um concisosumrioda histriadessemodo de encarar o livro como composto, veja R. K. Harrison,/07\ pgs. 1107-1109.(82)P.ex., J . A. Soggin, IntroductiontotheOldTestament (Roma,1967; Tr. inglesa SCM Press, 1976), p. 410.(83)CyrusH.Gordon,TheWorldo ftheOldTestament(Londres, 1960), p.83.NoCdigodeHamurabioprlogoeoeplogoestoescritosemacadiano semi-potico, ao passo que as leis esto em prosa.- 42INTRODUOtriasbasicamentecomoasencontrou.Assim se tem uma explicao do porqueelasnemsempre se encaixam dentro dos propsitos de um autor dosegundo sculo se opondo dominao grega. Pelo menos um escritor recentepensapoderdiscernirtrs estgios primrios no desenvolvimento dolivro,vendoasua inteno original sendo modificada de conformidadecomas mudanasnascircunstnciashistricasdacomunidade judaica.84 Assim, pode ser que tenha havido diversos redatores, cada qual adaptandoomaterialaoseuprprio tempo,sendooltimodeles o redator macabeu que criou a ltima viso, dos captulos 10-12.O problema com a questo da autoria composta que o livro apresentapouqussimostraosdasalegadasdiferenasdeponto-de-vista. Comoumaobraliterriaelemanifestaunidadedeobjetivosedepropsitos.S.R.Driverassumeque umautorfoioresponsvel pelo todo; igualmente R. H. Pfeiffer no v razo para questionar a unidade do livro, achando,comomuitosoutros,emambasas suas partes o mesmo objetivoeomesmotransfndohistrico.85 Acolocaoclssicada defesa daunidadedolivro,emborapostulandoumadatanosegundosculo, foifeitanorH.H.RowlevemsuapalestraintituladaAUnidadedo livro de Daniel (The Unity of the Book of Daniel), apresentada como mensagempresidencialparaaSocietyforOldTestamentStudy,em 1950.86 Primeiramenteeleexpeasfraquezas,bem como a diversidade, dospontos-de-vistarivais(aosquaisdesdeentooutrostemsidoainda acrescentados);com relao a isso, comenta queno h nenhum ponto- de-vistapositivoquepossa reivindicar para si algo como um consenso de opinio e postula quenenhuma das teorias divisivas podeoferecer uma respostaaoargumentopelaunidade,ouevitardificuldadese embaraos maioresdoqueaquelesquetentaremover.87 Da emdianteRowley passa a apresentar argumentos evidenciando a interrelao exatamente dos captulos que so usualmente separados por aqueles que vem no livro uma autoriacomposta.Talvezoseusub-captulomaiseloqentesejaointituladoAscaractersticasmentaiseliterriassoas mesmas por todo o livro.Elemencionauma predileo porlistas ressonantes de palavras(84)J ohn G. Gammie, The Classification, Stages of Growth, and Changing Intentions in the Book of Daniel, JBL, 95,1976, pgs. 191-204.(85)R. H. Pfeiffer,Introduction to the Old Testament, p. 761.(86)PublicadaemTheServanto f theLord2(Oxford,1965),pgs.249280.(87)Ibid., p.249.;-43DANIEL(tais como as classes de sbios no captulo 2, os instrumentos musicais no captulo 3e a repetio em 7:14), um hbito de introduzir novos elementos em repeties e interpretaes posteriores, e, pelo menos em duas instncias(noscaptulos4e8),oqueele entende como confuso entre o simblicoeoreal.Umaqualidadedemente,ouhbitomental,no ...algofacilmentecopiado; e esta inconsciente idiossincrasia, observvel por todo o livro, que desmente a diversidade de autoria.AvigorosaconclusodeRowleypermaneceempainda hoje:o nus da prova recai sobre aqueles quetentam dissecar uma obra. No nossocaso,entretanto,nadaque possa ser seriamente chamado de prova de autoria composta foi at agora apresentado. Por outro lado, temos evidncias em favor da unidade do livro que em sua totalidade representam uma demonstrao.88 Uma vez que aceitava uma data macabeana para a composio do livro, encontrando-se assim em concordncia com a maioria dos eruditos com os quais entrava em dilogo, ele no penetrou na possibilidadedequepartesdolivro pudessem pertencer a uma poca anterior. E aquiquedificuldadessolevantadas,porqueasuaargumentaopela unidadedolivrotalquepressupe um s autor. Provando-se que uma parte do livro provm de um perodo anterior, a data macabeana se toma insustentvel, a menos que.se abandone a tese da unidade.c)A argumentao a favor e contra uma data no segundo sculoEmboravriosargumentossejamapresentadoscoma intenode darforacumulativaa umadatanosegundosculo, basicamente h somente uma razo para essa opinio, tenazmente mantida, e esta se encontra no contedo do captulo11. Temos a um panorama do futuro, comeandosuscintamentecomaerados persas, passando para a dos gregos e se tomando mais e mais detalhado medida em que se aproxima do tempo de Antoco IV. A histria do Antigo Testamento havia terminado com o perodo de Neemias e as genealogia de Ne 12; em nenhum outro lugar nas Escrituras hqualquer refernciaaosegundosculoa.C..Uma vez que dispomosdeumamploconhecimentodos historiadoresantigosdaquele perodo,Herdoto, Polbio e os livros dos Macabeus, J osefo, Lvio e Tcito, umcomentriosobreestecaptulopodesetomar um labirinto de(88)Ibid., p.280.44-INTRODUOinformaesqueconfundemcompletamenteo leitor.Serpossvelque tanta informao erudita seja necessria para apreciarmos a significao dessa narrao de eventos? Como frisamos no comentrio, nem todos os eventos emDaniel11seenquadramdentrodas evidncias fornecidas por outras fontes; s vezes h informaes adicionais em Daniel; outras vezes mais do queumainterpretaodeumincidentepossvel, eainda em outras o sentido simplesmente no pode ser conhecido, dado o presente estado do nosso conhecimento daquele perodo. E era bem isso que haveria de se esperar; no devemos, contudo, exagerar o grau em que a narrativa de Daniel se encaixa no que conhecemos da histria do perodo.Poroutroladonopodehaverdvidascomrelaoreferncia primria do captulo: ele tem a ver como confronto entre o poderoso An- tocoIV(comsuaintenodeimporocultoeoestilo-de-vidagregos atravs detoda a extenso do seu imprio) e o povo de Deus que luta, desprovido de identidade poltica e ainda por cima enfraquecido por divises emsuas prprias fileiras. Pela primeira vez em sua histria um imperador estava conseguindo seus objetivos e impondo a sua vontade, no como no tempodoexlioquandoDeusestavatrazendoumbem merecido juzo sobre o seu povo, e sim por que um conflito entre poderes (ou, como Paulomaistardeoexpressaria,osdominadoresdestemundotenebroso, aosquaiselecolocacomoparalelosasforasespirituaisdomalnas regiescelestes,Ef 6:12),tendocomo fundo a oposio nas esferas celestes,ameaavavarrer o povo de Deus da face da terra. As duas grandes potncias mundiais, o Egito e a Sria, detinham o monoplio do poder poltico e militar. Humanamente, tudo levava a crer que seriam bem sucedidosemseuspropsitos;porm a mensagem deste captulo, que reitera a do livro como um todo, que, por mais fortes que sejam os soberanos da terra,elestropearoecairoe no sero achados (cf.11:19). O ltimo na sua seqncia (Antoco IV) recebe um tratamento mais completo, no porque o autor fosse contemporneo dele, conhecendo-o assim melhor doqueosoutros,mas porqueelenoteremconsideraoopovode Deus, fazendo-se a si mesmo Deus encarnado. Mas o seu imprio ter um fim,comoosoutros.Aperspectivahistricadoautor dada num foco em que o fim da histria parece seguir queda do ltimo tirano. Quando isto acontecer no revelado.A estaalturatemosque parar para fazer a pergunta se o contedo destecaptulopodecomrazoserconsideradocomoprofecia,ouse (independenteda data postulada para o resto do livro)11:2-39, no mnimo,foraoleitoraconsider-lo como histria escrita aps ter aconteci-45-DANIELdo o que ali registrado. Em primeiro lugar, parece ter havido algo como profeciapreditivanaBabilnia,89 sendoentodese esperar uma revelaoqueultrapassasseascapacidadesprecognitivasdossbioslocais. Em segundo lugar, os intrpretes antigos, tanto judeus como cristos, consideraramaprofeciacomorealmentesendo o quediz ser, aceitando-a como um produto do perodo imediatamente posterior ao exli.90Uma das pedrasangularesdotestamentodoscristosnosdoisprimeirossculosda igrejaerao cumprimento da profecia. No de seadmirar, por isso, que os ataques do seu oponente Porfrio (morto por volta de 305 a.C.) foram centrados exatamente nessa questo, declarando ele que este captulo no era, na verdade, profecia mas histria escrita ao tempo de Antoco IV. Desde o fim do sculo dezoito da nossa era esta tem sido uma posio segura entreoseruditos,emboratenhamhavido alguns que argumentaram em favor da data tradicional, considerando todo o captulo como profecia.91SegundoEissfeldt,entrecertoseruditosdocontinentehaquelesVoltandostradiesdasinagogaeda igreja, em que o livro de Daniel, ou ao menos o seu material bsico, atribudo ao perodo exico.92Temossinaisdequeessaposioseguraestsendodesafiada;nocampodoNovoTestamentoomesmopodeserditocomrelaoaodiscursoapocalpticodeJ esus(Mt24; Mc13;Lc 21:5-36). Sob vrios aspectos essediscurso similar ao de Daniel 11, apresentando o que se prope a ser uma profecia com relao iminente queda de J erusalm, juntando a isso sinais e advertncias concernentes ao fim dos tempos. Mui(89)Nas assim chamadas profecias dinsticas, publicadas por A. K. Grayson em Babylonian Historical-LiteraryTexts (Toronto, 1975), p. 21. Uma referncia bastanteamplaaestes textosfeitanaspgs.60,61destecomentrio. W. W.Hallo (IEJ,16,1966)preferecham-losdeapocalipsesacadianos.Opontoemquestoqueesse gneroeraconhecidonaBabilniaenumprottiposumrio (p. 242, nota de rodap). Ele deixa claro que o carter distintivo da profecia e da apocalpticabblicanodemodoalgumcomprometidoporesta literatura.Asignifi- cncia da profecia acadiana para o livro de Daniel foi abordada pela autora na Prele- oTyndalesobreoAntigoTestamento, intituladaAlgumasafinidadesliterrias do livro de Daniel, publicada no Tyndale Bulletin de 1978.(90)Veja a seo VII, abaixo, pgs. 68 e segs.(91)P. ex., E. P. Pusey, Danielthe Prophet (1885); C. H. H. Wright, DameZ andhisProphecies(1906);R.D.Wilson, StudiesintheBooko fDaniel(1907); A. C. Welch,Visiono fthe End (1922); E. J . Young, TheProphecy o fDaniel (1949); BruceK.Waltke,TheDate of the Book of Daniel, Bibliotheca Sacra, 133, Out.- Dez. 1976,pgs. 319-329.(92)O. Eissfeldt, The Old Testament (Oxford, 1966), p. 519.46 -INTRODUOtoseruditos tm tomado como axiomtico que estes captulos devem ter sido escritos depois da queda de J erusalm por discpulos de J esus, que escreveramo que lembravamdoqueele havia dito luz das suas experinciasnas mosdosromanos.Atualmente, contudo, vrioseruditosesto deacordoemqueMarcos13seencaixa melhor antesdadestruio do templo, a qual ele profetiza.93H j um bom tempo, em 1947, C. H. Dodd argumentava que a linguagem em Lucas 21 est relacionada com elementos regularesdasantigasgurras:Sealgumevento histrico houvequeinfluenciou o quadro a retratado, no foi a captura de J erusalm por Tito no ano70d.C.,e sim a captura levada a efeito por Nabucodonosor em 587 a.C.. No h um detalhe individual sequer de todo o quadro que no possa ser documentado diretamente a partir do Antigo Testamento.94 A nossa opinio que em Daniel 11, do mesmo modo, no h nada que exija que a profecia deva ter sido escrita aps o evento.O captulo11 ligado intimamente aos captulos 2,7 e 8, dos quais o 2 e o 7 mostram sinais de origem babilnica e autoria pr-macabeana, como j vimos.95 Enquantoos captulos 2 e7 terminam com uma intervenodivinaemrelaocomoquarto imprio, os captulos 8 e11culminam no terceiro (vejap. 66), e no caso deste ltimo a ateno est voltada para o sofrimento que vir para o povo de Deus como resultado de reveses polticose militares da parte de um dspota ultra-ambicioso. Se as linhas geraisdahistriapodemtersidoreveladasnoscaptulos2e7,que parecem ter se originado na Babilnia, no h razo por que mais detalhes tais como o captulo11contm nopossam ter sido revelados no mesmo lugar (em termos gerais) muito antes do perodo macebeu.(93)J .A.T.Robinson, RedatingtheNewTestament(SCMPress,1976), p.19. Em apoio a sua tese ele se refere(p.18, nota de rodap) a W. Marxsen, Mark theEvangelist(Tr.inglesa,Nashville,1969), p.170(cf.166-189); E. Trocm, The Formo f theGospelaccordingtoSt.Mark (Tringlesa, 1975), pgs. 104,105, 245.(94)C. H.Dodd,TheFaliof J erusalm and theAbomination of Desola- tion, Journalo fRomanStudies,1947, pgs.47-54; reimpressoemC.H. Dodd, MoreNewTestamentStudies(ManchesterUniversityPress,1968),pgs.69-83.(95)Emadiooutraevidncia j citada, uma tentativa foi feita recentemente para postular umafontepersa paraosonhodeNabucodonosor, no cap. 2, por D. Flusser, The Four Empires in the Fourth Sibyl and in the Book of Daniel, Israel Oriental Studies, 2,1972, pp. 148-175.^i ; i-47-DANIELd)Evidncias vindas de QumranH ainda mais um fator que deve ser levado em considerao, que so as evidncias com respeito ao livro de Daniel encontradas na literatura provenienteda rea ao redor do Mar Morto. 0 estudo dos rolos de Qumran e dodistritocircunvizinhocontinuaa trazer luz novas informaes, apesardeque, infelizmente, muito do material permanece no-publicado at agora.Conquantoantesde1947no tnhamos disposio manuscritos dos livros do Antigo Testamento anteriores Idade Mdia, hoje, para o livro de Daniel, temos vrios fragmentos datados na era pr-crist, bem comovriosoutros documentos relevantes para o estudo do pano-de-fundo histrico deste e de outros livros bblicos. O mnimo que podemos afirmar queas novas evidncias podem capacitar o expositor a dar respostas melhores antigas questes, entre as quais a da data do livro.96EstudosdaescritaemquetextosdeQumran foram redigidos tm provido novos critrios sobre os quais se podem dat-los. Uma das conse- qnciastem sido a de confirmar em geral a exatido dos escribas da an- tigidade,adespeito de ocasionais erros. Outra tem sido a verificao de que no havia nenhum texto padro em uso em Qumran, e no caso de certos livros como Crnicas o resultado tem sido a colocao do original num perodo anterior ao que se supunha.97No que diz respeito a manuscritos de Daniel98os textos representam vrios perodos diferentes, sendo o mais antigo o 4QDnc. Foi com relao a esse fragmento queCross escreveu o seguinte:Uma cpia de Daniel est redigida na escrita da parte final do segundo sculo a.C.; de certo modo asuaantiguidademaisnotvel que a de outros manuscritos antigos de Qumran, por ter no mais de meio sculo entre si e o original de Daniel.99Trs anos mais tarde ele fez uma ligeira alterao, colocando adata entre 100 e 50 a.C.100(96)Sobreolivro de Daniel luz dos rolos do Mar Morto veja Alfred Mer- tens, Das Buch Daniel im Licht der Texte vomToten Meer (Stuttgart, 1971).(97)F.M.Cross,TheAncientLibraryo f QumranandModernBibttcal Studies (Nova Iorque, 1958),p. 189.(98)Veja a lista abaixo, p. 78.(99)F. M. Cross,op. c/f.,p. 33.(100)F.M.Cross,TheDevelopmertoftheJ ewishScripts,emG.E. Wright(ed.)TheBibleandtheAncientNtarEast: Essays in Honour of W. F. Al- bright (Londres, 1961), p. 140.-48INTRODUO um fato inegvelque hojea dataodealguns salmos no perodo macabeu tem sido questionada, a partir da sua apario em um manuscrito dos Salmos em Qumran.101 MiUar Burrows, falando sobre os rolos contendo o livro de Eclesiastes que foram encontrados na Caverna 4, datados aoredorde150a.C.,raciocinano sentido de queas probabilidades da suacomposionoterceirosculo,senoantes,so aumentadas com a descobertadomanuscritoescritonomuitodepoisde150 a.C.102 Por issomesmo seria de se esperar que a descoberta de vrios manuscritos de Daniel em Qumran ajudasse a colocar adatado original num perodo anterioraomacabeano; Brownlee,contudo,declara quenenhuma das cpias de Daniel encontradas entre os rolos do Mar Morto to antiga a ponto de colocar em dvida o ponto-de-vista crtico usual com relao autoria do livro. R. K. Harrison, no entanto, j da opinio deque uma datamacabiaparaDanielabsolutamente fora de cogitao a partir das evidnciasdeQumran...nohaveratemposuficienteparacomposiesmacabiascircularemechegaremaserveneradaseaceitascomo Escritura cannica por uma seita dos macabeus.103Empoucaspalavras,aopiniodomundoeruditoestd